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Apresentação da unidade 3 -

Análises financeiras
Marcos Valério Martins Soares

Olá, caro estudante!

O tema central da unidade 3 da disciplina de Finanças Corporativas corresponde ao conhecimento da estrutura


das demonstrações financeiras das organizações. Por meio da construção e análise de indicadores, você será
capaz de identificar situações como capacidade de pagamento, nível de endividamento, estrutura de capital da
organização, risco e retorno dos investimentos e outros elementos essenciais à tomada de decisão em gestão
corporativa.

Sabe aquela linha de crédito disponível na instituição financeira para investimento e capital de giro? Então! Ela
dependerá, entre outros fatores, da análise da saúde financeira da entidade proponente e dos seus índices –
como liquidez, nível de endividamento, estrutura do capital próprio etc. Afinal, as principais atividades da gestão
financeira consistem em tomar decisões de investimento e financiamento, em que o ponto primordial dessa
análise é a utilização de indicadores financeiros.

Você poderá conferir também, em seus estudos, os vários critérios de análise aplicados às demonstrações
financeiras elaboradas, visando a obtenção de conclusões sobre o desempenho passado, presente e futuro das
entidades. Esperamos que você esteja entusiasmado e pronto para o desafio de analisar as finanças das
empresas.

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Análise das demonstrações
financeiras
Marcos Valério Martins Soares

Introdução
Caro estudante, você sabia que as demonstrações financeiras produzidas pela contabilidade refletem, por meio
de suas informações numéricas, a posição da organização em um determinado momento, constituindo uma visão
agregada dos seus diversos setores? Assim, é possível extrair informações a respeito da sua posição econômica,
financeira, operacional e de rentabilidade.

A análise dessas demonstrações define como ocorre a aplicação do raciocínio analítico dedutivo, de maneira
meditativa sobre seus números, alcançados ao longo dos anos, fazendo com que sejam obtidos elementos para o
processo da tomada de decisão pelo administrador financeiro. Vamos ver como isso acontece? Acompanhe!

Demonstrações financeiras
Para que a administração financeira possa alcançar seu principal objetivo (isto é, maximizar a riqueza da
organização e garantir mais retorno com cada vez menos risco), o agente financeiro deverá se munir de um
razoável número de informações dentro e fora da organização.

Veja, a seguir, um exemplo fictício de como controlar esses balanços.

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Tabela 1 - Balanço patrimonial da Cia. Topázio S.A.
Fonte: Elaborada pelo autor, 2019.

A tabela anterior apresenta o balanço patrimonial da Cia. Topázio S.A. para os dois últimos exercícios sociais e,
logo a seguir, apresentamos seus resultados e que adotaremos para apoio deste tópico.

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Tabela 2 - Demonstração do resultado do exercício (DRE) da Cia. Topázio S.A.
Fonte: Elaborada pelo autor, 2019.

A partir dessas duas demonstrações, determinamos os principais índices de análise da administração financeira:
• indicadores de liquidez;
• indicadores de estrutura e endividamento;
• indicadores do ciclo operacional;
• indicadores de rentabilidade;
• análise vertical e horizontal.

Para Padoveze e Benedicto (2013, p. 147), “[...] O conjunto de indicadores econômico-financeiros é o


instrumental que classicamente representa o conceito de análise de balanço” e é por meio dele que esperamos
encontrar elementos indicativos do desempenho econômico-financeiro da organização. Tais elementos são
obtidos a partir da inter-relação entre o balanço patrimonial e a demonstração de resultado do exercício,
dispostos de forma percentual de maneira a representar a estrutura e a evolução do dado analisado.

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FIQUE ATENTO
As quatro principais demonstrações financeiras são padronizadas em: (1) demonstração de
resultado, (2) balanço patrimonial, (3) demonstração das mutações do patrimônio líquido e
(4) demonstração dos fluxos de caixa. No entanto, para sua compreensão, as “notas
explicativas do balanço” são indispensáveis.

O conjunto de indicadores, desenvolvido a partir das demonstrações financeiras, dependerá da característica de


cada empresa, podendo até mesmo serem criados indicadores específicos, nos casos de análise financeira interna.

De acordo com Braga (1989, p. 139) “[...] Apesar de tratarem matematicamente os dados contábeis, as técnicas
de análise nem sempre fornecem respostas completas ou inquestionáveis”. Logo, é com a capacidade de análise
do administrador financeiro que podemos determinar a validade dos indicadores e, consequentemente, a
influência na decisão de investimento ou financiamento conforme as impressões extraídas das demonstrações
financeiras da organização a partir de seus indicadores.

SAIBA MAIS
Para se aprofundar sobre o tema, indicamos a leitura do livro Análise das demonstrações
financeiras, dos autores Clóvis Luís Padoveze e Gideon Carvalho de Benedicto. Editora Cengage
Learning. Ano: 2013. Disponível em: https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?
codigo_sophia=562495

O advento da globalização atrai investidores das mais diversas nacionalidades, o que exige das organizações um
nível mínimo de padronização de suas demonstrações contábeis e financeiras, inclusive no que se refere à
análise de seus indicadores. Nesse sentido, a Lei n. 11.638 (BRASIL, 2007) trouxe alterações significativas
alinhadas com as normas internacionais de contabilidade. Gitman (2010, p. 38) nos diz que

Qualquer sociedade por ações tem muitas aplicações para os registros e relatórios padronizados de
suas atividades financeiras. Os relatórios devem ser preparados periodicamente para os reguladores,
credores, proprietários e administradores. As diretrizes usadas para elaborar e manter registros e
relatórios financeiros são conhecidas como princípios contábeis geralmente aceitos.

Isso auxilia o administrador financeiro de organizações, pessoa responsável por manter relação comercial com o
mercado internacional, inclusive investimentos e financiamentos de investidores do exterior.

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Importância das análises das demonstrações
financeiras para a administração financeira
A partir da análise financeira, a administração poderá desenvolver sua visão estratégica, inclusive com
estimativas futuras, identificação de limitações e potencialidades. De todas as pessoas envolvidas e interessadas
nos relatórios analíticos desenvolvidos pela contabilidade, os sócios/acionistas são os mais interessados,
independentemente da sua natureza jurídica ou porte econômico.

Para Braga (1989, p. 140), “[...] a análise das demonstrações financeiras sempre estará associada a um processo
decisório”. Nesse sentido, a profundidade e o enfoque da análise dependem do perfil do agente administrativo,
em relação ao tipo e à forma de abordagem.

EXEMPLO
A Cia. Topázio S.A., a fim de dobrar seu faturamento para o próximo exercício, identificou a
necessidade de ampliar seu parque fabril e, para tanto, propôs financiar esse investimento com
capital de terceiros em longo prazo disponível no mercado. Para isso, elaborou seu plano de
negócios especificando a partir dos fluxos de caixa projetados, o prazo de retorno do
investimento, a rentabilidade e o valor presente líquido (VPL). A tudo anexou suas
demonstrações contábeis dos últimos cinco anos para avaliar, entre outros tantos índices, sua
evolução patrimonial e os resultados alcançados.

Nesse exemplo, é possível perceber a importância da necessidade da elaboração dos indicadores e,


consequentemente, da análise das demonstrações financeiras para que se consiga uma interpretação coerente e
imparcial.

De posse dos relatórios e documentos apresentados pela organização, os agentes envolvidos nesse processo de
tomada de decisão terão acesso desde os indicadores mais simples (como as análises horizontal e vertical) até as
mais sofisticadas (como o VPL, a taxa interna de retorno/rentabilidade – TIR – e o payback).

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Figura 1 - É muito importante analisar as demonstrações financeiras da empresa antes de tomar qualquer
decisão
Fonte: PORTRAIT IMAGES ASIA BY NONWARIT, Shutterstock, 2019.

O primeiro passo para compreender a importância das análises das demonstrações financeiras é conhecer a
estrutura dessas demonstrações. Em nossa primeira tabela, apresentamos o balanço patrimonial da Cia. Topázio
S.A. em que, a partir dos conhecimentos característicos da contabilidade, sintetizamos na tabela a seguir.

