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QUESTÃO BRASIL

A Usina de Belo Monte e seus


impactos negativos Por Pablo Wilson Queiroz

vapor, o que vemos atualmente é


que a sociedade civil junto com
a população nacional, parecem
calar-se a cada dia que passa,
deixando de manifestar o inte-
resse da paralisação desta que é
para ser, uma das construções
mais impactantes presentes na
história do nosso país.

Histórico
Há mais de 20 anos perdura a
polêmica sobre O Rio Xingu na
região paraense. Em fevereiro de
1989, ocorreu o 1º Encontro dos
Povos Indígenas do Xingu onde foi
realizado um grande protesto contra
as decisões tomadas na região ama-
zônica sem a consulta prévia aos
povos indígenas, nesta mesma

A usina hidrelétrica de
Belo Monte, situada na
cidade de Altamira no Pará, vem
efeito inverso. Ou seja, a barra-
gem do rio Xingu causará a
inundação constante dos igara-
ocasião protestaram também contra
a construção da hidrelétrica no Rio
Xingu. Reuniram-se ali, cerca de 3
causando muitas discussões e pés de Altamira - e não sazonal, mil pessoas, entre índios, ambienta-
listas, movimentos sociais, empre-
protestos desde sua licença de como de costume. Com o blo- sários e representantes de órgãos
instalação. Ambientalistas, soci- queio do rio, um trecho de 100 públicos do governo. O que era
edade civil e acadêmica apon- km terá a vazão reduzida e pode para ser um protesto regional, aca-
tam inúmeros desequilíbrios ge- até secar. A inundação irá gerar bou tomando proporções gigantes
rados pela construção desta fon- a redução das navegações no rio, com a presença da mídia e teve re-
te energética onde centenas de o transporte fluvial de um dos percussão nacional e internacional.
pessoas estão sendo manejadas principais afluentes, o Rio Baca- No decorrer da reunião, em
de suas terras, constituindo di- já será interrompido, criando frente a centenas de pessoas a índia
versos problemas sociais, princi- mais um problema de desordem Tuíra, sai da platéia e enconsta a
palmente entre as populações social, pois somente com as em- lâmina de seu facão no rosto de um
indígenas. barcações a população ribeirinha representante da estatal que ali esta-
va. A imagem deixou claro ao mun-
Além do fator de degradação consegue chegar até Altamira do a indignação daquela brasileira
social, temos grandes problemas para atendimento médico, e co- frente ao problema que a população
ambientais, uma vez que o curso mércio de seus produtos. indígena enfrentava diante do des-
do Rio Xingu será desviado, a Segundo o próprio Relatório caso do governo em ouvi-los. Este
inundação irá acarretar na perda de Impacto Ambiental (Rima) primeiro encontro tornou-se um
de biodiversidade, o ciclo hidro- feito na Usina de Belo Monte, a marco na luta socioambiental no
lógico será alterado bruscamente usina não poderá operar a todo Brasil.
gerando morte e desequilíbrio vapor durante o ano. No período
do sistema de desova das espé- de estiagem (seis meses), ela
cies de peixes da região. A hi- deverá gerar, em média, 4.428
drelétrica terá dois lagos: os re- MW - contra os 11.233 MW do
servatórios do Xingu e dos Ca- projeto original, além disso, o
nais. Com a construção da barra- Estudo de Impactos Ambientais
gem principal, a calha do rio se- (EIA) feitos em Belo Monte, já é
rá alargada. A partir do blo- suficiente para a comprovação
queio, as águas serão desviadas do erro que está sendo feito pelo
para um canal. governo brasileiro ao liberar es-
Temos neste caso um impac- se ambicioso projeto, mesmo
to ambiental, pois ocorrerá o assim as obras continuam a todo
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Belo Monte de
problemas.
 
Segundo Renée Pereira - O Es-
tado de S. Paulo “A Hidrelétrica de
Belo Monte, no Pará, foi orçada em
R$ 16 bilhões, leiloada por R$ 19
bilhões e financiada por R$ 28 bi-
lhões. Quase dois anos depois do
início das obras, o valor não para
de subir. Já supera R$ 30 bilhões”.
O poder público e a concessio-
nária responsável pela execução da
obra culpam as invasões indígenas
e as greves pelo atraso, estima-se
que o atraso corresponda a um ano,
de acordo com o cronograma apre-
sentado anteriormente. Outro fator
apresentado como responsável pelo
atraso e aumento do custo, é o valor
dos bens tangíveis e intangíveis que
superaram os valores previstos no
início da construção, fora previsto o
início da operação da usina para
dezembro de 2014, porém, isso não
ocorrerá certamente.
É notável que o desequilíbrio e
descaso com o dinheiro público,
estão mais que evidente neste pro-
jeto. Quem vai pagar todo esse va-
lor que não para de crescer? A res-
posta é simples, nós!

A usina hidrelétrica que foi para o cinema


Diante de muitos discursos e ações, surge a criação de um
filme sobre Belo Monte, a produção independente denominada
“BELO MONTE, ANÚNCIO DE UMA GUERRA” conta com
uma equipe de jovens dos mais diversos ramos de ocupações do
nosso país, o financiamento foi feito totalmente com dinheiro do
público através de campanhas de doações e recebeu o apoio de
muitas organizações apartidárias e até mesmo do Ministério Pú-
blico Federal do Pará.
Sob a direção de André D’Elia, o longa metragem apresenta
depoimentos de pessoas contra e a favor da construção da usina,
destacando com realidade todo desastre previsto.
O documentário teve seu lançamento mundial no dia 17 de
junho de 2012, simultaneamente no Auditório Ibirapuera e na
internet. Desde então se iniciou uma campanha nas redes sociais
para que o filme tenha o maior alcance possível no Brasil e no
mundo.
Ficou curioso?
Acesse o site oficial: http: www.belomonteofilme.org/

Para a elaboração deste artigo foram consultados:


http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/ambiente
http://www.xinguvivo.org.br
http://www.socioambiental.org
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Deslocações habitacionais no Brasil


decorrentes de Megaeventos Por Bruno Santos de Almeida

Fonte:http://esportes.terra.com.br/futebol/copa-das-confederacoes/grupo-faz-protesto-na-av-paulista-contra-copa-do-
mundo,4f44e2762544f310VgnVCM5000009ccceb0aRCRD.html Acessado em: 01/07/2013 às 16h.

"Políticas, leis e regulamentos países emergentes, e por conta dis- de de 2009 a construção do Parque
podem influenciar o desenvolvi- to, figura entre uns dos mais fortes Várzeas do Tiête que "beneficiará"
mento urbano diretamente no re- economicamente no cenário mundi- os seguintes municípios: São Pau-
forço da segurança da posse ou, al. Assim, o país almeja mostrar ao lo, Guarulhos, Itaquaquecetuba,
inversamente, aumentar a insegu- mundo seu modo de organização e Poá, Suzano, Mogi das Cruzes, Bi-
rança. As regras de planejamento realização de megaeventos, tendo ritiba Mirim e Salesópolis. A obra
que muitas vezes não levam em como enfoque os benefícios gera- localiza-se na Zona Leste de São
conta a cultura e confia apenas em dos por conta destes e o entreteni- Paulo e será feita em três fases,
produtos imobiliários oferecidos mento proporcionado. Porém, pas- tendo o seu término em 2020. Ela
para as classes superiores ou gru- sadas as conquistas do país para teve início em 2010 e potencializou
pos dominantes, combinados com trazer à Copa do Mundo e as Olím- -se com a construção do estádio em
marcos regulatórios rígidos e pe- piadas, o que se vê é a deslocação Itaquera, que será um dos locais
sados para o desenvolvimento ter- das populações em alguns Estados para à Copa do Mundo e por onde
ritorial e de habitação muitas ve- sem que estas tenham vontade de passará a obra e terá conjuntamente
zes, que não atendem às necessida- escolha. nestes lugares os interesses econô-
des dos pobres e marginalizados, A Copa Do Mundo será realiza- micos que são os principais mobili-
porque eles não oferecem a possi- da em doze capitais do país sendo zadores para à tomada de determi-
bilidade de regularizar a sua situa- elas Rio de Janeiro, São Paulo, Be- nados locais ocupados, tendo em
ção no alojamento." lo Horizonte, Curitiba, Porto Ale- vista a alta especulação imobiliária.
(Rolnik;Raquel, 2013, p.20). gre, Recife, Fortaleza, Salvador, Porém, salienta-se que com a cons-
Cuiabá, Natal, Manaus e Brasília. trução desta, 4 (quatro) mil famílias
O Brasil hoje está no rol dos Em São Paulo, era previsto des- já foram deslocadas e 6 (seis) mil

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famílias ainda serão deslocadas, em
alguns casos, como é a dos mora-
dores da Chácara Três Meninas, em
área contígua ao Parque, de forma
truculenta e sem aviso prévio.
Em Belo Horizonte, vários gru-
pos socialmente desfavorecidos
têm reportado situações de opres-
são ou medo por parte da Prefeitu-
ra, frente à percepção de que a ci-
dade passa por várias intervenções
de higienização, ou seja, uma
"limpeza" na cidade para que esta
esteja mais bonita visivelmente e
possa atrair um maior número de
turistas.
No Rio de Janeiro, a Copa do
Mundo e as Olimpíadas que serão Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1250985-defensoria-denuncia-suposto-
realizadas nos anos de 2014 e 2016, abuso-policial-em-acao-na-aldeia-maracana.shtml. Acessado em: 05/05/2013 às 13:17h.
respectivamente, já estão em anda-
mento vários deslocamentos, a cional de Habitação de Interesse elaborado o projeto, em torno de 8
exemplo disto, pode-se citar as tri- Social – SNHIS que retrata no bilhões de reais a mais. Agora, ca-
bos indígenas no bairro do Botafo- Art.4ºda Lei n° 11.124/2005, nos be a dúvida: Qual é o verdadeiro
go (RJ) que terão seu Museu des- diz que é "função social da proprie- destino deste dinheiro? Por quais
truído sendo este datado de 1910, dade urbana visando a garantir atu- motivos houve um aumento tão
doado pelo então Presidente, Mare- ação direcionada a coibir a especu- grande nos gastos públicos?
chal Rondon. Em seu local não será lação imobiliária e permitir o aces- Diversas manifestações
construído nenhum prédio, pois, so à terra urbana e ao pleno desen- acontecem contra à Copa do Mun-
servirá somente para à circulação volvimento das funções sociais da do e as Olimpíadas, principalmente
rápida de pessoas e veículos e para cidade e da propriedade". Assim, o no período em que a gama de pro-
auxiliar o enorme fluxo que a Copa deslocamento indevido torna-se testos têm tomado efervescência no
trará para o entorno do estádio. ilegal conforme à lei. país. Esse reivindicadores, querem
Houve manifestação no qual ocor- Os gastos públicos com a o fim destes Megaeventos. No pre-
reu em frente ao Museu, entretanto, Copa já ultrapassaram 28 bilhões sente trabalho, só fora abordado um
com repressão, homens do Choque de reais. Além deste dinheiro, foi dos problemas (habitacional), po-
empurraram os índios para fora da aprovada isenção de impostos para rém, há outros, como a privatização
propriedade. Eles também usaram às construtoras dos estádios e dos de aeroportos, transporte público,
spray de gás pimenta e bombas de campos de treinos nas outras cida- dentre outros, nos quais dão supor-
efeito moral. Os índios que ali resi- des que atuarão como apoio à Co- te para tais manifestações. Agora,
diam, devem passar cerca de um pa, sob a justificativa de que isen- cabe à todos fazerem as seguintes
ano em um alojamento provisório ções fiscais não podem ser conside- perguntas: Será que vale realmente
na antiga Colônia Curupaiti, em radas gastos, porque alavancam à pena a realização da Copa e das
Jacarepaguá, na zona oeste da cida- geração de empregos e o desenvol- Olimpíadas no Brasil? E estas fa-
de e depois se deslocarão para a vimento econômico e social, e são mílias que foram prejudicadas,
Estrada Comandante Luis Souto, destinadas a diversos setores e pro- quem olhará para elas? Quais dívi-
no bairro do Tanque, onde será jetos. Entretanto, os gastos estavam das ficarão depois da realização
construído um novo projeto deno- muito acima do previsto quando foi destes Megaeventos ?
minado Centro de Referência da
Cultura Indígena, que substituirá o
Museu. Entretanto, os 22 indígenas
que no museu residiam, negam o
projeto, sob a justificativa que este REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Centro de Cultura perderia as raízes DOSSIÊ DA ARTICULAÇÃO NACIONAL DOS CÔMITES POPULARES DA CO-
históricas que o Museu do Índio PA. Megaeventos e violações de direitos humanos no Brasil. Disponível em: http://
carrega, mas a proposta não foi re- www.apublica.org/wp-content/uploads/2012/01/DossieViolacoesCopa.pdf. Acessado em:
20 de mai. 2013.
vogada e sem direito de escolha, os
indígenas foram realocados para o
alojamento provisório. DOSSIÊ DO COMITÊ POPULAR DA COPA E OLIMPÍADAS DO RIO DE JANEI-
Outros casos como os aborda- RO. Megaeventos e violações de direitos humanos no Rio de Janeiro. Disponível em:
http://www.apublica.org/wp-content/uploads/2012/09/dossic3aa-megaeventos-e-
dos até então, estão em andamento violac3a7c3b5es-dos-direitos-humanos-no-rio-de-janeiro.pdf. Acessado em: 20 mai. 2013.
em todo o país. Assim, a dimensão
do problema vai além da realização
destes Megaeventos, chegando a ROLNIK, R. Promoción y protección de todos los derechos humanos,civiles, políticos,
económicos, sociales y culturales, incluido el derecho al desarrollo, Genébra, vol.1, n.1,
esfera jurídica, onde estas apropria- mar. 2013. Disponível em: <http://direitoamoradia.org/wp-content/uploads/2013/02/
ções indevidas fere ao Sistema Na- A.HRC_.22.46_sp.pdf> Acessado em: 02 jun. 2013.

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Opinião & Ponto Por Camila Leticia de Jesus Menck

Custo Brasil
Custo Brasil é o termo usado para Acredito que essa nova lei trará grandes impactos ao consumidor, pois muitos
definir as dificuldades que o país en- não tem informações, e nem noção de quanto dinheiro é arrancado todos os dias.
frenta, relativos a problemas econômi- Segue abaixo alguns dados da taxa de impostos em alguns bens e produtos co-
cos, estruturais e burocráticos. Proble- muns que estão presentes em nosso dia a dia:
mas esses que geram resultados negati-
vo ao desenvolvimento do país.
Quando falamos de custo Brasil,
logo nos vem a memória a palavra
“IMPOSTO” que em nosso país tem
um valor altíssimo e que está agregado
a todos os produtos ou bens que adqui-
rimos. Os produtos brasileiros estão
cada vez mais caros no cenário mundi-
al. O valor alto dos impostos e a nossa
péssima infraestrutura são os principais
vilões do custo Brasil.
Esses impostos estão embutidos em
grande porcentagem de tudo que com-
pramos, pode se dizer ate que se não
houvesse um imposto tão alto podería-
mos consumir quase tudo em dobro.
Esses impostos tem como objetivo
garantir a nós brasileiros bons serviços,
boa educação, segurança, e saúde.
Infelizmente não temos o retorno do
valor pelo qual pagamos todos os dias,
pois os serviços públicos nos deixam a
desejar. Vivemos em um país onde a
corrupção toma grande parte do dinhei-
ro dos cofres públicos, dinheiro esse
que faz muita falta na área da saúde,
educação, segurança de posso país.
Nosso governo não dá aos serviços
básicos de qualidade que a população Tabela demonstrando a porcentagem aproximada da taxa de impostos
tem por direito. É injusto e até mesmo embutidos no preço de produtos de uso em nosso dia a dia.
revoltante tudo que vivenciamos em
nosso país. Alguns vêm o descaso de Pagar autos impostos é um proble- em nosso país, são eleitos através de
perto (quem já precisou de algum aten- ma, mas o que mais prejudica a soci- nossos votos. Portanto cabe a nós elei-
dimento do SUS sabe do que se trata), edade é o destino que é dado ao nosso tores analisarmos melhor nossos candi-
e todos os dias, e por varias formas, dinheiro. Grande parte acaba destina- tados e pensar se realmente vale a pena
somos afetados por esses descasos. do a obras super faturadas, mensalão, depositarmos nosso voto de confiança
Nem mesmo sair a rua é simples, pois desvios, altos salários de políticos (e neles, e votar no candidato que real-
a segurança também é falha. A infraes- até de seus parentes!), e com isso mente trabalhe pelos direitos do cida-
trutura brasileira é uma das piores do deixa de ter seu real destino. dão, essa seria, do meu ponto de vista a
mundo. Milhares de quilômetros de Vivemos em um país em que nos- unica forma de mudar isso.
nossas rodovias estão sucateadas e a so dinheiro é desperdiçado com um
pequena parte que está em boas condi- governo com muita gente, muita bu-
ções é graças à iniciativa privada que rocracia, muitos gastos e poucos re- Fontes consultadas:
administra as mesmas. sultados. Site: http://exame.abril.com.br/
No mês de junho foi aprovada a A nossa população que produz no topicos/custo-brasil acessado em 06/2013
lei 12.741/12, sancionada pela Presi- Site: http://economia.ig.com.br
Brasil está sendo massacrada por im- acessado em 04/2013
dência da República, obrigando as em- postos altos e governo ruim.
presas e prestadoras de serviço a dis- Site: http://
www.brasileconomico.com.br
criminarem sete tipos de impostos que acessado em 04/2013
incidem sobre produtos e serviços na Como resolver o problema?
Para consertar o Brasil é preciso Site: http://economia.estadao.com.br
nota fiscal que será destinada ao con- acessado em 04/2013
sumidor final. consertar o governo brasileiro. Isso Site: http://custobrasil.net
O principal objetivo da lei é de- exige que os politicos votem em leis acessado em 06/2013
monstrar aos consumidores os valores boas, uns falam em fazer manifesta- Site: http://www.advivo.com.br
que eles estão pagando de tributos so- ções, isso é bonito e pode trazer al- acessado em 06/2013
bre determinado produto ou serviço. guns resultados, mas diferença mes- Site: http://
ma pode ser feita na hora em que o informacaocontabil.blogspot.com.br
De acordo com a nova lei, as notas acessado em 06/2013
fiscais detalhadas deverão ser emitidas cidadão vai votar.
Todos esses políticos que são res- Revista Super interessante- 03/2013
em caso de venda de mercadorias ou Revista Veja- 07/2013
serviços em todo o território nacional. ponsaveis pelas coisas boas e ruins
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Opinião & Ponto Por Larissa Hasselmann

