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HEVIOSO

As informações mais antigas que encontrei sobre os Voduns do panteão do


trovão, datam do final do séc. XV e princípio do séc XVI. Nas aldeias lacustres,
nos arredores do atual Allada, era cultuado o Vodum Setohoun (espírito da
laguna). Quando Setohoun chegou a aldeia de Hevie (reviê), os nativos o
batizaram com o nome de Hevioso ou Hebyoso (na minha opinião Hevioso
seria o mais correto, visto a sua tradução ser: hevi: nome da cidade e oso ou
so: raio = raio de Hevie). Em Dahomey ele recebeu o nome de Xevioso, quando
chegou trazido por uma nativa da aldeia de Hevie. Na cidade de Mahi era
cultuado o Vodum Djiso (djisô) na tribo Djétovi. Nesta mesma cidade, também
eram cultuados os Voduns: Gbame-so (bamé-sô) que tudo indica ser o mesmo
Bade que conhecemos no Brasil; Akhombe-so (acrombé sô); Ahoute-so
(aroutêsô) e Djakata-so (djacatá-sô). Vale assinalar que em toda a região do
Dahomey atual Benin, até os dias de hoje, todos esses Voduns inclusive o
Orixá Shango são chamados de SO (sô), que quer dizer raio. Sogbo era e
ainda é, para o povo daometanos a grande deusa, mãe de todos os Voduns So
e irmã de Hevioso.
Junto com seu irmão lidera a família. A partir do meado do séc. XVI o culto
desses Voduns se espalhou por todas as regiões do Dahomey. Com essa
expansão, novos Voduns foram surgindo. Vejamos alguns deles: Adantohun
(adantôrrum) (seria o que conhecemos como Soboadan?!) Ahuangan
(arruangam) Alansan (alansam) Kasu Kasu (cassu cassu) Saho (sarrô) Aden
(feminina) Gbwesu (buêssu) Akele (aquêlé) Besu (bêssu) Ozo (ôzô) Kunte
(cuntê) feminina Naete (naêtê) feminina) Beyongbo (beionbó) (feminina)
Avehekete (averequéte) Dawhi (dauri) Hungbo (rumbó) Salile (salilê) Agbe
(abê) (feminina) Ahuangbe (arruambé) Contam os vodunos e Hunos que devido
as tribos litorâneas que prestavam culto aos xwala-yun (deuses do mar)
adotarem o culto a So, Agbe e Naete foram designadas a se estabelecerem no
mar junto ao grande Vodum Hun e que a partir daí, o culto dos dois panteões se
fundiram nos cultos. Ao nível de Brasil, por tudo que pude constatar em minhas
pesquisas, não vi muita diferença entre nosso culto e o dos africanos. A maioria
dos So que existem no Benin existe aqui também.
No Brasil é comum as pessoas chamarem todos os Voduns do panteão do fogo
de “Sobo”. Vejamos alguns Voduns e suas características:
Kasu Kasu (cassucassu) - Guerreiro que defende as aldeias e ou casas de
santo onde é cultuado. Os inimigos têm pavor de Kasu. Dizem que quando em
luta ele cospe fogo sobre os inimigos. Quando em guerras, Kasu coloca-se a
frente da aldeia e ou casa de santo e abre seus braços criando assim um
obstáculo que impede os inimigos de atacar. A tradução de seu nome é
barreira.
Sogbo (sobo) - Vodum feminina considerada a mãe de todos os So. Faz
trovejar para alertar os homens que os deuses julgadores e da justiça estão
insatisfeitos e que o trovejar é sinal do castigo que está por vir.
Djakata-so (djacatásô) - Muito forte. Em sua ira arranca as árvores e as joga
sobre os inimigos e aldeias. Defende seus filhos mesmo que eles estejam
errados, só não podem errar com ele.

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Hevioso (reviossô) - Seus raios rasgam os céus acompanhados dos trovões,
destruindo cidades inteiras e fulminando os inimigos. Dizem os Hunos que é
preciso oferecer sacrifícios ao deus do trovão para aplacar sua fúria. Ele odeia
ladrões e malfeitores e os mata. Quando esta, satisfeito, Hevioso dá a chuva e
o calor que tornam férteis a terra e o homem.
Akholongbe (acrolombé) - Ataca os inimigos ou castiga o homem enviando
granizo, ë faz os rios transbordarem. É ele quem controla a temperatura do
mundo. Quando está calmo e satisfeito, ajuda o homem dando-lhe bons
movimentos financeiros.
Ajakata (ajacatá) - O grande guardião dos céus. Somente ele possui as chaves
que permite a entrada dos homens nos céus. Quanto aborrecido envia as
chuvas torrenciais.
Gbwesu (buêssu) - É uma das mais calmas, é o murmúrio dos trovões no
horizonte.
Akele (aquêlé) - É quem puxa as águas do mar para o céu e a transforma em
chuva.
Alasan (alassam) - Talvez o mais velho de todos. Ensinou ao homem o culto de
So.
Gbade (badé) - Jovem, guerreiro, brigão, implicante, muito barulhento. Adora
beber e quando o faz arruma bastante confusão deixando todos atordoados.
Adora esconder as coisa (pertences) e se diverte em ver as pessoas
procurando. No trovão ouve-se sua voz gritando para que os homens
consertem o que está errado. Sua morada são os vulcões.
Adeen (adêêm) - É ela quem faz escurecer os céus e envia os relâmpagos que
fulminam. Sua mãe Sogbo ralha com ela dizendo: - Ahunevi anabahanlan! (não
mate as pessoas).
Aden (adêm) - Vodum masculino do panteão do trovão, que veste roupa
branca. Dá as chuvas finas que faz as árvores frutificarem e, em conseqüência,
é guardião das árvores frutíferas. É o mesmo Vodum Adaen conhecido no
Brasil. Em um combate, mata os inimigos pelas costas, não a traição. Todo
cuidado é pouco para lidar com esse Vodum, pois a primeira vista ele não
demonstra seus desagrados.
Ahuanga (arruanga) - Vodum masculino muito velho e grande feiticeiro do
panteão do trovão, filho de Saho. Em um salto transforma–se em fogo para
proteger seus adeptos e queimar seus inimigos, depois disso desaparece numa
moringa. Tudo que é seu é enterrado.
Auanga (auangá) - Vodum masculino do panteão do trovão, irmão de
Avehekete. Habita as lagunas marinha. Suas águas engolem os ladrões.
São muitos os Voduns desse panteão.
Os So ou Sobos não gostam de malfeitores e ladrões de um modo geral eles se
irritam e matam esses elementos.
A água da chuva depositada nos telhados é um dos seus maiores beko (becó
(kisilas)). Também não gostam de feiticeiros e bruxos e se esses se meterem
com seus protegidos Ele os fulmina.
Os akututos (eguns) não constituem um beko para esses Voduns, mas eles
também não gostam muitos dos mesmo. Quando é necessária a presença de

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um deles para afastar esses espíritos, se fazem presente e com muita energia
os afugentam.
Sua principal dança é o hundose (rundôssé (Brasil)) e o dogbahun (dôbarrum
( África)). Pela descrição dessa ultima, acredito que seja o mesmo hundose que
conhecemos no Brasil.
Sosiovi (sôssiôvi) é nome do chocalho de So ou Sobo.
Sokpe (sopé) é o machado de Hevioso, feito com pedras de raio.
Os Sos ou Sobos representam vida, saúde, prosperidade e vitórias.
fontes de pesquisa; Centro cultural Ceja Neji Pierre Verger Lê Herrisé

AS TOBOSSIS
As Tobossis são Voduns infantis, femininas, de energia mais pura que os
demais Voduns. Pertenciam à nobreza africana, do antigo Dahome, atual
Benin. Eram cultuadas na Casa das Minas, em S.Luiz/Maranhão, até a década
de 60.
As Tobossis gostavam de brincar como todas crianças e falavam em dialeto
africano, diferente dos Voduns adultos, o que dificultava muito entendê-los.
Sem contar que, muitas das palavras elas falavam pela metade.
Elas vinham três vezes por ano, quando tinha festas grandes, que duravam
vários dias.
A chefe das Tobossis é Nochê Naé, a grande matriarca da família
Davice,ancestral da família real de Dahome, é considerada a mãe de TODOS
os Voduns.
As Tobossis têm cânticos próprios,dançavam na sala grande ou no quintal, sem
os tambores e, como todas as crianças, adoravam ganhar presentes e
brincarem com bonecas e panelinhas.
Comiam comidas igual às nossas, junto com todos e tinham o costume de dar
doces e comidas às pessoas. Sentavam-se em esteiras.
Pela manhã, tomavam banho, comiam e depois dançavam. Gostavam de
dançar no quintal, em volta do pá de ginja delas.
Por serem crianças puras, tinham mais afinidade com o corpo permitindo assim,
uma ligação mais direta que os Voduns, que são adultos. Não tinham falhas,
não se irritavam.
Seu papel no culto era só "brincadeira". Eram espíritos perfeitos e mais
elevados. Os Voduns podem ter falhas, as meninas não.
Passavam até nove dias incorporadas em suas gonjaí, diferente dos Voduns
que deixavam as filhas muito cansadas.
Tinham um tratamento melhor do que o dos Voduns por serem mais delicadas,
porém os Voduns são mais importantes por terem mais obrigações.
Podemos observar similaridade entre as Tobossis do Mina Jeje e os Erês dos
Candomblés da Bahia e dos Xangôs de Pernambuco, pelo comportamento
infantil. No entanto, os Erês apresentam-se tanto com características femininas
quanto masculinas e as Tobossis são, exclusivamente, femininas, dengosas e

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mimadas.

FEITURA DAS TOBOSSIS


O processo de feitura das Tobossis inicia-se, normalmente, com o Vodum
principal da Casa apontando um grupo de filhas, já iniciadas anteriormente, as
voduncirrês, para a feitura de Tobossi.
As voduncirrês passam por uma fase de iniciação que tem a duração de quinze
dias, nos quais há algumas festas. É uma feitura própria, um novo rito de
passagem na graduação da iniciada no Mina Jeje.
O barco composto dessas voduncirrês é chamado de Barco das Novidades,
Barco das Meninas ou Rama.
Essas voduncirrês tornam-se noviches, prontas para receberem suas Tobossis,
passando a serem chamadas gonjaí. As Tobossis só são recebidas pelas
voduncirrês gonjaí.
O último barco que se tem conhecimento foi realizado em 1913-1914.
No processo de iniciação, as Tobossis eram chamadas de sinhazinhas e,
somente ao fim das feituras, é que davam seus nomes africanos. Também
eram por nomes africanos que elas chamavam as filhas da Casa. Esses nomes
eram escolhidos pelas Tobossis junto com os Voduns e esses nomes eram
divulgados no dia da "Festa de dar o Nome".
Cada Tobossi só vinha em uma gonjaí e, quando esta morria, elas não vinham
mais, sua missão ali se encerrava.
Desde a morte das últimas gonjaí, por volta dos anos 70, as Tobossis não
vieram mais.
As Tobossis só incorporam em suas gonjaí após os Voduns terem "subido".
Elas chegavam alegres, batendo palmas e acordando a Casa.
No Peji, há um lugar para as obrigações das Tobossis, que é uma feitura muito
fina e especial.
VESTIMENTAS E APETRECHOS DAS TOBOSSIS
Os trajes e apetrechos das Tobossis são muito elaborados.
As Tobossis vestiam-se com saias coloridas, usavam pulseiras chamadas
dalsas, feitas com búzios e coral, pano-da-costa colorido, o agadome, sobre os
seios, deixando o colo e os ombros livres para o ahungelê, uma manta de
miçangas coloridas, presa no pescoço, objeto de grande valor e significado. O
ahungelê também era chamado de tarrafa de contas, gola das Tobossis ou
manta das Tobossis, sendo considerado um distintivo étnico-cultural do Jeje.
Ele conta a história particular da Tobossi vinculada ao Vodum, sua família e a
iniciada, gonjaí.
As Tobossis usavam ainda, vários rosários, fios-de-contas e o cocre, colar de
miçangas curto, junto ao pescoço como uma gargantilha, usado pelas Tobossis
e pelas gonjaí durante o ano de feitura, cuja cores variam de acordo com seus
Voduns, semelhante ao quelê dos terreiros de Candomblé.
No Carnaval, as Tobossis vestem-se com saias muito vistosas, aparecendo o
agadome que envolve o colo nu e os pés são calçados em sandálias finas.
Os trajes das Tobossis são muito elaborados, de uma construção artesanal,
que segue com rigor uma linguagem cromática, própria e do domínio das
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Tobossis.

