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VADE

MECUM
COMENTADO
DE NOVIDADES
LEGISLATI
VAS
SUMÁRIO

JANEIRO E FEVEREIRO 5
MARÇO 37

ABRIL 90
MAIO 111
JUNHO 133
JULHO 152

AGOSTO 183

SETEMBRO 244

OUTUBRO 291

NOVEMBRO 337

DEZEMBRO 358

VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


APRESENTAÇÃO
SUMÁRIO

Como é difícil se manter atualizado e atualizada com a profusão de atos legislativos no


Brasil, não é verdade?
Pensando nisso, o Curso Ênfase presenteia você com um material incrível: o Vade
Mecum Comentado de Novidades Legislativas.
São mais de 400 páginas, com as principais inovações normativas do ano de 2021,
agrupadas por mês e, dentro de cada um, separadas por disciplina, dentre as
seguintes:
• Direito Administrativo
• Direito Ambiental
• Direito Civil
• Direito Constitucional
• Direito da Pessoa com Deficiência
• Direito do Consumidor
• Direito do Trabalho
• Direito Educacional
• Direito Eleitoral
• Direito Empresarial
• Direito Financeiro
• Direitos Humanos
• Direito Internacional
• Direito Penal
• Direito Previdenciário
• Direito Processual Civil
• Direito Processual do Trabalho
• Direito Processual Penal
• Direito Tributário
• Direitos Difusos e Coletivos
• Legislação Penal e Processual Penal Extravagante

VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


APRESENTAÇÃO
SUMÁRIO

Nosso Vade Mecum traz para você as novidades legislativas que importam para a sua
futura prova e, ainda, cada uma delas é apresentada de maneira pensada para a sua
preparação, pois tem:

a) Ficha Normativa: nela constam as informações básicas da norma como ementa,


data de publicação e início de vigência, o link para o texto legal e os destaques, parte
que fornece uma visão geral sobre os pontos principais do novo ato;

b) Comentário: aqui nosso time de especialistas discorre sobre o que há de mais


relevante no novo ato normativo, trazendo, inclusive, trechos literais dele;

c) Questão inédita: por fim, para simular como a novidade pode ser cobrada no seu
próximo concurso, há uma questão inédita sobre ela e, melhor, comentada!

Trata-se de material riquíssimo para a sua preparação, que nós do Curso Ênfase
elaboramos para você, pois, com ele, além de ficar em dia com as novidades legislativas
do ano de 2021, você antevê como elas podem ser questionadas no seu concurso.
E, assim como nós, você sabe que as bancas adoram cobrar inovações.

Então, use muito o Vade Mecum Comentado de Novidades Legislativas como o seu
novo aliado na busca pela sua aprovação e, principalmente, dentro do número de
vagas nos concursos de alto desempenho.

Lembre-se: vamos com você até a posse!

Bons estudos!

VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


Janeiro e Fevereiro
2021
DIREITO ADMINISTRATIVO
1. L
 ei Complementar (LC) nº 179/2021 - Objetivos do Banco Central do
Brasil (BACEN)
1.1. Ficha normativa

LC Nº 179/2021
Ementa: Define os objetivos do Banco Central do Brasil (BACEN) e dispõe sobre sua
autonomia e sobre a nomeação e a exoneração de seu Presidente e de seus
Diretores; e altera artigo da Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964.
Data de publicação: 25.02.2021
Início de vigência: 25.02.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp179.htm>
Destaques:
• A lei prevê expressamente que o objetivo fundamental do BACEN é assegurar a esta-
bilidade dos preços e elenca outros objetivos possíveis.
• Confere autonomia ao BACEN.
• Define que a diretoria colegiada do BACEN será composta por nove membros, nomeados
pelo Presidente da República, após aprovação pelo Senado Federal, com mandato de quatro
anos, observando-se a escala e as hipóteses de recondução e exoneração previstas na lei.
• Dispõe que as metas de política monetária serão estabelecidas pelo Conselho Monetário
Nacional (CMN) e que compete privativamente ao BACEN conduzir a política monetária
necessária para o cumprimento dessas metas que foram estabelecidas pelo CMN.

1.2. Comentário

Em 25.02.2021 foi publicada a LC nº 179, com início imediato de vigência.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo “define os objetivos do Banco Central do
Brasil e dispõe sobre sua autonomia e sobre a nomeação e a exoneração de seu Presidente e de seus
Diretores; e altera artigo da Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964”.

O BACEN é uma autarquia federal criada pela Lei nº 4.595/1964, cujo objetivo fundamental é
assegurar a estabilidade de preços. Embora este seja o escopo principal de qualquer Banco Central
de um país, o art. 1º da LC nº 179/2021 traz previsão expressa nesse sentido, prevendo também
que “sem prejuízo de seu objetivo fundamental, o BACEN também tem por objetivos zelar pela
estabilidade e pela eficiência do sistema financeiro, suavizar as flutuações do nível de atividade
econômica e fomentar o pleno emprego”.

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DIREITO ADMINISTRATIVO
A principal inovação do diploma normativo em comento foi conferir, expressamente, autonomia
ao BACEN, o que se deu com a previsão de que o Banco deixa de ter vinculação com ministérios e
seus dirigentes passam a ser definidos através de mandatos fixos a cada quatro anos sem que este
período seja coincidente com o do presidente da República, conforme dispõe o art. 6º da lei:

Art. 6º O Banco Central do Brasil é autarquia de natureza especial caracterizada


pela ausência de vinculação a Ministério, de tutela ou de subordinação
hierárquica, pela autonomia técnica, operacional, administrativa e financeira,
pela investidura a termo de seus dirigentes e pela estabilidade durante
seus mandatos, bem como pelas demais disposições constantes desta Lei
Complementar ou de leis específicas destinadas à sua implementação.
(Grifos nossos.)

Quanto à nomeação dos dirigentes, de acordo com o art. 3o da LC nº 179/2021, a “Diretoria


Colegiada do Banco Central do Brasil terá 9 (nove) membros, sendo um deles o seu Presidente,
todos nomeados pelo Presidente da República entre brasileiros idôneos, de reputação ilibada e
de notória capacidade em assuntos econômico-financeiros ou com comprovados conhecimentos
que os qualifiquem para a função”. Em complemento, o art. 4o prevê que estes dirigentes “serão
indicados pelo Presidente da República e por ele nomeados, após aprovação de seus nomes pelo
Senado Federal”.

Os mandatos serão, como já mencionado, fixos, com duração de quatro anos, sendo que o do
Presidente terá início no dia 1º de janeiro do terceiro ano de mandato do Presidente da República, e
o dos demais Diretores observarão a seguinte escala, prevista no § 2º do art. 4o da lei:

I - 2 (dois) Diretores terão mandatos com início no dia 1º de março do


primeiro ano de mandato do Presidente da República;

II - 2 (dois) Diretores terão mandatos com início no dia 1º de janeiro do


segundo ano de mandato do Presidente da República;

III - 2 (dois) Diretores terão mandatos com início no dia 1º de janeiro do


terceiro ano de mandato do Presidente da República; e

IV - 2 (dois) Diretores terão mandatos com início no dia 1º de janeiro do


quarto ano de mandato do Presidente da República.

Além disso, de acordo como § 3º do mesmo dispositivo “o Presidente e os Diretores do Banco
Central do Brasil poderão ser reconduzidos 1 (uma) vez, por decisão do Presidente da República”.

7 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


DIREITO ADMINISTRATIVO
Outra garantia dos dirigentes que reforça a autonomia do BACEN é a previsão de que o
Presidente da República não poderá demitir um dirigente do Banco por vontade própria sem a
validação do Senado, o que reduz as chances de interferências políticas na condução da política
monetária. Veja, nesse sentido, a redação do art. 5º da LC nº 179/2021:

Art. 5º O Presidente e os Diretores do Banco Central do Brasil serão


exonerados pelo Presidente da República:
I - a pedido;
II - no caso de acometimento de enfermidade que incapacite o titular para
o exercício do cargo;
III - quando sofrerem condenação, mediante decisão transitada em julgado
ou proferida por órgão colegiado, pela prática de ato de improbidade
administrativa ou de crime cuja pena acarrete, ainda que temporariamente,
a proibição de acesso a cargos públicos;
IV - quando apresentarem comprovado e recorrente desempenho
insuficiente para o alcance dos objetivos do Banco Central do Brasil.
§ 1º Na hipótese de que trata o inciso IV do caput deste artigo, compete
ao Conselho Monetário Nacional submeter ao Presidente da República
a proposta de exoneração, cujo aperfeiçoamento ficará condicionado à
prévia aprovação, por maioria absoluta, do Senado Federal. (Grifos nossos.)

Por fim, importante ressaltar que a autonomia conferida ao BACEN não é sinônimo de
independência, já que, conforme determina o art. 2º da lei em comento, “as metas de política
monetária serão estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional, competindo privativamente
ao Banco Central do Brasil conduzir a política monetária necessária para cumprimento das metas
estabelecidas”. Assim, o BACEN deverá perseguir as metas definidas pelo CMN.

1.3. Questão inédita comentada

Relativamente ao BACEN, autarquia federal que tem por objetivo fundamental assegurar a
estabilidade de preços, assinale a alternativa incorreta:

A) O BACEN é uma autarquia de natureza especial, dotada de autonomia administrativa e financeira.


B) Os dirigentes do BACEN não podem ser exonerados livremente pelo Presidente da República.
C) O mandato de todos os membros da Diretoria Colegiada do BACEN tem a mesma duração e
início simultâneo.
D) O BACEN é uma autarquia especial, vinculada ao Ministério da Economia.
E) Cabe ao BACEN, privativamente, conduzir a política monetária necessária para cumprimento
das metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional.
8 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS
DIREITO ADMINISTRATIVO

Alternativa correta: letra D. Nos termos do art. 6º da LC nº 179/2021, o “Banco Central do Brasil
é autarquia de natureza especial caracterizada pela ausência de vinculação a Ministério, de tutela
ou de subordinação hierárquica, pela autonomia técnica, operacional, administrativa e financeira, pela
investidura a termo de seus dirigentes e pela estabilidade durante seus mandatos, bem como
pelas demais disposições constantes desta Lei Complementar ou de leis específicas destinadas à
sua implementação”.

Demais alternativas:

Alternativa A. A afirmação está correta porque, nos termos do contido no art. 6º da LC nº


179/2021, o “Banco Central do Brasil é autarquia de natureza especial caracterizada pela ausência
de vinculação a Ministério, de tutela ou de subordinação hierárquica, pela autonomia técnica,
operacional, administrativa e financeira”.

Alternativa B. A competência para exonerar o presidente e os diretores do Banco Central


do Brasil é do Presidente da República. Porém, não se admite a livre-exoneração e, nesse sentido,
as hipóteses de exoneração estão expressas no art. 5º, incisos I a IV, da LC nº 179/2021, e são as
seguintes: “I - a pedido; II - no caso de acometimento de enfermidade que incapacite o titular para
o exercício do cargo; III - quando sofrerem condenação, mediante decisão transitada em julgado ou
proferida por órgão colegiado, pela prática de ato de improbidade administrativa ou de crime cuja
pena acarrete, ainda que temporariamente, a proibição de acesso a cargos públicos; IV - quando
apresentarem comprovado e recorrente desempenho insuficiente para o alcance dos objetivos do
Banco Central do Brasil”.

Alternativa C. A duração dos mandatos dos diretores é a mesma, qual seja, quatro anos.
Todavia, não há simultaneidade no início porque os incisos I a IV do § 2º do art. 4º estabelecem uma
escala: “I - 2 (dois) Diretores terão mandatos com início no dia 1º de março do primeiro ano de mandato
do Presidente da República; II - 2 (dois) Diretores terão mandatos com início no dia 1º de janeiro do
segundo ano de mandato do Presidente da República; III - 2 (dois) Diretores terão mandatos com início
no dia 1º de janeiro do terceiro ano de mandato do Presidente da República; e IV - 2 (dois) Diretores
terão mandatos com início no dia 1º de janeiro do quarto ano de mandato do Presidente da República”.

Alternativa E. A afirmação está correta, conforme estabelece o art. 2º da LC nº 179/2021, cujo


teor é o seguinte: “As metas de política monetária serão estabelecidas pelo Conselho Monetário
Nacional, competindo privativamente ao Banco Central do Brasil conduzir a política monetária
necessária para cumprimento das metas estabelecidas”.

9 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


DIREITO AMBIENTAL
1. L
 ei nº 14.119, de 13 de janeiro de 2021 - Política Nacional de
Pagamento por Serviços Ambientais
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.119, DE 13 DE JANEIRO DE 2021


Ementa: Institui a Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais; e altera as Leis
nºs 8.212, de 24 de julho de 1991, 8.629, de 25 de fevereiro de 1993, e 6.015, de 31 de
dezembro de 1973, para adequá-las à nova política.
Data de publicação: 14.01.2021 e retificada em 15.01.2021
Início de vigência: 15.01.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/
Lei/L14119.htm>  
Destaques:
• A lei disciplina importantes instrumentos de preservação ambiental, de forma sistemati-
zada, instituindo o Programa Federal de Pagamento por Serviços Ambientais, concretizando
o art. 225 da CF/1988 por meio da atividade de fomento do Poder Público.

• Além de trazer novos conceitos, como o de pagador e provedor de serviços ambientais,


trata das modalidades de pagamento, como os títulos verdes (green bonds) e as cotas de
reserva ambiental (CRA).

• Traz um rol explicitando os casos que podem ser objeto do Programa Federal de Pagamento
por Serviços Ambientais, em seu art. 8º, merecendo destaque as terras indígenas, os
territórios quilombolas e outras áreas legitimamente ocupadas por populações tradicionais,
mediante consulta prévia, nos termos da Convenção nº 169 da Organização Internacional
do Trabalho (OIT) sobre Povos Indígenas e Tribais.

1.2. Comentário

Em 14.01.2021 foi publicada a Lei nº 14.119, com texto retificado em 15.01.2021, passando a viger
a partir de sua publicação.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo “institui a Política Nacional de Pagamento
por Serviços Ambientais; e altera as Leis nºs 8.212, de 24 de julho de 1991, 8.629, de 25 de fevereiro de
1993, e 6.015, de 31 de dezembro de 1973, para adequá-las à nova política”.

Trata-se de mais um importante passo do Estado brasileiro em direção à concretização do art.


225 da CF/1988, notadamente o direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
preservando-a para as presentes e futuras gerações.

10 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


DIREITO AMBIENTAL
A Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais funcionará de forma integrada às
demais políticas já existentes, nos termos do § 1º do art. 4º da lei:

§ 1º A PNPSA deverá integrar-se às demais políticas setoriais e ambientais,


em especial à Política Nacional do Meio Ambiente, à Política Nacional da
Biodiversidade, à Política Nacional de Recursos Hídricos, à Política Nacional
sobre Mudança do Clima, à Política Nacional de Educação Ambiental, às
normas sobre acesso ao patrimônio genético, sobre a proteção e o acesso
ao conhecimento tradicional associado e sobre a repartição de benefícios
para conservação e uso sustentável da biodiversidade e, ainda, ao Sistema
Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e aos serviços de
assistência técnica e extensão rural.

A lei traz as diretrizes, delimita o objeto, explicita o funcionamento do Programa Federal


de Pagamento Ambiental (PFPSA), menciona as ações a serem implementadas, traz os critérios de
aplicação menciona o contrato de pagamento por serviços ambientais, dentre outras questões.

Desses pontos, o objeto do PFPSA e as modalidades de pagamento pelos serviços ambientais


merecem maior atenção. 

Art. 8º Podem ser objeto do PFPSA:

I - áreas cobertas com vegetação nativa;

II - áreas sujeitas a restauração ecossistêmica, a recuperação da cobertura


vegetal nativa ou a plantio agroflorestal;

III - unidades de conservação de proteção integral, reservas extrativistas e


reservas de desenvolvimento sustentável, nos termos da Lei nº 9.985, de 18
de julho de 2000;

IV - terras indígenas, territórios quilombolas e outras áreas legitimamente


ocupadas por populações tradicionais, mediante consulta prévia, nos
termos da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT)
sobre Povos Indígenas e Tribais;

V - paisagens de grande beleza cênica, prioritariamente em áreas especiais


de interesse turístico;

VI - áreas de exclusão de pesca, assim consideradas aquelas interditadas ou


de reservas, onde o exercício da atividade pesqueira seja proibido transitória,
periódica ou permanentemente, por ato do poder público;

VII - áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade, assim definidas


por ato do poder público.

11 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


DIREITO AMBIENTAL
§ 1º (VETADO).

§ 2º Os recursos decorrentes do pagamento por serviços ambientais pela


conservação de vegetação nativa em terras indígenas serão aplicados em
conformidade com os planos de gestão territorial e ambiental de terras
indígenas, ou documentos equivalentes, elaborados pelos povos indígenas
que vivem em cada terra.

§ 3º Na contratação de pagamento por serviços ambientais em áreas


de exclusão de pesca, podem ser recebedores os membros de comu-
nidades tradicionais e os pescadores profissionais que, historicamente,
desempenhavam suas atividades no perímetro protegido e suas adjacências,
desde que atuem em conjunto com o órgão ambiental competente na
fiscalização da área.

Cabe ressaltar, todavia, que sua eficácia interna ocorrerá apenas após o decreto do presidente
da República, na forma do art. 84, IV, da CF/1988.

As modalidades de pagamento pelos serviços ambientais são assim explicitadas no art. 3º da lei:

Art. 3º São modalidades de pagamento por serviços ambientais, entre


outras:

I - pagamento direto, monetário ou não monetário;

II - prestação de melhorias sociais a comunidades rurais e urbanas;

III - compensação vinculada a certificado de redução de emissões por


desmatamento e degradação;

IV - títulos verdes (green bonds);

V - comodato;

VI - Cota de Reserva Ambiental (CRA), instituída pela Lei nº 12.651, de 25 de


maio de 2012.

§ 1º Outras modalidades de pagamento por serviços ambientais poderão ser


estabelecidas por atos normativos do órgão gestor da PNPSA.

§ 2º As modalidades de pagamento deverão ser previamente pactuadas


entre pagadores e provedores de serviços ambientais.

12 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


DIREITO AMBIENTAL
1.3. Questão inédita comentada

Em 14.01.2021, publicou-se a Lei nº 14.119/2021, que instituiu a Política Nacional de Pagamento


por Serviços Ambientais.

Em relação a ela, não podemos afirmar com correção que:

A) Traz como modalidade de pagamento os chamados green bonds (títulos verdes).

B) Pessoas físicas poderão se beneficiar de recursos públicos por serviços ambientais, ainda que
inadimplentes em relação a termo de ajustamento de conduta.

C) Podem ser objeto do Programa Federal de Pagamento por Serviços Ambientais áreas cobertas
com vegetação nativa.

D) De acordo com a lei, serviços ecossistêmicos são benefícios relevantes para a sociedade
gerados pelos ecossistemas, em termos de manutenção, recuperação ou melhoria das con-
dições ambientais.

E) Uma das modalidades de pagamento por serviços ambientais é o comodato.

Alternativa correta: letra B, porquanto a questão pede a incorreta. Nos termos do art. 10, I, fica
vedado nesse caso.

Art. 10. É vedada a aplicação de recursos públicos para pagamento por


serviços ambientais:

I - a pessoas físicas e jurídicas inadimplentes em relação a termo de


ajustamento de conduta ou de compromisso firmado com os órgãos
competentes com base nas Leis nos 7.347, de 24 de julho de 1985, e 12.651,
de 25 de maio de 2012;

II - referente a áreas embargadas pelos órgãos do Sisnama, conforme


disposições da Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012.

Alternativa A. Sim, em seu art. 3º, IV.

Art. 3º São modalidades de pagamento por serviços ambientais, entre


outras:

I - pagamento direto, monetário ou não monetário;

II - prestação de melhorias sociais a comunidades rurais e urbanas;

13 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


DIREITO AMBIENTAL
III - compensação vinculada a certificado de redução de emissões por
desmatamento e degradação;
IV - títulos verdes (green bonds);
V - comodato;
VI - Cota de Reserva Ambiental (CRA), instituída pela Lei nº 12.651, de 25
de maio de 2012.
§ 1º Outras modalidades de pagamento por serviços ambientais poderão ser
estabelecidas por atos normativos do órgão gestor da PNPSA.
§ 2º As modalidades de pagamento deverão ser previamente pactuadas
entre pagadores e provedores de serviços ambientais. (Grifos nossos.)

Alternativa C. Sim, conforme o art. 8º, I.

Art. 8º Podem ser objeto do PFPSA:


I - áreas cobertas com vegetação nativa;
II - áreas sujeitas a restauração ecossistêmica, a recuperação da cobertura
vegetal nativa ou a plantio agroflorestal;
III - unidades de conservação de proteção integral, reservas extrativistas e
reservas de desenvolvimento sustentável, nos termos da Lei nº 9.985, de 18
de julho de 2000;
IV - terras indígenas, territórios quilombolas e outras áreas legitimamente
ocupadas por populações tradicionais, mediante consulta prévia, nos
termos da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT)
sobre Povos Indígenas e Tribais;
V - paisagens de grande beleza cênica, prioritariamente em áreas especiais
de interesse turístico;
VI - áreas de exclusão de pesca, assim consideradas aquelas interditadas ou
de reservas, onde o exercício da atividade pesqueira seja proibido transitória,
periódica ou permanentemente, por ato do poder público;
VII - áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade, assim definidas
por ato do poder público.
§ 1º (VETADO).
§ 2º Os recursos decorrentes do pagamento por serviços ambientais pela
conservação de vegetação nativa em terras indígenas serão aplicados em
conformidade com os planos de gestão territorial e ambiental de terras
indígenas, ou documentos equivalentes, elaborados pelos povos indígenas
que vivem em cada terra.

14 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


DIREITO AMBIENTAL
§ 3º Na contratação de pagamento por serviços ambientais em áreas de
exclusão de pesca, podem ser recebedores os membros de comunidades
tradicionais e os pescadores profissionais que, historicamente, desem-
penhavam suas atividades no perímetro protegido e suas adjacências, desde
que atuem em conjunto com o órgão ambiental competente na fiscalização
da área. (Grifos nossos.)

Alternativa D. Sim, conforme o art. 2º, II, abrangendo as espécies de serviços de provisão, de
suporte, de regulação e culturais.

Art. 2º Para os fins desta Lei, consideram-se:

I - serviços ecossistêmicos: benefícios relevantes para a sociedade gerados


pelos ecossistemas, em termos de manutenção, recuperação ou melhoria
das condições ambientais, nas seguintes modalidades:

a) serviços de provisão: os que fornecem bens ou produtos ambientais


utilizados pelo ser humano para consumo ou comercialização, tais como
água, alimentos, madeira, fibras e extratos, entre outros;

b) serviços de suporte: os que mantêm a perenidade da vida na Terra, tais


como a ciclagem de nutrientes, a decomposição de resíduos, a produção,
a manutenção ou a renovação da fertilidade do solo, a polinização, a
dispersão de sementes, o controle de populações de potenciais pragas e de
vetores potenciais de doenças humanas, a proteção contra a radiação solar
ultravioleta e a manutenção da biodiversidade e do patrimônio genético;

c) serviços de regulação: os que concorrem para a manutenção da estabilidade


dos processos ecossistêmicos, tais como o sequestro de carbono, a purificação
do ar, a moderação de eventos climáticos extremos, a manutenção do equilíbrio
do ciclo hidrológico, a minimização de enchentes e secas e o controle dos
processos críticos de erosão e de deslizamento de encostas;

d) serviços culturais: os que constituem benefícios não materiais providos


pelos ecossistemas, por meio da recreação, do turismo, da identidade
cultural, de experiências espirituais e estéticas e do desenvolvimento
intelectual, entre outros;

Alternativa E. Exatamente, nos termos do art. 3º, V.

Art. 3º São modalidades de pagamento por serviços ambientais, entre


outras:

V - comodato; (...). (Grifos nossos.)

15 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


DIREITO CIVIL
1. Lei nº 14.118/2021 - Programa Casa Verde e Amarela
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.118/2021
Ementa: Institui o Programa Casa Verde e Amarela; altera as Leis nºs 8.036, de 11 de maio de
1990, 8.100, de 5 de dezembro de 1990, 8.677, de 13 de julho de 1993, 11.124, de 16
de junho de 2005, 11.977, de 7 de julho de 2009, 12.024, de 27 de agosto de 2009,
13.465, de 11 de julho de 2017, e 6.766, de 19 de dezembro de 1979; e revoga a Lei nº
13.439, de 27 de abril de 2017.
Data de publicação: 13.01.2021
Início de vigência: 13.01.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/
Lei/L14118.htm>
Destaques:
• A lei possui a finalidade de promover o direito à moradia a famílias residentes em áreas
urbanas com renda mensal de até R$ 7.000,00 (sete mil reais) e a famílias residentes em
áreas rurais com renda anual de até R$ 84.000,00 (oitenta e quatro mil reais).
• Disciplina o objetivo do programa em ampliar e promover a melhoria do estoque de
moradias; estimular a modernização do setor da construção e a inovação tecnológica;
promover o desenvolvimento institucional e a capacitação dos agentes públicos e privados
responsáveis pela promoção do programa; estimular a inserção de microempresas, de
pequenas empresas e de microempreendedores individuais do setor da construção civil e
de entidades privadas sem fins lucrativos.
• Disponibiliza as unidades habitacionais aos beneficiários sob a forma de cessão, doação,
locação, comodato, arrendamento ou venda, mediante financiamento ou não, em contrato
subsidiado ou não, total ou parcialmente.
• Determina que o contrato e o registro do imóvel serão feitos, preferencialmente, em
nome da mulher. Se for chefe de família não necessitará da concordância do marido. Na
dissolução de união estável, separação ou divórcio, o título de propriedade do imóvel será
registrado em nome da mulher ou a ela transferido, independentemente do regime de
bens aplicável, excetuadas as operações firmadas com recursos do FGTS, e na hipótese da
guarda dos filhos exclusiva do homem. Eventuais prejuízos sofridos decorrentes da regra
serão solucionados em demandas indenizatórias.
• Estabelece no prazo máximo de cinco dias da ciência do ato de turbação ou esbulho
do empreendimento habitacional, que poderão ser empregados atos de defesa ou de
desforço diretos, inclusive por meio do auxílio de força policial.
• Considerou amplamente o rol de responsáveis para fins de parcelamento do solo urbano
e permitiu a prorrogação, por igual período, do prazo de quatro anos para a execução das
obras necessárias ao loteamento.

16 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


DIREITO CIVIL
1.2. Comentário

Em 13.01.2021, em razão da conversão da Medida Provisória nº 996/2020, foi publicada a Lei nº


14.118, com início imediato de vigência.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo “institui o Programa Casa Verde e Amarela;
altera as Leis nºs 8.036, de 11 de maio de 1990, 8.100, de 5 de dezembro de 1990, 8.677, de 13 de julho
de 1993, 11.124, de 16 de junho de 2005, 11.977, de 7 de julho de 2009, 12.024, de 27 de agosto de
2009, 13.465, de 11 de julho de 2017, e 6.766, de 19 de dezembro de 1979; e revoga a Lei nº 13.439, de
27 de abril de 2017”.

Em seu art. 1º a lei estabeleceu a sua principal “finalidade de promover o direito à moradia
a famílias residentes em áreas urbanas com renda mensal de até R$ 7.000,00 (sete mil reais) e a
famílias residentes em áreas rurais com renda anual de até R$ 84.000,00 (oitenta e quatro mil
reais), associado ao desenvolvimento econômico, à geração de trabalho e de renda e à elevação dos
padrões de habitabilidade e de qualidade de vida da população urbana e rural”.

Ainda, a lei relacionou os objetivos do Programa Casa Verde e Amarela, nos incisos do seu
art. 3º, in verbis:

Art. 3º São objetivos do Programa Casa Verde e Amarela:

I - ampliar o estoque de moradias para atender às necessidades habita-


cionais, sobretudo da população de baixa renda;

II - promover a melhoria do estoque existente de moradias para reparar as


inadequações habitacionais, incluídas aquelas de caráter fundiário, edilício,
de saneamento, de infraestrutura e de equipamentos públicos;

III - estimular a modernização do setor da construção e a inovação tecno-


lógica com vistas à redução dos custos, à sustentabilidade ambiental e à
melhoria da qualidade da produção habitacional, com a finalidade de ampliar
o atendimento pelo Programa Casa Verde e Amarela;

IV - promover o desenvolvimento institucional e a capacitação dos agentes


públicos e privados responsáveis pela promoção do Programa Casa Verde
e Amarela, com o objetivo de fortalecer a sua ação no cumprimento de suas
atribuições; e

V - estimular a inserção de microempresas, de pequenas empresas e de


microempreendedores individuais do setor da construção civil e de entidades
privadas sem fins lucrativos nas ações do Programa Casa Verde e Amarela.

17 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


DIREITO CIVIL
Por sua vez, a lei definiu que “as unidades habitacionais produzidas pelo Programa Casa Verde
e Amarela poderão ser disponibilizadas aos beneficiários sob a forma de cessão, de doação, de
locação, de comodato, de arrendamento ou de venda, mediante financiamento ou não, em contrato
subsidiado ou não, total ou parcialmente, conforme previsto em regulamento”, nos termos do que
dispõe o art. 8º, § 6º.

Será vedada a concessão de subsídios econômicos para aquisição de unidade habitacional por
pessoa física, titular de contrato de financiamento obtido com recursos do FGTS ou para pessoa
que seja proprietária, promitente compradora ou titular de direito de aquisição, de arrendamento,
de usufruto ou de uso de imóvel residencial, ou ainda que tenha recebido, nos últimos dez anos,
benefícios similares, dispositivo tratado no art. 12 da lei:

Art. 12. É vedada a concessão de subvenções econômicas com a finalidadede


aquisição de unidade habitacional por pessoa física que:

I - seja titular de contrato de financiamento obtido com recursos do FGTS


ou em condições equivalentes às do Sistema Financeiro da Habitação,
emqualquer parte do País;

II - seja proprietária, promitente compradora ou titular de direito de aqui-


sição, de arrendamento, de usufruto ou de uso de imóvel residencial, regular,
com padrão mínimo de edificação e de habitabilidade definido pelas regras
da administração municipal, e dotado de abastecimento de água, de solução
de esgotamento sanitário e de atendimento regular de energia elétrica, em
qualquer parte do País; ou

III - tenha recebido, nos últimos 10 (dez) anos, benefícios similares oriundos
de subvenções econômicas concedidas com o orçamento geral da União e
com recursos do FAR, do FDS ou de descontos habitacionais concedidos
com recursos do FGTS, excetuados as subvenções ou os descontos
destinados à aquisição de material de construção ou o Crédito Instalação,
disponibilizados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(Incra), na forma prevista em regulamento.

§ 1º O disposto no caput deste artigo, observada a legislação específica


relativa à fonte de recursos, não se aplica à família que se enquadre em uma
ou mais das seguintes hipóteses:

I - tenha tido propriedade de imóvel residencial de que se tenha desfeito,


por força de decisão judicial, há pelo menos 5 (cinco) anos;

18 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


DIREITO CIVIL
II - tenha tido propriedade em comum de imóvel residencial, desde que dele
se tenha desfeito, em favor do coadquirente, há pelo menos 5 (cinco) anos;

III - tenha propriedade de imóvel residencial havida por herança ou doação,


em condomínio, desde que a fração seja de até 40% (quarenta por cento),
observada a regulamentação específica da fonte de recurso que tenha
financiado o imóvel;

IV - tenha propriedade de parte de imóvel residencial, em fração não supe-


rior a 40% (quarenta por cento);

V - tenha tido propriedade anterior, em nome do cônjuge ou do compa-


nheiro do titular da inscrição, de imóvel residencial do qual se tenha desfeito,
antes da união do casal, por meio de instrumento de alienação devidamente
registrado no cartório competente; e

VI - tenha nua propriedade de imóvel residencial gravado com cláusula de


usufruto vitalício e tenha renunciado a esse usufruto.

§ 2º O disposto no caput deste artigo não se aplica às subvenções econômicas


destinadas a:

I - realização de obras e serviços de melhoria habitacional para assistênciaa


famílias;

II - atendimento de famílias envolvidas em operações de reassentamento,


de remanejamento ou de substituição de moradia; e

III - atendimento de famílias desabrigadas que tenham perdido o seu único


imóvel em razão de situação de emergência ou de estado de calamidade
pública reconhecidos pela União.

Cabe ressaltar que o art. 13 da lei estabeleceu que “os contratos e os registros efetivados no
âmbito do Programa Casa Verde e Amarela serão formalizados, preferencialmente, em nome da
mulher e, na hipótese de esta ser chefe de família, poderão ser firmados independentemente da
outorga do cônjuge, afastada a aplicação do disposto nos arts. 1.647, 1.648 e 1.649 da Lei nº 10.406,
de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil)”.

No mesmo sentido, estabeleceram os arts. 14 e 15, que seguem:

Art. 14. Nas hipóteses de dissolução de união estável, separação ou divórcio,


o título de propriedade do imóvel adquirido, construído ou regularizado
pelo Programa Casa Verde e Amarela na constância do casamento ou
da união estável será registrado em nome da mulher ou a ela transferido,
independentemente do regime de bens aplicável, excetuadas as operações
de financiamento habitacional firmadas com recursos do FGTS.

19 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


Parágrafo único. Na hipótese de haver filhos do casal e a guarda ser
atribuída exclusivamente ao homem, o título da propriedade do imóvel
construído ou adquirido será registrado em seu nome ou a ele transferido,
revertida a titularidade em favor da mulher caso a guarda dos filhos seja a
ela posteriormente atribuída.

Art. 15. Os prejuízos sofridos pelo cônjuge ou pelo companheiro em razão


do disposto nos arts. 13 e 14 desta Lei serão resolvidos em perdas e danos.

A citada preferência já constava da Lei nº 11.977/2009 (posteriormente alterada pela Lei nº


12.693/2012), mas foi reproduzida com a intenção de promover o bem-estar da família. Insta frisar
que há quem defenda a inconstitucionalidade do regramento por favorecer a mulher, violando o art.
5º, inciso I, da Constituição Federal (CF) de 1988.

A lei também destaca que “para garantia da posse legítima dos empreendimentos habitacionais
adquiridos ou construídos pelo Programa Casa Verde e Amarela ainda não alienados aos beneficiários
finais que venham a sofrer turbação ou esbulho, poderão ser empregados atos de defesa ou de
desforço diretos, inclusive por meio do auxílio de força policial”, nos termos do que dispõe seu art. 16,
bem como disciplinam os §§ 1º e 2º, in verbis:

§ 1º O auxílio de força policial a que se refere o caput deste artigo poderá estar
previsto no instrumento firmado ou em outro que venha a ser estabelecido
entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.

§ 2º Os atos de defesa ou de desforço a que se refere o caput deste artigo


não poderão ir além do indispensável à manutenção ou à restituição da
posse e deverão ocorrer no prazo máximo de 5 (cinco) dias, contado da data
de ciência do ato de turbação ou de esbulho.

Por fim, a nova legislação também trouxe alterações à Lei nº 6.766/1979, passando a considerar
amplamente o rol de responsáveis para fins de parcelamento do solo urbano, bem como permitiu a
prorrogação, por igual período, do prazo de quatro anos para a execução das obras necessárias ao
loteamento, nos termos do que dispõe o seu art. 24.

1.3. Questão inédita comentada

A Lei nº 14.118/2021 instituiu o Programa Casa Verde e Amarela, visando promover o direito
à moradia a famílias residentes em áreas urbanas e rurais. Quanto à renda das famílias, assinale a
alternativa correta:

20 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


DIREITO CIVIL
A) O Programa Casa Verde e Amarela tem a finalidade de promover o direito à moradia a famí-
lias residentes em áreas urbanas com renda mensal de até R$ 7.000,00 (sete mil reais) e a famílias
residentes em áreas rurais com renda anual de até R$ 84.000,00 (oitenta e quatro mil reais).

B) O Programa Casa Verde e Amarela tem a finalidade de promover o direito à moradia a famí-
lias residentes em áreas urbanas com renda mensal de até R$ 10.000,00 (dez mil reais) e a famílias
residentes em áreas rurais com renda mensal de até R$ 15.000,00 (quinze mil reais).

C) O Programa Casa Verde e Amarela tem a finalidade de promover o direito à moradia a famí-
lias residentes em áreas urbanas com renda mensal de até R$ 10.000,00 (dez mil reais) e a famílias
residentes em áreas rurais com renda mensal de até R$ 64.000,00 (sessenta e quatro mil reais).

D) O Programa Casa Verde e Amarela tem a finalidade de promover o direito à moradia a famí-
lias residentes em áreas urbanas com renda mensal de até R$ 5.000,00 (cinco mil reais) e a famílias
residentes em áreas rurais com renda anual de até R$ 84.000,00 (oitenta e quatro mil reais).

E) O Programa Casa Verde e Amarela tem a finalidade de promover o direito à moradia a famí-
lias residentes em áreas urbanas com renda mensal de até R$ 7.000,00 (sete mil reais) e a famílias
residentes em áreas rurais com renda mensal de até R$ 15.000,00 (quinze mil reais).

Alternativa correta: letra “A”. Conforme dispõe o art. 1º da Lei nº 14.118/2021, o Programa Casa
Verde e Amarela foi instituído com o objetivo de promover o direito à moradia a famílias residentes em
áreas urbanas com renda mensal de até R$ 7.000,00 (sete mil reais) e a famílias residentes em área
rurais com renda anual de até R$ 84.000,00 (oitenta e quatro mil reais), associado ao desenvolvimento
econômico, à geração de renda e de trabalho bem como a elevação dos padrões de habitabilidade
e da qualidade de vida da população rural e urbana.

Alternativa B. Está incorreta, tendo em vista o que dispõe o art. 1º da Lei nº 14.118/2021.
O Programa Casa Verde e Amarela foi instituído com o objetivo de promover o direito à moradia
a famílias residentes em áreas urbanas com renda mensal de até R$ 7.000,00 (sete mil reais)
e a famílias residentes em área rurais com renda anual de até R$ 84.000,00 (oitenta e quatro mil
reais), associado ao desenvolvimento econômico, à geração de renda e de trabalho bem como a
elevação dos padrões de habitabilidade e da qualidade de vida da população rural e urbana.

21 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


DIREITO CIVIL
Alternativa C. Está incorreta. Conforme dispõe o art. 1º da Lei nº 14.118/2021. O Programa Casa
Verde e Amarela foi instituído com o objetivo de promover o direito à moradia a famílias residentes em
áreas urbanas com renda mensal de até R$ 7.000,00 (sete mil reais) e a famílias residentes em área
rurais com renda anual de até R$ 84.000,00 (oitenta e quatro mil reais), associado ao desenvolvimento
econômico, à geração de renda e de trabalho bem como a elevação dos padrões de habitabilidade e
da qualidade de vida da população rural e urbana.

Alternativa D. Está incorreta, pois, segundo o art. 1º da Lei nº 14.118/2021, o Programa Casa Verde
e Amarela foi instituído com o objetivo de promover o direito à moradia a famílias residentes em áreas
urbanas com renda mensal de até R$ 7.000,00 (sete mil reais) e a famílias residentes em área rurais
com renda anual de até R$ 84.000,00 (oitenta e quatro mil reais), associado ao desenvolvimento
econômico, à geração de renda e de trabalho bem como a elevação dos padrões de habitabilidade e
da qualidade de vida da população rural e urbana.

Alternativa E. Está incorreta, pois está em desacordo com o que dispõe a literalidade do o art.
1º da Lei nº 14.118/2021. O Programa Casa Verde e Amarela foi instituído com o objetivo de promover
o direito à moradia a famílias residentes em áreas urbanas com renda mensal de até R$ 7.000,00
(sete mil reais) e a famílias residentes em área rurais com renda anual de até R$ 84.000,00 (oitenta e
quatro mil reais), associado ao desenvolvimento econômico, à geração de renda e de trabalho, bem
como a elevação dos padrões de habitabilidade e da qualidade de vida da população rural e urbana.

22 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


DIREITO DO TRABALHO
1. M
 edida Provisória (MP) nº 1.029, de 10 de fevereiro de 2021 -
Exercício da profissão de tripulante de aeronave

1.1. Ficha normativa

MP Nº 1.029, DE 10 DE FEVEREIRO DE 2021


Ementa: Altera a Lei nº 13.475, de 28 de agosto de 2017, que dispõe sobre o exercício da
profissão de tripulante de aeronave, denominado aeronauta.
Data de publicação: 10.02.2021
Início de vigência: 10.02.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/
Mpv/mpv1029.htm>
Destaque:
• A Medida Provisória (MP) nº 1.029/2021, acrescentou um parágrafo ao art. 20 da Lei nº
13.475/17 (Lei do Aeronauta), para admitir a terceirização dos tripulantes a bordo de
aeronave quando o operador da aeronave for órgão ou entidade da administração pública,
no exercício de missões institucionais ou de poder de polícia.

1.2. Comentário

A Lei nº 13.475/2017 (Lei do Aeronauta) dispõe sobre o exercício das profissões de piloto de
aeronave, comissário de voo e mecânico de voo, denominados aeronauta.

O art. 20 estabelece que o contrato de trabalho dos tripulantes a bordo deve ser firmado
diretamente com o operador da aeronave, obrigatoriamente.

No entanto, a MP nº 1.029, de 2021, acrescentou um parágrafo ao art. 20 da Lei do Aeronauta,


estabelecendo que o disposto acima “não se aplica quando o operador da aeronave for órgão ou
entidade da administração pública, no exercício de missões institucionais ou de poder de polícia”.

Com isso, possibilita a terceirização de tripulantes quando o operador da aeronave for órgão
ou entidade da administração pública, no exercício de missões institucionais ou de poder de polícia.
As alterações promovidas admitem que, nesse caso, o contrato de trabalho seja firmado não com o
órgão público contratante, chamado na lei de “operador”, mas, sim, diretamente com as empresas
donas da aeronave.

23 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


DIREITO DO TRABALHO

1.3. Questão inédita comentada

Sobre o exercício da profissão de tripulante de aeronave, denominado aeronauta, é


correto afirmar:

A) A função remunerada dos tripulantes a bordo de aeronave deverá ser sempre formalizada por
meio de contrato de trabalho firmado diretamente com o operador da aeronave.

B) Nos casos em que o operador da aeronave é órgão ou entidade da administração pública, no


exercício de missões institucionais, a função remunerada dos tripulantes deve ser formalizada
por meio de contrato de trabalho firmado diretamente com o operador da aeronave.

C) Nos casos em que o operador da aeronave é órgão ou entidade da administração pública, no


exercício de poder de polícia, a função remunerada dos tripulantes deve ser formalizada por meio
de contrato de trabalho firmado diretamente com o operador da aeronave.

D) Nos casos em que o operador da aeronave for órgão ou entidade da administração pública, no
exercício de missões institucionais ou de poder de polícia, a função remunerada dos tripulantes a
bordo de aeronave deve ser formalizada por meio de contrato de trabalho firmado diretamente
com a empresa dona da aeronave.

Alternativa correta: letra D (responde a todas as alternativas). Nos termos do art. 20, § 4º, da
Lei nº 13.475/2017, nos casos em que o operador da aeronave for órgão ou entidade da administração
pública, no exercício de missões institucionais ou de poder de polícia, a função remunerada dos
tripulantes a bordo de aeronave deverá sempre ser formalizada por meio de contrato de trabalho
firmado diretamente com a empresa dona da aeronave, e não mais com o órgão público contratante:

Art. 20. A função remunerada dos tripulantes a bordo de aeronave deverá,


obrigatoriamente, ser formalizada por meio de contrato de trabalho firmado
diretamente com o operador da aeronave. (...)

§ 4º O disposto neste artigo não se aplica quando o operador da aeronave


for órgão ou entidade da administração pública, no exercício de missões
institucionais ou de poder de polícia. (Incluído pela MP nº 1.029, de 2021.)

24 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


DIREITO FINANCEIRO
1. L
 ei Complementar (LC) nº 178 - Programa de Acompanhamento e
Transparência Fiscal e Plano de Promoção do Equilíbrio Fiscal
1.1. Ficha normativa

LC Nº 178
Ementa: Estabelece o Programa de Acompanhamento e Transparência Fiscal e o Plano de
Promoção do Equilíbrio Fiscal; altera a LC nº 101, de 4 de maio de 2000, a LC nº 156,
de 28 de dezembro de 2016, a LC nº 159, de 19 de maio de 2017, a LC nº 173, de 27
de maio de 2020, a Lei nº 9.496, de 11 de setembro de 1997, a Lei nº 12.348, de 15 de
dezembro de 2010, a Lei nº 12.649, de 17 de maio de 2012, e a MP nº 2.185-35, de 24
de agosto de 2001; e dá outras providências.
Data de publicação: 13.01.2021
Início de vigência: 13.01.2021
Diferenciada:
Art. 51 da LC nº 101/2000 – vigência a partir de 2022
Art. 42 da LC nº 101/2000 – vigência a partir de 2023
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp178.htm#art16> 
Destaques:
• Os entes federativos que ultrapassem o teto de limite de gastos com pessoal devem realizar
a redução em 10% anualmente a partir de 2023 do excesso no dispêndio laboral.
• Com relação ao cálculo com despesa de pessoal a LC nº 178/2021 alterou a Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF) definindo que o cálculo deve ser realizado adotando-se o
regime de competência independentemente de empenho, e a referida apuração da renda
bruta total com pessoal não contabiliza dedução ou retenção, salvo o valor que extrapola
o teto salarial do funcionalismo público.
• Tratou também das deduções brutas com os pensionistas desde que custo esteja coberto
pelos recursos pertencentes ao regime próprio de previdência. E em caso de desequilíbrio
no Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) a transferência de aportes atuariais à
entidade ou fundo são obrigatórios, com posterior e gradativo desconto na forma definida
pelo Ministério da Previdência.
• Os entes podem alterar a finalidade da operação de crédito sem a necessidade de nova
verificação pelo Ministério da Economia.
• Realização de consulta pública prévia para que os entes se manifestem sobre alteração de
metodologia com relação à classificação da capacidade de pagamento pelos entes.
• Com relação à fiscalização da gestão fiscal o diploma legal considerou que os controles
interno e externo fiscalizarão a gestão fiscal considerando a padronização do Conselho
Nacional de Gestão Fiscal.

25 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


DIREITO FINANCEIRO
1.2. Comentário

Em 13.01.2021, a LC nº 178 foi publicada pela Lei nº 14.065, com início imediato de vigência,
ressalvados os arts. 42 e 51. O art. 42 tem vigência prevista para o ano 2023, enquanto o art. 51 tem
vigência prevista para o ano de 2022, conforme o disposto no art. 32 da LC nº 178.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo autoriza “Estabelece o Programa de
Acompanhamento e Transparência Fiscal e o Plano de Promoção do Equilíbrio Fiscal; altera a Lei
Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, a Lei Complementar nº 156, de 28 de dezembro de
2016, a Lei Complementar nº 159, de 19 de maio de 2017, a Lei Complementar nº 173, de 27 de maio
de 2020, a Lei nº 9.496, de 11 de setembro de 1997, a Lei nº 12.348, de 15 de dezembro de 2010, a Lei
nº 12.649, de 17 de maio de 2012, e a Medida Provisória nº 2.185-35, de 24 de agosto de 2001; e dá
outras providências”.

Trata-se de lei que objetiva estabelecer o Programa de Ajuste Fiscal e com o agravamento
das contas públicas causado pelo advento da pandemia da Covid-19, o referido programa visa
oportunizar o reequilíbrio das contas.

Dentre os pontos transformadores trazidos pelo diploma, neste momento abordaremos as


inovações que tocam o direito financeiro, de forma especial, as alterações geradas na LRF.

Em relação à despesa pública com pessoal, estabelece alteração nos arts. 18, §§ 2º e 3º; 19, VI,
c e § 3º; 20, § 7º; e 23, § 3º, III.

Em primeiro momento, o ente federativo que extrapolar o teto de gasto com o regime de
pessoal deverá realizar a redução em 10% anualmente a partir de 2023 do excesso no dispêndio
laboral. E as penalidades pelo não ajuste das contas passam a ser aplicados no ano de 2023. Dentre
as penalidades encontram-se: não recebimento de transferência voluntária; impossibilidade de
contratar operações de crédito e rejeição do balanço anual. Esta previsão está esculpida no art. 15
da LC nº 178.

Art. 15. O Poder ou órgão cuja despesa total com pessoal  ao término do
exercício financeiro da publicação desta Lei Complementar estiver acima
de seu respectivo limite  estabelecido no  art.  20  da Lei Complementar
nº 101, de 4 de maio de 2000, deverá eliminar o excesso à razão de, pelo
menos, 10% (dez por cento) a cada exercício a partir de 2023, por meio da
adoção, entre outras, das medidas previstas nos arts. 22 e 23 daquela Lei
Complementar, de forma a se enquadrar no respectivo limite até o término
do exercício de 2032.

26 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


DIREITO FINANCEIRO
§ 1º A inobservância do disposto no caput no prazo fixado sujeita o ente às
restrições previstas no § 3º do art. 23 da Lei Complementar nº 101, de 4 de
maio de 2000.

§ 2º A comprovação acerca do cumprimento da regra de eliminação do


excesso de despesas com pessoal prevista no caput deverá ser feita no último
quadrimestre de cada exercício, observado o art. 18 da Lei Complementar
nº 101, de 4 de maio de 2000.

§ 3º Ficam suspensas as contagens de prazo e as disposições do art. 23 da


Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, no exercício financeiro de
publicação desta Lei Complementar.

§ 4º Até o encerramento do prazo a que se refere o caput, será considerado


cumprido o disposto no art. 23 da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de
2000, pelo Poder ou órgão referido no art. 20 daquela Lei Complementar
que atender ao estabelecido neste artigo.(Grifos nossos.)

Por outro lado, a LC nº 178/2021, ainda ao tratar da despesa de pessoal, desconsiderou do


cálculo da renda bruta dedução ou retenção, ressalvado os valores que ultrapassarem ao teto
do funcionalismo público previsto no art. 37, XI, da CF/1988. Ademais, o cálculo deve ser realizado
adotando-se o regime de competência independentemente de empenho. Por fim, com relação
às deduções de renda bruta referentes aos pensionistas, há previsão da cobertura dos recursos
pertencentes ao regime próprio de previdência e aportes em caso de desequilíbrio no RPPS.
Os Poderes possuem o dever de apurar a aplicação dos limites de gastos independentemente de
o custeio estar a cargo de outro Poder ou órgão. Então, sobre a despesa com pessoal, as alterações
encontram-se nos dispositivos da LC nº 101/2000:

Art. 18.  Para os efeitos desta Lei Complementar, entende-se como


despesa total com pessoal: o somatório dos gastos do ente da Federação
com os ativos, os inativos e os pensionistas, relativos a mandatos eletivos,
cargos, funções ou empregos, civis, militares e de membros de Poder, com
quaisquer espécies remuneratórias, tais como vencimentos e vantagens,
fixas e variáveis, subsídios, proventos da aposentadoria, reformas e pensões,
inclusive adicionais, gratificações, horas extras e vantagens pessoais de
qualquer natureza, bem como encargos sociais e contribuições recolhidas
pelo ente às entidades de previdência.

(...)

27 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


DIREITO FINANCEIRO
§ 2º A despesa total com pessoal será apurada somando-se a realizada
no mês em referência com as dos 11 (onze) imediatamente anteriores,
adotando-se o regime de competência, independentemente de empenho.
(Redação dada pela LC nº 178, de 2021.)

§ 3º Para a apuração da despesa total com pessoal, será observada a


remuneração bruta do servidor, sem qualquer dedução ou retenção,
ressalvada a redução para atendimento ao disposto no art. 37, inciso XI, da
Constituição Federal. (Incluído pela LC nº 178, de 2021.)

Art. 19.  Para os fins do disposto no  caput  do art. 169 da Constituição, a
despesa total com pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da
Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida,
a seguir discriminados:

(...)

VI - com inativos e pensionistas, ainda que pagas por intermédio de unidade


gestora única ou fundo previsto no art. 249 da Constituição Federal, quanto
à parcela custeada por recursos provenientes:  (Redação dada pela LC nº
178, de 2021.)

(...)

c) de transferências destinadas a promover o equilíbrio atuarial do regime


de previdência, na forma definida pelo órgão do Poder Executivo federal
responsável pela orientação, pela supervisão e pelo acompanhamento dos
regimes próprios de previdência social dos servidores públicos.  (Redação
dada pela LC nº 178, de 2021.)

(...)

§ 3º Na verificação do atendimento dos limites definidos neste artigo, é


vedada a dedução da parcela custeada com recursos aportados para a
cobertura do déficit financeiro dos regimes de previdência.(Incluído pela
LC nº 178, de 2021.)

Art. 20.  A repartição dos limites globais do art. 19 não poderá exceder os
seguintes percentuais:

(...)

§ 7º Os Poderes e órgãos referidos neste artigo deverão apurar, de forma


segregada para aplicação dos limites de que trata este artigo, a integralidade
das despesas com pessoal dos respectivos servidores inativos e pensionistas,
mesmo que o custeio dessas despesas esteja a cargo de outro Poder ou
órgão. (Incluído pela LC nº 178, de 2021.) (Grifos nossos.)

28 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


DIREITO FINANCEIRO
Por sua vez, os entes podem alterar a finalidade da operação de crédito dos estados, Distrito
Federal e municípios, sem que para tanto haja nova verificação pelo Ministério da Economia se houver
autorização prévia na lei orçamentária ou lei específica. Neste caso, será necessário demonstrar o
interesse econômico e social da alteração. É o previsto no novo parágrafo do art. 32 da LRF:

§ 7º Poderá haver alteração da finalidade de operação de crédito de Estados,


do Distrito Federal e de Municípios sem a necessidade de nova verificação
pelo Ministério da Economia, desde que haja prévia e expressa autorização
para tanto, no texto da lei orçamentária, em créditos adicionais ou em
lei específica, que se demonstre a relação custo-benefício e o interesse
econômico e social da operação e que não configure infração a dispositivo
desta Lei Complementar. (Incluído pela LC nº 178, de 2021.)

Ademais, a nova lei exige a realização de consulta pública prévia para alteração de metodologia
com relação à classificação da capacidade de pagamento pelos entes. Veja!

Art. 40. Os entes poderão conceder garantia em operações de crédito


internas ou externas, observados o disposto neste artigo, as normas do art.
32 e, no caso da União, também os limites e as condições estabelecidos pelo
Senado Federal e as normas emitidas pelo Ministério da Economia acerca
da classificação de capacidade de pagamento dos mutuários. (Redação
dada pela LC nº 178, de 2021.)

(...)

§ 11 A alteração da metodologia utilizada para fins de classificação da


capacidade de pagamento de Estados e Municípios deverá ser precedida
de consulta pública, assegurada a manifestação dos entes. (Incluído pela
LC nº 178, de 2021.)

Por fim, no exercício da fiscalização da gestão fiscal o controle interno e externo precisa
considerar a padronização do Conselho Nacional de Gestão Fiscal.

Art. 59. O Poder Legislativo, diretamente ou com o auxílio dos Tribunais


de Contas, e o sistema de controle interno de cada Poder e do Ministério
Público fiscalizarão o cumprimento desta Lei Complementar, consideradas
as normas de padronização metodológica editadas pelo conselho de que
trata o art. 67, com ênfase no que se refere a: (Redação dada pela LC nº 178,
de 2021.)

29 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


DIREITO FINANCEIRO
1.3. Questão inédita comentada

Conforme estabelece a LRF sobre a despesa de pessoal é correto afirmar:

A) A apuração da despesa total de pessoal depende de empenho.

B) Na apuração da despesa total de pessoal são observadas as reduções decorrentes do excedente
do teto remuneratório do funcionalismo público.

C) Na apuração do limite com despesa de pessoal são computadas as despesas com inativos e
pensionistas ainda que pago por unidade gestora.

D) O Ministério Público não pode de forma segregada do Poder Judiciário apurar o limite de gastos
com pessoal.

E) A parcela custeada com recursos aportados para a cobertura do déficit financeiro dos regimes de
previdência não entra no cálculo da verificação do limite das despesas com pessoal.

Alternativa correta: letra B. Nos termos da nova redação do § 3º, art. 18, incluído pela LC nº
178/2021, no qual, para a apuração da despesa total com pessoal, será observada a remuneração
bruta do servidor sem qualquer dedução ou retenção, ressalvada a redução para atendimento ao
disposto no art. 37, inciso XI, da CF/1988.

Alternativa A. A LRF prevê independe de empenho a apuração de despesa total com pessoal
(art. 18, § 2º, com redação dada pela LC nº 178/2021).

Art. 18. Para os efeitos desta Lei Complementar, entende-se como


despesa total com pessoal: o somatório dos gastos do ente da Federação
com os ativos, os inativos e os pensionistas, relativos a mandatos eletivos,
cargos, funções ou empregos, civis, militares e de membros de Poder, com
quaisquer espécies remuneratórias, tais como vencimentos e vantagens,
fixas e variáveis, subsídios, proventos da aposentadoria, reformas e pensões,
inclusive adicionais, gratificações, horas extras e vantagens pessoais de
qualquer natureza, bem como encargos sociais e contribuições recolhidas
pelo ente às entidades de previdência.

§ 2º A despesa total com pessoal será apurada somando-se a realizada


no mês em referência com as dos 11 (onze) imediatamente anteriores,
adotando-se o regime de competência, independentemente de empenho.
(Redação dada pela Lei Complementar nº 178, de 2021.)

30 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


DIREITO FINANCEIRO
Alternativa C. Quanto à apuração do limite de despesa de pessoal, não serão computadas as
despesas com os inativos e pensionistas, ainda que o pagamento seja realizado por unidade gestora
única ou fundo (art. 19, § 1º, VI, da LRF, com redação dada pela LC nº 178/2021).

Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a


despesa total com pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da
Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida,
a seguir discriminados:

§ 1º Na verificação do atendimento dos limites definidos neste artigo, não


serão computadas as despesas:

VI - com inativos e pensionistas, ainda que pagas por intermédio de unidade


gestora única ou fundo previsto no art. 249 da Constituição Federal, quanto
à parcela custeada por recursos provenientes: (Redação dada pela Lei
Complementar nº 178, de 2021.)

Alternativa D. O Ministério Público deve realizar a fiscalização da gestão fiscal e tem


independência para tanto (art. 59 da LRF, com redação dada pela LC nº 178/2021).

Art. 59. O Poder Legislativo, diretamente ou com o auxílio dos Tribunais


de Contas, e o sistema de controle interno de cada Poder e do Ministério
Público fiscalizarão o cumprimento desta Lei Complementar, consideradas
as normas de padronização metodológica editadas pelo conselho de
que trata o art. 67, com ênfase no que se refere a: (Redação dada pela Lei
Complementar nº 178, de 2021.)

Alternativa E. Fica vedada a dedução dos recursos aportados para a cobertura do déficit
financeiro dos regimes de previdência na verificação do atendimento do limite com despesa de
pessoal (art. 19, § 3º, da LRF, com redação dada pela LC nº 178/2021).

Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a


despesa total com pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da
Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida,
a seguir discriminados:

§ 3º Na verificação do atendimento dos limites definidos neste artigo, é


vedada a dedução da parcela custeada com recursos aportados para a
cobertura do déficit financeiro dos regimes de previdência. (Incluído pela
Lei Complementar nº 178, de 2021.)

31 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


DIREITO INTERNACIONAL
1. D
 ecreto Legislativo CN nº 01/2021 - Convenção Interamericana
contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas
de Intolerância

1.1. Ficha normativa

DECRETO LEGISLATIVO CN Nº 01/2021


Ementa: Aprova o texto da Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação
Racial e Formas Correlatas de Intolerância, adotada na Guatemala, por ocasião da
43ª Sessão Ordinária da Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos,
em 5 de junho de 2013.
Data de publicação: 19.02.2021
Início de vigência: 19.02.2021
Link do texto normativo: <https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/decreto-legislativo-30
4416057>
Destaques:
• A Convenção foi aprovada na forma do § 3º do art. 5º da Constituição Federal (CF/1988), e
terá status de emenda constitucional.
• O texto segue para ratificação pelo presidente da República nos termos do art. 84, IV, da
CF/1988, passando a ter força cogente no plano interno a partir daqui.
• Ao lado das Convenções de Nova York sobre Pessoas com Deficiência e do Tratado de
Marraqueche sobre inclusão de pessoas com deficiência visual, será o terceiro tratado de
direitos humanos aprovado na forma qualificada do § 3º do art. 5º da CF/1988: aprovação
por 3/5 em cada uma das Casas do Congresso Nacional, em dois turnos.

1.2. Comentário
Em 19.02.2021 foi promulgado pelo Congresso Nacional o Decreto Legislativo nº 01, de 2021.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo “aprova o texto da Convenção
Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de Intolerância,
adotada na Guatemala, por ocasião da 43ª Sessão Ordinária da Assembleia Geral da Organização
dos Estados Americanos, em 5 de junho de 2013”.

Trata-se de mais um importante passo do Estado brasileiro no combate ao racismo, crimina-


lizado no plano interno por meio da Lei nº 7.716/1989, a partir de mandamento de criminalização
presente na própria CF/1988, art. 5º, XLII: “a prática do racismo constitui crime inafiançável e
imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei”; além de representar, o combate ao
racismo, um princípio da República Federativa do Brasil em suas relações internacionais, nos termos
do inciso VIII do art. 4º.

32 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


DIREITO INTERNACIONAL
O Brasil já é signatário da Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas
de Discriminação Racial, no âmbito da Organização das Nações Unidas, internalizada por meio
do Decreto nº 65.810/1969, ostentando status supralegal, nos termos do Recurso Extraordinário
nº 466.343, por ser tratado de direitos humanos não internalizado nos termos do art. 5º, § 3º, da
CF/1988, assim como o Pacto de São José da Costa Rica.

A Convenção ora aprovada pelo Poder Legislativo faz parte do Sistema Regional Interame-
ricano, ao passo que a Convenção aprovada anteriormente faz parte do Sistema Global ou Onusiano.
Desse modo, a proteção de direitos humanos, em específico quanto às questões raciais, ganha mais
um reforço expresso, somando-se de forma salutar a todo o arcabouço normativo já existente.

A Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de


Intolerância é importantíssimo instrumento para a proteção dos direitos humanos e está a um passo
de ser incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro. O decreto legislativo em comento corporifica
a aprovação pelo Congresso Nacional, nos termos do art. 49, I, da CF/1988, faltando agora a
ratificação pelo presidente da República e, em consequência, a publicação do decreto presidencial,
quando será considerada internalizada ao direito brasileiro.

Em relação à mencionada Convenção, dois pontos merecem maior atenção: a forma de sua
aprovação e seu conceito de discriminação racial.

Quanto à forma de aprovação, ela se deu como previsto no art. 5º, § 3º, da CF/1988, cujo teor é
o seguinte:

Art. 5º (...)

§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que


forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos,
por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às
emendas constitucionais.

O conceito de discriminação racial da Convenção Interamericana é bastante largo, envolvendo


quaisquer áreas da vida pública ou privada, a exemplo da orientação sexual, em que pese o enfoque
principal diga respeito a raça, cor, ascendência ou origem nacional ou étnica, conforme deixa entrever
a parte final do artigo 1.1.
Artigo 1. Para os efeitos desta Convenção: 1. Discriminação racial é
qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência, em qualquer área
da vida pública ou privada, cujo propósito ou efeito seja anular ou restringir
o reconhecimento, gozo ou exercício, em condições de igualdade, de um
ou mais direitos humanos e liberdades fundamentais consagrados nos
instrumentos internacionais aplicáveis aos Estados Partes.

33 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


DIREITO INTERNACIONAL
A discriminação racial pode basear-se em raça, cor, ascendência ou origem
nacional ou étnica. (Grifos nossos.)

1.3. Questão inédita comentada

Em 19.02.2021, o Congresso Nacional, por meio do Decreto nº 01/2021, aprovou o texto


da Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de
Intolerância, adotada na Guatemala, por ocasião da 43ª Sessão Ordinária da Assembleia Geral da
Organização dos Estados Americanos, em 5 de junho de 2013, nos termos do § 3º do art. 5º da CF/1988.

Assim, podemos afirmar com correção que:

A) O texto aprovado considera-se automaticamente promulgado no âmbito interno.

B) Por se tratar de Convenção sobre Direitos Humanos, ostentará status supralegal, conforme
decidido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no RE nº 466.344.

C) Já produz efeitos para o Brasil em âmbito internacional.

D) 
Passa a substituir a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de
Discriminação Racial, promulgada pelo Decreto Presidencial nº 65.810/1969, vez que trata do
mesmo tema, sendo posterior.

E) Não poderá sofrer controle de convencionalidade em âmbito interno, ainda que devidamente
internalizado.

Alternativa correta: letra C. Nos termos do art. 49, I, da CF/1988, uma vez aprovadas pelo
Congresso Nacional, as Convenções que acarretem encargos ao Brasil passam a ostentar validade
no âmbito internacional, produzindo efeitos para o Brasil em relação aos compromissos assumidos.

Alternativa A. Para que seja promulgado, ostentando cogência no plano interno, necessita de um
decreto presidencial, na forma do art. 84, IV, CF/1988, vez que o Brasil adota a Teoria Dualista Moderada.

Alternativa B. O STF entendeu no recurso extraordinário referido pelo status supralegal da


Convenção Interamericana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), vez que não
aprovado na forma do § 3º do art. 5º da CF/1988, mas por tratar de direitos humanos.

Alternativa D. Não substitui, mas se soma a ela na proteção aos direitos humanos, porquanto
coexistentes os sistemas de proteção global e regionais de direitos humanos.

Alternativa E. Não somente poderá, como deverá servir de parâmetro para as normas internas
em controle de convencionalidade.

34 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
1. Medida Provisória (MP) nº 1.023 - Benefício de prestação continuada
1.1. Ficha normativa

MP Nº 1.023
Ementa: Altera a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, para dispor sobre o benefício de
prestação continuada.
Data de publicação: 31.12.2020
Início de vigência: 01.01.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/
Mpv/mpv1023.htm>
Destaque:
• A medida provisória trata do requisito da renda familiar para fins de obtenção do benefício
do amparo assistencial.

1.2. Comentário

Em 31.12.2020, a MP nº 1.023/2020 foi publicada, com início de vigência em 01.01.2021.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo “Altera a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de
1993, para dispor sobre o benefício de prestação continuada”.

Trata-se de mais uma inovação legal promovida na Lei da Assistência Social (LOAS). O benefício
de prestação continuada é devido às pessoas portadoras de deficiência e ao idoso que comprovem
não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família. No ano de
2020 o critério objetivo de renda mensal per capita mensal da família para fins do benefício foi alvo
de muitas mudanças.

Em relação à renda per capita mensal familiar para fins de obtenção do benefício, atualmente
a referida MP, estabelece no art. 20, § 3º, I, da LOAS, que:

§ 3º Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa com


deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja:

I - inferior a um quarto do salário mínimo;

35 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
De modo sistemático, observe a evolução legislativa sobre o critério objetivo da renda per capita:

Redação Redação dada Redação dada Redação dada


original da Lei nº pela Lei nº pela Lei nº pela MP nº
8.742/1993 13.981/2020 13.982/2020 1.023/2020

Art. 20, § 3º Art. 20, § 3º Art. 20, § 3º, I Art. 20, § 3º, I

Renda mensal Renda mensal Renda mensal Renda mensal


per capita inferior per capita inferior per capita igual per capita
a 1/4 do salário a 1/2 do salário ou inferior a 1/4 inferior a 1/4 do
mínimo mínimo do salário mínimo salário mínimo
até 31.12.2020

Portanto, guarde a tratativa legal do critério objetivo de renda per capita familiar para fins da
concessão do benefício assistencial levando em consideração que estamos diante de uma MP que
pode ser ou não convertida em lei.

1.3. Questão inédita comentada

O benefício de prestação continuada que garante um salário mínimo mensal à pessoa porta-
dora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção e
nem de tê-la provida por sua família, exigindo-se, a comprovação de renda per capita familiar:

A) 1/6 do valor do salário mínimo;

B) igual a 1/4 do salário mínimo;

C) inferior a 1/4 do salário mínimo;

D) igual a 1/4 do salário mínimo;

E) inferior a 1/3 do salário mínimo.

Alternativa correta: letra C (responde a todas as alternativas). Nos termos da atual redação
do art. 20, § 3º, I, da Lei nº 8.742/1993, o valor da renda per capita familiar deve ser inferior a 1/4 do
salário mínimo.

36 VADE MECUM COMENTADO DE NOVIDADES LEGISLATIVAS


SUMÁRIO

Março
2021

Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
1. Lei nº 14.124/2021 – Medidas excepcionais destinadas à vacinação
contra Covid-19
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.124/2021
Ementa: Dispõe sobre as medidas excepcionais relativas à aquisição de vacinas e de insumos
e à contratação de bens e serviços de logística, de tecnologia da informação e
comunicação, de comunicação social e publicitária e de treinamentos destinados
à vacinação contra a Covid-19, e sobre o Plano Nacional de Operacionalização da
Vacinação contra a Covid-19.
Data de publicação: 10.03.2021
Início de vigência: 10.03.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/
Lei/L14124.htm>
Destaques:
• A lei autoriza dispensa de licitação para que a Administração Pública direta e indireta
celebre contratos de aquisição de vacinas e insumos para vacinação contra a Covid-19,
mesmo que antes do registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ou
autorização temporária de uso emergencial.

• Autoriza dispensa de licitação para que a Administração Pública direta e indireta celebre
contratos de bens e serviços necessários para implementação da vacinação contra a
Covid-19.

• Autoriza compra, distribuição e aplicação de vacinas contra a Covid-19 por estados,


Distrito Federal e municípios, caso a União tenha atuação intempestiva.

• Autoriza, de forma excepcional e temporária, a importação e distribuição de vacinas,


medicamentos e outros insumos para combate à Covid-19 sem registro na Anvisa, desde
que haja aprovação ou registro por outras autoridades sanitárias, entre outros requisitos.

1.2. Comentário

No dia 10.03.2021 foi publicada e entrou em vigor a Lei nº 14.124/2021, com o objetivo de auxiliar
o enfrentamento à pandemia.

Conforme ementa da lei, o novel texto legislativo trata “sobre as medidas excepcionais relativas
à aquisição de vacinas e de insumos e à contratação de bens e serviços de logística, de tecnologia

38 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
da informação e comunicação, de comunicação social e publicitária e de treinamentos destinados à
vacinação contra a Covid-19 e sobre o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a
Covid-19”.

Tendo em vista a Covid-19 como medida excepcional, a lei autoriza a dispensa de licitação para
aquisição de vacinas, insumos para vacinação e para contratação de bens e serviços necessários
para implementação da vacinação.

Art. 2º Fica a administração pública direta e indireta autorizada a celebrar


contratos ou outros instrumentos congêneres, com dispensa de licitação,
para:

I ‒ ‒ a aquisição de vacinas e de insumos destinados à vacinação contra a


Covid-19, inclusive antes do registro sanitário ou da autorização temporária
de uso emergencial; e

II ‒ ‒ a contratação de bens e serviços de logística, de tecnologia da informação


e comunicação, de comunicação social e publicitária, de treinamentos e de
outros bens e serviços necessários à implementação da vacinação contra a
Covid-19.

Em relação à formalização da contratação direta, o art. 2º, § 1º, da lei dispõe que a dispensa de
licitação “não afasta a necessidade de processo administrativo que contenha os elementos técnicos
referentes à escolha da opção de contratação e à justificativa do preço ajustado” (grifos nossos).

Todas as aquisições ou contratações feitas com base na nova lei deverão ser publicizadas, no
prazo máximo de 5 dias úteis, “contado da data da realização do ato em sítio oficial da internet” (art.
2º, § 2º), devendo haver a divulgação de todas as informações elencadas nesse dispositivo:

Art. 2º (...)

I ‒ o nome do contratado e o número de sua inscrição na Secretaria Especial


da Receita Federal do Brasil do Ministério da Economia ou identificador
congênere no caso de empresa estrangeira que não funcione no País;

II ‒ o prazo contratual, o valor e o respectivo processo de aquisição ou de


contratação;

III ‒ o ato que autoriza a contratação direta ou o extrato decorrente do


contrato;

IV ‒ a discriminação do bem adquirido ou do serviço contratado e o local de


entrega ou de prestação do serviço;

39 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
V ‒ o valor global do contrato, as parcelas do objeto, os montantes pagos e
o saldo disponível ou bloqueado, caso exista;

VI ‒ as informações sobre eventuais aditivos contratuais;

VII ‒ a quantidade entregue ou prestada em cada ente federativo durante a


execução do contrato, nas contratações de bens e serviços; e

VIII ‒ as atas de registros de preços das quais a contratação se origine, se


houver.

A fim de justificar a situação de dispensa, o legislador presumiu, no art. 3º, a presunção da


comprovação da “ocorrência de situação de emergência em saúde pública de importância nacional
decorrente do coronavírus responsável pela Covid-19 (SARS-CoV-2)”; “necessidade de pronto
atendimento à situação de emergência em saúde pública de importância nacional decorrente do
coronavírus responsável pela Covid-19 (SARS-CoV-2)”.

Além da dispensa, também prevê a lei a contratação direta por inexigibilidade no caso de
fornecedor exclusivo do bem ou serviço “inclusive no caso da existência de sanção de impedimento
ou de suspensão para celebração de contrato com o poder público” (§ 3º), sendo, nesse caso,
obrigatória a prestação de garantia até o limite de 10%.

Estabelece a lei, ainda, diversas outras disposições referentes à licitação e ao regramento dos
contratos administrativos e, em relação ao primeiro caso, por exemplo, o art. 8º prevê, no caso de
pregão, a redução dos prazos pela metade.

Por sua vez, quanto aos contratos administrativos decorrentes das aquisições e contratações
descritas na lei, merece destaque o art. 9º, prevendo que “a administração pública direta e indireta
poderá estabelecer cláusula com previsão de que os contratados ficam obrigados a aceitar, nas
mesmas condições contratuais iniciais, acréscimos ou supressões ao objeto contratado limitados a
até 50% (cinquenta por cento) do valor inicial atualizado do contrato.”

Além das disposições referentes à contratação direta, à licitação e aos contratos administrativos,
importante mencionar que a nova lei prevê, no art. 13, § 3º, a autorização para a compra, a distribuição e
a aplicação de vacinas contra a Covid-19 por estados, Distrito Federal e municípios, caso a União “não
realize as aquisições e a distribuição tempestiva de doses suficientes para a vacinação dos grupos
previstos no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19” (grifos nossos).

40 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO

Nesse caso, as vacinas devem estar:

i. registradas (na Anvisa); ou

ii. autorizadas para uso emergencial (pela Anvisa); ou

iii. autorizadas excepcionalmente para importação.

A última hipótese mencionada, autorização excepcional para importação, foi prevista no art. 16
da Lei nº 14.124/2021, e significa que vacinas e medicamentos contra a Covid-19 não registrados na
Anvisa podem ser autorizados para importação pela agência caso preencham os seguintes requisitos:

i. possuam estudos clínicos de fase três concluídos ou resultados provisórios de um ou mais


estudos clínicos;

ii. sejam considerados essenciais para o combate da doença;

iii. sejam registrados ou autorizados para uso emergencial por autoridades sanitárias estrangeiras
listadas na lei;

iv. sejam autorizados à distribuição no respectivo país da autoridade sanitária que registrou ou
autorizou o uso emergencial.

Para materiais, equipamentos e insumos da área de saúde sujeitos à vigilância sanitária e não
registrados na Anvisa, dispensa-se apenas o requisito listado no item “i”, uma vez que ele é aplicável
às vacinas e medicamentos contra a Covid-19.

Como exemplo de autoridades sanitárias estrangeiras previstas na lei (item iii), cita-se a Food
and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos da América, e a European Medicines Agency
(EMA), da União Europeia.

1.3. Questão inédita comentada

Nos termos da Lei nº 14.124/2021, assinale a alternativa incorreta:

A) A Administração Pública direta e indireta fica autorizada a celebrar contratos ou outros


instrumentos congêneres, com dispensa de licitação, para aquisição de vacinas contra a Covid-19.

41 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
B) A Administração Pública direta e indireta fica autorizada a celebrar contratos ou outros
instrumentos congêneres, com dispensa de licitação, para contratação de bens e serviços de logística
necessários à implementação da vacinação contra a Covid-19.

C) Os estados, os municípios e o Distrito Federal ficam autorizados a adquirir, distribuir e aplicar


as vacinas contra a Covid-19, caso a União não realize as aquisições e a distribuição tempestiva de
doses suficientes para a vacinação de toda a população.

D) Autoriza de forma excepcional e temporária a importação e distribuição de vacinas e


medicamentos contra a Covid-19 sem registro na Anvisa, desde que registrados ou autorizados
para uso emergencial por autoridades sanitárias estrangeiras e autorizados à distribuição em seus
respectivos países, entre outros requisitos.

E) A Administração Pública direta e indireta fica autorizada a celebrar contratos ou outros


instrumentos congêneres, com dispensa de licitação, para compra de insumos destinados à
vacinação contra a Covid-19.

Alternativa correta: letra C. Nos termos do art. 13, § 3º, da Lei nº 14.124/2021,“a aplicação das
vacinas contra a Covid-19 deverá observar o previsto no Plano Nacional de Operacionalização da
Vacinação contra a Covid-19, ou naquele que vier a substituí-lo. § 3º Os Estados, os Municípios e
o Distrito Federal ficam autorizados a adquirir, a distribuir e a aplicar as vacinas contra a Covid-19
registradas, autorizadas para uso emergencial ou autorizadas excepcionalmente para importação,
nos termos do art. 16 desta Lei, caso a União não realize as aquisições e a distribuição tempestiva de
doses suficientes para a vacinação dos grupos previstos no Plano Nacional de Operacionalização
da Vacinação contra a Covid-19.” (Grifos nossos.)

Demais alternativas:

Alternativa A. Alternativa em consonância com o art. 2º, inciso I, da Lei nº 14.124/2021: “Fica
a administração pública direta e indireta autorizada a celebrar contratos ou outros instrumentos
congêneres, com dispensa de licitação, para: I ‒‒ a aquisição de vacinas e de insumos destinados à
vacinação contra a Covid-19, inclusive antes do registro sanitário ou da autorização temporária de
uso emergencial; e”.

42 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Alternativa B. Alternativa em consonância com o art. 2º, inciso I, da Lei nº 14.124/2021: “Fica
a administração pública direta e indireta autorizada a celebrar contratos ou outros instrumentos
congêneres, com dispensa de licitação, para: II ‒ a contratação de bens e serviços de logística, de
tecnologia da informação e comunicação, de comunicação social e publicitária, de treinamentos e
de outros bens e serviços necessários à implementação da vacinação contra a Covid-19.”

Alternativa D. Alternativa em consonância com o art. 16, caput, da Lei nº 14.124/2021: “A


Anvisa, conforme estabelecido em ato regulamentar próprio, oferecerá parecer sobre a autorização
excepcional e temporária para a importação e a distribuição e a autorização para uso emergencial
de quaisquer vacinas e medicamentos contra a Covid-19, com estudos clínicos de fase 3 concluídos
ou com os resultados provisórios de um ou mais estudos clínicos, além de materiais, equipamentos
e insumos da área de saúde sujeitos à vigilância sanitária, que não possuam o registro sanitário
definitivo na Anvisa e considerados essenciais para auxiliar no combate à Covid-19, desde que
registrados ou autorizados para uso emergencial por, no mínimo, uma das seguintes autoridades
sanitárias estrangeiras e autorizados à distribuição em seus respectivos países: (...)”.

Alternativa E. Alternativa em consonância com o art. 2º, inciso I, da Lei nº 14.124/2021: “Fica
a administração pública direta e indireta autorizada a celebrar contratos ou outros instrumentos
congêneres, com dispensa de licitação, para: I ‒- a aquisição de vacinas e de insumos destinados à
vacinação contra a Covid-19, inclusive antes do registro sanitário ou da autorização temporária de
uso emergencial; e”.

2. Lei nº 14.125/2021 ‒‒ Responsabilidade civil relativa a eventos


adversos pós-vacinação contra a Covid-19

2.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.125/2021
Ementa: Dispõe sobre a responsabilidade civil relativa a eventos adversos pós-vacinação
contra a Covid-19 e sobre a aquisição e distribuição de vacinas por pessoas
jurídicas de direito privado.

Data de publicação: 10.03.2021


Início de vigência: 10.03.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/
lei/L14125.htm>

43 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Destaques:
• A lei autoriza a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios a adquirirem vacinas
contra a Covid-19, caso em que assumirão a responsabilidade civil por eventos adversos
pós-vacinação, desde que a Anvisa tenha concedido o respectivo registro ou autorização
temporária de uso emergencial.

• Prevê que os entes poderão constituir garantias ou contratar seguro privado para a
cobertura dos riscos relativos aos eventos adversos pós-vacinação.

• Autoriza a aquisição de vacinas contra a Covid-19 por pessoas jurídicas de direito privado,
desde que sejam integralmente doadas ao Sistema Único de Saúde (SUS), a fim de
serem utilizadas no âmbito do Programa Nacional de Imunizações (PNI), até o término
da imunização dos grupos prioritários. Após, poderão distribuir e administrar as vacinas
adquiridas livremente, desde que pelo menos 50% das doses sejam, obrigatoriamente,
doadas ao SUS, e as demais sejam utilizadas de forma gratuita.

2.2. Comentário

Em 10.03.2021, foi publicada a Lei nº 14.125, com início imediato de vigência.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo dispõe sobre a “responsabilidade civil
relativa a eventos adversos pós-vacinação contra a Covid-19 e sobre a aquisição e distribuição de
vacinas por pessoas jurídicas de direito privado”.

Trata-se de mais uma inovação legal destinada ao enfrentamento da pandemia da Covid-19,


podendo ser destacada a autorização, prevista em seu art. 1º, para que a União, os estados, o Distrito
Federal e os municípios adquiram vacinas e assumam os riscos referentes à responsabilidade
civil, nos termos do instrumento de aquisição ou fornecimento de vacinas celebrado, em relação
a eventos adversos pós-vacinação, desde que a Anvisa tenha concedido o respectivo registro ou
autorização temporária de uso emergencial.

Tendo em vista que podem ocorrer efeitos adversos pelo uso das vacinas destinadas ao
combate da Covid-19, houve exigência por parte das empresas farmacêuticas de que o ente público
comprador se responsabilize por qualquer indenização referente a efeitos colaterais indesejados
ocasionados pelas vacinas.

44 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Essa pretensão foi acolhida, e a Lei nº 14.125/2021 trouxe previsão legal nesse sentido em
seu art. 1º:

Art. 1º Enquanto perdurar a Emergência em Saúde Pública de Importância


Nacional (Espin), declarada em decorrência da infecção humana pelo novo
coronavírus (SARS-CoV-2), ficam a União, os Estados, o Distrito Federal
e os Municípios autorizados a adquirir vacinas e a assumir os riscos
referentes à responsabilidade civil, nos termos do instrumento de aquisição
ou fornecimento de vacinas celebrado, em relação a eventos adversos pós-
vacinação, desde que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
tenha concedido o respectivo registro ou autorização temporária de uso
emergencial. (Grifos nossos.)

Importante ressaltar que, para a Copa do Mundo de 2014, havia previsão semelhante na Lei nº
12.663/2012 (art. 23), dispositivo que o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou constitucional no
julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 4.976. Mas, diferente desse dispositivo,
que tratava apenas da responsabilidade da União, o previsto na Lei nº 14.125/2021 trata também sobre
a responsabilidade dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, o que pode gerar discussões.

Quanto à responsabilização do ente adquirente pelos eventos adversos pós- vacinação, merece
atenção o disposto nos parágrafos do art. 1º.

Estabelece o § 1º do art. 1º que a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios poderão
constituir garantias ou contratar seguro privado, nacional ou internacional, em uma ou mais
apólices, para a cobertura dos riscos de que trata o caput deste artigo.

Além disso, deve-se ressaltar que a assunção dos riscos relativos à responsabilidade civil pelos
efeitos adversos restringe-se às aquisições feitas pelo respectivo ente público (§ 2º do art. 1º). Como
exemplo, a União não assume responsabilidade por doses compradas por particulares.

Por sua vez, o § 3º impõe medidas de transparência aos entes que adquirirem as vacinas,
especificamente quanto:

§ 3º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios adotarão medidas efetivas


para dar transparência:

I ‒ ‒ à utilização dos recursos públicos aplicados na aquisição das vacinas e


dos demais insumos necessários ao combate à Covid-19;

II ‒ ‒ ao processo de distribuição das vacinas e dos insumos.

45 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Ainda nesse ponto, destaca-se a previsão contida no art. 3º da Lei nº 14.125/2021, pela qual o
Poder Executivo federal poderá instituir procedimento administrativo próprio para a avaliação de
demandas relacionadas a eventos adversos pós-vacinação.

Outro ponto de destaque no diploma normativo em análise é a autorização para que pessoas
jurídicas de direito privado adquiram vacinas contra a Covid-19 que tenham autorização temporária
para uso emergencial, autorização excepcional e temporária para importação e distribuição ou
registro sanitário concedidos pela Anvisa.

No entanto, na forma do art. 2º, caput, da Lei nº 14.125/2021, as vacinas adquiridas por essas
pessoas de direito privado deverão, em um primeiro momento, ser integralmente doadas ao SUS,
a fim de serem utilizadas no âmbito do PNI.

De acordo com o art. 2º, caput, da lei, que é seu outro ponto de destaque, as pessoas jurídicas
de direito privado ficam autorizadas a comprar vacinas contra a Covid-19, desde que as vacinas
“tenham autorização temporária para uso emergencial, autorização excepcional e temporária para
importação e distribuição ou registro sanitário concedidos pela Anvisa.”

Apesar dessa previsão, a distribuição e administração das vacinas pelas pessoas jurídicas de
direito privado que as adquirirem é limitada pela lei, conforme o seguinte quadro:

Antes do término da imunização dos As vacinas devem ser integralmente


grupos prioritários previstos no Plano Nacional doadas ao Sistema Único de Saúde (SUS).
de Operacionalização da Vacinação contra a
Covid-19.

Após o término da imunização dos Pelo menos 50% (cinquenta por cento)
grupos prioritários previstos no Plano Nacional das doses devem ser, obrigatoriamente,
de Operacionalização da Vacinação contra a doadas ao SUS, e as demais devem ser
Covid-19. utilizadas de forma gratuita.

Somente após o término da imunização dos grupos prioritários previstos no Plano Nacional
de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19, as referidas pessoas jurídicas de direito
privado poderão, atendidos os requisitos legais e sanitários, adquirir, distribuir e administrar vacinas
livremente, desde que (§ 1º do art. 2º):

a) pelo menos 50% das doses sejam, obrigatoriamente, doadas ao SUS; e

b) as demais sejam utilizadas de forma gratuita.

46 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Respeitados esses requisitos, as vacinas “poderão ser aplicadas em qualquer estabelecimento
ou serviço de saúde que possua sala para aplicação de injetáveis autorizada pelo serviço de vigilância
sanitária local, observadas as exigências regulatórias vigentes, a fim de garantir as condições
adequadas para a segurança do paciente e do profissional de saúde” (art. 2º, § 2º, da Lei nº 14.125/2021).

Por último, destaca-se que as pessoas jurídicas de direito privado deverão fornecer ao Ministério
da Saúde, na forma de regulamento, de modo tempestivo e detalhado, todas as informações relativas
à aquisição, incluindo os contratos de compra e doação, e à aplicação das vacinas contra a Covid-19,
na forma do § 3º do art. 2º da lei.

2.3. Questão inédita comentada

Acerca da compra de vacinas para o combate à Covid-19, de acordo com o que dispõe a Lei nº
14.125/2021, assinale a alternativa correta:

A) Apenas a União Federal pode comprar vacinas de fabricantes no exterior, a fim de uniformizar o
PNI.

B) Os estados, o Distrito Federal e os municípios podem comprar vacinas, ainda que não registradas
ou autorizadas temporariamente para uso emergencial pela Anvisa, desde que destinem a totalidade
das doses à União, para centralização do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra
a Covid-19.

C) Eventuais efeitos adversos advindos da vacinação contra a Covid-19 são de inteira responsa-
bilidade do vacinado ou seu responsável.

D) As pessoas jurídicas de direito privado, desde que integrantes da Administração Pública, podem
adquirir vacinas, caso em que deverão doar integralmente ao SUS, para utilização no PNI.

E) Após o término da imunização dos grupos prioritários previstos no Plano Nacional de


Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19, as pessoas jurídicas de direito privado poderão
distribuir e administrar vacinas livremente, desde que pelo menos 50% das doses sejam doadas ao
SUS e as demais sejam utilizadas de forma gratuita.

Alternativa correta: letra E. É o que prevê o art. 2º, caput e § 1º, da Lei nº 14.125/2021: “Pessoas
jurídicas de direito privado poderão adquirir diretamente vacinas contra a Covid-19 que tenham
autorização temporária para uso emergencial, autorização excepcional e temporária para importação

47 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
e distribuição ou registro sanitário concedidos pela Anvisa, desde que sejam integralmente doadas
ao Sistema Único de Saúde (SUS), a fim de serem utilizadas no âmbito do Programa Nacional de
Imunizações (PNI). § 1º Após o término da imunização dos grupos prioritários previstos no Plano
Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19, as pessoas jurídicas de direito
privado poderão, atendidos os requisitos legais e sanitários, adquirir, distribuir e administrar vacinas,
desde que pelo menos 50% (cinquenta por cento) das doses sejam, obrigatoriamente, doadas ao
SUS e as demais sejam utilizadas de forma gratuita”.

Demais alternativas:

Alternativa A. Errada. O art. 1º da Lei nº 14.125/2021 autoriza expressamente, além da União,


os estados, o Distrito Federal e os municípios a adquirir vacinas e a assumir os riscos referentes
à responsabilidade civil, nos termos do instrumento de aquisição ou fornecimento de vacinas
celebrado, em relação a eventos adversos pós-vacinação, desde que a Anvisa tenha concedido o
respectivo registro ou autorização temporária de uso emergencial.

Alternativa B. Errada. Só podem ser adquiridas vacinas desde que a Anvisa tenha concedido o
respectivo registro ou autorização temporária de uso emergencial, na forma do art. 1º, caput, da Lei
nº 14.125/2021.

Alternativa C. Errada. Os riscos dos efeitos adversos são de responsabilidade do ente


adquirente da vacina, na forma do art. 1º, caput, da Lei nº 14.125/2021.

Alternativa D. Errada. O art. 2º, caput, que autoriza a compra de vacinas por pessoas jurídicas
de direito privado, não restringe a autorização às pessoas integrantes da Administração Pública.

3. Lei nº 14.129/2021 ‒‒ Princípios, regras e instrumentos para o Governo


Digital

3.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.129/2021
Ementa: Dispõe sobre princípios, regras e instrumentos para o Governo Digital e para o
aumento da eficiência pública, e altera a Lei nº 7.116, de 29 de agosto de 1983, a Lei
nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 (Lei de Acesso à Informação), a Lei nº 12.682,
de 9 de julho de 2012, e a Lei nº 13.460, de 26 de junho de 2017.

48 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Data de publicação: 30.03.2021

Início de vigência: Esta Lei entra em vigor após decorridos:


I ‒‒ 90 (noventa) dias de sua publicação oficial, para a União;

II ‒‒ 120 (cento e vinte) dias de sua publicação oficial, para os Estados e o Distrito Federal;

III ‒‒ 180 (cento e oitenta) dias de sua publicação oficial, para os Municípios.

Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/


lei/L14129.htm>

Destaques:
•  A Lei nº 14.129/2021, publicada em 30 de março de 2021, dispõe sobre princípios, regras
e instrumentos para o aumento da eficiência da administração pública, especialmente
por meio da desburocratização, da inovação, da transformação digital e da participação
do cidadão.

• Sua aplicação se dará aos órgãos da administração pública direta federal, às entidades da
administração pública indireta federal e às administrações diretas e indiretas dos demais
entes federados.

• A lei terá como princípios e diretrizes do Governo Digital e da eficiência pública a


desburocratização, a modernização, o fortalecimento e a simplificação da relação do
poder público com a sociedade, a disponibilização em plataforma única do acesso às
informações e aos serviços públicos, a possibilidade aos cidadãos, às pessoas jurídicas, a
transparência na execução dos serviços públicos e o monitoramento da qualidade desses
serviços, dentre outros.

• Quanto aos serviços prestados pelo Governo Digital, ocorrerão por meio de tecnologias
de amplo acesso pela população, inclusive pela de baixa renda ou residente em áreas
rurais e isoladas, sem prejuízo do direito do cidadão a atendimento presencial.

• No que se refere ao acesso da prestação digital dos serviços públicos, será disponibilizado
por meio do autosserviço. Tendo a participação da administração da consolidação da
Estratégia Nacional de Governo Digital.

• Será considerada a garantia dos direitos dos usuários quanto à prestação digital de
serviços públicos, inclusive os que constarem da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais
(LGPD).

• A lei determinou que é de competência de cada ente federado dispor sobre informações
dos serviços prestados, das Cartas de Serviços ao Usuário e da Base Nacional de Serviços
Públicos, em formato aberto e interoperável.

49 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
3.2. Comentário

Em 30.03.2021, foi publicada a Lei nº 14.129, com vigência determinada pelo art. 55.

Art. 55. Esta Lei entra em vigor após decorridos:

I ‒ ‒ 90 (noventa) dias de sua publicação oficial, para a União;

II ‒ ‒ 120 (cento e vinte) dias de sua publicação oficial, para os Estados e o


Distrito Federal;

III ‒ ‒ 180 (cento e oitenta) dias de sua publicação oficial, para os Municípios.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo dispõe sobre “princípios, regras e
instrumentos para o Governo Digital e para o aumento da eficiência pública e altera a Lei nº 7.116, de
29 de agosto de 1983, a Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 (Lei de Acesso à Informação), a Lei
nº 12.682, de 9 de julho de 2012, e a Lei nº 13.460, de 26 de junho de 2017”.

Trata-se de inovação legal em consonância com a tendência de desburocratização da


Administração Pública, a fim de que esta possua um caráter gerencial e focado nos resultados, o que já
vem sendo implementado desde a Reforma Administrativa promovida pela Emenda Constitucional
(EC) nº 19/1998.

Inicialmente, cumpre mencionar que a lei se aplica, a princípio, apenas aos órgãos da
Administração Pública direta federal e às entidades da Administração Pública indireta federal,
incluídas as empresas públicas e sociedades de economia mista, suas subsidiárias e controladas, que
prestem serviço público, autarquias e fundações públicas (art. 2º, I e II). Há previsão, todavia, de
aplicação da lei também às Administrações diretas e indiretas dos demais entes federados, desde
que adotem os comandos desta lei por meio de atos normativos próprios.

De acordo com disposto na referida lei, no § 1º do art. 2º, esta não será aplicada a empresas
públicas e sociedades de economia mista, incluindo suas subsidiárias e controladas, que não prestem
serviço público.

No art. 3º da lei é listada uma série de princípios e diretrizes do Governo Digital e da eficiência
pública. O rol é bastante extenso, mas, em síntese, a lei preconiza a desburocratização, a
modernização, o fortalecimento e a simplificação da relação do poder público com a sociedade,
mediante serviços digitais, acessíveis, inclusive, por dispositivos móveis (inciso I); a transparência na
execução dos serviços públicos, com o uso de linguagem clara e compreensível a qualquer cidadão
(inciso VII), e o monitoramento da qualidade desses serviços (inciso IV), inclusive com o incentivo à
participação social no controle e na fiscalização da Administração Pública (inciso V).

50 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Art. 3º São princípios e diretrizes do Governo Digital e da eficiência pública:

I ‒‒ a desburocratização, a modernização, o fortalecimento e a simplificação


da relação do poder público com a sociedade, mediante serviços digitais,
acessíveis inclusive por dispositivos móveis;

II ‒‒ a disponibilização em plataforma única do acesso às informações e aos


serviços públicos, observadas as restrições legalmente previstas e sem
prejuízo, quando indispensável, da prestação de caráter presencial;

III ‒‒ a possibilidade aos cidadãos, às pessoas jurídicas e aos outros entes


públicos de demandar e de acessar serviços públicos por meio digital, sem
necessidade de solicitação presencial;

IV ‒‒ a transparência na execução dos serviços públicos e o monitoramento


da qualidade desses serviços;

V ‒‒ o incentivo à participação social no controle e na fiscalização da


administração pública;

VI ‒‒ o dever do gestor público de prestar contas diretamente à população


sobre a gestão dos recursos públicos;

VII ‒‒ o uso de linguagem clara e compreensível a qualquer cidadão;

VIII ‒‒ o uso da tecnologia para otimizar processos de trabalho da


administração pública;

IX ‒‒ a atuação integrada entre os órgãos e as entidades envolvidos na


prestação e no controle dos serviços públicos, com o compartilhamento
de dados pessoais em ambiente seguro quando for indispensável para
a prestação do serviço, nos termos da Lei nº 13.709, de 14 de agosto de
2018 (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais), e, quando couber, com
a transferência de sigilo, nos termos do art. 198 da Lei nº 5.172, de 25 de
outubro de 1966 (Código Tributário Nacional), e da Lei Complementar nº
105, de 10 de janeiro de 2001;

X ‒‒ a simplificação dos procedimentos de solicitação, oferta e


acompanhamento dos serviços públicos, com foco na universalização do
acesso e no autosserviço;

XI ‒‒ a eliminação de formalidades e de exigências cujo custo econômico ou


social seja superior ao risco envolvido;

XII ‒‒ a imposição imediata e de uma única vez ao interessado das exigências


necessárias à prestação dos serviços públicos, justificada exigência posterior
apenas em caso de dúvida superveniente;

51 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
XIII ‒‒ a vedação de exigência de prova de fato já comprovado pela
apresentação de documento ou de informação válida;

XIV ‒
‒ a interoperabilidade de sistemas e a promoção de dados abertos;

XV ‒‒ a presunção de boa-fé do usuário dos serviços públicos;

XVI ‒‒ a permanência da possibilidade de atendimento presencial, de acordo


com as características, a relevância e o público-alvo do serviço;

XVII ‒‒ a proteção de dados pessoais, nos termos da Lei nº 13.709, de 14 de


agosto de 2018 (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais);

XVIII ‒‒ o cumprimento de compromissos e de padrões de qualidade


divulgados na Carta de Serviços ao Usuário;

XIX ‒‒ a acessibilidade da pessoa com deficiência ou com mobilidade


reduzida, nos termos da Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 (Estatuto da
Pessoa com Deficiência);

XX ‒ ‒ o estímulo a ações educativas para qualificação dos servidores públicos


para o uso das tecnologias digitais e para a inclusão digital da população;

XXI ‒‒ o apoio técnico aos entes federados para implantação e adoção de


estratégias que visem à transformação digital da administração pública;

XXII ‒‒ o estímulo ao uso das assinaturas eletrônicas nas interações e nas


comunicações entre órgãos públicos e entre estes e os cidadãos;

XXIII ‒‒ a implantação do governo como plataforma e a promoção do uso


de dados, preferencialmente anonimizados, por pessoas físicas e jurídicas
de diferentes setores da sociedade, resguardado o disposto nos arts. 7º e 11
da Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018 (Lei Geral de Proteção de Dados
Pessoais), com vistas, especialmente, à formulação de políticas públicas, de
pesquisas científicas, de geração de negócios e de controle social;

XXIV ‒‒ o tratamento adequado a idosos, nos termos da Lei nº 10.741, de 1º de


outubro de 2003 (Estatuto do Idoso);

XXV ‒‒ a adoção preferencial, no uso da internet e de suas aplicações, de


tecnologias, de padrões e de formatos abertos e livres, conforme disposto
no inciso V do caput do art. 24 e no art. 25 da Lei nº 12.965, de 23 de abril de
2014 (Marco Civil da Internet); e

XXVI ‒‒ a promoção do desenvolvimento tecnológico e da inovação no


setor público.

52 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Em seguida, a lei traz uma série de orientações e procedimentos para a digitalização da
Administração Pública e a prestação digital de serviços públicos, o que é denominado amplamente
como “Governo Digital”.

O art. 5º dispõe que “a Administração Pública utilizará soluções digitais para a gestão de suas
políticas finalísticas e administrativas e para o trâmite de processos administrativos eletrônicos”.
Assim, tem-se que a utilização de soluções digitais e processos administrativos eletrônicos deverá
ser adotada preferencialmente, sempre que possível.

O parágrafo único do mesmo artigo contém importante previsão acerca dos documentos
eletrônicos produzidos na prestação dos serviços digitais, dispondo que “entes públicos que emitem
atestados, certidões, diplomas ou outros documentos comprobatórios com validade legal poderão
fazê-lo em meio digital, assinados eletronicamente, na forma do art. 7º desta lei e da Lei nº 14.063,
de 23 de setembro de 2020” (grifo nosso). Nesse ponto, o art. 11 da Lei nº 14.129/2021 determina
que os documentos nato-digitais assinados eletronicamente na forma do art. 7º são considerados
originais para todos os efeitos legais.

Ainda acerca da implementação do Governo Digital, especificamente no que se refere ao seu


acesso pelos cidadãos, prevê o art. 14 da lei que “a prestação digital dos serviços públicos deverá
ocorrer por meio de tecnologias de amplo acesso pela população, inclusive pela de baixa renda ou
residente em áreas rurais e isoladas, sem prejuízo do direito do cidadão a atendimento presencial”
(grifos nossos). Nesse sentido, ainda, o art. 50 da lei determina que o acesso e a conexão para o uso
de serviços públicos poderão ser garantidos total ou parcialmente pelo Governo, com o objetivo de
promover o acesso universal à prestação digital dos serviços públicos e a redução de custos aos
usuários, nos termos da lei.

A previsão de que ocorra a promoção dos dados abertos (art. 3º, XIV) não é irrestrita e, por
isso, o art. 25 menciona que as Plataformas de Governo Digital devem dispor de ferramentas de
transparência e de controle do tratamento de dados pessoais, que sejam claras e facilmente
acessíveis, e que permitam ao cidadão o exercício dos direitos previstos na LGPD (Lei nº 13.709/2018).

O art. 29, caput, a seu turno, determina que, observado o disposto na LGPD, os dados
disponibilizados pelos prestadores de serviços públicos, bem como qualquer informação de
transparência ativa, são de livre utilização pela sociedade, estabelecendo o § 1º desse dispositivo que,
na promoção da transparência ativa de dados, o poder público deverá observar os seguintes requisitos:

53 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
I ‒‒ observância da publicidade das bases de dados não pessoais como
preceito geral e do sigilo como exceção;

II ‒ ‒ garantia de acesso irrestrito aos dados, os quais devem ser legíveis por
máquina e estar disponíveis em formato aberto, respeitadas as Leis nº 12.527,
de 18 de novembro de 2011 (Lei de Acesso à Informação), e 13.709, de 14 de
agosto de 2018 (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais);

III ‒ ‒ descrição das bases de dados com informação suficiente sobre estrutura
e semântica dos dados, inclusive quanto à sua qualidade e à sua integridade;

IV ‒ ‒ permissão irrestrita de uso de bases de dados publicadas em formato


aberto;

V ‒ ‒ completude de bases de dados, as quais devem ser disponibilizadas


em sua forma primária, com o maior grau de granularidade possível, ou
referenciar bases primárias, quando disponibilizadas de forma agregada;

VI ‒‒ atualização periódica, mantido o histórico, de forma a garantir a


perenidade de dados, a padronização de estruturas de informação e o valor
dos dados à sociedade e a atender às necessidades de seus usuários;

VII ‒ ‒ (VETADO);

VIII ‒ ‒ respeito à privacidade dos dados pessoais e dos dados sensíveis, sem
prejuízo dos demais requisitos elencados, conforme a Lei nº 13.709, de 14 de
agosto de 2018 (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais);

IX ‒ ‒ intercâmbio de dados entre órgãos e entidades dos diferentes Poderes


e esferas da Federação, respeitado o disposto no art. 26 da Lei nº 13.709, de
14 de agosto de 2018 (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais); e

X ‒‒ fomento ao desenvolvimento de novas tecnologias destinadas à


construção de ambiente de gestão pública participativa e democrática e à
melhor oferta de serviços públicos.