Mídia e Comportamento
Os meios de comunicação estão forte pode influenciar uma quanti- subiu para 32,7% dez anos depois,
cada vez mais presentes no cotidia- dade significativa de pessoas tanto num aumento de 50%”, sublinha,
no das pessoas. A televisão se tor- positiva quanto negativamente. sugerindo que caso a proibição
nou a principal mídia a partir do Um bom exemplo de mídia não fosse aprovada, os dados atu-
século xx, hoje as novas tecnologi- questionável refere-se às antigas ais seriam acentuados. “O dado de
as como a internet tornaram as in- mídias de cigarro. Na época em que 2005, de 21,7%, é menor do que o
formações muito mais acessíveis e eram veiculadas, incitavam o jo- de quase 20 anos atrás”, pontua.
tornou o mundo muito mais com- vem a fumar, com a ideia de que o O número caiu tanto entre os
plexo. meninos como entre as meninas.
cigarro estava ligado à aventura,
Nos primeiros, a queda foi de 36%
Mas este cenário de abundância maturidade e saúde. Nos comerci- (1997) para 21,9%. Na outra faixa,
de informação quer dizer que essa ais exibidos na TV e/ou em mídia de 31,9% para 21,3%. Entre os pré-
mídia está mais democrática? E ela impressa, imagens ligadas a esporte adolescentes (12 a 14 anos) tam-
ajudou a democratizar a sociedade? e juventude atraiam, principalmente bém houve diminuição: de 13,8%
A crítica do comportamento da adolescentes, a experimentarem o para 8%.
mídia se relaciona a concentração cigarro. A força da mídia não esta ape-
dos veículos em poucos grupos, o Após alguns anos, processos se nas em construir a realidade, mas
que tem se tornado uma prática acumularam contra a indústria do também em ocultá-la. Quem tem
mais comum no Brasil, e a mídia tabaco, vindos principalmente de poder para difundir noticias, tem
sempre coube um papel de destaque poder para manter segredos e di-
pessoas que contraíram doenças
fundir silêncios. Podemos concluir
atuando quase de forma invisível, respiratórias, as quais, circunstanci- que uma parte do que de importan-
mas permanentemente influencian- almente eram ligadas ao uso contí- te ocorre no mundo, ocorre em se-
do nas ações do governo e no com- nuo de cigarro. Em 2000, com a lei gredo e em silencio, fora do alcan-
portamento da sociedade, extrapo- 10.167, a propaganda de cigarro foi ce dos cidadãos. A média de horas
lando em muitos momentos o seu proibida no Brasil. Segundo José que um brasileiro fica diante da TV
principal papel que é informar o Carlos Mattedi, da Agência Brasil, é de 4 horas, recebendo uma gran-
povo de forma isenta. pesquisas feitas na época avaliaram de 'carga de informação', porém
No âmbito da política é fácil o impacto da ausência da propagan- cabe a nós perceber que a mídia
constatar a grande influencia exer- da de cigarros entre os jovens. Se- não é onipotente. Devemos exercer
cida pela mídia. de forma pacifica e legitima o nos-
gundo os pesquisadores:
so poder, diria o quinto poder, lu-
A matéria prima da política é a tando pela democratização dos
credibilidade, um capital simbólico. “Pode ter havido outras motiva- meios de comunicação, pois com
A mídia é o meio de produção des- ções que levaram a uma diminui- isso certamente a mobilização po-
se capital, tanto pra construí-lo ção no consumo ou na sua estabili- pular e as iniciativas de mudanças
quanto para destruí-lo. zação. Mas não tenho dúvidas que serão muito mais fáceis e rápidas.
Quando falamos em mídia como a proibição da propaganda foi fun- Ao analisarmos pesquisas como
quarto poder é necessário ressaltar damental para os resultados”, en- a do consumo de cigarro, temos de
que esse assim chamado poder pode fatiza Carlini. Além dele, trabalha- forma clara, a idéia de quanto po-
ser usurpado. Isso por que esse po- ram nas pesquisas: José Carlos der tem a mídia. O Brasil ainda
der que a mídia se atribui não lhe treme ao lembrar-se da ditadura e
Galduroz, Arilton Martins Fonseca
sua censura. No entanto, cabe res-
foi conferido pelo povo que é a ori- e Ana Regina Noto. saltar, que a responsabilidade dos
gem do poder legítimo numa socie- veículos de comunicação refere-se,
dade democrática, ela se arrogou “A propaganda de cigarro era em parte, a educação de nossas
desse poder por conta própria base- bastante insinuante, ligada ao su- crianças e jovens.
ada apenas em sua força econômi- cesso pessoal e a fatores como sta- Portanto, cada mensagem deve
ca, política e ideológica, sendo as- tus econômico. Isso influenciava, ser analisada do ponto de vista crí-
sim cúmplice de setores da classe principalmente, a camada jovem”, tico, evitando o desgaste ainda
política. ressalta Carlini. maior da sociedade atual, a qual
É interessante questionarmos a tem seus filhos criados por tercei-
força da comunicação como in- “Já o primeiro estudo que fize- ros, na medida em que, os pais,
fluência das atitudes da massa po- mos em 1987, também com estu- tornam-se ausentes ao serem explo-
pular a qual atinge. Por isso, a res- dantes, mas em 27 capitais, mos- rados, de forma, cada vez mais
ponsabilidade dos veículos de mí- trava que 22,4% haviam experi- intensa pelo sistema econômico
dia é enorme, afinal, uma marca mentado tabaco, número esse que atual.

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 COMPORTAMENTO - CULTURA

A mídia como manipuladora infantil:


Dos brinquedos a brinquedos, como as Mc-Colas alimentam a existência das crianças.
Por Pablo Wilson Queiroz

Desde a Revolução Industrial no século XIX, a aos poucos se inseriram ao cotidiano social.
sociedade sofre impactantes transformações Tornou-se, dessa forma, indispensável para estas
tecnológicas que não findam. Conjuntamente as empresas a divulgação de seus produtos, o que
transformações tecnológicas e cientificas, culminou num minucioso trabalho de pesquisa por
fundiram-se a sociedade veículos responsáveis públicos e formas de atingi-los incisivamente, a
pela comunicação, dentre estes, a mídia tornou-se mídia direcionada ao público infantil foi fruto
via para a divulgação de produtos e empresas, que desse processo.
http://www.guigolopes.com.br/obesidade-infantil/

No Brasil, as crianças influenciam importantes que permeiam a ética das grave da infância brasileira, a
80% das decisões de compra (TNS/ propagandas: a interferência da obesidade infantil, que atinge uma em
InterScience, outubro de 2003), em propaganda na alimentação infantil e a cada três crianças entre 5 a 9 anos
2006, segundo dados do Ibope mídia como formadora do ser social. (IBGE). Estudiosos e nutricionistas
Monitor, os investimentos afirmam que a obesidade pode estar
publicitários voltados apenas à relacionada com fatores hereditários e/
categoria de produtos infantis foram de
Alimentação Infantil ou maus hábitos alimentares, aliados
R$ 209 milhões. Com base nos Uma pesquisa do Instituto ao sedentarismo. Aprofundando-se
números podemos perceber a Brasileiro de Geografia e Estatística - nesses fatores, podemos identificar a
importância das crianças como IBGE, aponta que as crianças importância da mídia dentro desse
mercado consumidor futuro, vide que brasileiras são as que mais assistem TV quadro atual brasileiro e mundial.
as empresas trabalham a imagem de no mundo, uma média de 4 horas 51 Com os processos de urbanização,
suas marcas na infância para que minutos e 19 segundos (IBGE). Dentro desenvolvimento tecnológico e da
posteriormente elas permaneçam da programação infantil, entre produtos influência midiática, as sociedades
necessárias na vida do individuo. de beleza, brinquedos, desenhos, reduzem-se gradativamente a seres
A problemática desse quadro, esta roupas, jogos eletrônicos etc, 80% da sedentários, vide que a inserção de
em quão ético as empresas são com publicidade esta direcionada a tecnologias como, por exemplo, os
seu público mirim (?). alimentos que são prejudiciais a saúde micro computadores, permite-nos
Embasando-se nessa problemá- da criança (ANVISA, 2006). Essa realizar transições comerciais
tica, podemos questionar dois pontos estimativa aponta para um problema (compras, pagamentos etc), pesquisas,
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COMPORTAMENTO - CULTURA
encurtar distâncias através da padronização do individuo. Ilustrando, podemos utilizar-se, por
comunicação em tempo real, por meio "O consumo é uma máscara que exemplo, das propagandas de bonecas
de câmeras e redes sociais, sem compramos, achando ter então comprado a Barbie e carrinhos Hot Wheels. Começando
precisarmos nos locomover sendo a felicidade" (Alexa Supertramp), essa pelas Barbie's, bonecas "nascidas" em
mídia, por sua vez, responsável por citação representa concretamente o que 1959, as Barbies tornaram-se projeções do
divulgar não apenas esses produtos, representa para nós o consumo. É sabido que as garotas desejam (ou devem) ser;
mas também esse novo estilo de vida que as empresas comercializadoras de médica, veterinária, professora, cantora,
moderna. marcas e produtos mundialmente branca, olhos claros e afins, o brinquedo
Voltando-nos a alimentação, a conhecidos, trabalham de forma minuciosa que outrora possuía a função de filha de
mídia cumpre papel importante na na estruturação de suas propagandas. milhares de menininhas, transformou-se em
transformação de produtos Quando o assunto é criança; desenhos, parâmetro de beleza e status. Assim como
alimentícios de grande teor calórico e frases, cores e sons tornam-se as bonecas, os carrinhos dos meninos
não nutritivos, em alimentos indispensáveis para atrair o público. representam (mesmo que de forma velada)
necessários para o consumo diário. Podemos perceber isso nas propagandas de a independência dos homens, que desde
Sendo as crianças sua via mais grandes empresas de Fast-food (Mc cedo aprendem que devem ser corajosos e
importante de merchandising, a Donald's, Bob's, Habbib's etc), essas lideres, tomando para si, seu papel dentro
divulgação destes produtos são empresas são adeptas ao "diversão dentro da sociedade.
estruturados de forma a agradar e atrair da caixinha", utilizando-se de personagens, Podemos perceber que mais do que
o público infantil de tal maneira, que promoções, brinquedos e slogans, elas divulgadora de produtos e serviços, a mídia
condiciona os pais a os consumir a tornam-se lideres de vendas pelo mundo. trabalha com a divulgação e disseminação
partir das pressões dos filhos. Isso A regulação falha ou "não" regulação de ideais, condições existências e
ocorre porque na sociedade tecnificada das propagandas e da mídia no Brasil padronização de indivíduos. Seja através do
a qual estamos inseridos, nosso estilo colaboram com a forte influência das azul e rosa que separa os sexos, das batatas
de vida moderno, que outrora era empresas diante as crianças. Uma pesquisa fritas que contribuem para o colesterol de
embasado em "mais tecnologia, mais da Associação Dietética Norte Americana centenas de crianças e adolescentes ou de
tempo livre", transformou-se em "mais Borzekowski Robison aponta que bastam slogans que condicionam as crianças a
tempo de trabalho, para mantermos a 30 segundos para uma marca influenciar sentirem-se tentados a possuir todos os
evolução", o que condiciona os uma criança. Essa facilidade de coerção brinquedos dos comerciais de TV para
indivíduos (pais) a trabalharem mais infantil, colabora para a condição de tornarem-se mais felizes, num processo de
para manter o motor social consumista precoce, a partir de ideologias alienação covarde; as empresas e suas
funcionando, dentro das ideologias de que sustentam a necessidade de consumo propagandas, através da mídia, trabalham
alcançar maior qualidade de vida, o para a inserção e/ou destaque em um grupo para moldar as crianças que futuramente
que faz das sociedades tão livres seleto, a evolução de determinada condição assim como seus pais, verão seus filhos
quanto pessoas cercadas por muros e a uma condição superior a outro e a imersos no lado Coca-Cola da vida ou no
consequentemente, dos pais menos obtenção de realização pessoal, amor incondicional por Mc-alimentos
presentes que os televisores de suas fundamentam as regras que impulsionam as prejudiciais a saúde e em brinquedos
casas. crianças a serem competitivas desde muito refletores de condições que deveriam ser de
Seguindo essa problemática da cedo. escolha individual, porém não são.
mídia como transmissora dos estilos de
vida, adentramos um outro campo
delicado que envolve, não somente as
crianças, mas os indivíduos em geral
que possuem contato com o meios de
comunicação em massa, sendo esta, a
influência da mídia na construção de
valores, que outrora eram estruturados
pelas instituições religiosas, familiares
e educacionais.

A Mídia como
construtora de valores
O consumismo é uma compulsão
que leva o indivíduo a comprar de
forma ilimitada e sem necessidade
bens, mercadorias e serviços (Brasil
Escola). O consumismo presente nas
sociedades modernas, é um dos http://grupodstonline.blogspot.com.br/2010/10/midia-o-quarto-poder-231010.html
assuntos bastante gastos em discussões
filosóficas e sociais que questionam a Referências Bibliográficas:
PUSTAI, Vanessa; SCHMIDT, Saraí. A criança na tela da TV: um estudo sobre consumo e cultura
metamorfização do "ser" em "ter". Em infantil Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/regionais/sul2010/resumos/R20-0974-1.pdf.
meio a uma difusão de bens de Acesso em: 08 de Jun. 2013.
consumo, objetos eletrônicos e CAZZAROLI, Aline Raquel. Publicidade Infantil: o estímulo ao consumo excessivo de alimentos.
serviços diversificados, a cultura do Disponível em: http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?
n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10235. Acesso em: 07 de Jun. 2013.
consumo tornou-se tão importante VELOZO, Janayna. Influência do design de embalagens no consumo do lanche infantil de fastfoods:
quanto a cultura da língua, das uma análise comparativa entre Mc Donald’s, Habib’s e Bob’s. Disponível em: http://
tradições e de todas as outras culturas www.designemartigos.com.br/wp-content/uploads/2010/01/janayna-Influ%C3%
que diferenciam os grupos sociais. AAncia_do_design_de_embalagens_no_consumo_do_lanche_infantil_de_fast-foods.pdf. Acesso em:
08 de Jun. 2013.
Entretanto, contrariamente as outras RENNER, Estela. Criança: A alma do negócio. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?
culturas, a cultura do consumo tornou- v=49UXEog2fI8. Acesso em: 23 de Mai. 2013.
se a forma mais influente na SPURLOCK, Morgan. Super Size Me: A Dieta do Palhaço. Disponível em: http://www.youtube.com/
watch?v=XiaET24DwaU. Acesso em: 23 de Mai. 2013.
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COMPORTAMENTO - CULTURA