A PARTICIPAÇÃO DAS TOBOSSIS NAS FESTAS


Quando apareciam publicamente, as Tobossis vinham cumprir certas
obrigações, destacando-se a festa do Carnaval.
As Tobossis vinham três vezes por ano:
- Nas festas de Nochê Naé - em junho e no fim do ano
- No Carnaval
As grandes festas duravam vários dias.
O Carnaval é uma comemoração da qual participavam os membros do
Barracão e visitantes. No Carnaval, elas ficavam desde a noite do domingo até
as 14 hs da quarta-feira de cinzas. Na segunda-feira, alguns Voduns vinham
visitá-las. Eram recebidos pelas outras filhas da Casa, as voduncirrês.
Era das Tobossis a tarefa de tomarem conta das frutas do arrambam, obrigação
também conhecida como bancada, lembra a quitanda dos terreiros de
Candomblé. As frutas ficavam no Peji para serem distribuídas na quarta-feira de
cinzas.
Durante o Carnaval, as Tobossis brincavam com pó e confete mas tinham
medo de bêbados e mascarados.
Na terça-feira à tarde, dançavam na grande sala e na quarta, pela manhã,
dançavam em volta da cajuazeira. Distribuiam acarajé em folhas de "cuinha" e
depois despachadas.
Durante as grandes festas de Nochê Naé, elas vinham durante nove dias, entre
os dias de dança, nos intervalos de descanso. Ficavam durante o dia, cantavam
suas cantigas próprias, dançavam na sala grande e no quintal e brincavam com
seus brinquedos.
O reconhecimento de cada festa/obrigação está no vestuário e nos alimentos.
O alimento é uma marca identificadora, compõe a divindade, seu papel, suas
características no contexto da ligação com os deuses e estabelecendo, ainda
com o alimento, uma forma de comunicação com os iniciados, visitantes e
amigos do Barracão.
Fontes de consulta:
O Povo Do Santo - Raul Lody
Querebentam de Zomadonu - Sérgio Ferretti

TOGUM
Togum, veio do orum para fazer a ligação com o aiye através do mistério do
ferro. Desta forma, pode criar cidades na selva, a evolução com o
desenvolvimento da tecnologia do metal
Há um estudo científico que diz que a oxidação do ferro no fundo do oceano,
gerou bactérias de onde surgiram os primeiros seres no começo da evolução.
Não se pode afirmar que tenha sido o ferro o gerador desse fenômeno, mas
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algum tipo de mineral simbolizado pelos pontos de ferro.
Togum/Gum/Gu, é um ToVodum masculino guerreiro que usa um pó vermelho
extraído de uma árvore que simboliza a procriação primordial para a
sobrevivência e essa é uma das razões dele não gostar que, em seus
assentamentos, hajam ahuinhas. É dono de todos os metais, principalmente o
ferro e o aço além de todos os objetos cortantes: akiriké, farim, magoge, etc.
Por ser um guerreiro muito afoito, Togum não tem fronteiras, entra em qualquer
lugar em busca do inimigo e da vitória. Nessas investidas, Togum conta sempre
com Legbá, seu companheiro e amigo incansável, que o ajuda nos combates
mas que se diverte com a fúria de Togum.
Ao mesmo tempo que é gentil, Togum é muito impaciente e quer tudo a tempo
e a hora. Tem, em sua natureza, um sentido de competição, de vigor, de
expansão e de agressividade, sempre pela sobrevivência. É muito severo com
seus filhos no cumprimento de suas obrigações.
Quando Togum chega, anda por todo o kwe e se encontrar alguma coisa fora
do lugar, fica bravo e chama a atenção, exigindo que tudo esteja corretamente
em seus lugares. Algumas vezes, ele mesmo faz tudo, colocando as coisas em
ordem
Togum toma para si a guarda do kwe onde mora, disputando com Legba a
segurança. Em uma ahuan(guerra), Togum mostra toda a sua fúria e poder de
luta. Dificilmente um kwe de Jeje perde uma ahuan, pois Togum, com todo o
seu humpayme, garantem a vitória.
Todos os narrunos são regidos por Togum. Na África, somente os vodunos de
Togum podem oficiar o ritual de narruno. No Brasil, apenas algumas casas
tradicionais seguem o modelo africano.
O número três está intimamente ligado à Togum. É um número fudamental
universalmente. Exprime uma ordem intelectual e espiritual, em AvieVodum, no
cosmo ou no homem. Sintetiza a triunidade do ser vivo ou resulta da conjunção
de um e de dois, produzindo, neste caso, a união do orum e do aiye. A cólera e
a irritação de um guerreiro, no seio de uma guerra, manifestam-se através de
três rugas que se formam na testa: então, ninguém ousa aproximar-se ou falar.
Existem vários Voduns pertencentes a linhagem de Togum. O mais velho deles
é o Vodum Guyugu que, como os demais Voduns, participou de várias
batalhas, saindo-se sempre vitorioso.
As cores das contas de Togum, variam de acordo com o Vodum. Podem ser:
azulão, azulão e branco, vermelho, verde e branco, podendo sofrer mudanças
se o Vodum feito assim desejar.
Suas vestimentas podem ser: branca, azul, dourada ou estampada, que é a sua
preferencia.
Seus dias de culto são: segunda ou terça-feira, dependendo do Vodum. Sua
folha predileta é a abre-caminho, sendo que existem muitas folhas para Togum.

Togum é quem abre o portal para o desenvolvimento da nossa verdade.

VODUM DAN/BESSEN

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Aido Wedo(aidô uêdô) e Dambala são para o povo Jeje os maiores deuses.
Aido Wedo é o arco-íris e Dambala a sua imagem refletida nas águas
oceânicas.
O Dangbé é a serpente sagrada que representa o espírito de Vodum Dan.
Na África esse Vodum é conhecido como DA.
Dada - Termo pelo qual o Vodum Dan é louvado. A coroa de Dan é chamada
de Coroa de Dada.
Dan tanto pode ser um Vodum masculino quanto pode ser um Vodum feminino,
porém para tratá-lo, fazê-lo ou assentá-lo temos que cuidar sempre do casal.
Como dizem os antigos "cobra não anda sozinha, seu parceiro esta sempre por
perto".
Dambala também é conhecida como Daidah (daídar) – A "Cobra–Mãe". Essa
Vodum não pode ser feita em mais de duas pessoas num mesmo país. Os
velhos vodunos contam que ela é originária da Palestina. Em uma outra versão,
encontramos Daidah como Lilith, a primeira mulher de Adão.
No Brasil encontramos cerca de 48 Voduns Dans, na África encontramos muito
mais que isso. Essa família é muito grande.
Dan é um Vodum muito exigente em seus preceitos, muito orgulhoso e teimoso.
Quando tratado corretamente, dá tudo aos seus filhos e a casa de santo, mas
se tratado de maneira errada ou se for esquecido castiga severamente. Vodum
Dan é muito fiel a casa e a mãe/pai de santo que o fez.
Os símbolos de Dan, são: o arco-íris, a serpente pithon, o traken ou draka,
patokwe, o dahun , a ..takara. e o ason (assôm). Seu principal atinsa (atinsá)
dentro de uma casa de Santo é denominado Dan-gbi , que é onde o arco-íris se
encontra com a terra ("panela lendária do tesouro!"). Dan usa muitos brajás
feitos de búzios. As aighy (aigri), são importantissimas em seus assetamentos e
atinsas.
Para nós, Vodum Aido Wedo é o verdadeiro deus da vidência, é ele junto com
Vodum Fa, quem dá aos bakonos o poder do oráculo, assim como deu a Yewa
e a Legba.
Aido Wedo e Dambala são quem sustentam o mundo e quando eles se agitam
provocam catástrofes como os terremotos. Eles fazem parte da criação do
mundo, pois vieram ajudar Nana Buluku nessa tarefa.
Nos arcos-íris da lua e do sol também encontramos Voduns Dan.
Ao se iniciar um filho de Dan, preceitos são feitos para que esse Vodum venha
sempre em forma humana e nunca em forma de serpente, pois entendemos
que na forma humana ele é menos perigoso e entende melhor os homens,
podendo assim atender suas necessidades e suprí-las. Na forma de serpente
torna-se muito perigoso.
De modo geral os filhos de Dan são muito chegado a doenças, principalmente
de olhos. São pessoas vaidosas, ambiciosas, "perigosas", espertas e
inteligentes. São muito dedicados ao santo e dificilmente saem da casa onde
foram feitos.
Vestem branco em sua grande maioria. Alguns usam cores verde bem clarinho,
prateado, ou tecido liso com o arco-íris estampado. Seus fios de conta variam
de acordo com cada Vodum, não existe um modelo padrão.

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Sua louvação principal é: A Hho bo boy = "Salve o rei cobra" ( Hho = rei, bo boy
= Dans, serpentes, cobras).
Abaixo citarei alguns Voduns Dans.
Aido Wedo - (encontramos várias formas de escrever o nome dele) - Deus do
Arco-íris
Dambala - esposa de Aido-Wedo, seu reflexo nas águas.
Dan-Ko - muito ligada e, por vezes confundida, como Oxalá. Conhecida no
Brasil como Dan Inkó.
Ojiku - masculino, mora junto com Yewa na parte branca do arco-íris e reina no
arco-íris da lua, também junto com Yewa.
Frekwen - feminina, guardiã do arco-íris em volta do sol. Também conhecida
como Frekenda.
Bosalabe - toqüeno, feminina, irmã gêmea de Bosuko, irmã de Yewa. Muito
alegre e faceira, mora nas águas doce. Muito confundida com Oxum. também
conhecida como Vodum Bosa (bôssá).
Ijykun - feminina, mora nas enseadas. Muito confundida com Yewa.
Bosuko - masculino, toqueno, gêmeo com Bosa
Akotokwen - masculino, considerado o pai de muitos Dans.
Afronotoy - masculino, mora no rio.

Vocabulário
traken ou draka - ferramenta pequena que Dan tras nas mãos
dahun - conjunto de 3 tambores brancos paramentados com rafia lilás
takara - arma que Dan tras nas mãos, parecendo um pequena espada, com
feitio próprio.
ason (assôm) - chocalho feito com uma cabaça e com as vertebras de cobra
aigry (aigri) - pedras que representam o excremento de Dan e são deixadas por
ele no chão, à sua passagem; dizem que elas valem peso de ouro. Um mito nos
conta que os excrementos de Dan transformam os grãos de milho em búzios.

Culto de Dan em Ouidar

Culto de Dan no Haiti

Nohê Aikunguman (Mãe terra)

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No culto dos Voduns, Nohê Aikunguman é a base de tudo que é fundamento.
Acreditamos que somente Aikunguman pode sustentar uma base sólida para
apoiar e firmar um templo de Voduns.
Temos vários Voduns que pertencem ao panteão de Aikunguman, porém
existem aqueles cuja a tarefa primordial é o culto a mesma. Dependendo do
que se pretende fazer, invocamos o Vodum correspondente. Como exemplo
podemos citar:
Vodum Aizam - considerada a patrona dos grandes mercados. - Ë costume em
todo Benin, quando nasce uma criança, levar a mesma ao mercado e lá fazer
os mlenmlen (orikis) e oferendas à Aizan, pois acreditam que esse ritual dará
muito boa sorte à vida da criança. Esse procedimento também se dá aos casais
de noivos. Os familiares das duas partes ser reúnem e vão juntos com os
noivos ao mercado. Nos dois casos, tanto a criança quanto os noivos trazem
para casa um pouco de terra e a coloca no solo de suas casas para que a
fartura e a prosperidade façam sempre parte de suas vidas.
Vodum Aizam tem uma grande família e cada um dos membros reina em uma
parte da terra, inclusive o mundo ctônico (subterrâneo) e abissal (subterrâneo
aquático).
Vodum Intoto - É um Sakpata que não é feito no Ori de ninguém, assim como
Aizan. Saber plantar, cuidar, zelar esse Vodum é "garantir a vida" dentro da
casa de santo. Intoto é responsável pela putrefação das carnes e dos alimentos
em geral; por essa razão temos que saber cultuá-lo abaixo do solo para que
essa atribuição dele só ocorra em seu mundo e nunca no nosso.
Vodum Agué - Dono de todos os segredos das folhas, este Vodum tem um
papel importantíssimo dentro do culto Aikunguman pois é ele quem a fertiliza e
a alimenta com suas sementes e magias. Em uma casa de santo cabe a ele
levar o "sabor" de cada vodunci e o apresentar à Aikunguman na passagem de
sua vida profana para a religiosa, isso é, no seu renascimento.
Vodum Guiogu - O dono da faka (faca) e das grandes guerras. Seu papel é
importantíssimo no culto de Aikunguman, é ele quem dá à mesma o kun
(sangue) dos animais sacrificados. Junto com Vodum Yian, Guiogu garante que
o kun humano não será derramado dentro daquela casa.
Baseados nessa pequena explanação, podemos entender o porquê de usarmos
"poeiras", "terras" de determinados lugares para fazermos assentamentos de
Santos e Legbas. Como eu disse, cada membro da família de Aizam, rege um
local - feira-livre, mercados, açougue, bancos, cemitérios, estradas, rios, mar,
cachoeira, etc.
Para nós filhos do Culto Vodum, Aizan é a principal deusa da terra, ela é a
própria terra.

Voduns das Águas Oceânicas

O oceano abriga uma variedade imensa de entidades, dentre estas,


encontramos muitos Voduns masculinos e femininas.

