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REVISTA
DO
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SUMMARIO
Olhvo Bimc Aífonso Arinos.
da Hcadeniia I3rasi!tftra
Mhrio Pinto Servh . • A política e o scntioiento
da humanidade. . . .
PUBLICAÇÃO MENSAL
N. 13 - ANNO II VOL IV JANEIRO^ 1917
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RUA. DA. BOA VI#rA, 61Í
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RESENHA DO AIEZ — Impressões de Nápoles {Ricardo
Gonçalves) — Defesa Nacional {Mario de Alencar) — Os mé-
dicos e o futuro do Brasil {Miguel Couto) — As bibliothecas
no Brasil — O problema do funccionalismo — A missão da
mocidade {Albino Camago) — Constança e ígnez {Cai-los Ma-
IJieiro Dias) — As cooperativas de consumo nos Estados^ Uni-
dos — Os amigos dos artistas — O elemento sol)renatural na
historia — A utilisação dos idiotas — Desapparições mysterio-
sas — As "gaffes" — Publicações recebidas — As caricaturas
do mez. [Ilustrações: Caipira jncando fumo, Amolação inter-
rompida, Saudades, Importuno e Partida da Monção—quacjros
de Almeida Júnior.
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A "REVISTA DO BRASIL" só publica trabalhos inéditos
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VOLUME IV
ANNO II
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DIRECTORES L. P. BARRETTO,
JÚLIO MESQUITA,
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6 REVISTA DO BRASIL
A política e o
SENTIMENTO DA HUMANIDADE
Total 7$510
Total 8$280
DO SONHO E DA VIDA
JACOMINO DEFINE.
POESIA
BACCHO
\
OS ELFOS
{Leconte de Lisle)
1
A M. P. de Villaboim, mestre e amigo.
OLEGARIO MAKÍANNO.
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ALMEIDA JÚNIOR
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52 REVISTA DO BRASIL
MONTEIRO LOBATO.
o ESTYLO DE FIALHO
E Gustavo Barroso:
o ESTYLO DE FIALHO 57
E Fialho:
Em outro sitio:
GODOFREDO RANGEL.
ESTHÉTICA DA DECADENCIA
OCTAVIO AUGUSTO.
NACIONALISMO
... o que mata uma nação não é a existencia do mal, por que
NUNCA HOUVE NAÇAO, AINDA NO APOGEU DA GLORIA, que
o nâo trouxesse no selo; o que mata uma nação é a careiicüi <le ele-
mentos colligmlos para rccluussar os elementos deleterlos; 6 a indif-
feronça, por vezes a desfaçatez—com que elementos offiolaes, re-
preaentatlvos, se aasentam no feetim da iniqüidade, a rir do desca-
labro social; é o egoismo cynlco de homens puTallcos que tantae ve-
zes fazem de eua poisição politica o melo maie fácil de gratificar suas
paixões Inferiores unicamente, num completo descurar doa interes-
ses geraes.
f
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THE RAVEN
O CORVO
Deep Into that darkness peerlng, long I stood there, wonderlng, fearlng,
Doubtlng, dreamlng dreams no mortal ever dared to dream before;
liut the sllence was unbroken, and the darkness gave no token,
And the only word there spoken was the whiapereil word "Lenore!"
ThlH I whlspere<l, and an echo murmured back the wor*l "Lenore!"
Merely thls, and nothlng more.
o CORVO
P>aek luto the chamber turnüiK, ali ray soul wlthlii mp burnhiíf,
Soou agaln I heard a tapping, somethlng loiidor than before:
"Surely, "sald I", surely that Is somoithiiií; at iny window-lattice;
Ix>t me see what thercat Is, aiul thls mystory explore, —
I^et my heart be stlll a monieiit, and thls mystory explore;
"T is the wind, and nothlng more."
Open then 1 flung the shutter, wheu with many a fllrt and flutter
In there stepped a stately raven of the .salntly days of yore.
Not the Jeast obelsánce made he; iiot au ln.stai)t stopped or stood he;
Hut, with mien of lord «r lady, ixjrched above my chamber doer;
I'erche<l upon a bust of Tailas, just above my ehambem door;
Perche<l, and sat, and nothing more.
Ahl, como enta ave negra cambiasse em riso a
minha triste fantasia pelo grave e austero decoro, que
na apparencia mostrava: "Embora tosado cerce tra-
gas o pennaeho, tu, "disse eu, "nâo és, CDm certeza,
um covarde, oh, velho corvo, lugubre e horripilante,
que andas tresmalhado das regiões da noite. Ulze-
me, pois, qual é o teu titulo de nobreza nas regiões
plutonicas da nolteí" Ulsse o corvo: "Nunca mais!"
But the raven, slttiug lonely on the placid bust, spoke only
That one word, as If hls soul In that one word he dld outpour.
Nothing further then he uttered, — uot a feather then he flutered,
Till I scarcely more than muttered, "Other frlends have flow before;
On the morrow he wlll leave me, as my hopes have flown before."
Then the blrd said, "Nevermore!"
o CORVO
• NOTAS
A' eatrophe 2.":
"And each separate dylng ember wrought Its ghost upon the floor"
Este verso quer literalmente dizer: "E cada biaza, que em separado Ia
morrendo, elaborava no chilo o seu espectro."
Oíferece dlfficuldade a traducgao, desde que se procure fazer uma Idéá
exacta do que por esse verso qulz o poeta slsiiiflcar, e;n vez de verter mais ou
menos fielmente a Idía contida em cada vocábulo sem attençSo â propriedade
do que exprimir devam na Intenfílo do autor.
Tratando-se de um sala lllumlnada por uma lampada de luz tilo poderosa,
que lançava no chio a sombra de uma ave empolelrada ao alto da verga de uma
porta, encimada por um busto, e nao de uma sala, cuja lllumlnac5o fosse feita
pelas chammas da lareira, não 6 facll conceber como as brazas, que se eitlngulam,
lançavam, no extremo brnxolelo, sombras fantastlcas íl superfície clara do chão.
Tendo-o traduzido por:
e outras;
tliou, "I sald," nrt siirely no craven;
Ghastly, grlm, and ancient raven wanderiiig from the nightly sbore, ete.
"On the cushlon's velvet lining that the lamplight gloated o'er"
DohíIp, po^s, que foi tomado om acoopcflo metnphorlca, «leixei, ort^Io que
«em prejuízo da esthetica, o termo, e í^onsagrel a symboliííaçílo nell<> coDoretjsa<Íà
o que, HHii duvida, é o elemento preponderante para a expressio e a compreheu-
são do pensamento.
A estrophe 14.*:
JOÃO KOPKE.
/
I
/
RESENHA DO MEZ
* /
I '
uma satisfação intima tão grande que
IMPRESSÕES DE lhe tira quasi todo o mérito.
NÁPOLES Tenho féito esmolas relativiimente
grandes, mas só á indigóncia que não
Ricürilo (íon^-alveaiiue o destino nos pede, porque 'a outra, a das ruas, é
roubou tão tragicamente, esteve em uma das fôrmas da 'exploração, um
Najwles muito tempo, numa demora- dos tentáculos da Camorra. \
da viagem que fez lia annos. Ricar- Estou convencido de que não ha ci-
do amava ternamente a Italia — tan- dade no mundo\eni que a miséria seja
to ((uc, indo á Europa, não pensou se- tão grande e nenhuma também em
não na Italia, e aó lá estovo. Escre- que seja mais difficil exercer a cari-
vendo de Nápoles a seu pai, eis co- (lade. Talvez por isso a pobreza aqui
co elle refere' as suás primeiras im- raras vezes é digna e corajosa. Um
pressões atra vez das,, quaes se perce- (H,a destes, voltando do Vomero (uma
be a mesma sensibilidade' delicada eollina a dois jtassos do centro, com
(Jue tanto o fJíz soffrer: estupendo panorama da Cidade e do
t golfo) vi,'numa das fermataa do bond
"Nápoles, 20 de Novembro de 1907 ura grupo de tres pessoas, duas se-
Meu querido Pae; — Venho nes- nhoras e um homem: este engrava-
te momento tje Posillipo, onde estive tailo, as senhoras de chapéu, todos
o dia todo,' em companhia d3 alguns decentemente vestidos e com um ar
amigos brasileiros. Como a noite es- re8i)eitavel. Mal o bond parou, uma
tá fria, quasi hybernal, e eu não te- das senhoras,'uma velha de cabelloa
nho vontade^de sahir, estendi dean- brancos, começou a cantar uma ro-
te de mim esta grande folha de pa- manza qualquer emquanto a outra
pel, que pretendo encher com algu- estendia o pires aos passageiros, sem
mas das minhas impressões de Nápo- o menor vexame, como cousa natu-
les. ralissima. ^
Antes, porem, saibam que estou Fiquei horrorisado. Tive a impressão
bom, forte, completamente curado da- de que essa gente, não tendo aquolle
quella maldita dyspopsia que hm fez dia o que jantar, adoptárp, sem hesi-
soffrer tanto. Ando, porém, de uma tação tal meio de vida e viera reso-
sensibilidade aguda, requintada, mór- lutamente para a rua arranjar o al-
bida. Cada vez é maior a minha fra- moço do dia seguinte. De rosto, a ca-
(jueza deante dos soffrimentos alhei- da instante, ha um imprevisto nes-
os: em presença de uma desventura te gigantesco Pateo dos Milagres.
qualquer, afflijo-me, procurando' um Hontem, percorri a Nápoles anti-
meio de áttenual-a. Isto, que os ou- ga, os hassifmidi da cidade, quar-
tros chamam ,bondade, é- para mim teirões immundos em que espapaça na
\
88 HEVISTA DO BIÍASIL
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líESEXH . DO MEZ ' 93
✓
humano fiear á mercê" do8 embara- do Ouvidor para a Avenida Rio
ças que^offerece a çxtensão do ter- Branco.
ritório e das difficuldades creadas Bio de Janeiro, moralmeuto pou-
pela absorpção do todas aa forças - CO mais que aldeia, confinado na
na faixa do littoral, b6 daqui a sé- sombra exigua de um bcco, afeita
culos dará ao Brasil a' posse con- aos mexericos e conspirações, ave-
creta e o goao utilizado de todas as jou costumes e maneiras na clarida-
suas terras e riquezas. A mudança de e largura da grande avenida. Ho-
da Capital será a -antecipação secu- je é verdadeiramente uma cidade ci-
lar dos effeitOB do trabalho huma- dadã. Mas, como capital, tem de
no. Será o conceito geographico-po- mais o cosmopolitismo de feira, ef-
litico do Brasil, será a sua recons- feito do seu\ progresso, expansão da
trucção mecanica e physiologica., O sua importancia mercantil. O con-
paiz terá o seu centro director on- tacto dos negocies, a mescla doa
de a natureza traçou a séde do do- atravessadores, a faina do trafico
mínio soberano. - liistallada "iío pla- de. beira-imar, não convém ao cen-
nalto, ligada como* logo será, por tro politico.da nação. O cosmopoli-
estradas de ferro e pelos rios ás ca- tismo empece a acção tranquilla
pitaes do todos os Estados, numa dos poileres públicos. No planalto,
breve distancia de dous ou tres dia? fóra da turbulência peculiar aos
uo máximo, a qual o é hoje, para mercados do mundo, a Capital terá
algumas, de 16 e 19 dias, a Capital o ambiente mais adequado, respira-
será um íóco de irradiação .do çom- rá em atmosphera de montanha oxy-
mercio e da industria, ao invez' do gçnada pelas florestas brasileiras, e
(jue é agora, um ponto de desloca- pi^r muito que se desenvolva com o
rão e de isolamento. Todas as ter- concurso do gentes de outras terras,
ras Hertanejas, (jue o mappa nos nunca se desnacionalTiará ao gráo
mostra desertas e ((uasi tão distan- de cosmopolitismo desta grande ci-
tes e ignoradas como o interior da dade marítima.
África, serão, som necessidade de
propaganda, só pelo contac^ dás daTaes serão os prováveis effeJtos
mudança, e acredito que esta é
via^ferreasV pela multiplicidade das a opinião individual de cada um dos
1'Oiiiniunieações, terras de cultura de homens políticos do Brasil. Não ati-,
to<la a eapecie. « no, porím, com a causa do adiamen-
K o maior problema brasileiro que to indefinido, já não digo da rea-
é o da cohesão nacional será resolvi- lização, mas da cogitação dos meios
do. O regionalismo se esvaecerá 'á de dar realidade pratica ao preceito
j>roj>orção que se fôr entrelaçando o constitucional. Parece que o acto
conhecimento e o cõnvivio de Brasi- não mais depende da resolução do
leiros de Estados distantes, que ho- Congresso, e compete exclusivamente
je nem se communicam ntun têm a ao Governo. Do Presideiito da Re-
possibilidade de conraiunicar-se. publica, como autoridade mais qua-
A defesa material do paiz não lificaxia para julgar a opportunlda-
soffrerá num caso de guerra, o ris- de da mudança e que todos talvez
co que, seria hoje a exposição do Eio esperam o impulso orientador e for-
de Janeiro a um ataque concertado mador da opinião colloctiva.
por mar e terra, com a annullação Neste presupposto deliberei emer-
da capacidade directora do movi- gir do meu silencio anonymo para
mento defensivo. Em vez de jeryida fallar a V. Ex. com o meu sentimen-
só por um porto e por uma estrada to brasileiro e pedir a V. Ex. que
de ferro, a Capital no planalto >te- tome a inici-ativa dessa idéa, esque-
ria a seu serviço todos os portos e 1 cida d|Urante vinte e (juatro annog
t-odas as estradas do Brasil. i — j)or quantos têm aceitailo a respon-
Da transformação moral que a mu- sabilidade da direcção do p.aiz^ e que
dança determinaria, pode-se avaliar tenho a certeza o espirito^ esclareci-
pelo que fez nesta nossa cidade a do o ponderado de V. Ex. reconhece-
transi»08ição do movimento da rua rá como é profundamente vantajosa
94 REVISTA DO BKASIL
96 REVISTA DO «KASIIi
pedidas e cm que vos ides dissemi- cia dessas livrarias é muito varia-
nar por todo o nosso amado Bra- vel", sendo que "algumas têm mes-
sil. Formemos uma 'éspecie de Cru- mo importancia simplesmente nomi-
zada da Medioiiifi, pelç Patria. nal" — maneira um pouco compli-
liembrai-vós da extensão immane do cada de dizer que algumas não exis-
seu territorio, onde não pôde entrar' tem...
