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Roy Strong - Banquete Uma História Ilustrada Da Culinária Dos Costumes e Da Fartura À Mesa
Roy Strong - Banquete Uma História Ilustrada Da Culinária Dos Costumes e Da Fartura À Mesa
BANQUETE
Uma história ilustrada da culinária,
dos costumes e da fartura à mesa
Tradução:
Sergio Goes de Paula
com a colaboração de Viviane De Lamare
Prefácio
1. CONVIVIUM: EM ROMA…
A herança grega
A idade de Apício
Cena e convivium
Banquetes públicos e banquetes imperiais
Desintegração e sobrevivência
4. O RITUAL RENASCENTISTA
O requinte da culinária
Plínio revivido e a reinvenção da sala de jantar
O convivium revivido
O banquete do Renascimento
Da festa à fantasia
A refeição de açúcar e o banquete
Refeições e o mistério da monarquia
ROU STRONG
The Laskett, Much Birch, Herefordshire
setembro de 2001
Segue-se um novo excesso: as mãos dos convidados não são lavadas com
água, mas com vinho, por dois etíopes de cabelos compridos. Surgem jarras
de vidro com vinho de Falerno de “cem anos de idade”. Ocorre então uma
coisa estranha: um escravo traz um esqueleto de prata, e Trimálquio
arruma-o à mesa numa série de posições diferentes. O primeiro prato da
cena propriamente dita é uma travessa circular com iguarias para cada signo
do Zodíaco — rins para Gêmeos, carne para Touro, grão-de-bico para
Capricórnio, e assim por diante. No centro, um quadrado de turfa sustenta
um favo de mel. Um escravo egípcio serve pão, aparentemente ainda
cantando, pois Trimálquio o acompanha “com uma canção estridente”.
Encólpio e Ascilto, que são aristocratas e todo o tempo zombam da
vulgaridade de tudo, lamentam a perspectiva de terem de se alimentar com
comida plebéia. Mas subitamente quatro escravos dão um salto e revelam
que o Zodíaco é apenas uma tampa, que eles abrem:
Vimos aí galinhas, úberes de porcas e no centro uma lebre com asas, um verdadeiro Pégaso.
Vimos também quatro representações de Marsias nos cantos do prato; de seus odres
perfurados jorrava vinho sobre os peixes que, por assim dizer, nadavam num canal.
A HERANÇA GREGA
Já no segundo milênio antes de Cristo, partilhar comida e vinho como
contraponto social para um contrato escrito — como ocorre num casamento
ou num tratado — era costume estabelecido entre os babilônios. Os
monarcas mesopotâmicos produziam banquetes estupendos para
acontecimentos importantes, como uma vitória militar, a chegada de uma
embaixada, a inauguração de um novo palácio ou templo. A etiqueta nessas
ocasiões era sofisticada: o rei sentava-se à parte, reclinado num divã, com a
rainha por perto e os convidados colocados em grupos, segundo seu status.
Servir o vinho envolvia um grande cerimonial. Havia o ritual de lavagem
das mãos — os convidados recebiam um frasco de óleo perfumado com
cedro, gengibre e murta, com o qual se untavam no começo e no fim da
refeição. Carnes cozidas e grelhadas eram servidas em fatias de pão,
seguidas por uma sobremesa de frutas e tortas adoçadas com mel. Havia
também música, canto, malabaristas, palhaços, lutadores e atores.
Tais festividades se realizavam em grande escala. Assurnasirpal II (883-
859 a.C.) inaugurou seu novo palácio com uma festa que durou dez dias,
para nada menos que 69.574 convidados. Eventos desse tipo tinham um
papel da maior importância na política dinástica. As provisões consumidas
mostravam claramente a todos os presentes que o soberano poderia dispor
de tributos de todo o vasto domínio persa. A comida e a bebida trazidas de
regiões remotas enfatizavam a prepotência do governo, e a própria refeição
deixava manifesta a aliança da monarquia com as grandes famílias
aristocráticas. Um aspecto desse grande espetáculo é especialmente
significativo para a história da mesa. Os representantes dos domínios reais
que desejavam bajular o rei enviavam deliberadamente iguarias para tentar
o paladar real e o apetite dos convidados poderosos. Desde essa época, bem
no início de nossa pesquisa, um fenômeno é evidente: o uso de ingredientes
raros e o desenvolvimento da haute cuisine como decorrência da hierarquia
ligavam-se claramente à manipulação de um grupo por outro com
finalidades sociopolíticas.
De maneira semelhante, no Antigo Egito o banquete era um importante
ritual social. As pinturas nas paredes dos túmulos provam isso. Vemos
convidadas oferecendo flores, provavelmente ao chegar, a comida servida
em procissão, inúmeros servos, música e dança. O banquete, mesmo
naqueles tempos remotos, já era uma experiência estética que ia muito além
do mero consumo da comida, abarcando a elegância da roupa, tipos de
condutas, cerimonial e todas as formas de entretenimento teatral.2
Tudo isso teria uma profunda influência sobre a Grécia, que se tornou
uma importante civilização a partir de unidades agrícolas isoladas e de
pequenas cidades muradas, como é relatado na Ilíada e na Odisséia.
Contudo, até mesmo na sociedade homérica o banquete era lugar de
ostentação e prestígio. Nas palavras do herói Odisseu:
Quanto a mim, digo que não existe alegria mais completa do que o povo tomado de
contentamento, e os comensais nos salões, sentados na ordem estabelecida, escutando um
menestrel, à sua frente as mesas supridas com pão e carne, o vinho despejado dos vasos e
servido nos copos em várias rodadas. Isso parece, para meu espírito, a mais bela coisa que
existe.3
Jantar na Grécia Antiga. A comida está na mesa do comensal, e ele pede bebida. Pintura de vaso,
c.480 a.C.
A IDADE DE APÍCIO
A dieta romana também era mediterrânea, mas com uma diferença.14
Enquanto a base da culinária grega havia sido o mar, os romanos olhavam
para a terra, e sua atitude em relação à comida e ao ato de comer era
dominada por uma dualidade. Os alimentos eram divididos entre fruges,
produtos do solo (e portanto basicamente vegetarianos) e percudes, comidas
derivadas de animais ligados — como no caso dos gregos — ao sacrifício
ritual. Bois, carneiros e porcos eram usados para sacrifícios públicos,
enquanto ovelhas, leitões e frangos empregavam-se privadamente. Também
em comum com os gregos, o consumo da carne do sacrifício — confinado
às classes superiores — identificava os membros civilizados de uma
comunidade. Os que se comportavam como as tribos germânicas, cuja dieta
consistia em grande parte de qualquer tipo de carne, eram considerados
bárbaros.
A dualidade romana a respeito dos alimentos manifestava-se de várias
outras maneiras; talvez a mais marcante seja o contraste entre os dois ideais
de frugalidade pessoal e hospitalidade pródiga. Esse contraste é
perfeitamente sintetizado na natureza das duas principais refeições de um
dia romano qualquer. O prandium, espécie de lanche ao meio-dia, muitas
vezes era pouco mais que as sobras do dia anterior, comidas de pé. A cena,
por outro lado, ou sua forma mais grandiosa, o convivium, era uma refeição
substancial e podia implicar uma copiosa série de pratos cozidos, comidos
numa posição reclinada, junto com os convidados. O prandium tinha o
mero propósito de encher o estômago para que se pudesse continuar com os
afazeres do dia, o negotium. O tempo da cena era o do otium, o período de
lazer que se seguia à atividade, quando a pessoa podia legitimamente
encontrar satisfação em entreter a “goela” com ricas iguarias, ingeridas por
puro prazer.
À medida que Roma passou de república a capital de um vasto império,
o contraste entre essas duas abordagens da culinária foi percebido pelos
moralistas, que viam nos luxos modernos um sinal de decadência
comparado à nobre frugalidade dos tempos passados. Na verdade as
satisfações complacentes estavam à disposição de quem podia pagar por
elas. À medida que o Império crescia, as iguarias do mundo conhecido
fluíam para Roma. Aulos Gellius, em seu Noctes atticae, descreve uma
sátira de Marcos Varro (116-27 a.C.) que mostra até que ponto esse tipo de
gulodice imperial podia chegar. O poeta em sua sátira “trata da elegância
sofisticada nos banquetes” e lista as iguarias que os glutões buscavam:
… estas são as variedades e os nomes das iguarias que ultrapassam todas as outras, que uma
goela sem fundo caçou e que Varro analisou em sua sátira, com os lugares onde são
encontradas: pavão de Samos, pica-pau da Frígia, garças de Média, cabritos de Ambrácia,
ostras de Tarento, amêijoas da Sicília, peixe-espada de Rodes, lúcio de Cilícia, nozes de
Tassos, tâmaras do Egito, bolotas de carvalho da Espanha.15
CENA E CONVIVIUM
Os romanos dividiam o dia em duas partes — 12 horas de dia e 12 horas de
noite —, pontuadas por três refeições. A primeira, jentaculum (desjejum),
imediatamente após o despertar, consistia de pouco mais que um lanche de
pão e frutas. A segunda, prandium (almoço), não tinha hora nem lugar fixos
e consistia, como vimos, de alimentos simples, destinados a manter a
pessoa durante o dia de trabalho.21 Sua frugalidade era vista como exemplo
das virtudes romanas.22
A única refeição propriamente dita em todo o dia era a cena ou fercula
(ceia ou jantar), normalmente na nona hora. No verão, isso significava entre
14h30min e 15h45min, e no inverno entre 13h30min e 15h. No passado, a
cena era ainda mais cedo, seguida por um segundo repasto frugal chamado
vesperna, à noite. Com o advento da luz artificial ela passou a ser realizada
cada vez mais tarde — como o jantar no século XIX — e se tornou o mais
importante evento social e culinário do dia. Quando a cena era farta e
incluía convidados, era um convivium, a versão romana do jantar de gala. O
orador Cícero acreditava que esses eventos eram o coração da vida
civilizada romana: “Pois foi uma boa idéia de nossos ancestrais a presença
de convidados numa mesa de jantar — pois isto implicava uma comunidade
de prazeres — de convivium, ‘viver em conjunto’”.23
Graças à influência etrusca, o convivium romano diferia de seu
predecessor grego no sentido de poder incluir mulheres entre os
participantes. Sua centralidade na vida romana decorria da complexa
tentativa de alcançar um equilíbrio perfeito.24 Quem não oferecia convivia
era chamado de avarus, enquanto quem comparecia a muitos era castigado
como parasitus. Para o anfitrião, o objetivo era evitar uma aparência de
sovinice e uma ostentação desnecessária. Os escritos de Cícero, Sêneca,
Tácito e Plínio o Moço estão cheios de relatos de membros das classes altas
jantando juntos, na cidade ou nas vilas, no campo ou no litoral. Para tais
pessoas, o convivium era uma elegante cerimônia de civilidade, ocasião em
que o homem privado saboreava suas realizações e, em certa medida,
exibia-as a seus pares no cenário de sua própria casa ou família. Como
mecanismo social, o convivium era tão importante para os romanos como o
salon para a França do século XVIII, ou o jantar de gala para a Inglaterra
vitoriana.25
Na verdade, ao final do período republicano, o convivium exigia roupas
especiais.26 A synthesis combinava uma túnica com um casaco diminuto
(pallium), ambos feitos do mesmo material, com coloridos brilhantes e
elaboradamente bordados. O pallium podia ser leve ou pesado, dependendo
de estação e temperatura. O tamanho e a maneira como era dobrado variava
de acordo com as preferências pessoais e a ocasião. A synthesis também era
usada pelas mulheres. Diferente da familiar toga, só era usada
privadamente, jamais em público. Os vaidosos às vezes trocavam diversas
vezes de synthesis durante um único jantar. Marcial zombava de Zólio por
trocar de roupa nada menos que 11 vezes.27
Na Roma de meados do século IV, Amiano Marcelino, o último grande
historiador latino, lamentando a indulgência e a decadência dos nobres,
escreveu: “Suas idéias de civilidade são tais que é preferível um estranho
matar o irmão de um homem que não comparecer a um jantar ao qual tenha
sido convidado.”28 O jantar de gala romano começou como a pura expressão
de uma elite da sociedade republicana, essencial para sua coesão social. Na
ausência de uma corte imperial, servia para reunir pessoas poderosas e
iguais, embora, naturalmente, muitas vezes incluíssem dependentes e
penetras. No entanto, durante o período imperial o jantar de gala passou a
ser visto como sobrevivência de uma era extinta, a ocasião em que anfitrião
e convidados de vários níveis podiam se comportar como iguais em torno
de uma mesa. Esta ao menos era a maneira como se viam os velhos
convivia republicanos em retrospecto — ocasiões agradáveis e sem
distinção de classe, em que as barreiras sociais eram suspensas, as
convenções normais relaxadas, e os “inferiores” tinham permissão de fazer
livremente observações audaciosas sem temor de recriminação. “Sirvo o
mesmo para todos, pois quando chamo meus convidados é para uma
refeição, não para fazer distinções de classe”, escreveu Plínio o Moço.
“Trouxe-os como iguais para a mesma mesa, portanto dou-lhes o mesmo
tratamento em tudo”.29A realidade tornava-se muito diferente. Os jantares
festivos em Roma eram como os de hoje, na base de quem é convidado e
quem não é. Como sempre havia os convidados para serem julgados quanto
à adequação, e muitas vezes não eram chamados de novo. Um conhecido
graffito dos muros de Pompéia resumia isso: “O homem com quem não
janto é um bárbaro para mim.”30
A verdade é que, embora a pretensa noção de igualdade continuasse ao
longo do período imperial, tais eventos eram exercícios hierárquicos de
precedência, e quem tinha uma posição senatorial ou militar, ou quem era
conselheiro local ou magistrado, desfrutava uma posição que os que eram
apenas ricos não alcançavam.31 O imperador Augusto oferecia os chamados
cenae rectae (jantares formais) “com atenção estrita à posição social e aos
indivíduos”. Os romanos eram obcecados por hierarquia, profundamente
preocupados com conceitos como dignitas e existimatio, liberalitas e
munificentia, todos virtudes patrícias. O imperador Domiciano pode ter
convidado diferentes ordines (categorias) a seus cenae rectae e até a seus
cenae publicae (banquetes oficiais), mas é claro que havia uma rígida
segregação de convidados em termos de posição, e também uma distinção
no que era servido à mesa. Mesmo antes do final da era republicana
ofereciam-se pratos diversificados a convidados de diferentes categorias.32
Quando Cícero recebeu Júlio César em Puteoli durante a Saturnália de 45
a.C., os convivas jantaram em três mesas separadas. Todos comeram bem,
mas os convivas da segunda e da terceira mesas não tão bem como os da
primeira.33 Plínio é mordaz quanto a esse comportamento e envia uma
descrição de um jantar como um “exemplo de alerta” a um jovem amigo:
“Os melhores pratos eram postos diante dele mesmo e de alguns escolhidos,
e comida barata diante do resto do grupo. Até mesmo pôs vinho em garrafas
pequenas, divididas em três categorias.… Um lote destinado a ele e a nós,
outro aos menos amigos (todos os seus amigos são classificados em
categorias) e um terceiro aos seus e aos nossos libertos.”34
A organização de uma festa era calculada, mas ainda assim o resultado
tornava-se imprevisível. Homens de posição superior, por exemplo, não
hesitavam em aparecer com um amigo que não estava na lista de
convidados. Também havia sempre um punhado de pessoas convidadas para
preencher as ausências, as chamadas umbrae (sombras). Dependentes ou
clientes, como eram chamados, compareciam como hóspedes pagos.
Em jantares opulentos a diferença de alimentos de uma mesa para outra
podia ser bem considerável. Marcial fala da angústia de um convidado
rebaixado:
Já que não sou mais convidado a jantar por um preço, como antes [isto é, como convidado
pago], por que não ganho o mesmo que você? Você ganha ostras engordadas no poço de
Lucrine, eu corto a boca chupando um marisco. Você ganha cogumelos frescos, eu ganho
cogumelos de porcos. Você se serve de linguado, eu de brema. Uma rola dourada enche o seu
prato com seu traseiro descomunal, e a mim servem uma pega que morreu na gaiola.35
Planta de um triclinium
Cena de banquete, século IV ou V d.C., com os convivas reclinados num stibadium. Um servo verte
vinho de um jarro, o outro carrega um vaso de água e uma bacia para lavar as mãos. Iluminura.
DESINTEGRAÇÃO E SOBREVIVÊNCIA
O império romano provou que era mortal. Átila, o Huno, saqueou Roma em
410 e após essa catástrofe a sede do poder mudou-se para a capital do
Império Oriental, Constantinopla. O último soberano no Ocidente, Rômulo
Augusto, foi deposto em 476 pelo alemão Odoacer, que então se proclamou
rei da Itália.
Tal acontecimento é geralmente tomado como o fim do Império Romano
na Europa Ocidental, mas na verdade a estrutura diária da vida romana,
inclusive a que cercava cena e convivium, iriam continuar até o século XV
e, de maneira mais tênue, até o século VIII.59 Nas pequenas aldeias gaulesas
a vida continuava mais ou menos como antes. Em meados da década de
460, por exemplo, o patrício Sidônio Apolinário, mais tarde bispo de
Avernus, visitou o amigo Tonantio Ferreolo em sua villa perto de Nîmes, ao
sul da Gália. Sidônio descreve que os convidados se reuniram na biblioteca,
com as mulheres sentadas de um lado e os homens em pé do outro, todos
posicionados ao alcance de livros cujos assuntos eram considerados
apropriados: as mulheres, dos livros religiosos, e os homens, “de obras
conhecidas pela grandeza da eloqüência latina”. Passaram o tempo
conversando e jogando até que um escravo entrou e anunciou o almoço. Em
outro lugar Sidônio descreve a sala de jantar na vila de um amigo chamado
Leôncio. As portas eram dobráveis e se abriam para uma vista do pátio
emoldurada por colunatas e para um sortido lago de peixes. A distância, os
comensais podiam contemplar um panorama do vale do Garona. Assim,
pelo menos em algumas partes do velho Império, a vida civilizada
continuava. No geral, entretanto, os escritos de Sidônio refletem o conflito
entre o tradicional modo de vida romano e as novas realidades impostas
pela presença das tribos germânicas.
Quando Sidônio visitou Teodorico, o Ostrogodo (morto em 466),
observou com surpresa que seu anfitrião sentava-se à mesa, mas não se
reclinava. Era um símbolo de mudança — e de resistência à mudança. No
final do século VI, outro aristocrata romano, Gregório de Tours, descreve
um jantar privado onde os comensais se reclinavam, exceto a esposa do
anfitrião, que permanecia sentada. Ainda no final do mesmo século o bispo
Venâncio Fortunato referiu-se ao amigo bispo Leôncio reclinando-se para
comer numa villa romana.Vemos assim que o antigo modo de vida romano
sobrevivia naquelas edificações em ruínas. Mas depois do século VI o ato
de reclinar-se sobreviveu apenas nos contextos mais exclusivos, nos
grandes palácios imperiais e papais do começo da Idade Média, revivido, ao
que se diz, pelo papa Leão III ao final do século VIII.
Da mesma forma a tradição culinária se desintegrou e fragmentou. Com
o colapso do Império deixaram de estar disponíveis os ingredientes de que
dependiam os cozinheiros criados na tradição de Apício. No entanto, as
rotas comerciais não foram inteiramente abandonadas. Mesmo depois do
século VI, quando a Gália se estilhaçou num quebra-cabeça de reinos
bárbaros, o porto de Marselha continuou mantendo o comércio com o Egito,
a África do Norte e a Espanha, importando especiarias, sal e garum. Mas a
tradição culinária inevitavelmente se rompia, à medida que o contexto
social da vida na villa romana dava lugar ao das novas cortes bárbaras e a
educação clássica ruía. A gastronomia clássica iria sobreviver
principalmente por meio da tradição médica, pois as cortes bárbaras
recrutavam médicos treinados no sistema de Galeno. Entre eles, um médico
grego chamado Antimo, que estudou em Constantinopla. Mas no começo
do século VI foi condenado a exilar-se na corte de Teodorico, o Ostrogodo,
rei da Itália. Teodorico, enviou-o como embaixador a Teuderico, rei dos
francos, que reinou na área em torno de Metz entre 511 e 534. Para
Teuderico, Antimo escreveu Sobre a observância dos alimentos, a principal
fonte documental para a transição entre a tradição culinária clássica e a da
Idade Média.60
Embora não mencione, Antimo trabalhava com os princípios galênicos
dos humores e estava claramente a par das prescrições tradicionais da
culinária como meio de garantir uma boa saúde; no Ocidente, a tradição
galênica estava quase perdida por essa época, e só retornaria na Idade
Média, por influência dos estudiosos árabes na Espanha. Ele se refere a
temperos exóticos e ingredientes pouco comuns, como pavão, embora à
época essas coisas fossem muito raras. O mais notável é que Antimo
percebe um deslocamento para os ingredientes nativos — manteiga em vez
de óleo de oliva, salmão em vez de tainha vermelha —, ao mesmo tempo
que se preservavam certas predileções romanas — o gosto pelo agridoce
(misturar vinagre com mel, por exemplo), ou por ovos moles. Por todo o
texto fica claro que está escrevendo sobre e para bárbaros comedores de
carne; constantemente usa frases como “os francos têm o hábito de
comer…”.
