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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL

ESCOLA DE CIÊNCIAS DA SAÚDE E DA VIDA – CURSO DE


PSICOLOGIA
TÉCNICAS E INTERVENÇÕES EM PSICOLOGIA II
PROFª: Marcio Geller Marques – 2022.2

OBSERVAÇÃO: HOSPITAL PSIQUIÁTRICO SÃO PEDRO

Fabrício Coda e Nicole Dalavia


INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é observar e analisar a realização de uma oficina musical no


Hospital Psiquiátrico São Pedro, com ênfase na prática da psicóloga responsável.

O Hospital Psiquiátrico São Pedro foi nomeado em homenagem ao padroeiro da província e


foi a primeira instituição psiquiátrica de Porto Alegre. Fundada em 13 de maio de 1874, foi,
porém, inaugurada dez anos depois, no dia 29 de junho, data oficial e consagrada do
padroeiro São Pedro. Foi o sexto asilo/hospício de alienados durante o período de 1841-1889.
Hoje, é considerado o maior hospital psiquiátrico do Sul do Brasil. O hospital conta com
Unidade para dependência química (UD), Unidade Mário Martins Masculina (MMM),
Unidade Mário Martins Feminina (MMF), Centro Integrado de Atenção Psicossocial -
Infância e Adolescência (CIAPS), Unidade Barros Falcão, Serviço de emergências
psiquiátricas, Unidade de observação, Centro de reabilitação e Ambulatório especializado em
saúde mental, com programas de atendimento para as principais patologias mentais.
O hospital tem como missão cuidar do doente mental de forma integral, com apoio de outras
áreas do campo da saúde. Outra finalidade do hospital é proporcionar momentos de
integração e socialização, como é o caso de oficinas de arte. A arte é sempre o meio com o
qual a oficina de criatividade do HPSP busca incentivar.

Tem-se, assim, diferentes espaços de escuta, expressão, construção e compartilhamento em


torno de propostas específicas voltadas à arte e à expressão. Objetiva-se, com isso, a união
singular dos diferentes participantes nos processos de vida e na sua relação com a sua família
e comunidades terapêuticas. Essas atividades são propostas pelos diferentes profissionais da
área da saúde que compõem o trabalho da equipe incluindo estagiários e voluntários. A
dinâmica e a estrutura das oficinas configuram-se de acordo com os recursos humanos e as
necessidades da instituição no momento.
O papel do psicólogo nessas oficinas se dá num âmbito de facilitar o desenvolvimento
psíquico dos frequentadores, assim como propiciar uma interação saudável entre todos. Para
isso, a proposta da psicologia humanista parece mais envolvente neste cenário, pois envolve o
direcionamento da atenção do psicólogo para as capacidades e os limites dos envolvidos, em
prol de uma promoção de autonomia para eles. O psicólogo, assim, ao ministrar uma oficina
de música ou pintura, por exemplo, deve manter sua escuta e percepção aberta para
identificar quais músicas, cores, imagens ou movimentos despertam sensações em cada
frequentador, para auxiliá-los a se sentirem confortáveis com suas sensações ou aproveitar a
sensação despertada para explorar as motivações internas que levaram a essas reações. Ao
mesmo tempo que o envolvimento grupal das oficinas facilita ao psicólogo permitir que os
frequentadores interajam com o grupo operativo da forma que lhes for mais livre e aprazível,
não se pode esquecer que certas proposições específicas de um frequentador podem
engatilhar sensações fortes em outros, e portanto sua presença se faz extremamente relevante
como mediador do grupo, para que haja saúde entre todos.
1. Nome dos observadores: Fabrício Coda e Nicole Dalavia

2. Objetivo da observação: O presente estudo tem como objetivo observar, analisar e


compreender os processos pelos quais os psicólogos e demais profissionais da área da saúde
realizam intervenções com seus pacientes e grupos operativos, e incorporam aspectos da
arteterapia - neste caso em específico, a musicoterapia - para direcionar o desenvolvimento
estrutural do paciente em sua socialização. Em alinhamento com isso, também se tem como
finalidade observar e vivenciar em específico a prática profissional de psicólogos, assim
como os desafios enfrentados durante a rotina de trabalho.
Objetivo geral: Observar e analisar a prática profissional dentro de uma oficina de música no
Hospital Psiquiátrico São Pedro.

