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VODUN NO BENIN

1 PARTE

Vodun no Benin

Uma característica existencial do homem desde o despertar de sua consciência


é a religiosidade que brota a partir do limite que cede a ascensão necessária ao
transcendente,não sendo limitado a um culto ou a um veículo estabelecido
todos os homens são religiosos de alguma forma,mesmo que uns sejam mais
do que outros.A religião de cada homem deve muito ás culturas das quais eles
são essências.

No caso do Benin,é evidente que encontraremos algumas divergências no


fenômeno Vodu.
A maior parte do povo beninense têm as raízes culturais muito semelhantes e
praticamente a mesma origem histórica, por essas razões nessa região dos fons
a religiosidade é manifestada totalmente em Vodu, mesmo para aqueles que se
converteram a outras religiões.
Vodu é adorado e venerado como divindade.
Isso também define o todo social o psicológico, e está em torno da estrutura
sobrenatural deste tipo popular de religiosidade. Na verdade oVodu está no
todo.

Antes da chegada de outras religiões no Benin, principalmente o


cristianismo,todas as famílias faziam parte do culto Vodu.Quando esses
missionários chegaram,tentaram converter a população alegando que Vodu era
demônio.
Encontram muita resistência por parte dos fons que tinham e têm raízes
profundas no culto de seus ancestrais.

Vejamos agora uma breve explanação sobre no que consiste o Vodu e seus
objetivos.

Mawu,o Deus Supremo

A cultura do sul do Benin,representada pelos Fons,Gun,Mina e Ewe é


considerada por uma mesma concepção de divindades.
A convicção na existência de um Deus superior é geral, este Deus,conhecido
como um Ser Supremo Transcendente,é chamado de Mawu,Ele criou tudo.
Este Deus já existia entre esse povo muito antes da chegada das grandes
religiões monoteístas (Cristianismo, Islamismo)

Para os Fon,este Deus Mawu também éconhecido como: Dada Segbô,Sêmêdô


ou Gbedoto dependendo a que obra de Mawu a pessoa esta se referindo.
Dada Segbo - enfatizando a criação do mundo.
Sêmêdô - enfatizando o princípio da existência.
Gbedoto - enfatizando o princípio da vida.

Mas,se não há nenhuma dúvida acerca do Deus Supremo Mawu na


mentalidade desses povos,
então de onde vem esta prática de Vodu?Responder esta pergunta significa
mostrar a
relação existente entre Mawu e Vodu.

Mawu e Vodu
Mawu é considerado o grande Deus supremo pelos fons e sendo assim não
deve ser incomodado a toda hora com os problemas pessoais.
Os fons acreditam que o ser humano não pode alcançá-lo se não for através
dos Voduns.

Para o povo do Benin Mawu delegou sua força/


energia aos Voduns para que esses tomassem conta dos homens e os
ajudassem.
Vodu é identificado como uma criatura de Mawu de acordo com a expressão
“Mawu wê do Vodu lê”(os representantes de Mawu estão entre os homens
para atender suas necessidades) Vodu representa tudo que é sagrado e toda
asenergias que vêem do mundo invisível para influências o mundo dos vivos.

Os Voduns recebem cultos devido à sua


proximidade com os homens.
Qualidades divinas são atribuídas a eles, caracterizados por serem espíritos
que estão acima de todas as leis naturais.
Não existe um culto específico para Mawu,a não ser orações e referências
espontâneas como:
“Mawu na blô”(Deus ajudará, Deus te ajude),“Kpê Mawu ton” (Deus pode
tudo) que são utilizadas em diversas ocasiões.

Vejamos os setes primeiros Voduns que Mawu enviou a terra:


Sakpata - É o filho mais velho de Mawu,a quem a terra foi
confiada,AyiVodum (Vodu da terra).
Sua energia é temida, seus atributos são a varíola e as manchas brancas e
vermelhas na pele. Sakpata tem muitos filhos,incluindo Ada
Tangni Vodu da lepra) e Sinji Aglosumato( Vodu das chagas incuráveis).

Xevioso(ou Hevioso/Xebioso) - Este é o JiVodum(Vodu do céu)que se


manifesta como trovão e relâmpago.
É o segundo filho de Mawu,considerado o Vodu da justiça,que castiga
ladrões,mentirosos e criminosos. Xevioso tem vários filhos,incluindo Aklobé
e Aveheketi.Seus atributos são:o raio,o machado duplo o carneiro a cor
vermelha e o fogo.

Agbe - Este é ToVodum (Vodu das águas)


É representado por uma serpente símbolo de tudo que dá vida.Entre seus
filhos está Dan Toxosu,que representa e protege os deficientes físicos e
mentais.