O Império Bizantino iria herdar a tradição culinária greco-romana. Isso
fica claro pelos raros relances da corte imperial registrados por visitantes do
Ocidente. Em 968 o bispo Luitprand de Cremona chefiou uma embaixada
enviada por Oto III ao imperador Nicéforas Focas.61 Os alimentos, escreve
ele, eram bem sórdidos e asquerosos, encharcados de óleo, à maneira dos
bêbados, e além disso também umedecidos com um licor de peixe muito
ruim …”. (Deve ter sido o outrora indispensável garum, que, como vimos,
ainda era conhecido e usado na Gália do século VI, mas três séculos depois
havia se tornado repugnante ao paladar ocidental.) Antimo escreve mais
adiante: “O imperador sagrado enviou-me um de seus pratos mais
delicados, um ganso gordo, … ricamente recheado com cebola, alho e alho-
poró, nadando em molho de peixe”. Embora na época da visita de
Luitprand, na maioria das refeições, o imperador e sua corte se sentassem
sem se reclinar, em certas importantes ocasiões cerimoniais as velhas
tradições eram observadas. Uma delas era a grande festa do dia de Natal:
Existe um salão próximo ao Hipódromo que dá para o Norte, maravilhosamente amplo e
bonito, chamado Decanneacubita, a Casa dos Dezenove Divãs. A razão para o nome é óbvia:
deca é “dez” em grego, ennea é “nove”, e cubita são divãs com espaldares curvos. No dia em
que Nosso Senhor Jesus Cristo nasceu, 19 pratos são sempre colocados ali na mesa. Nesta
ocasião o imperador e seus convidados não se sentam à mesa, como normalmente fazem, mas
reclinam-se em divãs; e tudo é servido em vasilhas, não de prata, mas de ouro. Após os
alimentos sólidos são trazidas frutas em três vasilhas de ouro, tão pesadas que não podem ser
carregadas por um homem sozinho; vêm em carros cobertos com panos de cor púrpura. Duas
são postas na mesa da seguinte maneira: de orifícios no teto estão penduradas três cordas
cobertas de couro dourado e com argolas de ouro nas pontas; as argolas são presas nas asas
que se projetam dos vasos, e com quatro a cinco homens puxando de baixo, são elevados para
a mesa com a ajuda de um aparelho móvel no teto (e removidos da mesma maneira).
… Quanto aos vários entretenimentos que ali presenciei, seria uma tarefa demasiadamente
longa descrever a todos, e assim, por enquanto, passarei adiante.62
A Última Ceia era muitas vezes pintada nas paredes dos refeitórios. Esta é de Domenico
Ghirlandaio, datada de 1480; encontra-se no refeitório da igreja dos Umiliati, em Florença.
A Última Ceia, com o Cristo no tradicional lugar de honra romano no stibadium, à esquerda.
Mosaico, século VI.
Tanto na literatura nórdica como na anglo-saxônica da Idade das Trevas,
o salão de festas era o coração da sociedade, o lugar onde se celebravam as
vitórias comunitariamente e formavam os laços sociais.12Os anglo-saxões
tinham um extenso vocabulário de termos para designar o salão de festas e
seu mobiliário. O senhor [lorde] era hlaford (guardião do pão), e seus
dependentes hlafaeta (comedores de pão). Nem o pão nem qualquer outra
forma de alimento, é preciso que se diga desde logo, constituía o foco
central da festa. O propósito principal do festejo bárbaro era a embriaguez,
daí as expressões beorsele (sala da cerveja), ealusele (sala da ale) e winsele
(sala do vinho). O dever fundamental do rei e da rainha, ou do senhor e da
senhora, era fornecer bebida. A sala, para os anglo-saxões, era o cenário em
que se forjavam os vínculos entre um senhor e seus seguidores, por meio da
distribuição de bebidas, presentes e compromissos. Também deveria ser,
por alguns séculos, um espaço compartilhado para uma vida comunitária
mais ou menos primitiva, muito distante dos requintes de uma típica vila
romana das classes altas, com salas dedicadas a atividades específicas,
como comer. Simultaneamente, como sabemos pelo grande épico Beowulf,
essas reuniões festejadas no salão eram ocasião para se ouvir música e
poesia, celebrando os feitos dos heróis.
A bebida também estava no centro dos festejos vikings.13 Em suas sagas,
os relatos de banquetes jamais descrevem a comida, apenas a bebida.
Oferecer bebida sempre foi uma parte integrante do sacrifício no paganismo
escandinavo. Mesmo após a conversão dos vikings ao cristianismo, o
objetivo de qualquer banquete continuava sendo embriagar-se. Em tais
ocasiões, a bebida era servida logo que anfitrião e convidados tomavam
lugar à mesa. O anfitrião iniciava a refeição com um brinde que nos tempos
pré-cristãos seria uma libação aos deuses pagãos, mas que sob a nova
religião era uma homenagem a Cristo, à Virgem e aos santos. Uma vez
ofertada, a bebida não podia ser recusada; qualquer homem que valesse
alguma coisa deveria ser capaz de beber um oceano. Além disso esperava-
se que os convidados respondessem a tais brindes com um pequeno
recitativo ou com estrofes poéticas. A mesa era redonda, com todos
voltados para o interior, e o chifre de onde se bebia passava de mão em
mão.
Uma grande diferença ocorrida durante aqueles séculos foi a mudança de
posição na mesa, de reclinada para sentada.14 É possível datar essa
transformação com referência às pinturas da Última Ceia. Num mosaico do
século VI em São Apolinário Novo, Ravena, o stibadium ainda está firme
no lugar — Cristo senta-se no lugar de honra, e os apóstolos estão
reclinados num círculo em torno da mesa e de um prato contendo dois
grandes peixes. No entanto, já no século IV, Martinho, bispo de Tours,
lembrava um banquete imperial em que o sacerdote estava reclinado e seus
superiores sentados retos, invertendo a prática romana. A nova preferência
por sentar à mesa provavelmente tinha alguma conexão com as cerimônias
de investidura, nas quais o sucessor, rei, senhor ou chefe era
cerimonialmente colocado em algum tipo de cadeira ou trono de espaldar
reto no salão de festas. Com a cristianização, esse rito foi transferido para a
igreja e, acrescentando-se a unção e a entronização, tornou-se uma
coroação. Decerto no período carolíngio a imagem de um monarca sentado
ereto num trono tornou-se símbolo de seu governo. Inevitavelmente sentar e
exercer poder tornaram-se práticas inextricavelmente ligadas.
Sobrevivência da mesa curva da Antigüidade no final do século XII. Iluminura de uma Vida de Cristo
francesa.
Um banquete tal como aparece na tapeçaria de Bayeux, do século XI. Um servo ajoelha-se
oferecendo água e uma toalha para as abluções do bispo Odo e de Guilherme, o Conquistador,
sentados à mesa redonda.
E assim vai. Mas Tomasino não foi o único. Outro autor, desta vez de
meados do século XIII, também apresenta regras em seu tratado sobre
Courtly Breeding. O que Tannhäuser escreve lança alguma luz sobre o que
o novo comportamento cortês pretendia substituir:
Aqueles que gostam de comer mostarda e molhos,
Que tomem muito cuidado
Para não se sujar,
E não enfiar os dedos neles.
Aquele que arrota quando come,
E assoa o nariz na toalha da mesa,
As duas coisas não são adequadas,
Até onde posso entender …
Não se devem limpar os dentes
Com a faca, como alguns fazem,
E como ainda acontece aqui e ali:
Aquele que faz isto, não está certo.23
A escalada do esplendor ao jantar. João, duque de Berry, à mesa. Acima do duque flutua um dossel,
e à sua frente são colocados pratos de comida mordiscados por cachorros de estimação e uma
naveta cerimonial. Um criado trincha, outro corta a comida, enquanto um terceiro, perto de uma
mesa carregada de pratos, cuida do vinho. Tudo acontece sob a direção de um homem com uma vara
de comando, à esquerda do duque. Iluminura de Les très riches heures, 1416.
3
Aos Olhos do Espectador
Festejo na corte da Borgonha. A mesa em “L” reserva o lugar de honra para a noiva na extrema
esquerda; entre os hóspedes é possível reconhecer vários membros da família ducal. A humilde fatia
de pão foi aqui promovida ao formato de pequenos pratos retangulares, decorados com bordas de
prata dourada. Detalhe de As bodas de Caná, c.1500.
Jantar cotidiano num salão da Inglaterra no século XV. No centro está sentado o senhor da casa e
sua mulher, à direita dois sacerdotes, à esquerda dois filhos e uma filha. Um criado ajoelha-se para
servir. Iluminura de Luttrell Psalter, c.1420-40.
Um despenseiro em ação numa festa de casamento, com a noiva entronizada sob um pálio e suas
damas de honra ao lado. Terminado seu trabalho, ele entrega um prato ao trinchante. À sua frente
estão as três facas que usou para cortar os pães em fatias, algumas diante dos comensais e outras
arrumadas à esquerda. Iluminura flamenga, final do século XV.
Jantando ao ar livre numa caçada. O senhor e seus convidados estão sentados a uma mesa alta, e o
resto come em toalhas estendidas na grama. Iluminura francesa, começo do século XV.
Vamos examinar dois pequenos cardápios ingleses do século XIV, que
deixarão mais claro que qualquer generalidade como o sistema funcionava.
Em dias de carne:
Cabeça de javali armada, caldo de Almain como sopa, depois marreco assado e galinhola,
faisão e maçarico. O segundo, perdiz, coelho, pato selvagem [todos presumivelmente
assados] com blandesire [um manjar branco com pedaços de galinha], caudel ferre [vinho
adocicado e engrossado, aquecido com gema de ovo batida] com flampoyntes [empadão com
recheio de carne de porco decorado com massa frita] de creme e tortas. A terceira rodada,
calhandra, tarambola e galinha recheada, depois mawmene [neste caso, um prato de carne ou
galinha picada num molho de vinho e amêndoas moídas].
A primeira rodada, ostras ao molho, lúcio e arenque assado [defumado?], bacalhau e pescada
frita. A segunda rodada, galantina de toninha, depois congro e salmão fresco dourados,
assados e flampoyntes. A terceira rodada, sopa rosada [colorida de maneira a parecer pétalas
de rosa] e creme de amêndoas, e então esturjão, lampreia, dariole [torta de creme], lech frys
de fruta [torta com frutas picadas e condimentadas ao leite de amêndoa] e nyrsebake [um
filhó].84
Pratos figurativos como entremet. Um pavão com as penas abertas é servido num banquete.
Iluminura francesa, século XV.
Com isso fica claro que por volta de 1400 a palavra entremet referia-se a
várias manifestações que tinham lugar nos intervalos entre os serviços nos
grandes banquetes. Havia, por exemplo, o prato solitário trazido em triunfo,
e também coleções de pratos, reunidos como parte de um carro triunfal
sobre rodas que às vezes incluía cantores e atores. E finalmente um evento
puramente teatral, em que a comida desempenhava um papel pequeno, ou
mesmo papel algum. E esses tipos de entremets se misturavam e
sobrepunham.
Em setembro de 1317, o papa João XXII deu uma festa em Avignon para
o sobrinho. Nela aconteceu um entremet feito com 20 capões e outras aves
misturadas com farinha de trigo, açúcar, confeitos e mel, no formato de um
castelo.97 A obra claramente destinava-se a ser comida. Quase 30 anos
depois, em 1343, o cardeal Annibale de Ceccano deu uma recepção para o
papa Clemente VI, também em Avignon. Desta vez o castelo não se
destinava a ser comido, mas era muito maior, suficientemente grande para
conter um veado adulto, um javali, algumas corças, lebres e coelhos (que
devem ter sido comidos). Após o quinto serviço apareceu uma fonte, acima
da qual havia uma torre e uma coluna. Delas jorravam cinco tipos de vinho,
e, assim como o castelo, o conjunto era enfeitado com esculturas
comestíveis: pavões, faisões, perdizes, garças e outras aves de caça. Entre o
sétimo e o oitavo serviços foram trazidas duas árvores, uma delas prateada,
com maçãs, pêras, figos e ameixas douradas, e outra verde e cintilante, com
doces de frutas multicoloridas. Eram claramente sobremesas.98
Na corte papal em Avignon, o entremet já havia percorrido um longo
caminho desde o simples prato com um cisne ou um faisão em suas próprias
penas, ou — outro favorito — o javali cuspindo fogo. Mas uma corte
longínqua como a escocesa estava bem atrasada. O javali era ainda visto
como o máximo da sofisticação em 1449, quando uma filha do duque de
Guelders casou-se com Jaime II: “O primeiro prato a ser trazido e
apresentado a eles [ao rei e à rainha] foi uma cabeça de javali num prato
imenso. Em volta da cabeça havia bem umas 32 bandeiras com as armas do
rei e de outros senhores do país. Então o recheio foi consumido em chamas,
para grande alegria de todos na sala.”99 Em outros lugares, como por
exemplo a corte da Sabóia, tais coisas eram estritamente passées. Vinte
anos antes mestre Chiquart havia descrito como fazer uma cabeça
flamejante de javali, antes de passar rapidamente para uma construção
muito mais interessante e complicada, à maneira de Avignon: “um castelo,
no meio do qual havia uma Fonte do Amor”, carregado numa liteira por
quatro homens. De acordo com a sua descrição, as muralhas do castelo
eram de massa feita de carne pintada, rodeadas por ondas; galeras e navios
cheios de soldados aproximavam-se para atacar a fortaleza. Dentro dele,
três ou quatro jovens deviam estar sentados, “tocando muito bem uma
rabeca, um alaúde, um saltério e uma harpa; e eles deveriam ter boas vozes
e cantar canções suaves e agradáveis”. O interior do castelo deveria ter
quatro torres repletas de modelos de arqueiros e balesteiros. Em cada torre
haveria uma árvore com flores, frutos e pássaros. E então vinha o que
mostra claramente a ligação entre os elementos: ao pé das torres viria um
verdadeiro zoológico de animais comestíveis — a cabeça de javali cuspindo
fogo, um lúcio grande cozido de três maneiras diferentes, um leitão
confeitado e um cisne com suas penas (também cuspindo fogo). Antes (e
mesmo então nas lonjuras como a Escócia) cada um destes últimos itens
teria aparecido separadamente. E havia mais: da Fonte do Amor, no interior
do castelo, deveria jorrar água de rosas e vinho quente, e gaiolas de pombos
e outros pássaros vivos ficavam penduradas acima dela; um pavão com a
cauda aberta e recheado com carne de ganso assada (possivelmente uma
prova de como era ruim a carne de pavão) ficava perto da fonte; o pátio do
castelo deveria estar cheio de bonecos feitos de pasta de carne — lebres,
cachorros, veados, porcos selvagens e caçadores —, bem como de itens
comestíveis, como perdizes, galinhas disfarçadas de ouriços, lagostas e
bolas de carne com geléia espalhada em cima. No ponto mais alto do
castelo, uma floresta de bandeiras heráldicas, galhardetes e flâmulas. Um
peso considerável para quatro homens e uma liteira.100
A corte borgonhesa iria levar tudo isso ainda mais longe, coreografando
os alimentos num espetáculo esmagador, destinado a exaltar a dinastia
ducal. Quando em 1435 o duque promoveu uma festa, pouco depois do
tratado de Arras, para o rei René de Anjou, a decoração consistia de duas
grandes mesas; em cada uma delas foi colocado um pilriteiro coberto de
flores de ouro e prata, com a folhagem enriquecida com ouropel e adornada
com as armas heráldicas da França e dos outros convidados. Dezoito
árvores menores tinham as armas ducais. Essa decoração compunha a
entrada do entremet, em que havia um pavão cercado por dez leões
dourados, cada qual com uma bandeira figurando as armas de todas as
terras ducais.101Tal composição é o exemplo máximo da superimposição da
heráldica sobre os alimentos com propósitos políticos, um leitmotiv de
todos os banquetes borgonheses — e que as outras cortes logo iriam copiar.
Na realidade os duques não governavam reino algum, mas um grupo de
domínios espalhados; ao ostentar as cotas d’armas assim reunidas, tentavam
forjar uma unidade que nunca existiu.
O movimento de transformar o banquete de Estado num cenário político
deve ter atingido seu apogeu nos festivais que marcaram o casamento de
Carlos, o Audaz, com a princesa Margaret de York, em 1468. Nessa
ocasião, duas festas tentaram alcançar a apoteose dinástica por meio da
comida metamorfoseada. Na primeira ocasião, os convivas encontraram, ao
entrar, 15 cisnes dourados e seis prateados, cada um com o colar da Ordem
do Velocino de Ouro e as armas de cada cavaleiro. A mesa estava
abarrotada de elefantes carregando castelos, camelos com cestas, veados e
unicórnios em ouro, prata e azul, cheios de confeitos. Cada figura levava
uma bandeira com as armas de uma província do duque.102 Poucos dias
depois houve uma reprise no banquete final. Desta vez havia 30 pratos nas
mesas, cada um com jardins em miniatura cercados por sebes douradas. No
meio do salão, uma árvore dourada tinha carnes empilhadas à sua volta; a
árvore propriamente dita era ornada com frutos, flores e as armas das 30
abadias dos domínios ducais. Perto do lugar do duque, um modelo de
palácio exibia figuras mecânicas e uma fonte jorrava água de rosas, como se
estivesse regando os jardins em miniatura.103
Na Inglaterra do século XV, a comida como alegoria seguiu uma direção
muito diferente daquela da Europa continental. O fenômeno, aí, veio a ser
conhecido como sutileza.104 É difícil saber se as sutilezas eram comestíveis,
mas certamente eram feitas para se colocar à mesa de jantar. Já as vimos
mencionadas no relato de George Cavendish sobre os alimentos figurativos
apresentados pelo cardeal Wosley aos embaixadores franceses em Hampton
Court, em 1527. Porém a referência mais antiga às sutilezas aparece na
descrição de um banquete dado pelo bispo de Durham a 23 de setembro de
1387. Ao final de cada serviço, aparecia a frase “E uma sutileza”. Mas só
em 1417 encontramos a descrição de uma delas, numa festa celebrando a
entronização de John Chaundler como bispo de Salisbury. Na ocasião, foi
apresentada ao bispo uma série de sutilezas — um Agnus Dei, um leopardo
e uma águia. Quatro anos depois temos uma descrição levemente ampliada
no banquete de coroação da noiva de Henrique V, Catarina de Valois. A
primeira sutileza era um pelicano alimentando os filhos com o sangue do
peito, uma figura heráldica clássica; a segunda era a homônima da rainha,
santa Catarina, padroeira do conhecimento, discutindo com doutores
letrados; e a terceira figurava novamente santa Catarina, desta vez com sua
roca. A sutileza final representava um tigre heráldico segurando um espelho
e um homem fugindo a cavalo, carregando os filhotes do animal e jogando
pelo chão outros espelhos. Acreditava-se que um tigre não resistia ao olhar
o próprio reflexo no espelho, de modo que certamente tratava-se de uma
alegoria para Henrique V carregando sua noiva Valois.105
Tudo isso pretendia ser mais que uma mera adulação cortesã. Eram
declarações profundas, expressas nos termos do final do período medieval.
As sutilezas que foram criadas para a coroação da filha do rei Henrique VI
em 1432 tentavam estabelecer uma iconografia real inteiramente nova para
a esperada monarquia dual de França e Inglaterra. Cada sutileza tinha seu
significado expresso em versos de John Lydgate. A série culminava com os
santos patronos dos dois países, são Jorge e são Denis, apresentando o
jovem monarca à Virgem, que lhe oferecia uma coroa. Os versos eram
como uma invocação:
Ó senhora abençoada, santa mãe de Cristo
E vós, são Jorge, chamado de seu cavaleiro;
Ajudem são Denis. Ó, mártir por completo,
O sexto Henrique aqui presente à sua vista…
Tanto por descendência e por título com direito
De com justiça reinar sobre a Inglaterra e a França.106
O jantar real torna-se ritual. A mesa real é elevada, e a ela se chega subindo alguns degraus. O rei
está em solitário esplendor sob um pálio. Os criados sobem e o trinchante serve o rei. Iluminura
francesa, século XV.
Nem Messisbugo nem seu livro foram fenômenos isolados. Ele teve dois
sucessores notáveis. O primeiro foi Giacomo Grana, scalco de Luigi d’Este,
cardeal de Ferrara. Em 1565 Grana foi responsável pelo banquete que o
cardeal deu em homenagem ao casamento do irmão Afonso I com Bárbara
da Áustria.8 Foi encenado no palácio urbano do cardeal, o palácio
Diamante, e é um marco de como, na segunda metade do século XVI, os
banquetes das cortes haviam se tornado produções ainda mais complexas,
destinadas a surpreender os convivas e a siderar os meros assistentes. Para
sua produção, o salão foi transformado em jardim, com galhos suspensos do
teto, luzes penduradas e paredes cobertas de tapeçarias com as armas das
famílias reais da Europa a quem os Este estavam ligados. Figuras de
estuque portavam tochas, e nas laterais do salão, fora da cena propriamente
dita, havia camarotes para espectadores. Sobre um estrado atapetado, a que
se chegava por três degraus, ficava uma mesa coberta com veludo carmesim
franjada de dourado. Duas ricas toalhas vinham por cima, e, nelas, um
painel de guardanapos arranjados na forma de torres e das ameias de um
castelo. A mesa na parte maior do salão tinha 30 metros de comprimento;
nela sentavam-se 140 damas e cavalheiros que haviam escoltado a noiva da
Alemanha. Na mesa alta estavam a noiva e o noivo, ladeados por príncipes,
princesas e cardeais, em número de 22. Eles eram atendidos por quatro
mordomos, quatro trinchantes e quatro escanções, todos eles vestidos com
as cores da duquesa — carmesim escuro com franja ouro ou prata —, todos
usando chapéus húngaros. Cada seqüência de pratos era levada ao salão, ao
som de fanfarras de trombetas, por 24 cavalheiros divididos em grupos de
seis, cada qual respondendo a um mordomo. Os pratos, 400 no total, todos
de prata, mudavam a cada seqüência. Findo o jantar, os convivas retiravam-
se enquanto o salão era preparado para um concerto seguido por uma leve
refeição de doces e águas açucaradas servidos por pajens e outros jovens
vestidos de pastores e ninfas.
Ainda mais importante que Grana foi o scalco do último duque, Giovan
Battista Rossetti.9 Trabalhou para Afonso II de 1557 a 1576 e então serviu à
irmã do duque, Lucrezia d’Este, esposa repudiada do duque de Urbino. Em
1584 Rossetti publicou Dello scalco, cuja descrição das funções desse
profissional vai bem além do que é relatado em Banchetti. Segundo ele, os
atributos do scalco incluíam uma bela presença, elegância no vestir,
conhecimento, atenção e presteza na resposta às demandas do empregador.
À época, seu prestígio realmente era muito grande, pois assumia o controle
de todos os fornecimentos e da cozinha, a seleção de cardápios e a
localização das mesas e das credenze. Era atributo do scalco colocar os
convivas em ordem estritamente hierárquica, supervisionar as seqüências
dos pratos, as trocas de toalhas e guardanapos, na verdade, todos os detalhes
de uma ocasião que havia se tornado cada vez mais cerimoniosa. Seu
domínio também alcançava uma sala onde os cavaleiros que haviam servido
a mesa comiam separados dos serviçais comuns. Rossetti elogia os duques
de Este por combinarem, em sua corte, o posto de mordomo com o de
scalco, garantindo assim obediência ao princípio estabelecido na Ordini do
duque, de que em todos os momentos magnificência e dignidade deveriam
ser preservadas.