Músicas de Protestos e Sociedade


Por Synclair V. Pereira

A relação entre a música e a socie- música feita especificamente de e para


dade é tão natural quanto evidente, os pobres, por menor que seja a inten-
visto que o primeiro é gerado a partir ção de protesto político”. Essa afirma-
dos reflexos do segundo. Todo e qual- tiva é tão válida para o Blues quanto
quer estilo musical pode ser relaciona- para o Jazz norte-americano na primei-
do a um fator histórico, econômico e/ ra metade do século XX.
ou social de uma determinada região. O Blues originou-se na região do
Das canções de Gospel e de Blues, delta do Mississipi com os escravos
aperfeiçoadas pelos escravos america- que vieram da África para trabalhar nas
nos nos campos de algodão no início terras de plantio de algodão. Na tentati-
do século XX até as canções Pop con- va de aliviar o sofrimento causado pe-
temporâneas que refletem claramente o las péssimas condições de vida e a ex-
espírito consumista da sociedade mo- ploração dos fazendeiros, os escravos
derna, uma música pode trazer muito desenvolveram os cantos de trabalho,
mais significado além de suas melodi- com letras carregadas de mensagens de
as. Apesar disso, existem artistas que lamento pela exploração, descreven-
preferem deixar evidente nas letras de do muitas vezes a angústia e revolta
suas músicas tais reflexos. Assim é que diante de tal situação. O Blues foi apri-
se tem origem as músicas de protesto. morado e tornou-se um estilo popular Billie Holiday, uma das mais consagradas
Embora a ideia de utilizar a música nos Estados Unidos a partir da década cantoras de Blues da história da música.
como instrumento de protesto tenha de 1920. Fonte da imagem: Divulgação
ganhado popularidade na década de Oriundo do Blues, aliado a ritmos
1960, através do Folk e o Rock britâni- europeus e latinos e à música Gospel, o Foi em 1939, em meio às tensões
raciais ocorridas nos Estados Unidos –
co, as primeiras influências vêm das Jazz se desenvolveu em Nova Orleans mais especificamente, no sul do país –
cantigas galego-portuguesas de escár- nas primeiras décadas do século XX, e que Billie Holiday gravou uma de suas
nio e maldizer, no século XII. Mesmo assim como o Blues, manteve fortes canções mais famosas. Se “Strange
no século XX, antes da explosão do raízes na cultura afro-americana. Fruit” não foi precursora das músicas
Rock and Roll, o Blues e o Jazz norte- Dentre inúmeras canções de protes- de protesto, é, sem dúvida, a mais em-
americanos carregavam consigo ele- to gravadas na primeira metade do blemática em sua época. Entre 1889 e
mentos fundamentais para as canções século XX, vale destacar a importância 1940, cerca de 3800 negros foram lin-
modernas de protesto. chados nos EUA, dentre os quais, mui-
da canção “Strange Fruit”, composta
tos foram espancados até a morte e
na forma de um poema pelo professor pendurados em árvores.
Blues, Jazz e Billie Holiday nova-iorquino Abel Meeropol e inter- Segundo MERGOLICK (NEY,
HOBSBAWN (1990) considerou pretada e popularizada pela cantora de 2012), “Strange Fruit” fez sucesso
como música de protesto “qualquer Blues e Jazz Billie Holiday. moderado – o público, tanto negro
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  COMPORTAMENTO - CULTURA
quanto branco – temia que a música derado um divisor de águas no que se massa inglesa, as primeiras bandas
pudesse insuflar o ódio racial na época. diz respeito à música e a sociedade. O punks (também conhecida como blank
Apesar disso, para o produtor musical público presente no festival era o mes- generation – geração em branco, em
Ahmet Ertegun (NEY, 2012), a música mo público que ansiavam por grandes português), perpetuaram o lema do
“foi uma declaração de guerra. O início revoluções nas estruturas da sociedade. “faça você mesmo”, através da criação
do movimento pelos direitos civis”. de selos independentes e divulgação de
Sua qualidade incontestável a transfor- Músicas de protesto fanzines (da junção dos termos em
mou numa das canções mais importan- inglês fan e magazine – revista do fã,
tes do século XX. no Brasil numa tradução livre).
No Brasil, as músicas de protesto As letras das músicas dessas ban-
Rock, Woodstock e ganharam força a partir da década de das refletiam a insatisfação com o ce-
1967, em plena ditadura militar, graças nário político e social da época e trata-
contracultura ao Ato Institucional nº 5 e o recrudes- vam de temas diversos, como a Guerra
Surgido na metade da década de cimento da censura na imprensa e meio Civil Espanhola, a ameaça nuclear, a
1950, o Rock and Roll foi um gênero artístico, imposta durante o governo do Família Real Britânica, as grandes
que causou controvérsias desde a sua Marechal Artur da Costa e Silva. Se- gravadoras, entre outros, geralmente de
origem. Numa época em que existiam gundo PINHEIRO (2010) forma crua e impiedosa.
grandes tensões raciais nos Estados “A censura virou uma repressão Se por um lado, as bandas punks
Unidos, incluindo políticas a favor da comum e a música um dos elementos causaram revoltas à imprensa, ao go-
segregação racial, o Rock and Roll mais temidos e censurados pelo regi- verno, aos empresários e a Família
ousou em misturar gêneros musicais me. De fato, em pouco tempo, musicas Real, por outro, passaram a ser admira-
populares do público negro (Jazz, Blu- como “Pra não dizer que não falei das dos pela população insatisfeita da épo-
es, Rhythm and Blues) e do público flores” de Geraldo Vandré, cantadas ca, mesmo com toda a imagem negati-
majoritariamente branco (Pop, por centenas de manifestantes nas ruas va e as polêmicas que circulavam o
Country, Bluegrass), se tornando extre- levaram à conclusão de que a música, gênero.
mamente popular, principalmente entre enquanto instrumento político, tinha a Consequentemente – e ironicamen-
o público jovem. Apesar de socialmen- capacidade de encorajar os indivíduos te – a estética Punk foi, posteriormen-
te impactante em seu contexto geral, as a se manifestar e reivindicar seus di- te, absorvida pelo sistema a qual tanto
letras contidas nas primeiras canções reitos. Geraldo Vandré foi só um dos pregaram fuga. Por outro lado, o movi-
de Rock and Roll eram simples e ingê- diversos artistas que se exprimiram mento Punk é influente até hoje no que
nuas, cenário que mudaria na década durante a ditadura e apesar da censu- diz respeito à produção de música in-
seguinte. ra.” dependente.
Na década de 1960, o Rock and A letra de “Apesar de você”, de
Roll, conhecido a partir de então so- Chico Buarque, é uma das mais lem-
mente como Rock, adquire fama inter- bradas, entre tantas do período, que
nacional (em especial na Inglaterra), atacava o autoritarismo repressivo do
alia-se aos ideais de contracultura e do estado. Para burlar a censura da época,
movimento Hippie e encontra enorme Chico teve que declarar ao DOPS
força como instrumento de protesto de (Departamento de Ordem Política e
minorias desacreditadas dos ideais Social, responsável pela censura) que a
liberais e de progresso defendidos pela música era sobre “uma mulher muito
sociedade ocidental. O movimento de mandona”.
contracultura surgiu em meio a um Além de Chico Buarque, muitos
período turbulento nos Estados Unidos, outros artistas do Rock e da Música
marcado principalmente pela Guerra Popular Brasileira da época, tais como
do Vietnã e pela segregação racial e Raul Seixas, Elis Regina, Geraldo
social. O Rock por sua vez, alcançava a Vandré e Caetano Veloso contestaram
maturidade, politicamente e ideologi- a ditadura militar brasileira através de
camente falando, catalisando os ideais suas letras.
políticos e sociais em suas músicas e
ganhando mais força graças à chamada Inglaterra e o
‘invasão britânica’ liderada pelos Bea-
tles e pelos Rolling Stones. movimento Punk
O auge da relação entre o movi- Do ponto de vista econômico e
mento de contracultura e o Rock foi o Do alto à esquerda, em sentido horário: Bob
social no ocidente, a década de 1970 Marley, Run DMC e Sex Pistols.
festival de artes e música de Wo- foi uma década de desilusão. A crise Representantes internacionais do Reggae, do
odstock, ocorrido no verão de 1969, no petróleo gerou misérias e desempre- Rap e do Punk, respectivamente.
nos Estados Unidos. Para RIVELLO go e a Guerra Fria causava uma sensa- Fonte das imagens: Divulgação
(Mariuzzo, 2009) ção de tensão e desconforto causado
“O festival é a base de um processo por um possível ataque nuclear entre a
sociocultural que se desenrola por União Soviética e os Estados Unidos. O Rock de protesto
anos nessa sociedade de maneira con- O movimento hippie e os ideais revolu-
flituosa e se materializa ou tem seu cionários foram abandonados na déca-
nos anos 80 e 90
desfecho metaforicamente na presença da anterior com a esperança de um As décadas seguintes ao Punk não
de um público ávido por mudanças mundo melhor. trouxeram grandes reviravoltas às mú-
estruturais. O rock'n roll adquire um É nesse cenário que surge na Ingla- sicas de protesto. Ainda assim, grandes
grau de legitimidade que acaba por terra o movimento Punk. Bandas como bandas da época se mostraram engaja-
catalisar os ideais da contracultura, The Damned, Sex Pistols, The Clash, das em causas humanitárias e apresen-
por meio de uma mensagem musical Buzzcocks, entre outras, possuíam pou- tavam seus ideais através de suas músi-
engajada e contestatória" ca a nenhuma técnica, criticavam o cas. Os irlandeses do U2 tornaram-se
Muito mais do que um festival bem sistema e eram detestados pela mídia. notáveis graças à canção “Sunday,
-sucedido, o Woodstock pode ser consi- Sendo boicotadas pela imprensa em Bloody Sunday”, que retratava a indig-

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COMPORTAMENTO - CULTURA
nação do grupo em relação ao conflito ção da cultura do mangue brasileiro sar do tempo, o Rap foi se desenvol-
de Derry, ocorrido na Irlanda do Norte através da música, o Mangue Beat vendo, dentro e fora do movimento
em 1979, onde dezenas de pessoas assimilava elementos culturais norte- Hip-Hop e passou, da mesma forma
foram massacradas graças à intolerân- americanos, como o Hip-hop e o que o Rock, a incluir críticas sociais em
cia religiosa entre católicos e protes- Hardcore, às raízes populares nordes- suas letras, cujos temas mais comuns
tantes da região. tinas. Autodeclarados “caranguejos giram em torno da desigualdade social
Os australianos do Midnight Oil com cérebro”, bandas como Chico e o combate ao racismo.
também se tornaram conhecidos graças Science & Nação Zumbi e Mundo No Brasil, o Rap ganhou populari-
ao ativismo político de seus integran- Livre S/A conseguiram reconhecimen- dade na década de 1990, graças aos
tes. Suas músicas são carregadas de to internacional, apesar de terem per- Racionais MC’s, Faces da Morte e
conteúdos sociais e ambientais, tratan- manecidos desconhecidos em boa par- outros grupos, com letras de forte teor
do de temas como o aquecimento glo- te do Brasil. político, onde discutiam sobre o crime,
bal, - muitos anos antes de o tema en- a pobreza, o preconceito racial e social,
trar em voga na política - como na can- Rap e Hip-Hop entre outros.
ção “Beds Are Burning”, ou as injusti-
O Hip-Hop é um movimento cultu- Conclusão
ças cometidas pelo povo australiano
contra os aborígenes, como na canção ral que surgiu em meio às comunida- As canções de protesto são essenci-
des latino e afro americanas em Nova ais para se entender o tempo e o lugar
“The Dead Heart”, entre tantos outros.
Da Jamaica veio o Reggae, um dos Iorque na década de 1970. A cultura em que foram compostas ou se torna-
do Hip-Hop engloba o Grafite, o ram populares. Tais músicas são como
gêneros musicais mais populares e
Break (estilo de dança) o DJ e o Rap. um ‘retrato’ de determinado pensamen-
influentes até os dias de hoje. O Reg-
gae surgiu na década de 1960 e se po- Com influências da música jamai- to coletivo no período, e podem servir
cana, o Rap (anagrama para Rhythm como um interessante, talvez essencial,
pularizou pelo mundo no final da déca-
da de 1970 e início da década de 1980. and poetry – Ritmo e poesia, em in- complemento para o entendimento da
glês) é um estilo musical baseado na evolução da sociedade através do
O gênero, que possuía em seus repre-
sentantes artistas como Bob Marley, improvisação poética acompanhado tempo.
Peter Tosh, Jimi Cliff entre outros, por uma batida acelerada. Com o pas-
continha forte influência do movimen-
to rastafári em suas letras e apresentava
o modo de vida nos países subdesen-
volvidos, envolvendo questões sobre
desigualdade, preconceito, fome e ou-
tros problemas sociais.
No Brasil da década de 1980, o
Rock foi um dos maiores instrumentos
de protesto utilizado pelos jovens de
então. Vinda de Brasília, a Legião Ur-
bana foi uma das maiores bandas do
período a cantar canções com fortes
críticas sociais, como em “Que País É
Esse?” e “Geração Coca-cola”. Tam-
bém de Brasília, a Plebe Rude lançava,
em 1985, o emblemático álbum “O
Concreto Já Rachou”, onde uma de
suas canções, “Até Quando Esperar”,
criticava a má distribuição de renda no
Brasil, presente até os dias de hoje.
No ano seguinte, os paulistas dos
A partir do canto superior esquerdo, no sentido horário: Racionais MC’s, Chico Buarque e Legião
Titãs lançavam o álbum “Cabeça Di-
Urbana. Representantes nacionais das músicas de protesto, cada qual em sua realidade.
nossauro”, em que criticavam várias Fonte das imagens: Divulgação
esferas da sociedade tais como a famí-
lia, a polícia, a igreja, entre outros.
Primeiramente como integrante do Referências Bibliográficas
Barão Vermelho e depois em carreira
solo, Cazuza também criticou o país de HOBSBAWM, Eric. História Social do Jazz. Trad. Angela Noronha. Rio de Janeiro:
forma ácida em canções como Paz e Terra: 1990.
“Brasil”, “Burguesia” e “O Tempo
Não Para”.
NEY, Thiago. Billie Holiday e a melhor música de protesto do mundo.
O Punk também teve grande rele-
vância para o cenário brasileiro. Ban- Disponível em: http://colunistas.ig.com.br/playlist/2012/08/30/billie-holiday-e-a-melhor-
das como Cólera, Ratos de Porão, Ino- musica-de-protesto-do-mundo/, acessado em 07/05/2013.
centes, Olho Seco entre tantas outras
encontraram forças nas periferias e PINHEIRO, Stefan. A Música de Protesto Durante a Ditadura Brasileira –
seguiram as ideologias de seus seme- Aperitivo Para uma Reflexão. Disponível em: http://www.journalmural.com/2010/02/a-
lhantes ingleses, com fortes letras de musica-de-protesto-durante-a-ditadura-brasileira/, acessado em 09/05/2013.
indignação e contestação diante do
governo e da sociedade da época. RIVELLO, Emiliano. Woodstock: 40 anos que marcou a música e as gerações:
Na década de 1990, surgiu no Bra- depoiment. Ciência e Cultura. Vol.61 nº 4. São Paulo. 2009.
sil o movimento Mangue Beat, encabe- Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-
çado pela banda de Chico Science, a 67252009000400021, acessado em 10/05/2013.
Nação Zumbi. Uma espécie de mani-
festo cultural que buscava a valoriza- Entrevista concedida a Patrícia Mariuzzo

Pág.: 20  ‐  GEO HOMUS ‐ Ano 1 ‐ n° 1 
 
 
COMPORTAMENTO - CULTURA
O PODER DA FLOR
Como os movimentos de contracultura participaram de um passado de repressão.

Por Thainara de Souza Lima

ponto era a comunicação direta com os


trabalhadores, no intuito de despertar
um espírito questionador nas forças
produtivas. Para isso, era fundamental
que a cultura fosse levada até eles.
.
Um dos meios para os movimentos se
conectarem ao povo foi a adoção do
Teatro Arena, o qual teve extrema im-
portância na empreitada de comunica-
ção com as massas, e que, posterior-
mente, ficou conhecido como “teatro
revolucionário”. Além disso, o CPC
(Centro Popular de Cultura), fundado
em 1961 no Rio de Janeiro, foi outro
importante aparelho, sendo moldado
por pensamentos de intelectuais de
esquerda que ressaltavam a necessida-
de de superação em relação às fortes
influências econômicas e culturais de
outros países; deste modo era necessá-
Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,ERT5446-15223,00.html

rio uma busca por nossas raízes e, con-


sequentemente, nossa cultura seria
construída. .
No decorrer dessa construção ocorre-
ram alguns embates entre intelectuais
da época, onde uns se contrapunham
ao formato de arte simplificado para
melhor compreensão do povo, alegan-
do que dessa maneira a arte acabaria
sendo banalizada. Por outro lado, ou-
tros defendiam que quanto mais próxi-
ma a linguagem artística estivesse ao
entendimento do povo, maior seria o
poder revolucionário. Para isto, era
necessário que os palcos fossem de
contemplação massiva: escolas, pra-
ças, ruas e chãos de fábricas. Já que
em determinados ambientes a mensa-
gem era disseminada, porém, para um
público restrito e mais privilegiado
socialmente. .
O CPC, norteado no romantismo revo-
lucionário, entendia que era necessário
fazer um resgate da identidade do ho-

a década de 60 efervesceram
no Brasil os movimentos de contracul-
N cinema eram as armas brancas dessa
geração que estava munida de ideologi-
as de amor ao próximo e respeito à
mem simples, pois desse modo, me-
lhor seria o entendimento da nossa
realidade. Igualmente, era buscar com-
tura, que já vinham tomando notorie- natureza. Os estudantes foram os prota- preender o decorrer de nossa história,
dade em outros lugares do mundo, gonistas desse trecho da nossa história. para que assim enxergássemos melhor
principalmente nos Estados Unidos No Brasil, boa parte dos estudantes a nossa identidade. Além disso, era
com o advento do movimento beat. militantes do movimento estudantil, era vital conscientizar a população com
Aqui, o espírito e a essência não diferi- vinculada ao PCB (Partido Comunista arte e cultura sobre as explorações
am dos demais locais: uma juventude Brasileiro) que tinha como proposta sofridas e, despertar as classes que
inquieta com questões políticas e cultu- um resgate do nacionalismo em busca eram atingidas pelas práticas explora-
rais; ávidas na busca de uma sociedade de reforçar a cultura brasileira, se doras capitalistas: uma revolução a
mais igualitária. A música, literatura e opondo à cultura imperialista. Outro caminho da evolução.

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COMPORTAMENTO - CULTURA O poder da flor - Movimentos de contracultura
Embora as propostas e intenções do então, o intelectual que quisesse lutar legado musical, e, posteriormente, com
CPC fosse disseminar cultura para o contra a ditadura e fomentar uma cultu- o surgimento do AI-5, foram exilados e
povo e lutar contra as práticas ditatori- ra nacionalista, teria que militar em tiveram suas canções censuradas. Esses
ais, é importante lembrar que apesar de algum partido político. músicos influenciaram outros artistas e
não ser uma entidade da UNE, grande A medida que os artistas e intelec- grupos musicais de sucesso, como Os
parte que compunha o CPC era forma- tuais integravam organizações políti- Mutantes, Secos e Molhados e Elis
da pela classe estudantil da época e, cas, a arte revolucionária se propagava Regina - e continuam influenciando até
sendo assim, constituindo o CPC, em entre os estudantes e se mantinha longe os dias atuais.
sua maioria, pela classe pequeno- do povo. Isso ocorreu, principalmente, Simultaneamente, os estudantes
burguesa. devido ao fato do PCB ter sido extin- voltaram a se manifestar, e toda a in-
Então, como essas pessoas perten- guido em 1964, junto ao incêndio da quietação do fim da década de 50, iní-
centes às camadas intermediárias da sede da UNE. Em 1968, o ME cio da década de 60, reacendeu na pos-
sociedade, levariam essa mensagem ao (Movimento Estudantil) toma as fren- tura estudantil. Porém, como dito há
povo? tes da luta antiditatorial, estreitando pouco, em 1968, um segundo golpe, o
Neste ponto se instalou uma ques- ainda mais o contato com artistas e AI-5, atacou a juventude que se contra-
tão contraditória, pois o CPC não con- intelectuais da época, pois já não se punha ao sistema vigente da época.
siderava a cultura popular como cultu- tratava mais de fazer arte política, ha- Apenas as organizações armadas de
ra revolucionária, como por exemplo, vendo espaço apenas para a luta. caráter clandestino se mantiveram na
o folclore; de modo que a comunicação luta contra a ditadura. E essas, não
que tinha como intenção atingir o povo O que era poesia virou consumo... resistiram durante muito tempo.
foi sendo elitizada, tornando-se cada É inegável a qualidade musical que .
vez mais restrita à camada intelectuali- embalou a juventude da época, o rock e Na década de 70 o Brasil sofreu forte
zada. O abismo social já existente aca- a Black music foram os principais esti- desarticulação política e fortalecimento
bou sendo selado, e o movimento que los musicais, o segundo em consequên- da indústria cultural. O “milagre eco-
foi projetado para dialogar com o tra- cia da ascensão do movimento negro. nômico” da década de 70 e a intensa
balhador, permeou na contramão. O Na Inglaterra, se destacavam os influência externa contribuíram para o
próprio povo passou a questionar se Beatles e Rolling Stones, pois se dife- aumento do consumo de bens culturais.
essas pessoas de realidades tão distin- renciavam pelo estilo mais crítico, com O governo militar valorizava a educa-
tas da dele, poderiam, de fato, compre- uma rebeldia que se distinguia da pos- ção, pois esse era um veículo importan-
ender sua vivência. A distância entre tura transviada do jovem norte- te para a propagação e fortalecimento
artista e plateia foi firmada, evidenci- americano. Outros artistas como The de suas ideologias. Nesse panorama,
ando o desajuste do CPC nas suas prá- Doors, Pink Floyd, Janis Joplin, Jimi foram criadas iniciativas de incentivo à
ticas de aproximação com o proletaria- Hendrix, se destacavam com o “acid cultura, além de um intenso apelo da
do. O ponto é que o CPC era uma for- rock”, músicas falando sobre alucinó- inserção de culturas externas, no intui-
ma da população pequeno-burguesa genos e críticas sociais. O famoso festi- to de criar uma aparência semelhante
participar do processo revolucionário val Woodstock, realizado em 1969 nos aos países capitalistas desenvolvidos,
como representante do povo. Contudo, Estados Unidos, foi um marco, tornan- pois era de interesse do governo brasi-
com o decorrer do tempo, se evidenci- do o rock como a forma de expressão leiro criar essa atmosfera padronizada
ou aos integrantes do CPC que não dessa juventude rebelde. aos países evoluídos, para que essas
seria feito revolução através da arte. No Brasil, a música inglesa e norte- transições fossem atribuídas ao
Schwarz (2001) aponta que os mo- americana teve forte influência. Além “milagre econômico”.
vimentos culturais pós-golpe militar disso, artistas locais foram ganhando Com isso, referências estrangeiras
sofreram hostilizações por parte da espaço: cantores como Raul Seixas, se tornaram compulsoriamente presen-
direita, e uma imposição revolucioná- Caetano Veloso, Chico Buarque, Nara tes no cotidiano brasileiro. O estilo
ria por parte da esquerda. A partir de Leão, Gilberto Gil, fizeram um grande naturalmente largado dos hippies foi

"[...] Queira-te eu tanto,


e de tal modo em suma,
que não exista
força humana alguma
que esta paixão embriagadora
dome.
E que eu por ti,
se torturado for,
possa feliz,
indiferente à dor,
morrer sorrindo
a murmurar teu nome:
‘Liberdade!’"