Por fim, um último tópico relevante do novo diploma legal é referente aos instrumentos de
governança, gestão de riscos, controle e auditoria previstos na lei. De acordo com o parágrafo único
do art. 47, os mecanismos, as instâncias e as práticas de governança incluirão, no mínimo:

I ‒ ‒ formas de acompanhamento de resultados;

II ‒ ‒ soluções para a melhoria do desempenho das organizações;

III ‒ ‒ instrumentos de promoção do processo decisório fundamentado em


evidências.

54 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Além disso, o art. 48 determina que os órgãos e as entidades submetidos à lei em comento
deverão estabelecer, manter, monitorar e aprimorar sistema de gestão de riscos e de controle
interno com vistas à identificação, à avaliação, ao tratamento, ao monitoramento e à análise crítica
de riscos da prestação digital de serviços públicos que possam impactar a consecução dos objetivos
da organização no cumprimento de sua missão institucional e na proteção dos usuários, observados
os princípios constantes dos seus incisos.

3.3. Questão inédita comentada

A Lei nº 14.129/2021, que dispõe sobre princípios, regras e instrumentos para o Governo Digital
e para o aumento da eficiência pública, não se aplica:

A) aos órgãos da Administração Pública direta federal, abrangendo os Poderes Executivo, Judiciário
e Legislativo, incluído o Tribunal de Contas da União (TCU), e o Ministério Público da União (MPU).

B) às entidades da Administração Pública autárquica e fundacional federal.

C) às empresas públicas e sociedades de economia mista federais, suas subsidiárias e controladas,


que prestem apenas atividades econômicas stricto sensu.

D) às empresas públicas e sociedades de economia mista federais, suas subsidiárias e controladas,


que prestem serviço público.

E) às Administrações diretas e indiretas dos Estados, Distrito Federal e Municípios que adotem os
comandos da Lei nº 14.129/2021 por meio de atos normativos próprios.

Alternativa correta: letra C. Na forma do art. 2º, § 1º, da Lei nº 14.129/2021, esta lei não se aplica
a empresas públicas e sociedades de economia mista, suas subsidiárias e controladas, que não
prestem serviço público.

Demais alternativas:

Alternativa A. Errada. A Lei nº 14.129/2021, nos termos do art. 2º, I, aplica-se a todos os órgãos
da administração direta federal, incluindo-se, portanto, os órgãos do Poder Executivo, Legislativo e
Judiciário e, também, os órgãos com autonomia constitucional como o Tribunal de Contas da União
(TCU) e o Ministério Público da União (MPU).

55 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Alternativa B. Errada. Conforme estabelece o art. 2º, II, da Lei nº 14.129/2021, ela se aplica às
autarquias federais e às fundações públicas federais.

Alternativa D. Errada. Em relação às empresas públicas, sociedades de economia mista e suas


subsidiárias, a nova lei a elas se aplica quando prestarem serviço público (art. 2º, II).

Alternativa E. Errada. Não serão aplicadas as disposições da nova lei na hipótese das empresas
públicas, sociedades de economia mista e suas subsidiárias não atuarem na prestação de serviço
público, nos termos do inciso III do art. 2º.

56 Caderno de novidades legislativas


DIREITO CIVIL
1. Medida Provisória (MP) nº 1.040/2021 ‒‒ Facilitação para abertura de
empresas

1.1. Ficha normativa

MP Nº 1.040/2021
Ementa: Dispõe sobre a facilitação para abertura de empresas, a proteção de acionistas
minoritários, a facilitação do comércio exterior, o Sistema Integrado de
Recuperação de Ativos, as cobranças realizadas pelos conselhos profissionais, a
profissão de tradutor e intérprete público, a obtenção de eletricidade e a prescrição
intercorrente na Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 ‒ ‒Código Civil (CC).
Data de publicação: 30.03.2021
Início de vigência: ‒ 360 dias, contados da data de sua publicação, quanto à parte do art.
5º que altera o § 3º do art. 138 da Lei nº 6.404, de 1976:
• ‒no primeiro dia útil do primeiro mês após a data de sua publicação, quanto aos arts. 8º a 12,
e incisos III ao XV, XVII, XXII e XXVI do caput do art. 33;

• ‒90 dias, contados da data de sua publicação, quanto ao art. 7º;

• na data de sua publicação, quanto aos demais dispositivos.

Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/


Mpv/mpv1040.htm>

1.2. Comentário
Em relação ao direito civil, a MP nº 1.040/2021 traz como inovação a inclusão do art. 206-A ao
CC, dispondo sobre o prazo da prescrição intercorrente.

Entretanto, para concentrar a abordagem das inovações veiculadas por esse novo ato
normativo, a sua análise encontra-se em direito empresarial.

57 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

1. Lei nº 14.126/2021 ‒ ‒ Visão monocular como deficiência sensorial

1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.126/2021
Ementa: Classifica a visão monocular como deficiência sensorial, do tipo visual, dispondo
a respeito da avaliação biopsicossocial da visão monocular para fins de
reconhecimento da condição de pessoa com deficiência.

Data de publicação: 23.03.2021


Início de vigência: 23.03.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/
lei/L14126.htm>
Destaques:
• Classifica a visão monocular como deficiência sensorial, do tipo visual, para todos os efeitos
legais.

• Dispõe que o instrumento para avaliação de deficiência a ser criado pelo Poder Executivo
se aplicará a estes casos.

1.2. Comentário

Em 23.03.2021, foi publicada a Lei nº 14.126, com início imediato de vigência.

De acordo com sua ementa, passa a ser classificada como deficiência visual, do tipo sensorial,
a visão monocular.

Classifica a visão monocular como deficiência sensorial, do tipo visual.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional


decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Fica a visão monocular classificada como deficiência sensorial, do tipo


visual, para todos os efeitos legais. (Vide.)

Parágrafo único. O previsto no § 2º do art. 2º da Lei nº 13.146, de 6 de julho


de 2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), aplica-se à visão monocular,
conforme o disposto no caput deste artigo.

Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 22 de março de 2021; 200º da Independência e 133º da República.

Este texto não substitui o publicado no DOU de 23.3.2021.

58 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

Trata-se de uma salutar inovação, na mesma linha de intelecção da Súmula nº 377 do Superior
Tribunal de Justiça (STJ), que já classificava a visão monocular como deficiência para o fim de a
pessoa concorrer, em concursos públicos, às vagas reservadas às pessoas deficientes.

Enunciado nº 377 da Súmula do STJ: O portador de visão monocular


tem direito de concorrer, em concurso público, às vagas reservadas aos
deficientes.

A lei ainda menciona expressamente que à visão monocular aplica-se o previsto no § 2º do art.
2º da Lei nº 13.146/2015, o Estatuto da Pessoa com Deficiência, que, em apertada síntese, dispõe que
o Poder Executivo criará instrumentos para avaliação da deficiência.

Da leitura do art. 2º do Estatuto da Pessoa com Deficiência, denota-se que se trata de avaliação
biopsicossocial, que deverá ser realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar, devendo ser
considerados os seguintes aspectos, conforme incisos do § 1º:

I ‒ ‒ os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo;

II ‒ ‒ os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais;

III ‒
‒ a limitação no desempenho de atividades; e

IV ‒
‒ a restrição de participação.

No mesmo dia foi editado o Decreto nº 10.654/2021, que dispõe sobre a avaliação biopsicossocial
da visão monocular para fins de reconhecimento da condição de pessoa com deficiência, explicitando
que a avaliação se dará na forma não apenas do § 2º, mas também do § 1º do art. 2º do Estatuto da
Pessoa com Deficiência.

DECRETO Nº 10.654, DE 22 DE MARÇO DE 2021

Dispõe sobre a avaliação biopsicossocial da visão monocular para fins de


reconhecimento da condição de pessoa com deficiência.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o


art. 84, caput, inciso IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto na Lei
nº 14.126, de 22 de março de 2021,

DECRETA:

Art. 1º Este Decreto dispõe sobre a avaliação biopsicossocial da visão


monocular para fins de reconhecimento da condição de pessoa com
deficiência.

Art. 2º A visão monocular, classificada como deficiência sensorial, do tipo


visual, pelo art. 1º da Lei nº 14.126, de 22 de março de 2021, será avaliada na

59 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

forma prevista nos § 1º e § 2º do art. 2º da Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015,


para fins de reconhecimento da condição de pessoa com deficiência.

Art. 3º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 22 de março de 2021; 200º da Independência e 133º da República.

JAIR MESSIAS BOLSONARO

Paulo Guedes

João Inácio Ribeiro Roma Neto

Damares Regina Alves

Este texto não substitui o publicado no DOU de 23.3.2021.

Em relação à verificação biopsicossocial da deficiência visual, ela irá implicar diretamente


a qualificação da pessoa em relação à aposentadoria especial da pessoa com deficiência (Lei
Complementar ‒‒ LC nº 142/2013), ou mesmo em relação à qualidade de dependente à pensão por
morte, caso seja constatado tratar-se de deficiência grave, bem como no preenchimento do requisito
deficiência para o fim de concessão de benefício assistencial previsto na Lei nº 8.742/1993:

Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-


mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e
cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria
manutenção nem de tê-la provida por sua família. (...)

§ 2º Para efeito de concessão do benefício de prestação continuada,


considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de
longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em
interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena
e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.

Cabe ressaltar, ainda, que há previsão de flexibilização da renda per capita para fins de
concessão de benefício assistencial em se tratando de pessoa com deficiência, a depender do grau
de deficiência, enquadrando-se, doravante, a visão monocular como apta ao exame, nos termos do
art. 20-A da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS).

Art. 20-A. Em razão do estado de calamidade pública reconhecido pelo


Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020, e da emergência de saúde
pública de importância internacional decorrente do coronavírus (Covid-19),
o critério de aferição da renda familiar mensal per capita previsto no inciso
I do § 3º do art. 20 poderá ser ampliado para até 1/2 (meio) salário-mínimo.
(Incluído pela Lei nº 13.982, de 2020.)

60 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

§ 1º A ampliação de que trata o caput ocorrerá na forma de escalas graduais,


definidas em regulamento, de acordo com os seguintes fatores, combinados
entre si ou isoladamente: (Incluído pela Lei nº 13.982, de 2020.)

I ‒ ‒ o grau da deficiência; (Incluído pela Lei nº 13.982, de 2020.)

II ‒‒ a dependência de terceiros para o desempenho de atividades básicas


da vida diária; (Incluído pela Lei nº 13.982, de 2020.)

III ‒ ‒ as circunstâncias pessoais e ambientais e os fatores socioeconômicos


e familiares que podem reduzir a funcionalidade e a plena participação
social da pessoa com deficiência candidata ou do idoso; (Incluído pela Lei
nº 13.982, de 2020.)

IV ‒ ‒ o comprometimento do orçamento do núcleo familiar de que trata


o § 3º do art. 20 exclusivamente com gastos com tratamentos de saúde,
médicos, fraldas, alimentos especiais e medicamentos do idoso ou da
pessoa com deficiência não disponibilizados gratuitamente pelo Sistema
Único de Saúde (SUS), ou com serviços não prestados pelo Serviço Único
de Assistência Social (Suas), desde que comprovadamente necessários à
preservação da saúde e da vida. (Incluído pela Lei nº 13.982, de 2020.)

§ 2º O grau da deficiência e o nível de perda de autonomia, representado


pela dependência de terceiros para o desempenho de atividades básicas
da vida diária, de que tratam, respectivamente, os incisos I e II do § 1º deste
artigo, serão aferidos, para a pessoa com deficiência, por meio de índices
e instrumentos de avaliação funcional a serem desenvolvidos e adaptados
para a realidade brasileira, observados os termos dos §§ 1º e 2º do art. 2º da
Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. (Incluído pela Lei nº 13.982, de 2020.)

1.3. Questão inédita comentada

A visão monocular, nos termos da legislação em vigor:

A) Não é considerada deficiência para nenhum fim.

B) É considerada deficiência apenas para o fim de concorrer às vagas reservadas.

C) É considerada deficiência sensorial, do tipo visual, para todos os efeitos legais.

D) É considerada deficiência física, do tipo visual, para todos os efeitos legais.

E) É considerada deficiência sensorial, do tipo visual para o fim de benefício assistencial, mas não
em relação às vagas reservadas em concursos públicos.

61 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

Alternativa correta: letra C (responde a todas as alternativas). A visão monocular, nos termos
do art. 1º da Lei nº 14126/2021, é classificada como deficiência sensorial, do tipo visual, para todos
os efeitos legais.

62 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
1. Medida Provisória (MP) nº 1.036/2021 ‒ ‒ Crise decorrente da
pandemia da Covid-19 nos setores de turismo e de cultura

1.1. Ficha normativa

MP Nº 1.036/2021
Ementa: A MP nº 1.036, publicada em 18 de março de 2021, altera a Lei nº 14.046, de 24 de
agosto de 2020, para dispor sobre medidas emergenciais para atenuar os efeitos
da crise decorrente da pandemia da Covid-19 nos setores de turismo e de cultura.
Data de publicação: 18.03.2021
Início de vigência: 18.03.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/
Mpv/mpv1036.htm>
Destaques:
• A MP nº 1.036, publicada em 18 de março de 2021, alterou a Lei nº 14.046, de 24 de
agosto de 2020, para dispor sobre medidas emergenciais que atenuem os efeitos da crise
decorrente da pandemia da Covid-19 nos setores de turismo e de cultura.

• Havendo ocorrência de adiamento ou de cancelamento de serviços, de reservas e de


eventos, incluídos shows e espetáculos, o prestador de serviços ou a sociedade empresária
não será obrigado a reembolsar os valores pagos pelo consumidor, desde que seja
assegurada a remarcação dos serviços, das reservas e dos eventos adiados, ou, ainda, seja
disponibilizado o crédito para uso ou abatimento na compra de outros serviços, reservas e
eventos disponíveis nas respectivas empresas.

• A medida provisória dispõe que as operações que se fizerem necessárias, referentes a


remarcação ou disponibilidade de créditos, ocorrerão sem custo adicional, taxa ou multa
ao consumidor, com datas predeterminadas.

1.2. Comentário

A medida provisória alterou a Lei nº 14.046, de 24 de agosto de 2020, para dispor sobre medidas
emergenciais que atenuem os efeitos da crise decorrente da pandemia da Covid-19 nos setores de
turismo e de cultura.

Nos casos em que houver necessidade de adiamento ou cancelamento de serviços, em


decorrência da pandemia, o prestador de serviços, ou a sociedade empresária, não será obrigado
a reembolsar os valores pagos pelo consumidor, mas deverá assegurá-lo por meio das garantias
estabelecidas no art. 2º da referida medida.

63 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
Art. 2º A Lei nº 14.046, de 2020, passa a vigorar com as seguintes alterações:

Art. 2º  Na hipótese de adiamento ou de cancelamento de serviços, de


reservas e de eventos, incluídos shows e espetáculos, até 31 de dezembro
de 2021, em decorrência da pandemia da Covid-19, o prestador de serviços
ou a sociedade empresária não será obrigado a reembolsar os valores pagos
pelo consumidor, desde que assegure:  

I ‒ ‒ a remarcação dos serviços, das reservas e dos eventos adiados; ou

II ‒ ‒ a disponibilização de crédito para uso ou abatimento na compra de


outros serviços, reservas e eventos disponíveis nas respectivas empresas.

Em se tratando do art. 2º, a Lei nº 14.046/2020 fixou que estas operações se darão sem custo
adicional com data prevista, como disposto no § 1º do referido artigo:

Art. 2º (...)

§ 1º As operações de que trata o caput deste artigo ocorrerão sem custo


adicional, taxa ou multa ao consumidor, em qualquer data a partir de 1º de
janeiro de 2020, e estender-se-ão pelo prazo de 120 (cento e vinte) dias,
contado da comunicação do adiamento ou do cancelamento dos serviços,
ou 30 (trinta) dias antes da realização do evento, o que ocorrer antes.

E não havendo manifestação do consumidor dentro do prazo definido, o fornecedor fica


desobrigado de qualquer forma de ressarcimento, salvo nos casos de falecimento, internação ou
força maior, sendo estes prazos reestabelecidos (§§ 2º e 3º do art. 2º da lei):

§ 2º Se o consumidor não fizer a solicitação a que se refere o § 1º deste artigo


no prazo assinalado de 120 (cento e vinte) dias, por motivo de falecimento,
de internação ou de força maior, o prazo será restituído em proveito da
parte, do herdeiro ou do sucessor, a contar da data de ocorrência do fato
impeditivo da solicitação.

§ 3º  O fornecedor fica desobrigado de qualquer forma de ressarcimento


se o consumidor não fizer a solicitação no prazo estipulado no § 1º ou não
estiver enquadrado em uma das hipóteses previstas no § 2º deste artigo.

Quanto a crédito a ser utilizado pelo consumidor, este terá o prazo de até 31.12.2022 para utilizá-
lo. Sendo que os valores e as condições dos serviços originalmente contratados também terão data
fixada de até 31.12.2022, para remarcar os serviços adiados, e ainda deverá restituir o consumidor no
caso de impossibilidade de remarcação dos serviços, conforme disposto no art. 2º, §§ 4º, 5º e 6º.

64 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
§ 4º O crédito a que se refere o inciso II do caput poderá ser utilizado pelo
consumidor até 31 de dezembro de 2022. 

§ 5º Na hipótese prevista no inciso I do caput deste artigo, serão respeitados:

I ‒ ‒ os valores e as condições dos serviços originalmente contratados; e

II ‒ ‒ a data-limite de 31 de dezembro de 2022, para ocorrer a remarcação dos


serviços, das reservas e dos eventos adiados.

§ 6º  O prestador de serviço ou a sociedade empresária deverá restituir o


valor recebido ao consumidor até 31 de dezembro de 2022, somente na
hipótese de ficar impossibilitado de oferecer a remarcação dos serviços ou
a disponibilização de crédito referidas nos incisos I e II do caput.

A lei estende aos artistas, palestrantes ou outros profissionais, contratados até 31.12.2021, a
obrigação de não reembolsar imediatamente estes profissionais, desde que o evento seja remarcado
e respeitada a data-limite para a sua realização. Na hipótese dos cancelamentos decorrentes das
medidas de isolamento social adotadas para o combate à pandemia da Covid-19, as multas por
cancelamentos dos contratos serão anuladas, desde que tenham sido emitidas até 31.12.2021, de
acordo com o texto do art. 4º, caput e § 2º:

Art. 4º  Os artistas, os palestrantes ou outros profissionais detentores do


conteúdo, contratados até 31 de dezembro de 2021, que forem impactados
por adiamentos ou por cancelamentos de eventos em decorrência da
pandemia da Covid-19, incluídos shows, rodeios, espetáculos musicais e de
artes cênicas, e os profissionais contratados para a realização desses eventos
não terão obrigação de reembolsar imediatamente os valores dos serviços
ou cachês, desde que o evento seja remarcado, respeitada a data-limite de
31 de dezembro de 2022 para a sua realização. (...)

§ 2º  Serão anuladas as multas por cancelamentos dos contratos de que


trata este artigo, que tenham sido emitidas até 31 de dezembro de 2021,
na hipótese de os cancelamentos decorrerem das medidas de isolamento
social adotadas para o combate à pandemia da Covid-19.

65 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
1.3. Questão inédita comentada

No que se refere às medidas emergenciais para atenuar os efeitos da crise decorrente da


pandemia da Covid-19 nos setores de turismo e de cultura, assinale a alternativa correta:

A) Na hipótese de adiamento ou de cancelamento de serviços, de reservas e de eventos, incluídos


shows e espetáculos, até 31 de dezembro de 2021, em decorrência da pandemia da Covid-19, o
prestador de serviços ou a sociedade empresária não será obrigado a reembolsar os valores pagos
pelo consumidor, em nenhuma hipótese.

B) As operações de adiamento ou de cancelamento de serviços, de reservas e de eventos ocorrerão


sem custo adicional, taxa ou multa ao consumidor, em qualquer data a partir de 1º de janeiro de
2020, e estender-se-ão pelo prazo de 180 dias, contados da comunicação do adiamento ou do
cancelamento dos serviços, ou 30 dias antes da realização do evento, o que ocorrer antes.

C) O fornecedor fica desobrigado de qualquer forma de ressarcimento se o consumidor não fizer


a solicitação dentro do prazo estipulado, ainda que a solicitação seja por motivo de falecimento, de
internação ou de força maior.

D) Na hipótese de remarcação dos serviços, das reservas e dos eventos adiados serão respeitados os
valores e as condições dos serviços originalmente contratados e a data-limite de 31 de dezembro de
2021, para ocorrer a remarcação dos serviços, das reservas e dos eventos adiados.

E) O prestador de serviço ou a sociedade empresária deverá restituir o valor recebido ao consumidor


até 31 de dezembro de 2022, somente na hipótese de ficar impossibilitado de oferecer a remarcação
dos serviços ou a disponibilização de crédito.

Alternativa correta: letra E. Está de acordo com a Lei nº 14.046/2020, alterada pela MP nº
1.036/2021, que diz em seu art. 2º, § 6º: “O prestador de serviço ou a sociedade empresária deverá
restituir o valor recebido ao consumidor até 31 de dezembro de 2022, somente na hipótese de ficar
impossibilitado de oferecer a remarcação dos serviços ou a disponibilização de crédito referidas nos
incisos I e II do caput”. 

66 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
Demais alternativas:

Alternativa A. Errada. A alternativa trata sobre a não obrigação de reembolsar os valores pagos
pelo consumidor, em nenhuma hipótese, mas não é isso que diz a Lei nº 14.046/2020, alterada pela
MP nº 1.036/2021, em seu art. 2º: “Art. 2º Na hipótese de adiamento ou de cancelamento de serviços,
de reservas e de eventos, incluídos shows e espetáculos, até 31 de dezembro de 2021, em decorrência
da pandemia da Covid-19, o prestador de serviços ou a sociedade empresária não será obrigado a
reembolsar os valores pagos pelo consumidor, desde que assegure: I ‒‒ a remarcação dos serviços,
das reservas e dos eventos adiados; ou II ‒‒ a disponibilização de crédito para uso ou abatimento
na compra de outros serviços, reservas e eventos disponíveis nas respectivas empresas” (grifos
nossos).

Alternativa B. Errada. A alternativa trata sobre a extensão do prazo por 180 dias, mas não é o que
diz a Lei nº 14.046/2020, alterada pela MP nº 1.036/2021, que diz em seu art. 2º, § 1º: “As operações
de que trata o caput deste artigo ocorrerão sem custo adicional, taxa ou multa ao consumidor, em
qualquer data a partir de 1º de janeiro de 2020, e estender-se-ão pelo prazo de 120 (cento e vinte)
dias, contado da comunicação do adiamento ou do cancelamento dos serviços, ou 30 (trinta) dias
antes da realização do evento, o que ocorrer antes” (grifos nossos).

Alternativa C. Errada. A alternativa trata o não reembolso no caso de solicitação fora do prazo
ainda que por motivo de falecimento, de internação ou de força maior, mas não é o que diz a Lei nº
14.046/2020, alterada pela MP nº 1.036/2021, que diz em seu art. 2º, § 2º: “Se o consumidor não
fizer a solicitação a que se refere o § 1º deste artigo no prazo assinalado de 120 (cento e vinte) dias,
por motivo de falecimento, de internação ou de força maior, o prazo será restituído em proveito
da parte, do herdeiro ou do sucessor, a contar da data de ocorrência do fato impeditivo da
solicitação” (grifos nossos).

Alternativa D. Errada. A alternativa trata sobre a data-limite ser 31.12.2021, mas não é o que
diz a Lei nº 14.046/2020, alterada pela MP nº 1.036/2021, que diz em seu art. 2º, § 5º: “Na hipótese
prevista no inciso I do caput deste artigo, serão respeitados: I ‒ ‒ os valores e as condições dos
serviços originalmente contratados; e II ‒ ‒ a data-limite de 31 de dezembro de 2022, para ocorrer a
remarcação dos serviços, das reservas e dos eventos adiados” (grifos nossos).

67 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO TRABALHO
1. Lei nº 14.128/2021 ‒‒ Compensação financeira a ser paga pela União
aos profissionais e trabalhadores de saúde
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.128/2021
Ementa: Dispõe sobre compensação financeira a ser paga pela União aos profissionais e
trabalhadores de saúde que, durante o período de emergência de saúde pública
de importância nacional decorrente da disseminação do novo coronavírus (SARS-
CoV-2), por terem trabalhado no atendimento direto a pacientes acometidos pela
Covid-19, ou realizado visitas domiciliares em determinado período de tempo, no
caso de agentes comunitários de saúde ou de combate a endemias, tornarem-
se permanentemente incapacitados para o trabalho, ou ao seu cônjuge ou
companheiro, aos seus dependentes e aos seus herdeiros necessários, em caso de
óbito; e altera a Lei nº 605, de 5 de janeiro de 1949.
Data de publicação: 26.03.2021
Início de vigência: 26.03.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/
Lei/L14128.htm>

1.2. Comentário

Em relação ao direito do trabalho, a Lei nº 14.128/2021 traz como inovação a alteração da Lei nº
605/1949, que dispõe sobre o repouso semanal remunerado e o pagamento de salário nos dias de
feriados civis e religiosos.

Entretanto, para concentrar a abordagem das inovações veiculadas por esse novo ato
normativo, a sua análise encontra-se em direito previdenciário.

68 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
1. Medida Provisória (MP) nº 1.040/2021 ‒‒ Facilitação para abertura de
empresas

1.1. Ficha normativa

MP Nº 1.040/2021
Ementa: Dispõe sobre a facilitação para abertura de empresas, a proteção de acionistas
minoritários, a facilitação do comércio exterior, o Sistema Integrado de Recuperação
de Ativos, as cobranças realizadas pelos conselhos profissionais, a profissão de
tradutor e intérprete público, a obtenção de eletricidade e a prescrição intercorrente
na Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 ‒ ‒ Código Civil (CC).
Data de publicação: 30.03.2021
Início de vigência: ‒ 360 dias, contados da data de sua publicação, quanto à parte do art. 5º,
que altera o § 3º do art. 138 da Lei nº 6.404, de 1976;
• ‒ no primeiro dia útil do primeiro mês após a data de sua publicação, quanto aos arts. 8º a 12,
e incisos III ao XV, XVII, XXII e XXVI do caput do art. 33;

• ‒ 90 dias, contados da data de sua publicação, quanto ao art. 7º; e

• ‒ na data de sua publicação, quanto aos demais dispositivos.

Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/


Mpv/mpv1040.htm>

Destaques:
• A MP tem como objetivo a “facilitação para abertura de empresas, a proteção de acionistas
minoritários, a facilitação do comércio exterior, o Sistema Integrado de Recuperação de
Ativos (Sira), as cobranças realizadas pelos conselhos profissionais, a profissão de tradutor
e intérprete público, a obtenção de eletricidade e a prescrição intercorrente na Lei nº
10.406, de 10 de janeiro de 2002 (CC).

• Estabelece as diretrizes e os procedimentos para a simplificação e integração do processo


de registro e legalização de empresários e de pessoas jurídicas, e cria a Rede Nacional para
a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios (REDESIM).

• Altera diversos dispositivos da Lei nº 8.934/1994, que dispõe sobre o Registro Público de
Empresas Mercantis e atividades afins, e dá outras providências.

• Disciplina quanto à proteção de acionistas minoritários, modificando a Lei nº 6.404/1976.

• Dispõe sobre a facilitação do comércio exterior, e altera a Lei nº 12.546/2011.

69 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
• Autoriza o Poder Executivo Federal a instituir, sob a governança da Procuradoria-Geral da
Fazenda Nacional, o Sira.

• Confere nova regulamentação à profissão de tradutor e intérprete público, revogando


o Decreto nº 13.609/1943.

• Estabelece prazo para o Poder Público autorizar a execução de obras de extensão de redes
de distribuição de energia elétrica.

• Altera a Lei nº 10.406/2002 (CC), para prever no art. 206-A que a prescrição intercorrente
observará o mesmo prazo de prescrição da pretensão.

1.2. Comentário

Em 30.03.2021, foi publicada no Diário Oficial da União a MP nº 1.040/2021, com o objetivo


de favorecer o ambiente de negócios e melhorar a posição do Brasil no ranking Doing Business, do
Banco Mundial. As alterações legislativas visam promover a “abertura de empresas, a proteção de
acionistas minoritários, a facilitação do comércio exterior, o Sistema Integrado de Recuperação de
Ativos ‒ Sira, as cobranças realizadas pelos conselhos profissionais, a profissão de tradutor e intérprete
público, a obtenção de eletricidade e a prescrição intercorrente na Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de
2002 ‒ Código Civil”, nos termos do que dispõe o seu art. 1º.

O seu art. 2º disciplinou as alterações da Lei nº 11.598/2007, que estabelece as diretrizes


e os procedimentos para a simplificação e integração do processo de registro e legalização de
empresários e de pessoas jurídicas, e cria a REDESIM. Por sua vez, o art. 3º da MP modificou
diversos dispositivos da Lei nº 8.934/1994, que dispõe sobre o Registro Público de Empresas
Mercantis e atividades afins, e dá outras providências, tendo como destaque a inclusão do inciso
X ao art. 4º da mencionada lei, em que estabelece as atribuições do Departamento Nacional de
Registro Empresarial e Integração (Drei), com a seguinte competência, in verbis:

Art. 4º (...)

X ‒ instruir, examinar e encaminhar os pedidos de autorização para


nacionalização ou instalação de filial, agência, sucursal ou estabelecimento
no País por sociedade estrangeira, ressalvada a competência de outros
órgãos federais; (...)

70 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
Ainda, a MP disciplinou em seu art. 5º as alterações quanto à proteção de acionistas
minoritários, modificando a Lei nº 6.404/1976, que dispõe sobre as sociedades por ações, realizando
as seguintes alterações:

Art. 122. Compete privativamente à assembleia geral: (...)

VIII ‒ deliberar sobre transformação, fusão, incorporação e cisão da


companhia, sua dissolução e liquidação, eleger e destituir liquidantes e
julgar-lhes as contas;

IX ‒ autorizar os administradores a confessar falência e a pedir recuperação


judicial; e

X ‒ deliberar, quando se tratar de companhias abertas, sobre:

a) a alienação ou a contribuição para outra empresa de ativos, caso o valor


da operação corresponda a mais de 50% (cinquenta por cento) do valor dos
ativos totais da companhia constantes do último balanço aprovado; e

b) a celebração de transações com partes relacionadas que atendam


aos critérios de relevância a serem definidos pela Comissão de Valores
Mobiliários.

Parágrafo único. Em caso de urgência, a confissão de falência ou o pedido


de recuperação judicial poderá ser formulado pelos administradores, com
a concordância do acionista controlador, se houver, hipótese em que a
assembleia geral será convocada imediatamente para deliberar sobre a
matéria.

Vale mencionar que as sociedades anônimas de capital aberto terão novos prazos a serem
observados quanto à Convocação da Assembleia Geral, nos seguintes termos:

Art. 124. (...)

§ 1º (...)

II ‒ na companhia aberta, o prazo de antecedência da primeira convocação


será de 30 (trinta) dias e o da segunda convocação será de 8 (oito) dias. (...)

§ 5º (...)

I ‒ declarar quais documentos e informações relevantes para a deliberação


da assembleia geral não foram tempestivamente disponibilizados aos
acionistas e determinar o adiamento da assembleia por até 30 (trinta)
dias, contado da data de disponibilização dos referidos documentos e
informações aos acionistas; e (...)

71 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
Por sua vez, o art. 5º da MP incluiu ao art. 138 da mencionada lei os §§ 3º e 4º, com a seguinte
redação:

Art. 138. (...)

§ 3º  É vedada, nas companhias abertas, a acumulação do cargo de


presidente do conselho de administração e do cargo de diretor-presidente
ou de principal executivo da companhia.

§ 4º A Comissão de Valores Mobiliários poderá excepcionar a vedação de


que trata o § 3º para as companhias com menor faturamento, nos termos de
sua regulamentação.

No entanto, prevendo prazo de vacância específico de 360 dias, contado da data de sua
publicação, quanto à parte do art. 5º que altera o § 3º do art. 138 da Lei nº 6.404/1976, conforme o art.
34, I, da MP.

Ainda, a MP incluiu os §§ 1º e 2º ao art. 140 da mencionada lei, que assim dispõem sobre a
matéria:

Art. 140. (...)

§ 1º O estatuto poderá prever a participação no conselho de representantes


dos empregados, escolhidos pelo voto destes, em eleição direta, organizada
pela empresa, em conjunto com as entidades sindicais que os representam.

§ 2º Na composição do conselho de administração das companhias abertas,


é obrigatória a participação de conselheiros independentes, nos termos e
nos prazos definidos pela Comissão de Valores Mobiliários.

Por sua vez, o Capítulo IV da MP trata da facilitação do comércio exterior, alterando a Lei nº
12.546/2011 e cuidando especificamente das licenças, autorizações ou exigências administrativas
para importações ou exportações, bem como do comércio exterior de serviços, intangíveis e outras
operações que produzam variações no patrimônio das pessoas físicas, das pessoas jurídicas ou dos
entes despersonalizados.

Cabe ressaltar que o art. 13 da MP autoriza o Poder Executivo federal a instituir, sob a governança
da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, o Sira, “constituído por conjunto de instrumentos,
mecanismos e iniciativas destinados a facilitar a identificação e a localização de bens e devedores”,
ainda promovendo “a constrição e a alienação de ativos”.

72 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
A MP, em seu Capítulo VII, confere nova regulamentação à profissão de tradutor e intérprete
público, revogando o Decreto nº 13.609/1943. Destaca-se que “o tradutor e intérprete público poderá
optar por se organizar na forma de sociedade unipessoal”, nos termos do que dispõe o seu art. 28.

Visando fomentar o acesso à eletricidade, o texto estabelece prazo para o Poder Público
autorizar a execução de obras de extensão de redes de distribuição de energia elétrica, conforme
disciplina o art. 31, in verbis:

Art. 31.  Na execução de obras de extensão de redes aéreas de distribuição


de responsabilidade da concessionária ou permissionária de serviço
público de distribuição de energia elétrica, a licença ou autorização para
realização de obras em vias públicas, quando for exigida e não houver prazo
estabelecido pelo Poder Público local, será emitida pelo órgão público
competente no prazo de cinco dias úteis, contado da data de apresentação
do requerimento.

A seu turno, o art. 32 da nova legislação traz alteração pontual na Lei nº 10.406/2002 (CC), que
incluiu o art. 206-A, in verbis: “Art. 206-A. A prescrição intercorrente observará o mesmo prazo de
prescrição da pretensão”.

Em relação a essa alteração, conforme a exposição de motivos da medida provisória, o objetivo


da alteração legislativa é fortalecer a segurança jurídica e, para tanto, realiza-se a “alteração pontual
no Código Civil para cristalizar o instituto da prescrição intercorrente já consagrado pelo Supremo
Tribunal Federal na Súmula nº 150”.

Por fim, é importante observar que a MP nº 1.040/2021 ainda será analisada pela Câmara dos
Deputados e pelo Senado.

1.3. Questão inédita comentada

De acordo com a MP nº 1.040/2021, que alterou Lei nº 6.404/1976, analise as assertivas e


marque a opção incorreta:

A) Compete privativamente à assembleia geral deliberar sobre transformação, fusão, incorporação


e cisão da companhia, sua dissolução e liquidação, eleger e destituir liquidantes e julgar-lhes as
contas.

B) Compete privativamente à assembleia geral autorizar os administradores a confessar falência e


a pedir recuperação judicial.

73 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
C) Compete privativamente à assembleia geral deliberar, quando se tratar de companhias
fechadas, sobre a alienação ou a contribuição para outra empresa de ativos, caso o valor da operação
corresponda a mais de 60% do valor dos ativos totais da companhia constantes do último balanço
aprovado.

D) Na companhia aberta, o prazo de antecedência da primeira convocação da Assembleia Geral


será de 30 (trinta) dias e o da segunda convocação será de 8 (oito) dias.

E) A Comissão de Valores Mobiliários poderá, a seu exclusivo critério, mediante decisão fundamentada
de seu Colegiado, a pedido de qualquer acionista, e ouvida a companhia declarar quais documentos
e informações relevantes para a deliberação da assembleia geral não foram tempestivamente
disponibilizados aos acionistas e determinar o adiamento da assembleia por até 30 (trinta) dias, contado
da data de disponibilização dos referidos documentos e informações aos acionistas.

Alternativa correta: letra C. O enunciado da alternativa “c” está incorreto, pois contraria a
literalidade do que dispõem a alínea “a” e inciso X do art. 122 da Lei nº 6.404/1976, incluídos pela MP
nº 1.040/2021, nos seguintes termos: “Compete privativamente à assembleia geral: (...) X ‒ deliberar,
quando se tratar de companhias abertas, sobre: a) a alienação ou a contribuição para outra empresa
de ativos, caso o valor da operação corresponda a mais de 50% (cinquenta por cento) do valor dos
ativos totais da companhia constantes do último balanço aprovado”.

Demais alternativas:

Alternativa A. O enunciado da alternativa “A” está correto, tendo em vista o que dispõe o
inciso VIII do art. 122 da Lei nº 6.404/1976, modificado pela MP nº 1.040/2021, nos seguintes termos:
“Compete privativamente à assembleia geral: (...) VIII ‒ deliberar sobre transformação, fusão,
incorporação e cisão da companhia, sua dissolução e liquidação, eleger e destituir liquidantes e
julgar-lhes as contas; (...)

Alternativa B. O enunciado da alternativa “B” está correto, tendo em vista o que dispõe a
literalidade do inciso IX do art. 122 da Lei nº 6.404/1976, modificado pela MP nº 1.040/2021, nos
seguintes termos: “IX ‒ autorizar os administradores a confessar falência e a pedir recuperação judicial”.

74 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
Alternativa D. O enunciado da alternativa “D” está correto, tendo em vista o que dispõe a
literalidade do inciso II do § 1º do art. 124 da Lei nº 6.404/1976, modificado pela MP nº 1.040/2021,
nos seguintes termos: “§ 1º A primeira convocação da assembleia-geral deverá ser feita: (...) II ‒‒ na
companhia aberta, o prazo de antecedência da primeira convocação será de 30 (trinta) dias e o da
segunda convocação será de 8 (oito) dias”.

Alternativa E. O enunciado da alternativa “E” está correto, tendo em vista o que dispõe a
literalidade do inciso I do § 5º do art. 124 da Lei nº 6.404/1976, modificado pela MP nº 1.040/2021, nos
seguintes termos: “§ 5º A Comissão de Valores Mobiliários poderá, a seu exclusivo critério, mediante
decisão fundamentada de seu Colegiado, a pedido de qualquer acionista, e ouvida a companhia:
I ‒ ‒ declarar quais documentos e informações relevantes para a deliberação da assembleia geral não
foram tempestivamente disponibilizados aos acionistas e determinar o adiamento da assembleia por
até 30 (trinta) dias, contado da data de disponibilização dos referidos documentos e informações
aos acionistas”.

75 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PENAL
1. Lei nº 14.132/2021 ‒ ‒ Crime de perseguição

1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.132/2021
Ementa: Acrescenta o art. 147-A ao Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal ‒ CP), para prever o crime de perseguição, e revoga o art. 65 do Decreto-Lei
nº 3.688, de 3 de outubro de 1941 (Lei das Contravenções Penais).

Data de publicação: 1º.04.2021

Início de vigência: 1º.04.2021

Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/


lei/L14132.htm>
Destaques:
• A lei acrescenta o art. 147-A ao CP, para prever o crime de perseguição, nos seguintes
termos: “Perseguição. Art. 147-A. Perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio,
ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de
locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou
privacidade”.

• Revoga o art. 65 do Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941 (Lei das Contravenções


Penais), que assim previa: “Art. 65. Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por
acinte ou por motivo reprovável: (...)”.

1.2. Comentário

Em 1º.04.2021 foi publicada a Lei nº 14.132, de 31.03.2021, com início imediato de vigência.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo acrescenta: “o art. 147-A ao Decreto-Lei nº
2.848, de 7 de dezembro de 1940 (CP), para prever o crime de perseguição”, além disso “revoga o art.
65 do Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941 (Lei das Contravenções Penais)”.

De acordo com sua ementa, passa a ser prevista como crime a ação de perseguição.

Perseguição

Art. 147-A. Perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio,


ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a
capacidade de locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando
sua esfera de liberdade ou privacidade.

76 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PENAL
Pena ‒ reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

§ 1º A pena é aumentada de metade se o crime é cometido:

I ‒ ‒ contra criança, adolescente ou idoso;

II ‒ ‒ contra mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos do


§ 2º-A do art. 121 deste Código;

III ‒ ‒ mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas ou com o emprego de


arma.

§ 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes


à violência.

§ 3º Somente se procede mediante representação.

Art. 3º Revoga-se o art. 65 do Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941


(Lei das Contravenções Penais).

Trata-se de uma novatio legis in pejus, um tipo penal novo, englobando ainda condutas que
antes se enquadravam como contravenção penal, não podendo retroagir neste particular.

O crime de stalking (perseguição) é uma resposta a casos cada vez mais crescentes de stalkers
(perseguidores), especialmente por meio das redes sociais.

O crime consiste no ato do agente que persegue alguém, de forma reiterada, exigindo-se,
assim, a habitualidade em seu agir. Além disso, a perseguição pode ocorrer por qualquer meio
(presencialmente, por exemplo, comparecendo todos os dias no trabalho da vítima; virtualmente, nas
diversas redes sociais, e-mail etc.; ou por qualquer outra forma, como envio de cartas, no intuito de:
(1) ameaçar a integridade física ou psicológica da vítima; (2) restringir a capacidade de locomoção da
vítima; ou (3) invadir ou perturbar, de qualquer forma, a esfera de liberdade ou privacidade da vítima.

Cuida-se de infração de menor potencial ofensivo, uma vez que a pena para o crime é de 6 meses
a 2 anos e multa, passível, portanto, do procedimento nos Juizados Especiais Criminais e de aplicação
de institutos descarcerizadores, como a transação penal e a suspensão condicional do processo.

77 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PENAL
O novo tipo penal estabelece causas de aumento de pena (aumentada de metade) se o crime
é cometido: contra criança, adolescente ou idoso, mediante concurso de duas ou mais pessoas ou
com o emprego de arma ou contra mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos do
§ 2º-A do art. 121 do Código Penal (CP). Segundo o citado parágrafo, considera-se que há razões de
condição de sexo feminino quando o crime envolve:

I ‒ ‒ violência doméstica e familiar;

II ‒ ‒ menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

As penas previstas para o crime são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência,
e somente se procede mediante representação, ou seja, deve haver manifestação inequívoca da
vítima ou de seu representante legal a respeito da intenção de se instaurar a persecução penal, não
havendo forma específica de apresentação dessa representação, podendo ser, inclusive, de forma
verbal ao delegado de polícia ou membro do Ministério Público, por exemplo.

1.3. Questão inédita comentada

Segundo o art. 147-A do Decreto-Lei nº 2.848, de 07.12.1940 (CP, acrescentado pela Lei nº
14.132, de 31.03.2021), o crime de perseguição:

A) Não exige habitualidade.

B) Tem pena mínima de detenção de dois anos.

C) Tem pena aumentada em 1/4 se o crime é cometido contra criança, adolescente ou idoso.

D) Tem pena aumentada pela metade se o crime é cometido contra mulher por razões da condição
de sexo feminino.

E) Não tem previsão de aumento de pena se é cometido com o emprego de arma.

Alternativa correta: letra D. Nos termos do art. 147-A, § 1º, II, do CP, o crime de perseguição
tem a pena aumentada de metade se o crime for cometido contra mulher por razões da condição de
sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 do CP.

78 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PENAL
Demais alternativas:

Alternativa A. Errada. O crime consiste no ato criminoso do agente que persegue alguém, de
forma reiterada, exigindo-se, assim, a habitualidade em seu agir.

Alternativa B. Errada. Cuida-se de infração de menor potencial ofensivo, uma vez que a pena
para o crime é de 6 meses a 2 anos, e multa.

Alternativa C. Errada. A pena é aumentada de metade se o crime é cometido contra criança,


adolescente ou idoso, nos termos do § 1º, I, art. 147-A do CP.

Alternativa E. Errada. O inciso III, do § 1º, do art. 147-A do CP prevê o caso de aumento de pena
no caso de emprego de arma.

79 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
1. Lei nº 14.126/2021 ‒ ‒ Visão monocular como deficiência sensorial

1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.126/2021
Ementa: Classifica a visão monocular como deficiência sensorial, do tipo visual, dispondo
a respeito da avaliação biopsicossocial da visão monocular para fins de
reconhecimento da condição de pessoa com deficiência.
Data de publicação: 23.03.2021
Início de vigência: 23.03.2021
Link do texto normativo:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/
L14126.htm>

1.2. Comentário

Em relação ao direito previdenciário, a Lei nº 14.126/2021 traz como inovação a classificação da


visão monocular como deficiência sensorial, do tipo visual, o que repercutirá por conta, especialmente,
do benefício de prestação continuada.

Entretanto, para concentrar a abordagem das inovações veiculadas por esse novo ato
normativo, a sua análise encontra-se em direito da pessoa com deficiência.

2. Lei nº 14.128/2021 ‒‒ Compensação financeira a ser paga pela União


aos profissionais e trabalhadores de saúde

2.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.128/2021
Ementa: Dispõe sobre compensação financeira a ser paga pela União aos profissionais e
trabalhadores de saúde que, durante o período de emergência de saúde pública
de importância nacional decorrente da disseminação do novo coronavírus (SARS-
CoV-2), por terem trabalhado no atendimento direto a pacientes acometidos pela
Covid-19, ou realizado visitas domiciliares em determinado período de tempo, no
caso de agentes comunitários de saúde ou de combate a endemias, tornarem-
se permanentemente incapacitados para o trabalho, ou ao seu cônjuge ou
companheiro, aos seus dependentes e aos seus herdeiros necessários, em caso de
óbito; e altera a Lei nº 605, de 5 de janeiro de 1949.

80 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Data de publicação: 26.03.2021

Início de vigência: 26.03.2021


Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/
Lei/L14128.htm>
Destaques:
• Cria compensação financeira a ser paga pela União aos profissionais e trabalhadores de
saúde que, durante o período de emergência de saúde pública de importância nacional
decorrente da disseminação do novo coronavírus (SARS-CoV-2), por terem trabalhado
no atendimento direto a pacientes acometidos pela Covid-19, ou realizado visitas
domiciliares em determinado período de tempo, no caso de agentes comunitários de
saúde ou de combate a endemias, tornarem-se permanentemente incapacitados para o
trabalho, ou ao seu cônjuge ou companheiro, aos seus dependentes e aos seus herdeiros
necessários, em caso de óbito.

• Altera a Lei nº 605/1949, que dispõe sobre o repouso semanal remunerado e o pagamento
de salário nos dias de feriados civis e religiosos.

2.2. Comentário

Em 26.03.2021, foi publicada a Lei nº 14.128, com início imediato de vigência.

De acordo com sua ementa, será devida uma compensação financeira a ser paga pela União
aos profissionais e trabalhadores de saúde que, durante o período de emergência de saúde pública
de importância nacional decorrente da disseminação do novo coronavírus (SARS-CoV-2), por
terem trabalhado no atendimento direto a pacientes acometidos pela Covid-19, ou realizado visitas
domiciliares em determinado período de tempo, no caso de agentes comunitários de saúde ou de
combate a endemias, tornarem-se permanentemente incapacitados para o trabalho, ou ao seu
cônjuge ou companheiro, aos seus dependentes e aos seus herdeiros necessários, em caso de
óbito; e altera a Lei nº 605, de 5 de janeiro de 1949.

Interessante mencionar que o projeto desta lei foi vetado pelo presidente da República sob o
seguinte argumento:

Apesar do mérito da propositura e a boa intenção do legislador em determinar


o pagamento de indenização pela União para familiares de profissionais de
saúde que atuam diretamente no combate à pandemia e venham a falecer,
bem como para aqueles que ficaram incapacitados permanentemente para
o trabalho, a proposta, ao impor o apoio financeiro na forma do projeto,
contém os seguintes óbices jurídicos.
81 Caderno de novidades legislativas
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
A proposta viola o art. 8º da recente Lei Complementar nº 173, de 2020, por
se estar prevendo benefício indenizatório para agentes públicos e criando
despesa continuada em período de calamidade no qual tais medidas estão
vedadas.

O segundo óbice está na falta de apresentação de estimativa do impacto


orçamentário e financeiro, em violação às regras do art. 113 do ADCT.

Ademais da violação ao art. 113 do ADCT, tendo em vista que o período


do benefício supera o prazo de 31.12.2020 (Art. 1º do Decreto Legislativo
nº 6 de 2020), revela-se incompatível com os arts. 15, 16 e 17 da Lei de
Responsabilidade Fiscal, cuja violação pode acarretar responsabilidade
para o Presidente da República.

O terceiro problema é a inconstitucionalidade formal, por se criar benefício


destinado a outros agentes públicos federais e a agentes públicos de outros
entes federados por norma de iniciativa de parlamentar federal, a teor do
art. 1º e art. 61, § 1º, da Constituição.

Por fim, ao dispor que durante o período de emergência decorrente da Covid-


19, a imposição de isolamento dispensará o empregado da comprovação
de doença por 7 (sete) dias, veicula matéria análoga ao do PL nº 702/2020,
o qual foi objeto de veto presidencial, por gerar insegurança jurídica ao
apresentar disposição dotada de imprecisão técnica, e em descompasso
com o conceito veiculado na Portaria nº 356, de 2020, do Ministério da
Saúde, e na Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020, que tratam situação
análoga como isolamento.

O Congresso Nacional derrubou o veto presidencial em sessão realizada no dia 17.03.2021.


Então, no dia 26.03.2021 o projeto foi promulgado e publicado.

Por sua vez, a legislação define quem é o trabalhador ou profissional de saúde para fins
do recebimento da compensação financeira. É o previsto no art. 1º, parágrafo único, I, da Lei
nº 14.128/2021:

Art. 1º Esta Lei dispõe sobre compensação financeira a ser paga pela
União aos profissionais e trabalhadores de saúde que, durante o período
de emergência de saúde pública de importância nacional decorrente da
disseminação do novo coronavírus (SARS-CoV-2), por terem trabalhado
no atendimento direto a pacientes acometidos pela Covid-19, ou realizado
visitas domiciliares em determinado período de tempo, no caso de
agentes comunitários de saúde ou de combate a endemias, tornarem-se
permanentemente incapacitados para o trabalho, ou ao seu cônjuge ou
companheiro, aos seus dependentes e aos seus herdeiros necessários, em
caso de óbito.

82 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se:

I ‒ ‒ profissional ou trabalhador de saúde:

a) aqueles cujas profissões, de nível superior, são reconhecidas pelo Conselho


Nacional de Saúde, além de fisioterapeutas, nutricionistas, assistentes
sociais e profissionais que trabalham com testagem nos laboratórios de
análises clínicas;

b) aqueles cujas profissões, de nível técnico ou auxiliar, são vinculadas às


áreas de saúde, incluindo os profissionais que trabalham com testagem nos
laboratórios de análises clínicas;

c) os agentes comunitários de saúde e de combate a endemias;

d) aqueles que, mesmo não exercendo atividades-fim nas áreas de saúde,


auxiliam ou prestam serviço de apoio presencialmente nos estabelecimentos
de saúde para a consecução daquelas atividades, no desempenho de
atribuições em serviços administrativos, de copa, de lavanderia, de limpeza,
de segurança e de condução de ambulâncias, entre outros, além dos
trabalhadores dos necrotérios e dos coveiros; e

e) aqueles cujas profissões, de nível superior, médio e fundamental, são


reconhecidas pelo Conselho Nacional de Assistência Social, que atuam no
Sistema Único de Assistência Social; (...)

Trata-se de uma previsão justa e merecida, para minimizar a incapacidade ou perda de um


profissional que está na linha de frente no combate à pandemia.

A lei delimita o momento que gera a percepção da compensação financeira, desta forma, a
atuação desses profissionais deve ter ocorrido no Espin-Covid-19. O Espin-Covid-19 é o estado de
emergência de saúde pública de importância nacional em decorrência da infecção humana pelo
novo coronavírus (SARS-CoV-2). Este estado foi criado juridicamente com a Portaria nº 188/2020,
do Ministério da Saúde. Importante destacar que o estado de emergência, com fulcro no art. 1º,
caput, §§ 2º e 3º, da Lei nº 13.979/2020, só se encerrará com a publicação de novo ato do Ministro
de Estado da Saúde.

Em um primeiro momento, analisaremos os aspectos legais da concessão da compensação


financeira ao profissional acometido pela incapacidade permanente. Aqui, o legislador se referiu a
dois grupos: i) ao profissional ou trabalhador de saúde que ficar incapacitado permanentemente
para o trabalho em decorrência da Covid-19 (art. 2º, I, da Lei nº 14.128/2021); e ao ii) agente comunitário
de saúde e de combate a endemias que ficar incapacitado permanentemente para o trabalho em

83 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
decorrência da Covid-19, por ter realizado visitas domiciliares em razão de suas atribuições durante
o Espin-Covid-19 (art. 2º, II, da Lei nº 14.128/2021).

Nesses casos, a incapacidade permanente provocada pela Covid-19 deve ser comprovada.
O legislador gerou a presunção de que a Covid-19 foi causa incapacitante quando houver o nexo
temporal entre a data de início da doença e a ocorrência da incapacidade permanente para o
trabalho ou óbito, se houver: “I ‒‒ diagnóstico de Covid-19 comprovado mediante laudos de exames
laboratoriais; ou II ‒‒ laudo médico que ateste quadro clínico compatível com a Covid-19” (art. 2º, § 1º,
da Lei nº 14.128/2021).

Ou seja, em relação ao nexo de causalidade, há previsão expressa no sentido de se presumir


a covid como causa, ainda que não exclusiva, se presente o nexo temporal com o diagnóstico da
doença ou laudo atestando o quadro clínico com ela compatível.

Ademais, a presença de comorbidades não afasta o direito ao recebimento da compensação


financeira. Ainda, o profissional incapacitado estará sujeito à avaliação de perícia médica realizada
por servidores integrantes da carreira de Perito Médico Federal (art. 2º, § 3º).

Em segundo momento, imperioso mencionar que o evento morte do profissional de saúde


decorrente da infecção pelo vírus gera o direito à compensação financeira aos dependentes (art. 2º,
III). Nesta esteira, em caso de morte deste profissional ou trabalhador de saúde a lei faz referência ao
rol dos dependentes previstos no art. 16 da Lei nº 8.213/1991. Vamos rememorar!

• Cônjuge.
• Companheiro (hétero ou homoafetivo).
• Filho menor de 21 anos, desde que não tenha sido emancipado.
1ª Classe • Filho inválido (não importa a idade).
• Filho com deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave (não importa
a idade).
Dependência econômica presumida e afasta os demais dependentes.

• Pais.
2ª Classe
Dependência econômica deve ser comprovada.

84 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
• Irmão menor de 21 anos, que não tenha sido emancipado.
• Irmão inválido (não importa a idade).
3ª Classe • Irmão com deficiência intelectual ou mental, ou deficiência grave (não
importa a idade).
Dependência econômica deve ser comprovada.

O marco temporal para o pagamento da compensação financeira em caso de incapacidade


permanente e óbito depende da prévia análise e deferimento do benefício na forma do regulamento
(art. 4º da Lei nº 14.128/2021). Esse regulamento ainda não foi publicado, portanto, é importante
acompanhar.

Art. 4º A compensação financeira de que trata esta Lei será concedida após
a análise e o deferimento de requerimento com esse objetivo dirigido ao
órgão competente, na forma de regulamento.

A lei prevê que será devida a compensação inclusive nas hipóteses de óbito ou incapacidade
permanente para o trabalho anterior à data de publicação da Lei nº 14.128/2021, desde que a
infecção pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2) tenha ocorrido durante o Espin-Covid-19 (art. 2º, §
4º). E, ainda, a compensação financeira será devida inclusive nas hipóteses de óbito ou incapacidade
permanente para o trabalho superveniente à declaração do fim do Espin-Covid-19, desde que a
infecção pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2) tenha ocorrido durante o Espin-Covid-19 (art. 2º, § 4º,
da Lei nº 14.128/2021).

A compensação financeira está prevista no art. 3º da Lei nº 14.128/2021. Vamos sistematizar!

I ‒ ‒ 1 (uma) única prestação em valor fixo de II ‒ 1 (uma) única prestação de valor


R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais). variável paga a cada um dos dependentes
do profissional ou trabalhador de saúde
Pago ao profissional ou trabalhador de
falecido.
saúde incapacitado permanentemente.
A prestação de valor variável será devida a:
Em caso de morte, o valor será pago
ao seu cônjuge ou companheiro, aos • dependente menor de 21 anos;
seus dependentes e aos seus herdeiros
• dependente menor de 24 anos (se
necessários.
cursando curso superior);

• dependente com deficiência


(independentemente da idade).

85 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Cálculo: Aplica-se o rateio entre os Cálculo: o valor será calculado mediante a
beneficiários, em partes iguais (art. 3º, § 2º, multiplicação da quantia de R$ 10.000,00
da Lei nº 14.128/2021). (dez mil reais) pelo número de anos inteiros
e incompletos que faltarem, para cada um
deles, na data do óbito do profissional ou
trabalhador de saúde, para atingir a idade de
21 anos completos, ou 24 anos se cursando
curso superior.

Atenção! O cálculo para o dependente com


deficiência (art. 3º, § 1º, da Lei nº 14.128/2021)
é diferente. O valor da prestação variável
decorre da multiplicação da quantia de
R$ 10.000,00 (dez mil reais) pelo número
mínimo de 5 (cinco) anos. O legislador
buscou dar tratamento mais favorável
ao dependente deficiente ao receber, no
mínimo, as parcelas referentes a 5 (cinco)
anos.

Outro aspecto relevante desta legislação é agregar ao valor da compensação financeira, em


caso de óbito do profissional ou trabalhador de saúde, o valor relativo às despesas de funeral (art. 3º,
§ 4º, da Lei nº 14.128/2021).

O legislador permitiu que a União realize o parcelamento da compensação financeira. É o


disposto no art. 3º, § 3º, da Lei nº 14.128/2021:

Art. 3º A compensação financeira de que trata esta Lei será composta de: (...)

§ 3º A integralidade da compensação financeira, considerada a soma das


parcelas devidas, quando for o caso, será dividida, para o fim de pagamento,
em 3 (três) parcelas mensais e sucessivas de igual valor. (Grifos nossos).

Cabe ressaltar, ainda, que o recebimento da indenização não prejudica o direito a benefícios
previdenciários, a exemplo dos benefícios por incapacidade temporária e definitiva, além de eventual
pensão por morte.

Art. 5º A compensação financeira de que trata esta Lei possui natureza


indenizatória e não poderá constituir base de cálculo para a incidência de
imposto de renda ou de contribuição previdenciária.

Parágrafo único. O recebimento da compensação financeira de que trata


esta Lei não prejudica o direito ao recebimento de benefícios previdenciários
ou assistenciais previstos em lei.
86 Caderno de novidades legislativas
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Além de criar uma compensação financeira, a ser paga pela União aos profissionais e
trabalhadores de saúde que trabalham no atendimento direto a pacientes acometidos pela Covid-19,
a Lei nº 14.128/2021 alterou a Lei nº 605/1949, que dispõe sobre o repouso semanal remunerado,
acrescentando os §§ 4º e 5º ao art. 6º.

O art. 6º estabelece que não é devida remuneração do repouso semanal remunerado


quando, sem motivo justificado, o empregado não tiver trabalhado durante toda a semana anterior,
cumprindo integralmente o seu horário de trabalho, salvo motivos justificados, trazidos no § 1º da Lei
nº 605/1949:

Art. 6º (...)

§ 1º São motivos justificados:

a) os previstos no artigo 473 e seu parágrafo único da Consolidação das Leis


do Trabalho;

b) a ausência do empregado devidamente justificada, a critério da


administração do estabelecimento;

c) a paralisação do serviço nos dias em que, por conveniência do empregador,


não tenha havido trabalho;

d) a ausência do empregado, até três dias consecutivos, em virtude do seu


casamento;

e) a falta ao serviço com fundamento na lei sobre acidente do trabalho;

f) a doença do empregado, devidamente comprovada.

No entanto, a nova norma estabeleceu que, “durante o período de emergência em saúde pública
decorrente da Covid-19, a imposição de isolamento dispensará o empregado da comprovação de
doença por 7 (sete) dias”, conforme art. 7º da Lei nº 14.128/2021, que acrescentou o § 4º ao art. 6º da
Lei nº 605/1949.

Além disso, em caso de imposição de isolamento em razão da Covid-19, “o trabalhador poderá


apresentar como justificativa válida, no oitavo dia de afastamento, documento de unidade de saúde
do Sistema Único de Saúde (SUS) ou documento eletrônico regulamentado pelo Ministério da
Saúde”, conforme o art. 7º da Lei nº 14.128/2021, que acrescentou o § 5º ao art. 6º da Lei nº 605/1949.

87 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
2.3. Questão inédita comentada

A Lei nº 14.128/2021 dispõe sobre compensação financeira a ser paga pela União aos profissionais
e trabalhadores de saúde que, durante o período de emergência de saúde pública de importância
nacional decorrente da disseminação do novo coronavírus (SARS-CoV-2). Em relação ao disposto
nessa lei, julgue os itens a seguir e assinale a alternativa correta:

I – Não se considera profissional ou trabalhador de saúde, para os fins previstos na lei, o assistente
social.

II – A compensação prevista na lei tem valor entre R$ 30.000,00 a R$ 50.000,00, a depender


da gravidade da incapacidade.

III – O recebimento da compensação financeira de que trata esta Lei não prejudica o direito ao
recebimento de benefícios previdenciários ou assistenciais previstos em lei.

Está correto o que se afirma em:

A) I

B) II

C) III

D) I e II

E) II e III

Alternativa correta: letra C. Apenas o item III está correto.

Item I: Errado. Nos termos do art. 1º, parágrafo único, I, considera-se profissional ou trabalhador
de saúde: “a) aqueles cujas profissões, de nível superior, são reconhecidas pelo Conselho Nacional
de Saúde, além de fisioterapeutas, nutricionistas, n e profissionais que trabalham com testagem
nos laboratórios de análises clínicas; b) aqueles cujas profissões, de nível técnico ou auxiliar, são
vinculadas às áreas de saúde, incluindo os profissionais que trabalham com testagem nos laboratórios
de análises clínicas; c) os agentes comunitários de saúde e de combate a endemias”.

88 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Item II: Errado. Conforme o art. 3º, I, a compensação financeira prevista na lei será composta de
uma “única prestação em valor fixo de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), devido ao profissional ou
trabalhador de saúde incapacitado permanentemente para o trabalho ou, em caso de óbito deste,
ao seu cônjuge ou companheiro, aos seus dependentes e aos seus herdeiros necessários, sujeita,
nesta hipótese, a rateio entre os beneficiários”.

Item III: Correto. A compensação financeira possui natureza indenizatória e não poderá
constituir base de cálculo para a incidência de imposto de renda ou de contribuição previdenciária,
consoante o art. 5º da nova lei.

89 Caderno de novidades legislativas


SUMÁRIO

Abril
2021

Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
1. Lei nº 14.133/2021 – Nova Lei de Licitações e Contratos
Administrativos
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.133/2021
Ementa: Lei de Licitações e Contratos Administrativos.

Data de publicação: 1º.04.2021

Início de vigência: 1º.04.2021


Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/
lei/L14133.htm>
Destaques:
• Revoga, imediatamente, os arts. 89 a 108 da Lei nº 8.666/1993 e mantém seus demais
dispositivos vigentes por um período de dois anos, promovendo um regime de transição.

• Mantém, também em regime de transição bienal, a Lei nº 10.520/2002, que trata da


modalidade de licitação pregão, bem como os arts. 1º a 47-A da Lei nº 12.462/2011, que
trata do Regime Diferenciado de Contratações Públicas (RDC).

• Consagra novos princípios, como o princípio da segregação de funções.

• Incorpora técnicas e institutos de sistemas de contratação anteriores, como o RDC e o


pregão (ex.: inversão de fases e orçamento sigiloso).

• Extingue a tomada de preços e o convite, e cria a modalidade diálogo competitivo.

• Permite, de forma expressa, a adoção de matriz de risco pelos contratantes.

1.2. Comentário

Em 1º de abril de 2021 foi finalmente publicada a Lei nº 14.133, a Nova Lei Geral de Licitações e
Contratos, que vai substituir a obsoleta Lei nº 8.666/1993.

Importa ressaltar, preliminarmente, que a Lei nº 8.666/1993 continuará, em parte, em vigor por
um período de dois anos, a fim de que os entes possam se adaptar às novas regras estabelecidas na
Lei nº 14.133/2021. Apenas os arts. 89 a 108 da Lei nº 8.666/1993 – referentes aos crimes de licitação
e do processo e procedimento judiciais – estão desde já revogados.

91 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
A Lei nº 14.133/2021 também manteve em regime de transição bienal a Lei nº 10.520/2002,
que trata da modalidade de licitação pregão, bem como os arts. 1º a 47-A da Lei nº 12.462/2011, que
trata do RDC.

Assim, de acordo com o art. 190, o contrato assinado antes da vigência da nova lei continuará
regido integralmente e até seu termo final pela legislação anterior, ainda que de trato contínuo,
produzindo efeitos mesmo após o prazo de dois anos previsto para a transição, não se operando,
portanto, a chamada retroatividade, ainda que mínima. Para além disso, o art. 191 permite que a
administração escolha licitar de acordo com a lei que melhor lhe aprouver, durante o período de
transição de dois anos.

Não é objeto deste material esmiuçar todas as novidades operadas pela Lei nº 14.133 no regime
de contratações públicas, mas abordaremos, a seguir, seus principais destaques.

Uma primeira alteração relevante é a previsão, no art. 5º da lei, do princípio da segregação de


funções, o qual é diretamente relacionado ao Compliance, protetor da probidade administrativa.
Trata-se de vedação da designação do mesmo agente público para atuação em mais de uma função
suscetível a riscos de ocultação de erros e ocorrência de fraudes.  

Além disso, foram incorporadas diversas técnicas e institutos já utilizados em outros sistemas
de contratação anteriores, como o RDC e o pregão, tais como a inversão das fases de habilitação
e julgamento como regra (assim, somente haverá a verificação da habilitação do licitante vencedor
após o julgamento) e o orçamento sigiloso. O orçamento sigiloso pode ser mais bem compreendido
a partir da leitura do art. 18, IV, combinado com o art. 24, I. 

Art. 18. A fase preparatória do processo licitatório é caracterizada pelo


planejamento e deve compatibilizar-se com o plano de contratações anual
de que trata o inciso VII do caput do art. 12 desta Lei, sempre que elaborado,
e com as leis orçamentárias, bem como abordar todas as considerações
técnicas, mercadológicas e de gestão que podem interferir na contratação,
compreendidos: (...)

IV – o orçamento estimado, com as composições dos preços utilizados


para sua formação;

Art. 24. Desde que justificado,  o orçamento estimado da contratação


poderá ter caráter sigiloso, sem prejuízo da divulgação do detalhamento
dos quantitativos e das demais informações necessárias para a elaboração das
propostas, e, nesse caso: 

I – o sigilo não prevalecerá para os órgãos de controle interno e externo;


(...) (Grifos nossos.)
92 Caderno de novidades legislativas
DIREITO ADMINISTRATIVO
Outras importantes alterações em relação à Lei nº 8.666/1993 foram a extinção da tomada
de preços e do convite, e a criação da modalidade diálogo competitivo, restando, ainda, vedada
a criação de outras modalidades de licitação ou a combinação delas, conforme disposto no art. 28,
§ 2º. Ademais, consagra a modalidade pregão, incorporando-a em seu texto.

O diálogo competitivo é, nos termos do art. 6º, XLII, da nova lei, “modalidade de licitação para
contratação de obras, serviços e compras em que a Administração Pública realiza diálogos com
licitantes previamente selecionados mediante critérios objetivos, com o intuito de desenvolver uma
ou mais alternativas capazes de atender às suas necessidades, devendo os licitantes apresentar
proposta final após o encerramento dos diálogos”.

Por fim, cabe ressaltar, em matéria de contratos administrativos, a consagração da matriz de


riscos, a ser prevista como cláusula contratual no edital. Por esta cláusula, poderão as partes alocar,
de forma mais eficiente, os riscos de cada contrato e estabelecer a responsabilidade que caiba a cada
parte contratante, bem como os mecanismos que afastem a ocorrência do sinistro e mitiguem os seus
efeitos, caso este ocorra durante a execução contratual. Nesse sentido, o art. 103, §§ 4º e 5º, da lei:

Art. 103. O contrato poderá identificar os riscos contratuais previstos e


presumíveis e prever matriz de alocação de riscos, alocando-os entre
contratante e contratado, mediante indicação daqueles a serem assumidos
pelo setor público ou pelo setor privado ou daqueles a serem compartilhados.
(...)

§ 4º A matriz de alocação de riscos definirá o equilíbrio econômico-


-financeiro inicial do contrato em relação a eventos supervenientes e deverá
ser observada na solução de eventuais pleitos das partes.

§ 5º Sempre que atendidas as condições do contrato e da matriz de alocação


de riscos, será considerado mantido o equilíbrio econômico-financeiro,
renunciando as partes aos pedidos de restabelecimento do equilíbrio
relacionados aos riscos assumidos, exceto no que se refere:

I – às alterações unilaterais determinadas pela Administração, nas hipóteses


do inciso I do caput do art. 124 desta Lei;

II  –  ao aumento ou à redução, por legislação superveniente, dos tributos


diretamente pagos pelo contratado em decorrência do contrato.

93 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO

1.3. Questão inédita comentada

É modalidade de licitação prevista na Lei nº 14.133/2021:

A) Pregão.

B) Registro de preços.

C) Procedimento de manifestação de interesse.

D) Tomada de preços.

E) Convite.

Alternativa correta: letra A. Nos termos do art. 28, I, da Lei nº 14.133/2021, o pregão é uma
modalidade de licitação consagrada na nova Lei Geral de Licitações.

Art. 28. São modalidades de licitação:

I - pregão;

II - concorrência;

III - concurso;

IV - leilão;

V - diálogo competitivo.

Demais alternativas:

Alternativa B. Errada. O registro de preços é um procedimento auxiliar das licitações e das


contratações, previsto nos arts. 82 e segs. da Lei nº 14.133/2021.

Alternativa C. Errada. O procedimento de manifestação de interesse é um procedimento


auxiliar das licitações e das contratações, previsto no art. 81 da Lei nº 14.133/2021.

Alternativa D. Errada. Essa modalidade foi extinta na nova Lei de Licitações (Lei nº 14.133/2021).

Alternativa E. Errada. Essa modalidade foi extinta na nova Lei de Licitações (Lei nº 14.133/2021).

94 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PROCESSUAL CIVIL
1. Lei nº 14.138/2021 – Exame de DNA em sede de Ação de
Investigação de Paternidade

1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.138/2021
Ementa: Acrescenta o § 2º ao art. 2º-A da Lei nº 8.560, de 29 de dezembro de 1992, para
permitir, em sede de ação de investigação de paternidade, a realização do exame
de pareamento do código genético (DNA) em parentes do suposto pai, nos casos
em que especifica.
Data de publicação: 19.04.2021

Início de vigência: 19.04.2021

Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/


Lei/L14138.htm>
Destaques:
• A lei autoriza a realização do exame de pareamento do código genético (DNA) em
parentes consanguíneos do suposto pai na ação de investigação de paternidade, quando
este houver falecido ou não existir notícia de seu paradeiro.

• Nestas hipóteses, a lei dispõe que a recusa dos parentes em participarem do exame
implica presunção da paternidade, a ser apreciada em conjunto com o contexto
probatório.

1.2. Comentário

No dia 19.04.2021 foi publicada e entrou em vigor a Lei nº 14.138/2021, que, conforme sua
ementa:

Acrescenta o § 2º ao art. 2º-A da Lei nº 8.560, de 29 de dezembro de 1992,


para permitir, em sede de ação de investigação de paternidade, a realização
do exame de pareamento do código genético (DNA) em parentes do
suposto pai, nos casos em que especifica.

Com efeito, a lei trata sobre o exame de DNA em ações de investigação de paternidade, tema
da Súmula nº 301 do STJ: “Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame
de DNA induz presunção juris tantum de paternidade.”

95 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PROCESSUAL CIVIL
O novel texto legislativo consolida posição do STJ, que possui precedentes no sentido de que a
presunção de paternidade se aplica também quando parentes, e não apenas o pai, se contrapõem à
paternidade e se negam a realizar o exame.

Com a Lei nº 14.138/2021, não restam dúvidas sobre essa possibilidade na hipótese de o suposto
pai ter falecido ou não existir notícia de seu paradeiro, conforme o acréscimo efetivado:

Se o suposto pai houver falecido ou não existir notícia de seu paradeiro,


o juiz determinará, a expensas do autor da ação, a realização do exame
de pareamento do código genético (DNA) em parentes consanguíneos,
preferindo-se os de grau mais próximo aos mais distantes, importando a
recusa em presunção da paternidade, a ser apreciada em conjunto com o
contexto probatório. (§ 2º do art. 2º-A da Lei nº 8.560/1992, incluído pela Lei
nº 14.138/2021.)

Portanto, a presunção de paternidade pela recusa a se submeter ao exame aplica-se ao suposto


pai e aos parentes consanguíneos deste nas hipóteses destacadas, desde que em consonância com
as demais provas do processo.

1.3. Questão inédita comentada

Nos termos da Lei nº 14.138/2021, julgue a seguinte assertiva:

Se o suposto pai houver falecido ou não existir notícia de seu paradeiro, o juiz determinará, a
expensas do autor da ação, a realização do exame de pareamento do código genético (DNA) em
parentes consanguíneos, preferindo-se os de grau mais próximo aos mais distantes, importando a
recusa em presunção da paternidade, independente do contexto probatório.

CERTO ( ) ERRADO ( )

O item está correto. Há erro na parte final da assertiva, nos termos do art. 2º-A, § 2º, da Lei nº
8.560/1992:

Se o suposto pai houver falecido ou não existir notícia de seu paradeiro,


o juiz determinará, a expensas do autor da ação, a realização do exame
de pareamento do código genético (DNA) em parentes consanguíneos,
preferindo-se os de grau mais próximo aos mais distantes, importando a
recusa em presunção da paternidade, a ser apreciada em conjunto com o
contexto probatório. (Incluído pela Lei nº 14.138, de 2021.) (Grifos nossos.)

96 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO TRABALHO

1. Medida Provisória (MP) nº 1.045/2021 – Institui o Novo Programa


Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda
1.1.  Ficha normativa

MP Nº 1.045/2021
Ementa: Institui o Novo Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda e
dispõe sobre medidas complementares para o enfrentamento das consequências
da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do
coronavírus (Covid-19) no âmbito das relações de trabalho.

Data de publicação: 28.04.2021

Início de vigência: 28.04.2021

Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/


Mpv/mpv1045.htm>
Destaques:
• A medida provisória cria o Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da
Renda, que será pago em duas situações: redução proporcional de jornada de trabalho e
de salário e suspensão temporária do contrato de trabalho.

• Autoriza a redução proporcional de jornada de trabalho e de salário de empregados


pelo prazo de até 120 dias, que poderá ser prorrogado por ato do Poder Executivo. A
pactuação poderá ocorrer por meio de coletiva de trabalho, acordo coletivo de trabalho
ou acordo individual escrito entre empregador e empregado.

• Autoriza a suspensão temporária do contrato de trabalho pelo prazo de até 120 dias, que
poderá ser prorrogado por ato do Poder Executivo. A pactuação também poderá ocorrer
por meio de coletiva de trabalho, acordo coletivo de trabalho ou acordo individual escrito
entre empregador e empregado.

1.2. Comentário

Em 28.04.2021, a MP nº 1.045 foi publicada, com início de vigência na data de sua publicação.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo “Institui o Novo Programa Emergencial de
Manutenção do Emprego e da Renda e dispõe sobre medidas complementares para o enfrentamento
das consequências da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do
coronavírus (Covid-19) no âmbito das relações de trabalho”.

97 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO TRABALHO
Trata-se de ato legislativo do presidente da República que instituiu o Novo Programa
Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda e criou o Benefício Emergencial de
Manutenção do Emprego e da Renda.

De acordo com a medida provisória, o Novo Programa Emergencial de Manutenção do


Emprego e da Renda tem como objetivos (art. 2º) “preservar o emprego, garantir a continuidade
das atividades laborais e empresariais e reduzir o impacto social decorrente das consequências da
emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus (Covid-19)”.
Trata-se, assim, de mais uma tentativa do governo federal de amenizar os efeitos que a pandemia da
Covid-19 tem causado nas relações trabalhistas.

De acordo com o art. 3º da MP, são medidas do Novo Programa Emergencial de Manutenção
do Emprego e da Renda:

I ‒ o pagamento do Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e


da Renda;

II ‒ a redução proporcional de jornada de trabalho e de salários; e

III ‒ a suspensão temporária do contrato de trabalho.

Em relação ao Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, que será


custeado com recursos da União, deve-se destacar que ele será devido ao trabalhador que tenha
sido atingido por uma das seguintes situações: redução proporcional de jornada de trabalho e de
salário ou suspensão temporária do contrato de trabalho.

O benefício terá como base de cálculo o valor da parcela do seguro-desemprego a que o


empregado teria direito. Seu valor, por outro lado (art. 6º, incisos I e II):

a) na hipótese de redução de jornada de trabalho e de salário, será calculado com a aplicação


do percentual da redução sobre a base de cálculo; e

b) na hipótese de suspensão temporária do contrato de trabalho:

I ‒ como regra, terá valor mensal equivalente a cem por cento do valor do seguro-desemprego
a que o empregado teria direito;

II ‒ porém, caso o empregador tenha auferido, no ano-calendário de 2019, receita bruta superior
a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais) terá valor mensal equivalente a setenta

98 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO TRABALHO
por cento do valor do seguro-desemprego. Nesta hipótese, caberá à empresa o pagamento de ajuda
compensatória mensal no valor de 30% do valor do salário do empregado.

No entanto, quanto à possibilidade de redução proporcional de jornada de trabalho e de salário


de seus empregados, a sua validade está condicionada à observância de determinados requisitos
(art. 7º, incisos I e II):

a) preservação do valor do salário-hora de trabalho; e

b) pactuação, por convenção coletiva de trabalho, acordo coletivo de trabalho ou acordo


individual escrito entre empregador e empregado;

Com efeito, o acordo individual escrito será válido nas seguintes situações:

a) redução da jornada e do salário no percentual de 25%: para todos os empregados;

b) redução da jornada e do salário nos percentuais de 50% e 70%: somente para empregados
com salário igual ou inferior a R$ 3.300,00 (três mil e trezentos reais) ou hipersuficientes.

Além disso, admite-se o contrato individual escrito (ainda que ausente convenção coletiva
ou acordo coletivo de trabalho) quando do acordo não resultar diminuição do valor total recebido
mensalmente pelo empregado, independentemente do percentual.

Já sobre a suspensão temporária do contrato de trabalho, a MP, em seu art. 12, permite que sua
implementação seja realizada por meio de acordo individual escrito ou de negociação coletiva aos
seguintes empregados:

I - com salário igual ou inferior a R$ 3.300,00 (três mil e trezentos reais); ou

II - com diploma de nível superior que percebam salário mensal igual ou superior a duas vezes
o limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social.

Apesar disso, o § 1º do dispositivo legal dispõe que, para os trabalhadores que não se enquadrem
nas hipóteses acima, a suspensão somente pode ser estabelecida por convenção coletiva ou acordo
coletivo de trabalho, com exceção daqueles que não sofrerem diminuição do valor total percebido
mensalmente, casos em que se admite o acordo individual escrito.

Sobre o tema, é importante destacar, ainda, a previsão contida no § 6º do art. 8º da MP nº


1.045/2021: “A empresa que tiver auferido, no ano-calendário de 2019, receita bruta superior a R$
4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais) somente poderá suspender o contrato de

99 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO TRABALHO
trabalho de seus empregados mediante o pagamento de ajuda compensatória mensal no valor de
trinta por cento do valor do salário do empregado, durante o período de suspensão temporária do
contrato de trabalho pactuado, observado o disposto neste artigo e no art. 9º”.

Por fim, oportuno salientar que a norma em comento cria uma nova espécie de garantia
provisória no emprego ao empregado que receber o Benefício Emergencial de Manutenção do
Emprego e da Renda. Trata-se do art. 10 da MP nº 1.045/2021.

De acordo com o dispositivo, como regra, esta garantia tem duração enquanto estiver vigente
o pacto de redução da jornada de trabalho e do salário ou de suspensão temporária do contrato de
trabalho e perdura, após o fim das restrições, por período equivalente ao acordado para a redução
ou suspensão.

Para fins previdenciários, será abordado o aspecto de natureza assistencial da medida.

Não obstante, o Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e Renda é medida do


governo para amenizar os impactos econômicos gerados pela pandemia de Covid-19. O “novo”
benefício visa substituir o auxílio emergencial pago no ano de 2020.

Quem terá direito ao novo benefício?

O benefício será pago aos indivíduos que tiveram a redução de jornada de trabalho e salário e
aos trabalhadores com a suspensão temporária do contrato de trabalho.

O benefício será custeado integralmente com recursos da União, e será pago ao trabalhador a
partir da data do início da redução da jornada de trabalho e do salário ou da suspensão temporária
do contrato de trabalho. O pagamento do benefício será mensal (art. 5º, § 2º).

Para que o trabalhador receba o benefício, o empregador deve comunicar ao Ministério da


Economia a redução da jornada de trabalho e do salário ou a suspensão temporária do contrato de
trabalho (inciso I do § 2º do art. 5º).

Essa comunicação deve ocorrer no prazo de 10 dias, contado da data da celebração do acordo
entre empregado e empregador. No entanto, se o empregador não comunicar no prazo previsto a
suspensão ou a redução de jornada de trabalho, ele fica responsável pelo pagamento da remuneração
no valor anterior à redução da jornada de trabalho e do salário ou à suspensão temporária do contrato
de trabalho do empregado. Aqui, são cobrados encargos trabalhistas e previdenciários (inciso I do §
3º do art. 5º).

100 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO TRABALHO
A União tem prazo de 30 dias, contado da data da celebração do acordo para realizar o
pagamento do benefício (inciso II do § 2º do art. 5º).

Quanto à duração do benefício, ele será pago exclusivamente enquanto durar a redução da
jornada de trabalho e do salário ou a suspensão temporária do contrato de trabalho. O empregado
que tiver mais de um vínculo trabalhista tem direito a receber cumulativamente  o benefício
correspondente a cada vínculo formal de trabalho (§ 3º do art. 6º).

Uma informação interessante: o Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da


Renda será operacionalizado e pago pelo Ministério da Economia (§ 7º do art. 5º).

O valor desse auxílio terá como base de cálculo o valor da parcela do seguro-desemprego a que
o empregado teria direito. E, para ter direito ao benefício, não pode ser imposto nenhum período de
carência. Sendo assim, independe de tempo de vínculo empregatício, número de salários recebidos
e cumprimento de qualquer período aquisitivo (art. 6º, caput, I, II e § 1º).

O benefício não será pago ao indivíduo que ocupou cargo ou emprego público, cargo em
comissão ou titular de mandato eletivo. Também não poderá receber o benefício o indivíduo que
estiver em gozo do LOAS, do seguro-desemprego, do benefício de qualificação profissional e o
contratado na modalidade de trabalho intermitente (§§ 2º e 5º do art. 6º).

A empregada gestante tem direito ao benefício até que tenha ocorrido o evento caracterizador
do início do benefício de salário-maternidade. Neste momento o benefício será interrompido, e o
salário-maternidade será pago de acordo com o previsto na Lei nº 8.213/1991, ou seja, a remuneração
será integral ou como último salário de contribuição (empregada doméstica). Ademais, a segurada
que adotar ou obtiver guarda judicial para fins de adoção também faz jus a este direito (art. 13, §§ 1º
e 2º).

A Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil S.A. ficam responsáveis para operacionalizar o
pagamento do Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (art. 22).

Por fim,  o empregador e empregado poderão, a qualquer tempo, em comum acordo, optar
pelo cancelamento de aviso-prévio em curso e optar pela redução da jornada de trabalho ou pela
suspensão do contrato de trabalho (art. 19).

101 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO TRABALHO
1.3. Questão inédita comentada

João trabalha na empresa X há mais de cinco anos, auferindo remuneração de R$ 2.7000,00


por mês. Ocorre que a empresa está passando por sérias dificuldades financeiras em razão
da pandemia do coronavírus. Nesta hipótese, considerando as disposições contidas na MP nº
1.045/2021, assinale a alternativa INCORRETA:

A) Poderá ser pactuado acordo individual escrito entre empregador e empregado que estabeleça a
suspensão temporária do contrato de trabalho.

B) Caso fique acordada uma redução de jornada de trabalho e de salário no percentual de 25%,
o Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda será de 25%, calculado sobre o
valor do seguro-desemprego a que João teria direito.

C) Caso fique acordada a suspensão do contrato de trabalho, João fará juz ao Benefício Emergencial
de Manutenção do Emprego e da Renda, que é custeado pelo empregador.

D) Poderá ser pactuado acordo individual escrito entre empregador e empregado que estabeleça a
redução proporcional de jornada de trabalho e de salário.

E) Caso João receba o Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, fará jus a
uma garantia provisória no emprego.

Alternativa correta: letra C. Nos termos do art. 5º, § 1º, da MP nº 1.045/2021, o “Benefício
Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda será custeado com recursos da União”.

Demais alternativas:

Alternativa A. Errada. Como João aufere renda inferior a R$ 3.300,00, é possível pactuar
acordo individual escrito com o empregador que estabeleça a suspensão temporária do contrato de
trabalho, conforme art. 12, inciso I, da MP nº 1.045/2021.

Art. 12. As medidas de que trata o art. 3º serão implementadas por meio de
acordo individual escrito ou de negociação coletiva aos empregados:

I - com salário igual ou inferior a R$ 3.300,00 (três mil e trezentos reais); ou

Alternativa B. Errada. É o que dispõe o art. 6º, inciso I, da MP nº 1.045/2021.

102 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO TRABALHO
Art. 6º O valor do Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da
Renda terá como base de cálculo o valor da parcela do seguro-desemprego
a que o empregado teria direito, nos termos do disposto no art. 5º da Lei nº
7.998, de 1990, observadas as seguintes disposições:

I - na hipótese de redução de jornada de trabalho e de salário, será calculado


com a aplicação do percentual da redução sobre a base de cálculo; e

Alternativa D. Errada. Como João aufere renda inferior a R$ 3.300,00, é possível pactuar
acordo individual escrito com o empregador que estabeleça a redução proporcional de jornada de
trabalho e de salário, conforme o art. 12, inciso I, da MP nº 1.045/2021.

Art. 12. As medidas de que trata o art. 3º serão implementadas por meio de
acordo individual escrito ou de negociação coletiva aos empregados:

I - com salário igual ou inferior a R$ 3.300,00 (três mil e trezentos reais); ou

Alternativa E. Errada. É o que dispõe o art. 10, caput, da MP nº 1.045/2021.

Art. 10. Fica reconhecida a garantia provisória no emprego ao empregado


que receber o Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da
Renda, de que trata o art. 5º, em decorrência da redução da jornada de
trabalho e do salário ou da suspensão temporária do contrato de trabalho
de que trata esta Medida Provisória, nos seguintes termos: (…).

2. MP nº 1.046/2021 – Institui medidas para o enfrentamento dos


efeitos causados pela pandemia do coronavírus nos contratos de
trabalho
2.1. Ficha normativa

MP Nº 1.046/2021
Ementa: Dispõe sobre as medidas trabalhistas para enfrentamento da emergência de
saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus (Covid-19).
Data de publicação: 28.04.2021

Início de vigência: 28.04.2021

Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/


Mpv/mpv1046.htm>

103 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO TRABALHO
Destaques:
• A medida provisória traz uma série de medidas que podem ser adotadas pelos
empregadores para o enfrentamento dos efeitos econômicos decorrentes da emergência
de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus (Covid-19) e a
preservação do emprego e da renda.

• Autoriza a alteração do regime de trabalho presencial para teletrabalho, trabalho remoto


ou outro tipo de trabalho a distância, independentemente da existência de acordos
individuais ou coletivos.

• Autoriza a antecipação das férias, independentemente de concordância do empregado,


a concessão de férias coletivas e a antecipação do gozo de feriados.

• Autoriza a constituição de regime especial de compensação de jornada, por meio de


banco de horas, em favor do empregador ou do empregado, estabelecido por meio de
acordo individual ou coletivo escrito.

• Autoriza a suspensão de exames médicos ocupacionais para trabalhadores em


teletrabalho, trabalho remoto ou a distância.

• Determina a suspensão da exigibilidade do recolhimento do FGTS pelos empregadores,


referente às competências de abril, maio, junho e julho de 2021, com vencimento em
maio, junho, julho e agosto de 2021, respectivamente.

2.2. Comentário

Em 28 de abril de 2021 foi publicada no DOU a MP nº 1.046/2021, com início imediato de


vigência.

Referida medida provisória, conforme o art. 1º, “dispõe sobre as medidas trabalhistas que
poderão ser adotadas pelos empregadores, durante o prazo de cento e vinte dias, contado da data
de sua publicação, para a preservação do emprego, a sustentabilidade do mercado de trabalho e o
enfrentamento das consequências da emergência de saúde pública de importância internacional
decorrente do coronavírus (Covid-19) relacionadas a trabalho e emprego”.

104 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO TRABALHO
Nesses termos, segundo o art. 2º da MP, os empregadores poderão adotar, entre outras, as
seguintes medidas:

I ‒ o teletrabalho;

II ‒ a antecipação de férias individuais;

III ‒ a concessão de férias coletivas;

IV ‒ o aproveitamento e a antecipação de feriados;

V ‒ o banco de horas;

VI ‒ a suspensão de exigências administrativas em segurança e saúde no


trabalho; e

VII ‒ o diferimento do recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de


Serviço – FGTS.

Em relação ao teletrabalho, a MP permite que o empregador, a seu critério, altere o regime


de trabalho presencial para teletrabalho, trabalho remoto ou outro tipo de trabalho a distância,
independentemente da existência de acordos individuais ou coletivos. Nesta situação, o trabalhador
será notificado com antecedência mínima de 48 horas sobre a alteração (art. 3º, caput, § 2º).

Além disso, o ato normativo admite a antecipação das férias do empregado, que deverá ser
notificado com, no mínimo, 48 horas de antecedência, com a indicação do período a ser gozado
pelo empregado. As férias não poderão ser gozadas em períodos inferiores a cinco dias corridos e
poderão ser concedidas ainda que não transcorrido o prazo do período aquisitivo (art. 5º, caput, § 1º).

Nesse caso, é importante destacar que o pagamento do período poderá ser efetuado até o
quinto dia útil do mês subsequente ao início do gozo das férias, não se aplicando, assim, a multa
prevista no art. 145 da Consolidação das Leis do Trabalho ‒ CLT (art. 9º).

No entanto, o empregador poderá, a seu critério, conceder férias coletivas a todos os


empregados ou a setores da empresa. Com efeito, os trabalhadores beneficiados deverão ser
comunicados com, no mínimo, 48 horas de antecedência. Autoriza-se a concessão de férias coletivas
por prazo superior a 30 dias (art. 11).

Outra medida que pode ser adotada pelo empregador é a antecipação do gozo de feriados.
Neste caso, os trabalhadores devem ser notificados com antecedência mínima de 48 horas (art. 14).

105 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO TRABALHO
Permite-se, ainda, a constituição de regime especial de compensação de jornada, por meio de
banco de horas, em favor do empregador ou do empregado. De acordo com a MP, o banco de horas
pode ser pactuado por meio de negociação coletiva ou acordo individual escrito, para a compensação
no prazo de até 18 meses, contado da data de encerramento do período de restrição nela previsto.
A compensação de tempo para recuperação do período interrompido poderá ser realizada inclusive
aos finais de semana (art. 15, caput, § 1º).

Ressalte-se que, nos termos do art. 15, § 2º, da MP nº 1.046/2021, a “compensação do saldo de
horas poderá ser determinada pelo empregador independentemente de convenção coletiva ou de
acordo individual ou coletivo”.

Ademais, determinou-se a suspensão da obrigatoriedade na realização dos exames médicos


ocupacionais, clínicos e complementares, exceto dos exames demissionais, dos trabalhadores que
estejam em regime de teletrabalho, trabalho remoto ou trabalho a distância (art. 16).

Saliente-se, no entanto, que a realização de exames ocupacionais e de treinamentos periódicos


aos trabalhadores da área de saúde e das áreas auxiliares em efetivo exercício em ambiente hospitalar
continuou obrigatória (§ 1º do art. 16).

Nos termos do art. 20, caput, da MP nº 1.046/2021, também ficou suspensa “a exigibilidade do
recolhimento do FGTS pelos empregadores, referente às competências de abril, maio, junho e julho
de 2021, com vencimento em maio, junho, julho e agosto de 2021, respectivamente”. Na realidade, a
MP autorizou o pagamento de forma parcelada (em até quatro parcelas mensais) de tais depósitos,
com vencimento a partir de setembro de 2021, sem a incidência da atualização, da multa e dos
encargos moratórios (art. 21, caput, § 1º).

Por fim, os estabelecimentos de saúde, por meio de acordo individual escrito, inclusive para as
atividades insalubres e para a jornada de 12 horas de trabalho por 36 horas de descanso, podem (art. 27):

I ‒ prorrogar a jornada de trabalho, nos termos do disposto no art. 61 da


Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de
1943; e

II ‒ adotar escalas de horas suplementares entre a décima terceira e a


vigésima quarta hora do intervalo interjornada, sem que haja penalidade
administrativa, garantido o repouso semanal remunerado nos termos do
disposto no art. 67 da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo
Decreto-Lei nº 5.452, de 1943.

106 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO TRABALHO
2.3. Questão inédita comentada

Em relação às medidas trabalhistas para enfrentamento da emergência de saúde pública de


importância internacional decorrente do coronavírus (Covid-19) previstas na MP nº 1.046/2021,
assinale a alternativa incorreta:

A) O empregador poderá, a seu critério, durante o prazo de vigência da MP, determinar a alteração
do regime de trabalho presencial para teletrabalho, independentemente da existência de acordos
individuais ou coletivos.

B) Autoriza-se, durante o prazo de vigência da MP, a constituição de banco de horas, estabelecido


por meio de acordo individual ou coletivo escrito. Por outro lado, a compensação do saldo de horas
poderá ser determinada pelo empregador independentemente de convenção coletiva ou de acordo
individual ou coletivo.

C) Nos estabelecimentos de saúde, durante o prazo de vigência da MP, fica permitido, para as
jornadas 12 horas de trabalho por 36 horas de descanso a adoção de escalas de horas suplementares
entre a décima terceira e a vigésima quarta hora do intervalo interjornada, sem que isso configure
penalidade administrativa.

D) Durante o prazo de vigência da MP, fica suspensa a exigibilidade do recolhimento do FGTS pelos
empregadores, referente às competências de abril, maio, junho e julho de 2021. Nesta situação,
os depósitos devem ser realizados em até quatro parcelas mensais, com vencimento a partir de
setembro de 2021.

E) A MP autoriza que o empregador antecipe as férias do empregado. Neste caso, porém, é


necessário que tenha transcorrido o período aquisitivo relativo às férias antecipadas.

Alternativa correta: letra E. Mesmo que não tenha transcorrido o período aquisitivo, admite-se
a antecipação, conforme o art. 5º, § 1º, II, da MP nº 1.046/2021.

107 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO TRABALHO
Art. 5º O empregador informará ao empregado, durante o prazo previsto no
art. 1º, sobre a antecipação de suas férias com antecedência de, no mínimo,
quarenta e oito horas, por escrito ou por meio eletrônico, com a indicação
do período a ser gozado pelo empregado.

§ 1º As férias antecipadas nos termos do disposto no caput:

II ‒ poderão ser concedidas por ato do empregador, ainda que o período


aquisitivo a elas relativo não tenha transcorrido.

Demais alternativas:

Alternativa A. É o que dispõe o art. 3º, caput, da MP nº 1.046/2021.

Art. 3º O empregador poderá, a seu critério, durante o prazo previsto no


art. 1º, alterar o regime de trabalho presencial para teletrabalho, trabalho
remoto ou outro tipo de trabalho a distância, além de determinar o retorno
ao regime de trabalho presencial, independentemente da existência de
acordos individuais ou coletivos, dispensado o registro prévio da alteração
no contrato individual de trabalho.

Alternativa B. É o que dispõe o art. 15, caput, § 2º, da MP nº 1.046/2021.

Art. 15. Ficam autorizadas, durante o prazo previsto no art. 1º, a interrupção
das atividades pelo empregador e a constituição de regime especial
de compensação de jornada, por meio de banco de horas, em favor do
empregador ou do empregado, estabelecido por meio de acordo individual
ou coletivo escrito, para a compensação no prazo de até dezoito meses,
contado da data de encerramento do período de que trata o art. 1º.

Alternativa C. É o que dispõe o art. 27, inciso II, da MP nº 1.046/2021.

Art. 27. Fica permitido aos estabelecimentos de saúde, durante o prazo


definido no art. 1º, por meio de acordo individual escrito, inclusive para as
atividades insalubres e para a jornada de doze horas de trabalho por trinta e
seis horas de descanso:

II - adotar escalas de horas suplementares entre a décima terceira e a


vigésima quarta hora do intervalo interjornada, sem que haja penalidade
administrativa, garantido o repouso semanal remunerado nos termos do
disposto no art. 67 da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo
Decreto-Lei nº 5.452, de 1943.

108 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO TRABALHO
Alternativa D. É o que dispõem os arts. 20, caput, e 21, § 1º, ambos da MP nº 1.046/2021.

Art. 20. Fica suspensa a exigibilidade do recolhimento do FGTS pelos em-


pregadores, referente às competências de abril, maio, junho e julho de 2021,
com vencimento em maio, junho, julho e agosto de 2021, respectivamente.

Art. 21. O depósito das competências de abril, maio, junho e julho de 2021
poderá ser realizado de forma parcelada, sem a incidência da atualização, da
multa e dos encargos previstos no art. 22 da Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990.

§ 1º Os depósitos referentes às competências de que trata o caput serão


realizados em até quatro parcelas mensais, com vencimento a partir de se-
tembro de 2021, na data do recolhimento mensal devido, conforme disposto
no caput do art. 15 da Lei nº 8.036, de 1990.

109 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
1. Medida Provisória (MP) nº 1.045/2021 – Institui o Novo Programa
Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda

1.1.  Ficha normativa

MP Nº 1.045/2021
Ementa: Institui o Novo Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda e
dispõe sobre medidas complementares para o enfrentamento das consequências
da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do
coronavírus (Covid-19) no âmbito das relações de trabalho.

Data de publicação: 28.04.2021

Início de vigência: 28.04.2021

Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/


Mpv/mpv1045.htm>
Destaques:
• A medida provisória cria o Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da
Renda, que será pago em duas situações: redução proporcional de jornada de trabalho e
de salário e suspensão temporária do contrato de trabalho.

• Autoriza a redução proporcional de jornada de trabalho e de salário de empregados


pelo prazo de até 120 dias, que poderá ser prorrogado por ato do Poder Executivo. A
pactuação poderá ocorrer por meio de coletiva de trabalho, acordo coletivo de trabalho
ou acordo individual escrito entre empregador e empregado.

• Autoriza a suspensão temporária do contrato de trabalho pelo prazo de até 120 dias, que
poderá ser prorrogado por ato do Poder Executivo. A pactuação também poderá ocorrer
por meio de coletiva de trabalho, acordo coletivo de trabalho ou acordo individual escrito
entre empregador e empregado.

1.2. Comentário

Em relação ao direito previdenciário, a MP nº 1.045/2021 traz como inovação o “Novo Auxílio


Emergencial”, destacando seu aspecto assistencial e impondo outros requisitos para a percepção
deste e novos valores.

Entretanto, para concentrar a abordagem das inovações veiculadas por esse novo ato
normativo, a sua análise encontra-se em direito do trabalho.

110 Caderno de novidades legislativas


SUMÁRIO

Maio
2021

Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
1. Medida Provisória (MP) nº 1.047/2021 – Medidas excepcionais para a
aquisição de bens e a contratação de serviços e insumos destinados ao
enfrentamento da pandemia da Covid-19
1.1. Ficha normativa
MP Nº 1.047/2021
Ementa: Dispõe sobre as medidas excepcionais para a aquisição de bens e a contratação
de serviços, inclusive de engenharia, e insumos destinados ao enfrentamento da
pandemia da Covid-19.
Data de publicação: 04.05.2021
Início de vigência: 04.05.2021
Link do texto normativo: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/
Mpv/mpv1047.htm>
Destaques:
• ●Autoriza dispensa de licitação para a aquisição de bens e a contratação de serviços, inclusive
de engenharia, e insumos destinados ao enfrentamento da pandemia da Covid-19.
• Autoriza a utilização do sistema de registro de preços e autoriza a Administração Pública
federal a aderir ao registro de preços estadual, distrital ou municipal.
• Admite a previsão de cláusula contratual que estabeleça o pagamento antecipado.
• Dispensa estudos preliminares quando se tratar de bens e serviços comuns.
• Admite termo de referência simplificado ou projeto básico simplificado nas aquisições ou
contratações de que trata a medida provisória.
• Permite a contratação por valores superiores ao estimado decorrentes de oscilações
ocasionadas pela variação de preços, desde que observadas as condições legais.
• Dispensa alguns requisitos de habilitação na hipótese de haver restrição de fornecedores
ou de prestadores de serviço.
• Autoriza a contratação de fornecedor sujeito à sanção de impedimento ou de suspensão
de contratar com o Poder Público quando for o único fornecedor do bem ou prestador do
serviço, desde que prestada garantia.
• Prevê percentual de 50% para acréscimos ou supressões obrigatórias nos contratos
decorrentes dos procedimentos previstos na MP.

112 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
1.2. Comentário

Em 04.05.2021, foi publicada a MP nº 1.047/2021, com início imediato de vigência.


De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo prevê “medidas excepcionais para a
aquisição de bens e a contratação de serviços, inclusive de engenharia, e insumos destinados ao
enfrentamento da pandemia da Covid-19”.

Trata-se de mais uma inovação legal destinada ao enfrentamento da pandemia da Covid-19


através da flexibilização dos procedimentos para aquisição de bens e a contratação de serviços,
inclusive de engenharia, e insumos destinados ao enfrentamento da pandemia da Covid-19, para os
quais fica autorizada a dispensa de licitação, nos termos do art. 2º da MP.

A MP replica medidas que constavam das Leis nºs 13.979/2020 e 14.065/2020, que também
previam medidas excepcionais para a aquisição de bens e a contratação de serviços, inclusive de
engenharia, e insumos destinados ao enfrentamento da pandemia, mas que perderam vigência no
final de 2021.

Importante ressaltar que, nos termos do parágrafo único do art. 1º da MP nº 1.047, a aquisição
de vacinas e insumos e a contratação de bens e de serviços necessários à implementação da
vacinação contra a Covid-19 são regidas pelo disposto na Lei nº 14.124/2021, não pela medida
provisória em comento.