As habilidades de Rossetti são mostradas também em outro banquete
para o casamento ducal de 1565.10 Neste, os convivas foram presenteados
com a ilusão de comer sob o mar. O teto foi pintado com ondas e monstros
marinhos, a toalha de mesa tinha ondas, os guardanapos eram dobrados
como peixes, os saleiros reproduziam animais marinhos e até mesmo os
pratos de maiólica eram conchas. O final foi um triunfo de Netuno com 90
esculturas de açúcar em volta da divindade. Ninguém em 1565 acreditaria
que tudo aquilo se desvaneceria com a morte do último duque, 30 anos
depois.
As inovações no ritual da comida em Ferrara definem a cena para o que,
primeiro e principalmente, foi a era das cortes. Fosse num pequeno Estado
italiano, como o grão-ducado da Toscana, dos Médici, fosse num poderoso
império como o dos Habsburgo, a corte, em sua forma plenamente
desabrochada do Renascimento, era um fenômeno novo. Constituía uma
cidade dentro da cidade, articulada por seus próprios rituais, cerimônias e
etiquetas. Dependia de uma multidão de novos funcionários — inclusive o
scalco — para manter sua categoria e era habitada por um novo
personagem, o cortesão profissional. Todos os aspectos de tal instituição
desenvolveram-se com um único fim: exaltar o governante como um ser à
parte, o representante de Deus na Terra, presidindo um paraíso terreal, ou
talvez um Júpiter terrestre num Olimpo pagão. O ato de comer não poderia
deixar de ser incorporado a esse mundo de estupendo artifício. A comida de
verdade às vezes quase ficava ofuscada sob o peso da cerimônia. No
entanto, é claro, isso jamais acontecia. E é para uma reflexão sobre o que
era a comida e como havia mudado em relação à do século anterior que
devemos voltar nossa atenção agora.
O REQUINTE DA CULINÁRIA
O Renascimento representou a redescoberta do mundo da Antigüidade
clássica combinada com o desejo de recriá-la, o que pode ser visto em
qualquer aspecto do Quattrocento e do Cinquecento italianos, seja no
cultivo de um estilo ciceroniano de literatura, na tentativa de fazer ressurgir
o repertório da arquitetura vitruviana ou na renovação das formas do teatro
clássico. Mas como isto afetou a comida e sua apresentação?11
O desejo que as cortes tinham de emular os banquetes da Antigüidade
era motivado em grande parte pela recuperação e impressão de textos
diretamente relacionados à culinária antiga ou às descrições gráficas das
refeições. Os textos clássicos previamente conhecidos na Idade Média
limitavam-se às Geórgicas de Virgílio e outros semelhantes, que falavam da
dieta rústica daqueles que viviam próximos ao solo — ervilhas e lentilhas,
alho-poró e alface. Assim, pode-se imaginar o impacto quando, em 1498,
apareceu a primeira edição conhecida de De re coquinaria, de Apício,
tornando facilmente acessível um texto que até então só existia sob a forma
de manuscritos para estudiosos da cultura clássica. De repente revelava-se
uma culinária muito diferente, a de uma sociedade altamente sofisticada que
cultivara os prazeres da mesa e se entregara voluntariamente às tentações do
apetite sem qualquer sentimento de culpa. Apício estava a léguas de
distância dos séculos de jejum e de autoprivação institucionalizados pela
Igreja. E mais, suas receitas (arganaz cozido ao mel, por exemplo) eram
estímulos aos cozinheiros para compor pratos ainda mais ricos e recherchés.
E havia também textos como o livro XIII dos Epigramas de Marcial, cheios
de referências a comida, e os Deipnosofistas de Ateneu, publicado em 1514,
e que falava de glutões e cozinheiros famosos, dos costumes e maneiras dos
convivas e da adequação dos vários alimentos.
Acima de tudo, essa abundância de textos clássicos alterou a culinária,
ou melhor, tornou-a mais eclética, pois os novos gostos nunca desalojaram
completamente a comida dourada, temperada e aromatizada do final da
Idade Média. Na verdade os dois estilos viveram lado a lado. No entanto, as
introduções — ou reintroduções — foram avassaladoras e numerosas. À
revivescência humanista das comidas da Antigüidade devemos o uso de
trufas e cogumelos; a ascendência dos peixes de mar sobre as variedades de
água doce, junto com as ostras e o caviar; pratos utilizando entranhas e
partes cartilaginosas e ósseas, como miolo, timo, orelha e pé; carnes picadas
e salsichas; uma predileção por carne de porco e leitão; e vegetais como
alcachofras, alcaparras, aspargos e os pertencentes às famílias das couves e
cebolas. Claro, alguns já eram conhecidos na Idade Média, mas agora
estavam valorizados pela aura da Antigüidade. Junte-se a isso um enorme
aumento dos tipos de frutas. Houve também novo interesse por um sabor, o
salgado-ácido, já conhecido durante a Idade Média nos picles, cuja
popularidade muito devia à reverência pelo sal como substância sagrada na
Antigüidade. O mesmo aconteceu com o uso crescente do sal para cozinhar
e a arrebatadora paixão por presuntos, peixe salgado e caviar. Finalmente, a
redescoberta dos textos clássicos acarretou a recuperação de um
personagem social há muito desaparecido, o gastrônomo, uma pessoa cujo
único objetivo na vida era deliciar-se com as alegrias da mesa.
Em meados do século XVI o mundo culto do Renascimento já adquirira
um notável conhecimento dos hábitos alimentares e culinários do mundo
clássico. Aparecem livros sobre o assunto — como Antiquitatem
convivialium libri III (1582), de Johann Wilhelm Stucki. Pela primeira vez
em mais de um milênio a comida era objeto da pena erudita. Não que a
aprovação fosse universal; o Renascimento era igualmente receptivo à
posição alternativa, voltando ao Górgias de Platão, no qual a arte da
culinária é uma forma de ilusão, e a gastronomia leva ao pecado da gula.
Semelhante desconfiança a respeito dos alimentos encontra-se em Platão e
na tradição neoplatônica, cuja redescoberta também foi fundamental para a
cultura renascentista.
Mas as conversas acadêmicas e as realidades da corte e da cozinha eram
coisas muito diferentes, e não há dúvida de que a comida passou por uma
transformação significativa durante o Renascimento. Além do mais, é claro
que a mudança começou no sul da Itália, na corte dos reis aragoneses de
Nápoles.
Em 1443 Afonso V de Aragão dominou a Sardenha e a Sicília. Nápoles
tornou-se um reino separado, governado pelo filho de Afonso, Ferrante. O
sul da Itália já estava submetido à influência árabe e, sob os reis angevinos,
à influência francesa. A estas foram então acrescentadas as influências da
península Ibérica, ao mesmo tempo fortalecidas pelo advento de um papa
espanhol, Afonso Bórgia (Xisto III), que levou seu próprio cozinheiro para
Roma. Em um século Roma tornou-se universalmente reconhecida como il
teatro del mondo no que se referia às artes gastronômicas.
A grande transição de meados do século XV pode ser resumida nas obras
de duas pessoas, um cozinheiro chamado Martino de’ Rossi — maestro
Martino — e um bibliotecário humanista, Bartolomeo Platina. Maestro
Martino, de origem suíça, foi no começo da carreira cozinheiro dos duques
de Milão, mas passou ao serviço do cardeal veneziano Trevisan, patriarca
de Aquiléia que vivia na corte papal em Roma.12 Por volta de 1460, Martino
compilou seu Libro de arte coquinaria, que assinalou uma nova era na
história da culinária. Foi um marco em termos da forma clara, organizada e
precisa pela qual as receitas eram apresentadas. Algumas eram de origem
espanhola. A seqüência de pratos proposta por Martino também era nova;
ele não abria a refeição com frutas e doces, mas ia direto ao que Platina
designava como pietanze: carnes de todos os tipos, assadas, guisadas, em
tortas, com geléia, feitas em salsichas ou em variedades de mortadelas.
Chamam a atenção os sinais de que as especiarias importadas eram
relegadas em favor das ervas aromáticas nativas, como hortelã, manjerona,
salsa, alho, funcho, louro, sálvia e alecrim. Ainda assim, as especiarias
reinariam supremas até meados do século XVII. As receitas usavam
também mais açúcar, água de rosas, açafrão e amêndoas moídas com açúcar
para engrossar e adoçar os molhos. Nessa obra podemos constatar os
primeiros estágios de uma firme ascensão do açúcar.
A cozinha de Martino nunca teria tanto impacto na Europa sem o plágio
por atacado feito por Bartolomeu Platina, um estudioso dos clássicos.13 Em
seu livro De honesta voluptate, a nova cultura culinária, fruto da síntese das
tradições espanhola, árabe, francesa e italiana, encontra o novo impulso do
humanismo renascentista. Gregário, volúvel e impetuoso, Platina jamais foi
uma personalidade fácil. Suas origens estavam na corte dos Gonzaga, em
Mântua, na escola criada por Vittorino da Feltre. Mas a maior parte de sua
carreira se fez em Roma, e em 1475 tornou-se bibliotecário papal. Escreveu
De honesta provavelmente em 1465, dois anos depois de adquirir um
exemplar do Libro de arte coquinaria, de Martino, dois quintos do qual
reproduziu em sua própria publicação. (Com tato, referiu-se a Martino
como o “principal cozinheiro de nossos tempos”, numa espécie de pedido
de desculpas.) Em seu livro combinava aquela fonte contemporânea com
um sistema dietético mais tradicional, a teoria grega de humores,
transmitida à Idade Média pelos árabes, o regimen sanitatis da Escola de
Salerno.
Mas não é o casamento da nova cozinha com a tradição médica medieval
que faz do livro de Platina um marco na história da gastronomia. A chave
para sua originalidade e influência está no título, “Sobre o prazer correto”.
Voluptas, em termos medievais, era o mesmo que pecado. Platina contraria
essa concepção ao promover a idéia de que o prazer físico de comer
poderia, nas circunstâncias corretas, ser honrado ou honesta, que numa
tradução livre quer dizer virtuoso. Desta forma, legitimava o consumo de
comida e bebida além da necessidade dietética, tanto pelo prazer físico
como emocional. E, mais ainda, fez isso sem qualquer alusão à tradição
cristã. (Quanto a este ponto, é provável que refletisse a posição de Giulio
Pomponio Leto, humanista e seu amigo, cujos interesses incluíam o
cozinheiro romano Apício.) Como resultado, o livro é moderno e laico,
dissertando sobre as bases da alimentação em termos de uma vida saudável,
mas também discutindo suas dimensões estéticas e psicológicas — por
exemplo, a importância de talheres limpos, toalhas impecáveis e decoração
atraente. Ele também se referia à seqüência dos pratos afirmando que tudo o
que fosse leve e delgado, inclusive alface, tudo o que fosse acompanhado
de vinagre e azeite, além de ovos e de certos doces, deveria ser servido
primeiro. Assim Platina transformava o que poderia ser apenas um manual
prático de artesanato num renascer pleno da culinária antiga, utilizando uma
profusão de citações de Apício, Varão, Catão, Virgílio e muitos outros.
De honesta influenciaria toda a Europa. Provavelmente foi publicado
pela primeira vez em Roma, em 1475 e teve uma segunda edição em
Veneza no ano seguinte. Repetiram-se então as edições na Alemanha, Suíça
e França. Foi traduzido do latim para o italiano (1487), o francês (1505) e o
alemão (1530). Platina na verdade enobreceu o livro de receitas e trouxe os
escritos sobre comida para o mundo das letras, fazendo das refeições um
tema de debate aceito pelas classes educadas. Mais do que isso, atendeu
com precisão às necessidades da elite burguesa requintada que despontava
na Itália.
A publicação do livro desencadeou uma corrente de sucessores que
colocaram a Itália à parte do resto da Europa como pioneira de uma nova
literatura gastronômica. Eles se viram estimulados não só pela atitude
radicalmente nova de Platina e pela crescente ostentação das cortes, mas
também pela abundância peninsular de ingredientes frescos. A estrutura da
refeição em De honesta é tripartite: um primeiro serviço de frutas, saladas e
alimentos doces; um segundo, de carne, peixe ou vegetais servidos com
abundância de molhos aromáticos; e um terceiro, de frutas, nozes, queijos e,
em ocasiões mais grandiosas, confeitos e doces. Para avaliar como era
ampla a variedade de ingredientes usados num grande banquete da corte
organizado assim, basta observar o que foi oferecido pelo cardeal de Ferrara
no casamento de Afonso II.14 Além dos recursos provenientes de todos os
estados ducais, buscaram-se peixes de água doce em Garda, peixes de água
salgada e dez mil ostras em Veneza, alcachofras cultivadas e selvagens,
favas, frutos, cravos e rosas em Gênova (o evento aconteceu em dezembro),
e confeitos, velas, açúcar, especiarias e esculturas de açúcar também em
Veneza.
Esse senso de plenitude, percebido em toda a literatura gastronômica na
Itália renascentista, deu surgimento ao primeiro livro que pode ser descrito
como um circuito gastronômico, Commentario delle piu notabili e
mostruose cose d’Italia e altri luoghi, de Ortensio Lando (1548).15 O autor
descreve pratos como o macarrão siciliano com queijo, cozido em caldo de
galinha e temperado com açúcar e canela, e as enguias de Sorrento,
preparadas com tomilho, alecrim, manjerona, hortelã e outras ervas. Canta
louvores a Lucca pelas salsichas, a Como pelas trutas e a Piacenza pelo
nhoque (tão maravilhoso, escreve ele, que seria capaz de reviver um
cadáver).
Esse deliciar-se na variedade foi também captado no começo do século
XVII, na obra de um protestante italiano exilado na Inglaterra, Giacomo
Castelvetro.16 Este pobre homem sentia uma falta desesperada das frutas e
dos legumes de sua terra natal! Na Inglaterra encontrou, como outros
contemporâneos disseram, “comidas desconhecidas ou tidas como comidas,
mais adequadas a porcos e animais selvagens do que a alimentar a
humanidade”. A Itália, escreveu Castelvetro em seu Breve racconto di tutte
le radici, di tutte l’herbe … che in Itália si mangiano (1614), é “la patria di
tutte le gentilezze”. Nenhum outro país valorizava tanto as frutas e os
vegetais ou cultivava-os tão bem. Lirismo e nostalgia estavam em todo o
seu catálogo de delícias mediterrâneas, e é impossível não simpatizar com
um homem que escrevia, no final de uma receita de como comer
alcachofras cruas: “Amamos os pedaços suculentos; basta escrever sobre
eles para minha boca se encher de água.” Infelizmente seus conselhos
caíram em ouvidos jacobinos, mas o texto reflete exatamente o espírito que
impulsionou as mudanças na gastronomia da Itália do Cinquecento.
Simultaneamente o vinho começou a ser apreciado a sério. Sante
Lancerio, bottigliere do papa Paulo III (1534-50), fez um registro dos
melhores vinhos italianos e estrangeiros consumidos em Roma, cabendo a
palma ao Malvaglia de Candia.17 Em seu texto presenciamos o surgimento
do vocabulário do sommelier, com termos como tondo, asciutto, fumoso,
odorifero, crudo e delicato. Igual consideração é dada às cores, em palavras
tais como verdeggiante, colore incolorato e dorato. Os vinhos passaram a
ser cuidadosamente combinados com os pratos: vinhos brancos e leves para
os antipasti, tintos para os assados, e vinhos fortes ou inebriantes para as
sobremesas, terminando com hipocraz.
Mas o que diferenciava a comida renascentista?18 O velho núcleo
medieval permaneceu basicamente intacto, mas foi ampliado, refinado e
enriquecido à medida que avançava o século XVI. As mesmas especiarias
continuaram sendo usadas, embora em menor variedade. Sua presença,
indicando despesa, era central para a demonstração de riqueza, essência da
culinária cortesã. Da mesma forma mantiveram-se inabaláveis os velhos
molhos medievais e a paixão por assados, tortas e as iguarias esculpidas.
Porém, havia agora muitas novas maneiras de cozinhar. Um livro de
culinária, por exemplo, dava 227 receitas de carne de boi, 47 de língua e
147 de esturjão. Nenhum volume medieval poderia competir com esses
números. Já mencionamos de passagem o renovado interesse em frutas e
vegetais, mas o século XVI também testemunhou a chegada de novos
ingredientes vindos da América: abóbora, tomate (que só foi usado na
cozinha muito mais tarde), milho e feijão, para não mencionar o peru.
Houve também deslocamentos de paladar no caso de alguns dos
ingredientes tradicionais. Carne de boi, por exemplo, que na Idade Média
era vista como apropriada para os serviçais, mas não para a mesa alta,
agora, juntamente com a carne de vitela, passou a gozar de status mais
elevado. Sob a influência das fontes clássicas, partes dos animais que hoje
em dia achamos repugnantes eram encaradas como o máximo da delícia
epicurista: nariz, olho, focinho, fígado, bexiga, miolo, rins, tripa, língua,
timo, crista, testículos, ao lado de uma lista similar de partes de peixes. E,
anunciando o que estava por vir, a manteiga era cada vez mais usada na
cozinha, embora ainda não o creme.
Os cardápios continuavam dominados pelo ano litúrgico, mesmo em
países protestantes como a Inglaterra, onde a legislação determinava a
observância dos dias de peixe no interesse do setor pesqueiro. Na verdade
em países católicos, na segunda metade do século XVI, à medida que a
maré da Contra-Reforma crescia, houve uma ênfase renovada no
cumprimento de dias de abstinência que levaria ao excesso de jejuns. É
irônico que a mais importante obra gastronômica do século, Opera, de
Bartolomeo Scappi (1570) tenha sido dedicada a um papa, Pio V, famoso
pela extrema parcimônia na dieta.
Scappi foi o mais influente cozinheiro do Renascimento.19 De origem
provavelmente bolonhesa ou veneziana, começou a carreira a serviço de um
veneziano, o cardeal Marin-Grimano, membro da cúria papal em Roma.
Depois trabalhou para os papas Paulo III e Pio V. Administrou o banquete
de coroação deste último e tornou-se seu “cozinheiro secreto” [isto é,
pessoal] —, cargo que devia ser uma sinecura. Sua obra-prima, a Opera,
surgiu em 1570, provavelmente após sua morte. É uma publicação lapidar,
resumo dos 40 anos que Scappi passou cozinhando para a mais prestigiosa
corte da Europa. Nunca se havia escrito nada parecido, pois na Opera
encontramos pela primeira vez um verdadeiro teórico da culinária. É um
livro de cozinha que parte de uma noção da centralidade do paladar e,
acima de tudo, a primeira obra que estabelece firmemente a culinária como
ciência. Com 900 páginas divididas em seis livros, é ilustrado com 28
gravuras que dão um repertório visual muito maior que o Banchetti de
Messisbugo; elas cobrem tudo, desde os utensílios de cozinha até um
arranjo de mesa na forma de poço de peixes, composto inteiramente de
elementos comestíveis. Scappi começa pelo exame da cozinha e de como
ela opera, e depois descreve os ingredientes. Explica como tratar a carne e o
peixe, os ovos e molhos, e apresenta 113 cardápios sazonais, cobrindo
ceias, pequenas refeições, jantares e banquetes. Um dos livros é dedicado
ao trabalho do pasteleiro, outro às comidas para os doentes. Tudo o que
escreve é lúcido e preciso, vivenciando sua própria definição do cozinheiro
como “um arquiteto criterioso que, ao construir seu desenho exato, deixa
um alicerce forte sobre o qual apresenta ao mundo coisas práticas e
maravilhosas”. O que Scappi registra são as iguarias das cortes
internacionais, pratos que podem ser descritos como alla francese, alla
tedesca ou alla spagnola, embora no final do século XVI ainda não
existissem culinárias nacionais enquanto tal. Sua influência seria
considerável, particularmente nas áreas sujeitas ao domínio dos Habsburgo,
como a Espanha e o Sacro Império Germânico. Na Espanha, mais de
metade do livro foi apropriada por Diego Granado em Libro del arte cozina
(1599). Na Alemanha, a Opera foi também plagiada, por Max Rumpolt em
Ein neues Kuchbuch (1581).
Com seu livro, Scappi buscava status social para o cozinheiro, mas a
obsessão pelo cerimonial faria com que, no Renascimento, o scalco e o
trinciante fossem mais prestigiados. Pouco menor que o livro de Scappi,
com cerca de 800 páginas, La singolare dottrina dell’ufficio dello scalco
(1560) é obra de um mordomo florentino,20 Domenico Romoli, ou Il
Pununto, como era conhecido. Romoli também havia sido “cozinheiro
secreto” a serviço de aristocratas e cardeais. Seu livro registra a cozinha da
cúria romana em meados do século XVI, com centenas de receitas e uma
parte dedicada às dietas. Também descreve os papéis do scalco, do
trinciante e do credenziere (o encarregado da credenza). Dos dois últimos, o
trinciante, ou trinchante, era de longe o mais importante e buscava
ultrapassar o scalco como funcionário que controlava a comida cerimonial
da classe alta.
As origens do aparecimento do trinciante estão na Espanha, numa obra
sobre a arte de trinchar, por don Enrique de Aragão, marquês de Villena,
compilada em 1423. Sua premissa de que trinchar era uma arte à altura dos
nascidos com sangue nobre foi exportada para a corte napolitana, onde o
trinciante do rei sempre era selecionado na aristocracia. Na Itália o
trinciante fez o seu début no Libro de cocina, de Roberto di Nola, que foi
cozinheiro de Fernando I de Aragão, rei de Nápoles. Em seu livro,
compilado na década de 1490,21 descreve os papéis do cozinheiro, do
despenseiro e do trinciante. Este último iria se transformar, de um homem
que simplesmente servia e punha comida no prato das pessoas, num alto
funcionário da corte, responsável pela transformação do que era uma
operação comum num ritual elaborado, uma exposição pirotécnica de força
e destreza. Roberto di Nola faz do trinciante uma espécie de scalco, um
coreógrafo de banquetes. A descrição de uma festa promovida em Nápoles
em 1517, pela coroação de Bona de Sabóia como rainha da Polônia, presta
tributo à precisa e delicada arte de trinchar a carne “por um trinchante cheio
de destreza e pose”. Surgia em cena o trinciante.