Gu - É o Vodu do ferro e da guerra,que dá ao homem a sua tecnologia.Ele não


aceita a cumplicidade com o mal.Por conseguinte é capaz de destruir todos os
culpados por atos infames e criminosos.Esta personalidade de Gu é expressa
pelos Fons como “da Gu do”(Gu castiga,Gu mata).

Age - Quinto filho de Mawu.É o Vodu da agricultura e das florestas.Reina


sobre osanimais e pássaros.

Djo - É o Vodu responsável pelo ar.

Legba - O filho mais novo de Mawu,o sétimo. Não ganhou nenhuma


atribuição na terra,como os irmãos,por ser extremamente ciumento e cometer
atos que prejudicavam os irmãos e os homens.
Recebeu de Mawu a guarda do portal entre os dois mundos; o dos homens e o
de Mawu, ele passou a ser o mensageiro entre os irmãos,os homens e
Mawu.Ele é tudo aquilo que está além do bem e do mal.

Ao lado dos filhos de Mawu se encontram Voduns protetores de clãs.Estes são


os Toxwyo(antepassados divinizados)
Cabe a estes manterem o vínculo entre o mundo invisível e a vida diária dos
que vivem no mundo visível.
De acordo com o que foi apresentado acima, podemos classificar os Voduns
como:

Interétnico - Voduns associados à natureza: JiVodum,AyiVodum e ToVodum.

Interétnico - Voduns associados às histórias místicas:Leba e Gu.


Étnico-AkoVodum - Os Voduns ancestrais divinizados: Toxwyo,Agasu e
outros.
GoroVodum - São Voduns mais modernos cultuados principalmente em
Ghana.
Eles protegem contra feitiçarias:Kokun,o Vodu das forças misteriosas e
violentas é um deles.

Após estas investigações, parece ser importante uma pergunta: então o que é
Vodumexatamente?

Pode ser dito que Vodu constitui uma classe especial de criaturas de Mawu,
vivendo entre os homens. Ele está acima da humanidade,mas não é “Deus”.
As expressões Fon definem: “Vodu gongon, Vodu d’ablu” (Vodu é mistério,
Vodu é segredo)É por isso que Mgr. Robert Sastre disse: “devemos nos referir
ao contexto social e cultural que invoca Vodu a fim de aprender o que
realmente é Vodu”.

Dentro do que foi dito acima, surgem algumas questões: Quais as práticas ou
implicações que ilustram suas manifestações? Vodu pode ser assimilado como
fetichismo ou até mesmo naturalismo? Que relação estabelece entre o
indivíduo iniciado em seu culto e o seu todo cósmico, social e ambiente
espiritual?

Estes podem ser naturalismo, fetichismo, expressões e manifestações


animistas, mas a visão básica é o argumento do naturalismo e fetichismo Vodu
ligado a alguns epifenômenos em sua prática.
Vodu está relacionado a diversos elementos do universo e a objetos materiais
nos cultos de devoção, onde são retratados e sacrifícios lhes são oferecidos
(montículos de terra,barras de metais,árvores,pedras etc)

Isso nos impele a outras perguntas:Vodu é uma pessoa?Ele está no mesmo


patamar que o homem?Ou está acima ou abaixo dele?
A resposta a estas questões podia ser aquela em que Vodu é a estrutura ética e
religiosa que estabelece uma sociedade, mas esta seria uma visão limitada de
Vodu.

Certas pessoas erroneamente igualam Vodu a Fetiche. Realmente, alguns


vêem o culto do Vodu como uma idolatria primitiva de objetos materiais ou
como um culto de matéria,sem se importarem com sua rica funcionalidade que
ilustraremos abaixo. Alem disso, convém notar que estas visões erradas
devem-se às abordagen
etnológicas do fenômeno de Vodu que se abstém à sua função apenas física,
cósmica e social na mediação religiosa.

É verdade que“Me we no ylo do Vodu b’e non nyin Vodu”(não é porque o


homem o chama Vodu que é Vodu)mas por ver nele forças geradas pela
interação complexa de sentido,
intenções,gestos e palavras ditas. Está além de uma questão de suporte
antropológico o qual coloca Vodu num sistema simbólico onde deve ser a sua
performance a mediação necessária do físico e,em sendo assim,da matéria em
geral.
Deste modo seria mais correto traduzir “Me we no ylo do Vodu b’e non nyin
Vodu” como: Uma atitude pessoal de identificação e aceitação do sagrado
com o símbolo.

Vodu evoca o mistério e tudo que se refere ao divino.Desta maneira,a suspeita


é retirada pelo menos no que diz respeito à essência ainda que permaneça nas
manifestações um tanto que desviadas do fenômeno Vodu.E a globalização
das relações de que Vodu é um símbolo é ainda uma outra prova disto.

