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1.

INTRODUÇÃO

1.1. Enquadramento e ambiente envolvente da análise económico-financeira


Com o recente e acelerado desenvolvimento das tecnologias, dos mercados, dos
produtos financeiros, das formas de gestão e da diversidade de atividades empresariais,
já não basta o conhecimento genérico do negócio, e dos intervenientes deste para poder
realizar uma adequada interpretação acerca da “saúde” económico-financeira de uma
empresa.
Com o auxílio da contabilidade, a organização da informação em mapas específicos,
permite, mediante o recurso a determinados cálculos, indicadores e rácios, realizar uma
análise bastante mais rigorosa que nos pode elucidar acerca da capacidade económica
da empresa, da estrutura financeira e dos fluxos de recebimentos/pagamentos.

Tal análise conduz a uma leitura profunda do estado e evolução da empresa, que é
particularmente útil quando se pretende financiar (por exemplo, cedendo crédito),
investir (por exemplo, via Capital de Risco), adquirir ou vender (como através de
Bolsa de valores), comparar (análise sectorial), ou simplesmente conhecer melhor uma
empresa.

Conceito:
Definição: a análise económico-financeira é um processo baseado num conjunto de
técnicas que tem por fim avaliar e interpretar a situação económico-financeira da
empresa.

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1.2. Informação de suporte

1.2.1. Qualidade da informação;

Relevância: A informação é relevante quando se torna necessária para a tomada de


decisões por parte dos utentes. A relevância influencia as decisões económicas dos
utentes ao ajudá-los a avaliar os acontecimentos passados, presentes ou futuros ou
confirmar, ou corrigir as suas avaliações passadas.

Fiabilidade: A informação é fiável na medida em que não enferme de erros materiais e


de preconceitos, devendo para tal: representar fidedignamente os resultados e a posição
financeira da entidade, etc., PGC p.25.

1.2.2. Fontes de informação contabilística

A informação numa óptica financeira é composta por mapas e demonstrações que as


empresas preparam com base em regras e princípios contabilísticos. Os mapas
financeiros proporcionam informação acerca da posição financeira das alterações desta
e dos resultados das operações para que seja útil aos destinatários dessa informação.

Análise financeira ocupa-se do exame dos documentos contabilísticos financeiros


históricos (balanço patrimonial e funcional, demonstração de resultados, demonstração
de origem e aplicação de fundos, fluxo de caixa, anexos, etc.) e das informações dos
mercados financeiros, para analisar a evolução da situação financeira, da rentabilidade e
do valor da empresa, com vista a detectar pontos fortes/fracos, servindo assim a
estratégia da empresa e a gestão financeira.

A informação utilizada para análise económico-financeira em duas ópticas: óptica


económica e financeira.

 Óptica económica: procura determinar o grau de eficiência e eficácia da


empresa; analisam-se os problemas de rentabilidade e da produtividade, da
capacidade da empresa gerar lucros e valor acrescentado.
 Óptica financeira: procura determinar em que medida a empresa dispõe ou pode
vir a dispor dos meios financeiros adequados às suas necessidades operacionais;

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analisar se o equilíbrio financeiro da empresa e sua capacidade para honrar seus
compromissos de curto prazo (liquidez) e a médio e longo prazo (solvabilidade).

As demonstrações financeiras pretendem proporcionar a todos quantos têm interesse na


empresa (stakeholders), uma visão global da situação económico-financeira da empresa.
São várias entidades interessadas, não apenas gestores e investidores (accionistas e
credores), Estado, concorrência, clientes, fornecedores, empregados, gestores dependem
desta informação enquanto instrumento de apoio à tomada de decisão na sua relação
com a empresa.

1.2.3. Extra-contabilística;

Obtida pela consulta e análise de documentação relacionada com a empresa (i.é.,


natureza jurídica, ramos de actividade, concorrência nacional e internacional e processo
tecnológico). As informações dos mercados financeiros, para analisar a evolução da
situação financeira, da rentabilidade e do valor da empresa, com vista a detectar pontos
fortes/fracos, servindo assim a estratégia da empresa e a gestão financeira.

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1.3. Objetivo da análise:

O objetivo da análise financeira é extrair informações das demonstrações financeiras


para a tomada de decisões, procurando responder as questões relacionadas com o
equilíbrio financeiro, rendibilidade dos capitais, crescimento, risco e valor da empresa.
Demonstrações financeiras funcionais; relatórios e gestão e auditoria e outros
documentos e informações.
A análise financeira tem valor somente à medida que o analista:
 Estabeleça uma tendência (série histórica) dentro da própria empresa;
 Compare os índices (rácios) e relacionamentos realmente obtidos com os
mesmos índices e relacionamentos expressos em termos de meta;
 Compare os índices e relacionamentos com os da concorrência, com
outras empresas de amplitude nacional ou internacional.
A contabilidade procura captar, organizar e compilar dados sendo sua matéria-prima os
factos de significado económico-financeiro expresso em moeda e seu produto final as
demonstrações financeiras. Assim se diz que a análise financeira começa onde termina a
contabilidade.
A análise financeira preocupa-se com as demonstrações financeiras que, por sua vez,
precisam ser transformadas em informações que permitam concluir se a empresa merece
ou não crédito, se vem sendo bem ou mal gerida, se tem ou não condições de pagar suas
dívidas, se é ou não lucrativa, se está a evoluir ou a regredir, se é eficiente ou
ineficiente, se irá falir ou se continuará a operar.

