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B RA SIL 777
•'T* j f r '
RUA BOA VJSTA, 52 — Cx. 2-1) — S. P A U L O
Assignaturas: An no — 20íf000; Extrangeiro — 25$090
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REVISTA DO BRASIL
VOLUME XV
S E T E M B R O — D E Z E M B R O D E 1920
ANNO V
S. PAULO - RIO
BRASIL
LINIISP • BlWlWteea • AMI»
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REVISTA DO BRAS I t —
===== DIRECTOR: M O N T E I R O LOBATO
N.° 57 S E T E M B R O , 1920
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8 R E V I S T A 130 BRASIL
13 DE AGOSTO DE 1865
(Continua>
MYRIAM
C A R L O S DIAS F E R N A N D E S
(FRAGMENTO)
ACTO PRIMEIRO
Um dos salões do palacio de Pilatos em Bcrachat.
Seis grandes poltronas de ébano, d'altos espaldares,
de molde assyrio, dispostas ao fundo. Neste des-
tacam-se as figuras cm cinabrio de uma pintura
mural representando o Rapto das Sabinas. Nos
ângulos, duas enormes tripodes de bronze enci-
madas por incensorios. Aos lados, acubitos de car-
valho cobertos de pelles de leoparoo. Pende do
tecto um candelabro, engenhado de víboras de
bronze, cm cujas bôccas, voltadas para cima, se
engastam lothus. Um tapete phenicio cobre o
pavimento lageado de porphiro.
SCENA PRIMEIRA
SCENA S E G U N D A
PILATOS
Entre quem fôr.
MANLius (entrando)
Sou eu. Dás-me licença, amigo ?
PILATOS
MANLIUS
PILATOS
SCENA T E R C E I R A
BAR-ABBÁS (entrando)
Seja comtigo Zeus, Pilatos, meu senhor,
Romano cidadão, nobre procurador
De Tibério immortal, a que o mundo obedece...
22 REVISTA 130 BRASIL
PILATOS
BAR-ABBÁS
MANLIUS
BAR-ABBÁS
PILATOS (sarcastico)
BAR-ABBÁS
MANLIUS
BAR-ABBÁS (pathetico)
PILATOS
BAR-ABBÁS
PILATOS
BAR-ABBÁS
MANLIUS (ironico)
MANLIUS
BAR-ABBÁS ( a MANLIUS)
PILATOS (escarninho)
BAR-ABBÁS (unctuoso)
PILATOS (risonho)
MANLius (conclusivo)
BAR-ABBÁS
PILATOS (a BAR-ABBÁS)
BAR-ABBÁS (emphatico)
(Noutro tom)
PILATOS (epigrammatico)
Eis o judeu bufarinheiro e calculista,
O fino mercador, o traficante artista,
Que adquire por um para vender por mil.
E' todo manha, é todo aslucia, é todo ardil;
Põe a vida, a familia, a honra d'almoeda;
E com tal geito tece e com tal labia enreda,
Sorrindo• a reluctar, maneiroso e loquaz,
Que necessariamente acaba triumphando,
Sordido, mercantil, mas vendendo e lucrando!
(sentencioso)
BAR-ABBÁS
(Com hypocrisia)
(sae)
SCENA QUARTA
THORIX
PILATOS (a MANLIUS)
MANLIUS
SCENA QUINTA
CAIPHÁS (a PILATOS)
PILATOS
CAIPHÁS
GAMALIEL
Seguramente não!
CAIPHÁS
GAMALIEL (persuasivo)
PILATOS (desinteressado)
CAiPiiÁs (obvindo)
GAMALIEL (conclusivo)
PILATOS
GAMALIEL (reluctante)
PILATOS (embaraçado)
CAIPHÁS
GAMALIEL
PILATOS (enfadado)
CAiPHÁs ( c o m solennidade)
PILATOS (austero)
CA1PHÁS
GAMALIEL
CAIPHÁS
PILATOS
( E n t r a o servo TIIORIX)
THORIX (a PILATOS)
PILATOS
CAIPHÁS
GAMALIEL
PILATOS (amável)
SCENA SEXTA
PILATOS.
PILATOS (sombrio)
(Noutro tom)
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MYRIAM 33
Pilatos (commovido)
PILATOS
MYRIAM
PILATOS (enternecido)
MYRIAM
PILATOS
MYRIAM (cariciosa)
PILATOS
MYRIAM
PILATOS (sombrio)
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MYRIAM 35
MYRIAM
PILATOS
MYRIAM
PILATOS
PILATOS
MYRIAM
PILATOS
MYRIAM
PILATOS (sahindo)
NICOLÁU PERO
O allivio das mulheres enganadas, porém, era que ella não para-
va em parte alguma e vivia de déo em déo. Viéra d'ahi a sua al-
cuha de Chica Mudança. A ' chegada da sem-vergonha, as mu-
lheres de Tapioca prevendo desavenças conjugaes, trataram de
pór em seguro a fidelidade dos respectivos maridos.
Collaram-se a elles e mal cahia a noite, nenhum tinha licença
para sahir fora, inda que para coisas urgentes.
No primeiro domingo passado lá já a Chica Mudança a f f r o n -
tou os brios da população de Tapioca, cynicamente. De sainha
curta, cabellos aparados rente ás orelhas, como uma menina, su-
bira descansadamente a Rua do Commercio, bamboleando o corpo,
rumo da egreja.
As senhoras de Tapioca cerraram as portas e ficaram a espial-a
pelos desvãos. A i ! se olhos matassem, a Chica teria cahido de
chofre, em plena rua, espetada pelas espias.
Chegada á egreja, a Chica foi entrando, com um desembaraço
de quem está em casa sua. Approximou-se da pia, molhou o dedo
e benzeu-se, debaixo dos olhos arregalados dos circumstantes, apa-
lermados deante de tal atrevimento, e deixou-se ficar no meio
da egreja, em um logar á parte, ajoelhando-se e levantando-se con-
forme o sacristão mudava o livro em que rezava o p a d r e . . .
As mulheres piedosas — e Tapioca as contava em grande nu-
mero — estavam estouram não estouram de indignação:
— Ora vocês ja viram uma profanação destas? — cochichavam
umas ás outras.
Felizmente a mulher, antes do padre deitar a benção final,
lembrara-se de sahir, não sem, da porta, volver um longo e atre-
vidíssimo olhar para o grupo dos moços, <iue, mau grado seu, a
acompanharam, curiosos, até perdel-a de vista. Uns herejes!...,
disseram as beatas.
As moças também não deixaram de notar a curiosidade do gru-
po masculino, e um ciumezinho, misturado de despeito, picou-as
lá por dentro.
Mas, para garantia dos seus coraçõezinhos de enamoradas, os
moços de Tapioca não tinham lá o habito de trabalhar e consu-
miam os dias ponteando violas, com as algibeiras tão limpas de
dinheiro como a alma de peccados. Assim a vox populi deixava-
os em paz-para só desconfiar dos que possuiam o dinheiro ne-
cessário para peccar.