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Para falarmos sobre as Naês (mães) que habitam o oceano, torna-se
necessário falarmos dos Voduns masculinos que moram com elas.
Para os adeptos do culto Vodum o oceano é o grande Hu-Non (ru-nom),
considerado o maior de todos os Voduns.
Naete (naêtê) e seu esposo Vodum Hou (rou) são os deuses que reinam esse
universo oceânico. Enquanto Naete fica nas águas calmas, Vodum Hou
desbrava todas as regiões e dá a cada Vodum suas tarefas.
Naete (naêtê) - Vodum feminino do panteão do trovão que habita as águas
calmas antes da arrebentação, esposa de Vodum Hou.
Hou (rou) - Vodum masculino do panteão do trovão casado com Naetê, pai de
Aveheketi, trindade muito cultuada e honrada nos templos do Trovão. Sua
morada são as volutas bramantes das ondas que arrebentam no litoral.
Cada Vodum habita uma região do oceano e têm uma função. Assim vamos
encontrar:
Vodum Nate (natê) - Vodum do panteão do trovão que habita o mar. Adorado
pelos pescadores e por todos que trabalham no mar. É o grande guardião que
habita em todo o oceano, mar e praias.
Sayo (saíô) - Vodum feminina do panteão do trovão, irmã de Avhekete. Habita
as ondas do mar que fazem o nível do oceano subir. Considerada como uma
sereia
Vodum Tokpodun (tópôdum) - Vodum feminina, deusa do rio. Seu frescor traz
claridade para as cabeças e sua tranqüilidade traz a paz. Símbolo de beleza,
feminilidade, fertilidade, graça e caráter. Filha de Naete deusa do oceano, irmã
de Avhekete. Foi expulsa do oceano por seus irmãos por seu caráter forte indo
então, morar no rio.
Vodum Tchahe (tchárrê) - Vodum feminina do panteão do trovão, irmã de
Avhekete. Habita o marulhar das ondas das águas oceânicas.
Vodum Agboê (abôê) - Vodum masculino do panteão do trovão, filho de Saho.
Realiza tudo através de um talismã que preparou junto com seu pai. Dança com
muito vigor, gira em torno de si mesmo e transforma–se na água que é Hu, o
mar. Depois disso sai e pede a uma vodunsi que recolha água do mar, coloque
em um ponte e a esquente. O resultado disso é o huladje, o sal.
Vodum Avehekete (averequéte) - Vodum masculino do panteão do trovão,muito
agitado, habita a arrebentação marinha. É quem leva as mensagens de seu pai,
Vodum Hou, às divindades marítimas e aos homens. Costuma roubas as
chaves de sua mãe para da-las aos homens.
Voduns gêmeos Dôtsê e Saho (dôtissê e Sarrô) - Dôtse nasceu à noite e Saho
de manhã. Ela tem um olho em um lado da terra e Saho no outro lado.
Considerados os Voduns que olham o mundo. Panteão do trovão, habitam
sobre o mar.
Vodum Yedomekwe (iêdômêqüê) - Vodum feminina que faz chover. Habita na
evaporação das águas oceânicas.
Goheji (gôrêji) - Vodum jovem muito alegre e falante, habita o encontro das
águas das lagoas com o mar. Essa mãe gosta muito de passear pelas lagoas e
lagos misturando-se com os patos d'água em seu bailado e fica muito
aborrecida se algum caçador mata ou fere uma dessas aves. Veste roupas

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azul, verde água, prateado com rosa clarinho ou azul. Gosta de adornos
prateados, pérolas e perfumes suave. Pertence ao panteão da terra. Quando
Goreji resolve passear em águas oceânicas, os cavalos marinhos que a adoram
ficam ao seu dispor para transportá-la e passear com ela. Em seu
assentamento podemos colocar bonecas coloridas e outros brinquedos de
menina.
Vodum Aboto - habita as águas doces profundas que desembocam no mar. É
sempre confundida tanto como Oxum quanto como Yemanja. Uma das Voduns
mais velha do panteão da terra. Veste branco, branco com amarelo, amarelo
clarinho, suas contas são amarelo pálido. Gosta de adornos dourados e
perfume. Não gosta de muito barulho perto dela. Fica fascinada com o barulho
dos búzios em movimento com as águas e faz desses seu oráculo.
Os gêmeos Dazodje (dázôdjê) e Nyohuewe Ananu (niôrruêuê ananú) - habitam
nas riquezas depositadas no fundo do mar e são considerados os Voduns da
Riqueza. Não são feitos na cabeça de ninguém.
Erzulie (erzúliê) - Vodum feminino que habita o reino abissal, pertence ao
panteão da terra. É considerada a mãe de Agué e Olokwe. Essa Vodum
também é conhecida como Erzulie-Dantor, poderosa conhecedora da alta
magia. Dizem os bakonos que ela se assemelha a Netuno, pois está sempre
tentando levar toda a humanidade para habitar o oceano. Ela diz que todos os
humanos têm a capacidade dos anfíbios e que todos se originaram do fundo do
mar. Alguns acreditam que é um Vodum andrógino. Em momento de
afogamento devemos chamar por Vodum Abe (abê) e Vodum Sayo para que
essas convençam Erzulie que nosso lugar é na terra.
Oulisa (oulissá) - Vodum masculino que habita as águas claras e frias do
oceano. Esse Vodum é sempre muito confundido com Lisa (lissá) ou Oxala.
Veste branco com detalhes prateado ou dourado. É um Guerreiro dos Mares.
Panteão da terra.
Abe (abê) - Vodum feminina irmã de Bade, panteão do trovão. Habita as águas
revoltas do oceano. Sempre que acontece um naufrágio é ela junto com Vodum
Sayo que tentam salvar os náufragos. Considerada uma das mais velhas mães
do mar, sempre substitui Naete, quando essa precisa se ausentar do reino.
Noche Abe é considerada a palmatória do mundo, cabe a ela mostrar as
verdades e não deixar que essas sumam nas águas, dizem os antigos que o
ditado "A verdade sempre anda sobre as águas, nunca afunda, um dia ela
aparecerá na praia" foi dito por Abe. Assim como Erzulie, Abe é conhecedora
de alta magia. Veste branco, azul muito clarinho.
Existe uma grande confusão entre o nome desta Vodum com as Voduns Abe
Huno (abé runô), Abe Gelede (abé geledê), Abe Afefe (abé afêfê) que são
Voduns guerreiras dos raios, tempestades e ventos.
Naê Aziri - Vodum das águas doces que muito se assemelha ao Orixa Oxum.
Panteão da terra. Essa Vodum é muito confundida com a Vodum Azihi-Tobosi
(aziri-tobossi) que habita o alto mar e é a protetora de todas as embarcações
que navegam no oceano.
Afrekete (afrequéte) - é a mais jovem e mimada Vodum do panteão do trovão,
habita em todo o oceano. Junto com Nate(natê) desempenha o papel de Legba,

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guardando os mares. Protege os pescadores e pune todos aqueles que
insultam os deuses e habitantes do mar. Quando vê uma embarcação pirata,
agita as águas para que essa naufrague e após esse, entrega todo o tesouro
encontrado aos Voduns da riqueza e os mortos à Abe Gelede (abé).
Aouanga (auangá) - Vodum masculino do panteão do trovão, irmão de
Avehekete. Habita as lagunas marinha. Suas águas engolem os ladrões.
Agoen (agôêm) - Vodum filho de Saho, reina na areia branca que cobre o chão
das praias e oceanos.
Agwe (agüê) - Vodum feminina do panteão da terra que habita sobre as águas
oceânicas. Muito afetuosa, está sempre atenta as necessidade alimentares do
homem e os ajuda a prover sua mesa, usando sua arma principal, a dam
(rede).
São tantos os Voduns que habitam as águas oceânicas que torna-se
impraticável descrever todos aqui nesse espaço.
Temos em nosso culto uma linda cerimônia denominada GOZIN (gozim) onde
fazemos oferendas à todas as divindades que habitam as águas. É um
momento muito sublime, de uma energia indescritível. Quando "gritamos"
Agoki-Agoka (agôqui-agôcá) podemos perceber a chegada de cada um deles.
Não poderia deixar de citar o mito do monstro marinho Mokele-Mbenbe
(môquêlêbêmbê), animal do tamanho de um elefante, um pescoço longo, um
único chifre e uma enorme calda envolada que ataca as embarcações. Muito
temido e respeitado em todo o Dahomey até os dias de hoje.
E na Hou nule ye! (Ê ná rou nûlê iê!) (Que os deuses do oceâno abençoem
vocês!)

MAWU-LISA

Para falarmos em Mawu-Lisa (mauú-lissa) temos que falar na religião Fon e


vice-versa.
Os Fons reconhecem a existência de um único Deus supremo e criador de
todas as coisas a quem eles chamam de Mawu. Segundo suas crenças, Mawu
enviou os Voduns à terra para auxilia-lo a governar o mundo e dar assistência
aos seres humanos.
Embora muitos pesquisadores (padres, antropólogos, sociólogos, etc.) venham
usando a terminologia “deus” para definir os Voduns e outras divindades
africanas, o africano de um modo geral e em especial o povo Fon consideram
essas como divindades secundárias e algumas como ancestres.
Podemos observar que existem algumas divergências nos relatos dos
pesquisadores sobre Mawu-Lisa, mas todos concordam que esse Deus faz
parte do cotidiano dos Fons.
Para quem visita o Benin é natural ouvir a todo momento o nome de Mawu:
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- Mawu we faz Vodum – “Mauu está entre nós”.
- Ku faz Mawu’zo – “Deus te pague, obrigado”.
- Mawu ni fon mi – “Durma com Deus” “Durmo com Deus”
- Mawu’fe we – “Deus nos ama.
- Mawu na biy – “Deus vai ajudar”
Anthony B. Parker, escreveu que em sua visita ao Benin observou que para o
povo Fon basta dizer que “Deus criou tudo” ou “Mawu criou tudo”, eles
desconhecem todas essas historias que escrevem sobre Mawu. Anthony
descreve o seguinte trecho de uma entrevista:
“Um homem respondeu quando perguntei como Deus criou o mundo; - Eu só
tenho 64 anos, você deve perguntar a alguém mais velho que eu”.
Sobre essas afirmativas de Anthony, discordo um pouco. A cultura oral passada
pelos kpanlingans que são os contadores oficiais das historias desse povo, vem
sendo escrita por profissionais respeitáveis que se dedicam ao estudo da
antropologia e sociologia da África. Até concordo que alguns distorceram um
pouco as historias narradas, mas encontramos trabalhos sérios nessas áreas
de pesquisas, principalmente as feitas pelos franceses que foram os
colonizadores do antigo Dahomey.
Provavelmente as pessoas entrevistadas por Anthony não eram sacerdotes de
Vodum ou kpanligans e por essa razão recebeu essas respostas.
Na mitologia Fon, Nana Buruku (bulucu) com a ajuda da serpente sagrada foi
quem criou o mundo dando vida aos animais, a flora e aos minerais.
Após criar o mundo, Nana teve um casal de filhos gêmeos a quem batizou de
Mawu-Lisa e deu a eles a incumbência de criar o homem e povoar a Terra.
Com o nascimento desses filhos, Nana criou a dualidade que daria o equilíbrio
ao mundo e aos seres viventes.
Mawu é o princípio feminino, a fertilidade, a suavidade, a compreensão, a
ponderação, a reconciliação e o perdão.
Lisa é o princípio masculino, o julgador, a impaciência, a força cósmica que
castiga os homens errados e os corrige, a seriedade. Ele está sempre atento
para que as leis de Mawu sejam cumpridas.
Nana vendo que Mawu não conseguia mudar o gênio de Lisa e que esse não
atendia Mawu quando essa tentava ponderar antes que ele castigasse os
homens, resolveu separa-los e deu a Mawu a supremacia no governo da Terra.
Enviou Mawu à lua para ser a luz que iluminaria a Terra no período noturno e
suavizar os sofrimentos dos seres e projetar o Fé (amor) sobre o planeta.
Enviou Lisa ao sol para que esse pudesse ver com mais clareza os erros dos
homens e julgasse bem antes de castiga-los. Ordenou também que Lisa uma
vez por ano deveria andar na Terra para conviver com os homens e conhecer
de perto suas necessidades, ajudando-os e corrigindo-os. Com essas andanças
pela Terra, Lisa deixou aqui alguns descendentes que se tornaram divinizados.
Os Fons dizem que a partir dessa separação, Mawu e Lisa só se encontram
quando ocorre um eclipse e nessa ocasião Eles fazem amor, gerando mais
Voduns para ajudar os homens.
Antes que essa separação se concretizasse, Mawu e Lisa chamaram seu filhos
e os enviaram à Terra como os primeiros habitantes e para que esses os

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ajudassem a governar a Terra, deram a cada um uma atribuição.
Por essa razão, os Fons acreditam que todos os homens são Voduns, sendo
que só voltarão a sua condição de divindades, após a morte física do corpo.
Vodum Zodje e Nyohye Ananu (gêmeos) – riquezas – Teriam que controlar
todas as riquezas da Terra e distribui-la aos homens segundo seus
merecimentos. Foram habitar no reino abissal (fundo do mar)
Voduns Agbê e Naete (gêmeas) – o amor, a água – Teriam que ensinar o amor
aos homens e a todos os seres viventes. Foram habitar nas águas.
Vodum Sakpata – doenças, a terra – Teria que levar as pestes e doenças que
corrigirião os homens que se auto flagelavam e ao mesmo tempo trouxe
consigo as fórmulas para a cura de todas as doenças, deveria dá-las aos
homens. Foi habitar as profundezas da terra
Voduns Hevioso e Sobo – a justiça, o fogo – Teriam que fazer com que as leis
de Mawu fossem cumpridas com justiça e cobrasse dos homens seus erros.
Foram habitar nos vulcões.
Vodum Gu – a guerra – Teria que combater todos que usassem o poder para
matar e explorar os mais fracos. Deveria lutar ao lado dos guerreiros que
estivessem dentro das leis de Mawu e castigar os demais mesmo que para isso
tivesse que mata-los.
Vodum Djó – o ar, o vento, a chuva – Teria que enviar a todos os seres o AR
necessário à vida e enviar as chuvas para fertilizar a Terra. Ficou habitando o
espaço celeste próximo a Mawu e Lisa. Encontramos alguns autores
escrevendo a palavra dji como sendo o correto nome desse Vodum e ao
mesmo tempo o identificam como Dan Hwedo. A tradução da palavra dji é
chuva ou céu no sentindo de dizer chuva que vem do céu.
Vodum Age – as florestas e agricultura – Teria que saciar a fome dos homens e
animais. Os pássaros e demais animais ficaram sob sua responsabildade e o
abate de um desses só deveria ser permitido para aplacar a fome.
Vodum Loko – as árvores - Ficou responsável por todas as árvores e seres que
a habitavam. Deveria frutificar algumas a fim de saciar a fome dos homens e
animais e combater os espíritos malignos que quisessem se apoderar delas ou
controla-los.
Vodum Legba – Por ser muito arteiro e aprontar muitas brincadeiras perigosas
e sem limites e também por ser o preferido de Mawu, foi mantido perto dos
pais. Recebeu a incumbência de ser o mensageiro entre os irmãos e Mawu-
Lisa. Recebeu o dom de saber todos os idiomas e dialetos para que pudesse
escutar tudo no céu e na terra e contasse para seus pais.
Embora o povo Fon cite somente o nome de Mawu como o Deus Criador, eles
têm conhecimento da existência de Lisa e o consideram o lado justiceiro de
Mawu.
Mawu e Lisa são conhecidos por uma infinidade de nomes, de acordo com o
dialeto falado podemos encontrar:
MAWU LISA
Segbo-Mawu Sebo-Lisa
Dada-Segbo Dada-Segbo-Lisa, etc.
Adimoula