Não é de surpreender que em seguida ele tenha aparecido na corte dos
Este, como mostra um livro de Francesco Colle intitulado Refugio del
povero gentilhuomo (1520) e dedicado ao duque Afonso I.22 É um tratado
que exalta o trabalho do trinchante à mesa como um aspecto da
magnificência principesca, atividade que só poderia ser exercida por um
homem que, embora empobrecido, fosse de nascimento nobre. Uma
abordagem muito mais importante seria Il trinciante (1581), de Vincenzo
Cervio. Ele esteve a serviço de Guidobaldo II, duque de Urbino, e, após
1540, do cardeal Farnese, em Roma.23 Também viajou bastante pelo norte
da Europa, onde não se impressionou com a habilidade dos trinchantes.
Seus modelos estavam na Espanha, em Nápoles e, mais do que em qualquer
outro lugar, em Roma (embora, é preciso que se diga, alguns deles
estivessem ficando sem trabalho, graças ao ascetismo renovado pela
Contra-Reforma). Como em Scappi e Colle, trata-se de uma busca de status
social numa sociedade hierarquizada e também de uma tentativa de assumir
o papel do scalco, ou pelo menos de desafiá-lo. A preocupação do livro
com as classes sociais reflete-se na descrição do estilo do cavalheiro
trinciante, que retira seu chapéu antes de iniciar os trabalhos, mas depois o
coloca novamente na cabeça, para demonstrar sua igualdade com relação
aos que estão à mesa.
O trinchante, segundo Cervio, deveria ser um cavalheiro de bela
presença, bem vestido (surpreendentemente, de branco), pronto a agradar
seu senhor, mas cuidadoso em distinguir-se, por seu comportamento, dos
criados circundantes. O catálogo sobre trinchamento é intimidador,
abrangendo tudo, da caça ao melão, e todos os gestos a serem executados
no processo. Depois vem a distribuição, que deve obedecer estritamente à
ordem hierárquica, tanto no que diz respeito à prioridade como no que se
refere à parte servida. Todo o exercício de destreza manual é
deliberadamente destinado a divertir e a surpreender os comensais.
“Trinchar o ar”, dizia-se.
Em 1593 houve outra edição do livro de Cervio atualizado por Fusorito
da Narni. A ascensão do trinciante com relação ao scalco já estava então
estabelecida, pois o livro inclui descrições da decoração e dos pratos de
uma série de banquetes elaborados. É desnecessário dizer que o
trinchamento, ao norte dos Alpes, manteve-se pouco sofisticado. Na
Inglaterra, em 1508, Wynken de Worde publicou o velho The Boke of
Kervynge, dos tempos medievais, que continuou sendo reimpresso até 1613.
A revolução da imprensa permitiu a publicação de antigos livros de receitas
que já existiam em manuscrito.24 O resultado foi que a culinária do fim do
período medieval tornou-se acessível a uma burguesia crescente. Embora o
primeiro livro de receitas impresso depois do de Platina tenha aparecido em
1485, o verdadeiro aumento de produção se deu apenas após 1530, numa
clara resposta a um mercado muito mais vasto e ansioso para aprender os
modos aristocráticos. O primeiro livro foi Kuchenmeisterei, publicado em
Nuremberg e que teria 56 edições. Na França, o Viandier teve 15 edições
entre 1490 e 1520. O livro de Roberto di Nola foi traduzido para o catalão
em 1520, teve sete edições e depois foi traduzido para o castelhano, com
mais 12. Na Inglaterra, cerca de 20 livros de culinária foram publicados
entre 1500 e 1620.
O que fica claro é que os progressos na culinária e nos grandes jantares
que já haviam ocorrido na Itália renascentista se infiltraram lentamente
rumo ao norte, onde seus efeitos se fizeram sentir apenas na segunda
metade do século. Certamente este é o caso da França. A história ali é de
estagnação, e a única mudança foi o aumento no número de pratos doces e o
uso de laticínios.25 O livro de Platina foi traduzido para o francês em 1505,
passando por muitas edições e transmitindo aquilo que na verdade era a
cozinha italiana meio século antes. Em 1542 apareceu o que mais tarde
seria chamado de Le grand cuisinier de toute cuisine, no qual apenas um
terço era de receitas medievais. Tratava-se de um livro de receitas bem
estruturado, com um capítulo para cada serviço e uma seção separada para
banquetes.
Há muito é vista com reservas a antiga concepção de que a cozinha
francesa ganhou vida quando Catarina de Médici levou cozinheiros
italianos para a corte de Valois em seu casamento com Henrique II, em
1533. A única indicação de que o novo estilo cortesão a la Scappi havia
chegado ali só apareceu mais tarde, em 1604, com Ouverture de cuisine, de
Lancelot de Casteau.26 Mas é preciso considerar que o autor era cozinheiro
do bispo de Liège, cuja sé ficava na jurisdição do império dos Habsburgo.
Na obra figuram todos os velhos pratos favoritos da época medieval, como
cisne assado e pavão, junto com coisas que certamente faziam parte do
novo repertório cortesão internacional, como salsichas de Bolonha e queijo
parmesão, gelatinas multicoloridas e esculturas de açúcar. No geral havia o
que só pode ser descrito como um abismo norte-sul. No entanto, deve-se
dar um desconto aos fatores climáticos, pois mesmo hoje eles continuam a
influenciar o que é consumido no ensolarado sul e no gelado norte. E tais
fatores também iriam desempenhar um papel importante na determinação
de onde cada povo comeria.
O CONVIVIUM REVIVIDO
Já vimos como Platina argumentava que o prazer sensual decorrente do
consumo de alimento poderia, nas circunstâncias corretas, ser visto como
honesta, ou seja, honrado. Os humanistas — entre os quais, é claro, se
incluía Platina — muito fizeram para trazer o banquete ao palco central.52 O
grande humanista florentino Marsílio Ficino chegou a compor um pequeno
tratado, De sufficientia, onde o celebrava como uma das mais completas e
equilibradas formas de experiência humana, em que as funções do corpo e
da mente se uniam: “Apenas a refeição em comum [convivium] alcança
todas as partes do homem, pois … restaura os músculos, renova os
humores, revive a mente, refresca os sentidos, sustenta e aguça a razão”.53
Assim, o jantar à mesa era concebido como um microcosmo da boa
sociedade, em que as relações sociais eram forjadas, trocavam-se idéias de
maneira civilizada e estabelecia-se o respeito mútuo. Convivium, como os
humanistas constantemente lembravam ao leitor, era uma palavra derivada
do verbo convivere, viver junto.
O fundamento para tal elogio se encontrava naturalmente nos clássicos.
Homero, por exemplo, dá testemunho sobre o valor simbólico do banquete
grego em termos políticos, sociais e culturais. Platão, nas Leis, atribui ao
banquete um papel importante como parte da educação de qualquer
cidadão. Para os atenienses, era um modo de controlar o prazer, pois à mesa
o homem estaria a meio caminho entre dois extremos, a razão e o delírio.
Encorajado por esses textos, o banquete passou a representar um ideal
filosófico da Renascença, o equilíbrio entre opostos.
Michel Jeanneret, autor do único estudo importante sobre o papel do
banquete no pensamento renascentista, resume:
… a festa como lugar de prazer e de plenitude tem uma multidão de ressonâncias no
simbolismo da Renascença. Pela festa se expressa a confiança de uma época na qual se
acreditava que, com a graça de Deus, era possível para as pessoas crescer em harmonia com a
natureza, mesmo vivendo no coração da sociedade.54
O BANQUETE DO RENASCIMENTO
A partir da herança borgonhesa do final da era medieval, o banquete do
século XVI iria se transformar num evento altamente elaborado.70 Comida e
sabor não tinham qualquer importância naquela demonstração de
superabundância e luxo, os únicos indicadores de poder e status político na
nova era das cortes. O hóspede devia ser ator-espectador num tipo particular
de ritual, governado por regras específicas e com um único propósito:
glorificar o anfitrião. Grandes acontecimentos, como a visita de um
governante a outro ou um casamento dinástico, eram marcados primeiro
pelo espetáculo público de uma parada triunfal, e depois pelo espetáculo
privado de um banquete no palácio, programa que ainda sobrevive na Grã-
Bretanha de hoje. Inicialmente mantinha-se a privacidade do banquete, mas
aos poucos, à medida que se evidenciou o seu poder de impressionar,
tornou-se costume admitir espectadores.
Em meados do século XVII, Giacomo Colorsi, mordomo do cardeal
degli Albizi, escreveu que “o homem que prepara um banquete tem tanto a
fazer quanto aquele que comanda um exército…”.71 Práticas que já vimos
surgir na corte de Este espalharam-se não apenas para outras cortes
italianas, mas também para o norte dos Alpes. Cada corte agora devia ter
algum tipo de mestre-de-cerimônias, responsável (como Messisbugo em
Ferrara) por todos os aspectos da festa, da decoração ao cardápio. Tal
funcionário variava — podia ser o mordomo, o maestro della casa, o scalco
ou mesmo o trinciante. Em qualquer dos casos ele era como o maestro de
uma orquestra, com autoridade sobre todos, dos fornecedores de
ingredientes à equipe da cozinha e aos moços que levavam os pratos — os
scudieri ou camarieri, ajudados pelos incontri e paggi. O acontecimento
final era uma coreografia em grande estilo.
Independentemente do revestimento alegórico superposto à festa, suas
partes componentes permaneciam constantes. Agora é tempo de analisá-las.
Elas começavam com a seleção de um local e sua decoração. Os materiais
sobre esse assunto são abundantes nos arquivos da corte de Gonzaga, que,
como a de Este, mais do que tudo desejava impressionar.72 Quem visita o
palácio ducal em Mântua logo percebe que não se tratava apenas de decorar
um único grande salão para a ocasião; havia um conjunto bastante
extraordinário de salas capazes de acomodar acontecimentos importantes. A
família interessava-se vivamente por todos os detalhes, afinal, era com tais
ostentações que ela apresentava uma imagem de si própria aos convivas.
Francisco II, por exemplo, escolheu tapeçarias com a história de Tróia para
a sala que abrigou o banquete nupcial para o casamento da irmã Elizabeth
com Guidobaldo di Montefeltro, duque de Urbino. A mulher de Francisco,
Isabella d’Este, que poderia ser apropriadamente definida como uma vítima
da moda renascentista, era obcecada pelos menores detalhes de todas as
festas. Por ocasião de uma homenagem à duquesa de Ferrara e Prospero
Colonna, em 1513, ela não só quis ver a descrição completa da decoração,
mas também uma demonstração do que seria tocado e cantado, a exata
distribuição dos lugares e o cardápio. Para os Gonzaga, tratava-se de
ocasiões de prestígio, administradas, no caso, pelo maestro della casa. A
maior de todas foi o banquete dado pelo marquês Federico em 1530, pouco
depois de ter sido feito duque por Carlos V. A morada clássica dos
Gonzaga, o palácio do Tè, concebida e construída como um grande cenário
dinástico, foi palco de uma opulência tão esplêndida que deixou sem fôlego
os que dela tomaram parte.
Naquele período, ainda mais do que no final da Idade Média, as festas
eram pretexto para uma exposição estonteante de objetos valiosos, expostos
no que, dependendo do país, era chamado de credenza — aparador — ou
dressoir.73 Esse tipo de decoração já altamente desenvolvido na corte
borgonhesa seria adotado e adaptado em termos de sua própria arte pela
Itália renascentista. O historiador Vasari descreve a credenza no afresco de
Giulio Romano no palácio do Tè, retratando o banquete de Cupido e Psiché,
como carregada de “bizarros vasos, bacias, jarras, taças … em várias
formas e estilos fantásticos”. A pintura de fato transmite uma viva
impressão de como eram arrumados aqueles aparadores para uma festa ao
ar livre. Uma mesa com prateleiras, coberta por toalha de linho branco,
aparece emoldurada por uma latada com folhagens artificiais. Os elementos
sobre a mesa são combinações extremamente exóticas de motivos clássicos,
vegetação e monstros fantásticos. Sabemos que os objetos não são
puramente imaginários, porque sobreviveram desenhos de Giulio Romano
para a família Gonzaga, e eles são exatamente do mesmo tipo.74
Um exemplo extremo de tal exibição foi o casamento de Maria de
Médici, sobrinha do grão-duque da Toscana, com Henrique IV, em 1600. O
banquete foi encenado na Sala del Cinquecento do antigo palácio da
Signoria. Uma vasta credenza na forma de um lírio carregado de jóias —
referência tanto ao lírio da cidade de Florença como à flor-de-lis francesa
— tinha por cima um pálio de tecido de prata, coroando uma exibição de
cerca de dois mil pratos de ouro, prata e prata dourada. Havia também
pratos de pietre dure, bem como parte da coleção ducal de peças em bronze,
em particular o conjunto de Giambologna dos 12 trabalhos de Hércules.75
Tais exibições nunca tinham função utilitária, embora isso seja difícil de
provar. Benvenuto Cellini lembra em sua autobiografia uma encomenda do
cardeal de Salamanca, um jarro para água, descrevendo-o como do tipo
usado apenas para decoração em aparadores.76 O fato de que conjuntos de
pratos fossem feitos especialmente para exibição, e não simples conjuntos
desencontrados de peças valiosas, sustenta tal afirmativa. A cidade de Paris
presenteou duas rainhas da França, Catarina de Médici, em 1549, e
Elizabeth da Áustria, em 1571, com tais conjuntos por ocasião de sua
chegada triunfal. O de Catarina consistia de 27 peças de prata dourada
salpicada de flores-de-lis.77 Um inventário dos pratos de Felipe II de
Espanha feito em 1554 traça uma clara distinção entre peças para uso e
peças para exibição.
A moda dos conjuntos combinados de pratos para exibição refletiu-se em
outra novidade revolucionária, a introdução de novas e muito mais luxuosas
formas de cerâmica. Elas não apenas mudaram radicalmente a aparência da
mesa, mas também implicaram a produção de serviços feitos apenas para
serem exibidos. O mais antigo foi encomendado por Isabella d’Este,
duquesa de Mântua, em 1524: um imenso serviço de faiança pintado por
Nicolò da Urbino com as armas e divisas da duquesa e outros temas
escolhidos por ela.78 Um serviço desses era muito mais caro que os de prata
e destinava-se a ser exposto no aparador, de maneira a ser visto pelos
convivas como quadros numa galeria. Os temas de tais conjuntos eram
quase sempre pictóricos e geralmente tirados de textos clássicos,
particularmente as Metamorfoses, de Ovídio.
Isabella ditou a moda. À medida que o século avançava, serviços desse
tipo passaram a ser um dos presentes mais requintados que um príncipe
italiano podia dar a um estrangeiro importante. Um serviço — do qual ainda
sobrevivem várias peças — parece ter sido encomendado pelo papa Paulo
III como presente para Anne de Montmorency em 1553, em gratidão pela
ajuda na eleição papal. Decorado com cenas das Metamorfoses, incluía
pratos, travessas, castiçais e jarras, e era uma obra importante da oficina de
Guido Durantini de Urbino. Outro serviço do mesmo artista foi para o
chanceler da França, cardeal Antoine Duprat. Mais tarde Felipe II foi
presenteado com um serviço ainda mais grandioso, adornado com cenas da
vida de Júlio César desenhadas pelo pintor Taddeo Zuccaro. Na França, ao
final do século XVI, Bernard Palissy produzia elaboradas peças de cerâmica
apenas para serem exibidas no aparador. E serviços semelhantes eram feitos
em vidro.
A produção italiana de cerâmica iria mudar a aparência da mesa, e a
travessa substituiu o prato de trinchar como recipiente para a comida no
jantar. Isso aconteceu primeiro na Itália, onde, durante o século XV, a
técnica da faiança decorada de azul cobalto e com brilho metálico foi
importada da Espanha. Essa técnica foi transmitida pelos árabes durante a
ocupação do sul da península Ibérica e difundiu-se para o norte até alcançar
a ilha de Majorca (daí o outro nome comum para a cerâmica, maiólica).79
Os italianos rapidamente aprenderam a produzi-la, e por volta de 1480
haviam criado um estilo próprio. Este incluía tanto os serviços
suntuosamente decorados, para serem exibidos, como cerâmicas para uso
comum. Sua maior disponibilidade na Itália fez com que a prática de
partilhar vasilhas à mesa desaparecesse gradualmente; quando viajavam
para os territórios ao norte dos Alpes, os italianos mostravam-se
horrorizados ao deparar com o que passaram a encarar como uma barbárie
social.
No final do Quattrocento, Lorenzo de Médici tinha um serviço de
viagem com cerca de 40 peças em sua vila de Correggio. Em 1518 Clarissa
Strozzi encomendou um serviço de 48 peças alla porcellana. Os dois casos
nos indicam a multiplicação das vasilhas à mesa. Faenza, que iria se tornar
um grande centro de produção, desempenhou papel fundamental na
constante elaboração de objetos de mesa promovida pela corte de Este. Em
uma das festas de casamento de 1565, por exemplo, foram usados 12 mil
pratos de maiólica decorados com as cores da duquesa.80 Um inventário do
palácio paladiano de Montano Barbaran, em 1592, mostra que a coleção de
maiólica desse aristocrata veneziano incluía 18 candelabros e 181 peças
grandes e pequenas, todas decoradas com as armas de Barbaran. E era
muito bonita — num diário há o registro de um jantar na vila “com muitos
outros nobres e oficiais; o serviço de jantar era da mais bela maiólica…”81
Tais pratos tinham em geral uma borda larga para a comida e uma
concavidade no centro para o molho. Esses serviços devem ter contribuído
muito para a unidade visual da mesa, algo desconhecido na Idade Média.
Não que o uso da maiólica escapasse à preocupação dominante com a
hierarquia. Nos acontecimentos mais importantes, travessas de ouro e prata
continuariam a ser usadas na mesa alta, com a maiólica presente nas mesas
baixas. A multiplicação dos objetos de mesa também significava que cada
comensal tinha seu próprio recipiente de bebida; já não se dividia o mesmo
copo.
Uma credenza ao ar livre, carregada de pratos. Detalhe de um afresco de Giulio Romano, palácio do
Tè, Mântua, c.1524-35.
Uma senhora chupa o garfo ao canto da mesa, durante a sobremesa. Detalhe de Bodas de Caná,
1562-3, de Paolo Veronese.
Banquete dado em honra de Cristiano III, rei da Dinamarca, por Bartolomeo Colleoni. O rei está
sentado sozinho à cabeceira da mesa, com seu trinchante servindo-o. Em deferência à sua posição,
está isolado dos outros comensais pela distância. Pintura de Marcello Fogolino, década de 1530.
Os sentidos do paladar, audição e tato evocados pelo banquete. Detalhe de um quadro de Brueghel
de Veludo, começo do século XVII.
DA FESTA À FANTASIA
Um dos mais influentes livros de todo o Renascimento apareceu em Veneza
em 1499. Hypnerotomachia poliphili, de Francesco Colonna, é uma
romança alegórica com uma diferença, pois o herói buscava sua amada
Polia em viagem por uma clássica e humanista terra dos sonhos. Um dos
incidentes nesta fantasmagoria era um banquete de sete serviços dado por
uma rainha.100 Não apenas os convivas trocavam de roupa para cada
serviço, como os criados também trocavam de libré. Cada serviço era
prenunciado pela entrada de um estupendo bufê sobre rodas, “cuja frente
tinha a forma de barco ou taça, e a parte de trás a forma de uma carruagem
triunfal”. Todo novo estágio do banquete era acompanhado por música.
“Desta maneira”, diz o texto, “sempre se estava ouvindo música adorável,
escutando gentis harmonias, dando ouvidos a deliciosas melodias,
respirando deleitáveis perfumes e recebendo as mais prazerosas satisfações
do apetite.” Assim, por exemplo, uma roupa de seda púrpura (que Platina
certamente não aprovaria) salpicada de rosas era seguida por uma veste
amarela mosqueada de lírios do vale e narcisos. As iguarias variavam de
pastéis coloridos com açafrão e imersos em água almiscarada a peito de
pavão com molho agridoce. O finale envolvia cinco criados vestidos de
seda azul pontilhada de ouro, distribuindo frutas tiradas de um arbusto de
coral, seguidos por uma fonte móvel salpicada de jóias que girava e
molhava os convivas. Finalmente vinha um balé interpretado por 32
dançarinos vestidos como reis e rainhas.
O que Colonna invocava em sua imaginação estava na verdade muito
pouco distante da realidade. Festejos com nível de complexidade próximo a
este eram um fato na vida das cortes italianas ao final do Quattrocento. O
Hypnerotomachia poliphili foi imensamente popular em outros lugares,
tendo sido elegantemente traduzido para o francês por Jean Martin em 1546
(embora reduzido a um quarto), e para o inglês por sir Robert Dallington,
em 1592 (que parou bruscamente nos dois quintos do caminho). Mas o
estilo de banquete que descreve deve ter impressionado seus leitores do
norte da Europa pelo estilo muito diferente a que estavam habituados. O
efeito seria reforçado pelo fato de que o livro era cheio de ilustrações que
deviam muito aos trabalhos da arqueologia renascentista e aos estudos
clássicos. No caso da festa, estamos mais uma vez imersos numa recriação
imaginativa dos banquetes da Antigüidade. Já encontramos esse tipo de
festa — com sua preocupação com a cenografia e a coreografia de tipo
extremamente complexo — organizada por Messisbugo e seus sucessores
na corte de Ferrara. É nada menos que o banquete como uma produção
teatral unificada, de um tipo jamais alcançado no sinuoso vaudeville da
corte borgonhesa, em que se fixa um tema único, e tudo, da decoração e
librés às iguarias figurativas e ao entretenimento, está submetido a ele.
Bufê em forma de carruagem triunfal, do livro Hypnerotomachia poliphili, de Francesco Colonna,
1499.
Uma majestosa mascarada encabeçada por Mercúrio e Diana faz sua entrada num banquete do final
da era elisabetana. Detalhe de Memorial Picture of sir Henry Unton, c.1596.