Uma das regras de flexibilização para as licitações previstas na MP é a possibilidade de a


administração pública prever cláusula contratual que estabeleça o pagamento antecipado, desde
que (art. 7º):

I – represente condição indispensável para obter o bem ou assegurar a


prestação do serviço; ou

II – propicie significativa economia de recursos.

Esses pagamentos deverão ser previstos em edital e exigirão a devolução integral do valor
antecipado, caso haja inexecução, hipótese em que o montante da devolução será atualizado pelo
Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), na forma do art. 7º, § 1º, II, da MP. Além
disso, o § 3º do mesmo artigo veda o pagamento antecipado na hipótese de prestação de serviços
com regime de dedicação exclusiva de mão de obra.

Além disso, a MP dispensa a elaboração de estudos preliminares, quando se tratar de bens e


de serviços comuns (art. 8º, I) e permite a apresentação de termo de referência simplificado ou de
projeto básico simplificado (art. 8º, III), que conterão as informações previstas no § 1º do art. 8º.

113 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Importante também a previsão contida no § 3º do art. 8º, referente às oscilações de preços:

§ 3º Os preços obtidos a partir da estimativa de preços de que trata o inciso


VI do § 1º não impedem a contratação pelo Poder Público por valores
superiores decorrentes de oscilações ocasionadas pela variação de preços,
desde que observadas as seguintes condições:

I – negociação prévia com os demais fornecedores, segundo a ordem de


classificação, para obtenção de condições mais vantajosas; e

II – fundamentação, nos autos do processo administrativo da contratação


correspondente, da variação de preços praticados no mercado por motivo
superveniente.

O art. 9º da MP dispensa, ainda, o cumprimento de um ou mais requisitos de habilitação


“na hipótese de haver restrição de fornecedores ou de prestadores de serviço”, desde que
“excepcionalmente e mediante justificativa” da autoridade competente, ressalvados a exigência de
apresentação de prova de regularidade trabalhista e o cumprimento do disposto no inciso XXXIII do
caput do art. 7º e do § 3º do art. 195 da Constituição.

O art. 12, por sua vez, autoriza “a contratação de fornecedor exclusivo de bem ou de serviço de
que trata esta Medida Provisória, inclusive no caso da existência de inidoneidade declarada ou de
sanção de impedimento ou de suspensão para celebração de contrato com o Poder Público”, desde
que prestada garantia nas modalidades previstas no art. 56 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993,
que não poderá exceder 10% do valor do contrato, na forma do parágrafo único do mesmo artigo.

Outra importante diferença prevista para as contratações de que trata a MP é em relação ao


percentual de acréscimos ou supressões obrigatórias. Nos termos do art. 13 da MP nº 1.047/2021:

Art. 13. Para os contratos celebrados nos termos desta Medida Provisória, a
administração pública poderá estabelecer cláusula com previsão de que os
contratados ficam obrigados a aceitar, nas mesmas condições contratuais
iniciais, acréscimos ou supressões ao objeto contratado, limitados a até
cinquenta por cento do valor inicial atualizado do contrato.

Por fim, a MP dispõe que:

na hipótese de dispensa de licitação a que se refere o caput, quando se tratar


de compra ou de contratação por mais de um órgão ou entidade, poderá ser
utilizado o sistema de registro de preços previsto no inciso II do caput do art.
15 da Lei nº 8.666, de 1993 (art. 4º).

114 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Prevendo, ainda, que:
os órgãos e entidades da administração pública federal poderão aderir à ata
de registro de preços gerenciada por órgão ou entidade estadual, distrital
ou municipal (...) até o limite, por órgão ou entidade, de cinquenta por cento
dos quantitativos dos itens do instrumento convocatório e registrados
na ata de registro de preços para o órgão gerenciador e para os órgãos
participantes (art. 6º).

1.3. Questão inédita comentada


Com relação às medidas especiais para a aquisição de bens e a contratação de serviços e
insumos destinados ao enfrentamento da pandemia da Covid-19 previstas na MP nº 1.047/2021, é
incorreto afirmar:

A) Na situação excepcional de, comprovadamente, haver um único fornecedor do bem ou prestador
do serviço, será permitida a sua contratação, independentemente da existência de sanção de
impedimento ou de suspensão de contratar com o Poder Público.

B) As medidas excepcionais de contratação previstas na MP nº 1.047/2021 são aplicáveis à aquisição


de vacinas e insumos e à contratação de bens e de serviços necessários à implementação da
vacinação contra a Covid-19.

C) Na hipótese de dispensa de licitação, quando se tratar de compra ou de contratação por mais de
um órgão ou entidade, poderá ser utilizado o sistema de registro de preços.

D) Não será exigida a elaboração de estudos preliminares, quando se tratar de bens e de


serviços comuns.

E) Será admitida a apresentação de termo de referência simplificado ou de projeto básico


simplificado.

Alternativa correta: letra B. Nos termos do art. 1º, parágrafo único, da MP nº 1.047/2021, “a
aquisição de vacinas e insumos e a contratação de bens e de serviços necessários à implementação
da vacinação contra a Covid-19 são regidas pelo disposto na Lei nº 14.124, de 10 de março de 2021”.

Demais alternativas:
Alternativa A: Alternativa em consonância com o art. 12 da MPV nº 1.047/2021: “Fica autorizada
a contratação de fornecedor exclusivo de bem ou de serviço de que trata esta Medida Provisória,
inclusive no caso da existência de inidoneidade declarada ou de sanção de impedimento ou de
suspensão para celebração de contrato com o Poder Público.”

115 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Alternativa C. Alternativa em consonância com o art. 4º da MPV nº 1.047/2021: “Na hipótese
de dispensa de licitação de que trata o inciso I do caput do art. 2º, quando se tratar de aquisição
ou de contratação por mais de um órgão ou entidade, poderá ser utilizado o sistema de registro de
preços previsto no inciso II do caput do art. 15 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993.”

Alternativa D. Alternativa em consonância com o art. 8º, I, da MPV nº 1.047/2021: “No


planejamento das aquisições e das contratações de que trata esta Medida Provisória, a administração
pública deverá observar as seguintes condições: I - fica dispensada a elaboração de estudos
preliminares, quando se tratar de bens e serviços comuns.”

Alternativa E. Alternativa em consonância com o art. 8º, III, da MPV nº 1.047/2021: “No
planejamento das aquisições e das contratações de que trata esta Medida Provisória, a administração
pública deverá observar as seguintes condições: (...) IIII - será admitida a apresentação de termo de
referência simplificado ou de projeto básico simplificado.”

116 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO TRABALHO
1. Lei nº 14.151, de 12 de maio de 2021 – Afastamento da empregada
gestante das atividades de trabalho presencial em razão da pandemia
do novo coronavírus
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.151/2021
Ementa: Dispõe sobre o afastamento da empregada gestante das atividades de trabalho
presencial durante a emergência de saúde pública de importância nacional
decorrente do novo coronavírus.
Data de publicação: 13.05.2021
Início de vigência: 13.05.2021
Link do texto normativo: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/
L14151.htm>  
Destaques:
• A lei estabelece o afastamento da empregada gestante das atividades de trabalho
presencial, sem prejuízo de sua remuneração, durante a pandemia do coronavírus.

• Prevê, ainda, que a empregada afastada das atividades presenciais ficará à disposição para
exercer as atividades em seu domicílio, por meio de teletrabalho, trabalho remoto ou outra
forma de trabalho a distância.

1.2. Comentário

Em 13 de maio de 2021, foi publicada no DOU a Lei nº 14.151/2021, com início imediato de
vigência.

A lei, de apenas dois artigos, prevê que:

Art. 1º Durante a emergência de saúde pública de importância nacional


decorrente do novo coronavírus, a empregada gestante deverá permanecer
afastada das atividades de trabalho presencial, sem prejuízo de sua
remuneração.

Parágrafo único. A empregada afastada nos termos do caput deste artigo


ficará à disposição para exercer as atividades em seu domicílio, por meio de
teletrabalho, trabalho remoto ou outra forma de trabalho a distância.

Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

117 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO TRABALHO
Inicialmente, deve-se salientar que as disposições da lei estão condizentes com as orientações
do Ministério da Saúde, no sentido de que as gestantes fazem parte do chamado grupo de risco.

Dessa forma, enquanto perdurar o estado de emergência em saúde pública nacional decorrente
do novo coronavírus, a empregada gestante deverá ser afastada do trabalho presencial. Apesar disso,
a própria lei, no parágrafo único do art. 1º, prevê que a trabalhadora afastada deverá permanecer à
disposição do empregador para exercer as atividades em seu domicílio, por meio de teletrabalho,
trabalho remoto ou outra forma de trabalho a distância.

Destaque-se que a lei assegura que o afastamento ocorrerá sem prejuízo da remuneração
da empregada. Dentro desse contexto, questiona-se: Caso não seja possível a adoção de qualquer
das medidas de trabalho a distância, quem será o responsável pelo pagamento da remuneração da
gestante durante o período de afastamento? A legislação não esclarece esta circunstância.

Diante da celeuma, há quem entenda que a responsabilidade pelo pagamento será do


Estado, tendo como fundamento o disposto no art. IV, item 8, da Convenção nº 103 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT): “Em hipótese alguma, deve o empregador ser tido como pessoal-
mente responsável pelo custo das prestações devidas às mulheres que ele emprega”.

Por outro lado, existe posição no sentido de que a responsabilidade será do empregador, pois
não há previsão, neste caso, de benefício previdenciário à gestante (como ocorre, por exemplo, na
licença-maternidade). Além disso, a lei utiliza a expressão “sem prejuízo de sua remuneração”, o que
induz ao entendimento de que será do empregador a obrigação pelo pagamento.

Contudo, apesar da divergência de entendimentos, uma conclusão é inafastável: a empregada


gestante deve ser afastada do trabalho presencial.

1.3. Questão inédita comentada

Nos termos da Lei nº 14.151/2021, que dispõe sobre o afastamento da empregada gestante das
atividades de trabalho presencial durante a emergência de saúde pública de importância nacional
decorrente do novo coronavírus, assinale a alternativa correta:

A) A lei expressamente estabelece que a responsabilidade pelo pagamento da remuneração da


empregada gestante afastada será do Estado.

B) Considerando tratar-se de pessoa integrante do grupo de risco, a empregada gestante afastada


do trabalho presencial não poderá ficar à disposição do empregador para exercer as atividades
por meio de trabalho remoto.
118 Caderno de novidades legislativas
DIREITO DO TRABALHO
C) O afastamento previsto na legislação em comento é assegurado apenas durante a emergência
de saúde pública de importância nacional decorrente do novo coronavírus.

D) A lei expressamente estabelece que a responsabilidade pelo pagamento da remuneração da


empregada gestante afastada será do empregador.

E) A lei faculta à empregada gestante o afastamento das atividades de trabalho presencial.

Alternativa correta: letra C. É o que dispõe a primeira parte do art. 1º, caput, da lei: “Durante a
emergência de saúde pública de importância nacional decorrente do novo coronavírus, a empregada
gestante deverá permanecer afastada das atividades de trabalho presencial, sem prejuízo de sua
remuneração”.

Demais alternativas:

Alternativa A. A lei é silente quanto à responsabilidade pelo pagamento da remuneração da


empregada gestante afastada.

Alternativa B. De acordo com o parágrafo único do art. 1º da lei, ela ficará à “disposição para
exercer as atividades em seu domicílio, por meio de teletrabalho, trabalho remoto ou outra forma de
trabalho a distância”.

Alternativa D. A lei é silente quanto à responsabilidade pelo pagamento da remuneração da


empregada gestante afastada.

Alternativa E. Trata-se de uma obrigação, conforme art. 1º, caput, da lei: “Durante a emergência
de saúde pública de importância nacional decorrente do novo coronavírus, a empregada gestante
deverá permanecer afastada das atividades de trabalho presencial, sem prejuízo de sua remuneração”.

119 Caderno de novidades legislativas


DIREITO FINANCEIRO
1. Lei Complementar (LC) nº 181/2021 – Alterações legislativas para
permitir o enfrentamento da pandemia da Covid-19 pelos estados,
pelo DF e pelos municípios
1.1. Ficha normativa

LC Nº 181/2021
Ementa: Altera a Lei Complementar (LC) nº 172, de 15 de abril de 2020, e a Lei nº 14.029,
de 28 de julho de 2020, para conceder prazo para que os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios executem atos de transposição e de transferência e atos
de transposição e de reprogramação, respectivamente; altera a LC nº 156, de 28
de dezembro de 2016, para conceder prazo adicional para celebração de aditivos
contratuais e permitir mudança nos critérios de indexação dos contratos de
refinanciamento de dívidas; altera a LC nº 159, de 19 de maio de 2017, para permitir
o afastamento de vedações durante o Regime de Recuperação Fiscal, desde que
previsto no Plano de Recuperação Fiscal; altera a LC nº 178, de 13 de janeiro de
2021, para conceder prazo adicional para celebração de contratos e disciplinar a
apuração de valores inadimplidos de Estado com Regime de Recuperação Fiscal
vigente em 31 de agosto de 2020; e revoga o art. 27 da LC nº 178, de 13 de janeiro
de 2021.
Data de publicação: 07.05.2021
Início de vigência: 07.05.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp181.htm>
Destaque:
• A LC visa dar ajuda financeira aos estados e municípios para o enfrentamento da pandemia
causada pela Covid-19.

1.2. Comentário

Em 07.05.2021, a LC nº 181 foi publicada, com início de vigência na data de sua publicação.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo:

Altera a Lei Complementar nº 172, de 15 de abril de 2020, e a Lei nº 14.029,


de 28 de julho de 2020, para conceder prazo para que os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios executem atos de transposição e de transferência
e atos de transposição e de reprogramação, respectivamente; altera a Lei
Complementar nº 156, de 28 de dezembro de 2016, para conceder prazo
adicional para celebração de aditivos contratuais e permitir mudança
nos critérios de indexação dos contratos de refinanciamento de dívidas;

120 Caderno de novidades legislativas


DIREITO FINANCEIRO
altera a Lei Complementar nº 159, de 19 de maio de 2017, para permitir o
afastamento de vedações durante o Regime de Recuperação Fiscal desde
que previsto no Plano de Recuperação Fiscal; altera a Lei Complementar nº
178, de 13 de janeiro de 2021, para conceder prazo adicional para celebração
de contratos e disciplinar a apuração de valores inadimplidos de Estado com
Regime de Recuperação Fiscal vigente em 31 de agosto de 2020; e revoga
o art. 27 da Lei Complementar nº 178, de 13 de janeiro de 2021.

Trata-se de ato legislativo que alterou os seguintes diplomas visando dar suporte financeiro
aos entes federativos para enfrentamento da pandemia causada pela Covid-19. Foram alterados os
seguintes diplomas:

1. LC nº 172/2020: a LC nº 181/2021 alargou o prazo da transposição e a transferência de saldos


financeiros dos entes federativos. Na vigência da LC nº 172/2020 foi possível a aplicação
de transposição e transferência de saldos durante a vigência do estado de calamidade
pública de que tratou o Decreto Legislativo nº 06/2020. Portanto, aplicados até dia 31 de
dezembro de 2020. No entanto, para viabilizar a reprogramação dos saldos em 2021, a LC
nº 172 foi alterada. Agora, esta autorização concedida aos entes federativos para utilizarem,
em serviços de saúde, saldos financeiros remanescentes de anos anteriores dos fundos
que tenham origem em repasses do Ministério da Saúde aplicam-se até o final do exercício
financeiro de 2021.

Art. 1º O art. 5º da Lei Complementar nº 172, de 15 de abril de 2020, passa a


vigorar com a seguinte redação:

Art. 5º A transposição e a transferência de saldos financeiros de que trata


esta Lei Complementar aplicam-se até o final do exercício financeiro de
2021. (NR)

2. LC nº 156/2016: a LC nº 181/2021 permitiu a concessão de prazo adicional para celebração de


aditivos contratuais. Ademais, permitiu a mudança de critérios de indexação dos contratos
de refinanciamento de dívidas.

Art. 3º A Lei Complementar nº 156, de 28 de dezembro de 2016, passa a


vigorar com as seguintes alterações:

Art. 4º-C Fica a União impedida, até 31 de dezembro de 2021, de aplicar as


penalidades decorrentes do descumprimento da limitação de despesas do
§ 1º do art. 4º desta Lei Complementar e de exigir a restituição prevista no §
2º do referido artigo. (NR)

Art. 12-A. (...)

121 Caderno de novidades legislativas


DIREITO FINANCEIRO
§ 8º Aplicam-se aos contratos de que trata a Lei referida no caput deste
artigo, a partir da data de assinatura do termo aditivo, a redução da taxa de
juros e a mudança de índice de atualização monetária, quando indexado ao
Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), para as condições previstas
nos incisos I e II do caput do art. 2º da Lei Complementar nº 148, de 25 de
novembro de 2014. (NR)

3. LC nº 159/2017: a LC nº 181/2021 passou a permitir o afastamento de vedações impostas


pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) durante o Regime de Recuperação Fiscal, com
uma condição de estar previsto no Plano de Recuperação Fiscal.

Art. 4º O art. 8º da Lei Complementar nº 159, de 19 de maio de 2017, passa a


vigorar com a seguinte redação:
Art. 8º (...)
§ 2º As vedações previstas neste artigo poderão ser:
(...)
II - afastadas, desde que previsto expressamente no Plano de Recuperação
Fiscal em vigor (...). (NR)

4. LC nº 178/2021: a LC nº 181/2021 passou a conceder prazo adicional para celebração de


contratos e disciplinar a apuração de valores inadimplidos de Estado com Regime de
Recuperação Fiscal vigente em 31.08.2020. Por fim, revogou o art. 27 da referida norma.

Art. 5º A Lei Complementar nº 178, de 13 de janeiro de 2021, passa a vigorar


com as seguintes alterações:
Art. 21. (...)
§ 1º (...)
I - incidência dos encargos contratuais de normalidade sobre cada valor
inadimplido, desde a data de sua exigibilidade até a data de homologação
do primeiro Regime de Recuperação Fiscal, no caso de obrigações
decorrentes da redução extraordinária integral das prestações relativas aos
contratos de dívidas administrados pela Secretaria do Tesouro Nacional do
Ministério da Economia concedida em razão da primeira adesão ao Regime
de Recuperação Fiscal;
II - incidência da taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de
Custódia (Selic) para os títulos federais sobre cada valor inadimplido, desde
a data de sua exigibilidade até a data de homologação do primeiro Regime
de Recuperação Fiscal, no caso de obrigações inadimplidas referentes a
operações de crédito com o sistema financeiro e instituições multilaterais
contratadas em data anterior à homologação do pedido da primeira adesão
ao Regime de Recuperação Fiscal e cujas contragarantias não tenham sido
executadas pela União.
122 Caderno de novidades legislativas
DIREITO FINANCEIRO
(...)

§ 6º Os valores não pagos em decorrência da retomada progressiva de


pagamentos prevista na primeira adesão ao Regime de Recuperação Fiscal,
relativos às dívidas administradas pela Secretaria do Tesouro Nacional do
Ministério da Economia e às obrigações inadimplidas referentes a operações
de crédito com o sistema financeiro e instituições multilaterais contratadas
em data anterior à homologação do pedido da primeira adesão ao Regime
de Recuperação Fiscal e cujas contragarantias não tenham sido executadas
pela União, serão capitalizados nas condições do art. 2º da Lei Complementar
nº 148, de 25 de novembro de 2014, e sua regulamentação, e incorporados
ao saldo do contrato de que trata o art. 9º-A da Lei Complementar nº 159, de
19 de maio de 2017. (NR)

Art. 23. É a União autorizada a celebrar com os Estados, até 30 de junho


de 2022, contratos específicos com as mesmas condições financeiras do
contrato previsto no art. 9º-A da Lei Complementar nº 159, de 19 de maio
de 2017, com prazo de 360 (trezentos e sessenta) meses, para refinanciar
os valores inadimplidos em decorrência de decisões judiciais proferidas em
ações ajuizadas até 31 de dezembro de 2020 que lhes tenham antecipado
os seguintes benefícios da referida Lei Complementar: (...). (NR)

Por fim, é importante trazer um conceito básico sobre o que são a transposição e a transferência
de saldos financeiros. A transposição consiste na alocação de recursos financeiros entre programas
de trabalho, desde que no âmbito do orçamento de um mesmo órgão. A transposição permite
mudança entre categorias programáticas de um mesmo órgão orçamentário.

Por outro lado, a transferência corresponde à realocação de recursos financeiros entre


categorias econômicas, dentro do mesmo órgão e do mesmo programa de trabalho.

1.3. Questão inédita comentada


Julgue se o item é verdadeiro ou falso:

A transposição de saldo financeiro consiste na realocação de recursos financeiros entre


categorias econômicas.

CERTO ( )   ERRADO ( )

O item é falso. A transposição de saldo financeiro consiste na alocação de recursos financeiros


entre programas de trabalho, desde que no âmbito do orçamento de um mesmo órgão.

123 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE
1. Lei nº 14.154/2021 – Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN)

1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.154/2021
Ementa: Altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente
— ECA), para aperfeiçoar o Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN), por
meio do estabelecimento de rol mínimo de doenças a serem rastreadas pelo teste
do pezinho; e dá outras providências.
Data de publicação: 27.05.2021
Início de vigência: Após 365 dias da publicação.
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/
lei/L14154.htm>
Destaques:
• Lei que estabelece um rol mínimo de doenças a serem rastreadas pelo teste do pezinho,
em cinco etapas.

• Altera o art. 10 do ECA, que prevê as obrigações dos hospitais e demais estabelecimentos
de atenção à saúde de gestantes, incluindo quatro parágrafos que tratam de forma
pormenorizada o rol de doenças e outras providências em relação ao teste do pezinho.

• Prevê a revisão periódica do rol de doenças rastreáveis pelo teste do pezinho, com base
em parâmetros definidos pela própria lei, no § 2º do art. 10 do ECA (Lei nº 8.069/1990).

• Durante os atendimentos de pré-natal e de puerpério imediato, os profissionais de saúde


devem informar a gestante e os acompanhantes sobre a importância do teste do pezinho
e sobre as eventuais diferenças existentes entre as modalidades oferecidas no Sistema
Único de Saúde (SUS) e na rede privada de saúde.

1.2. Comentário
Em 27.05.2021 foi publicada a Lei nº 14.154/2021, com vacatio legis de 365 dias.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de
1990 (ECA), para aperfeiçoar o PNTN, por meio do estabelecimento de rol mínimo de doenças a
serem rastreadas pelo teste do pezinho, e dá outras providências.

Trata-se de mais uma inovação legal destinada à proteção do neonato, na medida em que
alarga o rol de doenças a serem precocemente detectadas por meio de um dos mais importantes
instrumentos médicos disponíveis aos recém-nascidos, o teste do pezinho.

124 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE
Desses pontos, os dois últimos merecem maior atenção.

As doenças serão detectadas em cinco etapas:

§ 1º Os testes para o rastreamento de doenças no recém-nascido serão


disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde, no âmbito do Programa
Nacional de Triagem Neonatal (PNTN), na forma da regulamentação
elaborada pelo Ministério da Saúde, com implementação de forma
escalonada, de acordo com a seguinte ordem de progressão:

I – etapa 1:
a) fenilcetonúria e outras hiperfenilalaninemias;
b) hipotireoidismo congênito;
c) doença falciforme e outras hemoglobinopatias;
d) fibrose cística;
e) hiperplasia adrenal congênita;
f) deficiência de biotinidase;
g) toxoplasmose congênita;
II – etapa 2:
a) galactosemias;
b) aminoacidopatias;
c) distúrbios do ciclo da ureia;
d) distúrbios da betaoxidação dos ácidos graxos;
III – etapa 3: doenças lisossômicas;
IV – etapa 4: imunodeficiências primárias;
V – etapa 5: atrofia muscular espinhal.
Cabe ressaltar, todavia, que esse rol pode ser alargado pelo Poder Público, de acordo com o
§ 3º do art. 10 do ECA, acrescentado pela referida lei.

Por sua vez, o § 2º, acrescentado ao art. 10, prevê os parâmetros para a revisão periódica do rol,
dentre eles: doenças com maior prevalência no país.

§ 2º A delimitação de doenças a serem rastreadas pelo teste do pezinho, no


âmbito do PNTN, será revisada periodicamente, com base em evidências
científicas, considerados os benefícios do rastreamento, do diagnóstico e do
tratamento precoce, priorizando as doenças com maior prevalência no País,
com protocolo de tratamento aprovado e com tratamento incorporado no
Sistema Único de Saúde.

125 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE
§ 3º O rol de doenças constante do § 1º deste artigo poderá ser expandido
pelo poder público com base nos critérios estabelecidos no § 2º deste artigo.

Por fim, traz o dever de informação no § 4º:

§ 4º Durante os atendimentos de pré-natal e de puerpério imediato, os


profissionais de saúde devem informar a gestante e os acompanhantes
sobre a importância do teste do pezinho e sobre as eventuais diferenças
existentes entre as modalidades oferecidas no Sistema Único de Saúde e na
rede privada de saúde. (NR)

1.3. Questão inédita comentada

De acordo com recente alteração no ECA, por meio da Lei nº 14.154/2021, a respeito do teste
do pezinho, marque a alternativa CORRETA.

A) A lei alterou o ECA alargando o rol de doenças detectáveis pelo teste do pezinho, com vigência
a partir da sua publicação.

B) A detecção de doenças por meio do teste do pezinho seguirá em quatro etapas.

C) Somente durante o estado de puerpério imediato deverão os médicos informarem as gestantes


a respeito da importância do teste do pezinho.

D) O rol não poderá ser alterado, senão por nova lei ordinária.

E) A expansão do rol de doenças constante no novo rol deverá seguir os parâmetros também
estabelecidos pela Lei nº 14.154/2021.

Alternativa correta: letra E. Nos termos dos §§ 2º e 3º do art. 10 do ECA, na nova redação dada
pela Lei nº 14.154/2021.

§ 2º A delimitação de doenças a serem rastreadas pelo teste do pezinho, no


âmbito do PNTN, será revisada periodicamente, com base em evidências
científicas, considerados os benefícios do rastreamento, do diagnóstico e do
tratamento precoce, priorizando as doenças com maior prevalência no País,
com protocolo de tratamento aprovado e com tratamento incorporado no
Sistema Único de Saúde.

§ 3º O rol de doenças constante do § 1º deste artigo poderá ser expandido


pelo poder público com base nos critérios estabelecidos no § 2º deste artigo.

126 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE
Demais alternativas:

Alternativa A. Errada. Vacatio legis de 365 dias, conforme art. 2º da Lei nº 14.154/2021.

Art. 2º Esta Lei entra em vigor após decorridos 365 (trezentos e sessenta e
cinco) dias de sua publicação oficial.

Alternativa B. Errada. São cinco etapas, segundo o art. 1º, que conferiu nova redação ao art. 10,
1º, do ECA.
I – etapa 1:
a) fenilcetonúria e outras hiperfenilalaninemias;
b) hipotireoidismo congênito;
c) doença falciforme e outras hemoglobinopatias;
d) fibrose cística;
e) hiperplasia adrenal congênita;
f) deficiência de biotinidase;
g) toxoplasmose congênita;
II – etapa 2:
a) galactosemias;
b) aminoacidopatias;
c) distúrbios do ciclo da ureia;
d) distúrbios da betaoxidação dos ácidos graxos;
III – etapa 3: doenças lisossômicas;
IV – etapa 4: imunodeficiências primárias;
V – etapa 5: atrofia muscular espinhal.
Alternativa C. Errada. Também durante o pré-natal, conforme art. 1º da Lei nº 14.154/2021, que
conferiu nova redação ao § 4º do art. 10 do ECA.

§ 4º Durante os atendimentos de pré-natal e de puerpério imediato, os


profissionais de saúde devem informar a gestante e os acompanhantes
sobre a importância do teste do pezinho e sobre as eventuais diferenças
existentes entre as modalidades oferecidas no Sistema Único de Saúde e na
rede privada de saúde.

Alternativa D. Errada. Poderá ser expandido pelo Poder Público, portanto, por meio de decreto,
conforme art. 1º da Lei nº 14.154/2021, que conferiu nova redação ao § 3º do art. 10 do ECA.

§ 3º O rol de doenças constante do § 1º deste artigo poderá ser expandido


pelo poder público com base nos critérios estabelecidos no § 2º deste artigo.

127 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PENAL
1. L
 ei nº 14.155/2021 – Gravidade dos crimes de violação de dispositivo
informático, furto e estelionato cometidos de forma eletrônica ou
pela internet
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.155/2021
Ementa: Altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), para tornar
mais graves os crimes de violação de dispositivo informático, furto e estelionato
cometidos de forma eletrônica ou pela internet; e o Decreto-Lei nº 3.689, de 3
de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), para definir a competência em
modalidades de estelionato.
Data de publicação: 28.05.2021
Início de vigência: 28.05.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/
L14155.htm> 
Destaques:
• Promoveu alterações no crime de violação de dispositivo informático (art. 154-A do
Código Penal — CP) modificando a redação do caput, ampliando a incidência do tipo penal
e majorando: (a) a pena do crime na sua forma básica (caput do art. 154-A); (b) os limites da
causa de aumento de pena do § 2º; e (c) a pena da qualificadora do § 3º.
• Promoveu alterações no crime de furto (art. 155, CP) inserindo o § 4º-B, que prevê a
qualificadora de furto mediante fraude cometido por meio de dispositivo eletrônico ou
informático e acrescentou o § 4º-C, com duas causas de aumento de pena relacionadas
com o § 4º-B.
• Promoveu alterações no crime de estelionato (art. 171, CP) onde inseriu o § 2º-A, prevendo
a qualificadora do estelionato mediante fraude eletrônica, bem como acrescentou o § 2º-
B, fixando uma causa de aumento de pena relacionada com o § 2º-A; e, por fim, modificou
a redação da causa de aumento de pena do § 4º.

1.2. Comentário

Foi publicada em 28 de maio de 2021 a Lei nº 14.155/2021, que alterou o CP, para tornar mais
graves os crimes de violação de dispositivo informático, furto e estelionato cometidos de forma
eletrônica ou pela internet. A lei entrou em vigor na data da sua publicação.

O crime de violação de dispositivo informático (art. 154-A do CP) está no último artigo do
grupo de crimes relacionados à liberdade individual. Trata-se de um dispositivo acrescentado ao CP
em 2012 pela Lei nº 12.737 (conhecida como “Lei Carolina Dieckmann”, por conta de a atriz ter sido

128 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PENAL
vítima de tal conduta poucos meses antes da publicação da lei). O delito foi fruto do desenvolvi-
mento tecnológico e da necessidade de adaptação da legislação penal à evolução da sociedade.

A Lei nº 14.155/2021 promoveu alterações no crime de violação de dispositivo informático (art.


154-A do CP) modificando a redação do caput, ampliando a incidência do tipo penal e majorando:
(a) a pena do crime na sua forma básica (caput do art. 154-A); (b) os limites da causa de aumento
de pena do § 2º; e (c) a pena da qualificadora do § 3º. As alterações podem ser sistematizadas da
seguinte forma:

ANTES DA LEI Nº 14.155 DEPOIS DA LEI Nº 14.155


Art. 154-A. Invadir dispositivo informático Art. 154-A. Invadir dispositivo informático
alheio, conectado ou não à rede de de uso alheio, conectado ou não à rede de
computadores, mediante violação indevida computadores, com o fim de obter, adulterar
de mecanismo de segurança e com o fim ou destruir dados ou informações sem
de obter, adulterar ou destruir dados ou autorização expressa ou tácita do usuário do
informações sem autorização expressa ou dispositivo ou de instalar vulnerabilidades
tácita do titular do dispositivo ou instalar para obter vantagem ilícita:
vulnerabilidades para obter vantagem ilícita:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos,
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) e multa.
ano, e multa.

§ 2º Aumenta-se a pena de um sexto a § 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço)


um terço se da invasão resulta prejuízo a 2/3 (dois terços) se da invasão resulta
econômico. prejuízo econômico.

§ 3º Se da invasão resultar a obtenção de § 3º Se da invasão resultar a obtenção de


conteúdo de comunicações eletrônicas pri- conteúdo de comunicações eletrônicas pri-
vadas, segredos comerciais ou industriais, vadas, segredos comerciais ou industriais,
informações sigilosas, assim definidas em informações sigilosas, assim definidas em
lei, ou o controle remoto não autorizado do lei, ou o controle remoto não autorizado do
dispositivo invadido: dispositivo invadido:

Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos,
anos, e multa, se a conduta não constitui e multa.
crime mais grave.

Esse crime se insere no grupo de crimes cibernéticos. Vale dizer que o Direito Digital ou
Cibernético é atualmente considerado como um ramo do Direito, em que se é possível cate-
gorizar os crimes a partir da ideia da sua ligação com a tecnologia e com o ciberespaço. Assim,
os crimes cibernéticos são aqueles praticados no ciberespaço, tendo infinitas possibilidades,

129 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PENAL
especialmente em face da importância que o espaço cibernético adquiriu. Veja que hoje é possível
conversar, fazer vídeos, enviar arquivos, realizar transações bancárias, ofender pessoas etc., através
da internet, o que faz com que vários crimes possam ser praticados por este meio.

Os crimes cibernéticos podem ser divididos entre próprio ou impróprio quanto ao meio em
que ocorrem, em que a distinção está no fato de se o crime somente poder ser caracterizado no
meio cibernético (próprio) ou também poder ser praticado tanto neste contexto como fora dele
(impróprio). Com base nesta classificação, o art. 154-A do CP é um crime cibernético próprio.
Ademais, a conduta deve ser animada pela finalidade de obter, adulterar ou destruir os dados ou
informações inseridas no dispositivo sem a autorização do usuário. Existe também a finalidade
específica de instalar malwares (programas maliciosos).

Em relação ao sujeito ativo, podemos dizer que é crime comum, pois qualquer pessoa pode
invadir ou violar dispositivo informático alheio. Já em relação ao sujeito passivo, a vítima pode ser
qualquer pessoa física ou pessoa jurídica.

Insta dizer que a finalidade específica não precisa ser atingida para que o crime se consume,
pois o crime é formal, e admite tentativa. Ademais, existe a hipótese de absorção pelo crime-fim, se
a invasão for crime-meio para a prática de um crime mais grave, como no furto mediante fraude e na
interceptação clandestina de telemática (quando alguém instala um vírus para fazer o espelhamento
de conversas de e-mail de terceiro).

A Lei nº 14.155 também promoveu alterações no crime de furto (art. 155, CP) inserindo o
§ 4º-B, que prevê a qualificadora de furto mediante fraude cometido por meio de dispositivo
eletrônico ou informático e acrescentou o § 4º-C, com duas causas de aumento de pena rela-
cionadas com o § 4º-B.

Após a Lei nº 14.155/2021, passou a existir um tipo penal específico para tratar sobre furto
mediante fraude cometido por meio de dispositivo eletrônico ou informático. Trata-se do art. 155,
§ 4º-B, do CP:

Art. 155. (...)

§ 4º-B A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se o


furto mediante fraude é cometido por meio de dispositivo eletrônico ou
informático, conectado ou não à rede de computadores, com ou sem a
violação de mecanismo de segurança ou a utilização de programa malicioso,
ou por qualquer outro meio fraudulento análogo.

130 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PENAL
E o § 4º-C instituiu causas de aumento de pena, nos seguintes termos:

Art. 155. (...)

§ 4º-C. A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a relevância do


resultado gravoso:

I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado


mediante a utilização de servidor mantido fora do território nacional;

II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é praticado contra


idoso ou vulnerável.

Assim, a pena é aumentada em razão de o fato representar uma ameaça à soberania nacional,
mediante a utilização de servidor mantido fora do território nacional, ou se o crime é praticado contra
idoso (art. 1º da Lei nº 10.741/2003) ou vulnerável (art. 217-A, caput e § 1º, do CP).

Por fim, a lei promoveu alterações no crime de estelionato (art. 171, CP) onde inseriu o § 2º-A,
prevendo a qualificadora do estelionato mediante fraude eletrônica, bem como acrescentou o § 2º-
B, fixando uma causa de aumento de pena relacionada com o § 2º-A; e, por fim, modificou a redação
da causa de aumento de pena do § 4º.

Os §§ 2º-A e 2º-B foram inseridos no contexto da fraude eletrônica, o § 2º-A, prevê o seguinte:

Art. 171. (...)

§ 2º-A A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a fraude


é cometida com a utilização de informações fornecidas pela vítima ou por
terceiro induzido a erro por meio de redes sociais, contatos telefônicos
ou envio de correio eletrônico fraudulento, ou por qualquer outro meio
fraudulento análogo.

O delito consiste na conduta do agente obter vantagem ilícita por meio de informações da
vítima que ele obteve da própria vítima ou de um terceiro que foram induzidos em erro, sendo a
atuação do agente realizada por meio eletrônico.

Já o § 2º-B prevê causa de aumento de pena, nesta linha:

Art. 171. (...)

§ 2º-B A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a relevância


do resultado gravoso, aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços),
se o crime é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do
território nacional.

131 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PENAL
Houve também uma mudança na causa de aumento de pena do § 4º do art. 171:

ANTES DA LEI Nº 14.155 DEPOIS DA LEI Nº 14.155


Estelionato contra idoso Estelionato contra idoso ou vulnerável

§ 4º Aplica-se a pena em dobro se o crime for § 4º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) ao
cometido contra idoso. dobro, se o crime é cometido contra idoso
ou vulnerável, considerada a relevância do
resultado gravoso.

Agora a pena aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é cometido contra idoso ou
vulnerável, considerada a relevância do resultado gravoso. Antes, a pena deveria ser sempre dobrada
se o crime fosse cometido contra idoso.

1.3. Questão inédita comentada

Aquele que invadir dispositivo informático de uso alheio, conectado ou não à rede de
computadores, com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização
expressa ou tácita do usuário do dispositivo ou de instalar vulnerabilidades para obter vantagem
ilícita estará sujeito a pena de:

A) reclusão, de 3 (três) meses a 4 (quatro) anos, e multa.

B) reclusão, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.

C) reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

D) detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.

E) detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Alternativa correta: letra C (responde as demais alternativas). Nos termos do art. 154-A do
CP, a pena para aquele que invadir dispositivo informático de uso alheio, conectado ou não à rede
de computadores, com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização
expressa ou tácita do usuário do dispositivo ou de instalar vulnerabilidades para obter vantagem
ilícita estará sujeito a pena de reclusão, de um a quatro anos, e multa.

132 Caderno de novidades legislativas


SUMÁRIO

Junho
2021

Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
1. Lei nº 14.171/2021 – O auxílio emergencial da mulher provedora de
família monoparental
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.171/2021
Ementa: Altera a Lei nº 13.982, de 2 de abril de 2020, para estabelecer medidas de proteção
à mulher provedora de família monoparental em relação ao recebimento do auxílio
emergencial de que trata o seu art. 2º, e dá outras providências.

Data de publicação: 11.06.2021


Início de vigência: 11.06.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/
Lei/L14171.htm>
Destaque: A lei institui auxílio emergencial ao provedor de família monoparental.

1.2. Comentário

Em 11.06.2021, a Lei nº 14.171 foi publicada, com início de vigência na data de sua publicação.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo “Altera a Lei nº 13.982, de 2 de abril de 2020,
para estabelecer medidas de proteção à mulher provedora de família monoparental em relação ao
recebimento do auxílio emergencial de que trata o seu art. 2º; e dá outras providências”.

A nova lei prevê o pagamento de duas cotas de auxílio emergencial ao provedor de família
monoparental, independentemente do gênero.

O que é família monoparental?

A família monoparental é aquela em que apenas uma pessoa assume a parentalidade dos filhos.
Neste sentido, a referida lei, ao não fazer distinção entre os gêneros, proporcionou maior proteção.
Desta feita, buscou dar a máxima efetividade à proteção das famílias, sendo possível o pagamento
do auxílio emergencial ao pai de família monoparental e ao homoafetivo.

O diploma legal busca dar maior priorização à proteção da mulher no sistema de auxílio
emergencial, o qual objetiva combater a violência e o dano patrimonial que envolverem o recebimento
desse benefício.

134 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
A lei altera a Lei nº 13.982/2020 no seu art. 2º, que estabelece que benefício emergencial será
de duas cotas no valor de R$ 600,00.

Quando não conviverem os pais no mesmo lar e houver duplicidade na indicação de dependente
nos cadastros do genitor e da genitora, por meio de autodeclaração na plataforma digital, prevalece
o cadastro feito pela mulher, ainda que posterior ao efetuado pelo genitor.

No entanto, se o genitor tiver a guarda unilateral do menor ou for responsável por sua criação,
poderá contestar o recebimento prioritário pela genitora, sob pena de ser punido pela falsidade na
prestação de informações sobre a composição do seu núcleo familiar.

Conforme o exposto até aqui, veja as alterações promovidas na Lei nº 13.982/2020:

Art. 2º (...)

§ 3º  A pessoa provedora de família monoparental receberá 2 (duas) cotas


do auxílio emergencial, independentemente do sexo, observado o disposto
nos §§ 3º-A, 3º-B e 3º-C deste artigo.

§ 3º-A   Quando o genitor e a genitora não formarem uma única família e


houver duplicidade na indicação de dependente nos cadastros do genitor
e da genitora realizados em autodeclaração na plataforma digital de que
trata o § 4º deste artigo, será considerado o cadastro de dependente feito
pela mulher, ainda que posterior àquele efetuado pelo homem.

§ 3º-B No caso de cadastro superveniente feito pela mulher na forma


prevista no § 3º-A deste artigo, o homem que detiver a guarda unilateral
dos filhos menores ou que, de fato, for responsável por sua criação poderá
manifestar discordância por meio da plataforma digital de que trata o § 4º
deste artigo, devendo ser advertido das penas legais em caso de falsidade
na prestação de informações sobre a composição do seu núcleo familiar.

§ 3º-C  Na hipótese de manifestação de que trata o § 3º-B deste artigo, o


trabalhador terá a renda familiar mensal  per capita  de que trata o inciso
IV do  caput  deste artigo calculada provisoriamente, considerados os
dependentes cadastrados para aferir o direito a uma cota mensal do auxílio
emergencial de que trata o caput deste artigo, e receberá essa cota mensal,
desde que cumpridos os demais requisitos previstos neste artigo, até que a
situação seja devidamente elucidada pelo órgão competente.

135 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Outra medida protetiva da mulher é a previsão de que a Central de Atendimento à
Mulher  (Ligue 180) estará equipada com atendimento específico para lidar com denúncias de
mulheres que tiverem o auxílio emergencial subtraído, retido ou recebido indevidamente por outra
pessoa, o que configura violência patrimonial. Segundo a lei:

Art. 3º    A Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180, de que trata


o  Decreto nº 7.393, de 15 de dezembro de 2010, disponibilizará opção de
atendimento específico para denúncias de violência e de dano patrimonial,
para os casos em que a mulher tiver o auxílio emergencial de que trata o art.
2º da Lei nº 13.982, de 2 de abril de 2020, subtraído, retido ou recebido
indevidamente por outrem.

O pagamento de auxílio emergencial realizado em duplicidade em decorrência de informações


falsas ou usurpação em prejuízo do real provedor de família monoparental deve ser ressarcido ao
erário por quem o deu causa.

Àquele genitor que teve seu benefício emergencial subtraído ou recebido indevidamente pelo
outro genitor em razão de conflito de informações sobre a guarda de dependentes em comum a lei
garante o pagamento retroativo das cotas a que teria direito.

Diante de todo o exposto, o auxílio emergencial monoparental representou específica proteção


às famílias monoparentais mais vulneráveis.

1.3. Questão inédita comentada

Julgue o item:

O auxílio emergencial pode ser pago ao genitor e à genitora que seja responsável por família
monoparental.

CERTO ( ) ERRADO ( )

O item está certo.

O auxílio emergencial monoparental é medida legislativa que busca dar assistência


financeira ao protagonista da família monoparental responsável pela guarda dos filhos. Embora
a Lei nº 14.171/2021 tenha dado maior proteção para a mulher, ela não deixou de reconhecer a

136 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO

existência de família monoparental chefiada por homens. Desta forma, uma vez preenchidos os
requisitos legais para a percepção do benefício, o gênero não afasta o seu recebimento, segundo o
art. 2º do diploma legal.

Art. 2º O art. 2º da Lei nº 13.982, de 2 de abril de 2020, passa a vigorar com a
seguinte redação:

“Art. 2º  (...)

§ 3º A pessoa provedora de família monoparental receberá 2 (duas) cotas


do auxílio emergencial, independentemente do sexo, observado o
disposto nos §§ 3º-A, 3º-B e 3º-C deste artigo”. (Grifos nossos).

2. Lei nº 14.176/2021 – O auxílio-inclusão e o critério para auferir a


miserabilidade no amparo assistencial
2.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.176/2021
Ementa: Altera a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, para estabelecer o critério de renda
familiar  per capita  para acesso ao benefício de prestação continuada, estipular
parâmetros adicionais de caracterização da situação de miserabilidade e de
vulnerabilidade social e dispor sobre o auxílio-inclusão de que trata a Lei nº 13.146,
de 6 de julho de 2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência); autoriza, em caráter
excepcional, a realização de avaliação social mediada por videoconferência; e dá
outras providências.
Data de publicação: 23.06.2021
Início de vigência: 1º.01.2022 – Quanto ao art. 1º, na parte que acrescenta o § 11-A ao art.
20, e o art. 20-B na Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993.

1º.10.2021 – Quanto ao art. 2º, que institui o auxílio-inclusão.

23.06.2021 – Quanto aos demais dispositivos.


Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/
Lei/L14176.htm>

137 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Destaques:
• Manteve, regra geral, o critério de ¼ do salário-mínimo.

• Permissão para ampliação do limite de renda para ½ salário-mínimo, por meio de


regulamento, nos casos de pessoas com deficiência, trazendo as balizas para uma avaliação
mais aprofundada.

• Previsão do chamado auxílio-inclusão previsto no art. 94 do Estatuto da Pessoa com


Deficiência.

2.2. Comentário

Em 23.06.2021, a Lei nº 14.176 foi publicada, com início de vigência na data de sua publicação.
Exceto quanto ao art. 1º, que terá vigência em 1º.01.2022, e o art. 2º, o qual passa a ter vigência em
1º.10.2021.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo “Altera a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de
1993, para estabelecer o critério de renda familiar per capita para acesso ao benefício de prestação
continuada, estipular parâmetros adicionais de caracterização da situação de miserabilidade e de
vulnerabilidade social e dispor sobre o auxílio-inclusão de que trata a Lei nº 13.146, de 6 de julho
de 2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência); autoriza, em caráter excepcional, a realização de
avaliação social mediada por meio de videoconferência; e dá outras providências”.

O novo diploma legal tem grande relevância para os benefícios de natureza assistencial. Em
nome da melhor didática, em primeiro momento abordaremos os impactos da legislação no amparo
assistencial regulamentado pela Lei nº 8.742/1993 (Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS) e,
posteriormente, a regulamentação dada pela lei ao auxílio-inclusão que trata o Estatuto da Pessoa
com Deficiência.

a) Amparo assistencial e a renda per capita familiar

O amparo assistencial é um benefício de natureza assistencial previsto no art. 203, V, da


Constituição Federal (CF/1988). A Lei nº 8.742/1993 (LOAS), em seus arts. 20 a 21-A, disciplinou
como seria pago esse benefício. O amparo assistencial é também conhecido como benefício de
prestação continuada (BPC) ou benefício assistencial.

138 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
O benefício corresponde ao pagamento de um salário-mínimo pago à pessoa com deficiência
ou ao idoso com 65 anos ou mais. Ademais, o benefício apenas será pago a estes indivíduos desde que
comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família.

O BPC tem natureza assistencial, por isto, independe de contribuição à seguridade social. Este
benefício assistencial visa garantir o mínimo existencial a este grupo em situação de vulnerabilidade.

A lei impõe critérios para a concessão do amparo assistencial. São eles: ser deficiente; idoso
com 65 anos ou mais; e não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por
sua família. Trata-se de critérios objetivos impostos pelo legislador.

Aqui, a Lei nº 14.176/2021 vem tratar em especial do critério objetivo da miserabilidade para a
concessão do benefício de prestação continuada. Este critério utiliza dois conceitos fundamentais:
família e renda familiar per capita. Como o legislador compreende estes conceitos?

A LOAS considera família para os fins da renda familiar o requerente, o cônjuge ou companheiro,
os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteados
solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto (art. 20, § 1º, da LOAS).

Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-


-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e
cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria
manutenção nem de tê-la provida por sua família.               

§ 1º  Para os efeitos do disposto no  caput, a família é composta pelo


requerente, o cônjuge ou companheiro, os pais e, na ausência de um deles,
a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteados solteiros e
os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto. 

A renda familiar per capita corresponde à soma de todos os rendimentos dos membros da
família que moram na mesma casa que o requerente do benefício. Depois este valor é dividido pelo
número de familiares. Neste ponto, a Lei nº 14.176/2021, fruto da conversão da Medida Provisória
(MP) nº 1.023/2020, deu redação ao art. 20, § 3º, da LOAS, considerando a renda familiar per capita
igual ou inferior à ¼ do salário-mínimo.

Art. 20. (...)

§ 3º  Observados os demais critérios de elegibilidade definidos nesta Lei,


terão direito ao benefício financeiro de que trata o  caput  deste artigo a
pessoa com deficiência ou a pessoa idosa com renda familiar mensal  per
capita igual ou inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo. (Redação dada
pela Lei nº 14.176, de 2021.)

139 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
O § 3º, art. 20 da LOAS foi objeto de constantes alterações legislativas que modificam
muitas vezes esse critério objetivo de renda per capita familiar para considerar a miserabilidade do
requerente.

De modo sistematizado veja a evolução legislativa sobre o critério objetivo de miserabilidade:

Lei nº 12.435/2011 Lei nº 13.981/2020 Lei nº 13.982/2020 Lei nº 14.176/2021

(Conversão da MP
§ 3º Considera-se nº 1.023/2020)
incapaz de prover § 3º Observados
a manutenção os demais critérios
§ 3º Considera-se § 3º Considera-se
da pessoa com de elegibilidade
incapaz de prover incapaz de prover
deficiência ou idosa definidos nesta
a manutenção da a manutenção
a família cuja renda Lei, terão direito ao
pessoa portadora de da pessoa com
mensal per capita benefício financeiro
deficiência ou idosa deficiência ou idosa
seja: de que trata o caput
a família cuja renda a família cuja renda
mensal per capita mensal per capita I – igual ou inferior a deste artigo a pessoa
seja inferior a 1/4 (um seja inferior a 1/2 1/4 (um quarto) do com deficiência ou
quarto) do salário- (meio) salário- salário-mínimo, até a pessoa idosa com
-mínimo. -mínimo. 31 de dezembro de renda familiar mensal
2020; per capita igual ou
inferior a 1/4 (um
II – (VETADO). quarto) do salário-
-mínimo.

Renda mensal per Renda mensal per Renda mensal per Renda mensal per


capita capita capita capita

Igual ou inferior Igual ou inferior


Inferior a Inferior a

a 1/4 do salário- a 1/4 (um quarto) do


1/4 do salário- 1/2 do salário-
-mínimo até salário-mínimo (sem
-mínimo -mínimo
31.12.2020 termo final)

140 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Importante! A Lei nº 14.176/2021 possibilitou que o Poder Executivo federal, por meio de
decreto, amplie o limite de renda mensal familiar per capita para até 1/2 salário-mínimo. É o que
prevê o § 11-A do art. 20 da LOAS. Esta previsão apenas entra em vigor em 1º.01.2022.

Art. 20. (...)

§ 11-A O regulamento de que trata o § 11 deste artigo poderá ampliar o limite


de renda mensal familiar per capita previsto no § 3º deste artigo para até 1/2
(meio) salário-mínimo, observado o disposto no art. 20-B desta Lei.

Além da regulamentação pelo decreto presidencial, a Lei nº 14.176/2021 condicionou a eficácia


do art. 20, § 11-A às regras orçamentárias e de responsabilidade fiscal. Ademais, a norma permitiu
a utilização de outros elementos probatórios da condição de miserabilidade e da situação de
vulnerabilidade do grupo familiar a ser regulamentado por meio de decreto presidencial.

Art. 6º (...)

Parágrafo único. A ampliação do limite de renda mensal de 1/4 (um quarto)


para até 1/2 (meio) salário-mínimo mensal, de que trata o § 11-A do art. 20
da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, mediante a utilização de outros
elementos probatórios da condição de miserabilidade e da situação de
vulnerabilidade do grupo familiar, na forma do art. 20-B da referida Lei,
fica condicionada a decreto regulamentador do Poder Executivo, em cuja
edição deverá ser comprovado o atendimento aos requisitos fiscais. (Grifos
nossos.)

Os aspectos que permitem a ampliação dos critérios de miserabilidade do núcleo familiar do


requerente do amparado assistencial são balizados segundo elenco exposto pelo legislador no art.
20-B da LOAS, o qual apenas entra em vigor em 1º.01.2022. Veja os critérios:

Art. 20-B.  Na avaliação de outros elementos probatórios da condição de


miserabilidade e da situação de vulnerabilidade de que trata o § 11 do art.
20 desta Lei, serão considerados os seguintes aspectos para ampliação do
critério de aferição da renda familiar mensal per capita de que trata o §
11-A do referido artigo:

I – o grau da deficiência;

II – a dependência de terceiros para o desempenho de atividades básicas


da vida diária; e

141 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
III – o comprometimento do orçamento do núcleo familiar de que trata
o § 3º do art. 20 desta Lei exclusivamente com gastos médicos, com
tratamentos de saúde, com fraldas, com alimentos especiais e com
medicamentos do idoso ou da pessoa com deficiência não disponibilizados
gratuitamente pelo SUS, ou com serviços não prestados pelo Suas, desde
que comprovadamente necessários à preservação da saúde e da vida.

§ 1º A ampliação de que trata o caput deste artigo ocorrerá na forma de


escalas graduais, definidas em regulamento.

§ 2º Aplicam-se à pessoa com deficiência os elementos constantes dos


incisos I e III do caput deste artigo, e à pessoa idosa os constantes dos incisos
II e III do caput deste artigo.

§ 3º O grau da deficiência de que trata o inciso I do caput deste artigo será


aferido por meio de instrumento de avaliação biopsicossocial, observados
os termos dos §§ 1º e 2º do art. 2º da Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015
(Estatuto da Pessoa com Deficiência), e do § 6º do art. 20 e do art. 40-B
desta Lei.

§ 4º O valor referente ao comprometimento do orçamento do núcleo


familiar com gastos de que trata o inciso III do caput deste artigo será
definido em ato conjunto do Ministério da Cidadania, da Secretaria Especial
de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia e do INSS, a partir de
valores médios dos gastos realizados pelas famílias exclusivamente com
essas finalidades, facultada ao interessado a possibilidade de comprovação,
conforme critérios definidos em regulamento, de que os gastos efetivos
ultrapassam os valores médios. (Grifos nossos.)

Outro aspecto de inovação abordado pela Lei nº 14.176/2021 é a possibilidade de revisão do


benefício assistencial, tenha sido ele concedido na via judicial ou administrativa, segundo inclusão
do § 5º ao art. 21 da LOAS.

Art. 21. (...)

§ 5º O beneficiário em gozo de benefício de prestação continuada concedido


judicial ou administrativamente  poderá ser convocado para avaliação das
condições que ensejaram sua concessão ou manutenção, sendo-lhe exigida
a presença dos requisitos previstos nesta Lei e no regulamento.

142 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
O Estatuto da Pessoa com Deficiência assevera que a avaliação da deficiência, quando
necessária, será biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar e considerará:
os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo; os fatores socioambientais, psicológicos
e pessoais; a limitação no desempenho de atividades; e a restrição de participação (art. 2º, § 1º, do
Estatuto da Pessoa com Deficiência). Ademais, indica, no art. 2º, § 2º, do referido Estatuto, que o
Poder Executivo criará instrumentos para avaliação da deficiência.

Não obstante, a Lei nº 14.176/2021 apreende a concepção do Estatuto da Pessoa com Deficiência
e incluiu o art. 20-B ao LOAS:

Art. 20-B.  Na avaliação de outros elementos probatórios da condição de


miserabilidade e da situação de vulnerabilidade de que trata o § 11 do art.
20 desta Lei, serão considerados os seguintes aspectos para ampliação do
critério de aferição da renda familiar mensal per capita de que trata o § 11-A
do referido artigo: (Vigência) (Vide Lei nº 14.176, de 2021.)

I – o grau da deficiência;

§ 3º  O grau da deficiência de que trata o inciso I do caput deste artigo


será aferido por meio de instrumento de avaliação biopsicossocial,
observados os termos dos §§ 1º e 2º do art. 2º da Lei nº 13.146, de 6 de
julho de 2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), e do § 6º do art. 20
e do art. 40-B desta Lei. (Grifos nossos.)

No entanto, ainda não houve a devida regulamentação da avaliação da deficiência. Por isso,
o legislador, na Lei nº 14.176/2021, acrescentou o art. 40-B à Lei nº 8.742/1993, abordando a lacuna:

Art.    40-B. Enquanto não estiver regulamentado o instrumento de


avaliação de que tratam os §§ 1º e 2º do art. 2º da Lei nº 13.146, de 6 de
julho de 2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), a concessão do
benefício de prestação continuada à pessoa com deficiência ficará
sujeita à avaliação do grau da deficiência e do impedimento de que trata
o § 2º do art. 20 desta Lei, composta por avaliação médica e avaliação
social realizadas, respectivamente, pela Perícia Médica Federal e pelo
serviço social do INSS, com a utilização de instrumentos desenvolvidos
especificamente para esse fim.

A respeito da Covid- 19,o art. 3º da Lei nº 14.176/2021 confere regras excepcionais com relação
aos anos de 2020 e 2021, diante da necessidade de adaptações nos procedimentos administrativos
em razão da pandemia. Então, foram adotadas duas regras transitórias sobre a análise de pedidos de
BPC neste período.

143 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Art. 3º Para avaliação da deficiência que justifica o acesso, a manutenção
e a revisão do benefício de prestação continuada de que trata o art. 20 da
Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, fica o Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS) autorizado a adotar as seguintes medidas excepcionais, até 31
de dezembro de 2021:

I – realização da avaliação social, de que tratam o § 6º do art. 20 e o art. 40-B


da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, por meio de videoconferência; e

II – concessão ou manutenção do benefício de prestação continuada


aplicado padrão médio à avaliação social, que compõe a avaliação da
deficiência de que trata o § 6º do art. 20 da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro
de 1993, desde que tenha sido realizada a avaliação médica e constatado o
impedimento de longo prazo.

§ 1º É vedada a utilização da medida prevista no inciso II do caput deste artigo


para indeferimento de requerimentos ou para cessação de benefícios.

§ 2º Os requisitos para aplicação das medidas previstas no caput deste artigo


serão definidos em ato conjunto do Ministério da Cidadania, da Secretaria
Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia e do INSS.

§ 3º O prazo de aplicação das medidas previstas no caput deste artigo


poderá ser prorrogado mediante ato conjunto do Ministério da Cidadania,
da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia
e do INSS.

b) Auxílio-inclusão

A Lei nº 14.176/2021 acrescentou a Seção VI no Capítulo IV da Lei nº 8.742/1993, para incluir


os arts. 26-A a 26-H na LOAS, que tratam da disciplina de um benefício assistencial previsto no art.
94 do Estatuto da Pessoa com Deficiência. Este é um benefício pago às pessoas com deficiência,
chamado de auxílio-inclusão, o qual foi regulamentado pela Lei nº 14.176/2021.

O auxílio-inclusão só foi implementado agora, pois carecia de regulamentação no Estatuto da


Pessoa com Deficiência. E apenas tem início de vigência no dia 1º.10.2021. A gestão deste auxílio
compete ao Ministério da Cidadania e, ao Instituto Nacional da Seguridade Socia (INSS), a sua
operacionalização e pagamento (art. 26-F da LOAS). As despesas de seu pagamento provêm do
orçamento do Ministério da Cidadania (art. 26-G da LOAS).

144 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
A Lei nº 14.176/2021 vem para permitir que a pessoa com deficiência que receba o benefício
de prestação continuada possa trabalhar. Desta forma, mitiga a vedação da atividade remunerada
previsto no art. 20 da LOAS. Apenas os deficientes com deficiência moderada ou grave podem ter
direito ao auxílio-inclusão (art. 26-A da LOAS).

A nova lei exige alguns requisitos para a fruição do auxílio-inclusão. Então, guarde os requisitos
(art. 26-A da LOAS):

Art. 26-A. Terá direito à concessão do auxílio-inclusão de que trata o art. 94


da Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência),
a pessoa com deficiência moderada ou grave que, cumulativamente:

I – receba o benefício de prestação continuada, de que trata o art. 20 desta


Lei, e passe a exercer atividade:

a) que tenha remuneração limitada a 2 (dois) salários-mínimos; e

b) que enquadre o beneficiário como segurado obrigatório do Regime


Geral de Previdência Social ou como filiado a regime próprio de previdência
social da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios;

II – tenha inscrição atualizada no CadÚnico no momento do requerimento


do auxílio-inclusão;

III – tenha inscrição regular no CPF; e

IV – atenda aos critérios de manutenção do benefício de prestação


continuada, incluídos os critérios relativos à renda familiar mensal  per
capita  exigida para o acesso ao benefício, observado o disposto no § 4º
deste artigo.

§ 1º O auxílio-inclusão poderá ainda ser concedido, nos termos do inciso I


do  caput  deste artigo, mediante requerimento e sem retroatividade no
pagamento, ao beneficiário:

I – que tenha recebido o benefício de prestação continuada nos 5 (cinco)


anos imediatamente anteriores ao exercício da atividade remunerada; e

II – que tenha tido o benefício suspenso nos termos do art. 21-A desta Lei.

§ 2º O valor do auxílio-inclusão percebido por um membro da família


não será considerado no cálculo da renda familiar mensal per capita  de
que trata o inciso IV do  caput  deste artigo, para fins de concessão e de
manutenção de outro auxílio-inclusão no âmbito do mesmo grupo familiar.

145 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
§ 3º  O valor do auxílio-inclusão e o da remuneração do beneficiário
do auxílio-inclusão de que trata a alínea “a” do inciso I do  caput  deste
artigo percebidos por um membro da família não serão considerados no
cálculo da renda familiar mensal per capita de que tratam os §§ 3º e 11-A
do art. 20 desta Lei para fins de manutenção de benefício de prestação
continuada concedido anteriormente a outra pessoa do mesmo grupo
familiar.

§ 4º Para fins de cálculo da renda familiar per capita de que trata o inciso IV


do caput deste artigo, serão desconsideradas:

I – as remunerações obtidas pelo requerente em decorrência de exercício


de atividade laboral, desde que o total recebido no mês seja igual ou inferior
a 2 (dois) salários-mínimos; e

II – as rendas oriundas dos rendimentos decorrentes de estágio


supervisionado e de aprendizagem. (Grifos nossos.)

O valor do auxílio-inclusão corresponde a 50% do valor do benefício de prestação continuada


(art. 26-B da LOAS). Ademais, o auxílio não pode sofrer desconto de qualquer contribuição e não
gera direito a pagamento de abono anual (art. 26-E da LOAS).

Ao realizar o requerimento do auxílio-inclusão, o beneficiário que recebe BPC autorizará


a suspensão deste nos termos do art. 21-A LOAS, conforme prevê o art. 26-B, parágrafo único, da
LOAS. Por fim, a data de recebimento (DIB) é a data do seu requerimento.

Atenção! Vedação de cumulação do auxílio-inclusão com (art. 26-C da LOAS): benefício


de prestação continuada; prestações a título de aposentadoria, de pensões ou de benefícios por
incapacidade pagos por qualquer regime de previdência social; e seguro-desemprego.

A cessão do pagamento do auxílio-inclusão ocorrerá em duas situações (art. 26-D da LOAS):


i) deixar de atender aos critérios de manutenção do benefício de prestação continuada; ii) deixar de
atender aos critérios de concessão do auxílio-inclusão.

Por fim, a novel legislação viabiliza a cobrança administrativa de valores indevidamente


recebidos pelos beneficiários de benefício de prestação continuada ou auxílio-inclusão. Veja o
disposto no art. 40-C da LOAS:

Art. 40-C. Os eventuais débitos do beneficiário decorrentes de recebimento


irregular do benefício de prestação continuada ou do auxílio-inclusão
poderão ser consignados no valor mensal desses benefícios, nos termos do
regulamento.

146 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
2.3. Questão inédita comentada

Considere as inovações promovidas pela Lei nº 14.176/2021 e assinale a alternativa correta.

A) O auxílio-inclusão será devido a todo deficiente físico.

B) O auxílio-inclusão corresponde a 50% do valor do benefício de prestação continuada.

C) O auxílio-inclusão pode ser recebido de forma conjunta com o seguro-desemprego.

D) O deficiente servidor público não pode receber auxílio-inclusão.

E) O auxílio-inclusão tem vigência imediata por ser norma de natureza assistencial.

Alternativa correta: letra B. É o disposto no art. 26-B da LOAS.

Art. 26-B. O auxílio-inclusão será devido a partir da data do requerimento, e o seu valor
corresponderá a 50% (cinquenta por cento) do valor do benefício de prestação continuada em vigor.

Demais alternativas:

Alternativa A. Errada. A Lei nº 14.176/2021 restringe o recebimento do auxílio-inclusão a pessoa


deficiente com deficiência moderada ou grave, segundo o art. 26-A da LOAS.

Art. 26-A. Terá direito à concessão do auxílio-inclusão de que trata o art. 94 da Lei nº 13.146, de 6
de julho de 2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), a pessoa com deficiência moderada ou grave
que, cumulativamente: (...)

Alternativa C. Errada. Em desacordo com o disposto no art. 26-C, III, da LOAS.

Art. 26-C. O pagamento do auxílio-inclusão não será acumulado com o pagamento de:

III – seguro-desemprego.

Alternativa D. Errada. Este servidor deficiente pode receber o auxílio-inclusão desde que
preencha os demais requisitos, conforme o art. 26-A da LOAS.

Art. 26-A. Terá direito à concessão do auxílio-inclusão de que trata o art. 94 da Lei nº 13.146, de 6
de julho de 2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), a pessoa com deficiência moderada ou grave

147 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
que, cumulativamente:

I – receba o benefício de prestação continuada, de que trata o art. 20 desta Lei, e passe a exercer
atividade:

a) que tenha remuneração limitada a 2 (dois) salários-mínimos; e

b) que enquadre o beneficiário como segurado obrigatório do Regime Geral de Previdência


Social ou como filiado a regime próprio de previdência social da União, dos Estados, do Distrito
Federal ou dos Municípios; (Grifos nossos.)

Alternativa E. Errada. As regras da Lei nº 14.176/2021 que tratam sobre o auxílio-inclusão


somente entram em vigor no dia 1º.10.2021.

Art. 6º (...)

II – em 1º de outubro de 2021, quanto ao art. 2º, que institui o auxílio-inclusão; e (...)

148 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO TRABALHO
1. Lei nº 14.163, de 9 de junho de 2021 – Altera a Lei nº 13.475, de 28 de
agosto de 2017, que dispõe sobre o exercício da profissão de tripulante
de aeronave

1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.163/2021
Ementa: Altera a Lei nº 13.475, de 28 de agosto de 2017, que dispõe sobre o exercício da
profissão de tripulante de aeronave.

Data de publicação: 10.06.2021


Início de vigência: 10.06.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/
Lei/L14163.htm>
Destaque:
• A lei promove uma alteração em relação ao contrato de trabalho do aeronauta.

1.2. Comentário

Em 10 de junho de 2021, foi publicada no DOU a Lei nº 14.163, com início imediato de vigência.

A lei, de apenas dois artigos, prevê que:

Art. 1º O art. 20 da Lei nº 13.475, de 28 de agosto de 2017, passa a vigorar


acrescido do seguinte § 3º:

“Art. 20. ...............................................................................……..........

§ 3º O disposto neste artigo não se aplica quando o operador da aeronave


for órgão ou entidade da administração pública, no exercício de missões
institucionais ou de poder de polícia.” (NR)

Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

149 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO TRABALHO
Inicialmente, insta salientar que o art. 20, caput, da Lei nº 13.475/2017 expressamente estabelece
que “A função remunerada dos tripulantes a bordo de aeronave deverá, obrigatoriamente, ser
formalizada por meio de contrato de trabalho firmado diretamente com o operador da aeronave”.
Em outras palavras, como regra, os aeronautas devem ser empregados dos operadores da aeronave.

Apesar disso, de acordo com a exposição de motivos da Lei nº 14.163/2021 (conversão da Medida
Provisória nº 1.029, de 2021), o referido dispositivo legal não levava em consideração a “peculiaridade
das operações aéreas realizadas por órgãos e entidades da Administração Pública no exercício de
suas missões institucionais, a exemplo das operações de proteção ao meio ambiente, destinadas a
exercer o poder de polícia ambiental e a executar ações da Política Nacional do Meio Ambiente para
permitir que a administração pública possa operar voos com tripulantes terceirizados, em contraste
com a norma vigente”.

Dessa forma, foi acrescentado o § 3º ao artigo, estabelecendo que os aeronautas não precisam
ser empregados do operador da aeronave, quando este for órgão ou entidade da administração
pública, no exercício de missões institucionais ou de poder de polícia.

Com efeito, é possível afirmar que a alteração legislativa ocorreu para permitir que a
administração pública, em casos específicos, possa operar voos com tripulantes terceirizados, em
contraste com o disposto no caput do artigo.

1.3. Questão inédita comentada

De acordo com a lei do aeronauta (Lei nº 13.475/2017), analise e julgue a proposição a seguir:

A função remunerada dos tripulantes a bordo de aeronave deverá, necessariamente, ser


formalizada por meio de contrato de trabalho firmado diretamente com o operador da aeronave,
inclusive nos casos em que este for órgão ou entidade da administração pública.

CERTO ( ) ERRADO ( )

A proposição está errada.

Conforme o § 3º do art. 20 da Lei nº 13.475/2017, “quando o operador da aeronave for órgão


ou entidade da administração pública, no exercício de missões institucionais ou de poder de polícia”
não é necessário que a função remunerada dos tripulantes a bordo de aeronave seja formalizada por
meio de contrato de trabalho com o operador da aeronave.

150 Caderno de novidades legislativas


151 Caderno de novidades legislativas
Julho
2021
DIREITO ADMINISTRATIVO
1. Medida Provisória (MP) nº 1.059/2021 – Prorroga o período de
aplicação da Lei nº 14.124/2021 enquanto durar a declaração de
emergência em saúde pública de importância nacional
1.1. Ficha normativa

MP Nº 1.059/2021
Ementa: Altera a Lei nº 14.124, de 10 de março de 2021, que dispõe sobre as medidas
excepcionais relativas à aquisição de vacinas e de insumos e à contratação de
bens e serviços de logística, de tecnologia da informação e comunicação, de
comunicação social e publicitária e de treinamentos destinados à vacinação contra
a Covid-19 e sobre o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a
Covid-19.
Data de publicação: 30.07.2021

Início de vigência: 30.07.2021

Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/


Mpv/mpv1059.htm>
Destaque:
• Prorroga o período de aplicação da Lei nº 14.124/2021 enquanto durar a declaração de
emergência em saúde pública de importância nacional.

1.2. Comentário

No dia 30.07.2021, foi publicada e entrou em vigor a MP nº 1.059/2021, que prorroga o período
de aplicação da Lei nº 14.124. Conforme ementa da MP, o novel texto legislativo modifica “a Lei nº
14.124, de 10 de março de 2021, que dispõe sobre as medidas excepcionais relativas à aquisição de
vacinas e de insumos e à contratação de bens e serviços de logística, de tecnologia da informação e
comunicação, de comunicação social e publicitária e de treinamentos destinados à vacinação contra
a Covid-19 e sobre o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19”.

A Lei nº 14.124/2021 entrou em vigor em 10.03.2021, com o objetivo de auxiliar o enfrentamento


da pandemia. Como medida excepcional, a lei autoriza a dispensa de licitação para aquisição
de vacinas, insumos para vacinação e para contratação de bens e serviços necessários para
implementação da vacinação.

153 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Além da dispensa de licitação, o art. 13, § 3º, da Lei nº 14.124/2021 autoriza a compra, distribuição
e aplicação de vacinas contra a Covid-19 por estados, Distrito Federal e municípios, caso a União “não
realize as aquisições e a distribuição tempestiva de doses suficientes para a vacinação dos grupos
previstos no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19.”

Para que tais medidas possam ser tomadas, a Lei nº 14.124/2021 trouxe uma série de requisitos,
como a limitação temporal – no sentido de que seus dispositivos somente seriam aplicáveis “aos
atos praticados e aos contratos ou instrumentos congêneres firmados até 31 de julho de 2021,
independentemente do seu prazo de execução ou de suas prorrogações” (redação anterior do art. 20).

Tendo em vista que a pandemia não foi controlada até 31.07.2021, a MP nº 1.059/2021 precisou
ser editada, prorrogando o período de aplicação da Lei nº 14.124/2021, nos termos da nova redação
do art. 20:

Esta Lei aplica-se aos atos praticados e aos contratos e instrumentos


congêneres firmados enquanto durar a declaração de emergência em
saúde pública de importância nacional, independentemente do seu
prazo de execução ou de suas prorrogações. (Redação dada pela Medida
Provisória nº 1.059, de 2021.)

Ou seja, a partir da publicação da MP nº 1.059/2021, a Lei nº 14.124/2021 passa a ser aplicável aos
atos praticados e aos contratos e instrumentos congêneres firmados enquanto durar a declaração de
emergência em saúde pública de importância nacional, o que independe do prazo de execução ou
de prorrogação dos contratos firmados nos seus termos.

1.3. Questão inédita comentada

Nos termos da Lei nº 14.124/2021, julgue a seguinte assertiva:

Esta lei aplica-se aos atos praticados e aos contratos ou instrumentos congêneres firmados até
31.07.2021, independentemente do seu prazo de execução ou de suas prorrogações.

CERTO ( ) ERRADO ( )

O item está errado.

Há erro na parte final da assertiva, nos termos do art. 20 da Lei nº 14.124/2021 com a redação
dada pela MP nº 1.059/2021:

154 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Esta Lei aplica-se aos atos praticados e aos contratos e instrumentos
congêneres firmados enquanto durar a declaração de emergência em saúde
pública de importância nacional, independentemente do seu prazo de
execução ou de suas prorrogações. (Redação dada pela Medida Provisória
nº 1.059, de 2021.)

Caso referida MP não tivesse alterado o dispositivo, a assertiva estaria correta.

155 Caderno de novidades legislativas


LEGISLAÇÃO PENAL E PROCESSUAL PENAL
EXTRAVAGANTE

1. Lei nº 14.188/2021 – Estabelece medida protetiva de enfrentamento


da violência doméstica e familiar contra a mulher
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.188/2021
Ementa: Define o programa de cooperação Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica
como uma das medidas de enfrentamento da violência doméstica e familiar contra
a mulher previstas na Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha),
e no Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), em todo
o território nacional; e altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Código Penal), para modificar a modalidade da pena da lesão corporal simples
cometida contra a mulher por razões da condição do sexo feminino e para criar o
tipo penal de violência psicológica contra a mulher.

Data de publicação: 29.07.2021


Início de vigência: 29.07.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/
Lei/L14188.htm>
Destaques:
• A lei define o Programa de Cooperação Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica
como mais uma medida de enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a
mulher, acirrada nos tempos da pandemia da Covid-19, estabelecendo intercâmbio entre
as instituições públicas e privadas e órgãos de segurança pública integrantes do sistema
de assistência e segurança à vítima.

• Além do Programa Sinal Vermelho, a lei em comento alterou a Lei nº 11.340/2006 acerca
do afastamento do lar imediato do agressor em caso de risco atual ou iminente à vida ou à
integridade física ou psicológica da mulher em situação de violência doméstica e familiar.

• Referido ato normativo ainda recrudesce a pena do crime de lesão corporal, prevista no
art. 129 do Código Penal, quando praticado contra a mulher por razões do sexo feminino.

• A lei estabelece ainda novo tipo penal, o da violência psicológica contra a mulher, previsto
no art. 147-B do Código Penal(CP).

1.2. Comentário

Em 28.07.2021, foi editada a Lei nº 14.188 como mais uma medida de enfrentamento da
violência doméstica e familiar contra a mulher, prevista na Lei nº 11.340/2006. Destacam-se as
diversas alterações legislativas que a Lei nº 11.340/2006 (“Lei Maria da Penha”) sofreu no período da

156 Caderno de novidades legislativas


LEGISLAÇÃO PENAL E PROCESSUAL PENAL
EXTRAVAGANTE

pandemia e que podem ser cobradas nos concursos públicos de diversas carreiras jurídicas, dada a
transversalidade do assunto.

A inovação legislativa reforça a necessidade de cooperação entre o Poder Executivo, Poder


Judiciário, Defensoria Pública, Ministério Público, órgãos de segurança pública e entidades privadas
na assistência e defesa da mulher vítima da violência doméstica e familiar, prevista nos arts. 3º, § 1º, 8º,
I, e 9º da Lei nº 11.340/2006.

Nesse sentido, conclama tais instituições para cooperarem entre si e efetivarem o programa
Sinal Vermelho por meio de canais de comunicação em todo o país para viabilizar assistência à
vítima. Para tanto, é definido um código “sinal em formato X”, feito preferencialmente na mão e na
cor vermelha. Veja as disposições legais relacionadas:

Art. 2º Fica autorizada a integração entre o Poder Executivo, o Poder


Judiciário, o Ministério Público, a Defensoria Pública, os órgãos de
segurança pública e as entidades privadas, para a promoção e a realização
do programa Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica como medida de
ajuda à mulher vítima de violência doméstica e familiar, conforme os incisos
I, V e VII do caput do art. 8º da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006.

Parágrafo único. Os órgãos mencionados no  caput  deste artigo deverão


estabelecer um canal de comunicação imediata com as entidades privadas
de todo o País participantes do programa, a fim de viabilizar assistência e
segurança à vítima, a partir do momento em que houver sido efetuada a
denúncia por meio do código “sinal em formato de X”, preferencialmente
feito na mão e na cor vermelha.

Noutro giro, a lei em comento também promoveu alterações no Código Penal relacionadas ao
tema da violência doméstica e familiar contra a mulher.

Inicialmente, recrudesceu a pena do tipo penal da lesão corporal se praticada em detrimento


da mulher por razões do sexo feminino, in verbis:

Art. 4º O Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal),


passa a vigorar com as seguintes alterações:

Art. 129. (...)

§ 13 Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da condição do


sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código:

Pena — reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos).

157 Caderno de novidades legislativas


LEGISLAÇÃO PENAL E PROCESSUAL PENAL
EXTRAVAGANTE

E, finalmente, o legislador estabeleceu o novo tipo penal denominado “violência psicológica


contra a mulher”, incluído no CP, art. 147-B, a seguir transcrito:

Art. 4º O Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal),


passa a vigorar com as seguintes alterações:

“Violência psicológica contra a mulher

Art. 147-B. Causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe


seu pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar
suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça,
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, chantagem,
ridicularização, limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que
cause prejuízo à sua saúde psicológica e autodeterminação:

Pena — reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não


constitui crime mais grave.”

Por fim, a lei alterou a redação do art. 12-C da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria
da Penha), para incluir o risco à integridade psicológica como um ato que permite o imediato
afastamento do agressor do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida:

Redação antes da Lei nº 14.188 Redação após a Lei nº 14.188


Verificada a existência de risco atual ou iminente Verificada a existência de risco atual ou iminente
à vida ou à integridade física da mulher em à vida ou à integridade física ou psicológica da
situação de violência doméstica e familiar, mulher em situação de violência doméstica e
ou de seus dependentes, o agressor será familiar, ou de seus dependentes, o agressor
imediatamente afastado do lar, domicílio ou será imediatamente afastado do lar, domicílio
local de convivência com a ofendida. ou local de convivência com a ofendida. (Grifos
nossos.)

Verifica-se, pois, importantes alterações legislativas que podem ser alvo de provas de concursos
públicos, nas mais diversas carreiras jurídicas, que abordem o tema da violência doméstica e familiar
contra a mulher.

1.3. Questão inédita comentada

A pandemia do novo Coronavírus estabeleceu profundas alterações legislativas nos mais


diversos setores da economia e da saúde para o seu enfrentamento, entre elas, a Lei nº 11.340/2006.

158 Caderno de novidades legislativas


LEGISLAÇÃO PENAL E PROCESSUAL PENAL
EXTRAVAGANTE

Dessa forma, julgue os itens que se seguem e assinale a alternativa correta:

I – Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física ou psicológica


da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, deve a autoridade
policial representar à autoridade judicial para que haja o afastamento do lar.

II – Não há previsão penal acerca da violência psicológica à mulher vítima de violência


doméstica e familiar, estando sua proteção apenas prevista nas medidas protetivas previstas na Lei
nº 11.340/2006 ou nos crimes contra a honra ou a integridade física da legislação penal.

III – O Programa de Cooperação Sinal Vermelho é exclusivo das instituições públicas, a fim
de estabelecer um melhor intercâmbio de informações relacionadas às medidas protetivas e
assistenciais da mulher vítima de violência doméstica e familiar.

IV – O Programa de Cooperação Sinal Vermelho constitui um código em sinal no formato “X”,


preferencialmente feito na mão e na cor preta.

A) I, II e III

B) I e II

C) Todas as alternativas estão incorretas.

D) II e III

E) I, II e IV

Alternativa correta: letra C (responde as demais alternativas).

I – Incorreto. A Lei nº 14.188/2021 determinou que nos casos de risco atual ou iminente no contexto
da violência doméstica e familiar contra a mulher, o agressor será imediatamente afastado do lar, não
dependendo de prévia representação. Tal afastamento prioritariamente deverá se dar pela autoridade
judicial, e, não sendo possível, poderá se dar pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de
comarca ou pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado disponível
no momento da denúncia, sendo que estas duas últimas hipóteses deverão ser comunicadas ao juiz em
até 24 horas, que decidirá sobre a manutenção ou a revogação da medida aplicada pelo delegado ou pelo
policial. Redação do art. 12-C da Lei nº 11.340/2006, alterado seu caput pela Lei nº 14.188/2021, in verbis:

159 Caderno de novidades legislativas


LEGISLAÇÃO PENAL E PROCESSUAL PENAL
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Art. 12-C.   Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou


à integridade física ou psicológica da mulher em situação de violência
doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será imediatamente
afastado do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida.

II – Incorreto. A Lei nº 14.188/2021 expressamente alterou o Código Penal para prever o tipo da
violência psicológica contra a mulher como mais uma medida de proteção, nos termos do art. 147-B do CP:

Violência psicológica contra a mulher

Art. 147-B.  Causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe


seu pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações,
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento,
humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, limitação
do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde
psicológica e autodeterminação:

Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não


constitui crime mais grave.

III – Incorreto. O Programa Sinal Vermelho, trazido pela Lei nº 14.188/2021, abrange não
somente instituições públicas como também privadas, nos termos do art. 2º do referido ato normativo:

Art. 2º   Fica autorizada a integração entre o Poder Executivo, o Poder


Judiciário, o Ministério Público, a Defensoria Pública, os órgãos de
segurança pública e as entidades privadas, para a promoção e a realização
do programa Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica como medida de
ajuda à mulher vítima de violência doméstica e familiar, conforme os incisos
I, V e VII do caput do art. 8º da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006.

IV – Incorreto. Nos termos do art. 2º, parágrafo único, da Lei nº 14.188/2021, o Programa Sinal
Vermelho é um código em formato de X, na cor vermelha e não na cor preta. Quanto à sua localização,
sim, preferencialmente na mão. Nesse sentido, o referido dispositivo legal:

Art. 2º (...)

Parágrafo único. Os órgãos mencionados no  caput  deste artigo deverão


estabelecer um canal de comunicação imediata com as entidades privadas
de todo o País participantes do programa, a fim de viabilizar assistência e
segurança à vítima, a partir do momento em que houver sido efetuada a
denúncia por meio do código “sinal em formato de X”, preferencialmente
feito na mão e na cor vermelha.

160 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

1. Lei nº 14.190/2021 – Inclui no Plano Nacional de Operacionalização


da Vacinação contra a Covid-19 outros grupos como prioritários
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.190/2021
Ementa: Altera a Lei nº 14.124, de 10 de março de 2021, para determinar a inclusão como
grupo prioritário no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a
Covid-19 de gestantes, puérperas e lactantes, bem como de crianças e adolescentes
com deficiência permanente, com comorbidade ou privados de liberdade.

Data de publicação: 30.07.2021


Início de vigência: 30.07.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/
L14190.htm>
Destaques:
• A lei estabelece grupos prioritários para vacinação contra a pandemia da Covid-19 com
reflexos indiretos e secundários na legislação de proteção à criança e ao adolescente e no
Estatuto da Pessoa com Deficiência.

• Referido ato normativo coloca as gestantes, puérperas e lactentes, com ou sem


comorbidades, no Plano Nacional de Vacinação contra a Covid-19, tendo reflexos
indiretos no Estatuto da Criança e do Adolescente no que estabelece a defesa do direito
à vida da mãe e do nascituro, constituindo mais uma lei dentro do arcabouço legislativo
que foi construído para o enfrentamento da pandemia do novo Coronavírus e que pode
ter incidência em provas de concursos públicos em caráter transversal e multidisciplinar.

• A lei estabelece ainda como grupo prioritário na imunização contra o novo Coronavírus
as crianças e adolescentes com deficiência permanente, comorbidades ou privados de
liberdade.

1.2. Comentário

Em 30.07.2021, como mais um ato normativo integrante do arcabouço legislativo para o


enfrentamento da pandemia do novo Coronavírus, foi publicada a Lei nº 14.190, com vigência na
data de sua publicação.

161 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo altera a Lei nº 14.124, de 10.03.2021, sobre
a aquisição de vacinas e insumos destinados à vacinação contra a Covid-19 e seu respectivo Plano
Nacional de Vacinação, para incluir gestantes, puérperas e lactantes com ou sem comorbidades,
bem como crianças, adolescentes com deficiência permanente, comorbidades ou privados de
liberdade como grupos prioritários para fins de imunização.

Trata-se de mais uma inovação legal destinada ao enfrentamento da pandemia da Covid-19,


cuja abordagem em provas pode ser cobrada em temas transversais relacionados aos direitos
humanos, criança e adolescente, pessoas com deficiência.

Lei curta e objetiva apenas para estabelecer tais pessoas como grupos prioritários, não havendo
temas a serem aprofundados, bastando mera ciência da referida lei.

1.3. Questão inédita comentada

Em 11.03.2020, a Organização Mundial de Saúde caracterizou a infecção provocada pelo novo


Coronavírus, SARS-CoV2, como pandemia (Covid-19).

Nesse sentido, vários atos normativos foram editados no Brasil com o intuito de enfrentar os
reflexos da pandemia nos mais diversos setores da economia e da saúde. A partir do ano de 2021, o
Brasil iniciou o Plano Nacional de Imunização, estabelecendo diversos grupos prioritários para que a
vacinação pudesse controlar a disseminação do vírus.

Dessa forma, sobre o Plano de Imunização é correto afirmar que as gestantes, lactantes,
independentemente da existência de comorbidades, bem como crianças e adolescentes privados
de liberdade, foram incluídos como pessoas de interesse prioritário na imunização da pandemia
da Covid-19.

CERTO ( ) ERRADO ( )

O item está certo.

A Lei nº 14.190/2021 expressamente estabeleceu tais pessoas como grupos prioritários para a
imunização contra a pandemia da Covid-19 em seu art. 1º, o qual acrescenta os §§ 4º e 5º do art. 13 da
Lei nº 14.124/2021.

162 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Art. 1º O art. 13 da Lei nº 14.124, de 10 de março de 2021, passa a vigorar


acrescido dos seguintes §§ 4º e 5º:

“Art. 13. (...)

§ 4º As gestantes, as puérperas e as lactantes, com ou sem comorbidade,


independentemente da idade dos lactentes, serão incluídas como grupo
prioritário no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a
Covid-19, nos termos do regulamento.

§ 5º As crianças e os adolescentes com deficiência permanente, com


comorbidade ou privados de liberdade serão incluídos como grupo
prioritário no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra
a Covid-19, nos termos do regulamento, conforme se obtenha registro ou
autorização de uso emergencial de vacinas no Brasil para pessoas com
menos de 18 (dezoito) anos de idade.” (NR)

163 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
1. Lei nº 14.181/2021 – Lei do Superendividamento
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.181/2021
Ementa: Altera a Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor),
e a Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003 (Estatuto do Idoso), para aperfeiçoar a
disciplina do crédito ao consumidor e dispor sobre a prevenção e o tratamento do
superendividamento.
Data de publicação: 02.07.2021
Início de vigência: 02.07.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/
lei/L14181.htm>
Destaques:
• Insere na Política Nacional das Relações de Consumo princípios para educação e prevenção
ao superendividamento do consumidor, bem como institui mecanismos extrajudiciais e
judiciais para buscar uma solução para essas situações.

• Institui novos direitos básicos para proteger o consumidor do superendividamento,


modificando o art. 6º da Lei Federal nº 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor -
CDC).

• Obriga os fornecedores a prestar informações adicionais prévias, de forma clara e resumida,


quando da contratação de operação de crédito ou de venda a prazo.

• Estabelece que a desobediência às exigências dos arts. 52 a 54-C do CDC poderá ensejar
a redução dos juros, dos encargos ou de qualquer acréscimo ao principal e a dilação do
prazo de pagamento previsto no contrato para que o consumidor pague a dívida, conforme
a gravidade da conduta do fornecedor e as possibilidades financeiras do consumidor.

• Determina que são conexos, coligados ou interdependentes o contrato de fornecimento


de produtos ou serviços e o contrato acessório de crédito para a aquisição daqueles,
determinando que o exercício do direito de arrependimento ou a inexecução do fornecedor
de qualquer dos contratos implica a resolução do outro.

• Estabelece a possibilidade de o consumidor contestar compra realizada pelo cartão de


crédito, à qual, durante o período da resolução da contestação, fica vedado ao fornecedor
cobrar o valor contestado, podendo, inclusive, ser realizado crédito de confiança na fatura,
em favor do consumidor.

164 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
• Institui o procedimento de conciliação no superendividamento pelo qual o consumidor
poderá requerer ao juiz o início do processo de repactuação de dívidas, apresentando
proposta de pagamento com prazo máximo de cinco anos. No processo, a ausência
injustificada do fornecedor na audiência de conciliação acarreta a suspensão da
exigibilidade do débito, a interrupção dos encargos da mora e a sujeição compulsória ao
plano de pagamento apresentado pelo consumidor.

• Institui o processo por superendividamento para revisão e integração dos contratos e


repactuação de dívidas, espécie de “recuperação judicial” do consumidor, no qual o juiz
fixa plano judicial compulsório para pagamento das dívidas do consumidor, sendo os
credores chamados para participar do processo.

1.2. Comentário

Em função de relevantes discussões sobre o problema do superendividamento no Brasil


e fundando-se na necessidade de se garantir o mínimo existencial e a dignidade humana, foi
promulgada a Lei nº 14.181/2021, que “altera a Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código
de Defesa do Consumidor), e a Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003 (Estatuto do Idoso), para
aperfeiçoar a disciplina do crédito ao consumidor e dispor sobre a prevenção e o tratamento do
superendividamento”.

A denominada “Lei do Superendividamento” modifica substancialmente o Código de Defesa


do Consumidor (CDC) ao adicionar novos princípios à Política Nacional das Relações de Consumo,
ao impor novos direitos básicos do consumidor e ao estabelecer diversos critérios específicos a
serem seguidos pelos fornecedores, no que tange às operações de crédito, bem como ao criar um
novo tratamento processual compulsório para a repactuação de dívidas do consumidor.

Nesse sentido, a lei adiciona os incisos IX e X ao art. 4º do CDC, colocando como princípios
da Política Nacional das Relações de Consumo o “fomento de ações direcionadas à educação
financeira e ambiental dos consumidores” e a “prevenção e tratamento do superendividamento
como forma de evitar a exclusão social do consumidor”. Por sua vez, adiciona ao art. 5º do
Código dois novos instrumentos para efetivação da Política Nacional das Relações de Consumo,
quais sejam: a “instituição de mecanismos de prevenção e tratamento extrajudicial e judicial do
superendividamento e de proteção do consumidor pessoa natural” e a “instituição de núcleos de
conciliação e mediação de conflitos oriundos de superendividamento”.

No que se relaciona aos conhecidos direitos básicos do consumidor, há, agora, especificamente
os seguintes direitos adicionados ao art. 6º do CDC:

165 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
Art. 6º (...)

XI — a garantia de práticas de crédito responsável, de educação financeira


e de prevenção e tratamento de situações de superendividamento,
preservado o mínimo existencial, nos termos da regulamentação, por meio
da revisão e da repactuação da dívida, entre outras medidas;

XII — a preservação do mínimo existencial, nos termos da regulamentação,


na repactuação de dívidas e na concessão de crédito;

XIII — a informação acerca dos preços dos produtos por unidade de medida,
tal como por quilo, por litro, por metro ou por outra unidade, conforme o
caso.

Como se verifica, os incisos adicionados são direitos básicos eminentemente protetivos que
visam à educação financeira do consumidor com vista a evitar as situações de superendividamento
e a garantir o mínimo existencial para que o consumidor não tenha seu orçamento mensal
inteiramente comprometido por dívidas contratadas, ficando impossibilitado de adquirir o básico
para sua subsistência.

Outrossim, cabe destacar o conceito de superendividamento positivado pela lei, por meio do
novo art. 54-A, § 1º, do CDC: “entende-se por superendividamento a impossibilidade manifesta de
o consumidor pessoa natural, de boa-fé, pagar a totalidade de suas dívidas de consumo, exigíveis
e vincendas, sem comprometer seu mínimo existencial, nos termos da regulamentação”. Nessa
esteira, é possível identificar alguns requisitos para o enquadramento do consumidor na condição
de “superendividado” para que possa ter acesso aos benefícios trazidos pela legislação.

Portanto, apenas se enquadram no tratamento específico da lei o consumidor pessoa natural


e que agiu com boa-fé na realização dos negócios jurídicos que, por infortúnio, o fizeram ficar em
situação de impossibilidade de pagar as suas dívidas de consumo. O § 3º do referido art. 54-A exclui
expressamente do tratamento especial conferido pela lei os consumidores cujas dívidas tenham
sido contratadas mediante fraude, má-fé ou oriundas de contratos celebrados, desde o início,
sem a verdadeira intenção de adimplemento ou que decorram da aquisição ou contratação de
produtos e serviços de luxo de alto valor.

Visando à educação do consumidor e trazendo uma responsabilidade específica aos


fornecedores para que colaborem com os novos princípios da Política Nacional das Relações de

166 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
Consumo, a lei estabeleceu, no art. 54-B do CDC, obrigações específicas, as quais os fornecedores
devem seguir quando fornecerem crédito ou realizarem venda a prazo aos consumidores. Dentre
essas obrigações, destaca-se o dever de informar o consumidor, prévia e adequadamente, no
momento da oferta, sobre:

I — o custo efetivo total e a descrição dos elementos que compõem a


operação de crédito;

II — a taxa efetiva mensal de juros, bem como a taxa dos juros de mora e o total
de encargos, de qualquer natureza, previstos para o atraso no pagamento;

III — o montante das prestações e o prazo de validade da oferta, que deve


ser, no mínimo, de 2 (dois) dias;

IV — o nome e o endereço, inclusive o eletrônico, do fornecedor;

V — o direito do consumidor à liquidação antecipada e não onerosa do


débito, nos termos do § 2º do art. 52 do CDC e da regulamentação em vigor.

Essas disposições visam a dar ao consumidor clareza da operação de crédito que está sendo
realizada para que tenha ciência do custo total que envolve a contratação com a concessão do
crédito e sem a concessão do crédito, possibilitando um melhor cálculo do consumidor e, em
especial, daqueles mais vulneráveis, acerca do que está sendo contratado.

Ressalta-se que o art. 54-C da lei estabelece a vedação de algumas práticas comuns
que têm o potencial de prejudicar o consumidor, como: a realização de oferta de crédito e
financiamento indicando que ela pode ser realizada sem consulta aos cadastros de proteção
ao crédito, o que facilita que um consumidor já endividado contrate nova dívida, dando ases
ao superendividamento; o assédio ou pressão a consumidores idosos, analfabetos, doentes
ou em estado de vulnerabilidade agravada para que contratem produto, serviço ou crédito;
e o condicionamento de atender demandas do consumidor, como a própria renegociação de
dívidas, por exemplo, à desistência de demandas judiciais e/ou ao pagamento de honorários
advocatícios e a realização de depósito judicial.

167 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
Caso os fornecedores não cumpram as obrigações estabelecidas entre os arts. 52 e 54-C
do CDC, ficarão sujeitos a uma decisão judicial que poderá determinar a redução compulsória
de juros, dos encargos e de eventuais outros acréscimos ao valor principal, bem como a dilação
do prazo o qual o consumidor teria para pagar o débito. Esses ônus estão positivados pelo art.
54-D do CDC, o qual também estabelece, em seu inciso I, a obrigação de o fornecedor informar
detalhadamente o consumidor sobre a modalidade de crédito que foi oferecida, bem como sobre
todos os custos e as consequências em caso de inadimplemento.

Interessante disposição da lei que já é bastante tratada na doutrina diz respeito aos contratos
coligados. Desse modo, a lei considerou que são conexos, coligados ou interdependentes o contrato
principal de fornecimento de produtos ou serviços e o contrato de concessão de crédito para a
aquisição dos respectivos produtos ou serviços. Nesse contexto, o novo art. 54-F do CDC determina
que serão considerados conexos/coligados/interdependentes o contrato principal e o de crédito
quando o fornecedor de crédito:

Art. 54-F. São conexos, coligados ou interdependentes, entre outros, o


contrato principal de fornecimento de produto ou serviço e os contratos
acessórios de crédito que lhe garantam o financiamento quando o
fornecedor de crédito:

I — recorrer aos serviços do fornecedor de produto ou serviço para a


preparação ou a conclusão do contrato de crédito;

II — oferecer o crédito no local da atividade empresarial do fornecedor de


produto ou serviço financiado ou onde o contrato principal for celebrado.

Dessa forma, por exemplo, quando uma instituição financeira atua em parceria com o
fornecedor de produtos ou serviços, dentro de uma loja online ou física, para possibilitar a aquisição
dos produtos ou serviços vendidos na loja, por meio de financiamento dirigido ao consumidor,
o contrato de crédito será considerado coligado ao contrato principal.

Isso implica que, por exemplo, caso o consumidor deseje exercer o direito de arrependimento
sobre qualquer um dos dois contratos, o outro será diretamente afetado por essa decisão, sendo
ambos os contratos resolvidos de pleno direito. Ademais, na hipótese de inexecução das obrigações
do fornecedor de produto ou serviço, o consumidor poderá requerer a rescisão do contrato também
contra o fornecedor de crédito. Assim, o inadimplemento da obrigação de entregar um bem, por
exemplo, confere o direito de o consumidor rescindir tanto o contrato principal, da compra do bem,
quanto o contrato de crédito, do financiamento concedido para a aquisição do bem (art. 54-F e seus
§§ 1º e 2º, do CDC).

168 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
Destaca-se, ainda, uma conduta que já era administrativamente realizada por várias operadoras
de cartão de crédito, mas que, agora, está positivada no CDC em benefício do consumidor. O novo
art. 54-G, I, do CDC, determina que quando o consumidor contestar uma compra realizada por
meio do cartão de crédito, o fornecedor do produto ou serviço fica proibido de realizar ou proceder
à cobrança do valor em sua fatura enquanto não for solucionada a controvérsia.

Para isso, o consumidor deve notificar a administradora do cartão de crédito com, ao menos,
10 dias de antecedência da data do vencimento da fatura. Ainda, caso o consumidor só reconheça
parcialmente o valor cobrado, deverá ser permitido que ele realize o pagamento parcial do valor
indicado na fatura. Ademais, é facultado ao emissor do cartão lançar um “crédito de confiança” na
fatura do consumidor de valor idêntico ao da transação contestada enquanto não for encerrada a
apuração administrativa da contestação realizada.

Por fim, destaca-se o estabelecimento de um procedimento judicial específico para tratar dos
litígios que envolvam o superendividamento.

Nesse contexto, o art. 104-A do CDC traz o direito de o consumidor requerer ao juízo a
instauração de um processo de repactuação de dívidas. Em uma primeira abordagem, esse
processo pode estabelecer a realização de uma audiência de conciliação inicial com a presença de
todos os credores de dívidas do consumidor. Para essa conciliação, o consumidor deve apresentar
um plano inicial para pagamento de suas dívidas com prazo máximo de cinco anos, preservando
um valor mínimo para sua subsistência, considerando seus rendimentos. Importante notar que o
pedido realizado pelo consumidor não importa na declaração de insolvência civil e somente pode
ser realizado novamente após o prazo de dois anos contados da liquidação das obrigações previstas
no plano de pagamento homologado.

Além disso, nos termos do art. 104-C do CDC, não só o juízo, mas também todos os órgãos
públicos integrantes do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor poderão realizar a fase
conciliatória e preventiva do processo de repactuação de dívidas. Poderá ocorrer dentro desses
órgãos, como, por exemplo, nos PROCONs, audiência global de conciliação com todos os
credores. Ressalta-se que quando for firmado o acordo perante esses órgãos deverá ser indicada
a data na qual o consumidor terá seu nome excluído dos órgãos de proteção ao crédito e que isso
estará condicionado ao consumidor se abster de praticar condutas que agravem a sua situação de
superendividamento, em especial, a de contrair novas dívidas.

169 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
Nesse processo de repactuação de dívidas, cabe destacar que não podem ser inclusas dívidas
oriundas de contratos de crédito com garantia real, de financiamento de imóveis e de crédito
rural. Também ficam excluídos do processo contratos nos quais se demonstre que o consumidor os
pactuou, desde o início, sem o objetivo de adimpli-los.

Na impossibilidade de conciliação, o art. 104-B do CDC cria o “processo por superendividamento


para revisão e integração dos contratos e repactuação de dívidas”. Trata-se quase de uma
“recuperação judicial” do consumidor. Por meio desse processo, o juízo estabelece um plano judicial
compulsório para o pagamento das dívidas do consumidor. Os credores do consumidor ficam
obrigados a aceitar o plano, mas lhes é garantido o recebimento de, ao menos, o valor principal
devido, atualizado monetariamente por índices oficiais. O plano judicial compulsório não pode
estabelecer prazo maior que cinco anos para o pagamento das dívidas e a primeira parcela deve ser
paga no prazo máximo de 180 dias, contado da data da homologação do plano.

1.3. Questão inédita comentada

Durante vários anos, Geraldo trabalhava em uma boa empresa, que lhe pagava um salário
razoável. Nesse contexto, durante a sua vida, contraiu alguns financiamentos e obteve empréstimos
junto a cinco diferentes instituições financeiras. O primeiro financiamento é o de sua casa, o segundo,
de seu carro, ambos em alienação fiduciária em garantia. Os outros três empréstimos foram obtidos
na modalidade CDC (Crédito Direto ao Consumidor) para pagar diversas despesas do cotidiano,
como a escola de seus filhos, despesas de saúde, entre outras. Ao longo de vários anos, Geraldo
pagou adequadamente as prestações de seus financiamentos e empréstimos. Contudo, devido a
uma forte crise ocorrida, que afetou as atividades da empresa em que trabalhava, Geraldo foi demitido
e apenas conseguiu um outro emprego que lhe pagava um salário muito inferior ao anterior. Diante
dessa situação, Geraldo ficou sem poder arcar regularmente com os financiamentos e empréstimos
obtidos sem que isso prejudicasse suas despesas domésticas básicas.