A palavra“Gbe”que significa vida” significa igualmente “O Universo” E é este


segundo significado que focalizamos aqui.O universo
criado no seu desenvolvimento cósmico não é estranho ao desenvolvimento de
Vodu.

Nas expressões concretas do universo há um Vodu da terra(Sakpata)um Vodu


do céu (Xevioso)um Vodu da águas(Agbe)e Vodus que representam os
antepassados (Toxwyo
como vimos.

Na verdade, todos os elementos do universo são implicados no fenômeno


Vodu.
Não é o que a mentalidade da imaginação do sul do Benin concebe de uma
cosmo gênese de Vodu: Vodu não é o gerador nem o criador do universo,mas
seu elo com tudo da natureza,é uma mediação e a proteção do homem.
Com efeito,a sua relação com“Gbe”encontra
apenas o seu significado pela sua relação com o“Gbeto”(o homem).

Vodu e o Homem

A religiosidade se manifesta num homem através do fenômeno Vodu,a


motivação para que ele faça e use símbolos que representem seu Vodu.Além
disso os homens dizem que Vodu é um mistério,é o inefável quando se
concentram nos elementos naturais,é o extraordinário, o herói e o poderoso em

questões de existência humana.

Enquanto o homem não conhece o nome de seu Vodu,ele o chama de“nu me


sen”o venerável o adorado)Isso durante o princípio de sua iniciação no culto.

Depois de identificado o Vodu,o homem passa a ser dominado por


ele.Doravante nenhum aspecto da vida do homem acontece sem que seu Vodu
saiba e participe.

O Fá,mensageiro do Vodu,intervém enquanto a criança está no útero materno.


Identifica o destino e se necessário,o altera. Semelhante a todos os
nascimentos e através das situações existentes, Fá participa das iniciações dos
Voduns.

Curiosamente e paradoxalmente Vodu não acompanha seu iniciado na morte


física. No enterro de um vodunsi são feitos rituais para remover o Vodu do
morto.Aqui encontramos dois significados importantes:

1)O Vodu toma conta dos vivos e não dos mortos.


2)Vodu é um intermediário entre seu iniciado e Mawu e,quando ocorre a
morte física,Vodu volta para Mawu.

Como princípio de mediação,Vodu tem um papel importante na organização


da sociedade humana.

Agbasa-Yiyi (sala da vida)

O agbasa-yiyi é de suma importância na vida do povo Fon.É o primeiro de


uma série de três rituais de iniciação ao culto Fá.
Meninos e meninas podem ser iniciados até a segunda etapa do culto, porém
somente os
homens poderão chegar à terceira etapa.

A cerimônia do agbasa-yiyi não tem rigorosamente data fixada porém não


poderá ser feita após os três meses do nascimento.

A proposta do Agbasa-Yiyi é apresentar a criança na “sala da vida”(agbasa)e


aos ancestrais.É um rito da integração de uma ou de várias crianças da mesma
geração dentro da comunidade familiar,incluindo os antepassados e os
espíritos protetores da família.

A consulta do Bokono revela o Joto da criança, em outras palavras,o Vodu ou


o Mexo (antepassado;às vezes divinizado)

O Joto é a referência de uma forçaprotetora.É um elemento dinâmico que


intervém na formação da personalidade do indivíduo.
O Joto é a parte vital que anima a criança.Ele pode ser chamado de Sê-Joto ou
Sê Mekokanto (SÊ-o que molda o corpo humano com a argila).É ele quem
apresenta para o Deus criador o barro do qual foi modelado o corpo do recém-
chegado para a vida terrena(Gbe-Tome).Ele é a energia vital e espiritual que
molda e conduz a existência da pessoa.
O Joto é o pai da vida para a existência o colaborador direto de Mawu na
geração da criança.

Uma vez que o JOTO é conhecido, diz-se a seguinte saudação“SÊ Doo Nú


We” (seja bem-vindo, oh, SÊ!).Esta saudação de boas-vindas é feita pelo ritual
do Jono Kpikpe (encontro,boas-vindas ao estranho, ao convidado)

Em princípio a criança não recebe o nome de seu Joto, o nome será dado após
esse(o Joto)ser consagrado e cultuado,quando então a criança usará este nome
dentro da religião e foradela.
Se o indivíduo for chamado por um outro nome haverá severas penalidades.

Apesar da terminologia ambígua do termo Joto, qualquer idéia de


reencarnação esta absolutamente descartada.A criança não é a reencarnação do
seu Joto ancestral.

A religião Fon está convicta de que o SÊ é imortal.