Existem evidências de que nem todos eram tão facilmente seduzidos
pelo dramático crescimento de prodigalidade em tais espetáculos culinários.
Na península Ibérica ocorreu uma forte reação contra a adesão do
imperador Carlos V aos excessos e espetáculos borgonheses. O grande
inquisidor Torquemada, em seus Coloquios satiricos (1553), elogia a
“antiga frugalidade e a simplicidade espanhola”, em contraste com as mesas
servidas àla flamande. Quando estava na Espanha, o imperador tinha o
cuidado de não exibir qualquer ostentação.108
Giorgio Vasari, em sua biografia do escultor florentino Giovan
Francesco Rustico, nos apresenta um outro ponto de vista crítico.109 Rustico
formou um grupo que se autodenominava Companhia do Caldeirão e que
encenava banquetes. Cada membro podia convidar quatro pessoas e deveria
levar um prato. O resultado parece ser uma paródia deliberada da decoração
e da comida de um grande banquete da corte dos Médici. Numa dessas
reuniões, os comensais foram colocados em volta do que parecia ser um
enorme caldeirão, de tal maneira que pareciam estar sobre a água fervendo.
Os pratos eram versões infames das comidas figurativas da corte:
Na sua vez, Rustico apresentou um caldeirão feito de massa, em que Ulisses assava o pai para
rejuvenescê-lo, sendo que as duas figuras eram capões em forma de gente.… Andrea del
Sarto [o pintor] apresentou uma igreja octogonal como a de são João, mas apoiada em
colunas. O pavimento era feito de gelatina, parecendo um mosaico multicolorido; as colunas,
que pareciam de porfírio, eram salsichões; as bases e capitéis, queijo parmesão; as cornijas
eram de massa e açúcar, e os aposentos, de marzipã. No meio havia uma estante de música
feita de vitela fria, com um livro de massa, sendo as letras constituídas de grãos de pimenta.
Os cantores eram tordos assados com os bicos abertos, usando sobrepelizes de redanho de
porco, e atrás deles havia dois grandes pombos como base e seis cotovias como soprano…
E assim continuou a encenação até que, em certo momento, tudo isso foi
levado: “Foram trazidas luzes, e uma cena régia tomou o lugar, com servos
decentes trazendo o restante de um banquete magnífico.” É difícil não
acreditar que os artistas responsáveis por essas paródias eram os mesmos
que criaram os maravilhosos eventos cortesãos ali caricaturados. Poderiam
eles ignorar à custa de quem estavam tendo noitadas tão agradáveis?
O banquete de açúcar na salle enchantée, em Binche, 1549. Desenho, meados do século XVI.
Refeição de açúcar por ocasião do casamento de Johann Wilhelm, herdeiro do duque de Jülich-
Cleve, 1587. As pessoas no primeiro plano foram reduzidas ao tamanho de pigmeus. Gravura, final
do século XVI.
Entre 1549 e 1553, sir William Sharington construiu uma torre com duas
salas de banquetes, cada qual com uma mesa para sete pessoas, em Lacock
Abbey, Wiltshire. Perto dali, em Longleat House, no começo do período
elizabetiano, sir John Thynne pontilhou o telhado de sua mansão com
pequenos quartos como vasos de pimenta. Ali os hóspedes podiam
combinar os prazeres do próprio banquete com os do ar fresco e a paisagem
do campo.
No reinado de Elisabeth essas características arquitetônicas eram de dois
tipos: salas de perspectiva, como as construídas em Hardwick Hall,
Derbyshire, pela condessa de Shrewsbury na década de 1590, ou edifícios
completamente separados no terreno da propriedade, como a casa de
banquetes desenhada por Robert Lyminge para Blicking Hall, Norfolk, no
período jacobiano. Francis Bacon, filósofo e chanceler, tinha “uma curiosa
casa de banquetes em arquitetura romana, com chão de mármore preto e
branco”, numa ilha. Como uma edícula comum às grandes mansões, tais
casas de banquetes deveriam durar até o século XVIII.
A palavra banquet passou a ser usada na Inglaterra na década de 1530,
para estabelecer a diferença com o termo feast.118 Ela conota também o
desejo humanista de reviver a arte da conversação. Em 1539 sir Thomas
Elyot publicou The Bankette of Sapience, um compêndio de ditos
espirituosos e aforismos que associava a forma de banquetear entre os
Tudor com a arte revivida do discurso. Quanto às iguarias, embora o
banquete tenha se iniciado com elementos importados, como cascas de
frutas cítricas em conserva, geléias de marmelo e conservas de frutas
macias, logo seriam acrescentadas, como era típico do norte da Europa com
seus laticínios, alimentos como leite com canela, gelatinas cremosas e água
de rosas com queijo. Eram servidos com vinhos doces do sul da Europa e
uma elaborada variedade de biscoitos. Gervase Markham, em seu The
English Huswife (1615), explica como preparar uma dessas refeições com
“um prato de exibição apenas”, de tipo figurativo, e todos os outros pratos
arranjados em volta.
O mais completo relato de um banquete de açúcar elizabetiano, capaz de
rivalizar com os das cortes italianas, descreve a recepção oferecida à rainha
Elizabeth I em Elvetham, em 1591, pelo conde de Hertford, que estava
ansioso por cair em suas graças.119 Enquanto a rainha e seu séquito, ocultos
numa galeria construída para a ocasião numa colina, admiravam um lago
artificial iluminado por fogos de artifício, 200 cavalheiros escoltados por
cem tocheiros lentamente encaminhavam-se em procissão, colina acima,
levando o banquete. A procissão tinha à frente as armas da rainha e da
nobreza e era seguida por uma variedade de objetos associados com a
guerra — castelos, canhões e soldados. (Naquele momento os ingleses
estavam em guerra com a França.) Depois vinham “quadrúpedes”, “tudo o
que pode voar”, “todos os tipos de vermes” e “todos os tipos de peixes”. O
marzipã era apresentado em todos os formatos, e depois vinham frutas
frescas e uma variedade de gelatinas, conservas, confeitos e balas.
Durante o período jacobiano o banquete se tornou indispensável nas
noites em que se realizavam mascarada.120 Após a ceia e a mascarada, o rei
Jaime I levava os convidados a uma sala no palácio Whitehall para o
banquete. O que acontecia depois nem sempre era edificante. Em 1605 o
ataque às mesas foi tão feroz que elas desabaram sob o massacre. Em 1613,
por ocasião do casamento da filha única do rei, Elizabeth, com o eleitor
Palatino, havia “mesas compridas com milhares de confeitos”. Não
obstante, “num minuto tudo foi vorazmente devorado”.
Ben Jonson escreveu mais de um roteiro para os banquetes de seu
patrono William Cavendish, conde de Devonshire e mais tarde duque de
Newcastle.121 O mais delicioso é o que está ligado aos dois acontecimentos
ocorridos no castelo de Bolsover em 30 de julho de 1633, na presença do rei
Carlos I e Henrietta Maria em sua viagem para o sul após a coroação na
Escócia. O elegante roteiro de Jonson celebrava a bênção nupcial do par
real, ligando-o à harmonia do reinado e do cosmo:
Quando os sentidos estão em tão boa ordem
Colocados?
A Vista, o Ouvido, o Olfato,
o Tato e o Paladar,
Todos num mesmo Banquete.
Tudo isso fica ainda mais interessante no reinado de Elizabeth, sua filha.
Embora ela jamais comesse em público, o ritual do jantar diante dos
cortesãos era encenado todos os dias, como se eles lá estivessem. Visitantes
estrangeiros testemunharam e descreveram o acontecimento. Paul Hentzner,
por exemplo, fez em 1598 um relato de um acontecimento quase surrealista:
Um cavaleiro entrou na sala levando uma vara e junto com ele um outro, com uma toalha de
mesa; depois que os dois se ajoelharam três vezes com a mais profunda veneração, a toalha
foi estendida na mesa; ajoelhando-se outra vez, ambos se retiraram. Então vieram outros dois,
um, mais uma vez, com a vara, o outro com um saleiro, um prato e pão; e após se ajoelharem
como os anteriores, e colocarem na mesa o que traziam, também se retiraram com as mesmas
cerimônias realizadas pelos primeiros. Finalmente entrou uma dama solteira (disseram-nos
que era uma condessa) e junto com ela outra dama casada, trazendo uma faca de prova; a
primeira estava vestida de seda branca; depois de se prostrar três vezes da maneira mais
graciosa, aproximou-se da mesa e esfregou os pratos com pão e sal com tanto cuidado como
se a rainha estivesse presente. Após algum tempo de espera, o comandante da guarda entrou,
de cabeça descoberta, vestido de escarlate, com uma rosa dourada nas costas, trazendo de
cada vez um serviço de 24 pratos servidos em travessas em sua maioria douradas; estes pratos
foram descobertos por um cavaleiro na mesma ordem em que foram trazidos e colocados na
mesa, enquanto a dama encarregada de provar dava a cada guarda um bocado do prato que ele
havia trazido, por medo de veneno. Enquanto estes guardas traziam o jantar, 12 trombetas e
dois timbales faziam o salão tremer por meia hora.126
O relato feito por de Croÿ deixa claro que estamos a séculos de distância
da alegoria e da coreografia do banquete do Renascimento. A refeição ainda
era um exercício de discriminação social, mas de tipo muito diferente. Ter o
nome marcado pelo rei era o ápice da aspiração social, permitindo entrar em
outro mundo e deixar os que não eram premiados com inveja e
possivelmente com bastante ressentimento.
Mas entrar em outro mundo pressupõe um mundo existente. Percebemos
que a esfera pública permanecia intacta e funcionando quando somos
informados de que, depois da ceia, o rei dirigia-se a seu quarto de dormir
oficial para o ritual público do coucher. Os grands appartements não foram
substituídos pelos aposentos conhecidos como petits cabinets ou petits
appartements, onde em geral tinham lugar os soupers intimes; pelo
contrário, estes foram deliberadamente construídos para que o rei pudesse
escapar ao rígido protocolo da vida em público. Ele se mudara para lá em
1738. O formato das ceias não cerimoniosas fora introduzido três anos antes
sob a égide do cardeal Fleury, ministro do rei, que com elas queria ajudar o
monarca a vencer a timidez. Ceias semelhantes só haviam sido dadas pelo
tio de Luís, Felipe, duque d’Orléans, no Palais Royal em Paris. Neste caso,
o objetivo tinha sido em grande parte a gula (Orléans havia aprendido a
cozinhar na Espanha) e a sedução (apareceram os afrodisíacos). Esta
também se tornou parte do cenário de Luís XV quando duas de suas primas,
mademoiselle de Charolais e a condessa de Toulouse, promoveram petits
soupers aos quais as damas eram convidadas. Foi num destes eventos que o
rei encontrou sua primeira amante, madame de Mailly, uma ligação que
precipitou diretamente a criação dos petits appartements e também as petits
voyages que começou a fazer para os castelos de La Muette e Choisy,
cenários dos outros jantares informais. Ali ele podia deleitar-se na caça e
depois entregar-se a festas íntimas com os camaradas de caçada e um grupo
seleto de mulheres encabeçadas pela Pompadour.
Estes soupers intimes não se pareciam nada com o que encontramos até
agora. São na verdade a refeição arquetípica do século XVIII, que buscava
banir o ritual e era destituída de mensagens simbólicas. Tratava-se de uma
atmosfera de alta moda, flertes, agudeza de espírito e mexerico. O uso da
mesa redonda poupava os comensais das complicações de precedência. A
ausência de criados em grande parte da refeição não apenas desinibia a
conversa como também o livre fluxo de vinho; este era colocado, junto com
os copos, diretamente sobre a mesa. O jantar de ostras (1735), de Jean
François de Troy, que foi pintado para a première salle à manger de
Versalhes, embora desprovido do frisson da companhia feminina, sugere o
ambiente jovial de tais reuniões. Ali a mesa redonda está coberta com uma
toalha branca. Sobre ela podemos ver os pequenos seaux (potes) chineses
ou japoneses cheios de água, nos quais as taças estão emborcadas para
serem lavadas. Um comensal se inclina para pegar uma garrafa de vinho.
Enormes guardanapos estão dobrados no colo dos convidados. No primeiro
plano há um esfriador de vinho com garrafas no gelo e prateleiras para
pratos. Todo mundo está se divertindo a valer.
Em Choisy a privacidade era levada ao extremo. Os criados podiam ser
virtualmente eliminados, porque um mecanismo especial fazia com que o
centro da mesa de jantar se abaixasse e depois subisse trazendo a nova
seqüência.3 Na sala propriamente dita, quatro aparadores permitiam que
pratos e taças ficassem à mão, e também tinham penas, tinta e papel para
que os convivas escrevessem o que queriam beber. O toque de um sino
minúsculo produzia as mudanças milagrosas.
A tendência à privacidade acarretou outra inovação, o cardápio, uma
listagem por escrito da seqüência dos pratos a serem servidos. Os únicos
cardápios do século XVIII que sobreviveram são de ceias acontecidas em
Choisy, 67 no total (32 em 1751 e 35 em 1757).4 Alguns são retangulares,
outros redondos; como existem duplicatas, pode ser que várias cópias
fossem colocadas à mesa. Descrevem pratos para algo como 31 ou 36
convivas, de espécies muito diferentes daqueles da mesa renascentista. Em
primeiro lugar havia menos serviços, apenas quatro, mais a sobremesa. No
entanto, é bem claro que tais cardápios marcavam um intenso interesse dos
convidados pelo que iam efetivamente comendo. Estava começando a idade
do gourmet. A refeição iniciava-se com sopas e ragus ou oilles, passava
para uma imensa variedade de entradas, depois para os assados e finalmente
para os petits entremets. Nessa estrutura havia uma nova progressão, do
picante ao doce. E também, o que é notável, incluíam-se pratos atribuídos a
certas pessoas, ou que lhes levavam o nome, como Dindon du mareschal de
Richelieu ou Pâté de madame la Marquise de Pompadour. O que isso quer
dizer? Será que esses importantes personagens realmente cozinhavam tais
pratos, ou eles eram a spécialité de suas maisons? O que certamente
podemos ver é que refletem uma culinária de complexidade até então
desconhecida.
Um caminho extraordinário foi percorrido desde o início do século
XVII. Chegamos a refeições nas quais a hierarquia era posta de lado, os
convidados se serviam, o foco estava nos discursos e nas inter-relações
sociais descuidadas e elegantes. Nessas refeições, a arte da culinária tornou-
se um interesse tão central que os convidados queriam saber por escrito o
que lhes seria servido. Parece que estamos bem perto de nossa própria
experiência à mesa. Como isso aconteceu? O simples fato de ter ocorrido
sugere que foi meramente uma violenta reação ao sufocante e antigo estilo
de comer das classes altas, por parte daqueles aprisionados em suas
formalidades. Na verdade a mudança é um fenômeno muito mais complexo.
Os soupers intimes de Luís XV jamais poderiam ter acontecido sem novos
fatores. Um deles foi a perda de fé na antiga cosmologia renascentista das
correspondências. Outro foi o aparecimento dos ideais sociais dos
philosophes do Iluminismo. E outro, ainda, foi o eclipse da crença inocente
na verdade do que se vê, princípio subjacente à idéia da mesa como veículo
para o cerimonial e a alegoria.
Nada disso aconteceu do dia para a noite, nem simultaneamente em
todos os países da Europa Ocidental. Foi necessário que a maneira
cerimonial de comer alcançasse o ápice de uma grandeza tão opressora que
era imperativo livrar-se dela. Em termos estilísticos, o caminho é o que vai
do barroco ao rococó. Mas devemos começar pelo barroco. E mesmo ele
tem suas ironias, pois — precisamente no momento em que uma nova
culinária aparecia na França — o aparato do banquete na Itália em sua fase
barroca estava desenvolvendo uma aberração estética ímpar: a arte da
comida figurativa, primeiro orquestrada na corte dos Este, em Ferrara, no
Quattrocento, e agora culminando na escultura culinária da Roma de
Bernini.
O TRIUNFO DA ILUSÃO
Em janeiro de 1687, Roger Palmer, marquês de Castlemaine, embaixador
do rei Jaime II na Santa Sé, encenou um banquete espetacular no palácio
Pamphili, em Roma, para homenagear cerca de 80 cardeais e outros
dignitários eclesiásticos.5 Felizmente conhecemos bem esse magnífico
acontecimento; o camareiro do marquês, o pintor John Michael Wright, que
estudou em Roma, fez uma descrição detalhada do banquete publicada em
italiano e em inglês. A edição inglesa apareceu apenas um mês antes de
Jaime II ser forçado a fugir do reino, por isso existem poucas cópias. A
maioria foi destruída porque o volume belamente ilustrado registrava o que
a Inglaterra protestante considerava uma afronta mortal — uma embaixada
enviada para homenagear o papa.
Aquela foi uma comitiva oficial imensamente cara. Embora tivesse
chegado a Roma na Páscoa de 1686, passaram-se meses antes que
Castlemaine fizesse sua entrada ritual na cidade e prestasse homenagem ao
papa. Tanto esta como a festa que se seguiu, em janeiro, foram realizadas à
maneira italiana, e em ambas Castlemaine utilizou os serviços de dois dos
maiores expoentes do estilo barroco, Ciro Ferri e seu ajudante Lenardi. Na
noite da festa, os convidados subiram as escadas para o piano nobile do
palácio e viram-se no primeiro dos três salões. Ali, na sala dos Palafrenieri,
havia duas mesas do comprimento do salão, onde as sobremesas haviam
sido arrumadas, “maravilhosas quantidades de frutas, doces, queijos
parmesãos e outras iguarias”. Nas paredes do salão seguinte havia também,
uma diante da outra, duas credenze sob pálios, uma delas carregada de
pratos de prata, a outra com vasos preciosos de cristal. Membros da guarda
suíça e 20 infantes as protegiam.
O banquete propriamente dito acontecia no terceiro salão, uma gloriosa
galeria com afrescos de Pietro da Cortona no teto. As paredes eram
enriquecidas com tapeçarias trazidas da Inglaterra. Havia outra credenza
com uma exposição de pratos ingleses e, a meio caminho da mesa, sob um
pálio, um retrato de corpo inteiro de Jaime II no trono. Oitenta cadeiras
douradas estavam arranjadas em volta da mesa, em grupos de quatro, e um
criado e um trinciante serviam cada grupo. Vinte e um pratos foram
apresentados antes que se trouxessem as sobremesas do primeiro salão. O
que mais impressiona na gravura é a decoração da mesa. Junto à borda há
guardanapos dobrados em forma de pedras e, no cercado central, uma
variedade de animais heráldicos, os leões e unicórnios das armas reais,
feitos de açúcar. Todas essas criaturas eram subsidiárias do maciço painel
no centro da mesa, com 11 grandes esculturas de açúcar. O relato de Wright
inclui gravuras dessas esculturas, ou trionfi, realmente impressionantes.
Quatro mostravam os elementos em disfarces mitológicos, outras quatro
eram de grupos representando virtudes reais, duas mostravam palmeiras
(em referência ao nome de família de Castlemaine, Palmer), e finalmente a
mais alta — de quase dois metros — era uma alegoria do retorno da
Inglaterra à fé católica. Acima de uma auréola está a figura da Santa Igreja
vendo o Tempo revelar a verdade, enquanto um herói alado vence a Fraude,
a Discórdia e uma hidra “que representa o fim da Rebelião” (a rebelião em
questão é a do duque de Monmouth). O livro nos conta que todo o conjunto
foi montado e aberto à visitação pública por dois dias antes do evento, e que
“os curiosos puderam participar do entretenimento”. Após a festa, essas
belas e transitórias obras-primas do barroco romano foram presenteadas a
grandes damas de Roma.
Não existe nada exatamente como o banquete oficial do Seicento
italiano, um fim de linha culinário em que a cozinha inovadora de Scappi
foi substituída por qualquer coisa que encantasse os olhos e evocasse
opulência, excesso e grandiosidade.6 As realizações da cozinha
renascentista ficaram subordinadas às do scalco e do trinciante. Onde
Scappi, no final do século XVI, havia mantido a integridade de cada prato,
os livros de cozinha escritos por seus sucessores exploraram todas as
formas de efeitos visuais que pudessem ser alcançadas com a manipulação
da comida. Esse desejo dominante de transformar tudo que fosse comestível
em alguma outra coisa alcançou o clímax em Lo scalco moderno (1692), de
Antonio Latini, com uma vasta seção dedicada aos trionfi do tipo que
encontramos no banquete de Castlemaine. Isso incluía guardanapos
dobrados em formatos ainda mais complexos, esculturas de manteiga e
composições arquitetônicas e figurativas feitas de marzipã, massa folheada
e açúcar. No entanto, a despeito de sua perversão, a forma alcançava um
certo nível estético. Em nenhum outro momento da história da mesa a
comida foi capaz de assumir seu lugar, para pior ou para melhor, junto às
grandes artes decorativas de uma época, em particular pequenas
composições esculturais em bronze e prata.7 Os contemporâneos estavam
bem cientes do fato; uma das críticas levantadas contra a grande estátua
eqüestre do imperador Constantino, de Bernini, era que “o cavalo parecia
um trionfo de marzipã e merengue”. Tal acusação é compreensível quando
levamos em conta que a cozinha do Vaticano incluía uma sala chamada
stanza dei trionfi, dedicada exclusivamente à manufatura de tais peças. Elas
podiam muito bem ser desenhadas pelos principais artistas da época.
Sabemos com certeza que o próprio Giovanni Lorenzo Bernini desenhou
uma série de trionfi para um banquete dado pela princesa Aldobrandini em
homenagem ao cardeal de Médici em 1668.
A Bretanha retorna à fé católica. Trionfo do banquete encenado por lorde Castlemaine, 1687.
Gravura de 1688.
Festa na Quinta-Feira Santa no Vaticano, com trionfi figurativos. Desenho de Pierre Paul Sevin,
1668.