Considerando a situação de Geraldo, assinale a alternativa INCORRETA:

A) Geraldo pode ser considerado superendividado nos termos da lei, por ser consumidor, pessoa
natural, de boa-fé, que está com impossibilidade manifesta de pagar as suas dívidas de consumo.

B) Caso na contratação de quaisquer dos empréstimos e financiamentos obtidos por Geraldo o


fornecedor do crédito não o tiver informado e esclarecido adequadamente sobre a natureza e a
modalidade do crédito oferecido e os custos incidentes, ele poderá obter a redução judicial dos
juros, encargos e de outros acréscimos, bem como dilação do prazo para pagar a dívida.

170 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
C) Por meio do processo por superendividamento para revisão e integração dos contratos e
repactuação de dívidas, Geraldo poderá obter Plano Judicial para o pagamento de todos os seus
financiamentos, cuja aceitação é compulsória para os credores.

D) O Plano Judicial instituído pelo processo por superendividamento para revisão e integração
dos contratos e repactuação de dívidas é compulsório para os credores e poderá prever medidas
de dilação de prazo para pagamento e de redução dos encargos da dívida ou da remuneração do
fornecedor.

E) Caso Geraldo realize o pedido de instauração de processo de repactuação de dívidas e seja


homologado o plano de pagamento, apenas poderá realizar novo pedido após decorridos dois anos,
contados da data da liquidação das obrigações previstas no plano.

Alternativa incorreta: letra C. Em que pese as dívidas dos empréstimos na modalidade


“Crédito Direto ao Consumidor” de Geraldo poderem fazer parte do plano para repactuação de
dívidas, o art. 104-A, § 1º, do CDC, exclui expressamente do processo as dívidas com garantia real
e de financiamentos imobiliários, as quais Geraldo possui relativas ao seu carro (garantia real) e à sua
casa (financiamento imobiliário).

Art. 104-A. (...)

§ 1º Excluem-se do processo de repactuação as dívidas, ainda que


decorrentes de relações de consumo, oriundas de contratos celebrados
dolosamente sem o propósito de realizar pagamento, bem como as dívidas
provenientes de contratos de crédito com garantia real, de financiamentos
imobiliários e de crédito rural.

Demais alternativas:

Alternativa A. Correta. Nos termos do art. 54-A do CDC: “entende-se por superendividamento
a impossibilidade manifesta de o consumidor pessoa natural, de boa-fé, pagar a totalidade de suas
dívidas de consumo, exigíveis e vincendas, sem comprometer seu mínimo existencial, nos termos da
regulamentação.”

171 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
Alternativa B. Correta. O parágrafo único do art. 54-D do CDC determina que o
descumprimento de qualquer dos deveres impostos nos arts. 52 e 54-C do CDC poderá acarretar
judicialmente a redução dos juros, dos encargos ou de qualquer acréscimo ao principal e a dilação
do prazo de pagamento previsto no contrato original. Dentre os deveres a serem cumpridos pelo
fornecedor, destaca-se o previsto no art. 54-D, I, de “informar e esclarecer adequadamente o
consumidor, considerada sua idade, sobre a natureza e a modalidade do crédito oferecido, sobre
todos os custos incidentes, observado o disposto nos arts. 52 e 54-B deste Código, e sobre as
consequências genéricas e específicas do inadimplemento”.

Art. 54-D. Na oferta de crédito, previamente à contratação, o fornecedor ou


o intermediário deverá, entre outras condutas:

I - informar e esclarecer adequadamente o consumidor, considerada sua


idade, sobre a natureza e a modalidade do crédito oferecido, sobre todos os
custos incidentes, observado o disposto nos arts. 52 e 54-B deste Código, e
sobre as consequências genéricas e específicas do inadimplemento;

(...)

Parágrafo único. O descumprimento de qualquer dos deveres previstos


no caput deste artigo e nos arts. 52 e 54-C deste Código poderá acarretar
judicialmente a redução dos juros, dos encargos ou de qualquer acréscimo
ao principal e a dilação do prazo de pagamento previsto no contrato original,
conforme a gravidade da conduta do fornecedor e as possibilidades
financeiras do consumidor, sem prejuízo de outras sanções e de indenização
por perdas e danos, patrimoniais e morais, ao consumidor.

Alternativa D. Correta. Da leitura conjunta dos arts. 104-A e 104-B do CDC, verifica-se que
o plano judicial para pagamento dos débitos é compulsório para o credor e pode prever “medidas
de dilação dos prazos de pagamento e de redução dos encargos da dívida ou da remuneração do
fornecedor, entre outras destinadas a facilitar o pagamento da dívida” (art. 104-A, § 4º, I). Ademais,
destaca-se que no plano judicial compulsório deve ser assegurado aos credores, no mínimo,
o valor do principal devido corrigido monetariamente por índices oficiais e o prazo máximo para
liquidação do débito em até cinco anos, contados da data da homologação (art. 104-B, § 4º).

Alternativa E. Correta. O § 5º do art. 104-A, do CDC, estabelece que “o pedido do consumidor


a que se refere o caput deste artigo não importará em declaração de insolvência civil e poderá ser
repetido somente após decorrido o prazo de 2 (dois) anos, contado da liquidação das obrigações
previstas no plano de pagamento homologado, sem prejuízo de eventual repactuação”.

172 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
2. Lei nº 14.186/2021 - Altera a Lei nº 14.046/2020, para dispor sobre
medidas emergenciais para atenuar os efeitos da crise decorrente da
pandemia da Covid-19 nos setores de turismo e de cultura

2.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.186/2021
Ementa: Altera a Lei nº 14.046, de 24 de agosto de 2020, para dispor sobre medidas
emergenciais para atenuar os efeitos da crise decorrente da pandemia da Covid-19
nos setores de turismo e de cultura.
Data de publicação: 16.07.2021
Início de vigência: 16.07.2021

Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/


Lei/L14186.htm>
Destaques:
• Fica prorrogado para o dia 31.12.2022 o prazo para que o consumidor utilize o crédito
disponibilizado pelo prestador de serviços em caso de adiamento ou cancelamento de
reservas e de eventos, incluídos shows e espetáculos, que estavam marcados para ocorrer
entre os dias 01.01.2020 e 31.12.2021.

• A restituição dos valores aos consumidores, por parte das sociedades empresárias ou
prestadores de serviço deverá ser efetuada até o dia 31 de dezembro de 2022 apenas na
hipótese em que não seja possível oferecer a remarcação dos serviços ou disponibilizado
crédito.

• Os artistas, palestrantes e outros profissionais, incluindo-se aqueles contratados para


shows, rodeios e espetáculos de música e arte e outros eventos que ocorreriam entre
01.01.2020 e 31.12.2021 não terão obrigação de reembolsar imediatamente os valores dos
serviços ou cachês, desde que o evento seja remarcado até o dia 31.12.2022.

• Ficam anuladas as multas impostas em decorrência de cancelamento dos contratos


de palestrantes, artistas e outros profissionais, que tratam o art. 4º da lei, desde que o
cancelamento tenha ocorrido em razão da pandemia de Covid-19.

173 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
2.2. Comentário

Em função de ter emergido a pandemia de Covid-19, que acometeu todo o mundo, com
relevante impacto nos setores de turismo e cultura, foi promulgada e publicada, no dia 26.03.2021,
a Lei nº 14.046/2020.

A referida lei dispõe sobre medidas afetas ao direito do consumidor e ao direito civil para atenuar
as repercussões econômicas da pandemia nos setores de turismo e cultura. Assim, em decorrência
do amplo cancelamento ou adiamento de viagens e eventos, os prestadores de serviços, como hotéis,
empresas aéreas, casas de shows e até mesmo alguns profissionais autônomos, como palestrantes,
cantores e artistas, se viram em uma situação de, eventualmente, ter de devolver imediatamente a
todos os consumidores e contratantes valores já recebidos, antecipadamente, pelos serviços que
seriam prestados. Caso isso fosse levado a cabo, provavelmente, haveria grande quebra generalizada
de muitos dos prestadores de serviços, uma vez que não havia qualquer previsibilidade para a
ocorrência de um fato tão peculiar no planeta como a Covid-19 e suas consequências.

Nesse contexto, o ponto principal da lei foi estabelecer que, quando cancelados os contratos,
não era obrigatória, por parte dos prestadores de serviços, a devolução em dinheiro aos consumidores
e outros contratantes dos valores eventualmente já recebidos. Para isso, os prestadores de serviço
deveriam disponibilizar aos consumidores um crédito a ser utilizado até as datas estabelecidas na lei
ou a remarcação para data posterior das reservas e dos eventos adiados.

A Lei Federal nº 14.046/2020 foi resultado da conversão da Medida Provisória nº 948/2020,


publicada no dia 08.04.2020. Com o passar do tempo e a manutenção da pandemia, foram
necessárias algumas atualizações na lei para que os prazos inicialmente estabelecidos pudessem
ser prorrogados e a lei mantivesse sua eficácia, de acordo com a verdadeira situação que permeia
a sociedade. Desse modo, foi publicada no dia 18.03.2021 a Medida Provisória nº 1.036/2021, que,
por conseguinte, foi convertida na Lei nº 14.186/2021, publicada no dia 16.07.2021. Conforme a
ementa desta lei, ela “altera a Lei nº 14.046, de 24 de agosto de 2020, para dispor sobre medidas
emergenciais para atenuar os efeitos da crise decorrente da pandemia da covid-19 nos setores de
turismo e de cultura.”

174 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
A primeira mudança que a Lei nº 14.186/2021 trouxe para a Lei nº 14.046/2021 foi prorrogar
para o dia 31.12.2022 o prazo para que o consumidor utilize o crédito disponibilizado pelo prestador
de serviços em caso de adiamento ou cancelamento de reservas e de eventos, incluídos shows e
espetáculos, que estavam marcados para ocorrer entre os dias 01.01.2020 e 31.12.2021. A redação
inicial da lei, ao fazer referência ao Decreto Legislativo nº 06/2020, estabelecia que o prazo era até
o dia 31.12.2020.

Agora, por exemplo, caso o consumidor tenha tido uma viagem ou evento cancelado ou adiado
em decorrência da pandemia, poderá utilizar o seu crédito para marcar uma nova viagem ou participar
de um evento até o dia 31.12.2022. A prorrogação da data aplica-se, inclusive, para casos em que
o evento ou viagem já havia sido remarcado em razão da pandemia, mas, pela sua manutenção no
tempo, teve de ser novamente adiado. Ademais, o referido prazo passa também a ser o limite para
que o prestador de serviço reembolse o consumidor em dinheiro quando o prestador não consiga
oferecer a remarcação ou o crédito para ser posteriormente utilizado.

Vejamos a nova redação dos parágrafos e incisos alterados pela lei, grifados:

Art. 2º Na hipótese de adiamento ou de cancelamento de serviços, de


reservas e de eventos, incluídos shows e espetáculos, de 1º de janeiro de
2020 a 31 de dezembro de 2021, em decorrência da pandemia da covid-19,
o prestador de serviços ou a sociedade empresária não serão obrigados a
reembolsar os valores pagos pelo consumidor, desde que assegurem:

I — a remarcação dos serviços, das reservas e dos eventos adiados; ou

II — a disponibilização de crédito para uso ou abatimento na compra de


outros serviços, reservas e eventos disponíveis nas respectivas empresas.

§ 1º  As operações de que trata o  caput  deste artigo ocorrerão sem custo
adicional, taxa ou multa ao consumidor, em qualquer data a partir de 1º de
janeiro de 2020, e estender-se-ão pelo prazo de 120 (cento e vinte) dias,
contado da comunicação do adiamento ou do cancelamento dos serviços,
ou 30 (trinta) dias antes da realização do evento, o que ocorrer antes.

§ 2º Se o consumidor não fizer a solicitação a que se refere o § 1º deste artigo


no prazo assinalado de 120 (cento e vinte) dias, por motivo de falecimento,
de internação ou de força maior, o prazo será restituído em proveito da
parte, do herdeiro ou do sucessor, a contar da data de ocorrência do fato
impeditivo da solicitação.

175 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
§ 3º O fornecedor fica desobrigado de qualquer forma de ressarcimento
se o consumidor não fizer a solicitação no prazo estipulado no § 1º ou não
estiver enquadrado em uma das hipóteses previstas no § 2º deste artigo.

§ 4º O crédito a que se refere o inciso II do caput deste artigo poderá ser


utilizado pelo consumidor até 31 de dezembro de 2022.

§ 5º Na hipótese prevista no inciso I do  caput  deste artigo, serão


respeitados:

I — os valores e as condições dos serviços originalmente contratados; e

II — a data-limite de 31 de dezembro de 2022 para ocorrer a remarcação


dos serviços, das reservas e dos eventos adiados.

§ 6º O prestador de serviço ou a sociedade empresária deverão restituir


o valor recebido ao consumidor até 31 de dezembro de 2022, somente
na hipótese de ficarem impossibilitados de oferecer a remarcação dos
serviços ou a disponibilização de crédito referidas nos incisos I e II
do caput deste artigo.

§ 7º Os valores referentes aos serviços de agenciamento e de intermediação


já prestados, tais como taxa de conveniência e/ou de entrega, serão
deduzidos do crédito a ser disponibilizado ao consumidor, nos termos do
inciso II do caput deste artigo, ou do valor a que se refere o § 6º deste artigo.

§ 8º As regras para adiamento da prestação do serviço, para disponibilização


de crédito ou, na impossibilidade de oferecimento da remarcação dos
serviços ou da disponibilização de crédito referidas nos incisos I e II
do  caput  deste artigo, para reembolso aos consumidores, aplicar-se-ão
ao prestador de serviço ou à sociedade empresária que tiverem recursos a
serem devolvidos por produtores culturais ou por artistas.

§ 9º O disposto neste artigo aplica-se aos casos em que o serviço, a reserva


ou o evento adiado tiver que ser novamente adiado, em razão de não terem
cessado os efeitos da pandemia da covid-19 referida no art. 1º desta Lei
na data da remarcação originária, e aplica-se aos novos eventos lançados
no decorrer do período sob os efeitos da pandemia da covid-19 que não
puderem ser realizados pelo mesmo motivo.

§ 10 Na hipótese de o consumidor ter adquirido o crédito de que trata


o inciso II do  caput  deste artigo até a data de publicação da  Medida
Provisória nº 1.036, de 17 de março de 2021, o referido crédito poderá ser
usufruído até 31 de dezembro de 2022. (Grifos nossos.)

176 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
Um ponto importante da lei diz respeito aos palestrantes, profissionais e artistas que já haviam
sido contratados e pagos para realização e apresentação em eventos cancelados ou adiados também
em razão da pandemia. Nesses casos, ficou prorrogado para o dia 31.12.2022 o prazo para que
os eventos sejam remarcados e realizados ou que esses profissionais reembolsem os contratantes se
o evento não for remarcado até a referida data.

Uma outra alteração relevante relaciona-se com o cancelamento das multas atinentes aos
contratos de prestação de serviços desses profissionais, palestrantes e artistas. O § 2º do art. 4º
da Lei nº 14.046/2020, também foi alterado para indicar que serão anuladas as multas impostas
pelo cancelamento desses contratos até o dia 31.12.2021. Desse modo, mesmo que prevista multa
contratual para o cancelamento do contrato de prestação de serviços, essa multa não poderá ser
aplicada caso o contrato tenha sido cancelado em razão dos efeitos da Covid-19.

Vejamos, portanto, em negrito, as novas alterações realizadas no art. 4º da lei:

Art. 4º Os artistas, os palestrantes ou outros profissionais detentores do


conteúdo contratados de 1º de janeiro de 2020 a 31 de dezembro de 2021
que forem impactados por adiamentos ou por cancelamentos de eventos em
decorrência da pandemia da covid-19, incluídos shows, rodeios, espetáculos
musicais e de artes cênicas, e os profissionais contratados para a realização
desses eventos não terão obrigação de reembolsar imediatamente os valores
dos serviços ou cachês, desde que o evento seja remarcado, respeitada a
data-limite de 31 de dezembro de 2022 para a sua realização.

§ 1º Na hipótese de os artistas, os palestrantes ou outros profissionais


detentores do conteúdo e os demais profissionais contratados para a
realização dos eventos de que trata o caput deste artigo não prestarem
os serviços contratados no prazo previsto, o valor recebido será
restituído, atualizado monetariamente pelo Índice Nacional de Preços
ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E), até 31 de dezembro de 2022,
observadas as seguintes disposições:     

I — o valor deve ser imediatamente restituído, na ausência de nova data


pactuada de comum acordo entre as partes; e

II — a correção monetária prevista neste parágrafo deve ser aplicada de


imediato nos casos delimitados no inciso I deste parágrafo em que não for
feita a restituição imediata.

§ 2º Serão anuladas as multas por cancelamentos dos contratos de que


trata este artigo, que tenham sido emitidas até 31 de dezembro de 2021,
na hipótese de os cancelamentos decorrerem das medidas de isolamento
social adotadas para o combate à pandemia da covid-19. (Grifos nossos.)

177 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
2.3. Questão inédita comentada

Helena e sua família possuíam uma viagem de férias para a Europa, marcada com bastante
antecedência, para o dia 30.08.2020. Todavia, no início do ano de 2020, a pandemia de Covid-19
acometeu diversos países, fazendo com que ficasse inviável a realização de passeios turísticos.
Assim, no dia 20.02.2020, Helena foi comunicada sobre o cancelamento de suas reservas. Diante da
situação, Helena entrou em contato e pediu para a Passeios Turísticos Ltda. o reembolso imediato do
valor de R$ 15.000,00 que havia desembolsado com a compra das passagens e hospedagem.

Considerando a situação, assinale a alternativa CORRETA.

A) Em razão da impossibilidade da prestação de serviços e das disposições do Código de Defesa


do Consumidor (CDC), a Passeios Turísticos Ltda. deverá reembolsar Helena integralmente e
imediatamente o valor total pago.

B) A Passeios Turísticos Ltda. poderá se recusar a realizar o reembolso imediato do valor pago por
Helena, desde que lhe ofereça um crédito no mesmo valor que poderá ser utilizado por ela até o dia
31.12.2022.

C) Helena poderá requerer que a Passeios Turísticos Ltda. lhe conceda um crédito a ser utilizado até
o dia 31.12.2022, desde que faça o pedido até o dia 20.07.2020.

D) Caso a Passeios Turísticos Ltda. não possa disponibilizar a Helena o crédito no mesmo valor pago
ou a possibilidade de remarcar a viagem, terá até o dia 31.12.2023 para realizar a restituição do valor
integral pago por Helena.

E) Se Helena tivesse optado por remarcar a viagem para o dia 30 de agosto de 2021 e a viagem tivesse
de ser novamente adiada, em razão da pandemia, a Passeios Turísticos Ltda. ficaria desobrigada de
realizar o reembolso ou disponibiliza crédito para Helena.

Alternativa correta: letra B. Nos termos do art. 2º da Lei nº 14.046/2020:

Na hipótese de adiamento ou de cancelamento de serviços, de reservas


e de eventos, incluídos shows e espetáculos, de 1º de janeiro de 2020
a 31 de dezembro de 2021, em decorrência da pandemia da covid-19, o
prestador de serviços ou a sociedade empresária não serão obrigados

178 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
a reembolsar os valores pagos pelo consumidor, desde que assegurem:
I - a remarcação dos serviços, das reservas e dos eventos adiados; ou II - a
disponibilização de crédito para uso ou abatimento na compra de outros
serviços, reservas e eventos disponíveis nas respectivas empresas.

Portanto, uma vez que a viagem de Helena ocorreria no dia 30.08.2020, a Passeios Turísticos
Ltda. não estava obrigada a reembolsar Helena em dinheiro e imediatamente, desde que lhe
concedesse o crédito, no mesmo valor pago, que poderia ser utilizado até o dia 31.12.2022, conforme
prevê o § 4º do mesmo dispositivo: “§ 4º O crédito a que se refere o inciso II do caput deste artigo
poderá ser utilizado pelo consumidor até 31.12.2022”.

Demais alternativas:

Alternativa A. Incorreta. Nos termos do art. 2º da Lei nº 14.046/2020:

Na hipótese de adiamento ou de cancelamento de serviços, de reservas


e de eventos, incluídos shows e espetáculos, de 1º de janeiro de 2020
a 31 de dezembro de 2021, em decorrência da pandemia da covid-19, o
prestador de serviços ou a sociedade empresária não serão obrigados
a reembolsar os valores pagos pelo consumidor, desde que assegurem:
I - a remarcação dos serviços, das reservas e dos eventos adiados; ou II - a
disponibilização de crédito para uso ou abatimento na compra de outros
serviços, reservas e eventos disponíveis nas respectivas empresas.

Portanto, desde que a Passeios Turísticos Ltda. disponibilizasse a Helena crédito a ser utilizado
ou a remarcação da viagem a ser efetuada até o dia 31.12.2022, não fica a fornecedora de serviços
obrigada a restituir a Helena o valor pago.

Alternativa C. Incorreta. Nos termos do art. 2º da Lei nº 14.046/2020, de fato, Helena poderia
requerer que a Passeios Turísticos Ltda. lhe concedesse um crédito a ser posteriormente utilizado, até o
dia 31 de dezembro de 2022. Todavia, os §§ 1º e 3º do art. 2º da lei assim dispõem, respectivamente, que:

As operações de que trata o  caput  deste artigo ocorrerão sem custo


adicional, taxa ou multa ao consumidor, em qualquer data a partir de 1º de
janeiro de 2020, e estender-se-ão pelo prazo de 120 (cento e vinte) dias,
contado da comunicação do adiamento ou do cancelamento dos serviços,
ou 30 (trinta) dias antes da realização do evento, o que ocorrer antes e o
fornecedor fica desobrigado de qualquer forma de ressarcimento se o
consumidor não fizer a solicitação no prazo estipulado no § 1º ou não estiver
enquadrado em uma das hipóteses previstas no § 2º deste artigo.

179 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO CONSUMIDOR
Dessa forma, tendo Helena sido comunicada do cancelamento de suas reservas no dia
20.02.2020, tinha até o dia 19.06.2020 para realizar o pedido do crédito ou da remarcação da viagem.
Tendo realizado o pedido somente do dia 20.07.2020, a Passeios Turísticos Ltda. fica desobrigada de
realizar qualquer ressarcimento, como a disponibilização do crédito, a Helena.

Alternativa D. Incorreta. O art. 2º, § 6º, da Lei nº 14.046/2020, assim dispõe: “o prestador
de serviço ou a sociedade empresária deverão restituir o valor recebido ao consumidor até 31 de
dezembro de 2022, somente na hipótese de ficarem impossibilitados de oferecer a remarcação dos
serviços ou a disponibilização de crédito referidas nos incisos I e II do caput deste artigo”. Nesses
termos, o prazo para restituir o valor recebido do consumidor na hipótese de impossibilidade de a
Passeios Turísticos Ltda. oferecer o crédito ou a remarcação do serviço é até o dia 31.12.2022 e não
31.12.2023.

Alternativa E. Incorreta. O art. 2º, § 9º, da Lei nº 14.046/2020, dispõe que:

O disposto neste artigo aplica-se aos casos em que o serviço, a reserva ou


o evento adiado tiver que ser novamente adiado, em razão de não terem
cessado os efeitos da pandemia da covid-19 referida no art. 1º desta Lei
na data da remarcação originária, e aplica-se aos novos eventos lançados
no decorrer do período sob os efeitos da pandemia da covid-19 que não
puderem ser realizados pelo mesmo motivo.

Portanto, caso Helena tivesse remarcado sua viagem para o dia 30.08.2021 e, novamente, em
razão da pandemia, a viagem tivesse de ser cancelada ou adiada, Helena teria novo direito ao crédito
ou à remarcação da viagem, nos termos da lei.

180 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PENAL
1. Lei nº 14.188/2021 – Estabelece medida protetiva de enfrentamento
da violência doméstica e familiar contra a mulher
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.188/2021
Ementa: Define o programa de cooperação Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica
como uma das medidas de enfrentamento da violência doméstica e familiar contra
a mulher previstas na Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha),
e no Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), em todo
o território nacional; e altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Código Penal), para modificar a modalidade da pena da lesão corporal simples
cometida contra a mulher por razões da condição do sexo feminino e para criar o
tipo penal de violência psicológica contra a mulher.

Data de publicação: 29.07.2021


Início de vigência: 29.07.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/
Lei/L14188.htm>
Destaques:
• A lei define o Programa de Cooperação Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica
como mais uma medida de enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a
mulher, acirrada nos tempos da pandemia da Covid-19, estabelecendo intercâmbio entre
as instituições públicas e privadas e órgãos de segurança pública integrantes do sistema
de assistência e segurança à vítima.

• Além do Programa Sinal Vermelho, a lei em comento alterou a Lei nº 11.340/2006 acerca
do afastamento do lar imediato do agressor em caso de risco atual ou iminente à vida ou à
integridade física ou psicológica da mulher em situação de violência doméstica e familiar.

• Referido ato normativo ainda recrudesce a pena do crime de lesão corporal, prevista no
art. 129 do Código Penal, quando praticado contra a mulher por razões do sexo feminino.

• A lei estabelece ainda novo tipo penal, o da violência psicológica contra a mulher, previsto
no art. 147-B do Código Penal.

181 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PENAL
1.2. Comentário

Em relação ao Direito Penal, a Lei nº 14.188 recrudesce a pena do crime de lesão corporal,
prevista no art. 129 do Código Penal, quando praticado contra a mulher por razões do sexo feminino,
e estabelece novo tipo penal previsto no art. 147-B do Código Penal.

Entretanto, para concentrar a abordagem das inovações veiculadas por esse novo ato
normativo, a sua análise encontra-se em Legislação Penal e Processual Penal Extravagante.

182 Caderno de novidades legislativas


Agosto
2021
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
1. Lei nº 14.195/2021 – Altera dispositivos do Código de Processo Civil

1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.195/2021
Ementa: Dispõe sobre a facilitação para abertura de empresas, sobre a proteção de acionistas
minoritários, sobre a facilitação do comércio exterior, sobre o Sistema Integrado
de Recuperação de Ativos (Sira), sobre as cobranças realizadas pelos conselhos
profissionais, sobre a profissão de tradutor e intérprete público, sobre a obtenção
de eletricidade, sobre a desburocratização societária e de atos processuais e a
prescrição intercorrente na Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil);
altera as Leis nºs 11.598, de 3 de dezembro de 2007, 8.934, de 18 de novembro de
1994, 6.404, de 15 de dezembro de 1976, 7.913, de 7 de dezembro de 1989, 12.546, de
14 de dezembro 2011, 9.430, de 27 de dezembro de 1996, 10.522, de 19 de julho de
2002, 12.514, de 28 de outubro de 2011, 6.015, de 31 de dezembro de 1973, 10.406,
de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), 13.105, de 16 de março de 2015 (Código
de Processo Civil), 4.886, de 9 de dezembro de 1965, 5.764, de 16 de dezembro
de 1971, 6.385, de 7 de dezembro de 1976, e 13.874, de 20 de setembro de 2019, e
o Decreto-Lei nº 341, de 17 de março de 1938; e revoga as Leis nºs 2.145, de 29 de
dezembro de 1953, 2.807, de 28 de junho de 1956, 2.815, de 6 de julho de 1956, 3.187,
de 28 de junho de 1957, 3.227, de 27 de julho de 1957, 4.557, de 10 de dezembro de
1964, 7.409, de 25 de novembro de 1985, e 7.690, de 15 de dezembro de 1988, os
Decretos nºs 13.609, de 21 de outubro de 1943, 20.256, de 20 de dezembro de 1945,
e 84.248, de 28 de novembro de 1979, e os Decretos-Lei nºs 1.416, de 25 de agosto
de 1975, e 1.427, de 2 de dezembro de 1975, e dispositivos das Leis nºs 2.410, de 29
de janeiro de 1955, 2.698, de 27 de dezembro de 1955, 3.053, de 22 de dezembro
de 1956, 5.025, de 10 de junho de 1966, 6.137, de 7 de novembro de 1974, 8.387, de
30 de dezembro de 1991, 9.279, de 14 de maio de 1996, e 9.472, de 16 de julho de
1997, e dos Decretos-Lei nºs 491, de 5 de março de 1969, 666, de 2 de julho de 1969,
e 687, de 18 de julho de 1969; e dá outras providências.

Data de publicação: 27.08.2021

Início de vigência:
Art. 58. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação e produzirá
efeitos:

I ‒ em 3 (três) anos, contados da data de sua publicação, quanto ao


inciso I do caput do art. 36, podendo a Aneel determinar a antecipação
da produção de efeitos em cada área de concessão ou permissão;

II ‒ em 360 (trezentos e sessenta) dias, contados da data de sua


publicação, quanto à parte do art. 5º que altera o § 3º do art. 138 da
Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976;

184 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PROCESSUAL CIVIL
III ‒ em 180 (cento e oitenta) dias, contados da data de sua publicação,
quanto ao § 3º do art. 8º;

IV ‒ no primeiro dia útil do primeiro mês subsequente ao da data de


sua publicação, quanto aos arts. 8º, 9º, 10, 11 e 12 e aos incisos III a XV,
XVIII, XXIII e XXXI do caput do art. 57; e

V ‒ na data de sua publicação, quanto aos demais dispositivos.

Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/


Lei/L14195.htm>
Destaques:
• Determina que é dever das partes informar e manter atualizados seus dados cadastrais
perante os órgãos do Poder Judiciário e da Administração tributária para citações e
intimações.

• Dispõe que é considerado dia do começo do prazo o quinto dia útil seguinte à confirmação,
na forma prevista na mensagem de citação, do recebimento da citação realizada por meio
eletrônico.

• Decreta que a citação será efetivada em até 45 (quarenta e cinco) dias a partir da propositura
da ação.

• Estipula que a citação será feita preferencialmente por meio eletrônico, no prazo de até
dois dias úteis, contados da decisão que a determinar, por meio dos endereços eletrônicos
indicados pelo citando no banco de dados do Poder Judiciário, conforme regulamento do
Conselho Nacional de Justiça (CNJ).  

• Dispõe que as empresas públicas e privadas são obrigadas a manter cadastro nos sistemas
de processo em autos eletrônicos, para efeito de recebimento de citações e intimações,
as quais serão efetuadas preferencialmente por esse meio.  Tratando-se de micro e
pequenas empresas, somente se sujeitam a esta obrigação quando não possuírem endereço
eletrônico cadastrado no sistema integrado da Rede Nacional para a Simplificação do
Registro e da Legalização de Empresas e Negócios (Redesim).

• Determina que a ausência de confirmação, em até três dias úteis, contados do recebimento
da citação eletrônica, implicará a realização da citação por outros meios.

• Estabelece que é considerado ato atentatório à dignidade da justiça, passível de multa de


até 5% (cinco por cento) do valor da causa, deixar de confirmar no prazo legal, sem justa
causa, o recebimento da citação feito por meio eletrônico.  

185 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PROCESSUAL CIVIL
• Decreta que na exibição de documento ou coisa, o pedido formulado pela parte conterá
a descrição, tão completa quanto possível, do documento ou da coisa, ou das categorias
de documentos ou de coisas buscados, a finalidade da prova, com indicação dos fatos
que se relacionam com o documento ou com a coisa, ou com suas categorias e as
circunstâncias em que se funda o requerente para afirmar que o documento ou a coisa
existe, ainda que a referência seja a categoria de documentos ou de coisas, e se acha em
poder da parte contrária.

• Estipula que a execução é suspensa quando não for localizado o executado ou bens
penhoráveis, atualizando disposição legal acerca da prescrição intercorrente.

1.2. Comentário

No dia 27.08.2021 foi publicada e entrou em vigor, na parte que altera o Código de Processo
Civil (CPC), a Lei nº 14.195/2021. A lei alterou diversas leis anteriores, como o Código Civil (CC), o
CPC, entre outras, e dispõe acerca de assuntos variados.

Conforme ementa da lei, ela trata

sobre a facilitação para abertura de empresas, sobre a proteção de acionistas


minoritários, sobre a facilitação do comércio exterior, sobre o Sistema
Integrado de Recuperação de Ativos (Sira), sobre as cobranças realizadas
pelos conselhos profissionais, sobre a profissão de tradutor e intérprete
público, sobre a obtenção de eletricidade, sobre a desburocratização
societária e de atos processuais e a prescrição intercorrente na Lei nº 10.406,
de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil); altera as Leis (...).

Nesse texto, vamos analisar as principais alterações implementadas no CPC, que visam a
racionalização processual, tornando o processo mais coerente.

A primeira alteração de que vamos tratar diz respeito a mais um dever processual que foi
imposto às partes e a todos que participem do processo. Segundo o art. 77 do CPC:

Art. 77. Além de outros previstos neste Código, são deveres das partes, de
seus procuradores e de todos aqueles que de qualquer forma participem
do processo: (...)

VII ‒ informar e manter atualizados seus dados cadastrais perante os


órgãos do Poder Judiciário e, no caso do § 6º do art. 246 deste Código, da
Administração Tributária, para recebimento de citações e intimações.

186 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PROCESSUAL CIVIL
A partir da vigência da lei, as partes e todos aqueles que participem do processo têm como
obrigação informar e manter atualizados seus dados cadastrais perante os órgãos do Poder Judiciário
e da Administração Tributária, para recebimento de citações e intimações.

Outra alteração é em relação ao dia do começo do prazo na citação por meio eletrônico (não
trata da intimação por meio eletrônico). A lei prevê que será assim considerado “o quinto dia útil
seguinte à confirmação, na forma prevista na mensagem de citação, do recebimento da citação
realizada por meio eletrônico”, conforme dispõe o art. 231, IX, do CPC, inserido pela Lei nº 14.195/2021.

Como exemplo, recebida e confirmada a citação por meio eletrônico no dia 09.09.2021, o
início da contagem do prazo será no dia 17.09.2021 (dia subsequente ao quinto dia útil seguinte à
confirmação do recebimento da citação – conforme o art. 4º, § 4º, da Lei nº 11.419/2006).

Ainda acerca da citação, dispõe a lei que deverá ser efetivada “em até 45 (quarenta e cinco) dias
a partir da propositura da ação” (art. 238, parágrafo único, do CPC). Trata-se de um prazo imposto ao
juiz, impróprio, portanto, não havendo nenhuma consequência, como regra, caso não seja cumprido.

Redação do art. 238 do CPC, após a Lei nº


Redação anterior do art. 238 do CPC
14.195/2021

Art. 238. Citação é o ato pelo qual são

Art. 238. Citação é o ato pelo qual convocados o réu, o executado ou o interessado
são convocados o réu, o executado ou para integrar a relação processual.
o interessado para integrar a relação Parágrafo único. A citação será efetivada em
processual. até 45 (quarenta e cinco) dias a partir da propositura
da ação. 

Além disso, a citação

será feita preferencialmente por meio eletrônico, no prazo de até 2 (dois)


dias úteis, contado da decisão que a determinar, por meio dos endereços
eletrônicos indicados pelo citando no banco de dados do Poder Judiciário,
conforme regulamento do Conselho Nacional de Justiça (art. 246 do CPC
– grifos nossos).

187 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Antes da alteração, o CPC não dispunha como deveria ocorrer a citação por meio eletrônico.
Com a mudança, o próprio CPC passou a dispor que a citação eletrônica ocorre por endereço
eletrônico indicado pelo citando.

Na sequência, assevera a lei que as “empresas públicas e privadas são obrigadas a manter
cadastro nos sistemas de processo em autos eletrônicos, para efeito de recebimento de citações e
intimações, as quais serão efetuadas preferencialmente por esse meio (art. 246, § 1º, do CPC).

No que tange a essa obrigação em relação às micro e pequenas empresas, somente se sujeitam
“quando não possuírem endereço eletrônico cadastrado no sistema integrado da Rede Nacional
para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios (Redesim) (art. 246, § 5º,
do CPC).

Em outras palavras, as microempresas e pequenas empresas somente são obrigadas a manter


cadastro no sistema de processo em autos eletrônicos (para receberem citações e intimações), caso
não possuam endereço eletrônico cadastrado na Rede Nacional para a Simplificação do Registro e
da Legalização de Empresas e Negócios (Redesim).

Caso não haja confirmação em até três dias úteis, contados do recebimento da citação
eletrônica, a citação será realizada por outros meios, segundo o art. 246, § 1º-A, do CPC:

Art. 246. (...)

§1º-A A ausência de confirmação, em até 3 (três) dias úteis, contados do


recebimento da citação eletrônica, implicará a realização da citação:    

I ‒ pelo correio;   

II ‒ por oficial de justiça;

III ‒ pelo escrivão ou chefe de secretaria, se o citando comparecer em


cartório;    

IV ‒ por edital.

Na hipótese de o réu ser citado por uma dessas formas, dispõe a lei que ele deverá, na primeira
oportunidade de falar nos autos, apresentar justa causa para a ausência de confirmação do
recebimento da citação enviada eletronicamente (art. 246, § 1º-B, do CPC).

Passa a ser considerado ato atentatório à dignidade da justiça, “passível de multa de até 5% (cinco
por cento) do valor da causa, deixar de confirmar no prazo legal, sem justa causa, o recebimento da
citação recebida por meio eletrônico” (art. 246, § 1º-C, do CPC – grifos nossos).

188 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Portanto, o citando tem o prazo legal de três dias úteis (conforme o art. 246, § 1º-A, do CPC)
para confirmar a citação recebida por meio eletrônico; caso não haja confirmação, deve apresentar
justificativa pela ausência de confirmação na primeira oportunidade de falar nos autos – sob pena de
multa de até 5% do valor da causa por ato atentatório à dignidade da justiça.

Redação anterior do art. 246 do CPC Redação do art. 246 do CPC, após a Lei nº
14.195/2021
Art. 246. A citação será feita: Art. 246. A citação será feita
preferencialmente por meio eletrônico, no prazo
I ‒ pelo correio;
de até 2 (dois) dias úteis, contado da decisão
II ‒ por oficial de justiça; que a determinar, por meio dos endereços
eletrônicos indicados pelo citando no banco
III ‒ pelo escrivão ou chefe de secretaria,
de dados do Poder Judiciário, conforme
se o citando comparecer em cartório;
regulamento do Conselho Nacional de Justiça.

IV ‒ por edital; (Grifos nossos.)

V ‒ por meio eletrônico, conforme § 1º As empresas públicas e privadas são

regulado em lei. (Grifos nossos.) obrigadas a manter cadastro nos sistemas de


processo em autos eletrônicos, para efeito de
§ 1º Com exceção das microempresas e recebimento de citações e intimações, as quais
das empresas de pequeno porte, as empresas serão efetuadas preferencialmente por esse
públicas e privadas são obrigadas a manter meio.  
cadastro nos sistemas de processo em autos
eletrônicos, para efeito de recebimento de § 1º-A A ausência de confirmação, em até

citações e intimações, as quais serão efetuadas 3 (três) dias úteis, contados do recebimento
preferencialmente por esse meio. da citação eletrônica, implicará a realização da
citação:  
§ 2º O disposto no § 1º aplica-se à União,
aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios I ‒ pelo correio;   

e às entidades da administração indireta.


II ‒ por oficial de justiça;   

III ‒ pelo escrivão ou chefe de secretaria, se


o citando comparecer em cartório;    

IV ‒ por edital.    

189 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PROCESSUAL CIVIL
§ 3º Na ação de usucapião de imóvel, § 1º-B Na primeira oportunidade de falar
os confinantes serão citados pessoalmente, nos autos, o réu citado nas formas previstas nos
exceto quando tiver por objeto unidade incisos I, II, III e IV do § 1º-A deste artigo deverá
autônoma de prédio em condomínio, caso em apresentar justa causa para a ausência de
que tal citação é dispensada. confirmação do recebimento da citação enviada
eletronicamente.   

§ 1º-C Considera-se ato atentatório à


dignidade da justiça, passível de multa de até
5% (cinco por cento) do valor da causa, deixar
de confirmar no prazo legal, sem justa causa,
o recebimento da citação recebida por meio
eletrônico.   

§ 2º O disposto no § 1º aplica-se à União,


aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios
e às entidades da administração indireta.

§ 3º Na ação de usucapião de imóvel, os


confinantes serão citados pessoalmente, exceto
quando tiver por objeto unidade autônoma de
prédio em condomínio, caso em que tal citação
é dispensada.

§ 4º As citações por correio eletrônico serão


acompanhadas das orientações para realização
da confirmação de recebimento e de código
identificador que permitirá a sua identificação na
página eletrônica do órgão judicial citante.    

190 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PROCESSUAL CIVIL
§ 5º As microempresas e as pequenas
empresas somente se sujeitam ao disposto no §
1º deste artigo quando não possuírem endereço
eletrônico cadastrado no sistema integrado da
Rede Nacional para a Simplificação do Registro
e da Legalização de Empresas e Negócios
(Redesim).   

§ 6º Para os fins do § 5º deste artigo, deverá


haver compartilhamento de cadastro com o
órgão do Poder Judiciário, incluído o endereço
eletrônico constante do sistema integrado da
Redesim, nos termos da legislação aplicável ao
sigilo fiscal e ao tratamento de dados pessoais.    

A lei também dispõe sobre mudanças no procedimento para exibição de documento ou coisa,
conforme observa-se no seguinte quadro:

Redação anterior do art. 397 do CPC Redação do art. 397 do CPC, após a Lei nº
14.195/2021
O pedido formulado pela parte conterá: O pedido formulado pela parte conterá:

I ‒ a individuação, tão completa quanto I ‒ a descrição, tão completa quanto


possível, do documento ou da coisa; possível, do documento ou da coisa, ou das
categorias de documentos ou de coisas
II ‒ a finalidade da prova, indicando os
buscados;  
fatos que se relacionam com o documento ou
com a coisa; II ‒ a finalidade da prova, com indicação
dos fatos que se relacionam com o documento
III ‒ as circunstâncias em que se funda
ou com a coisa, ou com suas categorias; 
o requerente para afirmar que o documento
ou a coisa existe e se acha em poder da parte III ‒ as circunstâncias em que se funda o
contrária. requerente para afirmar que o documento ou
a coisa existe, ainda que a referência seja a
categoria de documentos ou de coisas, e se acha
em poder da parte contrária. (Grifos nossos.)

191 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PROCESSUAL CIVIL
A nova redação autoriza que a parte não se refira mais a um documento ou coisa, mas, sim,
a uma categoria de documentos ou coisas. Amplia-se o que é possível requerer no procedimento
para exibição de documento ou coisa, não sendo mais necessário especificar exatamente o que a
parte quer.

Por fim, a última mudança importante no CPC ocorreu no art. 921, que antes dispunha como
hipótese de suspensão da execução quando o executado não tivesse bens penhoráveis. Além desta
hipótese, com a Lei nº 14.195/2021, o dispositivo passa a contar com a previsão de que a suspensão
também ocorre quando o executado não for localizado:

Art. 921. Suspende-se a execução:

III ‒ quando o executado não possuir bens penhoráveis;

III ‒ quando não for localizado o executado ou bens penhoráveis; (...) (Grifos


nossos.)

Assim, com a mudança, passa a existir previsão legal no sentido de que a falta de localização do
executado implica suspensão da execução, caso em que é possível ocorrer a prescrição intercorrente
no processo executivo se o credor permanecer inerte.

Sobre o tema, dispõe a lei que o “termo inicial da prescrição no curso do processo será a
ciência da primeira tentativa infrutífera de localização do devedor ou de bens penhoráveis, e será
suspensa, por uma única vez” pelo prazo máximo de um ano (art. 921, § 4º, do CPC ‒ grifos nossos).

Portanto, caso não haja a localização do devedor ou de bens penhoráveis na execução, o juiz
suspende a prescrição por um ano, o que somente pode ocorrer uma única vez (art. 921, § 4º, do CPC).

Demais disposições da Lei nº 14.195/2021 acerca da prescrição intercorrente, constam dos


seguintes dispositivos:

Art. 921. (...)

§ 4º-A A efetiva citação, intimação do devedor ou constrição de bens


penhoráveis interrompe o prazo de prescrição, que não corre pelo
tempo necessário à citação e à intimação do devedor, bem como para as
formalidades da constrição patrimonial, se necessária, desde que o credor
cumpra os prazos previstos na lei processual ou fixados pelo juiz.   

192 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PROCESSUAL CIVIL
§ 5º O juiz, depois de ouvidas as partes, no prazo de 15 (quinze) dias, poderá,
de ofício, reconhecer a prescrição no curso do processo e extingui-lo, sem
ônus para as partes.   

§ 6º A alegação de nulidade quanto ao procedimento previsto neste artigo


somente será conhecida caso demonstrada a ocorrência de efetivo prejuízo,
que será presumido apenas em caso de inexistência da intimação de que
trata o § 4º deste artigo.

§ 7º Aplica-se o disposto neste artigo ao cumprimento de sentença de


que trata o art. 523 deste Código. (Grifos nossos.)

Essas foram as principais alterações promovidas pela Lei nº 14.195/2021 no CPC, sendo
importante que o aluno não confunda as alterações promovidas nos dispositivos referentes à citação,
com os dispositivos em relação à intimação em processos eletrônicos (como os previstos na Lei nº
11.419/2006 – que não sofreram alterações).

Como exemplo, caso não haja consulta à intimação em até 10 dias corridos em processo
eletrônico, automaticamente é considerada realizada a intimação na data do término desse prazo
(art. 5º, § 3º, da Lei nº 11.419/2006).

Assim, na intimação há presunção automática de seu recebimento, o que não ocorre na citação
conforme visto – porque serão realizadas as outras modalidades de citação ‒ que não a citação na
forma eletrônica (art. 246, § 1º-A, do CPC).

1.3. Questão inédita comentada

Nos termos da Lei nº 14.195/2021, assinale a alternativa incorreta:

A) São deveres das partes, de seus procuradores, e de todos aqueles que participem do processo,
informar e manter atualizados seus dados cadastrais perante os órgãos do Poder Judiciário.

B) Salvo disposição em sentido diverso, considera-se dia do começo do prazo o quinto dia útil
seguinte à confirmação, na forma prevista na mensagem de citação, do recebimento da citação
realizada por meio eletrônico. 

C) A citação será feita preferencialmente por meio eletrônico, no prazo de até 2 (dois) dias corridos,
contado da decisão que a determinar, por meio dos endereços eletrônicos indicados pelo autor da ação.

193 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PROCESSUAL CIVIL
D) A citação será efetivada em até 45 (quarenta e cinco) dias a partir da propositura da ação. 

E) Suspende-se a execução quando não for localizado o executado ou bens penhoráveis.

Alternativa incorreta: letra C. Alternativa em desacordo com o art. 246 do CPC.

Art. 246. A citação será feita preferencialmente por meio eletrônico, no


prazo de até 2 (dois) dias úteis, contado da decisão que a determinar,
por meio dos endereços eletrônicos indicados pelo citando no banco de
dados do Poder Judiciário, conforme regulamento do Conselho Nacional
de Justiça. (Grifos nossos.)

Demais alternativas:

Alternativa A. Errada. Alternativa em consonância com o art. 77 do CPC.

Art. 77. Além de outros previstos neste Código, são deveres das partes, de
seus procuradores e de todos aqueles que de qualquer forma participem
do processo: (...)

VII ‒ informar e manter atualizados seus dados cadastrais perante os


órgãos do Poder Judiciário e, no caso do § 6º do art. 246 deste Código, da
Administração Tributária, para recebimento de citações e intimações.

Alternativa B. Errada. Alternativa em consonância com o art. 231 do CPC.

Art. 231. Salvo disposição em sentido diverso, considera-se dia do começo


do prazo: (...)

IX ‒ o quinto dia útil seguinte à confirmação, na forma prevista na mensagem


de citação, do recebimento da citação realizada por meio eletrônico.
(Incluído pela Lei nº 14.195, de 2021.)

Alternativa D. Errada. Alternativa em consonância com o art. 238, parágrafo único, do CPC.

Art. 238, parágrafo único. A citação será efetivada em até 45 (quarenta e


cinco) dias a partir da propositura da ação.

Alternativa E. Errada. Alternativa em consonância com o art. 921 do CPC.

Art. 921. Suspende-se a execução: (...)

III ‒ quando não for localizado o executado ou bens penhoráveis.

194 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
1. Lei nº 14.193/2021 – Institui a Sociedade Anônima do Futebol
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.193/2021
Ementa: Institui a Sociedade Anônima do Futebol e dispõe sobre normas de constituição,
governança, controle e transparência, meios de financiamento da atividade
futebolística, tratamento dos passivos das entidades de práticas desportivas
e regime tributário específico; e altera as Leis nºs 9.615, de 24 de março de 1998, e
10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil).

Data de publicação: 09.08.2021


Início de vigência: 09.08.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/
Lei/L14193.htm>
Destaques:
• Institui um novo tipo societário, denominado Sociedade Anônima do Futebol (SAF), cujo
objeto social consiste no fomento, no desenvolvimento e na exploração de atividades
relacionadas à prática do futebol, obrigatoriamente, nas modalidades feminina e masculina.
A SAF é regulada subsidiariamente pela Lei nº 6.404/1976 (Lei das Sociedades Anônimas)
e pela Lei nº 9.615/1998 (Lei Pelé).

• A SAF pode ser constituída por três formas distintas: (i) pela transformação do clube ou da
pessoa jurídica original neste tipo societário; (ii) pela cisão do departamento de futebol do
clube ou da pessoa jurídica original; ou (iii) pela iniciativa de pessoa natural ou jurídica ou
de fundo de investimento.

• Se a SAF for constituída por meio de cisão de departamento de futebol, é obrigatória a


emissão de Ações Classe A, que serão subscritas exclusivamente pelo clube ou pela pessoa
jurídica original que a constituiu. Essas ações conferem ao clube ou à pessoa jurídica
instituidora direitos especiais de voto e veto sobre determinadas deliberações, que não
poderão ser consideradas aprovadas sem a anuência do detentor das referidas ações.

• O acionista controlador da SAF não pode deter participação, direta ou indireta, em outra
SAF. Ela deverá ter obrigatoriamente conselho de administração e conselho fiscal, e seus
diretores deverão ter dedicação exclusiva à administração da companhia.

195 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
• Em regra, a SAF não responderá pelas obrigações do clube ou da pessoa jurídica que a
constituiu, excluídas aquelas que forem diretamente transferidas ao seu patrimônio, por
meio de cisão, relacionadas ao seu objeto social. Todavia, uma parte das receitas da SAF
ou dos dividendos a serem pagos ao clube ou à pessoa jurídica instituidora deverá ser
regularmente repassada pela SAF a elas, com a finalidade de pagamento de obrigações
anteriores à sua constituição, sob pena de responsabilização pessoal e solidária dos
administradores da SAF.

• O clube ou a pessoa jurídica instituidora poderá pagar suas dívidas por meio do Regime
Centralizado de Execuções, ora instituído pela lei, ou poderá requerer Recuperação
Judicial ou Extrajudicial na forma da Lei Federal nº 11.101/2005.

• A SAF poderá emitir valores mobiliários e, em especial, uma espécie de debênture,


denominada “debênture-fut”. Esta não poderá ter remuneração inferior ao rendimento da
caderneta de poupança, deverá ter prazo igual ou superior a dois anos, e é vedada a sua
recompra pela SAF ou por partes relacionadas.

• A SAF deverá fomentar e promover medidas em favor da educação, por meio do futebol,
e, do futebol, por meio da educação. Nesse sentido, a lei faz referência à obrigação da
companhia de instituir um Programa de Desenvolvimento Educacional e Social a ser
desenvolvido em convênio com instituição pública de ensino.

1.2. Comentário

O regime jurídico ao qual estavam vinculados os clubes de futebol no Brasil, há um tempo,


é alvo de relevantes controvérsias, em especial, atinentes ao seu financiamento e à possibilidade
de manutenção adequada de suas atividades, uma vez que, em regra, eram constituídos sob a
forma de associação civil, o que impossibilitava o aporte de capital de investidores que desejassem
obter rendimentos com a atividade do clube. Essa limitação parecia impedir o fomento financeiro
desses clubes, uma vez que, no ordenamento jurídico brasileiro, é vedado às associações distribuir
dividendos ou outra forma de remuneração aos seus associados, por ter finalidades eminentemente
“não econômicas” (Código Civil ‒ CC, art. 53). Portanto, não haveria interesse em alocar recurso em
forma de “equity” nessas associações, uma vez que não era possível o retorno ao investidor do capital
investido, ao contrário do que ocorre no regime jurídico das sociedades (CC, art. 981).

Nessa seara, por diversos fatores, vários clubes nacionais, inclusive de grande renome, estão
hoje em uma situação de insolvência perante o Fisco, instituições financeiras e outras pessoas
naturais e jurídicas, com dívidas de alto valor e das mais diversas origens. Esse regime jurídico se
contrapunha ao panorama de vários países estrangeiros, com forte atividade futebolística, nos quais
as entidades de futebol já podiam, ou sempre puderam, ser constituídas sob a forma de sociedade
empresária e similares.

196 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
Assim, após variadas discussões, foi aprovado o projeto de lei que propôs a criação de um novo
tipo societário, denominado “Sociedade Anônima do Futebol” (SAF), materializado pela Lei Federal
nº 14.193/2021, que:

Institui a Sociedade Anônima do Futebol e dispõe sobre normas de


constituição, governança, controle e transparência, meios de financiamento
da atividade futebolística, tratamento dos passivos das entidades de práticas
desportivas e regime tributário específico; e altera as Leis nºs 9.615, de 24 de
março de 1998, e 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil).

Para melhor compreender o texto da lei, ela traz em seu art. 1º, § 1º a definição dos termos
“clube”, “pessoa jurídica original” e “entidade de administração”. Vejamos:

Art. 1º (...)

§ 1º Para os fins desta Lei, considera-se:

I ‒ clube: associação civil, regida pela Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002


(Código Civil), dedicada ao fomento e à prática do futebol;

II ‒ pessoa jurídica original: sociedade empresarial dedicada ao fomento e à


prática do futebol; e

III ‒ entidade de administração: confederação, federação ou liga, com


previsão na Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998, que administra, dirige,
regulamenta ou organiza competição profissional de futebol.

Quanto à constituição da SAF, seu objeto social é tipificado pela lei, de modo que poderá
abarcar as seguintes atividades descritas em seu art. 1º, § 2º:

Art. 1º (...)

§ 2º O objeto social da Sociedade Anônima do Futebol poderá compreender


as seguintes atividades:

I ‒ o fomento e o desenvolvimento de atividades relacionadas com a prática


do futebol, obrigatoriamente nas suas modalidades feminino e masculino;

II ‒ a formação de atleta profissional de futebol, nas modalidades feminino


e masculino, e a obtenção de receitas decorrentes da transação dos seus
direitos desportivos;

III ‒ a exploração, sob qualquer forma, dos direitos de propriedade intelectual


de sua titularidade ou dos quais seja cessionária, incluídos os cedidos pelo
clube ou pessoa jurídica original que a constituiu;

IV ‒ a exploração de direitos de propriedade intelectual de terceiros,


relacionados ao futebol;

197 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
V ‒ a exploração econômica de ativos, inclusive imobiliários, sobre os quais
detenha direitos;

VI ‒ quaisquer outras atividades conexas ao futebol e ao patrimônio da


Sociedade Anônima do Futebol, incluída a organização de espetáculos
esportivos, sociais ou culturais;

VII ‒ a participação em outra sociedade, como sócio ou acionista, no território


nacional, cujo objeto seja uma ou mais das atividades mencionadas nos
incisos deste parágrafo, com exceção do inciso II.

Ressalta-se, ainda, que, assim como ocorre no âmbito das sociedades anônimas, das sociedades
limitadas, dentre outras, a denominação da SAF deverá conter a expressão “Sociedade Anônima do
Futebol”, ou sua forma abreviada, “SAF” (Lei Federal nº 14.193/2021, art. 1º, § 3º). Ademais a Sociedade
Anônima do Futebol se enquadra no conceito de entidade de prática desportiva, para efeitos da Lei
Federal nº 9.615/1998 (Lei Pelé).

O art. 2º da Lei Federal nº 14.193/2021 estipula como poderá ocorrer a constituição da Sociedade
Anônima do Futebol. Nesse sentido, ela poderá se dar de três formas distintas:

Art. 2º (...)

I ‒ pela transformação do clube ou pessoa jurídica original em Sociedade


Anônima do Futebol;

II ‒ pela cisão do departamento de futebol do clube ou pessoa jurídica


original e transferência do seu patrimônio relacionado à atividade futebol;

III ‒ pela iniciativa de pessoa natural ou jurídica ou de fundo de investimento.

Na hipótese I ocorrerá a transformação do tipo de pessoa jurídica de direito privado, ou


societário, do clube (associação civil) ou da pessoa jurídica original para o novo tipo societário
SAF mantendo-se todas as relações, os deveres e as obrigações existentes, de qualquer natureza,
inclusive perante os atletas profissionais do futebol.

Na hipótese II ocorrerá a cisão, que é uma operação na qual é realizado um “recorte” do


patrimônio, composto por ativos e passivos, do clube ou pessoa jurídica originária, e esse patrimônio
é integralizado no capital social de outra sociedade já existente ou a ser constituída. Ressalta-se
que, nos termos do art. 2º, II, da lei, é o patrimônio relacionado à atividade de futebol que poderá ser
cindido para fins da constituição da SAF.

198 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
Para ocorrer a transformação ou cisão, necessária é a aprovação em Assembleia dos clubes ou
pessoas jurídicas originárias, na forma dos arts. 59 e/ou 1.113 do CC.

Por fim, poderá ser criada diretamente uma SAF por quaisquer pessoas naturais ou jurídicas,
desde que atendidos os parâmetros da legislação de regência.

Uma das questões que a lei parece ter buscado atender foi a de que, no caso de cisão para a
criação de uma SAF, na forma de seu art. 2º, II, o clube ou sociedade cindida mantenha um controle
inicial sobre diversas deliberações da SAF. A finalidade parece ser de uma manutenção daquela
atividade como sempre foi desenvolvida, para que não haja uma eventual disrupção em seus
parâmetros em razão da admissão de novos acionistas na SAF.

Nesse sentido, conforme o art. 2º, § 2º, VII, da Lei nº 14.193/2021, ocorrendo a cisão, deverá ser
criada uma classe específica de ações, “Classe A”, que serão subscritas pelo clube ou pela pessoa
jurídica original que constituiu a sociedade. Essa classe de ações confere ao seu titular poderes
especiais de voto e veto em Assembleia, assemelhando-se ao que ocorre com uma golden share.
Nos termos do art. 2º, §§ 3º, 4º, 5º e 6º:

Art. 2º (...)

§ 3º Enquanto as ações ordinárias da classe A corresponderem a pelo menos


10% (dez por cento) do capital social votante ou do capital social total, o
voto afirmativo do seu titular no âmbito da assembleia geral será condição
necessária para a Sociedade Anônima do Futebol deliberar sobre:

I ‒ alienação, oneração, cessão, conferência, doação ou disposição de


qualquer bem imobiliário ou de direito de propriedade intelectual conferido
pelo clube ou pessoa jurídica original para formação do capital social;

II ‒ qualquer ato de reorganização societária ou empresarial, como fusão,


cisão, incorporação de ações, incorporação de outra sociedade ou trespasse;

III ‒ dissolução, liquidação e extinção; e

IV ‒ participação em competição desportiva sobre a qual dispõe o art. 20 da


Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998.

§ 4º Além de outras matérias previstas no estatuto da Sociedade Anônima


do Futebol, depende da concordância do titular das ações ordinárias da
classe A, independentemente do percentual da participação no capital
votante ou social, a deliberação, em qualquer órgão societário, sobre as
seguintes matérias:

199 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
I ‒ alteração da denominação;

II ‒ modificação dos signos identificativos da equipe de futebol profissional,


incluídos símbolo, brasão, marca, alcunha, hino e cores; e

III ‒ mudança da sede para outro Município.

§ 5º O estatuto da Sociedade Anônima do Futebol constituída por clube ou


pessoa jurídica original pode prever outros direitos para o titular das ações
ordinárias da classe A.

§ 6º Depende de aprovação prévia do clube ou pessoa jurídica original, que


é titular de ações ordinárias da classe A, qualquer alteração no estatuto
da Sociedade Anônima do Futebol para modificar, restringir ou subtrair
os direitos conferidos por essa classe de ações, ou para extinguir a ação
ordinária da classe A.

Importante destacar que a integralização do capital social do clube ou pessoa jurídica original
na SAF poderá ocorrer por meio da integralização de nome, marca, dísticos, símbolos, propriedades,
patrimônio, ativos imobilizados e mobilizados, registros, licenças, direitos desportivos sobre
atletas e sua repercussão econômica. Todavia, o clube ou pessoa jurídica originária não poderá
transferir ou alienar seu ativo imobilizado para a SAF enquanto registrar em suas demonstrações
financeiras obrigações anteriores à constituição da SAF se o ativo estiver gravado com ônus ou tiver
sido oferecido em garantia para o cumprimento de determinada obrigação. Adicionalmente, o
clube ou pessoa jurídica originária não poderá se desfazer da integralidade de sua participação
acionária na SAF constituída, enquanto houver em suas demonstrações o registro dessas
obrigações anteriores à sua constituição. Quanto a esses pontos, vejamos o art. 3º da lei:

Art. 3º O clube ou pessoa jurídica original poderá integralizar a sua parcela ao


capital social na Sociedade Anônima do Futebol por meio da transferência
à companhia de seus ativos, tais como, mas não exclusivamente, nome,
marca, dísticos, símbolos, propriedades, patrimônio, ativos imobilizados e
mobilizados, inclusive registros, licenças, direitos desportivos sobre atletas
e sua repercussão econômica.

Parágrafo único. Enquanto o clube ou pessoa jurídica original registrar, em


suas demonstrações financeiras, obrigações anteriores à constituição da
companhia, será vedada:

I ‒ a transferência ou alienação do seu ativo imobilizado que contenha


gravame ou tenha sido dado em garantia, exceto mediante autorização do
respectivo credor;

II ‒ o desfazimento da sua participação acionária na integralidade.

200 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
No que tange a administração e governança corporativa da SAF, conforme o art. 4º da lei, o
acionista controlador não poderá ser titular de participação societária, direta ou indireta, em outra
SAF. Ainda, o acionista que possuir 10% ou mais de participação societária na SAF, mesmo sem ser
controlador não terá direito de voz e voto nas assembleias gerais e não poderá participar de sua
administração nem indicar pessoa para exercê-la, caso também participe de outra SAF. Destaca-se
que na SAF é imperativa a existência de conselho de administração e de conselho fiscal. Isso, nos
termos dos arts. 4º e 5º da lei.

Art. 4º O acionista controlador da Sociedade Anônima do Futebol, individual


ou integrante de acordo de controle, não poderá deter participação, direta
ou indireta, em outra Sociedade Anônima do Futebol.

Parágrafo único. O acionista que detiver 10% (dez por cento) ou mais do
capital votante ou total da Sociedade Anônima do Futebol, sem a controlar,
se participar do capital social de outra Sociedade Anônima do Futebol, não
terá direito a voz nem a voto nas assembleias gerais, nem poderá participar
da administração dessas companhias, diretamente ou por pessoa por ele
indicada.

Art. 5º  Na Sociedade Anônima do Futebol, o conselho de administração


e o conselho fiscal são órgãos de existência obrigatória e funcionamento
permanente.

Ressalta-se ainda que, conforme o § 5º do art. 5º, os diretores nomeados para a SAF
obrigatoriamente deverão ter dedicação exclusiva à sua administração. Foi também possibilitada a
publicação eletrônica, no site da companhia, de convocações, atas, demonstrações financeiras, e
outras obrigatórias, para as SAFs com receita bruta anual de até R$ 78.000.000,00 (Lei Federal nº
14.193/2021, art. 7º).

Um dos pontos relevantes de que trata a lei diz respeito ao cumprimento das obrigações
tanto pelos clubes e pessoas jurídicas já existentes quanto pelas SAFs que serão constituídas. Essas
disposições se ligam à realidade do alto endividamento dos diversos clubes de futebol no país. Nessa
seara, assim dispõe o art. 9º da lei:

Art. 9º A Sociedade Anônima do Futebol não responde pelas obrigações do


clube ou pessoa jurídica original que a constituiu, anteriores ou posteriores
à data de sua constituição, exceto quanto às atividades específicas do
seu objeto social, e responde pelas obrigações que lhe forem transferidas
conforme disposto no § 2º do art. 2º desta Lei, cujo pagamento aos credores
se limitará à forma estabelecida no art. 10 desta Lei.

201 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
Parágrafo único. Com relação à dívida trabalhista, integram o rol dos credores
mencionados no  caput  deste artigo os atletas, membros da comissão
técnica e funcionários cuja atividade principal seja vinculada diretamente
ao departamento de futebol.

O referido artigo traz várias informações, que devem ser analisadas separadamente, para que
se obtenha um melhor entendimento. Nesse sentido, a regra geral é que não há responsabilidade
da SAF pelas obrigações do clube ou da pessoa jurídica que a constituiu, anteriores ou posteriores
à data de sua constituição. Esse artigo, na realidade, reflete a separação patrimonial da SAF com
os clubes ou pessoas jurídicas originais, o que é natural no âmbito societário, considerando-se que
uma sociedade anônima, por si só, implica a responsabilidade limitada de seus acionistas, e não há
confusão patrimonial entre a própria companhia e outras sociedades.

Todavia, haverá a responsabilização da SAF quanto às atividades específicas de seu objeto


social e responde pelas obrigações que lhe forem transferidas conforme o disposto no § 2º do art.
2º da lei. Essa parte do artigo parece gerar uma confusão em sua compreensão, pois dá a entender
que haverá responsabilização da SAF por obrigações de titularidade do clube ou da pessoa jurídica
instituidora se essas obrigações se relacionarem às atividades específicas do objeto social da SAF.
Parece, no caso, haver uma desconsideração da separação patrimonial das pessoas jurídicas.

No entanto, por uma leitura sistemática da legislação e do próprio artigo, o entendimento que
parece adequado a essa disposição é no sentido de que há duas questões distintas. A primeira delas
é que, havendo a cisão do clube ou da pessoa jurídica original, na forma da lei, direitos e obrigações
serão transmitidos à SAF e, pela sistemática da Lei Federal nº 14.193/2021, esses direitos e obrigações
obrigatoriamente deverão estar ligados à atividade futebolística. Nesse sentido, havendo a
integralização do patrimônio da SAF com esses direitos e obrigações ela, naturalmente, responderá
pelas obrigações que antes eram de titularidade do clube ou da pessoa jurídica original, que terão
relação com seu objeto social, por se relacionarem à atividade futebolística.

Contudo, a lei estabelece que poderá haver obrigações de titularidade dos clubes ou pessoas
jurídicas a serem pagas exclusivamente por meio de receitas provenientes da SAF. Ressalta-se que o
art. 10 da lei estabelece um modo específico de pagamento das obrigações anteriores pelos clubes
e pessoas jurídicas originais, a partir dessas receitas. Nesse sentido:

202 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
Art. 10. O clube ou pessoa jurídica original é responsável pelo pagamento das
obrigações anteriores à constituição da Sociedade Anônima do Futebol, por
meio de receitas próprias e das seguintes receitas que lhe serão transferidas
pela Sociedade Anônima do Futebol, quando constituída exclusivamente:

I ‒ por destinação de 20% (vinte por cento) das receitas correntes mensais
auferidas pela Sociedade Anônima do Futebol, conforme plano aprovado
pelos credores, nos termos do inciso I do caput do art. 13 desta Lei;

II ‒ por destinação de 50% (cinquenta por cento) dos dividendos, dos


juros sobre o capital próprio ou de outra remuneração recebida desta, na
condição de acionista.

Cabe destacar que, se não realizado o pagamento aos credores na forma do art. 10, os
administradores da SAF. respondem pessoal e solidariamente pelas obrigações relacionadas a
esses repasses financeiros obrigatórios que a SAF deverá fazer ao clube ou pessoa jurídica original,
instituidora. Por sua vez, respondem pessoal e solidariamente o presidente do clube ou os sócios-
-administradores da pessoa jurídica original caso recebam os repasses realizados pela SAF mas não
os utilizem para o pagamento dos respectivos credores. Por fim, o art. 12 da lei veda a realização
de constrição ao patrimônio ou às receitas da SAF, caso os repasses para pagamento de dívidas
anteriores à data de sua constituição sejam regularmente realizados.

Importante destacar ainda a instituição de dois modos distintos de pagamento de obrigações


pelos clubes ou pessoas jurídicas originais. Primeiramente, poderão elas optar por pagar débitos
pela sistemática da Recuperação Judicial ou Extrajudicial, regulada pela Lei nº 11.101/2005.
Nessa sistemática, inclusive, o parágrafo único do art. 25 da Lei nº 14.193/2021 define que não há
resolução automática dos contratos bilaterais e de atletas profissionais vinculados ao clube ou à
pessoa jurídica original, em razão do pedido. Esses contratos poderão ser transferidos à SAF no
momento de sua constituição.

De outro modo, a lei trouxe uma inovação, introduzida entre os seus arts. 14 a 24, que se
denomina “Regime Centralizado de Execuções”, constituindo-se como uma outra modalidade de
quitação de débitos a ser realizada por opção da entidade. Nesse sentido:

Art. 13. O clube ou pessoa jurídica original poderá efetuar o pagamento das
obrigações diretamente aos seus credores, ou a seu exclusivo critério:

I ‒ pelo concurso de credores, por intermédio do Regime Centralizado de


Execuções previsto nesta Lei; ou

II ‒ por meio de recuperação judicial ou extrajudicial, nos termos da Lei nº


11.101, de 9 de fevereiro de 2005.

203 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
O Regime Centralizado de Execuções é uma forma de concurso de credores no qual há
um juízo central que realizará o gerenciamento conjunto de todas as execuções em face do
credor. Além das execuções, este juízo ordenará e concentrará as receitas obtidas pelos clubes,
provenientes da SAF, destinadas ao pagamento das obrigações nos termos do art. 10 da referida
lei. Conforme o art. 14 da lei:

Art. 14. O clube ou pessoa jurídica original que optar pela alternativa do
inciso I do caput do art. 13 desta Lei submeter-se-á ao concurso de credores
por meio do Regime Centralizado de Execuções, que consistirá em
concentrar no juízo centralizador as execuções, as suas receitas e os valores
arrecadados na forma do art. 10 desta Lei, bem como a distribuição desses
valores aos credores em concurso e de forma ordenada.

§ 1º Na hipótese de inexistência de órgão de centralização de execuções no


âmbito do Judiciário, o juízo centralizador será aquele que tiver ordenado o
pagamento da dívida em primeiro lugar.

§ 2º O requerimento deverá ser apresentado pelo clube ou pessoa jurídica


original e será concedido pelo Presidente do Tribunal Regional do Trabalho,
quanto às dívidas trabalhistas, e pelo Presidente do Tribunal de Justiça,
quanto às dívidas de natureza civil, observados os requisitos de apresentação
do plano de credores, conforme disposto no art. 16 desta Lei.

Como regra, o regime centralizado de execuções conferirá ao clube ou à pessoa jurídica o prazo
de seis anos para o pagamento dos credores. Todavia, caso no referido prazo tenham sido pagos 60%
dos débitos, ele poderá ser prorrogado por mais quatro anos. Conforme o art. 15:

Art. 15.  O Poder Judiciário disciplinará o Regime Centralizado de Execuções,


por meio de ato próprio dos seus tribunais, e conferirá o prazo de 6 (seis)
anos para pagamento dos credores.

§ 1º Na ausência da regulamentação prevista no  caput  deste artigo,


competirá ao Tribunal Superior respectivo suprir a omissão.

§ 2º Se o clube ou pessoa jurídica original comprovar a adimplência de ao


menos 60% (sessenta por cento) do seu passivo original ao final do prazo
previsto no  caput  deste artigo, será permitida a prorrogação do Regime
Centralizado de Execuções por mais 4 (quatro) anos, período em que o
percentual a que se refere o inciso I do caput do art. 10 desta Lei poderá, a
pedido do interessado, ser reduzido pelo juízo centralizador das execuções
a 15% (quinze por cento) das suas receitas correntes mensais.

204 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
Sob esse regime, inicialmente, o clube ou pessoa jurídica original deve apresentar no prazo de
60 dias um plano de pagamento aos credores. Esse plano deve trazer ao juízo algumas importantes
informações e documentos: balanço patrimonial; demonstrações contábeis dos três últimos
exercícios; obrigações consolidadas e estimativa auditada de dívidas em fase de conhecimento;
fluxo de caixa e sua projeção para o período de três anos; e termo de compromisso de controle
orçamentário. Ademais, há algumas prioridades legais a serem obedecidas no pagamento dos
débitos, elencadas nos arts. 17 e 18 da lei:

Art. 17. No Regime Centralizado de Execuções, consideram-se credores


preferenciais, para ordenação do pagamento:

I ‒ idosos, nos termos da Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003 (Estatuto


do Idoso);

II ‒ pessoas com doenças graves;

III ‒ pessoas cujos créditos de natureza salarial sejam inferiores a 60


(sessenta) salários-mínimos;

IV ‒ gestantes;

V ‒ pessoas vítimas de acidente de trabalho oriundo da relação de trabalho


com o clube ou pessoa jurídica original;

VI ‒ credores com os quais haja acordo que preveja redução da dívida


original em pelo menos 30% (trinta por cento).

Parágrafo único. Na hipótese de concorrência entre os créditos, os processos


mais antigos terão preferência.

Art. 18. O pagamento das obrigações previstas no art. 10 desta Lei privilegiará
os créditos trabalhistas, e cumprirá ao plano de pagamento dos credores,
apresentado pelo clube ou pessoa jurídica original, definir a sua destinação.

Importante destacar que, se as obrigações assumidas pelo clube ou pessoa jurídica original
estiverem sendo adequadamente adimplidas pela sistemática do Regime Centralizado de
Execuções, conforme o art. 23 da lei, fica também vedada qualquer forma de constrição patrimonial,
penhora ou ordem de bloqueio de qualquer natureza sobre as receitas dessas entidades.

205 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
Caso superado o prazo de seis anos e eventual prorrogação estabelecida, a SAF terá
responsabilidade subsidiária pelas obrigações civis e trabalhistas dos clubes ou pessoas jurídicas
originais, anteriores à sua constituição, na forma do art. 24 da lei.

A Lei Federal nº 14.193/2021 também trata do financiamento da SAF. Conforme o objetivo da


lei, delineado no início desse texto, a possibilidade de as entidades que exercem atividade no âmbito
futebolístico serem constituídas sob a forma de sociedade empresária e, em especial, de sociedade
anônima, objetiva fomentar o investimento e a capitalização dessas entidades. Nessa seara, a lei
permitiu a emissão de debêntures pela SAF. Como se sabe, as debêntures são valores mobiliários
com natureza de títulos de dívida os quais a companhia emite, recebe um valor do investidor e o
remunera conforme os termos das debêntures emitidas. O art. 26 da lei define os parâmetros para a
emissão de debêntures pela SAF, denominadas “debêntures-fut”. Conforme o artigo:

Art. 26. A Sociedade Anônima do Futebol poderá emitir debêntures, que


serão denominadas “debêntures-fut”, com as seguintes características:

I ‒ remuneração por taxa de juros não inferior ao rendimento anualizado


da caderneta de poupança, permitida a estipulação, cumulativa, de
remuneração variável, vinculada ou referenciada às atividades ou ativos da
Sociedade Anônima do Futebol;

II ‒ prazo igual ou superior a 2 (dois) anos;

III ‒ vedação à recompra da debênture-fut pela Sociedade Anônima do


Futebol ou por parte a ela relacionada e à liquidação antecipada por meio
de resgate ou pré-pagamento, salvo na forma a ser regulamentada pela
Comissão de Valores Mobiliários;

IV ‒ pagamento periódico de rendimentos;

V ‒ registro das debênture-fut em sistema de registro devidamente


autorizado pelo Banco Central do Brasil ou pela Comissão de Valores
Mobiliários, nas suas respectivas áreas de competência.

§ 1º Os recursos captados por meio de debêntures-fut deverão ser alocados


no desenvolvimento de atividades ou no pagamento de gastos, despesas ou
dívidas relacionados às atividades típicas da Sociedade Anônima do Futebol
previstas nesta Lei, bem como em seu estatuto social.

206 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
Por fim, com o objetivo de fomentar o desenvolvimento educacional e social o art. 28 da lei
estabelece a obrigatoriedade de a SAF instituir um Programa de Desenvolvimento Educacional
e Social (PDE), na forma de convênio com instituição pública de ensino para promover o
desenvolvimento da educação por meio do futebol, e do futebol por meio da educação. Conforme o
artigo, são estabelecidos alguns pontos os quais a SAF poderá investir para executar o PDE:

Art. 28. A Sociedade Anônima do Futebol deverá instituir Programa de


Desenvolvimento Educacional e Social (PDE), para, em convênio com
instituição pública de ensino, promover medidas em prol do desenvolvimento
da educação, por meio do futebol, e do futebol, por meio da educação.

§ 1º A Sociedade Anônima do Futebol poderá investir, no âmbito das


obrigações do Plano de Desenvolvimento Educacional e Social, mas não
exclusivamente:

I ‒ na reforma ou construção de escola pública, bem como na manutenção


de quadra ou campo destinado à prática do futebol;

II ‒ na instituição de sistema de transporte dos alunos qualificados à


participação no convênio, na hipótese de a quadra ou o campo não se
localizar nas dependências da escola;

III ‒ na alimentação dos alunos durante os períodos de recreação futebo-


lística e de treinamento;

IV ‒ na capacitação de ex-jogadores profissionais de futebol, para ministrar


e conduzir as atividades no âmbito do convênio;

V ‒ na contratação de profissionais auxiliares, especialmente de prepa-


radores físicos, nutricionistas e psicólogos, para acompanhamento das
atividades no âmbito do convênio;

VI ‒ na aquisição de equipamentos, materiais e acessórios necessários à


prática esportiva.

§ 2º Somente se habilitarão a participar do convênio alunos regularmente


matriculados na instituição conveniada e que mantenham o nível de
assiduidade às aulas regulares e o padrão de aproveitamento definidos no
convênio.

§ 3º O Programa de Desenvolvimento Educacional e Social deverá oferecer,


igualmente, oportunidade de participação às alunas matriculadas em
escolas públicas, a fim de realizar o direito de meninas terem acesso ao
esporte.

207 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
1.3. Questão inédita comentada

A Sociedade Anônima do Futebol (SAF) é um novo tipo societário instituído pela Lei Federal nº
14.193/2021. A referida lei traz diversas inovações à regulação das entidades que exploram a atividade
futebolística, com vista a promover seu desenvolvimento, a captação de recursos, o pagamento de
dívidas e a educação por meio do futebol. Sobre a SAF, assinale a alternativa incorreta, conforme a
lei que a institui:

A) O objeto social da SAF poderá compreender a atividade de exploração de direitos de propriedade


intelectual de terceiros, relacionados ao futebol.

B) A SAF emitirá obrigatoriamente ações ordinárias da classe A para subscrição exclusivamente


pelo clube ou pessoa jurídica original que a constituiu.

C) Na SAF, o conselho de administração e o conselho fiscal são órgãos de existência obrigatória e


funcionamento permanente.

D) O clube ou pessoa jurídica original poderá efetuar o pagamento das obrigações diretamente aos
seus credores, ou ao seu exclusivo critério, pelo Regime Centralizado de Execuções ou por meio de
Recuperação Judicial ou Extrajudicial.

E) O acionista controlador da SAF, individual ou integrante de acordo de controle, poderá deter


participação somente indireta em outra SAF.

Alternativa incorreta: letra E. Nos termos do art. 4º, caput, da Lei Federal nº 14.193/2021, o
acionista controlador da SAF não pode deter participação, direta ou indireta, em outra SAF. Nos
termos do artigo:

Art. 4º O acionista controlador da Sociedade Anônima do Futebol, individual


ou integrante de acordo de controle, não poderá deter participação, direta
ou indireta, em outra Sociedade Anônima do Futebol.

Parágrafo único. O acionista que detiver 10% (dez por cento) ou mais
do capital votante ou total da Sociedade Anônima do Futebol, sem a
controlar, se participar do capital social de outra Sociedade Anônima do
Futebol, não terá direito a voz nem a voto nas assembleias gerais, nem
poderá participar da administração dessas companhias, diretamente ou
por pessoa por ele indicada.

208 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
Demais alternativas:

Alternativa A. Correta. A alternativa está correta, pois, de acordo com os termos do art. 1º, § 2º,
III, da Lei Federal nº 14.193/2021:

Art. 1º (...)

§ 2º O objeto social da Sociedade Anônima do Futebol poderá compreender


as seguintes atividades: (...)

IV ‒ a exploração de direitos de propriedade intelectual de terceiros,


relacionados ao futebol; (...).

Alternativa B. Correta. A alternativa está correta, pois de acordo com os termos do art. 2º, § 2º,
VII, da Lei Federal nº 14.193/2021:

Art. 2º (...)

§ 2º (...)

VII ‒ a Sociedade Anônima do Futebol emitirá obrigatoriamente ações


ordinárias da classe A para subscrição exclusivamente pelo clube ou pessoa
jurídica original que a constituiu.

Alternativa C. Correta. A alternativa está correta, pois, de acordo com os termos do art. 5º,
caput, da Lei Federal nº 14.193/2021: “Art. 5º Na Sociedade Anônima do Futebol, o conselho de
administração e o conselho fiscal são órgãos de existência obrigatória e funcionamento permanente”.

Alternativa D. Correta. A alternativa está correta, pois de acordo com os termos do art. 13, I e II,
da Lei Federal nº 14.193/2021:

Art. 13. O clube ou pessoa jurídica original poderá efetuar o pagamento das
obrigações diretamente aos seus credores, ou a seu exclusivo critério:

I ‒ pelo concurso de credores, por intermédio do Regime Centralizado de


Execuções previsto nesta Lei; ou

II ‒ por meio de recuperação judicial ou extrajudicial, nos termos da Lei nº


11.101, de 9 de fevereiro de 2005.

209 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
2. Lei nº 14.195/2021 – Altera dispositivos do Código Civil e de leis que
tratam de matéria empresarial

2.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.195/2021
Ementa: Dispõe sobre a facilitação para abertura de empresas, sobre a proteção de acionistas
minoritários, sobre a facilitação do comércio exterior, sobre o Sistema Integrado
de Recuperação de Ativos (Sira), sobre as cobranças realizadas pelos conselhos
profissionais, sobre a profissão de tradutor e intérprete público, sobre a obtenção
de eletricidade, sobre a desburocratização societária e de atos processuais e
a prescrição intercorrente na Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código
Civil ‒ CC); altera as Leis nºs 11.598, de 3 de dezembro de 2007, 8.934, de 18 de
novembro de 1994, 6.404, de 15 de dezembro de 1976, 7.913, de 7 de dezembro
de 1989, 12.546, de 14 de dezembro 2011, 9.430, de 27 de dezembro de 1996,
10.522, de 19 de julho de 2002, 12.514, de 28 de outubro de 2011, 6.015, de 31 de
dezembro de 1973, 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), 13.105, de 16
de março de 2015 (Código de Processo Civil), 4.886, de 9 de dezembro de 1965,
5.764, de 16 de dezembro de 1971, 6.385, de 7 de dezembro de 1976, e 13.874, de 20
de setembro de 2019, e o Decreto-Lei nº 341, de 17 de março de 1938; e revoga as
Leis nºs 2.145, de 29 de dezembro de 1953, 2.807, de 28 de junho de 1956, 2.815, de
6 de julho de 1956, 3.187, de 28 de junho de 1957, 3.227, de 27 de julho de 1957, 4.557,
de 10 de dezembro de 1964, 7.409, de 25 de novembro de 1985, e 7.690, de 15 de
dezembro de 1988, os Decretos nºs 13.609, de 21 de outubro de 1943, 20.256, de
20 de dezembro de 1945, e 84.248, de 28 de novembro de 1979, e os Decretos-Lei
nºs 1.416, de 25 de agosto de 1975, e 1.427, de 2 de dezembro de 1975, e dispositivos
das Leis nºs 2.410, de 29 de janeiro de 1955, 2.698, de 27 de dezembro de 1955,
3.053, de 22 de dezembro de 1956, 5.025, de 10 de junho de 1966, 6.137, de 7 de
novembro de 1974, 8.387, de 30 de dezembro de 1991, 9.279, de 14 de maio de 1996,
e 9.472, de 16 de julho de 1997, e dos Decretos-Lei nºs 491, de 5 de março de 1969,
666, de 2 de julho de 1969, e 687, de 18 de julho de 1969; e dá outras providências.
Data de publicação: 27.08.2021

Início de vigência:
Art. 58. A lei entra em vigor na data de sua publicação e produzirá
efeitos:

I ‒ em 3 (três) anos, contados da data de sua publicação, quanto ao


inciso I do caput do art. 36, podendo a Aneel determinar a antecipação
da produção de efeitos em cada área de concessão ou permissão;

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DIREITO EMPRESARIAL
II ‒ em 360 (trezentos e sessenta) dias, contados da data de sua
publicação, quanto à parte do art. 5º que altera o § 3º do art. 138 da Lei
nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976;IIII ‒ em 180 (cento e oitenta)
dias, contados da data de sua publicação, quanto ao § 3º do art. 8º;

IV ‒ no primeiro dia útil do primeiro mês subsequente ao da data de


sua publicação, quanto aos arts. 8º, 9º, 10, 11 e 12 e aos incisos III a XV,
XVIII, XXIII e XXXI do caput do art. 57; e

V ‒ na data de sua publicação, quanto aos demais dispositivos.

Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/


Lei/L14195.htm>
Destaques:
• A lei é conversão da Medida Provisória (MP) nº 1.040/2021.

• A lei cria mecanismos para simplificar o registro empresarial, alterando a Lei Federal nº
11.598/2007 (Redesim) e a Lei Federal nº 8.934/1994 (Lei do Registro Público de Empresas
Mercantis).

• O Comitê para Gestão da Rede Nacional para Simplificação do Registro e da Legalização


de Empresas e Negócios (CGSIM) editará resolução que indique a classificação do risco
das diversas atividades que podem ser desenvolvidas pelas pessoas, que será utilizada
caso não haja legislação estadual, distrital ou municipal específica.

• Quando o grau de risco da atividade desenvolvida for considerado médio, o alvará e as


licenças serão emitidos automaticamente, sem análise humana, pelo sistema. Nessa
hipótese, o responsável legal assinará termo de ciência e de responsabilidade no qual
afirmará que, nos termos e sob as penas da lei, observará os requisitos exigidos para
funcionamento e desenvolvimento de suas atividades quanto às normas sanitárias,
ambientais e de prevenção contra incêndio.

• A inscrição do Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) no sistema responsável


pela integração nos estados elimina a necessidade de coleta de dados adicionais por cada
ente federativo para emissão de inscrições fiscais, devendo o sistema federal compartilhar
os dados com os órgãos estaduais e municipais.

• O empresário ou a pessoa jurídica passa a poder utilizar o número de inscrição no CNPJ


como nome empresarial, desde que seguido da partícula identificadora do tipo societário
ou jurídico, quando exigida por lei.

• Ficam dispensados de reconhecimento de firma todos os documentos levados a


arquivamento nas Juntas Comerciais.

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DIREITO EMPRESARIAL
• São realizadas diversas alterações na Lei Federal nº 6.404/1976 (Lei das Sociedades
Anônimas ‒ Lei das S/A).

• Fica permitida a criação de outras classes de ações ordinárias, às quais poderá ser atribuído
o voto plural. Cada ação ordinária não poderá ter o direito de conferir mais de 10 votos
ao seu titular e, em regra, o voto plural terá prazo limitado a 7 anos, renováveis por igual
período.

• As companhias existentes poderão deliberar sobre a criação de classe de ações ordinárias


com voto plural. A deliberação, para ser aprovada, deverá ter voto favorável dos acionistas
ordinários e preferencialistas.

• Altera-se a sistemática de contagem de votos nas sociedades anônimas, em razão da


possibilidade de existirem ações com voto plural. Anteriormente, as disposições legais
faziam referência somente a um percentual de ações ou do capital social. Agora, também
poderá ser levado em consideração somente o número de votos existentes para cada ação,
independentemente do capital social que a ação represente.

• Torna-se obrigatória a participação de conselheiros independentes nos conselhos de


administração de companhias abertas.

• Extingue-se a empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI), pela


conversão de todas as pessoas jurídicas desse tipo em sociedades limitadas unipessoais,
independentemente de qualquer alteração em seus atos constitutivos.

• Altera-se o conceito de estabelecimento previsto no CC, dispondo que ele não se confunde
com o local no qual é exercida a atividade empresarial, que pode ser físico ou virtual.

• Define-se que, quando o estabelecimento for virtual, a sede da sociedade poderá ser no
endereço residencial de algum dos sócios ou do empresário. Antes, apenas era permitida
a adoção de endereço residencial para alguns tipos de atividades.

• Faculta-se à sociedade anônima e à sociedade em comandita por ações designar em sua


denominação o objeto social de sua atividade, o que antes era obrigatório.

• Revoga-se o parágrafo único do art. 1.015 do CC que destacava hipóteses taxativas nas
quais se poderia opor a terceiros a prática de ato em excesso de poderes (ultra vires) pelos
administradores.

• Revogam-se o inciso IV e o parágrafo único do art. 1.033 do CC, que previam a dissolução
da sociedade quando ausentes a pluralidade de sócios e a possibilidade de conversão da
sociedade para EIRELI ou empresário individual.

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2.2. Comentário

Foi publicada, em 27.08.2021, a Lei Federal nº 14.195/2021, resultante da conversão da MP nº


1.040/2021. Em meio a uma tendência reformista liberal do atual governo brasileiro, no âmbito do
direito empresarial, a Lei Federal nº 14.195/2021 pretende, conforme dispõe a sua própria ementa,
facilitar e desburocratizar a abertura e a manutenção de empresas. Nesse contexto, ela termina por
concretizar algumas disposições previstas desde a edição da MP nº 1.040/2021. Ademais, a lei traz
importantes alterações aos sistemas de registro empresarial, à Lei Federal nº 6.404/1976 (LSA) e ao CC.

a) Registro empresarial (Sistema Redesim)

Quanto às disposições atinentes à facilitação para abertura de empresas ligadas, tanto à Rede
Nacional para Simplificação de Registro de Legalização de Empresas (Redesim) quanto às próprias
disposições legais relacionadas ao registro empresarial nas juntas comerciais, a Lei Federal nº
14.195/2021 faz algumas alterações nas Leis Federais nºs 11.598/2007 (Lei do Redesim) e 8.934/1994
(Lei do Registro Público de Empresas Mercantis).

Inicialmente, cumpre destacar que, desde a Lei Federal nº 13.874/2019 (Lei da Liberdade
Econômica), ficou estabelecido, em seu art. 3º, I, como um direito das pessoas naturais e jurídicas:
“desenvolver atividade econômica de baixo risco, para a qual se valha exclusivamente de propriedade
privada própria ou de terceiros consensuais, sem a necessidade de quaisquer atos públicos de
liberação da atividade econômica”. Por sua vez, o § 1º, I e II do art. 3º da referida lei dispõem que
ato do Poder Executivo Federal iria efetuar a classificação das atividades de baixo risco, que seria
observado na ausência de legislação estadual, distrital ou municipal. Na ausência também de ato do
Poder Executivo estabelecendo quais atividades são de baixo risco, o Comitê para Gestão da Rede
Nacional para Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios (CGSIM) editaria
resolução específica sobre o tema.

A Lei Federal nº 14.195/2021, por sua vez, pensando nas atividades de risco médio e para atender
a uma sugestão, amplamente debatida, não deixou de exigir que as empresas que desenvolvam
atividades classificadas como de risco médio operem sem as licenças e os alvarás, mas permitiu
que a obtenção desses documentos seja por meio de emissão automática, pelo sistema de
registro, sem a necessidade de intervenção humana. Nesse contexto, há apenas a condição de
que o responsável legal pela empresa assine um termo de ciência e responsabilidade, assumindo

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DIREITO EMPRESARIAL
o compromisso e afirmando que obedecerá a regulamentação atinente às normas sanitárias,
ambientais e de prevenção contra incêndio, ligadas à sua atividade. Nesse sentido, adicionou o art.
6º-A à Lei Federal nº 11.598/2007, que passou a vigorar da seguinte forma:

Art. 6º-A (...)

§ 1º O alvará de funcionamento será emitido com a assinatura de termo


de ciência e responsabilidade do empresário, sócio ou responsável legal
pela sociedade, que firmará compromisso, sob as penas da lei, de observar
os requisitos exigidos para o funcionamento e o exercício das atividades
econômicas constantes do objeto social, para efeito de cumprimento das
normas de segurança sanitária, ambientais e de prevenção contra incêndio.

Portanto, a lógica de registro empresarial, quase que como vinha ocorrendo perante as
empresas que exercem atividades classificadas como de baixo risco, também se inverte para
as empresas com risco de atividade classificado como médio. O responsável legal efetuará a
declaração de que atenderá às exigências legais relativas à sua atividade, permitindo-lhe obter,
imediatamente, por meio do sistema, os alvarás e as licenças necessários para o funcionamento da
empresa. Por sua vez, caberá à Administração Pública verificar posteriormente, se necessário for, em
procedimento fiscalizatório, a obediência ao termo assinado e às diversas condições.

Há ainda algumas disposições na Lei Federal nº 14.195/2021 que visam unificar os sistemas de
registro empresarial em todo o país, para que o empresário não tenha de realizar separadamente as
inscrições e os atos pertinentes cada estado e município. Nesse sentido, é alterado o art. 11-A da Lei
Federal nº 11.598/2007, que passa a dispor que:

Art. 11-A. (...)

§ 2º A inscrição no CNPJ, a partir dos dados informados no sistema


responsável pela integração nos Estados, elimina a necessidade de coleta
de dados adicionais pelos Estados e pelos Municípios para emissão
de inscrições fiscais, devendo o sistema federal compartilhar os dados
coletados com os órgãos estaduais e municipais.

Atendida essa disposição, os estados e os municípios terão acesso direto aos dados enviados
pelo empresário, quando do seu cadastro empresarial pelo sistema Redesim, o que possibilitará a
integração de todas as bases, e que o empresário necessite efetuar o seu cadastro inicial em apenas
um portal, o do Governo Federal. Nesse sentido, ao constituir a empresa pelo Redesim, obterá tanto
o CNPJ quanto a inscrição estadual e/ou a inscrição municipal, necessárias ao cumprimento das
obrigações tributárias, conforme exigir a sua atividade.

214 Caderno de novidades legislativas


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b) Registro empresarial (Juntas Comerciais)

No que tange a algumas modificações trazidas à Lei Federal nº 8.934/1994, que regula o registro
público das empresas mercantis, também conhecido como Juntas Comerciais, há dois interessantes
pontos de destaque.

Nos termos do art. 1.155 do CC:

Considera-se nome empresarial a firma ou a denominação adotada, de


conformidade com este Capítulo, para o exercício de empresa.

Parágrafo único. Equipara-se ao nome empresarial, para os efeitos da


proteção da lei, a denominação das sociedades simples, associações e
fundações.

Nesse sentido, o nome empresarial é o que identifica a empresa, a sociedade simples, as


associações e fundações, sendo, inclusive, um direito de personalidade da pessoa jurídica, no teor
do art. 52 do CC.

Ao tratar do nome empresarial, adicionou-se o art. 35-A à Lei Federal nº 8.934/1994, de forma
a possibilitar que o empresário ou a pessoa jurídica utilize como nome empresarial o número da
inscrição no CNPJ. Desse modo, o empresário ou a sociedade empresária poderá, a partir de agora,
ser constituído tendo como nome apenas o número do CNPJ, seguido pela partícula identificadora
de seu tipo societário, se exigido for. Por exemplo: 12.345.678/0001-01 LTDA. ou 12.345.678/0001-
01 S/A, como se vê na redação do artigo:

Art. 35-A. O empresário ou a pessoa jurídica poderá optar por utilizar o


número de inscrição no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) como
nome empresarial, seguido da partícula identificadora do tipo societário ou
jurídico, quando exigida por lei.

Como uma forma também de facilitar os trâmites burocráticos nas Juntas Comerciais, ficou
alterado o art. 63 da Lei Federal nº 8.934/1994, deixando-se de exigir reconhecimento de firma para
quaisquer documentos a serem arquivados nas Juntas Comerciais, inclusive procurações: “Art. 63.
Os atos levados a arquivamento nas juntas comerciais são dispensados de reconhecimento de firma”.

Mais algumas alterações foram realizadas na Lei de Regência do Registro Público das Empresas
Mercantis, fomentando a digitalização dos atos, uma vez que, conforme o seu art. 57: “quaisquer
atos e documentos, após microfilmados ou preservada a sua imagem por meios tecnológicos mais
avançados, poderão ser eliminados pelas juntas comerciais, conforme disposto em regulamento”,

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DIREITO EMPRESARIAL
permitida a retirada do documento físico por algum interessado, antes da eliminação dos documentos
pela Junta Comercial, na forma do parágrafo único do referido artigo: “antes da eliminação prevista
no caput deste artigo, será concedido o prazo de 30 (trinta) dias para os acionistas, os diretores e
os procuradores das empresas ou outros interessados retirarem, facultativamente, a documentação
original, sem qualquer custo”.

c) Sociedades anônimas

Um instrumento, de certa forma, inovador no ordenamento jurídico brasileiro, possibilitado a


partir da Lei Federal nº 14.195/2021, é a permissão à atribuição de voto plural a determinada classe de
ações nas companhias. Até a edição da lei, a regra no ordenamento jurídico brasileiro era que cada
ação ordinária tinha direito a um voto nas deliberações das companhias. A partir dessa sistemática,
o poder de voto estava diretamente relacionado ao capital social representado pela ação. Assim, na
antiga redação do art. 110, § 2º, da Lei Federal nº 6.404/1976 (Lei das S/A), era vedado atribuir voto
plural a qualquer classe de ações.

Existem inúmeras discussões sobre os benefícios e malefícios de se permitir que uma ação
confira ao seu titular um direito de voto maior em assembleia que não o estritamente proporcional
ao capital social que a ação representa. Contudo, a adoção de voto plural é um mecanismo que já
é adotado em países estrangeiros, que visa beneficiar e atrair determinados tipos de investimento
nas companhias.

Por exemplo, um investidor pode ter um capital limitado para aportar na companhia, o que
traria benefícios à atividade empresária desenvolvida. Todavia, a decisão dele em realizar o aporte
dependeria de possuir uma maior ingerência, um maior poder político, na definição dos rumos
da companhia. Anteriormente, se não fosse possível realizar um acordo de acionistas ou algum
outro instrumento acessório para regular esse poder político majorado do investidor, ele poderia,
simplesmente, não realizar o aporte, que seria interessante sob a ótica da companhia. Nesse caso,
apesar de ter interesse e capital, o investidor não efetuaria o aporte, pois o valor aportado poderia
não lhe proporcionar o poder de voto suficiente para que influenciasse em determinadas decisões
da companhia. Nesse sentido, para obter o poder de voto suficiente teria de ser “obrigado” a aportar
um capital muito maior do que estava disposto.

A adoção do voto plural, nessa seara, permite que um investidor com menos participação
no capital social da companhia exerça um poder de voto maior, desvinculado dessa proporção do
capital social.

216 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
Por ser um instrumento jurídico um tanto controverso e que parece ser desejável que se
mantenha por um tempo limitado, a Lei Federal nº 14.195/2021 o regulou minuciosamente, alterando
vários artigos da Lei das S/A.

Assim, incluiu o art. 110-A na Lei das S/A, que limita que a ação ordinária tenha o direito a, no
máximo, 10 votos. Ressalta-se que, nas companhias abertas, caso se deseje adotar o voto plural
para alguma classe de ações, essas ações deverão ser criadas, e o voto plural atribuído antes de sua
negociação no mercado de valores mobiliários. Desse modo, fica vedado atribuir voto plural a ações
que já estejam sendo negociadas. Nesses termos:

Art. 110-A. É admitida a criação de uma ou mais classes de ações ordinárias


com atribuição de voto plural, não superior a 10 (dez) votos por ação
ordinária: (Incluído pela Lei nº 14.195, de 2021.)

I ‒ na companhia fechada; e (Incluído pela Lei nº 14.195, de 2021.)

II ‒ na companhia aberta, desde que a criação da classe ocorra previamente


à negociação de quaisquer ações ou valores mobiliários conversíveis em
ações de sua emissão em mercados organizados de valores mobiliários.
(Incluído pela Lei nº 14.195, de 2021.)

Por sua vez, conforme a redação do novo § 1º do art. 110-A da Lei das S/A, destaca-se que
há quóruns específicos para que seja admitida a criação de ações ordinárias com voto plural,
quais sejam:

Art. 110-A. (...)

§ 1º A criação de classe de ações ordinárias com atribuição do voto plural


depende do voto favorável de acionistas que representem: (Incluído pela
Lei nº 14.195, de 2021.)

I ‒ metade, no mínimo, do total de votos conferidos pelas ações com direito


a voto; e (Incluído pela Lei nº 14.195, de 2021.)

II ‒ metade, no mínimo, das ações preferenciais sem direito a voto ou com


voto restrito, se emitidas, reunidas em assembleia especial convocada e
instalada com as formalidades desta Lei.

No caso, tanto os acionistas titulares de ações ordinárias quanto os acionistas titulares de ações
preferenciais deverão votar para autorizar a criação de classe de ações com voto plural.

217 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
Importante atentar para o fato de que, nos termos do § 2º do art. 110-A da Lei das S/A, caso
haja deliberação favorável à adoção do voto plural na companhia, os acionistas dissidentes poderão
exercer direito de retirada, que será realizado por meio de reembolso do valor das ações, salvo se já
houvesse no estatuto a previsão e a autorização para a criação dessa classe de ações.

A redação da lei parece indicar que o legislador entendeu desejável que o voto plural permaneça
vigente apenas por tempo limitado no ordenamento jurídico. Talvez para estimular investimentos
iniciais em determinada companhia com a posterior saída do investidor para que a companhia se
desenvolva normalmente.

Nesse sentido, foi imposto no § 7º do art. 110-A da Lei das S/A que, como regra, o voto plural terá
vigência de até sete anos, prorrogável por igual período, desde que novamente deliberado na forma
estabelecida no art. 110-A, § 1º. Poderá, inclusive, ser definido no Estatuto Social um prazo de vigência
para que a ação confira o direito ao voto plural, condicionado a um termo ou um evento futuro.
Na votação para deliberar sobre a prorrogação de prazo do voto plural, os acionistas titulares dessa
classe de ação não podem votar sobre essa deliberação e, uma vez mais, os acionistas dissidentes
poderão exercer o seu direito de retirada. Nesse sentido:

Art. 110-A. (...)

§ 6º É facultado aos acionistas estipular no estatuto social o fim da


vigência do voto plural condicionado a um evento ou a termo, observado
o disposto nos §§ 7º e 8º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 14.195, de 2021.)

§ 7º O voto plural atribuído às ações ordinárias terá prazo de vigência inicial


de até 7 (sete) anos, prorrogável por qualquer prazo, desde que: (Incluído
pela Lei nº 14.195, de 2021.)

I ‒ seja observado o disposto nos §§ 1º e 3º deste artigo para a aprovação da


prorrogação; (Incluído pela Lei nº 14.195, de 2021.)

II ‒ sejam excluídos das votações os titulares de ações da classe cujo voto


plural se pretende prorrogar; e (Incluído pela Lei nº 14.195, de 2021.)

III ‒ seja assegurado aos acionistas dissidentes, nas hipóteses de prorrogação,


o direito previsto no § 2º deste artigo.