Quando uma pessoa morre e vai para o
Yêsùnyimê(mundo dos espíritos, mundo
metafísico) o SÊ volta para Segbo(o grande SÊ, que é Deus)em outras
palavras para suasorigens seu estado original.

O papel do Joto é colocar suas mãos na cabeça do candidato à vida


(alodotanumêto),e oconduzir na terra, ser sua sombra protetora. Não há
reencarnação, mas uma transmissão de personalidade.A alma individual do
Joto não se reencarna em seu protegido,mas transmite sua parte social e seu
status.
Uma prova disto é que muitas pessoas podem ter o mesmo Joto.

O Sê-Mekokanto (ancestral que reuniu o barro e modelou o corpo da criança


recém-nascida) coloca na criança sua personalidade social,a que Ele se tornou
através de seu processo histórico,o qual aquele personifica por toda a vida,e
que é mantido pelo grupo que irá educar a criança recém-nascida.

A personalidade social e a consciência histórica que o ancestral leva ao seu


descendente constituem uma herança fisiológica que dá significado à sua vida
e coincide com o que foi mencionado acima.
O ancestral protetor vem para materializar o direito da segurança e
manutenção da vida. Assim o Sê-Mekokanto assegura a continuidade da vida
da família da qual ele foi um dos primeiros elos importantes.

O Joto é às vezes ajudado em sua missão por um outro ancestral ou espírito


divinizado, agindo como um Joto auxiliar ou companheiro do primeiro,uma
realidade que é vista pelo FON como um valor inestimável.

Para identificar o Joto,primeiro precisamos determinar o DÚ,que é o nome


dado ao signo ou figura encontrada no sistema divinatório do FÁ.

Existem vários signos que servem para revelar o Joto da pessoa.A partir de
agora,o DÚ que foi revelado e o Joto constituem dois componentes
inseparáveis do pessoal,social e destino religioso do indivíduo. Enquanto o
Joto é a parte tipológica do indivíduo,o DÚ é a vontade de buscar e saudar a
desejada terceira parte (SÊGBO).

Manifestado perto do Joto,o DÚ é a palavra do oráculo, a voz do ser supremo


sobre cadapessoa. Como a voz do Sê,DÚ é também o caminho que Sê traça
para o homem seguir.
DÚ é a palavra de vida dada como uma medida de direção para quem acaba de
entrar na terra da vida (gbêtomê)e dentro do mundo dos homens (gbêtolê
mê)Ele traça o caminho a ser seguido em outras palavras,ele estabelece a lei
(SU).

Até a criança atingir a idade da razão, é a mãe que respeita os mandamentos


de seu DÚ.
Em geral as mães tomam para elas a responsabilidade de seguir estes
mandamentos para o resto de suas vidas. Sendo assim elas demonstram que a
vida deve ser preservada e todos devem cooperar para que isso seja mantido.

AGOO-MA-YI-SOGWÉ é o estágio que denota o final da adolescência (por


volta dos 20 anos).
Neste período a segunda iniciação para FÁ acontece e é chamada de Fá-
Sinsên(adoração a FÁ) ou Fá-Yiyi(recepção do FÁ).

Neste período de suas vidas,rapazes e meninas estão geralmente vivendo uma


crise de juventude.
Diz-se que a juventude é“perturbada” por FÁ.O adolescente deverá “receber”
e “adorar”FÁ em ato público religioso,lutando contra si mesmo pois deverá
proferir o mais profundo“SIM” à vontade de DEUS (GBÊ)para que se tornem
mais fortes.A consulta do FÁ revela o signo(DÚ)sob o qual os rapazes ou
moças se apresentarão.Este será o DÚ (palavra do oráculo)dos adolescentes.

Para cada um e com cada um,o Bokono(adivinhador)retira o adrá,em outras


palavras ele oferece o sacrifício que tira os obstáculos dos caminhos,acidentes
e infortúnios(adrá).A eles é dado o FÁ e eles o recebem,é a palavra de Mawu-
Gbêdoto(Deus)para cada um que definitivamente deixa a infância e entra para
a vida adulta.

A terceira iniciação para o FÁ é reservadasomente aos candidatos


homens.Eles atingiram a fase adulta.É a porta,ainda que uma porta estreita
para os segredos do sistema divinatório de FÁ,é chamada Fá-Titê(consulta do
Fá)um rito através do qual o Fávi (filho de FÁ)recebe a revelação de todo seu
destino.