Fonte: http://dceuniville.blogspot.com.br/2013/04/liberdade-de-organizacao-contra.html MARIGHELA, Carlos, 1939.

Pág.: 22  ‐  GEO HOMUS ‐ Ano 1 ‐ n° 1 
 
 
Por Thainara de Souza Lima COMPORTAMENTO - CULTURA
transportado para a indústria de grifes e calaram a sociedade. luta armada.
que reproduziam o despojado de ma- Posterior a isso, o punk e o reggae À medida que o movimento ia se
neira cuidadosamente requintada. Em- surgiram para cobrir essa lacuna provo- reconstruindo passava a ser, novamen-
bora os estudantes tivessem mantido cada pelo esvaziamento musical; o te, alvo de repressões.
sua criticidade cultural, a venda predo- reggae levantava questões sobre a vida Diferentemente da década de 60,
minante massiva era de artistas e fil- no terceiro mundo, como fome e explo- onde o principal objetivo era conscien-
mes desengajados, onde o governo ração e o punk se rebelava contra a tizar o povo, o movimento de 70/80
visava apenas o quantitativo, deixando onda de desemprego e terrorismo na estava voltado para o próprio estudan-
de lado a qualidade. Europa. Essa era a reação ao momento te, alertando-o para o que se passava
A indústria fonográfica lançava insatisfatório que surgia no fim dos no ambiente universitário. A arte dei-
uma leva de novos artistas com postura anos 70, após a Segunda Guerra Mun- xou de ser um instrumento para a revo-
política diferente da anterior - artistas dial, onde uma imensa crise ascendeu lução, e passou a se tornar uma arma
que produziam uma música de melodia quebrando a estabilidade dos países contra o regime.
leve e letras sem profundidade. A in- capitalistas. O movimento dos anos 70 teve seu
dústria cinematográfica também apre- Em paralelo, no Brasil, havia uma caráter mais rebelde do que revolucio-
sentou mudanças, um intenso número grande euforia pela vitória do Brasil na nário. Contudo, os movimentos ocorri-
de filmes para fins de entretenimento e Copa, e, sobretudo, uma população dos nessas décadas pela classe estudan-
sem relevância intelectual foi produzi- alienada pela TV - poder de consumo e til, ainda que algumas falhas apresenta-
do. moda. . das, estavam dispostos à luta na cons-
O “milagre brasileiro” construiu A esquerda estava abalada após uma trução de um país mais justo.
uma indústria cultural com finalidade sequência de ataques, e o que restou da
comercial e a população consumidora militância estudantil da década, voltou Acesso em: 18 jun. 2013.
SANTOS, Jordana de Souza, 2009.
desses produtos se tornou reflexo de a se organizar de modo mais intimista,
Revista online do Grupo Pesquisa em Cinema e
uma sociedade deslumbrada e nada se articulando dentro da universidade, Literatura. Disponível em:
questionadora; os aumentos do consu- unindo os estudantes, voltando-os ao <http://www.marilia.unesp.br/Home/
mo de eletrodomésticos, automóveis e cotidiano universitário, além de repen- RevistasEletronicas/BaleianaRede/Edicao
roupas de grife, maquiaram a realidade sar a postura do ME após a derrota da 06/6c_o_papel_dos_movimentos_culturais.pdf>

  Pág.: 23
 
COMPORTAMENTO - CULTURA

Culto à carga
Como culturas primitivas reagem ao contato com o mundo ocidental
Por Olivio Roberto Martins Gonçalves

Nas remotas ilhas da Melanésia maravilhas que está tendo contato. surge do contato com povos mais
encontramos algumas das mais E dessas explicações – esse é o avançados.
curiosas formas de culto conheci- ponto importante – buscam manei- Focarei nos dois casos mais em-
das. Chamamos todas de Culto à ras de trazê-los novamente e com blemáticos (ambos das ilhas Mela-
carga, devido às curiosas caracte- isso sua preciosa carga. Nada mais nésias): o culto a John Frum e Mo-
rísticas e origens destes ritos. Des- é que um movimento religioso que vimento Príncipe Philip.
ses cultos, será focado nos aspectos
dos dois mais conhecidos: do con-
tato com povos tecnologicamente
avançados, os nativos – ainda na
idade da pedra – associando as su-
Culto a John Frum
as lendas locais, recriaram suas Na ilha de Tanna, parte da repú- retorna à selva, enquanto os anciões
próprias crenças, como forma de blica de Vanuatu, para os integran- incentivam o resto dos aldeões a
trazer a estimada carga – rádios, tes de uma aldeia, o dia 15 de feve- dançarem. O exército retorna triun-
medicamentos e até Coca-Cola – e reiro é muito especial: os anciãos fante com mais enfeites em seus
na espectativa do retorno daquele aparecem com roupas do exército peitos, para a alegria de todos que
que libertará seu povo: John Frum. dos EUA, ornamentados com me- assistem, enquanto aguardam pela
Em outro ponto da mesma ilha o dalhas a (por incrível que pareça) vinda de John Frum. Não perdem a
culto ao príncipe Philip toma for- logotipos do Greenpeace. A ban- esperança em seus Messias, o sal-
ma, com os nativos associando o deira norte-americana é hasteada vador que trará a tão apreciada car-
mesmo a uma divindade. A seguir, lentamente e saudadas fielmente ga e fará seu povo retornar aos ve-
a partir das considerações acima, como numa cerimônia oficial. Na lhos costumes.
uma breve correlação com as cren- sequência aparecem os “soldados”: As origens do culto se perderam
ças modernas como forma de com- cerca de 40 homens de calças jeans no tempo – algumas versões afir-
preender as características tão es- e sem camisa, com USA pintado mam que o culto começou na déca-
pecíficas deste culto. em seus peitos e carregando um da de 1940, enquanto os próprios
Vamos imaginar que povos com bastão de bambu – seu “rifle” – e nativos afirmam que a crença é
elevado nível tecnológico tenham marcham em direção a um segundo mais antiga, mas tinham mantido
contato com povos que mal saíram grupo de bandeiras a ser hasteado: em segredo das autoridades. Sabe-
da idade da pedra. Qual o impacto a insígnia dos fuzileiros dos EUA e mos é que durante a II Guerra
que isso terá sobre povos tão pri- a bandeira do estado da Geórgia. Mundial, vários aviões pousaram
mitivos? Podemos supor tantas Os anciões controlam cada etapa da nas ilhas: em um primeiro momen-
possibilidades e percebemos que marcha, através de gritos e apitos. to, japoneses e no decorrer da guer-
todas são plenamente válidas. Mas Algum tempo depois o “exército” ra, norte-americanos, que traziam
tenho certeza que uma possibilida-
de você, caro leitor, não imaginou,
mas que tem surpreendido antropó-
logos, sociólogos, filósofos ao lon-
go do século XX: o Culto à Carga.
O que seria esse culto à carga, sua
origem e conseqüências é que se-
rão tratados nas próximas páginas.
Arthur C. Clarke disse outrora
que “Toda tecnologia suficiente-
mente avançada é indistinguível da
mágica” e durante o século XX
isso ocorreu várias vezes com re-
sultados extremamente interessan-
tes.
O que é entendido como Culto à
Carga, é toda situação em que o
contato entre povos com um enor-
me abismo tecnológico entre si,
causa um forte impacto no povo
menos desenvolvido. Tal povo as-
socia às suas crenças aquilo que “Soldados” em marcha com seus “rifles” de bambu.
vê, buscando explicações para as Fonte: <http://www.smithsonianmag.com>.
Acesso em 03 jun. 2013.

Pág.: 24  ‐  GEO HOMUS ‐ Ano 1 ‐ n° 1 
 
 
COMPORTAMENTO - CULTURA
carga consigo (armas, comida, re- figura do príncipe foi adicionada teu nenhuma de suas famosas ga-
médios). Ao mesmo tempo, en- depois. Existe uma lenda entre os fes...).
quanto aguardavam ordens para nativos de uma divindade (o filho Os adoradores são nativos da
prosseguir, provisões eram jogadas da montanha) de pele pálida que tribo Yaohnanen, da mesma ilha de
nas ilhas a partir de aviões ou mes- casaria com uma mulher muito po- Tanna, que desde então ostentam
mo por embarcações e foi dessa derosa. Quando o príncipe e da rai- com muito orgulho algumas fotos
carga que os soldados presentea- nha Elizabeth II visitaram a ilha na do príncipe: em uma delas uma
vam os nativos (com rádios, medi- década de 1970, causou um forte fotografia oficial junto de alguns
camentos e até mesmo Coca-Cola). impacto nos habitantes. Após seu integrantes do parlamento, a pri-
Outro detalhe importante: mui- retorno a Inglaterra, um dos comis- meira foto enviada pelo príncipe;
tos dos soldados eram negros, o sários residente na ilha, enviou uma em outra foto o príncipe – junto
que possivelmente aumentou ainda solicitação ao príncipe que enviasse com alguns diplomatas – segura um
mais a identificação dos nativos; uma fotografia; o príncipe pronta- bastão da tribo usado na caça (fig. 2
imaginavam que eles eram descen- mente respondeu, enviando a ima- acima), e alguns retratos ganhos
dentes da tribo que foram viver gem. Como forma de agradecimen- posteriormente no encontro de
(forçadamente) em outro país ou to, os nativos lhe enviaram uma 2007.
faziam parte do exército pessoal de arma de caça (chamada de nal-nal);
John Frum. o príncipe retribuiu com uma foto
Dessa forma, podemos supor em que segurava o instrumento INGENUIDADE OU
que o culto a John Frum iniciou-se (sorridente por sinal). Isso causou CRIATIVIDADE?
antes desse contato (que no início uma comoção geral. A partir de
talvez nem tivesse esse nome), nu- então o príncipe “assumiu” o posto
ma forma de se rebelar contra os de “filho dos deuses” e a partir de Obviamente que esses não são
ensinamentos dos missionários – então, adorado com tal (três déca- os únicos casos de culto à carga;
que forçaram os nativos a seguirem das depois dos nativos tiveram a aliás, a Melanésia é pródiga em
o cristianismo e ao
mesmo tempo abando-
nar suas tradições tri-
bais – e da dominação
estrangeira, mas que
adquiriu feições messi-
ânicas quando da pre-
sença dos soldados nas
ilhas que se assemelha-
vam com os nativos.
Mas como explicar o
culto ao príncipe Philip,
Duque de Edimburgo,
marido da rainha Eliza-
beth II?

Movimento
príncipe
Philip

Na mesma ilha do
curioso culto a John
Frum encontramos
outro ainda mais pito-
resco: o culto ao prín-
cipe Philip, marido da
rainha Elizabeth II.
Mas quem imaginaria Fotografias do príncipe Philip de posse da tribo
que um príncipe rude, Fonte: < http://en.wikipedia.org/wiki/Prince_Philip_Movement>.
não afeito a bons mo-
dos e dado a cometer Acesso em 03 jun. 2013.
gafes por conta disso,
seria considerado um deus em um chance de visitar o príncipe em cultos desses tipos, existindo algu-
lugar tão remoto? 2007, por conta do reality show mas dezenas deles espalhados pelas
Assim como o culto a John “Meet the natives” (não televisio- ilhas, sem contar que muitos desa-
Frum sua origem precede o objeto nado), o que permitiu trocarem pre- pareceram ao longo do tempo. Ape-
de adoração; possivelmente tenha sentes entre si. Fico aliviado que o nas como curiosidade, temos o cul-
começado entre 1950 e 1960, e a príncipe aparentemente não come- to a Tom Navy; na Nova Guiné, o

  Pág.: 25
  Culto a carga - Por Olivio Roberto Martins Gonçalves
COMPORTAMENTO - CULTURA
culto à carga do povo Yali, o movi- cuidado ao ver nesses cultos à car- mil anos... E não perderam a espe-
mento Paliau, a Associação Peli, o ga ingenuidade e ignorância, pois rança...”
Pomio Kivung, entre tantos outros. vemos ecos desse pensamento má- A profundidade dessa frase eu
O leitor, cético, poderia pergun- gico em nosso mundo moderno. deixo para o leitor refletir.
tar: como poderiam existir em ple- Com nossos veículos domina-
no século XXI? Claro que existem mos os mares, a terra, o ar e já via-
muitos povos isolados, que nem jamos para além da Terra; nossa
mesmo foram catalogados. Mas medicina consegue salvar pessoas a REFERÊNCIAS
esses não importam, pois nem sabe- beira da morte, vítimas de doenças ADAMS, G. Strange island: Pacific
mos se existem. Temos plena cons- ou graves acidentes; somos capazes tribesmen come to study Britain, Londres,
ciência de que esses nativos não de destruir o planeta inteiro dezenas set. 2007. Seção This Britain. Disponível
estão isolados; nessas ilhas existem vezes com armas de poder inimagi- em:
equipamentos tecnologicamente <http://www.independent.co.uk/news/uk/
nável para a maioria das pessoas. A
this-britain/strange-island-pacific-
modernos convivendo com esses cada dia nossa compreensão do
tribesmen-come-to-study-britain-
mitos primitivos: televisão, rádio, macro e microcosmo torna-se mai-
401461.html>.
(possivelmente nos grandes centros or, o que terá ao longo do tempo Acesso em : 02 jun. 2013.
urbanos) internet, sem contar o flu- profundo impacto filosófico, moral
xo de turistas que poderiam impac- e religioso. Mas ainda assim entre AUSTRALIAN N. U. The dead who gov-
tar na cultura. Até onde são genuí- nós não vemos qualquer enfraque- ern, Canberra, jan. 2006. Seção ANU
nos, ou apenas uma forma de renda cimento da religião, muito pelo Reporter. Disponível em: <http://
que os nativos souberam aproveitar contrário. Para a maioria das pesso- info.anu.edu.au/mac/
muito bem? as – lembre-se do estado deplorável Newsletters_and_Journals/
O que podemos afirmar é que os de nossa educação – a ciência é ANU_Reporter/097PP_2006/
cultos acima mencionados possuem vista como uma técnica _01PP_Summer/_kivung.asp>.
uma longa história, foram plena- (automóveis, computadores, medi- Acesso em: 02 jun. 2013.
mente analisados por cientistas dos cina, por exemplo, são produtos
mais variados lugares que estive- dessa técnica) e separam religiosa- DAWKINS, R. Deus, um delírio. São Pau-
ram lá nas últimas décadas. Portan- mente o reino da ciência do reino lo: Companhia das Letras, 2007.
to podemos afirmar que são genuí- da religião, cabendo a esta última DUGGAN, P. Prince Philip Has a Mouth-
nos. Mas ainda resta a pergunta as explicações metafísicas e exis- ful Of a Title. And, Often, His Foot.
mais pertinente: como se mantém tenciais... Veja o pensamento mági- Washington, mai. 2007. Seção Arts &
em pleno século XXI? co convivendo com toda a ciência Living. Disponível em: <http://
Temos de levar em consideração produzida nos últimos séculos. www.washingtonpost.com/wp-dyn/
que essas tradições começaram no Não quero entrar no mérito da content/article/2007/05/05/
início do século XX, onde o inter- religião e da ciência. Não é o foco AR2007050500981_pf.html>.
câmbio tecnológico, cultural era Acesso em: 31 mai. 2013
desse artigo. Mas partindo das últi-
baixo. Tudo era novidade para es- mas considerações acima, percebe-
DUNNING, B. Cargo Cults, California,
ses povos: os equipamentos eletrô- remos ecos do culto à carga em
mar. 2010. Seção Skeptoid Episodes. Dis-
nicos, as roupas, os veículos, tudo nossa cultura – no caso na religião ponível em: <http://skeptoid.com/
aquilo jamais tinha sido visto antes, – e por isso não podemos ver como episodes/4199>.
e precisavam de uma explicação ingenuidade os cultos de povos tão Acesso em: 31 mar. 2013.
razoável. Não podemos esquecer primitivos. Assim como as religiões
que muitas dessas ilhas eram colô- ocidentais tentaram explicar o mun- JAY, M. The last cargo cult, Londres, abr.
nias de grandes potências ociden- do ao nosso redor, e convivem com 2002. Seção Places.
tais (como o Reino Unido e Fran- todo o avanço científico dos últi- Disponível em:
ça), que impuseram sua cultura (e, mos séculos, é plenamente possível <http://www.nthposition.com/
por conseguinte, sua religião) aos que povos que vivem em ilhas tão thelastcargo.php>.
nativos, e é natural que disso houve remotas, e que durante muito tem- Acesso em: 01 jun. 2013.
uma reação. po, estiveram na mão de grandes
Notem que mitos como John potências econômicas, busquem RAFFAELE, P. In John they trust, Wash-
Frum e o príncipe Philip tem como compreender, explicar o que o ington, fev. 2006.
característica em comum o tom mundo ocidental lhes oferece. Se Seção Peope & Places. Disponível em:
messiânico do discurso: os nativos essa tentativa foi falha, não pode- <http://www.smithsonianmag.com/people-
acreditam que esses personagens a mos dizer que as religiões ociden- places/john.html>.
materialização das suas lendas, que tais acertaram... Acesso em: 31 mar. 2013.
irá salvá-los da tirania dos coloni- Nada melhor do que a resposta
zadores e, portanto, dar uma vida de um dos nativos à indagação de SQUIRES, N. Is Prince Philip an island
nova. A todos eles são atribuídos um repórter: god?, Londres, jun. 2007.
habilidades mágicas, capacidades “John prometeu que traria a car- Seção News. Disponível em:
além do ser humano, pois são filhos <http://news.bbc.co.uk/2/hi/programmes/
ga há mais de 60 anos e nunca vol-
from_our_own_correspondent/6734469.st
dos deuses. Nada muito diferente tou... Então por que ainda acredi-
m>.
do que as religiões ocidentais pro- tam nele?”. Acesso em: 01 jun. 2013. 
metem, como todas as vertentes do O nativo rebate:
cristianismo e islamismo, por “Vocês cristãos tem esperado
exemplo. Portanto devemos tomar pelo seu salvador há mais de dois