*
* *
*
* *
J. A. NOGUEIRA
XXXIX
Ia intensa a azafama no centro da cidade.
Bondes que chegavam do Braz, ou que desciam da rua Direita
e Marechal Deodoro, carros, carroças e automoveis, com estre-
pito infernal, a soar campanas, a buzinar, a rodar de todos os la-
dos, fazendo recuar em magotes a multidão apressada, o clamor das
vozes, os gritos de annuncio, o passar e repassar de rostos dos mais
variados matizes e aspectos, tudo como que arrastado num rede-
moinho fatal e louco, immensã mole disparatada, onde homens,
mulheres e creanças, representantes das raças mais diversas e ex-
tremadas, se baralhavam no mesmo tumulto de movimentos, de
attitudes e de sons — esse espectáculo, com ser diário e comezinho,
produzia na alma de Angelo effeito singular, comparavel ao de um
grande silencio de deserto. E vinha-lhe a sensação de estar só em
mundo longínquo e extravagante, afigurando-se-lhe que tamanho
revolutear de gente e de vehiculos não passava de vasta illusão,
de cujas espiraes procurava inutilmente libertar-se como de um
pesadelo estonteador, tenaz, confuso e m u l t i f o r m e . . .
O sol, batendo nos vidros dos mostruários fronteiros, produzia
a illusão de incêndios deslumbrantes. Senhoras ricamente traja-
das passavam imponentes, sem sorrisos, os rostos cobertos de car-
m i m . . . E uma sorte de immenso resfolego de machinismos, par-
tido não se podia saber de onde, parecia acompanhar o rythmo
da vida da cidade, áquella hora.
Angelo atravessou o largo do Thezouro, seguindo pela rua Quin-
ze de Novembro, rumo da Praça Antonio Prado. Seu estado de
espirito era um mixto de nervosismo e de desalento. Nos últimos
tempos havia-lhe diminuido enormemente a esperança de realizar
os seus sonhos. E sua alma entrára como num vácuo tenebroso
onde não existia nenhum motivo de viver. Todos os apoios moraes
de sua existencia faltavam, deixando-o como suspenso no nada.
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XL
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48 REVTSTA DO B R A S I L
tudes eram signaes do que lhes passava nas almas. Não poderiam
exprimir de outro modo o excesso de sua felicidade. Todas as
cousas que lhes surgiam aos olhos, uma arvore, uma casa, frocos
de nuvens, nada mais eram do que representações de sua ventura,
Sentiam-se a final ligados para a vida, e esta certeza os embria-
gava.
Não ha descrever o estado de espirito de Angelo. Seu amor era
uma exaltação nunca vista. Maria Luiza apparecia-lhe como uma
realidade superior a todos os sonhos. Tudo nella o encantava. A
maneira por que descerrava brandamente as palpebras e deixava
cahir, como uma fascinação, o esplendor de suas pupillas escuras,
o modo de fallar, de andar, de sorrir, o gesto harmonioso com que
apanhava as madeixas castanhas que lhe cobriam as o r e l h a s . . .
tudo nella afigurava-se-lhe divino e absolutamente bello.
Fôra difficil, se não impossível, descrever a emoção que expe-
rimentavam, a tempo que juntos, quasi roçando os rostos, olhavam
para fora. A cordilheira desfilava sempre, com os seus innumeros
picos, as suas anfractuosidades, as suas abertas confusas, onde pai-
ravam aqui e alli pedaços de nuvens como que cahidos do céo pelos
socalcos. Com a pertinacia de imagem obsessora, aquella faixa
escura, a correr no horizonte, em contraste com longa successão de
planícies que margeavam a via ferrea, fazia pensar numa forte
cinta de muralhas que fechassem um outro paiz mysterioso e in-
accessivel.
Maria Luiza sorria muito corada.
— Estamos ha não sei quantas horas a correr para aquelles pi-
cos e elles sempre a fugirem diante ,de n ó s . . . Parece que nunca
havemos de sahir destas planícies... Para que lado ficará Caxam-
bu, Angelo? perguntou olhando para a cordilheira.
— Não s e i . . . Mas tenho um palpite que deve ser atraz daquel-
las pontas que lá estão quasi a p a g a d a s . . .
E riam, infantilmente, contemplando as montanhas, que se di-
luíam no azul.
— Olhe, Maria L u i z a . . . Vamos fixar bem na imaginação esta
v i s ã o . . . K um pedaço da nossa v i d a . . . Nunca mais nos havemos
de esquecer daquella muralha escura, interminável, a correr dian-
te de nós, com os seus picos quasi sumidos no c é o . . . É uma emo-
ção nova, Maria Luiza.
Os dois agora, sem rirem, contemplavam deslumbrados a cinta
irregular da serra. Aquilio tudo eram como imagens enigmaticas
dos seus sentimentos. O trem rodava desabaladamente silvando de
espaço a espaço. O carro baloiçava-se com violência, obrigando-os
a estreitarem-se um contra o outro e a apoiarem-se com força ás
guardas das cadeira. Mau grado, porém, os solavancos, olhavam
P A I Z D E OURO E E S M E R A L D A 49
para fóra, como que fascinados pelos cimos das montanhas, que
a final pareciam approximar-se.
Possuia-os um estado de alma singular. As cousas baralhavam-
se-lhes no espirito, ganhando significações profundas e mysteno-
sas. E a cordilheira desfilava, galopava, avizinhava-se como um
muro descommunal, cortina escura e tortuosa, que fecha um
paiz encantado, num circulo sem aberta, em torno do qual gravi-
tavam com velocidade espantosa, sem entretanto nunca chegarem
ao ponto para o qual se dirigiam num como redemoinho vertigi-
noso. . .
Sempre que o comboio parava nas estações, divertiam-se em tro-
car observações sobre o que viam. Ora eram cousas, ora pessoas,
que lhes chamavam a attenção. E m Cachoeira surprehendeu-os o
desmesurado da plataforma, onde apenas duas ou tresjiessoas sur-
giam como perdidas num deserto todo comprimento. E m Cruzeiro,
depois de accommodados na "Rede Sul-Mineira", Angelo, por dis-
tracção, entrou a observar os typos ethnicos das pessoas que esta-
vam na plataforma. Contou cerca de meia dúzia de pretos, uma
gande maioria de mulatos e caboclos e apenas dous ou tres genui-
namente brancos. Eni algumas physionomias, apparentemente de-
licadas e extremes de mestiçagem, podia-se, comtudo descobrir
ainda um como esforço do typo caucasico para acabar de libertar-
se das fôrmas inferiores.
— Você já notou como é raro ver-se uma cara bonita e bem
feita por estas estações?
— Queria então — acudiu ella rindo — ver pelo caminho só ca-
ras bonitas?
— N ã o . . . Basta-me a sua v i s t a . . .
— Lisongeiro...