Objetivos específicos: Refletir e participar da rotina de trabalho e refletir sobre os desafios da


prática profissional dentro do Sistema Único de Saúde e dentro do Hospital Psiquiátrico São
Pedro

3. Data e horário da observação: 05/10/2022. Marcado para o horário das 09:30, por conta
de atrasos começou apenas por volta das 10:20. A oficina teve seu término por volta das
11:30, e após isso foi realizada a entrevista com a psicóloga, por aproximadamente 35
minutos.

4. Breve relato do ambiente físico: O local de observação se situa no pavilhão da


criatividade, que conta com um grande espaço para conseguir dar conta das demandas das
diferentes áreas artísticas. Há uma área de costura, de cerâmica, pintura, escrita, auditório e
áreas de convivência comum aos frequentadores.

5. Breve relato do ambiente social: Os residentes e frequentadores são pessoas com


problemas mentais, cognitivos ou ex-residentes do HPSP. Os atravessamentos do social no
HPSP é visível quando pensamos no processo manicomial do Brasil. Com o passar dos anos
a luta antimanicomial se tornou um movimento de libertação àqueles que um dia passaram
pelo aprisionamento de ser quem são, e podemos ver um reflexo dessa luta nos livros
presentes no pavilhão onde a oficina foi realizada, com diversos textos que seguem esta linha
teórica da psicologia institucional em crítica do modelo manicomial. Com o passar dos anos a
psicologia também se desenvolveu, contribuindo igualmente para uma melhora nas condições
de vida, principalmente para os antigos residentes do HPSP. Entretanto, o preconceito que se
enfrentava na época ainda é presente nos dias atuais.

6. Comunicação da técnica de registro utilizada: Registros escritos e entrevista com


psicóloga responsável pelo local.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS:

Local a ser observado: Hospital Psiquiátrico São Pedro

Campo de atuação do psicólogo(a) a ser observado: Psicologia clínica ambulatorial e


Psicologia Social como parte do SUS.

A observação realizada segue o modelo de observação não participante, isto é, onde os


observadores (autores deste estudo) não interagem diretamente com o grupo em atividade.
Este distanciamento permite perceber a situação observada com maior objetividade, e
propicia um foco teórico sobre a observação e as anotações decorrentes.

A entrevista foi realizada a partir de um roteiro flexível e semiestruturado de perguntas,


moldadas pelo objetivo deste trabalho, pela proposta desta disciplina, e em última instância,
repensada a partir da observação não participante, tendo em vista que a observação aconteceu
previamente à entrevista. Ademais, perguntas foram adicionadas no próprio momento da
entrevista, para explorar a fundo certas questões que foram aparecendo durante a entrevista.
Estas movimentações livres ao redor do roteiro permitem assim maior liberdade e
dinamicidade para a entrevista, ao mesmo tempo que levantam apontamentos específicos para
a prática em questão, as propostas técnicas e as dificuldades envolvidas, para que o
entendimento sobre o papel do profissional fique mais concreto.