Pág.: 26  ‐  GEO HOMUS ‐ Ano 1 ‐ n° 1 
 
 
Paisagem em Destaque Por Richard Vinicius Siqueira Ribeiro

Machu Picchu: A Misteriosa Cidade Inca


de blocos de pedras perfeitamente
encaixados, o que impede a passa-
gem da luz solar. As janelas das ca-
sas também são bloqueadas com pe-
dras de encaixe perfeito, causando o
mesmo efeito. A ausência das jane-
las nas casas comprova que o povo
inca não gostava dos raios solares, já
que uma vez em sua cultura isso in-
terferia na fertilidade das mulheres.
A posição topológica do sítio na
montanha permitia que os moradores
tivessem acesso a campos magnéti-
cos de alta intensidade, de origem
solar. Esse fato estimularia a produ-
ção de melatonina entre as virgens
do sol, o que por sua vez gera uma
fabricação maior dos hormônios da
fertilidade.
Obviamente notamos que as habi-

M achu Picchu fica localiza-


da entre as montanhas de Machu
trava.
Ainda há um mistério que os ar-
queólogos não conseguiram decifrar
lidades incas serviram de exemplo
para todo o império e isso interferiu
desde países vizinhos até os picos de
Picchu (o “velho pico”) e Huayna sobre os povos que habitaram Ma- Machu Picchu. Entende-se que Ma-
Picchu (o “novo pico”) no meio da chu Picchu. De acordo com o Dr. chu Picchu possa ter sido esse local
selva peruana. Foi descoberta no dia George Eaton, um osteólogo que perfeito para um santuário para as
24 de julho de 1911 pelo historiador trabalhou com Hiram Bingham, a virgens do sol, mas a população do
Hiram Bingham em uma expedição. maioria dos esqueletos de pessoas império também se beneficiou pela
Quando Bingham achou a cidade sepultadas no sítio tinha entre 31 e divulgação do conhecimento e técni-
sagrada mal podia acreditar no que 35 anos de idade. Dos esqueletos cas usadas em construções.
via. Quem poderia ter construído descobertos, 102 eram de mulheres
uma cidade feita de pedra tão com- adultas, 7 de mulheres jovens, 22 de
plexa em um local tão inacessível, a homens adultos e 4 de crianças do
2.500 metros de altitude na cordi- sexo masculino. Esses números dão
lheira de Vilcabamba, 700 metros a entender que o santuário no topo
acima do rio Urubamba. da montanha deve ter sido usado
O sítio arqueológico que escapou para estudos astronômicos e para
da expan- alocar as
são espa- “virgens
nhola foi do sol”. Os
construído incas ti-
durante o nham um Porém, ainda deixamos uma
reinado de conheci- questão no ar: de onde vem todo es-
Inca Pa- mento su- se conhecimento da superciência do
chacuti, perior ao sol e das avançadas tecnologias que
por volta de hoje em permitiam cortar, liquefazer, amole-
de 1450. A dia, ao cer e suspender blocos de pedras?
engenharia qual incor- Isso são questões que não serão res-
inca era porava o pondidas, pois se trata de uma inteli-
riquíssima, amoleci- gência jamais traduzida em palavras.
pois os mento, a
trabalhos em pedras podem ser com- liquefação e o transporte das rochas,
parados a uma notável tecnologia além de um notável conhecimento REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
COTTEREL, Maurice. Os Segredos das Pirâ-
que permitia construção de poços e sobre a superciência do sol. Ainda mides Peruanas:
redes de irrigação para alimentar não há provas quando, como e por- A Tumba Perdida de Viracocha. Edição 1.
Machu Picchu. Os blocos de pedras quê a cidade foi desabitada por um Madras Editora, 2001. Pág. 79 a 81.
chegam a pesar 100 toneladas ou povo que também desapareceu. RUSSO, Marcelo. A história de Machu Pic-
mais e eram carregados por 3.000 A arquitetura de Machu Picchu chu. Disponível em:
http://www.revistaturismo.com.br/
degraus das 109 escadarias que le- segue o sistema avançado de tecno- dicasdeviagem/machupicchu.htm
vam ao pico onde a cidade se encon- logia dos incas, com paredes feitas

  Pág.: 27
 
ESPECIAL EDUCAÇÃO
    
Acessibilidade ao conhecimento
através das tecnologias
Por Ana Beatriz
A utilização de recursos tecnoló- tuitamente todo o conteúdo relaciona-

ec ia l gicos se disseminou extraordinaria- dos ao Ensino Médio.

Esp
mente nas últimas décadas. Internet,

o
computadores, celulares, e-mails,  “FGV  Ensino  Médio  é  um  fórum  para 

c aç ã mensagens instantâneas, entre outros troca  de  experiências  entre  os  profes‐

Ed u
recursos, invadem o cotidiano dos sores que pretende aproximar o saber 
adolescentes e a ascensão da tecno-
acadêmico  e  o  conhecimento  escolar. 
logia se torna primordial, já que a
ausência desses nos faz distanciar de A  produção  de  materiais  didá cos  e  a 
um mundo real. Além da importân- realização  de  seminários  são  formas 
cia para facilitar nossas vidas no de  atuação  do  programa,  que  tem  o 
cotidiano, que importância tais re- obje vo  de  aprimorar  a  qualidade  do 
cursos teriam auxiliar os jovens nos ensino  em  todo  o  País.  A  Fundação 
âmbitos educacionais? Getúlio  Vargas  busca  promover  a  me‐
Como já é muito discutido, prin-
O problema é... cipalmente na área acadêmica, a lhoria  na  formação  educacional  dos 
educação brasileira está passando jovens  e,  dessa  forma,  contribuir  para 
por um momento de diversas crises. diminuir as desigualdades sociais.”, diz 
O nosso país possui um dos piores a  Coordenadora,  Professora  Marieta 
índices de educação do mundo, isso de  Moraes  Ferreira.  No  site  você  en‐
se deve ao fato dos problemas peda- contra  simulados  on‐line,  abrangendo 
gógicos instaurados nas escolas da
toda a área de conhecimento necessá‐
rede brasileira implantados pelo go-
verno neoliberal. Assim, a formação rio para a preparação do ENEM. 
do aluno acaba não sendo suficiente  
para abranger toda a gama de conhe-
cimento necessário para, por exem- Para se cadastrar é fácil, basta aces-
plo, a preparação nos vestibulares. sar http://ensinomediodigital.fgv.br/
Desse modo, muitos jovens buscam default.aspx e criar um longin e a se-
através das tecnologias o comple- nha, é tudo gratuito. A Universidade
mento informacionais, que muitas Estadual Paulista, tem o programa
vezes as escolas deixam a desejar. Unesp Aberta, que disponibiliza recur-
Como cita o transcrito, [...] As sos de cursos de ensino a distância
tecnologias da informação, junto (http://www.unesp.br/unespaberta). O
com a habilidade para usá-las e Veduca, inspirado num modelo amreci-
adaptá-las, são os fatores críticos na de Open Course Ware, traz conteú-
para gerar e possibilitar acesso à do de faculdades do Brasil e do mundo
riqueza, poder e conhecimento no todo – Havard, Stanford, Cokumbi,
nosso tempo, podendo trazer benefí- Yale, entre outros. (http://
cios para que estejamos atentos a www.veduca.com.br/). Há também,
tudo. (MANUEL CASTELLS) milhares de vídeos-aulas de excelente
qualidade e de todas as áreas do conhe-
Felizmente há projetos de mentes cimento disponível no youtube. E pra
inovadoras, como o norte-americano quem tem vontade de aprender outros
Salman Khan, que propõe uma revo- idiomas, mas não tem condições finan-
lução na educação: a de ensinar to- ceiras para isso, há diversos sites dis-
dos gratuitamente e em qualquer poníveis na rede que oferecem o ensino
lugar, através de vídeo-aulas que são gratuitamente: Duolingo (http://
disponibilizadas na internet. Com duolingo.com/pt), Live Mocha (http://
aulas simples, através de imagens, livemocha.com/?lang=pt-br), Inglês
desenhos, rascunhos, as aulas do Curso (http://www.inglescurso.net.br/),
professor Khan fez grande sucesso, entre outros.
ensinando em sua maioria Ciências
Exatas. Para contribuir com a educa-
ção brasileira, a Fundação Lemman
com a parceria com outras institui-
Tecnologia em sala
ções, está tornando o site Khan Aca- de aula
demy acessível para os brasileiros, Por muito tempo se discutiu a utili-
traduzindo os seus vídeos em portu- zação ou não das Tecnologias de Infor-
guês. Aqui no Brasil algumas uni- mação e Comunicação (TIC) em sala
versidades brasileiras começam a de aula. Mas hoje a discussão já é ou-
oferecer esse modelo de ensino. Co- tra, a informática já se disseminou em
mo por exemplo, o FGV ENSINO todos os lugares, é impossível falar em
MÉDIO DIGITAL, que desenvolveu educação, estudos e pesquisas sem
um programa que disponibiliza gra- relacionar a internet. Porém, para que
Pág.: 28  ‐  GEO HOMUS ‐ Ano 1 ‐ n° 1 
 
 
ESPECIAL EDUCAÇÃO
haja uma boa integração dos computa- presente na maioria das casas dos bra-
dores na escola é necessário que os [...]  é  problema  agudo  de países  atra‐ sileiros. Mas como a Rádio USP FM
professores adquiram competências, sados,  mas  acomete  também  vastas  tem um acesso limitados as cidades de
trabalhando tanto técnico com o peda- camadas em países avançados, porque  São Paulo, o material foi disponibiliza-
gógico para que haja uma utilização do também, no site da BibVirt e distri-
muitos  adultos/idosos  não  se  pro‐ buído em CD ROOM, já que muitas
eficiente desses recursos em aula. Infe-
lizmente o Brasil ainda não conseguiu põem  mais  inserir‐se  na  sociedade  pessoas e instituições não tem acesso a
desenvolver metodologias para que os digital  com  autonomia.  Usam  produ‐ internet.
professores possam fazer uso dessa tos  digitais  como  consumidores  (da  Há também outras ferramentas faci-
ampla tecnologia de informação e co- nova mídia, por exemplo), mas não se  litadoras para os Deficientes Auditivos.
municação que podem ser úteis no dispõem  mais  a  desenvolver  habilida‐ Mas, para utilização dos mesmos, de-
ambiente educacional. A tecnologia vem ter celular com sistema operacio-
des  digitais  de  manejo  próprio.  Inte‐
deve ser vista não apenas como um nal android. O aplicativo intitulado de
acessório ou aparato marginal, mas ressa‐nos  aqui  a  discriminação  digital  ProfDeaf traduzem conteúdos em por-
como componente fundamental de contra  imensos  segmentos  sociais  tuguês para a linguagem dos sinais
formação e atualização de professores, pobres,  situação  em  geral  agravada  (libras). Sites, vídeos, textos e grava-
de forma que seja incluso no currículo pela má qualidade da escola pública.  ções são convertidos para a linguagem
escolar. Várias pesquisas relacionadas dos surdos e mudos, interpretados por
foram feitas e chego à conclusão que o um personagem em 3D. O aplicativo
país necessita de uma política que inte- Portanto, além da necessidade de está disponível gratuitamente em
gre as tecnologias em sala de aula. uma iniciativa para melhoria do siste- www.prodeaf.net.
Porém, somente essa consciência não ma educacional do país, é importante
basta, é preciso que os projetos ideali- também, iniciativas de políticas públi-
zados funcionem na prática. É por isso cas que visem o avanço da inclusão
professores das redes de escolas públi- tecnológica para todos os brasileiros.
cas sentem grandes dificuldades de Só assim estariam diminuindo as dis-
levar essa tecnologia até os alunos, na tancias sociais existentes e garantindo
maioria, os números de máquinas são o acesso democrático a todos, tornando
insuficientes em relação à demanda de mínima, de maneira geral, a exclusão REFERÊNCIAS
alunos, e também há uma falta de con- digital e social. Evidenciando que a
servação dos equipamentos. Outro pro- educação e os meios de comunicação Desafio aos professores: aliar tecnologia e
blema é que muitas escolas não tem podem causar tanto opressão quanto educação. 09/06/2010.
acesso à banda larga. Um levantamento liberdade. É certo afirmar que a tecno- Disponível em: http://veja.abril.com.br/
logia foi usada muito escassamente
feito por Roberta Bioi e Fabiana de noticia/educacao/desafio-aos-professores-
Felício (Apud PARAGUASSÚ, 2007), para a melhoria da educação do Brasil.
aliar-tecnologia-educacao
técnicas do Instituto Nacional de Estu- Desta forma, a inserção da informática
só terá sentido todos quando tiverem acesso em: 11/06/2013
dos e Pesquisas Educacionais do Mi-
nistério da Educação (Inep), mostra um acesso democrático ao acervo cul-
tural produzido pela humanidade. SILVA, Angela,Carrancho. Educação e
que escolas com computadores sem tecnologia: entre o discurso e a prática/
acesso a rede tendem a ter médias bai- Education and technology:
xas nas avaliações oficiais. O que me- Deficientes físicos between discourse and práxis/Educación y
lhora a qualidade da escola é o acesso Ao falarmos da inclusão digital não tecnología:
ao mundo. Quanto mais se utilizar a podemos nos esquecer dos deficientes
tecnologia como ferramenta pedagógi- entre el discurso y la práctica. Ensaio:
físicos, a inclusão destes no mundo aval.pol.públ.Educ. vol.19 no.72 Rio de
ca mais haverá interação com a enorme virtual pode melhorar a qualidade de
gama de conhecimentos. Janeiro July/Sept. 2011.
vida de maneira significante. A Biblio- Disponível em: http://www.scielo.br/
teca Virtual do Estudante de Língua
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
Portuguesa da Escola do Futuro – USP
40362011000400005&lang=p
Inclusão Digital (BibVirt), com o apoio da Secretaria de
acesso em: 05/06/2013.
Vimos que ascensão tecnológica Estado da Cultura de São Paulo conce-
tem importância intrínseca na educação beu um programa de áudio para a pro-
moção da leitura e literatura: Categori- Rosini, Alessandro Marco. O uso da
dos jovens, mas, devemos lembrar que
as Literárias - incentivo à leitura para tecnologia da informática na educação.
nem todos têm esses meios disponíveis
para utilização. Por isso, a existência deficientes visuais. É um projeto que Uma reflexão no ensino com crianças.
da inclusão digital é importante para o faz uso das tecnologias da informação 2003.
processo de democratização do acesso e comunicação para melhorar a vida de Disponível em: www.scielo.br acesso em:
as tecnologias. Apesar de um cresci- pessoas com Deficiência Visual com 07/06/2013.
mento significável da utilização da relação à leitura e literatura, alcançan-
internet, especialmente entre os anos do também pessoas sem deficiência. O
2000 e 2005, o país possui uma baixa programa adotou áudio-aulas elabora- REGIS, MARIA CLAUDIA A.
parcela da população que usufrui des- dos para atender diferentes categorias SANTANA. Categorias Literárias,
ses benefícios. Assim, podemos verifi- literárias, que buscam propiciar ao programas de áudio para o incentivo à
car que a exclusão digital leva a exclu- ouvinte maior intimidade com o texto, leitura de deficientes visuais:
são social também. Já que, as porcenta- autores e as influências literárias, con- um olhar transdisciplinar. 2009.
gens das pessoas que não tem acesso cebendo de maneira divertida e praze- Disponível em: www.scielo.br
aos meios tecnológicos estão direta- rosa de apreciar a leitura, além de su- acesso em: 07/06/2013.
mente relacionadas à falta de presença gerir sites para inserir pessoas com
na educação, no mercado de trabalho e Deficiência Visual na literatura. Com
em regiões onde o Índice de Desenvol- intuito de atender deficientes visuais
das diversas camadas sociais, a Cate- KHAN, Salman. O Professor do Futuro.
vimento Humano é maior. Como afir- Rv Planeta, ed 484, Fev. 2013.
ma Demo (2005, não paginado): goria Literária faz uso dos rádios, ins-
trumento de comunicação que está pgs: 30-35.