Desnecessário dizer,dado o caráter esotérico desta iniciação comparada às


anteriores,que os não iniciados e as mulheres não são nemmesmo aceitos
como espectadores.
A cerimônia acontece no Fázun (floresta de FÁ)Como um iniciado o
candidato tem um Bokono responsável por ele.O Bokono pega com asmãos
juntas as nozes sagradas, reza três vezes para Mawu-Gbêdoto (Deus Do
Criador)pedindo que envie o Joto do Fávi ao lado de seu protegido. Assim,
sob a proteção de seu Joto,o Fávi manipula o Fágbo (oráculo de Fá com 36
nozes)para extrair a figura parcial do DÚ(signo do oráculo)e conforme Fá vai
respondendo os signos são traçados no solo.Uma vez que o signo é formado,o
Jogbona (o assistente do Bokono na cerimônia) o lê em voz alta.

Após a leitura dos signos traçados no solo,o Jogbona junta a terra onde o DÚ
foi escrito e coloca em um saco de tecido.Isso constitui oKpoli do Fávi(sinal
visível do princípio espiritual que está no homem,o visível sinal de SÊ)

Após este,outra consulta é feita para assegurar que o sinal que saiu é para o
bem do Fávi.Uma resposta positiva de FÁ é saudada com alegria e satisfação
por todos.Para uma resposta negativa, será feita uma oferta de sacrifícios para
tirar Ku (morte),Azon(doença),Hwê(culpa),Hen (pobreza, miséria).

Ao final deste sacrifício de exorcismo,o Fávi passará por um ritual de banho


de água fresca.O cabelo do Fávi,unhas,e tudo que nele epresente
impurezas,são enterrados na floresta sagrada.
Todos voltam para casa do Bokono,que é o pai espiritual do Fávi.

Se o significado esotérico do sinal não for legível para todos os participantes


da cerimônia,e por causa do FÁVI, depois que saem da Fázun(floresta
sagrada)eles se reúnem na casa do Bokono onde os mais velhos dão as devidas
explicações e no caso de dúvidas o Bokono se pronuncia.

Ao longo do período de iniciação,o sexo não é permitido ao Fávi,ele está num


período de clausura e num relacionamento especial com o sagrado.A
abstinência sexual proporciona ao candidato a preservação de toda a sua
energia vital, força Divina.A liberação do sexo acontece após o terceiro dia de
seu retorno da Fázun.

Isso acontece após uma próxima consulta de FÁ para ter certeza que o DÚ do
Fávi veio para seu bem.Após esta consulta e a liberação do sexo o Bokono faz
recomendações para o Fávi.
Isto é um tipo de tradição na constituição de seu novo estado.Deverá haver um
sentido de irmandade entre os outros Fávi havendo também respeito ao pai
espiritual,bem como para os outros Bokonos.
Finalmente o Fávi está vestido com suas roupas de tecido branco,então ele irá
par a casa com seu FÁ. Ele é um iniciado completo doravante sabe o
significado da vida.

O Noviciado,O vodunsi - Escola da Vida

No dia exato em que uma criança entra no Hun-Kpame,ou Vodum-


Kpame(convento,templo)o Vodu toma posse da criança que por trêsmeses será
chamada de KAJEKAJI(neófito)O que nós chamamos de “noviciado”é o
processo que os fará tornar-se na verdade o que eles misticamente já são.

Os neófitos são cuidados pelo Xwegan(que é o cabeça do templo) o Kangan


(responsável pela disciplina) o(a) Hunso e a(o) Nagbo que são mestre e mestra
do noviço respectivamente.
O Hunkpame(convento)é uma escola severa de renúncia e resistência.Dentro
dela os eleitos são iniciados no culto dos Voduns,a quem foram consagrados
para a vida toda.

Iniciar-se para o Vodu é o momento de particular importância e de profundas


marcas na vida do indivíduo. É o desejo de gradualmente conduzir sua
existência profana para sua existência como pessoa sagrada.O noviço passa
por várias separações, cada separação significa uma morte da vida profana que
levava antes.

Primeiramente o vodunsi deverá fazer vários juramentos de absoluto silêncio


no que concerne ao que ele viu e ouviu ou verá ou ouvirá no
convento.Qualquer vodunsi que não guardar seu juramento será considerado
um traidor.Aquele que fracassar em sua iniciação em sua
consagração e não souber como se comportar em ambiente profano,será
considerado uma pessoa infiel e uma ameaça para a autoridade, não do
homem,mas da divindade.Aquele que se portar com rebeldia ou com raiva
será culpado e somente conseguirá amenizar sua situação após vários ritos de
Fá(conjuração)Ewusla(purificação).
Na pedagogia da iniciação,o neófito deverá provar sua capacidade de
resistência nos caminhos de sua formação que serão os caminhos de sua vida.