em cada canto a acção do Governo, Setecentas e doze bibiiothecas,
e o substitui pela vossa autorida- em todo caso, parece já um bello
de onde quer que vos acheis: ensi- numero, e não faltará quem folgue
nai, for<;ando um pouco a nota da com essa constatação. Não vemos
persuasãoT a prophylaxia de todas entretanto, motivo para grande jú-
essas doen<;as evitaveis qu^ fazem bilo. Se dessas setecentas e doze
o nosso descred^lto e o nosso atra- descontarmos as que não se fran-
zo; pregai que a maior benemeren- queiam ao publico, e as que embora
eia é cada um que sabe ler ensinar francas, não correjpoydem aos fins,
a um que o não saiba; apontai- ás ou por falta de livros, ou por desor-
crianças o caminho da Escola o aos ganisação, ou por outras causas, —
■ mocos o ideal da Patria grande e o numero de bibiiothecas que do fac-
prospera. Emfim, em cada casa on- to f.icilitam a diffusiio de conheci-
de penetrardes sêde o irmão mais mentos entre o povo ficará reduzi-
velho. do 01 proporções lamentaveis. Mas
CDo (lisciirso proferido pelo dr. nem 6 preciso isso. Basta conside-
Miguel Couto aos doutorandos de rar-se que todas essas l)i})liothecas
medicina de lOlfi, líio do Janeiro). juntas, sempre segundo a mesma
Directoria. não possuem mais de
um milhão de volumes. Para um paiz
AS BIBLIOTHECAS NO BRASIL de 25 i||jlhões de habitantes, nin-
guém dirá que não soja uma ridieu-
Em recente trabalho da üirecto- / Ia ria. Só uma cidade britannica,
ria de Estatística do Rio, figura o Ediriiburgo, com ."^OO.OOO hal)Itantes,
Estado de S. Paulo com 72 biblio- posgue outro tanto... Não é isso:
ttiecas, inclusive as officiaes e pu- possuia um milhão de volumes, nas
blii?as, as de icstabelecimentos de suas diversas bibiiothecas "publi-/
ensino, repartições, ètc. Vêm em cas", publicas de verdade, ha vários
seguida o Dístricto Federal, com annos atrás. E' esmagador? Pois ha
45; Minas, com .S6; Pernambuco, melhor. Os Estados Unidos, só no
27; Rio Grande *do Sul. 27; Bahia, que se refere a livrarias aljertas ao
\ 23; Estado .do Rio, 15; e outros publico, franqueadas a toda a gen-
^Estados com monos de dez ca^a te, criadas para o povo, fizeram os
um. Ao todo, .'?04 bibiiothecas pu- seguintes e modestos progressos, de
blicas e semi-jmblicas (associações, 1859 para cá:
repartiijões, caslis de ensino, etc.),
offlciaeH e não officiaes, geraes e Annos ( Livrarias Volumes
especiae». Devemos notar' que essa publicas
pstatistica não ê completa: refere-se
apenas ás bibiiothecas,.de .<jue a ci- 1853 1.297 4.280.866
tada Dire^toria • teve informações em 1875 .5.687 12.329..526
lí)15.i Segundo os cálculos dessa 1885 8..120 20.522..'?93
Directoria, cálculos muito falliveis, o 1806 11.210 .34.596.258 '
total deve clevar-se a 712. Mas, parí^ 1900 14.644 46.610.509
elevar-se, é preciso soinniar o numero''
(Ias bililiothecas arroladas - naquelle Am 1900, mais de quatorze mil
amio com o das anteriormente com- bibiiothecas publicas, com- quaren-
putadas. Quantas destas, porém, não ta e seis milhões, de volumes... De-
teriam desapparecidot Demais, co- pois disto, é natural que continue-
)%o declara a ]iTopria Directoria no mos a repetir que a patria de Washin-
.seu relatorio de líllú, "a importân- gton ê uma terra de materialõos
RESENHA DO MEZ 97
\
98 REVISTA DO BRASIL t
quor miftisterios, mas eom prepa- vossas attitudes. Mas é preciso uma
ro básico indisiKjnsavel ao exercí- solicitude constante. Até aqui tendes
cio <le certas funcções ein qualquer vivido num ambiente de «stufa erti
lios ramos de serviço publico. Essa que tudo conspirava para esse resul-
classe forneceria ás (.Uversas reparti- tado. De ora em diante/tudo vae ,
ções o pessoal extraordinário de que mudar. Se até agora se cuidava de
ellas carecessem nas épocas de aper- manter inviolada a vossa j>ersonali-
to, e forneceria também a maior parte daije, de agora em diante vae ser o
dos empregados fixos de que ellas contrario: iior mil modos differentes
fossem precisaudo,,oii por effeito de será posto á prova o vosso poder dei
vagas abortas, ou por necessidades resistenfia. Solicitações de toda or-'
normaes do serviço. O numero des- (iem —promessas refalsadas da be-
ses empregados interinos e "volan- novolencia interesselra, ameaças jac-
. tos" seria calculado para cada exer- tanciosas dos egoismos contrariados,
cício, de modo que nunca ficassem em summa, a compressão tentacular I
parados, que estiyessem continua- e nmltifiorme, necessariamente ine-
mente em trabalho, ora numa} ora vitável, do meio em que ides viver,
noutra repartição. O governo fica- vos deixará i)eIo caminho, esgarça-
ria com o direito de tornal-os effe- dos, eiif farrapos, se não vos preca-
ctivos e de fixal-os, conforme as ap- verdes desta armadura interior, que é
tidões c qualidades que reveli^ssem, a firme disposição de vos manter-
ou de dispensal-os no fim de um cer- iles 8cmj)re iguaes a vos mesmos, sem-
to prazo. Uma grande comraissão Se pre—vós mesmos. Para o vosso bem,
funceionarios públicos rcunif-se-ia em porque ile outra maneira não pode-
cada semestre ou cada anno para rieis ser felizes, porque por outra
examinar os "dossierg," dos interi- fôrma não poderieis crer, sonhar, agir
nos, escolher os melhores, e ir assim e triuroplyir, para o vosso bem o tam-
aj)urando o núcleo reduzido daquel- bém um pouco para o nosso bem,
les nos (juacs as nomeações devessem poupae-nos esse espectaculo depri-
recahir... {Kstaão de 8. Paulo — 8. mente lios seres de apparencia hu-
Paulo). mana — fôrmas sem fundo, automa-
tos inexpressivos, — degradados á
condição miserável dos brutos; som
A MISSÀO DA MOCIDADE ' consciência, sem vontade, sem alma,
sem dignidade. '"Sem dignidade",
"... Jamais abdiqueis aquillo que sim, o tornio é forte, mas é exacto.
deve constituir a parte central do A dignidade humana ó ser homem,—
voBso ser, e que é a própria razão de alguma coisa com que se deva contar,
existirdos, porquê é, na sua expres- uma nova fonte de eneí^gias capazes
são original e "independente, uma no- de actuar e jwoduzir, criar e se de-
va tentativa da Natureza para a per- senvolver; não o pallido reflexo, o
feição. Sede sempre os guardiões se- simples prolongamento, a -inéra imi-
veros e melosos (lesse thesouro inte- taj.ão servil e Incaraoterfstica do
rior que vos ilá uma Individualidade e alheio gesto ou da alheia vontade.
vos traça uma espliera /de aeção em Sêde sempre vós mesmos — para
que vbs podeis revelar, não como co- serdes alguma coisa, para jwderdes
pias apagadas e frustres, mas como alguma coisa. E' esta a única base
novos exemplares de existencia, ricos em que podereis edificar, vós que da-
de possibilidades, estuantes de ener- qui levaes à alma regorgitante de no-
gias poderosas. Vale dizer que deveis bres ambições.
formar o vosso caracter, conservai-o, ... Meus jovens compatriotas, é
fortifical-o, enriquecel-o, dar-lhe ca- preciso que não vos tachem de faltos
<la. vez mais a solidez die contornos que de ideaes, como a nós outros da ge-
vol-o recorte em linha» nitidas e in- ração que vos precedeu. Nós tive-
confundíveis. Sei bem que levaes o es- mol-os. Mas eram postiljos e de em-
pirito formado, todas as vossas fa- préstimo. Importações do nosso sno-
culdades em completo desenvolvimen- blsmo insipiente, hão tinham raizes
to; que alliaes á uniflade da vossa profundas na intimidade do nosso
organisação mental, a estabilidade das ser, não podiam impellir-nos para a
RESENHA DO MEZ 99
triõcs. E' O dilenjiina a que não ha bellos gestos, na lealdade das nossas
■ fugir. fDilcmma quo, infelizmente, 'attitudesi
tem sido applica<lu eom justiça ao E' contra este estado de coisas que
actual estaao de coisas em nosso deveis reagir. E' esta a vossa tarefa
paiz. Vivemos num regimcii de "fa- ingente. Batei-vos por um regimen
I ohadaa", "fitas", gestos que nada de verdade o franqueza. Que as nos-
exprimem. As nossas instituições sas conquistas não sejam illusorias.
são as mais adiantadas; tfcmos to- Quo haja mais harmonia- entre o
das as conquistas da civilisação. Mas gesto ajjparente e o gesto interior,
só no papel. As nossas leis são as (Io espirito e do coração. Guerra ás
mais sábias e liberaes que existem. üomplacencias criminosas, attribui-
Mas não se executam. Nas nossas das commummente á nossa bondade
relações inteniacionaes affectamos de alma, que tudo comprehende e
certa superioridade moral, que não tudo perdoa, mas que não serão
pôde senão impressionar bem aos talvez mais do que relaxamento, in-
que nos julguem. A nossa Consti- sensibilidade moral, incrcia e com-
tuição institue o arbitramento como mbilismo. Têm-se-vos apresentado
rTOurso obrigatorio para a solução diversos caminhos a seguir na prose-
de »todas as íjuestões que acaso sur- cução do grande ideal nacionalista:
jam entre o nosso o os demais pai- o serviço militar obrigatorio, a cam-
zes. Nenhum outro paiz já assignou panha contra o anaíphabetismo, a
até agora tantos tratados de arbi- regeneração physica do nosso povo,
tramento, como o nosso. Fomos os combalido por todas as moléstias...
primeiros a protestar contra a inva- Realmente, o ])robloma é complexo,
são da Bélgica No congresso da e dej^e ser atacadó por todas as suas
llaya, o' nosso eml)aixador se ele- faces. Rumareis por onde vos guia-
vou immensamente no conceito uni- rem as vossas preferencias indivi-
versal, como o mais denodado cam- duaes. Sereis amanhã militares, me-
peão da 'solxírania dos pequenos Es- dicps, engenheiros, advogados, pro-
tados « da justiça internacional. Evi- fessores, e vos empenhareis nos com- .
dentemente fazemos boa figura. Mas bates pela organisação da defesa ná-
que contraste entre a apparencia e cional, pela constituição de uma ra-
a realidade! Se repetimos sempre o ça sadia e vigorosa, pela valorisa-
cstafado rifão de que a justiça de- ção^las nossas riquezas naturaes, pe- *
ve come|ar por casa, ao passo que Io respeito ás leis, pela dissemina-
nos batemos com ardõr p»lo seu im- não do ensino. Fareis com cer-
pério em toda outra parte, deixamos teza obra meritoria. Mas tudo será
que ella aqui pereça e seja quasi um perdido se antes de mais nada, e
principalmente, com inquebrantavel
mytho. BlaSonamo-Aos de democra- energia, exuberante alacridade, não
tas, e o voto popular é uma burla., trabalhardes, pela palavra e pelo
A honestidade administrativa... Mas exemplo, pelo exemplo sobretudo
que opinião formaria a nosso^ res- . para a renovação do nosso ambiente
peito o estrangeiro intelligente, que moral, para a formação de um am-
nos visitasse attrahido ' por todas biente mais puro, em que não me-
aquellas especiosas recominendações,' drem a mentira falaciosa, a char-
e aqui viesse encontrar exactamen- lataneria traiçoeira. '
te a sua negação mais perfeita, o Este é o escopo altissimo que se
tifeu desmentido maia cabalf Hesita- vos impõe. Não o attingireis so não
ria por certo, unicamente, na esco- vos flzerdes athletas de mu^ulos de
lha de uma daquellas duas alterna- aço e vontade de ferro, polo perse-
tivas: ou somos um povo de ridícu- verante o'carinhoso cuidado de víjs
los tolos, que não sabemos o que mesmos. Não o attingireis se não
queremos; ou somos um povo de pa- vos apaixonardes pelo vosso ideal,
lhaços, que levamos todo tempo a até a idéa fixa, até a tensão fulgu-
fazer gatimanhos e momices, para raTite de todas as vossas energias. —
espanto dos basbaques, ou para in- (Albino Camargo — Discurso aos
glez ver. Como poderemos inspirar bacharelandos do Gymnasio de Ei-
confiança na sinceridade dos nossos boirão Preto. — S. Paulo).
/
RESENHA DO MEZ 101
()ue toilos se têm na conta de intcl- contar os minutos no ovo <iue ti-
ligentifsimos e são portanto, liispos- 'nha nas mãos! Essas distraeções ne-
tos a (leseoiifiar do proxinio. nhum interesse têm, al6m da ce-
— Nunca vos esjianteis de nada. lebridade do protagonista.
— Nunca lembreis a um amigo, Mas as jieiores "gaffes" são as
e, soiS' mulher, a uma amiga, as que cada um de nós commette na con-
confidencias que vos fez. ducta da própria vida, por exemplo,
— Sabei ouvir uma historia al.)or- escoinenao uma profissão para a (|\ial
recida ijuo soja, e fingi (jue lhe achou não era de maneira alguma talha-
graíjii... mesmo que ella seja vossa do, inimisando-se com as pessoas
— Não rej)eti nunoa num salão de que j)Odia ser amigo, desgostando
uma |>ergiinta a que não vos respon- outras, etc. Não ha quean, com um
deram. severo exame do eonciencia, se con-
— Não convidae nunca dois gran- siilere innocente do alguma ou mul-
des honions para, na mesma occasião, tas "gaffes" desse gênero.
jantarem ,em vossa companhia: Olivier Ooldsmith, l>or exemplo,
I>or((ue nin comerá o ontro, e todos ora um "gaffeur" de i)rimçira or-
terão uma indigestão. dem. Commettia-as fre<iuentemente,
— Nunca faleis de vós mesmos. e .só conseguiu pôr-se a salvo dellas
Jíste é um defeito generalisado om justamente com uma... "gaffe", (jue
todo o inundo, mas inteiramente desy é um divertido qiii pro quo.
«onhecido.\. aos genuínos parisien- Olivier .(Johlsimith, filho de um
ses. '' pastor anglicano, depois de ter fei-
K' estranho <jue, entre as suãs to o desespero de seu pai, aban-
recommendíi(;ões, Faguet não in- donou os estudos ecciesiasticoji jíelos
cluísse uma que só ella, vale por to- de direito, e successivamentc o estuda
das juntas. O melhor meio, real- do ilireito pelo ila medicina, , sem
mente, para evitar (|ual()uer "gaffe" nuiu>a chegar a sor nada, qua'iido
é. . . i-alar. Bem entendido, ca- um bello dia, aborrecido dos varioa
lar nos limites do' possiVel, e saber estudos, com a roupa ilo corjK) e
escutar. ,eom uma flauta que tocava lUs-
As "gaffes" que se commettem cretamente, pôz-so a vagabundc.ar'
numa converfÇição ou por meio de jielo mundo. Cercorreu a pé a Fran-
nctos' extravagantes, são, em geral, ça, a Allemauha, a Suissa o a Ita-
BÍnvplesmente humoristlca.s, mas po- lia, até que, em 175(i, tornando á,
dem ás' vezes dizer alguma coisa Inglaterra com alguns "schlllings"
sobre a psychologia do autor. iTal, no bolso, sua riqueza única, chegou
por exemplo, aquella distrac(;ão de unia noite, !i pe^piena cidade de
uni nc.gociante, (|ue assignando a de- Kdgevorthstown, e á primeira pes-
claração da paternidade do filho com soa que encontrou, ]H>rguntou qual
(jue a esi>osa acabava de presenteal-n, era a melhor ca.sa do logar, querendo
pôz no pajiel como nos cheques que dizer o melhor hotel. Foi-lhe indica-
assignava diariamente: "José N... & da a casa do rico baniiueiro mr.
Conip...". Ralph Fetherstone.
De Jjafontaine conta-se que um Olivier, entrando com toda a sem-
dia foi jantar, á casa de um atoigo, cerimônia, como se fosse em sua ca-
onde costumava jantar todos os do- sa, encontrou, numa bella sala, com-
mingos — sem se lembrar que dois modamente rofestelado numa pol-
dias, antes tinha assistido aos funeraes ■ trona, o sr. Balph em pessoa. Sup-
delle. lioasini, não querendo ceder pondo s^r elle o gerente do hotel,
a ninguém a incumbência de pre- jMjdiu-lhe um bom aposento e uma
parar a sua salada no fim do jan- boa ceia. O bamjueiro, que, estando
tar, uma vez, acalorado iiuma dis- a digerir pacJiorrentamente, íichava-
cussão, em vez do sal derrama sobre se bem di.s2)08t0 e de bom luimor, per-
a salada o conteúdo da sua boceta, cebeu o engano do rapaz, mas, sympa-
de rapé. Newton, querendo coser um thisando com elle, não quiz desen-
ovo para uma refeição, pôz a fervor ganal-o. Olivier não j>ercebeu o sou
no fogo o seu relogio, e ficou a erro senão no dia seguinte depois
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nharia, hygiene e actualidades, |»or: Pedro Lessa, Alberto de
(Uiveira, Mario de Alencar, Oliveira Lima, Souza Bandeira, I)o-
micio da (lanui, da Academia Brasileira; Ádolpho Piuto, Luiz
J'ereira Barreto, Anuideu Anmral, V. <la Silva Freire, Armando
J'rado, Boquytte Pinto, F. Linhares, Aurélio Pires, Hélio Lobo,
Jaconiiuo Define, João Kopke, \'eiga Linui, João Ferraz, João
Luso, Monteiro Lobato, Octavio Augusto, R. lhering, Alberto
Seabra, Álvaro da Silveira, Rocha Pond)o, 01ymj)io Portugal,
Octavio Mendes, Alceu Amoroso Linui, Frederico Villar, Gar-
field de Alnieida, Antonio Piccarolo, Euzebio de Souza, ("arlos
de Iremos, Mauricio de Medeiros, Auu'j'ico de Moura, Sampaio
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XI
«
REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA 119
XXIII
XXVII
XXVIII
f
REVOLUÇÃO TERNAMBUCANA 129
XLIV
A Amadeu Amara!
é
o PROBLEMA DA ALIMENTAÇÃO
I
PllORLKMA DA ALIMENTAÇÃO 143
dos, nos traz o beneficio da paz. Será a lucta do mal contra o mal,
tendo em mira a viotoria do bem. E' a reminiscencia da politica
de Luiz XI e de Carlos IX justificando os meios maus pelo bem
visado-
Infelizmente, com ar^nientos semelhantes, as allemães ten-
tarão justificar a selvageria da guerra submarina, matando
innocentes aliheios á lucta e até talvez sympathicos á sua própria
causa.
S. Paulo.
VICTOR GODINHO.
J
CÃES E VEADOS
t S
F. BADAEÔ.
POESIA
DE VOLTA
RÚSTICA
HUMBERTO DE CAMPOS.
\
livros'..
E na poezia Sotainas:
"Bis a Imiajem de todo o claro: bOa
meza, beatas, vinho a rôdo, era suma. ,
Entre as gentes na rua o ar abotOa
e qual a sua relljiao? — Nenhuma!"
Não era possível falar de uma obra tão vasta como a de,
Luiz Murat em meia dúzia de pajinas-
Prolixo sempre, obscuro muitas vezes, não parece que as
sua-s poezias filozóficas possam jámais ser apreciadas. Mas ha
felizmente junto delas po<^zias de um lirismo suavissimo.
' Quando o menino celebre do celebre conto de fadas calçou
as botas do gigante, botas com as quaes dava passadas de sete lé-
guas, esse pequeno não sabia de certo onde punha os pés. Ati-
rava-os um pouco ao acazo e ora devia pizar vertiginozos cumes
de altissimas montanhas, ora afundados cm' tenebrozos va-
les, em lodozos marnéis. E' o que fazem alguns grandes poetas,
a <[uem parece que falta todo o sentimento da justa medida.
