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1. RESUMO
2. ABSTRACT
This work has the purpose to analyze the effects that the current model of
development can have on rural communities affected by river hydroelectric plants,
demonstrating that progress can reach some groups positively and others negatively so
expressly. To this end, we conducted a community of São Sebastião do Soberbo, Santa
Cruz district of Escalvado - MG, forcibly displaced by the construction of Hydroelectric
Risoleta Neves. We use as instruments literature, documentary research and action
research, made possible by our performance in the Projeto de Assessoria às
Comunidades Atingidas por Barragens (PACAB) in the role of participatory
intervention with the community. Thus, we aimed to analyze the benefits that the
construction of a hydroelectric power plant can bring as well as the possible negative
impacts on the community affected, inferring, concomitantly, a critique of the
development model proposed by Brazil, as well as the performance of an enterprise
private. We realized then, as overall results, a huge contradiction in the effects of
development for two different actors - the community affected and the Consórcio
Candonga - thus demonstrating a complex power game asymmetric, involving many
other social groups in a struggle that has lasted for more than 10.
3. INTRODUÇÃO
Destarte, esse artigo tem por objetivo, através do trabalho de campo de Iniciação
Científica1 e das participações no Projeto de Assessoria às Comunidades Atingidas por
Barragens (PACAB2), mostrar a relação que existe entre o macrodesenvolvimento
proposto pelo Estado e o retrocesso3 causado em comunidades rurais ribeirinhas,
quando deslocadas compulsoriamente em prol de um projeto desenvolvimentista maior.
Deste modo, far-se-á uma relação entre as visões de desenvolvimento para os atores
sociais envolvidos, especificamente no estudo de caso da comunidade de São Sebastião
do Soberbo - MG, atingida pela Usina Hidrelétrica Risoleta Neves, conhecida como
UHE Candonga.
1
Projeto intitulado "Mapeando os Conflitos Socioambientais na Bacia do Rio Doce", executado entre
agosto de 2011 a julho de 2012, vinculado ao Departamento de Economia Rural/UFV - MG e apoiado
pelo Pibic/CNPQ.
2
O Projeto de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens na Zona da Mata Mineira (Pacab)
consiste em um projeto de extensão registrado na Universidade Federal de Viçosa (UFV) desde 1996,
contudo, no início, era conhecido como Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens
(NACAB), pois foi fundada como uma ONG, vindo a ser chamado posteriormente de Pacab quando este
se tornou um projeto de extensão da UFV (CARDOSO e JUCKSCH, 2008).
3
Estamos considerando o "retrocesso" neste trabalho como um termo oposto ao desenvolvimento, de
significação contrária, pois a comunidade estudada estaria sofrendo uma involução em seus modos de
sobrevivência após sua realocação para o meio urbano, indo de embate ao termo de desenvolvimento
proposto nestes projetos.
A comunidade de São Sebastião do Soberbo era um típico povoado ribeirinho
composto por famílias de baixa renda e escolaridade, cuja dinâmica econômica era
essencialmente rural, pautada na agricultura familiar, na pesca ao longo do rio e no
garimpo. Em época de seca, a maioria das famílias explorava o ouro por meio da
faiscação4 e em tempos de chuvas trabalhavam como meeiras ou exploravam sua
própria terra. A Figura 1 mostra a praça de São Sebastião do Soberbo antes do
deslocamento, uma foto típica de uma comunidade rural com diversos laços de
vizinhança e amizades.
4
Pequena extração feita pelo trabalho do próprio garimpeiro.
Quanto à UHE Risoleta Neves, que está entre as maiores hidrelétricas do Brasil,
ela faz parte dos empreendimentos financiados pela Novelis e Companhia Vale do Rio
Doce como parte do contexto de privatização vivido pelo Brasil em meados dos anos
90. Situada na bacia do Rio Doce, esta UHE tem 2,74 km² de área de reservatório, de
100 a 200 MW de potência instalada, ativa desde 2004, tem prazo de concessão de 35
anos (PENIDO; PEREIRA e LAGES, 2011; OBSERVATÓRIO SOCIO-AMBIENTAL
DE BARAGENS, 2012).
Estes contrastes entre o urbano e o rural têm sido comuns na realidade vivida
pelos moradores em Nova Soberbo, por exemplo, na Figura 3, percebemos que a
lenha, antes tirada da beira do rio em abundância, hoje é conseguida em raras
exceções na beira do asfalto, indo de embate aos costumes de antes.
Figura 3 - Ex-agricultora pegando lenha em perímetro urbano
Para Vargas (2007), os recursos na maior parte das vezes são comuns em
espaços sociais onde são estabelecidas relações complexas e desiguais entre distintos
atores sociais, tais como empresários rurais, pequenos agricultores, minorias étnicas,
agências do governo, entre outros. Portanto, aqueles atores com maior acesso ao poder
são os que detêm o controle sobre o acesso e o uso dos recursos naturais.
6. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
7. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A priori, para o sujeito que está de fora e não tem nenhuma relação com a
comunidade impactada, os efeitos benéficos do desenvolvimento são evidentes, afinal,
na sociedade em que vivemos hoje, quem não precisa de energia elétrica para
sobreviver?
Portanto, podemos chegar à conclusão de que o setor elétrico é tido como o
segmento de infraestrutura essencial para o desenvolvimento econômico do país, fato
comprovado pelos grandes investimentos feitos pelo Estado nos últimos anos. No caso
do estado de Minas Gerais, é possível citar os dados do Programa de Geração
Hidrelétrico do Estado de Minas Gerais (PGHMG) 2007-2027, no qual estão previsto a
construção de 45 UHEs e 335 PCHs para o estado de Minas Gerais, totalizando um
incremento de 7,7 mil MW, que corresponderiam a cerca 45 % em relação à potência já
instalada (FONSECA, OLIVEIRA e SOUSA, 2011).
5
Segundo Verdejo (2006, p. 12), a DRP “[...] é um conjunto de técnicas e ferramentas que permitem que
as comunidades façam seu próprio diagnóstico e a partir daí comecem a autogerenciar seu planejamento
e desenvolvimento”.
Figura 5 - Aplicação da metodologia participativa "Realidade Desejo"
Deste modo, a cota de poder que cada ator social envolvido diretamente nos
processos de desenvolvimento pode acarretar mais benefícios a "uns" e menos a
"outros", assim como prejuízos. Ao mesmo tempo em que a comunidade pode se
beneficiar do desenvolvimento, ela pode ser prejudicada por ele. Além do mais, um
desenvolvimento macro pode trazer um retrocesso no desenvolvimento para as
comunidades rurais locais, caso em estudo, já que a comunidade, que antes sobrevivia
da agricultura familiar e das atividades do rio, hoje passa por dificuldades no meio
urbano (reassentamento involuntário) provocadas, mormente, por ter uma cota de poder
inferior, pois não teve possibilidade de escolher ficar em seu local de origem. Portanto,
de qualquer forma, independentemente dos tipos de percepções aqui apresentadas, fica
claro que a comunidade de Nova Soberbo é alvo de um pressuposto desenvolvimento
6
Segundo vários relatos de moradores, na época da construção da barragem, o prefeito abriu as portas
para que o empreendimento fizesse o que quisesse, contudo, o prefeito atual tem aceitação de quase 100%
da comunidade.
estabelecido por um sistema - articulação entre o Estado e empreendimentos privados -
aquém de seus limites territoriais, econômicos e políticos.
8. CONCLUSÕES
Outro ponto que percebemos ter sido essencial e que talvez possa explicar essa
dicotomia entre o desenvolvimento de "uns" e o retrocesso de "outros" é o fator
econômico. Segundo especialistas, a energia gerada através das usinas hidrelétricas é
limpa e barata, mas existem também outros tipos de energias limpas como a solar, a
eólica, biogás, entre outras, que são menos impactantes. Entretanto, o que tem pesado,
entre outros fatores, é o econômico. Primeiro, pelos investimentos caros em pesquisa e
execução dessas formas alternativas de geração de energia, segundo, pelo lucro que as
empresas privadas têm conseguido pela produção deste tipo de energia.
Por fim, destacamos que o estudo do "caso Candonga" contribui para explicar
um modelo maior no que tange às vantagens e desvantagens do desenvolvimento,
culminando em uma assimetria de poderes e de pontos de vistas distintos. Entendemos
que a questão maior é quando não existem espaços para discussão destes problemas e
tudo é feito sob a ótica de beneficiar uma parte sem levar em conta os danos às outras
partes.
9. REFERÊNCIAS
CARDOSO, Irene Maria; JUCKSCH, Ivo. Análise dos ambientes naturais da zona da
mata mineira estudados em projetos hidrelétricos. In: ROTHMAN, Franklin Daniel
(org.). Vidas alagadas: conflitos socioambientais, licenciamento e barragens. Viçosa:
UFV, 2008.
FONSECA, Bruno Costa da; OLIVEIRA, Marcelo Leles Romarco de; SOUSA, Dayane
Rouse Neves. Análise dos potencializadores de conflitos socioambientais inerentes ao
uso e apropriação de recursos na bacia do Rio Doce. In: V Simpósio Internacional de
Geografia Agrária – VI Simpósio Nacional de Geografia Agrária, Belém. Anais...
Belém: 2011.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. Ed. São Paulo: Atlas,
2002.