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Tabela 3 - Análise sintética do balanço patrimonial da Cia. Topázio S.A.
Fonte: Elaborada pelo autor, 2019.

Verificamos, ainda na primeira tabela, que a organização sofreu uma redução patrimonial equivalente a -3%
(variação negativa) do ano 1 para o ano 2. Essa verificação é o exercício da análise horizontal que avalia a
evolução dos valores informados em um determinado intervalo (no caso, do ano 1 para o ano 2).

Assim, temos:

Em que:

AH = análise horizontal

Va1 = valor do ano 1

Va2 = valor do ano 2

O próximo passo é identificar a causa dessa redução patrimonial. A grosso modo, a partir da terceira tabela,
podemos verificar que houve uma significativa redução do capital circulante da organização, pois tanto o ativo
circulante quanto o passivo circulante apresentaram redução.

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FIQUE ATENTO
Para uma análise ainda mais qualificada, é necessário apurar índices cada vez mais específicos
e sofisticados: de atividade, rentabilidade, endividamento, retorno, liquidez etc. Somente a
partir da análise de um conjunto de indicadores será possível implementar as ações corretivas
necessárias, ou seja, as decisões da administração financeira sob os efeitos da análise realizada.

Podemos afirmar, portanto, que a análise financeira vai muito além do simples cálculo de índices e porcentagens:
são práticas profissionais que exigem do analista atenção às diversas ocorrências da organização que, de uma
forma ou de outra, podem influenciar sua estrutura e/ou evolução.

A realização da análise das demonstrações financeiras não se encerra nos indicadores calculados e extraídos dos
relatórios contábeis, como já dissemos. É a associação desses indicadores próprios com outros índices do
mercado corporativo e econômico (como taxas de juros, inflação e câmbio) que é determinada a fundamentação
das decisões a serem tomadas. Lembramos sempre que o objetivo das decisões de investimento e financiamento
corresponde à maximização da riqueza da organização (dos acionistas).

Fechamento
Começamos este tópico destacando a importância das demonstrações financeiras elaboradas pela contabilidade
para determinar, por exemplo, a posição patrimonial da organização e o quanto são fundamentais para as
decisões tomadas pelos agentes da administração financeira. Estas são baseadas em índices elaborados a partir
da observação e extração dos dados apresentados nas demonstrações financeiras, cujos indicadores
demonstrarão, em termos concretos, a situação financeira da empresa.

Visando fundamentalmente o estudo do desempenho econômico financeiro de uma organização em um


determinado período, a partir da análise das demonstrações financeiras, o analista financeiro será capaz de
apresentar um diagnóstico da situação presente e projetar tendências futuras.

Referências
BRAGA, R. Fundamentos e técnicas de administração financeira. São Paulo: Atlas, 1989.

BRASIL. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei n. 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Brasília,
2007. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11638.htm>. Acesso
em: 22/1/2019.

GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. Tradução técnica de Antonio Zoratto Sanvicente. 12. ed.
São Paulo: Pearson Addison Wesley, 2010.
filtro=autores&term=gitman&searchpage=1&from=autor%2F291%2FGitman%2C%252520Lawrence%

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PADOVEZE, C. L.; BENEDICTO, G. C. Análise das demonstrações financeiras. 3. ed. rev. São Paulo:

Cengage Learning, 2013. Disponívelem:https://biblioteca.sophia.com.br/9198/

index.aspcodigo_sophia=562495cfi/0!/4 /2@100:0.00

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Análise horizontal e análise
vertical
Marcos Valério Martins Soares

Introdução
Caro estudante, neste tópico pretendemos nos dedicar ao exercício analítico das demonstrações financeiras
tomando como ponto de partida a análise clássica da evolução e estrutura de suas informações. Você sabia que
tanto a análise horizontal quanto a vertical são consideradas técnicas simples e, ao mesmo tempo, uma das mais
importantes análises das informações contidas nas demonstrações financeiras? É por meio delas que
conseguimos, por exemplo, determinar a evolução de determinada rubrica por meio do tempo ou relacioná-la
com outra.

Existem muitas formas de análise das demonstrações contábeis, no entanto os usos desses instrumentos
tradicionais nos auxiliarão nessa tarefa, podendo, inclusive, serem aplicados para análise de outros índices.
Acompanhe!

Análise horizontal
A transformação dos valores das demonstrações financeiras em números relativos ou percentuais consiste no
instrumental básico denominado análise horizontal e análise vertical.

A análise horizontal é uma análise da evolução, crescimento ou diminuição, que permite identificar a
variação positiva ou negativa de um período em relação ao anterior. Toma-se como 100% todas as
contas de um determinado período e faz-se uma relação percentual em cima dos dados desse
período (PADOVEZE; BENEDICTO, 2013, p. 187).

Ela é considerada uma forma simples de analisarmos uma organização, bastando observar o comportamento de
uma determinada rubrica da demonstração financeira, em termos evolutivos ou de comparação.

A análise vertical, por sua vez, corresponde à análise da estrutura ou participação, tratando de correlacionar
uma determinada rubrica com outra de maior ou menor grandeza, conforme veremos no próximo item deste
tópico.

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Figura 1 - Análise das demonstrações financeiras
Fonte: Sakonboon Sansri, Shutterstock, 2019.

Considere, por exemplo, as informações fictícias apresentadas na tabela a seguir. Na coluna inicial (A), temos
representadas as contas patrimoniais da Cia. Naturela S.A. Na coluna B, temos os saldos das contas do exercício
findo em 31.12.X1. Já na coluna C atribuímos a razão de 100% para os valores apresentados na coluna B. A
coluna D traz o saldo do último exercício, encerrado em 31.12.X2. E, finalmente, na coluna E temos o resultado da
operação algébrica detalhada logo em seguida.

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Tabela 1 - Análise horizontal da demonstração financeira
Fonte: Elaborada pelo autor, 2019.

Tomando como referência os valores das colunas B e D para determinação do índice analítico da evolução do
ativo circulante, por exemplo, basta proceder da seguinte forma:

Isso implica dizer que o ativo circulante do ano X2 representa o equivalente a 68% do exercício-base, ou ainda
que houve uma redução de 31,9961% nesse grupo de ativos, ou seja, R$ 1.209.840,00 (que é a diferença entre o
ativo circulante de X1 e X2). Destes, subtraímos o valor constante da coluna B, o que resulta em R$ 2.571.365,00,
expressos na coluna D (último exercício).

Essa análise é determinada da seguinte forma:

Então, podemos confirmar o índice da análise horizontal realizando a seguinte operação:

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A mesma operação é realizada nas demais contas patrimoniais, apresentadas na coluna A, para que seja
determinada a variação em relação ao exercício-base (coluna B).

FIQUE ATENTO
A análise horizontal é realizada a partir de um conjunto de balanços e demonstrações de
resultados consecutivos, para os quais são calculados números-índices para cada elemento
apresentado. A base (referência) é o valor mais antigo da série.

Observe que adotamos quatro casas decimais nos cálculos de determinação dos indicadores da análise
horizontal para maior e melhor precisão dos valores e eliminar as possíveis distorções. É preciso lembrar que a
utilização de planilhas eletrônicas e softwares específicos de análise também contribuem para a eliminação
desses desvios.

A análise horizontal permitiu determinar uma evolução de 11,23% no ativo não circulante e, portanto, a única
conta a apresentar evolução positiva. O administrador financeiro poderia, por exemplo, interpretar como maior
imobilização do capital no exercício X2.

SAIBA MAIS
Para se aprofundar sobre o tema, indicamos a leitura do capítulo 10 do livro Curso de
administração financeira, dos autores Alexandre Assaf Neto e Fabiano Guasti Lima. Editora
Atlas. Ano: 2014. Disponível em: <https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?
codigo_sophia=571222

Para otimizar ainda mais sua análise, o próximo passo corresponderá à correlação com outras contas do mesmo
grupo, ou seja, a realização da análise vertical. Esse tipo de análise pode ser realizado de forma complementar ou
não à análise horizontal, dependendo do seu objetivo. No entanto, recomenda-se ao analista esgotar suas
oportunidades analíticas na elaboração do seu diagnóstico.