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Mawuto
Mawu Todzi
Mahou, etc.
Na África, existem três grandes templos de Mawu-Lisa, todos fundados por
Wanjele que era sacerdotisa de Lisa, esposa do rei e mãe do futuro rei
Tegbesu.
Certa ocasião Tegbesu ficou muito doente, Wanjele consultou Fá e através
desse, Lisa ordenou que ela erguesse um templo para ele em Abomey e
trouxesse seus assentamentos. Wanjele mandou buscar o filho doente e foi
para sua cidade natal (Adja) buscar seus assentamentos.
Após instalar Lisa no novo templo em Abomey, Tegbesu ficou curado.
Lisa é associado ao sagaman (ságámâm - camaleão) e ao topodun (tópôdum -
crocodilo)
Algum tempo depois Wanjele fundou outros templos para Lisa, um em Ghana e
outro em Ouidah.
Vejamos agora alguns Voduns filhos de Mawu-Lisa e outros somente de Lisa.
São esses os Voduns cultuados ou feitos nos iniciados. A pessoa feita de Lisa é
chamada inicialmente de agamavi e após seis meses de iniciação passa a sere
chamada de anagônu.
Mawu não é feito na cabeça de ninguém e nem recebe oferendas como os
demaisVoduns.
Lisa Agbaju (lissa abâjû) – filho de Lisa e Mawu, portador das mensagens dos
pais. Veste branco.
Lisa Akazum (lissa akazum) – filho de Lisa, portador das mensagens do pai.
Veste branco.
Lisa Aizu (lissa-aizu) - portador das mensagens de Mawu aos homens. Veste
branco
Lisa Molu (lissa môlû) – filho de Lisa e Mawu que procura as coisas perdidas.
Veste branco.
Lisa Wete (lissa uêtê) – filho de Lisa e Mawu, é um Tohousu coberto de
espinhas (acnes). Não é feito na cabeça de ninguém.
*Lisa Lumeji (lissa lumeji) – filho de Lisa que vive abaixo da terra. Veste branco
e usa muito metal.
Lisa Ganman (lissa gamam) –Filho de Mawu-Lisa. Vodum velho veste-se de
branco.
Lisa Gwègwè (lissa güêgüê) – Filho de Lisa, tão genioso quanto o pai, jovem e
guerreiro. Veste branco com detalhes azuis
Adzakpa (azapá) - Vodum masculino da linhagem de Lisa, Vodum do crocodilo.
anda lado a lado com ele tanto na terra como na água. Seus adeptos têm o
corpo pintado com pó branco sagrado e usam na cabeça, a imagem de um
crocodilo esculpida em madeira clara de árvore sagrada. Veste-se de branco
assim como, todos os participantes do culto.
Akazun (acazum) – Uma das filhas mais velhas de Mawu-Lisa. Guardiã do
armazém e do tesouro de sua mãe. Vodum velha.
Ayzun (aízum) - Outra filha de Mawu-Lisa . Junto com sua irmã Akazun, é
guardiã dos armazéns e tesouros de sua mãe. Vodum velha.

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Aláfia (alafia) - Vodum masculino da linhagem de Lisa. Seu templo é na cidade
de Gnezedzekope. Aprecia muito o obi que é espetado em sua espada, com a
qual ele combate os feitiços de seus adeptos, purificando-os. O cão é um
animal muito importante para esse Vodum. E a “alma do cão” que transmite as
mensagens de seus adeptos quando ultrapassam a outro mundo para destruir
as forças dos feitiços. No ritual de iniciação de seus adeptos, um cachorro,
após ser sacrificado é enterrado no templo, em pé, para que seu espírito
acompanhe o iniciado, protegendo-o
Agoye (agôiê) - Vodum dos conselhos. Seu templo é na cidade de Ouidah,
onde existe uma escultura ou assentamento desse Vodum, sentado em cima de
uma espécie de cálice confeccionado com barro vermelho. Entre o cálice e a
escultura existe um pano, também vermelho. Sua garganta é decorada com um
colar feito de pedras tingidas de escarlate e 4 cauris pendurados. Na cabeça,
leva uma coroa de plumas vermelhas que representa a primavera da vida,
entremeada de oito lagartos presos pelo rabo representando seu poder e
sabedoria. No centro da coroa, no ponto denominado “morra”, ergue-se uma
haste de metal em forma de seta onde podemos observar uma pequena lua
crescente e um lagarto, ambos também de prata! À frente da imagem, existem
três pequenos potes, onde, acredito, que seus adeptos depositem presentes,
como moedas, em troca de bons conselhos. Não é feito na cabeça de ninguém.

Ge (gê) - Filho de Mawu-Lisa, este Vodum é um dos deuses da lua. Também


considerado a divindade dos camaleões. Conta-se que foi Ge quem enviou
estas criaturas como ajudante para os seres humanos expandirem a crença nos
Voduns. Veste branco. Pós as tentativas de evangelizar os Fons com os
dogmas do catolicismo, muitos Fons passaram a associar Mawu-Lisa-Ge com a
santíssima trindade.
Adjakpa (adjápá) – filha de Mawu e Lisa. É a responsável pela água potável
necessária aos seres humanos. Veste branco
Ayaba (ai abá) – filha de Mawu e Lisa. É uma divindade do lar, cuida dos
alimentos dos seres humanos. É a filha mais jovem. Veste branco com panos
azuis listrados ou estampados.
Oulisa (oulissá) - Vodum masculino que habita as águas claras e frias do
oceano. Esse Vodum é sempre muito confundido com Lisa (lissá). Veste branco
com detalhes prateado ou dourado. É um Guerreiro dos Mares. Panteão da
terra. Originário da cidade de Porto Novo
Lakaya (lacaiá) - Vodum jovem da linhagem de Lisa, veste branco.
Wele – Vodum masculino, velho. Detém as chaves dos tesouros e depósitos de
Lisa. Veste branco com detalhes coloridos.
Alawe – Vodum masculino, velho. Junto com seu irmão Wele guarda as chaves
dos tesouros e depósitos de Lisa.
* ”Uma historia sobre Vodum Lisa Lumeji:
Conta à tradição oral que certa ocasião quando o réu de Dahomey tinha que
pagar tributos ao rei de Oyo como também enviar um de seus filhos para
trabalhar durante um ano em Oyo; sua esposa Wanjele pegou um obi, mandou
que todos se afastassem e jogou o obi no chão invocando Lissa Lumeji, nesse
momento o chão se abriu e Lumeji surgiu das profundezas da terra.
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Wangele pediu a Lumeji que decidisse qual dos filhos do rei deveria ser enviado
a Oyo. O Vodum ordenou que Tegbesu (filho de Wanjele) fosse enviado.
Tegbesu se revoltou e disse que a mãe tinha invocado um mau Vodum.
Wangele chamou a atenção do filho e disse-lhe que confiasse no Vodum.
Antes da partida de Tegbesu para Oyo, por ordem de Lumeji, Wanjele deu a
seu filho um tebe (têbê – pequeno pote) contendo água e mandou que Tegbesu
encostasse apenas a boca na borda do pote para saciar sua sede e que essa
água duraria três anos. Wangele deu também um alforge cheio de obi e disse
ao filho que bastaria ele comer um pequeno pedaço para não sentir fome.
Tegbesu foi para Oyo levando consigo os presentes de Lumeji.
O príncipe foi colocado na lavoura e quando tinha que capinar, ele tirava os
inhames e deixava as ervas daninhas.
O povo de Oyo se espantou ao ver que Tegbesu não sentia fome nem sede e
que em momentos de fúria ele esfregava as mãos conversando com Lisa
Lumeji, como conseqüência vinha à seca.
Temerosos com o gênio e poderes mágicos de Tegbesu resolveram envia-lo de
volta a Dahomey.”
No Brasil algumas pessoas dizem que Mawu é o “Oxalá velho – Oxalufan” e
que Lisa é o “Oxalá novo – Oxalaguian” . Essas afirmativas são errôneas.
Primeiro porque Mawu é uma Vodum mulher e Oxalufan é um Orixá homem,
Lisa é um Vodum e Oxalaguian é um Orixá.
Se quisermos fazer uma semelhança entre essas divindades, teremos que dizer
que todos os Oxalás feitos no Jeje são Lisa.
Como já é do conhecimento de todos aqueles que estudam as culturas
africanas, a nação Jeje cultua como divindades principais, os VODUNS, porém
os ORIXÁS são recebidos também em nossos templos com todas as honras.
Quando um Oxalufan ou Oxalaguian é feito em um iniciado, essa divindade é
tratada como Orixá e não como um Vodum, embora ela se enquadre nos ritos
da nação.
Muitos dizem que no Brasil não “se vê” Lisa feito, mas se cada zelador passar a
observar melhor seus iniciados constatará que muitos dos “Orixás” feitos em
suas casas na verdade são Voduns e com certeza encontrão, quem sabe, um
Lisa feito em seu kwe.
As festas ou festival de Mawu-Lisa no Brasil acontecem entre os meses de
dezembro e janeiro. Esse ritual nada tem a ver com “As águas de Oxalá” feita
pelos yorubanos. Nesse período os kwes estão usando a cor branca, o uso de
dendê é proibido, as pessoas feitas de Oxalá ou Lisa permanecem no kwe.
Muitos inhames são oferecidos às divindades e as pessoas. Os demais Voduns
e Orixás participam das festividades e prestam homenagem aos “deuses” que
criaram os seres humanos e os Voduns.
Nana Buruku é muitíssimo lembrada e homenageada durante essa festa que
dura em torno de 15 a 20 dias.
Quando Oxalá e Lisa aparecem todos gritam:
Mawu ga Sogbolisa, kiti kata adonu wo to amesi wo asi wo afo (mauu gá,
sôbôlissa, quiti cata adônú uôtô, amêssi uô assi uô afô) = Mawu-Lisa! Salve os
criadores do Mundo, venham receber nossas oferendas, nos abençoe, somos

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seus filhos
Mawu’fe hud’ali. (Mauu cudô ali) = Mau nos ame, nos dê bons caminhos.
Mawu-Lisa e na Che nu we!
(mauu-lissa ê na tchê ne uê)
Que Mawu-Lisa nos abençoe!

Tohossou:
Vodum Protetor dos Deficientes Físicos e Mentais

Por séculos, em todo o mundo, as crianças nascidas em circunstâncias


especiais, eram mortas pois eram segregadas e rotuladas como seres de mau
agouro, diabos ou que perpetuavam a miséria e o sofrimento de suas famílias,
tornando-se assim, um estôrvo para seus pais. Eles eram assassinados,
conforme estabelecido pelo grupo, para serem poupados de uma vida com
olhares fixos e rejeições sociais.
Não havia nenhuma recompensa em sacrificar uma vida familiar cuidando
dessas crianças carregadas de circunstâncias tão especiais.
Esta situação também estava presente na cultura dahomeana, até que um
Vodum especial, nomeou Tohossou para encarregar-se de mudar essa
situação.
Os Tohossous são congregados de antepassados reais que surgiram durante o
reinado do Rei Akaba, o segundo rei do Dahomey (1685-1708). Eram
conhecidos como "as crianças e o guardião dos três rios", um lugar onde todos
os antepassados viviam, e todos que morriam passavam a viver neste sagrado
reino subaquático.
Este Tohossou foi considerado muito poderoso e, frequentemente, era
chamado para batalhas quando tudo já havia falhado, pois era um vencedor
certo com uma rajada de sua poderosa espada.
O Tohossou é agrupado com o "Neusewe" dahomeano, grupo da maioria dos
mais antigos antepassados, hoje conhecido como "Loko".
A primeira criança nascida com má formação física e a fazer parte desse grupo
foi Zomadonu, filho mais velho Acoicinacaba.
Zomadonu é quem comanda este poderoso grupo de Trowo (espíritos
ancestrais) . Para este grupo eram feitos sacrifícios e honras especiais.
Infelizmente, foi durante o reinado do rei Glele que deu-se a maior perseguição
às famílias dessas crianças. Elas eram sacrificadas afim de poupar o reinado e
suas famílias.
O mais significativo, é que esses antepassados reais eram, frequentemente,
ignorados e negligenciados pelos próprios reis. Muitas tentativas foram feitas
por esses antepassados para atrairem a atenção dos reis em incentivá-los a

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dar-lhes as homenagens como era a tradição, mas os reis se recusavam
veementemente, então esses antepassados se tornaram enfurecidos.
Um dia, irritados, desceram na corte real, nos corpos dos adultos fisicamente
mal formados e começaram a destruição, a devastação e a exalarem um cheiro
forte e desagradável e, acima de tudo, muita confusão e desespero, destruindo
a corte e vilas inteiras.
Imediatamente o rei chamou os bakonons de Fa para verificarem qual era o
problema e o que poderia ser feito para acalmar esses espíritos poderosos e
irritados.
Após um consulta cuidadosa, Tohossou começou a falar. Além de exigirem que
todos os reis erguessem um santuário ao Vodum maior, Zomadonu, para que
eles lhes pagassem as devidas homenagens, exigiram também que a
repercussão da "fama" que os física e mentalmente abalados tinham fosse
cessada. Declarou ainda que daquele momento em diante eles eram os seus
guardiões protetores. Por último, propôs que, aqueles que nascessem naquelas
condições, suas famílias deveriam erguer um pequeno santuário em suas
casas e, os que assim fizessem, seriam recompensados e abençoados com
prosperidades especiais.
Hoje, no Benin e em Togo, as crianças que nascem com má formação física ou
deficiências mental têm uma cerimônia especial e, em suas casas, um pequeno
altar é consegrado aos Tohossous.
Assim, em vez de trazerem desgraças financeira e emocional às suas famílias,
trazem bençãos.
Aqueles que ficam incapacitados devido a idade, ferimentos ou doenças,
também ficam sob a proteção dos Tohossous.