— Mas tenho a impressão de que estamos num mundo de esbo-
ços h u m a n o s . . . São os gnomos, Maria Luiza, os anões burlescos,
os geniozinhos maliciosos e as bruxas disformes com que os poetas
costumam rodear os a m o r o s o s . . .
— A h ! lembra-se daquella gravura do Figaro que vimos juntos?
— Pois é aquillo, a m o r . . . confirmou com alegria cada vez
mais expansiva. Tal q u a l . . . U m par de amantes abraçados,em-
quanto mil carantonhas, cada qual mais divertida, dançam ao redor
delles uma ronda p a v o r o s a . . .
E puzeram-se a rir perdidamente. Taes ninharias tinham o
condão de os divertir. Pois as insignificâncias com que pareciam
occupar-se não passavam de uma linguagem algébrica para seu
uso. No fundo sentiam ambos que aquillo era uma comedia agra-
davel para disfarçarem o immenso enlevo em que iam arrebatados.
Nisto entraram no carro diversas pessoas. O trem ia partir.
Soou um trilo, um apito, e as rodas moveram-se sem grande estre-
50 R E V I S T A 130 B R A S I L
Sobre este thema Flexa Ribeiro escreve no "Correio Paulistano" estas bellas
palavras :
"Sempre que o problema da revisão da escripta portuguesa emerge dos escombros
de outras anteriores reformas, — ainda depois da obra mestra de Gonçalves Vianna
— observo que um aspecto essencial é tenazmente esquecido: o psychologico.
Certa feita affirmei a Silva Ramos e Mario Barreto, dois delicados espíritos, escri-
ptores de escól e bons quilates, que a face esthetica que se relacionava com a psycho-
logia trazia graves tropeços a uma reforma simplista e muito radical.— E' claro que
os dois illustres philologos discordaram jubilosamente de minha opinião.
Persevero, porém, na minha velha affirmativa. Continuo a sentir que a palavra
tem uma dupla expressão : a do sentido e a da commoção. Ha um valor significativo
e ha um valor emotivo. E a obra de arte resulta da possibilidade de se crear, com a
explosão desses dois caracteres, uma energia mais numeroza, simultanea e succcssjya,
de imagens e analogias.
Com as palavras de um relatorio ministerial, é quasi possivel escrevesse um poema.
E' que a situação dos vocábulos na phrase — não me refiro á significação léxica —
altera, profunda e subtilmente, a expressão do termo, a sua irradiação syntaxica, o
seu poder de communicabilidade, a acção esthetica do período e, consequentemente,
a visão contagiosa do pensamento que elle encerra.
E' pelo numero de associações de sensações que se obtém a culminância de uma
grande commoção intcllectual. E o artista — muitas das vezes inconsciente — mede
a duração de seu poder expressional pela intensidade e quantidade dessas associações.
De conseguinte, todos os elementos são indispensáveis para facilitar, e em prodígios
fecundar, esse accorde, essa resonancia mental, que dilata a comprehensão e amplia
o própria significação. Desde a correspondência geral do termo com os demais cir-
cumvizinhantes, que uma visão peripherica abrange ao enxadresamento das palavras,
cté á graphia dos vocábulos, as letras são signaes provocadores de associações de con-
tiguidade e de semelhança. Como entre as cores, as idéas e as palavras próximas se
penetram.
Flaubert escrevia, no silencio do retiro de Croisset, ás margens descampadas do
Sena, cm quadro negro as phrases de seus livros — para ter a impressão visual das
letras, a imagem physica de seus contornos.
De tudo isso se deprehende que na escripta ha uma architectura: sua modificação
â fatal, mas, como nas fôrmas architectonicas, essa evolução é lenta c completa. Não
se crêa um estylo por decreto
BIBLIOGRAPHIA
BIBLIOGRAPHIA
S u m m a r i o p a r a uni e s t u d o completo
A f o r m a ç ã o do c a r a c t e r — Na p r i m e i r a a c a d e m i a — A p r i m e i r a
Victoria e os s e u s livros de contos — C a r r e i r a d i p l o m a t i c a — In-
f l u e n c i a e x t r a n g e i r a — As feições do p o e t a — E n s a i o s d e critica
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A R T H U R MOTTA.
PATRONOS E MEMBROS
Medeiros e Albuquerque
21 —Joaquim Serra, 1838-1888
MEMBROS C O R R E S P O N D E N T E S ESTRANGEIROS:
tropeiro a quem a mãe dera hospe- nejando a lingua com perfeito des-
dagem. São algumas semanas. Um embaraço, bem merece que, esque-
dia o capataz segue viagem. O so- cendo o fundo material da obra,
nho de Mariana se desfizera. Dá- encaremol-a de alto no que ella
lhe acolhida o sr. vigário, reveren- mais tem de arte. E' daquelles es-
do muito á Eça, quasi á Abel Bo- criptores que, pela fluidez e limpi-
telho... dez, tendem a abstrahir da palavra,
E' então o capitulo mais curioso : só jogando com os factos e a ins-
—o escandalo, depois a indifferen- piração que os preside. Debalde
procuraremos nelle a phrase bri-
ça, logo mais normalidade plena. A
lhantemente pessoal. De largas
villa se integra em todos os seus
perspectivas, ha de ser no romance
elementos. D'ahi para além, o des-
o que se chama o " creador".
tino de Mariana se vae definindo
até espraiar-se, afinal, no anony- Para isso, entretanto, terá que
mato dessas que, tendo brilhado se desvencilhar primeiro das in-
um instante nas pittorescas "capi- fluencias a que se prende: o velho
taes " do sertão, vão acabar na con- realismo sensual... A realidade
sumpção physica a vida animalesca não é, positivamente, apenas volú-
que levaram. Mariana, aliás, diffe- pia e sordidez. Sobejamente o pro-
re uni pouco: pagando o feio cri- vam os " realissimos " autores pau-
me, atufa-se numa tapéra da villa listas, que vêm dando tanta vida
natal, dalli só sahindo em noite ás letras nacionaes e entre os quaes
aziaga, olhos de fogo, labaredas na está muito bem o' novo romancista.
bocca...