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Análise vertical
Corresponde à análise da estrutura ou participação. Dessa forma, tomamos os três grandes grupos que compõem
o balanço patrimonial como parâmetro de referência em relação aos seus respectivos itens: o ativo total, o
passivo total e o patrimônio líquido total. De modo semelhante, relacionamos os itens que compõem a
demonstração do resultado em relação ao faturamento, aos custos, às despesas gerais e administrativas etc.

[A] análise vertical é a análise de participação percentual ou de estrutura dos elementos das
demonstrações contábeis. Assume-se como 100% um determinado elemento patrimonial que, em
princípio, deve ser o mais importante e faz-se uma relação percentual de todos os demais elementos
sobre ele (PADOVEZE; BENEDICTO, 2013, p. 183).

Ainda segundo Padoveze e Benedicto (2013, p. 195),

[...] a análise vertical da demonstração de resultados é muito mais significativa do que a do balanço
patrimonial, pois, pelo fato de atribuir 100% à receita operacional, permite uma visão da estrutura
de custos e despesas da empresa.

Já para Braga (1989, p. 145) “[...] no balanço patrimonial, a análise vertical fornece indicadores que facilitam a
avaliação da estrutura do ativo e das suas fontes de financiamento”. Ou seja, são indicadores correspondentes às
participações percentuais dos saldos das contas de cada um dos grupos patrimoniais sobre o valor total do grupo
(ativo, passivo e patrimônio líquido).

Voltando a utilizar as informações da empresa Naturela S.A., realizaremos a análise vertical utilizando a
demonstração do resultado do exercício (DRE) apresentada na tabela a seguir. Tomando como base o total das
receitas líquidas de vendas, conforme demonstração divulgada ao fim do exercício X2, é possível chegar aos
resultados demonstrados na coluna da análise vertical.

Assim, é possível notar a participação de cada item da demonstração de resultado da empresa em relação ao
total das receitas líquidas de vendas.

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Tabela 2 - Análise vertical da demonstração financeira
Fonte: Elaborada pelo autor, 2019.

Tomando como referência a primeira linha da tabela anterior, receita líquida de venda, adotamos 100% para o
valor expresso na coluna B. Correlacionando-a com as demais contas, obtemos o índice expresso na coluna C.

EXEMPLO
Para determinação do índice analítico da participação do resultado líquido do exercício na
receita líquida de vendas, basta proceder da seguinte forma:

Dessa forma, o esforço operacional da organização alcançou um lucro líquido equivalente a


4,68%. Isso, comparado a outras taxas de remuneração de capital disponíveis no mercado,
prazo de investimento etc., determina a atração ou não de investidores interessados nesse
resultado.

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O administrador financeiro, ao realizar um estudo comparativo das demonstrações contábeis de uma
organização, deve utilizar tanto a análise horizontal quanto a vertical para verificar as várias mutações sofridas
pelos elementos contábeis. Considerando que suas características são de evolução (horizontal) e de estrutura
(vertical), elas são determinantes para uma avaliação ainda mais precisa, quando complementares.

Figura 2 - Análise vertical dos elementos contábeis


Fonte: Shutterstock, 2019.

Ressaltamos que as análises horizontal e vertical podem ser usadas para diversas situações, inclusive em
conjunto. Contudo, quando forem expressos valores negativos, os sinais obtidos podem levar a conclusões
equivocadas.

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FIQUE ATENTO
É possível avaliar a participação de cada elemento que compõe o lucro ou prejuízo (resultado)
da organização utilizando a análise vertical da DRE e ainda a relevância de cada elemento na
produção dos resultados da organização. Para isso, deve-se tomar como base para o cálculo
das porcentagens o valor da receita operacional (faturamento). No entanto, uma alteração
significativa da receita pode enviesar a análise vertical, prejudicando-a sensivelmente.

Embora essas análises sejam reconhecidas como técnicas eficientes, não podemos tomá-las por absolutas e,
portanto, recomendamos o desenvolvimento de outros indicadores para melhor compreensão da situação
econômico-financeira da organização, de modo que as observações extraídas não sejam consideradas como
conclusões (e imutáveis) do estudo analítico (ASSAF NETO; LIMA, 2014).

Fechamento
Vimos, neste tópico, a análise clássica da evolução e estrutura da organização por meio da interpretação das
informações apresentadas nas principais demonstrações contábeis e financeiras.

As análises horizontal e vertical dos elementos que compõem o balanço patrimonial e a DRE, embora sejam
consideradas ferramentas simples de análise, contribuem significativamente para a tomada de decisão pelo
administrador financeiro, pois dão conta de informar, por exemplo, a composição da receita no faturamento da
organização ou a influência de uma despesa na sua estrutura de custeio, bem como a sua evolução em um
determinado período ou série histórica. Recomendamos o estudo de composição e evolução patrimoniais, a fim
de subsidiar as muitas decisões administrativas.

Referências
ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. Disponível em:
https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=571222

BRAGA, R. Fundamentos e técnicas de administração financeira. São Paulo: Atlas, 1989.

PADOVEZE, C. L.; BENEDICTO, G. C. Análise das demonstrações financeiras. 3. ed. rev. São Paulo: Cengage
Learning, 2013. Disponível em: https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=562495

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Capital de giro, caixa e
equilíbrio financeiro
Marcos Valério Martins Soares

Introdução
Caro estudante, estudar o capital de giro tem grande importância para as finanças corporativas, pois é ele quem
determina reflexos visíveis no desempenho futuro das organizações. Neste tópico, falaremos um pouco sobre o
que ele é e sua relação com o caixa e o equilíbrio financeiro nas empresas. Seu conceito vem da visão cíclica do
processo operacional de geração de riquezas da organização que, de forma ininterrupta, compra insumos,
produtos e mercadorias, vende serviços, produtos e mercadorias, recebe os valores negociados e volta a
reproduzir o processo sistematicamente.

Assim, o capital de giro é igual ao ativo circulante e corresponde ao disponível, somados os valores a receber em
curto prazo e os estoques da empresa. Daí a importância de conhecer bem o ciclo operacional da organização,
seu capital de giro, sua política de fluxo de caixa para o alcance ideal de equilíbrio financeiro. Vamos saber mais?
Bons estudos!

Capital de giro
Em uma linguagem mais acessível, podemos dizer que o capital de giro identifica os recursos do ciclo
operacional periódico da organização, o que representa o financiamento em curto prazo, ou seja, todo o
montante dos investimentos feitos no ativo circulante realizados pela organização e que correspondem às
disponibilidades em caixa, bancos, aplicações financeiras, estoques e contas a receber (PADOVEZE; BENEDICTO,
2013).

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Figura 1 - O capital de giro e o ciclo operacional
Fonte: Elaborada pelo autor, 2019.

Já no seu sentido amplo ele corresponde aos ativos circulantes mantidos por uma organização, representando,
assim, o valor total dos recursos demandados para financiar seu ciclo operacional, que engloba as necessidades
circulantes identificadas desde a aquisição de matérias-primas até a venda e o recebimento dos produtos
elaborados (PADOVEZE; BENEDICTO, 2013), no processo industrial ou de insumos na oferta de serviços. Em seu
sentido restrito, o capital de giro é igual ao ativo circulante.

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Figura 2 - O capital de giro e o ativo circulante
Fonte: Elaborada pelo autor, 2019.

Na linguagem contábil, capital de giro é reconhecido como capital de giro bruto, sob o qual se fundamenta a
avaliação do equilíbrio financeiro de uma organização. De acordo com Padoveze e Benedicto (2013, p. 247), “[...]
o comportamento do capital de giro é extremamente dinâmico, exigindo modelos eficientes e rápidos de
avaliação da situação financeira da empresa”.