Sakpatá

Para o povo Jeje, Sakpatá foi trazido para o Dahomey, por Agajá, no século
XVIII, vindo da cidade de Dassa Zoumé, mais precisamente, da aldeia de
Pingine Vedji.
Todos os Voduns, pertencentes ao panteão de Sakpatá, são da família
Dambirá.
Nesse panteão temos vários Voduns. O mais velho que se tem notícia é Toy
Akossu, no transe, ele se mantém deitado na azan (esteira). Dizem os mais
velhos, que Toy Akossu é o patrono dos cientistas, ele dá à eles inspirações
para a descoberta das fórmulas mágicas que curarão as doenças e as pestes.
Ele é a própria "doença e cura", como também um excelente conselheiro.
Toy Azonce é um outro Vodum velho, porém mais novo que Toy Akossu. Seu
assentamento fica em local bem isolado do Kwe, sendo proibido tocá-lo.
Somente UMA pessoa designada por ele mesmo pode tratar desse
assentamento. É Toy Azonce quem sempre faz todas as honras para seu irmão
Toy Akossu, quando ele está em terra.

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Toy Abrogevi é um Vodum velho, filho de Toy Akossu, que gosta de comer
quiabo com dendê, paçoca de gergelim e fumar cachimbo de barro. Toy
Abrogevi gosta muito de Badé e se tornou muito amigo dele. Foi com Badé que
aprendeu a comer e a gostar de quiabo.
São tantos Voduns desse panteão que seria praticamente impossível descrever
cada um aqui.
Esses Voduns são rigorosos no que tange a moral e os bons costumes. Nunca
admitem falhas morais dentro dos kwes e, quem faz essa fiscalização para eles
é Ewá, filha de Toy Azonce.
As cores de contas e roupas usadas por esses Voduns podem variar de acordo
com o gosto de cada um. Todos usam roupas feitas de palha da costa sendo
umas mais curtas e outras mais compridas. Sakpatá usa todas as cores e o
estampado, sempre com a presença das cores escuras.
Símbolo fortemente ligado a Sakpatá, a palha da costa é a fibra da ráfia, obtida
de palmas novas, extraídas de uma palmeira cujo nome científico é raphia
vinifera. No Brasil, recebe o nome de Jupati. A palmeira é considerada a
"esteira da Terra".
A palha da costa, tendo sua origem na palmeira, ganha o simbolismo universal
de ascensão, de regenerescência e da certeza da imortalidade da alma e da
ressurreição dos mortos. Um símbolo da alma. Além de proteger a
vulnerabilidade do iniciado, sua utilização também é reservada aos deuses
ancestrais, numa reafirmação de sua ancestralidade, eternização e
transcendência.
Os Sakpatás podem trazer nas mãos o xaxará, ou o bastão, a lança, o illewo ou
ainda, uma pequena espada. A maioria deles gostam de manter o rosto coberto
pela palha da costa, outros gostam de mostrar o rosto. Todos gostam muito de
usar búzios e chaorôs (guizos).
O búzio, simboliza a origem da manifestação, o que é confirmado pela sua
relação com as águas e seu desenvolvimento espiralóide a partir de um ponto
central. Simboliza as grandes viagens, as grandes evoluções, interiores e
exteriores.
É associado as divindades ctonianas, deuses do interior da terra. Por extensão,
o búzio simboliza o mundo subterrâneo e suas divindades.
O chaorô (guizo), tem simbologia aproximada a do sino, sobretudo pela
percepção do som. Simboliza o ouvido e aquilo que o ouvido percebe, o som,
que é reflexo da vibração primordial. A repercussão do chaorô é o som sutil da
revelação, a repercussão do Poder divino na existência. Muitas vezes têm por
objetivo fazer perceber o som das leis a serem cumpridas.
Universalmente, tem um poder de exorcismo e de purificação, afasta as
influências malignas ou, pelo menos, adverte da sua aproximação. Sem dúvida,
simboliza o apelo divino ao estudo da lei, a obediência à palavra divina, sempre
uma comunicação entre o céu e a terra, tendo também o poder de entrar em
relação com o mundo subterrâneo.
O lakidibá, fio de conta de Sakpatá, é feito do chifre do búfalo. Tem o sentido de
eminência, de elevação, símbolo de poder, um emblema divino. Ele evoca o
prestígio da força vital, da criação periódica, da vida inesgotável, da

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fecundidade. Devemos lembrar que chifre, em hebraico "querem", quer dizer,
ao mesmo tempo, chifre, poder e força.
O lakidibá não sugere apenas a potência, é a própria imagem do poder que
Sakpatá tem sobre a vida e a morte. Na conjunção do lakidibá e do deus
Sakpatá, descobrimos um processo de anexação da potência, da exaltação, da
força, das quatro direções do espaço, da ambivalência.
Encontramos o lakidibá em duas cores: preto e branco. Ele também contém a
bondade, a calma, a força, a capacidade de trabalho e de sacrifício pacífica do
chifre do búfalo, de onde origina-se. Rústico, pesado e selvagem, o búfalo é
também considerado divindade da morte, um significado de ordem espiritual,
um animal sagrado.
Na África, o búfalo (assim como o boi), é considerado um animal sagrado,
oferecido em sacrifício, ligado a todos os ritos de lavoura e fecundação da terra.

O lakidibá é entregue ao adepto somente na obrigação de sete anos.


Presença certa em tudo ligado a Sakpatá, o duburu (pipoca) representaria as
doenças de pele eruptivas, cujo aspecto lembra os grãos se abrindo. Jogar o
duburu assumi o valor e o aspecto de uma oferenda, destreza e resistência. O
ato de jogar se mostra sempre , de modo consciente ou inconsciente, como
uma das formas de diálogo do homem com o invisível. Tem por alvo firmar uma
atmosfera sagrada e restabelecer a ordem habitual das coisas, é
fundamentalmente um símbolo de luta, contra a morte, contra os elementos
hostis, contra si mesmo.
Os narrunos para esses Voduns devem sempre ser feitos com o sol forte e
cada um deles especifica o que querem comer. Isso quer dizer que, não existe
uma única maneira de agradá-los. Eles não gostam de barulho de fogos de
artifícios.
Uma vez por ano, os Kwes fazem um banquete para as Divindades do Panteão
de Sakpatá, onde devemos comer, dançar e cantar junto com os Voduns.
Os demais Voduns do panteão da terra, sempre são convidados a compartilhar
desse banquete. Os jejes acreditam que, com essa cerimônia oferecida a essas
divindades, todas as doenças são despachadas do caminho do Kwe e de seus
filhos.
Esse banquete é colocado dentro do peji ou do quarto onde mora Sakpatá e os
demais Voduns de seu panteão. Toda a comunidade vêm saudar o Deus da
varíola e seus descendentes, comer e dançar junto com eles e, ali mesmo, é
servido o banquete para todos os presentes.
Após essa cerimônia, Sakpatá e os demais Voduns, vestem suas roupas de
festa e vão para a Sala (barracão) comemorarem seu grande dia, junto com a
comunidade que os aguardam. Quando entram na Sala, todos gritam louvores
à eles, dançam e cantam, louvando o Deus da varíola, que traz a cura de todas
as doenças.
Suas danças e cânticos lembram sempre os doentes, as doenças e a cura das
mesmas. Algumas falam das lutas que esses Voduns enfrentaram com a
rejeição das comunidades com sua presença e outras falam das vitórias que
tiveram sobre todas as comunidades que a eles vieram pedir ajuda.
Os Sakpatás trabalham muito e têm um importantíssimo papel nas feituras de
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Voduns. Do início ao fim de uma ahama (barco de yaô), eles atuam com rigidez
e vigor, mantendo o bom andamento, principalmente dos bons costumes morais
e, cobram "feio" caso alguém cometa alguma falha. Eles são, na verdade, as
testemunhas de uma feitura. Após a feitura, se um filho negar alguma coisa que
tenha sido feita, eles são os primeiros a cobrarem desse vodunci a mentira que
ele está dizendo, assim como também cobram a quebra de segredos.
Todas as folhas refrescantes para ferimentos, pertencem a esses Voduns.
Vale alertar que existem Orixás e Inkices também ligados a cura e doenças
porém, não são os mesmos deuses que os Voduns da família Dambirá, da
nação Jeje. Muitas confusões são feitas e, encontramos várias bibliografias
relatando origens, especificações e costumes que nada têm a ver com o Vodum
Sakpatá.

AVEJI DA

Ligadas as tempestades, raios, furacões, redemoinhos, ciclones, tufões,


maremotos, erupções vulcânicas, aos ancestrais e a guerra, todas as Voduns
guerreiras são conhecidas como Aveji da. Até mesmo Oya dos yorubanos, é
assim denominada em território daometano.
Erroneamente, no Brasil, algumas pessoas feita de Oya se intitulam filhas de
Vodum Jò. Digo erroneamente porque Oya é um Orixá yorubano e Vodum Jò é
um ToVodum do panteão de Aveji-da, assim como Jò Massahundo também.
Aveji-da é o Deus/Deusa das tempestades e dos ventos.
Podemos encontrar as Aveji-da tanto na família Dambirà quanto na família
Heviosso.
As Aveji-da, da família Dambirà estão ligadas diretamente ao cultos dos
akututos, sendo que cada uma tem sua função. Algumas reinam na fronteira do
djenukom com o aikungúmã, outras nos ekúchomê, outras no hou, ôtan e
tódôum., outras em humahuan, outras junto com Naê Nana, outras junto aos
kpame e "possuídos" - essas, "talvez", sejam as que mais trabalham (opinião
minha) - outras se encarregam, junto com Exu, de levar os ebós e pedidos
feitos pelo povo encarnado e desencarnados, a quem de direito e tentam trazer
as soluções para cada um - normalmente conseguem. Enfim, é uma infinidade
de atribuições que essas Voduns têm, todas sempre em prol daqueles que
pedem e precisam do auxílio delas, sejam encarnados ou desencarnados.
Todas essas Voduns, são temidas e respeitadas por akututòs. Elas têm todos
os poderes sobre o reino dos mortos e junto com Sakpata e Nae Nana,
controlam a vida e a morte.
As Aveji-da da família Heviosso, estão mais ligadas aos fenômenos da
natureza, como o furacão, ciclone, maremotos, erupções vulcânicas, etc. onde
os eguns recém desencarnados nesses fenômeno são encaminhados
imediatamente por elas as Guerreiras dos cultos de akututòs, pois Heviosso e
demais Sobos não abrem suas portas para ekùs, dessa forma o trabalho delas

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tem que ser rápido e eficiente, para não contrariar o grande Heviosso.
Contam os velhos Vodunos e Bakonos que a fúria de Aveji-da e de Heviosso
contra as heresias humanas é que provocam esses fenômeno onde muitos
sucumbem. Nessas ocasiões é que devemos recorrer a Velha Vodum Guerreira
que com sua sabedoria e magia sabe aplacar a fúria dos deuses e acalma-los.
Essa Velha Vodum Guerreira mora junto com as demais Yamis e todas as
Aveji-da prestam culto a mesma e tomam seus conselhos e usam sua magia
quando precisam. Ela é um velha Aveji-da que se esconde nas sombras e
adora a noite. Os pássaros são seu encanto. Junto com Ágüe visita os kwes em
sua rondam noturna e se encontrar demandas ela ai se detem nos para ajudar
ou cobrar. A fúria dessa Vodum destrói os inimigos e fecha um kwe.
Dificilmente um kwe fechado por ela consegue se reerguer. Somente através de
Baba Egum se consegue chegar a ela para aplacar sua fúria. As Aveji-da são
mulheres muito vaidosas, gostam do belo, adoram a natureza, apreciam
quando suas filhas imitam suas vaidades. São todas muito vaidosas e
autoritárias, não gostam de receber ordem de ninguém principalmente dos
homens, mas quando fazem suas vontades e caprichos tornam-se dócies e
carinhosas. São muito maternais, perdoam com facilidade seus filhos e os
defende com toda a garra de guerreiras. Gostam de disputar com os Voduns
Guerreiros quem luta melhor e esses sempre acabam cedendo aos encantos
dessas mulheres que os encantam com sua magia e beleza. As Aveji-da
comem cabra ou cabrito, galinha, galo, d'angola, pombo e outros bichos.
Gostam de abara, acarajé, alapadá, quiabada, inhame, peixe, acarajés
recheado com quiabo - existe um infinidade de comidas para elas - Seus
apetrechos são o erugim, adaga, espada de lança curta com a ponta em forma
de meia lua, faca, chicote, chifre de búfalo e de boi, fogareiro de ferro, abano de
palha, abano confeccionado em tecidos finos ou pena (leque), abanos
confeccionados em madeira, bonecas(fetiche), maruo... Usam todas as cores
em suas vestimentas. Seus colares ou fios de conta são das mais variadas
cores e formato. Gostam de todos os metais, sendo que o ferro, o cobre e a
prata são seus preferidos. Vale ressaltar que a confecção de
apetrechos,vestimentas e fios de contas são determinados pelas próprias
Voduns, portanto não existe uma "receita" para esses itens. As Oyas feitas
dentro do culto de Voduns aderem todas as características das nativas, porém
recebem também o que lhes são de direito dentro de suas origens. Vocabulário:
djenukom - céu (orum) aikungúmã - terra (aiye) ekúchomê - cemitério tódôum -
rio hou - mar ôtan - lago, lagoa ahuan - guerra, batalha humahuan - campo de
batalha (guerra) kpame - doentes, enfermos akututòs - ancestrais, egungum
ekùs - eguns