  Pág.: 29
 
ESPECIAL EDUCAÇÃO

A GEOGRAFIA NO ENSINO
FUNDAMENTAL I Anisio Alves da Rocha Junior
No ensino fundamental l, que os (numeracia). Abaixo um esquema apre- Abaixo, Bidlle nos mostra um es-
alunos, através da alfabetização, come- sentado por Bidlle que mostra o tripé do quema do que seriam as bases do ensino
çam a adquirir importantes conhecimen- ensino tradicional (figura 1). com a inserção da graficacia. (figura2).
tos que serviram de base para todos os
outros conhecimentos que viram no
decorrer de sua vida. Com isso, a escola
e o professor do ensino fundamental l,
possuem o desafio de alfabetizar o alu-
no através de uma base sólida. Segundo
Janine Lesann (2010), o papel do pro-
fessor no ensino fundamental l é:

Preparar o aluno para adquirir co- Figura 1: tripé do ensino tradicional Figura 2: tripé do ensino proposto por biddle
nhecimentos, alfabetizar-se e dominar Fonte: Bidlle, 1978 Fonte: Bidlle, 1978.
um vocabulário diversificado, organi- Apesar da importância destes con- Muitos professores por não domina-
zar o pensamento, raciocinar com logi- ceitos, não se pode resumir todo o con- rem conceitos importantes da geografia,
ca e argumentar para defender pontos teúdo necessário para o desenvolvimen- acabam não percebendo a importância
de vistas; ensina-lo a lidar com núme- to do aluno, somente nessas três compe- de se ensinar conceitos, como o de espa-
ros e desenvolver o raciocínio logico tências. Não se pode desprezar a impor- ço na sala de aula, por vezes, por não
matemático, a perceber o meio em que tância de outros conceitos, como o de dominarem esses conceitos, muitos
vive, a localizar-se a entender o espaço espaço, na formação do aluno, Castrogi- professores acabam transmitindo infor-
em escalas diversas. (LESANN, 2010, p. ovanni (2000) vê a necessidade de se mações errôneas aos alunos, segundo
22) inserir conceitos da geografia desde Castrogiovanni “pesquisas demonstram
cedo na vida dos alunos, muitos desses que muitos professores que atuam nas
conhecimentos são importantes para a séries iniciais não foram alfabetizados
Dados do censo escolar de 2012 compreensão do meio em que vivemos em geografia”. (CASTROGIOVANNI,
demonstram que há cerca de 25.013.441 e com isso contribuir para a cidadania. 2000, p.11).
milhões de alunos matriculados no ensi- (CASTROGIOVANNI, 2000) É comum muitos alunos ingressa-
no fundamental da rede municipal e rem no ensino fundamental ll sem pos-
estadual da educação. (BRASIL.GOV. suírem noções básicas de conceitos geo-
BR, 2012). Isto mostra que o acesso a O objetivo principal do estudo em gráficos, com isso, muitos professores
educação esta praticamente universali- geografia é a compreensão no espaço de geografia se veem diante de alunos
zado no Brasil. Sem dúvida o acesso ao geográfico e os processos naturais só- com defasagem e dificuldade de apren-
ensino é extremamente importante para cio naturais evoluídos na produção dizagem, “é comum professores de o
o desenvolvimento da educação nos deste espaço, através desse estudo po- ensino fundamental ll reclamar que
pais, mas a questão não se resume ape- demos compreender melhor o meio em muitos alunos chegam ao 6º ano sem
nas ao acesso. Resultados das ultimas que vivemos, “aprendendo a pensar o conhecer conceitos básicos de geogra-
edições do indicador de alfabetismo espaço a partir do lugar, podemos des- fia”. (LESANN, 2009, p.18)
funcional (INAF) (CIEGLINSKI, cobrir o mundo, tendo a possibilidade Muitos professores do ensino funda-
2012), mostram que apenas 26 % da de construir com os alunos um método mental l acabam se guiando única ex-
população brasileira pode ser considera- de analise espacial que favoreça a clusivamente pelo livro didático, na
da plenamente alfabetizada. Isto mostra construção da cidada- tentativa de suprir sua falta de alfabeti-
a necessidade de se ter um ensino de nia” (CASTROGIOVANNE, 2000, p. zação geográfica. Lesann (2009) alerta
qualidade desde ensino básico 132). para o perigo de se guiar única e exclu-
(LESANN, 2010). Devido a isso, se faz sivamente pelo livro didático. Segundo
necessário uma reflexão sobre os conte- ela, os livros didáticos do ensino básico
údos que são ensinados nas séries inici- O escritor e geógrafo Bidlle reco- “apresentam muitos conteúdos regionais
ais. menda introduzir a graficacia, ou seja, a distantes dos alunos e conceitos abstra-
Nas séries iniciais, apesar de o aluno capacidade de lidar com o espaço nos tos, tornando-os pouco atrati-
ter contato com diversas competências, programas de ensino, devido a grande vos” (LESANN, 2009, p.118). Muitos
acaba-se privilegiando e focando mais o importância da mesma na formação de alunos do ensino básico encontram difi-
ensino em umas em detrimento das ou- qualquer individuo, “qualquer ser hu- culdades de assimilar esses conteúdos,
tras, porquanto, há uma grande preocu- mano precisa apurar a sua percepção no por os mesmos serem distantes de sua
pação por parte dos professores em fa- espaço uma vez que nele vive e desen- realidade, criando assim certo precon-
miliarizar os alunos com alguns concei- volve suas atividades” (BIDLLE, 1978). ceito por parte dos alunos, que acabam,
tos básicos do ensino, como, falar, ler, Castrogiovane da a seguinte definição muitas vezes, achando o estudo da geo-
escrever, lidar com números, ou seja, de espaço geográfico: “entendido como grafia sem sentido, esse pensamento
com habilidades mais relevantes. Se- um produto histórico, como um conjun- pode ser levado por toda a sua vida aca-
gundo Lesann (2009, p.65) Os progra- to de objetos e de ações que revela as dêmica. Segundo Kimura (2010). “É
mas de ensino básico no Brasil, e em praticas sociais dos diferentes grupos fundamental que os pedagogos traba-
boa parte do mundo, tradicionalmente que vivem num determinado lugar inte- lhem os conceitos geográficos dentro da
privilegiam algumas competências co- ragem, sonham, produzem, lutam e o realidade qual o aluno vivência, se utili-
mo as mais importantes, são essas: o (re) constroem. (CASTROGIOVANNI, zando do livro didático como ferramen-
ensino da língua materna (articulacia), 2000, p.7) ta auxiliar”.(KIMURA, 2010, p).
da escrita (literária) e da matemática No intuito de verificar o grau de
Pág.: 30  ‐  GEO HOMUS ‐ Ano 1 ‐ n° 1 
 
 
ESPECIAL EDUCAÇÃO
compreensão de conceitos geográficos Ele representou no desenho o que seria conceito de espaço dos alunos das séries
por parte de alunos do ensino funda- o campo para ele. iniciais está ligado a realidade em que
mental l, foi realizado recentemente vivem. (KIMURA, 2010). É interessan-
pelo autor deste artigo, um experimento te ver como o aluno autor do desenho da
para verificar o grau de compreensão figura 3 e o aluno autor do desenho da
dos alunos do ensino básico, sobre um figura 4, representaram o campo e a
tema muito presente no ensino da geo- cidade de acordo com sua realidade. Já
grafia, o tema campo e cidade. o aluno autor do desenho da figura 5,
O experimento foi baseado em uma representou o campo de forma pouco
pesquisa realizada pela Faculdade de usual, devido ao fato de o campo não
Educação da Universidade Federal de fazer parte de sua realidade.
Minas Gerais (FAE-UFMG) entre os Segundo Kimura (2010) “o aluno
anos de 2000 e 2003. Para realizar esse das series iniciais compreende apenas o
experimento foi utilizada uma importan- Figura 4:Desenho de um campo
concreto, este pode ser percebido ape-
te ferramenta de expressão da criança, o Fonte: Arquivo pessoal nas na realidade que o circunda”.
desenho, porquanto, “O desenho faz (KIMURA, 2010, P.101). Com isso,
parte do universo infantil, desde cedo, Ele retrata no desenho com muitos Kimura aponta a necessidade de os pro-
como meio de comunicação e é revela- detalhes uma área de cultivo agrícola, fessores começarem os estudos geográ-
dor de muitas características da crian- através da estufa e da maquina de irrigar ficos pela realidade a qual o aluno per-
ça”. (LESANN, 2009, p.60). Através do a plantação. Segundo ele, “o campo é o tence, podendo-se começar pelo estudo
desenho pode-se verificar como as cri- lugar aonde se planta alimento”. da comunidade, para em seguida estuda-
anças enxergam o mundo. Segundo O aluno autor do desenho da figura rem o bairro, e depois o município
Degas (1834-1917): “O desenho não é a 5, tem 8 anos e reside em área urbana, (KIMURA, 2010, p.101), porquanto, “a
forma, é a maneira de ver a for- ele desenhou o que seria o campo para aprendizagem geográfica tem um per-
ma” (PAULINO, 2012). ele . curso extracurricular, originando-se
O experimento foi realizado em uma desde o momento e o local a qual eles
escola municipal da cidade de Tatuí, nascem, com isso, é importante criar
que possui matriculados alunos de bair- condições para que o aluno possa com-
ros urbanos e rurais da cidade. O tema preender a realidade a qual ele esta
do experimento foi campo e cidade. Foi imerso” (KIMURA,2010, p22.).
pedido a um grupo de alunos entre 6 e
11 anos que desenhassem o que eles
entendiam por campo e cidade. Impor-
REFERÊNCIAS
tante salientar que no grupo havia alu- BIDLLE,D.S. Abordagem conceitual do ensino da
nos de áreas urbanas e rurais. geografia na escola secundária. Rio Claro. 1978
Do total de 36 desenhos, destacam-
se os trabalhos de três alunos, o aluno CASTROGIOVANNI (org), C. C; Ensino de geografia:
autor do desenho da figura 3, tem 6 praticas e textualizações no cotidiano,
Porto Alegre, 7ª ed, 2000.
anos de idade e reside em uma área Figura 5:Desenho de um campo
urbana considerada violência da cidade, Fonte: Arquivo pessoal CIEGLINSKI, Amanda. Menos de 30% dos brasileiros
no desenho abaixo ele reproduziu o que são plenamente alfabetizados, diz pesquisa. Carta capi-
seria uma cidade para ele. O desenho mostra um índio e duas tal, julho, 2012. Educação. Disponível em :
<http://www.cartacapital.com.br/educacao/menos-de-30
choupanas. Ao ser perguntado o porquê -dos-brasileiros-sao-plenamente-alfabetizados-diz-
dele representar o campo dessa forma, pesquisa>. Acesso em: 18 maio 2013. As16:10
ele respondeu, “O campo é o lugar em
que índios moram”. KIMURA,Shoko. Geografia no ensino básico: questões
e propostas, São Paulo, 2ª ed, 2010.
Os desenhos realizados pelos alunos
que participaram deste experimento
mostram resultados parecidos pelos LESANN, Janine. Geografia no ensino fundamental l,
Belo Horizonte, MG, 2009.
obtidos pela universidade federal de
minas gerais. Kimura (2010) analisa da
PAULINO, Helena. Carta fundamental. De rabiscos a
seguinte forma os resultados da pesqui- linguagem, nº37, 2012, p.28-30
sa da FAE-UFMG.
PORTAL BRASIL. Ensino fundamental nas redes
municipais e estaduais conta com 25 milhões de alunos,
setembro. 2012. Noticias.
A primeira conclusão a que se che- Disponível em:<http://www.brasil.gov.br/noticias/
ga é a de que os dados indicam que as arquivos/2012/09/06/ensino-fundamental-nas-redes-
percepções dos alunos estão articuladas municipais-e-estaduais-conta-com-25-milhoes-de-
alunos>.
aos contextos de vida respectivos. Para Acesso em:18 maio 2013. As 17:50
Figura 3:Desenho de uma cidade
Fonte: Arquivo pessoal
fins de analise, é significativo destacar-
se uma grande evidencia em ambos os
Pode-se observar no desenho da alunos: suas percepções expressão a
figura 3, que o aluno, retratou a cidade observação do meio em seus detalhes.
como um lugar violento. No desenho, Através da primeira abordagem da rea-
um homem assalta uma mulher, e o sol lidade vivida, eles falam da própria
observa tudo com uma expressão triste. concepção dessa realidade e, por que
Ao ser perguntado o porquê de ter re- não, chegam a fazer emergir elementos
presentado a cidade dessa forma, ele de sua maneira de conceber o mundo.
respondeu, “Porque a cidade é um lugar (KIMURA, 2010, p51).
muito violento”.
O aluno autor do desenho da figu-
ra 4, tem 9 anos e reside em área rural. Os desenhos demonstram como o

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ESPECIAL EDUCAÇÃO
UM DESCASO NACIONAL

A DEFASAGEM NO ENSINO PÚBLICO


BÁSICO DO BRASIL Cristina Gonçalves da Silva

A defasagem no ensino público básico é um problema evidente que vem se


arrastando por décadas no nosso país,
que medidas seriam cabíveis para resolver essa situação?
Nos últimos tempos, a Educação emerge serem destorcidos, criando a ilusão de ser o um ring de luta, onde casos de violência esco-
nos discursos políticos como meio de mobili- mais importante valor para se conseguir vito- lar já faz parte do cotidiano, convivem horas
zação no momento das transformações sociais, rias hoje em dia, como o “ser competitivo”, diárias, não possuem uma relação de cumpli-
tornando-se necessárias possíveis mudanças esse ser humano hoje é visto como um virtuo- cidade, de respeito e não interagem entre si
no contexto escolar. Esses discursos sinalizam so dentro do mundo dos negócios, criando-se para colher resultados satisfatórios. Esse fato
para a importância de se compreender a educa- aqui pela mesma sociedade o antivalor até vem ocorrendo devido à má remuneração dos
ção na dinâmica de transformações do movi- então negativo. docentes, metodologia de ensino mal aplica-
mento político, econômico, cultural e social O mais importante nesta questão é encon- da, pouco investimento na educação entre
ocorridas de forma globalizada. Esse movi- trar limites sobre os interesses coletivos e outros.
mento exige um perfil de homem participati- individuais da vida em sociedade, manter este
vo, que transforma e é transformado no con- equilíbrio é fundamental para uma boa educa-
texto de suas relações sociais. A medida que o ção moral, deixando clara a subjetividade de Saúde dos Profissionais
ser humano transforma o seu meio para aten- cada um, possibilitando o ser a liberdade e a da educação
der suas necessidades básicas, automaticamen- autonomia de que lhe é direito, sem que este Problemas de saúde no âmbito profissio-
te é transformado. Tal concepção se faz ne- ultrapasse os limites do próximo. nal (Educação) são muito comuns nos dias de
cessária devido as demandas relacionadas às Neste e em outros aspectos, é unânime a hoje. Como acompanhamos em nossa atuali-
modificações contínuas que ocorrem na soci- opinião de que a maior formação educacional dade o profissional da docência, na qual te-
edade contemporânea. que se pode desenvolver é feita e auxiliada mos a clara amostra grandes Já sabemos que
Nessa perspectiva, o indivíduo é compre- pela família e pela escola, toda via, a mídia o professor do ensino básico está em falta
endido num processo de construção dinâmico, passou a fazer parte importante desta forma- com sua profissão no sentido de educar, mas,
constituindo-se como um ser social à medida ção, acabando por ocupar um espaço nessa quem está educando-o? Será que a culpa do
que interage com os outros, mediados pela transmissão, o que não tira a escola do alvo, ensino público no Brasil é apenas do profes-
linguagem e pelos símbolos em situações pois é o lugar de preferência de todos quando sor que está dentro da sala de aula? Não! A
reais. o assunto é educação, mas a questão de valo- falta de preparação do professor se dá pelos
res dentro da escola ultrapassa o conteúdo péssimos cursos superiores ofertados hoje no
Para contemplar esse indivíduo, a realida- teórico e acadêmico, neste sentido a distribui- Brasil, é preciso urgentemente uma reformu-
de provoca a necessidade de refletirmos a ção de valores feita pelos educadores solicita lação geral dos cursos de formação de profes-
educação e o modelo de escola nesse processo muito mais postura do que discurso. A manei- sores de todas as áreas e depois desta etapa
de mudança, buscando transformá-la com a ra que o educador conduz uma sala de aula é inicial deve-se investir em cursos continuados
possibilidade de atender a demanda social e o que influencia na postura futura do aluno, e recicladores.
cultural, considerando a materialização da onde aprende com atos a respeitar e ser subje- Assim como o mundo muda, a educação,
aprendizagem institucionalizada nas relações tivo e individual sem prejudicar o espaço as ciências, muda também, esses fatores de-
sociais. Dessa forma, os conhecimentos produ- alheio, lidando com diferenças e com dificul- vem ser observados e atualizados sempre.
zidos na escola devem se constituir de motivo dades. Temos que lembrar que o individuo Para isso é preciso um alto investimento do
para que os indivíduos possam significar e não existe sem a sociedade e a sociedade Governo no âmbito educacional básico, sem
significar-se. nunca existirá sem o individuo, este deve ser isso, nada saíra do lugar.
o equilíbrio. A verdade disto tudo é que em um mundo
Por meio dos seus profissionais, a escola de inovações, tecnologias e modernismo a
precisa perceber esse movimento na sociedade Salários dos professores educação brasileira torna-se paralela a reali-
capitalista, que a condiciona ao comportamen- Segundo levantamentos realizados por dade do século 21, pois de fato a escola com o
to culturalmente estabelecido numa perspecti- economistas, por agencias das Nações Uni- passar dos tempos foi suprimindo uma série
va dominante que define a maneira como o das, do Banco Mundial e da organização para de situações de aprendizagem que, de certa
homem, ser social e histórico deve perceber o a Cooperação e o Desenvolvimento Econômi- forma, complementava o repertório básico
mundo, tornando-o indivíduo alienado, envol- co, constataram que professores brasileiros dos educando como: aulas de música, francês,
vido pelas questões da modernidade que se em escolas de ensino fundamental têm um artes, etc. Essas aulas hoje em dia ou estão em
entrelaçam com a cultura de massa, produzin- dos piores salários de sua categoria em todo o total fracasso ou realmente não existe.
do uma objetividade capitalista e representa- mundo. Devido a isso muitos professores Devemos entender que os conteúdos,
ções sociais que o levam a se adaptar ao que já estão mudando de profissão e algumas Uni- quando aplicados de forma correta e desde a
está determinado. versidades não têm conseguido formar novas infância, completam o sistema cognitivo do
turmas para suprir a demanda existente. aluno, fazendo-o mais ligeiro e com um leque
Valores x sociedade de conteúdo bem maior quando entrar em sua
Na contemporaneidade o conflito de valo- Relação aluno e professor adolescência ou em sua fase adulta.
res já esta alcançando patamares nunca antes Podemos observar sérios problemas que a
visto. A competição, o individualismo, o ego- Educação no Brasil vem passando, temos Investimento na educação
centrismo, o consumismo, o utilitarismo, gera visto o que impera nos dias de hoje é o desca- O investimento médio por aluno no Brasil
uma ética que acaba por provocar um processo so pelo ato de lecionar e aprender. Em alguns só e maior que o da China. Em media, por
de formação e informação destorcida do que pontos podemos analisar a grande dificuldade aluno, o país investe US$ 2.416,10 ao ano. A
se chama sociedade. Quando citamos que o encontrada pelos docentes em transmitir o Suíça, que dispõe do maior investimento,
mundo de hoje está confuso com seus valores, conteúdo das disciplinas, percebe-se assim a contabiliza US$ 14.976,81 por aluno ao ano –
queremos dizer que os valores que parecem falta de interesse por parte dos alunos. Alunos ou seja, 6,2 vezes o montante brasileiro. É
ser ruins para a educação do ser acabam por e professores mais parecem estar dentro de interessante verificar que nas duas etapas do
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ESPECIAL EDUCAÇÃO
Ensino Fundamental e no Ensino Médio os o investimento anual por aluno feito pelo Estamos vivendo momentos de
investimentos brasileiros ficam muito aquém Brasil é de US$ 2.416, a média dos países é de manifestações e lutas acreditamos que a
dos de países como Suíça, Suécia ou Estados US$ 8.961. Estamos ou não sendo situação catastrófica no ensino público
Unidos. No Ensino Superior, o investimento inferiorizados pelos nossos próprios chegou no seu limite, para mudarmos essa
por aluno, segundo a comparação internacio- representantes? Enquanto não houver um realidade a Educação não precisará de
nal, não é tão inferior. investimento massivo e uma transformação na reforma, mas sim de uma Revolução.
Vale ressaltar que é desejável que o in- educação básica, não adiantará aplicar teste de
vestimento em Educação Superior seja sufici- conhecimento no aluno, já que a realidade em
ente para a manutenção dos padrões de quali- que ele aprende não foi mudada, pois eles não REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
dade; ao mesmo tempo, é nítida a necessidade deterão a noção exigida e nem as condições ANTONIO, José Carlos. O fracasso do
de maior aporte para a Educação Básica. Nos para demonstrar um conhecimento apropriado, ensino médio público -
anos iniciais do Ensino Fundamental, entre os já que o conhecimento do aluno não foi a senzala pós-moderna. 2010.
33 países com informações disponíveis, o corretamente construído. Disponível em: <http://
Brasil ocupou a penúltima posição, com in- É preciso saber administrar não só a escola aprendendoaensinar.blogspot.com.br/2010/0
vestimento médio de US$ 2.154,80 por aluno, em si, mas todos os fatores que a englobam, 5/o-fracasso-do-ensino- médio-
só perdendo para a Indonésia (US$ 534,44). como as relações sócias, nela inserida. Todos publico.html>.
Entre os 36 países com informações dis- que estão envolvidos com a educação sabem acesso em maio/2013
poníveis sobre as despesas para os anos finais que a mais banal das teorias já diz que não tem BOSSA, Nádia. Problemas de
do Ensino Fundamental mais Ensino Médio, a como obter resultados diferentes fazendo aprendizagem: estudo revela que alunos
situação praticamente se repetiu: o Brasil sempre a mesma coisa, é preciso acumulam defasagem durante o ensino
ocupou o 35º lugar, à frente apenas da Indo- transformação, reeducação, investimento e fundamental.
nésia. Já entre os 34 países que tiveram o dedicação. Guia Escolas, Sorocaba, 2012. p. 12-15.
gasto em com o Ensino Superior tabulado Se não houver educação com qualidade ELIAS, M. D. C. Pedagogia Freinet
pela OCD (Organização para a Cooperação e não haverá cidadãos reflexíveis, críticos, Teoria e prática.
o Desenvolvimento Econômico), o Brasil capazes de compreender o mundo e sua São Paulo: Papirus, 2000.
ocupou a 19ª posição, com investimento de dinâmica ,sendo assim seremos sempre GOULART, Nathalia. Por que o aluno
US$ 11.610,30. O montante, entretanto, ainda alienados, sem projetos de vida, sem garra para brasileiro aprende tão pouco? 2010.
é bastante inferior ao dos Estados Unidos, que enfrentar desafios e sem criação de ideias, pois Disponível em: <http://veja.abril.com.br/
ocupou a primeira colocação, com o maior culpado de todo esses problemas é do noticia/educacao/por-que-o-aluno-brasileiro
investimento médio por aluno de US$ Sistema Educacional doentio que se arrasta por -aprende-tao-pouco>
29.910,15. séculos em nosso país. acesso em maio/2013
Para relembrarmos um pouco do descaso,