A provável presença da rainha Cristina da Suécia é uma lembrança de
que em 1655 foram encenados alguns dos mais complexos de todos os
banquetes barrocos italianos, quando ela viajou pela Itália até Roma, em sua
conversão.10 Quanto mais perto chegava da cidade, mais elaborados
tornavam-se os aparatos que celebravam o acontecimento. Tal era a
importância atribuída a eles que o mais famoso confeiteiro da época, Luigi
Fedele — que aprendera o ofício na corte de Gonzaga, em Mântua, antes de
ser chamado a Roma por Inocêncio X —, viajava na comitiva. Em Forli os
trionfi eram tão espantosos que foram recebidos com uma salva de palmas
igual à que homenageou a rainha. Em Imola a decoração da festa incluía,
entre outras maravilhas feitas de marzipã, a religião calcando a heresia,
Palas Atena em seu carro e anjos carregando uma coroa acima das armas da
rainha. Em Mântua, a 27 de novembro, a rainha viu um “Monte Olimpo
com o altar da fé. No cume, dois putti seguravam uma coroa real acima da
cota das armas de sua majestade”. Em volta estavam agrupados quatro
vasos de prata de onde cresciam laranjeiras feitas de gelatina e galerias com
arcadas em que guerreiros e homens virtuosos se misturavam a animais
fabulosos. Sabe-se que Cristina jamais havia visto coisa igual, pois em
Assis pediu que todos os trionfi fossem levados a seu quarto para que ela
pudesse estudá-los. Isso provocou uma grande confusão, porque um deles já
havia sido dado e teve de ser recuperado.
Mas nem mesmo os trionfi poderiam eclipsar os arranjos quase grotescos
precipitados pela decisão de Alexandre VII de conceder à rainha a honra de
jantar com ela em público. O evento teve lugar a 26 de dezembro, um dia
depois que a presença de Cristina foi confirmada, e fornece um
surpreendente exemplo das complexidades protocolares que poderiam
surgir numa festa no século XVII. O papa era a personificação terrena do
poder espiritual. Sempre comia sozinho, e jamais na presença de uma
mulher. Uma complicação adicional era o status da rainha: ela havia
abdicado, de modo que não era mais soberana, o que significava que não se
qualificava para uma cadeira com braços. Bernini recebeu a encomenda de
projetar uma cadeira sem braços que ao mesmo tempo parecesse tê-los. O
criador das esculturas de açúcar foi Giovanni Paulo Schor, o mais
importante desenhista da arte decorativa da Roma barroca. Sobreviveram
dois de seus desenhos para os trionfi, um com uma fênix, emblema de
Cristina. Eram fundidos em açúcar e depois pintados e dourados. Outros
artífices também trabalharam neles, inclusive um certo Niccolò Perretti, que
fez “um carro triunfal de cidra [cristalizada] representando Aurora e o
cavalo Licaseo”, e “uma árvore de marzipã com o pedestal de madeira
entalhada”. Para termos uma idéia da sua aparência devemos nos deslocar
13 anos adiante, para um segundo jantar dado em homenagem a Cristina,
desta vez por Clemente IX, a 9 de dezembro de 1668. O evento foi
realizado no palácio Quirinal e para todos os propósitos deve ter sido uma
reencenação da ocasião anterior. Sevin fez um desenho que nos dá uma
impressão nítida do esplendor. As duas mesas estão carregadas de trionfi,
inclusive um para a mesa da rainha: uma coroa no meio de espigas de trigo,
alusão às armas dos Vasa. As duas mesas e estrados estão colocados em
níveis diferentes, mas cobertos por um gigantesco pálio suspenso. Os
espectadores, apenas homens, são mantidos atrás de uma balaustrada, e as
mulheres presentes estão escondidas pelas tapeçarias e espiam por frestas.
Todos os movimentos são coreografados. O papa entra por uma porta, a
rainha por outra, o mordomo oferece ao papa um guardanapo, que a rainha
pega e entrega a ele. Quando este faz um brinde à rainha, todos se ajoelham.
A conversa se dá por intermédio de um monsignore colocado entre os dois.
Quando termina o serviço principal, os trionfi são removidos e voltam
cheios de doces.
Tais espetáculos continuaram na Itália no século XVIII, mas não por
muito tempo.11 O advento da porcelana vítrea decretou o fim dos trionfi.
Porém, o mais importante foi a mudança de espírito. A eleição do puritano
Clemente XI em 1700 significou o fim da era de ouro do banquete barroco
romano, inaugurando o que se tornou conhecido como a “longa quaresma
romana”. Já nessa época o revolucionário livro Le cuisinier françois (1651)
havia aparecido na Itália, sendo publicado com o nome de Il cuoco francese
em 1682. Por essa época o estilo da mesa começava a ser estabelecido pela
corte do Rei Sol.
Banquete encenado para a rainha Cristina da Suécia. Desenho de Pierre Paul Sevin, final da década
de 1660.
A rainha Cristina janta com o papa Clemente IX. Desenho de Pierre Paul Sevin, 1668.
A elegância do service à la française. Detalhe de Banquete por ocasião da coroação do rei dos
romanos, Martin van Meytens, Frankfurt, 3 de abril de 1764.
A mesa de jantar como parterre. Gravura em Joseph Gilliers, Le canneméliste français, 1751.
À medida que o século XVIII avançava, esse tipo de ritual tornou-se cada
vez mais anacrônico e desconfortável para seus participantes. Em alguns
países caiu em desuso. A Inglaterra é um exemplo disso.62 Carlos II, após a
restauração em 1660, reviveu a prática. John Evelyn anotou em seu diário a
17 de agosto de 1667: “Agora sua majestade janta na Câmara de Presença,
segundo os ritos antigos, com música e todas as cerimônias da corte que
haviam sido interrompidas desde a última guerra.” Mas o renascimento teve
curta duração, sendo logo suspenso durante o reinado da sobrinha de Carlos
II, a rainha Ana, que, após a morte do marido, o príncipe Jorge da
Dinamarca, retirou-se do olhar público. Seu sucessor, o hanoveriano Jorge
I, opôs-se frontalmente a isso, mas o filho, o futuro Jorge II, tentou
restabelecer o jantar em público, numa busca deliberada de popularidade.
Jorge I, como sempre às turras com o príncipe, por algum tempo foi forçado
a reviver a prática. Mas isto também não durou, pois não foi visto com boa
vontade pela monarquia constitucional. Jorge III e a rainha Carlota, famosos
pela frugalidade, jantavam a sós.
Mais ou menos o mesmo aconteceu na Dinamarca, onde por um breve
período houve uma tentativa de instituir o jantar real após uma visita de
Cristiano VII a Versalhes.63 Quando ele voltou, em 1769, o formato da mesa
real mudou para retangular, no centro foi instalado um aparato de
confeitaria à maneira de Gilliers e os pratos passaram a ser levados em
procissão. Mas isso acabou em 1771, e o jantar real tornou-se puramente
pessoal.
Um quadro, mais que qualquer outro, evoca como devia ser o jantar real
em alto estilo público, embora numa corte menor, a de Gustavo III da
Suécia.64 A ocasião registrada é uma ceia au grand couvert no dia de Ano-
Novo de 1779. Embora muito distante da grandeza de Versalhes, capta a
qualidade misteriosa e um pouco alucinatória de tais eventos na era das
cortes. Atrás de uma longa mesa retangular o rei está sentado com os dois
irmãos à direita e a rainha-mãe, a rainha e a irmã à esquerda. Na mesa,
pratarias na última moda neoclássica (alguns objetos ainda existem) estão
arrumadas junto a figuras de porcelana sobre uma placa de espelho
conhecida como chemin de table. Os candelabros e castiçais, além dos
cinco lustres em estilo rococó, conferem uma bruxuleante beleza à cena.
Diante de cada personagem real há um couvert consistindo de um prato de
ouro, faca, garfo, colher e pão. O quadro registra o primeiro serviço, pois as
peças mais importantes da mesa são duas magníficas terrinas
simetricamente localizadas, uma das quais sem a tampa e com o cabo da
concha de servir projetando-se para fora. No centro está o mestre-de-
cerimônias encarregado do serviço, e à direita uma figura que deve ser o
senescal, acompanhado por três escudeiros da bouche. À esquerda, um
escudeiro da bouche avança carregando uma travessa. Deve-se concluir que
os cortesãos espectadores tenham sido realocados, pois normalmente
estariam de pé, onde está o pintor. Todos vestem-se com a libré da corte, e
algumas damas que têm o privilégio do tabouret, esposas de conselheiros e
embaixadores, encontram-se sentadas. É difícil acreditar que faltava apenas
uma década para a Revolução Francesa.
Família real dinamarquesa ceando em público no dia de Ano-Novo, em 1779. Pintura de Pehr
Hilleström, 1779.
A BUSCA DE INFORMALIDADE
Em 1678 o rei, então no auge do poder e da popularidade, virou-se
subitamente contra o próprio mundo que havia criado e procurou um lugar
pequeno e isolado para onde pudesse escapar da cerimônia e grandeza de
Versalhes. O lugar que escolheu foi Marly, um pequeno castelo com dez
pequenos pavilhões de cada lado para seus convidados, dando para terraços
que desciam a uma pièce d’eau com fontes. Marly desde o início foi
privativo e reservado. Ser convidado para lá era sinal máximo de favor,
buscado com sofreguidão. Ali a formalidade se dissolvia em meio a uma
sucessão constante de caçadas, concertos, piqueniques e outras diversões.
Desde 1685 até sua morte, em 1715, Marly tornou-se a obsessão de Luís
XIV.
No castelo as refeições reais eram tão diferentes dos padrões seguidos
em Versalhes que o ritual barroco tendia a ser solapado e destruído.69 A ceia
era servida em duas mesas ovais, cada uma com dois serviços de cada vez.
Numa delas sentava-se o rei, na outra Monseigneur. O restante dos
comensais eram mulheres, preservando-se assim um antigo princípio
hierárquico — de que o rei não se sentava na mesma mesa com homens,
exceto se fossem membros de sua própria família. O rei e Monseigneur
escolhiam as princesas e outras damas nobres que desejavam ter a seu lado,
e os demais convidados ocupavam os lugares disponíveis da melhor
maneira possível. Todos sentavam-se em tabourets, e o código de
vestimentas era menos formal que em Versalhes. Havia alguma gradação na
qualidade da baixela: o rei era servido em prata dourada, as princesas em
prata e o resto em travessas antigas do palácio. Mas não se viam a naveta
nem as cadenas. Foram abandonados todos os rituais observados no petit
couvert e no grand couvert. O premier maître d’hôtel servia o rei, os outros
eram servidos pelo controlador geral e pelo controlador ordinário,
auxiliados por funcionários do gobelet. Essas ceias eram ocasiões de
pândega. O rei jogava pão nas damas, que também retribuíam o gesto.
Maçãs e laranjas voavam sobre a mesa, e em certa ocasião uma convidada
atirou um prato de salada na direção do rei. Por sugestão da duquesa de
Borgonha, esposa do neto do rei, que estava bem a par das novidades nos
salões da moda de Paris no começo do século XVIII, foi introduzida uma
mesa carregada de pratos, taças, vinho e água, tornando possível dispensar
os criados durante quase toda a refeição.
Vemos a corte não mais criando, mas seguindo um estilo. Nas primeiras
décadas do século XVIII havia um desejo geral de informalidade. Nos
hôtels de Paris, um novo requinte e uma facilidade maior nos contatos
acompanhavam a pretensão de simplicidade. As convenções eram
deliberadamente desprezadas, ignorando-se as regras da hierarquia na
designação dos lugares à mesa, embora tais distanciamentos jamais fossem
além do superficial. As refeições eram vistas cada vez mais como ocasiões
para namoros. A linha de descida que começa com a cena de abertura deste
capítulo — Luís XV e sua amante, a marquesa de Pompadour, presidindo
um souper intime nos apartamentos particulares do rei — se completa; basta
olhar a gravura de Jean-Michel Moreau, o Jovem, A ceia elegante,
publicada em Paris em 1781, para ver como foi grande a mudança no
período de um século. A ceia chegou ao fim e não é difícil imaginar como a
noite vai terminar. Não há criados presentes e duas pequenas mesas
auxiliares têm garrafas de vinho, um balde de gelo, um rafraîchissoir, taças
e travessas ao alcance da mão. No centro da mesa um grupo de Graças em
biscuit carrega um abacaxi. Em volta, vasos floridos. Um ramo de flores e
uma carta estão no chão ao lado de um laço que só pode ter sido tirado de
um corpete de mulher. A atmosfera é de franca sensualidade, lembrando a
aliança entre comida e sexo que encontramos registrada nas memórias de
Casanova.70
Para onde quer que olhemos quando avançamos século adentro, a
refeição cerimonial da era barroca transforma-se cada vez mais num
anacronismo, encenado apenas em certas ocasiões de gala. Na década de
1720, na corte bávara, o eleitor e as damas ocupavam os lugares que lhes
eram reservados, mas os outros comensais sentavam-se onde quisessem ou
tiravam os lugares à sorte. Muitas vezes, quando o eleitor jantava
privadamente, sentava-se à mesma mesa que seu séqüito. Em 1774 o eleitor
Maximiliano III José estendeu o princípio da livre escolha aos membros de
sua família.71 Mesmo em Versalhes, Maria Antonieta tentou mudar as
coisas; seus soupers de société permitiram que pela primeira vez ela e as
princesas se sentassem ao lado de homens que não eram da família.72
O antigo ritual do grand couvert em Versalhes já havia sido
substancialmente destruído.73 Enquanto o Rei Sol viveu, foi mantido. Seu
neto, o duque de Borgonha, jantava em público com a mãe desde os quatro
anos de idade. Mas as coisas mudaram com Luís XV. Durante a Regência
ele morou em Paris. Embora restabelecesse o antigo cerimonial quando
retornou a Versalhes, em 1722, aos 12 anos, e até mesmo o ampliasse
quando se casou em 1725, com a chegada das amantes e especialmente de
madame de Pompadour, o movimento se inverteu. O grand couvert passou
a ser encenado apenas duas vezes por semana, às terças-feiras e domingos.
Cabia à rainha e ao delfim manter vivo o ritual. Com Luís XVI e Maria
Antonieta o espetáculo era feito apenas uma vez por semana; o costume de
comer em público aos domingos e dias de festa reduziu-se ao casal real,
com uma cerimônica bastante simplificada.
Jantar de gala vitoriano. Uma convidada míope procura seu lugar. Gravura, c.1870.
aO service à la française não significa o nosso “servir à francesa”, mas, como se verá adiante, um
modo de se dispor a comida à mesa, bem como sua apresentação. (N.T.)
6
O Jantar Está Servido
Mesa de jantar posta em Attingham Park, Shropshire. Aquarela de lady Hester Leeke, entre 1848 e
1861.
Banquete nas Tulherias por ocasião do casamento de Napoleão com Maria Luiza, 1810. Quadro de
Alexandre Dufay, chamado Casanova, 1812.
O SÉCULO DE CARÊME
Numa noite de julho de 1829, lady Morgan, romancista, viajante inveterada
e mulher da sociedade, foi convidada para jantar em Paris pelo barão de
Rothschild em seu castelo de Boulogne. “Os jantares na França”, escreveu
ela, “têm dois objetivos; sociabilidade e gastronomia.”8 O jantar foi servido
num pavilhão de mármore erguido no meio de um bosque de laranjeiras, e
ela sentou-se no lugar de honra, à direita do anfitrião. A mesa era enfeitada
“com as belas e pitorescas sobremesas”, e o barão chamou a atenção para o
que designava como pièce montée, “uma coluna de confeitaria das mais
engenhosas, onde meu nome estava escrito em algodão doce.… Com menos
genialidade do que a empregada na composição deste jantar, os homens
escreveram poemas épicos.” Era uma efusão surpreendente para uma época
em que se tornava difícil encontrar qualquer reação escrita à comida.
Lady Morgan estava consciente de que tinha sido convidada para um
evento gastronômico de primeira ordem, e foi assim que o registrou:
Para fazer justiça à ciência e à pesquisa envolvidas na produção de um jantar assim servido,
seria preciso um conhecimento da arte igual ao de quem o produziu. Ele se caracterizava por
estar de acordo com a estação, com o seu tempo, dentro do espírito da época; não havia
qualquer perruque em sua composição, traço algum da sabedoria de nossos ancestrais em
nenhum prato; nenhum molho muito temperado, caldo marrom escuro, gosto de pimenta-do-
reino ou da Jamaica, nenhuma tintura de tomate ou picles, qualquer ação visível desses
elementos vulgares do cozinhar, dos velhos e bons tempos — fogo e água. Destilações das
viandas mais delicadas extraídas num “orvalho de prata” com precisão química, “em nuvens
tépidas de vapor”, formavam o fonds de tudo. De todas as carnes evolava seu próprio aroma
natural; todos os vegetais tinham seu próprio tom de verdura.9
O JANTAR FESTIVO
Foi Brillat-Savarin quem compôs, em La physiologie du goût, a descrição
do jantar festivo ideal que continua sendo a mais celebrada. Vale a pena
citar seus critérios para lembrarmos dessa agradável perfeição, antes que o
luxo e a pretensão do século XIX nos dominem:
Que o número de convidados não exceda uma dúzia, para que a conversa possa se generalizar
o tempo todo.
Que eles sejam escolhidos com muito cuidado, que suas profissões sejam diferentes mas os
gostos semelhantes, e com tais pontos de contato que ninguém tenha de recorrer à odiosa
formalidade das apresentações.…
Que a sala de jantar esteja luxuosamente iluminada, a toalha esteja na mais perfeita
limpeza, e a temperatura entre 18 e 20 graus.
Que os homens sejam inteligentes mas não pretensiosos, e as mulheres encantadoras mas
não vulgares.
Que a escolha dos pratos seja refinada mas restrita em número, e os vinhos de primeira
qualidade, os melhores de seu tipo.
Que a ordem dos pratos vá dos mais substanciais para os mais leves, e dos vinhos, dos
mais leves aos de bouquet mais forte.
Que a velocidade no comer seja moderada, uma vez que o jantar é a última atividade do
dia, e que os convivas se comportem como viajantes que desejam chegar juntos ao mesmo
destino.…
Que os convidados se prendam pelo prazer da companhia e sejam estimulados pela
esperança de que a noite não termine sem outros prazeres.24
A ida para o jantar. Do livro English Society at Home, 1880, de George du Maurier.
Sem dúvida alguma isso está mais próximo do espírito das festas da
Renascença e do período barroco que de qualquer aspecto da vida do século
XX. Mas a eclosão da Primeira Guerra Mundial e o advento do
racionamento universal de alimentos efetivamente decretaram o fim da
cuisine classique e da tradição gloriosa dos banquetes de corte.
O fim da guerra e a abolição da monarquia na Alemanha, Áustria e
Rússia apenas acentuaram a mudança. A tradição secular de grandeza e
opulência já havia desaparecido na França. A Inglaterra era exceção, mas
mesmo aí podemos ver seu triste declínio. Em 1914 a rainha Mary, esposa
de Jorge V, havia limitado seu desjejum de oito pratos a dois. Após 1918 o
jantar foi reduzido de 14 para dez pratos. Em 1932, com o colapso do
padrão ouro, grande parte da equipe da cozinha real tornou-se redundante.
Em 1947, após outra guerra mundial — que deixou a Inglaterra arruinada
—, o desjejum comemorativo do casamento da atual rainha Elizabeth teve
apenas quatro pratos modestos: filet de sole Mountbatten, perdreau en
casserole com haricots verts, pommes noisettes e salade royale, seguida de
bombe glacée princesse Elizabeth e sobremesa. Em meio século uma
grande história havia praticamente acabado.2
Outros fatores também iriam abalar os padrões das refeições das classes
alta e média.3 Depois de 1918, aos poucos os criados foram se tornando
coisa do passado. Depois de 1945 quase deixaram de existir. Um grande
benefício ocorreu no entanto: a mecanização da cozinha. Ao avanço cada
vez maior da geladeira, após a metade do século XX, juntaram-se o fogão a
gás e elétrico, a lavadora de pratos e uma grande variedade de implementos
que trituram, picam, moem e misturam ingredientes. A estes podemos
acrescentar o freezer e o forno de microondas. Novas formas de comércio e
de transporte internacional passaram a oferecer as frutas mais exóticas no
auge do inverno. As estações foram banidas, é possível obter aspargos e
cerejas tanto em dezembro como em junho. Comer fora passou a ser uma
opção para todas as classes da sociedade, à medida que aumentou o número
de restaurantes e se multiplicaram as redes, primeiro nacionais e depois
internacionais. A culinária, que no passado havia sido puramente local,
tornou-se global, com restaurantes indianos, chineses, malaios, libaneses,
japoneses e outros surgindo em todas as grandes cidades.
O século XX foi uma era de grande variedade (ou mesmo cacofonia)
alimentar, mas também de temores culinários. Já em 1900 a nutrição havia
começado a surgir como questão de interesse, passando a ser levada a sério
na década de 1920 — e daí em diante cada vez mais obsessivamente. A
conexão entre dieta e saúde continua a ser uma fixação, para não falar na
obsessão com o emagrecimento, que se transformou em indústria. O século
encerrou-se com as doenças produzidas pela dieta, como obesidade e
anorexia, pressionando-nos de um modo que teria assustado nossos
antepassados.
A história da comida no século XX é confusa, falta-lhe a clareza dos
séculos anteriores e talvez esteja próxima demais para que possamos ter
qualquer grau de objetividade com relação a ela. O próprio termo “festejo”
não parece mais ser pertinente. A mesa, este ícone que acompanhamos ao
longo de dois mil anos de história, tem hoje um significado muito reduzido.
No ritual da missa e da comunhão, nas igrejas cristãs, ela ainda é central
como reencenação da ceia do século I. Nas comunidades religiosas
percebemos ecos de uma maneira de comer que remonta ao final da
Antigüidade e à Idade das Trevas. Comunidades seculares, como empresas
urbanas e antigas universidades, ainda mantêm a estrutura do jantar
medieval, com uma mesa alta, exibição maciça de travessas no aparador e
rituais como a passagem de uma vasilha com água de rosas para as
abluções. E em qualquer grande banquete formal ainda assistimos à entrada
processional em ordem de precedência e revivemos muitas cerimônias das
cortes absolutistas.