FUNDAMENTAÇÃO DO CAMPO E DAS ATIVIDADES OBSERVADAS:

O Hospital Psiquiátrico São Pedro, como o nome já evidencia, tem sua origem como
instituição psiquiátrica, e portanto seu serviço em saúde mental, até hoje, compõe unidades e
centros para atender primariamente as patologias mentais. É claro que, para se tornar
excelência na apresentação de seus serviços, a psiquiatria não existe sozinha no espaço.
Psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, fisioterapeutas e demais profissionais da saúde
interagem nas unidades, incluindo no ambulatório, nos residenciais, e no pavilhão das
oficinas de criatividade.
Foi justamente uma das oficinas neste pavilhão que foi observada. Os frequentadores desta
oficina eram ex-internados do HPSP, e atualmente moram em dois residenciais do sistema.
Apesar dos residentes do Residencial de Viamão estarem definidos para participar, o
motorista da van que os traria estava de licença, e portanto apenas participaram da oficina os
residentes do Residencial São Pedro mesmo. Com duração total de aproximadamente 1 hora,
a oficina permitiu aos frequentadores um nível de interação que começou enrijecido, com
alguns participantes não interagindo abertamente, mas cuja tensão foi se desfazendo, à
medida que as propostas de música foram surgindo. Por conta do número reduzido de
participantes, havia um profissional (ou estagiário) para cada residente presente, o que
permitiu que cada profissional focasse em algum residente para achar algo que o faça se abrir
mais e interagir amplamente com o grupo. Apenas um de cada vez acabava por cantar a
música proposta, e para facilitar, um rádio foi somado à oficina, tocando a música solicitada.
Dessa forma, outro aspecto se fez presente à oficina de música: a dança. Quando um dos
profissionais apresentou a ideia, logo houve resposta, e assim a oficina de música se fez entre
cantos, instrumentos e danças, promovendo a interação entre todos até a hora de finalizar.
A profissional entrevistada é Telma Carvalho, psicóloga de CRP 0708028. Formada em
psicologia, sua atividade atual é dada como “especialista em saúde”. Adiante, a entrevista,
organizada pelas ordem das perguntas realizadas:

- Como você contextualiza o local de trabalho do profissional?