Ainda quanto ao voto plural, as ações com essa classe serão automaticamente convertidas em
ações ordinárias nas seguintes hipóteses, conforme o § 8º do art. 110-A da Lei das S/A:

218 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
I ‒ transferência das ações, a qualquer título, a terceiros, exceto nos casos
em que:

a) o alienante permanecer indiretamente como único titular de tais ações e


no controle dos direitos políticos por elas conferidos;

b) o terceiro for titular da mesma classe de ações com voto plural a ele
alienadas;

c) a transferência ocorrer no regime de titularidade fiduciária para fins de


constituição do depósito centralizado;

II ‒ o contrato ou acordo de acionistas, entre titulares de ações com voto


plural e acionistas que não sejam titulares de ações com voto plural, dispor
sobre exercício conjunto do direito de voto.

Em razão da possibilidade de adoção de voto plural pelas companhias, foi também alterada
a sistemática de contagem dos votos em diferentes hipóteses. Agora, na Lei das S/A, há artigos
que estabelecem que as deliberações deverão ser realizadas com base no número de votos, mas
também há artigos que fazem referência ao percentual do capital social ou das ações. Diante dessa
nova sistemática, assim dispõe o § 9º do art. 110-A da Lei das S/A:

Art. 110-A. (...)

§ 9º Quando a lei expressamente indicar quóruns com base em percentual


de ações ou do capital social, sem menção ao número de votos conferidos
pelas ações, o cálculo respectivo deverá desconsiderar a pluralidade
de voto.

Portanto, quando a lei fizer referência ao número de votos das ações, é o número de votos e
não o quanto a ação representa no capital social votante que deve ser considerado. Todavia, quando
a lei fizer referência a um percentual no capital social ou de ações representativas do capital social,
dever-se-á desconsiderar eventual pluralidade de votos.

Como exemplo de deliberações que tiveram seus quóruns alterados, foram aquelas atinentes à
instalação de assembleias e deliberações sobre alteração no Estatuto Social. Conforme os arts. 125,
135 e 136 da Lei das S/A:

Art. 125. Ressalvadas as exceções previstas em lei, a assembleia geral


instalar-se-á, em primeira convocação, com a presença de acionistas que
representem, no mínimo, 1/4 (um quarto) do total de votos conferidos
pelas ações com direito a voto e, em segunda convocação, instalar-se-á
com qualquer número.

219 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
Art. 135. A assembleia geral extraordinária que tiver por objeto a reforma
do estatuto somente se instalará, em primeira convocação, com a presença
de acionistas que representem, no mínimo, 2/3 (dois terços) do total de
votos conferidos pelas ações com direito a voto, mas poderá instalar-se, em
segunda convocação, com qualquer número.

Art. 136. É necessária a aprovação de acionistas que representem metade,


no mínimo, do total de votos conferidos pelas ações com direito a voto, se
maior quórum não for exigido pelo estatuto da companhia cujas ações não
estejam admitidas à negociação em bolsa ou no mercado de balcão, para
deliberação sobre:

I ‒ criação de ações preferenciais ou aumento de classe de ações


preferenciais existentes, sem guardar proporção com as demais classes de
ações preferenciais, salvo se já previstos ou autorizados pelo estatuto;

II ‒ alteração nas preferências, vantagens e condições de resgate ou


amortização de uma ou mais classes de ações preferenciais, ou criação de
nova classe mais favorecida;

III ‒ redução do dividendo obrigatório;

IV ‒ fusão da companhia, ou sua incorporação em outra;

V ‒ participação em grupo de sociedades (art. 265);

VI ‒ mudança do objeto da companhia;

VII ‒ cessação do estado de liquidação da companhia;

VIII ‒ criação de partes beneficiárias;

IX ‒ cisão da companhia;

X ‒ dissolução da companhia. (Grifos nossos.)

Por fim, no que tange às alterações atinentes à sociedade anônima, cabe destacar dois pontos.
Primeiramente, nos termos do § 14 do art. 110-A, não é possível haver voto plural nas empresas
públicas, nas sociedades de economia mista e nas suas respectivas subsidiárias e sociedades
controladas direta ou indiretamente pelo poder público.

Ainda, destaca-se que foi alterado o art. 140, § 2º, da Lei das S/A, de forma que passou a ser
legalmente obrigatória a presença de conselheiros independentes nos conselhos de administração
das sociedades anônimas.

220 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
d) Código Civil

• EIRELI

A Lei Federal nº 14.195/2021 também promoveu importantes alterações no CC.

Inicialmente, destaca-se a extinção da EIRELI, transformando-se as existentes em sociedades


limitadas unipessoais. Nesse sentido, estabelece o art. 41:

As empresas individuais de responsabilidade limitada existentes na data da


entrada em vigor desta Lei serão transformadas em sociedades limitadas
unipessoais independentemente de qualquer alteração em seu ato
constitutivo.

Parágrafo único. Ato do Drei disciplinará a transformação referida neste


artigo.

Considerando a entrada em vigor da lei, já haverá a “obrigatoriedade” de transformação de


todas as EIRELIS em sociedades limitadas unipessoais, pendendo apenas a regulamentação
procedimental que será instituída por meio do Departamento Nacional de Registro Empresarial e
Integração (Drei).

Ainda, com a alteração legislativa ocorreu a revogação tácita do inciso VI do art. 44 e do art.
980-A e, até que a regulamentação mencionada seja realizada, o Ministério da Economia, por meio
do Ofício Circular SEI nº 3.510/2021, estabelece as orientações que devem ser seguidas pelas Juntas
Comerciais, dentre as quais podem ser destacadas:

a) Incluir na ficha cadastral da empresa individual de responsabilidade limitada


já constituída a informação de que foi “transformada automaticamente para
sociedade limitada, nos termos do art. 41 da Lei nº 14.195, de 26 de agosto de
2021.

b) Dar ampla publicidade sobre a extinção da Eireli e acerca da possibilidade


de constituição da sociedade limitada por apenas uma pessoa, bem como
realizar medidas necessárias à comunicação dos usuários acerca da
conversão automática das Eireli em sociedades limitadas.

c) Abster-se de arquivar a constituição de novas empresas individuais


de responsabilidade limitada, devendo o usuário ser informado acerca
da extinção dessa espécie de pessoa jurídica no ordenamento jurídico
brasileiro e sobre a possibilidade de constituição de sociedade limitada por
apenas uma pessoa.

221 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
• Estabelecimento empresarial

Uma outra importantíssima alteração trazida pela Lei Federal nº 14.195/2021 diz respeito à
modificação do conceito legal de estabelecimento comercial. Sabe-se que o estabelecimento
empresarial é o complexo de bens organizados, para o exercício da atividade empresária. Contudo,
a partir da nova realidade trazida pela internet, com o exercício da atividade empresária por diversos
agentes econômicos, principalmente por meio da rede mundial de computadores, já era bastante
debatida na doutrina e até mesmo reconhecida pelos tribunais a existência dos estabelecimentos
virtuais. Sabe-se que, atualmente, um perfil em uma rede social com muitos seguidores, por exemplo,
pode ser economicamente muito mais relevante para um empresário do que uma loja física, havendo
valor econômico intrínseco à titularidade desse meio para realização de vendas aos diversos clientes.

Diante desse contexto, ficará agora expresso no § 1º do art. 1.142 do CC que “o estabelecimento
não se confunde com o local onde se exerce a atividade empresarial, que poderá ser físico ou virtual”.

Ainda, para facilitar o exercício da atividade empresária daqueles que atuam perante o
mercado, quase que exclusivamente por meio da internet, em ambiente virtual, ficará permitida
a constituição da empresa ou sociedade tendo como endereço a residência do empresário ou de
algum dos sócios da sociedade. Anteriormente, apenas algumas atividades específicas podiam ser
registradas como exercidas no endereço pessoal do empresário ou do sócio. Portanto, assim ficou o
texto dos parágrafos do art. 1.142 do CC:

Art. 1.142. (...)

§ 1º O estabelecimento não se confunde com o local onde se exerce a


atividade empresarial, que poderá ser físico ou virtual.

§ 2º Quando o local onde se exerce a atividade empresarial for virtual, o


endereço informado para fins de registro poderá ser, conforme o caso, o do
empresário individual ou o de um dos sócios da sociedade empresária.

§ 3º Quando o local onde se exerce a atividade empresarial for físico, a


fixação do horário de funcionamento competirá ao Município, observada a
regra geral do inciso II do caput do art. 3º da Lei nº 13.874, de 20 de setembro
de 2019.

222 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
• Outras alterações do CC

Por fim, apresentam-se algumas outras alterações trazidas ao CC pela Lei Federal nº 14.195/2021.

A sociedade anônima ou a sociedade em comandita por ações não mais possuirão


obrigatoriedade de indicar seu objeto social em sua denominação, como era previsto nos arts. 1.160
e 1.061 do CC, que passam a vigorar com a seguinte redação:

Art. 1.160. A sociedade anônima opera sob denominação, integrada


pelas expressões “sociedade anônima” ou “companhia”, por extenso ou
abreviadamente, facultada a designação do objeto social.

Art. 1.161. A sociedade em comandita por ações pode, em lugar de firma,


adotar denominação, aditada da expressão “comandita por ações”, facultada
a designação do objeto social.

Fica revogado o parágrafo único do art. 1.015 do CC, que deixava expressos os casos nos quais
era permitido opor a terceiros a realização de atos com excesso de poderes (ultra vires) por parte
dos administradores. Desse modo, o legislador parece querer que não haja mais hipóteses taxativas
para interpretação dos atos em excesso de poderes realizados pelos administradores, mas que seja
avaliado caso a caso.

Fica também revogada a hipótese legal do art. 1.033, IV, do CC, que previa a dissolução
da sociedade na falta de pluralidade de sócios, uma vez que, admitida a sociedade na forma
unipessoal, conforme o art. 1.052, §§ 1º e 2º, do CC, não há razão para que ela seja dissolvida e extinta
automaticamente em caso de falecimento de um sócio. Por conseguinte, também revogou-se o
parágrafo único do art. 1.033, que vislumbrava a possibilidade de o sócio remanescente requerer, na
ausência de pluralidade de sócios, a transformação da sociedade para EIRELI.

2.3. Questão inédita comentada

A Lei Federal nº 14.195/2021, resultado da conversão da MP nº 1.040/2021, trouxe diversas


alterações para o direito empresarial, em especial, para o registro empresarial, para as sociedades
anônimas, para a EIRELI e para o estabelecimento empresarial. Sobre essas alterações trazidas pela
lei, assinale a alternativa incorreta:

A) Nos casos em que o risco da atividade empresarial seja considerado médio, o alvará e as licenças
serão emitidos automaticamente, sem análise humana, pelo sistema, desde que o responsável assine
termo de ciência e responsabilidade pelo cumprimento das obrigações sanitárias, ambientais e de
prevenção contra incêndio.

223 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
B) Nas sociedades anônimas, a criação de classe de ações ordinárias com atribuição de voto plural
depende do voto favorável de, no mínimo, metade do total de votos conferidos pelas ações com
direito de voto, excluídos os acionistas titulares de ações preferenciais, sem direito de voto, da
deliberação.

C) Se não previsto outro prazo menor no Estatuto, o voto plural atribuído às ações ordinárias terá
prazo inicial máximo de vigência de até sete anos, prorrogável por igual período.

D) O estabelecimento não se confunde com o local onde se exerce a atividade empresarial, que
poderá ser físico ou virtual.

E) Todas as EIRELIs existentes no país serão convertidas em sociedades limitadas unipessoais,


independentemente de alteração em seu ato constitutivo.

Alternativa incorreta: letra B. Conforme o art. 110-A, § 1º, da Lei das S/A, incluído pela Lei
Federal nº 14.195/2021:

(...) a criação de classe de ações ordinárias com atribuição de voto plural


depende do voto favorável dos acionistas que representem:

I ‒ metade, no mínimo, do total de votos conferidos pelas ações com direito


a voto; e

II ‒ metade, no mínimo, das ações preferenciais sem direito a voto ou com


voto restrito, se emitidas, reunidas em assembleia especial convocada e
instalada com as formalidades desta Lei.

Portanto, mesmo os acionistas titulares de ações preferenciais, sem direito de voto, possuem
a prerrogativa de votar, em assembleia especial, sobre a concordância com a criação de classe de
ações com voto plural na companhia.

Demais alternativas:

Alternativa A. Correta. A alternativa está de acordo com o art. 2º da Lei Federal nº 14.195/2021
que, modificando o art. 6º-A da Lei Federal nº 11.598/2007, impôs a seguinte redação:

Art. 6º-A Sem prejuízo do disposto no inciso I do caput do art. 3º da Lei nº


13.874, de 20 de setembro de 2019, nos casos em que o grau de risco da
atividade seja considerado médio, na forma prevista no art. 5º-A desta Lei, o

224 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
alvará de funcionamento e as licenças serão emitidos automaticamente, sem
análise humana, por intermédio de sistema responsável pela integração dos
órgãos e das entidades de registro, nos termos estabelecidos em resolução
do CGSIM.

§ 1º O alvará de funcionamento será emitido com a assinatura de termo


de ciência e responsabilidade do empresário, sócio ou responsável legal
pela sociedade, que firmará compromisso, sob as penas da lei, de observar
os requisitos exigidos para o funcionamento e o exercício das atividades
econômicas constantes do objeto social, para efeito de cumprimento das
normas de segurança sanitária, ambientais e de prevenção contra incêndio.
§ 2º Do termo de ciência e responsabilidade constarão informações sobre
as exigências que deverão ser cumpridas antes do início da atividade
empresarial. (...).

Portanto, quando for exercida atividade empresarial de risco médio, apesar de ser necessário
o alvará de funcionamento e licenças, estes serão emitidos pelo sistema, sem intervenção humana,
mediante a assinatura do termo de ciência e responsabilidade pelo responsável legal.

Alternativa C. Correta. A alternativa está de acordo com o texto do art. 110-A, § 7º, da Lei das
S/A, incluído pelo art. 2º da Lei Federal nº 14.195/2021, que assim dispõe:

§ 7º O voto plural atribuído às ações ordinárias terá prazo de vigência inicial


de até 7 (sete) anos, prorrogável por qualquer prazo, desde que:

I ‒ seja observado o disposto nos §§ 1º e 3º deste artigo para a aprovação da


prorrogação;

II ‒ sejam excluídos das votações os titulares de ações da classe cujo voto


plural se pretende prorrogar; e

III ‒ seja assegurado aos acionistas dissidentes, nas hipóteses de prorrogação,


o direito previsto no § 2º deste artigo.

Alternativa D. Correta. A nova realidade trazida pela internet, com o exercício da atividade
empresária por diversos agentes econômicos, principalmente por meio da rede mundial de
computadores, já era bastante debatida na doutrina, e até mesmo reconhecida pelos tribunais a
existência dos estabelecimentos virtuais. Atualmente, um perfil em uma rede social com muitos
seguidores, por exemplo, pode ser economicamente muito mais relevante para um empresário do

225 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
que uma loja física, havendo valor econômico intrínseco à titularidade desse meio para realização de
vendas aos diversos clientes. Diante desse contexto, ficou expressamente previsto no § 1º do art. 1.142
do CC que: “o estabelecimento não se confunde com o local onde se exerce a atividade empresarial,
que poderá ser físico ou virtual”.

Alternativa E. Correta. A Lei Federal nº 14.195/2021, em seu art. 41, instituiu que “as empresas
individuais de responsabilidade limitada existentes na data da entrada em vigor desta Lei serão
transformadas em sociedades limitadas unipessoais independentemente de qualquer alteração
em seu ato constitutivo”.. Nesse sentido, todas as EIRELIs serão convertidas em sociedades
limitadas unipessoais por expressa disposição legal, independentemente de alteração em seus atos
constitutivos.

226 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
1. Medida Provisória nº 1.061/2021 – Institui o Programa Auxílio Brasil

1.1. Ficha normativa

MEDIDA PROVISÓRIA (MP) Nº 1.061/2021


Ementa: Institui o Programa Auxílio Brasil e o Programa Alimenta Brasil, e dá outras
providências.
Data de publicação: 10.08.2021
Início de vigência: Noventa dias, após 10.08.2021, quanto aos arts. 1º e 3º; 10/08/2021 –
quanto aos demais dispositivos.
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/
Mpv/mpv1061.htm>
Destaques:
• Criação do programa Auxílio Brasil.

• Unificação de políticas públicas de assistência social.

• Criação de nove benefícios.

1.2. Comentário

Em 10.08.2021, a MP nº 1.061 foi publicada, com início de vigência na data de sua publicação.
Exceto os arts. 1º e 3º, que terão vigência em 90 dias, a contar de sua publicação (08.11.2021).

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo “Institui o Programa Auxílio Brasil e o
Programa Alimenta Brasil, e dá outras providências”.

O Programa Auxílio Brasil constitui uma aglutinação de várias políticas públicas de assistência
social, saúde, educação, emprego e renda.  O programa representa um avanço na esfera da
assistência social, pois agrupa as políticas públicas e diretrizes do programa voltado às famílias em
condição de vulnerabilidade.

Nesse aspecto, interessante destacar que a medida provisória não previu critérios objetivos
para auferir a condição de miserabilidade, restando, portanto, indicação ao detalhamento deste
critério por meio de regulamento.

Art. 3º  Constituem benefícios financeiros do Programa Auxílio Brasil,


destinados a ações de transferência de renda com condicionalidades, nos
termos do regulamento: (...)

227 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
§ 2º São elegíveis ao Programa Auxílio Brasil as famílias em situação de
extrema pobreza e as famílias em situação de pobreza, nos termos do
regulamento.

§ 3º As famílias que, nos termos do regulamento, se enquadrarem na situação


de pobreza, apenas serão elegíveis ao Programa Auxílio Brasil se possuírem,
em sua composição, gestantes ou pessoas com idade até vinte e um anos
incompletos. (Grifos nossos.)

O Programa Auxílio Brasil está atrelado ao Ministério da Cidadania, e visa executar, por meio
da integração e da articulação de políticas, de programas e de ações voltadas ao fortalecimento
das ações do Sistema Único de Assistência Social, transferência de renda; desenvolvimento da
primeira infância; incentivar o esforço e o desenvolvimento pessoais; e emancipação cidadã (art.
1º da MP nº 1.061).

Não obstante, a referida medida elenca os objetivos do programa. E fica clara a predominância
das áreas social, da saúde, da educação, do emprego e da renda, conforme disposto no art. 1º, § 1º, da
MP nº 1.063.

Art. 1º Fica instituído o Programa Auxílio Brasil, no âmbito do Ministério da


Cidadania, executado por meio da integração e da articulação de políticas,
de programas e de ações voltadas:(...)

§ 1º São objetivos do Programa Auxílio Brasil:

I ‒ promover a cidadania com garantia de renda e apoiar, por meio dos


benefícios ofertados pelo SUAS, a articulação de políticas voltadas aos
beneficiários, com vistas à superação das vulnerabilidades sociais das
famílias;

II ‒ reduzir a pobreza e a extrema pobreza das famílias beneficiárias;

III ‒ promover, prioritariamente, o desenvolvimento das crianças e dos


adolescentes, por meio de apoio financeiro a gestantes, nutrizes, crianças e
adolescentes em situação de pobreza ou extrema pobreza;

IV ‒ promover o desenvolvimento das crianças na primeira infância, com


foco na saúde e nos estímulos às habilidades físicas, cognitivas, linguísticas
e socioafetivas, de acordo com o disposto na Lei nº 13.257, de 8 de março
de 2016;

V ‒ ampliar a oferta do atendimento das crianças em creches;

VI ‒ estimular crianças, adolescentes e jovens a terem desempenho


científico e tecnológico de excelência; e

228 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
VII ‒ estimular a emancipação das famílias em situação de pobreza e
extrema pobreza, principalmente por meio:

a) da inserção dos adolescentes, jovens e adultos no mercado de trabalho;

b) da integração das políticas socioassistenciais com as políticas de


promoção à inclusão produtiva; e

c) do incentivo ao empreendedorismo, ao microcrédito e à inserção ao


mercado de trabalho formal. (Grifos nossos.)

A partir de agora, em linhas gerais, abordaremos os benefícios previstos no Programa Auxílio


Brasil, e que possuem relevância para o direito previdenciário.

O Auxílio Brasil veio substituir o Programa Bolsa Família e o Programa de Aquisição de


Alimentos.

A MP nº 1.061 criou o Programa Alimenta Brasil, em substituição ao Programa de Aquisição de


Alimentos. O novo programa visa garantir a transparência e a visibilidade das compras governamentais
de alimentos à agricultura familiar, deste modo, o poder público comprará alimentos dos produtores
familiares e, por conseguinte, vai gerar renda para esses núcleos familiares.

O programa também tem a finalidade de promover a formação de estoque pelas cooperativas


e demais organizações da agricultura familiar; fortalecer circuitos locais e regionais e redes de
comercialização (art. 29 da MP nº 1.061). O Programa Alimenta Brasil tem como objetivo a emancipação
da população rural. Ele busca incentivar a inclusão econômica e social da população rural, e também o
acesso à alimentação para pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional.

E o faremos em um quadro sistematizado para melhor visualização dos principais aspectos dos
benefícios:

• Estudantes que se destacarem em competições


oficiais do sistema de jogos escolares brasileiros.

• Idade entre 12 e 17 anos incompletos.


Auxílio Esporte Escolar (art. 4º)
• Membros de famílias beneficiárias do Auxílio Brasil.

• Pessoal e intransferível.

• Doze parcelas mensais + uma parcela única.

229 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
• Estudantes com bom desempenho em competições
acadêmicas e científicas.

Bolsa de Iniciação Científica Júnior • Beneficiários do Auxílio Brasil.


(art. 5º) • Doze parcelas mensais + parcela única à família do
estudante.

• Pessoal e intransferível.

• Responsável por família com criança de zero a 48


meses incompletos que consiga fonte de renda mas
não encontre vaga em creches públicas ou privadas
da rede conveniada.
Auxílio Criança Cidadã (arts. 6º, 7º,
• Monoparental, preferencialmente.
8º, 9º, 10, 11, 12 e 13)
• Acesso da criança, em tempo integral ou parcial, a
creche.

• Pago até a criança completar 48 meses de vida.

• Agricultores familiares.

• Inscritos no Cadastro Único.


Auxílio Inclusão Produtiva Rural
(art. 14) • Incentivo a produção, doação e consumo de alimentos
saudáveis. 

• Pago por até 36 meses.

• Vínculo empregatício formal.

Auxílio Inclusão Produtiva Urbana • Folha de pagamento do programa Auxílio Brasil (art. 3º).

(art. 15) • Encerrado: se deixar de comprovar o vínculo de


emprego formal ou deixar de atender aos critérios de
permanência no Programa Auxílio Brasil.

• Famílias que estavam na folha de pagamento do


Bolsa Família e perderem parte do valor recebido em
decorrência do enquadramento no Auxílio Brasil.
Benefício Compensatório de • Será concedido no período de implementação do
Transição (art. 16) Programa Auxílio Brasil.

• Mantido até que haja majoração do valor recebido


pela família ou até que não se enquadre mais nos
critérios de elegibilidade.

230 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Benefício Primeira Infância • Família com criança entre zero e 36 meses incompletos.
(art. 3º, I) • Pago por integrante.

• Família com gestante.

• Família com pessoa com idade entre 3 e 21 anos


Benefício Composição Familiar incompletos.
(art. 3º, II)
• No quesito idade o atual programa abrange os jovens
de 18 a 21 anos incompletos, os quais não tinham
direito ao Bolsa Família.

• Família  em situação com renda igual ou inferior ao


Benefício de Superação da Extrema valor da linha de extrema pobreza.
Pobreza (art. 3º, III)
• Critério depende de regulamentação.

Não obstante, a MP nº 1.061 confere conceitos importantes que delimitam a concessão dos
benefícios previstos no Programa Auxílio Brasil, que estão elencados no art. 2º da referida MP e
merecem atenção:

Art. 2º Para fins do disposto nesta Medida Provisória, considera-se:

I ‒ família ‒ núcleo composto por uma ou mais pessoas que formem um


grupo doméstico, com residência no mesmo domicílio e que contribuam
para o rendimento ou que dele dependam para atendimento de suas
despesas;

II ‒ renda familiar mensal ‒ soma dos rendimentos brutos auferidos por


todos os membros da família, com a exclusão dos rendimentos concedidos
por programas governamentais;

III ‒ domicílio ‒ local que serve de moradia à família; e

IV ‒ renda familiar per capita mensal ‒ razão entre a renda familiar mensal


e o total de indivíduos da família.

Parágrafo único. Para os fins do disposto no inciso I do caput, eventualmente,


a família pode ser ampliada por indivíduos que possuam laços de
parentesco ou de afinidade. (Grifos nossos.)

Por fim, a MP nº 1.061 prevê, no seu art. 19, regra de emancipação, a qual consiste no
desligamento gradual dos beneficiários que tiverem aumento da renda per capita, devendo a nova
renda ultrapassar o limite para a inclusão no Auxílio Brasil, sendo os beneficiários mantidos na folha
de pagamento por mais 24 meses.

231 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
1.3. Questão inédita comentada

Considere as inovações promovidas pelo Programa Auxílio Brasil e julgue o item:

O Programa Auxílio Brasil é medida assistencial que visa promover a concretização de direitos
sociais da social, saúde, educação, emprego e renda, e passa a integrar o programa já existente e
consolidado do Bolsa Família.

CERTO ( ) ERRADO ( )

O item está errado.

Embora tenha iniciado de forma correta, a sua parte final está errada. O Programa Auxílio Brasil
vem como medida substitutiva do Programa Bolsa Família. Veja o art. 42 da MP nº 1.061: “Art. 42.
Os normativos infralegais que disciplinam o Programa Bolsa Família e o Programa de Aquisição de
Alimentos, no que forem compatíveis com esta Medida Provisória, permanecem em vigor até que
sejam reeditados”.

232 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EDUCACIONAL
1. Lei nº 14.191/2021 ‒ Educação bilíngue de surdos

1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.191/2021
Ementa: Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional), para dispor sobre a modalidade de educação bilíngue de
surdos.

Data de publicação: 04.08.2021


Início de vigência: 04.08.2021
Link do texto normativo:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/
Lei/L14191.htm>
Destaques:
• Inclui como princípio da educação nacional o respeito à diversidade humana, linguística,
cultural e identitária das pessoas surdas, surdo-cegas e com deficiência auditiva.

• Regulamenta a educação de pessoas surdas, denominada educação bilíngue de surdos.

1.2. Comentário

Em 04.08.2021, foi publicada a Lei nº 14.191, com início imediato de vigência.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo “altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro
de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), para dispor sobre a modalidade de
educação bilíngue de surdos”. A norma é oriunda do Projeto de Lei nº 4.909/2020, que visava
atender demandas da comunidade surda e da Federação Nacional de Educação e Integração dos
Surdos (Feneis).

O objetivo é, portanto, em respeito à diversidade, integrar as pessoas surdas, surdo-cegas e com


deficiência auditiva e garantir a elas educação básica adequada. Nesse sentido, foi incluído no art.
3º da Lei nº 9.394/1996, como princípio da educação nacional, “o respeito à diversidade humana,
linguística, cultural e identitária das pessoas surdas, surdo-cegas e com deficiência auditiva”.

Além disso, foi incluído o Capítulo V-A no Título V (“Dos Níveis e das Modalidades de Educação
e Ensino”), denominado “Da Educação Bilíngue de Surdos”, em que é disciplinada essa modalidade
de educação especial.

233 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EDUCACIONAL
O art. 60-A, caput apresenta o conceito de educação bilíngue de surdos:

Art. 60-A. Entende-se por educação bilíngue de surdos, para os efeitos


desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida em Língua Brasileira
de Sinais (Libras), como primeira língua, e em português escrito, como
segunda língua, em escolas bilíngues de surdos, classes bilíngues de
surdos, escolas comuns ou em polos de educação bilíngue de surdos, para
educandos surdos, surdo-cegos, com deficiência auditiva sinalizantes,
surdos com altas habilidades ou superdotação ou com outras deficiências
associadas, optantes pela modalidade de educação bilíngue de surdos.
(Grifos nossos.)

Ressalta-se, dessa previsão, que a Libras é reconhecida como primeira língua dos surdos.

Outra previsão importante é a contida no § 2º do art. 60-A, segundo a qual “a oferta de educação
bilíngue de surdos terá início ao zero ano, na educação infantil, e se estenderá ao longo da vida”
(grifos nossos).

Além disso, imperioso ressaltar que a modalidade de educação escolar bilíngue é uma opção
das pessoas surdas, que possuem a prerrogativas de matrícula em escolas e classes regulares, de
acordo com o que decidir o estudante ou, no que couber, seus pais ou responsáveis. Nesse sentido,
veja o que determina o § 3º do art. 60-A:

§ 3º O disposto no caput deste artigo será efetivado sem prejuízo das


prerrogativas de matrícula em escolas e classes regulares, de acordo com
o que decidir o estudante ou, no que couber, seus pais ou responsáveis, e
das garantias previstas na Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 (Estatuto da
Pessoa com Deficiência), que incluem, para os surdos oralizados, o acesso a
tecnologias assistivas.

Por fim, às pessoas surdas ou com outras deficiências associadas serão assegurados materiais
didáticos e professores bilíngues com formação e especialização adequadas, em nível superior, na
forma do art. 60-B, também incluído pela Lei nº 14.191/2021 na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (Lei nº 9.394/1996). O parágrafo único desse mesmo dispositivo prevê, ainda, que “nos
processos de contratação e de avaliação periódica dos professores a que se refere o caput  deste
artigo serão ouvidas as entidades representativas das pessoas surdas”.

Outrossim, acrescentou os arts. 78-A e 79-C à Lei nº 9.394/1996, estabelecendo que os sistemas
de ensino, em regime de colaboração, desenvolverão programas integrados, prevendo, ainda, o
apoio técnico e financeiro da União.

234 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EDUCACIONAL
Art. 78-A. Os sistemas de ensino, em regime de colaboração, desenvolverão
programas integrados de ensino e pesquisa, para oferta de educação escolar
bilíngue e intercultural aos estudantes surdos, surdo-cegos, com deficiência
auditiva sinalizantes, surdos com altas habilidades ou superdotação ou com
outras deficiências associadas, com os seguintes objetivos:

I ‒ proporcionar aos surdos a recuperação de suas memórias históricas, a


reafirmação de suas identidades e especificidades e a valorização de sua
língua e cultura;

II ‒ garantir aos surdos o acesso às informações e conhecimentos técnicos e


científicos da sociedade nacional e demais sociedades surdas e não surdas.

Art. 79-C. A União apoiará técnica e financeiramente os sistemas de ensino


no provimento da educação bilíngue e intercultural às comunidades surdas,
com desenvolvimento de programas integrados de ensino e pesquisa.

§ 1º Os programas serão planejados com participação das comunidades


surdas, de instituições de ensino superior e de entidades representativas
das pessoas surdas.

§ 2º Os programas a que se refere este artigo, incluídos no Plano Nacional


de Educação, terão os seguintes objetivos:

I ‒ fortalecer as práticas socioculturais dos surdos e a Língua Brasileira de


Sinais;

II ‒ manter programas de formação de pessoal especializado, destinados


à educação bilíngue escolar dos surdos, surdo-cegos, com deficiência
auditiva sinalizantes, surdos com altas habilidades ou superdotação ou com
outras deficiências associadas;

III ‒ desenvolver currículos, métodos, formação e programas específicos,


neles incluídos os conteúdos culturais correspondentes aos surdos;

IV ‒ elaborar e publicar sistematicamente material didático bilíngue,


específico e diferenciado.

§ 3º Na educação superior, sem prejuízo de outras ações, o atendimento


aos estudantes surdos, surdo-cegos, com deficiência auditiva sinalizantes,
surdos com altas habilidades ou superdotação ou com outras deficiências
associadas efetivar-se-á mediante a oferta de ensino bilíngue e de assistência
estudantil, assim como de estímulo à pesquisa e desenvolvimento de
programas especiais.

235 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EDUCACIONAL
1.3. Questão inédita comentada
Sobre a educação bilíngue de surdos, disciplinada no Capítulo V-A da Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996), é correto afirmar que:

A) O português escrito será oferecido como primeira língua e a Língua Brasileira de Sinais (Libras)
como segunda língua.

B) Haverá, quando necessário, serviços de apoio educacional especializado, como o atendimento


educacional especializado bilíngue, para atender às especificidades linguísticas dos estudantes
surdos.

C) A oferta de educação bilíngue de surdos terá início ao zero ano, na educação infantil, e se
estenderá até a conclusão do ensino fundamental.

D) Os educandos surdos, surdo-cegos, com deficiência auditiva sinalizantes, surdos com altas
habilidades ou superdotação ou com outras deficiências associadas,  serão necessariamente
matriculados em instituições de ensino especializadas que ofereçam a educação bilíngue e
atendimento personalizado.

E) Nos processos de contratação e de avaliação periódica dos professores bilíngues com formação e
especialização adequadas será ouvida a Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência
ou o órgão público competente de cada ente.

Alternativa correta: letra B. É o que prevê o art. 60-A, § 1º, da Lei nº 9.394/1996, incluído pela
Lei nº 14.191/2021.

Art. 60-A. (...)

§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio educacional especializado,


como o atendimento educacional especializado bilíngue, para atender às
especificidades linguísticas dos estudantes surdos.

Demais alternativas:

Alternativa A. Errada. Conforme dispõe o art. 60-A, caput, da Lei nº 9.394/1996, incluído
pela Lei nº 14.191/2021, entende-se por educação bilíngue de surdos, para os efeitos desta lei, a
modalidade de educação escolar oferecida em Língua Brasileira de Sinais (Libras), como primeira
língua, e em português escrito, como segunda língua.

236 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EDUCACIONAL
Art. 60-A. Entende-se por educação bilíngue de surdos, para os efeitos desta
Lei, a modalidade de educação escolar oferecida em Língua Brasileira de
Sinais (Libras), como primeira língua, e em português escrito, como segunda
língua, em escolas bilíngues de surdos, classes bilíngues de surdos, escolas
comuns ou em polos de educação bilíngue de surdos, para educandos
surdos, surdo-cegos, com deficiência auditiva sinalizantes, surdos com
altas habilidades ou superdotação ou com outras deficiências associadas,
optantes pela modalidade de educação bilíngue de surdos.

Alternativa C. Errada. Nos termos do art. 60-A, § 2º, da Lei nº 9.394/1996, incluído pela Lei nº
14.191/2021, a oferta de educação bilíngue de surdos terá início ao zero ano, na educação infantil, e
se estenderá ao longo da vida.

Art. 60-A. (...)

§ 2º A oferta de educação bilíngue de surdos terá início ao zero ano, na


educação infantil, e se estenderá ao longo da vida.

Alternativa D. Errada. Nos termos do art. 60-A, § 3º, da Lei nº 9.394/1996, incluído pela Lei nº
14.191/2021, trata-se de uma opção do aluno ou dos pais e responsáveis:

O disposto no caput deste artigo será efetivado sem prejuízo das


prerrogativas de matrícula em escolas e classes regulares, de acordo com
o que decidir o estudante ou, no que couber, seus pais ou responsáveis, e
das garantias previstas na Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 (Estatuto da
Pessoa com Deficiência), que incluem, para os surdos oralizados, o acesso a
tecnologias assistivas.

Alternativa E. Errada. Nos termos do art. 60-B, parágrafo único, da Lei nº 9.394/1996, incluído
pela Lei nº 14.191/2021, “nos processos de contratação e de avaliação periódica dos professores a
que se refere o caput deste artigo serão ouvidas as entidades representativas das pessoas surdas”.

237 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ELEITORAL
1. Lei nº 14.192/2021 ‒ Normas para prevenir, reprimir e combater a
violência política contra a mulher

1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.192/2021
Ementa: Estabelece normas para prevenir, reprimir e combater a violência política contra
a mulher; e altera a Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965 (Código Eleitoral), a Lei nº
9.096, de 19 de setembro de 1995 (Lei dos Partidos Políticos), e a Lei nº 9.504, de 30
de setembro de 1997 (Lei das Eleições), para dispor sobre os crimes de divulgação
de fato ou vídeo com conteúdo inverídico no período de campanha eleitoral, para
criminalizar a violência política contra a mulher e para assegurar a participação de
mulheres em debates eleitorais proporcionalmente ao número de candidatas às
eleições proporcionais.

Data de publicação: 05.08.2021

Início de vigência: 05.08.2021

Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/


L14192.htm>
Destaques:
• A lei altera as seguintes normas: Lei nº 4.737/1965 (Código Eleitoral); Lei nº 9.096/1995
(Lei dos Partidos Políticos); e Lei nº 9.504/1997 (Lei das Eleições).

• Visa prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher, especialmente no


tocante ao exercício dos seus direitos políticos e de suas funções públicas.

• A lei também assegura a participação de mulheres em debates eleitorais e dispõe sobre os


crimes de divulgação de fato ou vídeo com conteúdo inverídico no período de campanha
eleitoral.

1.2. Comentário

Em 05.08.2020 foi publicada a Lei nº 14.192/2021 com início imediato de vigência.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo altera importantes normas do direito
eleitoral, tais como: Lei nº 4.737/1965 (Código Eleitoral); Lei nº 9.096/1995 (Lei dos Partidos Políticos);
e Lei nº 9.504/1997 (Lei das Eleições).

238 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ELEITORAL
As alterações visam prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher, nos
espaços e atividades relacionados ao exercício de seus direitos políticos e de suas funções públicas.
Também assegura a participação de mulheres em debates eleitorais e dispõe sobre os crimes de
divulgação de fato ou vídeo com conteúdo inverídico no período de campanha eleitoral.

Das alterações promovidas pelo diploma legislativo, merecem maior atenção o seguinte:

a) A lei conceituou a chamada violência política contra a mulher, sendo, de acordo com o art.
3º, “toda ação, conduta ou omissão com a finalidade de impedir, obstaculizar ou restringir os direitos
políticos da mulher”.

b) A lei também incluiu no art. 243 do Código Eleitoral (Lei nº 4.737/1965) o inciso X, prevendo
como propaganda não tolerada aquela que deprecie a condição de mulher ou estimule sua
discriminação em razão do sexo feminino, ou em relação à sua cor, raça ou etnia.

c) No que tange aos crimes eleitorais, a lei alterou o art. 323, também do Código Eleitoral, que
passou a ter a seguinte redação:

Art. 323. Divulgar, na propaganda eleitoral ou durante período de


campanha eleitoral, fatos que sabe inverídicos em relação a partidos ou a
candidatos e capazes de exercer influência perante o eleitorado: (Redação
dada pela Lei nº 14.192, de 2021.)

Pena ‒ detenção de dois meses a um ano, ou pagamento de 120 a 150 dias-


-multa.

§ 1º Nas mesmas penas incorre quem produz, oferece ou vende vídeo com
conteúdo inverídico acerca de partidos ou candidatos. (Incluído pela Lei nº
14.192, de 2021.)

§ 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até metade se o crime: (Incluído


pela Lei nº 14.192, de 2021.)

I ‒ é cometido por meio da imprensa, rádio ou televisão, ou por meio da


internet ou de rede social, ou é transmitido em tempo real; (Incluído pela Lei
nº 14.192, de 2021.)

II ‒ envolve menosprezo ou discriminação à condição de mulher ou à sua


cor, raça ou etnia. (Incluído pela Lei nº 14.192, de 2021.)

239 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ELEITORAL
Como visto, a lei instituiu como causa de aumento de pena o menosprezo ou discriminação à
condição de mulher ou à sua cor, raça ou etnia.

Foi acrescentado ainda o art. 326-B, que tipificou o seguinte crime:

Art. 326-B. Assediar, constranger, humilhar, perseguir ou ameaçar, por


qualquer meio, candidata a cargo eletivo ou detentora de mandato eletivo,
utilizando-se de menosprezo ou discriminação à condição de mulher ou
à sua cor, raça ou etnia, com a finalidade de impedir ou de dificultar a sua
campanha eleitoral ou o desempenho de seu mandato eletivo.

Pena ‒ reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço), se o crime é


cometido contra mulher:

I ‒ gestante;

II ‒ maior de 60 (sessenta) anos;

III ‒ com deficiência.

Por sua vez, no que diz respeito a propaganda eleitoral, a lei alterou a Lei das Eleições (Lei nº
9.504/1997), dispondo o seguinte:

Art. 46.  Independentemente da veiculação de propaganda eleitoral gratuita


no horário definido nesta Lei, é facultada a transmissão por emissora de
rádio ou televisão de debates sobre as eleições majoritária ou proporcional,
assegurada a participação de candidatos dos partidos com representação
no Congresso Nacional, de, no mínimo, cinco parlamentares, e facultada a
dos demais, observado o seguinte: 

(...)

II ‒ nas eleições proporcionais, os debates poderão desdobrar-se em mais


de um dia e deverão ser organizados de modo que assegurem a presença
de número equivalente de candidatos de todos os partidos que concorrem
a um mesmo cargo eletivo, respeitada a proporção de homens e mulheres
estabelecida no § 3º do art. 10 desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 14.192,
de 2021.)

Por fim, a lei estabeleceu em seu art. 7º o prazo de 120 (cento e vinte) dias contados da data de
sua publicação para que os partidos políticos adéquem seus estatutos.

240 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ELEITORAL
1.3. Questão inédita comentada

A Lei nº 14.192/2021 promoveu importantes alterações nas Leis nºs 4.737/1965 (Código
Eleitoral), 9.096/1995 (Lei dos Partidos Políticos) e 9.504/1997 (Lei das Eleições). Acerca destas
alterações, e também das disposições da nova norma, marque a alternativa correta.

A) Considera-se violência política contra a mulher toda ação ou conduta com a finalidade de
impedir, obstaculizar ou restringir os direitos políticos da mulher. A lei não previu dentro do conceito
a omissão.

B) Considera-se crime assediar, constranger, humilhar, perseguir ou ameaçar, por qualquer meio,
candidata a cargo eletivo ou detentora de mandato eletivo, utilizando-se de menosprezo ou
discriminação à condição de mulher. No que diz respeito à cor, à raça ou à etnia, o crime está tipificado
em outro dispositivo.

C) Os partidos políticos deverão adequar seus estatutos ao disposto na nova lei dentro de 120 dias,
contados da data de sua publicação.

D) Aumenta-se a pena do crime previsto no art. 323 do Código Eleitoral em metade, caso envolva
menosprezo ou discriminação à condição de mulher ou à sua cor, raça ou etnia.

E) A lei possui como objetivo prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher nos
espaços e atividades relacionados ao exercício de seus direitos políticos e de suas funções públicas,
mas não prevê acerca das medidas para assegurar a participação de mulheres em debates eleitorais.

Alternativa correta: letra C. Correta, pois é o que consta do art. 7º da Lei nº 14.192/2021,
segundo o qual “os partidos políticos deverão adequar seus estatutos ao disposto nesta Lei no prazo
de 120 (cento e vinte) dias, contado da data de sua publicação.”

Demais alternativas:

Alternativa A. Errada, pois, de acordo com o art. 3º da Lei nº 14.192/2021, “considera-se violência
política contra a mulher toda ação, conduta ou omissão com a finalidade de impedir, obstaculizar ou
restringir os direitos políticos da mulher” (grifo nosso).

241 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ELEITORAL
Alternativa B. Errada, pois, de acordo com o art. 326-B da Lei nº 4.737/1965  (Código
Eleitoral), alterado pela Lei nº 14.192/2021, é crime assediar, constranger, humilhar, perseguir
ou ameaçar, por qualquer meio, candidata a cargo eletivo ou detentora de mandato eletivo,
utilizando-se de menosprezo ou discriminação à condição de mulher ou à sua cor, raça ou etnia,
com a finalidade de impedir ou de dificultar a sua campanha eleitoral ou o desempenho de seu
mandato eletivo. (Grifos nossos.)

Alternativa D. Errada, pois, de acordo com o art. 323, § 2º, II, do Código Eleitoral, alterado pela
Lei nº 14.192/2021, aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até metade se o crime envolve menosprezo
ou discriminação à condição de mulher ou à sua cor, raça ou etnia.

Art. 323. Divulgar, na propaganda eleitoral ou durante período de campanha


eleitoral, fatos que sabe inverídicos em relação a partidos ou a candidatos e
capazes de exercer influência perante o eleitorado: (Redação dada pela Lei
nº 14.192, de 2021.) (...)

§ 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até metade se o crime: (Incluído


pela Lei nº 14.192, de 2021.)

II ‒ envolve menosprezo ou discriminação à condição de mulher ou à sua


cor, raça ou etnia. (Incluído pela Lei nº 14.192, de 2021.)

Alternativa E. Errada, pois, de acordo com o art. 1º da Lei nº 14.192/2021, a norma estabelece
regras para “prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher, nos espaços e
atividades relacionados ao exercício de seus direitos políticos e de suas funções públicas, inclusive,
para assegurar a participação de mulheres em debates eleitorais” (grifos nossos).

242 Caderno de novidades legislativas


DIREITOS DA PESSOA COM
DEFICIÊNCIA
1. Lei nº 14.191/2021 ‒ Educação bilíngue de surdos

1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.191/2021
Ementa: Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional), para dispor sobre a modalidade de educação bilíngue de
surdos.

Data de publicação: 04.08.2021

Início de vigência: 04.08.2021


Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/
Lei/L14191.htm>
Destaques:
• Inclui como princípio da educação nacional o respeito à diversidade humana, linguística,
cultural e identitária das pessoas surdas, surdo-cegas e com deficiência auditiva.

• Regulamenta a educação de pessoas surdas, denominada educação bilíngue de surdos.

1.2. Comentário

Em relação ao Direito da Pessoa com Deficiência, a Lei nº 14.191/2021 traz como inovação o
conceito de educação bilíngue às pessoas com deficiência auditiva.

Entretanto, para concentrar a abordagem das inovações veiculadas por esse novo ato
normativo, a sua análise encontra-se em direito educacional.

243 Caderno de novidades legislativas


Setembro
2021
DIREITO PENAL
1. Lei nº 14.197/2021 ‒ Acrescenta o Título XII na Parte Especial do
Código Penal, relativo aos crimes contra o Estado Democrático de
Direito

1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.197/2021
Ementa: Acrescenta o Título XII na Parte Especial do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro
de 1940 (Código Penal ‒ CP), relativo aos crimes contra o Estado Democrático
de Direito; e revoga a Lei nº 7.170, de 14 de dezembro de 1983 (Lei de Segurança
Nacional), e dispositivo do Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941 (Lei das
Contravenções Penais).

Data de publicação: 02.09.2021


Início de vigência: 1º.12.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/
L14197.htm>
Destaques:
• Acrescenta o Título XII na Parte Especial do CP, relativo aos crimes contra o Estado
Democrático de Direito.

• Revoga a Lei nº 7.170, de 14 de dezembro de 1983 (Lei de Segurança Nacional).

• Revoga o art. 39 do Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941 (Lei das Contravenções


Penais).

1.2. Comentário

Esta lei acrescenta o Título XII na Parte Especial do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro
de 1940 (CP), relativo aos crimes contra o Estado Democrático de Direito. O título foi enviado à
promulgação do presidente da República com seis capítulos, a saber.

245 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PENAL

Capítulo I Dos Crimes contra a Soberania Nacional

Capítulo II Dos Crimes contra as Instituições Democráticas


Título XII
Dos Crimes contra o Funcionamento das Instituições
Dos Crimes Capítulo III
Democráticas no Processo Eleitoral
contra o Estado
Democrático de Dos Crimes contra o Funcionamento dos Serviços
Capítulo IV
Direito Essenciais

Capítulo V (VETADO) Dos Crimes contra a Cidadania

Capítulo VI Disposições Comuns

Em relação aos crimes contra a soberania nacional, houve a definição dos seguintes crimes:
(i) atentado à soberania, definido como o ato de “Negociar com governo ou grupo estrangeiro, ou
seus agentes, com o fim de provocar atos típicos de guerra contra o País ou invadi-lo”, com pena de
reclusão, de 3 a 8 anos; (ii) atentado à integridade nacional, o ato de “Praticar violência ou grave ameaça
com a finalidade de desmembrar parte do território nacional para constituir país independente”,
com pena de reclusão, de 2 a 6 anos, além da pena correspondente à violência; e (iii) espionagem,
ato de “Entregar a governo estrangeiro, a seus agentes, ou a organização criminosa estrangeira, em
desacordo com determinação legal ou regulamentar, documento ou informação classificados como
secretos ou ultrassecretos nos termos da lei, cuja revelação possa colocar em perigo a preservação
da ordem constitucional ou a soberania nacional”, que possui pena de reclusão, de 3 a 12 anos.

Quanto aos crimes contra as instituições democráticas os tipos penais firmados foram os
seguintes: (i) abolição violenta do Estado Democrático de Direito, definido como o ato de “Tentar,
com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou
restringindo o exercício dos poderes constitucionais”, a pena é de reclusão, de 4 a 8 anos, além da
pena correspondente à violência; e (ii) golpe de Estado como o ato de “Tentar depor, por meio de
violência ou grave ameaça, o governo legitimamente constituído”, tendo a pena de reclusão, de 4 a
12 anos, além da pena correspondente à violência.

246 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PENAL
Os estabelecidos como crimes contrários ao funcionamento das instituições democráticas
no processo eleitoral foram os seguintes tipos: (i) interrupção do processo eleitoral, como sendo o
ato de “Impedir ou perturbar a eleição ou a aferição de seu resultado, mediante violação indevida
de mecanismos de segurança do sistema eletrônico de votação estabelecido pela Justiça Eleitoral”,
com pena de reclusão, de 3 a 6 anos, e multa; e (ii) violência política, definido como a conduta de
“Restringir, impedir ou dificultar, com emprego de violência física, sexual ou psicológica, o exercício
de direitos políticos a qualquer pessoa em razão de seu sexo, raça, cor, etnia, religião ou procedência
nacional”, com pena de reclusão, de 3 a 6 anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

Já em relação aos crimes contra o funcionamento dos serviços essenciais estabeleceu-


-se o delito de sabotagem como o ato de “Destruir ou inutilizar meios de comunicação ao público,
estabelecimentos, instalações ou serviços destinados à defesa nacional, com o fim de abolir o Estado
Democrático de Direito”, estabelecendo pena de reclusão, de 2 a 8 anos.

No capítulo referente às disposições comuns ao título acrescentado ao CP, estabeleceu-se


não constituir crime contra o Estado Democrático de Direito “a manifestação crítica aos poderes
constitucionais nem a atividade jornalística ou a reivindicação de direitos e garantias constitucionais
por meio de passeatas, de reuniões, de greves, de aglomerações ou de qualquer outra forma de
manifestação política com propósitos sociais”.

Acrescente-se que, por meio da Mensagem nº 427, de 1º de setembro de 2021, decidiu o


presidente da República vetar parcialmente alguns dispositivos, dentre eles:

a) Art. 2º do Projeto de Lei, na parte em que acrescenta o Capítulo V à Parte Especial do Decreto-
Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940.

b) Art. 2º do Projeto de Lei, na parte em que acrescenta a especificação temática


comunicação enganosa em massa, e o art. 359-O à Parte Especial do Decreto-Lei nº 2.848, de 7
de dezembro de 1940.

c) Art. 2º do Projeto de Lei, na parte em que acrescenta a especificação temática ação


penal privada subsidiária, e o art. 359-Q à Parte Especial do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940.

d) Art. 2º do Projeto de Lei, na parte em que acrescenta o inciso III do caput do art. 359-U à
Parte Especial do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940.

247 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PENAL
e) Art. 2º do Projeto de Lei, na parte em que acrescenta a especificação temática aumento de
pena, o caput e os incisos I e II do art. 359-U, da Parte Especial do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940.

Além disso, com a definição dos citados crimes agora no CP, a norma revoga a Lei nº 7.170, de
14 de dezembro de 1983 (Lei de Segurança Nacional), que define, até o momento, os crimes contra
a segurança nacional, a ordem política e social, estabelece seu processo e julgamento, e dá outras
providências.

Também houve a revogação do art. 39 do Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941 (Lei


das Contravenções Penais), que definia como contravenção: “Art. 39. Participar de associação de
mais de cinco pessoas, que se reúnam periodicamente, sob compromisso de ocultar à autoridade a
existência, objetivo, organização ou administração da associação: (...)”.

A lei ainda alterou dois dispositivos do CP, vejamos:

ANTES DA LEI Nº 14.197/2021 DEPOIS DA LEI Nº 14.197/2021


Art. 141. As penas cominadas neste Capítulo Art. 141. As penas cominadas neste Capítulo
aumentam-se de um terço, se qualquer dos aumentam-se de um terço, se qualquer dos
crimes é cometido: (...) crimes é cometido: (...)

II ‒ contra funcionário público, em razão de II ‒ contra funcionário público, em razão de suas


suas funções; funções, ou contra os Presidentes do Senado
Federal, da Câmara dos Deputados ou do
Supremo Tribunal Federal; (...) (Grifos nossos.)

Incitação ao crime Incitação ao crime

Art. 286. Incitar, publicamente, a prática de Art. 286. Incitar, publicamente, a prática de crime:
crime:

Pena ‒ detenção, de três a seis meses, ou multa.


Pena ‒ detenção, de três a seis meses, ou
multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena
quem incita, publicamente, animosidade
entre as Forças Armadas, ou delas contra os
poderes constitucionais, as instituições civis
ou a sociedade. (Grifos nossos).

248 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PENAL
Por fim, enfatiza-se que a Lei nº 14.197/2021 entra em vigor depois de decorridos 90 (noventa)
dias de sua publicação oficial. Como a publicação oficial no DOU ocorreu em 02.09.2021, o início de
sua vigência é a data de 1º.12.2021.

1.3. Questão inédita comentada

Trata-se de correta definição de crime contra o Estado Democrático de Direito, conforme


estabelecido pela Lei nº 14.197/2021 ao Título XII do CP:

A) Atentado à soberania, crime contra a soberania nacional, definido como a conduta de praticar
violência ou grave ameaça com a finalidade de desmembrar parte do território nacional para
constituir país independente.

B) Violência política, crime contrário ao funcionamento das instituições democráticas no processo


eleitoral, definido como a conduta de restringir, impedir ou dificultar, com emprego de violência
física, sexual ou psicológica, o exercício de direitos políticos a qualquer pessoa em razão de seu sexo,
raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

C) Golpe de estado é um crime definido no capítulo dos crimes contrários ao funcionamento das
instituições democráticas no processo eleitoral.

D) Crime de sabotagem é definido no capítulo dos crimes contra as instituições democráticas.

E) Abolição violenta do Estado Democrático de Direito é o crime de impedir ou perturbar a eleição


ou a aferição de seu resultado, mediante violação indevida de mecanismos de segurança do sistema
eletrônico de votação estabelecido pela Justiça Eleitoral.

Alternativa correta: letra B. Houve a correta definição do crime de violência política


estabelecido pela Lei nº 14.197/2021, vejamos:

Violência política

Art. 359-P. Restringir, impedir ou dificultar, com emprego de violência física,


sexual ou psicológica, o exercício de direitos políticos a qualquer pessoa em
razão de seu sexo, raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional:

Pena ‒ reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa, além da pena


correspondente à violência.

249 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PENAL
Além disso, houve sua correta inclusão como sendo um dos crimes contrários ao funcionamento
das instituições democráticas no processo eleitoral (Capítulo III).

Demais alternativas:

Alternativa A. Incorreta. Ainda que o ato de atentado a soberania seja de fato um crime contra
a soberania nacional (Capítulo I do Título XII do CP) a definição do ato está incorreta. A definição
correta é a seguinte: “Negociar com governo ou grupo estrangeiro, ou seus agentes, com o fim de
provocar atos típicos de guerra contra o País ou invadi-lo” (art. 359-I do CP), a alternativa trouxe a
definição do crime de atentado à integridade nacional (art. 359-J do CP).

Alternativa C. Incorreta. Na realidade o crime de “Golpe de Estado” é tratado como um crime


contra as instituições democráticas (Capítulo II, do Título XII do CP) e não como um crime contrário ao
funcionamento das instituições democráticas no processo eleitoral (Capítulo III, do Título XII do CP).

Alternativa D. Incorreta. Na realidade o crime de “sabotagem” é tratado como um crime contra


o funcionamento dos serviços essenciais (Capítulo IV, do Título XII do CP) e não como um crime
contra as instituições democráticas (Capítulo II, do Título XII do CP).

Alternativa E. Incorreta. Não houve a definição correta do crime de “abolição violenta do


Estado Democrático de Direito”, que é o delito de o ato de “Tentar, com emprego de violência ou
grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos
poderes constitucionais: (...)” (art. 359-L do CP). A definição trazida na afirmativa foi a de crime de
“interrupção do processo eleitoral” (art. 359-N do CP).

250 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
1. Lei nº 14.199/2021 – A gratuidade e o acesso ao INSS, e o programa
de revisão de benefícios

1.1.  Ficha normativa

LEI Nº 14.199/2021
Ementa: Altera as Leis nºs 8.212, de 24 de julho de 1991, e 8.213, de 24 de julho de 1991,
para dispor sobre medidas alternativas de prova de vida para os beneficiários da
Previdência Social durante o estado de calamidade pública reconhecido pelo
Congresso Nacional; e dá outras providências.

Data de publicação: 03.09.2021


Início de vigência: 03.09.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/
Lei/L14199.htm>
Destaques:
• Gratuidade de procuração pública para fins previdenciários.

• Programa permanente de revisão da concessão e manutenção de benefícios.

• Responsabilidade da instituição financeira da devolução do valor pago indevidamente a


título de benefício previdenciário.

1.2. Comentário

Em 03.09.2021, a Lei nº 14.199 foi publicada, com início de vigência na data de sua publicação.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo “Altera as Leis nºs 8.212, de 24 de julho de
1991, e 8.213, de 24 de julho de 1991, para dispor sobre medidas alternativas de prova de vida para
os beneficiários da Previdência Social durante o estado de calamidade pública reconhecido pelo
Congresso Nacional; e dá outras providências”.

A nova lei promove alteração nas Leis nºs 8.212/1991 e 8.213/1991. Sendo possível destacar três
pontos importantes da legislação:

• institui a gratuidade na expedição de procuração pública para fins previdenciários;

• determina a instauração de programa permanente de revisão da concessão e manutenção de


benefícios; e

• prevê a responsabilidade das instituições financeiras pela devolução dos valores pagos
indevidamente a título de benefício previdenciário.

251 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
A Lei nº 14.199/2021 inseriu o art. 68-A à Lei nº 8.212/1991, a qual prevê a gratuidade da
expedição de procuração pública para receber um benefício previdenciário ou assistencial do INSS.
A procuração pública é expedida no tabelionato de notas e, como regra, são devidas as custas e
emolumentos. Todavia, a nova legislação isenta do pagamento de custas e emolumentos quando a
lavratura da procuração pública tem finalidade previdenciária.

Sendo assim, a Lei nº 14.199/2021 inclui o art. 68-A na Lei nº 8.212/1991.

Art. 68-A. A lavratura de procuração pública e a emissão de sua primeira


via para fins exclusivos de recebimento de benefícios previdenciários ou
assistenciais administrados pelo INSS são isentas do pagamento das custas
e dos emolumentos.   

Outrossim, outra gratuidade prevista na novel legislação trata da previsão do processo


administrativo eletrônico para requerimento de benefícios e serviços e da gratuidade de ligação
para o INSS. Foram inseridos novos dispositivos na Lei nº 8.213/1991:

Art. 124-A. O INSS implementará e manterá processo administrativo


eletrônico para requerimento de benefícios e serviços e disponibilizará
canais eletrônicos de atendimento. (...)

§ 4º As ligações telefônicas realizadas de telefone fixo ou móvel que visem à


solicitação dos serviços referidos no § 1º deste artigo deverão ser gratuitas e
serão consideradas de utilidade pública. 

Por outro lado, a lei ora em comento estabeleceu o programa permanente de revisão da
concessão e manutenção de benefícios. O art. 69 da Lei nº 8.212/1991 prevê que o INSS deverá manter
um programa permanente de revisão da concessão e manutenção dos benefícios previdenciários.
A novidade trazida pela Lei nº 14.199/2021 é a realização do recenseamento para atualização do
cadastro dos beneficiários e a comprovação anual de prova de vida. Observe os novos dispositivos
acrescidos ao art. 69 da Lei nº 8.212/1991:

Art. 69. O INSS manterá programa permanente de revisão da concessão


e da manutenção dos benefícios por ele administrados, a fim de apurar
irregularidades ou erros materiais. (...)

§ 7º Para fins do disposto no caput deste artigo, o INSS poderá realizar


recenseamento para atualização do cadastro dos beneficiários,
abrangidos os benefícios administrados pelo INSS, observado o disposto
no § 8º deste artigo.  

252 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
§ 8º Aquele que receber benefício realizará anualmente, no mês
de aniversário do titular do benefício, a comprovação de vida,
preferencialmente por meio de atendimento eletrônico com uso de
biometria, ou outro meio definido pelo INSS que assegure a identificação
inequívoca do beneficiário, implementado pelas instituições financeiras
pagadoras dos benefícios, observadas as seguintes disposições: 

I ‒ a prova de vida e a renovação de senha serão efetuadas pelo beneficiário,


preferencialmente no mesmo ato, mediante identificação por funcionário da
instituição financeira responsável pelo pagamento, quando não realizadas
por atendimento eletrônico com uso de biometria;  

II ‒ a prova de vida poderá ser realizada por representante legal ou por


procurador do beneficiário, legalmente cadastrado no INSS;   

IV ‒ os órgãos competentes deverão dispor de meios alternativos que


garantam a realização da prova de vida do beneficiário com idade igual ou
superior a 80 (oitenta) anos ou com dificuldade de locomoção, inclusive por
meio de atendimento domiciliar quando necessário;     

IV-A ‒ as instituições financeiras deverão, obrigatoriamente, envidar


esforços a fim de facilitar e auxiliar o beneficiário com idade igual ou
superior a 80 (oitenta) anos ou com dificuldade de locomoção, de forma a
evitar ao máximo o seu deslocamento até a agência bancária e, caso isso
ocorra, dar-lhe preferência máxima de atendimento, para diminuir o tempo
de permanência do idoso no recinto e evitar sua exposição a aglomeração;

IV-B ‒ a instituição financeira, quando a prova de vida for nela realizada,


deverá enviar as informações ao INSS, bem como divulgar aos beneficiários,
de forma ampla, todos os meios existentes para efetuar o procedimento,
especialmente os remotos, a fim de evitar o deslocamento dos beneficiários; e   

V ‒ o INSS poderá bloquear o pagamento do benefício encaminhado


às instituições financeiras até que o beneficiário realize a prova de vida,
permitida a liberação do pagamento automaticamente pela instituição
financeira. (Grifos nossos.)

Por fim, a Lei nº 14.199/2021 prevê que se a instituição financeira responsável pelo pagamento
de benefício pagar indevidamente benefício, ela tem o dever de ressarcir o INSS. Ademais, a lei exige
a revalidação anual do instrumento de procuração de todos os beneficiados que recebem benefício
através de representação. Esta é a nova previsão dos parágrafos do art. 76 da Lei nº 8.212/1991:

253 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Art. 76. O Instituto Nacional do Seguro Social-INSS deverá proceder ao
recadastramento de todos aqueles que, por intermédio de procuração,
recebem benefícios da Previdência Social.

§ 1º O documento de procuração deverá ser revalidado, anualmente, nos


termos de norma definida pelo INSS.

§ 2º Na hipótese de pagamento indevido de benefício a pessoa não autorizada,


ou após o óbito do titular do benefício, a instituição financeira é responsável
pela devolução dos valores ao INSS, em razão do descumprimento das
obrigações a ela impostas por lei ou por força contratual. (Grifos nossos.)

1.3. Questão inédita comentada

Segundo alterações legislativas promovidas pela Lei nº 14.199/2021, assinale a alternativa


correta.

A) O recadastramento de todos aqueles que, por intermédio de procuração, recebem benefícios da


Previdência Social deve ocorrer trimestralmente.

B) A lavratura de procuração pública para fins exclusivos de recebimento de benefícios


previdenciários não é isenta do pagamento das custas e dos emolumentos.   

C) O pagamento realizado ao procurador do beneficiário após o óbito deste gera o dever de


restituição pela instituição financeira ao INSS.

D) As ligações ao INSS não podem ser gratuitas porque não possuem utilidade pública.

E) A ausência de prova de vida não pode gerar o bloqueio do benefício previdenciário por ser
considerado direito adquirido do aposentado.

Alternativa correta: letra C. É o previsto na redação do art. 76, § 2º, da Lei nº 8.212/1991:

Art. 76. O Instituto Nacional do Seguro Social-INSS deverá proceder ao


recadastramento de todos aqueles que, por intermédio de procuração,
recebem benefícios da Previdência Social. (...)

§ 2º Na hipótese de pagamento indevido de benefício a pessoa não autorizada,


ou após o óbito do titular do benefício, a instituição financeira é responsável
pela devolução dos valores ao INSS, em razão do descumprimento das
obrigações a ela impostas por lei ou por força contratual.   

254 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Demais alternativas:

Alternativa A. Incorreta. Em desacordo com a previsão do § 1º do art. 76 da Lei nº 8.212/1991:

Art. 76. O Instituto Nacional do Seguro Social-INSS deverá proceder ao


recadastramento de todos aqueles que, por intermédio de procuração,
recebem benefícios da Previdência Social.

§ 1º O documento de procuração deverá ser revalidado, anualmente, nos


termos de norma definida pelo INSS.     

Alternativa B. Incorreta. Em desacordo com a previsão do art. 68-A da Lei nº 8.212/1991:

Art. 68-A. A lavratura de procuração pública e a emissão de sua primeira


via para fins exclusivos de recebimento de benefícios previdenciários ou
assistenciais administrados pelo INSS são isentas do pagamento das custas
e dos emolumentos.   

Alternativa D. Incorreta. Em desacordo com a previsão do art. 124-A, § 4º, da Lei nº 8.213/1991.

Art. 124-A.  O INSS implementará e manterá processo administrativo


eletrônico para requerimento de benefícios e serviços e disponibilizará
canais eletrônicos de atendimento. (...)

§ 4º As ligações telefônicas realizadas de telefone fixo ou móvel que visem à


solicitação dos serviços referidos no § 1º deste artigo deverão ser gratuitas e
serão consideradas de utilidade pública. 

Alternativa E. Incorreta. Em desacordo com o previsto no art. 69 da Lei nº 8.212/1991:

Art. 69.   O INSS manterá programa permanente de revisão da concessão


e da manutenção dos benefícios por ele administrados, a fim de apurar
irregularidades ou erros materiais.  (...)

§ 8º Aquele que receber benefício realizará anualmente, no mês de


aniversário do titular do benefício, a comprovação de vida, preferencialmente
por meio de atendimento eletrônico com uso de biometria, ou outro meio
definido pelo INSS que assegure a identificação inequívoca do beneficiário,
implementado pelas instituições financeiras pagadoras dos benefícios,
observadas as seguintes disposições: (...)

V ‒ o INSS poderá bloquear o pagamento do benefício encaminhado


às instituições financeiras até que o beneficiário realize a prova de vida,
permitida a liberação do pagamento automaticamente pela instituição
financeira.   

255 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
1. Lei nº 14.200/2021 - Licença compulsória de patentes ou de pedidos
de patente nos casos de declaração de emergência nacional ou
internacional ou de interesse público, ou de reconhecimento de estado
de calamidade pública de âmbito nacional
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.200/2021
Ementa: Altera a Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996 (Lei de Propriedade Industrial), para
dispor sobre a licença compulsória de patentes ou de pedidos de patente nos casos
de declaração de emergência nacional ou internacional ou de interesse público, ou
de reconhecimento de estado de calamidade pública de âmbito nacional.

Data de publicação: 03.09.2021


Início de vigência: A lei entra em vigor na data de sua publicação.
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/
Lei/L14200.htm>
Destaques:
• A lei estabelece que, em caso de emergência nacional ou internacional ou de interesse
público, poderá ser concedida licença compulsória, de ofício e não exclusiva, para a
exploração de patente ou do pedido de patente.

• No arbitramento da remuneração do titular da patente ou do pedido de patente serão


consideradas as circunstâncias de cada caso, observados, obrigatoriamente, o valor
econômico da licença concedida, a duração da licença e as estimativas de investimentos
necessários para sua exploração, bem como os custos de produção e o preço de venda no
mercado nacional do produto a ela associado.

• A remuneração do titular da patente ou do pedido de patente objeto de licença compulsória


será fixada em 1,5% sobre o preço líquido de venda do produto a ela associado até que seu
valor venha a ser efetivamente estabelecido.

• A autoridade competente dará prioridade à análise dos pedidos de patente que forem
objeto de licença compulsória.

• Poderá ser concedida, por razões humanitárias e nos termos de tratado internacional
do qual o Brasil seja parte, licença compulsória de patentes de produtos destinados à
exportação a países com insuficiente ou nenhuma capacidade de fabricação no setor
farmacêutico para atendimento de sua população.

256 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
1.2. Comentário

A pandemia de Covid-19 trouxe a necessidade iminente de obtenção de medicamentos,


vacinas e outros equipamentos e produtos médicos necessários à prevenção e ao tratamento
das pessoas acometidas pela enfermidade. Ocorre que vários agentes econômicos que possuem
atividades no ramo médico e farmacêutico já possuíam tecnologias e produtos desenvolvidos ou em
desenvolvimento que poderiam auxiliar a Administração Pública no combate à pandemia.

Todavia, algumas dessas tecnologias e produtos ou já eram patenteadas ou tinham pedido


de patente tramitando no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI). Como se sabe, a
patente confere ao seu titular a propriedade da invenção ou do modelo de utilidade desenvolvido.
Nesse sentido, a exploração do que foi patenteado por terceiros apenas é possível mediante o
licenciamento por parte do titular, sob pena de aquele que explora a patente sem esse licenciamento
ter de arcar com perdas e danos. Nesse contexto, importante destacar os arts. 6º e 61 da Lei Federal
nº 9.279/1996:

Art. 6º Ao autor de invenção ou modelo de utilidade será assegurado o


direito de obter a patente que lhe garanta a propriedade, nas condições
estabelecidas nesta Lei.

§ 1º Salvo prova em contrário, presume-se o requerente legitimado a obter


a patente.

§ 2º A patente poderá ser requerida em nome próprio, pelos herdeiros


ou sucessores do autor, pelo cessionário ou por aquele a quem a lei ou o
contrato de trabalho ou de prestação de serviços determinar que pertença
a titularidade.

§ 3º Quando se tratar de invenção ou de modelo de utilidade realizado


conjuntamente por duas ou mais pessoas, a patente poderá ser requerida
por todas ou qualquer delas, mediante nomeação e qualificação das demais,
para ressalva dos respectivos direitos.

§ 4º O inventor será nomeado e qualificado, podendo requerer a não


divulgação de sua nomeação.

(...)

Art. 61. O titular de patente ou o depositante poderá celebrar contrato de


licença para exploração.

Parágrafo único. O licenciado poderá ser investido pelo titular de todos os


poderes para agir em defesa da patente.

257 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
Ocorre que o legislador já havia previsto na Lei Federal nº 9.279/1996 a possibilidade de
ocorrência de determinadas situações de calamidade pública que poderiam levar à necessidade
de se estabelecer um licenciamento compulsório da patente para que a invenção ou o modelo de
utilidade desenvolvidos, de propriedade do titular (“inventor”), fosse utilizado em prol da sociedade.
Contudo, isso era simplificadamente delineado pelo art. 71 da referida lei. A pandemia de Covid-19,
nesse contexto, estimulou a modificação do referido artigo pelo Poder Legislativo, para que fosse
conferida uma disciplina mais completa, uma vez que diversas questões emergiram em função da
necessidade de utilização dessa prerrogativa – da licença compulsória – como forma de auxílio no
combate à pandemia.

Desse modo, foi publicada no dia 03 de setembro de 2021 a Lei Federal nº 14.200/2021, que:

Altera a Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996 (Lei de Propriedade Industrial),


para dispor sobre a licença compulsória de patentes ou de pedidos de
patente nos casos de declaração de emergência nacional ou internacional
ou de interesse público, ou de reconhecimento de estado de calamidade
pública de âmbito nacional.

A referida lei trouxe uma redação mais aprimorada ao art. 71 da Lei Federal nº 9.279/1996, que
passou a vigorar com o seguinte caput:

Art. 71. Nos casos de emergência nacional ou internacional ou de interesse


público declarados em lei ou em ato do Poder Executivo federal, ou de
reconhecimento de estado de calamidade pública de âmbito nacional pelo
Congresso Nacional, poderá ser concedida licença compulsória, de ofício,
temporária e não exclusiva, para a exploração da patente ou do pedido de
patente, sem prejuízo dos direitos do respectivo titular, desde que seu titular
ou seu licenciado não atenda a essa necessidade.

Portanto, nos casos de emergência nacional, internacional ou de interesse público, assim


reconhecidos por lei ou pelo Poder Executivo Federal ou pelo Congresso Nacional, poderá ser
reconhecida, de ofício, licença compulsória para determinadas invenções e modelos de utilidade.
Destaca-se que essa licença compulsória tem caráter não exclusivo, ou seja, mais de um agente
econômico poderá utilizá-la; e temporário, naturalmente, pelo prazo que durar a emergência ou
calamidade pública, conforme for definido por lei.

258 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
Conforme o § 2º do referido art. 71, ocorrendo a emergência/estado de calamidade, será
publicada pelo Poder Executivo Federal uma lista pública sobre as patentes e os pedidos de patente
que têm a potencialidade de auxiliar a situação. Ficam excluídos da publicação, as patentes e os
pedidos de patente que forem objetos de acordos de transferência da tecnologia de produção ou de
licenciamento voluntário capazes de assegurar o atendimento da demanda interna. Nesse sentido:

§ 2º Nos casos previstos no caput deste artigo, o Poder Executivo federal


publicará lista de patentes ou de pedidos de patente, não aplicável o
prazo de sigilo previsto no art. 30 desta Lei, potencialmente úteis ao
enfrentamento das situações previstas no caput deste artigo, no prazo de
até 30 (trinta) dias após a data de publicação da declaração de emergência
ou de interesse público, ou do reconhecimento de estado de calamidade
pública, excluídos as patentes e os pedidos de patente que forem objetos de
acordos de transferência da tecnologia de produção ou de licenciamento
voluntário capazes de assegurar o atendimento da demanda interna, nos
termos previstos em regulamento.

§ 3º Entes públicos, instituições de ensino e pesquisa e outras entidades


representativas da sociedade e do setor produtivo deverão ser consultados
no processo de elaboração da lista de patentes ou de pedidos de patente
que poderão ser objeto de licença compulsória, nos termos previstos em
regulamento.

§ 4º Qualquer instituição pública ou privada poderá apresentar pedido


para inclusão de patente ou de pedido de patente na lista referida no § 2º
deste artigo.

§ 5º A lista referida no § 2º deste artigo conterá informações e dados


suficientes para permitir a análise individualizada acerca da utilidade de
cada patente e pedido de patente e contemplará, pelo menos:

I – o número individualizado das patentes ou dos pedidos de patente que


poderão ser objeto de licença compulsória;

II – a identificação dos respectivos titulares;

III – a especificação dos objetivos para os quais será autorizado cada


licenciamento compulsório.

Destaca-se que, conforme o § 6º do art. 71, a partir da lista publicada, o Poder Executivo avaliará
individualmente as invenções e os modelos de utilidade listados e apenas poderá conceder a licença
compulsória, de forma não exclusiva, para os produtores que possuírem capacidade técnica e
econômica para a produção do objeto da patente ou do pedido de patente. Nesse sentido:

259 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
§ 6º A partir da lista publicada nos termos do § 2º deste artigo, o Poder
Executivo realizará, no prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período,
a avaliação individualizada das invenções e modelos de utilidade listados
e somente concederá a licença compulsória, de forma não exclusiva, para
produtores que possuam capacidade técnica e econômica comprovada
para a produção do objeto da patente ou do pedido de patente, desde que
conclua pela sua utilidade no enfrentamento da situação que a fundamenta.

O § 7º do art. 71, por sua vez, traz uma possibilidade de exclusão da patente ou do pedido de
patente da lista publicada que indica aquelas sujeitas à licença compulsória. Assim, caso o titular
da patente ou do pedido assuma compromissos objetivos de assegurar o atendimento à demanda
interna em volume, preço e prazo compatíveis com a situação de emergência, de calamidade pública
ou de interesse público poderá não ter a sua patente ou pedido licenciados compulsoriamente.

§ 7º Patentes ou pedidos de patente que ainda não tiverem sido objeto de


licença compulsória poderão ser excluídos da lista referida no § 2º deste
artigo nos casos em que a autoridade competente definida pelo Poder
Executivo considerar que seus titulares assumiram compromissos objetivos
capazes de assegurar o atendimento da demanda interna em condições
de volume, de preço e de prazo compatíveis com as necessidades de
emergência nacional ou internacional, de interesse público ou de estado
de calamidade pública de âmbito nacional por meio de uma ou mais das
seguintes alternativas:

I – exploração direta da patente ou do pedido de patente no País;

II – licenciamento voluntário da patente ou do pedido de patente; ou

III – contratos transparentes de venda de produto associado à patente ou ao


pedido de patente.

De toda forma, o licenciamento compulsório não elide a remuneração do titular da patente


ou do pedido de patente. Para regular essa remuneração, foram positivados os §§ 12 e 13 do art. 71
da Lei Federal nº 9.279/1996, que dispõem que, no arbitramento da remuneração do titular serão
consideradas as circunstâncias de cada caso, o valor econômico da licença concedida, a sua duração,
as estimativas necessárias de investimentos para sua exploração, custos de produção e preço de
venda. Enquanto não for estabelecido o valor pela remuneração da exploração da patente ou do
pedido, conforme os critérios indicados, a remuneração do titular fica fixada em 1,5% que incidirá
sobre o preço líquido da venda do produto associado à patente ou ao pedido.

260 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
Destaca-se que a remuneração do titular do pedido de patente e não da patente em si apenas
será paga, nos casos da licença compulsória, após a efetiva concessão da patente. Para não causar
grande prejuízo, com relação ao tempo de espera para a concessão da patente, que costuma
demorar longos anos, a autoridade competente deverá dar prioridade aos pedidos de patente que
forem objeto de licença compulsória, conforme os §§ 14 e 15 do art. 71:

Art. 71. (...)

§ 12 No arbitramento da remuneração do titular da patente ou do pedido


de patente, serão consideradas as circunstâncias de cada caso, observados,
obrigatoriamente, o valor econômico da licença concedida, a duração da
licença e as estimativas de investimentos necessários para sua exploração,
bem como os custos de produção e o preço de venda no mercado nacional
do produto a ela associado.

§ 13 A remuneração do titular da patente ou do pedido de patente objeto


de licença compulsória será fixada em 1,5% (um inteiro e cinco décimos por
cento) sobre o preço líquido de venda do produto a ela associado até que
seu valor venha a ser efetivamente estabelecido.

§ 14 A remuneração do titular do pedido de patente objeto de licença


compulsória somente será devida caso a patente venha a ser concedida,
e o pagamento, correspondente a todo o período da licença, deverá ser
efetivado somente após a concessão da patente.

§ 15 A autoridade competente dará prioridade à análise dos pedidos de


patente que forem objeto de licença compulsória.

Por fim, cabe ainda destacar que, conforme o também adicionado art. 71-A da Lei Federal nº
9.279/1996:

Poderá ser concedida, por razões humanitárias e nos termos de tratado


internacional do qual a República Federativa do Brasil seja parte, licença
compulsória de patentes de produtos destinados à exportação a países com
insuficiente ou nenhuma capacidade de fabricação no setor farmacêutico
para atendimento de sua população.

1.3. Questão inédita comentada

Como um reflexo da pandemia de Covid-19, a Lei Federal nº 14.200/2021 trouxe modificações


e inclusões à Lei Federal nº 9.279/1996, materializadas em seus arts. 71 e 71-A. Sobre as modificações
realizadas, assinale a alternativa incorreta, considerando a disciplina das licenças compulsórias de
patentes em casos de emergência nacional ou internacional ou de interesse público.

261 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
A)  Poderá ser concedida licença compulsória, de ofício, temporária e não exclusiva, para a exploração
da patente ou do pedido de patente, sem prejuízo dos direitos do respectivo titular, desde que seu
titular ou seu licenciado não atenda a essa necessidade.

B) No arbitramento da remuneração do titular da patente ou do pedido de patente serão observados


o valor econômico da licença concedida, a duração da licença e as estimativas de investimentos
necessários para sua exploração, bem como os custos de produção e o preço de venda no mercado
nacional do produto a ela associado.  

C) A remuneração do titular do pedido de patente objeto de licença compulsória será devida


independentemente da finalização do pedido de concessão de patente, mas o pagamento,
correspondente a todo o período da licença, deverá ser efetivado somente após a sua conclusão. 

D) Os titulares de patentes ou pedidos de patentes que assumirem compromissos objetivos


capazes de assegurar o atendimento da demanda interna em condições de volume, de preço e
de prazo compatíveis com as necessidades de emergência nacional ou internacional, de interesse
público ou de estado de calamidade pública de âmbito nacional poderão não estar sujeitos à licença
compulsória.

E) Poderá ser concedida, por razões humanitárias e nos termos de tratado internacional do qual a
República Federativa do Brasil seja parte, licença compulsória de patentes de produtos destinados à
exportação a países com insuficiente ou nenhuma capacidade de fabricação no setor farmacêutico
para atendimento de sua população.

Alternativa correta: letra C. Alternativa incorreta. Conforme o § 14 do art. 71 da Lei Federal nº


9.279/1996:

Art. 71. (...)

§ 14 A remuneração do titular do pedido de patente objeto de licença


compulsória somente será devida caso a patente venha a ser concedida,
e o pagamento, correspondente a todo o período da licença, deverá ser
efetivado somente após a concessão da patente.

Portanto, a remuneração só será efetivamente devida caso a patente seja concedida ao


titular do pedido de patente, ao final do processo, perante o órgão competente. Dessa forma,
a remuneração depende da finalização do processo e só será paga, ao final, caso a patente seja
deferida àquele que a pediu.

262 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
Demais alternativas:

Alternativa A: Incorreta. A alternativa está de acordo com o caput do art. 71 da Lei Federal nº
9.279/1996, com a redação conferida pela Lei Federal nº 14.200/2021, que assim dispõe:

Art. 71. Nos casos de emergência nacional ou internacional ou de interesse


público declarados em lei ou em ato do Poder Executivo federal, ou de
reconhecimento de estado de calamidade pública de âmbito nacional pelo
Congresso Nacional, poderá ser concedida licença compulsória, de ofício,
temporária e não exclusiva, para a exploração da patente ou do pedido de
patente, sem prejuízo dos direitos do respectivo titular, desde que seu titular
ou seu licenciado não atenda a essa necessidade.

Alternativa B: Incorreta. A alternativa está de acordo com o art. 71, § 12, da Lei Federal nº
9.279/1996, com a redação conferida pela Lei Federal nº 14.200/2021, que assim dispõe:

Art. 71. (...)

§ 12 No arbitramento da remuneração do titular da patente ou do pedido


de patente, serão consideradas as circunstâncias de cada caso, observados,
obrigatoriamente, o valor econômico da licença concedida, a duração da
licença e as estimativas de investimentos necessários para sua exploração,
bem como os custos de produção e o preço de venda no mercado nacional
do produto a ela associado.

Alternativa D: Incorreta. A alternativa está de acordo com o art. 71, § 7º, da Lei Federal nº
9.279/1996, com a redação conferida pela Lei Federal nº 14.200/2021, que assim dispõe:

Art. 71. (...)

§ 7º Patentes ou pedidos de patente que ainda não tiverem sido objeto de


licença compulsória poderão ser excluídos da lista referida no § 2º deste
artigo nos casos em que a autoridade competente definida pelo Poder
Executivo considerar que seus titulares assumiram compromissos objetivos
capazes de assegurar o atendimento da demanda interna em condições
de volume, de preço e de prazo compatíveis com as necessidades de
emergência nacional ou internacional, de interesse público ou de estado
de calamidade pública de âmbito nacional por meio de uma ou mais das
seguintes alternativas:

I – exploração direta da patente ou do pedido de patente no País;

II – licenciamento voluntário da patente ou do pedido de patente; ou

III – contratos transparentes de venda de produto associado à patente ou ao


pedido de patente.

263 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
Portanto, os titulares que se enquadrarem nos ditames do referido artigo poderão estar livres
do licenciamento compulsório de suas patentes ou de seus pedidos de patente.

Alternativa E: Incorreta. A alternativa está de acordo com o caput do art. 71-A da Lei Federal nº
9.279/1996, com a redação conferida pela Lei Federal nº 14.200/2021, que assim dispõe:

Art. 71-A. Poderá ser concedida, por razões humanitárias e nos termos de
tratado internacional do qual a República Federativa do Brasil seja parte,
licença compulsória de patentes de produtos destinados à exportação a
países com insuficiente ou nenhuma capacidade de fabricação no setor
farmacêutico para atendimento de sua população.

264 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
1. Lei nº 14.204/2021 – Simplifica a gestão de cargos em comissão
e de funções de confiança na administração pública federal direta,
autárquica e fundacional

1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.204/2021
Ementa: Simplifica a gestão de cargos em comissão e de funções de confiança na
administração pública federal direta, autárquica e fundacional; altera a Lei nº
11.526, de 4 de outubro de 2007; e revoga dispositivos das Leis nºs 8.216, de 13 de
agosto de 1991, 8.460, de 17 de setembro de 1992, 9.028, de 12 de abril de 1995,
9.625, de 7 de abril de 1998, 9.649, de 27 de maio de 1998, 10.480, de 2 de julho de
2002, 10.556, de 13 de novembro de 2002, 10.667, de 14 de maio de 2003, 10.682,
de 28 de maio de 2003, 11.355, de 19 de outubro de 2006, 11.357, de 19 de outubro
de 2006, 11.907, de 2 de fevereiro de 2009, e 13.346, de 10 de outubro de 2016, e da
Medida Provisória (MP) nº 2.229-43, de 6 de setembro de 2001.

Data de publicação: 17.09.2021


Início de vigência: 17.09.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/
Lei/L14204.htm>
Destaques:
• Institui, no âmbito da administração pública federal direta, autárquica e fundacional, os
Cargos Comissionados Executivos (CCE) e as Funções Comissionadas Executivas (FCE).

• Autoriza o Poder Executivo federal a transformar, sem aumento de despesa, cargos em


comissão, funções de confiança e gratificações.

• Simplifica, no âmbito da administração pública federal direta, autárquica e fundacional, a


gestão de cargos em comissão e de funções de confiança.

1.2. Comentário

Em 17.09.2021, decorrente da conversão da MP nº 1.042/2021, foi publicada a Lei nº 14.204,


entrando em vigor na data de sua publicação, mas produzindo efeitos: a) em 31 de março de 2023,
quanto aos incisos I, III e V a XIV e à alínea “f” do inciso XV do caput do art. 22 desta lei; e b) na data
de sua publicação, quanto aos demais dispositivos (art. 23).

Ressalte-se que os dispositivos cuja produção de efeitos não é imediata versam acerca de
revogações efetuadas pela referida lei. Veja-se:

265 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Art. 22. Ficam revogados:

I – o art. 26 da Lei nº 8.216, de 13 de agosto de 1991; (…)

III – o art. 17 da Lei nº 9.028, de 12 de abril de 1995; (…)

V – o § 2º do art. 28 da Lei nº 9.649, de 27 de maio de 1998;

VI – o art. 58 da Medida Provisória nº 2.229-43, de 6 de setembro de 2001;

VII – os arts. 7º e 8º da Lei nº 10.480, de 2 de julho de 2002;

VIII – o art. 3º da Lei nº 10.556, de 13 de novembro de 2002;

IX – o art. 19 da Lei nº 10.667, de 14 de maio de 2003;

X – o art. 10 da Lei nº 10.682, de 28 de maio de 2003;

XI – o § 3º do art. 1º da Lei nº 11.355, de 19 de outubro de 2006;

XII – o art. 11 da Lei nº 11.357, de 19 de outubro de 2006;

XIII – as seguintes tabelas da Lei nº 11.526, de 4 de outubro de 2007:

a) tabela “b” do Anexo I;

b) tabela “a” do Anexo II; e

c) tabela I da tabela a e tabelas “c” e “h” do Anexo III;

XIV – o art. 264 da Lei nº 11.907, de 2 de fevereiro de 2009; e

XV – os seguintes dispositivos e anexos da Lei nº 13.346, de 10 de outubro


de 2016: (…)

f) os demais dispositivos.

A lei, de 23 artigos, dispõe sobre:

Art. 1º Esta Lei dispõe sobre:

I – a instituição dos Cargos Comissionados Executivos (CCE) e as Funções


Comissionadas Executivas (FCE);

II – a autorização para o Poder Executivo federal transformar, sem aumento


de despesa, cargos em comissão, funções de confiança e gratificações; e

III – a simplificação da gestão de cargos em comissão e de funções de


confiança.

Parágrafo único. Esta Lei aplica-se no âmbito da administração pública


federal direta, autárquica e fundacional.

266 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Inicialmente, insta salientar que a lei aplica-se apenas no âmbito da administração pública
federal (direta, autárquica e fundacional).

Com efeito, em relação ao inciso I do art. 1º da Lei nº 14.204/2021, oportuno destacar que os
“CCE e as FCE são destinados apenas às atividades de direção, de chefia e de assessoramento” (art.
2º, parágrafo único, da Lei nº 14.204/2021), previsão que está em consonância com o disposto no art.
37, inciso V, da Constituição Federal (CF)/1988.

Por sua vez, quanto ao inciso II do art. 1º da Lei nº 14.204/2021, verifica-se que “decreto poderá
efetuar a alteração, mediante transformação, dos quantitativos e da distribuição dos atuais cargos em
comissão, funções de confiança e gratificações, observados os respectivos valores de remuneração
e desde que não implique aumento de despesa” (art. 6º, caput). Apesar disso, o § 1º do referido artigo
estabelece determinadas situações em que a regra não é aplicável. Veja-se:

Art. 6º (...)

§ 1º O disposto no caput deste artigo não se aplica:

I – aos cargos de Ministro de Estado;

II – aos Cargos Comissionados de Direção (CD) de que trata o art. 2º da Lei


nº 9.986, de 18 de julho de 2000;

III – às gratificações:

a) cuja concessão, designação, nomeação, retirada, dispensa ou exoneração


não possa ser realizada mediante ato discricionário da autoridade
competente; e

b) que componham a remuneração do cargo efetivo, do emprego, do posto


ou da graduação, para qualquer efeito.

Finalmente, relativamente ao inciso III do art. 1º da Lei nº 14.204/2021, é possível afirmar que a
lei busca o aumento da eficiência organizacional, pois com ela o Poder Executivo contará com um
menor número de espécies de cargos, funções e gratificações. De acordo com a exposição de motivos
da MP nº 1.042/2021, a “reformulação pretende adotar, em substituição ao demasiado número de
espécies, uma organização única de cargos em comissão, funções de confiança e gratificações que
possa ser utilizada no âmbito da administração direta, autárquica e fundacional do Poder Executivo
federal, independente do órgão, entidade, plano de cargos ou carreira, com racionalização dos níveis
remuneratórios e legislação consolidada, moderna e uniforme.”

267 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Com base nesse entendimento, a lei estabelece, em seu art. 9º, critérios gerais para a ocupação
de cargos. São eles:

Art. 9º São critérios gerais para a ocupação de cargos em comissão e de


funções de confiança na administração pública federal direta, autárquica e
fundacional:

I – idoneidade moral e reputação ilibada;

II – perfil profissional ou formação acadêmica compatível com o cargo ou


com a função para a qual tenha sido indicado; e

III – não enquadramento nas hipóteses de inelegibilidade previstas no inciso


I do caput do art. 1º da Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990.

Além disso, prevê regras específicas para as nomeações de CCE e designações de FCE:

Art. 13. Nas nomeações ou nas designações de cargos em comissão e de


funções de confiança, serão observadas as seguintes regras:

I – para os CCE dos níveis 1 a 4, somente poderão ser nomeados servidores


ocupantes de cargo efetivo, empregados permanentes da administração
pública e militares;

II – para as FCE, somente poderão ser designados servidores ocupantes de


cargos efetivos oriundos de órgão ou de entidade de quaisquer dos Poderes
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; e

III – para os cargos em comissão existentes na administração pública federal


direta, autárquica e fundacional, no mínimo, 60% (sessenta por cento) do
total serão ocupados por servidores de carreira.

Por fim, considerando o objetivo de otimizar a gestão dos recursos disponíveis, o art. 17 da
Lei nº 14.204/2021 promove a extinção de diversos cargos em comissão, funções de confiança e
gratificações que não forem transformados em CCE ou em FCE.

1.3. Questão inédita comentada

De acordo com a Lei nº 14.204/2021, que simplifica a gestão de cargos em comissão e de


funções de confiança na administração pública federal direta, autárquica e fundacional, assinale a
alternativa correta:

268 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
A) Os CCE e as FCE podem ser utilizados, de maneira excepcional, às atividades de mera execução.

B) Apesar de a referida lei ser aplicável no âmbito da administração pública federal direta, autárquica
e fundacional, há disposição expressa acerca da possibilidade de sua utilização subsidiária nos
estados, nos municípios e no Distrito Federal.

C) Um dos critérios gerais para a ocupação de cargos em comissão e de funções de confiança é o de


que o servidor tenha idoneidade moral e reputação ilibada.

D) É possível, desde que devidamente autorizada por meio de decreto, a alteração, mediante
transformação, dos quantitativos dos atuais cargos em comissão, ainda que tal circunstância
provoque aumento de despesa.

E) Para os cargos em comissão existentes na administração pública federal direta, autárquica


e fundacional, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) do total serão ocupados por servidores
de carreira.

Alternativa correta: letra C. É o que dispõe o art. 9º, inciso I, da Lei nº 14.204/2021: “São critérios
gerais para a ocupação de cargos em comissão e de funções de confiança na administração pública
federal direta, autárquica e fundacional: I – idoneidade moral e reputação ilibada; (...)”.

Demais alternativas:

Alternativa A: Incorreta. Os CCE e as FCE não podem ser utilizados para atividades de
mera execução, conforme o art. 2º, parágrafo único, da Lei nº 14.204/2021: “Os CCE e as FCE são
destinados às atividades de direção, de chefia e de assessoramento”.

Alternativa B: Incorreta. Não há previsão legal expressa acerca de sua utilização no âmbito dos
estados, dos municípios e do Distrito Federal.

Alternativa D: Incorreta. Não é possível o aumento de despesa, nos termos do art. 6º, caput, da
Lei nº 14.204/2021:

Decreto poderá efetuar a alteração, mediante transformação, dos


quantitativos e da distribuição dos atuais cargos em comissão, funções
de confiança e gratificações, observados os respectivos valores de
remuneração e desde que não implique aumento de despesa.

269 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Alternativa E: Incorreta. O mínimo é 60% (sessenta por cento), nos termos do art. 13, inciso III,
da Lei nº 14.204/2021:

Nas nomeações ou nas designações de cargos em comissão e de funções


de confiança, serão observadas as seguintes regras: (…) para os cargos em
comissão existentes na administração pública federal direta, autárquica e
fundacional, no mínimo, 60% (sessenta por cento) do total serão ocupados
por servidores de carreira.

2. Lei nº 14.210, de 30 de setembro de 2021 – Acrescenta o Capítulo


XI-A à Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999, para dispor sobre a
decisão coordenada no âmbito da administração pública federal

2.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.210/2021
Ementa: Acrescenta o Capítulo XI-A à Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999, para dispor
sobre a decisão coordenada no âmbito da administração pública federal.

Data de publicação: 1º.10.2021


Início de vigência: 1º.10.2021

Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/


Lei/L14210.htm>
Destaque: A lei disciplina, no âmbito da administração pública federal, a decisão coordenada.

2.2. Comentário

Em 1º.10.2021, foi publicada a Lei nº 14.210, com início imediato de vigência.

A lei acrescenta o Capítulo XI-A (arts. 49-A a 49-G) à Lei nº 9.784/1999, instituindo, no âmbito
da administração pública federal, a decisão coordenada. Nos termos do novo art. 49-A, § 1º, da
Lei nº 9.784/1999, entende-se por decisão coordenada a “instância de natureza interinstitucional
ou intersetorial que atua de forma compartilhada com a finalidade de simplificar o processo
administrativo mediante participação concomitante de todas as autoridades e agentes decisórios e
dos responsáveis pela instrução técnico-jurídica, observada a natureza do objeto e a compatibilidade
do procedimento e de sua formalização com a legislação pertinente”.

270 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Com efeito, sobre o seu cabimento, o art. 49-A, caput e incisos I e II, da Lei nº 9.784/1999
estabelece que as decisões administrativas que exijam a participação de três ou mais setores,
órgãos ou entidades poderão ser tomadas mediante decisão coordenada, sempre que a matéria
a ser discutida seja relevante e houver discordância que prejudique a celeridade do processo
administrativo decisório.

Apesar disso, insta salientar que existem determinadas hipóteses em que tal procedimento não
pode ser utilizado:

Art. 49-A. (…)

§ 6º Não se aplica a decisão coordenada aos processos administrativos:

I – de licitação;

II – relacionados ao poder sancionador; ou

III – em que estejam envolvidas autoridades de Poderes distintos.

A decisão coordenada, além de respeitar os princípios da legalidade, da eficiência e da


transparência, deve, sempre que necessário, utilizar-se da simplificação do procedimento e
da concentração das instâncias decisórias (art. 49-A, § 5º, da Lei nº 9.784/1999).

De acordo com o art. 49-B da Lei nº 9.784/1999, os interessados de que trata o art. 9º poderão
participar da reunião na qualidade de ouvinte, mediante decisão irrecorrível da autoridade
responsável pela convocação da decisão coordenada.

Durante as reuniões, cada órgão ou entidade participante deve manifestar eventual dissenso
na solução do objeto da decisão coordenada, com apresentação das propostas de solução e de
alteração necessárias para a resolução da questão (art. 49-F, caput, da Lei nº 9.784/1999).

Uma vez concluídos os trabalhos, a decisão coordenada será consolidada em ata, que conterá
as seguintes informações, segundo o art. 49-G, incisos I a VI, da Lei nº 9.784/1999:

Art. 49-G. (...)

I – relato sobre os itens da pauta;

II – síntese dos fundamentos aduzidos;

III – síntese das teses pertinentes ao objeto da convocação;

IV – registro das orientações, das diretrizes, das soluções ou das propostas


de atos governamentais relativos ao objeto da convocação;

271 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
V – posicionamento dos participantes para subsidiar futura atuação
governamental em matéria idêntica ou similar; e

VI – decisão de cada órgão ou entidade relativa à matéria sujeita à sua


competência.

Ressalte-se, ainda, que “até a assinatura da ata, poderá ser complementada a fundamentação
da decisão da autoridade ou do agente a respeito de matéria de competência do órgão ou da
entidade representada” (art. 49-G, § 1º, da Lei nº 9.784/1999).

Como se constata, portanto, a decisão coordenada tem o objetivo de permitir a participação de


todos os interessados na futura decisão administrativa, a fim de se obter transparência e celeridade
na tomada de decisões e a participação democrática na formação dos atos administrativos.

2.3. Questão inédita comentada

Em relação à Lei nº 14.210/2021, que acrescenta o Capítulo XI-A à Lei nº 9.784, de 29 de janeiro
de 1999, para dispor sobre a decisão coordenada no âmbito da administração pública federal,
assinale a alternativa correta:

A) A decisão coordenada pode ser utilizada para as decisões administrativas que exijam a participação
de 2 (dois) ou mais setores, órgãos ou entidades.

B) Quando houver discordância acerca de determinada matéria não é possível a instalação do


processo de decisão coordenada.

C) Caso estejam envolvidas autoridades de Poderes distintos é possível a aplicação da decisão


coordenada, desde que a matéria a ser discutida seja relevante.

D) Não é possível a aplicação da decisão coordenada ao processo administrativo de licitação.

E) Não é possível complementar a fundamentação da decisão da autoridade ou do agente a respeito


de matéria de competência do órgão ou da entidade representada.

Alternativa correta: letra D. É o que dispõe o art. 49-A, § 6º, inciso I, da Lei nº 14.210/2021: “Não
se aplica a decisão coordenada aos processos administrativos: I – de licitação; (...)”.

272 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Demais alternativas:

Alternativa A: Incorreta. O número mínimo é de três participantes, conforme o art. 49-A, caput,
da Lei nº 14.210/2021: “No âmbito da Administração Pública federal, as decisões administrativas que
exijam a participação de 3 (três) ou mais setores, órgãos ou entidades poderão ser tomadas mediante
decisão coordenada, sempre que (...)”.

Alternativa B: Incorreta. A discordância é um dos pressupostos para a utilização da decisão


coordenada, nos termos do art. 49-A, inciso II, da Lei nº 14.210/2021: “(…) houver discordância que
prejudique a celeridade do processo administrativo decisório”. Ademais, deve ser uma discordância
que prejudique a celeridade do processo administrativo decisório.

Alternativa C: Incorreta. Não é possível a aplicação da decisão coordenada nesta hipótese,


conforme art. 49-A, § 6º, inciso III, da Lei nº 14.210/2021: “Não se aplica a decisão coordenada aos
processos administrativos: (…) III – em que estejam envolvidas autoridades de Poderes distintos”.

Alternativa E: Incorreta. A complementação é possível até a assinatura da ata, conforme o art.


49-G, § 1º, da Lei nº 9.784/1999: “até a assinatura da ata, poderá ser complementada a fundamentação
da decisão da autoridade ou do agente a respeito de matéria de competência do órgão ou da
entidade representada”.

273 Caderno de novidades legislativas


DIREITO CIVIL
1. Lei Federal nº 14.205/2021 - Modifica as regras relativas ao direito de
arena sobre o espetáculo desportivo

1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.205/2021
Ementa: Altera a Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998, para modificar as regras relativas ao
direito de arena sobre o espetáculo desportivo.
Data de publicação: 20.09.2021
Início de vigência: 20.09.2021
Link do texto normativo: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/
Lei/L14205.htm>
Destaques:
• A lei define que no futebol o direito de arena pertence ao mandante do jogo (“espetáculo
desportivo”).

• Define o “direito de arena” como a prerrogativa exclusiva de negociar, autorizar ou proibir


a captação, a fixação, a emissão, a transmissão, a retransmissão ou reprodução de imagens
do espetáculo desportivo por qualquer meio.

• Estabelece que os atletas profissionais que participam do jogo, titulares e reservas,


receberão 5%, em partes iguais, da receita proveniente da exploração de direitos
desportivos e que esse pagamento, em regra, possui natureza civil, e não trabalhista.

• Estabelece que, quando não houver definição de mando de jogo, a captação, a fixação, a
emissão, a transmissão, a retransmissão ou reprodução de imagens dependem da anuência
das entidades participantes.

1.2. Comentário

Foi alterada a Lei Federal nº 9.615/1998, também conhecida como “Lei Pelé”, para tratar de
um tema que vem sendo alvo de grandes discussões no futebol brasileiro, o denominado “direito de
arena”. Nesse contexto a Lei Federal nº 14.205/2021 “altera a Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998,
para modificar as regras relativas ao direito de arena sobre o espetáculo desportivo”.

A alteração realizada consiste basicamente na inclusão do art. 42-A à Lei Federal nº 9.615/1998.
O referido artigo, em seu caput, define expressamente que: “Art. 42-A. Pertence à entidade de
prática desportiva de futebol mandante o direito de arena sobre o espetáculo desportivo.”