FIQUE ATENTO
Dentre os elementos do ativo circulante, as disponibilidades em caixa exigirão do
administrador financeiro habilidades essenciais para o controle e a gestão dos recursos
empregados, de modo que não comprometam a capacidade de a organização cumprir seus
compromissos financeiros.

Isso implica dizer que um direcionamento equivocado de determinada necessidade de investimento em giro
pode comprometer seriamente a solvência da organização refletindo em sua posição econômica e de
rentabilidade.

Caixa
Por menor que seja o negócio, ele sempre estará lá: o caixa. É por ele que passam os recursos resultantes das
operações comerciais da organização. No universo corporativo, o caixa ou os equivalentes de caixa
correspondem aos recursos disponíveis em contas-correntes e determinantes do fluxo de caixa.

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Figura 3 - Fluxo de caixa
Fonte: garagestock, Shutterstock, 2019.

O gestor financeiro, de posse das conclusões da análise financeira, deverá tomar as medidas necessárias de
planejamento e controle para eliminar eventuais impropriedades no dimensionamento, na estruturação e na
utilização do capital de giro.

FIQUE ATENTO
Para o controle do caixa da organização, normalmente é adotada a escrituração de livro
contábil auxiliar, que é destinado exclusivamente ao lançamento cronológico de suas entradas
(recebimento de receitas) e saídas (pagamentos de despesas). Embora seja de uso facultativo,
o livro caixa requer metódica escrituração diariamente detalhada.

A escrituração do livro caixa diz muito sobre o comportamento da organização, especialmente em relação às
práticas de seus gestores. A ausência dessa prática pode contribuir para o surgimento dos “ralos”, que costumam
minar seu equilíbrio financeiro.

De acordo com Braga (1989, p. 123),

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Se as disponibilidades forem mantidas em níveis muito baixos, haverá o comprometimento da
capacidade de solvência da empresa. Por outro lado, o excesso de disponibilidades prejudica a
rentabilidade. A administração das disponibilidades buscará um equilíbrio entre tais extremos, mas
esta não é uma tarefa fácil devido a dinâmica e aos descompassos dos fluxos de pagamentos e de
recebimentos.

Portanto, é conveniente que, ocorrendo sobras temporárias de capital (excesso de disponibilidades), estas sejam
aplicadas no mercado financeiro em aplicações de curto prazo – cujos rendimentos, ainda que não sejam muito
atraentes, poderão garantir, ao menos, a compensação dos custos incidentes sobre numerários ociosos.

Afinal, de conformidade com os princípios da administração financeira, a maximização da rentabilidade deve ser
alcançada por meio das atividades operacionais, e não com aplicações financeiras de alto risco (BRAGA, 1989).

As tentações do excesso de disponibilidades costumam se assentar na certeza de que todo risco, por menor que
seja, é calculado. Aplicações fundamentadas em especulações de mercado devem ser evitadas, sob pena de que a
organização possa sofrer enormes perdas com essas operações, em função da flutuação dos preços do mercado,
incorrendo inevitavelmente em desequilíbrio financeiro.

Equilíbrio financeiro
Contabilmente, dizemos que uma organização alcança seu equilíbrio financeiro quando a soma de suas receitas
líquidas (descontados os custos variáveis) é suficiente para pagar suas despesas fixas operacionais.

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Figura 4 - Equilíbrio financeiro
Fonte: alphaspirit, Shutterstock, 2019.

Segundo Gitman (2010), ele corresponde ao nível do lucro antes dos juros e do imposto de renda (Lajir),
necessário para cobrir todos os custos financeiros fixos, ou seja, aquele no qual o lucro por ações (LPA) é igual a
zero.

De acordo com Assaf Neto e Lima (2014, p. 294), “[...] A grande contribuição do ponto de equilíbrio financeiro é
eliminar os eventuais conflitos entre os prazos de pagamento e de recebimentos”.

O ponto de equilíbrio financeiro (PEF) calcula o volume de vendas igualando as entradas com as saídas de caixa.
Ele pode ser obtido aplicando a seguinte fórmula:

Em que:

PEF = ponto de equilíbrio financeiro

CF = custos fixos

não desembolsáveis = despesas que não geram desembolso (depreciação)

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amortizações = reduções da dívida por meio de pagamentos parciais

V = vendas

CV = custos variáveis

Esse tipo de informação é indispensável para o correto dimensionamento da necessidade de capital de giro. As
projeções dos fluxos de entradas e saídas de recursos financeiros constituem um instrumento imprescindível na
administração financeira das disponibilidades (BRAGA, 1989).

EXEMPLO
A organização Turmalina S.A. apresenta custos e despesas operacionais fixos de R$ 2.000.000
mensais. O preço de venda de seu único produto é de R$ 1.500, e seu custo/despesa variável é
de R$ 500. Essa empresa tem uma depreciação de R$ 100.000 e um empréstimo com
amortização correspondente a R$ 700.000. Determine seu ponto de equilíbrio financeiro.
Aplicando a fórmula aos dados fornecidos, temos:

Isso corresponde a 2.600 unidades vendidas ao preço de R$ 1.500.

Por meio do orçamento de caixa, por exemplo, a organização poderá evidenciar mês a mês as entradas e saídas
detalhadamente, inclusive o resultado (positivo ou negativo) incorrido. A análise abrangente do orçamento de
caixa poderá auxiliar o administrador financeiro na tomada de decisão necessária às possíveis distorções de
fluxo de caixa que venham a ocorrer.

Necessidade de capital de giro


O dimensionamento correto da necessidade de capital de giro é uma tarefa que requer do administrador
financeiro uma visão abrangente do processo operacional da organização no que se refere às suas práticas
comerciais e financeiras, além da sua política de prazos de cobranças e recebimentos.

Normalmente, os recursos financeiros alocados no ativo circulante da organização representam a maior parte de
seus ativos totais. Isso demonstra, graças ao significativo nível de aplicações em itens de curto prazo, a
importância do capital de giro no desenvolvimento operacional da organização.

Um importante instrumento para a administração do capital de giro consiste na análise do ciclo operacional da
organização que, por sua vez, é composto por dois ciclos: o ciclo econômico e o ciclo financeiro.

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SAIBA MAIS
Para se aprofundar sobre o tema, indicamos a leitura do capítulo 1 do livro Administração do
capital de giro, do autor Alexandre Assaf Neto. Editora Atlas. Ano: 2011. Disponível
em:https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=562400

Projetar a necessidade de capital de giro com base no ciclo financeiro não costuma produzir resultados
satisfatórios para a organização por conta de seus parâmetros, que podem ser administrados de modo que
forneçam determinado valor de capital de giro, exigindo do administrador habilidades para, por exemplo,
desenvolver uma análise inversa.

Fechamento
Podemos acompanhar, neste tópico, que a identificação do capital de giro da organização demonstra uma
capacidade de análise mais sofisticada por parte do administrador financeiro, com condições de segregar as
informações contidas no balanço patrimonial, conforme a atividade operacional e o comportamento financeiro
da organização.

Essa capacidade de análise permite ao administrador financeiro o planejamento adequado para o uso dos
recursos financeiros disponíveis para o financiamento das atividades operacionais da organização, o que pode
ser melhor compreendido ao se determinar o capital circulante líquido e os índices de atividade.

Referências
ASSAF NETO, A. Administração do capital de giro. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2011. Disponível em:
https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=562400

______; LIMA, F. G.Curso de administração financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. Disponível em:
https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=571222

BRAGA, R. Fundamentos e técnicas de administração financeira. São Paulo: Atlas, 1989.

GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. Tradução técnica de Antonio Zoratto Sanvicente. 12. ed.
São Paulo: Pearson Addison Wesley, 2010.

Análise das demonstrações financeiras

PADOVEZE, C. L.; BENEDICTO, G. C. . 3. ed. rev. São Paulo: Cengage

-8-
PADOVEZE, C. L.; BENEDICTO, G. C. Análise das demonstrações financeiras. 3. ed. rev. São Paulo: Cengage
Learning, 2013. Disponível em: https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=562495

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Aprofundamento do capital de
giro
Marcos Valério Martins Soares

Introdução
Caro estudante, neste tópico discutiremos o desdobramento do capital de giro, que corresponde às
disponibilidades do ativo circulante da organização, representado pelo caixa, pelos bancos, pelas aplicações
financeiras e pelos estoques. Identificaremos o capital de giro líquido para compreender sua influência na saúde
financeira da organização.