Mas tudo isso é uma sobrevivência de outras eras que perdura
inseguramente no que vou chamar de sociedade pós-mesa. Na década de
1980 diminuiu drasticamente o número de ocasiões em que duas ou mais
pessoas sentavam-se juntas à mesa para fazer uma refeição. Na década de
1990 entramos na era da comida rápida. Tudo indica que, para a grande
maioria da população, se foi para sempre a idéia de que pelo menos uma
refeição por dia é uma experiência compartilhada. A mesa não desempenha
mais o papel sociocultural determinante que teve na evolução da sociedade
ocidental. Para todos os propósitos e intenções, os rituais seculares das
refeições foram desconstruídos e substituídos pelo espetáculo de uma figura
solitária mastigando diante de uma tela de TV. Pelo menos entre as classes
mais requintadas o jantar festivo ainda vive. Devemos ser gratos a isso.
Porém, na maioria das vezes, hoje ele acontece num restaurante, tirando
dos anfitriões todo o trabalho de receber em casa. O jantar numa casa
particular, pedra de toque da aceitabilidade social pelos séculos XIX e XX,
na verdade foi substituído por um tipo diferente de filtragem social,
exercida pelo restaurante. Essas instituições determinam quem pode e quem
não pode reservar uma mesa em reuniões que incluem os considerados
gliterati da época. E assim vemos a meritocracia substituir a aristocracia,
numa mistura dos nascidos na idade da mídia, estrelas do palco e das telas,
ídolos pop, estilistas de moda e jogadores de futebol. Ser visto jantando em
tal companhia é outro marco na longa história da admissão à mesa. Assim,
num certo sentido, transportada do palácio, da casa aristocrática e da
mansão burguesa, a mesa que se partilha continua a exercer, mesmo hoje,
seu poder como indício de aspiração, privilégio e aceitação sociais.
Notas
Fontes fotográficas
Bridgeman Art Library, Londres, p.58, 59, 68, 83, 146-7, 148, 152, 180,
200, 206, 222, 225, 226, 236-7, 240, 251. Angelo Hornak Library, p.231.
Hulton Archive / Getty Images, p.228, 257. Photothèque des Musées de la
Ville de Paris, p.103, 110. Scala, Florença, p.10, 35, 44, 51, 54-5, 56, 57,
60, 61, 112, p.154-5. Studio Fotografico Giovetti, Mântua, p.143.
Índice remissivo
A
abadias, ver mosteiros e abadias
Abate, Niccolo dell’, 1
ablução das mãos, 1, 2
Academia Platônica em Careggi, 1
Académie de France, 1
Acton, Eliza, Modern Cooking for Private Families, 1
Acton, Essex, 1
açúcar, aumento do gosto pelo, 1;
esculturas barrocas, 1;
na culinária francesa dos séculos XVII e XVIII, 1, 2;
na Inglaterra, 1;
no banquete de coroação de Eduardo VII, 1;
no Renascimento, 1-2, 3, 4-5, 6;
propriedades salutares, 1
Adam, Robert, 1
Adriano, imperador romano, 1
Afonso, príncipe de Portugal, 1
Afonso II de Aragão, rei de Nápoles,1
Afonso V, rei de Aragão, 1
Aglié, Filippo d’, 1
Agnes, santa, 1
Agostinho, santo, A cidade de Deus, 1
Aix-la-Chapelle, tratado de (1664), 1
Alba, Fernandez Álvaro de Toledo, duque de, 1
Alberti, Leone Battista, De re aedificatoria, 1, 2
Alberto I, rei da Áustria, 1
Albizi, cardeal degli, 1
Alcebíades, 1, 2
Aldobrandini, princesa, 1
Alemanha, salas de jantar na, 1
Alexandre I, czar da Rússia, 1
Alexandre VII, papa, 1
almoço, 1
alquimia, 1, 2-3
América, ingredientes da, 1
Amiano Marcelino, 1
Ammanati, Bartolomeo, 1
Ana, rainha da Inglaterra, 1
Ana da Bretanha, 1
anglo-saxões, 1
Antigüidade, redescoberta no Renascimento, 1-2, 3-4, 5
Antimo, 1-2, 3
Antuérpia, 1
Apício, M. Gabio, De re coquinaria, 1-2, 3, 4, 5, 6
árabes, culinária, 1, 2;
e a alquimia, 1;
e cor da comida, 1;
na Europa, 1
Aragão, Enrique de, marquês de Villena, 1
Arquestrato, 1
Artusi, Pellegrino, La scienza in cucina e l’arte di mangiar bene, 1
Assurnarsipal II, rei da Assíria, 1
astrologia e magia astral, 1, 2-3
Ateneu de Neucrates, Os deipsnosofistas, 1, 2, 3, 4
Átila, o huno, 1
Attingham Park, Shropshire, 1
Audot, Louis Eustache, La cuisinière de la campagne et de la ville, 1
Augusto, imperador romano, 1-2
Augusto, o Forte, rei da Saxônia, 1-2
Aulos Gellius, Noctes atticae, 1
Avicena (Ibn Sina), 1
Avignon, 1, 2
B
Babbes Book, The, 1
babilônios, 15 Baco (divindade), 1
Bacon, Francis, 172 Bailly, Sylvain, 1
Balduíno II, imperador, 1
banquete, o termo na Inglaterra, 1-2
banquetes de coroação, 1, 2
Breyne, Alice de, 1
Bárbara da Áustria, 1
Barbaran, Montano, 1, 2
bárbaros, cultura alimentar, 1, 2
Barère, Bertrand, 1
barroco, 1-2, 3-4
Bavária, eleitores da, 1;
refeições informais, 1, 2
Bavária, Guilherme V, duque da, 1, 2
Bavária, Renée de Lorraine, duquesa da, 1
Bayeux, tapeçaria de, 1, 2
Beauvilliers, Antoine, 1
Beeton, Isabella, The Book of Household Managment, 1, 2, 3, 4
Belfiore, palácio, 1
Bellini, Jacopo, 1
Belvedere, Vila, 1-2
Bento, Regra de São, 1, 2, 3
Beowulf, 1
Bérain, Jean, 1
Bernini, Giovanni Lorenzo, 1, 2, 3
Berry, Jean, duque de, 1;
Les três riches heures, 1, 2, 3
Bertand du Guesclin, 1
Best, Ellen Mary, 1, 2
Bíblia, 1
Bini, Lucrezia Piero di Giovanni, 1, 2-3
Bizâncio, 1, 2-3
Blicking Hall, Norfolk, 1
boas maneiras, 1-2, 3-4;
ver também etiqueta; maneiras à mesa
Bodas de Caná, As (pintura anônima), 1
Boke of Curtaysye, The (c.1460), 1
Bolsover, castelo, 1
Bona de Sabóia, rainha da Polônia, 1
Bonifácio VIII, papa, 1
Bonleo, Sotio, 1
Bonnefons, Nicolau, 1
Bordeaux, vinhos de, 1
Borgonha, banquetes na, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7;
cozinhas da corte da, 1, 2;
entremet na, 1, 2, 3;
etiqueta na, 1-2, 3-4, 5, 6, 7, 8;
falta de livros de receitas medievais, 1;
vinhos, 1-2
Borgonha, Carlos, o Audaz, duque da, 1, 2, 3
Borgonha, Felipe, o Bom, duque de, 1, 2
Borgonha, Isabel de Portugal, duquesa de, 1
Borgonio, Tommaso, 1
Bosse, Abraham, 1
Botticelli, Sandro, A história de Nastagio degli Onesti (pintura), 1, 2-3
Bramanti (Bramanti Lazzari), 1, 2
Bretanha, ver Inglaterra; Escócia
Brillat-Savarin, Jean-Anthelme, La physiologie du goût, 1, 2-3
brindes, na Roma antiga, 1-2;
viking, 1
Britânico, 1
Browning, Robert, 1
Brueghel de Veludo, 1, 2, 3
Bruges, 1
Bruxelas, 1
Bulstrode (casa), Buckinghamshire, 1
Buontalenti, Bernardo, 1
C
cadeiras, 1, 2
cadenas, 1, 2, 3
café, 1
Caliari, Benedetto, 1
Calígula, imperador de Roma, 1, 2
Camila de Aragão, 1
Campo do Tecido de Ouro, 1, 2, 3
Cannons (casa), Hertfordshire, 1, 2
Canterbury, abadia de Santo Agostinho, 1-2, 3
Caprarola, 1-2
Carano, rei da Macedônia, 1
Carême, Antonin de, 1-2, 3;
L’Art de la cuisine française au dix-neuvième siècle, 1;
Livre de pâtisserie, 1, 2
Carlos, o Audaz, ver Borgonha, duque de
Carlos I, rei da Inglaterra, 1, 2, 3, 4
Carlos II, rei da Inglaterra, 1
Carlos IV, imperador, 1, 2, 3
Carlos V, imperador, 1-2, 3, 4, 5, 6
Carlos V, rei da França, 1, 2, 3, 4, 5
Carlos VI, rei da França, 1, 2, 3, 4-5
Carlos VII, rei da França, 1
Carlos VIII, rei da França, 1, 2
Carlos IX, rei da França, 1
Carlos X, rei da França, 1
Carlos Magno, imperador, 1-2, 3
Carlota, esposa de Jorge III, 1
carne, e distinções de classe, 1-2;
na França do século XVII, 1;
seca, 1
Cartago, 1
Casa, Giovanni della, Galateo, 1
casa de banquetes, 1-2
casamento, e festejo, 1
Casanova (Alexandre-Benoit-Jean Dufay), 1, 2-3
Casanova de Seingalt, Jacques, 1
Cassell’s Household Management, 1
Casteau, Lancelot de, Ouverture de Cuisine, 1
Castello, Vila di,
Castelvetro, Giacomo, 1
Castiglione, Baldassare, O cortesão, 1
Castlemaine, Roger Palmer, conde de, 1-2, 3
Catarina de Aragão, esposa de Henrique VIII, 1, 2
Catarina de Médici, rainha da França, 1-2, 3, 4, 5, 6, 7
Catarina de Valois, esposa de Henrique V, 1
Cateau-Cambrésis, tratado de (1559), 1
cavalheirismo, 1, 2, 3-4
Cavalieri, Emilio, 1
Cavendish, George, 1, 2-3, 4
Ceccano, Annibale de, cardeal, 1
Cellini, Benvenuto, 1
cena (festejo romano), 1-2, 3, 4
cerâmica, para a mesa, 1-2, 3, 4, 5-6
Cervio, Vincenzo, Il trinciante, 1, 2
Cesar, Júlio, 1, 36 chá, 2-3
champanhe, 1
Chandos, James Brydges, 1º duque de, 1, 2
Chantoiseau, Mathurin Roze, 1-2
Charolais, mademoiselle de, 1
Chartres, Felipe, duque de, 1
Chaundler, João, bispo de Salisbury, 1
Chigi, Agostino, 1-2
Chiquart, mestre, 1, 2, 3, 4
chocolate, 1
Choisy, França, 1
Cícero, 1, 2, 3;
De officis, 1-2
Cisterciense, Ordem, 1
Clarence, Jorge, duque de, 1
Classe (social), associação com comida e etiqueta, 1-2, 3-4, 5;
e a carne, 1-2;
e as maneiras francesas de comer do século XVII, 1-2;
e boas maneiras, 1-2;
e o vinho, 1-2
e os horários das refeições, 1;
na era vitoriana, 1-2, 3-4, 5-6;
na Itália renascentista, 1;
Cláudio, imperador romano, 1
Clemente VI, papa, 1, 2
Clemente VII, papa, 1
Clemente IX, papa, 1, 2-3
Clemente XI, papa, 1
Clive, Robert Henry, 1-2
Cluny, Borgonha, 1, 2, 3
Código cortês, e etiqueta, 1-2
Colheres, 1, 2-3, 4-5, 6, 7, 8-9, 10
Colle, Francesco, Refugio del povero gentiluomo, 1-2
Colleoni, Bartolomeo, 1
Colônia, 1
Colonna, Francesco, Hypnerotomachia Poliphili, 1, 2
Colonna, Prospero, 1
Colorsi, Giacomo, 1
Condé, príncipes de, 1
Constantino, imperador romano, 1, 2
Contra-Reforma, 1, 2
Conventos, 1
Conversa, à mesa, 1-2, 3-4
Convivium, na era clássica, 1, 2, 3-4, 5-6, 7;
revivido, 1
Cor, na comida, 1, 2-3, 4-5, 6, 7
Cordiais, 1
Cortona, Pietro da, 1
Coryat, Thomas, 1
Cossa, Francesco, 1
Courtin, Antoine de, Nouveau traité de la civilité, 1
Craven, William, marquês de, 1
Criados e serviços, e apresentação das refeições, 1-2;
em jantares de gala, 1;
em Versalhes, 1-2;
gorjeta aos, 1-2
hierarquia e deveres, 1-2, 3-4, 5-6, 7, 8, 9, 10, 11-12, 13, 14-15;
na Idade Média, 1-2, 3-4;
cristandade, como religião romana ofi cial, 1-2;
conversão, 1, 2;
dias de jejum, 1, 2-3, 4, 5;
festas religiosas, 1;
regulamentação da dieta e da comida, 1 2, 3, 4, 5-6;
ver também mosteiros e abadias
Cristiano III, rei da Dinamarca, 1
Cristina, duquesa de Sabóia, 1
Cristina, rainha da Suécia, 1-2, 3, 4-5
Cristina de Pisan, 1, 2
Croÿ, duque de, 1-2
Cuisine classique, 1
D
Dallington, sir Robert, 1
David, Jacques Louis, 1
Day, Charles, Etiquette and Usage of Society, 1
De Marchi (cronista bolonhês), 1, 2
Desempenadeira (companhia), 1
desjejum, 1, 2-3
despenseiro, 1
Devonshire, William Cavendish, 1º marquês de, 1
dieta, e saúde, 1-2;
medieval, 1-2;
no mundo antigo, 1, 2-3
Dinamarca, jantar público real na, 1-2, 3
Dio Cássio, 1
Dioniso (divindade), 1, 2
direito divino dos reis, 1-2, 3, 4
Domiciano, imperador romano, 1, 2-3
Dorat, Jean, 1
Dubois, Urbain e Emile Bernard, La cuisine classique, 1
Duccio di Buoninsegna, As bodas de Caná, 1;
A Última Ceia, 1
Du Maurier, George, English Society at Home, 1
Duprat, cardeal Antoine, 1
Du Prez, Josquin, 1
E
Eduardo I, rei da Inglaterra, 1
Eduardo II, rei da Inglaterra, 1
Eduardo III, rei da Inglaterra, 1
Eduardo IV, rei da Inglaterra, 1, 2, 3, 4
Eduardo VII, rei da Inglaterra, 1
Egito Antigo, 1
Einhard, 1
Eleanor de Toledo, 1
Elizabeth, princesa, 1
Elizabeth I, rainha da Inglaterra, 1, 2
Elizabeth II, rainha da Inglaterra, desjejum de casamento, 1
Elizabeth da Áustria, rainha da França, 1, 2
Elyot, sir Thomas, The Bankette of Sapience, 1
Emereciana, santa, 1
entremets, 1-2, 3-4, 5, 6-7, 8
Epicuro, 1
Erasmo, De civilitate morum puerilium, 1-2, 3, 4
ervas, aromáticas, 1-2;
na Itália renascentista, 1
na Roma Antiga, 1;
Escócia, 1
Escoffier, Georges Auguste, 1-2, 3;
Guide culinaire, 1
escravos, na Roma Antiga, 1-2, 3-4
Espanha, objetos de mesa na, 1
Este, Borso d’, 1
Este, cardeal Ipolito d’, 1, 2
Este, cardeal Ipolito II d’, 1
Este, cardeal Luigi d’, 1
Este, família e corte de, 1-2, 3, 4, 5, 6, 7;
ver também Ferrara
Este, Lionello d’, 1
Este, Lucrezia, d’, 1
Este, Vila d’, 1, 2
Estrades, condessa de, 1
etiqueta, desenvolvimento das boas maneiras, 1-2;
dos jantares de gala, 1;
e códigos de vestimenta, 1;
e monarquias, 1-2;
livros de, 1;
livros vitorianos de, 1-2;
medieval, 1-2;
mudanças no século XV, 1-2;
na corte borgonhesa, 1, 2, 3-4, 5, 6;
no Renascimento, 1-2, 3-4;
sob Napoleão, 1-2;
ver também boas maneiras; maneiras à mesa
Etiquette for Ladies (1894), 1
etruscos, 1
eucaristia, 1
Eurípides, Íon, 1
Evelyn, John, 1;
Acetaria, 1
exibição e ostentação, de Carême, 1-2, 3;
medieval, 1-2;
no Renascimento, 1-2, 3-4, 5-6, 7;
ver também entremets
F
facas (de mesa), 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12
Farnese, Alexandre, 1, 2
Farnese, cardeal Alessandro III, 1, 2-3
Farnesina, Vila, 1-2
Fay, Anna Maria, 1, 2-3, 4
Fedele, Luigi, 1
Felipe II, rei da Espanha, 1-2, 3, 4-5
Felipe III, rei da Espanha, 1
Felipe IV, o Belo, rei da França, 1
Felipe V, o Longo, rei da França, 1
Feltre, Vittorino da, 1
Ferdinando I de Aragão, rei de Nápoles, 1
Ferrante, rei de Nápoles, 1
Ferrara, Afonso I d’Este, duque de, 1, 2
Ferrara, Afonso II d’Este, duque de, 1, 2
Ferrara, ducado de, 1
Ferrara, Eleanora de Aragão, duquesa de, 1, 2
Ferrara, Ercole I d’Este, duque de, 1-2, 3-4
Ferrara, Ercole II d’Este, duque de, 1
Ferri, Ciro, 1
festas sagradas (cristãs), 1-2
festas seculares, 1-2, 3-4, 5
feudalismo, 1-2
Ficino, Marsílio, De sufficientia, 1
Filoxeno de Leucas, “O banquete”, 1
Flanders, Luís, conde de, 1
Fleury, cardeal André Hercule, 1
flores, como decoração de mesa, 1, 2
Fogolino, Marcello, 1
Foix, Gastão IV, conde de, 1-2, 3-4, 5, 6, 7-8
Forme of Cury, The, 1
Fountains, abadia, Yorkshire, 1
França, desenvolvimento e influência da culinária na, 1-2, 3-4;
e apresentação dos pratos, 1, 2-3;
edificações na, 1-2;
rituais de corte na, 1;
salas de jantar na, 1;
vinhos, 1-2, 3;
ver também Versalhes
Francatelli, Charles Esmé, The Modern Cook, 1
Francisco I, rei da França, 1, 2, 3, 4-5
Frederick, príncipe de Gales, 1
Froissart, Jean, 1
G
Gailhard, Jean, The Compleat Gentleman, 1
Galeno, 1, 2, 3
Gália, 1-2
Gambara, cardeal Francesco, 1
garfos, e maneiras à mesa, 1, 2-3, 4
na França, 1;
na Idade Média, 1;
na Roma Antiga, 1;
reintroduzidos no Renascimento, 1-2, 3-4, 5;
gás, aquecimento a, 1
Gaveston, Piers, 1
Ghirlandaio, Domenico, A Última Ceia (pintura), 1-2
Giambologna (Giovanni Bologna), 1
Giegher, Mattia, Trattato, 1, 2
Gilliers, Joseph, Le canneméliste français, 1, 2, 3
Giovanni Milanese, 1
Giraldo Cambrense, 1-2
Gissey, Henri, 1
Glasse, Hannah, The Art of Cookery Made Plain and Easy, 1
Godofredo de Bouillon, 1, 2
Gogue, Antoine, Les secrets de la cuisine, 1
Gonzaga, corte de (Mântua), 1, 2-3
Gonzaga, duque Vespasiano, 1
Gonzaga, Federico, 1
Gonzaga Elisabetta, 1
Gouffé, Jules, Livre de la cuisine, 1
Grana, Giacomo, 1-2
Granado, Diego, Libro del arte cozina, 1
Grécia Antiga, banquetes, 1, 2-3;
culinária, 1-2, 3;
estrutura social na, 1-2
influência na alimentação romana, 1, 2-3;
papel e ritual da refeição na, 1-2;
Gregório XIII, papa, 1
Gregório de Tours, 1
Grosseteste, Robert, bispo de Lincoln, 1
guardanapos, em banquetes renascentistas, 1-2, 3-4, 5
na Roma Antiga, 1-2;
Guarino, Giovan Battista, 1
Guazzo, Stefano, La civil conversazione, 1
Guerra das Rosas, 1
Guerra dos Cem Anos, 1
Gustavo III, rei da Suécia, 1-2
Guyenne, duque de, 1
H
Habits of Good Society, The (c. 1850), 1
Hainault, Balduíno VI, conde de, 1
Hall, Edward, Chronicle, 1
Hamstead Marshall, (casa), Berkshire, 1
Hardwick
Hall, Derbyshire, 1
Hatfield House, Hertfordshire, 1
Heliogábalo, 1
Henrietta Maria, esposa de Carlos I da Inglaterra, 1, 2, 3, 4
Henrique I, rei da Inglaterra, 1
Henrique II, rei da França, 1, 2, 3
Henrique II, rei da Inglaterra, 1, 2
Henrique III, rei da França, 1, 2
Henrique IV, rei da França, 1, 2, 3, 4
Henrique IV, rei da Inglaterra, 1
Henrique V, rei da Inglaterra, 1, 2
Henrique VI, rei da Inglaterra, 1, 2, 3
Henrique VII, rei da Inglaterra, 1
Henrique VIII, rei da Inglaterra, casamento com Catarina de Aragão, 1
e etiqueta, 1-2, 3;
e hierarquia, 1;
no Campo do Tecido de Ouro, 1, 2;
Hentzner, Paul, 1
Herculano, 1, 2
Herodes, 1
Hertford, Edward Seymour, conde de, 1
hierarquia ver classe (social); precedência, ordem de Hilleström, Pehr, 1
Hipócrates, 1
Hipoloco, 1
Holanda, ver Países Baixos Holbein,
Hans, 1
Hollar, Wenceslas, 1
Homero, 1, 2
homossexualidade, na Roma Antiga, 1