274 Caderno de novidades legislativas


DIREITO CIVIL
Por sua vez, o § 1º do art. 42-A traz o conceito expresso do que se compreende por “direito de
arena”. Nesse sentido:

Art. 42-A. (...)

§ 1º Para fins do disposto no caput deste artigo, o direito de arena consiste


na prerrogativa exclusiva de negociar, de autorizar ou de proibir a captação,
a fixação, a emissão, a transmissão, a retransmissão ou a reprodução de
imagens do espetáculo desportivo, por qualquer meio ou processo. 

O direito de arena é, portanto, simplificadamente, a prerrogativa de realizar toda a exploração


comercial audiovisual da partida de futebol. Assim, o mandante da partida, detentor do direito de
arena, pode autorizar ou proibir a captação de imagens, a transmissão, a retransmissão, a fixação, a
emissão e a reprodução de imagens do “espetáculo desportivo” – jogo de futebol.

As controvérsias sobre a titularidade do direito de arena residem especialmente na receita


que ele confere às entidades de futebol, uma vez que a exploração do direito de transmissão das
partidas é uma das maiores fontes de renda dos clubes. Anualmente, o direito de arena costuma
ser negociado com as emissoras de televisão, resultando em contratos de alto valor para os clubes,
conferindo-lhes importante receita para sua manutenção.

Pensando também nesse aspecto e no fato de os jogadores profissionais que estão na partida
também terem as suas imagens expostas e atuarem no “espetáculo desportivo”, os §§ 2º a 5º do art.
42-A estabelecem que deve ser repassado aos jogadores o importe de 5% da receita obtida pela
entidade de futebol em razão da exploração comercial do direito de arena. Nesse sentido:

Art. 42-A. (...)

§ 2º Serão distribuídos aos atletas profissionais, em partes iguais, 5% (cinco


por cento) da receita proveniente da exploração de direitos desportivos
audiovisuais do espetáculo desportivo de que trata o caput deste artigo.

§ 3º A distribuição da receita de que trata o § 2º deste artigo terá caráter


de pagamento de natureza civil, exceto se houver disposição em contrário
constante de convenção coletiva de trabalho.

§ 4º O pagamento da verba de que trata o § 2º deste artigo será realizado


por intermédio dos sindicatos das respectivas categorias, que serão

275 Caderno de novidades legislativas


DIREITO CIVIL
responsáveis pelo recebimento e pela logística de repasse aos participantes
do espetáculo, no prazo de até 72 (setenta e duas) horas, contado do
recebimento das verbas pelo sindicato.

§ 5º Para fins do disposto no § 2º deste artigo, quanto aos campeonatos de


futebol, consideram-se atletas profissionais todos os jogadores escalados
para a partida, titulares e reservas.

Como se verifica, os 5% são divididos igualmente entre todos os atletas profissionais que
participarem da partida, por ambos os times, sejam titulares ou reservas. Importante o destaque de
que esse valor recebido pelos atletas, na forma do § 3º tem natureza civil – e não trabalhista – como
regra. Ademais, o sindicato dos atletas é quem fica encarregado de receber o referido valor e efetuar
o respectivo repasse a cada um deles, no prazo de 72 horas, contadas do recebimento.

Por fim, destacam-se as disposições constantes entre os §§ 6º e 8º do art. 42-A, quais sejam:

§ 6º Na hipótese de realização de eventos desportivos sem definição


do mando de jogo, a captação, a fixação, a emissão, a transmissão, a
retransmissão ou a reprodução de imagens, por qualquer meio ou processo,
dependerão da anuência das entidades de prática desportiva de futebol
participantes.

§ 7º As disposições deste artigo não se aplicam a contratos que tenham por


objeto direitos de transmissão celebrados previamente à vigência deste
artigo, os quais permanecem regidos pela legislação em vigor na data de
sua celebração.

§ 8º Os contratos de que trata o § 7º deste artigo não podem atingir as


entidades desportivas que não cederam seus direitos de transmissão para
terceiros previamente à vigência deste artigo, as quais poderão cedê-los
livremente, conforme as disposições previstas no caput deste artigo.

Como há contratos que regulam a exploração do direito de arena em vigor, na data da


publicação da Lei Federal nº 14.205/2021, que foram pactuados tendo como base as normas e
os entendimentos jurisprudenciais anteriores, respeitando a aplicação intertemporal do direito,
foi deixado expresso no § 7º que as disposições do artigo não se aplicarão a esses contratos. Por
sua vez, as entidades desportivas que não integraram a relação contratual prévia sem ter cedido
seus direitos de transmissão poderão cedê-los livremente, nos termos do artigo. Portanto, os
contratos vigentes à data da publicação são aplicáveis àqueles que integraram a relação contratual
prevalecendo sobre o novo art. 42-A, mas são inaplicáveis àquelas entidades que não integravam
previamente a referida relação.

276 Caderno de novidades legislativas


DIREITO CIVIL
Por fim, destaca-se o § 6º do art. 42-A, que determina que nos jogos em que não houver prévia
definição do mandante deverá haver obrigatoriamente acordo entre os dois clubes participantes
para que seja possível a exploração comercial do direito de arena. Portanto, não havendo acordo,
não haverá possibilidade da exploração do direito de arena naquela partida.

1.3. Questão inédita comentada

A Lei Federal nº 14.205/2021 trouxe o art. 42-A à chamada “Lei Pelé” (Lei Federal nº 9.615/1998)
para regular o denominado “direito de arena” no futebol. Sobre essa regulação, assinale a alternativa
incorreta.

A) O direito de arena consiste na prerrogativa exclusiva de negociar, de autorizar ou de proibir a


captação, a fixação, a emissão, a transmissão, a retransmissão ou a reprodução de imagens do
espetáculo desportivo, por qualquer meio ou processo.

B) Serão distribuídos aos atletas profissionais, sendo assim considerados todos os jogadores
escalados para a partida – titulares e reservas –, em partes iguais, 5% da receita proveniente da
exploração de direitos desportivos audiovisuais do espetáculo desportivo de que participarem.

C) Na hipótese em que o espetáculo desportivo não tiver definição de mando de jogo, a receita
pela exploração comercial do direito de arena será dividida na proporção de 50% para cada uma das
entidades desportivas participantes da partida.

D) Pertence à entidade de prática desportiva de futebol mandante o direito de arena sobre o


espetáculo desportivo.

E) Como regra geral, o pagamento no importe de 5% da receita recebido pelos atletas


profissionais em função da exploração do direito de arena pelas entidades desportivas tem
natureza civil e não trabalhista.

Alternativa correta: letra C. Conforme o § 6º do art. 42-A da Lei Federal nº 9.615/1998:

Art. 42-A. (...)

§ 6º Na hipótese de realização de eventos desportivos sem definição


do mando de jogo, a captação, a fixação, a emissão, a transmissão, a
retransmissão ou a reprodução de imagens, por qualquer meio ou processo,
dependerão da anuência das entidades de prática desportiva de futebol
participantes.

277 Caderno de novidades legislativas


DIREITO CIVIL
Portanto, não há qualquer disposição legal que defina que, quando não houver mandante
definido, a receita será dividida na proporção de 50% para cada uma das entidades. Na realidade,
a exploração do direito de arena nesse caso dependerá da anuência de ambas as entidades
participantes, sem a qual não será possível realizá-la. Essa anuência compreende, naturalmente, a
repartição das receitas entre elas.

Demais alternativas:

Alternativa A: Incorreta. A alternativa apresenta corretamente o conceito de “direito de arena”,


expresso no art. 42-A, § 1º, da Lei Federal nº 9.615/1998, que assim dispõe:

Art. 42-A. (...)

§ 1º Para fins do disposto no caput deste artigo, o direito de arena consiste


na prerrogativa exclusiva de negociar, de autorizar ou de proibir a captação,
a fixação, a emissão, a transmissão, a retransmissão ou a reprodução de
imagens do espetáculo desportivo, por qualquer meio ou processo.

Alternativa B: Incorreta. A alternativa está de acordo com os §§ 2º e 5º da Lei Federal nº


9.615/1998, que assim dispõem:

Art. 42-A. (...)

§ 2º Serão distribuídos aos atletas profissionais, em partes iguais, 5% (cinco


por cento) da receita proveniente da exploração de direitos desportivos
audiovisuais do espetáculo desportivo de que trata o caput deste artigo. (...)

§ 5º Para fins do disposto no § 2º deste artigo, quanto aos campeonatos de


futebol, consideram-se atletas profissionais todos os jogadores escalados
para a partida, titulares e reservas.

Alternativa D: Incorreta. A alternativa está de acordo com o caput do art. 42-A da Lei Federal
nº 9.615/1998, que assim dispõe: “Art. 42-A. Pertence à entidade de prática desportiva de futebol
mandante o direito de arena sobre o espetáculo desportivo”.

Alternativa E: Incorreta. A alternativa está de acordo com o § 3º do art. 42-A da Lei Federal nº
9.615/1998, que assim dispõe:

Art. 42-A. (...)

§ 3º A distribuição da receita de que trata o § 2º deste artigo terá caráter


de pagamento de natureza civil, exceto se houver disposição em contrário
constante de convenção coletiva de trabalho.

278 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ELEITORAL
1. Emenda Constitucional (EC) nº 111/2021 ‒ Altera a Constituição
Federal para disciplinar sobre matérias em âmbito eleitoral
1.1. Ficha normativa

EC Nº 111/2021
Ementa: Altera a Constituição Federal (CF/1988) para disciplinar a realização de consultas
populares concomitantes às eleições municipais, dispor sobre o instituto da
fidelidade partidária, alterar a data de posse de governadores e do presidente
da República e estabelecer regras transitórias para distribuição entre os partidos
políticos dos recursos do fundo partidário e do Fundo Especial de Financiamento
de Campanha (FEFC), e para o funcionamento dos partidos políticos.

Data de publicação: 29.09.2021


Início de vigência: 29.09.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/
emc/emc111.htm>
Destaques:
• Disciplina a realização de consultas populares concomitantes às eleições municipais.

• Dispõe sobre o instituto da fidelidade partidária.

• Altera a data de posse de governadores e do presidente da República.

• Estabelece regras transitórias para distribuição entre os partidos políticos dos recursos do
fundo partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) e para o
funcionamento dos partidos políticos.

1.2. Comentário

Em 29.09.2021 foi publicada a EC nº 111.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo altera “a Constituição Federal para
disciplinar a realização de consultas populares concomitantes às eleições municipais, dispor
sobre o instituto da fidelidade partidária, alterar a data de posse de Governadores e do Presidente
da República e estabelecer regras transitórias para distribuição entre os partidos políticos dos
recursos do fundo partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) e para o
funcionamento dos partidos políticos.”

279 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ELEITORAL
A EC inseriu os §§ 12 e 13 no art. 14, e o § 6º no art. 17 da CF/1988. Além disso, alterou a redação
dos arts. 28 e 82. Dentre as alterações promovidas pela EC, destacam-se:

a) concomitantemente às eleições municipais serão realizadas consultas populares sobre


questões locais aprovadas pelas Câmaras Municipais e encaminhadas à Justiça Eleitoral até 90
(noventa) dias antes da data das eleições, observados os limites operacionais relativos ao número de
quesitos; 

b) as manifestações favoráveis e contrárias às questões submetidas às consultas populares


ocorrerão durante as campanhas eleitorais, sem a utilização de propaganda gratuita no rádio e
na televisão;

c) os deputados federais, os deputados estaduais, os deputados distritais e os vereadores que


se desligarem do partido pelo qual tenham sido eleitos perderão o mandato, salvo nos casos de
anuência do partido ou de outras hipóteses de justa causa estabelecidas em lei, não computada, em
qualquer caso, a migração de partido para fins de distribuição de recursos do fundo partidário ou de
outros fundos públicos e de acesso gratuito ao rádio e à televisão;

d) a eleição do governador e do vice-governador de estado, para mandato de quatro anos,


realizar-se-á no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro,
em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato de seus antecessores, e a
posse ocorrerá em 6 de janeiro do ano subsequente;

e) o mandato do presidente da República é de quatro anos e terá início em 5 de janeiro do ano


seguinte ao de sua eleição.     

1.3. Questão inédita comentada

Marque a alternativa correta a respeito das modificações promovidas pela EC nº 111/2021.

A) As consultas populares sobre questões locais aprovadas pelas Câmaras Municipais serão
realizadas após as eleições municipais e encaminhadas à Justiça Eleitoral até 90 dias antes da data
das eleições.

B) As manifestações favoráveis e contrárias às questões submetidas às consultas populares


ocorrerão durante as campanhas eleitorais, com a utilização de propaganda gratuita no rádio e na
televisão.

280 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ELEITORAL
C) Os deputados federais, os deputados estaduais, os deputados distritais e os vereadores que
se desligarem do partido pelo qual tenham sido eleitos perderão o mandato, salvo nos casos de
anuência do partido ou de outras hipóteses de justa causa estabelecidas em lei, computada, em
qualquer caso, a migração de partido para fins de distribuição de recursos do fundo partidário ou de
outros fundos públicos e de acesso gratuito ao rádio e à televisão.

D) A eleição do governador e do vice-governador de estado ocorrerá no primeiro domingo de


outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano
anterior ao do término do mandato de seus antecessores, e a posse ocorrerá em 6 de janeiro do ano
subsequente.

E) O mandato do presidente da República é de quatro anos e terá início em 1º de janeiro do ano


seguinte ao de sua eleição.

Alternativa correta: letra D. De acordo com o art. 28 da CF/1988, alterado pela EC nº 111/2021,
a eleição do governador e do vice-governador de estado, para mandato de quatro anos, realizar-
se-á no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em
segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato de seus antecessores, e a
posse ocorrerá em 6 de janeiro do ano subsequente, observado, quanto ao mais, o disposto no art.
77 desta Constituição.

Art. 28. A eleição do Governador e do Vice-Governador de Estado, para


mandato de 4 (quatro) anos, realizar-se-á no primeiro domingo de outubro,
em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se
houver, do ano anterior ao do término do mandato de seus antecessores, e a
posse ocorrerá em 6 de janeiro do ano subsequente, observado, quanto ao
mais, o disposto no art. 77 desta Constituição.

Demais alternativas:

Alternativa A. Incorreta. De acordo com o art. 14, § 12, da CF/1988, inserido pela EC nº 111/2021,
serão realizadas concomitantemente às eleições municipais as consultas populares sobre questões
locais aprovadas pelas Câmaras Municipais e encaminhadas à Justiça Eleitoral até 90 (noventa) dias
antes da data das eleições, observados os limites operacionais relativos ao número de quesitos. 

281 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ELEITORAL
Art. 14. (...)

§ 12 Serão realizadas concomitantemente às eleições municipais as consultas


populares sobre questões locais aprovadas pelas Câmaras Municipais
e encaminhadas à Justiça Eleitoral até 90 (noventa) dias antes da data
das eleições, observados os limites operacionais relativos ao número de
quesitos.

Alternativa B. Incorreta. De acordo com o art. 14, § 13, da CF/1988, inserido pela EC nº 111/2021,
as manifestações favoráveis e contrárias às questões submetidas às consultas populares nos termos
do § 12 ocorrerão durante as campanhas eleitorais, sem a utilização de propaganda gratuita no rádio
e na televisão.

Art. 14. (...)

§ 13 As manifestações favoráveis e contrárias às questões submetidas às


consultas populares nos termos do § 12 ocorrerão durante as campanhas
eleitorais, sem a utilização de propaganda gratuita no rádio e na televisão.

Alternativa C. Incorreta. De acordo com o art. 17, § 6º, da CF/1988, inserido pela EC nº
111/2021, os deputados federais, os deputados estaduais, os deputados distritais e os vereadores
que se desligarem do partido pelo qual tenham sido eleitos perderão o mandato, salvo nos casos de
anuência do partido ou de outras hipóteses de justa causa estabelecidas em lei, não computada, em
qualquer caso, a migração de partido para fins de distribuição de recursos do fundo partidário ou de
outros fundos públicos e de acesso gratuito ao rádio e à televisão.

Art. 17. (...)

§ 6º Os Deputados Federais, os Deputados Estaduais, os Deputados


Distritais e os Vereadores que se desligarem do partido pelo qual tenham
sido eleitos perderão o mandato, salvo nos casos de anuência do partido ou
de outras hipóteses de justa causa estabelecidas em lei, não computada, em
qualquer caso, a migração de partido para fins de distribuição de recursos
do fundo partidário ou de outros fundos públicos e de acesso gratuito ao
rádio e à televisão.

Alternativa E. Incorreta. De acordo com o art. 82 da CF/1988, alterado pela EC nº 111/2021, o


mandato do presidente da República é de quatro anos e terá início em 5 de janeiro do ano seguinte
ao de sua eleição.

Art. 82. O mandato do Presidente da República é de 4 (quatro) anos e terá


início em 5 de janeiro do ano seguinte ao de sua eleição.

282 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ELEITORAL
2. Lei Complementar (LC) nº 184/2021 ‒ Exclui da incidência de
inelegibilidade responsáveis que tenham tido contas julgadas
irregulares sem imputação de débito e com condenação exclusiva ao
pagamento de multa

2.1. Ficha normativa

LC nº 184/2021
Ementa: Altera a LC nº 64, de 18 de maio de 1990, para excluir da incidência de inelegibilidade
responsáveis que tenham tido contas julgadas irregulares sem imputação de débito
e com condenação exclusiva ao pagamento de multa.

Data de publicação: 30.09.2021


Início de vigência: 30.09.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp184.htm>
Destaque: Altera a  LC nº 64/1990 para excluir do rol de inelegibilidades os responsáveis
que tenham tido suas contas julgadas irregulares sem imputação de débito e com
condenação exclusiva ao pagamento de multa.

2.2. Comentário

Em 30.09.2021 foi publicada a LC nº 184.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo altera “a Lei Complementar nº 64, de 18
de maio de 1990, para excluir da incidência de inelegibilidade responsáveis que tenham tido contas
julgadas irregulares sem imputação de débito e com condenação exclusiva ao pagamento de multa.”

De acordo com o art. 1º, I, “g”, da LC nº 64/1990, são inelegíveis para qualquer cargo os que
tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade
insanável que configure ato doloso de improbidade administrativa, e por decisão irrecorrível do órgão
competente, salvo se esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciário, para as eleições
que se realizarem nos  8 (oito)  anos seguintes, contados a partir da data da decisão, aplicando-se
o disposto no inciso II do art. 71 da Constituição Federal, a todos os ordenadores de despesa, sem
exclusão de mandatários que houverem agido nessa condição. Contudo, a LC inseriu o § 4º-A no art.
1º da LC nº 64/1990, prevendo que esta inelegibilidade não se aplica aos responsáveis que tenham
tido suas contas julgadas irregulares sem imputação de débito e sancionados exclusivamente com o
pagamento de multa.

283 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ELEITORAL
2.3. Questão inédita comentada

São inelegíveis os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas
rejeitadas por irregularidade insanável, exceto: 

A) quando as contas são julgadas irregulares sem imputação de débito e sancionado exclusivamente
com o pagamento de multa.

B) quando as contas são julgadas irregulares com imputação de débito, mas com a imposição
exclusiva de pagamento de multa.

C) quando as contas são julgadas irregulares sem imputação de débito, mas com a imposição de
pagamento de multa e ressarcimento ao erário.

D) quando as contas são julgadas irregulares, com imputação de débito, mas a sanção é
exclusivamente de pagamento de multa e devolução de valores aos cofres públicos.

E) quando as contas são julgadas irregulares, mas sem imputação de débito, independente da
sanção aplicada.

Alternativa correta: letra A. De acordo com a LC nº 184/2021, que inseriu o § 4º-A no


art. 1º da LC nº 64/1990, a inelegibilidade prevista na alínea “g” do inciso I do art. 1º não se aplica
aos responsáveis que tenham tido suas contas julgadas irregulares sem imputação de débito e
sancionados exclusivamente com o pagamento de multa.

Art. 1º (...)

§ 4º-A A inelegibilidade prevista na alínea “g” do inciso I do caput deste


artigo não se aplica aos responsáveis que tenham tido suas contas julgadas
irregulares sem imputação de débito e sancionados exclusivamente com o
pagamento de multa.

Demais alternativas:

Alternativa B. Incorreta. De acordo com a LC nº 184/2021, que inseriu o § 4º-A no art. 1º da LC


nº 64/1990, a inelegibilidade prevista na alínea “g” do inciso I do art. 1º não se aplica aos responsáveis
que tenham tido suas contas julgadas irregulares sem imputação de débito (e não com imputação
de débito) e sancionados exclusivamente com o pagamento de multa.

284 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ELEITORAL
Alternativa C. Incorreta. De acordo com a LC nº 184/2021, que inseriu o § 4º-A no art. 1º da LC
nº 64/1990, a inelegibilidade prevista na alínea “g” do inciso I do art. 1º não se aplica aos responsáveis
que tenham tido suas contas julgadas irregulares sem imputação de débito e sancionados
exclusivamente com o pagamento de multa.

Alternativa D. Incorreta. De acordo com a LC nº 184/2021, que inseriu o § 4º-A no art. 1º da LC


nº 64/1990, a inelegibilidade prevista na alínea “g” do inciso I do art.1º não se aplica aos responsáveis
que tenham tido suas contas julgadas irregulares sem imputação de débito e sancionados
exclusivamente com o pagamento de multa.

Alternativa E. Incorreta. De acordo com a LC nº 184/2021, que inseriu o § 4º-A no art. 1º da LC


nº 64/1990, a inelegibilidade prevista na alínea “g” do inciso I do art. 1º não se aplica aos responsáveis
que tenham tido suas contas julgadas irregulares sem imputação de débito e sancionados
exclusivamente com o pagamento de multa.

3. Lei nº 14.208/2021 – Institui as federações de partidos políticos

3.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.208/2021
Ementa: Altera a Lei nº 9.096, de 19 de setembro de 1995 (Lei dos Partidos Políticos), e a Lei
nº 9.504, de 30 de setembro de 1997 (Lei das Eleições), para instituir as federações
de partidos políticos.

Data de publicação: 29.09.2021


Início de vigência: 29.09.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/
Lei/L14208.htm>
Destaque:
• Altera a Lei nº 9.096/1995 (Lei dos Partidos Políticos) e a Lei nº 9.504/1997 (Lei das Eleições)
para instituir no ordenamento jurídico brasileiro as federações de partidos políticos.

285 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ELEITORAL
3.2. Comentário

Em 29.09.2021 foi publicada a Lei Ordinária nº 14.208.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo altera “a Lei nº 9.096, de 19 de setembro de
1995 (Lei dos Partidos Políticos) e a Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997 (Lei das Eleições), para
instituir as federações de partidos políticos.”

Destacam-se, portanto, as seguintes alterações:

a) A Lei nº 9.096/1995 (Lei dos Partidos Políticos) passa a vigorar acrescida do art. 11-A, que
dispõe:

Art. 11-A. Dois ou mais partidos políticos poderão reunir-se em federação, a


qual, após sua constituição e respectivo registro perante o Tribunal Superior
Eleitoral, atuará como se fosse uma única agremiação partidária.

§ 1º Aplicam-se à federação de partidos todas as normas que regem o


funcionamento parlamentar e a fidelidade partidária.

§ 2º Assegura-se a preservação da identidade e da autonomia dos partidos


integrantes de federação.

§ 3º A criação de federação obedecerá às seguintes regras:

I – a federação somente poderá ser integrada por partidos com registro


definitivo no Tribunal Superior Eleitoral;

II – os partidos reunidos em federação deverão permanecer a ela filiados


por, no mínimo, 4 (quatro) anos;

III – a federação poderá ser constituída até a data final do período de


realização das convenções partidárias;

IV – a federação terá abrangência nacional e seu registro será encaminhado


ao Tribunal Superior Eleitoral.

§ 4º O descumprimento do disposto no inciso II do § 3º deste artigo acarretará


ao partido vedação de ingressar em federação, de celebrar coligação nas 2
(duas) eleições seguintes e, até completar o prazo mínimo remanescente,
de utilizar o fundo partidário.

§ 5º Na hipótese de desligamento de 1 (um) ou mais partidos, a federação


continuará em funcionamento, até a eleição seguinte, desde que nela
permaneçam 2 (dois) ou mais partidos.

286 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ELEITORAL
§ 6º O pedido de registro de federação de partidos encaminhado ao Tribunal
Superior Eleitoral será acompanhado dos seguintes documentos:

I – cópia da resolução tomada pela maioria absoluta dos votos dos órgãos
de deliberação nacional de cada um dos partidos integrantes da federação;

II – cópia do programa e do estatuto comuns da federação constituída;

III – ata de eleição do órgão de direção nacional da federação.

§ 7º O estatuto de que trata o inciso II do § 6º deste artigo definirá as regras


para a composição da lista da federação para as eleições proporcionais.

§ 8º Aplicam-se à federação de partidos todas as normas que regem as


atividades dos partidos políticos no que diz respeito às eleições, inclusive no
que se refere à escolha e registro de candidatos para as eleições majoritárias
e proporcionais, à arrecadação e aplicação de recursos em campanhas
eleitorais, à propaganda eleitoral, à contagem de votos, à obtenção de
cadeiras, à prestação de contas e à convocação de suplentes.

§ 9º Perderá o mandato o detentor de cargo eletivo que se desfiliar, sem


justa causa, de partido que integra federação.

b) A Lei nº 9.504/1997 (Lei das Eleições) passa a vigorar acrescida do art. 6º-A, que assim dispõe:

Art. 6º-A Aplicam-se à federação de partidos de que trata o art. 11-A da Lei


nº 9.096, de 19 de setembro de 1995 (Lei dos Partidos Políticos), todas as
normas que regem as atividades dos partidos políticos no que diz respeito
às eleições, inclusive no que se refere à escolha e registro de candidatos
para as eleições majoritárias e proporcionais, à arrecadação e aplicação de
recursos em campanhas eleitorais, à propaganda eleitoral, à contagem de
votos, à obtenção de cadeiras, à prestação de contas e à convocação de
suplentes.

Parágrafo único. É vedada a formação de federação de partidos após o


prazo de realização das convenções partidárias.

Em suma, passa a ser possível na legislação brasileira a federação de partidos políticos.

3.3. Questão inédita comentada

Marque a alternativa incorreta, observando as modificações trazidas pela Lei nº 14.208/2021:

A) Dois ou mais partidos políticos poderão reunir-se em federação, a qual, após sua constituição
e respectivo registro perante o Tribunal Superior Eleitoral, atuará como se fosse uma única
agremiação partidária.

287 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ELEITORAL
B) A federação somente poderá ser integrada por partidos com registro definitivo no Tribunal
Superior Eleitoral.

C) Os partidos reunidos em federação deverão permanecer a ela filiados por, no mínimo, quatro
anos.

D) A federação terá abrangência nacional e seu registro será encaminhado ao Tribunal Superior
Eleitoral.

E) A federação poderá ser constituída até a homologação das convenções partidárias.

Alternativa correta: letra E. A alternativa está incorreta. De acordo com o art. 11-A, § 3º, III, da
Lei nº 9.096/1995, inserido pela Lei nº 14.208/2021, a federação poderá ser constituída até a data
final do período de realização das convenções partidárias.

Art. 11-A. (...)

§ 3º A criação de federação obedecerá às seguintes regras:

III – a federação poderá ser constituída até a data final do período de


realização das convenções partidárias.

Demais alternativas:

Alternativa A. Incorreta. De acordo com o art. 11-A da Lei nº 9.096/1995, inserido pela Lei
nº 14.208/2021, dois ou mais partidos políticos poderão reunir-se em federação, a qual, após sua
constituição e respectivo registro perante o Tribunal Superior Eleitoral, atuará como se fosse uma
única agremiação partidária.

Art. 11-A. Dois ou mais partidos políticos poderão reunir-se em federação, a


qual, após sua constituição e respectivo registro perante o Tribunal Superior
Eleitoral, atuará como se fosse uma única agremiação partidária.

Alternativa B. Incorreta. De acordo com o art. 11-A, § 3º, I, da Lei nº 9.096/1995, inserido pela
Lei nº 14.208/2021, a federação somente poderá ser integrada por partidos com registro definitivo
no Tribunal Superior Eleitoral.

Art. 11-A. (...)

§ 3º A criação de federação obedecerá às seguintes regras:(...)

I – a federação somente poderá ser integrada por partidos com registro


definitivo no Tribunal Superior Eleitoral.

288 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ELEITORAL
Alternativa C. Incorreta. De acordo com o art. 11-A, § 3º, II, da Lei nº 9.096/1995, inserido pela
Lei nº 14.208/2021, os partidos reunidos em federação deverão permanecer a ela filiados por, no
mínimo, quatro anos.

Art. 11-A. (...)

§ 3º A criação de federação obedecerá às seguintes regras: (...)

II – os partidos reunidos em federação deverão permanecer a ela filiados


por, no mínimo, 4 (quatro) anos.

Alternativa D. Incorreta. De acordo com o art. 11-A, § 3º, IV, da Lei nº 9.096/1995, inserido
pela Lei nº 14.208/2021, a federação terá abrangência nacional, e seu registro será encaminhado ao
Tribunal Superior Eleitoral.

Art. 11-A. (...)

§ 3º A criação de federação obedecerá às seguintes regras: (...)

IV – a federação terá abrangência nacional e seu registro será encaminhado


ao Tribunal Superior Eleitoral.

289 Caderno de novidades legislativas


DIREITO CONSTITUCIONAL
1. Emenda Constitucional (EC) nº 111/2021 ‒ Altera a Constituição
Federal para disciplinar sobre matérias em âmbito eleitoral

1.1. Ficha normativa

EC Nº 111/2021
Ementa: Altera a Constituição Federal para disciplinar a realização de consultas populares
concomitantes às eleições municipais, dispor sobre o instituto da fidelidade
partidária, alterar a data de posse de governadores e do presidente da República
e estabelecer regras transitórias para distribuição entre os partidos políticos dos
recursos do fundo partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha
(FEFC) e para o funcionamento dos partidos políticos.
Data de publicação: 29.09.2021
Início de vigência: 29.09.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/
emc/emc111.htm>
Destaques:
• Disciplina a realização de consultas populares concomitantes às eleições municipais.

• Dispõe sobre o instituto da fidelidade partidária.

• Altera a data de posse de governadores e do presidente da República.

• Estabelece regras transitórias para distribuição entre os partidos políticos dos recursos do
fundo partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) e para o
funcionamento dos partidos políticos.

1.2. Comentário

Em relação ao Direito Constitucional, a EC nº 111/2021 altera diversos dispositivos da


Constituição Federal em matéria eleitoral.

Entretanto, para concentrar a abordagem das inovações veiculadas por esse novo ato
normativo, a sua análise encontra-se em Direito Eleitoral.

290 Caderno de novidades legislativas


Outubro
2021
DIREITO ELEITORAL
1. Lei nº 14.211/2021 – Ajusta a redação das Leis nºs 4.737/1965 (Código
Eleitoral) e 9.504/1997 (Lei das Eleições) à vedação constitucional de
coligações nas eleições proporcionais
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.211/2021
Ementa: Altera a Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965 (Código Eleitoral), e a Lei nº 9.504, de
30 de setembro de 1997 (Lei das Eleições), para ajustar a sua redação à vedação
constitucional de coligações nas eleições proporcionais; para fixar critérios para
a participação dos partidos e dos candidatos na distribuição dos lugares pelo
critério das maiores médias nas eleições proporcionais; e para reduzir o limite de
candidatos que cada partido poderá registrar nas eleições proporcionais.

Data de publicação: 01.10.2021


Início de vigência: 01.10.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/
Lei/L14211.htm>
Destaques:
• Adapta a redação do Código Eleitoral e da Lei das Eleições à vedação constitucional de
coligações nas eleições proporcionais.

• Prevê que a competência normativa regulamentar restringe-se a matérias especificamente


autorizadas em lei, vedando ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tratar de matéria relativa à
organização dos partidos políticos.

• Faculta aos partidos políticos celebrar coligações no registro de candidatos às eleições


majoritárias.

• Prevê que estarão eleitos, entre os candidatos registrados por um partido que tenham
obtido votos em número igual ou superior a 10% do quociente eleitoral, tantos quantos o
respectivo quociente partidário indicar, na ordem da votação nominal que cada um tenha
recebido.

• Prevê que nas eleições proporcionais os debates deverão ser organizados de modo que
assegurem a presença de número equivalente de candidatos de todos os partidos a um
mesmo cargo eletivo e poderão desdobrar-se em mais de um dia, respeitada a proporção
de homens e mulheres estabelecida no § 3º do art. 10 da Lei das Eleições.

• Prevê que, para os debates que se realizarem no primeiro turno das eleições, serão
consideradas aprovadas as regras, inclusive as que definirem o número de participantes,
que obtiverem a concordância de pelo menos 2/3 (dois terços) dos candidatos aptos, no
caso de eleição majoritária, e de pelo menos 2/3 (dois terços) dos partidos com candidatos
aptos, no caso de eleição proporcional. 

292 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ELEITORAL
1.2. Comentário

Em 01.10.2021 foi publicada a Lei nº 14.211, com o objetivo de adaptar a redação da legislação
infraconstitucional ao texto da Constituição Federal de 1988 (CF/1988) quanto à vedação de
coligações nas eleições proporcionais prevista no art. 17, § 1º, da CF/1988.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo altera

a Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965 (Código Eleitoral), e a Lei nº 9.504,


de 30 de setembro de 1997 (Lei das Eleições), para ajustar a sua redação à
vedação constitucional de coligações nas eleições proporcionais; para fixar
critérios para a participação dos partidos e dos candidatos na distribuição
dos lugares pelo critério das maiores médias nas eleições proporcionais; e
para reduzir o limite de candidatos que cada partido poderá registrar nas
eleições proporcionais.

A Lei nº 14.211/2021 alterou a Lei nº Lei nº 4.737/1965 (Código Eleitoral), prevendo os seguintes
pontos de destaque:

a) A competência normativa regulamentar restringe-se a matérias especificamente autorizadas


em lei, sendo vedado ao TSE tratar de matéria relativa à organização dos partidos políticos (art. 23-A).

b) Faculta aos partidos políticos celebrar coligações no registro de candidatos às eleições


majoritárias (§ 3º do art. 91). 

c) Determina para cada partido o quociente partidário dividindo-se pelo quociente eleitoral o
número de votos válidos dados sob a mesma legenda, desprezada a fração (art. 107), e que estarão
eleitos, entre os candidatos registrados por um partido que tenham obtido votos em número igual
ou superior a 10% (dez por cento) do quociente eleitoral, tantos quantos o respectivo quociente
partidário indicar, na ordem da votação nominal que cada um tenha recebido (art. 108).

d) Prevê no art. 109 as seguintes regras:

I – dividir-se-á o número de votos válidos atribuídos a cada partido pelo


número de lugares por ele obtido mais 1 (um), cabendo ao partido que
apresentar a maior média um dos lugares a preencher, desde que tenha
candidato que atenda à exigência de votação nominal mínima.

III – quando não houver mais partidos com candidatos que atendam às duas
exigências do inciso I deste caput, as cadeiras serão distribuídas aos partidos
que apresentarem as maiores médias.

293 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ELEITORAL
§ 1º O preenchimento dos lugares com que cada partido for contemplado
far-se-á segundo a ordem de votação recebida por seus candidatos.

§ 2º   Poderão concorrer à distribuição dos lugares todos os partidos que


participaram do pleito, desde que tenham obtido pelo menos 80% (oitenta
por cento) do quociente eleitoral, e os candidatos que tenham obtido votos
em número igual ou superior a 20% (vinte por cento) desse quociente.

e) Prevê que, se nenhum partido alcançar o quociente eleitoral, se considerarão eleitos, até
serem preenchidos todos os lugares, os candidatos mais votados (art. 111).

f) Por fim, foi revogado o art. 105 do Código Eleitoral.

A Lei nº 14.211/2021 alterou ainda a Lei nº 9.504/1997 para prever, além da faculdade aos
partidos políticos de celebrar coligações para eleição majoritária dentro da mesma circunscrição, os
seguintes pontos:

a) Cada partido poderá registrar candidatos para a Câmara dos Deputados, a Câmara
Legislativa, as Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais no total de até 100% (cem por
cento) do número de lugares a preencher mais um (art. 10).

b) Nas eleições proporcionais, os debates deverão ser organizados de modo que assegurem
a presença de número equivalente de candidatos de todos os partidos a um mesmo cargo eletivo
e poderão desdobrar-se em mais de um dia, respeitada a proporção de homens e mulheres
estabelecida no § 3º do art. 10 desta lei (inciso II do art. 46).

c)  Para os debates que se realizarem no primeiro turno das eleições, serão consideradas
aprovadas as regras, inclusive as que definirem o número de participantes, que obtiverem a
concordância de pelo menos 2/3 (dois terços) dos candidatos aptos, no caso de eleição majoritária, e
de pelo menos 2/3 (dois terços) dos partidos com candidatos aptos, no caso de eleição proporcional
(§ 5º, art. 46).

d) 90% (noventa por cento) distribuídos proporcionalmente ao número de representantes na


Câmara dos Deputados, considerado, no caso de coligação para as eleições majoritárias, o resultado
da soma do número de representantes dos seis maiores partidos que a integrem (art. 47, I, § 2º).

e) Por fim, foram revogados os incisos I e II do art. 10 da Lei das Eleições.

294 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ELEITORAL
1.3. Questão inédita comentada

Marque a alternativa correta a respeito das modificações promovidas pela Lei nº 14.211/2021.

A) Determina-se para cada partido o quociente partidário dividindo-se pelo quociente eleitoral o
número de votos válidos dados sob a mesma legenda, incluída a fração.

B) Cada partido poderá registrar candidatos para a Câmara dos Deputados, a Câmara Legislativa,
as Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais no total de até 100% do número de lugares a
preencher mais um.

C) Nas eleições proporcionais e majoritárias, os debates deverão ser organizados de modo que
assegurem a presença de número equivalente de candidatos de todos os partidos a um mesmo
cargo eletivo, não podendo se desdobrar em mais de um dia.

D) Estarão eleitos, entre os candidatos registrados por um partido que tenham obtido votos em
número igual ou superior a 20% (vinte por cento) do quociente eleitoral, tantos quantos o respectivo
quociente partidário indicar, na ordem da votação nominal que cada um tenha recebido.

E) É vedado aos partidos políticos celebrar coligações no registro de candidatos às eleições


majoritárias.

Alternativa correta: letra B. De acordo com o art. 10 da Lei nº 9.504/1997, alterado pela Lei
nº 14.211/2021, cada partido poderá registrar candidatos para a Câmara dos Deputados, a Câmara
Legislativa, as Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais no total de até 100% (cem por
cento) do número de lugares a preencher mais 1 (um) (Art. 10).

Art. 10. Cada partido poderá registrar candidatos para a Câmara dos
Deputados, a Câmara Legislativa, as Assembleias Legislativas e as Câmaras
Municipais no total de até 100% (cem por cento) do número de lugares a
preencher mais 1 (um).

Demais alternativas:

Alternativa A. Incorreta. De acordo com o art.107 da Lei nº 4.737/1965, alterado pela Lei nº
14.211/2021, determina-se para cada partido o quociente partidário dividindo-se pelo quociente
eleitoral o número de votos válidos dados sob a mesma legenda, desprezada a fração.

Art. 107. Determina-se para cada partido o quociente partidário dividindo-se


pelo quociente eleitoral o número de votos válidos dados sob a mesma
legenda, desprezada a fração.
295 Caderno de novidades legislativas
DIREITO ELEITORAL
Alternativa C. Incorreta. De acordo com o art. 46, II, da Lei nº 9.504/1997, alterado pela Lei
nº 14.211/2021,  nas eleições proporcionais, os debates deverão ser organizados de modo que
assegurem a presença de número equivalente de candidatos de todos os partidos a um mesmo
cargo eletivo e poderão desdobrar-se em mais de um dia, respeitada a proporção de homens e
mulheres estabelecida no § 3º do art. 10 desta lei.

Art. 46. (...)

II – nas eleições proporcionais, os debates deverão ser organizados de modo


que assegurem a presença de número equivalente de candidatos de todos
os partidos a um mesmo cargo eletivo e poderão desdobrar-se em mais de
um dia, respeitada a proporção de homens e mulheres estabelecida no § 3º
do art. 10 desta Lei.

Alternativa D. Incorreta. De acordo com o art. 108 da Lei nº 9.504/1997, alterado pela Lei nº
14.211/2021, estarão eleitos, entre os candidatos registrados por um partido que tenham obtido
votos em número igual ou superior a 10% (dez por cento) do quociente eleitoral, tantos quantos o
respectivo quociente partidário indicar, na ordem da votação nominal que cada um tenha recebido.

Art. 108. Estarão eleitos, entre os candidatos registrados por um partido que
tenham obtido votos em número igual ou superior a 10% (dez por cento)
do quociente eleitoral, tantos quantos o respectivo quociente partidário
indicar, na ordem da votação nominal que cada um tenha recebido.

Alternativa E. Incorreta. De acordo com o art. 91, § 3º, da Lei nº 9.504/1997, alterado pela Lei
nº 14.211/2021, é facultado aos partidos políticos celebrar coligações no registro de candidatos às
eleições majoritárias.

Art. 91. (...)

§ 3º É facultado aos partidos políticos celebrar coligações no registro de


candidatos às eleições majoritárias.

296 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
1. Lei nº 14.214/2021 -‒ Institui o Programa de Proteção e Promoção da
Saúde Menstrual
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.214/2021
Ementa: Institui o Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual; e altera a  Lei
nº 11.346, de 15 de setembro de 2006, para determinar que as cestas básicas
entregues no âmbito do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
(Sisan) deverão conter como item essencial o absorvente higiênico feminino.

Data de publicação: 07.10.2021

Início de vigência: Após decorridos 120 dias da data de publicação.

Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/


Lei/L14214.htm>
Destaque: Instituído o Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual.

1.2. Comentário

Em 07.10.2021, a Lei nº 14.214 foi publicada, com início de vigência em 120 dias após a sua
publicação.

A Lei nº 14.214/2021 instituiu o Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual,


programa de vertente assistencial que tem como objetivos combater a precariedade menstrual e
garantir cuidados básicos de saúde das mulheres.

A referida legislação constitui estratégia para promoção da saúde e atenção à higiene básica


das mulheres, com o fito da inclusão das mulheres em ações e programas de proteção à saúde
menstrual. Conforme previsto no art. 2º da Lei nº 14.214/2021:

Art. 2º É instituído o Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual,


que constitui estratégia para promoção da saúde e atenção à higiene e
possui os seguintes objetivos:

I -‒ combater a precariedade menstrual, identificada como a falta de acesso a


produtos de higiene e a outros itens necessários ao período da menstruação
feminina, ou a falta de recursos que possibilitem a sua aquisição;

297 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
II -‒ oferecer garantia de cuidados básicos de saúde e desenvolver meios
para a inclusão das mulheres em ações e programas de proteção à saúde
menstrual.

É imperioso compreender o que é pobreza menstrual. O Fundo das Nações Unidas para
a Infância (UNICEF, 2021) assim define pobreza menstrual: “é um conceito que reúne em duas
palavras um fenômeno complexo, transdisciplinar e multidimensional, vivenciado por meninas e
mulheres devido à falta de acesso a recursos, infraestrutura e conhecimento para que tenham plena
capacidade de cuidar da sua menstruação”.

A legislação surge como uma política pública voltada para combater a precariedade
menstrual, promover informação, acesso a produtos de higiene e a demais itens necessários ao
ciclo da menstruação feminina. A lei determina ao Poder Público o dever informativo sobre a saúde
menstrual e as suas consequências para a saúde da mulher, competindo aos entes federativos a
atuação conjunta nas áreas de saúde, de assistência social, de educação e de segurança pública.
Conforme previsto no art. 4º da Lei nº 14.214/2021:

Art. 4º O Programa instituído por esta Lei será implementado de forma


integrada entre todos os entes federados, mediante atuação, em especial,
das áreas de saúde, de assistência social, de educação e de segurança
pública.

§ 1º O Poder Público promoverá campanha informativa sobre a saúde


menstrual e as suas consequências para a saúde da mulher.

§ 2º Os gestores da área de educação ficam autorizados a realizar os gastos


necessários para o atendimento do disposto nesta Lei.

Por fim, importante mencionar que o texto original do projeto de lei ora em comento recebeu
muitos vetos presidenciais. Dentre os quais, daremos destaque ao veto ao dispositivo 7º do projeto
de lei que previa a alteração da Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006, para determinar que as
cestas básicas entregues no âmbito do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
(Sisan) deverão conter como item essencial o absorvente higiênico feminino.

É interessante o conhecimento das razões do veto desta previsão, pois foram amplamente
divulgadas na mídia.

Art. 7º O art. 4º da Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006, passa a vigorar


acrescido do seguinte parágrafo único:

“Art. 4º (...)

298 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Parágrafo único. As cestas básicas entregues no âmbito do Sisan deverão
conter como item essencial o absorvente higiênico feminino, conforme
as determinações previstas na lei que institui o Programa de Proteção e
Promoção da Saúde Menstrual”. (NR) 

Razões do veto

“A proposição legislativa estabelece que o art. 4º da Lei nº 11.346, de 15 de


setembro de 2006, passaria a vigorar acrescido de parágrafo único, que
dispõe que as cestas básicas entregues no âmbito do Sistema Nacional
de Segurança Alimentar e Nutricional ‒ Sisan deveriam conter como item
essencial o absorvente higiênico feminino, conforme as determinações
previstas na lei que institui o Programa de Proteção e Promoção da Saúde
Menstrual.

Entretanto, apesar de meritória, a proposição  extrapolaria o âmbito


de aplicação da Lei nº 11.346, de 2006, que dispõe sobre as definições,
princípios, diretrizes, objetivos e composição do Sistema Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional com vistas a assegurar o direito humano
à alimentação adequada. Nesse sentido, o Projeto de Lei introduziria uma
questão de saúde pública em uma lei que dispõe sobre segurança alimentar
e nutricional.

Ademais, a proposição legislativa contraria o interesse público, uma vez que


não indica a fonte de custeio ou medida compensatória e de compatibilidade
com a autonomia das redes e estabelecimentos de ensino, em violação ao
disposto nos art. 16, art. 17, art. 24 e art. 26 da Lei Complementar nº 101, de 4
de maio de 2000 ‒ Lei de Responsabilidade Fiscal, nos art. 125 e art. 126 da
Lei nº 14.116, de 31 de dezembro de 2020 ‒ Lei de Diretrizes Orçamentárias
2021 e da Lei Complementar nº 173, de 27 de maio de 2020.” 

1.3. Questão inédita comentada

Julgue o item:

A Lei nº 14.214/2021, ao instituir o Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual,


prevê expressamente a distribuição de cestas básicas contendo absorventes e produtos básicos de
higiene para mulheres.

CERTO ( ) ERRADO ( )

299 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
O item está errado.

O projeto de lei previa a disposição de distribuição de cestas básicas entregues no âmbito


do Sisan contendo como item essencial o absorvente higiênico feminino. Todavia, o dispositivo foi
vetado. Portanto, não há previsão expressa no diploma legal referido sobre a distribuição de cestas
básicas contendo absorventes e produtos básicos de higiene para mulheres. Vide a novel legislação
sem tal previsão:

Art. 1º (VETADO).

Art. 2º É instituído o Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual,


que constitui estratégia para promoção da saúde e atenção à higiene e
possui os seguintes objetivos:

I -‒ combater a precariedade menstrual, identificada como a falta de acesso a


produtos de higiene e a outros itens necessários ao período da menstruação
feminina, ou a falta de recursos que possibilitem a sua aquisição;

II ‒- oferecer garantia de cuidados básicos de saúde e desenvolver meios


para a inclusão das mulheres em ações e programas de proteção à saúde
menstrual.

Art. 3º (VETADO).

Art. 4º O Programa instituído por esta Lei será implementado de forma


integrada entre todos os entes federados, mediante atuação, em especial,
das áreas de saúde, de assistência social, de educação e de segurança
pública.

§ 1º O Poder Público promoverá campanha informativa sobre a saúde


menstrual e as suas consequências para a saúde da mulher.

§ 2º Os gestores da área de educação ficam autorizados a realizar os gastos


necessários para o atendimento do disposto nesta Lei.

Art. 5º (VETADO).

Art. 6º (VETADO).

Art. 7º (VETADO).

Art. 8º Esta Lei entra em vigor após decorridos 120 (cento e vinte) dias de
sua publicação oficial.

300 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
1. Lei nº 14.215/2021 – Parcerias com a Administração Pública durante
a pandemia
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.215/2021
Ementa: Institui normas de caráter transitório aplicáveis a parcerias celebradas pela
administração pública durante a vigência de medidas restritivas relacionadas ao
combate à pandemia de Covid-19, e dá outras providências.

Data de publicação: 08.10.2021

Início de vigência: 08.10.2021

Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/


L14215.htm>
Destaques:
• A lei prevê a possibilidade de suspensão das parcerias com o terceiro setor em razão
das medidas restritivas impostas pela pandemia, sem prejuízo da vigência do respectivo
instrumento e sem necessidade de celebração de termo aditivo, bastando, em regra, o
apostilamento.

• Garante, no caso de suspensão das atividades decorrente de medidas restritivas


relacionadas ao combate da pandemia, o repasse de pelo menos 70% dos recursos
pactuados.

• Possibilita o diferimento dos prazos de prestações de contas relacionados às parcerias de


que trata a lei.

• Autoriza a celebração de parcerias emergenciais temporárias para combate à pandemia.

• Suspende a exigibilidade de devolução de recursos ao erário relativa a prestações de


contas decorrentes dos ajustes firmados com o terceiro setor.

1.2. Comentário

Em 08.10.2021 foi publicada a Lei nº 14.215, com início imediato de vigência.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo “institui normas de caráter transitório
aplicáveis a parcerias celebradas pela administração pública durante a vigência de medidas restritivas
relacionadas ao combate à pandemia de covid-19, e dá outras providências.“

301 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Trata-se de mais uma inovação legal destinada ao enfrentamento da pandemia da Covid-19,
podendo ser destacada a possibilidade, prevista em seu art. 2º, para que a Administração Pública
suspenda, parcial ou integralmente, ou complemente as ações previstas em termos de fomento,
de colaboração, em acordos de cooperação, em termos de parceria, em contratos de gestão, em
contratos de repasse e em convênios celebrados pela administração pública nos termos da Lei nº
13.019/2014 sem prejuízo do período de vigência do respectivo instrumento quando decorrer de
medidas restritivas relacionadas ao combate à pandemia de Covid-19.

No caso de suspensão, o § 1º do referido art. 2º prevê que “será assegurado o repasse de pelo
menos 70% (setenta por cento) dos recursos vinculados à parceria, e serão revistos o plano de
trabalho, as metas e os resultados, no prazo de até 180 (cento e oitenta) dias, contado da data de
entrada em vigor desta Lei”.

Além disso, o § 2º do mesmo artigo determina que “As alterações de que trata o § 1º deste artigo
serão efetivadas por apostila, dispensada a assinatura de termo aditivo à parceria, exceto quando for
necessária a complementação do respectivo objeto”.

Importante, ainda, a previsão trazida pelo art. 3º da Lei nº 14.215/2021, relativa ao diferimento
dos prazos para prestação de contas:

Art. 3º  Os prazos de prestações de contas parciais ou finais relacionados


às parcerias de que trata esta Lei poderão ser diferidos em até 180 (cento
e oitenta) dias após o término de medidas restritivas inseridas em norma
federal, estadual, distrital ou municipal referente à pandemia de covid-19,
mediante ato específico da administração pública.

Também o prazo de vigência das parcerias poderá ser prorrogado, de ofício, limitadamente à
vigência de medidas restritivas inseridas em norma federal, estadual, distrital ou municipal referente
à pandemia de Covid-19 (art. 4º).

Ressalte-se, ainda, a previsão de celebração de parcerias emergenciais temporárias, prevista


no art. 6º da lei:

Art. 6º Fica autorizada a celebração de parcerias emergenciais temporárias


entre a administração pública e as organizações da sociedade civil cujo
objeto se relacione ao combate dos efeitos diretos e indiretos da pandemia
de covid-19 ou à adoção de medidas correlatas, observadas as seguintes
regras:

302 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
I – poderá ser dispensada a realização de chamamento público;

II – serão simplificados os procedimentos preliminares direcionados


à celebração da parceria, e poderá ser postergada a apresentação de
documentos exigidos pela legislação para habilitação da organização da
sociedade civil;

III – serão estabelecidos de forma sintética e objetiva o plano de trabalho, as


metas, os indicadores e os resultados;

IV – terão preferência as organizações da sociedade civil que mantenham


parceria com a administração pública ou que sejam por ela credenciadas.

Por fim, a nova lei suspende

a exigibilidade de devolução de recursos ao erário relativa a prestações


de contas decorrentes de termos de fomento, de termos de colaboração,
de termos de parceria, de contratos de gestão, de contratos de repasse e
de convênios celebrados pela administração pública, enquanto durarem
as medidas restritivas determinadas pelas autoridades públicas em norma
federal, estadual, distrital ou municipal referente à pandemia de covid-19.
(Art. 7º)

1.3. Questão inédita comentada

Acerca das parcerias emergenciais temporárias previstas na Lei nº 14.215, celebradas para o
combate à pandemia do Covid-19, é correto afirmar:

A) Podem ser celebradas dentro do período de vigência das medidas restritivas relacionadas ao
combate à pandemia de Covid-19, ainda que seu objeto não se relacione com o combate dos efeitos
da pandemia.

B) Essas parcerias emergenciais devem ser celebradas obrigatoriamente mediante realização de


chamamento público.

C) Serão simplificados os procedimentos preliminares direcionados à celebração da parceria, e


poderá ser postergada a apresentação de documentos exigidos pela legislação para habilitação da
organização da sociedade civil.

303 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
D) Serão estabelecidos de forma analítica e extensiva o plano de trabalho, as metas, os indicadores
e os resultados.

E) Não haverá preferência para celebração das parcerias com as organizações da sociedade civil
que já mantenham parceria com a administração pública ou que sejam por ela credenciadas.

Alternativa correta: letra C. É o que prevê o art. 6º, II, da Lei nº 14.215/2021.

Art. 6º Fica autorizada a celebração de parcerias emergenciais temporárias


entre a administração pública e as organizações da sociedade civil cujo
objeto se relacione ao combate dos efeitos diretos e indiretos da pandemia
de covid-19 ou à adoção de medidas correlatas, observadas as seguintes
regras: (...)

II – serão simplificados os procedimentos preliminares direcionados


à celebração da parceria, e poderá ser postergada a apresentação de
documentos exigidos pela legislação para habilitação da organização da
sociedade civil.

Demais alternativas:

Alternativa A. Incorreta. O art. 6º, caput, da Lei nº 14.215/2021 autoriza a celebração dessas
parcerias emergenciais apenas em relação àquelas cujo objeto se relacione ao combate dos efeitos
diretos e indiretos da pandemia de Covid-19 ou à adoção de medidas correlatas,

Art. 6º Fica autorizada a celebração de parcerias emergenciais temporárias


entre a administração pública e as organizações da sociedade civil cujo
objeto se relacione ao combate dos efeitos diretos e indiretos da pandemia
de covid-19 ou à adoção de medidas correlatas, observadas as seguintes
regras:

Alternativa B. Incorreta. Prevê o art. 6º, I, da Lei nº 14.215/2021 que poderá ser dispensada a
realização de chamamento público.

Art. 6º Fica autorizada a celebração de parcerias emergenciais temporárias


entre a administração pública e as organizações da sociedade civil cujo
objeto se relacione ao combate dos efeitos diretos e indiretos da pandemia
de covid-19 ou à adoção de medidas correlatas, observadas as seguintes
regras:

I – poderá ser dispensada a realização de chamamento público.

304 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Alternativa D. Incorreta. Prevê o art. 6º, III, da Lei nº 14.215/2021 que serão estabelecidos de
forma sintética e objetiva o plano de trabalho, as metas, os indicadores e os resultados.

Art. 6º (...)

III – serão estabelecidos de forma sintética e objetiva o plano de trabalho, as


metas, os indicadores e os resultados.

Alternativa E. Incorreta. Prevê o art. 6º, IV, da Lei nº 14.215/2021 que terão preferência as
organizações da sociedade civil que mantenham parceria com a administração pública ou que sejam
por ela credenciadas.

Art. 6º (...)

IV – terão preferência as organizações da sociedade civil que mantenham


parceria com a administração pública ou que sejam por ela credenciadas.

2. Lei nº 14.217/2021 -‒ Contratações públicas durante o estado de


calamidade pública
2.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.217/2021
Ementa: Dispõe sobre medidas excepcionais para a aquisição de bens e de insumos e para a
contratação de serviços, inclusive de engenharia, destinados ao enfrentamento da
pandemia da Covid-19.

Data de publicação: 14.10.2021

Início de vigência: 14.10.2021

Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/


Lei/L14217.htm>
Destaques:
• A lei cria regramento transitório em relação às contratações públicas, enquanto perdurar a
Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin) declarada em decorrência
da infecção humana pelo coronavírus SARS-CoV-2.

• Autoriza dispensa de licitação para a aquisição de bens e a contratação de serviços, inclusive


de engenharia, e insumos destinados ao enfrentamento da pandemia da Covid-19.

305 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
• Autoriza a realização de licitação na modalidade pregão, eletrônico ou presencial, com
prazos reduzidos.

• Autoriza a utilização do sistema de registro de preços e autoriza a Administração Pública


federal a aderir ao registro de preços estadual, distrital ou municipal.

• Admite a previsão de cláusula contratual que estabeleça o pagamento antecipado.

• Dispensa estudos preliminares quando se tratar de bens e serviços comuns.

• Admite termo de referência simplificado ou projeto básico simplificado nas aquisições ou


contratações de que trata a lei.

• Permite a contratação por valores superiores ao estimado decorrentes de oscilações


ocasionadas pela variação de preços, desde que observadas as condições legais.

• Dispensa alguns requisitos de habilitação na hipótese de haver restrição de fornecedores


ou de prestadores de serviço.

• Autoriza a contratação de fornecedor sujeito a sanção de impedimento ou de suspensão


de contratar com o poder público quando for o único fornecedor do bem ou prestador do
serviço, desde que prestada garantia.

• Prevê percentual de 50% para acréscimos ou supressões obrigatórias nos contratos


decorrentes dos procedimentos previstos na lei.

2.2. Comentário

Em 14.10.2021, foi publicada a Lei nº 14.217, oriunda da conversão da Medida Provisória (MP) nº
1.027/2021, com início imediato de vigência.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo dispõe sobre “medidas excepcionais
para a aquisição de bens e de insumos e para a contratação de serviços, inclusive de engenharia,
destinados ao enfrentamento da pandemia da Covid-19”.

Trata-se de mais uma inovação legal destinada ao enfrentamento da pandemia da Covid-19


por meio da flexibilização dos procedimentos para aquisição de bens e a contratação de serviços,
inclusive de engenharia, e insumos destinados ao enfrentamento da pandemia da Covid-19, para os
quais fica autorizada a dispensa de licitação, nos termos do art. 2º, I, da Lei nº 14.217/2021.

306 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
A lei replica medidas que constavam das Leis nºs 13.979/2020 e 14.065/2020, que também
previam medidas excepcionais para a aquisição de bens e a contratação de serviços, inclusive de
engenharia, e insumos destinados ao enfrentamento da pandemia, mas que perderão vigência no
final de 2021.

Importante ressaltar que, nos termos do parágrafo único do art. 1º da Lei nº 14.217/2021, a
aquisição de vacinas e insumos e a contratação de bens e de serviços necessários à implementação
da vacinação contra a Covid-19 são regidas pelo disposto na Lei nº 14.124/2021, não pela lei em
comento.

Uma das regras de flexibilização para as licitações previstas na lei é a possibilidade de a


administração pública prever cláusula contratual que estabeleça o pagamento antecipado,
desde que:

I – represente condição indispensável para obter o bem ou assegurar a


prestação do serviço; ou

II – propicie significativa economia de recursos (art. 7º).

Esses pagamentos deverão ser previstos e regulados em edital ou em instrumento formal de


adjudicação direta e exigirão a devolução integral do valor antecipado, caso haja inexecução, hipótese
em que o montante da devolução será atualizado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA) ou índice que venha a substituí-lo, desde a data do pagamento da antecipação até a
data da devolução, na forma do art. 7º, § 1º, I e II, da Lei nº 14.217/2021. Além disso, o § 3º do mesmo
artigo veda o pagamento antecipado na hipótese de prestação de serviços com regime de dedicação
exclusiva de mão de obra.

Além disso, a lei dispensa a elaboração de estudos preliminares, quando se tratar de bens e
de serviços comuns (art. 8º, I); exige previsão de matriz de alocação de risco entre o contratante e
o contratado na hipótese de aquisições e de contratos acima de R$ 200.000.000,00 (duzentos
milhões de reais) -‒ art. 8º, II; possibilita a exigência de gerenciamento de riscos da contratação, em
contrato cujo valor seja inferior ao previsto no inciso II do caput deste artigo, somente durante a
gestão do contrato (art. 8º, III); e permite a apresentação de termo de referência simplificado ou de
projeto básico simplificado (art. 8º, IV), que conterão as informações previstas no § 1º do art. 8º.

307 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Importante também a previsão contida no § 2º do art. 8º, referente às oscilações de preços:

Art. 8º (...)

§ 2º Os preços obtidos a partir da estimativa de preços de que trata o inciso


VI do § 1º deste artigo não impedem a contratação pelo poder público por
valores superiores decorrentes de oscilações ocasionadas pela variação de
preços, desde que observadas as seguintes condições:

I -‒ negociação prévia com os demais fornecedores, segundo a ordem de


classificação, para obtenção de condições mais vantajosas; e

II ‒- fundamentação, nos autos do processo administrativo da contratação


correspondente, da variação de preços praticados no mercado por motivo
superveniente.

O art. 9º da Lei nº 14.217/2021 dispensa, ainda, o cumprimento de um ou mais requisitos de


habilitação “na hipótese de haver restrição de fornecedores ou de prestadores de serviço”, desde
que “excepcionalmente e mediante justificativa” da autoridade competente, ressalvados a exigência
de apresentação de prova de regularidade trabalhista e o cumprimento do disposto no inciso XXXIII
do caput do art. 7º e do § 3º do art. 195 da Constituição (CF/1988).

O art. 11 estabelece limites para a movimentação realizada por meio de Cartão de Pagamento
do Governo, para a concessão de suprimento de fundos e por item de despesa, e para as aquisições e
contratações de que trata esta lei, determinando seu parágrafo único que os extratos dos pagamentos
efetuados nos termos deste artigo deverão ser divulgados e mantidos à disposição do público no
Portal Nacional de Contratações Públicas (PNCP), de que dispõe a Lei nº 14.133/2021 (Nova Lei de
Licitações e Contratos Administrativos).

O art. 12, por sua vez, autoriza “a contratação de fornecedor exclusivo de bem ou de serviço
de que trata esta lei, inclusive no caso da existência de inidoneidade declarada ou de sanção de
impedimento ou de suspensão para celebração de contrato com o Poder Público”, desde que
prestada garantia nas modalidades previstas no art. 56 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, que
não poderá exceder 10% do valor do contrato, na forma do parágrafo único do mesmo artigo.

Outra importante diferença prevista para as contratações de que trata a Lei nº 14.217/2021 é
em relação ao percentual de acréscimos ou supressões obrigatórias. Nos termos do art. 13 da Lei nº
14.217/2021:

308 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Art. 13. Para os contratos celebrados nos termos desta Lei, a administração
pública poderá estabelecer cláusula com previsão de que os contratados
ficam obrigados a aceitar, nas mesmas condições contratuais iniciais,
acréscimos ou supressões ao objeto contratado, limitados a até 50%
(cinquenta por cento) do valor inicial atualizado do contrato.

Ademais, a lei dispõe que na hipótese de dispensa de licitação de que trata o inciso I do caput
do art. 2º da lei, quando se tratar de compra ou de contratação por mais de um órgão ou entidade,
poderá ser utilizado o sistema de registro de preços previsto no inciso II do caput do art. 15 da Lei nº
8.666, de 1993 (art. 4º), prevendo, ainda, que

os órgãos e entidades da administração pública federal poderão aderir à ata


de registro de preços gerenciada por órgão ou entidade estadual, distrital ou
municipal (...) até o limite, por órgão ou entidade, de cinquenta por cento dos
quantitativos dos itens do instrumento convocatório e registrados na ata de
registro de preços para o órgão gerenciador e para os órgãos participantes
(art. 6º).

Por fim, o art. 14 determina que os contratos regidos por esta lei terão prazo de duração de até
seis meses e poderão ser prorrogados por períodos sucessivos, desde que as condições e os preços
permaneçam vantajosos para a administração pública, até a declaração, pelo Ministro de Estado da
Saúde, do encerramento da Espin declarada em decorrência da infecção humana pelo coronavírus
SARS-CoV-2.

2.3. Questão inédita comentada

Com relação às medidas especiais para a aquisição de bens e a contratação de serviços e


insumos destinados ao enfrentamento da pandemia da Covid-19 previstas na Lei nº 14.217/2021, é
incorreto afirmar:

A) Na situação excepcional de, comprovadamente, haver um único fornecedor do bem ou prestador


do serviço, será permitida a sua contratação, independentemente da existência de sanção de
impedimento ou de suspensão de contratar com o Poder Público.

B) A aquisição de vacinas e insumos e a contratação de bens e de serviços necessários à


implementação da vacinação contra a Covid-19 também são regidas pela Lei nº 14.217/2021.

309 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
C) Na hipótese de dispensa de licitação, quando se tratar de compra ou de contratação por mais de
um órgão ou entidade, poderá ser utilizado o sistema de registro de preços.

D) No planejamento das aquisições e das contratações de que trata a lei, não será exigida a elaboração
de estudos preliminares, quando se tratar de bens e de serviços comuns.

E) No planejamento das aquisições e das contratações de que trata a lei, será admitida a apresentação
de termo de referência simplificado ou de projeto básico simplificado.

Alternativa correta: letra B. Nos termos do art. 1º, parágrafo único, da Lei nº 14.217/2021, “a
aquisição de vacinas e insumos e a contratação de bens e de serviços necessários à implementação
da vacinação contra a covid-19 são regidas pelo disposto na Lei nº 14.124, de 10 de março de 2021.”

Art. 1º Esta Lei dispõe sobre medidas excepcionais para a aquisição de bens
e de insumos e para a contratação de serviços, inclusive de engenharia,
destinados ao enfrentamento da pandemia da Covid-19.

Parágrafo único. A aquisição de vacinas e de insumos e a contratação de


bens e de serviços necessários à implementação da vacinação contra a
Covid-19 são regidas pelo disposto na Lei nº 14.124, de 10 de março de 2021.

Demais alternativas:

Alternativa A. Incorreta. Assertiva está correta, conforme prevê o art. 12 da Lei nº 14.217/2021:

Art. 12. Fica autorizada a contratação excepcional de fornecedor exclusivo


de bem ou de serviço de que trata esta Lei, inclusive no caso da existência
de inidoneidade declarada ou de sanção de impedimento ou de suspensão
para celebração de contrato com o poder público.

Alternativa C. Incorreta. Assertiva está correta, conforme prevê o art. 4º da Lei nº 14.217/2021:

Art. 4º Na hipótese de dispensa de licitação de que trata o inciso I do caput


do art. 2º desta Lei, quando se tratar de aquisição ou de contratação por
mais de um órgão ou entidade, poderá ser utilizado o sistema de registro de
preços previsto no inciso II do caput do art. 15 da Lei nº 8.666, de 21 de junho
de 1993.

310 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Alternativa D. Incorreta. Assertiva está correta, conforme prevê o art. 8º, I, da Lei nº 14.217/2021:

Art. 8º No planejamento das aquisições e das contratações de que trata esta


Lei, a administração pública deverá observar as seguintes condições:

I – ficará dispensada a elaboração de estudos preliminares, quando se tratar


de bens e serviços comuns.

Alternativa E. Incorreta. Assertiva está correta, conforme prevê o art. 8º, IV, da Lei nº 14.217/2021.

Art. 8º No planejamento das aquisições e das contratações de que trata esta


Lei, a administração pública deverá observar as seguintes condições:

IV ‒- será admitida a apresentação de termo de referência simplificado ou de


projeto básico simplificado.

3. Lei nº 14.230/2021 – “Nova” Lei de Improbidade Administrativa


3.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.230/2021
Ementa: Altera a Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, que dispõe sobre improbidade
administrativa.

Data de publicação: 26.10.2021


Início de vigência: 26.10.2021

Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/


Lei/L14230.htm>
Destaques:
• Promove diversas e profundas alterações na Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº
8.429/1992 – LIA), razão pela qual alguns doutrinadores a denominaram como “Nova Lei
de Improbidade Administrativa”.

• A nova lei prevê expressamente que divergências interpretativas não configuram ato de
improbidade.

• Delimita o conceito de agente público por extensão, exigindo a comprovação de dolo


também deste.

• A lei amplia a responsabilidade sucessória também para a hipótese de alteração contratual,


transformação, incorporação, fusão ou cisão societária.

311 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
• A lei passa a exigir, para a configuração de qualquer ato de improbidade, dolo específico
do agente.

• A lei traz diretrizes específicas para a dosimetria da pena.

• Passa a prever, expressamente, o princípio do non bis in idem, vedando a cumulação das
sanções da lei de improbidade com as sanções da lei anticorrupção e a necessária extinção
da ação de improbidade no caso de absolvição, pelos mesmos fatos, na esfera penal.

• A lei veda que a inclusão do valor de eventual multa civil na medida de indisponibilidade
de bens, superando anterior jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

• Prevê a legitimidade exclusiva do Ministério Público para propor a ação judicial de


improbidade.

3.2. Comentário

Em 26.10.2021 foi publicada a Lei nº 14.230, com início imediato de vigência.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo “altera a Lei nº 8.429, de 2 de junho de
1992, que dispõe sobre improbidade administrativa”.

Trata-se de importante inovação em matéria de improbidade administrativa, já que foram


alterados pontos sensíveis da lei.

Desses pontos, alguns merecem especial atenção e serão abordados a seguir.

O primeiro e principal ponto alterado com a nova lei é a exigência de dolo específico para
que os agentes públicos sejam responsabilizados. Para a configuração do ato de improbidade e
sua responsabilização, deverá ser comprovada a vontade livre e consciente do agente público de
alcançar o resultado ilícito (art. 1º, §§ 2º e 3º, da Lei 8.429/1992 – LIA), não bastando a voluntariedade
ou o mero exercício da função.

Além disso, também não poderá ser punida a ação ou omissão decorrente de divergência na
interpretação da lei. Isso porque, conforme o § 8º do art. 1º da LIA, inserido pela Lei nº 14.230,

não configura improbidade a ação ou omissão decorrente de divergência


interpretativa da lei, baseada em jurisprudência, ainda que não pacificada,
mesmo que não venha a ser posteriormente prevalecente nas decisões dos
órgãos de controle ou dos tribunais do Poder Judiciário.

312 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Importante ressaltar, ainda, a nova redação do art. 3º da LIA, que delimita o conceito de agente
público por extensão, exigindo a comprovação de dolo também deste:

Art. 3º As disposições desta Lei são aplicáveis, no que couber, àquele que,
mesmo não sendo agente público, induza ou concorra dolosamente para a
prática do ato de improbidade. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021.)

Também a responsabilidade sucessória foi alterada pela nova lei, conforme se verifica da leitura
dos arts. 8º e 8º-A:

Art. 8º O sucessor ou o herdeiro daquele que causar dano ao erário ou que


se enriquecer ilicitamente estão sujeitos apenas à obrigação de repará-lo
até o limite do valor da herança ou do patrimônio transferido. (Redação
dada pela Lei nº 14.230, de 2021.)

Art. 8º-A A responsabilidade sucessória de que trata o art. 8º desta Lei


aplica-se também na hipótese de alteração contratual, de transformação,
de incorporação, de fusão ou de cisão societária. (Incluído pela Lei nº 14.230,
de 2021.)

Parágrafo único. Nas hipóteses de fusão e de incorporação, a responsabilidade


da sucessora será restrita à obrigação de reparação integral do dano
causado, até o limite do patrimônio transferido, não lhe sendo aplicáveis as
demais sanções previstas nesta Lei decorrentes de atos e de fatos ocorridos
antes da data da fusão ou da incorporação, exceto no caso de simulação ou
de evidente intuito de fraude, devidamente comprovados. (Incluído pela Lei
nº 14.230, de 2021.)

Quanto aos atos de improbidade, a Lei nº 14.230/2021 passou a prever que o rol de atos
que atentem contra os princípios da administração (art. 11), antes meramente exemplificativo,
agora é taxativo. No entanto, cumpre ressaltar que o rol de condutas que acarretem improbidade
por enriquecimento ilícito (art. 9º) ou prejuízo ao erário (art. 10) continua sendo meramente
exemplificativo.

Importante alteração se deu também no campo das sanções.

A pena de suspensão de direitos políticos e proibição de contratar com o poder público foi
aumentada para até 14 anos. No entanto, o valor da multa civil foi limitado para o equivalente ao
valor acrescido ao patrimônio ou ao dano ao erário, podendo esta ser aumentada até o dobro, a
depender da situação econômica do réu e da eficácia para a prevenção do ato de improbidade (art.
12, § 2º, da Lei nº 8.429).

313 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Nesse ponto relativo às sanções, a lei passou a prever diretrizes para a aplicação das penas nos
parágrafos do art. 12, determinando, expressamente, o atendimento ao princípio do non bis in idem:

§ 3º Na responsabilização da pessoa jurídica, deverão ser considerados os


efeitos econômicos e sociais das sanções, de modo a viabilizar a manutenção
de suas atividades.

§ 4º Em caráter excepcional e por motivos relevantes devidamente


justificados, a sanção de proibição de contratação com o poder público
pode extrapolar o ente público lesado pelo ato de improbidade, observados
os impactos econômicos e sociais das sanções, de forma a preservar a
função social da pessoa jurídica, conforme disposto no § 3º deste artigo.

§ 5º No caso de atos de menor ofensa aos bens jurídicos tutelados por esta
Lei, a sanção limitar-se-á à aplicação de multa, sem prejuízo do ressarcimento
do dano e da perda dos valores obtidos, quando for o caso, nos termos do
caput deste artigo.

§ 6º Se ocorrer lesão ao patrimônio público, a reparação do dano a que


se refere esta Lei deverá deduzir o ressarcimento ocorrido nas instâncias
criminal, civil e administrativa que tiver por objeto os mesmos fatos.

§ 7º As sanções aplicadas a pessoas jurídicas com base nesta Lei e na Lei nº


12.846, de 1º de agosto de 2013, deverão observar o princípio constitucional
do non bis in idem.

Quanto ao princípio do non bis in idem, ressalta-se o disposto no § 2º do art. 3º da LIA, inserido
pela Lei nº 14.230:

§ 2º As sanções desta Lei não se aplicarão à pessoa jurídica, caso o ato de


improbidade administrativa seja também sancionado como ato lesivo à
administração pública de que trata a Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013.

Destaca-se, ainda nesse ponto, a previsão de que as sanções somente poderão ser executadas
após o trânsito em julgado da sentença condenatória (art. 12, § 9º, da LIA). Anteriormente, somente
as penas de suspensão dos direitos políticos e perda da função pública dependiam do trânsito em
julgado. No entanto, ressalte-se que o prazo de suspensão dos direitos políticos inicia com a
decisão colegiada, ou seja, antes do trânsito em julgado. Computar-se-á retroativamente o intervalo
de tempo entre a decisão colegiada e o trânsito em julgado da sentença condenatória (art. 12, § 10,
da LIA).

314 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Relativamente à multa civil, chama atenção o disposto na parte final do art. 16, § 10, da LIA,
inserido pela Lei nº 14.230 em evidente superação de entendimento anterior do STJ em sentido
contrário:

§ 10 A indisponibilidade recairá sobre bens que assegurem exclusivamente


o integral ressarcimento do dano ao erário, sem incidir sobre os valores a
serem eventualmente aplicados a título de multa civil ou sobre acréscimo
patrimonial decorrente de atividade lícita.

Outra relevante alteração dada pela Lei nº 14.230 foi a previsão de que apenas o Ministério
Público tem legitimidade para propor a ação judicial de improbidade (art. 17). No regime anterior,
a pessoa jurídica lesada também poderia ajuizar a demanda.

Por fim, foi mantida a possibilidade de o Ministério Público celebrar acordo de não persecução
civil, introduzida em 2019 pela Lei nº 13.964. No entanto, a nova lei passa a exigir que do acordo
advenham, ao menos, o integral ressarcimento do dano e a reversão à pessoa jurídica lesada da
vantagem indevida obtida, ainda que oriunda de agentes privados, na forma do art. 17-B, incisos I e
II, da LIA.

3.3. Questão inédita comentada

De acordo com a Lei nº 8.429/1992, com alterações dadas pela Lei nº 14.230/2021, é correto
afirmar:

A) O mero exercício da função ou desempenho de competências públicas, ainda que sem


comprovação de ato doloso com fim ilícito, gera responsabilidade por ato de improbidade
administrativa.

B) O sucessor ou o herdeiro daquele que causar dano ao erário ou que se enriquecer ilicitamente
estão sujeitos à obrigação de repará-lo apenas até o limite do valor da herança.

C) Nas hipóteses de fusão e de incorporação, a responsabilidade da sucessora será restrita à


obrigação de reparação integral do dano causado, até o limite do patrimônio transferido, não lhe
sendo aplicáveis as demais sanções previstas na LIA decorrentes de atos e de fatos ocorridos antes
da data da fusão ou da incorporação, exceto no caso de simulação ou de evidente intuito de fraude,
devidamente comprovados.      

315 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
D) A multa pode ser aumentada até o triplo, se o juiz considerar que, em virtude da situação
econômica do réu, o valor original é ineficaz para reprovação e prevenção do ato de improbidade. 

E) Se ocorrer lesão ao patrimônio público, a reparação do dano a que se refere a LIA deverá se somar
ao ressarcimento ocorrido nas instâncias criminal, civil e administrativa que tiverem por objeto os
mesmos fatos.

Alternativa correta: letra C. É o que prevê o art. 8º-A, parágrafo único, da Lei nº 8.429/1992,
inserido pela Lei nº 14.230/2021.

Art. 8º-A (...)

Parágrafo único. Nas hipóteses de fusão e de incorporação, a responsabilidade


da sucessora será restrita à obrigação de reparação integral do dano
causado, até o limite do patrimônio transferido, não lhe sendo aplicáveis as
demais sanções previstas nesta lei decorrentes de atos e de fatos ocorridos
antes da data da fusão ou da incorporação, exceto no caso de simulação ou
de evidente intuito de fraude, devidamente comprovados. (Incluído pela Lei
nº 14.230, de 2021.)

Demais alternativas:

Alternativa A. Incorreta. Determina o art. 1º, § 3º, da Lei nº 8.429/1992, com redação dada pela
Lei nº 14.230/2021, que “o mero exercício da função ou desempenho de competências públicas,
sem comprovação de ato doloso com fim ilícito, afasta a responsabilidade por ato de improbidade
administrativa”.

Alternativa B. Incorreta. Determina o art. 8º da Lei nº 8.429/1992, com redação dada pela Lei nº
14.230/2021, que “o sucessor ou o herdeiro daquele que causar dano ao erário ou que se enriquecer
ilicitamente estão sujeitos apenas à obrigação de repará-lo até o limite do valor da herança ou do
patrimônio transferido” (grifos nossos).

Alternativa D. Incorreta. A multa pode ser aumentada até o dobro, conforme prevê o art. 12, §
2º, da Lei nº 8.429/1992.

Art. 12. (...)

§ 2º A multa pode ser aumentada até o dobro, se o juiz considerar que, em


virtude da situação econômica do réu, o valor calculado na forma dos incisos
I, II e III do caput deste artigo é ineficaz para reprovação e prevenção do ato
de improbidade. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021.)

316 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Alternativa E. Incorreta. Se ocorrer lesão ao patrimônio público, a reparação do dano a que se
refere a LIA deverá deduzir o ressarcimento ocorrido nas instâncias criminal, civil e administrativa
que tiverem por objeto os mesmos fatos, conforme determina o § 6º do art. 12 da Lei nº 8.429/1992.

Art. 12. (...)

§ 6º Se ocorrer lesão ao patrimônio público, a reparação do dano a que


se refere esta Lei deverá deduzir o ressarcimento ocorrido nas instâncias
criminal, civil e administrativa que tiver por objeto os mesmos fatos. (Incluído
pela Lei nº 14.230, de 2021.)

317 Caderno de novidades legislativas


DIREITO CIVIL
1. Lei nº 14.216/2021 - Medidas excepcionais em razão da Emergência
em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin) no âmbito das
relações privadas
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.216/2021
Ementa: Estabelece medidas excepcionais em razão da Emergência em Saúde Pública de
Importância Nacional (Espin) decorrente da infecção humana pelo coronavírus
SARS-CoV-2, para suspender o cumprimento de medida judicial, extrajudicial
ou administrativa que resulte em desocupação ou remoção forçada coletiva
em imóvel privado ou público, exclusivamente urbano, e a concessão de liminar
em ação de despejo de que trata a Lei nº 8.245, de 18 de outubro de 1991, e para
estimular a celebração de acordos nas relações locatícias.

Data de publicação: 08.10.2021


Início de vigência: 08.10.2021

Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/


Lei/L14216.htm>
Destaques:
• A lei suspende até o dia 31 de dezembro de 2021 os efeitos de atos ou decisões judiciais,
extrajudiciais ou administrativas que resultem em desocupação ou remoção forçada
coletiva em imóvel privado ou público urbano, que sirva de moradia ou área produtiva pelo
trabalho individual ou familiar.

• Fica vedada a concessão de liminar para desocupação de imóvel urbano nas ações de
despejo a que se referem os incisos I, II, V, VII, VIII e IX do § 1º do art. 59 da Lei Federal nº
8.245/1991, até o dia 31 de dezembro de 2021 se o locatário demonstrar alteração de sua
situação econômico-financeira em razão da pandemia, que o deixe incapacitado de pagar
aluguel e encargos, sem prejuízo da subsistência familiar.

• Caso não seja possível a negociação com o locador de desconto, suspensão, ou outras
medidas que facilitem o pagamento do aluguel pelo locatário que tiver tido alteração
econômico-financeira, em razão da pandemia, o locatário poderá denunciar o contrato de
locação, sem o pagamento de multa ou cumprimento de aviso-prévio, seja ele de prazo
determinado ou indeterminado, até o dia 31 de dezembro de 2021.

• Fica expressamente permitida a realização de acordo para desconto, suspensão ou


adiamento de pagamento de aluguel ou que estabeleça condições para garantir o
reequilíbrio contratual da locação, por meio de correspondência eletrônica ou de aplicativo
de mensagens. O conteúdo extraído desses meios terá valor de aditivo contratual e efeito
de título executivo extrajudicial.

318 Caderno de novidades legislativas


DIREITO CIVIL
1.2. Comentário

A pandemia de Covid-19 e as medidas que tiveram de ser adotadas para sua prevenção e
mitigação trouxeram vários impactos econômicos à sociedade global. Muitas pessoas perderam
os seus empregos, tiveram reduções de remuneração ou não puderam exercer regularmente a
sua atividade empresária, o que gerou consequências ao consumo e até mesmo a setores básicos,
como o mercado de locações. Muitos, em razão da modificação de suas situações econômicas, não
puderam honrar adequadamente com o pagamento dos aluguéis, o que, via de consequência, tende
a gerar um aumento no número de ações de despejo e cobrança de aluguel e poderia ensejar uma
questão social de pessoas sem ter onde morar nesse período.

Verificado esse cenário, o Congresso Nacional decidiu promulgar a Lei Federal nº 14.216/2021,
que havia tido seu texto integralmente vetado pelo presidente da República, com a posterior
derrubada pelo Congresso. Assim, a referida lei foi posta em vigor com o intuito de criar melhores
condições para que aquelas pessoas que sofreram impacto em suas rendas e que possuem contratos
de aluguel de baixo valor possam renegociar suas dívidas e condições contratuais ou, ao menos,
que não possam ser provisoriamente retiradas de suas residências ou do local no qual exercem suas
atividades.

A Lei Federal nº 14.216/2021, portanto,

estabelece medidas excepcionais em razão da Emergência em Saúde


Pública de Importância Nacional (Espin) decorrente da infecção humana
pelo coronavírus SARS-CoV-2, para suspender o cumprimento de medida
judicial, extrajudicial ou administrativa que resulte em desocupação ou
remoção forçada coletiva em imóvel privado ou público, exclusivamente
urbano, e a concessão de liminar em ação de despejo de que trata a Lei nº
8.245, de 18 de outubro de 1991, e para estimular a celebração de acordos
nas relações locatícias.

Também conforme o seu art. 1º:

Art. 1º Esta Lei estabelece medidas excepcionais em razão da Emergência


em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin) decorrente da infecção
humana pelo coronavírus SARS-CoV-2, para suspender até 31 de dezembro
de 2021 o cumprimento de medida judicial, extrajudicial ou administrativa
que resulte em desocupação ou remoção forçada coletiva em imóvel privado
ou público, exclusivamente urbano, e a concessão de liminar em ação de

319 Caderno de novidades legislativas


DIREITO CIVIL
despejo de que trata a Lei nº 8.245, de 18 de outubro de 1991, para dispensar
o locatário do pagamento de multa em caso de denúncia de locação de
imóvel e para autorizar a realização de aditivo em contrato de locação por
meio de correspondências eletrônicas ou de aplicativos de mensagens.

A Lei nº 14.216/2021 vai ao encontro de liminar deferida ad referendum pelo Ministro Luís
Roberto Barroso na ADPF nº 828, que, em 04.06.2021, suspendeu por seis meses ordens de
desocupação de imóveis que já estavam habitados antes de 20.03.2020.

Assim, conforme o art. 2º da lei, verifica-se que ficam suspensos até o dia 31 de dezembro
de 2021 os efeitos de atos ou de decisões judiciais, extrajudiciais ou administrativas, editados ou
proferidos desde a vigência do reconhecimento da pandemia como estado de calamidade pública,
que imponham a desocupação ou a remoção, forçada coletiva de imóvel privado ou público,
exclusivamente urbano, que sirva de moradia ou que represente área produtiva pelo trabalho
individual ou familiar. O § 1º do art. 2º destaca os casos nos quais aplica-se a suspensão:

Art. 2º (...)

§ 1º Para fins do disposto neste artigo, aplica-se a suspensão nos seguintes


casos, entre outros:

I – execução de decisão liminar e de sentença em ações de natureza


possessória e petitória, inclusive mandado pendente de cumprimento;

II – despejo coletivo promovido pelo Poder Judiciário;

III – desocupação ou remoção promovida pelo poder público;

IV – medida extrajudicial;

V – despejo administrativo em locação e arrendamento em assentamentos;

VI – autotutela da posse.

Destaca-se, ainda, que, as medidas decorrentes de atos ou decisões proferidos em data anterior
à vigência do estado de calamidade pública (20 de março de 2020), conforme reconhecido no
Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020, também não poderão ser efetivadas até o dia 31 de
dezembro de 2021 (um ano após o término do prazo reconhecido pelo Decreto Legislativo). Assim,
aquelas decisões proferidas antes do dia 20 de março de 2020 apenas poderão ser regularmente
executadas após o dia 31 de dezembro de 2021, uma vez que o decreto reconhecia o estado de
calamidade pública até o dia 31 de dezembro de 2020.

320 Caderno de novidades legislativas


DIREITO CIVIL
O § 3º do art. 2º impõe, por sua vez, que os processos que se relacionem com a tomada das
referidas medidas de remoção forçada de pessoas deverão ser sobrestados, e não poderão ser
tomadas medidas preparatórias ou negociações com o fim de efetivar eventuais remoções.

O art. 3º da lei trata de definir o conceito de remoção ou desocupação. Nesse sentido, define:

Art. 3º Considera-se desocupação ou remoção forçada coletiva a retirada


definitiva ou temporária de indivíduos ou de famílias, promovida de forma
coletiva e contra a sua vontade, de casas ou terras que ocupam, sem que
estejam disponíveis ou acessíveis as formas adequadas de proteção de seus
direitos, notadamente:

I – garantia de habitação, sem nova ameaça de remoção, viabilizando o


cumprimento do isolamento social;

II – manutenção do acesso a serviços básicos de comunicação, de energia


elétrica, de água potável, de saneamento e de coleta de lixo;

III – proteção contra intempéries climáticas ou contra outras ameaças à


saúde e à vida;

IV – acesso aos meios habituais de subsistência, inclusive acesso a terra, a


seus frutos, a infraestrutura, a fontes de renda e a trabalho;

V – privacidade, segurança e proteção contra a violência à pessoa e contra o


dano ao seu patrimônio.

Além disso, a Lei nº 14.216/2021 dispõe que, se o locatário demonstrar dificuldade financeira
que resulte em incapacidade de pagamento do aluguel e outros encargos relacionados sem prejuízo
da subsistência familiar ocasionada por medida de enfrentamento da pandemia, e o valor mensal do
aluguel for igual ou menor que R$ 600,00 para imóveis residenciais e R$ 1.200,00 para imóveis não
residenciais, não será concedida liminar para desocupação de imóvel urbano nas ações de despejo.

Art. 4º Em virtude da Espin decorrente da infecção humana pelo coronavírus


SARS-CoV-2, não se concederá liminar para desocupação de imóvel
urbano nas ações de despejo a que se referem os incisos I, II, V, VII, VIII e IX
do § 1º do art. 59 da Lei nº 8.245, de 18 de outubro de 1991, até 31 de dezembro
de 2021, desde que o locatário demonstre a ocorrência de alteração da
situação econômico-financeira decorrente de medida de enfrentamento
da pandemia que resulte em incapacidade de pagamento do aluguel e
dos demais encargos sem prejuízo da subsistência familiar.

Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo somente se aplica aos


contratos cujo valor mensal do aluguel não seja superior a:

321 Caderno de novidades legislativas


DIREITO CIVIL
I – R$ 600,00 (seiscentos reais), em caso de locação de imóvel residencial;

II – R$ 1.200,00 (mil e duzentos reais), em caso de locação de imóvel não


residencial. (Grifos nossos.)

O art. 4º da lei trata de especificar a vedação da concessão de liminares de despejo nas


hipóteses dos incisos I, II, V, VII, VIII e IX do § 1º do art. 59 da Lei Federal nº 8.245/1991 (Lei de
Locações). Contudo, o locatário deverá demonstrar que ocorreu alteração de sua situação
econômico-financeira, em razão da pandemia, que resultou em sua incapacidade de pagar o
aluguel e os respectivos encargos, sem prejuízo da subsistência familiar.

Vejamos quais são as hipóteses de liminares vedadas, conforme consta da Lei nº 8.245/1991:

Art. 59. Com as modificações constantes deste capítulo, as ações de despejo


terão o rito ordinário.

§ 1º Conceder-se-á liminar para desocupação em quinze dias,


independentemente da audiência da parte contrária e desde que prestada a
caução no valor equivalente a três meses de aluguel, nas ações que tiverem
por fundamento exclusivo:

I – o descumprimento do mútuo acordo (art. 9º, inciso I), celebrado por


escrito e assinado pelas partes e por duas testemunhas, no qual tenha sido
ajustado o prazo mínimo de seis meses para desocupação, contado da
assinatura do instrumento;

II – o disposto no inciso II do art. 47, havendo prova escrita da rescisão do


contrato de trabalho ou sendo ela demonstrada em audiência prévia;

(...)

V – a permanência do sublocatário no imóvel, extinta a locação, celebrada


com o locatário.

(...)

VII – o término do prazo notificatório previsto no parágrafo único do art. 40,


sem apresentação de nova garantia apta a manter a segurança inaugural do
contrato;

VIII – o término do prazo da locação não residencial, tendo sido proposta


a ação em até 30 (trinta) dias do termo ou do cumprimento de notificação

322 Caderno de novidades legislativas


DIREITO CIVIL
comunicando o intento de retomada;

IX – a falta de pagamento de aluguel e acessórios da locação no vencimento,


estando o contrato desprovido de qualquer das garantias previstas no
art. 37, por não ter sido contratada ou em caso de extinção ou pedido de
exoneração dela, independentemente de motivo.

A lei também faz indiretamente um estímulo a que os locadores e os locatários entrem em um


acordo sobre melhores condições para os locatários prejudicados pela pandemia poderem pagar
regularmente os aluguéis. Dessa forma, conforme o art. 5º, ela impõe que, se não for possível o acordo
para a concessão de desconto, suspensão ou adiamento, parcial ou total, do pagamento do aluguel,
devido na vigência da pandemia (estado de calamidade pública), o locatário poderá, até o dia 31 de
dezembro de 2021, requerer a denúncia do contrato, sem o pagamento de multa – para contratos de
prazo determinado – e sem a obediência ao aviso-prévio e pagamento de multa indenizatória – para
contratos de prazo indeterminado.

Importante se atentar que as disposições do art. 5º, relativas à denúncia pelo locatário, bem
como as isenções de aviso-prévio e multas não se aplicam caso o imóvel objeto da locação seja o
único de propriedade do locador, excluído o utilizado para sua residência e, desde que os aluguéis
consistam na totalidade da renda do locador.

Por fim, interessante disposição está inserida no art. 6º da lei. Com o viés de facilitar as
renegociações dos contratos de aluguel vigentes, o referido artigo reconhece a validade de
mensagens trocadas em aplicativos e de correspondências eletrônicas (­e-mails) como títulos
executivos extrajudiciais. Portanto, a extração de uma conversa entre locador e locatário, realizada
por esses meios, terá a mesma validade de um aditivo assinado e poderá ser diretamente utilizada
em uma ação de execução.

1.3. Questão inédita comentada

A Lei Federal nº 14.216/2021 trouxe algumas modificações ao regime das locações e aos efeitos
das decisões judiciais que tratam da desocupação e retirada de pessoas de imóveis no contexto do
estado de calamidade pública, reconhecido em função da pandemia de Covid-19. Considerando as
disposições da lei, assinale a alternativa incorreta.

323 Caderno de novidades legislativas


DIREITO CIVIL
A) Ficam suspensos até o dia 31 de dezembro de 2021 os efeitos de decisões judiciais que determinem
a desocupação de pessoas de imóvel público urbano, que sirva de moradia para elas.

B) As medidas de remoção ou desocupação de pessoas proferidas no período imediatamente


anterior à pandemia de Covid-19, conforme o decreto legislativo que reconheceu a calamidade
pública, não poderão ser efetivadas até o dia 31 de dezembro de 2021.

C) As medidas instituídas pela Lei Federal nº 14.216/2021, que favorecem os locatários nos contratos
de locação, são aplicáveis somente aos locatários residenciais, com aluguel que não exceda o importe
de R$ 600,00.

D) Locador e locatário poderão renegociar as condições do contrato de aluguel por meio de


aplicativo de mensagens, e o conteúdo extraído das mensagens valerá como aditivo contratual com
eficácia de título executivo extrajudicial, podendo ser diretamente utilizado em ação de execução.

E) O locatário que demonstrar que sofreu impacto econômico-financeiro em decorrência da


pandemia, de forma que não consiga pagar o aluguel sem prejuízo de sua subsistência familiar poderá
requerer a denúncia do contrato, sem a incidência de multa ou cumprimento de aviso-prévio, caso
não haja acordo com o locador.

Alternativa correta: letra C. As medidas previstas na Lei Federal nº 14.216/2021 têm como
objetivo beneficiar locatários residenciais e não residenciais. Assim, por exemplo, o art. 2º da lei, na
parte final, indica que a suspensão dos atos de desocupação e remoção de pessoas é aplicável tanto
aos imóveis que sirvam de moradia quanto àqueles utilizados para o trabalho individual ou familiar.
Ainda, o seu art. 4º, parágrafo único, II estabelece a vedação da concessão de liminar de despejo para
imóveis não residenciais com valor de aluguel de até R$ 1.200,00.

Art. 2º Ficam suspensos até 31 de dezembro de 2021 os efeitos de atos ou


decisões judiciais, extrajudiciais ou administrativos, editados ou proferidos
desde a vigência do estado de calamidade pública reconhecido pelo
Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020, até 1 (um) ano após o seu
término, que imponham a desocupação ou a remoção forçada coletiva de
imóvel privado ou público, exclusivamente urbano, que sirva de moradia ou
que represente área produtiva pelo trabalho individual ou familiar.

Art. 4º Em virtude da Espin decorrente da infecção humana pelo coronavírus


SARS-CoV-2, não se concederá liminar para desocupação de imóvel urbano
nas ações de despejo a que se referem os incisos I, II, V, VII, VIII e IX do §
1º do art. 59 da Lei nº 8.245, de 18 de outubro de 1991, até 31 de dezembro

324 Caderno de novidades legislativas


DIREITO CIVIL
de 2021, desde que o locatário demonstre a ocorrência de alteração da
situação econômico-financeira decorrente de medida de enfrentamento
da pandemia que resulte em incapacidade de pagamento do aluguel e dos
demais encargos sem prejuízo da subsistência familiar.

Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo somente se aplica aos


contratos cujo valor mensal do aluguel não seja superior a:

I – R$ 600,00 (seiscentos reais), em caso de locação de imóvel residencial;

II – R$ 1.200,00 (mil e duzentos reais), em caso de locação de imóvel não


residencial.

Demais alternativas:

Alternativa A: Incorreta. O art. 2º da Lei Federal nº 14.216/2021 determina que:

Ficam suspensos até 31 de dezembro de 2021 os efeitos de atos ou decisões


judiciais, extrajudiciais ou administrativos, editados ou proferidos desde
a vigência do estado de calamidade pública reconhecido pelo  Decreto
Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020, até 1 (um) ano após o seu término,
que imponham a desocupação ou a remoção forçada coletiva de imóvel
privado ou público, exclusivamente urbano, que sirva de moradia ou que
represente área produtiva pelo trabalho individual ou familiar.

Portanto, nesses termos, decisões judiciais que determinem a desocupação de pessoas de


imóvel público urbano, que sirva de moradia para elas tiveram a sua eficácia suspensa.

Alternativa B: Incorreta. O § 2º do art. 2º da Lei Federal nº 14.216/2021 assim dispõe:

“As medidas decorrentes de atos ou decisões proferidos em data anterior à vigência do estado
de calamidade pública reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020, não
serão efetivadas até 1 (um) ano após o seu término”. Conforme o art. 1º do decreto legislativo, os
efeitos do reconhecimento da calamidade pública pela pandemia de Covid-19 perdurariam até o
dia 31 de dezembro de 2020. Nesses termos, um ano após esse prazo é o dia 31 de dezembro de
2021. Portanto, de fato, as medidas de remoção ou desocupação de pessoas proferidas no período
imediatamente anterior à pandemia de Covid-19 não poderão ser efetivadas até o dia 31 de dezembro
de 2021.

325 Caderno de novidades legislativas


DIREITO CIVIL
Alternativa D: Incorreta. A alternativa está de acordo com o art. 6º da Lei Federal nº 14.216/2021,
que assim dispõe:

Art. 6º As tentativas de acordo para desconto, suspensão ou adiamento


de pagamento de aluguel, ou que estabeleçam condições para garantir o
reequilíbrio contratual dos contratos de locação de imóveis durante a Espin
decorrente da infecção humana pelo coronavírus SARS-CoV-2, poderão ser
realizadas por meio de correspondências eletrônicas ou de aplicativos de
mensagens, e o conteúdo deles extraído terá valor de aditivo contratual,
com efeito de título executivo extrajudicial, bem como provará a não
celebração do acordo para fins do disposto no art. 5º desta Lei. (Grifos
nossos.)

Alternativa E: A alternativa está de acordo com o art. 5º da Lei Federal nº 14.216/2021, que
assim dispõe:

Art. 5º Frustrada tentativa de acordo entre locador e locatário para


desconto, suspensão ou adiamento, total ou parcial, do pagamento de aluguel
devido desde a vigência do estado de calamidade pública reconhecido pelo
Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020, até 1 (um) ano após o
seu término, relativo a contrato findado em razão de alteração econômico-
financeira decorrente de demissão, de redução de carga horária ou de
diminuição de remuneração que resulte em incapacidade de pagamento
do aluguel e dos demais encargos sem prejuízo da subsistência familiar,
será admitida a denúncia da locação pelo locatário residencial até 31 de
dezembro de 2021: (Grifos nossos)

I – nos contratos por prazo determinado, independentemente do


cumprimento da multa convencionada para o caso de denúncia antecipada
do vínculo locatício;

II – nos contratos por prazo indeterminado, independentemente do


cumprimento do aviso-prévio de desocupação, dispensado o pagamento
da multa indenizatória.

326 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PROCESSUAL CIVIL
1. Lei nº 14.216/2021 - Medidas excepcionais em razão da Emergência
em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin) no âmbito das
relações privadas
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.216/2021
Ementa: Estabelece medidas excepcionais em razão da Emergência em Saúde Pública de
Importância Nacional (Espin) decorrente da infecção humana pelo coronavírus
SARS-CoV-2, para suspender o cumprimento de medida judicial, extrajudicial
ou administrativa que resulte em desocupação ou remoção forçada coletiva
em imóvel privado ou público, exclusivamente urbano, e a concessão de liminar
em ação de despejo de que trata a Lei nº 8.245, de 18 de outubro de 1991, e para
estimular a celebração de acordos nas relações locatícias.
Data de publicação: 08.10.2021
Início de vigência: 08.10.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/
Lei/L14216.htm>
Destaques:
• A lei suspende até o dia 31 de dezembro de 2021 os efeitos de atos ou decisões judiciais,
extrajudiciais ou administrativas que resultem em desocupação ou remoção forçada
coletiva em imóvel privado ou público urbano, que sirva de moradia ou área produtiva pelo
trabalho individual ou familiar.

• Fica vedada a concessão de liminar para desocupação de imóvel urbano nas ações de
despejo a que se referem os incisos I, II, V, VII, VIII e IX do § 1º do art. 59 da Lei Federal nº
8.245/1991, até o dia 31 de dezembro de 2021 se o locatário demonstrar alteração de sua
situação econômico-financeira em razão da pandemia, que o deixe incapacitado de pagar
aluguel e encargos, sem prejuízo da subsistência familiar.

• Caso não seja possível a negociação com o locador de desconto, suspensão, ou outras
medidas que facilitem o pagamento do aluguel pelo locatário que tiver tido alteração
econômico-financeira, em razão da pandemia, o locatário poderá denunciar o contrato de
locação, sem o pagamento de multa ou cumprimento de aviso-prévio, seja ele de prazo
determinado ou indeterminado, até o dia 31 de dezembro de 2021.

• Fica expressamente permitida a realização de acordo para desconto, suspensão ou


adiamento de pagamento de aluguel ou que estabeleça condições para garantir o
reequilíbrio contratual da locação, por meio de correspondência eletrônica ou de aplicativo
de mensagens. O conteúdo extraído desses meios terá valor de aditivo contratual e efeito
de título executivo extrajudicial.

327 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PROCESSUAL CIVIL
1.2. Comentário

Em relação ao Direito Processual Civil, a Lei nº 14.216/2021 trata de diversas questões processuais
no âmbito das relações locatícias abrangidas pela referida lei em caráter excepcional em virtude da
situação de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin) decorrente da infecção
humana pelo coronavírus.

Entretanto, para concentrar a abordagem das inovações veiculadas por esse novo ato
normativo, a sua análise encontra-se em Direito Civil.

328 Caderno de novidades legislativas


DIREITO CONSTITUCIONAL
1. Lei nº 14.226/2021 ‒- Cria o Tribunal Regional Federal da 6ª Região e
altera a composição do Conselho da Justiça Federal
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.226/2021
Ementa: Dispõe sobre a criação do Tribunal Regional Federal da 6ª Região e altera a Lei nº
11.798, de 29 de outubro de 2008, para modificar a composição do Conselho da
Justiça Federal.