O treinamento contínuo,que é uma característica geral do sistema educacional


Fon,é a expressão mais forte dentro do Hunkpame,disciplina e
tenacidade são essências,punições corporais servem para desenvolver estas
características.A este respeito pode ser dito:o corpo registra
conhecimento.Cada vodunsi armazena em seu corpo o solo onde a iniciação
foi semeada por meio de gestos,atitudes,palavras e,se necessário
for,flagelação.As palavras e gestos dos professores deverão ser memorizados e

reproduzidos exatamente pelos estudantes.

A pedagogia da iniciação envolve a transmissão de gestos e palavras,o que


requer esforço de ambas as partes, iniciador e iniciando “mente, coração e o
corpo trabalham juntos para construir o homem em seu total”

Além de aprender a linguagem do Vodu,os cantos culturais e as danças,para


satisfazer as necessidades materiais do convento e do Hunnon (sacerdote de
Vodu)o jovem deverá dedicar-se a si mesmo,trabalhando no campo em
períodos fixados,fazendo cestos,esteiras e roupas de ráfia, que serão vendidos
no mercado local pelos serviçais do convento.Não há “vida fácil” no
período de iniciação;a preguiça deverá ser odiada como se fosse uma
praga;“kajekaji mo no do hwememelo” que quer dizer: “O neófito não tem
descanso”

O vodunsi,masculino ou feminino,deverá mostrar maturidade e seriedade com


as coisas da religião. Desta maneira eles contribuirão com o equilíbrio,
ordem social, cultural e integridade religiosa de sua comunidade e seu povo.
Antes de retornar ao mundo dos não iniciados, depois de sua consagração e
sua iniciação,entre outras recomendações,eles deverão cultivar o
senso de irmandade com todos os outros vodunsi respeitar o Vodu e sentirem-
se responsáveis pela terra de seus ancestrais.

A cerimônia de dar areia para o ex-kajekaji acontece em datas estabelecidas


pelos Voduns. Podem demorar de 10 a 20 anos para acontecer. No período
desta cerimônia, o Vodunon manda chamar todos os que foram iniciados no
mesmo período e os coloca em retiro(xwe mi faz xo)algumas horas,depois o
Vodunon coloca um pouco de terra nas mãos de cada iniciado e diz:“Danxome
ko tonye die emi so do alome nu hwima nu e je ayi gbede o”(Aqui está a terra
do danxome,a qual eu coloco em suas mãos jamais a deixe cair !)
Vodu da Hennu (Família), do To (país) - Sociologia

HENNU designa a família, a primeira unidade da organização social.


É uma comunidade co-sanguínea, unida por um único ancestral, com as
mesmas proibições alimentares e morais, e que cultua Voduns e divindades
aos quais é leal.
TO é um agrupamento de várias famílias ou muitos Xwe (ruê - parentes
próximos).
Como na hennu, também existe uma hierarquia de proibições (tosu) prescrita
pela prática sagrada(SIN),Vodu(s)protetor(s)e sacerdotes dedicados ao culto.
Aqui, mais que um nível familiar, a influência recíproca dá autoridade política
e religiosa aos parentes.Sempre é o Vodu que prevalece na consagração de
chefes habituais e geralmente os oráculos do Vodu também são irrevogáveis:
devido ao medo que eles inspiram, provam um aumento mais fácil do controle
do social.

Desta maneira, na sociedade tradicional, uma categoria social sem seus


Voduns está frágil e destinada a desaparecer. Deve-se notar aqui que, à parte
do ético ou do Vodu entreteço, as maiorias dos Voduns são mais eficientes
quando eles são de origem estrangeira, em outras palavras, importados.De
fato, com estes exemplos, o papel funcional do Vodu nos fará admitir uma
dimensão instrumental do fenômeno.

Vodu e o Monoteísmo

Identificando o Vodu como um fetichismo de idolatria ou um animismo


supersticioso, alguns etimologistas chegaram à conclusão de que o culto ao
Vodu é perfeitamente a ilustração do politeísmo.
Isso talvez seja verdadeiro se tiver como referência o panteão dos deuses
gregos. Mas, em qualquer analogia explorada e dentro de certas proporções,
até mesmo um deus desconhecido, ao qual um templo em Atenas foi dedicado
na época do Apóstolo Paulo, não tem o mesmo valor que o MAWU do sul do
Benin, a quem nenhum culto é feito mesmo que chamado por todos os
sacerdotes de todos os Voduns.