Põem uma ^roduoção sublime junto de uma producção abomi-
nável — o pa.sso no alto do cume e o passo no marnel — com a
mais ab.soluta iuconciencia.
A verdade, jxirém, é que nem todos podem calçar as botas
de sete léguas, do conto de fadas... A. maioria — á qual não
pertence Murat — marca pas.so, sempre no mesmo lugar-
MEDEIROS E ALBUQUERQUE.
os VERSOS
ÁUREOS DE PYTHAGORAS
dura e grosseira com que soam aos nossos ouvidos. "As pessoas
que faziam parte do mesmo grupo chamavam cães, isto é, o vulgo,
o profano, todos os que não pertenciam ao seu gru^po, quer se tra-
tasse de uma sociedade, de uma associação, quer de uim povo. Os
judeus, por exemplo, assim se referiam a todo o gentio. Appllca-
vam-se algumas vezes estas expressões ás pessoas extranhas ao
grupo dos Iniciados, e neste sentido as encontramos empregadas
por toda a Egreja primitiva. As pessoas nâo Iniciadas nos Myate-
rlos e consideradas como extranhas ao "reino de Deus" oú "Israel
espiritual" eram assim designadas."
Mas, não é nosso thema particular mostrar a origem esoiteri-
ca do Christlanismo, que aliás para ser devidamente elucidado exi-
giria mais de uma conferencia, e estaria a pedir textos de S. Panlo,
de líuca-s, e das mais luminosas manifestações do christianlamo ori-
ginal; Tertullaiio, OrlRciiOM, S. Clomeiite de Alexandria, S. Ambro-
sio, S. Cyrillo de Jerusalém, S. Basilio, 8. Grejjorio <le Naxiaiizo, 8.
João Chrysostomo, e S. Ajçustinho.
As allusões aqui feitas de passagem são com o fim exclusivo
de frisar maia uma vez a unidade das religiões, unidade que não
pôde ser comprehendlda por aquelles que as encaram em suas fôr-
mas inferiores, materlaes, em seus ritos, em symbolos mal inter-
pretados, mas que as sentem nitidamente os que as consideram em
suas fõrmae superiores, em seu e^l&mento substancial, espirituaí, e
as recebem como manifestações do mundo divino refractado atra-
vez da mente humana, deformado atravéz dos tempos, segundo os
povos e as raças que receberam a mensagem original e a deturpa-
ram.
Antes, porém, de tudo, o teu dever cumprindo
desses Deuaos a graça ardeníementc Invoca,
—ipots, nem ella, jámais das cousas começadas
loKrartls ver o £im que de antemSo vlsaate.
Entramos num assumpto que faz parte da experiencla pessoal
do crente, e que é geralmente regeitado por homens de sclencla
como cousa inteiramente vazia, destituída de caracter positivo, pu-
ramente lllusorla. Para a generalidade dos sclentistae a oração é
um eurto eem objectivo e sem resposta possível. Sem, o-bjectivo por-
que são agnosticos, e não reconhecem o poder em que temos "o
inovimento, a vida e o sêr". Ou eem resposta possível, porque mes-
mo aquelles que regeltam todos os enygmas do universo no selo de
um Incognoscivel transcendente, que escapa á observação) e á expe-
riencla, não julgam possível que este Incognoscivel attenda és
fcuppllcas humanas. Infringindo assim a lei de causalidade.
Nâo ha resposta a jdar ao agnostlco; é preciso esperar que a
sua proipria evolução* o tire do horizonte eatrelto e do seu universo me-
(1) Annie Benaut — Le Chrlstlanlsme, p. B1-B2).
os VEKKOS AUKKOS ÜK l-YTIIAfiOIÍAS 177
canico; que seus olhos se abram ao« ralos do Invlzlvel, que sáo: a
vida, manifestada na multiplicidade dos eôres vivos, a consciência
operando na substancia nervosa, a intelligencia associada a todas
as fôrmas da mataria, a hlerarchla dos séres esipirítuaes nas mani-
feetações male subtls dessa mesma matéria.
Não pode oxar queim' não tem consclenicla. ou ao menos pree-
sentlmento de um mundo suprasenslvel, de um poder superior que
•^erve de fundamento ao universo. Orar ó enviar uma mensagem á
lorça transcendente que escapa á percepção sensatorlal. O homem
o mate Ignorante como o mais sábio, tem coasclencla de suas limi-
tações naturaes, e geralmente nas grattdes crises da vida, na hora
tragica da exlstencla, o mais refractarlo dos homens áa vibrações
subtls do mundo superior, regeita do seu coração a escoria epheme-
ra de sua inserção material.
O pensamento é uma força; elle se exterioriza, se objectiva,
se realiza em nosso corpo physico, faz e desfaz moléstias diversas;
om condições mal definidas transmitte-se á distancias Immensas e
impressiona cerebros affinados em consonancla com o' cerebro
"mlssor. Elle penetra egualmente o chamado mundo astral, onde
assume fôrmas mateiriiaea, feitas de materialidade subtU que im-
pressiona sensitivos e videntes. Penetrará elle o chamado mundo
divino? Sim, certamente responde a experiencia pessoal de todos cb
crentes, desde o felti'cista a o prqipheitaj deisde o brahmane ao santo,
do culto mais elementar ao mais adiantado. A experiencla humana
diz sim pela bocca de todos os crentes, mas oomo se trata de facto-s
interiores da vida intima, elles escapam habitualmente ás condi-
•ções dos factos scientiflcos, ás provas da experimentação objecti-
va C^mtudo, estas experienclas se apresentam ás vezes eim condi-
ções que se approximam das exigidas pela sciencia. Assim ó que '
Lourdes cura á luz clara do sol. Lourdes cura como curam todos
os fócos de fé intensa. Assim curava a piscina de Bethsaida, na
Judéa; assim são curados os perigrinoe da Méca e os sectários de
Boudha, na índia; assim, na nossa modesta capella da Apparecida;
assim se dão curas na humilde cabana do feitlclsta atrazado, mas
capaz de ter fé viva "como. um grão de mostarda". Longe está o
peychotherapeuta de descrer que a fé focalize as energias espiri-
tuaes, desipertando a vi» meílicatrlx, que é, na realidade o unloa
medico dos sCrea organizados desde a aurora dos tempos; longe de
descrer disso, elle sabe que isso é. Sabe que a fé, a oração ardente,
verdadeiras alavancas da vontade, despertam Lazaro que dorme no
inconsciente physioioglco, e faz resurgir o homem transcendente
que habita em nós, que é o archetypo do corpo, e que refaz o ojr-
po em curas prodigiosas,
Lo^urdes cura, e o seu poder de cura excede de muito o campo v
Ias psychonevroses, o unloo em que o quer confinar o organldsnío
medico, porque lhe não comprehende o mecanismo, mas a area de
178 REVISTA DO BRASIL
ge. E' o habito e sómente elle que embota a nossa admiração. Os fa-
ctos naturaes, por extranhos que sejam, repetem-ee com tâo Invariá-
vel constancla, que nos dâo a lllusâo de os havermos comprehendl-
do e explicado. Na realidade não comiprehendemoe um só phe'no-
meno do universo. Da sua constancia invarlavel provem a (déa de
lei 'natural, e do conhecimento do eeu mecanismo deriva o poder
que temos de nos assenhorearmos do facto, de o governar, utilizan-
do assim as lele naturaes em proveito nosso. Mas, poder nâo é com-
prehender. A nossa vontade sabe e pode mover o braço, e nós co-
nhecemos o mecanismo da voliçâo, o^s canaes de sua transmissão,
sem comprehendermos o que é a vontade. Vibrações do mundo ex-
terno se transformam em eeneação. A visão como a audição tem os
seus orgams physicos que são oe olhos e os ouvidos. Ondulações
materlaee affectam estes orgams, e a sensação visual ou auditiva
se produz. Conhecemos o mecanismo do facto, mas a passagem da-
vibração physlca para a sensação, é incommensuravel o Inintelll
glvel. Que maior prodígio que este prodígio de todos os instantes?
Esta impreesão muito viva da incomprehensibllidade das cousas do
universo, acendia a modéstia no coração dos estoicos e se expri-»
mia pela oração nos lábios do Epicteto. Assim dizia elle:
"lExlste na natureza um único sêr que, ao homem modesto e
reconhecido, não prove abundantemente a Providencia? Tomemos
as maravilhas mais diminutas: a herva torna-se leite, o leite se
transforma em queijo, a pelle produz a lã. Quem concebeu tudo is-
so? Quem o realizou? Ninguém dizete: 6 impudencla, ó estupidez!
Si fossemos razoavels, faríamos nós outra cousa, cada um
de per si, todos em geral, que não foese cantar a divindade, ceie-
brar-.lhe os louvores e render-lhe graças?. . . V^lho e coxo, que
posso fazer senão louvar á Deus? SI eu fosse rouxinol, faria o que
fazem os rouxlnoes. Si foese cysne, faria como os cysnee. Mas sou
um s6r racional, preciso cantar a Deus: é minha funcção eu a de-
sempenho. B' um dever ao qual não faltarei em quanto tiver for-
ças; e vos convido a todos a cantar commlgo". (1)
Eis ahi a oração cheia de poesia- de um phllosophb pagão.
Ella não corre a pedir auxilio material como a fé simples e candlda
de Jorge Müller. A proposito deste ultimo, falamos de prodígio. E'
de facto, o termo que convém â acontecimento» pouco habituaes.
Comtuido esses acontecimentos não escapam ã causalidade natu-
ral, ainda que não caibam nas explicações phyalco-chlmlcas. A
oração, como a fé, como a vontade bem cultivada e bem appllcada
deapertam forças e faculdades do homem transcendente. Mas o
caso de Jorgê Müller é dlíférente: não eram as ifacúldades o,oçultae,
não era o homem anlmlco que trazia eoccorro ao homem cerebral.
Como em outras instituições de caridade, o auxilio material lhe
(1) •E'plctete-Entretiens.
ISO REVISTA DO IlUASII,
ÍLLBBRTO 8EABRA.
VOCABULARIO ANALOGICO
II
Papujar, (prov. minh.) produ- 84. "A areia que raiigla com o
zir certo movimento e som Inter- attrito das rodais da carruagem."
mltt&ntô em couseiquencla de ar Garret, Virgens, II, 206.
ou prazes, e ío.rmar 'bolhas succes- Rascar. "Era um buliclo ale-
elvas, como oa orce, quando se gre desde o amanhecer até a tar-
estrellam." Os ovos já. pa.puja- dlnha: martelladas, rascar de
vam..." Flg. Dlcc. serras..." C. Netto, Rei Negro,
Pateada, ruído com os -pés, nos 107.
theatroa, e,m slgnal de reprova- Rastejo. "O rastejo dos pas-
ção. sos dir-me-lia porventura a eda-
Patear. "Ouvia-se o patear dos de delia." Fialho, Palz das Uvas,
aTvlimaes e o sussurro dos ser- 92.
vos." Herculano, Bobo, 40. Rateplâo, rataplan, ratatam,
Peut-peuf. "Automovela cru- imltatlvo do so'm do tambor.
zam em vertiginosa trepidação; Rebentar, arrebentar, estou-
pouf! pcuf! peuf!" Estevam Lo- rar. Diz-se de uma mina, de uma
bo, De Viagem, 55. bomba, de umas pipocas, etc.
Pipocar. "Seriam tres horas Reboar, o mesimo que echoar.
da tarde quando pipocaram fo- Rebramar. " Rcbrama trovão
guetes." Dr. Augusto Silva, A tetro." Castilho, Faatos, I, 131.
Escrava. Encotítra-se a fôrma "Silve, ^ebramo o vento agreste."
ospipocíir." C Netto, Pastoral.
.Plpoquear, estalar, estourar, Rechiar. "Cheiro de grosso
rebentar como pipocas. Roma- [lombo que volvendo
guera, Vocabulario Sul Rio-Gran- "Pinga e rechia sobre a brasa
dense. [viva!"
Plach-placli. "As poças de Garret, Dona Branca, 55.
agua reflectam essa débil clari- Rechlnar. "E as carnes rechi-
dade que as alumla, e fazem um navam." C. Netto, O Paraíso,
continuo plach, plach debaixo 114. "llechinarani foguetes en-
dos pés dos dois camlnhantea." chendo o ar .de estralldos." Dr.
Herculano, Lendas e Narrativas, Augusto Silva, A Escrava. "Re-
II, 100. chiiia a lamina da serra." Casti-
Popoçar. "Popocar de um fo- lho, Georglcas, 19. "Pestlferaa
guete." Ruy Barbosa, Réplica, as setas recliinanílo por todo o
26. exercito." Odorico, Illada, 17.
Ralhar. "Um cabra destalado Repicar, tocar fesitlvamente,
rallia na viola." Euclides, Ser- o sino. Usa-se também da fónma
tões, 131, que assim define o repenicar.
termo: ralhar na viola, tocar Resfolegar. "O rosfolegar an-
ruidosamente com habilidade. cioeo da locomotiva." Dr. Augus-
"Começou o labor. Zine e ee- to Silva, A Escrava.
[luzla Resfolgar. "Alguim sumido
"Dentada serra ou, miastigan- apeadeiro, onde o trem se atar-
[do, ralha." dara, esfalfado, resfolgando."
A. de Oliveira, Poesias, III, 97. Eça, A cidade e as serras, 187.
"Bmquanto ralhavam lá no Resmonear. "Sopra o ventlla-
céu 03 trovões." Motta Prego, Po- [dor e ao largo esipalha
mar de Adrlâo, 8. "Seu canto; o moinho resmo-
Ramalhar. "As frajnças doa pi- [nfia e chia."
nheiros ramalhavam." Camlllo, A. de Oliveira III, 97.
Scenas da Foz, 152. Resoar, eoar com esitrondo,
Ranger, Indicativo de um som echoiar.
áspero produzido por um objecto Restolhar, causar ruído mo-
duro, que roça sobre outro: "O vendo-se pelo restolho; fazer bu-
moleque sahlu varanda com Iha. Ha a fôrma rastolliar. "Ao
um ranger áspero de eapatos no- apontardes íl agil eerlema, que
vos." C. Netto, Inverno em flor, avulta no campo, ou ao gordo
VOCAIiüLAniO ANALOfJICO 1!)1
Toar, o cmesmo que soar. "Ao meados cora o tinir dos pratos e
baquear ae armas taam." Odori- o trt.scjir dos coip-os." Alencar,
co, Iliada, G2. Sertanejo, I, 218.
Tonitroar. "Eis que do occi- Troar, o mesmo que estron-
dente chega uma nuvem e.s'cura, dear. Diz-se do trovão, do ca-
tonitroaudo." Júlio Bueno, Notas nháo, do mar, etc., havendo
e Fabulas, 71. igualmente a' Í0'rma toronar. r
Toque, som produzido pelo Tron, som. do canhão, do tro-
conta'cto ou percussão: toquo de vão, etc. "Vento, fuzis, trons
sino, de tambor, etc. Trac-trac. eur-dos de trovoada."
"O trac-trac do trem ensurdecla A de Oliveira, Poesias, 111,
na noite." Fialho, Cidade do Vi- 120.
cio, 147. . Tronar. "Longínquas, com re-
Trape, Interj., ique designa boante fragor, tromivam trovões
som produzido por pancada ou "ioturno.s." C. Netto, Rei Negro,
golpe. 288.
Traipejar. "A corrente murmu- Tropear, diz-se do ruído causa-
rosa trapcjaVa .nas francas dos do pelo andar dos cavalloa:
amieiros." Oajmillo, Noltee do Mi- "Tropoar lento de cavallos." Her-
nho, 39. "Trapejar monoto^no dos culano, O Bobo, 295.
remos." €amlllo, Demonlo do Ou- Tropel. "Pouco depois, ouviu-
ro, I, 140. Ha a fôrma trapoar. se o troiHíl dos anlmaes deman-
. .Trape-zape, o tinir das espa- dando o rancho." Arinos, Ser-
das que se chocam. tão, 31.
Traqulnada. "Costumavam a Troitear. "Era certo ouvlr-se o
se ajuntar os íp-ovos todos com trotoar da égua baia do Tuca ea-
quantos Instrumentos podiam tafeta." João Luelo, Pontes &
achar, que fizeseem estrondo e Comp., 21. Existe a fôrma tro-
traquinada." Diogo de Paiva, Ca- tar.
samento perfeito, 409. Trovejar, soar o trovão; soar
Traqulnar. "Uma rajada de com grande estrondo. Ha as for-
vento estremecia a casa e fazia mn.s trovoar e troviscar.
traqulnar. as janellas." Motta Trupltar, fazer estreplto, ©s-
Prego, Pomar de Adrlão, 6. Irepltar.
Traz, voz imltativa de panca- Truz, Imita som de uma que-
da ou queda. da ou de uma exploeão.
Trepidar. ".Eil-a (a fonte) a Truz-truz, dlz-.se do sam pro-
convidar-nos cóm seu trepidar duzido ipor quem bate a uma por-
sonoroso." Dr. Augusto Silva, ta.
Farfalhos, X, "Desabou o agua- Tumultuar, fazer grande ruído
celro com trovões atroadores, ou estrondo.
abalando 'os vidraças que trepi- Tutucar. "Ouvia-se o tutucar
davam medonhamente." C. Net- dos atabaques, o estrupido surdo
to,, Agua de Juventa, 72. dos pés." J. Ribeiro, Oarne, 109.