Tobossis/Naês/Mami Wata

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Tobossis, Naês ou Mami Wata, são todas as Voduns femininas das ezins
jeçuçu, jevivi e salobres. Aqui falaremos, especificamente ,das belas Naês das
ezins doces e salobres.
Em todas as famílias de Voduns encontramos Naês, sendo que, a maioria
delas, são da família Dambirá, panteão da terra.
No Brasil, convencionou-se chamar Oxum, dentro das casas Jeje, de Tobossi.
Tobossis são Voduns femininos, infantis e, como elas tem muito a ver com as
Naês, acredita-se que foi daí que o brasileiro passou a chamar Oxum de
Tobossi.
Como a maioria dos adeptos do Candomblé sabem, Oxum é um Orixá da
nação Ijexá, muito cultuada por todas as nações, inclusive o Jeje mas, temos
que entender que existem Oxum e Naês. Quando, dentro da nação Jeje, uma
pessoa é feita de Oxum, dizemos que ela é feita de Orixá, quando a pessoa é
feita de Naê, dizemos que ela é feita de Vodum.
As Naês vivem em plena harmonia com toda e qualquer entidade que mora nas
ezins. Nesse habitat não existe separação de nações.
As Naês ou Mami Watas, são mulheres vaidosas, exigentes, caridosas,
algumas são guerreiras, outras caçadoras. Gostam do brilho das pedras e do
ouro, adoram se enfeitar com colares, pequenas conchas e caramujos,
pulseiras, pequenas penas coloridas. Normalmente, seus adornos são feitos
por elas mesmas, caso alguém queira fazer para elas, essas exigem que seja
feito exatamente como elas fariam.
Algumas Naês gostam de ficar a beira dos tódôum, sentindo e recebendo a
energia do guhê, das atinçá, do djóom, da sum, etc.. Essas são muito falantes,
gostam de dançar, cantar, caçar junto com Otolu, pescar junto com Ajaunsi,
macerar folhas junto com Agué, comer amalá com Sobo, Aveheketi e
Ahevessul, etc. Gostam de caminhar pelas matas, praias e lagoas, ondem
residem outras Naês.
Outras Naes preferem as profundezas das ezins onde a paz reina com toda a
plenitude da natureza, essas não gostam de se expor aos olhos de curiosos e
são de falar muito pouco.
As Naês que moram nas ezim salobres, são as mais guerreiras, cultuam os
ancestrais, lidam com eguns e a magia é seu forte. Dizem os antigos, que é nas
lagoas que se escondem os grandes mistérios da magia das Naês, pois ali se
encontram as duas energias, a das ezins jeçuçu e a das ezins jevivi. Fá sempre
aconselha seus bakonos a irem à lagoa conversarem com as Naês quando
existe a necessidade da magia ser usada.
As Naês usam roupas de várias cores sendo que, algumas delas, adoram o
dourado, daí confeccionar-se roupas com tecido amarelo, o que não está
totalmente correto. As roupas das Naês devem obedecer a uma série de
exigências das mesmas. Podemos até fazer uma roupa amarela ou dourada,
mas nunca podemos esquecer os detalhes que virão complementar a
simbologia da roupa a ser usada.
Seus assentamentos podem ser feitos em louças, em bustos de madeira, argila
ou cô, dependendo da Vodum que se está assentando.
Comem: bò, catraio, marreca, kôkôlo, uhui, caças, eché.

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Dependendo da Naê, ela traz nas mãos: ezuzu (abebê), pena, ofá, lira, eché
(de preferência vivo), cobra, espada ou adaga.
Em todos os estudos que fizemos na África, encontramos a SEREIA
simbolizando as Mami Wata/Naês, tanto das água doces quanto das águas
salgadas e salobre. É comum encontrarmos, em qualquer estabelecimento
comercial e residencial, a figura de uma sereia cultuada (podemos comparar
com os santinhos católicos que os brasileiros cultuam aqui em pequenos
altares em seus estabelecimentos).
Vocabulário
kôkôlo - galinha
bò - cabra ou cabrito
có - barro
eché - pássaro
uhui - peixe
ezim - água
atinçá - árvores, folhas
sum - lua
djóom - vento
tódoum - rio
catraio - galinha da angola
guhê - sol
jevivi - salgada
jeçuçu - doce

A ORIGEM DE FA - O SISTEMA DAHOMEANO DE ADVINHAÇÃO

Gbadu nasceu após os gêmeos Agbe e Naete. Possui dezesseis olhos e é um


deus andrógino.
Mawu designou-o a viver no alto de uma árvore de palma, no Orum, a fim de
observar os reinos do mar, da terra e do céu. Mais tarde, Mawu lhe diria os
deveres que deveria executar.
Gbadu está sempre na árvore.
A noite, quando dorme, seus olhos se fecham e depois não pode abri-los
sozinho. Legba foi encarregado por Mawu, para escalar a árvore de palma, a
cada manhã, para abrir os olhos de seu irmão.
Quando Legba escala a árvore de palma, pergunta primeiro a Gbadu que olhos
deseja ter aberto, se os detrás, da frente, da direita ou da esquerda. Ao ouvir a
pergunta, Gabdu presta atenção ao reino do mar, da terra e do céu; não quer
falar porque outros podem ouvir.
Em resposta a Legba, põe semente da palma em sua mão. Se colocar uma
semente, significa que deseja abrir um de seus olhos e se forem duas
sementes, Gabdu deseja que dois de seus olhos sejam abertos.
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Quando Legba abre seus olhos, ele mesmo olha bem de perto o que está
acontecendo no mar e na terra e prometeu a Gbadu, a quem nós também
chamamos de Fa, que relataria tudo à ele, inclusive o que acontece no domínio
de Mawu, o Orum. E dests maneira aconteceu.
Depois de um tempo, Gbadu começou a gerar crianças. A primeira criança era
Minona, uma filha. A segunda criança também era uma filha. Todas as outras
crianças eram filhos e foram chamados de: Aovi, Abi, Duwo, Kiti, Agbankwe e
Zose.
Um dia, Gabadu confidenciou a Legba que estava incomodado porque Mawu
ainda não tinha lhe designado seu trabalho.
O único que conhecia a língua de Mawu era Legba e este prometeu a Gbadu
que o ensinaria.
Algum tempo após isto, Legba disse a Mawu que havia uma grande guerra na
terra, no mar e no céu e que, se Gbadu ficasse apenas olhando do alto, esses
três reinos seriam logo destruídos.
A água do mar não sabia seu lugar e a chuva não soube cair.
Isto estava acontecendo porque os donos daqueles reinos não compreendiam a
língua de Mawu.
Mawu perguntou: "O que deve ser feito?". Legba disse que o melhor seria
enviar Gbadu à terra. Mas Mawu respondeu: "Não, deixe Gbadu permanecer
aqui, mas darei a compreensão de minha língua à alguns homens na terra,
dessa maneira, os homens saberão o futuro e como comportarem-se".
Mawu mandou Legba encontrar três filhos de Gabdu.
Antes que essas crianças de Gabdu fossem para a terra, Mawu entregou as
chaves do futuro para Gabdu. Disse-lhe que aquela era uma casa com
dezesseis portas e que cada uma correspondia aos olhos de Gabdu.
A árvore de palma em que Gbadu descansou foi chamada de Fa. Assim,
quando Gbadu recebeu as chaves, Mawu disse que Legba era o "inspetor" do
mundo e que desejava que Gbadu fosse o intermediário entre os três reinos e
ela mesma.
Quando os homens desejarem saber o futuro a fim de guiarem suas ações,
deveriam pegar as sementes e jogá-las aleatoriamente e isto abriria os olhos de
Gbadu que corresponde ao número de sementes e a ordem em que caíram.
Porque as sementes abririam o olho que correspondesse a uma porta na casa
do futuro, o destino para quem fossem jogadas poderia ser visto.
O que cada casa do futuro continha foi ensinado às três crianças que foram
enviadas à terra.
As crianças escolhidas para ligarem a terra Gbadu e Legba, consequentemente
a Mawu, foram Duwo, Kiti e Zose.
Trouxeram sementes da palma com elas, mostrando aos homens como usá-
las. Ensinaram e disseram a cada homem o que era seu sekpoli (destino).
Disseram que o sekpoli é a alma que Mawu deu a tudo, mas antes de chamar
esta alma, deve-se abrir os olhos de Gbadu. É necessário saber o número de
olhos de Gbadu que estão abertos antes de chamar esta alma, de modo que se
um homem souber o número de linhas que o Fa seguiu para ele, sabia seu
sekpoli.

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Foi dito que nenhum santuário era necessário para a adoração de sekpoli
porque o próprio corpo humano já é seu santuário.
Quando os três tinham terminado de ensinar aos homens, voltaram ao céu.
Mais tarde, Mawu enviou todas as crianças de Gbadu à terra. Foram
conduzidos por Legba, que os instalou.
Quando voltaram, Zose recebeu o título de Faluwono, também conhecido como
Bakonon, que quer dizer "possuidor dos segredos de Fa", que Gbadu tinha lhe
dado.
Minona tornou-se uma deusa e reside na casa das mulheres, onde ela tece
algodão em seu eixo.
Duwo recebeu o nome de Bokodaho. Reside nas casas de Pa (crianças de
Agbadu), enquanto Kiti e Duwo foram ajudar Zose, que é Faluwono, fazer seu
trabalho.
Zose joga as sementes da palma. Ele tem somente um pé e, no começo,
quando traçava linhas do destino, as pessoas não acreditavam nele.
Seu irmão, Aovi, o azarado, foi encarregado de fazer com que as pessoas
respeitassem o culto.
Hoje, se o Fa disser algo e você não fizer, chama-se Aovi para puni-lo. Então
você deve respeitar o Fa.
Pa fez uma figura pequena de argila de Legba e colocou-a de um lado de sua
casa , Aghannukwe. Abi foi chamado para dar a Minona a mesma função que
Aovi tem para o Fa.
Abi é cinzas, combustão. É isso que faz com que as mulheres respeitem
Minona.
Quando uma mulher cozinha e Minona está irritada com ela, o fogo queima-a
ou sua casa pega fogo.
E é por esta razão, que quando na cerâmica é ateado fogo está se chamando
Abi, porque as cinzas, a combustão, são abundantes.
Pouco a pouco as pessoas começaram a compreender o "novo sistema" e
porque Aovi é muito severo, o culto passou a ser respeitado.
Assim, o culto do Fa espalhou-se em toda parte.
Um dia, veio na terra visitar o culto do Fa com Gbadu. Como era seu hábito,
compartilharam da mesma esteira para dormir. Mas, tarde da noite, levantou-se
secretamente e foi à Minona. Entretanto, Gbadu acordou e descobriu que
Legba o tinha enganado com sua própria filha.
Discutiram e foram para o Orum levar o caso a Mawu.
Legba não admitiu que tinha dormido com Minona. Mawu então, mandou que
se despisse. Quando estava nú, Mawu viu que seu pênis estava ereto e disse:
"Você me enganou e deitou-se com sua irmã. Por este motivo eu ordeno que
seu pênis será sempre ereto e você não poderá mais saciar-se".
Legba mostrou indiferença a esta punição porque jogou com Gbadu antes que
Mawu o repreendesse, ordenando que seu pênis ficasse ereto para sempre,
assim já sabia o que ia acontecer.
É por esta razão, que as danças de Legba são semelhantes a este
acontecimento, tentando-se ver o que toda mulher tem na mão.

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Nohê Aikunguman
(Mãe terra)

No culto dos Voduns, Nohê Aikunguman é a base de tudo que é fundamento.