Hoofsche Wellevenheid, De, 1
Houckgeest, Gerrit, 1
Howard, Abraham, 1
Humberto II de Valois, delfi m, 1
humores (os quatro), 1, 2, 3
Humphry, sra. (“Madge” da revista Truth), 1, 2, 3
I
Ilíada, 1
Iluminismo francês, 1, 2
informalidade, ver soupers intimes
Inglaterra, arrumações de jantar, 1-2;
declínio culinário no século XIX, 1-2;
industrialização e urbanização, 1, 2;
livros de receitas, 1, 2-3;
resistência à culinária francesa, 1-2
salas de jantar, 1-2;
salões de banquete na, 1-2, 3;
Inocêncio VIII, papa, 1
Inocêncio X, papa, 1
Itália, 1-2
J
Jaime I, rei da Inglaterra (Jaime vii da Escócia), 1, 2, 3
Jaime II, rei da Escócia, 1
Jaime II, rei da Inglaterra, 1-2
jantar, como refeição principal, 1-2
jantar festivo, boas maneiras e etiqueta dos, 1-2, 3;
desenvolvimento do, 1, 2-3, 4, 5-6, 7-8, 9;
sobrevivência moderna, 1
jantares de gala, 1, 2-3, 4, 5-6, 7-8
Jeanne, rainha da Borgonha, 1
Jeanne de Bourbon, esposa de Carlos V, 1
Jeanneret, Michel, 1
jejum e jejuar, na tradição cristã, 1-2, 3-4, 5
jentaculum, 1
João XXII, papa, 1, 2
João da Napoli, 1
Johann Wilhelm de Jülich-Cleve, 1, 2
Johnson, Samuel, 1, 2
Joinville, João de, 1-2
Jones, Inigo, 1
Jonson, Ben, 1
Jorge, príncipe da Dinamarca, 1
Jorge I, rei da Inglaterra, 1
Jorge III, rei da Inglaterra, 1
Jorge IV, rei da Inglaterra, 1
José, rei dos romanos, 1
judeus e judaísmo, e o jejum, 1
Júlio II, papa, 1
K
Kerr, Robert, The Gentleman’s House, 1
Kitchiner, William, The Cooks Oracle, 1
Kourakine, príncipe Borisovitch, 1
Kuchenmeisterei, 1
L
L.S.R., L’Art de bien traiter, ouvrage nouveau, curieus et fort gallant, 1
La Chapelle, Vincent, Le cuisinier Moderne, 1, 2
La Marche, Olivier de, 1
La Riva, Bonvesin de, Cinque volgari, 1
la Vallière, Louise de, 1
La Varenne, François Pierre, Le cuisinier françois, 1, 2;
Le parfaict confiturier, 1;
Le pâtissier françois, 1
lacaios, 1-2
Lacock, abadia, Wiltshire, 1
Lafayette, Marie Joseph Paul du Motier, marquês de, general, 1
Lancerio, Sante, 1
Lancret, Nicolas, 1
Lando, Ortensio, Commentario delle piu notabili e mostruose cose d’Italia
e altri lughi, 1
Langland, William, Vision of Piers Plowman, 1
Lante, Vila, 1-2
Lasso, Orlando di, 1
laticínios, 1, 2
Latini, Antonio,, Lo scalco moderno, 1
Le Nôtre, André, 1
Leão III, papa, 1
Leão X, papa, 1
leis suntuárias, 1-2
Lenardi (ajudante de Ferri), 1
Leonardo da Vinci, 1
Leôncio, bispo, 1
Leto, Giulio Pomponio, 1
Ligorio, Pirro, 1
Ligozzi, Jacopo, 1
livros de receita, gregos, 1-2;
medievais, 1-2, 3-4, 5-6;
na França, século XIX, 1-2;
na França dos séculos XVII e XVIII, 1, 2-3;
na Inglaterra, 1-2;
no Renascimento, 1-2, 3-4;
romanos, 1-2
Loftie, sra., The Dining Room, 1
Longleat House, Wiltshire, 1
Loo, Carel van, 1
Lorenzetti, Pietro, Beata umilitas, 1
Loudon, John Claudius, The Suburban Gardener and Villa Companion, 1-2
Lovell, sir Thomas, 1
Lúcio Vero, 1
Lúculo, Licínio, 1
Luís IX, são Luís, rei da França, 1-2
Luís XIII, rei da França, 1
Luís XIV, rei da França, comer em público, 1-2;
cozinheiros, 1;
em Versalhes, 1, 2-3, 4-5
e o desenvolvimento da comida e do comer, 1-2, 3, 4;
fêtes, 1-2, 3;
jantar informal em Marly, 1-2;
maneiras à mesa, 1;
uso do garfo, 1;
Luís XV, rei da França, 1-2, 3, 4, 5, 6, 7
Luís XVI, rei da França, 1, 2
Luís d’Anjou, rei de Nápoles e de Jerusalém, 1, 2
Luís Felipe, rei da França, 1
Luitprand, bispo de Cremona, 1
Lully, Jean-Baptiste, Les fêtes de l’amour et Bacchus, 1
Lune, Pierre de, 1
Luttrell Psalter, 1
Lydgate, John, 1, 2
Lyminge, Robert, 1
M
Macróbio, Saturnalia, 1, 2
Madama, Vila, 1
“Madge”, ver Humphry, sra. Maiano, Giuliano da, 1
Mailly, Louise Julie, condessa de, 1
maiólica, 1, 2
maneiras à mesa, convenções dos séculos XVII e XVIII, 1-2
em jantares festivos, 1-2;
livros sobre, 1-2;
medievais, 1, 2-3, 4-5;
na Regra de São Bento, 1;
Manners and Tone of Good Society and Solecisms to be Avoided, by a
Member of Aristocracy (1885), 1
Mantegna, Andrea, 1
manteiga, 1;
ver também laticínios
Mântua, 1, 2
Mântua, Francesco Gonzaga II, duque de, 1
Mântua, Guglielmo Gonzaga, duque de, 1
Mântua, Isabella d’Este, duquesa de, 1, 2, 3
Mântua, Margherita Farnese, duquesa de, 1
Maomé IV, sultão otomano, 1
Marchi, 1
Marcial, 1-2, 3;
Epigramas, 1
Marco Aurélio, imperador romano, 1
Margaret, regente dos Países Baixos, 1
Margaret de York, duquesa de Borgonha, 1, 2
Margarida de Valois, primeira esposa de Henrique IV da França, 1
Maria, esposa de Jorge V, 1-2
Maria I (Tudor), rainha da Inglaterra, 1
Maria Antonieta, esposa de Luís XVI da França, 1, 2, 3, 4
Maria da Hungria, regente dos Países Baixos, 1
Maria de Médici, segunda esposa de Henrique IV da França, 1, 2, 3
Maria de Portugal, 1, 2
Maria Luiza, imperatriz, esposa de Napoleão I, 1, 2-3
Marin, François, Les dons de Comus ou les délices de la table, 1-2
Marin-Grimano, cardeal, 1
Markham, Gervase, The English Housewife, 1
Marly (castelo), 1
Martin, Jean, 1
Martinho, bispo de Tours, 1
Martino, maestro, ver Rossi, Martino de Massialot, François, Le cuisinier
roial et bourgeois, 1, 2
Matthias Corvinus, rei da Hungria, 1
Maximiliano III José, eleitor da Bavária, 1
May, Robert, The Accomplisht Cook, 1
Médici, Alessandro de, 1
Médici, cardeal Leopoldo de, 1
Médici, Cosimo I de, 1, 2, 3
Médici, família, 1-2, 3, 4-5, 6-7
Médici, Giuliano de, 1
Médici, Lorenzo de, 1, 2
medieval, período, banquetes, 1-2, 3, 4 5, 6, 7-8;
dietas, 1-2
livros de receitas, 1-2;
mediterrânea, dieta e alimentos, 1-2;
Meissen, fábrica de porcelana, 1
ménagier de Paris, Le, 1, 2, 3, 4
Menon, La cuisinière bourgeoise, 1-2
Mercure de France (jornal), 1
mesas, decoração, 1-2;
forma e arranjos para sentar, 1-2, 3, 4, 5, 6-7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15,
16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23-24
simbolismo da, 1
Mesopotâmia, 1
Messisbugo, Cristoforo da, 1-2, 3, 4, 5, 6;
Banchetti, composizioni di vivende e apparecchio, 1, 2-3, 4
Meytens, Martin van, Feast on the Occasion of the Coronation of the King
of the Romans, 1, 2
molhos, de Carême, 1
na Roma Antiga, 1-2;
Molière, Jean-Baptiste Poquelin, 1-2
monarquia, mistério e rituais da, 1-2;
ver também comer em público
Monmouth, James Scott, duque de, 1
Montaigne, Michel Eyquem, seigneur de, 1, 2, 3
Montefeltro, Guidobaldo da, 1
Montigny, Guy de, 1
Montmorency, Anne de, 1
Moreau, Jan Michel, o Jovem, A ceia elegante, 1, 2
Morgan, Sydney, lady, 1
mosteiros e abadias, 1-2, 3-4, 5, 6, 7-8
mulheres, e a mesa de Luís XIV, 1-2;
efeito da Revolução Francesa sobre, 1;
em banquetes medievais, 1-2;
em orgias romanas, 1;
em refeições romanas, 1-2;
e o salão, 1-2;
posição na mesa, 1-2, 3, 4;
separadas dos homens após as refeições, 1, 2
música, em banquetes medievais, 1-2, 3, 4;
em Versalhes, 1, 2;
na Renascença, 1, 2, 3-4, 5
N
Napoleão Bonaparte, imperador, 1-2, 3-4, 5
Nápoles, 1, 2
Narford Hall, Norfolk, 1
Narni, Fusorito da, 1
Natal, como festa da Igreja, 1
navetas, 1, 2, 3-4, 5, 6
neoplatonismo, 1
Nero, imperador romano, 1, 2, 3, 4
Neville, George, arcebispo de York, 1
Nicéforas Focas, imperador bizantino, 1
Nola, Robert di, Libro de cocina, 1-2
Norfolk, John Howard, 1º duque de, 1
Northumberland, Henry Percy, 5º marquês de, 1
nouvelle cuisine, 1
O
Oakly Park, Shropshire, 1
Odilo, abade de Cluny, 1-2
Odisséia, 1
Odoacer, rei da Itália, 1
offi ce, 1-2, 3, 4, 5
Opimius, 1
Orléans, Felipe, duque de, 1
Orléans, Ferdinand-Philippe, duque de, 1
Orléans, Luís, duque de (1372-1407), 1
Os estatutos da ordem napolitana do Espírito Santo, 1
Oto III, imperador, 1
Ovídio, Metamorfoses, 1
P
Países Baixos, edificações nos, 1-2;
introduzem o café e o chá, 1
Palissy, Bernard, 1
palitos, na Roma antiga, 1
Palladio, Andrea, 1
Pamphili, palácio ver Roma (moderna)
Panton, J. E., From Kitchen to Garret, 1
papas, cerimônia de consagração, 1;
comendo sozinhos em banquetes de gala, 1
papoula, óleo de, 1
Pariset, madame, Manuel de la maîtresse de la maison, 1
Parma, Alexandre, duque de, 1-2, 3
Parrega, Sebastian Gutierrez de, Etiquetas de corte, 1-2
Páscoa, como festa da Igreja, 1
pastelaria (massa), 1
Paulo, são, 1
Paulo III, papa, 1, 2, 3
Paulo IV, papa, 1
Pedro IV, rei de Aragão, 1
Perretti, Niccolò, 1
Persa, Império, 1
Peruzzi, Baldassare, 1
Petrônio Arbiter, Satyricon, 1-2, 3
philosophes, 1
Picatrix (tratado árabe), 1
Pilon, Germain, 1
Pinturicchio (Bernardino di Betto de Biagio), 1
Pio V, papa, 1
Pisanello (Vittorio Pisano), 1
Platão, 1;
Leis, 1;
Simpósio, 1, 2
Platina, Bartolomeo, De honesta voluptate,1, 2, 3, 4, 5
Plínio, o Moço, 1-2, 3, 4-5
Plínio, o Velho, Historia naturalis, 1
Plumerey (chef), 1
Plutarco, Conversa à mesa, 1
O jantar dos sete homens sábios, 1-2;
Pollio, P. Veddius, 1
Pompadour, Jeanne Antoinette Poisson, marquesa de, 1-2, 3
Pompéia, 1, 2
porcelana, 1, 2
prandium, 1-2, 3
prata, para objetos de mesa, 1-2, 3, 4, 5-6
Pratolino, 1
pratos, serviço de, 1-2, 3-4, 5-6
precedência, ordem de, em banquetes de gala modernos, 1-2;
ignorada sob Luís XV, 1-2;
na Idade Média, 1-2, 3, 4;
Renascimento, 1, 2-3;
ver também classe (social); etiqueta
précieuses, 1
Primeira Guerra Mundial, 1
privacidade, ao comer, 1, 2-3
provar, rito de, 1
público, comer em, e monarquia, 1-2, 3, 4-5;
medieval, 1;
Napoleão Bonaparte, 1-2, 3-4
Pucci, Giannozzo, 1, 2-3
R
Rambouillet, Catherine de Vivonne, marquesa de, 1
Raphael Sanzio, 1
Ravena, São Apolinário Novo, 1, 2
Raverat, Gwen, 1
refeições, horário das, 1, 2-3
refrigeradores, 1
reis, ver monarquia
religião, e controle de dieta, 1-2;
ver também cristandade
Renascimento, banquetes, 1-2, 3-4, 5-6, 7, 8, 9, 10, 11-12, 13;
culinária, 1-2, 3;
estrutura da refeição, 1-2;
redescoberta da Antigüidade, 1, 2-3, 4;
vilas na, 1-2
René, rei de Anjou, 1
restaurantes, 1-2, 3-4
Revolução Francesa, 1-2, 3, 4
Rhodes, Hugh, The Boke of Nurture, 1, 2
Riario, cardeal Pietro, 1
Ricardo II, rei da Inglaterra, 1, 2-3, 4
Ricardo III, rei da Inglaterra, 1
Roberti, Ercole, 1
rococó, 1
Roma (moderna), estilo barroco, 1-2, 3-4;
festa no palácio Pamphili, 1-2;
no Renascimento, 1-2;
saqueada, 1
Roma, Antiga, banquetes públicos e imperiais, 1-2;
culinária na, 1-2;
deuses e altares, 1-2;
dieta e culinária, 1-2;
distinções de classe em, 1;
dualidade de valores, 1-2, 3-4;
escravos na, 1-2, 3-4;
festejos na, 1-2, 3-4, 5-6, 7;
fim do Império, 1-2;
ordem das refeições na, 1;
regulamentação dos entretenimentos, 1-2;
roupas na, 1;
utensílios, 1-2;
vilas e locais para comer, 1-2
Roman de Jehan de Paris, 1
Romano, Giulio, 1, 2, 3
Romoli, Domenico, (Il Pununto), La singolare dottrina dell’ufficio dello
scalco, 1, 2
Rômulo, Augústulo, imperador romano, 1
Rossetti, Biagio, 1
Rossetti, Giovan Battista, Dello scalco, 1
Rossi, Martino de (maestro Martino), Libro de arte coquinaria, 1-2
rotas de comércio, 1
Rothschild, Amschel Mayer, barão de, 1
roupas, para jantares festivos, 1
Rousseau, Jean-Jacques, Emile, 1
Rumpolt, Max, Ein neues Kuchbuch, 1
Rundall, Maria, A New System of Domestic Cookery, 1
Rustico, Giovan Francesco, 1
S
Sabóia, Amadeu VIII, duque de, 1
Sabóia, Carlos Emmanuel, duque de, 1-2
Sabóia, Cristina, duquesa de, 1, 2
Sabóia, Humberto, duque de, 1
Sacro Bosco (jardim), Bomarzo, 1
Saint Denis, mosteiro de, França, 1
Saint-Simon, Louis de Rouvroy, duque de, 1, 2, 3
Sainte-Chapelle, Paris, 1
sal, 1
salão, 1-2
salas de jantar, 1-2, 3, 4-5, 6, 7
Salle, Jean-Baptiste de la, Les Règles de la bienséance et de la société
chrétienne, 1
salles à manger, 1-2;
ver também salas de jantar
Salm-Salm, Nicolas-Léopold, príncipe de, 1, 2, 3
Sanderson, William, Graphice, 1
Santo Galo, 1
Saturnália, 1
Saumur, França, 1
scalco (mordomo italiano), 1-2, 3-4, 5-6, 7, 8-9
Scandiano, Giulio Thiene, 1
Scappi, Bartolomeo, Opera, 1, 2, 3, 4-5
Schor, Giovanni Paulo, 1
Ségur, Louis-Philippe, conde de, 1-2
Sêneca, 1
Sens, cardeal de, 1
Septimius, Severus, imperador de Roma, 1
Serlio, Sebastiano, 1
Sermini Gentile, 1
Serres, Olivier de, Le théatre d’agriculture et mesnages des champs, 1
service à l’anglaise, 1-2, 3
service à la française, 1, 2-3, 4, 5, 6-7, 8, 9-10
service à la russe, 1, 2-3
service en pyramide, 1
Sevilha, Confraria de Todos os Santos, 1-2
Sevin, Pierre Paul, 1-2, 3, 4, 5
Sèvres, porcelana de, 1
Sforza, Camilla (de Aragão), 1, 2
Sforza, cardeal Ascanio, 1
Sforza, Costanzo, 1, 2, 3
Sforza, Gian Galeazzo, 1
Sforza, Isabella (de Aragão), 1
Sharington, sir William, 1
Shrewsbury, Elizabeth Talbot, condessa de, 1
Sidônio Apolinário, bispo de Averna, 1, 2
Sigismundo, imperador, 1
Smith, Alice, Art of Cookery, 1
sociedade (grupos de classe), 1
soupers intimes, 1-2
Soyer, Aléxis, A Shilling Cookery Book for the People, 1
The Gastronomic Regenerator, 1;
Strozzi, Clarissa, 1
Stucki, Johann Wilelm, Antiquitatem convivialium libri III, 1
Suetônio, 1, 2, 3-4
Suffolk, Mary, duquesa de, 1-2
surtout, 1, 2
sutilezas, 1
symposion, 1-2, 3
T
taças (à mesa), 1
Tácito, 1
Taillevent ver Tirel, Guillaume de Talleyrand, Charles Maurice de, 1
Tannhäuser, Courtly Breeding, 1
Tè, palácio do, 1-2, 3
temperos, Antimo sobre, 1;
em receitas medievais, 1; na culinária francesa do século XVII, 2-3;
na Grécia Antiga, 1;
na Itália renascentista, 1-2, 3-4
na Roma Antiga, 1;
virtudes médicas, 1;
Teodorico, o Ostrogodo, 1-2
terrina, 1
Tertuliano, 1
Teuderico, rei dos francos, 1
Thackeray, William Makepeace, O livro dos esnobes, 1, 2
Thomire, Pierre-Philippe, 1
Thynne, sir John, 1
Tibério, imperador romano, 1-2, 3
Tiburtino Loreio, 1
Tigellino, 1
Tirel, Guillaume de, Viandier de Taillevent, 1, 2, 3, 4, 5, 6
toalhas de mesa, 1, 2-3
Tommasino di Circlaria, Der Wälsche Gast, 1
Tonantio Ferreolo, 1
Torquemada, Tomás, Colloques satiriques, 1
Toulouse, condessa de, 1
Tours, o banquete do conde de Foix em 1457, 1-2
Trevas, Idade das, 1, 2, 3
Trevisan, cardeal, 1
Triboli, Niccolò, 1
triclínio, 1, 2-3, 4
Trimálquio (personagem de ficção de Petrônio), 1-2, 3, 4, 5, 6, 7
trinchantes (trincianti), 1, 2-3, 4-5, 6
Troy, Jean-François de, 1;
O jantar de ostras, 1, 2
True Gentleman’s Etiquette, The (anônimo), 1
Trusler, John, Honours of the Table, 1
Truth (revista), 1
Tschumi, Gabriel, 1
U
Ude, Louis Eustache, The French Cook, 1
Udine, Eustachio Celebrino da, Opera nova che insegna apparechiar, 1
Última Ceia (bíblica), 1, 2-3, 4, 5-6, 7, 8, 9
Unton, sir Henry, 1, 2, 3
Urbino, Guidobaldo II, duque de, 1, 2
Urbino, Nicolò da, 1
utensílios e objetos de mesa, 1, 2-3, 4-5, 6-7, 8, 9-10, 11-12, 13
V
Varro, Marcus, 1
Vasari, Giorgio, 1, 2, 3
Vaticano, 1
vegetais, em Versalhes, 1-2
no Renascimento, 1;
Venâncio Fortunato, bispo, 1
Venceslau, rei da Boêmia, 1
veneno, prova de, 1
Veronese, Paolo, Bodas de Caná, 1, 2, 3
Verrall, William, A Complete System of Cookery, 1
Versalhes, comida e festival em, 1-2, 3, 4;
imitação de, 1;
jardins de frutas e de vegetais, 1-2;
Marie Antonieta em, 1;
organização e protocolo em, 1-2, 3-4
vesperna, 1
viandier de Taillevent ver Tirel, Guillaume de Viard, A., Le Cuisinier
impérial, 1
Vignola (Giacomo Barocchio), 1
vikings, 1
vilas, na Itália renascentista, 1-2
Villette, marquês Charles de, 1
vinho, alemão, 1;
comércio de, 1;
doce, 1;
em refeições medievais, 1;
francês, 1, 2;
na Grécia Antiga, 1;
na Itália renascentista, 1;
na Roma Antiga, 1, 2;
refrescadores de, 1;
vocabulário de, 1
Vinidário, 1
Visconti, Violante, 1
Visonti, Galeazzo II, 1
Vitélio, imperador romano, 1-2
vitorianos, livros de cozinha, 1-2;
Vitrúvio, 1, 2
W
Warwick, Thomas de Beauchamp, marquês de, 1
Weyden, Roger van der, 1
Whitehall, palácio, Londres, 1
Wimbledon, William Cecil, visconde, 1
Winchester, 1
Windsor, lady Harriet (lady Harriet Clive), 1-2
Wolsey, Thomas, cardeal, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7
Woodforde, rev. James, 1
Worcester, John Tiptoft, marquês de, 1
Worde, Wynken de, 1
Wright, John Michael, 1-2
X
Xenofonte, O banquete, 1
Xisto III, 1
Z
Zeus Soter (divindidade), 1
Zólio, 1
Zuccari, família, 1
Zuccaro, Taddeo, 1
Título original:
Feast
(A history of grand eating)
ISBN: 978-85-378-0535-0