Relação existente entre a contabilidade e a análise económico-financeira na figura a


seguir representada:

Fonte: Elaboração própria

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1.4. Análise da informação contabilística

1.4.1. Princípios e critérios subjacentes e seus efeitos limitadores;


Consistência: A apresentação e classificação de itens nas demonstrações financeiras
devem ser mantidas de um período para outro, a menos que: uma alteração significativa
nas operações da entidade ou uma revisão da apresentação das demonstrações
financeiras demonstre que uma alteração irá resultar numa mais adequada apresentação
dos acontecimentos e transações e, a alteração seja imposta pela entrada em vigor de
novas políticas contabilísticas.
Materialidade: A informação é considerada material se a sua omissão puder influenciar
a decisão económica dos utentes baseada nas demonstrações financeiras. A
materialidade depende do tamanho e da natureza de cada item avaliados nas
circunstâncias particulares da sua omissão.
Não compensação de saldos: Não devem ser efetuadas compensação de saldos entre
activos e passivos.
Comparabilidade: Para ser útil, a informação deve ser comparável no tempo e no
espaço.
1.4.2. Bases de apresentação das demonstrações financeiras

Continuidade: As DFs devem ser preparadas na base da continuidade, a menos que a


gerência tenha intenção de liquidar a entidade ou cessar a sua atividade, ou não tenha
outra alternativa realista que não seja fazê-lo.
Acréscimo: Exceto quanto à demonstração de fluxos de caixa, as DFs devem ser
preparadas na base do acréscimo. Sob este regime, os efeitos das operações e outros
acontecimentos são reconhecidos quando ocorrem (independentemente da data em que
ocorra o respetivo recebimento ou pagamento) sendo registadas e relatadas no período a
que se referem.

1.4.3. Demonstrações financeiras funcionais: necessidade de sua elaboração

A necessidade de elaboração das demonstrações financeiras prende-se no facto da sua


importância na prestação de contas através do relatório e contas das entidades para fins
fiscais e não só. As DFs mais destacadas são: o balanço, a demonstração de resultados,
a demonstração de fluxos de caixa e os anexos.

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1.4.3.1. Balanço patrimonial

O balanço patrimonial apresenta a situação patrimonial de uma empresa em


determinada data, derivada dos fluxos financeiros e económicos. O balanço faz a
comparação entre o activo e o passivo para destacar o capital próprio (capital, reservas,
resultados transitados, resultado líquido do exercício, etc.).Ou seja, formado num
conjunto de activos não correntes, correntes, passivos não correntes e capital próprio
num determinado momento. O balanço tem características estáticas e dinâmicas:

 Estáticas: quando se pretende conhecer a situação patrimonial da empresa


 Dinâmicas: quando se comparam dois ou mais balanços sucessivos, ao longo do
tempo (ver contabilidade financeira I, modelos do balanço, segundo PGC, p.7)

1.4.3.1.1. Estrutura do balanço patrimonial

Em pre a ………………………………………………………………
B a la nç o e m …………………………………..…………….. Va lo re s e xpre s s o s e m …………….
Exe rc íc o s
De s igna ç ã o No ta s
N N-1
AC TIVO
A c t iv o N ã o C o rre n t e
Im o biliza ç õ e s c o rpó re a s
Im o biliza ç õ e s inc o rpó re a s
Inve s tim e nto s fina nc e iro s
S ubto ta l
A c t iv o s C o rre n t e s
Exis tê nc ia s
C o nta s a re c e be r
M e io s m o ne tá rio s
Outro s a c tivo s c o rre nte s
S ubto ta l
To ta l de a c tivo
C AP ITAL P R ÓP R IO E P AS S IVO
C a p it a l P ró p rio
C a pita l s o c ia l
R e s e rva s
R e s ulta do s tra ns ita do s
R e s ulta do do e xe rc íc io
S ubto ta l
P a s s iv o n ã o c o rre n t e
Em pré s tim o s m lp
Im po s to s dife rido s
P ro vis õ e s pa ra pe ns õ e s
Outro s pa s s ivo s nã o c o rre nte s
S ubto ta l
P a s s iv o c o rre n t e
C o nta s a pa ga r
Em pré s tim o s de c urto pra zo
Outro s pa s s ivo s c o rre nte s
S ubto ta l
To ta l c a pita l pró prio e pa s s ivo

Fonte: Elaboração própria

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1.4.3.2. Balanço funcional

É o mapa que estuda, em determinado período, as aplicações e origens relacionadas com


os ciclos financeiros da empresa. Faz a comparação entre origens e aplicações de fundos
(classifica as necessidades e os recursos financeiros de acordo com o seu grau de
renovação: curto prazo e médio e longo prazo. Realça o conceito de fundo de maneio
(FM) e de necessidades de fundo de maneio (NFM). Fornece informação sobre o
equilíbrio de tesouraria e sobre decisões de financiamento e investimento e determina o
equilíbrio financeiro funcional.