Opinião & Ponto - Educação em tempo Integral


Por Vitória de Camargo Maciel

Este artigo trata da educação em período pública, mediante oferta de educação básica formações e continuam desempenhando um
integral no Brasil, em especial na cidade de em tempo integral. papel fundamental, indispensável e de extre-
Sorocaba, em que em alguns casos, os alunos No Estado de São Paulo a Secretaria de ma importância para um gradual sucesso desta
passam o dia todo na escola. Muitas vezes, as Educação já lança mão deste programa nas nova escola que surge. Em contra partida se
atividades praticadas não são feitas como escolas da rede pública estadual. Assim como vê cada vez menos valorizado pelo governo
deveriam, o que causa sérias consequências. alguns municípios como o de Sorocaba. A com salários baixos e defasados e por uma
Porém, existe o lado bom neste tipo de educa- Escola integral possibilita ao estudante uma sociedade que resolveu misturar os papéis,
ção. maior permanência na escola e acontece em querendo que a escola ofereça educação quan-
Em uma última pesquisa recém anunciada horário oposto ao do ensino regular. É ofere- do na verdade deveriam estar escolarizando.
o Brasil ocupa a 85ª posição no ranking de cido aos estudantes atividades complementa- A Escola de Tempo Integral é mais uma
IDH mundial. Países como Cuba, Argentina res, voltadas ao lazer, cultura, esportes, entre política pública para salvar a educação nacio-
e Uruguai também de terceiro mundo apare- outros, auxiliando na aprendizagem curricu- nal, espera-se que as arestas sejam aparadas e
cem a frente do Brasil. Vale ressaltar que os lar. Porém deparamos ainda com uma realida- que aos poucos possamos ver uma sociedade
três países após a abolição da escravatura de longe de ser apropriada como deveria. colhendo os frutos plantados, porém fica difí-
investiram seriamente na educação. Em uma Na Escola de tempo Integral, pode-se cil manter-se otimista lembrando que boa
outra pesquisa feita no fim do ano passado por observar alunos longe da rua, bem alimenta- parte da falência da educação advém de uma
uma empresa de nome Person que batizou seu dos, tendo oportunidade de entrar em contato politica publica “ a progressão automática”.
indicador de Índice Global de Habilidades com diferentes formas de ensinos, com possi-
Cognitivas e Realizações Educacionais, avali- bilidades de construir seu caráter de maneira
ou estudantes do ciclo fundamental (1º ao 9º adequada, aumentando e construindo seu
ano) de 39 países e a região de Hong Kong o conhecimento onde lhes são oferecidas ferra-
Brasil ficou na 38ª posição só ganhando dos mentas para que possam exercer sua cidada- http://www.verdadegospel.com/educacao
estudantes da Indonésia. Oficiais ou não estas nia de maneira crítica. -brasil-aparece-em-penultimo-lugar-no-
pesquisas mostram a fragilidade do sistema O quadro das escolas de tempo integral ranking-mundial/
educacional no Brasil. não goza somente de bons resultados, os pais
Em busca de avanços na Educação Nacio- viram neste programa uma oportunidade de http://noticias.uol.com.br/
nal, o Ministério da Educação busca políticas manter seus filhos mais tempo fora de casa infograficos/2013/03/14/brasil-fica-na-85-
públicas como uma tentativa de mudar este utilizando a escola como um “depósito de posicao-no-ranking-mundial-de-idh-veja-
cenário. Uma delas é o Programa Mais Educa- criança”. Em muitas unidades escolares a resultado-de-todos-os-paises.htm
ção que de acordo com o Art. 1º do DECRE- criança fica no mesmo espaço escolar, sem
TO Nº 7.083, DE 27 DE JANEIRO DE uma diversidade de ambiente. Sem um mo-
2010. tem por finalidade contribuir para a mento de descanso essas crianças muitas
melhoria da aprendizagem por meio da ampli- vezes se veem cansadas, com sono e entedia-
ação do tempo de permanência de crianças, das. O professor diante disso tudo procura se
adolescentes e jovens matriculados em escola adequar as transformações, participam de

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Cinema e Tecnologia
A Evolução do 3D e as
tecnologias que tornam
as experiências em sala
de cinema cada vez mais
reais.

Por Jackeline Cardoso

Pode-se dizer que o cinema teve seu te. A diferença de cores em


nascimento em 1895, com uma projeção ângulos diferentes causa o efei-
pública do cinematógrafo - um aparelho to de profundidade quando o
aperfeiçoado que permite registrar uma cérebro interpreta a cena visual.
série de instantâneos fixos (fotos) crian- O método polarizado é o
do a ilusão de movimento - pelos irmãos mais utilizado, ele chegue mui-
Lumiére. Desde então o cinema tem se to mais perto de uma sensação
transformado e influenciado gerações. real de visão, pois as projeções
Conforme o mundo foi evoluindo, o não se diferenciam na cor e sim
cinema também acompanhou esse pro- na polarização. No par de ócu-
cesso e hoje conta com tecnologias in- los 3D, cada lente é polarizada
críveis para tornar as experiências viven- de maneira diferente de modo
ciadas em sala cada vez mais reais. que filtra apenas ondas de luz
O 3D é a sensação do momento, alinhadas na mesma direção.
mas não surgiu do nada e desde inaugu- Por exemplo, uma lente pode filtrar 2D (método convencional de projeção)
radas as salas 3D, essa tecnologia avan- ondas polarizadas horizontalmente e a e só depois se pensava em uma proje-
çou muito, mas de onde vem tanta evo- outra, ondas polarizadas verticalmente. ção em 3D. Agora cada vez mais tem
lução? Como pode haver tanta diferença Este é um tipo de polarização linear, e se pensado em filmes 3D desde o rotei-
em um filme assistido em 2011 e outro se você inclinar a cabeça para o lado ro do filme até o arranjo das imagens
em 2013? A tecnologia 3D passa um poderá perceber uma perda do efeito das cenas e fotografias para que haja
aspecto tridimensional a uma cena visu- de profundidade. Isso não ocorre em mais qualidade. Essa tecnologia ainda
al. Os seres humanos possuem uma vi- uma polarização circular, uma vez que tem muito que expandir e devido à
são binocular, enxergam a mesma coisa a orientação não diminui a sensação de ótima receptividade do público, os
de dois ângulos e cria uma perspectiva tridimensionalidade. As melhores salas equipamentos 3D estão ficando cada
de profundidade, distância, posição e de cinema 3D são as que usam o siste- vez mais viáveis economicamente. E
tamanho de objetos. A técnica 3D utiliza ma de polarização circular. há ainda a proposta de hologramas para
duas imagens iguais filmadas de ângulos Anteriormente os filmes eram pro- o futuro e salas 4D.
diferentes, enquanto softwares fazem a duzidos normalmente em plataformas
correção de enquadramento em tempo
real na projeção. Existem diferentes mé-
todos para se criar esse aspecto, como
anáglifo e polarizado.
O anáglifo é um dos métodos mais
antigos e não é mais utilizado em salas
MORAES, Rui de.
de cinema. São aqueles óculos descartá- Saiba como funciona, os sis-
veis com uma lente vermelha e outra temas disponíveis e alguns prós e
azul. A estereoscopia acontecia com contras de cada um. Nov. 2011.
uma projeção predominantemente ver- Disponível em:
melha e outra predominantemente azul. <http:
www.blogpercepto.com/2011/
A lente azul e a vermelha bloqueiam as 11/cinema-e-tecnologia-3d.html>
cores azuis e vermelhas, respectivamen- Acesso em 09 abr. 2013
Pág.: 34  ‐  GEO HOMUS ‐ Ano 1 ‐ n° 1 
 
 
CIÊNCIA & TECNOLOGIA

“Evolução”: Para onde estamos caminhando?


Por Maiara Pillar

A evolução carrega consigo específica. Ele escreveu obras co- mente perfeito, a escala também o
muitos conceitos vinculados á ver- mo “História dos Animais”, era. Não havia elos vazios nessa
tentes culturais religiosas, o que “Geração dos Animais” e “Partes escala, e nenhum era representado
influenciou na sua aceitação. Em- dos Animais”. por mais de uma espécie. Assim,
bora tais vertentes impeçam pesso- nenhuma espécie poderia mudar de
as de entender que é um processo uma posição para outra. Com isso,
que realmente ocorreu, atualmente, nessa visão catolicizada do univer-
a Teoria Evolucionista de Darwin é so perfeito de Platão, as espécies
muito bem aceita no meio científi- não podiam mudar nunca, tinham
co, mas passou por uma série de que ficar eternamente fixas, de
contestações, e ainda assim se man- acordo com o texto da Gênese. O
teve, pois trás evidencias de que esquecimento de sua posição por
ocorreu. Mas até Darwin expor seus parte dos humanos era considerado
estudos, a evolução percorreu lon- pecaminoso, seja por se comportar
gos caminhos e o início dessa traje- como animais inferiores ou aspirar
tória começa na antiguidade. a uma posição mais elevada que
A história do pensamento evolu- lhes era dada pelo criador.
tivo se divide em três eras: pré- Em 1809, Jean-Baptiste de La-
darwiniana, darwiniana e pós- marck propôs em sua obra Philoso-
darwiniana. Na era pré-darwiniana, phie Zoologique, uma teoria para a
que se estende entre o período de transmutação de espécies. Lamarck
300 a.C até o século XIX, a ideia de não acreditava que todos os seres
que as espécies mudam, surgiu com vivos compartilhavam um ancestral
os gregos que debateram sobre a comum, mas sim que formas de
mudança nos seres vivos ao longo vida simples eram criadas continu-
do tempo. Platão foi de certo modo Desenho da Scala Natura e da Rethorica amente por geração espontânea.
Christiana (1579) por Didacus Valdes. Ele também acreditava que uma
o “anti-herói” do evolucionismo,
pois estabeleceu a filosofia do es- força vital inata levava as espécies
sencialismo, denominada Teoria Durante a Alta idade média, os a se tornarem mais complexas ao
das Formas, defendendo que obje- conhecimentos da Grécia clássica longo do tempo, subindo numa
tos observados no mundo real são foram totalmente perdidos no oci- escada linear de complexidade re-
apenas imagens de um número li- dente. No entanto, o contato com o lacionada à Scala Naturae. La-
mitado de essências, sendo a varia- mundo islâmico, onde os manuscri- marck reconheceu que as espécies
ção observada é apenas o resultado tos gregos foram preservados e ela- eram adaptadas ao seu ambiente, e
de um reflexo imperfeito destas borados, rapidamente levou a um explicava esse fato dizendo que a
essências constantes. Aristóteles, grande volume de traduções no mesma força inata que levava a
um dos mais influentes filósofos século XII. Os europeus foram en- uma maior complexidade fazia
gregos, é o historiador natural mais tão reapresentados aos trabalhos de com que os órgãos de animais (e
antigo cujos trabalhos foram preser- Platão e Aristóteles, assim como ao plantas) mudassem baseados no
vados em algum detalhe. O trabalho pensamento islâmico. Pensadores
de Aristóteles contém algumas ob- cristãos escolásticos, em particular
servações e interpretações nomea- Abelardo e São Tomás de Aquino,
damente astutas, juntamente com combinaram o sistema de classifi-
mitos e erros - refletindo o estado cação aristotélico com as ideias de
pouco equilibrado do conhecimento Platão sobre a excelência de Deus,
em sua época. No entanto, ele con- e de que todas as formas de vida
centrou esforços para mostrar as em potencial estavam presentes
relações entre todas as coisas vivas numa criação perfeita, para organi-
numa escala. A “scala naturæ”, des- zar todos os seres animados, inani-
crita em “Historia Animalium”, mados e espirituais em um grande
classificou organismos em relação a sistema interconectado: a Scala
uma "Escada da Vida" ou "Cadeia Naturae. Nesse sistema, tudo o que
do Ser" hierárquica, colocando-os existia podia ser colocado em or-
de acordo com a sua complexidade dem, de "inferior" a "superior",
de estrutura e função, com organis- com o inferno embaixo e Deus no
mos que possuem maior vitalidade topo—abaixo de deus, uma hierar-
e capacidade de se movimentarem quia de anjos marcada pela órbita
descritos como "organismos superi- dos planetas, a humanidade em
ores". Ele possuía um pensamento uma posição intermediária, e ver-
finalista, onde os órgãos, por exem- mes como os animais mais inferio-
plo, surgiram para alguma função res. Como o universo era infinita-