Trilar. "Trillaram apitos." C. Uivar. "Quando o vento uivan-
Netto, Tonmenta, 21. do lhes perturba o somno." G.
Trincar, fazer ruído, quando Junqueiro, Simples, 42.
vee parte com os dentes: "as nozes Ulo. "Longos pios das aves
trincam na bócca." nocturnas e' iilo.s da brisa nas
Trlncolejar, o imesmo que tl- grotas da serra." Alencar, Ser-
lintar. tanejo, 1, 50.
Tris, voz imltativa do ruido Ulular. "Ouço o vento iilular
feito por qualquer coisa que se d.eaitro da treva esipe&sa." C.
parte, especialmente vidros. Flg. Netto, Pastoral.
Dic. Urrar, o mesmo que bramar.
Trlscar. "Da sala principal &a- "E urrando, lá por fóra, o negro
caipava-fse o rumor de falas ale- furacão." B. Pato, Livro do Mon-
gres, e de Tlsos festivos, Inter- te, 19.
194 REVISTA DO BRASIL
FIRMINO ÓOSTA
PAGINAS ESQUECIDAS
MACHADO DE ASSIS
-<16 João Miiihno è Phellnto puro. E' Horaclo condensado. Mala tar-
de, quando voltou do exilio, trouxe Camões, I). Branca, poeimae re-
dondamente românticos e com os quaes iniciou a nova era em Por-
tugail. Ficou-lhe, não ha duvida, a,lgum quid de clássico. Mae por
isso ninguém o metteu entre os amphibios. E qual é o romântico
que nâo deixe lá, de quando em vez, es'capar uma nota de clássico?
Ainda em Lamartine ha estrophes que Soaree Barbosa, isto ó o
ar. Homero, com perfeita justiça reivindicaria para o clássico.
Machado de Assis nâo é rotaantico, não é realista, não é par-
nasiano, não é decante. E' um espirito culto, imaginoso, cáustico,
que traduz em vereos bem íeitoe as suas inspirações e descreve
em scenas animadas a vida do seu tempo e traça figuras que re-
produzem a realidade com que está em contacto, segundo os pro-
cessos que lhe parecem mais adaptados ao intento. Ora pinta o
(jue está vendo, o que não é ser" realista, porque assim o fizeram '
clássicos e românticos, ora, entregando-se aos caprichos da eua
phantasia, remonta ao ideal ou para' embellezar a natureza, ou
p«ra exag.gexar-lhe as aaperesas, ae eacaUrosidaides, O horrível. MaiS é
sempre um homem do seu meio. Não cuida em ser romântico, rea-
lista ou qualquer outra coisa. Lucta, pensa e escreve como um ho-
mem do seu tempo.
I
As peissoas de alguma cultura literaria, familiarisadas com os
escrlptos do sr. Machado de Aseis, reconhecem que ó elle um dos
nossos estylistas de melhores quilates. A eetructura do seu perío-
do ó singularmente bella. As palavras e as orações organisam-se
e cancatenamnse em uma' ordem lúcida, como pede o gênio da lín-
gua, e a lógica do pensamento. E' conciso e não pobre no dizer.
A phraee é ás vezes notável pela força da expressão, não tanto pela
imagem, co.mo pela alliança insólita ou p«lo contraste das pala-
vras. O pensamento, cheio e sobrlo, corre deeembaTaçadamente em
ama lingua folgada e não contrafeita. Não tem pretenção ao gran-
dioso, ao sublime, ao campanudo, ao retumbante, mas sabe dizer
com precisão, propriedade e agudeza o que pensa e o que sente.
Quem reúne dotes taes, é certamente um escriptor de grande
dlstincção. Mas não é' sõ isso. Não raro, pela bella organisação do
periodo, pela noibreza das palavras, pela propriedade e precisão da
expressão, e por um oerto polimento, o sr. Machado de Assie toca
a essa gra<;a, a essa flor de elegancia que os athenienses chama-
vam at-tlclsmo e os romanos urbanidade.
liABIENO.
(Lafayette B. Pereira).
PAGINAS ESQUECIDAS 201
UM AUTOGRAPHO DO PRIMEIRO
IMPERADOR
curso da boa imprensa, e o muito lista das pessoas que devem compor
que delles esperam os verdadeiros o conselho superior, as quaes são os
patriotas. srs. drs. Adolpho Pinto, Affonso
A Liga de Defesa Nacional está d'Escragnolle Taunay, Alberto Sea-
destinada a realisar um papel muito bra, Alfredo Pujol, Augusto Freire
nobre, pela estimulação das nossas da Silva, Carlos de Campos, Firmi-
energias civioas e, além disso, por no Witacker, José Carlos de Macedo
esmerar e fortalecer o sentimento Soares, Júlio Mesquita, Luiz Pereira
nacional, sem o que o Brasil jamais Barretto, Ramos de Azevedo, Rey-
cumprirá um destino grandioso. — naldo Porchat, Silvio de Almeida,
cumprirá um destino grandioso. — Theodoro Sampaio, Valente de An-
CAELOS DA SILVEIRA. drade, Veiga Miranda e Washington
Luís. Para o cargo de secretario ge-
ral foi escolhido o sr. Gomes Car-
dim.
MOVIMENTO Os estatutos cogitam ainda da
LITERÁRIO criação de "conselhos seccionaes" de
cinco membros, destinados a velar
Organisou-se em S. Paulo uma so- por determinados departamentos da
ciedade que vai prestar sem duvida actividade autoral.
muitos serviços: a Sociedade dos
Autores, de que farão parte liomens *
de letras, juristas, scientistas, ar-
tistas, etc. Esteve em S. Paulo Alberto de
A Sociedade dos Autores, que tem Oliveira, que veiu realisar na Socie-
por fim defender os direitos auto- dade de Cultura Artistica, uma con-
raes em juizo e fóra delle, represen- ferência sobre Fagundes Varella. O
ta, positivamente, uma excellente que foi essa palestra literaria, po-
iniciativa de que muito ha a esperar. dem os leitores da Sevista do Brasil
Com effeito, entre nós não se tem
noção alguma de propriedade litera-
ria. Como não lia quem viva exclu-
sivamente da sua penna, os autores
ainda não conseguiram convencer o
publico de que, assim mesmo, a pro-
ducção intellectual é tão digna como
as outras, o tanto como as outras
merece a protecção das leis. Foi pa-
ra reagir contra isso que se fundou
a Sociedade dos Autores. D'ora
avante a lei dos direitos autoraes não
existirá a]>enas no Codigo — mas
terá applicação freqüente, e servirá
realmente para proteger os autores.
Os estatutos, ((ue já estão assigna-
dos por grande numero de socios, se-
rão publicados brevemente. Em re-
união ha dias realisada, ficou assim
composta a primeira directoria: pre-
sidente, sr. dr. Vicente de Caryalho;
secretario, sr. Amadeu Amaral; the- avalial-o pelo resumo que mais adian-
souroiro, sr. dr. Armando Prado; to publicamos. Alberto de Oliveira
sub-presidente, sr. dr. Luiz Carlos comprometteu-se com a Cultura Ar-
da Fonseca; sub-secretario, sr. dr. tistica a vir fazer em 8. Paulo uma
Cyro Costa; sub-thesoureiro, sr. dr. conferencia sobre Arthur de Olivei-
Roberto Moreira. Na forma dos es- ra. Alberto foi amigo e companhei-
tatutos, esta directoria organisou a ro insoparavel do Arthur, <iuo não
REVISTA 1)0 ÜTÍASIL
como única verdadeira, a tlieoria en- cente discurso sobre a hygiene nos
tão pouco conhecida e muito discuti- caimipos, teve oceasião de dizer: "Se
da, de que a peste bubônica exa queremos attingir a um gráu suffi-
inoeulada no homem por uma pulga ciente de preparação militar, preci-
que sugava o sangue de um rato samos, antes de tudo, elevar e man-
infeccionado, o dr. Blue iniciou uma ter mais alto possivel, o nivel da
guerrajde esterminio contra os ratos saúde physica da nossa população
conseguindo assim, em pouco tem- rural, que constitue por assim dizer
po, acabar com a epidemia, tanto o systema esqueletico e muscular da
que, ha oito annos, não ha um s6 raça". Tomando a peito essa sug-
caso de peste bubônica em S. Fran- gestão, o Departamento da Hygiene
cisco. Uma campanha semelhante dos Estados Unidos iniciou uma sé-
pôz fim á epidemia da febre ama- rie de "cruzadas sanitarias" na po-
rella que em 1905 fez numerosas vi- jjulação rural, visitando os casebres,
ctimas em Nova Orleans. Verifican- distribuindo opusculos em que se
do-se que o contagio provinha de um expõem de forma facilmente com-
anopheles (Aedes calopus), todos os prehensiveis as normas fundamen-
esforços do serviço de hygiene ten- taes da hygiene domestica, impondo,
deram para a destruição do perni- sob ameaças de multas, o melhora-
cioso insecto, o que se obteve em mento das cloacas, isolando estas da
tempo relativamente curto pondo agua potável, e tornando obrigatorio,
fim aos terrenos paludosos onde el- nas zonas em que havia malaria, o
les se reproduziam. uso de rêdes de ferro contra as ano-
Em Washington, lia o Laboratorio pheles. Os resultados práticos não
Central de Hygiene, que dispõe dos tardavam a manifestar-se: assim,
O mais modernos meios para as inves- numa só região os casos de typho
tigações scientificas com ura estado desceram num anno, de 249 a 40, e
maior de 37 officiaes sanitarios e analoga diminuição se noto^u em to-
assistentes technicos, sob a direcção das as doenças que se originam da
de oito professores. Esse estabeleci- falta de limpeza e da negligencia da
mento, de onde sáem os inspectores hygiene.
sanitarios do governo, tom cursos es- Crê-se geralmente que as crianças
peciaes de aperfeiçoamento para os nascidas nos campos sejam mais ro-
médicos municipaes. Ahi se realisam bustas do que as das cidades, maa
estudos importantíssimos sobre a le- é justamente o contrario que resulta
pra, a pellagra, o typho, a anchilos- das estatísticas organisadas pelo
tomiase, a eacarla^tina, a hydropho- prof. Spragne. Com effeito, os fi-
bia e a paralise infantil, estudos que Uios dos camponezes soffrem muito
lançara/m nova luz sobre a causa, a mais freqüentemente de nutrição in-
prophylaxia e a iura dessas terrí- sufficiente, doenças do coração, do
veis moléstias. apparelho respiratório, dos olhos,
Dependem diroctamente do Labo- dos ouvidos e de engurgitamento
ratorio Central outras quinze repar- glandular. A causa disso está em
tições semelhantes de hygiene, to- geral nas péssimas condições hygie-
das tendo por escopo a defesa da nicas dos edifícios escolares ruraes,
saúde publica. Os estabelecimentos para melhorar as quaes, o prof.
industriajes que exhibem á venda so- Clark, um especialista de hygiene es-
ros, toxinas, virua e analogos produ- colar, dedica ha alguns annos a sua
ctos therapeuticos, estão sujeitos á incansavel energia com resultados
vigilancia e á fiscalisação directa do muito lisongeiros. O ultimo recen-
Laboratorio de Hygiene a que de- seamento effectuado nos Estados
vem pedir a analyse de toda a subs- Unidos, e que comprehende o decen-
tancia que queiram vender como me- nio de 1900 a 1910, revelou um fa-
dicamento. Hão punidas com a ma- cto bastante extraordinário: a po-
xima severidade as infracções dos pulação indigena do Alaska perecia
regulamentos. de maneira inexplicável, tanto que
O general medico Blue, num re- os 29.536 individuos que contava
RESENHA DO MEZ 2L7
toda a parte. Ha tempo para tudo: por largo espaço, num frêmito com-
para graças de espirito e para ver movido — para de novo, heroicamen-
as estocadas dos diestros. Nós assis- te, cantarem os clarins...
timos ha annos, em Salamanca, aos Os jogos floraes luso-brasileiros
jogos floraes luso-hesipaniióes, os úni- que o Atheneu destina a approxi-
cos peninsulares que se fizeram em mar mais ainda os dois po^^os fra-
Ilcspaníia. A'8 quatro horas deu en- ternaes — vindo aqui certamente al-
trada a "Rainha", que era a senho- gumas das figuras mais representa-
ra infanta D. Isabel de Bourbon. Oa tivas nas letras, nas bellas artes, na
clarins dos arautos resoaram; o for- industria, e no commercio da gran-
migueiro humano que enchia o pa- de republica transatlantica — tem
teo enorme, ondulou. Todos os con- visivelmente um caracter mais am-
vidados se ergueram. De entre as co- plo, mais actual do que os festejos
lumnas, no pavimento alto, por traz congoneres do Hespanha. O Atheneu
do tabumo onidc tomaria lugar a ha-^de com certeza organisjir um pro-
corte floral, pendiam vetustas, admi- gramma que converta esses jogos
ráveis tapeçarias heraldicas. A "Bai- num padrão inalvidavel de belleza,
nJia" vestia de azul, com um bello de confraterniisação o de progresso.
ramo de flores ao peito — daa lindas — (Júlio Brandão — Atlantida, hia-
flores que tinham ido de Portugal. boa).
As senoritas que a acompanhavaJii —
a côrte de amor — sentadas nos de-
graus do throno, eram na realidade A QUESTÃO DO LATIM
um verdadeiro encanto. Queria que
as vissem! Muitas vestiam do char-
ras, e os trajos de bordados lindis- O conhecimento da ■ lingua latina
simos, alguns a missanga, os peitos não tem o valor educativo especial e
relumbrantes de filigranas do oiro, creador que 6 costume attribuir-Uie.
os penteados que levam longas horas Já o sr. Raoul Frary, no seu bello
a teceber artisticamente, e que as livro "La Question du Latin" o de-
mantilhas de soda branca enquadra- monstrou ha mais de quarenta an-
vam em levesas de espuma, tudo fazia nois. Numa pagina famosa, Jules Le-
daquollas raparigas gentilissimas as maitre resumiu, com uma "Verve"
admiravel, todo o processo do La-
mais deliciosas inspiradoras de poe- tim. E Charles Darwin diz, numa
tas salamantinos, desde o malogrado carta: "Ninguém pode despreaar
Gabriel y Galau até o premiado nes- mais sinceramente do que eu a ve-
ses jogos, o ar. U. Luis Bomand. O lha educação classica, esteriotypada
"mantenedor" era o sr. Lopes Mu- e tola". E Berthelot: "Eu penso
nhoz, hoje ministro da Hespanha em (jue o ensino clássico nas nossas so-
Lisboa, que pronunciou ulna oração ciedades está destinado a ser cada vez
notável. Do Portugal falou Eugênio mais reservado a minorias. Não vae
de Castro e a sua saudação foi um nisto uma questão de hostilidade pes-
primor. De quando om quando ou- soal, porque eu fui até um dos dis-
viam-se os clarins dos arautos — si- cípulos brilliantes do ensino clássi-
gnal de nova recitação ou discurso. co, e na minha idade não ha vaidade
Salvador Rueda, mais uma vez pre- nenhuma em lembral-o. A educação
miado em jogos floraes da sua pa- moderna deveria repousar sobre o es-
tria, não pôde recitar a sua ode a tudo do francez, das linguas moder-
Salamanca. Disse-a com enthusiasmo nas e das sciencias". Esse deveria
um axvtor distincto, que alcançou uma ser o programma de todos quantos se
ovação delirante. Aitonio Sardinha, libertaram da superstição do latim.
um dos nossos premiados, leu os seus Quanto ao argumento de se dizer
versos — e os dois poetas abraçaram- (jue não ha grande escriptor que não
se enternecidamente. Sardinha co- tenha sabido ou não saiba o latim,
briu coan a sua capa de estudante de não ha muito fundamento para isso,
Coimbra a Salvador Rueda, e os ap- Não sabiam latim, por exemplo, ou
plausos encheram o claustro e o cio sabiam-n'o muito pouco: Shakospea-
224 REVISTA DO BRASIL
AS CARICATURAS DO MEZ
PRECISA-SE DE PROFESSORES
DE ORCHESTRA ...
- Estou muito triste, meu patrão. O sol já não nasce para todos.
- Gomo assim ?
"i^Sim, sim. O sol, agora, nasce só para os que trabalham.
("Gareta" — /. Sarlos)
2 3 4 5 6 7 unesp"®" 10 11 12 13 14 15 16
Lista de Agentes da "Revista do 'Brasü"
CAIM5? JMAISrr>IOCA
ARK02Ç ^nivHO
iVSSUCAR I^UBA, &±o.
SÃO PAULO
DO
BRASIL
SUMMARIO
^ PUBLICAÇÃO MENSAL
N- 15 - ANNO II VOL IV MARÇO, 1917
• EDICClO E lOmilISTIlAClO
RUA DA BOA VISTA, 6»
S. PAULO - BRABII.
RESENHA DO MEZ — A càuipauha nacionalisita —
Pedagogia (Carlos da Silveira) — Bibliograijliia — Alfredo
Pujol — Moviinento theatral — A defesa nacional (Olavo
iíiíac) — Lafayette {A. Chateaubriaml) —Oswaldo Cruz (Arthur
Neiva) —■ Machado'de Assis {Alfredo Pujol) — Th. líibot —
Somnos profundos — A mulher de Goethe — Pliantasinas ce-
lebres —; Sósias — As boas maneiras — í)on Juau O ca-
çador de condores — Publicações recebidas.