ALMA CABOCLA — Paulo Se-
Os quadros, que atravez desse
túbal — S. Paulo — 1920 — Ed.
enredo nos apresenta, são typicos,
da "Revista do Brasil".
retratam a villa, sem pretenção,
naturalmente. Essa naturalidade Alma Cabocla é um livro feito, a
parece ás vezes excessiva. São cer- que se destina, graças ao seu nu-
tas paginas vulgares, a que falta o merosíssimo publico, a mais bella
aocento de interesse e vida, que em carreira. Revelação de um verda-
outras predomina. deiro poeta, correspondendo a ex-
Se o conjuncto não tem o aspe- traordinaria massa de leitores, é
cto inteiriço, do começo a fim, en- também a revelação de uma alma
tresachando-se as partes sem re- collectiva, até agora adormecida,
barbas nem lacunas, verdade é que á falta de quem arrostasse os ris-
impressiona favoravelmente, im- cos de entestar com ella. Paulo Se-
primindo no espirito memoria níti- túbal, senhor da situação e de si
da de uma cadeia de episodios, que mesmo, não desdenhou do thesou-
têm o dom inapreciável de interes- ro, não temeu a aventura. Despido
sar. de preconceitos, buscando a poesia
Da linguagemem em que é escri- onde ella está, simplesmente, sem
pto Vôo Nupcial não dissemos na- artificio, soube fazel-o com arte e,
da. E ' que Albertino Moreira, ma- si não nos deu tudo o que pode a
74 B1BLI0GRAPHIA
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RESENHA DO MEZ 79;
dade, em fazer uma versão italiana do em latim os que sabem latim. Eu como.
libreto, offertando-a ao theatro do Rio de todo o homem moderno, não sei latim.
J a n e i r o , onde s e r á r e p r e s e n t a d o pela p r i - E tenho passado muito bem.
meira vez. Dedicarei a partitura ao impe- Mas voltemos aos bobos. Não venho fa-
rador do Brasil e tudo isto, no meu en- lar do numero infinito delles, descrevendo
tender, terá excellentes resultados para cada um de per si. Seria querer historiar
mim". uma a uma as estreitas da Via-lactea. Ve-
Porque falharam estas intenções? Natu- n h o contar-vos somente dos bobos of-
ralmente, porque a Allemanha, vencida ficialmente conhecidos como taes atra-
pelo gênio victorioso de W a g n e r , esqueceu vés os séculos, os quaes na maioria, eram
o revolucionário para festejar delirante- muito menos bobos do que os que assim
m e n t e o c o m p o s i t o r , e p o r q u e o rei Luiz os consideravam, haja vista aquelle de
da B a v i e r a , a s c e n d e n d o ao t h r o n o , cha- Alexandre Herculano, que ria ás garga-
mou W a g n e r p a r a j u n t o d e si, conceden- lhadas dos ricos-homens que se matavam
do-lhe t u d o q u a n t o elle queria—um cul- para completar-lhe a vingança.
to, as c o r o a s v o t i v a s e o ouro. W a - Ora, o uso de sagrar um individuo ca-
gner, o p r e d e s t i n a d o p a r a falar aos çoista, feio, defeituoso, aleijado ou cheio,
sentimentos 'requintados a mais elo- de espirito como bobo, de dar-lhe a in-
quente e inspiradora linguagem ar- cumbência de fazer rir aos outros, re-
tistica, surgiu em Munich subita- monta ás mais antigas civilizações. Maspe-
mente, no meio de um clamoroso côro ro conta-nos, nas suas " " C a u s e r i e s d ' E -
de applausos, como um triumphador, para g y p t e " , a interessante historia do Danga.
de lá, mais tarde, ser expulso, coberto de Esse individuo era um daquelles anões
i n j u r i a s , de vociferações, de vilipêndios, que os viajantes egypcios encontraram
de s a r c a s m o s — d e s i s t i n d o d a s o f f e r t a s do além de Puanit, na região do incenso e da
i m p e r a d o r do B r a s i l : e por e s t a r a z ã o se canella. anões negros muito engraçados,
não cantou no Rio de Janeiro, em recita que dançavam admiravelmente chamados
de estréa, este " T r i s t ã o e I s o l d a " que ve- pygmeus por Herodoto, e que Stanley
nho de ouvir e que é um verdadeiro Evan- ainda encontrou na sua travessia. Cada
gelho de paixão, de belleza, de encanto, pharaó possuia um danga, que em sua pre-
de t e r n u r a e d e idealismo e t e r n i s a n d o , sença para alegra'1-o, dançava a chamada
pela immateralidade e pela pureza do som, " d a n ç a de D e u s " , porque o homunculo a
uma das maiores lendas da H u m a n i d a d e executava vestido como o deus barbaro
que ama e que s o f f r e t Ainda a tenho nos do seu pequeno povo — Bisú, deus do.
meus ouvidos, a essa musica que á pro- Puanit, jovial e feroz, de humor variavel,
f u n d i d a d e emotiva e á vibração dramatica pequenino, grotesco, de cabeça chamorra e
allia não sei que de angélico, de sideral, cabelluda, vestido com pelles de leopardo,
de e x t r a - t e r r e s t r e . . . que ás vezes brandia a espada e outras
O a l v o r e c e r d a luz m a t i n a l , como u m a fazia soar a pequena harpa triangular dos
alleluia, e n t r a no m e u c o m p a r t i m e n t o . A povos do deserto.
aurora, côr d e ouro e cõr de rosa, não tar-
E ' ainda Maspero nos seus " E t u d e s de
da a subir no azul como uma bençam e
Mythologie et Archeologie egyptienne",
como um hymno de claridade: e eu, no
quem nos (mostra, documentadamente a im-
enlevo em que m e abysmo, creio escutar as
portância desse bobo cortezão do qual pa-
vozes de " T r i s t ã o e Isolda", emergindo
pyros e inscriipções falam contando que,
do doce olvido do seu amor para se quei-
quando morria, logo Osiris mandava buscar
xarem suavemente do indiscreto alvor ma-
depressa a sua alma afim de divertir-se»
tutino!. . . "
olhando a sua dança.
Média, chegando até á E'poca moderna, nam. Estes cabem no seguinte limite:
uma longa procissão de bobos officiaes stultorum nutnerus est infinitus. Pro-
enche a historia dos homens, c u j a maio- curemol-a nos desprezados bobos, c u j a
ria é de bobos e c u j o s bobos são os alma de vingança, cheia de sentimento e
únicos, talvez, que de verdade tenham de targucia, comprimida pela estupidez do
espirito. Si não t ê m espirito mais que ambiente, tão bem souberam achar Her-
o commum dos mortaes, têm dado culano e Victor Hugo.
provas de ter, pelo menos, mais ver- N ó s chegaremos á conclusão de que Sisy-
gonha. J á não preciso falar do Triboulet phus, o anão engraçadíssimo de Marco
de Victor Hugo, que nos deu o " R i g o l e t t o " Antonio, era muito mais ladino do que esse
Vou ao sempre interessante Valério Má- ardente Imperator, que se deixou prender
ximo e nelle encontro uma historia sobre pela felinidade de Cleópatra e que se dei-
a companhia de foliões tocadores de flau- xou perder pela sua falta de habilidade.
tas, espeoie de bobos religiosos, que é N ó s nos compenetraremos, sem duvida, de
digna de registro. Esses truões, quando que Romano Boilas, o bobo do basileus
havia festas publicas ou particulares, só Monómaco, era positivamente muito mais
tocavam o u executarvam seus passos ou di- experto que o seu byzantino patrão.
