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Cidades e transformações

GOMES, Gabriela. R.U. 651736


Polo: Botucatu

De acordo com o filósofo pré-socrático Heráclito, não é possível atravessar


duas vezes o mesmo rio pois nem as águas, nem o indivíduo que atravessa de uma
margem à outra, são os mesmos. Tudo muda: o ser humano, a natureza, a cultura, e
por que não, as cidades? Intrigada com essas questões, mas ciente das limitações
ao abordá-la, nos ateremos neste espaço a apontar algumas modificações ocorridas
na última década nas cidades de Altamira, no Pará, e em Botucatu, no interior do
Estado de São Paulo.
Em Altamira, muitos dos fatores que alteraram os ritmos da cidade e a vida
das comunidades que vivem na região não foram espontâneos, nem pacíficos, e
envolvem os impactos sociais e ambientais que tiveram início com as obras de
construção da terceira maior usina hidrelétrica do mundo, no coração do rio Xingu, a
Belo Monte.
Em acordo firmado entre a empresa responsável pela construção da usina, a
Norte Energia, e o poder público, a execução da obra ficou condicionada à uma
série de contrapartidas por parte da empresa que assumiria, por exemplo, a
responsabilidade de promover melhorias na cidade, como investir em saúde e
educação, catalogar e cultivar espécies que seriam diretamente afetadas pelas
obras, entre outras ações.
No entanto, moradores, veículos de comunicação e entidades não
governamentais, como o Instituto Socioambiental, denunciam que, embora a obra
tenha sido inaugurada dentro do prazo, em 2019, muito do que foi prometido à
população não saiu do papel ou, quando saiu, se deu de forma diferente do que fora
anteriormente acordado.
Mas, afinal, como Altamira se modificou? Comunidades que residiam nas
áreas que foram compradas pela usina tiveram que se mudar de lá e, se por um lado
elas foram indenizadas, por outro, o valor foi determinado unilateralmente pela
empresa e não cobria os prejuízos sociais, psicológicos e afetivos dos moradores.
Conjuntos habitacionais foram construídos, mas muitas casas apresentavam
problemas estruturais, como rachaduras e não possuíam estrutura adequada de
saneamento básico. Ainda vale lembrar que, entre 2015 e 2016, 16 toneladas de
peixes morreram nesse trecho do Xingu, de acordo com o Ibama.
Já em Botucatu, a maior transformação ocorrida na última década não foi
fruto de uma ação planejada, como apontado em Altamira, mas um evento climático
que alterou drasticamente a paisagem geográfica e a vida de muitos moradores e
comerciantes da cidade, a tempestade do dia 10 de fevereiro de 2020.
Na ocasião, o prefeito chegou a decretar estado de calamidade. Ruas foram
alagadas, pontes que conectavam diferentes pontos da cidade caíram, famílias
ficaram desabrigadas, e até mesmo ilhadas, precisando ser resgatadas. Ainda hoje,
algumas vias ainda estão interditadas ou tiveram alteração no tráfego; nem todas as
pontes foram reconstruídas e muitas famílias não puderam retornas às suas casas.
Além disso, um trecho da Rodovia Marechal Rondon - que liga as cidades de
Botucatu e São Manuel - precisou ser interditado pois uma cratera surgiu em um
lado da pista. Desde o dia da chuva, até o momento de reabertura desta parte da
pista, cinco vidas se perderam ali.
Outro impacto importante foi a destruição de parte da área histórica da
Fazenda Lageado, um campus da Faculdade de Ciências Agronômicas, a UNESP,
na cidade. Na parte mais afetada fica o conhecido Museu do Café, Patrimônio
Cultural da cidade, cujas atividades estão suspensas até hoje. Além de comprometer
a estrutura física do casarão, dois lagos artificiais que abrigavam patos, peixes,
tartarugas, e uma ponte que ficava próxima a eles, desapareceram com a força da
enxurrada.
Ante o exposto, é possível afirmar que Altamira e Botucatu se transformaram
na última década, embora devamos admitir que as mudanças tenham se dado em
ritmos, e por razões diferentes. Também é possível notar que os acontecimentos
mencionados alteraram significativamente não só a estrutura, mas também a vida da
população nestas cidades, ainda que resguardadas as devidas proporções.

Referências:
1. BELO MONTE afeta a vida de comunidades no sudoeste do estado. Disponível
em: <https://amazonia.org.br/2016/05/belo-monte-afeta-a-vida-de-comunidades-no
sudoeste-do-estado/>. Acesso em: 09/06/20.
2. TEMPESTADE desabriga famílias, interdita rodovia e alaga ruas em Botucatu.
Disponível em: https://g1.globo.com/sp/bauru-marilia/noticia/2020/02/10/tempestade-
desabriga-familias-e-alaga-ruas-em-botucatu.ghtml. Acesso em: 09/06/20.

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