Data de publicação: 21.10.2021

Início de vigência: 03.01.2022 -‒ Primeiro dia útil subsequente a 1º de janeiro de 2022


Link do texto normativo: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/
lei/L14226.htm>
Destaques:
• Cria o Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF6).

• Altera a Lei nº 11.798/2008 para modificar a composição do Conselho da Justiça Federal


(CJF).

1.2. Comentário

Em 21.10.2021 foi publicada a Lei nº 14.226/2021, que criou o TRF6, com sede em Belo Horizonte
e jurisdição no estado de Minas Gerais. A lei também alterou a composição do CJF, prevista na Lei nº
11.798/2008.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo “dispõe sobre a criação do Tribunal
Regional Federal da 6ª Região e altera a Lei nº 11.798, de 29 de outubro de 2008, para modificar a
composição do Conselho da Justiça Federal”.

A Lei nº 14.226/2021 contém os seguintes destaques:

a) É criado o TRF6, com sede em Belo Horizonte e jurisdição no estado de Minas Gerais.

b) O TRF6 é composto de 18 membros.

c) Os atuais juízes do TRF1 poderão optar pela remoção para o TRF6 no prazo de até 15 dias
após a entrada em vigor desta lei.

329 Caderno de novidades legislativas


DIREITO CONSTITUCIONAL
d) Instalado o TRF6, serão transferidos os processos sob sua jurisdição, mediante remessa,
independentemente de despacho, e preferencialmente sob forma digital.

e) Fica mantida a atual competência do TRF1 até a data de instalação do TRF6.

f) Compete ao CJF adotar as medidas administrativas para a instalação e o funcionamento do


TRF6.

g) O inciso II do caput do art. 2º da Lei nº 11.798/2008 passa a prever os integrantes do CJF:

Art. 2o O Conselho da Justiça Federal será integrado:

I – pelo Presidente e pelo Vice-Presidente do Superior Tribunal de Justiça;

II – por 4 (quatro) Ministros, eleitos entre os integrantes do Superior Tribunal


de Justiça, juntamente com seus suplentes;

III – pelos Presidentes dos Tribunais Regionais Federais, que serão


substituídos em suas faltas ou impedimentos pelos respectivos Vice-
Presidentes.

h) A lei entra em vigor no primeiro dia útil subsequente a 1º de janeiro de 2022, portanto, 03 de
janeiro de 2022.

1.3. Questão inédita comentada

Marque a alternativa incorreta a respeito das modificações promovidas pela Lei nº 14.226/2021.

A) O TRF6 é composto de 18 membros.

B) Os atuais juízes do TRF1 poderão optar pela remoção para o TRF6 no prazo de até 15 (quinze) dias
após a entrada em vigor da lei.

C) A Lei nº 14.226/2021 entrou em vigor no dia da sua publicação.

D) Integram o CJF, dentre outros, quatro Ministros, eleitos entre os integrantes do Superior Tribunal
de Justiça (STJ), juntamente com seus suplentes.

E) Competirá ao CJF adotar as medidas administrativas para a instalação e o funcionamento do


TRF6.

330 Caderno de novidades legislativas


DIREITO CONSTITUCIONAL
Alternativa correta: letra C. A alternativa é a incorreta. De acordo com o art. 15 da Lei nº
14.226/2021, a lei entrará em vigor no primeiro dia útil subsequente a 1º de janeiro de 2022: “Art. 15.
Esta Lei entra em vigor no primeiro dia útil subsequente a 1º de janeiro de 2022”.

Demais alternativas:

Alternativa A. Incorreta. A alternativa está correta. De acordo com o art. 2º da Lei nº 14.226/2021,
o TRF6 é composto de 18 membros: “Art. 2º O Tribunal Regional Federal da 6ª Região é composto de
18 (dezoito) membros”.

Alternativa B. Incorreta. A alternativa está correta. De acordo com o art. 5º, caput, da Lei nº
14.226/2021, os atuais juízes do TRF1 poderão optar pela remoção para o TRF6 no prazo de até 15
dias após a entrada em vigor desta lei: “Art. 5º Os atuais juízes do Tribunal Regional Federal da 1ª
Região poderão optar pela remoção para o Tribunal Regional Federal da 6ª Região no prazo de até
15 (quinze) dias após a entrada em vigor desta Lei, observadas as seguintes disposições: (...)”.

Alternativa D. Incorreta. A alternativa está correta. De acordo com o art. 14 da Lei nº 14.226/2021,
o inciso II do caput do art. 2º da Lei nº 11.798/2008 passa a vigorar com a seguinte redação:

Art. 14. O inciso II do caput do art. 2º da Lei nº 11.798, de 29 de outubro de


2008, passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 2º O Conselho da Justiça Federal será integrado: (...)

II ‒ por 4 (quatro) Ministros, eleitos entre os integrantes do Superior Tribunal


de Justiça, juntamente com seus suplentes.”

Alternativa E. Incorreta. A alternativa está correta. De acordo com o caput do art. 11 da Lei nº
14.226/2021, compete ao CJF adotar as medidas administrativas para a instalação e o funcionamento
do TRF6: “Art. 11. Compete ao Conselho da Justiça Federal adotar as medidas administrativas para a
instalação e o funcionamento do Tribunal Regional Federal da 6ª Região”.

331 Caderno de novidades legislativas


DIREITO TRIBUTÁRIO
1. Emenda Constitucional (EC) nº 112/2021 – A repartição de receita
tributária e o aumento de repasse de recursos aos municípios
1.1. Ficha normativa

EC nº 112/2021
Ementa: Altera o art. 159 da Constituição Federal para disciplinar a distribuição de recursos
pela União ao Fundo de Participação dos municípios.

Data de publicação: 28.10.2021


Início de vigência: 28.10.2021, e produzirá efeitos financeiros a partir de 1º de janeiro do
exercício subsequente.

Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/


Emc/emc112.htm>
Destaques:
• Altera o art. 159, inciso I, da Constituição Federal (CF)/1988 e acrescenta a alínea “f”.

• Aumenta o repasse de recursos do produto da arrecadação dos impostos sobre renda e


proventos de qualquer natureza e sobre produtos industrializados para 50% sendo 1%
destinado ao Fundo de Participação dos Municípios.

1.2. Comentário

Em 28.10.2021, a EC nº 112 foi publicada, com início de vigência na data de sua publicação e
com efeitos financeiros a partir de 1º de janeiro do exercício subsequente.

A EC nº 112 tratou do tema repartição de receitas tributárias. A repartição de receitas tem fulcro
na concepção do federalismo de cooperação. Na repartição de receitas mesmo o ente que não
tem competência tributária, ou seja, que não pode instituir fiscalizar ou cobrar o tributo passa, por
previsão constitucional, a ser beneficiário da arrecadação de tributo fora de sua competência.

A referida emenda alterou o art. 159, I, da CF/1988 e passou a prever um maior repasse aos
municípios a respeito da arrecadação pela União referente ao Imposto de Renda e Proventos (IR)
e ao Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Antes da EC nº 112/2021 o repasse era de 49%,
e agora, após a emenda, o percentual atual de repasse é de 50%. Este 1% a mais de repasse da
arrecadação terá destinação ao Fundo de Participação dos Municípios. Esta entrega ocorrerá no
primeiro decêndio do mês de setembro de cada ano.

332 Caderno de novidades legislativas


DIREITO TRIBUTÁRIO
Observe a nova redação do art. 159, I, da CF/1988.

Art. 159. A União entregará: 

I – do produto da arrecadação dos impostos sobre renda e proventos de


qualquer natureza e sobre produtos industrializados, 50% (cinquenta por
cento), da seguinte forma: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
112, de 2021.)

a) vinte e um inteiros e cinco décimos por cento ao Fundo de Participação


dos Estados e do Distrito Federal;

b) vinte e dois inteiros e cinco décimos por cento ao Fundo de Participação


dos Municípios;

c) três por cento, para aplicação em programas de financiamento ao setor


produtivo das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, através de suas
instituições financeiras de caráter regional, de acordo com os planos
regionais de desenvolvimento, ficando assegurada ao semi-árido do
Nordeste a metade dos recursos destinados à Região, na forma que a lei
estabelecer;    

d) um por cento ao Fundo de Participação dos Municípios, que será entregue


no primeiro decêndio do mês de dezembro de cada ano;

e) 1% (um por cento) ao Fundo de Participação dos Municípios, que será


entregue no primeiro decêndio do mês de julho de cada ano;

f) 1% (um por cento) ao Fundo de Participação dos Municípios, que será


entregue no primeiro decêndio do mês de setembro de cada ano; (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 112, de 2021.)  Produção de efeitos

Sendo assim, além do percentual de 22,5% do repasse da arrecadação do IR e do IPI, previsto


no art. 159, I, b, da CF/1988, o Fundo de Participação dos Municípios receberá mais 1%, o qual será
entregue no primeiro decêndio do mês de setembro de cada ano. A distribuição do percentual de 1%
será feito da seguinte maneira, segundo norma do corpo da emenda:

Art. 2º Para os fins do disposto na alínea “f” do inciso I do caput do art. 159
da Constituição Federal, a União entregará ao Fundo de Participação
dos Municípios, do produto da arrecadação dos impostos sobre renda e
proventos de qualquer natureza e sobre produtos industrializados, 0,25%
(vinte e cinco centésimos por cento), 0,5% (cinco décimos por cento) e
1% (um por cento), respectivamente, em cada um dos 2 (dois) primeiros
exercícios, no terceiro exercício e a partir do quarto exercício em que esta
Emenda Constitucional gerar efeitos financeiros. (Grifos nossos.)

333 Caderno de novidades legislativas


DIREITO TRIBUTÁRIO
Por fim a EC nº 112/2021 prevê uma regra específica para os efeitos financeiros, ou seja, efeitos
financeiros a partir de 1º de janeiro de 2022.

1.3. Questão inédita comentada

Segundo a previsão constitucional sobre o repasse de receitas tributárias, assinale a opção


correta.

A) A União não realiza repasse de receitas sobre a arrecadação do imposto de renda e proventos.

B) O Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal recebe o repasse de 26% do produto
da arrecadação do IR pela União.

C) O Fundo de Participação dos Municípios recebe 1% do produto da arrecadação do IPI e IR,


entregue no primeiro decêndio do mês de setembro de cada ano.

D) Apenas a arrecadação do IPI sofre repasse de receitas.

E) Do produto da arrecadação sobre os produtos industrializados serão repassados 70% apenas aos
Estados.

Alternativa correta: letra C. Esta é a nova previsão de repasse de receitas dada pela EC nº
112/2021, prevista na alínea “f”, inciso I, art. 159 da CF/1988.

Art. 159. A União entregará: 

I – do produto da arrecadação dos impostos sobre renda e proventos de


qualquer natureza e sobre produtos industrializados, 50% (cinquenta por
cento), da seguinte forma: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
112, de 2021.) (...)

f) 1% (um por cento) ao Fundo de Participação dos Municípios, que será


entregue no primeiro decêndio do mês de setembro de cada ano; (...)

Demais alternativas.

Alternativa A: Incorreta. Há previsão expressa no art. 159, I, da CF/1988 sobre o repasse de


receitas sobre a arrecadação do imposto de renda e proventos.

334 Caderno de novidades legislativas


DIREITO TRIBUTÁRIO
 Art. 159. A União entregará:

I – do produto da arrecadação dos impostos sobre renda e proventos de


qualquer natureza e sobre produtos industrializados, 50% (cinquenta por
cento), da seguinte forma: (...)

Alternativa B: Incorreta.  O Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal recebe


21,5%, conforme previsto no art. 159, I, a, da CF/1988.  Portanto, equivocado afirmar que o Fundo de
Participação dos Estados e do Distrito Federal recebe o repasse de 26% do produto da arrecadação
de IR.    

Art. 159. A União entregará: 

I – do produto da arrecadação dos impostos sobre renda e proventos de


qualquer natureza e sobre produtos industrializados, 50% (cinquenta por
cento), da seguinte forma: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
112, de 2021.)

a) vinte e um inteiros e cinco décimos por cento ao Fundo de Participação


dos Estados e do Distrito Federal.

Alternativa D: Incorreta. O repasse de receita ocorre sobre a arrecadação do IR e IPI. Conforme


previsão constitucional:

Art. 159. A União entregará: 

I – do produto da arrecadação dos impostos sobre renda e proventos de


qualquer natureza e sobre produtos industrializados, 50% (cinquenta por
cento), da seguinte forma: (...)

Alternativa E: Incorreta. Os municípios também recebem repasse da arrecadação de IPI, e o


percentual é de 50% destinados aos estados e municípios na forma prevista no art. 159, I, da CF/1988.

Art. 159. A União entregará: 

I – do produto da arrecadação dos impostos sobre renda e proventos de


qualquer natureza e sobre produtos industrializados, 50% (cinquenta por
cento), da seguinte forma: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
112, de 2021.) 

Produção de efeitos

a) vinte e um inteiros e cinco décimos por cento ao Fundo de Participação


dos Estados e do Distrito Federal;  (Vide Lei Complementar nº 62, de
1989.) (Regulamento)

335 Caderno de novidades legislativas


DIREITO TRIBUTÁRIO
b) vinte e dois inteiros e cinco décimos por cento ao Fundo de Participação
dos Municípios; (Vide Lei Complementar nº 62, de 1989.)  (Regulamento)

c) três por cento, para aplicação em programas de financiamento ao setor


produtivo das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, através de suas
instituições financeiras de caráter regional, de acordo com os planos
regionais de desenvolvimento, ficando assegurada ao semi-árido do
Nordeste a metade dos recursos destinados à Região, na forma que a lei
estabelecer; (Regulamento)

d) um por cento ao Fundo de Participação dos Municípios, que será


entregue no primeiro decêndio do mês de dezembro de cada ano; (Incluída
pela Emenda Constitucional nº 55, de 2007.)

e) 1% (um por cento) ao Fundo de Participação dos Municípios, que será


entregue no primeiro decêndio do mês de julho de cada ano; (Incluída pela
Emenda Constitucional nº 84, de 2014.)

f) 1% (um por cento) ao Fundo de Participação dos Municípios, que será


entregue no primeiro decêndio do mês de setembro de cada ano; (...)

336 Caderno de novidades legislativas


Novembro
2021
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
1. Lei nº 14.237/2021 - A Lei do Auxílio Gás dos Brasileiros
1.1.  Ficha normativa

LEI Nº 14.237/2021
Ementa: Institui o auxílio Gás dos Brasileiros; e altera a Lei nº 10.336, de 19 de dezembro de
2001.
Data de publicação: 22.11.2021
Início de vigência: 22.11.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/
L14237.htm>
Destaque:
• Institui o auxílio-gás aos brasileiros e altera a Lei nº 10.336, de 19 de dezembro de 2001.

1.2. Comentário

Em 22.11.2021, a Lei nº 14.237/2021 foi publicada, com início de vigência na data de sua
publicação e irá vigorar por cinco anos, produzindo efeitos desde a abertura dos créditos
orçamentários necessários à execução desta política pública.

A Lei nº 14.237/2021 instituiu o auxílio Gás dos Brasileiros com fito de mitigar o efeito do
preço do gás liquefeito de petróleo sobre o orçamento das famílias de baixa renda.

Ademais, a referida legislação alterou a Lei nº 10.336, de 19 de dezembro de 2001, a qual


aborda a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico incidente sobre a importação
e a comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados, e álcool etílico
combustível (CIDE). A Lei nº 14.237/2021 altera os incisos II e III do § 1º do art. 1º da Lei nº 10.336, e
inclui o inciso IV ao mesmo dispositivo para destinar o produto da arrecadação da CIDE para:

Art. 1º Fica instituída a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico


incidente sobre a importação e a comercialização de petróleo e seus
derivados, gás natural e seus derivados, e álcool etílico combustível (Cide), a
que se refere os arts. 149 e 177 da Constituição Federal, com a redação dada
pela Emenda Constitucional no 33, de 11 de dezembro de 2001.

§ 1º  O produto da arrecadação da Cide será destinada, na forma da lei


orçamentária, ao: (...)

338 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
II – financiamento de projetos ambientais relacionados com a indústria do
petróleo e do gás;

III – financiamento de programas de infraestrutura de transportes; e

IV – financiamento do auxílio destinado a mitigar o efeito do preço do gás


liquefeito de petróleo sobre o orçamento das famílias de baixa renda.

Com relação à alteração legislativa sobre a CIDE-combustíveis, para fins previdenciários, ganha
destaque o inciso IV, § 1º do art. 1º da Lei nº 10.336, na medida em que prevê a fonte de custeio para
fazer frente à implementação do auxílio-gás, em apreço ao comando constitucional exposto no art.
195, § 5º, da Constituição Federal (CF)/1988.

A legislação ora em comento criou o programa Auxílio Gás para subsidiar o preço do gás de
cozinha para famílias de baixa renda. Cada família beneficiada irá receber dentro de um período de
dois meses o equivalente ao percentual de 50% do preço nacional do botijão de gás.

Art. 3º As famílias beneficiadas pelo auxílio Gás dos Brasileiros terão direito,
a cada bimestre, a um valor monetário correspondente a uma parcela de,
no mínimo, 50% (cinquenta por cento) da média do preço nacional de
referência do botijão de 13 kg (treze quilogramas) de GLP, estabelecido
pelo Sistema de Levantamento de Preços (SLP) da Agência Nacional
do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), nos 6 (seis) meses
anteriores, conforme definição em regulamento.

É considerada família de baixa renda aquela inscrita no Cadastro Único para Programas Sociais
do Governo Federal (CadÚnico). A Lei nº 14.237/2021, no art. 2º, define as famílias a serem beneficias
e estabelece critérios de preferência. Atenção!

Art. 2º Poderão ser beneficiadas pelo auxílio Gás dos Brasileiros, na forma
do regulamento, as famílias:

I – inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) do


governo federal, com renda familiar mensal  per capita  menor ou igual a
meio salário-mínimo nacional; ou

II – que tenham entre seus membros residentes no mesmo domicílio quem


receba o benefício de prestação continuada da assistência social, nos
termos dos arts. 20 e 21 da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993.

§ 1º O auxílio será concedido preferencialmente às famílias com mulheres


vítimas de violência doméstica que estejam sob o monitoramento de
medidas protetivas de urgência. (...)

339 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
§ 2º O Poder Executivo deverá compatibilizar a quantidade de famílias
beneficiárias com as dotações orçamentárias existentes para o pagamento
do auxílio.

Por outro lado, o Poder Executivo, ao implementar o Auxílio Gás, com base no imperativo
constitucional da previsão da fonte de custeio, tem o dever de compatibilizar a quantidade de
famílias beneficiárias pelo programa com as dotações orçamentárias existentes para o pagamento
do auxílio-gás (art. 2º, § 2º, da Lei nº 14.237/2021). Ademais, listou no art. 4º como fontes de recursos
do auxílio Gás dos Brasileiros:

Art.  4º São fontes de recursos do auxílio Gás dos Brasileiros:

I – os dividendos pagos pela Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobras) à União;

II – os bônus de assinatura previstos no:

a) inciso I do caput do art. 45 da Lei nº 9.478, de 6 de agosto de 1997; e

b) inciso II do caput do art. 42 da Lei nº 12.351, de 22 de dezembro de 2010,


ressalvadas:

1. as parcelas eventualmente destinadas, na forma do inciso I do caput do


art. 7º da Lei nº 12.304, de 2 de agosto de 2010, à Empresa Brasileira de
Administração de Petróleo e Gás Natural S.A. – Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA);
e

2. a parcela transferida pela União, na forma do art. 1º da Lei nº 13.885, de 17


de outubro de 2019, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios;

III – a parcela referente à União do valor dos royalties, conforme disposto


no art. 42-B da Lei nº 12.351, de 22 de dezembro de 2010;

IV – a receita advinda da comercialização de petróleo, gás natural e outros


hidrocarbonetos fluidos destinados à União, de que trata o art. 46 da Lei nº
12.351, de 22 de dezembro de 2010; e

V – outros recursos previstos no orçamento fiscal da União.

Por fim, imperioso mencionar que o auxílio Gás dos Brasileiros terá duração de cinco anos e
produzirá efeitos desde a abertura dos créditos orçamentários necessários à sua execução (art. 8º da
Lei nº 14.237/2021).

340 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
1.3. Questão inédita comentada

Considere a Lei nº 14.237/2021 e assinale a alternativa incorreta.

A) Poderão ser beneficiadas pelo auxílio Gás dos Brasileiros, na forma do regulamento, as famílias
inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), com renda familiar mensal per
capita menor ou igual a meio salário-mínimo nacional.

B) É fonte de recurso do auxílio Gás dos Brasileiros a parcela referente à União do valor dos royalties
do petróleo.

C) As famílias beneficiadas pelo auxílio Gás dos Brasileiros terão direito, a cada bimestre, a um
valor monetário correspondente a uma parcela de, no mínimo, 80% da média do preço nacional de
referência do botijão de 13kg.

D) O pagamento do auxílio Gás será feito preferencialmente à mulher responsável pela família.

E) O auxílio gás vigorará por cinco anos.

Alternativa correta: letra C. A alternativa está incorreta, pois o percentual é de 50%, conforme
previsto no art. 3º da Lei nº 14.237/2021.

Art. 3º As famílias beneficiadas pelo auxílio Gás dos Brasileiros terão direito,
a cada bimestre, a um valor monetário correspondente a uma parcela de, no
mínimo, 50% (cinquenta por cento) da média do preço nacional de referência
do botijão de 13 kg (treze quilogramas) de GLP, estabelecido pelo Sistema
de Levantamento de Preços (SLP) da Agência Nacional do Petróleo, Gás
Natural e Biocombustíveis (ANP), nos 6 (seis) meses anteriores, conforme
definição em regulamento.

Demais alternativas:

Alternativa A: Incorreta. A alternativa está correta, segundo o disposto no art. 2º, I, da Lei nº
14.237/2021.

Art. 2º Poderão ser beneficiadas pelo auxílio Gás dos Brasileiros, na forma
do regulamento, as famílias:

I – inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) do


governo federal, com renda familiar mensal  per capita  menor ou igual a
meio salário-mínimo nacional; ou (...)

341 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Alternativa B: Incorreta. A alternativa está correta, segundo o disposto no art. 4º, III, da Lei nº
14.237/2021.

Art. 4º São fontes de recursos do auxílio Gás dos Brasileiros: (...)

III  – a parcela referente à União do valor dos royalties, conforme disposto


no art. 42-B da Lei nº 12.351, de 22 de dezembro de 2010; (...)

Alternativa D: Incorreta. A alternativa está correta, segundo o disposto no art. 3º, parágrafo
único, da Lei nº 14.237/2021.

Art. 3º (...)

Parágrafo único. O pagamento do benefício previsto nesta Lei será


feito preferencialmente à mulher responsável pela família, na forma do
regulamento.

Alternativa E: Incorreta. A alternativa está correta, segundo o disposto no art. 8º da Lei nº


14.237/2021.

Art. 8º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação e vigorará por 5


(cinco) anos, produzindo efeitos desde a abertura dos créditos orçamentários
necessários à sua execução.

342 Caderno de novidades legislativas


DIREITOS HUMANOS
1. Lei nº 14.238/2021 – Estatuto da Pessoa com Câncer
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.238/2021
Ementa: Institui o Estatuto da Pessoa com Câncer; e dá outras providências.
Data de publicação: 22.11.2021
Início de vigência: 22.11.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/
L14238.htm>
Destaques:
• A lei institui o Estatuto da Pessoa com Câncer que visa assegurar e promover, em condições
de igualdade, o acesso ao tratamento adequado e o exercício dos direitos e liberdades
fundamentais da pessoa com câncer.

• Estabelece os princípios e objetivos essenciais à proteção dos direitos da pessoa com


câncer a à efetivação de políticas públicas de prevenção e combate ao câncer.

• Reconhece direitos fundamentais das pessoas com câncer.

• Fixa o dever da família, da comunidade, da sociedade e do poder público de assegurar


à pessoa com câncer, prioritariamente, a plena efetivação dos direitos à vida, saúde,
alimentação, assistência social e jurídica, convivência familiar e comunitária, entre outros.

• Confere atendimento especial às crianças e adolescentes com câncer.

• Cria a obrigatoriedade de atendimento integral à saúde da pessoa com câncer por


intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS), na forma de regulamento.

1.2. Comentário

A Lei nº 14.238, que institui o Estatuto da Pessoa com Câncer, foi publicada em 22.11.2021, com
início imediato de vigência.

Fruto do Projeto de Lei nº 1.605/2019, proposto pela Câmara dos Deputados, a lei foi sancionada
com o veto do artigo que impunha ao Estado a obrigação de “garantir o acesso de todos os pacientes
aos medicamentos mais efetivos contra o câncer” (art. 7º, III, do Projeto de Lei – grifos nossos).

343 Caderno de novidades legislativas


DIREITOS HUMANOS
Como justificativa para o veto, argumentou-se que o dispositivo seria contrário ao interesse
público, uma vez que

comprometeria o processo estabelecido de análise de tecnologia em


saúde no Brasil e afrontaria a equidade em relação ao acesso a tratamentos
medicamentosos de outros pacientes portadores de enfermidades
igualmente graves, ao pretender garantir oferta de medicamentos apenas
para os pacientes portadores de neoplasias malignas – câncer (Mensagem
nº 594, de 19 de novembro de 2021).

O veto ainda será apreciado pelo Parlamento.

O diploma legal tem como objetivo “assegurar e a promover, em condições de igualdade, o


acesso ao tratamento adequado e o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais da pessoa
com câncer, com vistas a garantir o respeito à dignidade, à cidadania e à sua inclusão social” (art. 1º).

Para tanto, estabelece os princípios e objetivos essenciais à proteção dos direitos da pessoa
com câncer e à efetivação de políticas públicas de prevenção e combate ao câncer, dentre os
quais, podemos destacar ou princípios do acesso universal e equânime ao tratamento adequado,
diagnóstico precoce, informação clara e confiável sobre a doença e o seu tratamento, a transparência
das informações dos órgãos e das entidades em seus processos, prazos e fluxos; e a humanização da
atenção ao paciente e à sua família (art. 2º da Lei nº 14.238/2021).

A fim de estabelecer o parâmetro de aplicação da lei, o legislador determinou que deve ser
considerada “pessoa com câncer aquela que tenha o regular diagnóstico, nos termos de relatório
elaborado por médico devidamente inscrito no conselho profissional, acompanhado pelos laudos e
exames diagnósticos complementares necessários para a correta caracterização da doença” (art. 4º,
§ 1º, da Lei nº 14.238/2021).

Como objetivos, o Estatuto elenca a promoção de mecanismos adequados para o diagnóstico


precoce da doença (inciso II), o fomento à comunicação, a publicidade e a conscientização sobre a
doença, sua prevenção, seus tratamentos e os direitos da pessoa com câncer (inciso IV), a promoção
da articulação entre países, órgãos e entidades sobre tecnologias, conhecimentos, métodos e práticas
na prevenção e no tratamento da doença (inciso IX), o estímulo à humanização do tratamento (inciso
XX), entre outros (art. 3º da Lei nº 14.238/2021).

Ademais, a lei reconheceu diversos direitos fundamentais das pessoas com câncer, como o
direito ao diagnóstico precoce (inciso I), o acesso a tratamento universal, equânime, adequado e
menos nocivo (inciso II), às informações transparentes e objetivas sobre a doença e seu tratamento

344 Caderno de novidades legislativas


DIREITOS HUMANOS
(inciso III) e a proteção do seu bem-estar pessoal, social e econômico (inciso VI), entre outros. Além
disso, o legislador garantiu o direito fundamental da pessoa com câncer à assistência social e jurídica
(inciso IV), estabelecendo, ainda, a prioridade da pessoa com câncer clinicamente ativo em relação à
assistência, atendimentos públicos e tramitação de processos judiciais e administrativos, respeitadas
as normas que garantam os mesmos direitos aos idosos, gestantes e pessoas com deficiência (art. 4º,
caput e § 2º da Lei nº 14.238/2021).

Outrossim, houve o reconhecimento como direito fundamental da pessoa com câncer


o tratamento domiciliar priorizado (inciso IX do art. 4º), a presença de acompanhante durante
o atendimento e período de tratamento (inciso VII do art. 4º), bem como o acolhimento
preferencialmente, por sua própria família em detrimento de abrigo ou de instituição de longa
permanência (inciso VIII do art. 4º).

Garantiu-se também o direito fundamental ao atendimento educacional em classe hospitalar


ou regime domiciliar, conforme interesse da pessoa com câncer e de sua família, nos termos do
respectivo sistema de ensino (inciso X do art, 4º).

Em seguida, o Estatuto criou o dever da família, da comunidade, da sociedade e do poder


público de assegurar à pessoa com câncer, prioritariamente, a plena efetivação dos direitos a vida,
saúde, alimentação, assistência social e jurídica, convivência familiar e comunitária, entre outros (art.
5º da Lei nº 14.238/2021).

Além disso, fixa que a pessoa com câncer não pode ser objeto de qualquer forma de
discriminação. Caso ocorra, a discriminação deve ser comunicada à autoridade competente (não
especificada pela lei) por qualquer cidadão que tenha testemunhado ou tenha conhecimento da
situação (art. 6º, caput e § 2º, da Lei nº 14.238/2021).

Na mesma toada, o Estatuto ressalta que o poder público deve desenvolver políticas públicas
de saúde específicas direcionadas à pessoa com câncer, tais como ações e campanhas preventivas da
doença e garantia de acesso universal, igualitário e gratuito aos serviços de saúde, entre outras
medidas (art. 7º da Lei nº 14.238/2021).

Ainda, o Estatuto fixa medidas para assegurar o direito à assistência social e jurídica:

Art. 8º O direito à assistência social, previsto no inciso IV do caput do art.


4º desta Lei, será prestado de forma articulada e com base nos princípios e
diretrizes previstos na Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993 (Lei Orgânica
da Assistência Social), de forma harmonizada com as demais políticas
sociais, observadas as demais normas pertinentes.

345 Caderno de novidades legislativas


DIREITOS HUMANOS
§ 1º O poder público deverá promover o acesso da pessoa com câncer ao
Ministério Público, à Defensoria Pública e ao Poder Judiciário em todas suas
instâncias.

§ 2º O poder público estimulará, por meio de assistência jurídica, o


conhecimento e o acesso aos incentivos fiscais e aos subsídios devidos à
pessoa com câncer.

O Estatuto também ressalta a importância das pessoas em situação de vulnerabilidade, crianças


e adolescentes. Quanto à pessoa em situação de vulnerabilidade, informa que o Estado deverá
formular políticas direcionadas a estas pessoas para facilitar o andamento dos procedimentos de
diagnóstico e de tratamento (art. 9º da Lei nº 14.238/2021).

Acerca das crianças e adolescentes, o atendimento “deverá ser especial em todas suas fases,
devendo ser garantido tratamento universal e integral, priorizados a prevenção e o diagnóstico
precoce.”

Por fim, o Estatuto garante o atendimento integral à saúde da pessoa com câncer por intermédio
do SUS, nos termos de seu art. 12:

Art. 12. É obrigatório o atendimento integral à saúde da pessoa com câncer


por intermédio do SUS, na forma de regulamento.

§ 1º Para efeitos desta Lei, entende-se por atendimento integral aquele


realizado nos diversos níveis de complexidade e hierarquia, bem como
nas diversas especialidades médicas, de acordo com as necessidades de
saúde da pessoa com câncer, incluídos assistência médica e de fármacos,
assistência psicológica, atendimentos especializados e, sempre que possível,
atendimento e internação domiciliares.

§ 2º O atendimento integral deverá garantir, ainda, tratamento adequado da


dor, atendimento multidisciplinar e cuidados paliativos.
1.3. Questão inédita comentada

Nos termos da Lei nº 14.238/2021, assinale a alternativa correta:

A) É dever da família, da comunidade, da sociedade e do poder público assegurar à pessoa com


câncer, prioritariamente, a plena efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação,
à assistência social e jurídica, à convivência familiar e comunitária, entre outros decorrentes da
Constituição Federal e das leis.

346 Caderno de novidades legislativas


DIREITOS HUMANOS
B) É facultativo o atendimento integral à saúde da pessoa com câncer por intermédio do SUS.

C) A Lei nº 14.238/2021 garante o acesso de todos os pacientes aos medicamentos mais efetivos
contra o câncer, tratando-se de dever do Estado fornecer referidos remédios.

D) Todo cidadão tem a faculdade de comunicar à autoridade competente qualquer forma de violação
a esta Lei que tenha testemunhado ou de que tenha conhecimento.

E) Nenhuma pessoa com câncer será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação ou
violência, e todo atentado aos seus direitos, desde que por ação, será punido na forma da lei.

Alternativa correta: letra A. Alternativa de acordo com o art. 5º da Lei nº 14.238/2021:

É dever da família, da comunidade, da sociedade e do poder público


assegurar à pessoa com câncer, prioritariamente, a plena efetivação dos
direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à assistência social e
jurídica, à convivência familiar e comunitária, entre outros decorrentes da
Constituição Federal e das leis.

Demais alternativas:

Alternativa B. Incorreta. Trata-se de uma obrigação, e não uma faculdade. Alternativa em


desacordo com o art. 12 da Lei nº 14.238/2021. “É obrigatório o atendimento integral à saúde da
pessoa com câncer por intermédio do SUS, na forma de regulamento.” (Grifo nosso.)

Alternativa C. Incorreta. Trata-se do art. 7º, inciso III, da Lei nº 14.238/2021, o qual foi vetado
pelo presidente da República (pendente de apreciação pelo Congresso Nacional), motivo pelo qual
a alternativa se encontra incorreta.

Alternativa D. Incorreta. Trata-se de um dever, e não uma faculdade. Alternativa em desacordo


com o art. 6º, § 2º, da Lei nº 14.238/2021. “Todo cidadão tem o dever de comunicar à autoridade
competente qualquer forma de violação a esta Lei que tenha testemunhado ou de que tenha
conhecimento.” (Grifos nossos.)

Alternativa E. Incorreta. A discriminação pode ocorrer por ação ou omissão, e não apenas por
ação. Alternativa em desacordo com o art. 6º, caput, da Lei nº 14.238/2021. “Nenhuma pessoa com
câncer será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação ou violência, e todo atentado aos
seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei.” (Grifos nossos.)

347 Caderno de novidades legislativas


DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS
1. Lei nº 14.238/2021 – Estatuto da Pessoa com Câncer
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.238/2021
Ementa: Institui o Estatuto da Pessoa com Câncer; e dá outras providências.
Data de publicação: 22.11.2021
Início de vigência: 22.11.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/
L14238.htm>
Destaques:
• A lei institui o Estatuto da Pessoa com Câncer que visa assegurar e promover, em condições
de igualdade, o acesso ao tratamento adequado e o exercício dos direitos e liberdades
fundamentais da pessoa com câncer.

• Estabelece os princípios e objetivos essenciais à proteção dos direitos da pessoa com


câncer a à efetivação de políticas públicas de prevenção e combate ao câncer.

• Reconhece direitos fundamentais das pessoas com câncer.

• Fixa o dever da família, da comunidade, da sociedade e do poder público de assegurar


à pessoa com câncer, prioritariamente, a plena efetivação dos direitos à vida, saúde,
alimentação, assistência social e jurídica, convivência familiar e comunitária, entre outros.

• Confere atendimento especial às crianças e adolescentes com câncer.

• Cria a obrigatoriedade de atendimento integral à saúde da pessoa com câncer por


intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS), na forma de regulamento.

1.2. Comentário

Em relação aos Direitos Difusos e Coletivos, a Lei nº 14.238/2021 trata de diversas questões a
respeito dos direitos coletivos das pessoas com câncer.

Entretanto, para concentrar a abordagem das inovações veiculadas por esse novo ato
normativo, a sua análise encontra-se em Direitos Humanos.

348 Caderno de novidades legislativas


DIREITOS DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE
1. Lei nº 14.238/2021 – Estatuto da Pessoa com Câncer
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.238/2021
Ementa: Institui o Estatuto da Pessoa com Câncer; e dá outras providências.
Data de publicação: 22.11.2021
Início de vigência: 22.11.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/
L14238.htm>
Destaques:
• A lei institui o Estatuto da Pessoa com Câncer que visa assegurar e promover, em condições
de igualdade, o acesso ao tratamento adequado e o exercício dos direitos e liberdades
fundamentais da pessoa com câncer.

• Estabelece os princípios e objetivos essenciais à proteção dos direitos da pessoa com


câncer a à efetivação de políticas públicas de prevenção e combate ao câncer.

• Reconhece direitos fundamentais das pessoas com câncer.

• Fixa o dever da família, da comunidade, da sociedade e do poder público de assegurar


à pessoa com câncer, prioritariamente, a plena efetivação dos direitos à vida, saúde,
alimentação, assistência social e jurídica, convivência familiar e comunitária, entre outros.

• Confere atendimento especial às crianças e adolescentes com câncer.

• Cria a obrigatoriedade de atendimento integral à saúde da pessoa com câncer por


intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS), na forma de regulamento.

1.2. Comentário

Em relação aos Direitos da Criança e do Adolescente, a Lei nº 14.238/2021 trata de diversas


questões a respeito dos direitos das pessoas com câncer, e incluiu um capítulo sobre o atendimento
especial às crianças e aos adolescentes.

Entretanto, para concentrar a abordagem das inovações veiculadas por esse novo ato
normativo, a sua análise encontra-se em Direitos Humanos.

349 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PENAL
1. Lei nº 14.245/2021 – Lei Mariana Ferrer: Altera o Código Penal, o
Código de Processo Penal e a Lei dos Juizados Especiais Cíveis e
Criminais
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.245/2021
Ementa: Altera os Decretos-Leis nºs 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), e
3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), e a Lei nº 9.099, de
26 de setembro de 1995 (Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais), para
coibir a prática de atos atentatórios à dignidade da vítima e de testemunhas e para
estabelecer causa de aumento de pena no crime de coação no curso do processo
(Lei Mariana Ferrer).
Data de publicação: 23.11.2021
Início de vigência: 23.11.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/
L14245.htm>
Destaques:
• Altera o Código Penal (CP), o Código de Processo Penal (CPP), e a Lei dos Juizados
Especiais Cíveis e Criminais, para coibir a prática de atos atentatórios à dignidade da
vítima e de testemunhas nos crimes contra a dignidade sexual e para estabelecer causa de
aumento de pena no crime de coação no curso do processo.

• A pena do crime de coação no curso do processo (art. 344, CP) aumenta-se de 1/3 (um
terço) até a metade se o processo envolver crime contra a dignidade sexual.

• Na audiência de instrução e julgamento, e, em especial, nas que apurem crimes contra


a dignidade sexual bem como durante a instrução em plenário do Tribunal do Júri e
nas audiências dos juizados especiais, todas as partes e demais sujeitos processuais
presentes no ato deverão zelar pela integridade física e psicológica da vítima, sob pena
de responsabilização civil, penal e administrativa, cabendo ao juiz garantir o cumprimento,
vedadas a manifestação sobre circunstâncias ou elementos alheios aos fatos objeto
de apuração nos autos e a utilização de linguagem, de informações ou de material que
ofendam a dignidade da vítima ou de testemunhas.

350 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PENAL
1.2. Comentário

Em 23.11.2021 foi publicada a Lei nº 14.245, com início imediato de vigência. “Caso Mariana
Ferrer” é como ficaram conhecidas as acusações de agressões sexuais que teriam sido praticadas
contra a modelo Mariana Ferrer. A comoção gerada resultou na criação da “Lei Mariana Ferrer”, que
visa a coibir a prática de atos atentatórios à dignidade da vítima e de testemunhas e para estabelecer
causa de aumento de pena no crime de coação no curso do processo.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo “altera os Decretos-Leis nºs 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal), e 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), e
a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995 (Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais), para coibir
a prática de atos atentatórios à dignidade da vítima e de testemunhas e para estabelecer causa de
aumento de pena no crime de coação no curso do processo” (Lei Mariana Ferrer).

Como alertado, trata-se de uma inovação legal destinada a coibir a prática de atos atentatórios
à dignidade da vítima e de testemunhas.

A primeira alteração ocorreu no Código Penal e estabeleceu uma causa de aumento de pena
de 1/3 (um terço) até a metade se o processo envolver crime contra a dignidade sexual no crime de
coação no curso do processo (art. 344, CP):

Coação no curso do processo

Art. 344. Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer


interesse próprio ou alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer outra
pessoa que funciona ou é chamada a intervir em processo judicial, policial
ou administrativo, ou em juízo arbitral:

Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa, além da pena correspondente


à violência.

Parágrafo único. A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até a metade se o


processo envolver crime contra a dignidade sexual. (Incluído pela Lei nº
14.245, de 2021.) (Grifos nossos).

Por fim, a norma estabelece algumas alterações que envolvem a instrução processual em
audiência. Fica estabelecido que na audiência de instrução e julgamento, e, em especial, nas que
apurem crimes contra a dignidade sexual (art. 400-A, CPP) bem como durante a instrução em
plenário do Tribunal do Júri (art. 474-A, CPP) e nas audiências dos juizados especiais (art. 81, § 1º-A, da
Lei nº 9.099/1995), todas as partes e demais sujeitos processuais presentes no ato deverão zelar pela

351 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PENAL
integridade física e psicológica da vítima, sob pena de responsabilização civil, penal e administrativa,
cabendo ao juiz garantir o cumprimento, vedadas a manifestação sobre circunstâncias ou elementos
alheios aos fatos objeto de apuração nos autos e a utilização de linguagem, de informações ou de
material que ofendam a dignidade da vítima ou de testemunhas.

1.3. Questão inédita comentada

“Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio, contra
autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funciona ou é chamada a intervir em processo
judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral” é crime disposto no CP brasileiro que possui
pena de reclusão, de um a quatro anos, e multa, além da pena correspondente à violência. Se o
processo envolver crime contra a dignidade sexual, a pena aumenta-se de

A) 1/6 até a metade.

B) 1/5 até a metade.

C) 1/4 até a metade.

D) 1/3 até a metade.

E) metade.

Alternativa correta: letra D. Nos termos do parágrafo único do art. 344 do CP (incluído pela
Lei nº 14.245, de 2021), a pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até a metade se o processo envolver
crime contra a dignidade sexual.

Art. 344. Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer


interesse próprio ou alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer outra
pessoa que funciona ou é chamada a intervir em processo judicial, policial
ou administrativo, ou em juízo arbitral:

Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa, além da pena correspondente


à violência.

Parágrafo único. A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até a metade se o


processo envolver crime contra a dignidade sexual. (Incluído pela Lei nº
14.245, de 2021.)

352 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PENAL
Demais alternativas:

Alternativa A. Incorreta. Nos termos do parágrafo único do art. 344 do CP (incluído pela Lei nº
14.245, de 2021), a pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até a metade (e não 1/6 até a metade) se o
processo envolver crime contra a dignidade sexual.

Art. 344. (...)

Parágrafo único. A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até a metade se o


processo envolver crime contra a dignidade sexual. (Incluído pela Lei nº
14.245, de 2021.)

Alternativa B. Incorreta. Nos termos do parágrafo único do art. 344 do CP (incluído pela Lei nº
14.245, de 2021), a pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até a metade (e não 1/5 até a metade) se o
processo envolver crime contra a dignidade sexual.

Art. 344. (...)

Parágrafo único. A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até a metade se o


processo envolver crime contra a dignidade sexual. (Incluído pela Lei nº
14.245, de 2021.)

Alternativa C. Incorreta. Nos termos do parágrafo único do art. 344 do CP (incluído pela Lei nº
14.245, de 2021), a pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até a metade (e não 1/4 até a metade) se o
processo envolver crime contra a dignidade sexual.

Art. 344. (...)

Parágrafo único. A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até a metade se o


processo envolver crime contra a dignidade sexual. (Incluído pela Lei nº
14.245, de 2021.)

Alternativa E. Incorreta. Nos termos do parágrafo único do art. 344 do CP (incluído pela Lei nº
14.245, de 2021), a pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até a metade (e não a metade) se o processo
envolver crime contra a dignidade sexual.

Art. 344. (...)

Parágrafo único. A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até a metade se o


processo envolver crime contra a dignidade sexual. (Incluído pela Lei nº
14.245, de 2021.)

353 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PROCESSUAL PENAL
1. Lei nº 14.245/2021 – Lei Mariana Ferrer: Altera o Código Penal, o
Código de Processo Penal e a Lei dos Juizados Especiais Cíveis e
Criminais
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.245/2021
Ementa: Altera os Decretos-Leis nºs 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), e
3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), e a Lei nº 9.099, de
26 de setembro de 1995 (Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais), para
coibir a prática de atos atentatórios à dignidade da vítima e de testemunhas e para
estabelecer causa de aumento de pena no crime de coação no curso do processo
(Lei Mariana Ferrer).
Data de publicação: 23.11.2021
Início de vigência: 23.11.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/
L14245.htm>
Destaques:
• Altera o Código Penal (CP), o Código de Processo Penal (CPP), e a Lei dos Juizados
Especiais Cíveis e Criminais, para coibir a prática de atos atentatórios à dignidade da
vítima e de testemunhas nos crimes contra a dignidade sexual e para estabelecer causa de
aumento de pena no crime de coação no curso do processo.

• A pena do crime de coação no curso do processo (art. 344, CP) aumenta-se de 1/3 (um
terço) até a metade se o processo envolver crime contra a dignidade sexual.

• Na audiência de instrução e julgamento, e, em especial, nas que apurem crimes contra


a dignidade sexual bem como durante a instrução em plenário do Tribunal do Júri e
nas audiências dos juizados especiais, todas as partes e demais sujeitos processuais
presentes no ato deverão zelar pela integridade física e psicológica da vítima, sob pena
de responsabilização civil, penal e administrativa, cabendo ao juiz garantir o cumprimento,
vedadas a manifestação sobre circunstâncias ou elementos alheios aos fatos objeto
de apuração nos autos e a utilização de linguagem, de informações ou de material que
ofendam a dignidade da vítima ou de testemunhas.

354 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PROCESSUAL PENAL
1.2. Comentário

Em relação ao Direito Processual Penal, a Lei nº 14.245/2021 insere no Código de Processo


Penal os arts. 400-A e 474-A, visando coibir a prática de atos atentatórios à dignidade da vítima e de
testemunhas nos crimes contra a dignidade sexual.

Entretanto, para concentrar a abordagem das inovações veiculadas por esse novo ato
normativo, a sua análise encontra-se em Direito Penal.

355 Caderno de novidades legislativas


LEGISLAÇÃO PENAL E PROCESSUAL
PENAL EXTRAVAGANTE
1. Lei nº 14.245/2021 – Lei Mariana Ferrer: Altera o Código Penal, o
Código de Processo Penal e a Lei dos Juizados Especiais Cíveis e
Criminais
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.245/2021
Ementa: Altera os Decretos-Leis nºs 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal),
e 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), e a Lei nº 9.099,
de 26 de setembro de 1995 (Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais), para
coibir a prática de atos atentatórios à dignidade da vítima e de testemunhas e
para estabelecer causa de aumento de pena no crime de coação no curso do
processo (Lei Mariana Ferrer).
Data de publicação: 23.11.2021
Início de vigência: 23.11.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/
L14245.htm>
Destaques:
• Altera o Código Penal (CP), o Código de Processo Penal (CPP), e a Lei dos Juizados
Especiais Cíveis e Criminais, para coibir a prática de atos atentatórios à dignidade da
vítima e de testemunhas nos crimes contra a dignidade sexual e para estabelecer causa de
aumento de pena no crime de coação no curso do processo.

• A pena do crime de coação no curso do processo (art. 344, CP) aumenta-se de 1/3 (um
terço) até a metade se o processo envolver crime contra a dignidade sexual.

• Na audiência de instrução e julgamento, e, em especial, nas que apurem crimes contra


a dignidade sexual bem como durante a instrução em plenário do Tribunal do Júri e
nas audiências dos juizados especiais, todas as partes e demais sujeitos processuais
presentes no ato deverão zelar pela integridade física e psicológica da vítima, sob pena
de responsabilização civil, penal e administrativa, cabendo ao juiz garantir o cumprimento,
vedadas a manifestação sobre circunstâncias ou elementos alheios aos fatos objeto
de apuração nos autos e a utilização de linguagem, de informações ou de material que
ofendam a dignidade da vítima ou de testemunhas.

356 Caderno de novidades legislativas


LEGISLAÇÃO PENAL E PROCESSUAL
PENAL EXTRAVAGANTE
1.2. Comentário

Em relação à Legislação Penal e Processual Penal Extravagante, a Lei nº 14.245/2021 insere na


Lei nº 9.099/90 o § 1º-A do art. 81, visando coibir a prática de atos atentatórios à dignidade da vítima
e de testemunhas nos crimes contra a dignidade sexual.

Entretanto, para concentrar a abordagem das inovações veiculadas por esse novo ato
normativo, a sua análise encontra-se em Direito Penal.

357 Caderno de novidades legislativas


Dezembro
2021
DIREITO FINANCEIRO
1. EC nº 113/2021 – Alteração no Regime de Precatórios

1.1. Ficha normativa

EC Nº 113/2021
Ementa: Altera a Constituição Federal (CF/1988) e o Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias (ADCT) para estabelecer o novo regime de pagamentos de precatórios,
modificar normas relativas ao Novo Regime Fiscal e autorizar o parcelamento de
débitos previdenciários dos municípios, e dá outras providências.

Data de publicação: 09.12.2021

Início de vigência: 09.12.2021


Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/
Emc/emc113.htm>
Destaques:
• Alteração no regime de compensação de créditos da Fazenda Pública nos valores do
precatório.

• Ampliação das possibilidades de cessão de créditos de precatórios.

• Autoriza a União e os demais entes federativos a utilizar valores objeto de sentenças


transitadas em julgado devidos a pessoa jurídica de direito público para amortizar dívidas,
vencidas ou vincendas, nos casos especificados.

• Autoriza o parcelamento das contribuições previdenciárias devidas pelos municípios aos


respectivos regimes próprios de previdência ou ao Regime Geral de Previdência Social
(RGPS).

• Altera o critério de atualização monetária das condenações judiciais da Fazenda Pública.

1.2. Comentário

Em 09.12.2021, foi publicada a EC nº 113, com início imediato de vigência.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo

altera a Constituição Federal e o Ato das Disposições Constitucionais


Transitórias para estabelecer o novo regime de pagamentos de precatórios,
modificar normas relativas ao Novo Regime Fiscal e autorizar o parcelamento
de débitos previdenciários dos Municípios; e dá outras providências.

359 Caderno de novidades legislativas


DIREITO FINANCEIRO
Trata-se de emenda oriunda da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 23/2021, que
objetivou alterar dispositivos constitucionais relativos ao teto de gastos anual e ao regime de
pagamento de precatórios, entre outras providências.

Após intensos debates e modificações na proposta original no bojo do processo legislativo, foi
promulgada a EC nº 113/21, que engloba as disposições oriundas da PEC nº 23/2021, aprovadas por
ambas as Casas do Poder Legislativo.

Em paralelo, os trechos da PEC nº 23/2021 que não foram objeto de consenso continuaram em
tramitação na Câmara dos Deputados por meio da PEC nº 46/2021, que, por sua vez, originou a EC
nº 114, de 17 de dezembro de 2021, da qual trataremos em seguida.

Preliminarmente, importante frisar que o art. 5º da EC nº 113/2021 estabelece que as alterações


relativas ao regime de pagamento dos precatórios aplicam-se a todos os requisitórios já expedidos,
inclusive no orçamento fiscal e da seguridade social do exercício de 2022.

Dentre as alterações introduzidas pela EC nº 103/2021, destaca-se, inicialmente, a alteração


no § 9º do art. 100 da CF/1988, que tratava da compensação de precatório realizada pela Fazenda
Pública. A redação anterior, que autorizava a compensação de ofício pela Fazenda, inclusive de
parcelas vincendas, havia sido declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no
julgamento das ADIs nºs 4.357 e 4.425. A nova redação, por sua vez, prevê que:

§ 9º Sem que haja interrupção no pagamento do precatório e mediante


comunicação da Fazenda Pública ao Tribunal, o valor correspondente aos
eventuais débitos inscritos em dívida ativa contra o credor do requisitório e
seus substituídos deverá ser depositado à conta do juízo responsável pela
ação de cobrança, que decidirá pelo seu destino definitivo.

Assim, pela nova redação a compensação não ocorrerá de modo imediato, já que os valores
serão depositados à conta do juízo responsável pela cobrança em favor da Fazenda Pública, que
decidirá a respeito, fazendo uma apuração de eventuais causas que possam afetar o montante do
valor devido ou a própria existência da dívida.

Outra relevante alteração se deu em relação às finalidades para as quais poderá o credor de
precatório, seja este próprio ou adquirido de terceiros, utilizar seus créditos. Na redação anterior do
§ 11 do art. 100, a CF/1988 somente permitia expressamente a utilização dos créditos para a compra
de imóveis públicos. A nova redação, por sua vez, faculta ao credor, conforme estabelecido em lei
do ente federativo devedor, com autoaplicabilidade para a União, a oferta de créditos líquidos e
certos para:

360 Caderno de novidades legislativas


DIREITO FINANCEIRO
I – quitação de débitos parcelados ou débitos inscritos em dívida ativa do
ente federativo devedor, inclusive em transação resolutiva de litígio, e,
subsidiariamente, débitos com a administração autárquica e fundacional do
mesmo ente;

II – compra de imóveis públicos de propriedade do mesmo ente


disponibilizados para venda;

III – pagamento de outorga de delegações de serviços públicos e demais


espécies de concessão negocial promovidas pelo mesmo ente;

IV – aquisição, inclusive minoritária, de participação societária, disponibilizada


para venda, do respectivo ente federativo; ou

V – compra de direitos, disponibilizados para cessão, do respectivo ente


federativo, inclusive, no caso da União, da antecipação de valores a serem
recebidos a título do excedente em óleo em contratos de partilha de
petróleo.

A EC nº 103/2021 também passa a autorizar a União e os demais entes federativos, nos


montantes que lhes são próprios, desde que aceito por ambas as partes, a utilizar valores objeto de
sentenças transitadas em julgado devidos a pessoa jurídica de direito público para amortizar dívidas,
vencidas ou vincendas, nas seguintes hipóteses (art. 100, § 21, da CF/1988):

I – nos contratos de refinanciamento cujos créditos sejam detidos pelo ente


federativo que figure como devedor na sentença de que trata o caput deste
artigo;

II – nos contratos em que houve prestação de garantia a outro ente


federativo;

III – nos parcelamentos de tributos ou de contribuições sociais; e

IV – nas obrigações decorrentes do descumprimento de prestação de


contas ou de desvio de recursos.

Outras importantes alterações se deram no ADCT.

A EC nº 113/2021 incluiu no ADCT os arts. 115 e 116, que autorizam o parcelamento das
contribuições previdenciárias e dos demais débitos dos municípios, incluídas suas autarquias
e fundações, com os respectivos regimes próprios de previdência social e com o RGPS, com
vencimento até 31 de outubro de 2021, inclusive os parcelados anteriormente, no prazo máximo
de 240 (duzentas e quarenta) prestações mensais. Em relação aos débitos de contribuições

361 Caderno de novidades legislativas


DIREITO FINANCEIRO
previdenciária relativos aos respectivos regimes próprios de previdência social (RPPS), a EC nº
113/2021 exige autorização em lei municipal específica, desde que comprovem ter alterado a
legislação do regime próprio de previdência social para atendimento das seguintes condições,
cumulativamente:

I – adoção de regras de elegibilidade, de cálculo e de reajustamento dos


benefícios que contemplem, nos termos previstos nos incisos I e III do § 1º e
nos §§ 3º a 5º, 7º e 8º do art. 40 da Constituição Federal, regras assemelhadas
às aplicáveis aos servidores públicos do regime próprio de previdência
social da União e que contribuam efetivamente para o atingimento e a
manutenção do equilíbrio financeiro e atuarial;

II – adequação do rol de benefícios ao disposto nos §§ 2º e 3º do art. 9º da


Emenda Constitucional nº 103, de 12 de novembro de 2019;

III – adequação da alíquota de contribuição devida pelos servidores, nos


termos do § 4º do art. 9º da Emenda Constitucional nº 103, de 12 de novembro
de 2019; e

IV – instituição do regime de previdência complementar e adequação


do órgão ou entidade gestora do regime próprio de previdência social,
nos termos do § 6º do art. 9º da Emenda Constitucional nº 103, de 12 de
novembro de 2019.

Por fim, destaca-se o disposto no art. 3º da EC nº 113/2021, que altera o critério de atualização
monetária das condenações judiciais da Fazenda Pública. Em substituição da correção monetária
cumulada com juros pelo IPCA-E ou INPC + juros, como era feito até as expedições de 2021, a
atualização dos créditos passa a ser feita com base na taxa SELIC (Sistema Especial de Liquidação
e de Custódia), índice que engloba tanto os juros de mora quanto à recomposição das perdas
inflacionárias. Veja a redação do referido artigo:

Art. 3º Nas discussões e nas condenações que envolvam a Fazenda Pública,


independentemente de sua natureza e para fins de atualização monetária,
de remuneração do capital e de compensação da mora, inclusive do
precatório, haverá a incidência, uma única vez, até o efetivo pagamento, do
índice da taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia
(Selic), acumulado mensalmente.

362 Caderno de novidades legislativas


DIREITO FINANCEIRO

1.3. Questão inédita comentada

De acordo com a EC nº  113/2021, é facultada ao credor de precatórios a oferta de créditos


líquidos e certos que originalmente lhe são próprios ou adquiridos de terceiros, reconhecidos pelo
ente federativo ou por decisão judicial transitada em julgado, para as seguintes finalidades, exceto:

A) Quitação de débitos parcelados ou débitos inscritos em dívida ativa do ente federativo devedor,
inclusive em transação resolutiva de litígio.

B) Compra de imóveis públicos, ainda que de propriedade de outro ente, disponibilizados para
venda.

C) Pagamento de outorga de delegações de serviços públicos e demais espécies de concessão


negocial promovidas pelo mesmo ente.

D) Aquisição, inclusive minoritária, de participação societária, disponibilizada para venda, do


respectivo ente federativo.

E) Compra de direitos, disponibilizados para cessão, do respectivo ente federativo.

Alternativa correta: letra B. Conforme dispõe o § 11, inciso II do art. 100 da CF/1988, com a
redação dada pela EC nº 113, de 2021, os créditos de precatório somente podem ser utilizados para
compra de imóveis públicos de propriedade do mesmo ente disponibilizados para venda.

Art. 100. (...)

§ 11 É facultada ao credor, conforme estabelecido em lei do ente federativo


devedor, com autoaplicabilidade para a União, a oferta de créditos líquidos
e certos que originalmente lhe são próprios ou adquiridos de terceiros
reconhecidos pelo ente federativo ou por decisão judicial transitada em
julgado para: (...)

II – compra de imóveis públicos de propriedade do mesmo ente


disponibilizados para venda.

Demais alternativas:

Alternativa A: Incorreta. Trata-se de hipótese autorizada no art. 100, § 11, I, da CF/1988, com
redação dada pela EC nº 113/2021.
363 Caderno de novidades legislativas
DIREITO FINANCEIRO
Art. 100. (...)

§ 11 É facultada ao credor, conforme estabelecido em lei do ente federativo


devedor, com autoaplicabilidade para a União, a oferta de créditos líquidos
e certos que originalmente lhe são próprios ou adquiridos de terceiros
reconhecidos pelo ente federativo ou por decisão judicial transitada em
julgado para:

I – quitação de débitos parcelados ou débitos inscritos em dívida ativa do


ente federativo devedor, inclusive em transação resolutiva de litígio, e,
subsidiariamente, débitos com a administração autárquica e fundacional do
mesmo ente.

Alternativa C: Incorreta. Trata-se de hipótese autorizada no art. 100, § 11, III, da CF/1988, com
redação dada pela EC nº 113/2021.

Art. 100. (...)

§ 11 É facultada ao credor, conforme estabelecido em lei do ente federativo


devedor, com autoaplicabilidade para a União, a oferta de créditos líquidos
e certos que originalmente lhe são próprios ou adquiridos de terceiros
reconhecidos pelo ente federativo ou por decisão judicial transitada em
julgado para:

III – pagamento de outorga de delegações de serviços públicos e demais


espécies de concessão negocial promovidas pelo mesmo ente.

Alternativa D: Incorreta. Trata-se de hipótese autorizada no art. 100, § 11, IV, da CF/1988, com
redação dada pela EC nº 113/2021.

Art. 100. (...)

§ 11 É facultada ao credor, conforme estabelecido em lei do ente federativo


devedor, com autoaplicabilidade para a União, a oferta de créditos líquidos
e certos que originalmente lhe são próprios ou adquiridos de terceiros
reconhecidos pelo ente federativo ou por decisão judicial transitada em
julgado para:

IV – aquisição, inclusive minoritária, de participação societária, disponibilizada


para venda, do respectivo ente federativo.

Alternativa E: Incorreta. Trata-se de hipótese autorizada no art. 100, § 11, V, da CF/1988, com
redação dada pela EC nº 113/2021.

364 Caderno de novidades legislativas


DIREITO FINANCEIRO
Art. 100. (...)

§ 11 É facultada ao credor, conforme estabelecido em lei do ente federativo


devedor, com autoaplicabilidade para a União, a oferta de créditos líquidos
e certos que originalmente lhe são próprios ou adquiridos de terceiros
reconhecidos pelo ente federativo ou por decisão judicial transitada em
julgado para:

V – compra de direitos, disponibilizados para cessão, do respectivo ente


federativo, inclusive, no caso da União, da antecipação de valores a serem
recebidos a título do excedente em óleo em contratos de partilha de
petróleo.

2. EC nº 114/2021 – Alteração no Regime de Precatórios

2.1. Ficha normativa

EC Nº 114/2021
Ementa: Altera a CF/1988 e o ADCT para estabelecer o novo regime de pagamentos de
precatórios, modificar normas relativas ao Novo Regime Fiscal e autorizar o
parcelamento de débitos previdenciários dos municípios, e dá outras providências.

Data de publicação: 17.12.2021


Início de vigência: 01.01.2022, para a alteração do art. 100, § 5º, da CF/1988, e 17.12.2021,
para os demais dispositivos.
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/
Emc/emc114.htm>
Destaques:
• Altera o prazo para a inclusão em lei orçamentária da verba necessária ao pagamento
dos precatórios judiciários.

• Estabelece um limite para alocação na proposta orçamentária das despesas com


pagamentos de precatórios (subteto dos precatórios).

• Altera regras de pagamento dos precatórios decorrentes de demandas relativas à


complementação da União aos Estados e aos municípios por conta do Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério
(FUNDEF).

• Modifica regras de refinanciamento de dívidas dos estados com a União previstas na Lei
Complementar (LC) nº 156/2016.

365 Caderno de novidades legislativas


DIREITO FINANCEIRO

2.2. Comentário

Em 17.12.2021 foi publicada a EC nº 114, com entrada em vigor a partir de 2022, para a alteração
do § 5º do art. 100 da CF/1988, constante do art. 1º e, na data de sua publicação, para os demais
dispositivos.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo

altera a Constituição Federal e o Ato das Disposições Constitucionais


Transitórias para estabelecer o novo regime de pagamentos de precatórios,
modificar normas relativas ao Novo Regime Fiscal e autorizar o parcelamento
de débitos previdenciários dos Municípios; e dá outras providências.

Conforme mencionado acima, trata-se de emenda oriunda da PEC nº 46/2021, que deu
continuidade à tramitação no Legislativo das disposições da PEC nº 23/2021, que não foram objeto
de consenso entre a Câmara dos Deputados e o Senado Federal.

Uma primeira e relevante modificação se deu em relação ao prazo para a inclusão em lei
orçamentária da verba necessária ao pagamento dos precatórios judiciários. Antes, os tribunais
poderiam realizar esse procedimento até o dia 1º de julho. Agora, pela nova redação do § 5º do art.
100 da CF/1988, o prazo máximo de inclusão no orçamento, para pagamento até o final do ano
seguinte, será em 2 de abril de cada ano.

Outra importante inovação foi a criação de um “subteto” de pagamento dos precatórios, por
meio do estabelecimento de um limite anual para o pagamento de verbas judiciais até 2026, de
modo que os precatórios não pagos em razão dessa limitação terão prioridade nos anos seguintes.
Nesse sentido, veja o que dispõe o art. 107-A do ADCT, inserido pela EC nº 114/2021:

Art. 107-A. Até o fim de 2026, fica estabelecido, para cada exercício
financeiro, limite para alocação na proposta orçamentária das despesas
com pagamentos em virtude de sentença judiciária de que trata o art. 100 da
Constituição Federal, equivalente ao valor da despesa paga no exercício de
2016, incluídos os restos a pagar pagos, corrigido na forma do § 1º do art. 107
deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, devendo o espaço
fiscal decorrente da diferença entre o valor dos precatórios expedidos e o
respectivo limite ser destinado ao programa previsto no parágrafo único do
art. 6º e à seguridade social, nos termos do art. 194, ambos da Constituição

366 Caderno de novidades legislativas


DIREITO FINANCEIRO
Federal, a ser calculado da seguinte forma: (…)

§ 1º O limite para o pagamento de precatórios corresponderá, em cada


exercício, ao limite previsto no  caput  deste artigo, reduzido da projeção
para a despesa com o pagamento de requisições de pequeno valor para o
mesmo exercício, que terão prioridade no pagamento.

§ 2º Os precatórios que não forem pagos em razão do previsto neste artigo


terão prioridade para pagamento em exercícios seguintes, observada a
ordem cronológica e o disposto no § 8º deste artigo.

§ 3º É facultado ao credor de precatório que não tenha sido pago em razão


do disposto neste artigo, além das hipóteses previstas no § 11 do art. 100 da
Constituição Federal e sem prejuízo dos procedimentos previstos nos §§ 9º
e 21 do referido artigo, optar pelo recebimento, mediante acordos diretos
perante Juízos Auxiliares de Conciliação de Pagamento de Condenações
Judiciais contra a Fazenda Pública Federal, em parcela única, até o final
do exercício seguinte, com renúncia de 40% (quarenta por cento) do
valor desse crédito.

(…)

§ 5º Não se incluem no limite estabelecido neste artigo as despesas para fins


de cumprimento do disposto nos §§ 11, 20 e 21 do art. 100 da Constituição
Federal e no § 3º deste artigo, bem como a atualização monetária dos
precatórios inscritos no exercício. (…) (Grifos nossos.)

Ressalte-se que o § 8º desse mesmo art. 107-A do ADCT prevê uma ordem de prioridades que
deverá orientar os pagamentos:

§ 8º Os pagamentos em virtude de sentença judiciária de que trata o art. 100


da Constituição Federal serão realizados na seguinte ordem:

I – obrigações definidas em lei como de pequeno valor, previstas no § 3º do


art. 100 da Constituição Federal;

II – precatórios de natureza alimentícia cujos titulares, originários ou por


sucessão hereditária, tenham no mínimo 60 (sessenta) anos de idade, ou
sejam portadores de doença grave ou pessoas com deficiência, assim
definidos na forma da lei, até o valor equivalente ao triplo do montante
fixado em lei como obrigação de pequeno valor;

III – demais precatórios de natureza alimentícia até o valor equivalente ao


triplo do montante fixado em lei como obrigação de pequeno valor;

IV – demais precatórios de natureza alimentícia além do valor previsto no


inciso III deste parágrafo;

367 Caderno de novidades legislativas


DIREITO FINANCEIRO
V – demais precatórios.

Por fim, o art. 4º da EC nº 114/2021 determina que

os precatórios decorrentes de demandas relativas à complementação da


União aos Estados e aos Municípios por conta do Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério
(Fundef) serão pagos em 3 (três) parcelas anuais e sucessivas, da seguinte
forma:

I – 40% (quarenta por cento) no primeiro ano;

II – 30% (trinta por cento) no segundo ano;

III – 30% (trinta por cento) no terceiro ano. (Grifos nossos.)

Importante ressaltar que esses precatórios mencionados no art. 4º ficarão de fora dos limites
do teto de gastos e de pagamento anual de precatórios estabelecido no art. 107-A, conforme prevê
o parágrafo único do art. 4º da EC nº 114/2021.

Ademais, o art. 5º da EC nº 114/2021 determina que os estados e municípios apliquem dos


recursos obtidos com os precatórios do FUNDEF, conforme destinação originária do fundo e que,
desse total, 60% deverão ser repassados aos profissionais do magistério, inclusive aposentados e
pensionistas, na forma de abono, proibida a incorporação na remuneração, na aposentadoria ou na
pensão.

Por fim, a nova emenda altera regras de refinanciamento de dívidas dos estados com a União
previstas na LC nº 156/2016. Dispõe o art. 7º da EC nº 114/2021 que:

Art. 7º Os entes da Federação que tiverem descumprido a medida prevista


no art. 4º da Lei Complementar nº 156, de 28 de dezembro de 2016, e
que optarem por não firmar termo aditivo na forma prevista no art. 4º-A
da referida Lei Complementar poderão restituir à União os valores
diferidos por força do prazo adicional proporcionalmente à quantidade
de prestações remanescentes dos respectivos contratos, aplicados os
encargos contratuais de adimplência e desde que adotem, durante o prazo
de restituição dos valores para a União, as medidas previstas no art. 167-A da
Constituição Federal. (Grifos nossos.)

2.3. Questão inédita comentada

Acerca do limite para alocação na proposta orçamentária das despesas com precatórios

368 Caderno de novidades legislativas


DIREITO FINANCEIRO
estabelecido pela EC nº 114/2021 (“subteto dos precatórios”), é correto afirmar:

A) A limitação se dará até 2036.

B) Está incluída no limite para pagamento de precatórios (“subteto dos precatórios”) a projeção para
a despesa com o pagamento de requisições de pequeno valor para o mesmo exercício, que terão
prioridade no pagamento.

C) Os precatórios que não forem pagos em razão do limite estabelecido pela EC 114/21 terão
prioridade para pagamento em exercícios seguintes, observada a ordem de pagamentos.

D) A utilização, pelo titular, dos créditos de precatórios para pagamento de outorga de delegações
de serviços públicos e demais espécies de concessão negocial promovidas pelo mesmo ente está
limitada ao valor do subteto de pagamento estabelecido pela EC nº 114/2021.

E) É facultado ao credor de precatório que não tenha sido pago em razão do limite de pagamentos,
optar pelo recebimento, mediante acordos diretos perante Juízos Auxiliares de Conciliação de
Pagamento de Condenações Judiciais contra a Fazenda Pública Federal, em parcela única, até o
final do exercício seguinte, com renúncia de 30% (trinta por cento) do valor desse crédito.

Alternativa correta: letra C. É o que prevê o § 2º do art. 107-A do ADCT.

Art. 107-A. (...)

§ 2º Os precatórios que não forem pagos em razão do previsto neste artigo


terão prioridade para pagamento em exercícios seguintes, observada a
ordem cronológica e o disposto no § 8º deste artigo.

Demais alternativas:

Alternativa A: Incorreta. O termo final da limitação é o ano de 2026, na forma do art. 107-A do
ADCT, introduzido pela EC nº 114/2021.

Art. 107-A. Até o fim de 2026, fica estabelecido, para cada exercício
financeiro, limite para alocação na proposta orçamentária das despesas
com pagamentos em virtude de sentença judiciária de que trata o art. 100 da
Constituição Federal, equivalente ao valor da despesa paga no exercício de
2016, incluídos os restos a pagar pagos, corrigido na forma do § 1º do art. 107
deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, devendo o espaço
fiscal decorrente da diferença entre o valor dos precatórios expedidos e o
respectivo limite ser destinado ao programa previsto no parágrafo único do
369 Caderno de novidades legislativas
DIREITO FINANCEIRO
art. 6º e à seguridade social, nos termos do art. 194, ambos da Constituição
Federal, a ser calculado da seguinte forma: (...)

Alternativa B: Incorreta. De acordo com o § 1º do art. 107-A do ADCT, o limite para o


pagamento de precatórios corresponderá, em cada exercício, ao limite previsto no caput deste
artigo, reduzido da projeção para a despesa com o pagamento de requisições de pequeno valor para
o mesmo exercício, que terão prioridade no pagamento.

Art. 107-A. (…)

§ 1º O limite para o pagamento de precatórios corresponderá, em cada


exercício, ao limite previsto no caput deste artigo, reduzido da projeção
para a despesa com o pagamento de requisições de pequeno valor para o
mesmo exercício, que terão prioridade no pagamento.

Alternativa D: Incorreta. Tal opção de utilização dos créditos de precatórios está prevista no
art. 100, § 11, da CF/1988, e estabelece o § 6º do art. 107-A do ADCT que “não se incluem nos limites
estabelecidos no art. 107 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias o previsto nos §§ 11,
20 e 21 do art. 100 da Constituição Federal e no § 3º deste artigo”.

Alternativa E: Incorreta. O valor da renúncia, estabelecido no § 3º do art. 107-A do ADCT, é de


40% (quarenta por cento).

Art. 107-A. (...)

§ 3º É facultado ao credor de precatório que não tenha sido pago em razão


do disposto neste artigo, além das hipóteses previstas no § 11 do art. 100 da
Constituição Federal e sem prejuízo dos procedimentos previstos nos §§ 9º
e 21 do referido artigo, optar pelo recebimento, mediante acordos diretos
perante Juízos Auxiliares de Conciliação de Pagamento de Condenações
Judiciais contra a Fazenda Pública Federal, em parcela única, até o final
do exercício seguinte, com renúncia de 40% (quarenta por cento) do valor
desse crédito.

370 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
1. Lei nº 14.259/2021 – Medidas excepcionais decorrentes da pandemia
causada pelo coronavírus
1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.259/2021
Ementa: Altera a Lei nº 14.124, de 10 de março de 2021, que dispõe sobre as medidas
excepcionais relativas à aquisição de vacinas e de insumos e à contratação de
bens e serviços de logística, de tecnologia da informação e comunicação, de
comunicação social e publicitária e de treinamentos destinados à vacinação contra
a Covid-19 e sobre o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a
Covid-19.
Data de publicação: 08.12.2021

Início de vigência: 08.12.2021

Link do texto normativo: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/


lei/l14259.htm>
Destaques:
• Estende a aplicação desta lei aos atos praticados e aos contratos e instrumentos congêneres
firmados enquanto durar a declaração de emergência em saúde pública causada pela
pandemia do coronavírus;

• Autoriza, enquanto durar a pandemia, a recontratação, a renovação ou a prorrogação


por um ano dos contratos dos médicos intercambistas no Programa Mais Médicos (Lei nº
12.871/2013).

• Dispõe sobre medidas de cautela aptas a reduzir o risco do inadimplemento contratual nas
contratações para a vacinação contra a Covid-19.

1.2. Comentário

Em 08.12.2021, foi publicada a Lei nº 14.259, com início imediato de vigência.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo

altera a Lei nº 14.124, de 10 de março de 2021, que dispõe sobre as medidas


excepcionais relativas à aquisição de vacinas e de insumos e à contratação
de bens e serviços de logística, de tecnologia da informação e comunicação,

371 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
de comunicação social e publicitária e de treinamentos destinados à
vacinação contra a Covid-19 e sobre o Plano Nacional de Operacionalização
da Vacinação contra a Covid-19.

A referida lei, oriunda da conversão da Medida Provisória (MP) nº 1.059, de 2021, incluiu o art.
20 na Lei nº 14.124/2021 para estender a aplicação desta lei aos atos praticados e aos contratos
e instrumentos congêneres firmados enquanto durar a declaração de emergência em saúde
pública de importância nacional decorrente da pandemia causada pelo coronavírus SARS-CoV-2,
independentemente do seu prazo de execução ou de suas prorrogações.

Inovando em relação à medida provisória anterior, a lei inseriu os incisos VI e VII no § 6º do art. 12
da Lei nº 14.124/2021, para dispor que a administração pública deverá prever, dentre outras medidas
de cautela aptas a reduzir o risco do inadimplemento contratual, a efetivação do pagamento apenas
ao contratado, vedado o pagamento a terceiro não integrante da relação contratual; e a nulidade
de pleno direito da alteração contratual que busque incluir parte não constante da relação
contratual e que implique recebimento de valores provenientes da Administração sob qualquer
circunstância, o que acarretará apuração de responsabilidade funcional.

Ressalte-se que o § 7º do mesmo art. 12 exclui a aplicação do disposto no inciso VII do § 6º aos
casos de alteração da pessoa jurídica em que a contratada original esteja em processo de fusão,
cisão, aquisição ou outro tipo de transformação societária que exija a alteração da parte contratada.

Por fim, o diploma legislativo incluiu também o art. 20-A, autorizando, enquanto durar a
pandemia, a recontratação, a renovação ou a prorrogação por um ano dos contratos dos médicos
intercambistas no Programa Mais Médicos (Lei nº 12.871/2013), independentemente do período
de atuação desses profissionais no programa.

1.3. Questão inédita comentada

Com relação aos contratos de aquisição de vacinas e de insumos e à contratação de bens e


serviços destinados à vacinação contra a Covid-19, de acordo com a Lei nº 14.124/2021 e suas
alterações dadas pela Lei nº 14.259/2021, é incorreto afirmar que:

A) As disposições excepcionais de contratação previstas na Lei nº 14.124/2021 se aplicam aos


contratos firmados enquanto durar a pandemia do novo coronavírus, independentemente do seu
prazo de execução ou de suas prorrogações.

372 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
B) Nos contratos regidos pela lei, dentre as medidas de cautela aptas a reduzir o risco do inadim-
plemento contratual, deve o pagamento ajustado ser apenas ao contratado, vedado o pagamento a
terceiro não integrante da relação contratual.

C) É nula de pleno direito a alteração contratual que busque incluir parte não constante da relação
contratual, ainda que a contratada original esteja em processo de fusão, cisão, aquisição ou outro
tipo de transformação societária que exija a alteração da parte contratada.

D) Ficam autorizadas a recontratação, a renovação ou a prorrogação por um ano dos contratos dos
médicos intercambistas no Programa Mais Médicos, de que trata a Lei nº 12.871/2013, vencidos no
ano de 2021 ou que irão vencer, independentemente do período de atuação desses profissionais
no programa.

E) A nulidade da alteração contratual que inclua parte não constante da relação contratual e implique
recebimento de valores da Administração acarretará apuração de responsabilidade funcional.

Alternativa correta: C. O enunciado da alternativa está incorreto. O § 7º do art. 12 da Lei nº


14.124/2021, na redação dada pela Lei nº 14.259/2021 prevê que se excetuam do disposto no inciso
VII do § 6º, que considera nulas tais alterações contratuais, os casos de alteração da pessoa jurídica
em que a contratada original esteja em processo de fusão, cisão, aquisição ou outro tipo de transfor-
mação societária que exija a alteração da parte contratada.

Art. 12. (…)

§ 6º (…)

VII – a nulidade de pleno direito da alteração contratual que busque incluir


parte não constante da relação contratual e que implique recebimento de
valores provenientes da Administração sob qualquer circunstância, o que
acarretará apuração de responsabilidade funcional.

§ 7º Excetuam-se do disposto no inciso VII do § 6º deste artigo os casos de


alteração da pessoa jurídica em que a contratada original esteja em processo
de fusão, cisão, aquisição ou outro tipo de transformação societária que
exija a alteração da parte contratada. (NR)

373 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Demais alternativas:

Alternativa A: Incorreta. Nesse sentido é o que prevê o art. 20 da Lei nº 14.124/2021, na redação
dada pela Lei nº 14.259/2021.

Art. 20. Esta Lei aplica-se aos atos praticados e aos contratos e instrumentos
congêneres firmados enquanto durar a declaração de emergência em saúde
pública de importância nacional decorrente da pandemia causada pelo
coronavírus SARS-CoV-2, independentemente do seu prazo de execução
ou de suas prorrogações.

Alternativa B: Incorreta. Nesse sentido é o que prevê o art. 12, § 6º, VI, da Lei nº 14.124/2021, na
redação dada pela Lei nº 14.259/2021.

Art. 12. (...)

§ 6º (...)

VI – a efetivação do pagamento apenas ao contratado, vedado o pagamento


a terceiro não integrante da relação contratual.

Alternativa D: Incorreta. Nesse sentido é o que prevê o art. 20-A da Lei nº 14.124/2021, na
redação dada pela Lei nº 14.259/2021.

Art. 20-A. Em razão do Estado de Emergência em Saúde Pública de


Importância Nacional (Espin) em decorrência da infecção humana pelo
coronavírus responsável pela Covid-19 (SARS-CoV-2), ficam autorizadas a
recontratação, a renovação ou a prorrogação por 1 (um) ano dos contratos
dos médicos intercambistas no Programa Mais Médicos, de que trata a Lei
nº 12.871, de 22 de outubro de 2013, vencidos no ano de 2021 ou que irão
vencer, independentemente do período de atuação desses profissionais no
Programa.

Alternativa E: Incorreta. Nesse sentido é o que prevê o art. 12, § 6º, VII, parte final, da Lei nº
14.124/2021, na redação dada pela Lei nº 14.259/2021.

Art. 12. (...)

§ 6º (...)

VII – a nulidade de pleno direito da alteração contratual que busque incluir


parte não constante da relação contratual e que implique recebimento de
valores provenientes da Administração sob qualquer circunstância, o que
acarretará apuração de responsabilidade funcional.

374 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
2. Lei nº 14.273/2021 – Novo marco legal do transporte ferroviário

2.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.273/2021
Ementa: Estabelece a Lei das Ferrovias; altera o Decreto-Lei nº 3.365, de 21 de junho de 1941,
e as Leis nºs 6.015, de 31 de dezembro de 1973, 9.074, de 7 de julho de 1995, 9.636,
de 15 de maio de 1998, 10.233, de 5 de junho de 2001, 10.257, de 10 de julho de
2001, 10.636, de 30 de dezembro de 2002, 12.815, de 5 de junho de 2013, 12.379,
de 6 de janeiro de 2011, e 13.448, de 5 de junho de 2017; e revoga a Lei nº 5.917, de
10 de setembro de 1973.
Data de publicação: 23.12.2021
Início de vigência: 23.12.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/
lei/L14273.htm>
Destaques:
• Permite a construção de ferrovias por autorização.

• Permite a autorização da exploração de trechos não implantados, ociosos ou em processo


de devolução ou desativação.

• Facilita a devolução de trechos que não sejam de interesse do concessionário para que
possam ser repassados a terceiros.

• Autoriza a criação de uma entidade autorreguladora do setor.

2.2. Comentário

Em 23.12.2021, foi publicada a Lei nº 14.273, com início imediato de vigência.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo

estabelece a Lei das Ferrovias; altera o Decreto-Lei nº 3.365, de 21 de junho


de 1941, e as Leis nºs 6.015, de 31 de dezembro de 1973, 9.074, de 7 de julho
de 1995, 9.636, de 15 de maio de 1998, 10.233, de 5 de junho de 2001, 10.257,
de 10 de julho de 2001, 10.636, de 30 de dezembro de 2002, 12.815, de 5
de junho de 2013, 12.379, de 6 de janeiro de 2011, e 13.448, de 5 de junho de
2017; e revoga a Lei nº 5.917, de 10 de setembro de 1973.

375 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
A Lei nº 14.273/2021, denominada como o “novo marco legal das ferrovias”, busca atrair
investimentos do setor privado no setor e promover o aproveitamento de trechos ociosos por meio
da prestação de serviços de transporte ferroviário por autorização.

A lei, que teve origem em proposta do senador licenciado José Serra, propõe a harmonização
com regras atuais da Política Nacional de Transporte Ferroviário, que envolvem concessões (art. 25,
§ 6º, da Lei nº 14.273/2021).

Conforme mandamento constitucional, compete à União explorar, diretamente ou mediante


autorização, concessão ou permissão, os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos
brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites de estado ou território (art. 21, XII,
“d”, da CF/1988). Além disso, compete privativamente à União legislar sobre diretrizes da política
nacional de transportes e sobre trânsito e transporte (art. 22, IX e XI).

Seguindo as balizas constitucionais, a Lei nº 14.273/2021 especificou, pormenorizadamente, as


competências dos entes federativos relacionadas ao transporte ferroviário, dispondo, em seu art. 2º,
que compete à União:

I – estabelecer normas para a segurança do trânsito e do transporte


ferroviários em todo o território nacional;

II – nas ferrovias integrantes do Subsistema Ferroviário Federal (SFF),


definidas pelo art. 20 da Lei nº 12.379, de 6 de janeiro de 2011:

a) regular e outorgar a exploração de ferrovias como atividade econômica;

b) regular, controlar, fiscalizar e penalizar as operadoras ferroviárias quanto


a questões técnicas, operacionais, ambientais, econômicas, concorrenciais
e de segurança;

c) autorizar, suspender, interditar e extinguir o tráfego ferroviário;

d) fiscalizar a segurança do trânsito e do transporte ferroviários;

e) realizar e manter, na forma da regulamentação, o registro dos atos


constitutivos autorreguladores;

f) conciliar, dirimir e decidir os conflitos não resolvidos pela autorregulação.

Por sua vez, o § 1º do mesmo art. 2º determina que compete aos Estados, ao Distrito Federal
e aos Municípios a outorga do serviço de transporte ferroviário das ferrovias que compõem seus
respectivos sistemas de viação, podendo a União delegar a exploração dos serviços de que trata o
inciso II do caput aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios, observada a legislação federal,
nos termos do § 2º do art. 6º da Lei nº 12.379, de 06.01.2011 (art. 2º, § 2º).

376 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
O art. 3º traz algumas definições relevantes para a compreensão da regulamentação legal,
enquanto os arts. 4º e 5º trazem, respectivamente, princípios e diretrizes da exploração do serviço
ferroviário. Dentre os princípios, destaca-se a integração da infraestrutura ferroviária (art. 4º, V) e
a distribuição de rotas de determinada malha ferroviária entre distintas operadoras ferroviárias,
de modo a impedir a concentração de origens ou destinos (art. 4º, VIII). Além disso, são diretrizes
relevantes à exploração econômica das ferrovias (art. 5º):

I – promoção de desenvolvimento econômico e social por meio da ampliação


da logística e da mobilidade ferroviárias;

II – expansão da malha ferroviária, modernização e atualização dos sistemas


e otimização da infraestrutura ferroviária;

III – adoção e difusão das melhores práticas do setor ferroviário e garantia da


qualidade dos serviços e da efetividade dos direitos dos usuários;

IV – estímulo à modernização e ao aprimoramento da gestão da infraestrutura


ferroviária, à valorização e à qualificação da mão de obra ferroviária e à
eficiência nas atividades prestadas;

V – promoção da segurança do trânsito ferroviário em áreas urbanas e rurais;

VI – estímulo ao investimento em infraestrutura, à integração de malhas


ferroviárias e à eficiência dos serviços;

VII – estímulo à ampliação do mercado ferroviário na matriz de transporte


de cargas e de passageiros;

VIII – estímulo à concorrência intermodal e intramodal como inibidor de


preços abusivos e de práticas não competitivas;

IX – estímulo à autorregulação fiscalizada, regulada e supervisionada pelo


poder público;

X – incentivo ao uso racional do espaço urbano, à mobilidade eficiente e à


qualidade de vida nas cidades. (Grifos nossos.)

Com relação às regras de outorga, destaca-se que a exploração direta de ferrovias somente
deve ser permitida nas hipóteses de que trata o art. 173 da CF/1988, e deve ser exercida por meio de
entidades estatais especializadas (art. 7º, parágrafo único).

A regra, portanto, é a exploração indireta, que, nos termos do art. 8º da Lei nº 14.273/2021, será
exercida por operadora ferroviária:

377 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
I – em regime privado, mediante outorga de autorização;

II – em regime público, mediante outorga de concessão.

À exploração em regime privado, bastante incentivada pelo novo marco legal, é garantida
a liberdade de preços (art. 8º, § 2º) e nas ferrovias outorgadas nesse regime é livre a oferta de
capacidade de transporte a agente transportador ferroviário (art. 9º, § 1º). Por outro lado, nas ferrovias
outorgadas em regime público, a oferta de capacidade mínima para a execução do transporte por
agente transportador ferroviário deve obedecer ao que for estabelecido no contrato de outorga (art.
9º, § 2º).

Ressalte-se que, nos termos do art. 8º, § 4º, da Lei nº 14.273/2021, “a outorga de determinada
ferrovia não implica a preclusão da possibilidade de outorga de outras ferrovias, ainda que
compartilhem os mesmos pares de origem e destino ou a mesma região geográfica” (grifos nossos).

Ademais, importa frisar que a lei em comento simplificou o procedimento para a prestação de
serviço de transporte que não envolva exploração da infraestrutura, por meio de inscrição válida
em registro a ser instituído pelo regulador ferroviário, na forma da regulamentação (art. 9º, caput).

A outorga em regime público é regulamentada no Capítulo IV da lei, enquanto o regime privado


é regulamentado no Capítulo V.

Nas ferrovias públicas, o art. 15 da lei regulamenta a desativação e devolução de trechos


rodoviários outorgados antes da vigência da Lei nº 13.448/2017, que:

I – não apresentem tráfego comercial nos últimos 4 (quatro) anos anteriores


à apresentação do pedido; ou

II – sejam de operação comprovadamente antieconômica no âmbito do


respectivo contrato de concessão, independentemente de prazo sem
tráfego comercial, em função da extinção ou do exaurimento das fontes da
carga.

O pedido de desativação ou de devolução de trechos ferroviários deve ser acompanhado de


estudo técnico disponibilizado pela concessionária que indique as alternativas de destinação dos
bens vinculados ao trecho desativado, como, por exemplo (art. 15, § 3º):

I – transferência para novo investidor;

II – utilização no transporte de passageiros;

378 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
III – criação de acessos ferroviários;

IV – destinação para finalidades culturais, históricas, turísticas ou de


preservação;

V – reurbanização e formação de parques;

VI – alienação, na forma prevista no parágrafo único do art. 24 da Lei nº


12.379, de 6 de janeiro de 2011.

Outra inovação importante com o intuito de atrair investimentos privados é a criação das
figuras do Usuário Investidor e do Investidor Associado (arts. 16 e 17), que poderão firmar contratos
com as operadoras ferroviárias de forma simplificada, sem a necessidade de prévia autorização junto
ao órgão regulador. Veja o que dispõe a lei nesse ponto:

Seção III

Da Habilitação de Usuário Investidor

Art. 16. As operadoras ferroviárias podem receber investimentos de usuários


investidores para aumento de capacidade, aprimoramento ou adaptação
operacional da infraestrutura ferroviária outorgada.

§ 1º A forma, os prazos, os montantes e a compensação financeira desses


investimentos devem ser livremente negociados e avençados em contrato
firmado entre a operadora ferroviária e o usuário investidor, cuja cópia deve
ser enviada, para informação e registro, ao regulador ferroviário.

§ 2º Deve ser requerida anuência do regulador ferroviário, previamente à


vigência do contrato referido no § 1º deste artigo, caso os investimentos
previstos impliquem obrigações cujo cumprimento ultrapasse a vigência do
contrato outorgado por concessão, revisão do teto tarifário ou outra forma
de ônus para o ente público.

§ 3º Os direitos e as obrigações previstos no contrato firmado entre o usuário


investidor e a operadora ferroviária estendem-se a seu eventual sucessor,
nos termos da regulamentação.

§ 4º Os investimentos recebidos de usuários investidores de que trata o


caput deste artigo podem ser aplicados pelas operadoras ferroviárias para
o cumprimento das metas pactuadas com o regulador ferroviário, desde
que voluntariamente acordado com os usuários investidores, mantidas as
responsabilidades contratuais da operadora ferroviária perante o regulador
ferroviário.

§ 5º Os bens decorrentes de expansão ou de recuperação da malha


ferroviária custeados pelos investimentos de que trata o caput deste

379 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
artigo, salvo material rodante, devem ser imediatamente incorporados
ao patrimônio inerente à operação ferroviária, não sendo devida, nem ao
usuário investidor, nem à operadora ferroviária, qualquer indenização por
parte da União, por ocasião da reversão prevista no contrato de outorga.

Seção IV

Dos Investidores Associados

Art. 17. As operadoras ferroviárias podem receber investimentos de


investidores associados para construção, aprimoramento, adaptação,
ampliação ou operação de instalações adjacentes, com vistas a viabilizar a
prestação ou melhorar a rentabilidade de serviços associados à ferrovia.

§ 1º As partes ajustarão as condições dos investimentos de que trata o caput


deste artigo por meio de contrato, cuja cópia deve ser encaminhada ao
regulador ferroviário.

§ 2º Caso os investimentos realizados na forma do caput deste artigo


impliquem obrigações ou amortizações cujo cumprimento ultrapasse
a vigência da concessão, deve ser requerida anuência prévia do poder
concedente, conforme regulamentação.

§ 3º Os direitos e as obrigações previstos no contrato firmado entre o


investidor associado e a operadora ferroviária estendem-se a seu eventual
sucessor, nos termos da regulamentação.

§ 4º É vedada a revisão do teto tarifário ou outra forma de ônus para o ente


público no escopo do contrato referido no § 1º deste artigo.

No entanto, a mais relevante inovação da lei foi permitir a construção e exploração de


novas ferrovias por autorização, sendo relevante o conhecimento do regime privado de outorga.
Diferentemente das concessões, no regime de autorizações a operadora ferroviária poderá ser
selecionada mediante chamamento público (­art. 19), disciplinado nos arts. 26 a 28, ou poderá, caso
interessada, requerer a autorização diretamente ao regulador ferroviário (art. 25), instruindo seu
requerimento com (art. 25, § 1º):

I – minuta preenchida do contrato de adesão e memorial com a descrição


técnica do empreendimento e a indicação de fontes de financiamento
pretendidas, conforme regulamento;

II – relatório técnico descritivo, no caso de autorização para ferrovias, com,


no mínimo:

380 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
a) indicação georreferenciada do percurso total, das áreas adjacentes e da
faixa de domínio da infraestrutura ferroviária pretendida;

b) detalhamento da configuração logística e dos aspectos urbanísticos


relevantes;

c) características da ferrovia, com as especificações técnicas da operação


compatíveis com o restante da malha ferroviária;

d) cronograma de implantação ou recapacitação da ferrovia, incluindo


data-limite para início das operações ferroviárias;

e) (VETADO);

III – certidões de regularidade fiscal da requerente.

Apresentado o requerimento, o regulador ferroviário deve, além de avaliar a viabilidade


locacional do requerimento com as demais ferrovias implantadas ou outorgadas (art. 25, §§ 3º e 4º):

I – analisar a convergência do objeto do requerimento com a política pública


do setor ferroviário;

II – elaborar e publicar o extrato do requerimento, inclusive na internet;

III – analisar a documentação, os projetos e os estudos que o compõem e


deliberar sobre a outorga da autorização;

IV – publicar o resultado motivado da deliberação e, em caso de deferimento,


o extrato do contrato.

Importa ressaltar que, cumpridas as exigências legais, nenhuma autorização deve ser negada,
exceto por incompatibilidade com a política nacional de transporte ferroviário ou por motivo
técnico-operacional relevante, devidamente justificado, nos termos do § 6º do mesmo art. 25 da Lei
nº 14.273/2021.

O prazo do contrato deve ser estipulado pelo regulador ferroviário a partir de proposta
da requerente ou fixado no ato de chamamento, e deve ter duração de 25 (vinte e cinco) a 99
(noventa e nove) anos (art. 19, § 1º), podendo ser prorrogado por períodos sucessivos, desde que a
autorizatária manifeste prévio e expresso interesse e esteja operando a ferrovia em padrões mínimos
de segurança operacional, produção de transporte e qualidade, na forma do regulamento.

Outros pontos relevantes da autorização para exploração de ferrovias em regime privado estão
disciplinados nos seguintes dispositivos:

381 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Art. 21. Para constituir infraestrutura ferroviária a ser operada sob
regime privado, o poder público pode alienar, ceder ou arrendar à
operadora ferroviária autorizatária bens de sua propriedade, conforme a
regulamentação.

Art. 22. Os bens constituintes da ferrovia autorizada não são reversíveis


ao poder público quando a respectiva autorização for extinta, exceto na
hipótese de cessão ou de arrendamento de que trata o art. 21 desta Lei.

Parágrafo único. A autorizatária não fará jus a qualquer indenização pelo


poder público em razão das melhorias que efetuar nos bens de que trata o
caput deste artigo.

Art. 23. A necessidade de inclusão de acesso ferroviário na faixa de


domínio de outra ferrovia, inclusive para acessar portos, ferrovias ou outras
infraestruturas essenciais ou para transpor barreiras topográficas ou áreas
urbanas, não inviabilizará a outorga por autorização. (Grifos nossos.)

Por fim, a Lei nº 14.273/2021 inova ao possibilitar a criação de uma entidade autorreguladora
pelas operadoras ferroviárias, sob a forma de pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos,
cujas normas vincularão apenas as empresas aderentes (art. 43, caput e § 3º). Nos termos do art. 44
do marco legal, a autorregulação ferroviária compreende as seguintes funções:

I – instituição de normas voluntárias de padrões exclusivamente técnico-


operacionais da execução do transporte ferroviário, notadamente no que se
refere à via permanente, aos sistemas de segurança e ao material rodante,
visando à maximização da interconexão e da produtividade ferroviárias;

II – conciliação de conflitos entre seus membros, excetuados os de ordem


comercial;

III – coordenação, planejamento e administração em cooperação do


controle operacional das malhas ferroviárias operadas pelos membros do
autorregulador ferroviário;

IV – autorregulação e coordenação da atuação dos seus membros para


assegurar neutralidade com relação aos interesses dos usuários;

V – solicitação ao órgão regulador de revogação e de alteração de normas


incompatíveis com a eficiência ou com a produtividade ferroviárias;

VI – articulação com órgãos e com entidades da União, dos Estados, do


Distrito Federal e dos Municípios para conciliação do uso da via permanente
de seus membros com outras vias terrestres e com os demais modos de
transporte;

382 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
VII – aprovação de programas de gestão de manutenção, de riscos e de
garantias das operações de transportes.

2.3. Questão inédita comentada

Acerca da exploração do serviço ferroviário, na forma da Lei nº 14.273/2021 (Novo Marco Legal
das Ferrovias), assinale a alternativa incorreta:

A) A exploração do serviço ferroviário deverá ser realizada, necessariamente, em regime público,


sob a forma de autorização.

B) No regime de autorização, a operadora ferroviária pode ser selecionada por chamamento público
ou requerer diretamente a autorização.

C) O prazo do contrato de autorização deve ser estipulado pelo regulador ferroviário a partir de
proposta da requerente ou fixado no ato de chamamento e deve ter duração de até 99 (noventa e
nove) anos.

D) Para constituir infraestrutura ferroviária a ser operada sob regime privado, o poder público pode
alienar, ceder ou arrendar à operadora ferroviária autorizatária bens de sua propriedade, conforme a
regulamentação.

E) As normas estabelecidas pela entidade autorregulatória, caso instituída, não vinculam as


empresas não aderentes à autorregulação.

Alternativa correta: letra A. A exploração indireta do serviço ferroviário será, nos termos do art.
8º da Lei nº 14.273/2021, exercida por operadora ferroviária em regime privado, mediante outorga de
autorização; ou em regime público, mediante outorga de concessão.

Art. 8º A exploração indireta de ferrovias será exercida por operadora


ferroviária:

I – em regime privado, mediante outorga de autorização;

II – em regime público, mediante outorga de concessão.

383 Caderno de novidades legislativas


DIREITO ADMINISTRATIVO
Demais alternativas:

Alternativa B: Incorreta. A assertiva é correta. Diferentemente das concessões, no regime de


autorizações a operadora ferroviária poderá ser selecionada mediante chamamento público (­art.
19 da Lei nº 14.273/2021), disciplinado nos arts. 26 a 28, ou poderá, caso interessada, requerer a
autorização diretamente ao regulador ferroviário (art. 25 da Lei nº 14.273/2021).

Art. 19. A autorização para exploração de ferrovias por operadora ferroviária


requerente ou selecionada mediante chamamento público deve ser
formalizada por meio de contrato por prazo determinado.

Art. 25. O interessado em obter a autorização para a exploração de novas


ferrovias, novos pátios e demais instalações acessórias pode requerê-la
diretamente ao regulador ferroviário, a qualquer tempo, na forma da
regulamentação.

Alternativa C: Incorreta. A assertiva é correta. O prazo do contrato deve ser estipulado pelo
regulador ferroviário a partir de proposta da requerente ou fixado no ato de chamamento e deve ter
duração de 25 (vinte e cinco) a 99 (noventa e nove) anos (art. 19, § 1º, da Lei nº 14.273/2021).

Art. 19. A autorização para exploração de ferrovias por operadora ferroviária


requerente ou selecionada mediante chamamento público deve ser
formalizada por meio de contrato por prazo determinado.

§ 1º O prazo do contrato referido no caput deste artigo deve ser estipulado


pelo regulador ferroviário a partir de proposta da requerente ou fixado no
ato de chamamento e deve ter duração de 25 (vinte e cinco) a 99 (noventa
e nove) anos.

Alternativa D: Incorreta. A assertiva é correta, pois nesse sentido é o que dispõe o art. 21 da Lei
nº 14.273/2021.

Art. 21. Para constituir infraestrutura ferroviária a ser operada sob


regime privado, o poder público pode alienar, ceder ou arrendar à
operadora ferroviária autorizatária bens de sua propriedade, conforme a
regulamentação.

384 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO TRABALHO
Alternativa E: Incorreta. A assertiva é correta, pois nesse sentido é o que dispõe o art. 43, § 3º,
da Lei nº 14.273/2021.

Art. 43. As operadoras ferroviárias podem associar-se voluntariamente


sob a forma de pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos para
promover a autorregulação, nos termos de seu estatuto, desta Lei e de sua
regulamentação.

§ 3º As normas estabelecidas pela entidade autorregulatória de que


trata o caput deste artigo não vinculam as empresas não aderentes à
autorregulação.

385 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO TRABALHO
1. Lei nº 14.261/2021 – Cria o Ministério do Trabalho e Previdência e
altera dispositivos da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), e de
outras leis trabalhistas
1.1. Ficha normativa
LEI Nº 14.261/2021
Ementa: Cria o Ministério do Trabalho e Previdência; altera as Leis nºs 13.844, de 18 de junho
de 2019, 7.998, de 11 de janeiro de 1990, e 8.036, de 11 de maio de 1990, e a CLT,
aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943; revoga dispositivos da
Lei nº 13.846, de 18 de junho de 2019, e dá outras providências.

Data de publicação: 17.12.2021


Início de vigência: 17.12.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/
lei/L14261.htm>
Destaques:
• A nova lei “cria o Ministério do Trabalho e Previdência; altera as Leis nºs 13.844, de 18 de junho
de 2019, 7.998, de 11 de janeiro de 1990, e 8.036, de 11 de maio de 1990, e a Consolidação
das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943;
revoga dispositivos da Lei nº 13.846, de 18 de junho de 2019; e dá outras providências”.

• Recria o Ministério do Trabalho e Previdência (MTP).

• Altera a Lei nº 7.998/1990 (Lei do Seguro-Desemprego e do Abono Salarial) e a CLT.

• Atribui ao MTP a fiscalização do Seguro-Desemprego, do abono salarial e do pagamento


de bolsa de qualificação profissional pelas empresas, ou de benefícios de programas
voltados à manutenção de empregos ou a qualificação de trabalhadores, custeados pelo
Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).

• Determina que trabalhadores, empregadores e serviços nacionais de aprendizagem


ou entidades qualificadas em formação técnico-profissional prestem informações e
atendam às exigências para a concessão de Seguro-Desemprego, abono salarial, bolsa
de qualificação profissional ou outros benefícios para manutenção de empregos ou
qualificação.