Você sabe qual é o significado de um resultado negativo, positivo ou nulo do capital circulante líquido (CCL)?
Como isso reflete no confronto investimento versus financiamento? E, principalmente, sabe qual é a origem dos
recursos aplicados nas operações da organização?

É preciso estarmos alertas para as questões de investimento nas operações de curto prazo (ativo circulante) com
recursos financiados também de curto prazo (passivo circulante). Bons estudos!

Capital circulante líquido (CCL)


O CCL, também conhecido pela expressão capital de giro líquido, é um conceito um pouco mais amplo do que
capital de giro. Afinal, significa dizer o quanto de recursos próprios a empresa está utilizando em suas atividades
operacionais.

Para identificarmos seu valor, basta subtrair os saldos do passivo circulante (PC) dos saldos do ativo circulante
(AC) demonstrados no balanço patrimonial.

Logo,

Em que:

AC = ativo circulante

PC = passivo circulante

CCL = capital circulante líquido

-1-
CCL = capital circulante líquido

Assim, com base nessas equações relativamente simples, nas quais o AC menos o PC resulta no CCL, conseguimos
ter essa informação de forma rápida em qualquer balanço patrimonial e de qualquer organização.

Veja um exemplo na tabela a seguir.

Tabela 1 - Identificação do CCL


Fonte: Elaborada pelo autor, 2019.

Em suma, o CCL “[...] é o volume de recursos em longo prazo (permanentes) da empresa que se encontra
aplicado no ativo circulante, devendo, por conseguinte, gerar condições de sustentação e crescimento em suas
atividades” (ASSAF NETO, 2015, p. 143).

Ele representa, portanto, uma folga financeira que, sob a ótica da liquidez, quanto mais elevado, melhor. Em
relação aos recursos empregados pela organização, identificamos na figura anterior três fontes desses recursos
no passivo: o passivo circulante, o exigível em longo prazo e o patrimônio líquido.

No entanto, o passivo total apresenta como origens desses recursos duas fontes: os recursos próprios
(patrimônio líquido) e não próprios (exigibilidades de terceiros). De acordo com Assaf Neto (2015, p. 142), “[...]
isso quer dizer que a empresa pode financiar suas necessidades de circulante com seus recursos próprios,
originados dos proprietários, e com fundos levantados junto a terceiros, quer seja em curto ou longo prazo”.

A definição de capital de giro próprio (CGP) está associada à identificação do CCL, pois corresponde ao resultado

-2-
A definição de capital de giro próprio (CGP) está associada à identificação do CCL, pois corresponde ao resultado
da diferença entre o patrimônio líquido (PL) e o AC, representados na seguinte expressão:

Podemos definir melhor o CCL como sendo “[...] o excedente dos recursos permanentes (de longo prazo),
próprios ou de terceiros, empregados pela organização, em relação ao montante igualmente aplicado em longo
prazo” (ASSAF NETO, 2015, p. 207).

Nesse caso, podemos obtê-lo na seguinte expressão:

Em que:

CCL = capital circulante líquido

PL = patrimônio líquido

ELP = exigível em longo prazo

AP = ativo permanente

RLP = realizável em longo prazo

Se tomarmos os valores expressos na primeira figura, teremos o seguinte resultado:

Podemos observar que o CCL se apresentou exatamente igual ao resultado da simples subtração do AC pelo PC.
No entanto, é preciso considerar que a composição patrimonial das organizações pode variar e, portanto, não é
correto afirmar que o CCL obtido dessa forma é melhor ou pior do que o modo mais simplificado.

FIQUE ATENTO
Em nosso exemplo, o CCL obtido se apresentou positivo. No entanto, poderia ser ainda
negativo ou nulo, como veremos ainda neste tópico. Do ponto de vista da liquidez, quanto mais
positivo, melhor, pois representa folga financeira como já dissemos. Porém, a melhor situação
é quando as operações de curto prazo são financiadas por recursos de longo prazo, ou seja,
quando o CCL encontrado for negativo.

Para uma análise mais completa, adotaremos duas expressões algébricas: a simplificada (que considera apenas o
circulante) e a completa (que considera os valores expressos no ativo e no passivo não circulante).

-3-
Tipos de CCL
Temos disponíveis três tipos de CCL: o negativo, o positivo e o nulo. Veremos, a seguir, as características de cada
um deles e sua correta interpretação, permitindo, inclusive, sua correlação com os indicadores de liquidez.

CCL negativo
Estrategicamente, se refere à situação econômica ideal das organizações caso, em tese, as operações de curto
prazo sejam financiadas com recursos de longo prazo. É preciso compreender que esses recursos representam
capital de terceiros, normalmente advindos de empréstimos e financiamentos, ou seja, geram despesas
financeiras (ASSAF NETO; SILVA, 1997).

FIQUE ATENTO
Para entendermos melhor e de forma mais eficaz a interpretação do CCL negativo, precisamos
analisar corretamente o ciclo operacional da organização e verificarmos a existência de prazos
de recebimentos inferiores aos prazos de pagamento. Do contrário, pode acontecer a
insolvência das obrigações de curto prazo da organização.

Podemos conferir, na tabela a seguir, que o CCL negativo (correspondente à fração de R$ 40.000) pode estar
sendo temporariamente financiado pelo ativo não circulante da organização.

-4-
Tabela 2 - CCL negativo
Fonte: Elaborada pelo autor, 2019.

Lembrando:

CCL = capital circulante líquido

AC = ativo circulante

PC = passivo circulante

PL = patrimônio líquido

ELP = exigível em longo prazo

AP = ativo permanente

RLP = realizável em longo prazo

A situação negativa no capital circulante líquido indica que os recursos não circulantes são insuficientes

[...] para cobrir todas as necessidades de investimentos de longo prazo, devendo, nessa situação,

-5-
[...] para cobrir todas as necessidades de investimentos de longo prazo, devendo, nessa situação,
serem utilizados fundos provenientes do passivo circulante. Essa situação indica um aperto na
liquidez da empresa, ou seja, parte de suas dívidas vencerá em prazos inferiores aos retornos
esperados das aplicações de seus recursos (ASSAF NETO; LIMA, 2014, p. 649).

Vejamos, agora, casos em que o CCL é positivo.

CCL positivo
Conforme apresentado na tabela a seguir, o CCL pode ser entendido como uma medida estática da folga
financeira que a organização reserva para cumprir seus compromissos de curto prazo (BRAGA, 1989).

Tabela 3 - CCL positivo


Fonte: Elaborada pelo autor, 2019.

Nesse sentido, podemos entender que, quanto maior for o CCL, menor será o risco de insolvência da empresa. No
entanto, precisamos nos atentar para a composição do AC para não incorrer em avaliação equivocada, uma vez
que nem sempre o CCL negativo implica dificuldades financeiras.

-6-
SAIBA MAIS
Para se aprofundar sobre o tema, indicamos a leitura do item 10.3 do livro Estrutura e análise
de balanços: um enfoque econômico-financeiro, do autor Alexandre Assaf Neto. Editora Atlas.
Ano: 2015. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788597000146
>.

Outro aspecto relevante pode ser, por exemplo, a existência de elevada participação de estoques de baixo giro,
tornando inverídica a conclusão de folga financeira.

Considere:

Lembrando:

CCL = capital circulante líquido

PL = patrimônio líquido

ELP = exigível em longo prazo

AP = ativo permanente

RLP = realizável em longo prazo

Nesse caso, o ELP é representado pelo passivo não circulante, enquanto o AP e o RLP correspondem ao ativo não
circulante. Então, teremos:

Certificamos, assim, que parte das aplicações de curto prazo da organização é financiada com recursos próprios
ou de terceiros.