ziam suas graçolas, perante o publico, d e Ao lado de cada culto historico ha u m
mascara. P o r que? P o r q u e tinham vergo- pobre bobo, c u j o nome ficou nos annaes da
nha. Aborrecidos com os romanos, resol- humanidade, talvez afim de mostar que não
veram uma feita mudar-se e foram para só o nascimento e as altas qualidades do
Tivoli. Porém, a gente de Roma pediu á estadista, do guerreiro merecem p r e m i o :
outra cidade que os recambiasse. Então os mais a f e i u r a esperituosa também.
tivolinos, tivolianos ou tivolienses, os em- Ao lado de Guilherme o Conquistador,
briagaram numa festa e os trouxeram a sempre se evoca a sombra de Berdri. J u n -
Roma, dormindo sobre o estrado dos carros to a H e n r i q u e I da Inglaterra, parece que
de bois. A sua mascara tradicional ex- sempre se vêem os vultos disformes de
primia a vergonha de que ficaram possuí- Roher e de Golfrid. O " s o u v e n t femme
dos ao serem surprehendidos naquelle triste v a r i e " de Francisco I tem sempre a
estado. E n t r e t a n t o , o seu exemplo não é acompanhal-o o sinistro ranger de dentes
seguido «pelos que não são bobos e diaria- do Triboulet.
mente se e m b r i a g a m . . . Não escaparam na época medieval á ma-
O velho Horácio perpetua n a sua obra nia, á moda de ter bobos nem mesmo os
os nomes de dois celebres bufões roma- homens rudos como o Mestre de Aviz,
n o s : Salernus e Pantolabus, ambos os preoccupados com a g u e r r a e com uma
quaes, para usar de uma expressão ultra- obra difficil. D. João I divertia-se em
moderna e ultra-elegante, faziam " g r a n d e extremo com as cambalhotas, as pilhé-
successo" n a corte imperial. rias, as caturrices e trotalhas do seu An-
Mais tarde, Marcial vem dizer-nos: Tc ncquim. Em Florença crearam a mais
succcssurum credo ego Panniculo. Pan- bella f a m a Marches», Stecchi e Martelli-
niculus é o primeiro arlequim do mundo, n o ; em Modena, Gonnela, favorito do
de cabeça raspada, roupa d e retalhos «multi- Duque O proprio Aretino se occupa do
cores, sandalias rasas, cantando sempre a Rosso, que foi bobo do g r a n d e cardeal
malícia e o espirito. E r a elle quem, n a Hippolyto de Medicis. Beatriz d ' E s t é não
festa, guiava a theoria foliona dos bobos: se contentou com um bobo só, teve t r è s :
os mímicos e os attelanes profisionaes. E é Janacci, que era anão e que era sábio;
Marcial mesmo quem nos conserva o nome Nanino, que era anão e que era negro,
dum dos "mor.iones" ou bobos comprados e Morgantina, que era anã e que era
pelos ricaços para seu divertimento pessoal: preta.
o nome d e Gargilianus, com o qual um ven- Vemos que não havia somente b u f õ e s ;
dedor experto lhe passára um conto de por vezes, havia também bufôas. E m mui-
vigário, dando-lhe um s u j e i t o imbecil e to menor proporção, porém. E ' duro, mas
sério em logar d u m alegre e intelligente, é forçoso confessar que sempre houve
intelligente como devem ser os bobos. menos mulheres de espirito do que homens,.
Com effeito, não procuremos no mundo E para ser bobo de verdade é preciso-
a •intelligencia entre os que delia se ufa- ter muito e s p i r i t o . . . H a dois únicos exem-
84 RESENHA DO M E Z 84;
pios conhecidos de mulheres que tenham E m litteratura é aquillo que Alencar es-
desempenhado as arduas funcçoes de bobo creveu com passagens transitórias em B e r -
da c ô r t e : essa escura M o r g a n t m a e a ce- nardo Guimarães e Manoel de Macêdo.
leberrima Madame d ' O r , a Mulher de Monteiro Lobato encarnou a sua observa-
O u r o , quasi anã, que pertenceu a P h i - ção n u m a ideia feliz, c na porta de um
lppe V I de Valois, r e i de F r a n ç a . buraco lobrego e esconço Jeca T a t u
Não somente reis de F r a n ç a , como " m a g m a " com o cigarro de palha nos beri-
Luiz X I I I , tiveram bobos como Angely. ços delgados, os fios raros da barba na
Os papas da Renascença seguiram o seu face esverdeada e fosca, olhando a mait-
exemplo. N a d a divertia mais Leão X do ta, sentado nos calcanhares. Appareceu a
q u e conversar sobre arte com o divino fogosa oppoaição dos Jecas em transição
Raphaël e depois escutar as facécias sobre evolutiva Creou-se o M a n é Chique-Chi-
o proprio Raphaël e sua arte que lhe di- que, esgalgado, escanifrado, cavalgando
zia o seu amado bobo — o anão Bara- um cavallo rachitico, de ancas a f u r a r a
ballo. pelle, contando aos pulos e á s revira-
Os proprios soberanos semi-barbaros, voltas proezas e façanhas guerreiras, com
scmi-byzanti-nos da Miscoria, não dispen- o chapéu de couro desabado, mettido a
savam o luxo dum bobo titulado. O falso duro, de faca á cinta, garroncha ao quar-
Demetrio da Rússia, sobre quem Mer- to, cigarro á booca. Quase immediatamen-
rimée escreveu paginas deliciosas, não se te apareceu o Géca Leão, com um fulgor
desacompanhava do seu Kochelef. E Pe- que lhe dá o seu papá Rocha Pombo.
dro, o Grande, q u a n d o foi attingido pela Surgem livros, l i s t a m e discutem, e
melancolia final dos degenerados, só se Géca coça a cabeça admirado de ser de
divertia com mascaradas em que vários um momento para outro, celebre. Mesmo
bobos tomassem parte, especialmente com o dr. Raul Azêdo, com doces provas de
a pantomima chamada "eleições do papa forte erudição, provou que Géca T a t ú
dos bobos". era um forte, o cigarro de palha, um mi-
Reis militares, abrutalhados e quasi mo- tho, o cachorro, e a " m a g m a ç ã o " apoiada
dernos, como Guilherme, d a Prússia, pae entre calcaneos e gluteus, infructe. Géca
de Fedrerico I I , não dispensavam também forte, Géca sábio, eu conheço muitos, po-
as saborosas graças dum Grundling. rém só ouzo apresentar o general Ron-
N o s tempos que correm, não alcançamos don. Géca n a porta do casebre, sentado
mais n e n h u m bobo officiai; porém, bobos no calcanhar, sugando a terra, ociosa e
officiosos, mais expertos do que n ó s todos triste, é peculiar a todo o norte do Bra-
jun/tos, quantos não temos conhecido,
sil. Mané Chique-chique é commum nas
c u j o s nomes não v ê m ao caso, e que têm
feiras sertanejas. Pelo exposto pode-se
gravitado em d e r r e d o r dos nossos presi-
prever que esses typos creados são típi-
dentes da Republica?
cos representantes duma grey numerosa e
João do Norte. conhecida. Não quer dizer que o sertane-
jo, luctando contra os elementos, arras-
("Correio Paulistano" — S. Paulo). tando as longas caminhadas sob um sol de
fogo, entrando destemido nas mattas ama-
zônicas, s e j a literalmente um Géca T a t ú .