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA “Evolução”: Para onde estamos caminhando?
uso e desuso desses órgãos, assim época, a filosofia mecanicista de Darwin sobre a forma como criado-
como músculos são afetados pelo René Descartes começou a encora- res selecionavam características de
exercício. Ele afirmava que essas jar uma visão do universo seme- rebanhos, levaram à concepção da
mudanças seriam herdadas para a lhante a uma máquina, característi- teoria da seleção natural. Darwin
próxima geração, produzindo lenta- ca da revolução científica. No en- não publicou suas ideias sobre evo-
mente adaptação ao ambiente. Foi tanto, a maioria das teorias evoluti- lução por 20 anos, mas ele a com-
esse mecanismo secundário de vas contemporâneas a essa, como partilhou com certos naturalistas e
adaptação por herança de caracteres aquelas de Gottfried Wilhelm Leib- amigos, começando por Joseph
adquiridos que se tornaria conheci- niz e J. G. Herder, sustentavam que Hooker, com quem discutiu um
do por Lamarckismo, e influencia- a evolução era um processo funda- ensaio não publicado de 1844 sobre
ria discussões sobre evolução até o mentalmente espiritual. Em 1751, seleção natural. Durante esse perío-
século XX. Pierre Louis Maupertuis mudou do, ele usou o tempo livre de outras
Em 1858, Charles Darwin e Al- para um campo mais materialista. atividades científicas para vagaro-
fred Russel Wallace publicaram Ele escreveu sobre modificações samente refinar suas ideias e, devi-
uma nova teoria evolutiva, que foi naturais ocorrendo durante a repro- do à intensa controvérsia sobre a
explicada em detalhes no livro de dução e acumulando ao longo de transmutação, acumular evidências
Darwin “A Origem das Espécies” muitas gerações, produzindo raças para suportá-las.Diferente de Dar-
em 1859. Diferente de Lamarck, e mesmo espécies. Além disso, ele win, Alfred Russel Wallace, influ-
Darwin propôs o conceito de que os chegou a antecipar em termos ge- enciado pelo livro Vestiges of the
organismos apresentam uma ori- rais a idéia da seleção natural. Natural History of Creation, já sus-
gem comum, e se diferenciam de Diversos autores anteciparam peitava que a transmutação de espé-
maneira a formar uma árvore da alguns aspectos da teoria Darwinia- cies ocorria quando iniciou sua car-
vida. A teoria fundamentava-se na na, e na terceira edição de A Ori- reira como naturalista.
concepção de seleção natural, e gem das Espé-
para proporcionar suporte ao seu cies, publicada
argumento, Darwin apresentou uma em 1861, Dar-
grande quantidade de evidências win citou aque-
oriundas de diferentes áreas: pecuá- les dos quais ele
ria, biogeografia, geologia, morfo- tinha conheci-
logia e embriologia. O trabalho de mento num
Darwin conduziu a uma rápida apêndice intro-
aceitação do conceito de evolução, dutório: Um
mas o mecanismo proposto, a sele- esboço histórico
ção natural, não foi amplamente do progresso
aceito até os anos 1940. A grande recente das opi-
contribuição para a publicação des- niões sobre a
ta obra foi a viagem do Beagle, que origem das es-
é o título atribuído ao livro escrito pécies, que ele
por Charles Darwin publicado expandiu em
em 1839 como Diário de Anota- edições posteri-
ções, o que trouxe a ele considerá- ores.
vel fama e respeito. O título se refe- Os padrões
re à segunda expedição de levanta- biogeográficos
mento topográfico do navio HMS observados por
Beagle que zarpou em 27 de de- Darwin em lo-
zembro de 1831 sob o comando do cais como as
capitão Robert FitzRoy. Embora a Ilhas Galápagos
expedição tenha sido originalmente durante a viagem do Beagle fize- Primeiro esboço de Darwin de uma árvore
evolutiva, em seu Primeiro Caderno sobre a
planejada para durar dois anos, ela ram com que ele duvidasse que as Transmutação de Espécies, de (1837).
durou quase cinco anos. O principal espécies fossem imutáveis, e em
propósito da expedição foi o levan- 1837 Darwin iniciou uma série de Em 1855, após suas observa-
tamento cartográfico das costas da cadernos sobre transmutação. Suas ções biogeográficas durante o tra-
parte sulista da América do observações o levaram a ver a balho de campo na América do Sul
Sul como uma continuação do tra- transmutação como um processo de e no Arquipélago Malaio, ele pas-
balho de levantamentos anteriores, divergência e ramificação, ao invés sou a acreditar num padrão ramifi-
produzindo gráficos para guerras da progressão linear semelhante a cado de evolução, a ponto de publi-
navais e comércio, desenhos de uma escada, visualizada por La- car um trabalho afirmando que to-
colinas da perspectiva do mar, com marck e outros. Em 1838 ele leu a das as espécies se originavam com
medidas de suas alturas. sexta edição de “Um ensaio sobre o uma semelhança próxima à de uma
Algumas teorias evolucionistas princípio populacional”, escrito em espécie já existente. Como para
exploradas entre 1650 e 1800 pos- fins do século XVIII por Thomas Darwin, foi a consideração das idei-
tulavam que o universo, incluindo a Malthus. A idéia Malthusiana de as de Malthus por Wallace, as apli-
vida na Terra, haveria se desenvol- crescimento populacional levando a cando a populações de animais, que
vido mecanicamente, totalmente uma luta pela sobrevivência, com- fizeram com que ele chegasse a
livre de um controle divino. Nessa binado com os conhecimentos de uma conclusão muito semelhante

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  Maiara Pillar
Por CIÊNCIA & TECNOLOGIA
àquelas encontradas por Darwin sobre vida e produziu uma pequena revolu-
o papel da seleção natural. Em feverei- ção filosófica. No entanto, essa teoria
ro de 1858, sem saber das ideias não não tinha capacidade de explicar al-
publicadas de Darwin, Wallace organi- guns componentes essenciais do pro-
zou suas ideias em um ensaio e os en- cesso evolutivo. Especificamente, Dar-
viou a Darwin, pedindo uma opinião. win não tinha condições de explicar a
O resultado foi a publicação conjunta fonte de variação em características
de um trecho do ensaio de 1844 de dentro de uma espécie, além de não
Darwin juntamente com a carta de identificar um mecanismo que pudesse
Wallace. Darwin também começou a transmitir características de uma gera-
trabalhar mais fortemente em A origem ção para a outra de maneira fiel.
das Espécies, que seria publicado em Assim, o debate que se seguiu ime- não considera o tempo que a evolução
1859. Na metade do século XIX, o diatamente à publicação de A origem precisa para acontecer, imperceptível
fato de as espécies evoluírem ou não das espécies se centrou nas semelhan- aos olhos dos homens. Em uma escola
era objeto de intenso debate, com cien- ças e diferenças entre os seres humanos do interior do estado de São Páulo, no
tistas proeminentes defendendo ambos e grandes primatas. Thomas Henry âmbito do ensino das ciências, foi
os lados do problema. No entanto, foi a Huxley tentou demonstrar uma grande mostrado aos alunos da quarta série do
publicação de A origem das espécies, semelhança anatômica entre humanos e ensino fundamental a figura, e logo a
de Charles Darwin que mudou de ma- primatas. Em um incidente famoso, seguir foi aberto uma discussão sobre
neira fundamental a discussão sobre as Huxley demonstrou que Owen estava tal figura, nisto uma das crianças disse
origens biológicas. Darwin argumenta- errado ao afirmar que os cérebros de que nunca tinha visto macaco se trans-
va que sua versão ramificada da evolu- gorilas não possuem uma estrutura formando em homem. O que mostra a
ção explicava uma riqueza de fatos da presente em cérebros humanos. Huxley importância da utilização de diagrama-
biogeografia, anatomia, embriologia e resumiu seus argumentos em um livro ção correta. Outro fator que merece
outros campos da biologia. Ele também muito influente de 1863 Evidence as to destaque, relacionado a figura (ao lado)
forneceu o primeiro mecanismo robus- Man's Place in Nature (Evidências é o pensamento teleológico, que em-
to pelo qual as mudanças evolutivas quanto à posição do homem na nature- prega a finalidade das coisas, direcio-
poderiam se dar: sua teoria da seleção za). Um outro ponto de vista era defen- namento de processos, que neste caso,
natural. dido por Charles Lyell e Alfred Russel aplicado á evolução, coloca o homem
Wallace; eles concordavam que os como sendo a finalidade do processo
seres humanos compartilhavam um evolutivo, como o ser mais complexo,
ancestral comum com os primatas, mas o que está equivocado. O grande pro-
questionavam que um mecanismo pu- blema na compreensão do processo
ramente materialista pudesse responder evolutivo atualmente, está no modo
por todas as diferenças entre humanos como é passada a informação, trazendo
e primatas, especialmente os aspectos muitas vezes vocabulários determinis-
relacionados à mente humana. tas, que maquiam a trajetória deste
Em 1871, Darwin publicou A Des- processo
cendência do Homem e Seleção em
Relação ao Sexo, que continha sua
visão com relação à evolução humana.
Darwin afirmava que as diferenças
entre a mente humana e as de animais
superiores era de grau e não de quali-
dade. Por exemplo, ele via a moralida-
de como um desenvolvimento de ins-
tintos que eram benéficos a animais
que vivem em grupos. Ele defendia
que todas as diferenças entre humanos
e primatas podiam ser explicadas por
uma combinação de pressões seletivas
oriundas do fato de nossos ancestrais
terem mudado das árvores para planí-
cies, e seleção sexual. O debate sobre
as origens do ser humano, e sobre o
Um dos primeiros, e mais impor- grau de unicidade da nossa espécie
tantes, naturalistas a serem convenci- continuou durante o século XX.
dos pela Origem da realidade da evolu- A evolução se tornou amplamente
ção foi o anatomista britânico Thomas aceita na comunidade científica alguns Em seguida ao estabelecimento da bio-
Henry Huxley. Huxley percebeu que anos após a publicação de A origem logia evolutiva, estudos sobre mutação e
diferente das ideias transmutacionistas das espécies, mas a aceitação da sele- variabilidade genética em populações natu-
anteriores de Lamarck e Vestígios, a ção natural como seu mecanismo dire- rais, aliados a biogeografia e sistemática,
teoria Darwiniana fornecia um meca- cionador era muito menos aceita. Ha- culminaram em modelos matemáticos re-
nismo para a evolução sem envolvi- viam outras correntes alternativas à centemente descobertos introduziram ainda
mento do sobrenatural, mesmo que o seleção natural no fim do século XIX, mais complexidade à história evolutiva.
próprio Huxley não estivesse comple- como por exemplo a evolução teísta, o Embora existam muitas questões sobre a
tamente convencido de que a seleção neo-Lamarquismo, a ortogênese e o evolução, lembre-se de que ela é guiada por
natural fosse o principal mecanismo saltacionismo, mas estes não ganharam variações genéticas, através de mutações –
evolutivo. espaço como a teoria darwinista. que por sua vez são aleatórias, sendo assim
A teoria de Darwin foi bem sucedi- A figura que frequentemente atribui não é possível prever o futuro das espécies,
da em alterar profundamente a opinião -se á evolução do homem representa visto o caráter aleatório e o tempo que é
científica sobre o desenvolvimento da uma idéia errônea do processo, pois necessário para observá-la.

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Tempestades Solares
Por Jackeline Cardoso
Fúria Solar
Previsão do clima espacial para os próximos anos: intensa
atividade do Sol, com catastróficos apagões na Terra.
Estamos preparados para isso?

S ol é considerado uma das maiores


fontes de vida do universo, e várias rea-
Palo Alto, na Califórnia. Com a expectativa
de que neste ano tenha início o período de
máxima atividade solar, os centros de acom-
intensas em grande parte da Terra. Uma
megatempestade do nível da presenciada
por Carrington acontece raras vezes, com
ções decorrem da sua grande quantidade panhamento do clima espacial estão atentos. intervalos de séculos. As tempestades sola-
de energia. Um dos fenômenos que ocor- “Tentamos entender como as condições no res afetam a ionosfera – a camada da at-
rem é a tempestade solar, que ultima- espaço afetam nossa sociedade”, diz mosfera terrestre em que ocorrem as auro-
mente chegou a atingir nosso planeta e Schrijver. ras, a mais de 100 mil metros de altitude.
afetou a comunicação das rádios, siste- Do contrário, as consequências são into- Acima dos 80º de latitude, os pilotos dos
mas de telecomunicações, GPS e siste- leráveis. ”Todas essas partículas carregadas quase 11 mil vôos comerciais que todos os
mas aéreos. fazem do plasma solar um excelente condu- anos sobrevoam a região do pólo Norte se
Esse fenômeno relaciona-se a reações tor de eletricidade – bem mais que um fio de comunicam por meio de sinais de rádio de
que ocorrem no núcleo do Sol, e produ- cobre. E o Sol também está repleto de cam- ondas curtas refletidos pela ionosfera, pois
zem grande quantidade de energia, que pos magnéticos. A maioria deles fica no estão fora do alcance dos satélites de comu-
então podem atingir a atmosfera terrestre, interior da imensa circunferência da estrela, nicação que percorrem órbitas equatoriais.
e causar as consequências citadas acima. mas alguns condutos magnéticos, tão largos Ao aquecer a atmosfera, a radiação ultravi-
A tempestade solar também proporciona quanto a Terra, emergem na superfície sob a oleta emitida pelas fulgurações solares
lindos fenômenos como a aurora boreal. forma de manchas solares. É esse magnetis- também pode transtornar as órbitas dos
Para se ter uma ideia da alta energia mo que coreografa a dança coleante na at- satélites, aumentando o arrasto. As tempes-
liberada nesse fenômeno, uma única ex- mosfera do Sol e impele o vento solar, lan- tades também podem inutilizar os equipa-
plosão tem 100 milhões de vezes mais çando no espaço a cada segundo 1 milhão mentos eletrônicos nos satélites de comuni-
energia do que todo o poder nuclear já de toneladas de plasma, a uma velocidade cação. E, ao contrário dos satélites orbitais,
desenvolvido na Terra. No mesmo instan- de 700 quilômetros por segundo. a maioria das redes elétricas não dispõe de
te, a agulha do magnetógrafo que pendia A energia gerada pela fusão no núcleo proteção contra tempestades geomagnéticas
de um fio de seda no Observatório Kew, do Sol é conduzida para fora por fótons de intensas, capazes de gerar correntes que
em Londres, começou a se mover com alta energia à medida que ricocheteiam em podem causar superaquecimento, incêndios
rapidez. E, no dia seguinte, antes do ama- um denso labirinto de íons e elétrons. Cerca e explosões. Segundo John Kappenman, da
nhecer, auroras de tons vermelhos, verdes de um mês depois, os fótons emergem na empresa de consultoria Storm Analysis,
e roxos iluminaram os céus em regiões fotosfera, a parte do Sol que podemos ver. que estuda os efeitos do clima espacial na
tão meridionais quanto o Havaí e o Pana- “O Sol badala como um sino, com milhões rede elétrica, uma megatempestade tão
má. Gente que estava acampada nas de tons diferentes”, comenta Mark Miesch, forte quanto a de 1859 poderia levar ao
Montanhas Rochosas, confundindo a do Centro Nacional de Pesquisa Atmosféri- colapso de toda a rede elétrica da América
aurora com o início do dia, se levantou e ca em Boulder, no Colorado. Esses tons do Norte, obrigando centenas de milhões
começou a preparar o café da manhã. geram ondulações na superfície solar, as de pessoas a viver sem eletricidade durante
A fulguração observada por Carring- quais são estudadas pelos cientistas a fim de semanas ou meses.
ton anunciava uma gigantesca tempestade mapear correntes profundas na zona de A venerável sonda espacial ACE (sigla
solar – uma enorme explosão eletromag- convecção, uma disciplina chamada helios- em inglês para Explorador de Composição
nética que arremessou bilhões de tonela- sismologia. Há pouco, os dados transmitidos Avançada) monitora o vento solar de uma
das de partículas carregadas de eletricida- pelos sensores heliossísmicos a bordo de um órbita a 1,5 milhão de quilômetros da Terra
de em direção à Terra. “Estamos funcio- satélite da NASA, o Observatório da Dinâ- na direção do Sol. O Soho (Observatório
nando só com a corrente fornecida pela mica Solar, permitiram que pesquisadores Solar e Heliosférico, na sigla em inglês)
aurora boreal”, comunicou-se um telegra- da Universidade Stanford detectassem fei- dispõe de uma dúzia de sensores que regis-
fista de Boston com outro, em Portland, xes magnéticos 65 mil quilômetros abaixo tram desde os prótons de alta velocidade
no estado do Maine. Os operadores dos da superfície do Sol, e previssem que, dias nos ventos solares até oscilações de baixa
atuais sistemas de comunicação e redes depois, eles iriam emergir como manchas velocidade. “As pesquisas sobre o clima
de eletricidade não ficariam assim tão solares. espacial estão meio século atrasadas em
calmos. Uma tempestade como a de Car- Esses dados proporcionam informações relação às do terrestre”, comenta o físico
rington poderia queimar mais transforma- cruciais da maneira que se formam as tem- Douglas Biesecker. “Não houve grandes
dores do que há no estoque das compa- pestades solares. As linhas dos campos, fatos neste ciclo solar”, diz Biesecker.
nhias de eletricidade, deixando milhões emaranhadas ao plasma na zona de convec-
de pessoas sem luz, água potável, ar- ção, giram, contorcem-se e projetam-se
condicionado, combustível, telefones ou através da superfície, formando arcos que se
alimentos e remédios perecíveis durante tornam visíveis graças ao plasma quente e Referencias:
os meses que seriam necessários para brilhante. A megatempestade de Carrington FERRIS, T. Fúria Solar, National Geogra-
fabricar e instalar transformadores novos. foi uma potente fulguração solar que produ- phic Brasil, Jun. 2012, Edição 147. Disponível
em: <http://viajeaqui.abril.com.br/materias/
Segundo um recente relatório da Acade- ziu a segunda de uma rara ocorrência dupla tempestade-solar-espaco-clima>.
mia Nacional de Ciência dos Estados de ejeção coronal de massa (CME, na sigla Acesso em: 04 jul. 2013
Unidos, uma tempestade solar dessa mag- em inglês) – gigantescas erupções magnéti-
nitude acarretaria o mesmo prejuízo oca- cas do plasma quente lançado no espaço. O Dr. Wਈਉਔ਌ਏਃ਋, Laura A. O Sol, The
sionado por 20 furacões do tipo do Katri- impacto de ambos os eventos esmagou a StarChild Team. High Energy Astrophysics
na, ou seja, algo entre 1 trilhão e 2 tri- magnetosfera terrestre – na qual o campo Science Archive Research Center (HEASARC),
lhões de dólares apenas no primeiro ano. magnético do planeta interage com o vento Dr. Nicholas E. White (Diretor), do Laboratory
for High Energy Astrophysics (LHEA) da
“Nossas previsões sobre o Sol não solar –, reduzindo sua altitude normal de 60 NASA/ GSFC. Disponível em: <http://
vão além de poucos dias”, lamenta Karel mil para 7 mil quilômetros. As partículas heasarc.gsfc.nasa.gov/nasap/docs/solar2_p/
Schrijver, do Laboratório Solar e Astrofí- carregadas penetrando nas camadas superio- sun_p.html>.
sico da empresa Lockheed Martin, em res da atmosfera desencadearam auroras Acesso em: 04 jul. 2013

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