CCL nulo
Ocorre CCL = 0 ou nulo quando o AC e o PC são iguais. Veja o exemplo na tabela a seguir.

-7-
Tabela 4 - CCL nulo
Fonte: Elaborada pelo autor, 2019.

Então, podemos dizer que há total igualdade entre os prazos e os valores dos recursos captados e aplicados pela
organização, e esta não apresenta folga financeira (ASSAF NETO; LIMA, 2014, p. 649).

Isso quer dizer que as necessidades de investimentos circulantes são financiadas por fontes de recursos da
mesma maturidade. De acordo com Assaf Neto (2015, p. 145), “[...] Apesar dessa aparente compensação,
empresas co CCL nulo convivem geralmente com desequilíbrios financeiros determinados pela necessidade de
manterem um investimento mínimo em giro”.

Relação entre CCL e rentabilidade


Um CCL elevado pode prejudicar a rentabilidade da organização. Afinal, excessos de ACs podem representar
gestão ineficiente dos recursos financeiros disponíveis.

-8-
EXEMPLO
A manutenção de elevados estoques, principalmente de produtos e mercadorias de baixa
rotatividade ou altamente perecíveis, pode representar uma imobilização temporária de
capital, comprometendo a expectativa de rentabilidade da organização. Outros ativos expostos
aos efeitos da inflação ou mesmo os recursos próprios ou de terceiros são avaliados sob a ótica
do custo de oportunidade.

Outro aspecto interessante é compreender que, graças à característica de mensuração pelo regime de
competência, nem sempre os lucros líquidos auferidos no período apresentam nível correspondente de liquidez
no caixa. Para Assaf Neto (2015, p. 146),

[...] os lucros não representam efetivamente fundos, em razão de não inserirem, em seu computo,
outras entradas e saídas de recursos, como pagamento de dividendos, captação e amortização de
empréstimos, vendas de ações etc.

Isso quer dizer que o valor do lucro pode não ter sido realizado caso as vendas, na ocasião da apuração do

resultado do exercício, tenham ocorrido dentro do prazo.

Fechamento
Evoluindo em nossa capacidade de análise das demonstrações financeiras, avançamos até a identificação do
capital circulante líquido (CCL, também chamado de capital de giro líquido) com a utilização de dois métodos:
um mais simplificado e outro mais robusto – este envolve o patrimônio líquido e o ativo permanente.

Aprendemos que existem possibilidades de ocorrência do CCL: o positivo, o negativo e o nulo, e avaliamos, à luz
da gestão financeira, os efeitos desses resultados, especialmente em relação à rentabilidade. Compreendemos,
inclusive, que nem sempre a ocorrência de lucro significa disponibilidade de numerários no AC. É necessário
estarmos atentos aos ciclos operacional e financeiro da organização para podermos analisar com eficiência os
resultados do CCL.

Referências

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ASSAF NETO, A. Estrutura e análise de balanços: um enfoque econômico-financeiro. 11. ed. São Paulo: Atlas,
2015. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597000146/cfi/0!/4/2@100:
0.00>. Acesso em: 29/11/2018.

______; LIMA, F. G.Curso de administração financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. Disponível em:
https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=571222

/2018.

______; SILVA, C. A. T. Administração do capital de giro. São Paulo: Atlas, 1997.

BRAGA, R. Fundamentos e técnicas de administração financeira. São Paulo: Atlas, 1989.

- 10 -
Índices de atividade: período
médio de renovação dos
estoques, período médio de
pagamento e período médio de
cobrança
Marcos Valério Martins Soares

Introdução
Caro estudante, os índices de atividades, também conhecidos na literatura de administração financeira como
indicadores do ciclo operacional ou da atividade operacional, são considerados dinâmicos, permitindo que sejam
analisados o desempenho operacional da organização e suas necessidades de investimento em giro.

Uma vez que compreendemos a estrutura do capital de giro, a composição do capital circulante líquido (CCL) e
as implicações de seus resultados (positivo, negativo ou nulo), bem como os correlacionamos com a liquidez da
organização, o próximo passo é estudarmos os indicadores do ciclo operacional. Vamos lá?

Índices de atividade (indicadores do ciclo


operacional)
Determinantes para a identificação dos elementos impactantes na solvência da organização e,
consequentemente, na sua rentabilidade, os índices de atividade dependem das informações expressas nas
demonstrações contábeis e financeiras da organização.

-1-
Figura 1 - Identificação dos índices de atividade
Fonte: wrangler, Shutterstock, 2019.

Tão importante quanto a inter-relação entre as principais demonstrações contábeis é sabermos da sua
sistemática elaboração para conhecer a evolução dos dados necessários à produção dos indicadores.

A partir dos dados constantes nas demonstrações e apurados esses indicadores, podemos consolidar o que Assaf
Neto (2015) convencionou chamar de período de maturação, ou seja, o tempo médio decorrido desde a compra
da matéria-prima, sua transformação em produto acabado, sua venda até o recebimento. Assim, quanto mais
longo for esse período, maior será a necessidade de recursos para financiamento das atividades da organização.

FIQUE ATENTO
Os indicadores do ciclo operacional medem a eficiência da administração dos estoques. A
existência de um prazo maior de estocagem acarreta a necessidade de mais investimentos no
ativo e, consequentemente, produzirá redução nos retornos desses investimentos,
comprometendo a rentabilidade da organização. Eles representam, portanto, um desafio para
a administração financeira, determinada a assegurar a maximização da riqueza da organização
e de seus acionistas.

A seguir, trataremos de descrever e explicar os principais indicadores de desempenho da organização: período

-2-
A seguir, trataremos de descrever e explicar os principais indicadores de desempenho da organização: período
médio de renovação dos estoques (PMRE), período médio de pagamento (PMP) e período médio de cobrança
(PMC).

Período médio de renovação dos estoques (PMRE)


Também conhecido como período médio de estocagem de matéria-prima (PME), indica o tempo médio, sempre
verificado em dias, entre a aquisição do material ou insumo até sua requisição pela produção. Corresponde,
portanto, ao prazo médio que a matéria-prima ou o insumo permanece no estoque à espera do seu consumo no
processo de produção.

Figura 2 - Determinação do prazo médio de estocagem


Fonte: werny, Shutterstock, 2019.

Para determinação do PMRE, adotamos a seguinte expressão algébrica:

Veja como podemos fazer o cálculo para identificar o PMRE da organização Turmalina S.A., por exemplo, que ao
fim do exercício X1 teve seus controles de estoque um consumo anual de R$ 10.025.450,00 e saldo dos estoques
em R$ 1.788.350,00.

Substituindo os valores na expressão, temos:


• Consumo de materiais: 10.025.450,00
• Estoque de materiais: 1.788.350,00

-3-
• Estoque de materiais: 1.788.350,00

Logo,

Segundo Assaf Neto e Lima (2014, p. 241), “[...] Na fórmula, usa-se 360 para multiplicar o resultado da divisão do
estoque médio pelo custo do produto vendido, para fornecer o prazo médio de estocagem em dias. Desejando-se
saber em meses, basta multiplicar por 12”.

FIQUE ATENTO
Essa observação de Assaf Neto e Lima também serve para a determinação dos demais prazos
que o administrador financeiro deseja identificar. Assim, os indicadores de atividade podem
ser determinados ao dia, mês e ano, dependendo da necessidade e estratégia da administração
financeira.

Ainda em relação aos controles de estoque, há outro importante índice a ser identificado: o giro do estoque (GE).
Para seu cálculo, adotamos o consumo de materiais pelo seu estoque final. Assim, baseados nos mesmos valores
da organização Turmalina S.A., temos:
• Consumo de materiais: 10.025.450,00
• Estoque de materiais: 1.788.350,00

Logo,

Isso quer dizer que os estoques de materiais dessa organização giram 5,60 vezes no período.

Período médio de pagamento (PMP)


Indica o prazo em que os insumos, os produtos, as matérias-primas e/ou as mercadorias estão à disposição da
organização, sem que haja correspondente desembolso de caixa. Em outras palavras, é o intervalo compreendido
entre a compra, produção e venda do produto/serviço que, de alguma forma, é financiado pelo fornecedor.