O espaço da oficina é um espaço que, através da arte, é um espaço que permite que as
pessoas se expressem e, como consequência, é um espaço terapêutico. É um lugar onde os
participantes da oficina tem oportunidade de fazer com liberdade o que desejam, sempre
ligado à arte e à expressão. Temos oficinas como a de costura e bordado, escrita, desenho e
pintura, cerâmica, teatro e música. E estamos abertos para o que mais surgir também.
- Relate um dia de sua rotina de trabalho como psicólogo deste local.
Não tem rotina. Tem, assim, dias certos de cada grupo e cada oficina, mas cada dia é
um dia. Com exceções, há dias específicos para atendimentos individuais. E nas segundas
feiras fazemos uma organização interna com a equipe. Além disso, também atendo no
ambulatório; quando não estou aqui, estou lá. Não tem rotina em grupo.
- Que conhecimentos teóricos sustentam sua prática profissional?
Eu sigo a linha humanista, tanto aqui quanto lá. O ambulatório é um espaço que já foi
muito exclusivamente psicanalista, mas hoje ele já é mais flexível. Hoje somos eu e mais três
psicólogas, que não somos da psicanálise pura. Eu não desfaço a psicanálise, de forma
alguma, eu me utilizo dela para entender as questões, mas na prática do SUS, com pessoas
com muitas limitações cognitivas, eu não acho que seja produtivo, então eu me utilizo sim da
prática humanista, em centrar o foco da pessoa, no que ela estiver podendo no momento e
como eu posso acessar e ajudá-la a se olhar, se repensar e reintegrar, porque a coisa externa a
gente não pode mudar. E aqui na oficina segue assim, não porque eu faço assim, mas porque
é assim. A pessoa tem liberdade de fazer o que quiser, de não fazer nada e escolher, mas estão
aqui, aprendendo e observando estão socializando. E elas voltam, então é porque foi bom pra
elas. Então, a prática é essa. Tem uma amplitude de técnicas a serem usadas, desde que haja
um benefício para o frequentador da oficina.
- Existe alguma oficina que você participe mais ativamente?
Eu conduzo a oficina de escrita, que é um grupo terapêutico, formado por pacientes
do ambulatório, que é bem diferente da oficina observada hoje, pois na oficina de música os
pacientes são mais debilitados fisicamente e cognitivamente. Os frequentadores da oficina de
escrita já estão na comunidade e ambulatoriais, alguns trabalham ou já trabalharam, eles
falam e expressam, é um outro patamar de desenvolvimento, inclusive cognitivo. A escrita é
só um pretexto, mas é um lugar onde surgem escritas artísticas, mesmo que a grande maioria
não. O propósito é a livre expressão. O grupo começa a criar confiança um no outro e
começam a trazer coisas muito pessoais à tona, com muita liberdade. Eu sou responsável
também, às terças de tarde, por um grupo com moradores de Viamão, e é um grupo de
convivência. Eles fazem atividades variadas, são pacientes que vivem nos residenciais e não
têm muito o que fazer. A proposta era que fossem integrados na sociedade, só que nossa rede
é muito frágil, eles não tem o que fazer na sociedade, então [nós] damos esse apoio. Sou
responsável também pelo grupo que se intitula "A grande família", um grupo operativo, pois
eles escolhem as atividades e o que vão fazer.
- Sente muita diferença entre as oficinas e o ambulatório?
Completamente diferente, porque os objetivos e meios são diferentes. No ambulatório
fazemos o atendimento individual clínico, temos uma parceria muito boa com os residentes
de psiquiatria, fazemos essa troca. Mas é mais engessada, pois no atendimento individual
metade da responsabilidade é tua, da tua parte ninguém vai dar conta [além de ti], é diferente,
tu trabalha mais em cima da técnica e teoria. Na oficina tu tem total liberdade, inclusive nas
intervenções, porque surgem situações que tu vai usar seus conhecimentos em psicologia,
mas tu pode falar com mais liberdade, interagir e ajudar as pessoas com mais liberdade, não
tem comparação. Mas uma coisa não invalida a outra, tem pessoas que vão chegar aqui e não
vão conseguir aproveitar, pois precisam passar pelo individual primeiro, para se entender, se
organizar e pra ter coragem de trazer suas questões num grupo. São momentos diferentes para
as pessoas, então eu tento avaliar o momento de cada pessoa. Já no atendimento individual, a
gente tem uma responsabilidade maior de tirar a pessoa dessa situação e ajudar a pessoa a ver
a vida de outra forma, com todos aqueles cuidados. São trabalhos bem diferentes e bem