Na verdade o fenômeno do Vodu tem um único objetivo, embora com uma


multiplicidade de expressões e manifestações na imaginação coletiva das
pessoas.
O culto feito para as divindades conhecidas como Vodu é um atalho ao Deus
verdadeiro, cuja revelação ainda está faltando. Devido a isso, é para este Deus
que todo culto é dirigido, toda adoração é feita a Ele. Assim, na mesma
maneira é o grande Deus que criou todos os homens e todos estes Voduns, e
deu ao homem estas divindades como intermediários.
Devemos notar que há alguma dificuldade para que seja aceito Jesus Cristo
como o único mediador entre o homem e Deus, deve ser notado que os termos
desta comparação estão desproporcionados: CRISTO está além dos modelos.
Está claro que continuar falando de politeísmo no contexto Vodu está
fortemente correto, ainda que pareça ser um monoteísmo poliedral, que
indique um ativo relacionamento com o cosmo, natureza e o fenômeno da
morte da existência humana dentro de um contraste com a relação direta com
Deus. Ninguém pode dizer absolutamente que estamos na presença de um
panteísta (Deus em todas as coisas), sendo um tanto PAN-IN-TOEIST (todas
as coisas em Deus). Neste estágio não estamos distantes de retirar a convicção
cristã de um único deus. Mas isso não é nada mais que uma apologia do Vodu,
o qual não seria ingênuo e enganador se o Vodu estiveste limitado a esta
substância positiva que o caracteriza.

Abordagem Crítica da Funcionalidade do Vodu

Vodu, apesar de suas ramificações funcionais, que acabamos de ver, bem


como seu valor ético que continuaremos a abordar,também tem o lado
negativo.
Abordaremos somente os dois principais.

Do Sagrado para a Violência

Vendo a prática do ponto moral e cultural


(comportamental),poderia ser admitido que o culto Vodu seria um ditador do
sagrado.

Geralmente, em religiões tradicionais, o sagrado é o que nos supera,é a quem


nós confiamos nossas forças, e que assegura nossa felicidade. Sendo assim,
entendemos que a soberania dos reinos não está longe do sagrado. No caso do
Vodu, o sagrado assume uma dimensão de terror.Um certo Vodu poderá
buscar vinganças,outro poderá matar,ainda outro poderá requerer sacrifício
humano.

O homem que conseguir servir ao Vodu, e ter o crédito popular por isto,
poderá finalmente obter qualquer liberdade. Esquecem que estão falando em
nome do sagrado. A violência torna-se normal, principalmente sobre aqueles
que ousam perguntar o porquê do que acontece.

Esta violência manifesta-se dentro do convento Vodu, bem como nas suas
adjacências. Até mesmo quando o culto Vodu é demonstrado como folclore ou
como atividade cultural,a violência está presente.
Face a esta violência, a liberdade humana inexiste, inclusive pelo fato do
indivíduo ser forçado a entrar para o convento.

Com a vinda do cristianismo, a autoridade da igreja tinha que lutar com os


chefes dos templos Voduns,em casos onde os catequizadores eram
seqüestrados.Em comparação com estes casos de violência física, a dimensão
misteriosa do culto Vodu era ainda mais assustadora.

Vodu e Feitiçaria

Com a funcionalidade do Vodu descrita acima, poder-se-ia dizer simplesmente


ser ele uma religião naturalista. Por mais que o poder do fenômeno esteja
baseado nas duas realidades, Magia e Feitiçaria, são elas que dão força e
crédito e viabilizam toda uma estrutura de hierarquia com a população. É um
universo complexo, onde nem todos podem entrar e sair. O pior é o que se faz
de mal com este poder.

As duas palavras chaves são: BÔ (magia) e AZÉ (feitiçaria) O culto, em sua


formalidade, deveria ser feito para a proteção contra todo o mal, mas quem
conhece o veneno também conhece seu antídoto.
Não há nada mais perigoso neste mundo que o mau tomar forma de bom e se
impor como um código de conduta.

É precisamente esta conivência entre o culto Vodu e o círculo esotérico que


dificulta profundamente uma culturação, dado que no culto do Vodu os
aspectos estão amplamente misturados com algumas culturas.
Distinguindo o Culto da Cultura na área cultural do sul do Benin, a profunda
influência do fenômeno religioso sobre a estrutura social, econômica e política
é inegável.

O tempo atual está solidamente enraizado no tempo dos ancestrais venerados;


quase tudo que acontece é minuciosamente detalhado,explicado, entendido e
vivido na comunidade de acordo com o desejo do Vodu.

A farmacopéia constitui a força maior dos conventos. Cada família, cada filho
ou cada grande grupo sócio-geografico (To) tem seu Vodu especial que se
impõe em todas as questões do cotidiano. A base da sabedoria é o medo do
Vodu.Espera-se que a vida econômica receba ajuda do Vodu, em outras
palavras, a política é marcada pela realidade do Vodu. Destas várias pesquisas
coletadas na fonte,
conclui-se que a religião Vodu suplanta a cultura.