O equilíbrio financeiro deve traduzir-se simultaneamente ao nível dos vários ciclos


financeiros autónomos: Os recursos estáveis (capital próprio e capital alheio estável ou
passivo não corrente) devem financiar as aplicações estáveis (activos fixos, activos não
correntes). Os recursos de curto prazo devem cobrir as necessidades de curto prazo ou
de tesouraria.

1.4.3.2.1. Balanço funcional sintético por ciclos (Horizontal)

Fonte: Adaptado de Sarmento (2011), Apontamento de finanças, Mestrado em gestão, Universidade


Lusíada de Lisboa.

 Ciclo de investimento:
 Análise e seleção de investimentos e desinvestimentos
 Resulta no volume de activos fixos tangíveis
 Ciclo de exploração ou operação
 Decisões quanto a stocks, produção e distribuição
 Corresponde a gastos e rendimentos operacionais

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 Impacto nas contas de clientes, existências e fornecedores
 Ciclos de operações financeiras ou ciclo de financiamento: obtenção de fundos
para investimento e eventual financiamento do ciclo de exploração:
 Ciclo de operações de capital: obtenção de fundos estáveis para
financiar activos estáveis.
 Ciclo de operações de tesouraria: gestão de fundos disponíveis e quase-
disponíveis, ou seja, gestão dos meios financeiros líquidos (MFL).

1.4.3.2.2. Fundo de maneio e necessidades de fundo de maneio

Fundo de Maneio: é a parte excedente do activo corrente que cobre o passivo corrente.
Por outras palavras, é a parte dos capitais permanentes que não é absorvida pelos
activos não correntes (fixos). O mesmo apresenta uma certa estabilidade, podendo ser
considerado constante no curto prazo. Um aumento de lucro (auto financiamento) com
reflexos nos capitais próprios pode alterar o fundo de maneio. Pode ter, no entanto,
alterações bruscas, devido a decisões estratégicas (realização de novos investimentos
e/ou obtenção de fundos de longo prazo, aumento de capital ou contração de
empréstimos bancários, etc.).

1.4.3.2.3. Necessidades em Fundo de maneio:

Enquanto o fundo de maneio está relacionado com as questões de política financeira da


empresa, as necessidades de fundo de maneio estão relacionadas com as questões de
funcionamento e muito ligadas à duração do ciclo de exploração. As necessidades de
fundo de maneio são o resultado da diferença entre as necessidades cíclicas e os
recursos cíclicos (NFM = NC – RC)

1.4.3.2.4. Tesouraria ativa e passiva:

Tesouraria activa: inclui os meios líquidos ou quase líquidos: caixa; depósitos


bancários; títulos negociáveis ou outros instrumentos financeiros desde que sejam
facilmente convertíveis em dinheiro (doutro modo serão classificados em activo não
corrente); e outros valores considerados cujo prazo de reembolso seja a dias e que não
estejam ligados ao ciclo de exploração (necessidades cíclicas) ou ao ciclo de
investimento; investimentos em associadas cujo valor pode ser considerado na
tesouraria activa se a entidade que se encontra em causa possuir um bom nível de
liquidez e houver poder de decisão sobre essa dívida a receber (relacionada com
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participações em outras empresas), as acções (quotas) de capital social curto prazo que
representa o capital subscrito, mas que ainda está por realizar.

Tesouraria Passiva: inclui, passivo de curto prazo que resulte das decisões de
financiamento (p. e., empréstimos bancários, fornecedores de investimentos); outras
contas a pagar e diferimentos (se forem de curto prazo e não afectos à exploração);
recursos cíclicos em mora; letras descontadas e não vencidas; rendas imediatas
referentes a reembolsos de capital dos contractos.

1.4.4. Fluxo de Caixa ou Cash Flow


Peter Drucker, considerado o «Pai» da Gestão Moderna, defende, na sua extensa obra,
que uma empresa pode operar sem lucros por muitos anos, desde que possua um fluxo
de caixa adequado, mas que o oposto não é aconselhável, realçando assim o efeito
nefasto de um aperto de liquidez.

O fluxo de caixa é um dos indicadores de fluxos mais utilizados na análise financeira,


esse conceito é explicado por diferentes abordagens no meio financeiro. A maneira mais
simples de encarar o cash flow é considerá-lo como a variação da caixa entre duas datas,
torna-se conveniente analisar a forma como foram geridas e utilizadas esses meios
financeiros líquidos, o que é conseguido através da elaboração de um mapa de fluxos de
caixa.
Fluxos de caixa:são influxos (recebimentos, entradas) e ex fluxos (pagamentos, saídas)
de caixa e seus equivalentes.
Caixa e seus equivalentes: compreende dinheiro em caixa, depósitos à ordem e
também investimentos financeiros de curto prazo, altamente líquidos que sejam
prontamente convertíveis para quantias em dinheiro e que estejam sujeitos a um risco
insignificante de alterações de valor.

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