A HUMANIDADE DE GE'GA-TATU' P o r e m , quem viaja e quem vê pelo ser-
tão o fatalismo sertanejo, a limitação da
P o r mais que se declare é se prove a
s u a agricultura, a 'ihstíncjtiva d e s c o n f i a n ç a
homogeneidade do typo brasileiro, salta-
pela civilisação, a sua habitual indolência
nos a vista, para cada cidade o s e u caracter
que o faz esquecer a rude licção das sec-
proprio e especiaes maneiras de ver e de
cas e n a d a encellefrar nos annos de inver-
observar. Debalde, em litteratura c de-
no, a sua palestra, a sua ignorancia po-
senho temos luctado para consolidar as li-
litica, emfim, os remedios populares, a in-
n h a s physico-psychicas do brasileiro. E m
g é n u a crendice dos curandeiros e das
desenho apparece no Brasil a copia do
meizinhas verá a immensa verdade das
Zé Povinho de Bordallo P i n h e i r o com
paginas vivas do " U r u p ê s " . A n n o s antes
adaptações em casacas e tangas, correndo
do Géca ser creado j á os vagos contorno«
a escala entre o clubtnen e o moruquixaba.
RESENHA DO MEZ 85;
do conto estavam esboçados no " T e r r a do bre e mais sympathico delia, o traço que
sol" d e Gustavo Barroso. D u r a n t e a secca f a r á p e r d u r a r a sua lembrança na nossa
deste anno, os s e r t a n e j o s descriam á historia, aquelle em que se alvitra ao Con-
uma da utilidade dos trabalhos encetados gresso a necessidade de fazer conduzir a
porque "secca e castigo vem do céo quan- lugar sagrado na t e r r a do seu berço os
do Deus, nosso Senhor manda", ahi está restos mortaes dos Imperadores do Brasil.
humanamente paraphraseado o "não paga Quando ultimamente passei em Lisboa,
a pena" do Géca T a t ú . Que tenham paciên- f u i com respeito e compuncção, visitar
cia, Géca é h u m a n o e vive. Não é preciso em S. Vicente d e F ó r a os corpos embal-
estender a generalidade do typo a todo samados d e D. Pedro. I I e de Dona The-
brasileiro, porem Géca conservador das resa Christiana.
relhas tradições,Géca nômade, desconfiado Voltei cheio de immensa tristeza. Ao f u n -
levando o incêndio á uma floresta para do d e corredores e arcarias claustraes com
destocar meio palmo de matto, Géca silhares de velhos azulejos, um guarda
usando da prodigioso fecundidade da abrira uma antiga e pesada porta de car-
t e r r a como refugio natural á sua indo- valho. Entrei numa especie d e sala baixa,
lência, existe, " m a g i n a " e é nosso con- abobadada, com lumiciras gradeadas que
temporâneo davam para o ar e para a luz. De u m
E é grata a verdade que Géca T a t ú lado e de outro, sobre um repaldo de
mesmo d e cocóras, com o cão magro á alvenaria, e no centro, sobre um andaime,
porta, a prole doentia, a casa enlameada, alinhavam-se caixões f u n e r á r i o s roxos,
o cigarro apagado atraz da orelha, votando vermelhos, purpurinos, azues, negros,
sem saber em quem, crendo em tudo, com verde-escuros, desbotados e empoeirados,
o tamborete de trez pernas e a viola tris- cada qual com um quadrado de vidro na
tonha levanta onde está o gonfalão vistoso tampa convexa, afim de se poder ver o
de uma variante á energia brasileira, res- rosto do morto. Muitos estavam fechados,.
peitada e seguida por uma boa porcenta- E e n t r e elles, o da nossa ex-imperatriz.
gem dos que habitam e são filhos da "di- Pelos vidros dos outros podiam-se vêr a
tosa pátria minha a m a d a " . face negra do príncipe D. Luiz Filippe,
o rosto escamoso, amarello manchado de
liiii/. «In Caruaru Cnnoudo. preto como uma f r u e t a apodrecida de
D. Luiz I , o vulto enorme e descomposto-
("A Imprensa" — Natal).
de D. Carlos; e do nosso D. P e d r o I I ,
sobre a alvura immaterial da barba, a
A MENSAGEM E O IMPERADOR linha nobre do nariz dominando as fei-
ções murchas, apagadas, tristemente de-
E ' opinião inteiramente assentada que, sapparecidas. Todos aquelles esquifes ti-
desde o inicio da Republica até hoje, ne- nham a f o r m a de velhos bahús, de malas
n h u m a mensagem presidencial teve o cunho archaicas. E ficou-me a impressão de q u e
carecteristico e o brilho da que o sr. Epi- eram os restos duma bagagem que ha-
tácio Pessoa enviou ao Congresso Nacio- viam esquecido de enviar para a eterni-
nal a tres de maio. Della logo se infere dade. . .
a sua honestidade de sentir e de pensar, a No espirito do nosso povo tão arrai-
sua larga cultura e o sabor pessoal que gado está o sentimento de respeito e ve-
elle tão bem sabe dar a todas as obras neração pelo velho monarcha, tanta se-
de mão, de maneira a mostrar sempre o gurança existe de que a volta dos seus
perfil completo de sua personalidade incon- restos é o pagamento, não integral, duma
fundível. divida de gratidão, que os termos da
A n ó s que somos e não pretendemos ser mensagem presidencial a respeito f o r a m
mais do que simples homem de lettras, não geralmente recebidos como se o sr. E p i -
nos compete vir aqui analysar os admirá- tácio Pessoa não tivesse feito mais do
veis pontos principaes dessa bella mensa- que interpretar o sentimento geral da
gem — questão dos navios, questões f i - nação. A volta dos corpos imperiaes ao
nanceiras e economicas, questões sociaes; Brazil é já hoje e m dia, apagados os
sim pôr em relevo, se ainda é possível, medos vãos e os rumorejos e cochichos
tanto assim tem sido posto, o traço mais no- do positivismo desmoralizado e moribun-
86 RESENHA DO M E Z 86;
do, uma verdadeira aspiração nacional, suas virtudes civicas e de suas grandes
ao encontro d a qual o chefe do Estado qualidades pessoaes. Embora não tivesse
foi com as palavras da sua mensagem sido para nós o estadista paternal que
que eternamente ficarão gravadas na me- foi, deu-nos pelo menos meio século de
moria dos brazileiTos. historia gloriosa no concerto das nações
O horror das resporasabl idades do-s do mundo, fez-nos d u r a n t e esse longo
homens que, em maioria, nos t ê m go- periodo vencedores pelas armas na Ame-
vernado fazia com que tivessemos re- rica, respeitados pela diplomacia na E u -
ceio até de tocar no assumpto. Mas o ropa, organizados e dignos no meio de
S r . Epitácio Pessoa, c u j o patriotismo povos nesse tempo anarchizados e ensan-
sadio e vibrante hombreia com o seu guentados. E r a , ademais, o representante
amor pela inteira responsabilidade de directo do rei que nos iniciara na vida
seus actos, moldou a ideia em f ô r m a s universal, abrindo os nossos portos,
seguras e pediu ao parlamento a con- creando as nossas artes, e do primeiro
substanciasse n u m projecto, a fim de imperador, o assomado e valente general
que a pudesse realizar praticamente. do Mindello, que, com todos os seus
Gesto corajoso e digno, gesto de pro- graves defeitos, teve a dedicação de es-
f u n d a justiça inspirado nos mais nobres posar nossa causa, de se tornar brasi-
sentimentos 1 leiro e de ser a figura de p r ô a de nossa
Temos nós, os brazileiros de verdade, independência politica. Ora, essas tra-
presentemente, a convicção de que um dições não se matam e sobretudo num
*dia raiará com um barco de g u e r r a povo que precisa delias.