Tal dedução é muito mais teórica do que real. O Vodu não absorve tudo
aquiloque é cultural. Existe uma forte tendência para que a religião substitua a
cultura. O culto religioso pode reivindicar, por si próprio, atos significativos
(gestos,palavras,atitudes...) pelos quais o homem mostra sua relação de
comunhão com o transcendental. No Vodu este é um ato específico de
devoção e religiosidade.

Os atos essenciais de culto na religião Vodu são sacrifícios (ação de graça,


renúncias) oferendas e orações. Refeições comunitárias e ritos de purificações
anuais completam a vasta forma do culto ritualístico. O impacto do culto na
vida cultural vai além das proibições morais que emanam especificamente do
Vodu. Esta distinção necessária entre o culto e a cultura é a condição de um
diálogo sincero entre esta cultura e o cristianismo, de forma a começar um
processo de cultura. Mas esta definição precisa não é de modo algum uma
insinuação de que a religião como um todo é negativa e idólatra.

Se a verdade é para ser dita deve-se reconhecer que as deficiências e falhas do


Vodu(encanto,magia,feitiçaria e fetichismo) exploram os sentidos úteis, na
questão pelo poder.
Há uma substituição de símbolos que representam a natureza. Isto leva a
atitudes supersticiosas e mágicas infusão difundida de maldade e terror na
prática do Vodu. Esta verdade defende a perplexidade e ceticismo quando
encarada com a moral que o Vodu passa aos seguidores.

No Hennu, o Ako (linhagem) e o To, o Vodu, constituem elementos da coesão


social. Numa cerimônia habitual de cada grupo social de seu Vodu
particular,promove-se grandes momentos de uma irmandade em ação.
Os seguidores de um mesmo Vodu compartilham as mesmas proibições e
prescrições legais.
As regras do Vodu estabelecem uma vida de solidariedade entre os
indivíduos.Brigas entre os seguidores do mesmo Vodu são geralmente sanadas
no convento ou na casa de um Vodunon em contrapartida,o Vodu não tolera
nenhuma transgressão de suas proibições;o que mantém entre os adeptos
sinceros do Vodu uma
permanente cultura de fidelidade.

Podemos observar isso nos próprios africanos que se converteram ao


cristianismo,pois eles não mais praticam o culto Vodu,mas continuam sendo
fiéis aos tabus determinados pelo Vodu. Finalmente,deve-se notar que o Vodu
não se opõe às regras da vida conhecidas como Gbesu (a vida do homem), ele
aceita tudo que faz parte do cotidiano do homem. O Gbesu segura a destruição
da vida e abomina a traição dos amigos. As características a serem focalizadas
por issosão os valores de fraternidade,solidariedade, comunhão e fidelidade
religiosa,sem o esquecimento das proibições sociais ditadas pelo Vodu.

CONCLUSÃO

Para concluir o comentário sobre a religião tradicional do Benin, devo dizer


que não foi possível falar tudo. Ainda assim, apesar de todos os excessos ao
seu descrédito,o Vodu na sua pureza permanece num solo fértil, apesar da
presença dos evangelizadores que insistem em acabar com o culto Vodu,o que
parece ser uma utopia, muito mais hoje do que foi no passado.

Na verdade, os dezessete anos de permanência dos policiais Marxistas-


Leninistas no Benin, 1972/1989, com uma campanha anti-religião e caça às
bruxas,contribuiu para a diminuição da importância e reduziu a influência do
Vodu. Mas com a renovação democrática,iniciada em 1990, o Vodu ganhou
vitalidade.
De 28 de maio a 01 de junho/1991um simpósio dos grandes líderes dos cultos
Vodu aconteceu com o propósito de restaurar a legalidade do reconhecimento
desta religião tradicional.
Em 1992 outro grande festival internacional do Vodu foi organizado e
aconteceu no Benin "Ouidah-1992"

O objetivo deste foi mostrar a renovação do culto. No mesmo ano ocorreu a


visita do Papa João Paulo II ao Benin, onde houve um encontro com os líderes
e muitos seguidores do Vodu, não como um sinal de diálogo, mas como a
indicação de que a igreja ao menos reconhece que o culto Vodu tem seu lugar.

Esta combinação de circunstâncias significa que o Vodu no Benin é


atualmente organizado e estruturado, por si mesmo, mais e mais como uma
religião tradicional,há até O Dia Nacional do Vodu (10 de janeiro) Em
suma,para alcançar os adeptos do Vodu, a igreja cristã não conseguirá mais
usar a bíblia e a água benta,mas sobretudo precisará de diálogo.

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