importantes.
- Acha que existe uma diferenciação mais humanista na terminologia usada aqui de
“frequentadores”, em comparação com uma nomeação clássica na psicologia, como
“pacientes” ou “clientes”?
Eu acho que a diferença é que o termo não muda a prática, mas só muda como a gente
enxerga essa prática, porque na verdade, eles são pacientes, senão, não estariam aqui. Sim,
eles tomam medicação psiquiátrica e sim, eles têm sintomas que são considerados anormais,
só que isso não é uma preocupação aqui na oficina. Pode ser lá no ambulatório, faz parte das
preocupações do ambulatório. Agora, aqui, o paciente está vindo, ele está bem? Então eu não
estou preocupada em qual o diagnóstico dele. Alguns eu nem sei, a minha preocupação é que
ele aproveite o espaço, libere suas ideias e pensamentos, sentimentos, de uma forma
organizada, e que todos possam acolher e viver bem com isso e com os próprios sintomas.
Alguns são pacientes crônicos, não vão mudar, a psiquiatria ainda não conseguiu a cura. Eles
precisam desse espaço de segurança, e saber que não são os únicos. Então sim, a
terminologia, como a gente chama… de frequentador ou paciente, faz diferença, porque ajuda
a demarcar a nossa maneira de ver e tratar.
- Você vê a interação em grupo como algo que possibilita uma melhora futura?
Depende do caso, tem pessoas que são atendidas lá no atendimento individual e que
são atendidas aqui também, e eu noto que elas têm benefícios nos dois espaços. Tem pessoas
que eu estava atendendo no individual e eu senti que tínhamos chegado onde era possível.
Um exemplo era um caso de esquizofrenia paranoide que já está há anos instalado, o paciente
já está medicado e ainda trabalha, mas lhe faltava interação com as pessoas, então eu propus
que fossemos para a oficina, e na mesma hora ele aceitou. Está vindo e tá gostando. O que
tinha pra ser feito com a terapia individual foi feito, então vamos passar pro que é a
necessidade do sujeito, que é a troca com outras pessoas, a interação com o outro. A vida do
paciente vai continuar assim, não tem o que fazer, e eu entendi junto a ele que nesse momento
o necessário era essa interação social com outras pessoas. O bom do grupo é que tu não é o
unico responsável e condutor pelo processo terapêutico. O grupo se ajuda, tu tá ali só
facilitando. Pessoas com depressão severa levarão um tempo para chegar ao grupo, pois ainda
precisam entender e chorar muito, no seu cantinho, com a terapia individual, então não
haveria proveito [nas oficinas]. Acontece também das pessoas chorarem nos grupos, e nem
por isso a pessoa vai ser remanejada para a terapia individual, mas tem pessoas que tem
momentos... Tem pessoas que atendo no individual e não as vejo no grupo, pois ainda não
estão prontas para isso. Precisamos ter condições de avaliar isso. Se tivéssemos outros grupos
com outras propostas poderíamos levar esses pacientes mais depressivos e mais graves aos
grupos, mas eu não tenho esses grupos ainda, então eles ficam no individual. Acho que assim
como o grupo agiliza o processo individual, o tempo individual de cada um também facilita o
processo de socialização.
- Existe algum tipo de marcador bem definido no atendimento individual que indique se
vale chamar este paciente para frequentar as oficinas?
Eu acho que tem duas coisas bem importantes. Pensando agora nos casos que
vivenciei neste último ano, que estive aqui nas oficinas, as duas coisas são: Primeiro, quando
tu nota que a pessoa não tá mais evoluindo na psicoterapia, não te traz mais novidades, os
assuntos são os mesmos, as coisas não tem mais o que trabalhar, o que elaborar através dali,
porque vai estar a cada sessão reforçando as mesmas coisas, repetindo por meses, sem
mudanças. Segundo, atentar para a vida social da pessoa, se ela tem amigos, ou sai, além de ir
para o trabalho. Se não tiver, precisa de um ambiente seguro para ter alguma convivência,
que seria a oficina. Quais são os critérios então? O que a pessoa vem trazendo nas consultas
ficando repetitivo - e ver que a doença que ele apresentava fazia que isso faça ser sempre
assim, como o caso do exemplo anterior, de esquizofrenia paranóide - e a necessidade de
convivência social. Outro exemplo, que uma colega minha atende, é uma pessoa que não
conseguia falar, era quieto, calado. Ele já vinha para fazer desenhos, e ela indicou para
oficina de escrita, e começou a escrever um pouquinho… O problema é que ele escreve muito