ILLUSTIIAÇÕES: José Luiz de Mendonça — Domingos José
Martins — Brigadeiro M. .). Barbosa de Castro — Gervasio
Pires Ferreira — C. Pinto de Miranda Montenegro — Muniz
Tavares — A bandeira da Ilepublica — Casa do lOrario Pu-
blico — Alfredo Pujol — Oswaldo Cruz.
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Travessa do Grande Hotel N. 8
Caixa do Correio, 20t Telephone N. 1193
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8. PAULO SÃO PAULO
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São Paulo-Paris
Revista dos Tribunaes
Director, o advogado PLÍNIO BARRETO
Publica-se todas as quinzenas, com o resumo dos debates e os accord<ims do
Tribunal de Justiça de S. Paulo, julgados do Supremo Tribunal Federal e de
Tribunaes extrangeiros, leis e decretos novos do Estado e da União, e arti-
gos de doutrina de autorisados juristas.
ASSIGNATURAS: Anno, 40$000 Somestro» 20$000
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SAO PAULO
LOUÇAS, VIDROS,
FERRAGENS DE COSINHA
vendas A VAREJO
E POR ATACADO
CASA FRANCEZA
DE
A NETA D'ANHANGUERA(^>
A -EXPEDIÇÃO
II
A MONTARIA
III
A RIXA
IV
A CANINANA
DA REVOLUÇÃO DE 1817
•
Discurso pronunciado pelo orador official, Dr.
Oliveira Lima, na sessão aolenne de 6 da Marco de
1917, no Theatro Santa Izabel, Recife.
Pernambuco.
OLIVEIRA LIMA.
DOMINGOS JORGE VELHO
Rio de Janeiro.
BASILIO DE MAGALHAES
POESIA
PRIMEIRA RECUSA
ATRAVÉS DA SAUDADE
RESUMOS
CORAÇÃO CALMO
Kio de Janeiro.
SÉRGIO ESPINOLA.
/
os NOMES ZOOLOGICOS
EM PORTUeUEZ
I
REVISTA DO KRASIL
D. LUIZ DE BRITTO
Parahyba.
HKLIODOKO PIRE8.
PAGINAS ESQUECIDAS
UM PREFACIO "'
(♦) Este prefacio foi escripto em 1888 para uinu odlgao inoiiu-
mental <lo "(Juarany", que não passou do 1.° fasclculo, onde se impri-
miram o mesmo prefacio e as primeiras paginas do "Guarany". Ma-
chado não reimprimiu o seu prefacio eni nenhuma das suas coliectaueas
de escriptos vários.
TTM 1'RKFACIO
FEITICEIRA
Negro do quilombo
Grita na cidade:
Viva o rei do Congo,
Nassa magestade!
Viva!
Viva! Viva! Viva!
Viva a magestade!
AFPONSO ARINOS.
RESENHA DO MEZ
lacio (Io governo, a primeira reunião na vespera, lhe podira que o represen-
dos membros permanentes do directo- tasse, cabia-Uie no momento essa
rio regional de S. Paulo, da Liga de honra.
Defesa Nacional, convocada para a Em seguida, o eminente poeta pas-
eleição, da respectiva conwnissão exe- sou a expôr com precisão certos arti-
cutiva. gos dos estatutos daquella instituição
Dos membros do directorio regio- patriótica. A alguns, por exemplo, po-
nal, al6m de seu presidente, sr. dr. deria parecer estranho que 50 % dos
Altino Arantes, compareceram á re- recursos dos directorios regionaes de-
união, que foi iniciada ás 16 horas, os vam reverter para o Directorio Cen-
srs. dr. Luiz Pereira Barretto, conse- tral. Entretanto, isso foi estabelecido
lheiro Antonio Prado, arcebispo d. porque todo o trabalho da Liga deve
Duarte Leopoldo, dr. Frederico Ver- ser centralisado no Rio, cabendo-Uie,
gueiro Steidel, dr. Arnaldo Vieira de portanto, a maior parto das despesas
Carvalho, dr. Carlos de Campos, dr. de propaganda e outras.
Cândido Motta, dr. Julio Mos<]UÍta, O orador observou que o grande
dr. Alfredo Pujol, dr. Paula Souski, mal do Brasil é a dispersão dos es-
dr. Reynaldo Porchat, dr. Roberto forços e tendencia ])ara a desaggroga-
Moreira, dr. Souza Reis, dr. Plinio ção. Comprehendendo isso, a Liga
Barretto, Amadeu Amaral, dr Ma- tratou de estabelecer regras para ata-
rio Canlin, Plácido Meirelles e dr. lhar o mal.
João Chrysostomo. Sentia-se feliz por ver a maneira
Esteve ainda presente A reunião o por que foraon acolhidas em S. Paulo
sr. Olavo Bilac, secretario geral da — que é um manancial de enthusias-
Liga de Defesa Naxjional. mo e de crença — as idéas constantes
Deixaram <le comparecer, com cau- do programma da Liga de Defesa Na-
sa participada, os srs. dr. Cândido cional.
Rodrigues, dr. Carlos Botelho, dr. Jo- Ao concluir, o sr. Bilac agradeceu
sé Carlos de Macedo Soares, dr. A. as referencias que lhe haviam sido
C. da Silva Telles e Nestor de Barroa. feitas pelo sr. presidente do Estado.
O sr. presidente do Estado, que O sr. dr. Altino Arantes declarou
tinha sentados, a seu Jado, á esquerda, então que aquella reunião tinha sido
o sr. arcebispo, e á direita o sr. Bilac, convocada para se proceder á eleição
deu começo aos trabalhos da reunião da commissão executiva do directorio
dizendo que desnecessário era enalte- paulista.
cer os propositos da Liga de Defesa O sr. dr. Carlos de Campos, toman-
Nacional. Bastava simplesmente enu- do a palavra, propoz fossem acclama-
merar tres <Ias principaes preocxiupa- dos; vice-presidente, o sr. dr. Luiz
ções do seu programma, a saber, a Pereira Barretto; thesoureiro, o con-
diffusão do ensino, a educação civica selheiro Antonio Prado; e, secretario,
e a defesa do paiz. o sr. dr. Roberto Moreira.
Também já eram de todos conhe- Por fim, o conselheiro Prado justi-
cidos os primeiros resultados da sua ficou a seguinte moção, que foi una-
acção patriótica, devidos, principal- nimemente approvada:
mente, aos esforços e á propaganda
brilliaiite de Olavo Bilac, que, por um "Tendo o governo allenião posto
feliz acaso, se achava presente á re- termo a toda acção diplomatica com
união. relação ao protesto do governo brasi-
8. exa. terminou, saudando o nosso leiro, motivada pelo Uoqueio que
aquello governo pretende tornar effe-
illustre compatriota, a quem pediu otivo no Atlântico, com violação do
que falasse, como representante da direito e convenções internacionaes,
Liga. declaran<lo que a manteria ueissas con-
O sr. Olavo Bilac, usando da pala- dições por ser isso exigido pelo seu
vra, disse que quoun devia estar alli interesse de belligerante; o con8Í<le-
não era elle, mas o sr. ministro Pe<lro rando que,' nestas circunnstancias, o
Lessa. ICntretanto, como o presidente Brasil precisa estar preparailo para a
da Liga, obrigado a partir para o Rio defesa effectWa dos seus direitos de
.'522 REVISTA DO BRASIL
bre ser grave, austero, devia conhe- Ainda quanto ás matérias a lecio-
cer grannnatica, saber calligraphia, nar, convém pôr em destaque o papel
sem falar já na soloinnidade do trajede duas dellas cujos conhecimentos
faz-se preciso seja bastante solido, at-
e no rigor das normas disciplinares...
A tendoncia é hoje para se reque- tendendo-se ao cunho nacional cara-
rer do educador uma série de predi- cterístico (Io ensino priínario, e são a
Historia l*atria e a Geographia do
cados moraes, physicos e intellectuaes
dotando-o de uma autoridade calca- Paiz. Estas disciplinas, bem conside-
da em bases muito superiores ás que, radas, não só auignientam a cultura
d'antes, os costumes prescreviam. civica do professor, como tanibôm
Quanto á comlucta, o mestre deve contribuem para fazer da Patria o
ser encarado como o natural modelo centro <le interesse em torno do (^ual
de óptimo caracter, aijresentado quo-todo o curso elementar será dado, for-
tidianamente -á imitação dos alum- mando, de tal arte, o civismo dos
nos; sua influeW.ia moral devá der- alumnos.
ramar-se dentro e fóra da escola, es- 2.* j)ergunta — A QUEM ENSI-
palhando-«e jielo meio social onde NAR? Se encararmos o elemento a
viver. ser modelado, relativamente pois aos
sujeitos da educação, verdadeiros or-
Physicamente ha a notar a conve- ganismos reagentes sobre os (juaes vai
niência <1o um organismo robusto e o educador exercer a sua influencia,
sadio, de um todo agradavel, de um claro está que o professor é obrigado
metal de voz sympathico. O desleixo absolutamente a conhecê-lo, não só
no vestuário, por exemplo, será ba- sob os pontos de vista anatomico e
nido entre os membros da classe pro- physiologico, mas ainda anthropologi-
fessoral. Defeitos existem que incom-ca e psychologicameaite. E' a este co-
patibilizam mesino para o exercício nhecimento completo do corpo e da
do magistério, taes como a falta do alma infantjl que se dá o nome de
ura braço, da mão, et ccctera. O capi-
peãologia, palavra proposta cm 1892
tulo referente a moléstias do profes-pelo pedagogista e psychologo norte-
sor é importante e até faz parte do americano O. Chrisman. A .pedologia,
serviço das inspecçôes médicas nas porisso, como iparte que é da pedago-
escolas. gia, torna-se indispensável para o
Sob o ponto de vista da forma- êxito da funcção educativa.
ção mental, para que os professores 3.» pergunta — GOMO ENSINAR!
consigam resultados positivos no tra-Outro capitulo da pedagogia. ()ue se
balho escolar, necessário é que apre-não dispensa ao professor é o da me-
sentem varias qualidades constituti- thoãoloijia, que lhe fornecerá os meios
vas, por assim dizer, da sua habilita-
adecjuados á boa transmissão, para os
ção technica, da sua competencia pro-cérebros receptores, das noções exigi-
fissional. Tíeclamaim-sa do mestre co-
das pelas necessidades sociaes de que
nhecimentos que o habilitem a'desem- o programma escolar é apenas um re-
penhar unm tarefa cuja execução de- flexo. A methodologia 6 um ramo tão
ve satisfazer ás quatro seguintes in-util da sciencia da educação que, em
terrogações: QUE ENSINAR! A todas as Escolas Normaes, devia ha-
QUEM? OOMO? PARA QUE ENSI- ver cadeiras privativas dessa discipli-
NAR? na, regidas por cathedraticos dedica-
1.' pergunta — QUE ENSINAR! dos e investigadores (jue, a estudos
Quanto ás^materias a explicar, desde abundantes, reunissem os proveitos
logo se verifica a obrigação, para o de uma longa pratica. E' a methodo-
professor, de conhecer mais do q>ie dologia um dos ensinos mais valio-
regularmente os programmas das ca- sos para a carreira do magistério e
deiras das Estcolas Normaes, visto I deve constituir uma das grandes pre-
como de tal aprendizado tirará as occupações do professor, durante toda
noções a transmittir aos discípulos, a vida escolar.
conforme o exigirem as ordenanças 4.* pergunta — PARA QUPJ ENSI-
governamentaes. NAR? Por ultimo, carece o mestre
324 KEVISTA DO BRASIL
ALIPIO DE MIRAN-
BIBLIOGRAPHIA DA RIBEIRO — Fauna
Brasiliense Peixes (5.*
ANTBBO DE FIGUEI- parte); Archivos do
REDO: — Beeordaçõex Museu Nacional, Rio de
e Viagens. Janeiro, Vol. XVII.
E' um encanto a leitura deste volu- Ha pouco foi distribuído o Vol.
me em que o esoriptor portuguez lan- XVII dos Archivos do Museu Nacio-
çou as impressões que colheu e as re- nal e todo elle, grosso como dous vo-
cordações que trouxe das viagens que lumes reunidos do Laroasse (disfor-
foz por varias partes do mundo. O me, diríamos quasi) encerra apenas
viajante vô bem os homens e as coi- ccmtribuições de um só auitor. Já se vê
sas e pinta-os com leveza e elegan- que neste caso o "disforme", que nos
cia. Mais interessante, porém, que ia escapando com relação ao livro,
a impressão objectiva das terras que significa, com relação ao autor:
percorre o das gentes que encontra "operoiso, dedicado, incançavel", ma-
6 a repercussão que, ilentro de sua xime quando nos lembramos que os
RESENHA DO MEZ 325
íjranide injustiça para descrer do ma!. esse artista fadado para distribuir a
Nabuco, animando-me como vocô, es- vida."
creveu-me qu« a mim coube a melhor O filho de José de Alencar, nature-
parte — o soffrim^into. A visão delle za retrahida e medrosa, com um ta-
é outra, mas em verdade o soffrimen- lento só igualado pela sua timidez,
to é ainda a melhor parte da vida." soube retribuir a Machado de Assia
Era de certo a dôr o alimento do os carinhos que este dispensara ao
espirito delle. A dôr e a resignação autor do "Guarany" nas suas horas
serena o enternecida. De uma feita de solidão e desengano. Viam-se os
encontrou-o o mesmo Veríssimo, quan- dois diariamente. Refere Mario de
do elle vinha das bandas do morro do Alencar nas Paginas de Saudade",
Livramento. Pararam os dois amigos, que escreveu com a penna molhada
trocando palavras de affecto. Macha- em lagrimas, durante a moléstia e
do contou então a Verissimo que tinha logo depois da morte do seu grande
ido ver a casinha pobre em que nas- amigo: " Parece-me estar a vel-o
cera. Tinham-lhe dito que estàva em apontar á porta do salão da biblio-
demolição; apreseou-se por isso em theca da Gamara. Parava indeciso,
ir arrocadar-lhe nos escombros algu- como que a pedir licença, a pedir des-
mas pedrinhas dos seus muros, que culpa de importunar os raros leitores,
trazia no bolso do paletot, mostran- que continuavam a 16r sem dar pelo
do-as ao amigo. Não o vexava a ori- visitante illustre. Entrava pisando pé
gem humilde que tivera; antes, com ante pé, sem fazer ruido, e de longe
ella formaria um diadema do gloria aoenava-me que não fosse ao seu en-
e de orgulho, se lh'o permittisse a contra para não chamar a attenção
simplicidade nativa da sua indole sobre elle. Antes de sentar-se, inda-
moral. gava se não me ia incommodar, inter-
A viuvez, deixandoK) solitário, le- romper o trabalho. O que o levava
vou-o a procurar a intimidade e o alli, era ás vezes uma preoccupação
affecto de almas que o pudessem en- de saúde, uma queixa do seu mal,
tender e amar. Um dos seus Íntimos, para achar conforto, ás vezes uma
nessa quadra angustiosa dos seus der- impressão de noticias do dia, ás vezes
radeiros dias, foi Mario de Alencar, coisa neinhuma, o simples gosto de
filho do cantor de "Iracema". A ami- conversar. A preoccupação de saúde
zade do pae tinlia sido uma das gran- era freqüente: ou havia os effeitos
des consolações da mocidade de Ma- de um accesso do mal terrivel, ou a
cliado de Assis. São palavras «leste: imminencia delle. Falava-me como a
" Lembram-mbe ainda algumas ma- I seu proprio medico, confiando-me tu-
nhans, quando ia achal-o nas alame- do, consultando-me sobre minúcias da
das solitariaa do Passeio Publico, an- moléstia e o que havia de dizer ao
dando e meditando, e punha-me a an- seu facultativo; e era de uma docili-
dar com elle, e a escutar-lhe a palavra dade, extraordinaria num sceptico, ás
doente, sem vibração de esperanças, minhas opiniões e ás minhas adver-
nem já do saudades. Sentia o peor tências; deixava-se persuadir e tinha
que pôde sentir o orgulho de um gran- prazer em ficar persuadido. Custava-
de engenho: a indifferença publica, lhe mais a resignação ao soffrimento
depois da acclamação publica. Come- moral, ao abandono em que o deixou
çara como Voltaire para acabar como a sorte, matando-lhe a companheira
Bousseau... A morte veiu tomal-o de- de tantos aunos. Falava- me com os
pressa. Jamais me esqueceu a impres- olhos velados de lagrimas; eu dava-
são que recebi quando dei co^m o ca- lhe o conforto que podia, em palavras
daver de Alencar no alto da eçg^j pres- de affecto sincero, e com a habilidade
tes a ser transferido para o ceiiuterio. inspirada por esse affecto ia des-
O homem estava ligado aos annos das viando o seu cuidado para a arte, a
minhas estréas. Tinha-lhe affecto, des- outra companheira querida de toda
de o tempo em que elle ria, não me a sua vida. Ao cabo, via-se sorrir e
podia acostumar á idéa do que a tri- sentia o seu agradecimento no aperto
vialidade da inorte houvesse desfeito de mão com que se despedia."