Ele é determinado pela seguinte expressão:

Isso requer da administração financeira um controle eficiente de suas compras para uma apuração precisa de

-4-
Isso requer da administração financeira um controle eficiente de suas compras para uma apuração precisa de
seu saldo médio de contas a pagar (duplicatas) e, principalmente, um registro de todas as compras efetuadas a
prazo.

Para isso, além das informações disponíveis nas demonstrações contábeis, como é o caso do balanço patrimonial
(BP) – registro do saldo das duplicatas no passivo da organização –, a administração financeira precisa manter
um relacionamento estreito com a tesouraria e a controladoria para obter outras informações relacionadas à
política de compra praticada. Conhecer o PMP, portanto, é fundamental para a obtenção de folga financeira no
ciclo operacional da empresa.

Podemos conhecer a determinação do PMP a partir das informações disponíveis na tabela a seguir,
correspondendo à situação patrimonial da organização Turmalina S.A.

Tabela 1 - BP para o cálculo dos índices de atividade


Fonte: Elaborada pelo autor, 2019.

Com base exclusivamente nessas informações e sabendo que o total de compras anuais a prazo foi de R$

-5-
Com base exclusivamente nessas informações e sabendo que o total de compras anuais a prazo foi de R$
2.112.000,00, determinemos seu PMP. Para isso, devemos considerar a média das duplicatas a pagar – nesse
caso, representadas pelo saldo das contas de fornecedores.

Logo,
• Duplicatas a pagar = 240.000 + 288.000 2
• Duplicatas a pagar = 264.000

Então, substituindo os valores na fórmula, temos:

Observe que o resultado é dado em tempo, ou seja, em dias.

Período médio de cobrança (PMC)


Corresponde ao prazo médio de recebimento (PMR). Portanto, na determinação do ciclo operacional da
organização, podemos usar a sigla PMC ou a PMR. No entanto, é preciso entender que estamos nos referindo ao
prazo que a organização demora para receber integralmente o valor de suas vendas.

EXEMPLO
A determinação e a constante verificação do PMC de uma organização são uma ferramenta
eficaz de controle financeiro – o que não somente contribui para a determinação do ciclo
operacional da organização como também auxilia na correção de possíveis insuficiências de
caixa, no estabelecimento de instrumentos de controle do contas a pagar, nas negociações com
os fornecedores, no planejamento das vendas, nas campanhas promocionais etc.

Esse é um clássico exemplo da inter-relação entre as duas principais demonstrações contábeis de uma
organização: no BP identificamos a média do saldo de duplicatas a receber, já na da demonstração do resultado
do exercício (DRE) temos a informação da receita bruta de vendas.

-6-
Tabela 2 - DRE para o cálculo dos índices de atividade
Fonte: Elaborada pelo autor, 2019.

Para o cálculo do PMC, usamos a seguinte expressão:

Então, considerando a média das duplicatas a receber do BP, temos:


• Duplicatas a receber = 195.000 + 234.000 2
• Duplicatas a receber = 214.500

Ao usarmos os dados do BP (primeira tabela) com as informações da DRE (segunda tabela) da empresa
Turmalina S.A., temos:

Com o resultado igualmente dado em tempo, ajustamos a dízima para o valor imediatamente superior, por

-7-
Com o resultado igualmente dado em tempo, ajustamos a dízima para o valor imediatamente superior, por
questões de prudência.

Uma vez conhecido o PMC, associado aos demais indicadores de atividade, podemos determinar os ciclos
operacional e financeiro da organização.

SAIBA MAIS
Para se aprofundar sobre o tema, indicamos a leitura do capítulo 6 do livro Análise das
demonstrações contábeis: contabilidade empresarial, do autor José Carlos Marion. Editora
Atlas. Ano: 2013. Disponível em: https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?
codigo_sophia=562493

O simples confronto entre o PMC e o PMP, por exemplo, pode auxiliar a administração financeira a identificar por
quanto tempo terá folga financeira para realizar suas operações e, principalmente, como estas estão sendo
financiadas.

Fechamento
Pudemos acompanhar, neste tópico, que, embora obtidos individualmente, os resultados dos indicadores de
atividade se tornam um conjunto poderoso de análise à disposição do administrador financeiro. Eles são uma
ferramenta que, quanto mais exercitada, maiores serão seu poder de alcance analítico e sua contribuição para a
gestão dos recursos disponibilizados para operacionalizar as atividades da organização. A determinação do ciclo
operacional, do ciclo financeiro e do ciclo econômico perpassa pela identificação dos indicadores de atividade
que envolvem as principais demonstrações contábeis da organização. É esperado que se possa comparar as
informações de diferentes períodos: quanto mais períodos, melhores serão as médias determinadas e mais
precisos os indicadores.

É salutar darmos à elaboração das demonstrações contábeis e financeiras da organização a atenção que elas
realmente merecem, sob pena de comprometer os resultados dos indicadores desenvolvidos e, especialmente,
sua análise.

Referências
ASSAF NETO, A. Estrutura e análise de balanços: um enfoque econômico-financeiro. 11. ed. São Paulo: Atlas,
2015. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597000146/cfi/0!/4/2@100:
0.00>. Acesso em: 29/11/2018.

-8-
______; LIMA, F. G.Curso de administração financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. Disponível em: <
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522485185/cfi/0!/4/2@100:0.00>. Acesso em: 30/1
/2019.

MARION, J. C. Análise das demonstrações contábeis: contabilidade empresarial. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2013.
Disponível em: https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=562493

-9-
Análise financeira de
indicadores de atividade
Marcos Valério Martins Soares

Introdução
Caro estudante, as atividades operacionais da organização são compostas de muitas fases e incluem desde seu
planejamento operacional, perpassando pela compra dos insumos, materiais, produtos e mercadorias até o
recebimento das vendas dos produtos e serviços, configurando-se em um evento contínuo denominado ciclo
operacional. São destacados, dentro do ciclo operacional e a partir de suas características específicas, os ciclos
econômico e financeiro.

Você sabia que, para a determinação desses ciclos, é importante saber analiticamente os indicadores de
atividade? Isso porque a inter-relação entre os prazos de estocagem, pagamento e recebimento pode sinalizar a
existência ou não de folga financeira para a organização. Vamos conhecer mais sobre eles? Acompanhe!

Ciclos operacional, econômico e financeiro


Um importante instrumento para a administração do capital de giro consiste na análise do ciclo operacional da
organização, composto por dois outros ciclos: o econômico e o financeiro, como podemos verificar na figura a
seguir.

-1-
Figura 1 - Ciclos operacional, econômico e financeiro
Fonte: PADOVEZE e BENEDICTO, 2013, p. 156.

• Ciclo operacional: corresponde a todos os atos praticados pela organização para o alcance de seu
objeto social, que compreende o planejamento, a execução e o controle das atividades.
• Ciclo econômico: compreende o período entre a aquisição de insumos, mercadorias e/ou matéria-
prima (dependendo da atividade da organização) e a venda de serviços, produtos ou mercadorias.
Equivale ao prazo de movimentação do estoque.
• Ciclo financeiro: consiste no prazo médio decorrido entre as saídas e entradas de caixa, ou seja, a
movimentação dos recursos financeiros.

Podemos aferir, então, que os ciclos são representados pelo momento da ocorrência dos eventos no transcorrer
do tempo e, normalmente, são representados em dias. Assim, quanto maior o ciclo, maior a quantidade de dias
para a execução do ciclo operacional completo e maior a necessidade de recursos financeiros.

Ciclo operacional
Consiste nas fases realizadas pelos diferentes setores da organização na consecução de suas atividades
operacionais. Segundo Assaf Neto (2015), a empresa persegue sistematicamente a produção de bens ou serviços
e, consequentemente, vendas e recebimentos procurando, com isso, obter lucros satisfatórios às expectativas de
retorno de seus agentes financiadores.