Acreditamos que somente Aikunguman pode sustentar uma base sólida para
apoiar e firmar um templo de Voduns.
Temos vários Voduns que pertencem ao panteão de Aikunguman, porém
existem aqueles cuja a tarefa primordial é o culto a mesma. Dependendo do
que se pretende fazer, invocamos o Vodum correspondente. Como exemplo
podemos citar:
Vodum Aizam - considerada a patrona dos grandes mercados. - Ë costume em
todo Benin, quando nasce uma criança, levar a mesma ao mercado e lá fazer
os mlenmlen (orikis) e oferendas à Aizan, pois acreditam que esse ritual dará
muito boa sorte à vida da criança. Esse procedimento também se dá aos casais
de noivos. Os familiares das duas partes ser reúnem e vão juntos com os
noivos ao mercado. Nos dois casos, tanto a criança quanto os noivos trazem
para casa um pouco de terra e a coloca no solo de suas casas para que a
fartura e a prosperidade façam sempre parte de suas vidas.
Vodum Aizam tem uma grande família e cada um dos membros reina em uma
parte da terra, inclusive o mundo ctônico (subterrâneo) e abissal (subterrâneo
aquático).
Vodum Intoto - É um Sakpata que não é feito no Ori de ninguém, assim como
Aizan. Saber plantar, cuidar, zelar esse Vodum é "garantir a vida" dentro da
casa de santo. Intoto é responsável pela putrefação das carnes e dos alimentos
em geral; por essa razão temos que saber cultuá-lo abaixo do solo para que
essa atribuição dele só ocorra em seu mundo e nunca no nosso.
Vodum Agué - Dono de todos os segredos das folhas, este Vodum tem um
papel importantíssimo dentro do culto Aikunguman pois é ele quem a fertiliza e
a alimenta com suas sementes e magias. Em uma casa de santo cabe a ele
levar o "sabor" de cada vodunci e o apresentar à Aikunguman na passagem de
sua vida profana para a religiosa, isso é, no seu renascimento.
Vodum Guiogu - O dono da faka (faca) e das grandes guerras. Seu papel é
importantíssimo no culto de Aikunguman, é ele quem dá à mesma o kun
(sangue) dos animais sacrificados. Junto com Vodum Yian, Guiogu garante que
o kun humano não será derramado dentro daquela casa.
Baseados nessa pequena explanação, podemos entender o porquê de usarmos
"poeiras", "terras" de determinados lugares para fazermos assentamentos de
Santos e Legbas. Como eu disse, cada membro da família de Aizam, rege um
local - feira-livre, mercados, açougue, bancos, cemitérios, estradas, rios, mar,
cachoeira, etc.
Para nós filhos do Culto Vodum, Aizan é a principal deusa da terra, ela é a
própria terra.

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Deuses da Riqueza
(Daometanos)
Na cultura daometana, encontramos como Deuses da Riqueza, um casal de
gêmeos que foram enviados à terra por Mavu e Lissa, para que ajudassem a
humanidade.
Os gêmeos Da Zodji e Nyohwe Ananu foram os primeiros Voduns a nascerem e
após chegarem a terra, deram origem a uma linhagem de Voduns ricos e
guerreiros.
Cabe a esses Voduns guerreiros, ajudarem a todas pessoas que recorrerem a
Da Zodje e a Nyohwe Ananu, a chegarem até eles, isso é, caso algum caminho
ou energia do solicitante estiver atrapalhando o intercâmbio entre ele e os
Deuses da Riqueza, esses Voduns mostram os ebós que deverão ser feitos
para que ele alcance os Deuses gêmeos.
Quando chegaram a Terra, Da Zodji e Nyohwe Ananu habitaram o mar, onde
acharam as maiores riquezas da Terra. Nyohwe Ananu, muito feminina,
encantou-se com as conchas e os caramujos que encontrou e ficava extasiada
ao ouvir o som do mar dentro dos caramujos. Seu irmão mandou que
trouxessem todos os caramujos e conchas para o palácio deles para agradar
Nyohwe Ananu.
De tanto Nyohwe insistir para que Da Zodji ouvisse o som dos caramujos esse
atendeu seu apelo e também se encantou. Daí por diante, os dois passavam
todo o tempo ouvindo esse som e não mais prestavam atenção aos pedidos
das pessoas. Incomodados com essas atitude dos Deuses gêmeos, seus
descendentes resolveram consultar um bakono.
O bakono consultou Fá e esse mandou que todos pegassem um caramujo para
si e que quando quisessem falar com os Deuses da riqueza, falassem dentro do
casco do caramujo, pois somente assim Da Zodji e Nyohwe Ananu os ouviriam.

Os descendentes obedeceram a Fá e passaram a falar com os Deuses dentro


dos caramujos e, alguns deles, começaram a colecionar caramujos por
acreditarem que quanto mais caramujos tivessem, mais poderiam conversar
com eles.
Esse procedimento causou um pouco de confusão na vida dos Deuses da
Riqueza pois, quando as pessoas falavam com Da Zodji a irmã também ouvia e
vice-versa. Então, eles estabeleceram o seguinte: "Que cada um tivesse em
seu poder dois caramujos. Um deveria ficar deitado e nesse, os pedidos à
Nyohwe deveriam ser feitos e o outro caramujo deveria ficar em pé e nesse, os
pedidos à Da Zodji deveriam ser feitos".
Deram também a opção de usarem os caramujos de uma maneira só e se
comunicarem apenas com um dos Deuses.

NANÃ
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Nanã é considera por todos os adeptos do Culto Vodum como a grande
Mãe Universal que criou o mundo e deu vida aos Voduns. É chamada
carinhosamente de vó Misan (missam).
Senhora da lama, matéria primordial e fecunda da qual o homem em
especial, foi tirado. Mistura de água e terra, a lama une o princípio
receptivo e matricial (a terra) ao princípio dinâmico da mutação e das
transformações. Sua ligação com a água e a lama, associa Nanã à
agricultura, a fertilidade e aos grãos (vide simbologia dos grãos e favas).
Nanã tem os mais variados nomes de acordo com o dialeto usado:
Bouclou, Buukun, Buruku, etc. Em Dahomey, na cidade de Domê onde
está localizado seu principal templo, Ela é conhecida como Nanã Buruku
(lê-se, buluku).
No Brasil, também existem variações de nomes para Nanã: Buruku, Naê
Naité, Yabainha, Naê, Anabiocô, etc.
Nanã representa a dogbê (vida) e a doku (morte). Ela recebe em seu seio
os ghedes (mortos) e os prepara para o leko (lêcô - retorno, renascimento)

Quando uma mulher não consegue engravidar, recorre a Nanã que ensina
a "fórmula mágica", o remédio de ervas que deve tomar, os ebós e
oferendas que devem ser feitos.
Se um doente recorre a Nanã, imediatamente obtém o remédio curador.
Na África quando uma família ou alguém obtém um favor de Nanã, fica
com o compromisso de oferecer um membro da família ao culto de Nanã e
esse, após sua iniciação, receberá na frente de seu nome a palavra Nanã;
assim como a criança que nasce com a ajuda da Grande Mãe também.
Todos os sacerdotes e sacerdotisas de Nanã têm na frente de seus nomes
a palavra Nanã.
Nanã é a maior conhecedora do uso terapêutico das ervas. Alguns de
seus sacerdotes e sacerdotisas são preparados para serem curandeiros.
Em Ghana existe a Sociedade dos Jou-Jou, em Allada e Dahomey a
Sociedade do Bo, etc.. Nessas sociedades as pessoas escolhidas são
preparadas para a prática da medicina através das ervas. Nanã diz que
além do uso terapêutico das folhas e de alguns produtos animais, as
doenças devem que ser tratadas em sua origem espiritual, para que a cura
seja concretizada. É lastimável que no Brasil essa parte do culto a Nanã
não tenha sido trazida. Em outros países como Estados Unidos, Canadá,
Jamaica e Haiti encontramos essa prática.
O Culto de iniciação de uma filha ou filho de Nanã requer uma série de
cuidados especiais, tanto na África, como no Brasil. Para mim, esse é o
mais difícil culto de Vodum. Nanã Buruku não é feita na cabeça de
ninguém.
Existem vários Voduns da linhagem de Nanã Buruku, que são feitos nos
iniciados. Todos esses Voduns seguem a tradição de Nanã Buruku e são
tão exigentes quanto Ela.
Para iniciar um processo de feitura de uma Nanã, é exigido a abstinência

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de sexo, bebidas alcoolicas e outros prazeres carnais, pelo menos dois
meses antes (na África são exigidos 3 meses), de todos que irão participar
do processo de renascimento do iniciado. Nesse período, são feitos
vários ebós no iniciado e alguns poucos nos participantes e na casa de
santo.
A bogami (bôgâmi - menstruação) é outro beko de Nanã. Se durante o
processo de iniciação a vodunsi ficar menstruada, deve ser afastada
imediatamente de Nanã e ficar reclusa em um lugar especial, fora do
templo, até que cesse esse período.
Na África as mulheres menstruada são proibidas de entrar no Templo de
Nanã ou de participar de qualquer preceito, seja de rituais ou
simplesmente fazer uma comida de santo. Nanã diz que a bogami é um
sangue impuro e aconselha as mulheres não cozinharem para seus
maridos nesse período.
Por ter muita ligação com egungum é necessário saber tratar muito bem
de Buku, entidade assistente de Nanã e Sakpata. Em uma feitura, não é
permitido a sua presença, mas, ele deve ficar aposto, sua função será
tomar conta de todos, para que nenhuma exigência da Grande Mãe seja
desobedecida, principalmente a abstinência de sexo.
Assim como Buku, Legba Aghamasa (agramassá) devem ser tratados
corretamente para garantir a paz, tranqüilidade e segurança nos rituais e
preceitos. Ebós e oferendas específicas devem ser feitos para essas duas
entidades.
Os ancestrais dos Voduns, do iniciado, dos participantes e da casa de
santo não podem ser esquecidos em hipótese alguma!
Antes, durante e depois da iniciação de uma Nanã devemos fazer muitos
ebós, oferendas e preceitos. Uma Nanã bem feita é caminho de
prosperidade e crescimento para a casa de santo, do iniciado e dos
participantes.
De acordo com a Vodum Nanã que está sento feita ou cultuada é que se
determina, se comerá bichos macho ou fêmea. Existem Voduns dessa
linhagem que não comem bicho de quatro pés, outros preferem comer
somente o Igby. Nanã Buruku, por exemplo, não gosta de muito kun
(sangue)
Vários textos têm sido publicados, citando o carneiro como o bicho
oferecido a Nanã, mas, se observarmos as fotos que acompanham esses
texto, veremos que se trata de cabra e cabritos. O sacrifício de carneiro é
o maior beko (kisila) de Nanã. Para essa Vodum, o carneiro é um bicho
sagrado e não deve ser sacrificado.
O não uso da faca e outros metais nos nahunos e preceitos de Nanã
devem-se ao fato de Ela ser muito mais velha que esses metais. Por seu
caráter conservador, quando o ferro e outros metais apareceram, ela
preferiu manter o que já conhecia em seus ritos.
Vejamos abaixo alguns dos Voduns da linhagem de Buruku. e algumas
curiosidade ligadas a Grande Mãe.
Nanã Densu ou apenas Densu – Segundo os Fons esse Vodum é um deus

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andrógino e seria o lado macho ou marido de Buruku. É muito cultuado nos
rituais de Mami Wata onde é considerado o maior de todos os deuses, os Fons
o compara a Olokun. Muitos antropólogos têm atribuído erronêamente Densu a
um deus hindu, devido seus fetíches e assentamentos apresentarem três
cabeças. Esse Vodum é muito rico e farto. Costuma presentear seus adeptos
com suas riquezas. Não é feito na cabeça de ninguém. Nanã Asuo Gyebi
(assuô giêbi) – Vodum masculino velho, que habita os rios. Muito popular em
Ghana e tido como o protetor das crianças africanas que foram escravizadas.
Esse Vodum pediu aos seus sacerdotes que o levasse para os países onde os
africanos foram escravizados afim de que pudesse resgatar suas crianças. Ele
já foi assentado em templos de Akonedi nos Estados Unidos e no Canadá.
Nanã Esi Ketewa (êssi quetêuá) – Vodum feminina muito velha, cultuada em
Ghana, Cotonou e Allada. Dizem os mais velhos que essa Vodum morreu de
parto e que por isso a missão dela é proteger e tratar as mulheres grávidas
assim como seus filhos
Nanã Adade Kofi (adadê côfi) – Vodum masculino, tem a função de proteger e
defender todos os templos de Nanã. É um Vodum guerreiro, ligado ao ferro e
outros metais. Cultuado em Ghana, Allada, Cotonou, Porto Novo, etc. É o
Vodum da força e perseverança. Sua espada é usada pelos adeptos de Nanã,
para prestarem juramentos de obediência, submissão e devoção a Grande
Mãe.
Nanã Tegahe (têgarê) – Vodum feminina jovem, cultuada em Ghana. Tem o
poder de tirar feitíços das pessoas e lugares. Tem grande conhecimento no uso
terapêuticos e ritualísticos das ervas. Muito alegre e faceira, gosta de dançar e
cantar, mas fica muito séria e aborrecida quando encontra malfeitores e
ladrões; ela os mata.
Nanã Obo Kwesi (obó cuêssi) – Vodum feminina guerreira, cultuada na região
Fanti em Ghana. Protege e ajuda os kuhatô (pobres) e os azon (doentes).
Detesta quem faz aze (azê - bruxarias) ou qualquer mau a um ser humano.
Nanã Tongo ou Nanã Wango (tongô/uangô) – Vodum feminina, cultuada em
Togo. Grande curandeira, trata das pessoas com ervas, ebós e gri-gris. É uma
grande Azeto (azétó - feiticeira) e seu culto talvez seja um dos mais complexo.
Em seus nahunos, os sacerdotes prostam-se no chão ao lado dos bichos
mortos e fingem estarem mortos também, assim permanecem até que Wango
incorpore em um deles e os ressuscite. Todos levantam, os bicho são
suspensos e preparados. Nanã Tongo dança com muita alegria, vestida em
suas roupas confeccionadas com as peles dos bichos sacrificados para ela.
Seus adeptos costumam presentear Wango com muitas jóias, enfeites, roupas
e talismãs que a agradam. Antes de começar os nahunos para Wango, corujas
são atadas às árvores. Nanã Akonedi Abena – Vodum feminina jovem, cultuada
em diversas partes da África. Seu principal templo fica em Later, cidade de
Ghana. Quando Akonedi chega ela percorre a vila, esconde-se em arbustos e
sobe em telhados à procura de feitíços, feiticeiros e malfeitores. Atende os
moradores locais, fazendo libações e curando os doentes. Em Ghana é
considerada a Deusa da Justiça Seu corpo é coberto com um pó branco
sagrado, usa saia de palha, seu rosto é descoberto, na cabeça usa um torço,

