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A apreciação da culpa faz-se em abstrato de acordo com o critério do bom pai de

família, confrontando a conduta do agente com a conduta que teria o bom pai de família
(homem medianamente prudente, sagaz e diligente nas circunstâncias do caso. Esse
critério de apreciação em abstrato (que também cabe no campo de análise da RCC,
ainda que estejamos a analisar a RCE). E no âmbito desse critério de apreciação da
culpa em abstrato admite-se como compatível com a existência de dois subcritérios:

- Critério da culpa como deficiência da conduta: mais exigente, exige que o agente se
esforce por corrigir sua inaptidão para exercer uma determinada conduta. Ele deve
ponderar se consegue fazer essa correção de modo a atuar como homem medianamente
diligente. Se ele não conseguir se colocar no patamar do homem médio, deve abster-se.
Não basta como no CDV que o agente se esforce pra cumprir.

- Critério da culpa como deficiência da vontade: basta que agente se esforce.

Qualquer um deles são ramificações, segmentos do critério da culpa em abstrato, mas o


Princípio da Responsabilidade na Confiança da Atuação dos Outros deve nos levar
a considerar preferível optar pelo CDC apesar de ser mais rigoroso.

Em face das concretas circunstâncias do caso, é que deve ser convocado este critério do
bom pai de família da culpa em abstrato. Nessa medida, há quem diga que sendo esse
CDC particularmente rigoroso, então poderá admitir-se uma contemporização das
exigências do CDC como base, mas adotando algum grau de desculpabilidade com o
esforço do agente para se colocar no patamar do bom pai de família (doutrina francesa,
RC médica...). O CURSO, contudo ainda pensa que o CDC é o melhor critério.

Ónus da Prova da Culpa: no âmbito da RCE cabe ao credor (ao lesado) provar o seu
direito a não ser que haja presunção legal de culpa a seu favor (Art 487°/1). Art 491°,
492°, 493° e 503°/3 são exemplos dessas presunções legais de culpa que são exceções
face o sistema regra (mas que são ilidíveis, tantum juris). Não havendo presunções cabe
ao lesado provar a culpa do lesante. Havendo presunção algo diferente ocorre.

Quais os meios pelos quais a pessoa sobre quem recai a presunção legal de culpa tem
para afastar tal presunção? Esses artigos indicados na primeira parte (exceto no
493°/2) reconduzem a duas formas/vias:

❖ Demonstrando efetivamente que não teve culpa: mostrar que cumpriu seu
dever de vigilância (Art 491° e 493°), ou de conservação do edifício (caso do
492°), demonstrando que não houve culpa da sua parte e ficando afastada a
presunção.
❖ Invocar a seu favor a chamada relevância negativa da causa virtual: invoca
aqui a causa virtual e consegue por força da lei que se atribua essa relevância
negativa, demonstrando que os danos teriam igualmente se produzido na
eventualidade de ter cumprido seu dever de vigilância. Mesmo que tivesse
cumprido o dever de vigilância que se pressupõe que não cumpriram, os danos
teriam se produzido igualmente.

PRESSUPOSTO DO DANO

Sem dano não há responsabilidade civil. Art 572° - obrigação de indemnização visa
repor o lesado na situação em que ele se encontraria se não tivesse ocorrido o fato
lesivo. Compara-se a situação real atual do lesado depois da lesão, produzidos os danos
em sua esfera jurídica com a situação em que se encontraria, hipotética atual se não
tivesse ocorrido o fato lesivo. Assim, a principal finalidade da responsabilidade civil
é ressarcitória, de indemnizar/ressarcir os danos que foram causados ao próprio lesado.
Secundariamente a RC pode ter também uma função sancionatória/preventiva tal como
resultou do regime jurídico do regime jurídico do Art 494°/CC. Mas primacialmente a
função é mesmo de reparar/ressarcir os danos ou prejuízos.

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