RESENHA DO MEZ 339
erro é talvez o de ser muito bonevola tualmente antes da morte dos reis ou
com todos. Sou muito bôa, creio eu, para prenunciar-lhos alguma grande
e OB outros se aproveitam disso. Fiz calamidade. Está historicamente pro-
uma outra experiencia. A dizer ver- vado que essa apparição foi vista por
dade, não podia agir de outro modo. Henrique IV na noite que precedeu ao
Devo agora apagar esta impressão e dia do-seu assassinio, por Luiz XVI
continuar a proseguir no meu caminho no inicio da Revolução e por vários
reeto, conservando bem a minha casa, membros da familia imperial, duran-
amando meu esposo, divertindo-me te a guerra franco-prussiana. O pro-
com meu filhinho o fazendo somente prio Presidente Carnot viu o "Ho-
algumas visitas de cortezia de quando mem Vermelho" na manhan do dia
em quando." Esta carta não é gracio- em que cahiu assassinado e embora
sa o. não mostra que Chiistiana Vul- fossem tomadas todas as precauções
pius era, polo menos, uma mulher de possiveis para evitar um desastre,
bom senso e de bom coração? elle não poude fugir ao sou trágico
Uma recente biographa de Chris- destino.
tiana, a sra. Etta Federn, sustenta Napoleão appareceu a sua mãe,
que a esposa de Gootho exerceu sobre Mme. Leticia, pouco depois da sua
o marido uma influencia muito maior morte na Illia de Santa Helena. Leti-
do que a que se suppõe geralmente e cia Bonaparte, que em França ora
apresenta como prova disto os nume- chamada Mme. Mere foi a ultima a
rosos versos que Goethe dedicou a sua saudar Napoleão quando elle embar-
mulher. — (Bibliothéque üniverselle, cou para o cxilio, respondendo ao seu
Genebra). Adieu ma Mere! no italiano Addio fi-
glio mio! Seis annos depois, e pre-
cisamente na manhan de 6 de Maio
VARIEDADES de 1821 Mme. Mere achava-se sentada
no salão do palacio Bonaparte (]uando
um creado annunciou um cavalheiro
PHANTASMAS CELEBRES que trazia importantes noticias do Im-
As famílias reinantes na Europa perador exilado. Leticia ordenou quo
têm quasi todas, além da sua côrte o fizessem entrar logo, e pouco depois
viva e tangivel, ura séquito espe- apresentou-se-lhe o mysterioso perso-
nagem, envolto num amplo manto e
ctral de seres mysteriosos que se in- com o chapéu desabado sobre os olhos.
teressam vivamente pelas peripecias Retirando-se o creado, elle tirou o
da dycastia e apparecem aos reis cliapéo o abriu o manto, estendendo
para advertil-os de alguma desgraça os braços para ella. Então Leticia,
ou da sua morte imminente. Uma lançando um grito ~de alegria, reco-
das mais conhecidas dessas appari- nheceu Napoleão. Suppondo que elle
ç5es 6 a "Dama Branca", que ha tivesse fugido milagrosamente de San-
vários' séculos assumiu o delicado, ta Helena, como já succedera em El-
embora pouco agradavel encargo de ba, Leticia quiz precipitar-so nos bra-
presenciar a morte dos principes da ços do filho, mas o contacto cO'm as
casa dos Ilohenzolern. Diz-se que forças augustas do Ignoto paraly-
ella foi vista ultimamente no pala- sou-a.
cio do Potsdam. A "Dama Branca"
é o espectro da condessa Bertha von Emquanto ficava assim immovel, o
Rosenberg, nascida em 1425, o que espectro, olhando-a fixamente e escan-
morreu tragicamente pelo fim dü dindo as palavras disse com voz
século XV, depois de uma vida infe- grave:
liciasima. A "Dama Branca" tem sido — "Cinco Maio mil oitocentos e
vista repetidamente nos castellos de vinte e um —^hoje!"
Bayreuth, de Berlim, Carlsruhe e de Depois retirou-se lentamente para a
Mannhein, etc. Os reinantes da Fran- porta, olhando sempre a mãe e des-
ça tiveram durante alguns séculos um appareceu. Leticia, voltando a si de
cortezão espectral na pessoa do "Ho- sua grande emoção, corrou pela casa
mem Vermelho", que apparecia pon- toda mas ninguém tinha visto sair o
REVISTA DO BRASIL
mystorioso visitante. Somente seis se- fim na noite que precedeu a tragédia
manas depois chegou a confirmação de Genebra, em 1898. Desperta de um
da morte de Napoleão, suocedida a 5 somno profundo, viu o quarto illu-
de Maio de 1821, ás 6 horas da tarde, minado pelos raios da lua cheia e na
ao passo que elle appareceu á mãe luz delia poude perceber claramente
ás 11 da manlian seguinte. « o vulto de uma mulher que chorava e
O espectro que persegue a familia a fitava com profunda tristeza. De
imperial da Rússia tem uma extranha manhan, quando a dama de honor,
especialidade: a de revestir o sem- condessa de Czateray, entrou no apo-
blante do principe a morrer e apre- sento da imperatriz, esta se achava
sentar-se ante elle como um macabro paüida e transfigurada, ainda sob a
"irmão siamez". Conta-se que pouco influencia da aipparição: "Sinto que
antes da sua morte a imperatriz Ca- um perigo me ameaça, disse, e (jue a
tharina estava lendo tranquillamente minha morte está próxima". Poucas
no seu "boudoir" quando uma dama horas depois a pobre mulher cahia sob
da côrte, toda transtornada, veiu an- o punhal de Luccheni.
nunciar-lhe uma coisa extranha: nada O rei Ferdinando da Bulgaria é
monos <lo que ter visto, ao passar pela assiduamente escoltado pelo defunto
sala de recepções, a imperatriz assen- presidente do conselho, conde Stambu-
tada no üirono, coisa absurda, porque loff, que tem sido visto repetidamente
momentos antes a tinha deixado em ao seu lado. Uma vez Fcrdinando foi
seus aposentos privados, onde vinha fazer visita a uma princeza e não
encontral-a. Catharina empallideceu, sabia explicar a agitação delia e das
mas era mulher de vontaíde ferrea e outras mulheres presentes, que pa-
viril coragem. Som hesitar, ordenou á reciam presas do anais vivo terror. E
sua dama que a seguisse e dirigiu-se havia razão para isso, porque ao lado
para a sala do throno, onde encontrou do seu rei, immovel, livido, com o
offectivãmente o espectro assentado. olhar fixo e vasio, estava o espectro
Atravessando a multidão dos corte- do fiel ministro... — (Beginald B.
zãos mudos e trêmulos, a imj)eratriz Sn)aii—Chamber's Journal, Londres).
affrontou o seu terrivel alter ego e
intimou-o a que se fosso. Mas a appa-
rição continuou silenciosa e immovel
sobre o throno. Então Catharina, num SÓSIAS
paroxismo dô ira e de terror, ordenou
ás suas guardas que fizessem fogo so- Soiia de uma pessoa é uma outra
bre a usurpadora, mas apenas se deu que se pareça muito, com ella, a pon-
a descarga, todos viram o throno va- to de permittir a confusão. O vo-
sio e crivado de chumbo. Dez dias cábulo sósia 6 usado desde que Mo-
depois Catharina da Rússia morria. liére o empregou com essa signifi-
Como a imperatriz Catharina da cação, na sua comedia "L'Amphy-
Rússia, também a rainha Elisabeth trion", cujo entrecho consiste precisa-
da Inglaterra foi advertida do seu mente numa complicação derivada de
fim proximo por um espectro que ti- semelhanças physicas. São innumeros
nha a sua physionomia exacta. O pa- os sósias historicos. Napoleão I, por
-lacio de Ilampton Courfe a Torre de exemplo, teve diversos sósias. Conta-se
Londres são, de resto, um verdadeiro que elle estudava com Talma os ges-
renãez-vcmit de appariçõos reaes, em- tos e as poses. O certo 6, porém, (jue
quanto o espirito ile Jorge III pre- os seus gestos e attitudes impressio-
fere como morada ])ermaneute o cas- navam tanto que os soldados os imi-
tello <le Windsor. E' sabido que no tavam. Os generaes passeavam com
inicio da guerra civil O espectro de uma das mãos atraz das costas e a
Lord Straford se apresentou a Car- outra enfiada entre o terceiro e o
los I e lhe prenunciou a derrota e a quarto botões do uniforme, espe-
morte tragica no patibulo. A impe- cial que aos soldados razos não era
ratriz Elisabeth da Áustria teve tam- permittida, mas que, todavia, se tole-
bém um extranho prenuncio do sou rava nos heroes da Velha Ouiirda. '
RESENHA DO MEZ 345
a todos fftzel-os herdeiros do seu bello derem dizer, voltando á sua terra,
domínio de Jasnaia Poiana. Era um que tinham visto Victor Hugo, seria
vulgar explorador, que foi logo des- uma decepção dolorosa não o verem.
mascarado 6... liquidado. Houve quem dissesse que aquelle Vi-
Nos Estados Unidos havia, ha pou- ctor Hugo era um velho que se asse-
cos annoB, e provavelmente ainda ha, melhava muitíssimo ao poeta. O certo
quem exercesse a profissão official de é que da existencia de um sósia de
sósia de todos os grandes autores de Hugo, Flaubert convenceu um amigo
tiieatro, dramatico ou lyrioo. que lhe tinha pedido o grande favor
A coisa foi revelada por Máximo de ser apresentado ao Mestre. Quando
Gorki, numa entrevista com o "Ma- com esse fim Flaubert conduziu o
tin", reproduzida por muitos outros seu amigo á casa de Victor Hugo este,
jornaes da Europa, na qual o illustre em vez de mostrar-se como faria o
escriptor contava que, achando-se em autor dos Miseráveis e das Orientaea,
Georgetown, a sua attenção foi attra- não soube senão pronunciar phrases
hida por um annuncio theatral da pri- banaes e até insulsaa, tanto que Flau-
meira representação naquella cidade bert, apesar de toda a sua admiração
de um drama de Gorki accrescentan- pelo mestre, sahiu logo, aborrecido,
do-se que o autor assistiria á repre- conduzindo comsigo o amigo estupe-
sentação. Gorki ficou muito surpre- facto, em cujo animo a impressão re-
hendido por esse annuncio e á noite cebida se podia attenuar com a lem-
nãq deixou de ir ao theatro para co- brança de que o proprio Homero co-
nhecer. .. o autor. O drama teve ma- chilava. Mas Flaubert, depois de um
. gnifico êxito; o publico applaudiu ca- longo silencio, disse afinal ao amigo:
lorosamente e Máximo Gorki viu... — Não faz mal. Viator Hugo é
Máximo Gorki apresentar-se no palco sempre um grande homem, um homem
e agradecer ao publico, com mesuras grandíssimo. Precisas saber que á
6 sorrisos. A semelhança tinha sido noite, quando está muito cansado,
conseguida com muita habilidade. vae dormir, fazendo-se substituir pelo
Mas o verdadeiro Gorki, subindo ao seu porteiro, que se parece com elle
palco, fez logo confundir o seu "Alter extraordinariamente... — (Américo
Ego", o qual se lhe lançou aos pés, Scarlatti — Minerva, Eoma).
pedindo-lhe que o não denunciasse e
explicando-lhe que era aquella a pro-
fissão de que vivia, imitando os mais
celebres autores, cuja presença á re- AS BOAS MANEIRAS
presentação era desejada pelos empre-
zarios theatraes. O homem, como veri- Emerson definiu as boas maneiras
ficou Máximo Gorki, já se tinha apre- como as "propriedades pessoaes não
sentado no palco figurando Suder- communicaveis"; o deu como origem
mann, Bostant, Strauss, Puccini, Mas- dellas a classe aristocratica, porque
cagni... possuía certas qualidades de resolu-
De rosto, mesmo aos grandes ho- ção e de dominio que a tornavam mais
mens pode ser ás vezes commodo en- capaz de acção. Em outras palavras,
contrar um individuo que em certas as bellas maneiras provêm da capaci-
circumstancias se lhes possa substi- dade de agir. Hoje as coisas estão
tuir. Victor Hugo, nos últimos annoa mudadas; a capacidade de agir pro-
da sua vida fazia todos os dias, infal- duz arroganeia, impaciência, dureza e
livelmente, um longo passeio de ida e reserva cinica. A nossa geração não é
volta na imperial do omnibus que da jovial e cortez: na corrida desespe-
Magdalena vae á praça da Bastilha, rada á fortuna nós não temos tempo
recebendo cumprimentos de chapéo de parar para pensar na cortezia.
de todos os parisienses. Aquelle pas- B' o que succede sobretudo na Ame-
seio quotidiano do grande poeta tor- rica do Norte, onde o dollar impera
nara-se uma instituição parisiense, e incontrastado. Entre as pessoas edu-
para os provincianos que iam propo- cadas, as bellas maneiras são 0 rèsul-
sitalmente aos boulevarãs afim de po- tado do respeito de si mesmo, de que
RESENHA DO MISZ 347
tragieas allucinações: via-se assistin- cora ura encontro que teve nos Andes
do ao seu proprio enterro; via de re- com um authentico "caçador de con-
pente, na rua, uma mulher com o an- dores", que, logo ao voltar para o
dar e o talhe esbelto de Jerolina, e á seu paiz, consagrou no Bird-Lore um
medida que elle se apressava para al- longo artigo a esse profissional. B do
cançal-a, ella corria mais depressa e facto, poucos serão os que tinham
quando emfim se voltou, viu o corpo Imaginado que a caça ao raagestoso
dessa mulher tal qual um esqueleto, rei dos ares possa constituir meio de
liançou-se perdidaraente na religião, vida. Para que matar essas aves gi-
para resgatas o seu passaido, fez doa- gantescas, mas de todo inoffensivas,
ções consideráveis ás egrejas, condem- que nunca atacam seres vivos e que,
nou-se ao papel de servo de miserá- guardadas as proporções, são apenas
veis, de creailo do cadaveres. Os seus os urubus dos Andes?
dias transcorriam entre oa enforcados Contou o profissional caçador ao
e deeapitaidos que elle amortalha.va scientista que nunca vira um condor
com as suas próprias mãos. Depois, caçar ou combater. Só elle, caçador,
sentindo próxima a agonia, quiz que um dia fOra victima de ama dessas
sua expiação lhe sobrevivesse e redi- aves que suppunha morta, levando
giu o seu testamento; "Ordeno que assim fortes pancadas e bera doidas,
meii-^orpo seja estendido sobre uma pudéra! — pois cada aza do condor
cruz de cinza, com os pés nús e envolto méde quasi metro e meio de compri-
com o meu manto por sudario, -um mento. O caçador nem sempre abate
crucifixo á minha cabeceira, dois ci- suas victimas com a carabina, ainda
rios e a cabeça descoberta. E' assim que em um só dia tenha chegado a
que meu corpo deverá ser conduzido, matar 114 condores a bala.
como pobre, com doze padres, e nem
ura a mais, sem pompa nem musica, á Uma photographia reproduzida no
Egreja da Santa Caridade, e collo- Birã-Lore mostra a grande rêde em
cado no chão do cemiberio da dita fôrma de choupana com que o caçador
Egreja, a .saber: sob o portal, afim cobre um animal morto, esperando
de que cada um marche sobre mim e depois em um abrigo proximo a occa-
me pise, e que assim seja enterrado sião de puxar a corda que fecha a
o meu corpo immundo, indigno de re- portinhola. O record numa só redada
pous.ir no templo de Deus. E' minha foi de 64 condores! Ao todo, desde
vontade que se ponha sobre minha que elle exerce a sua profissão, o an-
sepultura uma pedra quadrada, de um dino diz ter morto cerca de 16.000
pó e meio, • com esta inscripção: dessas aves.
"Aqui jazem os ossos e as cimas ão E qual o proveito dessa actividade,
peor homem que existiu no mundo. que, longe de ser louvável, significa
Òrae por elle." o extermínio rápido de um ser util
Foi segundo essa ordem que se fez e glorioso?
em Sevilha a cercmonia dos funeraes Ganhar dinheiro: serão poucos 20
de D. Miguel Manara, cm maio de dollars por ave? Por ave, dizemos
1679. Ha dois séculos proaegue no mal: pelas 80 pennas vendáveis que
Vaticano o processo para ver se esse ella fornece. São as modistas que ©n-
peccador que soube se arrepender e commendam esse morticínio, para con-
expiar os peceados deve ser canonisa- tentar as damas, a vaidade feminina,
do e declarado digno das orações dos o luxo excentrico.
fieis. — (Colonna de Oesari Eooca — Mas Mr. Chapman (e nós com elle)
Merenre de Franoe, Paris). prevemos que tal commercio tende a
desapparecer. O preço das 80 pennas
O CAÇADOR DECONDORES já desceu de 20 a 10 dollars.
Os Estados Unidos já ha alguns
O Dr. Frank M. Chapman, chefe da annos trancaram suas alfandeg.is .1
secção ornitliologica do Museu de No- importação de taes pennas o na Euro-
va York, cm sua recente excursão pela pa também não ha grandes sobras
America do Sul impressionou-se tanto para taes artigos de luxo.