transpondo a barra e trazendo a bordo Falham juizos de politicos ou de his-
os despojos f ú n e b r e s de quem muito toriadores no escorchar os actos dum
quiz ao seu paiz e ao seu povo. Houve homem sobrelevado aos demais em alto
quem, no Senado, consultado a propo- posto de governo. N u n c a falha, porém,
sito do retorno desses despojos, désse o juizo do povo que rodamoinha igno-
uma resposta que reputo covarde:— que rado e philosopha sem ninguém se d a r
isso interessava mais á familia do que conta. Esse já lhe deu a posição me-
ao governo. E* uma maneira de se recida de que goza no coração das
oppõr, sem a coragem das opiniões de- gentes brasileiras. De n a d a mais carece
finidas, ao desejo official. Isso inte- a memoria de D. Pedro, para sua intei-
ressa p r o f u n d a m e n t e á patria, porque, ra consagração, do que da volta dos seus
apezar dos seus possíveis defeitos ou restos mortaes — desejo popular que o
erros, P e d r o I I foi talvez o vulto mais sr. Epitácio Pessoa corporizou e expri-
nobre que t e n h a figurado nas paginas miu em tersos períodos n a sua admiravel
de nossa historia. A elle poder-se-ia mensagem. E é por este e por outros
dizer como aos Cesares, e com inteira actos que o povo sente que quem nos
j u s t i ç a : — I m p e r a d o r , Pacificador e Au- governa tem vontade própria e sabe re-
gusto 1 ceber e fortalecer as aspirações geraes,
Não é ao monarcha, ao testa coroada, como verdadeiro presidente que repre-
pela simples razão de que nasceu com senta o povo.
direitos a uma coroa, que a Republica
Quando o corpo vier, teremos mais ou
prestará essa devida homenagem; mas
menos aqui a reproducção das mesmas
ao grande brasileiro, ao patriota, ao ho-
scenas que em França se passaram quan-
mem que, se não conseguiu^ se não
do o almirante de Joinville trouxe a bordo
poude orientar a marcha da a d m n i s t r a -
de sua capitanea o corpo de Napoleão.
ção publica a contento dos espiritos mais
Salvarão os canhões dos fortes, as tropas
progressistas e mais adeantados na ul-
formarão em continência e o povo se
tima época do seu reinado, deixou e n t r e
agglomerará á passagem do cortejo f ú -
nós a mais alta e mais completa tra-
nebre, prestando todas as honras de che-
dição de bom senso e de honestidade,
fe de Estado ao morto illustre que foi
de compostura e de patriotismo, de jus-
o nosso chefe de Estado durante dez
tiça e de bondade serena.
lustros.
Fossem quaes fossem seus defeitos e
erros apagam-se, diluem-se á Maridade de Bem haja o sr. Epitácio Pessoa pelo
RESENHA DO MEZ 87;
•mais bello e mais nobre trecho de sua a F r a n ç a , para ser festejada, adulada,
mensagem. idolatrada pelo universo inteiro. A face
Já é tempo de mostrar que a Repu- dupla de sua civilisação, ao mesmo tem-
blica do Brasil não tem medo de fan- po sensual e mystica, fascinava e at-
tasmas, que está alicerçada definitiva- trahia todos os temperamentos. A arte e
mente na consciência nacional. Comple- a libertinagem, as excelsas, transcenden-
temos a medida generosa e digna pro- tes alegrias da vida espiritual, e aquelle
posta pelo presidente Epitácio, revogando filtro venenoso, o sortilégio do vicio, que
o banimento da familia imperial. Nós Félicien Rops imaginou derramado com
não temos mais o direito de impedir abundancia, pelo demonio em pessoa, no
algum brasileiro sem crime de pisar em ambiente duma Lutecia que a Santa Ge-
o sólo natal. E quando a Republica che- noveva de Puvis não mais protege, con-
ga a ter na cadeira presidencial homens vertia Paris no sonho inquietante, na
independentes, austeros, dignos, cultos dolorosa ambição de toda a humanidade.
e responsáveis como o sr. Epitácio Pes- De subito, irrompe a guerra, e a vio-
soa não pode mas temer coisa alguma. lação daquelle solo tão sagrado para n ó s
quanto o de A t h e n a s e o de Roma, foi
J o ã o «lo Norte. uma lenta, demorada agonia para todos
os povos. De todos os recantos do globo
("Correio Paulistano" — S. Paulo).
a f f l u i r a m peregrinos para combaterem so~b
as ordens de J e a n n e d ' A r c e de T u r e n n e ,
A THERAPEUTICA DA resurrectos por um milagre. E assim uma
causa puramente nacional se t r a n s f o r -
F RA N C O P H I LI A
mou numa causa h u m a n a . . . .
Si a conquista da estima e conside- Mas, por effeito precisamente de seu
ração dos outros, si a conquista dessa prestigio mental sobre todo o mundo, a
cousa o n d u l a n t e e vaga, quasi indefi- F r a n ç a teve a desventura de ser a vic-
nível, mas absosolutiamente indispensá- toriosa. N a exaltação do triumpho fun-
vel ao conforto da vida moral — a sym- de-se-lhe, desapparece-lhe a graça lendaria,
pathia — é e x t r e m a m e n t e difficil entre esvae-se-lhe desoladoramente uma seduc-
o s indivíduos, reclamando destes uma ção que bem pudera ser immortal. O
arte subtil e delicada, muito mais o é egoismo bestial da raça, outr'ora disfar-
entre as collectividades. P a r a que a Na- çado pela preoccupação da elegancia mo-
ção consiga fazer-se respeitar pelas de- ral, o f f e r e c e á contemplação dos pobres
mais, bastará que ella cultive e amplie a idealistas decepcionados um dos mais
própria efficiencia militar, hábil itando-se abjectos panoramas da historia.
se a desenvolver em favor das suas ambbi- Curado o genero humano de sua antiga
ções, por mais revoltantes e odiosas que francophilia, ver-se-á mais tarde que foi
sejam, o melhor, o mais alto, o mais a F r a n ç a a grande derrotada de 1 9 0 8 . . .
puro de todos os argumentos — o ar-
gumento da força, tão do gosto do leão, O I>lÍMiiiithropo.