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no corpo muitos brajás e nas mãos trás um feixe de lenha. Sua dança é
selvagem e desenvolve-se dentro de um quadrado divino, dividido em outros
quadrados menores feito com riscos do mesmo pó que cobre seu corpo. Esse
conjunto de quadrado também é usado por suas sacerdotisas durante as
danças. Seu assentamento fica em um buraco dentro da terra, ficando somente
a tampa deste aparecendo. Os sacerdote e adeptos de Akonedi carregam-na
nos ombros numa espécie de desfile, para que todos possam admirar e louvar
a grande deusa da Justiça. Terça-feira é o dia consagrado a essa Vodum. O
Culto de Akonedi foi levado para alguns países, a pedido dos governantes
desses. Quem levou o culto de Akonedi para o novo mundo foi a maior
autoridade religiosa do culto, Nanã Oparebea Akua Okomfohemma, falecida em
1995. Mmoetea – Aldeia de pigmeus que vivem nas florestas de Ghana.
Formam uma sociedade secreta especializada no uso das ervas para diversos
fins. Desenvolveram a capacidade de curar qualquer doença física, mental e
espiritual. Trabalham com os espíritos da natureza e seu maior deus é Nanã.
Os espíritos da floresta deram aos Mmoeta o poder de ler a mente dos homens
e dos animais. São grandes curandeiros e poderosos feiticeiros.
Buku – Assistente de Nanã e Sakpata que mata os doentes infectados pela
varíola. “Toma conta e presta conta” do comportamento moral das pessoas
durante os cultos de Nanã e Sakpata.
Legba Aghamasa – Vodum Legba masculino, reina nos portais da morte onde
reside Nanã Buruku.
Odom – Bolsa feita com pele de cabra não curtida, enfeitada com búzios, penas
e sangue. Nessa bolsa são colocados os gris-gris venenoso e não venenoso
que decidem uma questão de justiça. Quando duas pessoas brigam pela
mesma “coisa” e recorrem a Nanã para saber quem tem razão, sua sacerdotisa
pede um galo a cada um dos queixosos, quando esses animais chegam, esses
gris-gris são oferecido aos animais. O galo que comer o venenoso, o dono dele
perde a causa. Além desses gri-gris, outros segredos de Nanã são guardados
na Odom. A Odom fica sempre nos pés do assentamento de Nanã, nunca vai a
público e não pode jamais ser tocada por homens. Abuk (abuquê) – De acordo
com a cultura Fon, foi a primeira mulher a surgir. Patrona das mulheres e dos
jardins, seu fetíche é uma pequena serpente. (teria alguma coisa a ver com
Nanã?!!)
Asase (assassê) – Deusa da criação dos homens e receptadora dos mesmos
na morte. Cultura Ashanti. (Seria a mesma Buruku?!)
Atori (atôli) – Vara ou haste simbólica de Nanã, representa seus filhos mortos e
os ancestrais.
Todos esses Voduns usam muitos kpolis (quipôlis - búzios) e palha, dificilmente
cobrem seus rostos.
Falar ou escrever sobre Nanã é uma tarefa das mais difíceis, pois são tantas as
história a ser contadas, que somente um livro poderia caber.
Todos os adeptos do Culto Vodum, devem prestar muita reverência a Nanã. Em
seus cânticos e danças devemos nos alegrar e nos sentirmos honrados em
poder, aqui no Brasil, participar dessa parte que na África é reservada somente
aos seus sacerdotes e sacerdotisas.

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Aho bo boy Naê!!

A HISTÓRIA DE UMA GRANDE SACERDOTISA

Historia de uma Grande Sacerdotisa!

Nana Oparebea Akua Okomfohemma, filha de pais de famílias reais, nasceu


em 1900 em Ghana.
Quando ainda era bebê, sua tia profetizou que ela um dia seria uma grande
sacerdotisa de Akonedi.
Oparebea foi educada em colégios presbiteriano e foi batizada nessa religião.
Logo após fazer sete anos, começaram as manifestações profetizadas por sua
tia. Oparebea tinha desmaios constantes; sumia de casa por períodos de horas
e quando voltava, não sabia informar onde tinha ido e o que tinha feito. Os
médicos consultados, não sabiam o que se passava com esta criança.
Um dia, Oparebea sumiu por sete dias. Após esgotarem todos os recursos de
buscas, alguns parentes que eram cristãos, resolveram consultar um bokono,
para tentar descobrir o paradeiro da menina. O bokono leu o oráculo e informou
que a menina estava a sete dias dançando com Akonedi em seu templo. Seus
parentes a encontram manifestada pela deusa da justiça, que lhes disse que a
profecia teria que ser cumprida.
Oparebea foi conduzida de volta a sua casa e não mais voltou ao templo. Os
anos se passaram, ela tornou-se uma bela mulher e casou-se. Muitos
acontecimentos sobrenaturais provocaram o divórcio de Oparebea, que voltou a
viver na casa de sua mãe. Os desmaios voltaram a acontecer, agora com muito
mais intensidade e Oparebea ficava desacordada durante horas e as vezes
dias. Por fim a família vendo que acabariam perdendo a filha para a morte,
resolveram envia-lá para o templo de Akonedi e aceitaram sua missão.
Oparebea foi aceita no templo, iniciada para a Vodum Nana Akonedi e
preparada para ser uma sacerdotisa conforme havia sido profetizado. Ela
recebeu de Akonedi a missão de fundar um grande Templo em Lader/Ghana e
depois desse, ela deveria levar ao Mundo a ciência e o oráculo de Akonedi.
Com o passar dos anos, Oparebea tornou-se uma profunda e competente
sacerdotisa, conhecendo todos os mistérios da deusa e das propriedades
terapêutica das ervas. Fundou o Templo que Akonedi pediu, três anos após ter
sido iniciada. Pessoas vieram de várias partes do mundo para consulta-lá e
curar suas doenças.
Em 1960 um acadêmico de alto posicionamento político no EUA, sofreu de uma
dor de cabeça que nenhum especialista conseguia curar. Ele tinha desmaios
que duravam horas e quando acordava a dor de cabeça não havia passado.
Aconselhado por um amigo que fazia pesquisas na África, ele foi a Ghana,
procurar a grande sacerdotisa de Akonedi.
Oparebea o atendeu, diagnosticou sua dor de cabeça e o curou em questão de
horas. Ele ficou tão impressionado com sua cura, que resolveu dedicar-se ao

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estudar e pesquisar sobre os tratamentos feitos a base de ervas e obteve apoio
do governo de seu país. Quando o presidente de Ghana soube do ocorrido com
tão nobre personalidade americana, tratou de formar o Grupo Nacional e Oficial
de Conhecimento do Uso das Ervas, e colocou Oparebea como presidente,
eleita em 1962.
Em 1971 um americano descendente de africanos, descobriu que seus
antepassados eram de Ghana e resolver procurar suas origens. Foi para Ghana
e consultou o oráculo de Akonedi, descobrindo ali a sua origem. Seu nome é
Dinizulu. Ele entregou-se nas mãos da sacerdotisa e após sua iniciação obteve
permissão para fundar um Templo de Akonedi nos EUA. Oparebea o
acompanhou em sua viagem e fundou o primeiro Templo de Akonedi em New
York onde Nana Dinizulu é o principal sacerdote. Voltou para África com alguns
neófitos e os iniciou no culto e mistérios de Akonedi.
Em outras viagens aos EUA, Oparebea fundou templos de Akonedi em
Washington, Califórnia, Toronto e depois no Canadá.
Como havia sido profetizado, Nana Oparebea Akua Okomfohemma, levou e
elevou o nome de Akonedi pelo Mundo antes de sua morte em 1995.
Durante os rituais fúnebres de Oparebea o governo de Ghana recebeu a visita
de vários representantes dos governos dos Estados Unidos, França, Alemanha,
Canadá, etc. que fizeram questão de prestar as últimas homenagens a Grande
Sacerdotisa, que sempre com muita humildade atendia pobres e ricos sem
fazer distinção.
Nana Oparebea Akua Okomfohemma recebeu o bastão de honra e a
responsabilidade do templo de Akonedi. Ela soube cumprir seu papel na
história da África. Sua influência transcendeu os limites locais.
fonte de pesquisas: várias homes pages francesas e americanas traduzidas e
adaptadas por
Yatemi Jurema de Yansã

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EKU E AVUN No culto dos Voduns, Eku é visto como um Deus acompanhado
sempre de um avun. Essa é uma das razões que, dentro dos Templos de
Voduns, a entrada desse animal é proibida. Porém, os sacerdotes reservam
uma área fora dos templos, onde esses animais são criados para que sejam os
guardiões das almas, impedindo-as de entrarem nos Templos além de
encaminhá-las. Os Vodunos, Bokonos, Ahougans, Sofós, Vodunsis e outros,
acreditam que Vodum Ewa sempre espreita o temido Deus Eku para que esse
nunca pegue ninguém desprevenido, além de sempre tentar desviá-lo de seu
caminho. Os velhos Vodunos contam-nos várias histórias para justificar a
proibição de avuns em Templos Voduns. Vejamos algumas delas: 1 - Um dia,
Aveheketi estava pescando e enchendo um balaio com muitos uhui, que levaria
para sua aldeia, para saciar a fome dos seus. Daí, enquanto ele estava
distraído em sua pescaria, os avuns vieram e sem que ele os visse, devoraram
todos os uhui. Quando Aveheketi terminou sua pescaria e voltou-se para o
balaio, o encontrou vazio e ainda pode avistar os avuns se afastando com seus
uhui. Desse dia em diante, Aveheketi proibiu a presença de avuns em seus
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domínios, ato esse que foi seguido por toda a sua família que é a de Heviosso.
Nos kwes de Jeje, principalmente aqueles regidos por Heviosso ou mesmo
Xangô, é proibido a presença de avuns. Aveheketi diz que em Kwes que tem
avuns, nenhum membro da família Heviosso comparece. 2 - Um avun roubou o
fogo de Dan, de Dan Wedo, das divindades celestes ou do Grande-Espírito
para trazê-lo na ponta de sua husi, e por isso, os Voduns têm pavor de avuns. 3
- A repulsa ao avun nos Templos dos Voduns, é a interdição implacável sofrida
por esse animal, pelos muçulmanos, povo que muito influenciou a cultura
africana. Eles fazem do avun, a imagem daquilo que a criação comporta de
mais vil. O avun, devorador de oku é um animal impuro. Por essa razão
também, acreditam que os deuses jamais entram em um Templo onde se
encontra um avun. Não há, sem dúvida, mitologia alguma que não tenha
associado o avun à morte, aos infernos, ao mundo subterrâneo, aos impérios
invisíveis regidos pelas divindades ctonianas ou selênicas. A primeira função
mítica do avun universalmente atestada, é a de guia do homem na noite da iku,
após ter sido seu companheiro no dia da vida. Vemos, em muitas culturas, o
avun emprestar seu rosto a todos os grandes guias de almas. Têm por missão
aprisionar ou destruir os inimigos da luz e guardar as Portas dos locais
sagrados, reino dos okus, país de gelo e de trevas. Algumas tradições chegam
a criar avuns especialmente destinados a acompanhar e a guiar os okus no
Além. Atribui-se também ao avun como intercessor entre este mundo e o outro,
atuando como intermediário quando os vivos querem interrogar os okus e as
divindades subterrâneas do país dos okus. Na África, o avun possui a dom da
clarividência e, além de sua familiaridade com iku e com as forças invisíveis da
noite, é considerado um grande feiticeiro. É um costume africano, em seus
banquetes funerários, oferecerem aos avuns a parte que caberia ao oku, após
ter pronunciado estas palavras: "A heaiye hesóa iwo ho hebo Ébe ti eke oku
sòa tiwo hoho ti bo" "Quando vivias, eras tu mesmo quem comia. Mas agora
que estás morto, é tua alma que come!" Também na cultura africana,
encontramos feiticeiros com trajes feitos de peles curtidas de avun, o que
mostra o poder divinatório outorgado a esse animal. Em Porto Novo, Maupoil,
num de seus relatos, conta que um de seus informantes, confiou-lhe o seguinte:
a fim de reforçar o poder de seu oráculo divinatório, ele o deixaria enterrado
durante alguns dias dentro da barriga de um avun que imolara especialmente
com essa finalidade. Enfim, seu conhecimento do mundo do Além, bem como
do mundo em que vivem os seres humanos, faz do avun senhor e conquistador
do fogo, sempre ligado a iku, a clarividência, a feitiçaria e as forças invisíveis.
Vocabulário: Vodunos - sacerdotes Bakonos - sacerdote de Fá Ahougan -
sacerdote feito de Vodum Sofó - sacerdotisa feita de Vodum vodunsis - feitos
de Voduns (yao) Avun - cão Eku - Deus da Morte Iku - morte Husi - cauda Uhui
- peixe Dan Wedo - Deus do arco-íris, arco-íris Oku - cadáver, morto

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