RESENHA DO MEZ
^ SECÇAO DE OBRAS DO
O ESTADO DE S.PAULO
EXECUTA-SE QUALQUER
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SÃO PAULO
DO
BRASIL
SUMMARIO
PUBLICAÇÃO MENSAL
N- 16 - ANNO II VOL IV ABRIL,^917
REDlCClO E IDHINISTRiClO
RUA DA BOA VISTA, SS
S. PAULO - Brasil
RESENHA DO MEZ — Brasil-Allemanha— Alberto Tor-
res — Bibliograpliia — Artistas Babianos {M. L.) — As armas
de S. Paulo — Ensino primário (Carlos da Silveira) — Brasil-
Allemanlia [Ruy Barbosa) — Revistas e Jornaes — Cotegipe
intimo — Octave Mirbeau — Lloyd George — Poniue morreu
Metclmikoff — Zorrilla — Barl)a e cabello na Politiea e na
Historia — As cartas auonymas — O systema métrico e a
guerra — O Cruzeiro do Sul — Publicações recebidas — As
caricaturas do mez.
MOTORES
FIOS ISOLADOS
TRANSFORMADORES
ABATJOURS LUSTRES
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RUA BOA VISTA, 44
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COSTA, CAMPOS & MALTA importação directa de todos
ENO. TEUEG.; DOSMAN • CAIXÍ, 962 ■ ARTIGOS DE ELÇCTRICIDADE
TELEPHONE, 4306 INSTALLAÇAO DE LUZ E FORÇA
SAO PAUL,0
EDE /^ELT^L
TELtPH^64l
y^QRAV/LfRAS
DE. BOR/=>CHIA ri
/
o rKICCOXCKlTO DAS UKKOlí.MAS CONSTITIKMOXAKK 3(51
»
SOBRE
ALGUMAS LENDAS DO BRASIL
(CONFERENCIA)
I
370 KKVISTA DO ItllASIL
OLAVO BILAC.
A GARGALHADA DO COLLECTOR
J
MONTEIRO LOBATO.
\
A ARTE TRADICIONAL NO BRASIL'^)
DA ARCHITECTURA
I. NU JIIIASIL-COLONIA.
Knsalo de archeologla. Meio physlco e saciai; archi-
tectura colonial. As matrizes portuguesas. Caracteres
oriífinaes da architectura da Renascença em Portugal
e suas modalidades (Século XVI a XVIII).
II. NO IIHANII.-MONAIICIIIA.
A missão artística francesa de 1816; sua acçâo e in-
fluencia. A fundação da Academia de Belias-Artes. A
arte apôs a independencia. Degenerescencia da archi-
tectura colonial.
HI. NO IIIlASIL-HIOI>i;ilL.ICA.
Desorientação artistica. Ecletismo immigratorio.
ReaccSo nacionalista e moderna corrente de tradicio-
nalismo. A arte e o caracter nacional. A architectura
do edificio publico e da habitação. A cidade moderna
e a tradição. Architectura tradicional.
II
III
IV
RICARDO SEVERO.
POESIA
CARAVANA DA GLORIA
I
DIES IRAE
o POETA
III
O HEROE
V
o MARTYR
V
O JUSTO
LUIZ CARLOS.
S. Paulo, 1916.
1
A REVOLUÇÃO DE 1817
/
4:58 RKVISTA DO BRASIL
"Je (llnil Teniprlso iJe tes iniuliis Ioiij^uom (lul font à ma taille
uno coiiituro fivinisMUite; Jo (Unii toii roRard v<>l<nitalro qul an6-
HiiUt ni» pciisóc, t-ii iK>itrliie battjjiit© 8<m<lée â iija p<>lti'lno et tes
janibOH uu.ssi formes «juc Io trone do Térable, oíi los mleunes H'cin-
poulont conuiio Ics jot« ondiiloux ds lioublons."
f
LIVROS. 4
MEDEIROS E ALBUQUERQUE.
LUCIANO, LUZ E STRAUSS
i(NOVELLA)
Jà vae ©m. cerica die dez annoa que oe conheci, ao Luz, a Lu-
ciamo e ao dioutoir StPauee. Este. ulltlmo ena medilco e ellemao. Mo-
raTaimois juoi.tois em umia oasa de pieaisâo aitastadlsslma. do centro
da cidlade, na® atos (de S. Piaulo, extreimlo <lo bairro do Belemai-
nho. Lemíbro-me períeitamenlte' dio gieu aisí)i©oto — Estatura enor-
mie, maaslço, pernae finiaa, tinha o roeto vermeliho, côr de lagos-
ta caziJda, e redontfo á mianeiria die um sal ■boinaichão. O» olhoe
eram inflMtamente azues, de um azuil mysterloso, longínquo, to-
do de sonho e nie^buloeaa irre.aillildalde9.
Luiz, o Luz, como lhe chamaviamos, era bacharel em dlteJito,
paJdícla do ílgadiO e usava um chapéo em fórana Ü® mieilâo.
Quanto a Luclano, nâo &e
lhe conhecia ao certo nenhuma
proiflesâo. Era di«cureador ©pa-
triota. Corpulento, de um mo-
reno tirante e escarlate, olhos
ohlfipantes, lábios groe-so®, ca-
bôlloe em desordem, como que
varriods de um efrpro quente,
daiva a imagem de um vendaval
feito homem-
Lá vae em cerca de dez an-
noe. .. Paseeavamos, certa noi-
te, meu amigo Strauss e eu, pe-
pela rua Quinze de NoTOmljro.
458 REVISTA DO BRASIL
»
LUCIANO, LUZ E STUAUSS 459
\
UrCIAXO, LVX E STRATSS 4 «3
iir
PEJORATIVOS
RELAÇÃO ALPHABETICA
/
474 RKVISTA DO BRASIL
cm 1 7 unesp' 10 11 12 13 14 15
ISO ItKVISTA DO HRASIL
EÇA DE QUEIROZ
•
Duma irmandade tuberculosa, que se foi indo, mais ou menos ■
elegantemente, para aa bolorencias do eepulchro, -Eça de Ojueiroz
tem sido, depois de uma irmã que reista ainda, a maie resistente
vergontee da íamilia que o magistrado Queiroz creoiU entre os
oxem:plofi da sua proverbial e austera probidade. Conheci-lhe dois
irmáos, (1) Alberto e Cariloe, dum dos quaee fui camarada de es-
cola' e comipanheiro d'esturidia, em annos juvenis, e que com eeue
diitos mordentes, aua vlveza macabra, auas fallas. litteratiças, seu
Janotismo inglez pretencioeo, dir-se-iam socialmente encarregues
de vulgarisar pelo mundo ediçõeis baratas do Irmão José Maria, o
grande homem da família, nas duas phases de bohemia artisitica
anteriores á sagração que lhe veio do Padro Amaro.
Eça de Queiroz foi sem;pre uma organisação debilitada, um
poste d'oi&so susipendendo fios eleotricoe de nervos, este predomí-
nio nevratico explicando as sen&lbiilidades d'estheta que Ihe^ize-
ram na viida litteraria o temperamenito intenso de humorista, as-
sim como ,na material em coisas de mesa, vestuário, amor, arte e
conforto, um desees typos d'aristo, cuja degenerescencia recorda,
pelaâ predilecções sensuaes, scepticismo delicado, inconstância do
dilettantismo, raridade» "fruis.tes d'elegancia, o que trazem as chro-
nicas sobre certos princiipee perversos da Renasceinça.
Quem via a sua oara chupada, verde terra, o seu bigode sem
força, as têmporas deprimidas, a bocca murcha, de sorriso rugo-
(1) Destes rapazes até o mais novo, Carlos, ainda em plena posae da
saúde, estando a família de nojo i)ela morte d'Alberto, lhe aconteceu
vir uma vesi>era de Santo Antonlo á Janella do quarto andar do Rocio,
onde moravam. Bra deshoras: na praça, grande assolsse de gente, em
descantes e dansas populares: e o moço, a conversar com uma das vi-
sitas á varanda, dizia lastimando a horrível tara que lhe carreira os
Irmãos p'ra sepultura — "qual de nós será que váe agora?" Inda nSo
disséra «stas palavras, torna uma vôz da rua — "agora, és tu". Carlos
Queiroz nunca mais pOde esquecer o vaticinlo, que eífectivamente se
cumipriu, m^zes depois, fallecendo aquelle de febre galopante.
182 KEVISTA DO BRASILi
o Lilbaniaho e o sr. Chantre, algumasi com oe. seiie. nomes, são re-
cordações peesoaes da^ sua fastidiosa vida.de Jornalista trastagano.
De administrador de concelho em Leiria, onde um namoro
cora mulh«r casada lhe deu, por algum tempo, o papel, um pou-
co aimaeso, que tem m,r. Léon, na Ilovary, Eça de Queiroz passou
para as esquinas da Havaneza, a fazer concurso de cônsul, derreado
pelo nihilismo bestificante do cam(po, e a irritação d'orguilho cau-
sada pelo meio bossal da^quelle burgo d'agricolas, onde as suas
preoccupaçõee de trajo passavam por toleima, e a terrível, poeto
refreada, ironia do seu lábio, chamava o odio das victimas a uma
conspiração de calumnia sempre alerta. A' entrada em Lisiboa, tra-
zia começado o seu romance ürlme do Pa<lre Amaro, que viu luz
na ll<?vistii Occidental, em 75, numa versão com todos os mordi-
dos da moldagem pri'mitiva, ess;ee baribarismos pictorescos, duma
sensibilidade hiper-aguda, tropeçando em obtusidades de prosa
inexiperiente, esses néologismos de fôrma gravativa^ que um novo
encontra para enquadrar a idéa, fresca, a escorrer vida, ^os ins-
tantâneos da expressão — e que para os artis.tas, como peça de
processo, é a mais bella das tres fôrmas que Eça de Queiroz deu
ap romance, nas euccessivas edições em que appareceu.
A idéa do Piwli-o Amaro viéra-lhe em Coimbra, estudante, ser-
vindo, como disse, os desterros provinciaes para o proverem de
notas, detalhes, typos com que vestir a acção e poivoar o quadro
de figuras. Longo tempo, o manuscripto andou ipelas gaivetas e ma-
las de viagem,, hiiberpado, tra'balhado pelo escriptor na angustia
do segredo, cerzido e accrescentado no meio das folhas de geS'táo
que faz o cerebro dos nervosos, alternativamente estúpido e viden-
te, segundo a aura em que a columna atmospherica, a humidade
do ar, o repouso da noite, a di^stão e os ventos dominantes lhe
modailisaram o espirito doente: e já. o Sojilior Diabo e as Slnfoilarl-
diules duma rapai-i^ja loira, a primeira narrativa realista escripta
em portuguez, tinham vindo, com o seu estylo desarticulado, koda-
kisado do real, cheio de ironia aguda' e lyrismo pessimista, e®pa-
vorir a chaipa rotineira das artes d'e6crever em Portugal, a ponto
do proprio Herculano repulsar o bocado como "uma traducção
peor de francez péssimo", o ique bemi mostra o albysmo que, tão
perto "ainda, separava já, as duas epochas.
Com a permainencia de Queiroz em Lisboa, a aguardar a no-
meação de cônsul, promeítida, resultou a collaiboraçâo daa Farpas,
com iRamalho, que tiveram em, Portugal e Brasil, voga notável, e
■foi moda, seiguir como evangelho de dandysmo e l>el esprit. Essa
collaiboraçâo se clia hoje em séparata de volume, appensa á edi-
ção nova das Harpas, soib o titulo d'Uma campaniui alejjro, me pa-
rece, e ahi ee confirmam e robustecem, as qualidades que os arti-
gos da Gazeta de Portugal prenunciavam: uma juvenil de6envo'ltu-
ra, a phantasia escandinava, ultra-ipoetioa, um. esylo de nervos e
180 REVISTA DO BRASIL
Í4) ". . .as.sim, diz v. que os meus personagens silo copiados uns
do» outros. , . , j i* ,
Mas, querido amipo, numa obra que pretende ser a reproducçao du-
ma sociedade uniforme, nivelada, chata, sem relevo e sem saliência
(como a nossa inoo-ntestavelmente é) — como queria v., a menos que
eu falseasse a pintura, que os meus typos tivessem o destaque, a des-
Bemclhanqa, a forte e crespa Individualidade, a possante e destacante
perMonnlidnile que p6dem ter, e téem, os typos duma vigorosa clvlllsa-
cao como a de Parlz ou de Londres? • „ j
"V. distingue os homens de Lisboa uns dos outros? V., nos rapazes do
Chiado, acha outras dlfferengas que n^o seja o nome e o feltlo do na-
riz'' Em Portugal, ha. wfl um homem — (lue é sempre o mesmo, ou sob
a fôrma de «landy, ou de padre, ou d'amanuense ou de cai)itao: é o ho-
mem indeciso, debll, sentimental, bondoso, palrador, del*a-te-lr, sem
nifilii de caracter ou de Intelllgencia que resista contra as clrcumstan-
clas. B' o homem que eu pinto, — sob os seus costumes diversos, casa-
ca ou batina. B é .o .por+uguez ^"endadelro. E' o iportuguez que te.m fei-
to PSte Portugal que vemos..." (Carta rexpondendo a um artlK» iiolire
OM MAIAH, por mim publicado no REPÓRTER. Dafa de 8 dc agonto dr
188K. lirUtol).
l'AGINAH ESQUECIDAS 403
FIALHO D'AIi>lEIiDA.
MACHADO DE ASSIS
CARTAS INÉDITAS
De V. Exa.
Mto. att." e adm°. obrigado
MACHADO DE ASSIS.
CAIÍTAS INÉDITAS ' 499
De V. Exa.
Att,° admor. e obr.° patrício
MACHADO DE ASSIS.
vo, imagem que llie fale língua iii- bahianos exercitavam a veia na f al-
telligivel ao seu mysticisnío conge- tura de obras profanas, nobilis-
nial só lh'a fornece a Bahia. San- sinias. Erotides, que nasceu em mea-
tos que attendeoi com os olhos a dos do século passado e tomando
todos os fieis, como aquella N. S. como professor a um celebre Bol-
ão Carmo e o Senhor da Medem- rão, tamanqueiro portuguez guin-
pção, de Chagas — o cabra, o- dado á esculptura á força de per-
quaes "qualquer que seja a posição severança, breve ao mestre excedeu
do observador, parece que o acom- "como Raphael a Peregrino", es-
panham com a vista devido & bfla espeeialisou-se em miniaturas em
colloeação dos olhos". Santos que jaspe e casca de cajazeira "no que
npiedam a alma como o celebre S. é inexcedivel". Suas obras espa-
Pedro de Àlcantara, do Convento lharam-se pelo mundo, sobretudo
de 8. Francisco, na Bahia, obra de Portugal, Inglaterra o França; seus
Manuel Ignaeio, tão sincera e com- typos de rua: ganhadeiras com ga-
movente que tentou a D. Pedro 11 mellas de fructas ou peixe, criadas
quando lá o viu. Quiz S. M. possuir eoni samburàs de compras, negros
a obra prima "mas teve que ceder aguadeiros, bufarinheiros, etc; seus
á resistencia opposta pelos fran- jaspes ".Grega domando ires leões''
ciscanos". Bellos tempos em que se "copia de uma gravura ingleza";
resistia j?,. vontade do imperante! Creoula em grande gala; a Vi-
Fosse hOjá e o proprio santo era vendo do Camponês," contendo ca-
capaz de vir a correr pelos proprios sa, arvoredo, curral de bois, uma
pés, na.ancia de "engrossar" o pa mulher com trouxa de roupa, duas
redro com antojos. ■ Os esculptores cabras pascendo, um cavalleiro,
'da Bahia no periodo áureo, gallinhas, pintos, pombos e outros
Chagas, Felix Pereira, Sabino dns animaes em redor da casa;" a Lu-
Reis, Manoel Ignaeio, Paranhos. cta de dois leões, dividida em tres
os Peçanhas, Baptista Franco, grupos; a Águia sxtspendendo um
Baião, Aurélio Silva, Sacramento, carneiro; outra apanhando uma co-
Setúbal, Erotides, Rocha Barros, bra; o TrabaUu) interrompido —
Lisboa, Gomes Júnior e outros, não tigre que decora uma cabra e "de
eram simples santeiros, eram de repente olha para os lados recean-
faoto esculptores porque punham i do alguma cousa" (esculptura aue
na sua obra amor, carinho o indi- talvez suggeriu a A. Júnior o S;'U
vidualidade. Profundamente reli- quadro celebre); Liecta do touro
giosos, mysticos por temperamen- contra dois leões e uma leôa (é no-
to, não por negocio, insuflavam no tável a inclinação de Erotides pa-
ibarro cosido, no ja^spe e na madei- ra lidar leões!); Veado sobre uma
ra todo o sentimento que lhes ia i rocha, tida como sua obra prima;
n'alnia, como aquelles artistas ita- | tudo isso e muito mais anda espnr-
lianos anteriores a Raphael, Frii j s) pelo mundo sem que a nossa cri-
Angélico, Donatello, e tuiti quanti. \ tica d'arte tome conhecimento dol-
Essa arte, caraeteristicamente ba- l las e lhe balanceie os méritos —
hiana e só lá reflorida, entrou a de- \ tanto vivemos alheiados de nós
cahir depois que com o engrossar j proprios. Rocha Barros esculpiu
do commercio passou d'arte a ne- bustos muito louvados, do Gutem-
gocio, e o artifice substituiu o es- berg, Galeno, Vitello (?) e Hugo;
culptor. Veiu em seguida a con- e Baiãio vários Caboclos e Caho-
corrência européa, a Italia despe- clas para as festas de 2 de Julho.
jou para cá imagens "lindas" fei- O leitor paulista abre a bocca
tas ás grozas por anarchistas atheus ante este dois de Julho. Que será?
e por machinas menos deistas ain- Foi aquella batalha homerica trava-
da.A esculptura bahiana cedeu o da nos areaes do Pirajá, cantada
passo aos invasores e mais não com fogo Erebico por Castro Alvs
disse. A par com imagens, gonero E' a hora das epo.peas
de grande sahida, os esculptor&o Das Iliadas reaes,
RESENHA DO MEZ
tuiu O sr. Mario Viltares Barbosa, e arduas lutas dos tempos remotos
aotualmemte ausente na Europa. das conquistas, quando diante da
Terminado o prazo do segundo bandeira intrépida e altiva se di-
concurso, reuniu-se de novo a com- latavam os limites do Brasil primi-
missão a 2 de Março e lavrou o se- tivo, como representa, ainda, com
guinte parecer: o seu braço armado e o seu guant-»
de aço, a acção sempre pujante do
"Aitendeaido, pela segunda vez, paulista em todas as phases do
ao appello da Prefoi.tura de São Brasil historico.