devagar, e o grupo é mais rápido, então agora o que a gente faz é uma estagiária fica do lado,
e ele dita para ela, e ele acaba escrevendo páginas inteiras, rememorando as coisas,
dependendo da proposta. Na verdade eles acabam escrevendo o que eles querem né, porque a
gente dá uma proposta que é só um disparador, e escrevem o que estiverem a fim de escrever.
Mas aí que tá o legal, que trabalha o que a pessoa quer trabalhar. Então eu acho que esses
dois pontos têm sido determinantes: perceber que a psicoterapia [individual] não está
evoluindo, e a necessidade de convivência, de relação com o grupo.
- Quais são os desafios na atual área de prática profissional, incluindo questões éticas?
A gente tem o desafio de recursos humanos que faltam, o desafio de recursos
financeiros que também faltam. Todo o material que tem aqui é de doação, ou como resultado
da verba de vendas do que foi produzido aqui mesmo. Porque tinta, papel, argila, tudo isso
custa caro. Então esse é um dos desafios. Acho que outro desafio é de [fazer] entender o valor
desse espaço a cada eleição. Parece que a cada eleição tu tem que comprovar pro novo
governo que isso aqui - não só as oficinas, é o São Pedro como um todo - tem valor, é
necessário, que a comunidade se beneficie. Porque o discurso é “mas o hospital é estadual,
não pode beneficiar só a comunidade local”, mas a comunidade local está dentre desse Estado
né. Nossos impostos, nossas contribuições vão também beneficiar esse Estado. É um discurso
que se repete, e por isso tantas vezes se fala “ah vão fechar o São Pedro! Agora vai”, e a
gente fica aqui trabalhando no “vai-não-vai”. Esses dois últimos anos foram terríveis, a gente
tinha certeza que ia fechar, e a pandemia ajudou, mas eu acho que tinha uma vontade política
disso também. Mas não foi possível ainda, não fecharam ainda. Então esse é um desafio sim.
A gente não precisa provar tanto pra sociedade, porque a sociedade usufrui do serviço. Quem
usufrui, gosta. Mas a gente precisa provar pros governantes, que tem razão de ser, tem
utilidade. [Desafios] Éticos? Talvez isso né, os políticos entenderem que os técnicos tem
conhecimento do que estão fazendo. Então existem algumas determinações que são
meramente políticas, e não tem uma base técnica, científica. É desprezado muitas vezes o
conhecimento técnico. Até podem te consultar, mas fazem o que querem. Isso acontece no
serviço público, é uma realidade, não é só aqui. É isso, é um desafio.
- Comente sobre sua interlocução com profissionais de outras áreas:
É totalmente aberta, existe uma troca muito boa, muito produtiva, e de
reconhecimento das diferentes áreas. É fundamental, aliás, pro trabalho subsistir, porque a
gente atende as pessoas que estão na unidade, que vem ao ambulatório, que estão nos
residenciais, e essas pessoas são trazidas por profissionais de outras áreas, então essa troca
tem, tem sempre, e é muito boa. Quando se percebe assim, “esse assunto é mais pertinente a
tal área, né fulano, o que tu acha, tu pensa?” Então tu busca o suporte e tem sim, essa escuta
um do outro.
- Comente sobre mais outras propostas e atividades que já desenvolveu e desenvolve no
local:
Grupos terapêuticos, grupos operativos. Alguns atendimentos individuais pontuais,
que não é uma psicoterapia sequencial, aqui dentro né. Eu faço psicoterapia no ambulatório,
mas pensando em oficina, a gente faz também, em alguns momentos precisa dar um suporte
individual, fazer uma escuta, e ajudar a pessoa a organizar uma ou outra questão da sua vida.
Às vezes com familiares de frequentadores, que vem aqui. Isso também acontece.
Basicamente é isso, esse tipo de atendimento. E através de todas as técnicas artísticas que a
gente já falou.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Hospital Psiquiátrico São Pedro (HPSP). SECRETÁRIA DE SAÚDE RIO GRANDE DO


SUL. Disponível em: https://saude.rs.gov.br/hospital-psiquiatrico-sao-pedro-hpsp

Hospital Psiquiátrico São Pedro. HOSPITAIS ESTADUAIS BLOG: A história viva da


saúde pública do Rio Grande do Sul. Disponível em:
https://hospitaisestaduais.blogspot.com/p/hpsp.html

GOMES, Luís. Do outro lado do muro do São Pedro, residenciais recebem os últimos
internos do hospital. SUL21, Rio Grande do Sul, 18 de maio de 2022. Disponível em:
https://sul21.com.br/noticias/geral/2022/05/do-outro-lado-do-muro-do-sao-pedro-residenciais
-recebem-os-ultimos-internos-do-hospital/

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