("A Rua" — Rio).
n a fabula immortal. Fazer-se amar, po-
rém, é empenho infinitamente mais ou-
sado, exigindo, como de certo exige, uma QUAL E DE QUEM A VICTORIA?
r a r a intuição dos phenomenos compli-
cadíssimos da psychologia oollectiva, um Guerra é guerra. Paz é paz.
tacto seguro na escolha das attitudes de Ora, a g u e r r a . . .
convenção que podem constituir a ina- E m cada um de n ó s , a despeito da
tacavel conducta de um paiz, e, para nossa civilização, existe um selvag-em,
tudo exprimir em synthese, a facul- entregue, a um somno mais ou menos
dade, em treino continuo, de dissimu- p r o f u n d o . De onde em onde, o monstro
lação, de hypocrizia. accorda e ameaça levantar-se, vae então
A França, por um favor dos deuses, o "homem civilizado e o detem, não sem o
d e s f r u t o u , através todas as edades, este cobrir de objurgatorias, em nome de uma
privilegio dos mais invejáveis: era suf- serie de princípios que elle não compre-
ficier.te que fosse o que era, que fosse hende. Abatido, humilhado, envergonha-
88 RESENHA DO M E Z 88;
Não fosse isto resultado de um real pa- Isto é tanto mais verdadenro quanto
vor, e teríamos o direito de perguntar aos evidente a derrota d a victoria, logo q u e
alliados se a occasião é para pilharias. esta se verificou.
Mas, em summa, de quem a victoria?
De todos contra um, grupados aquelles c m * * *
torno d e tres figuras centraes: F r a n ç a , D u r a n t e os q u a t r o annos de guerra,
Inglaterra e Estados Unidos, em que os allemães foram apontados ao mundo
pese aos alliadophilos, para empregar o como uns monstros de proporções inaudi-
neologismo patusco. E me não parece tas. T u d o o que «elles diziam — m e n t i r a ;
dfficil dizer qual dos tres paizes repre- tudo o que elles praticavam—barbaridade.
sentou ma ; s importante papel naquella De mentirosos e barbaros tão sómente se
centralização. compunha aquelle povo, c u j a superiori-
A Inglaterra entrou primeiramente oom d a d e " o m n i m o d a " os seus inimigos apre-
a sua esquadra. P a r a muita gente, para goavam vinte e q u a t r o horas antes d e
quasi toda a gente, a esquadra ingleza é romperem as hostilidades.
a própria victoria fluetuando. Por que não Não censuro nos alliados a mentira, a
partiu ella sobre a allemã, destruindo-a invenção d e tantas barbaridades: estavam
por completo, logo nos primeiros dias da no seu direito: g u e r r a é g u e r r a . Se é pre-
g u e r r a ? Um almirante francez, estudando ciso mentir para salvar a patria, ou mes-
a tactica naval dos alliados, declara não mo para ganhar uma batalha, minta-se,
comprehender essa attitude dos marinhei- e d e p o i s . . . uma estatua ao mentiroso, es-
ros inglezes, essa defensiva passiva, sys- culpindo-se a mentira n o pedestral.
tematicamente empregada pelo mais for- O inqualifcavcl em tudo isso está no
te contra o mais fraco... despejo com que se mentiu á humanidade
A esquedra ingleza é uma quantidade inteira, perante a qual tomou o compro-
formidável e única. Nas mãos da Allema- misso de combater pelos altos princípios do
nha, até o mundo da (lua teria periclitado. direito e da moral. Esses principios —
90 RESENHA DO M E Z 90;
dizia-se — precisavam ser quanto antes zas deram a mães allemãs, quando estas,
restaurados, em beneficio de todo o mun- t e r m i n a d a a luta, imploraram áquellas um
do, mcluiindo o proprio povo allcmão, victi- pouco de piedade e de caridade p a r a com
ma de uma politica feita de iprussianismo. os prisioneiros de g u e r r a .
E foi assim que se alconçou t r a n s f o r m a r a E s t á na oonsaiencia de todos que não ha
g u e r r a de um contra muitos n u m a g u e r r a n a historia exemplo de g u e r r a t a m a n h a ;
de todos contra u m . V e i u a paz, causando mas força é confessar que não ha também
logo indignação a todas as consciências re- exemplo de t a m a n h a decepção.
ctas o modo como a a r r a n j a r a m . O fam-ge- A victoria, t r a : n d o , entrou em luta
rado conselho dos cinco e n f e i x o u nas mãos com aquelles altos principios que ella dizia
todos os poderes, v a r r e n d o com um deli- amar de todo o seu coração. Felizmente
cado pontapé as pretenções daquelles po- para a humanidade, porém, t r i u m p h a r a m os
vos que tiveram a ingenuidade de acreditar principios, e a victoria foi estrondosamente
no amor aos altos principios do direito derrotada. Cada um dos Estados victoriosos
e da moral. E r a f i g u r a proeminente no sente q u e lhe f a l t a apoio d e n t r o da) |propria
conselho o homem que logo conquistou, nação por elle infelicitada, e que a consciên-
com applausos u n i v e r s a i s , um cognome cia h u m a n a repelle indignada essa obra
altamente honroso e significativo: tigre. de u m a paz toda feita de m e n t i r a e ini-
Pacificador capitaneado por u m devora- quidade.
dor de homens/... E m seguida, o ri-
Não vejo aqui a Allemanha, nem me
dículo caiu em cheio sobre o conluio:
estou batendo pela Allemanha — note-se
sacco de gatos. E aquelles g r a n d e s e
bem. Seria um horizonte nimiamente es-
nobres ideaes que da livre America
treito para a amplitude do meu modo de
partiram, (previamente triumphadores, no
sentir e pensar. Falo do reino d a verdade
bolso de um c h e f e de Estado, que, no f i r m e
e d a justiça. P a z é paz.
proposito de os impôr, desceu a f i g u r a r
e n t r e simples ministros? Tão grandes, tão Vencedores vencidost a vossa victoria
nobres, tão puros e r a m aquellas ideaes, s o f f r e u a mais formidadevel derrota que é
q u e o seu portador, t e n d o nas mãos uma dado imaginar: a derrota moral em to-
f o r ç a colossal para os fazer victoriosos, dos os pontos do globo. Ella não d á , por-
deixou que se esboroassem ao pr'meiro tanto, para arrogancias nem orgulhos.
e m b a t e com o apparelho digestivo do con- E que dizer das novas vclleidades mili-
selho. taristas e imperalistas?
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