Paulo, numerosos concorrentes, em O autor adoptou para o emble-
um esforço brilhante, disputaram ma o metal symbolico da lealdad"?
a honra dc dar k cidade o seu bra- e da nobreza e, para o campo, o es-
zão do armas. malte representativo da altivez e
Em presença de todos esses pro- da aiidacia. Emblema, metal e es-
jectoa, a commissão nomeada para malte se completam em uma har-
os julgar deliberou classificar em monia perfeita, tornando o brazão
primeiro logar o n. 7; em segundo eminentemente parlante.
o n. 27 e em terceiro o n. 1. A ("ommissão julga, todavia, que,
Em virtude dessa classificação som alterar a concepção, algumas
ficam as armas de São Paulo cons- pequenas modificações contribui-
tituídas de aecôrdo com o escudo riam a dar maior realce ao escudo.
represeri^ido pelo projecto n. 7. O artista,' por exemplo, represen
A coíiiwiisão julgadora baseou a tou o braço armado movente do
sua escolha nas seguintes conside- flanço dextro e muito acertada-
rações: mente justificou essa disposição por
De todos os trabalhos (jue figu- ser esse o lado nobre do brazão.
raram no concurso, é o projecto n. Embora muito generalisada, essa
7 aquelle que obedece de uma ma- disposição, em heraldica, não é ri-
neira mais completa ao antigo e gorosamente correcta. Movente do
verdadeiro preceito heráldico, de flanco dextro, deve-se mostrar o
quo toda a belleza de um brazão de braço esquerdo do guerreiro. Mas,
armas reside na simplicidade de como o braço da acção é o braço
sua c.oncepção. O autor adoptou pa- direito e o emblema figura a mão
ra a fôrma do escudo a portugue- empunhando não uma simples ban-
za, ou flamenga; nesse escudo gra- deirola, mas uma haste lanceada em
vou apenas um emblema e era toda acha d'armas, somos de opinião
a sua composição, exceptuando os que seria preferível sacrificar a
attributos externos, emprego.u ape- idéa do lado nobre e, invertendo a
nas um esmalte e um srt metal. disposição, mover o braço direito
De todas as fôrmas de escudo, i' do cavalleiro do flanco sinistro, col-
a das antigas cidades e villas do locando ainda o emblema em uma
Portugal a mais singela e, adcj)- posição mais symetrica em relação
tando-a, o artista não só favora- ao chefe e ã ponta do escudo.
ceu o conjunto, como indicou, de A suppressão da esjiada de cópos
realce, a origem portugueza de 8. em eruz favorecia, igualmente, o
Paulo. aspecto do conjunto; obedece estn
Na impossibilidade material da suggestão á preoccupação >de não
representar dentro dos limites res- soteecarregar o brazão de emble-
triotos de um brazão toda a his- mas e de evitar a repetição de syii'-
toria da cidade, o autor teve a fe- bolcs.
liz inspiração de adoptar o único Sem entrar na discussão do crité-
emblema capaz dc resumir de uma rio a que obedeceu o autor do pro-
fôrma eloqüente toda a historia de lecto para a escolha das cores do
seu povo: — o syTnbolo do Bandei- corpo e alma da divisa que, aliAs,
rante, titulo de gloria dos filhos se afasta dos limites a que deve fi-
desta terra! — Do um jacto esse car circumscripto o brazão de ar-
symbolo não só evoca as primeiras mas do uma cidade, a coonmissão
ItKSBNHA DO AfEZ
cm 1 7 unesp' 10 11 12 13 14 15
REVISTA DO BKASIIy
• agia, Lloy<l George, homean since- nal, é uma grande fortuna para a
ro e forte, cheio de energias pri- Inglaterra, e a revelação da excep-
mo^iaes, não encontrou no seu es- cional dedicação politica desse po-
pirito nenhum obstáculo liistorico vo, que soube passar dos precon-
que impedisse de volver a sua enor- ceitos e das paixões de recentissi-
me capacidade de acção para uma mas luetas internas á situação actual
tarefa nova o adíiptal-a ás novas elegendo como se tivesse uma só
nocessidades históricas. E foi as- vontade, uma só voz, o homem que
sim que o tribuno subversivo de se mostrava mais apto para a tre-
hontem, o demagogo detostado não menda situação da guerra e para a
teve a menor difficuldade moral solução dos seus problemas comple-
om trocar o seu papel e converter- xos e vastos. Este facto do homem
se no supremo organisador e guia «xotico que justamente pela diversi-
do seu povo em guerra. Mas como dade de suas qualidades e capacida-
poude vencer as difficuWades ex- des relativamente á massa nacio-
ternas, como poude inipor-se, fazer nal chega a ser, num momento dado
cooii que o acceitasHem como o ho- da historia, o guia mais proprio d*i
mem do destino, os mosmos elemen- nação, tem-se repetido na Ilistori.i
tos da nação que até á vespera da algumas vezes. Ilo^mens como Maz-
guerra o consideravam como a su- zarini e Alberoni com a sua frie-
prema desgraça nacional? E' este za intellectual de filhos da Rena-
um dos mais delicados problemas scença italiana, com o seu . jspir:-
da psychologia colleotiva das na- to «ubtill, diidomatico e fritico,
çõee o das raças. Graças ao meu puderam reger os destinos da Fran-
profundo conhecimento da Ingla- ça e ITespanha e conduzir especial-
terra e do seu caracter psychologi- mente a primeira a uma profunda
co o moral, creio poder affirmuj transformação, precisamente por
ijue o assombroso êxito de Lloyd causa do contraste do suas quali-
Georgie é devido nada menos do dades co^m o temperamento apai-
que a isto: que Lloyd George "não xonado e primitivamente furbulen-
é inglez". Mas, ao contrario, repre- to dos i>ovos (]ue deviam governar.
senta tudo quanto se pôde imagi- Ila também o exemplo de Napo-
nar de mais contrario espirito dos leão, desse monstro genial e collos-
inglezes. Filho de Gallee, de anti- sal creador, de estirpe italica que
ga raça celtica, isto é, da raça que levou a sua noção de realismo a
foi combatida e repellida para as machiavelisnío e sua forç.a de von-
montanhas pelos invasores saxSes, tade a desordem sentimental e
Idoyd George, o proprio aspecto de theorica da Revolução Franceza,
sua pessrta, o olhar sonhador o il- dominando-a no interior e dirigin-
luminado, na paixão violenta a do-a no exterior á realisação do
concentrada, eoau que organisa a seu destino supremo de revolução
sua actividade consagrada á tarefa mundial. — (Olindo Malagodi —
que se inipoz, na multiplicidade si- La Nación— Buenos Aires).
multânea de sua alma, representa
mais violento contraste com as ca- j
pacidades certamente poderosas PORQUE MORREU METCHNIKOFF
mas lentas, flougmaticas, hiernr-
ehicas e disciplinadas do tempera- Apesar dos seus setenta e tre»
mento dos anglo-ataxões, que cons- annos, Metchjiikoff não morreu per
tituem o subtractum fundamental causa da sua edade avançada. Se-
da nação. Esta convergência de qua- guindo os seus pr0'prios ensinamen-
lidades e «ipacidades oppostae, do tos, havia-se oonservado sempre
ardente, rápido e múltiplo pensa- bem disposto e provavelmente t^-
mento e da actividade febril no es- ria vivido muito mais se não fosse
pirito celta de Lloyd George, com uma a.ffecção cardiacíi, hereditá-
a lenta, pesada, ponderada e disci- ria em sua familia. Ha muito tem-
plinada capacidade de applicação po elle sabia que essa doença lhe
própria da grande maioria nacio- I arrebataria a viila. Entretanto, el-
524 REVISTA DO BRASIL
goB que a velhioe produz. Isso foi, Cantos dei Trovador, além de dra-
para nós, uma coisa horrível, por mas, todos cheios de poesia. Em
mais que estejamos habituados á 1846 seguiu Zorrilla para França,
diseccação. Tivemos que cumpril-o, de onde voltou por ter-lhe morrido
e -descobrimos que realmente tinha a mão. Então voltou a Bordeus e
morrido de uma lesão cardiaca, sem Paris, vendeu á Casa Baudry a
que nenhum outro orgam estivesse propriedade de suas obras e con-
af£ecta<do. (Arno Dosch — F^eurot quistou a amizade de Dumas, Mus-
— World's IVorlc, Nova York). set, Gautier e outros. Morto seu
pae volveu a passar algum tempo
em sua casa solarenga de Torque-
ZORRILLA mada. Escreveu o grandioso poe-
ma de Granada em 1852 e em 1855,
Nasceu em Valladolid a 21 de depois de curta demora em Paris,
fevereiro de 1817 e ^alleceu a 23 embarcou para o México onde te-
janeiro de 1893, esse que bem se ve a amizade do desgraçado im-
pôde chamar o poeta dos poetas e peradoir Maximiliano. Após onze
que, segundo Menendez y Pelayo annos de ausência, voltou á Hea-
"será querido e admirado emquan- panha em 1866, vivendo e escreven-
to pulsar o coração liespanhol e do na Catalunha até 1881, em Val-
emq-uanto houver uma reliquia do ladolid e em Madrid. Em junho
espirito da nossa raça". Filho de de 1889 foi solennemente coroado
José Zorrilla, funccionario da Ad- em Granada e a 23 de jv')ieiro de
ministração da Justiça, Zorrilla 1893 baixou ao tumulo o poeta
passou alguns annos da sua meni- miaiis assombroso e popular que
nice em Vallodolid e depois em Se- tem tido a Hespanha. Porque na
vilha e Madrid, para onde se mu- verdade Zorrilla, mais do que ad-
dou a sua familia. Sendo em 1832 mirado, é querido por encarnair o
desterrado seu pae, acoanipanhou-io espirito não só da Hespanha mas
no exilio. Depois cursou alguns an- lie toda a raça lúspanica. A prova
nos de direito em Toledo e Valla- disso está na sua popularidade om
dolid. Mas tão mal se dava com as todas as republicas aul-americana»,
leis, que um dia, abandonando a popularidade tão grande ahi como
casa paterna, montou a cavallo e na península. Foi toda a sua vida
fez-se de rumo para a Corte. Tinha errante, um aventureiro, um bohe-
vinte aniios quando em 1837 o fi- mio, até que as cortes lhe votaram
zeram conhecido os versos que re- uma pensão em 1884 . Suas obras
citou no enterro de Larra. Nesse enriqueceram, entretanto, os livrei-
mesmo anno publicou o primeiro ros e continuam a enriquecer os
volume de suas Poesias, ao qual emiprezarios. Vendeu D. Jnan Te-
logo se seguiram outros seis em norio por uma somma Ínfima e no
que se encontram as suas melho- emtanto essa peça ha annos dá á
res composições lyricas: Indeeision, Sociedade de Autores mais do que
El dia sin sol, La ãuda, Gloria y todas as peças de todos os outros
orgullo; e as admiráveis lendas autores reunidos. .Támais poude
arrancadas á tradição popular: acabar Zorrilla qualquer coisa coon
Para verdades el tiempo, A buen perfeição: tinha nascido improvi-
juez mejor testigo, Eccuerdos de sador e elle mesmo confessa que
Valladolid, Príncipe y rey, Los dos El puüal dei godo foi escripto om
rosas, El capitan Monioya, Justicia vinte e quatro horas. O tempera-
dei rey D. Pedro, El esculptor y el mento poético de Zorrilla é emi-
dwque. Tinha surgido assim um nentemente épico e tem suas mais
poeta tão grande e tão liespanhol fortes raízes na imaginação. E que
como Lope de Voga, que convertia imaginação assombrosíi! Sou espi-
em épica moderna a mosma matéria rito está povoado de visSes, fantas-
legendaria que Lope fixara em mas, anjos e diabos, que, como diz
drama. Outros livros de versos pro- Valera, ora o exaltam, ora o ator-
duziu Zorrilla, e entre elles os mentam, ora o deleitam ou o ater-
520 RKVIKTA DO ÜUASIL
era considerada como uma grande tres milhões de mortos, por causa
desgraça, tanto quanto a perda da de um bisipo que tinha condemnado
liberdade. Não foi sempre igual, os cabellos e a barba. Mas o ad-
mas varia e incerta a sorte da bar- versário declarado invencível, teve
ba no decorrer dos séculos e atra- a barba na pessoa de Pedro I, b
vez ■ das peripecias politüeas. Ale- Grande, czar de todas as KaissiaB.
xandre, o Grrajnde, a fazia ra3i)ar Elle não podia tolerar a barba e,
aos seus soldados, julgando-a ap- querendo coiinb:vtel-a, roufiiu a 25
pendice perigoso na guerra. Car- de agosto de 1698 os maiores di-
los Magno, ao contrario, a fazia gaiitarios da Corte, isto é, as mais
conservar. E os marechaea de Fran- bellas barbas do Império. Escu-
ça tinham predilocção especial pe- tou-os a principio com paciência.
las costelletas. Tida a principio Mas logo, subitaimentc, tomando de
em especial consideração pelos pa- uma tesoura, cortou a barba ao
dres de Egreja (porque o barbear- feld-marechal Sohein, a líodono-
se significava ter a presumipção de wski e a outrús ainda. Em seguida
corrigir a obra de Deus), a barba a isso Pedro, o Grande, teve u^ma
foi depois objecto de anatlieanas idéia luminosa. Lançou imposto so-
em furibundas bulas papaes. Pela bre a barba: os grandes negocian-
metade do século XVI era proliibi- tes pagaraaii a cem rublos por an-
(lo aos bispos usar barba emquan- no a licença de a usarem; sessen-
to se reputava ornamento indis- ta rublos os cortezãos e os offícíaes;
[lensavel a barba aos embaixado- trinta, os empregados e os peque-
res. E' de lembrar-se o occorrido nos biirguezes; ura copek, '«j cainpo-
pom Luiz VIT. Em 1146, depois de nezes o os cidadãos. E o dinheiro
umas prédicas de Pedro Lombardo, ehoveu. Mas choveram também os
o rei se julgou obrigado, em con- protestos e as rebelliões. A barl)a
sciência, a dar o bom exemplo aos se tornou para alguns motivo do
serus subditos, submettendo-se ás orgulho nacional; para outros, si-
ordens dos bispos. E fez-so tosar a gnal de idéias revolucionárias. Dos
longa barba que lhe ornava o quei- tempos napoleonicos até a revolu-
xo. Eleonora d'Aquitaine, sua mu- ção de 1880, em França, traziam
lher, princeza caprichosa, revoltou- bigodes sómente os militares. Ho-
se contra isso, e quiz ridicularisar je, cahiram de moda as romaniticas
o esposo. O rei respondeai contri- eoistellotas, as barbas e os bigodes,
etameiüe qup não era aqnillo moti- as peras napoleonicas, etc. O habi-
vo para brincadeira, O tom de pe- to de escanhoar-se coanpletaanonte
nitente 0111 que falava o rei acabou se diffunde cada vez mais, especial-
|>or tomal-o ridículo aos olhos da mente nais classes elevadas. Cada
rainha, a qual prestou logo ouvi- vez mais nos tornamos calmos e po-
dos aos galanteios de um namora- sitivos e preferimos outros meio«
do pouco devoto de Pedro Lowibar- de ejqior as nossas idéias. Mas
do, mas em compensação dono de certa influencia èxcreem os acon-
□ma bellissima barba. Tiuiz VII, tecimentos soJjre a moda, embora
percebendo a coisa, censurou a es- a gravidade da hora que atravessa-
posa. Mas esta não só continuooi a mos não nos deixe pensar nisM.
fazer das suas, mas pediu e obte- Mas se ha uma barba que nos in-
ve divorcio. E quereis saber no que teresse 5 justamente a barba incul-
fundou a rainha o seu direitof "Eu, ta, íntonsa e aspera, a barba em
diz ella, fui enganada; pensei que batalha do heroico poilu. ■. (Gino
me casava com um príncipe e ca- Bellincioni. — Cultura Moderna —
sei-one com um... frade". Eleo- Milãe).
nora passou a segundas nupcias
com Henrique, duque i da Norman-
dia, depois rcd da Inglaterra, que AS CARTAS ANONYMAS
ella levou logo a mover guerra á
França. Pequenas causas, grandes Não é recente a mania de escre-
effeitos! Tres séculos de guerra e ver cartas anonymas. Na Bepubli-
528 UrCVISTA DO UIÍASIL
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