-2-
Figura 2 - Ciclo operacional: compra e vendas
Fonte: ASSAF NETO, 2015, p. 169.

A figura anterior apresenta o que Assaf Neto (2015) considera como sequência natural das fases operacionais da
organização: com início a partir da compra de materiais a serem empregados direta ou indiretamente na
produção das mercadorias comercializadas, gerando a cobrança das vendas realizadas.

Devemos salientar que cada fase apresentada possui uma duração diferente – dependendo, necessariamente, da
característica da organização, da indústria, do comércio e/ou do serviço.

O ciclo operacional corresponde ao intervalo de tempo compreendido desde a compra das


mercadorias ou dos materiais de produção até o recebimento da venda. Trata-se, portanto, de um
período (médio) em que são investidos recursos nas operações sem que ocorram as entradas de
caixa correspondentes. Parte desse capital de giro é financiada pelos fornecedores que concederem
prazo para pagamento (BRAGA, 1989, p. 127).

Padoveze e Benedicto (2013, p. 157) concordam: “[...] o ciclo operacional pode ser definido como todas as fases
operacionais existentes no interior da empresa, que vão desde a aquisição de matérias-primas para a produção
até o recebimento das vendas realizadas”.

FIQUE ATENTO
As aplicações financeiras de curto prazo (ativo circulante), por representarem
disponibilidades, podem reduzir obrigações com terceiros, especialmente por acreditarem que
uma boa prática de gestão do capital circulante líquido (CCL) consiste na manutenção de um
caixa mínimo para as necessidades sazonais de fluxo de caixa.

Uma vez compreendidos esses conceitos, cabe ao administrador financeiro se atentar aos instrumentos de
registro e controles necessários à boa gestão dos recursos empregados em cada fase.

-3-
Ciclo econômico
É caracterizado “[...] pelo processo de consumo de recursos, produção e entrega do produto ou serviço”
(PADOVEZE; BENEDICTO, 2013, p. 157). Como podemos observar na figura a seguir, ele compreende o intervalo
de ações ocorridas desde a compra e estocagem de insumos, produtos e mercadorias até o recebimento da venda
de produtos ou serviços.

Figura 3 - Ciclo econômico


Fonte: johnworks, Shutterstock, 2019.

Para Padoveze e Benedicto (2013, p. 157), “[...] em cada um dos momentos do ciclo econômico há possibilidade e
necessidade de mensuração dos eventos”. Isso reforça o compromisso da interação da administração financeira
com outros setores da organização, como tesouraria, controladoria, contabilidade e planejamento. Afinal, eles
estão envolvidos além das questões operacionais e/ou fiscais e tributárias, por exemplo.

-4-
Ciclo financeiro
Compreende o período de tempo ou intervalo entre o pagamento de insumos, materiais e mercadorias e o
recebimento das vendas realizadas. Também conhecido como ciclo de caixa, Assaf Neto (2015) explica que ele é
determinado basicamente pela diferença entre o número de dias do ciclo operacional e o prazo médio de
pagamento a fornecedores dos insumos.

Para Padoveze e Benedicto (2013, p. 157), “[...] o ciclo financeiro normalmente é diferente do ciclo econômico,
pois os momentos de pagamento e recebimento dos valores dos eventos econômicos são normalmente
prolongados por prazos de pagamento e recebimento”.

Na primeira figura que trouxemos aqui, por exemplo, o ciclo financeiro corresponde ao intervalo entre os
momentos T3 e T9, e sua mensuração contábil é feita pela transformação das informações das demonstrações
contábeis em indicadores de atividades, que são apresentados em dias.

Veja, na figura a seguir, a reprodução ilustrativa do transcurso do ciclo financeiro, ou seja, o tempo em que a
organização deve financiar seus desembolsos com outras formas de captação negociadas no mercado financeiro.
Nesse caso, foi de 93 dias.

-5-
Figura 4 - Ciclo financeiro
Fonte: Elaborada pelo autor, baseado em ASSAF NETO, 2015.

Em que:

PME-MP = prazo médio de estocagem de matéria-prima

PMF = prazo médio de fornecedores

PMV = prazo médio de vendas

PMC = prazo médio de cobrança

PMPF = prazo médio de pagamento a fornecedores

Para Assaf Neto (2015, p. 178), “[...] uma gestão mais eficiente do ciclo de caixa permite que a empresa diminua
sua dependência por empréstimos, reduzindo suas necessidades de recursos”.

-6-
sua dependência por empréstimos, reduzindo suas necessidades de recursos”.

EXEMPLO
A administração financeira da organização Turmalina S.A. decidiu adotar medidas estratégicas
em suas operações. Com isso, conseguiu reduzir seu prazo médio de cobrança para 24 dias e o
tempo médio de vendas para 32 dias, representando uma redução também em seu ciclo
operacional, que passou de 93 para 77 dias. Essas medidas significam, por exemplo, a
diminuição da sua necessidade de financiamento. Se consideradas as taxas de juros cobradas
sobre os recursos captados, sua incidência teria como base um capital principal menor,
promovendo significativa economia, dependendo dos prazos contratados.

Estratégias como essas são importantes para o gerenciamento do capital de giro e sua necessidade como
investimento no ativo. O acompanhamento contínuo dos indicadores que compõem os ciclos permite ao
administrador financeiro uma visão muito mais expressiva do andamento dos processos operacionais da
organização com efeitos financeiros e patrimoniais.

De que maneira podemos gerenciar o ciclo


financeiro?
A gestão do ciclo financeiro voltada para sua redução busca otimizar o uso dos recursos disponíveis e a redução
dos custos correspondentes a esses recursos.

FIQUE ATENTO
Não é saudável às finanças da organização recorrer a recursos de terceiros em curto prazo
para financiar atividades do ciclo operacional. Afinal, os encargos financeiros podem
representar elevados custos financeiros a serem honrados também em curto prazo com as
demais obrigações.

A administração do ciclo financeiro exigirá do seu operador especial atenção com o ativo operacional, que
deverá corresponder ao total de capital da organização, formado pelo capital próprio dos acionistas
(reconhecido como patrimônio líquido) e ao capital de terceiros (advindos de empréstimos e financiamentos).
Devemos considerar, no entanto, que sob o capital de terceiros implicam ônus financeiros.

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SAIBA MAIS
Para se aprofundar sobre o tema, indicamos a leitura do capítulo 19 do livro Curso de
administração financeira , dos autores Alexandre Assaf Neto e Fabiano Gustavo Lima. Editora
Atlas. Ano: 2014. Disponível em: https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?
codigo_sophia=571222

A presença de uma disponibilidade positiva promove mais segurança financeira e, para isso, uma organização

equilibrada deve apresentar um CCL superior às suas necessidades permanentes de giro.

Fechamento
Vimos, neste tópico, a interpretação e análise do ciclo operacional, ciclo econômico e ciclo financeiro e a
importância da sua boa gestão para a saúde financeira da organização. Lembramos que o ciclo operacional indica
o período entre a aquisição das mercadorias até o recebimento das vendas, e que o ciclo financeiro indica o
período entre o pagamento aos fornecedores e o recebimento dos clientes.

A partir da comparação entre esses ciclos, é possível verificar se a empresa precisará ou não de recursos para
financiar suas atividades. Havendo necessidade de recursos, algumas soluções são possíveis, tais como reduzir o
giro dos seus estoques, aumentar o prazo de pagamento dos seus fornecedores ou reduzir o prazo dado aos seus
clientes.

Referências
ASSAF NETO, A. Estrutura e análise de balanços: um enfoque econômico-financeiro. 11. ed. São Paulo: Atlas,
2015.

______; LIMA, F.Curso de administração financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. Disponível em:
https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=571222

/2018.

BRAGA, R. Fundamentos e técnicas de administração financeira. São Paulo: Atlas, 1989.

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PADOVEZE, C. L.; BENEDICTO, G. C. Análise das demonstrações financeiras. 3. ed. rev. São Paulo: Cengage
Learning, 2013. Disponível em: https://biblioteca.sophia.com.br/9198/index.asp?codigo_sophia=562495

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