• Institui na CLT o chamado “Domicílio Eletrônico Trabalhista”, que será regulamentado pelo
MTP, para dar ciência ao empregador sobre atos administrativos, ações fiscais, intimações
e avisos em geral.

386 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO TRABALHO
1.2. Comentário

Em 17.12.2021, foi publicada no Diário Oficial da União a Lei nº 14.261/2021, com o objetivo de
recriar o MTP. Na verdade, a lei reproduziu o que anteriormente dispunha a Medida Provisória (MP)
nº 1.058/2021 (que estabeleceu as principais competências e atribuições do citado Ministério).

Vale destacar que a lei em estudo trouxe algumas mudanças trabalhistas, alterando, entre
outras, a Lei nº 7.998/1990 (Lei do Seguro-Desemprego e do Abono Salarial) e a CLT.

O art. 2º da mencionada lei incluiu o art. 48-A à Lei nº 13.844/2019, com a seguinte redação:

Art. 48-A. Constituem áreas de competência do Ministério do Trabalho e


Previdência:

I -–previdência;

II – previdência complementar;

III – política e diretrizes para a geração de emprego e renda e de apoio ao


trabalhador;

IV – política e diretrizes para a modernização das relações de trabalho;

V – fiscalização do trabalho, inclusive do trabalho portuário, e aplicação


das sanções previstas em normas legais ou coletivas;

VI – política salarial;

VII – intermediação de mão de obra, formação e desenvolvimento


profissional;

VIII – segurança e saúde no trabalho;

IX – regulação profissional; e

X – registro sindical. (Grifos nossos.)

A lei também atribuiu ao MTP a competência para fiscalização do seguro-desemprego,


do abono salarial e do pagamento de bolsa de qualificação profissional pelas empresas, ou de
benefícios de programas voltados à manutenção de empregos ou a qualificação de trabalhadores,
custeados pelo FAT, conforme a redação do art. 23 da Lei nº 7.998/1990.

Vale destacar que a lei determina que trabalhadores, empregadores e serviços nacionais de
aprendizagem ou entidades qualificadas em formação técnico-profissional prestem informações
e atendam às exigências para a concessão de seguro-desemprego, abono salarial, bolsa de

387 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO TRABALHO
qualificação profissional ou outros benefícios para manutenção de empregos ou qualificação, nos
termos e prazos fixados pelo MTP, tal como estabelecido pelo art. 24 da Lei nº 7.998/1990.

Por fim, a lei incluiu na CLT o chamado “Domicílio Eletrônico Trabalhista”, que também será
regulamentado pelo MTP, para dar ciência ao empregador sobre atos administrativos, ações fiscais,
intimações e avisos em geral; e que ainda receba documentação eletrônica exigida em ações fiscais
ou apresente defesas e recursos em processos administrativos.

De acordo com a lei, as comunicações eletrônicas por meio desse sistema, quando consideradas
pessoais para todos os efeitos legais, dispensarão a publicação no Diário Oficial e o envio por via
postal. Ainda, a ciência, com utilização de certificação digital ou de código de acesso, “possuirá os
requisitos de validade”, nos termos do que disciplina o art. 628-A da CLT, in verbis:

Art. 628-A. Fica instituído o Domicílio Eletrônico Trabalhista, regulamentado


pelo Ministério do Trabalho e Previdência, destinado a:

I – cientificar o empregador de quaisquer atos administrativos, ações fiscais,


intimações e avisos em geral; e

II – receber, por parte do empregador, documentação eletrônica exigida no


curso das ações fiscais ou apresentação de defesa e recurso no âmbito de
processos administrativos.

§ 1º As comunicações eletrônicas realizadas pelo Domicílio Eletrônico


Trabalhista dispensam a sua publicação no Diário Oficial da União e o envio
por via postal e são consideradas pessoais para todos os efeitos legais.

§ 2º A ciência por meio do sistema de comunicação eletrônica, com utilização


de certificação digital ou de código de acesso, possuirá os requisitos de
validade.

1.3. Questão inédita comentada

Acerca da fiscalização, autuação e imposição de multas, analise as assertivas e marque a opção


incorreta.

A) As comunicações eletrônicas realizadas pelo Domicílio Eletrônico Trabalhista dependem de sua


publicação no Diário Oficial da União, mas não do envio por via postal e ambas são consideradas
pessoais para todos os efeitos legais.

B) A ciência por meio do sistema de comunicação eletrônica, com utilização de certificação digital
ou de código de acesso, possuirá os requisitos de validade.

388 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO TRABALHO
C) As comunicações eletrônicas realizadas pelo Domicílio Eletrônico Trabalhista dispensam a sua
publicação no Diário Oficial da União e o envio por via postal, e são consideradas pessoais para
todos os efeitos legais.

D) Fica instituído o Domicílio Eletrônico Trabalhista, regulamentado pelo MTP, destinado a cientificar
o empregador de quaisquer atos administrativos, ações fiscais, intimações e avisos em geral.

E) Fica instituído o Domicílio Eletrônico Trabalhista, regulamentado pelo MTP, destinado a


receber, por parte do empregador, documentação eletrônica exigida no curso das ações fiscais ou
apresentação de defesa e recurso no âmbito de processos administrativos.

Alternativa correta: letra A. A alternativa está correta, pois o enunciado está incorreto, nos
termos do que dispõe a literalidade do § 1º do art. 628-A da CLT menciona que as comunicações
eletrônicas realizadas pelo Domicílio Eletrônico Trabalhistas dispensam sua publicação no Diário
Oficial da União, bem como o envio postal, e são consideradas pessoais para todos os efeitos legais.
Nesse sentido é o que dispõe: “As comunicações eletrônicas realizadas pelo Domicílio Eletrônico
Trabalhista dispensam a sua publicação no Diário Oficial da União e o envio por via postal e são
consideradas pessoais para todos os efeitos legais”.

Demais alternativas:

Alternativa B: Incorreta. O enunciado está correto, nos termos do que dispõe a literalidade
do § 2º do art. 628-A da CLT, que assim dispõe: “A ciência por meio do sistema de comunicação
eletrônica, com utilização de certificação digital ou de código de acesso, possuirá os requisitos de
validade”.

Alternativa C: Incorreta. O enunciado está correto, nos termos do que dispõe a literalidade
do § 1º do art. 628-A da CLT: “As comunicações eletrônicas realizadas pelo Domicílio Eletrônico
Trabalhista dispensam a sua publicação no Diário Oficial da União e o envio por via postal e são
consideradas pessoais para todos os efeitos legais”.

389 Caderno de novidades legislativas


DIREITO DO TRABALHO
Alternativa D: Incorreta. O enunciado está correto, conforme disposto no inciso I do art. 628-A
da CLT:

Art. 628-A. Fica instituído o Domicílio Eletrônico Trabalhista, regulamentado


pelo Ministério do Trabalho e Previdência, destinado a:

I – cientificar o empregador de quaisquer atos administrativos, ações fiscais,


intimações e avisos em geral.

Alternativa E: Incorreta. O enunciado está correto, conforme disposto no inciso II do art. 628-A
da CLT:

Art. 628-A. Fica instituído o Domicílio Eletrônico Trabalhista, regulamentado


pelo Ministério do Trabalho e Previdência, destinado a: (...)

II – receber, por parte do empregador, documentação eletrônica exigida no


curso das ações fiscais ou apresentação de defesa e recurso no âmbito de
processos administrativos.

390 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
1. Lei nº 14.275/2021 – Instituiu o Fomento Emergencial de Inclusão
Produtiva Rural e o Programa de Atendimento Emergencial à
Agricultura Familiar (PAE-AF)
1.1. Ficha normativa
LEI Nº 14.275/2021
Ementa: Dispõe sobre medidas emergenciais de amparo à agricultura familiar, para mitigar
os impactos socioeconômicos da Covid-19; altera as Leis nºs 13.340, de 28 de
setembro de 2016, e 13.606, de 9 de janeiro de 2018; e dá outras providências (Lei
Assis Carvalho II).
Data de publicação: 24.12.2021
Início de vigência: 24.12.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/
Lei/L14275.htm>
Destaques:
• A nova lei “dispõe sobre medidas emergenciais de amparo à agricultura familiar, para
mitigar os impactos socioeconômicos da Covid-19; altera as Leis nºs 13.340, de 28 de
setembro de 2016, e 13.606, de 9 de janeiro de 2018; e dá outras providências (Lei Assis
Carvalho II)”.

• Tem como objetivo mitigar os impactos socioeconômicos da emergência de saúde


pública de importância internacional decorrente da Covid-19, a serem adotadas até 31 de
dezembro de 2022.

• Estabeleceu os beneficiários da lei.

• Instituiu o Fomento Emergencial de Inclusão Produtiva Rural.

• Estabeleceu o valor do benefício.

• Instituiu o Programa de Atendimento Emergencial à Agricultura Familiar (PAE-AF).

• Permitiu a renegociação, em todo o território nacional de dívidas de operações de crédito


rural de custeio e investimento lastreadas com recursos controlados do crédito rural.

1.2. Comentário

Em 24.12.2021, foi publicada no Diário Oficial da União a Lei nº 14.275/2021, que “dispõe sobre
medidas emergenciais de amparo à agricultura familiar, para mitigar os impactos socioeconômicos
da Covid-19”. A Lei ainda alterou as Leis nºs 13.340, de 28 de setembro de 2016, e 13.606, de 9 de
janeiro de 2018; e dá outras providências (Lei Assis Carvalho II).

391 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Vale destacar que a nova lei tem como objetivo mitigar os impactos socioeconômicos da
emergência de saúde pública de importância internacional decorrente da Covid-19, a serem
adotadas até 31 de dezembro de 2022, nos termos do que dispõe o seu art. 1º.

A lei ainda estabeleceu que “são beneficiários desta Lei os agricultores familiares ou
empreendedores familiares rurais e demais beneficiários previstos na  Lei nº 11.326, de 24 de
julho de 2006” (parágrafo único, art. 1º – grifos nossos).

De maneira detalhada a lei instituiu o Fomento Emergencial de Inclusão Produtiva Rural,


destinado a apoiar a atividade produtiva de agricultores familiares até 31 de dezembro de 2022 (art.
2º). E, assim também disciplinou, in verbis:

§ 1º São beneficiários do fomento de que trata o  caput  deste artigo os


agricultores familiares que se encontram em situação de pobreza e de
extrema pobreza, excluídos os benefícios previdenciários rurais.

§ 2º O governo federal transferirá recursos financeiros não reembolsáveis aos


agricultores familiares que aderirem ao fomento de que trata o caput deste
artigo e que se comprometerem a implantar todas as etapas previstas em
projeto simplificado de estruturação da unidade produtiva familiar a ser
elaborado por serviço de assistência técnica e extensão rural.

§ 3º O projeto referido no § 2º deste artigo poderá contemplar a


implementação de fossas sépticas e cisternas ou de outras tecnologias
sociais de acesso à água para o consumo humano e a produção de alimentos
de que trata o art. 15 da Lei nº 12.873, de 24 de outubro de 2013.

§ 4º A Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater)


remunerará, com recursos a serem repassados pela União, as entidades de
assistência técnica e extensão rural, no valor de R$ 100,00 (cem reais), pelos
serviços previstos neste artigo. (Grifos nossos.)

Nesse sentido, a lei regulamentou que:

Art. 3º Fica a União autorizada a transferir diretamente ao beneficiário do


fomento de que trata o art. 2º desta Lei recursos financeiros no valor de R$
2.500,00 (dois mil e quinhentos reais) por unidade familiar, na forma de
regulamento.

§ 1º A transferência de que trata o caput deste artigo ocorrerá em parcela


única.

§ 2º Quando destinada à mulher agricultora familiar, a transferência de que

392 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
trata o caput deste artigo será de R$ 3.000,00 (três mil reais) por unidade
familiar.

§ 3º Para os projetos de que trata o § 3º do art. 2º desta Lei, a transferência de


recursos financeiros poderá ser de até R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos
reais) por unidade familiar. (Grifos nossos.)

Vale destacar que o Programa de Atendimento Emergencial à Agricultura Familiar (PAE-


AF) observará as seguintes finalidades, nos termos do que dispõem o art. 7º e seus incisos, in verbis:

I – apoiar a geração de renda de agricultores familiares e suas organizações;

II – promover o abastecimento emergencial de pessoas em situação de


insegurança alimentar e nutricional, por meio de produtos adquiridos da
agricultura familiar.

Quanto à renegociação de dívidas de operações de crédito rural, o art. 12 da lei acrescentou o


art. 36-A à Lei nº 13.606/2018, que assim dispõe:

Art. 36-A. Fica permitida a renegociação, em todo o território nacional,


nas condições de que trata o art. 36 desta Lei, de dívidas de operações de
crédito rural de custeio e investimento lastreadas com recursos controlados
do crédito rural, inclusive aquelas prorrogadas por autorização do Conselho
Monetário Nacional, contratadas até 31 de dezembro de 2020 por
agricultores familiares que atendem aos requisitos da  Lei nº 11.326, de 24
de julho de 2006, e por suas cooperativas de produção agropecuária, e por
pequenos produtores de leite, observadas as seguintes disposições:

I – o reembolso deverá ser efetuado em prestações iguais e sucessivas,


fixado o vencimento da primeira parcela para 2023 e o vencimento da última
parcela para 2033, mantida a periodicidade da operação renegociada, sem
a necessidade de estudo de capacidade de pagamento;

II – o prazo de adesão à renegociação a que se refere o  caput  deste


artigo encerrar-se-á em 30 de setembro de 2022 e o de formalização da
renegociação, em 30 de dezembro de 2022.

1.3. Questão inédita comentada

Acerca da Lei nº 14.275/2021, que trata sobre medidas emergenciais de amparo à agricultura
familiar, para mitigar os impactos socioeconômicos da Covid-19, analise as assertivas e marque a
opção correta.

393 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
A) São beneficiários os agricultores familiares ou empreendedores familiares rurais e demais
beneficiários previstos em lei.

B) A presente lei dispõe sobre medidas emergenciais de amparo à agricultura familiar, com o
objetivo de mitigar os impactos socioeconômicos da emergência de saúde pública de importância
internacional decorrente da Covid-19, a serem adotadas até 31 de dezembro de 2023.

C) São considerados beneficiários os agricultores familiares que se encontram em situação de


pobreza e de extrema pobreza, incluindo os benefícios previdenciários rurais.

D) Quando destinada à mulher agricultora familiar, o valor do benefício será de R$ 2.000,00 (dois
mil reais) por unidade familiar.

E) A transferência do valor do benefício ocorrerá em até duas parcelas.

Alternativa correta: letra A. A alternativa “a” está correta, conforme disposto no parágrafo
único do art. 1º da Lei nº 14.275/2021:

Parágrafo único. São beneficiários desta Lei os agricultores familiares ou


empreendedores familiares rurais e demais beneficiários previstos na Lei nº
11.326, de 24 de julho de 2006.

Demais alternativas:

Alternativa B: Incorreta. A alternativa “b” está errada, pois o enunciado contraria o disposto no
art. 1º da Lei nº 14.275/2021, que prevê como duração do benefício até 31 de dezembro de 2022 e não
2023, conforme mencionado na assertiva. Nesse sentido:

Art. 1º Esta Lei dispõe sobre medidas emergenciais de amparo à agricultura


familiar, com o objetivo de mitigar os impactos socioeconômicos da
emergência de saúde pública de importância internacional decorrente da
Covid-19, a serem adotadas até 31 de dezembro de 2022.

Alternativa C: Incorreta. A alternativa “c” está errada, pois contraria o disposto no § 1º do art. 2º
da Lei nº 14.275/2021, que prevê que serão beneficiários os agricultores familiares que se encontram
em situação de pobreza e de extrema pobreza, sendo excluídos os benefícios rurais. Nesse sentido
assim dispõe:

394 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
§ 1º São beneficiários do fomento de que trata o caput deste artigo os
agricultores familiares que se encontram em situação de pobreza e de
extrema pobreza, excluídos os benefícios previdenciários rurais.

Alternativa D: Incorreta. A alternativa “d” está errada, pois o enunciado contraria o disposto no
§ 2º do art. 3º da Lei nº 14.275/2021, que menciona ser o valor do benefício de R$ 3.000,00 (três mil
reais) por unidade familiar quando for mulher a agricultora familiar. Nesse sentido é o que dispõe:

Art. 3º Fica a União autorizada a transferir diretamente ao beneficiário do


fomento de que trata o art. 2º desta Lei recursos financeiros no valor de R$
2.500,00 (dois mil e quinhentos reais) por unidade familiar, na forma de
regulamento. (...)

§ 2º Quando destinada à mulher agricultora familiar, a transferência de que


trata o caput deste artigo será de R$ 3.000,00 (três mil reais) por unidade
familiar.

Alternativa E: Incorreta. A alternativa “e” está errada, pois o enunciado contraria o disposto
no § 1º do art. 3º da Lei nº 14.275/2021, que menciona que o valor do benefício será transferido em
parcela única e não parcelada como descrito na assertiva. Nesse sentido:

Art. 3º Fica a União autorizada a transferir diretamente ao beneficiário do


fomento de que trata o art. 2º desta Lei recursos financeiros no valor de R$
2.500,00 (dois mil e quinhentos reais) por unidade familiar, na forma de
regulamento.

§ 1º A transferência de que trata o caput deste artigo ocorrerá em parcela


única.

2. Lei nº 14.284/2021

2.1. Ficha normativa


LEI Nº 14.284/2021
Ementa: Institui o Programa Auxílio Brasil e o Programa Alimenta Brasil; define metas para
taxas de pobreza; altera a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993; revoga a Lei nº
10.836, de 9 de janeiro de 2004, e dispositivos das Leis nºs 10.696, de 2 de julho
de 2003, 12.512, de 14 de outubro de 2011, e 12.722, de 3 de outubro de 2012; e dá
outras providências.

395 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Data de publicação: 30.12.2021
Início de vigência: 30.12.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/
Lei/L14284.htm>
Destaques:
• A nova lei instituiu “o Programa Auxílio Brasil e o Programa Alimenta Brasil, em substituição
ao Programa Bolsa Família, de que trata a  Lei nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004, e ao
Programa de Aquisição de Alimentos, de que trata o art. 19 da Lei nº 10.696, de 2 de julho
de 2003, respectivamente, e define metas para taxas de pobreza no Brasil”.

• Instituiu o Programa Auxílio Brasil, no âmbito do Ministério da Cidadania.

• Estabeleceu objetivos e diretrizes do Programa Auxílio Brasil.

• Para fins do disposto na lei, conceituou: família; renda familiar mensal; domicílio e renda
familiar per capita mensal.

• Determinou os benefícios financeiros do Programa Auxílio Brasil.

• Disciplinou o Auxílio Criança Cidadã.

• Estabeleceu o Auxílio Inclusão Produtiva Rural.

• Instituiu o Programa Alimenta Brasil.

2.2. Comentário

Em 30 de dezembro de 2021, foi publicada no Diário Oficial da União a Lei nº 14.284/2021,


que instituiu o Programa Auxílio Brasil e o Programa Alimenta Brasil, em substituição ao Programa
Bolsa Família e ao Programa de Aquisição de Alimentos, bem como definiu metas para taxas de
pobreza no Brasil (art. 1º).

Vale destacar que a lei em estudo alterou a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993; revogou
a Lei nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004, e dispositivos das Leis nºs 10.696, de 2 de julho de 2003,
12.512, de 14 de outubro de 2011, e 12.722, de 3 de outubro de 2012.

O Programa Auxílio Brasil tem por objetivo “promover a cidadania com garantia de renda e
apoiar, por meio dos benefícios e serviços ofertados pelo Suas, a articulação de políticas direcionadas
aos beneficiários, com vistas à superação das vulnerabilidades sociais das famílias” (inciso I do § 1º do
art. 2º – grifos nossos).

396 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
A lei também elencou no § 1º do art. 2º os seguintes objetivos:

(...) II – reduzir as situações de pobreza e de extrema pobreza das famílias


beneficiárias;

III – promover, prioritariamente, o desenvolvimento das crianças e dos


adolescentes, por meio de apoio financeiro a gestantes, a nutrizes, a crianças
e a adolescentes em situação de pobreza ou de extrema pobreza;

IV – promover o desenvolvimento das crianças na primeira infância, com


foco na saúde e nos estímulos às habilidades físicas, cognitivas, linguísticas
e socioafetivas, de acordo com o disposto na Lei nº 13.257, de 8 de março de
2016;

V – ampliar a oferta do atendimento das crianças em creches;

VI – estimular crianças, adolescentes e jovens a terem desempenho científico


e tecnológico de excelência; e

VII – estimular a emancipação das famílias em situação de pobreza e de


extrema pobreza, principalmente por meio:

a) da inserção dos adolescentes maiores de 16 (dezesseis) anos, dos jovens


e dos adultos no mercado de trabalho;

b) da integração das políticas socioassistenciais com as políticas de


promoção à inclusão produtiva; e

c) do incentivo ao empreendedorismo, ao microcrédito e à inserção no


mercado de trabalho formal.

Nesse sentido, o art. 2º também estabeleceu que:

Fica instituído o Programa Auxílio Brasil, no âmbito do Ministério da


Cidadania, executado por meio da integração e da articulação de políticas,
de programas e de ações direcionadas:

I – ao fortalecimento das ações do Sistema Único de Assistência Social


(Suas);

II – à transferência direta e indireta de renda;

III – ao desenvolvimento da primeira infância;

IV – ao incentivo ao esforço individual; e

V – à inclusão produtiva rural e urbana, com vistas à emancipação cidadã.


(Grifos nossos.)

397 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
O § 2º do art. 2º estabeleceu que são diretrizes do Programa Auxílio Brasil:

I – a integração entre os programas, os serviços e os benefícios de assistência


social para o atendimento das famílias beneficiárias;

II – a articulação entre as ofertas do Suas com as políticas de saúde, de


educação, de emprego e de renda;

III – a priorização das crianças, sobretudo na primeira infância, e dos


adolescentes como público das políticas de proteção social e de
desenvolvimento humano;

IV – a implementação e a gestão compartilhadas entre os entes federativos;

V – a atuação transparente, democrática e integrada dos órgãos da


administração pública federal com a administração pública estadual,
distrital e municipal;

VI – a utilização da tecnologia da informação como meio prioritário de


identificação, de inclusão e de emancipação cidadã dos beneficiários;

VII – a promoção de oportunidades de capacitação e de empregabilidade


dos beneficiários, de forma a proporcionar autonomia;

VIII – a utilização de múltiplas fontes de financiamento, incluídas as parcerias


com o setor privado, entes federativos, outros poderes públicos, organismos
multilaterais, organizações da sociedade civil e outras instituições nacionais
e internacionais; e

IX – a educação e a inclusão financeiras das famílias beneficiárias.

A lei também trouxe os seguintes conceitos, in verbis:

Art. 3º Para fins do disposto nesta Lei, considera-se:

I – família: núcleo composto por uma ou mais pessoas que formem um grupo
doméstico, com residência no mesmo domicílio e que contribuam para o
rendimento ou que dele dependam para atendimento de suas despesas;

II – renda familiar mensal: soma dos rendimentos brutos auferidos por todos
os membros da família, com a exclusão daqueles definidos em regulamento;

III – domicílio: local que serve de moradia à família; e

IV – renda familiar per capita mensal: razão entre a renda familiar mensal e


o total de indivíduos da família.

§ 1º Para os fins do disposto no inciso I do caput deste artigo, eventualmente,


a família pode ser ampliada nos termos do regulamento.

398 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
§ 2º Para os fins do disposto no inciso II do  caput  deste artigo, não
serão computados como renda familiar mensal, sem prejuízo de outros
rendimentos previstos em regulamento:

I – benefícios e auxílios assistenciais de natureza eventual e temporária;

II – valores oriundos de programas assistenciais de transferência de renda,


com exceção do Benefício de Prestação Continuada (BPC), de que trata
o art. 20 da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993; e

III – rendas de natureza eventual ou sazonal, a serem regulamentadas em


ato do Ministério da Cidadania. (Grifos nossos).

A lei em estudo estabeleceu, em seu art. 4º, que 

constituem benefícios financeiros do Programa Auxílio Brasil, destinados


a ações de transferência de renda com condicionalidades, nos termos do
regulamento e observadas as metas de que trata o art. 42”:

I – Benefício Primeira Infância: no valor de R$ 130,00 (cento e trinta reais)


mensais, destinado às famílias em situação de pobreza ou de extrema
pobreza que possuam em sua composição crianças com idade entre 0
(zero) e 36 (trinta e seis) meses incompletos, pago por integrante que se
enquadre em tal situação;

II – Benefício Composição Familiar: no valor de R$ 65,00 (sessenta e cinco


reais) mensais, destinado às famílias em situação de pobreza ou de extrema
pobreza que possuam em sua composição gestantes, nutrizes ou pessoas
com idade entre 3 (três) e 21 (vinte e um) anos incompletos, pago por
integrante que se enquadre em tais situações, observado o disposto no § 2º
deste artigo;

III – Benefício de Superação da Extrema Pobreza: destinado às famílias em


situação de extrema pobreza, cuja renda familiar per capita mensal, mesmo
somada aos benefícios financeiros previstos nos incisos I e II do caput deste
artigo eventualmente recebidos, seja igual ou inferior ao valor da linha de
extrema pobreza previsto no inciso II do § 1º, observado o disposto no § 6º
deste artigo;

IV – Benefício Compensatório de Transição: concedido às famílias


beneficiárias do Programa Bolsa Família que tiverem redução no valor
financeiro total dos benefícios recebidos, em decorrência do enquadramento
na nova estrutura de benefícios financeiros previstos nesta Lei. (Grifos
nossos.)

399 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Por sua vez, o

Auxílio Criança Cidadã será concedido para acesso da criança, em tempo


integral ou parcial, a creches, regulamentadas ou autorizadas, que ofertem
educação infantil, nos termos do regulamento, e será pago diretamente pelo
ente federado subnacional responsável pelo convênio para a instituição
educacional conveniada em que a criança estiver matriculada (art. 8º –
grifos nossos).

Destaca-se que a lei disciplinou quanto ao Auxílio Inclusão Produtiva Rural e estabeleceu
que “será concedido para incentivo à produção, à doação e ao consumo de alimentos saudáveis
pelos agricultores familiares que recebam os benefícios previstos no caput do art. 4º desta Lei, para
consumo de famílias”, nos termos do que disciplina o seu art. 16.

Já o Programa Alimenta Brasil tem as seguintes finalidades, conforme definido nos incisos do
seu art. 30, in verbis:

I – incentivar a agricultura familiar e promover a inclusão econômica e social,


com fomento à produção sustentável, ao processamento de alimentos, à
industrialização e à geração de renda;

II – incentivar o consumo e a valorização dos alimentos produzidos pela


agricultura familiar;

III – promover o acesso à alimentação, em quantidade, qualidade e


regularidade necessárias, pelas pessoas em situação de insegurança
alimentar e nutricional, sob a perspectiva do direito humano à alimentação
adequada e saudável;

IV – promover o abastecimento alimentar, que compreende as compras


governamentais de alimentos;

V – apoiar a formação de estoque pelas cooperativas e demais organizações


da agricultura familiar; e

VI – fortalecer circuitos locais e regionais e redes de comercialização,


inclusive os do coco babaçu.

A lei em estudo entrou em vigor na data de sua publicação, ou seja, 30.12.2021, e caberá ao
Poder Executivo federal adequar a gestão e os atos normativos relativos ao Programa Auxílio Brasil
às disposições desta lei em 90 (noventa) dias contados da data de sua publicação. (art. 47, caput e
parágrafo único).

400 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
2.3. Questão inédita comentada

Quanto aos programas Auxílio Brasil e Alimenta Brasil (Lei nº 14.284/2021), analise as assertivas
e marque a opção incorreta.

A) O termo família citado na referida lei em nenhuma hipótese poderá ser ampliado, haja vista ser
taxativo.

B) Considera-se família, para a citada lei, o núcleo composto por uma ou mais pessoas que formem
um grupo doméstico, com residência no mesmo domicílio e que contribuam para o rendimento ou
que dele dependam para atendimento de suas despesas.

C) Considera-se renda familiar mensal a soma dos rendimentos brutos auferidos por todos os
membros da família, com a exclusão daqueles definidos em regulamento.

D) Considera-se domicílio, o local que serve de moradia à família.

E) Considera-se renda familiar per capita mensal, a razão entre a renda familiar mensal e o total de
indivíduos da família.

Alternativa correta: letra A. A alternativa “a” está correta, pois o enunciado está incorreto. Nos
termos do § 1º do art. 3º da Lei nº 14.284/2021, o termo família poderá ser ampliado, nos termos do
regulamento. Nesse sentido:

Art. 3º Para fins do disposto nesta Lei, considera-se:

I – família: núcleo composto por uma ou mais pessoas que formem um grupo
doméstico, com residência no mesmo domicílio e que contribuam para o
rendimento ou que dele dependam para atendimento de suas despesas.

§ 1º Para os fins do disposto no inciso I do caput deste artigo, eventualmente,


a família pode ser ampliada nos termos do regulamento.

Demais alternativas:

Alternativa B: Incorreta, pois o enunciado está correto, nos termos do que dispõe a literalidade
do inciso I do art. 3º da Lei nº 14.284/2021, nesse sentido:

401 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Art. 3º (...)

I – família: núcleo composto por uma ou mais pessoas que formem um grupo
doméstico, com residência no mesmo domicílio e que contribuam para o
rendimento ou que dele dependam para atendimento de suas despesas.

Alternativa C: Incorreta, pois o enunciado está correto, nos termos do que dispõe a literalidade
do inciso II do art. 3º da Lei nº 14.284/2021, nesse sentido:

Art. 3º (...)

II – renda familiar mensal: soma dos rendimentos brutos auferidos por todos
os membros da família, com a exclusão daqueles definidos em regulamento.

Alternativa D: Incorreta, pois o enunciado está correto, nos termos do que dispõe a literalidade
do inciso III do art. 3º da Lei nº 14.284/2021, nesse sentido:

Art. 3º (...)

III – domicílio: local que serve de moradia à família.

Alternativa E: Incorreta, pois o enunciado está correto, nos termos do que dispõe a literalidade
do inciso IV do art. 3º da Lei nº 14.284/2021, nesse sentido:

Art. 3º (...)

IV – renda familiar per capita mensal: razão entre a renda familiar mensal e o
total de indivíduos da família.

3. Medida Provisória (MP) nº 1.076/2021 – Institui o Benefício


Extraordinário destinado às famílias beneficiárias do Programa Auxílio
Brasil

3.1. Ficha normativa


MP Nº 1.076/2021
Ementa: Institui o Benefício Extraordinário destinado às famílias beneficiárias do Programa
Auxílio Brasil, de que trata a Medida Provisória nº 1.061, de 9 de agosto de 2021.
Data de publicação: 07.12.2021
Início de vigência: 07.12.2021

402 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/
Mpv/mpv1076.htm>
Destaques:
• A MP “institui o Benefício Extraordinário destinado às famílias beneficiárias do Programa
Auxílio Brasil, de que trata a Medida Provisória nº 1.061, de 9 de agosto de 2021.”

• Institui o Benefício Extraordinário, pago às famílias do Programa Auxílio Brasil, no limite de


um por família, juntamente com a parcela de dezembro de 2021.

• O Benefício Extraordinário destinado às famílias beneficiárias do Programa Auxílio Brasil


equivalerá ao valor necessário para alcançar a quantia de R$ 400,00 (quatrocentos reais).

• As despesas correrão à conta das dotações orçamentárias consignadas ao referido


Programa.

• Compete ao Ministério da Cidadania a implementação do Benefício Extraordinário


destinado às famílias beneficiárias do Programa Auxílio Brasil.

3.2. Comentário

Em 07.12.2021, foi publicada no Diário Oficial da União a MP nº 1.076/2021, que instituiu “o


Benefício Extraordinário destinado às famílias beneficiárias do Programa Auxílio Brasil, de que trata
a Medida Provisória nº 1.061, de 9 de agosto de 2021”.

De acordo com a exposição de motivos a medida provisória em estudo visa “apoiar os brasileiros
de mais baixa renda na recuperação e fortalecimento de sua autonomia econômica”.

Razão pela qual o governo criou o Benefício Extraordinário, pago às famílias do Programa
Auxílio Brasil, no limite de um por família, juntamente com a parcela de dezembro de 2021 (arts. 1º e
2º, IV).

Vale destacar que o parágrafo único do art. 1º estabeleceu que

ato do Poder Executivo federal poderá prorrogar a concessão do Benefício


de que trata o  caput  para os meses de janeiro a dezembro de 2022,
consideradas as famílias beneficiárias no mês de referência do pagamento
do referido Benefício e observada a disponibilidade orçamentária e
financeira (grifos nossos).

403 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Por sua vez, o art. 2º disciplinou da seguinte forma:

Art. 2º O Benefício Extraordinário destinado às famílias beneficiárias do


Programa Auxílio Brasil:

I – será calculado a partir da soma dos benefícios financeiros de que tratam


os incisos I a III do caput e o inciso VI do § 1º do art. 3º da Medida Provisória
nº 1.061, de 9 de agosto de 2021, no mês de referência;

II – equivalerá ao valor necessário para alcançar a quantia de R$ 400,00


(quatrocentos reais);

III – não terá caráter continuado;

IV – será pago juntamente com a parcela ordinária de dezembro de 2021 do


Programa Auxílio Brasil no limite de um benefício por família; e

V – não integrará o conjunto de benefícios instituídos pela Medida Provisória


nº 1.061, de 2021. (Grifos nossos.)

As despesas correrão à conta das dotações orçamentárias consignadas ao referido programa,


nos termos do que dispõe o art. 3º da lei.

O art. 4º estabeleceu quanto à competência, no seguinte sentido:

Art. 4º Compete ao Ministério da Cidadania a implementação do Benefício


Extraordinário destinado às famílias beneficiárias do Programa Auxílio
Brasil.

§ 1º O pagamento do Benefício de que trata o caput será realizado com a


estrutura de operação e de pagamento do Programa Auxílio Brasil.

§ 2º A família beneficiária do Programa Auxílio Brasil receberá o Benefício de


que trata o caput na data prevista no calendário de pagamentos do referido
Programa pelos mesmos meios de pagamento.

No entanto, é importante observar que a MP nº 1.076/2021, ainda será analisada pela Câmara
dos Deputados e pelo Senado.

3.3. Questão inédita comentada

Acerca do Benefício Extraordinário destinado às famílias do Programa Auxílio Brasil (MP nº


1.076/2021), analise as assertivas e marque a opção incorreta.

404 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
A) Compete ao Ministério da Cidadania a implementação do Benefício Extraordinário destinado às
famílias beneficiárias do Programa Auxílio Brasil.

B) Por Ato do Poder Executivo federal poderá ser prorrogada a concessão do Benefício Extraordinário
destinado às famílias beneficiárias do Programa Auxílio Brasil para os meses de janeiro a dezembro
de 2022, consideradas as famílias beneficiárias no mês de referência do pagamento do citado
Benefício, e observada a disponibilidade orçamentária e financeira.

C) O Benefício Extraordinário destinado às famílias beneficiárias do Programa Auxílio Brasil


equivalerá ao valor necessário para alcançar a quantia de R$ 400,00 (quatrocentos reais).

D) O pagamento do Benefício Extraordinário será realizado com a estrutura de operação e de


pagamento do Programa Auxílio Brasil.

E) O Benefício Extraordinário destinado às famílias beneficiárias do Programa Auxílio Brasil possui


caráter continuado.

Alternativa correta: letra E. A alternativa “e” está correta, pois o enunciado está incorreto. Nos
termos do inciso III do art. 2º da MP nº 1.076/2021, o benefício extraordinário destinados às famílias
do Programa Auxílio Brasil, não possui caráter continuado. Nesse sentido:

Art. 2º O Benefício Extraordinário destinado às famílias beneficiárias do


Programa Auxílio Brasil: (...)

III – não terá caráter continuado.

Demais alternativas:

Alternativa A: Incorreta, pois o enunciado está correto, nos termos do que dispõe a literalidade
do art. 4º da MP nº 1.076/2021. Nesse sentido:

Art. 4º Compete ao Ministério da Cidadania a implementação do Benefício


Extraordinário destinado às famílias beneficiárias do Programa Auxílio
Brasil.

405 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Alternativa B: Incorreta, pois o enunciado está correto, nos termos do que dispõe o parágrafo
único do art. 1º da MP nº 1.076/2021. Nesse sentido:

Parágrafo único. Ato do Poder Executivo federal poderá prorrogar a


concessão do Benefício de que trata o caput para os meses de janeiro
a dezembro de 2022, consideradas as famílias beneficiárias no mês de
referência do pagamento do referido Benefício e observada a disponibilidade
orçamentária e financeira.

Alternativa C: Incorreta, pois o enunciado está correto, nos termos do que dispõe a literalidade
do inciso II do art. 2º da MP nº 1.076/2021. Nesse sentido:

Art. 2º O Benefício Extraordinário destinado às famílias beneficiárias do


Programa Auxílio Brasil: (...)

II – equivalerá ao valor necessário para alcançar a quantia de R$ 400,00


(quatrocentos reais).

Alternativa D: Incorreta, pois o enunciado está correto, nos termos do que dispõe a literalidade
do § 1º do art. 4º da MP nº 1.076/2021. Nesse sentido:

Art. 4º (...)

§ 1º O pagamento do Benefício de que trata o caput será realizado com a


estrutura de operação e de pagamento do Programa Auxílio Brasil.

4. MP nº 1.093/2021 – Altera a Lei nº 8.212/1991

4.1. Ficha normativa


MP Nº 1.093/2021
Ementa: Altera a Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, para dispor sobre a divulgação do
resultado financeiro do Regime Geral de Previdência Social (RGPS).

Data de publicação: 31.12.2021


Início de vigência: 31.12.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/
Mpv/mpv1093.htm>

406 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Destaques:
• A medida provisória “altera a Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, para dispor sobre a
divulgação do resultado financeiro do Regime Geral de Previdência Social”.

• Estabelece que o Ministério do Trabalho e Previdência (MTP) divulgará, mensalmente, o


resultado financeiro do RGPS.

• Considera, para fins de aferição do equilíbrio financeiro do regime, as renúncias


previdenciárias em adição às receitas realizadas; e para os demais fins, considera apenas as
receitas efetivamente arrecadadas e as despesas orçamentárias e financeiras efetivamente
liquidadas e pagas.

• Para apuração das renúncias previdenciárias serão consideradas as informações prestadas


pela Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil do Ministério da Economia.

• Revoga o inciso IV do caput e o § 2º do art. 9º da Lei nº 12.546, de 14 de dezembro de 2011.

4.2. Comentário

Em 31.12.2021, foi publicada no Diário Oficial da União a MP nº 1.093/2021, que alterou a Lei
nº 8.212, de 24 de julho de 1991, para dispor sobre a divulgação do resultado financeiro do RGPS.

A medida em estudo incluiu o § 1º e incisos I e II, bem como o § 2º ao art. 80 da Lei nº 8.212/1991,
que está no capítulo de que trata da modernização da Previdência Social, para assim dispor:

Art. 80. (...)

§ 1º  O Ministério do Trabalho e Previdência divulgará, mensalmente,


o resultado financeiro do Regime Geral de Previdência Social, no qual
considerará:

I – para fins de aferição do equilíbrio financeiro do regime, as renúncias


previdenciárias em adição às receitas realizadas; e

II – para os demais fins, apenas as receitas efetivamente arrecadadas e as


despesas orçamentárias e financeiras efetivamente liquidadas e pagas.
(Grifos nossos.)

Ainda, estabeleceu que, para fins de apuração das renúncias previdenciárias em adição às
receitas realizadas, “serão consideradas as informações prestadas pela Secretaria Especial da
Receita Federal do Brasil do Ministério da Economia” (§ 2º, art. 80 – grifos nossos).

407 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
A medida revogou a necessidade de compensação pela União ao Fundo do Regime Geral
de Previdência Social (FRGPS), pela desoneração da folha de pagamentos. Desta feita, seu art. 2º
revogou o inciso IV do caput e o § 2º do art. 9º da Lei nº 12.546, de 14 de dezembro de 2011.

No entanto, é importante observar que a MP nº 1.093/2021, ainda será analisada pela Câmara
dos Deputados e pelo Senado.

4.3. Questão inédita comentada

Quanto à modernização da Previdência Social, analise as assertivas e marque a opção correta.

A) O Ministério do Trabalho e Previdência divulgará, mensalmente, o resultado financeiro do RGPS.

B) Para fins de apuração das renúncias previdenciárias, serão consideradas exclusivamente as


informações prestadas pela Previdência Social.

C) O Ministério do Trabalho e Previdência divulgará, mensalmente, o resultado financeiro do


RGPS, no qual considerará para todos os fins as receitas efetivamente arrecadadas e as despesas
orçamentárias.

D) O MTP divulgará, semestralmente, o resultado financeiro do RGPS.

E) O MTP divulgará, semestralmente, o resultado financeiro do Regime Geral de Previdência Social,


no qual considerará apenas as despesas orçamentárias e financeiras efetivamente liquidadas e pagas.

Alternativa correta: letra A. Conforme disposto no § 1º do art. 80 da Lei nº 8.212/1991, que


assim menciona:

§ 1º O Ministério do Trabalho e Previdência divulgará, mensalmente, o


resultado financeiro do Regime Geral de Previdência Social, no qual
considerará:

I – para fins de aferição do equilíbrio financeiro do regime, as renúncias


previdenciárias em adição às receitas realizadas; e

II – para os demais fins, apenas as receitas efetivamente arrecadadas e as


despesas orçamentárias e financeiras efetivamente liquidadas e pagas.

408 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Demais alternativas:

Alternativa B: Incorreta. O enunciado contraria o disposto no § 2º do art. 80 da Lei nº 8.212/1991,


ao mencionar que as informações de apuração das renúncias previdenciárias tratada na própria lei
(I, § 1º do art. 80), serão consideradas as informações prestadas pela Secretaria Especial da Receita
Federal do Brasil. Nesse sentido: “Para fins de apuração das renúncias previdenciárias de que trata
o inciso I do § 1º, serão consideradas as informações prestadas pela Secretaria Especial da Receita
Federal do Brasil do Ministério da Economia”.

Alternativa C: Incorreta. Contraria o disposto nos incisos I e II do § 1º do art. 80 da Lei nº


8.212/1991, que assim menciona:

§ 1º O Ministério do Trabalho e Previdência divulgará, mensalmente, o


resultado financeiro do Regime Geral de Previdência Social, no qual
considerará:

I – para fins de aferição do equilíbrio financeiro do regime, as renúncias


previdenciárias em adição às receitas realizadas; e

II – para os demais fins (e não para todos os fins), apenas as receitas


efetivamente arrecadadas e as despesas orçamentárias e financeiras
efetivamente liquidadas e pagas.

Alternativa D: Incorreta. O enunciado contraria o disposto no § 1º do art. 80 da Lei nº 8.212/1991,


que assim menciona: “§ 1º O Ministério do Trabalho e Previdência divulgará, mensalmente, o resultado
financeiro do Regime Geral de Previdência Social”.

Como se observa, o resultado financeiro do RGPS será divulgado mensalmente, e não


semestralmente, como afirmado na assertiva.

Alternativa E: Incorreta. O enunciado contraria o disposto no § 1º, II do art. 80 da Lei nº 8.212/1991,


onde menciona que o resultado financeiro do RGPS será divulgado mensalmente pelo MTP, no qual
considerará, para fins de aferição do equilíbrio financeiro do regime, as renúncias previdenciárias
em adição às receitas realizadas e, para os demais fins, apenas as receitas efetivamente arrecadadas
e as despesas orçamentárias e financeiras efetivamente liquidadas e pagas, e não como consta da
afirmativa. Nesse sentido:

409 Caderno de novidades legislativas


DIREITO PREVIDENCIÁRIO
§ 1º O Ministério do Trabalho e Previdência divulgará, mensalmente, o
resultado financeiro do Regime Geral de Previdência Social, no qual
considerará:

I – para fins de aferição do equilíbrio financeiro do regime, as renúncias


previdenciárias em adição às receitas realizadas; e

II – para os demais fins, apenas as receitas efetivamente arrecadadas e as


despesas orçamentárias e financeiras efetivamente liquidadas e pagas.

410 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
1. Lei Complementar (LC) nº 188/2021 – Amplia o âmbito de aplicação
do regime tributário do Microempreendedor Individual

1.1. Ficha normativa

LC Nº 188/2021
Ementa: Altera a LC nº 123, de 14 de dezembro de 2006 (Estatuto Nacional da Microempresa
e da Empresa de Pequeno Porte), para modificar a composição e o funcionamento
do Comitê Gestor do Simples Nacional (CGSN) e ampliar o âmbito de aplicação de
seu regime tributário.
Data de publicação: 31.12.2021
Início de vigência: 31.12.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp188.htm>
Destaques:
• A lei define a composição do CGSN, vinculado ao Ministério da Economia.

• Caracteriza o Microeempreendedor Individual (MEI).

• Estabelece um patamar diferenciado para a caracterização como MEI do transportador


autônomo de carga.

1.2. Comentário

Em 31.12.2021, foi publicada a LC nº 188, com início imediato de vigência.

O novel texto legislativo promoveu alterações no Estatuto Nacional da Microempresa e da


Empresa de Pequeno Porte, LC nº 123, de 2006, alterando a composição do CGSN e permitindo a
ampliação do âmbito de aplicação do regime tributário especial conferido ao MEI.

Alterando o inciso I do art. 2º da LC nº 123, o novo diploma normativo definiu a composição do


CGSN, vinculado ao Ministério da Economia, estabelecendo que o mesmo será

composto de 4 (quatro) representantes da União, 2 (dois) dos Estados e


do Distrito Federal, 2 (dois) dos Municípios, 1 (um) do Serviço Brasileiro de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e 1 (um) das confederações
nacionais de representação do segmento de microempresas e empresas
de pequeno porte referidas no art. 11 da Lei Complementar nº 147, de 7 de
agosto de 2014, para tratar dos aspectos tributários.

411 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
Ademais, o legislador estabeleceu, no § 1º do art. 18-A, que

considera-se MEI quem tenha auferido receita bruta, no ano-calendário


anterior, de até R$ 81.000,00 (oitenta e um mil reais), que seja optante
pelo Simples Nacional e que não esteja impedido de optar pela sistemática
prevista neste artigo, e seja empresário individual que se enquadre na
definição do art. 966 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código
Civil), ou o empreendedor que exerça:

I – as atividades de que trata o § 4º-A deste artigo; (atividade de


comercialização e processamento de produtos de natureza extrativista)

II – as atividades de que trata o § 4º-B deste artigo estabelecidas pelo CGSN;


e

III – as atividades de industrialização, comercialização e prestação de


serviços no âmbito rural.

Por fim, a lei estabeleceu um patamar diferenciado para a caracterização como MEI do
transportador autônomo de carga.

Como regra, para que seja possível adotar o regime de tributação como MEI o faturamento anual
do ano anterior não pode superar 81 mil reais. Contudo, com a alteração legislativa o transportador
autônomo de cargas (caminhoneiro) inscrito como MEI passa a contar com um limite diferenciado
de receita bruta para a permanência no sistema de tributação como MEI.

Portanto, para o transportador autônomo de cargas inscrito como MEI o limite da receita
bruta do ano anterior passa a ser de R$ 251.600,00 (duzentos e cinquenta e um mil e seiscentos
reais), devendo observar ainda o limite de R$ 20.966,67 (vinte mil novecentos e sessenta e seis reais
e sessenta e sete centavos) multiplicados pelo número de meses compreendidos entre o início da
atividade e o final do respectivo ano-calendário, consideradas as frações de meses como um mês
inteiro, no caso de início de atividades de que trata o § 2º do art. 18-A.

1.3. Questão inédita comentada

Em relação ao MEI, considere:

I – Considera-se MEI quem tenha auferido receita bruta, no ano-calendário anterior, de até
oitenta e um mil reais, que seja optante pelo Simples Nacional e seja empresário individual que se
enquadre na definição do art. 966 do Código Civil.

412 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
II – Para o transportador autônomo de cargas inscrito como MEI, o limite de receita bruta para
que possa adotar a sistemática de tributação do MEI é de R$ 251.600,00.

III – Para o transportador autônomo de cargas inscrito como MEI que inicia suas atividades
o limite para se manter sob o regime de tributação do MEI é de R$ 20.966,67 multiplicados pelo
número de meses compreendidos entre o início da atividade e o final do respectivo ano-calendário,
consideradas as frações de meses como um mês inteiro.

IV – O CGSN é vinculado ao Ministério da Economia.

É correto o que se afirma em:

A) I, apenas.

B) I e II, apenas.

C) I, II e III, apenas.

D) I, III e IV, apenas.

E) Nenhuma das alternativas anteriores.

Alternativa correta: letra E. Nenhuma das alternativas anteriores é correta, visto que todas as
afirmativas são verdadeiras.

Item I – Correto. Corresponde ao previsto no § 1º do art. 18-A da LC nº 123, com redação dada
pela LC nº 188.

Art. 18-A. (...)

§ 1º Para os efeitos desta Lei Complementar, considera-se MEI quem tenha


auferido receita bruta, no ano-calendário anterior, de até R$ 81.000,00
(oitenta e um mil reais), que seja optante pelo Simples Nacional e que
não esteja impedido de optar pela sistemática prevista neste artigo, e seja
empresário individual que se enquadre na definição do art. 966 da Lei nº
10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), ou o empreendedor que
exerça: (...)

413 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EMPRESARIAL
Item II – Correto. Corresponde ao previsto no art. 18-F, I, da LC nº 123.

Art. 18-F. Para o transportador autônomo de cargas inscrito como MEI, nos
termos do art. 18-A desta Lei Complementar:  

I – o limite da receita bruta de que trata o § 1º e o inciso V do § 3º do art. 18-A


desta Lei Complementar será de R$ 251.600,00 (duzentos e cinquenta e
um mil e seiscentos reais); (...)

Item III – Correto. Corresponde ao previsto no art. 18-F, II, da LC nº 123.

Art. 18-F. (...)

II – o limite será de R$ 20.966,67 (vinte mil novecentos e sessenta e seis


reais e sessenta e sete centavos) multiplicados pelo número de meses
compreendidos entre o início da atividade e o final do respectivo ano-
calendário, consideradas as frações de meses como um mês inteiro,
no caso de início de atividades de que trata o § 2º do art. 18-A desta Lei
Complementar; (...)

Item IV – Correto. Corresponde ao previsto no art. 2º, I, da LC nº 123.

Art. 2º (...)

I – Comitê Gestor do Simples Nacional, vinculado ao Ministério da Economia,


composto de 4 (quatro) representantes da União, 2 (dois) dos Estados e
do Distrito Federal, 2 (dois) dos Municípios, 1 (um) do Serviço Brasileiro de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e 1 (um) das confederações
nacionais de representação do segmento de microempresas e empresas
de pequeno porte referidas no art. 11 da Lei Complementar nº 147, de 7 de
agosto de 2014, para tratar dos aspectos tributários; (...)

Demais alternativas:

Alternativas A, B, C e D. Incorretas. Todas as alternativas são verdadeiras.

414 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EDUCACIONAL
1. Lei nº 14.276/2021 – Regulamenta o Fundo de Manutenção
e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação (Fundeb)

1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.276/2021
Ementa: Altera a Lei nº 14.113, de 25 de dezembro de 2020, que regulamenta o Fundo
de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação (Fundeb).

Data de publicação: 28.12.2021


Início de vigência: 28.12.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/
lei/L14276.htm>
Destaques:
• A lei estabelece a dispensa de cumprimento do percentual mínimo de participação
dos estudantes para definição do percentual de participação para recebimento de
complementação nos casos de calamidade pública, desastres naturais ou excepcionalidades
de força maior em nível nacional que não permitam a realização normal de atividades
pedagógicas e de aulas presenciais nas escolas participantes do Sistema de Avaliação da
Educação Básica (Saeb)

• Estabelece o conceito de profissionais da educação básica para fins de recebimento de


70% dos recursos do Fundeb

• Fixa percentual de participação para os psicólogos e assistentes sociais que atuam na rede
pública de educação básica.

1.2. Comentário

Em 28.12.2021, foi publicada a Lei nº 14.276, com início imediato de vigência.

A Lei nº 14.276, de 2021, altera a regulamentação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento


da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).

415 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EDUCACIONAL
A lei delimita os profissionais da educação básica, que podem receber até 70% dos recursos
do Fundeb quando em efetivo exercício nas redes de ensino da educação básica, estabelecendo
que são os docentes, profissionais no exercício de funções de suporte pedagógico direto à docência,
de direção ou administração escolar, planejamento, inspeção, supervisão, orientação educacional,
coordenação e assessoramento pedagógico, e profissionais de funções de apoio técnico,
administrativo ou operacional, em efetivo exercício nas redes de ensino de educação básica.

Ademais, levando em consideração os impactos da pandemia nos resultados educacionais


para o exercício financeiro de 2023, os indicadores de melhoria de aprendizagem que orientam os
repasses adicionais serão definidos por regulamento.

A lei prevê, ainda, que em situação de calamidade pública, desastres naturais ou


excepcionalidades de força maior em nível nacional que não permitam a realização normal de
atividades pedagógicas e de aulas presenciais nas escolas participantes do Sistema de Avaliação
da Educação Básica (Saeb) durante a aplicação dessa avaliação, as escolas não serão obrigadas a
cumprir o mínimo de 80% de participação dos estudantes para poder receber a complementação.

Em relação à remuneração dos psicólogos e assistentes sociais que atuam na rede pública
de educação básica foi prevista a parcela de 30% do Fundeb, não vinculados aos salários dos
profissionais de educação.

1.3. Questão inédita comentada

Em relação à regulamentação do Fundeb, é correto afirmar, exceto:

A) Em situação de calamidade pública, desastres naturais ou excepcionalidades de força maior


em nível nacional que não permitam a realização normal de atividades pedagógicas e de aulas
presenciais nas escolas participantes do Saeb as escolas não serão obrigadas a cumprir o mínimo de
80% de participação dos estudantes para poderem receber a distribuição de complementação.

B) São considerados profissionais da educação básica os docentes, profissionais no exercício de


funções de suporte pedagógico direto à docência, de direção ou administração escolar, planejamento,
inspeção, supervisão, orientação educacional, coordenação e assessoramento pedagógico, e
profissionais de funções de apoio técnico, administrativo ou operacional, bem como todo aquele
que atue efetivamente nas redes de ensino de educação básica.

416 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EDUCACIONAL
C) A remuneração dos psicólogos e assistentes sociais que atuam na rede pública de educação
básica foi prevista a parcela de 30% do Fundeb.

D) Porção não inferior a 70% dos recursos anuais totais do Fundeb será destinada ao pagamento,
em cada rede de ensino, da remuneração dos profissionais da educação básica em efetivo exercício.

E) São considerados profissionais da educação básica os docentes, profissionais no exercício de


funções de suporte pedagógico direto à docência, de direção ou administração escolar, planejamento,
inspeção, supervisão, orientação educacional, coordenação e assessoramento pedagógico, e
profissionais de funções de apoio técnico, administrativo ou operacional, em efetivo exercício nas
redes de ensino de educação básica.

Alternativa correta: letra B. A afirmativa é falsa. Os profissionais da educação básica, para os


fins do Fundeb, são aqueles enumerados no art. 26, § 1º, II, da Lei nº 14.113.

Art. 26. (...)

§ 1º (...)

II –  profissionais da educação básica: docentes, profissionais no exercício


de funções de suporte pedagógico direto à docência, de direção ou
administração escolar, planejamento, inspeção, supervisão, orientação
educacional, coordenação e assessoramento pedagógico, e profissionais
de funções de apoio técnico, administrativo ou operacional, em efetivo
exercício nas redes de ensino de educação básica; (...)

Demais alternativas:

Alternativa A. Incorreta. A afirmativa é correta. Corresponde ao previsto no art. 14, § 4º, da Lei
nº 14.113.

Art. 14. (...)

§ 4º  Em situação de calamidade pública, desastres naturais ou


excepcionalidades de força maior em nível nacional que não permitam
a realização normal de atividades pedagógicas e de aulas presenciais nas
escolas participantes do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb)
durante a aplicação dessa avaliação, ficará suspensa a condicionalidade
prevista no inciso II do § 1º deste artigo, para fins de distribuição da
complementação-VAAR.

417 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EDUCACIONAL
Alternativa C. Incorreta. A afirmativa é correta. Corresponde ao previsto no art. 26-A da Lei nº
14.113.

Art. 26-A. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão remunerar,


com a parcela dos 30% (trinta por cento) não subvinculada aos profissionais
da educação referidos no inciso II do § 1º do art. 26 desta Lei, os portadores de
diploma de curso superior na área de psicologia ou de serviço social, desde
que integrantes de equipes multiprofissionais que atendam aos educandos,
nos termos da Lei nº 13.935 de 11 de dezembro de 2019, observado o disposto
no caput do art. 27 desta Lei.

Alternativa D. Incorreta. A afirmativa é correta. Corresponde ao previsto no art. 26 da Lei nº


14.113.

Art. 26.  Excluídos os recursos de que trata o inciso III do caput  do art. 5º
desta Lei, proporção não inferior a 70% (setenta por cento) dos recursos
anuais totais dos Fundos referidos no art. 1º desta Lei será destinada ao
pagamento, em cada rede de ensino, da remuneração dos profissionais da
educação básica em efetivo exercício.

Alternativa E. Incorreta. A afirmativa é correta. Corresponde ao previsto no art. 26, § 1º, II, da
Lei nº 14.113.

Art. 26. (...)

§ 1º (...)

II –  profissionais da educação básica: docentes, profissionais no exercício


de funções de suporte pedagógico direto à docência, de direção ou
administração escolar, planejamento, inspeção, supervisão, orientação
educacional, coordenação e assessoramento pedagógico, e profissionais
de funções de apoio técnico, administrativo ou operacional, em efetivo
exercício nas redes de ensino de educação básica; (...)

418 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EDUCACIONAL
2. MP nº 1.075/2021 – Amplia o acesso de alunos egressos de escolas
privadas ao Programa Universidade para Todos (Prouni)

2.1. Ficha normativa

MP Nº 1.075/2021
Ementa: Altera a Lei nº 11.096, de 13 de janeiro de 2005, e a Lei nº 11.128, de 28 de junho de
2005, para dispor sobre o Programa Universidade para Todos (Prouni).

Data de publicação: 07.12.2021


Início de vigência: Produção de efeitos a partir de 1º de julho de 2022 em relação aos
dispositivos que tratam da aplicação e requisitos para o acesso ao programa.
Efeitos a partir de 07.12.2021 em relação aos demais dispositivos.
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/
Mpv/mpv1075.htm>
Destaques:
• Ampliou o acesso de alunos egressos de escolas privadas ao Prouni.

• Permitiu que alunos egressos de escolas privadas com bolsas parciais possam aderir ao
programa.

• Alterou dispositivos que previam bolsas de 25%.

2.2. Comentário

Em 07.12.2021 foi publicada a MP nº 1.075, que “Altera a Lei nº 11.096, de 13 de janeiro de 2005,
e a Lei nº 11.128, de 28 de junho de 2005, para dispor sobre o Programa Universidade para Todos.”

Tal medida ampliou o acesso de alunos egressos de escolas privadas ao ProUni.

Para tanto, possibilita o acesso ao programa daqueles estudantes que estudaram em escolas
privadas de ensino com bolsas de estudos parciais.

Ademais, estabelece bolsas integrais e de 50%, deixando de prever bolsas parciais de 25%.

A medida entrou em vigor na data de publicação, mas, nos pontos mencionados, teve seus
efeitos postergados para 1º de julho de 2022.

419 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EDUCACIONAL
Art. 5º Esta Medida Provisória entra em vigor na data de sua publicação e
produz efeitos:

I – a partir de 1º de julho de 2022, quanto ao art. 1º na parte em que altera os


seguintes dispositivos da Lei nº 11.096, de 2005:

a) o inciso I do caput e o § 1º do art. 2º; e

b) o inciso II do caput e os § 1º, § 1º-A e § 2º do art. 7º; e

II – na data de sua publicação, quanto aos demais dispositivos.

A medida provisória ainda está pendente de apreciação pelo Congresso.

2.3. Questão inédita comentada

Por força da MP nº 1.075, que alterou a Lei nº 11.096/2005, é correto afirmar, exceto:

A) As bolsas do Prouni são destinadas a estudante que tenha cursado o ensino médio completo em
escola da rede pública ou em instituições privadas na condição de bolsista integral.

B) As bolsas do Prouni são destinadas a estudante pessoa com deficiência, na forma prevista na
legislação.

C) As bolsas do Prouni são destinadas a estudante que tenha cursado  ensino médio completo
parcialmente em escola da rede pública e parcialmente em instituição privada, na condição de
bolsista integral da respectiva instituição.

D) O Prouni é destinado à concessão de bolsas de estudo integrais e bolsas de estudo parciais de


50% ou 25% para estudantes de cursos de graduação e sequenciais de formação específica, em
instituições privadas de ensino superior, com ou sem fins lucrativos.   

E) As bolsas do Prouni são destinadas  a professor da rede pública de ensino, para os cursos de
licenciatura, normal superior e pedagogia, destinados à formação do magistério da educação básica.

420 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EDUCACIONAL
Alternativa correta: letra D. A afirmativa é incorreta, visto que a MP nº 1.075 deixou de prever
bolsas parciais de 25%.

Art. 1º Fica instituído, sob a gestão do Ministério da Educação, o Programa


Universidade para Todos – Prouni, destinado à concessão de bolsas de
estudo integrais e bolsas de estudo parciais de cinquenta por cento para
estudantes de cursos de graduação e sequenciais de formação específica,
em instituições privadas de ensino superior, com ou sem fins lucrativos.

Demais alternativas:

Alternativa A. Incorreta. A afirmativa é verdadeira. Corresponde ao previsto no art. 2º, I, da Lei


nº 11.096/2005.

Art. 2º A bolsa será destinada:

I – a estudante que tenha cursado o ensino médio completo em escola da


rede pública ou em instituições privadas na condição de bolsista integral; (...)

Alternativa B. Incorreta. A afirmativa é verdadeira. Corresponde ao previsto no art. 2º, II, da Lei
nº 11.096/2005.

Art. 2º A bolsa será destinada: (...)

II – a estudante pessoa com deficiência, na forma prevista na legislação; e (...)

Alternativa C. Incorreta. A afirmativa é verdadeira. Corresponde ao previsto no art. 2º, I, da Lei


nº 11.096/2005.

Art. 2º A bolsa será destinada:

I – a estudante que tenha cursado o ensino médio completo em escola da


rede pública ou em instituições privadas na condição de bolsista integral;
(...)

Alternativa E. Incorreta. A afirmativa é verdadeira. Corresponde ao previsto no art. 2º, III, da Lei
nº 11.096/2005.

Art. 2º A bolsa será destinada: (...)

III – a professor da rede pública de ensino, para os cursos de licenciatura,


normal superior e pedagogia, destinados à formação do magistério da
educação básica, independentemente da renda a que se referem os §§ 1º e
2º do art. 1º desta Lei.

421 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EDUCACIONAL
3. MP nº 1.077/2021 – Institui o programa Internet Brasil

3.1. Ficha normativa

MP Nº 1.077/2021
Ementa: Institui o Programa Internet Brasil.
Data de publicação: 08.12.2021
Início de vigência: 08.12.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/
Mpv/mpv1077.htm>
Destaques:
• Trata do acesso dos alunos da educação básica da rede pública de ensino de famílias
inscritas no CadÚnico para Programas Sociais do Governo Federal à internet banda larga
móvel.

• Enumera alguns meios que podem ser utilizados para a promoção do acesso à internet
banda larga aos alunos.

• Trata da implementação gradual do programa.

3.2. Comentário

Em 7 de dezembro de 2021 foi publicada a MP nº 1.077, que “Institui o Programa Internet Brasil”.

Tal medida visa promover o acesso dos alunos da educação básica da rede pública de ensino
de famílias inscritas no CadÚnico para Programas Sociais do Governo Federal à internet banda larga
móvel.

A medida provisória estabelece que a promoção do acesso gratuito à internet em banda


larga móvel  poderá ser realizada, sem prejuízo de outros meios de acesso, por intermédio da
disponibilização de chip, pacote de dados; ou dispositivo de acesso.

O programa será implementado de forma gradual, e a medida provisória permite que o acesso
gratuito à internet em banda larga móvel seja concedido a diferentes alunos integrantes da mesma
família.

422 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EDUCACIONAL
A medida provisório entrou em vigor na data de publicação e está pendente de apreciação
pelo Congresso Nacional.

3.3. Questão inédita comentada

Sobre o programa do governo federal denominado “Internet Brasil” é correto afimar:

A) Deve ser implementado de forma imediata.

B) É objetivo do Programa Internet Brasil viabilizar aos alunos o acesso a recursos educacionais
digitais, salvo aqueles disponibilizados pela rede pública de ensino.

C) O acesso gratuito à internet em banda larga pode ser concedido a diferentes alunos integrantes
da mesma família.

D) A promoção do acesso gratuito à internet em banda larga poderá ser realizada, apenas por
intermédio da disponibilização de chip ou pacote de dados.

E) Tem a finalidade de promover o acesso gratuito à internet domiciliar aos alunos da educação
básica da rede pública de ensino integrantes de famílias inscritas no CadÚnico para Programas
Sociais do Governo Federal.

Alternativa correta: letra C. Conforme previsto na MP nº 1.077:

Art. 1º (...)

§ 2º O acesso gratuito à internet em banda larga móvel poderá ser concedido


a diferentes alunos integrantes da mesma família.

Demais alternativas:

Alternativa A. Incorreta. A implementação do programa deve ser gradual, conforme a MP nº


1.077.

Art. 1º (...)

§ 3º O Programa Internet Brasil será implementado de forma gradual,


observados: (...)

423 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EDUCACIONAL
Alternativa B. Incorreta. Em desacordo com o previsto no art. 2º da MP nº 1.077.

Art. 2º São objetivos do Programa Internet Brasil:

I – viabilizar aos alunos o acesso a recursos educacionais digitais, incluídos


aqueles disponibilizados pela rede pública de ensino; (...)

Alternativa D. Incorreta. A MP nº 1.077 admite que sejam utilizados outros meios de acesso.

Art. 1º (...)

§ 1º A promoção do acesso gratuito à internet em banda larga móvel de que


trata o caput poderá ser realizada, sem prejuízo de outros meios de acesso,
por intermédio da disponibilização de:

I – chip;

II – pacote de dados; ou

III – dispositivo de acesso.

Alternativa E. Incorreta. O objetivo é a implementação do acesso a banda larga móvel e não


domiciliar, conforme art. 1º da MP nº 1.077.

Art. 1º Fica instituído o Programa Internet Brasil, no âmbito do Ministério das


Comunicações, com a finalidade de promover o acesso gratuito à internet
em banda larga móvel aos alunos da educação básica da rede pública de
ensino integrantes de famílias inscritas no Cadastro Único para Programas
Sociais do Governo Federal.

4. MP nº 1.090/2021 – Transações relativas à cobrança de créditos do


Fies

4.1. Ficha normativa

MP Nº 1.090/2021
Ementa: Estabelece os requisitos e as condições para realização das transações resolutivas
de litígio relativas à cobrança de créditos do Fundo de Financiamento Estudantil
(Fies) e altera a Lei nº 10.260, de 12 de julho de 2001, a Lei nº 10.522, de 19 de julho
de 2002, e a Lei nº 12.087, de 11 de novembro de 2009.

Data de publicação: 30.12.2021

424 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EDUCACIONAL
Início de vigência: 30.12.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/
Mpv/mpv1090.htm>
Destaques:
• A lei facilita as transações para solução de litígios relativos ao Fies.

• Estabelece critérios de negociação mais favoráveis para estudantes cadastrados no


Cadastro Único (CadÚnico) para Programas Sociais do Governo Federal.

4.2. Comentário

Em 30.12.2021, foi publicada a MP nº 1.090.

Referida medida provisória trata de medidas que facilitam as transações para resolução de
litígios relativos ao Fies beneficiando estudantes que aderiram ao programa até o segundo semestre
de 2017.

Por força da medida provisória, para os alunos com débitos vencidos e não pagos há mais de 360
dias os descontos são de até 92%, para os estudantes cadastrados no (CadÚnico) para Programas
Sociais do Governo Federal ou que tenha sido beneficiária do Auxílio Emergencial 2021.

A medida entrou em vigor na data de publicação e está pendente de apreciação pelo Congresso.

4.3. Questão inédita comentada

A MP nº 1.090, de 2021, visou facilitar as transações para resolução de litígios relativos ao Fies.
Dentre as medidas previstas, está a concessão de desconto para os alunos com débitos vencidos e
não pagos há mais de 360 dias que sejam cadastrados no (CadÚnico) para Programas Sociais do
Governo Federal de até:

A) 60% D) 82%

B) 62% E) 92%

C) 72%

425 Caderno de novidades legislativas


DIREITO EDUCACIONAL
Alternativa correta: letra E. Conforme previsto no § 3º do art. 5º da MP nº 1.090, de 2021, nessa
hipótese o desconto será de até 92%.

Art. 5º A transação na cobrança de créditos do Fies, celebrada somente por


adesão, poderá contemplar os seguintes benefícios: (...)

§ 3º Na hipótese de transação que envolva pessoa cadastrada no Cadastro


Único para Programas Sociais do Governo Federal – CadÚnico ou que
tenha sido beneficiária do Auxílio Emergencial 2021, a redução máxima de
que trata o inciso I do § 2º será de até noventa e dois por cento.

Demais alternativas:

Alternativas A, B, C e D. Incorretas. Conforme previsto no § 3º do art. 5º da MP nº 1.090, de


2021, nessa hipótese o desconto será de até 92%.

Art. 5º A transação na cobrança de créditos do Fies, celebrada somente por


adesão, poderá contemplar os seguintes benefícios: (...)

§ 3º Na hipótese de transação que envolva pessoa cadastrada no Cadastro


Único para Programas Sociais do Governo Federal – CadÚnico ou que
tenha sido beneficiária do Auxílio Emergencial 2021, a redução máxima de
que trata o inciso I do § 2º será de até noventa e dois por cento.

426 Caderno de novidades legislativas


DIREITO AMBIENTAL E URBANÍSTICO
1. Lei nº 14.285/2021 – Edificações às margens de rios e lagos em áreas
urbanas

1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.285/2021
Ementa: Altera as Leis nºs 12.651, de 25.05.2012, que dispõe sobre a proteção da vegetação
nativa, 11.952, de 25.06.2009, que dispõe sobre regularização fundiária em terras
da União, e 6.766, de 19.12.1979, que dispõe sobre o parcelamento do solo urbano,
para dispor sobre as áreas de preservação permanente no entorno de cursos d’água
em áreas urbanas consolidadas.
Data de publicação: 30.12.2021
Início de vigência: 30.12.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/
Lei/L14285.htm>
Destaques:
• Altera o Código Florestal – CFlo (Lei nº 12.651/2012) e permite a regularização de edifícios
às margens de cursos e corpos d’água em áreas urbanas.

• Confere aos municípios o poder de regulamentar as faixas de restrição à beira de rios,


córregos, lagos e lagoas nos seus limites urbanos.

• Altera a Lei nº 11.952/2009, que dispõe sobre a regularização fundiária das ocupações
incidentes em terras situadas em áreas da União, no âmbito da Amazônia Legal.

• Altera requisitos a serem atendidos pelos loteamentos urbanos previstos na Lei nº


6.766/1979.

1.2. Comentário

Em 30.12.2021, foi publicada a Lei nº 14.285, com início imediato de vigência.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo

Altera as Leis nºs 12.651, de 25 de maio de 2012, que dispõe sobre a proteção
da vegetação nativa, 11.952, de 25 de junho de 2009, que dispõe sobre
regularização fundiária em terras da União, e 6.766, de 19 de dezembro de
1979, que dispõe sobre o parcelamento do solo urbano, para dispor sobre
as áreas de preservação permanente no entorno de cursos d’água em áreas
urbanas consolidadas.

427 Caderno de novidades legislativas


DIREITO AMBIENTAL E URBANÍSTICO
A primeira grande alteração promovida pela Lei nº 14.285/2021 foi no art. 3º, XXVI, do Código
Florestal, redefinindo os critérios para a definição da área urbana consolidada:

XXVI – área urbana consolidada: aquela que atende os seguintes critérios:


(Redação dada pela Lei nº 14.285, de 2021.)

a) estar incluída no perímetro urbano ou em zona urbana pelo plano diretor


ou por lei municipal específica; (Incluída pela Lei nº 14.285, de 2021.)

b) dispor de sistema viário implantado; (Incluída pela Lei nº 14.285, de 2021.)

c) estar organizada em quadras e lotes predominantemente edificados;


(Incluída pela Lei nº 14.285, de 2021.)

d) apresentar uso predominantemente urbano, caracterizado pela existência


de edificações residenciais, comerciais, industriais, institucionais, mistas ou
direcionadas à prestação de serviços; (Incluída pela Lei nº 14.285, de 2021.)

e) dispor de, no mínimo, 2 (dois) dos seguintes equipamentos de


infraestrutura urbana implantados: (Incluída pela Lei nº 14.285, de 2021.)

1. drenagem de águas pluviais; (Incluída pela Lei nº 14.285, de 2021.)

2. esgotamento sanitário; (Incluída pela Lei nº 14.285, de 2021.)

3. abastecimento de água potável; (Incluída pela Lei nº 14.285, de 2021.)

4. distribuição de energia elétrica e iluminação pública; e (Incluída pela Lei


nº 14.285, de 2021.)

5. limpeza urbana, coleta e manejo de resíduos sólidos; (Incluída pela Lei nº


14.285, de 2021.)

Além disso, foi incluído o § 10 ao art. 4º do CFlo, permitindo aos municípios a definição de
faixas marginais distintas das estabelecidas no inciso I do caput do art. 4º do CFlo nas suas áreas
urbanas consolidadas:

§ 10 Em áreas urbanas consolidadas, ouvidos os conselhos estaduais,


municipais ou distrital de meio ambiente, lei municipal ou distrital poderá
definir faixas marginais distintas daquelas estabelecidas no inciso I
do caput deste artigo, com regras que estabeleçam: (Incluído pela Lei nº
14.285, de 2021.)

I – a não ocupação de áreas com risco de desastres; (Incluído pela Lei nº


14.285, de 2021.)

428 Caderno de novidades legislativas


DIREITO AMBIENTAL E URBANÍSTICO
II – a observância das diretrizes do plano de recursos hídricos, do plano de
bacia, do plano de drenagem ou do plano de saneamento básico, se houver;
e (Incluído pela Lei nº 14.285, de 2021.)

III – a previsão de que as atividades ou os empreendimentos a serem


instalados nas áreas de preservação permanente urbanas devem observar
os casos de utilidade pública, de interesse social ou de baixo impacto
ambiental fixados nesta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.285, de 2021.) (Grifos
nossos.)

No mesmo sentido, delegando aos municípios a delimitação das áreas de preservação


permanente marginais de qualquer curso d’água natural em área urbana, a Lei nº 14.285/2021 incluiu
o § 5º ao art. 22 da Lei nº 11.952/2009, que dispõe sobre a regularização fundiária das ocupações
incidentes em terras situadas em áreas da União, no âmbito da Amazônia Legal:

§ 5º Os limites das áreas de preservação permanente marginais de qualquer


curso d’água natural em área urbana serão determinados nos planos
diretores e nas leis municipais de uso do solo, ouvidos os conselhos estaduais
e municipais de meio ambiente.

Por fim, a lei em comento alterou os requisitos urbanísticos para loteamentos previstos no art.
4º da Lei nº 6.766/1979:

Art. 4º Os loteamentos deverão atender, pelo menos, aos seguintes


requisitos:

(...)

III-A – ao longo da faixa de domínio das ferrovias, será obrigatória a reserva


de uma faixa não edificável de, no mínimo, 15 (quinze) metros de cada lado;

III-B – ao longo das águas correntes e dormentes, as áreas de faixas não


edificáveis deverão respeitar a lei municipal ou distrital que aprovar o
instrumento de planejamento territorial e que definir e regulamentar a largura
das faixas marginais de cursos d’água naturais em área urbana consolidada,
nos termos da Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012, com obrigatoriedade de
reserva de uma faixa não edificável para cada trecho de margem, indicada
em diagnóstico socioambiental elaborado pelo Município; (...) (Grifos
nossos.)

429 Caderno de novidades legislativas


DIREITO AMBIENTAL E URBANÍSTICO
1.3. Questão inédita comentada

Com relação à disciplina legal das faixas marginais em áreas urbanas consolidadas, é correto
afirmar:

A) Ao longo das águas correntes e dormentes, as áreas de faixas não edificáveis deverão respeitar
a lei estadual ou distrital que aprovar o instrumento de planejamento territorial e que definir e
regulamentar a largura das faixas marginais de cursos d’água naturais em área urbana consolidada.

B) Os limites das áreas de preservação permanente marginais de qualquer curso d’água natural em
área urbana serão determinados em leis estaduais de uso do solo, ouvidos os conselhos municipais
de meio ambiente.

C) Ao longo da faixa de domínio das ferrovias, será obrigatória a reserva de uma faixa não edificável
de, no mínimo, 30 (trinta) metros de cada lado.

D) Em áreas urbanas consolidadas, ouvidos os conselhos estaduais e federal de meio ambiente, lei
municipal ou distrital poderá definir faixas marginais distintas daquelas estabelecidas no Código
Florestal.

E) Lei municipal ou distrital poderá definir faixas marginais de área urbana consolidada com regras
que estabeleçam a não ocupação de áreas com risco de desastres.

Alternativa correta: letra E. É o que prevê o art. 4º, § 10, I, do CFlo, introduzido pela Lei nº
14.285/2021:

Art. 4º (...)

§ 10 Em áreas urbanas consolidadas, ouvidos os conselhos estaduais,


municipais ou distrital de meio ambiente, lei municipal ou distrital poderá
definir faixas marginais distintas daquelas estabelecidas no inciso I do caput
deste artigo, com regras que estabeleçam:

I – a não ocupação de áreas com risco de desastres;

II – a observância das diretrizes do plano de recursos hídricos, do plano de


bacia, do plano de drenagem ou do plano de saneamento básico, se houver;
e

430 Caderno de novidades legislativas


DIREITO AMBIENTAL E URBANÍSTICO
III – a previsão de que as atividades ou os empreendimentos a serem
instalados nas áreas de preservação permanente urbanas devem observar
os casos de utilidade pública, de interesse social ou de baixo impacto
ambiental fixados nesta Lei.

Demais alternativas:

Alternativa A: Incorreta. Nos termos do art. 4º, III-B, da Lei nº 6.766/1979, introduzido pela Lei
nº 14.285/2021,

ao longo das águas correntes e dormentes, as áreas de faixas não edificáveis


deverão respeitar a lei municipal ou distrital que aprovar o instrumento de
planejamento territorial e que definir e regulamentar a largura das faixas
marginais de cursos d’água naturais em área urbana consolidada, nos
termos da Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012, com obrigatoriedade de
reserva de uma faixa não edificável para cada trecho de margem, indicada
em diagnóstico socioambiental elaborado pelo Município. (Grifos nossos.)

Alternativa B: Incorreta. Dispõe o art. 22, § 5º, da Lei nº 11.952/2009, incluído pela Lei nº
14.285/2021, que

os limites das áreas de preservação permanente marginais de qualquer curso


d’água natural em área urbana serão determinados nos planos diretores
e nas leis municipais de uso do solo, ouvidos os conselhos estaduais e
municipais de meio ambiente. (Grifos nossos.)

Alternativa C: Incorreta. Nos termos do art. 4º, III-A, da Lei nº 6.766/1979, com redação dada
pela Lei nº 14.285/2021, “ao longo da faixa de domínio das ferrovias, será obrigatória a reserva de
uma faixa não edificável de, no mínimo, 15 (quinze) metros de cada lado” (grifos nossos).

Alternativa D: Incorreta. De acordo com o § 10 do art. 4º do Código Florestal, incluído pela


Lei nº 14.285/2021, “em áreas urbanas consolidadas, ouvidos os conselhos estaduais, municipais
ou distrital de meio ambiente, lei municipal ou distrital poderá definir faixas marginais distintas
-daquelas estabelecidas no inciso I do caput deste artigo” (grifos nossos).

431 Caderno de novidades legislativas


DIREITO TRIBUTÁRIO
1. Lei nº 14.287/2021 – Alterações no Imposto sobre Produtos
Importados (IPI)

1.1. Ficha normativa

LEI Nº 14.287/2021
Ementa: Altera a Lei nº 8.989, de 24 de fevereiro de 1995, para prorrogar a isenção do Imposto
sobre Produtos Industrializados (IPI) na aquisição de automóveis de passageiros e
para estender o benefício para as pessoas com deficiência auditiva.

Data de publicação: 31.12.2021


Início de vigência: Esta lei entra em vigor na data de sua publicação e produzirá efeitos a
partir de 1º de janeiro de 2022.
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/
Lei/L14287.htm>
Destaques:
• Prorroga a isenção do IPI na aquisição de automóveis de passageiros.

• Estende a isenção do IPI sobre automóveis de passageiros de fabricação nacional às


pessoas com deficiência física, visual, auditiva e mental severa ou profunda, e pessoas com
transtorno do espectro autista.

1.2. Comentário

Em 31.12.2021, foi publicada a Lei nº 14.287, com início imediato de vigência.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo

altera a Lei nº 8.989, de 24 de fevereiro de 1995, para prorrogar a isenção do


Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na aquisição de automóveis
de passageiros e para estender o benefício para as pessoas com deficiência
auditiva.

A Lei nº 8.989, alterada pela Lei nº 14.287/2021, institui isenção do IPI aos automóveis de
passageiros de fabricação nacional, equipados com motor de cilindrada não superior a 2.000 cm³
(dois mil centímetros cúbicos), de, no mínimo, quatro portas, inclusive a de acesso ao bagageiro,
movidos a combustível de origem renovável, sistema reversível de combustão ou híbrido e elétricos,
quando adquiridos pelas pessoas arroladas no seu art. 1º.

432 Caderno de novidades legislativas


DIREITO TRIBUTÁRIO
A referida lei teve sua vigência prorrogada por diversos atos normativos anteriores, sendo o
mais recente, até então, a Lei nº 13.146/2015, que havia prorrogado até 31.12.2021 a vigência da Lei
nº 8.989/1995. Com a edição da Lei nº 14.287/2021, a Lei nº 8.989/1995 passa a produzir efeitos até
31.12.2026 (art. 9º).

Além disso, a Lei nº 14.287/2021 deu nova redação ao inciso IV do art. 1º da Lei nº 8.989/1995,
para estender a isenção instituída no caput a todas as

pessoas com deficiência física, visual, auditiva e mental severa ou


profunda e pessoas com transtorno do espectro autista, diretamente ou
por intermédio de seu representante legal. (Grifos nossos.)

Também foi dada nova redação ao § 1º do mesmo art. 1º, que define pessoa com deficiência
para os fins da lei da seguinte forma:

§ 1º Considera-se pessoa com deficiência aquela com impedimento de longo


prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial que, em interação
com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva
na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas, conforme
avaliação biopsicossocial prevista no § 1º do art. 2º da Lei nº 13.146, de 6 de
julho de 2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência). (Redação dada pela Lei
nº 14.287, de 2021.) (Grifos nossos.)

Ressalte-se que foi incluído o § 1º-A ao art. 1º da Lei nº 8.989/1995, prevendo que

enquanto o Poder Executivo não regulamentar o § 1º do art. 2º da Lei


nº 13.146, de 6 de julho de 2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência),
não será exigida, para fins de concessão do benefício fiscal, a avaliação
biopsicossocial referida no § 1º deste artigo (grifos nossos).

A Lei nº 14.287/2021 também revogou o § 2º do art. 1º da Lei nº 8.989/1995, que considerava
pessoa portadora de deficiência visual, para fins da concessão da isenção, aquela que apresenta
acuidade visual igual ou menor que 20/200 (tabela de Snellen) no melhor olho, após a melhor
correção, ou campo visual inferior a 20°, ou ocorrência simultânea de ambas as situações.

Por fim, foi alterado o valor máximo do automóvel a ser adquirido para a fruição da isenção na
hipótese do inciso IV, conforme se extrai da nova redação do § 7º do art. 1º da Lei nº 8.989/1995:

§ 7º Na hipótese prevista no inciso IV do  caput  deste artigo, a aquisição


com isenção somente se aplica a veículo novo cujo preço de venda
ao consumidor, incluídos os tributos incidentes, não seja superior a R$
200.000,00 (duzentos mil reais).  (Redação dada pela Lei nº 14.287, de
2021.) (Grifos nossos.)

433 Caderno de novidades legislativas


DIREITO TRIBUTÁRIO
1.3. Questão inédita comentada

Com relação à disciplina legal do IPI, assinale a alternativa correta:

A) A isenção do IPI em relação aos automóveis de passageiros de fabricação nacional, prevista na


Lei nº 8.989/1995, teve seus efeitos extintos em 31.12.2021.

B) Ficam isentos do IPI os automóveis de passageiros de fabricação nacional, equipados com motor
de cilindrada não superior a 2.000 cm³ (dois mil centímetros cúbicos), de, no mínimo, quatro portas,
inclusive a de acesso ao bagageiro, movidos a combustível de origem renovável, sistema reversível
de combustão ou híbrido e elétricos, quando adquiridos por pessoas com deficiência física, visual,
auditiva e mental severa ou profunda e pessoas com transtorno do espectro autista, diretamente ou
por intermédio de seu representante legal.

C) A avaliação biopsicossocial para aferição da deficiência para fins de isenção do IPI, na hipótese de
ausência de regulamentação pelo Poder Executivo, será substituída por uma avaliação simplificada.

D) Para a concessão da isenção de IPI prevista na Lei nº 8.989/1995 é considerada pessoa portadora
de deficiência visual aquela que apresenta acuidade visual igual ou menor que 20/200 (tabela
de Snellen) no melhor olho, após a melhor correção, ou campo visual inferior a 20°, ou ocorrência
simultânea de ambas as situações.

E) A aquisição de automóvel de passageiros com isenção, pelas pessoas com deficiência, se aplica a
veículo novo cujo preço de venda ao consumidor, incluídos os tributos incidentes, não seja superior
a R$ 140.000,00 (cento e quarenta mil reais).   

Alternativa correta: letra B. Trata-se do previsto no art. 1º, IV, da Lei nº 8.989/1995, com a
redação dada pela Lei nº 14.287/2021.

Art. 1º Ficam isentos do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) os


automóveis de passageiros de fabricação nacional, equipados com motor
de cilindrada não superior a 2.000 cm³ (dois mil centímetros cúbicos), de,
no mínimo, 4 (quatro) portas, inclusive a de acesso ao bagageiro, movidos
a combustível de origem renovável, sistema reversível de combustão ou
híbrido e elétricos, quando adquiridos por: (Redação dada pela Lei nº 13.755,
de 2018.) (...)

434 Caderno de novidades legislativas


DIREITO TRIBUTÁRIO
IV – pessoas com deficiência física, visual, auditiva e mental severa ou
profunda e pessoas com transtorno do espectro autista, diretamente ou por
intermédio de seu representante legal; (Redação dada pela Lei nº 14.287, de
2021.)

Demais alternativas:

Alternativa A: Incorreta. A Lei nº 14.287/2021 prorrogou a isenção instituída pela Lei nº


8.989/1995 até 31.12.2026 (art. 9º da Lei nº 8.989/1995).

Art. 9º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação e produzirá efeitos
até 31 de dezembro de 2026. (Redação dada pela Lei nº 14.287, de 2021.)

Alternativa C: Incorreta. Conforme dispõe o § 1º-A do art. 1º da Lei nº 8.989/1995,

enquanto o Poder Executivo não regulamentar o § 1º do art. 2º da Lei nº


13.146, de 6 de julho de 2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), não será
exigida, para fins de concessão do benefício fiscal, a avaliação biopsicossocial
referida no § 1º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 14.287, de 2021.)

Alternativa D: Incorreta. Tal exigência estava prevista no art. 1º, § 2º, da Lei nº 8.989/1995,
dispositivo revogado pela Lei nº 14.287/2021.

Art. 1º (...)

§ 2º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.287, de 2021.)

Alternativa E: Incorreta. De acordo com o § 7º do art. 1º da Lei nº 8.989/1995, com redação dada
pela Lei nº 14.287/2021, na referida hipótese a aquisição com isenção somente se aplica a veículo
novo cujo preço de venda ao consumidor, incluídos os tributos incidentes, não seja superior a R$
200.000,00 (duzentos mil reais).

Art. 1º (...)

§ 7º Na hipótese prevista no inciso IV do caput deste artigo, a aquisição com


isenção somente se aplica a veículo novo cujo preço de venda ao consumidor,
incluídos os tributos incidentes, não seja superior a R$ 200.000,00
(duzentos mil reais). (Redação dada pela Lei nº 14.287, de 2021.)

435 Caderno de novidades legislativas


DIREITO TRIBUTÁRIO
2. Lei Complementar (LC) nº 187, de 2021 – Nova Lei da Certificação
de Entidades Beneficentes de Assistência Social na Área de Educação
(CEBAS)

2.1. Ficha normativa

LC Nº 187/2021
Ementa: Dispõe sobre a certificação das entidades beneficentes e regula os procedimentos
referentes à imunidade de contribuições à seguridade social de que trata o § 7º
do art. 195 da Constituição Federal (CF/1988); altera as Leis nºs 5.172, de 25 de
outubro de 1966 (Código Tributário Nacional – CTN), e 9.532, de 10 de dezembro
de 1997; revoga a Lei nº 12.101, de 27 de novembro de 2009, e dispositivos das Leis
nºs 11.096, de 13 de janeiro de 2005, e 12.249, de 11 de junho de 2010; e dá outras
providências.
Data de publicação: 17.12.2021
Início de vigência: 17.12.2021
Link do texto normativo: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp187.htm>

Destaques:
• Dispõe sobre os procedimentos referentes a fruição da imunidade das contribuições à
seguridade social de que trata o art. 195, § 7º, da CF/1988.

• Prorroga a validade dos certificados vigentes cujos requerimento de renovação não tenham
sido apresentados até a data de publicação desta lei complementar até 31 de dezembro do
ano subsequente ao do fim de seu prazo de validade.

• Extingue os créditos decorrentes de contribuições sociais lançados contra instituições


beneficentes, expressamente motivados por decisões derivadas de processos
administrativos ou judiciais com base em dispositivos da legislação ordinária declarados
inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento das ADIs nºs 2.028
e 4.480, e correlatas.

2.2. Comentário

Em 17.12.2021, foi publicada a LC nº 187, com início imediato de vigência.

De acordo com sua ementa, o novel texto legislativo

dispõe sobre a certificação das entidades beneficentes e regula os


procedimentos referentes à imunidade de contribuições à seguridade
social de que trata o § 7º do art. 195 da Constituição Federal; altera as Leis

436 Caderno de novidades legislativas


DIREITO TRIBUTÁRIO
nºs 5.172, de 25 de outubro de 1966 (Código Tributário Nacional), e 9.532,
de 10 de dezembro de 1997; revoga a Lei nº 12.101, de 27 de novembro de
2009, e dispositivos das Leis nºs 11.096, de 13 de janeiro de 2005, e 12.249,
de 11 de junho de 2010; e dá outras providências.

Trata-se de inovação legislativa que visou pacificar intenso debate jurídico acerca dos requisitos
para fruição da imunidade das contribuições sociais. Isso porque a Lei nº 12.101/2009, que até então
dispunha sobre a certificação das entidades beneficentes de assistência social, é lei ordinária, e o STF, no
RE nº 566.622/RS, fixou a tese de que a lei ordinária é inconstitucional para regulamentar a imunidade.
Mais recentemente, em fevereiro de 2021, o STF, ao apreciar os embargos de declaração da ADI nº
4.480, julgou e ratificou o entendimento anterior, no sentido da inconstitucionalidade de diversos
dispositivos da Lei nº 12.101/2009, que condicionavam contrapartidas para fruição da imunidade
das contribuições sociais das entidades atuantes na área de educação e/ou assistência social, já que
somente lei complementar poderia regular os requisitos para fruição da imunidade tributária tendo em
vista limitação constitucional ao poder de tributar constante do art. 146, II, da Lei Maior.

Assim, visando regulamentar definitivamente a matéria por meio de lei complementar, foi
aprovada a LC nº 187/2021, publicada no dia 17.12.2021, que dispõe sobre os requisitos e procedimentos
para fruição da imunidade das contribuições sociais de que trata o art. 195, § 7º, da CF/1988.

Inicialmente, importa destacar o conceito de entidade beneficente previsto no art. 2º da lei em


comento:

Art. 2º Entidade beneficente, para os fins de cumprimento desta Lei


Complementar, é a pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos,
que presta serviço nas áreas de assistência social, de saúde e de educação,
assim certificada na forma desta Lei Complementar.

Para fazerem jus à imunidade de que trata o art. 195, § 7º, da CF/1988, dispõe o art. 3º da LC
nº 187/2021 que as entidades beneficentes devem atuar nas áreas da saúde, da educação e da
assistência social, serem certificadas nos termos da lei e atenderem, cumulativamente, aos seguintes
requisitos:

I – não percebam seus dirigentes estatutários, conselheiros, associados,


instituidores ou benfeitores remuneração, vantagens ou benefícios, direta
ou indiretamente, por qualquer forma ou título, em razão das competências,
das funções ou das atividades que lhes sejam atribuídas pelos respectivos
atos constitutivos;

437 Caderno de novidades legislativas


DIREITO TRIBUTÁRIO
II – apliquem suas rendas, seus recursos e eventual superávit integralmente
no território nacional, na manutenção e no desenvolvimento de seus
objetivos institucionais;

III – apresentem certidão negativa ou certidão positiva com efeito de


negativa de débitos relativos aos tributos administrados pela Secretaria
Especial da Receita Federal do Brasil e pela Procuradoria-Geral da Fazenda
Nacional, bem como comprovação de regularidade do Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço (FGTS);

IV – mantenham escrituração contábil regular que registre as receitas e as


despesas, bem como o registro em gratuidade, de forma segregada, em
consonância com as normas do Conselho Federal de Contabilidade e com
a legislação fiscal em vigor;

V – não distribuam a seus conselheiros, associados, instituidores ou


benfeitores seus resultados, dividendos, bonificações, participações ou
parcelas do seu patrimônio, sob qualquer forma ou pretexto, e, na hipótese
de prestação de serviços a terceiros, públicos ou privados, com ou sem
cessão de mão de obra, não transfiram a esses terceiros os benefícios
relativos à imunidade prevista no § 7º do art. 195 da Constituição Federal;

VI – conservem, pelo prazo de 10 (dez) anos, contado da data de emissão,


os documentos que comprovem a origem e o registro de seus recursos e os
relativos a atos ou a operações realizadas que impliquem modificação da
situação patrimonial;

VII – apresentem as demonstrações contábeis e financeiras devidamente


auditadas por auditor independente legalmente habilitado nos Conselhos
Regionais de Contabilidade, quando a receita bruta anual auferida for
superior ao limite fixado pelo inciso II do caput do art. 3º da Lei Complementar
nº 123, de 14 de dezembro de 2006; e

VIII – prevejam, em seus atos constitutivos, em caso de dissolução ou


extinção, a destinação do eventual patrimônio remanescente a entidades
beneficentes certificadas ou a entidades públicas.

Ressalte-se que a imunidade de que trata a LC nº 187/2021 abrange as contribuições sociais


previstas nos incisos I, III e IV do caput do art. 195 e no art. 239 da CF/1988, relativas a entidade
beneficente, a todas as suas atividades e aos empregados e demais segurados da previdência social,
mas não se estende a outra pessoa jurídica, ainda que constituída e mantida pela entidade à
qual a certificação foi concedida (art. 4º da LC nº 187/2021).

438 Caderno de novidades legislativas


DIREITO TRIBUTÁRIO
O art. 5º, por sua vez, impõe, ainda, que as entidades beneficentes obedeçam ao princípio
da universalidade do atendimento, ou seja, não dirijam suas atividades exclusivamente a seus
associados ou categoria profissional.

Quanto ao procedimento de certificação, regulamentado no Capítulo II da LC nº 187/21,


está dividido em Seções, cada uma relativa a uma área: saúde (Seção II); educação (Seção III); e
assistência social (Seção IV). A entidade que atue em mais de uma dessas áreas deverá manter
escrituração contábil segregada por área, de modo a evidenciar as receitas, os custos e as despesas
de cada atividade desempenhada (art. 6º, § .1º), mas será dispensada da comprovação dos requisitos
específicos exigidos para cada área não preponderante, desde que o valor total dos custos e das
despesas nas áreas não preponderantes, cumulativamente não supere 30% (trinta por cento)
dos custos e das despesas totais da entidade e não ultrapasse o valor anual fixado, nos termos do
regulamento, para as áreas não preponderantes (art. 35, § 3º).

Obedecendo aos critérios específicos da sua respectiva área, a entidade deverá realizar o
credenciamento junto ao órgão competente, sendo que há alguns critérios comuns para todas as
entidades.

Todas as entidades devem comprovar a prestação de serviços gratuitos, demonstrando


um vínculo formal ao sistema público, adotando a LC nº 187/2021 uma premissa de atendimento
universal acima mencionada. No entanto, a proporção de serviços gratuitos varia de acordo com a
área.

Na área da saúde, por exemplo, são exigidos os seguintes percentuais (art. 12 da LC nº 187/2021):

I – 20% (vinte por cento), quando não houver interesse de contratação pelo
gestor local do SUS ou se o percentual de prestação de serviços ao SUS for
inferior a 30% (trinta por cento);

II – 10% (dez por cento), se o percentual de prestação de serviços ao SUS


for igual ou superior a 30% (trinta por cento) e inferior a 50% (cinquenta por
cento); ou

III – 5% (cinco por cento), se o percentual de prestação de serviços ao SUS


for igual ou superior a 50% (cinquenta por cento).

439 Caderno de novidades legislativas


DIREITO TRIBUTÁRIO
Na educação, dispõe o art. 19 da lei complementar:

Art. 19. As entidades que atuam na área da educação devem comprovar a


oferta de gratuidade na forma de bolsas de estudo e de benefícios.

§ 1º As entidades devem conceder bolsas de estudo nos seguintes termos:

I – bolsa de estudo integral a aluno cuja renda familiar bruta mensal per
capita não exceda o valor de 1,5 (um inteiro e cinco décimos) salário mínimo;

II – bolsa de estudo parcial com 50% (cinquenta por cento) de gratuidade


a aluno cuja renda familiar bruta mensal per capita não exceda o valor de 3
(três) salários mínimos.

Quanto às entidades de assistência social, sendo essa uma atividade mais abrangente, a
lei divide a proporção mínima de gratuidades por segmento. Em relação às Instituições de Longa
Permanência, não poderá exceder a 70% a participação do idoso (art. 31, § 5º), e nas entidades
atuantes na redução de demandas de drogas, no mínimo 20% da sua capacidade devem ser em
atendimentos gratuitos (art. 33, V).

Além disso, para entidades de todas as áreas, a LC nº 187/2021 possibilita que desenvolvam
atividades que gerem recursos e, especialmente nas áreas de saúde e assistência social, inclusive
por meio de filiais, com ou sem cessão de mão de obra, de modo a contribuir com as finalidades
previstas no art. 2º, registradas segregadamente em sua contabilidade e destacadas em suas Notas
Explicativas (arts. 7º, § 2º, e 30).

A validade dos certificados concedidos nos termos da LC nº 187/2021 será de três anos,
contado da data da publicação da decisão de deferimento no DOU, com efeitos retroativos à data
de protocolo do requerimento para fins tributários (art. 36), desde que mantidas as condições que a
ensejaram (art. 38).

Com relação à hipótese de renovação de certificação, dispõe o art. 37 da LC nº 187/2021:

Art. 37. Na hipótese de renovação de certificação, o efeito da decisão de


deferimento será contado do término da validade da certificação anterior,
com validade de 3 (três) ou 5 (cinco) anos, na forma de regulamento.

§ 1º Será considerado tempestivo o requerimento de renovação da


certificação protocolado no decorrer dos 360 (trezentos e sessenta) dias
que antecedem a data final de validade da certificação.

440 Caderno de novidades legislativas


DIREITO TRIBUTÁRIO
§ 2º A certificação da entidade permanece válida até a data da
decisão administrativa definitiva sobre o requerimento de renovação
tempestivamente apresentado.

§ 3º Os requerimentos de renovação protocolados antes de 360 (trezentos e


sessenta) dias da data final de validade da certificação não serão conhecidos.

§ 4º Os requerimentos de renovação protocolados após o prazo da data


final de validade da certificação serão considerados como requerimentos
para concessão da certificação.

Quanto aos certificados vigentes, dispõe o art. 40, § 1º, da LC nº 187/2021 que a validade dos
certificados vigentes cujo requerimento de renovação não tenha sido apresentado até a data de
publicação da lei em questão, fica prorrogada até 31 de dezembro do ano subsequente ao do fim de
seu prazo de validade.

Por fim, importante o conhecimento do disposto no art. 41 da LC nº 187/2021, que extingue


os créditos decorrentes de contribuições sociais lançados contra instituições beneficentes,
expressamente motivados por decisões derivadas de processos administrativos ou judiciais com
base em dispositivos da legislação ordinária declarados inconstitucionais pelo STF no julgamento
das ADIs nºs 2.028 e 4.480, e correlatas.

2.3. Questão inédita comentada

Para fins de reconhecimento da imunidade de contribuição de seguridade social das entidades


beneficentes (art. 195, § 7º, da CF/1988), é correto afirmar:

A) Para fruição da imunidade, as entidades beneficentes devem ser certificadas de acordo com o
disposto na Lei Ordinária nº 12.101/2009.

B) A entidade que atue em mais de uma dessas áreas deverá manter escrituração contábil segregada
por área e comprovar os requisitos específicos exigidos para cada área não preponderante.

C) A imunidade reconhecida à entidade beneficente abrange todas as suas atividades e aos


empregados e demais segurados da previdência social, mas não se estende a outra pessoa jurídica,
ainda que constituída e mantida pela entidade à qual a certificação foi concedida.

441 Caderno de novidades legislativas


DIREITO TRIBUTÁRIO
D) A validade dos certificados concedidos será de três anos, com efeitos a partir da data da publicação
da decisão de deferimento no DOU para fins tributários.

E) Será considerado tempestivo o requerimento de renovação da certificação protocolado no


decorrer dos 180 (cento e oitenta) dias que antecedem a data final de validade da certificação.

Alternativa correta: letra C. Está de acordo com o art. 4º da LC nº 187/2021.

Art. 4º A imunidade de que trata esta Lei Complementar abrange as


contribuições sociais previstas nos incisos I, III e IV do caput do art. 195 e no
art. 239 da Constituição Federal, relativas a entidade beneficente, a todas
as suas atividades e aos empregados e demais segurados da previdência
social, mas não se estende a outra pessoa jurídica, ainda que constituída e
mantida pela entidade à qual a certificação foi concedida.

Demais alternativas:

Alternativa A: Incorreta. A certificação para fruição de imunidade deve ser feita conforme
procedimento estabelecido na LC nº 187/2021. A Lei nº 12.101/2009, que até então dispunha sobre
a certificação das entidades beneficentes de assistência social, é lei ordinária, e o STF, no RE nº
566.622/RS fixou a tese de que a lei ordinária é inconstitucional para regulamentar a imunidade.
Mais recentemente, em fevereiro de 2021, o STF, ao apreciar os embargos de declaração da ADI nº
4.480, julgou e ratificou o entendimento anterior, no sentido da inconstitucionalidade de diversos
dispositivos da Lei nº 12.101/2009 que condicionavam contrapartidas para fruição da imunidade
das contribuições sociais das entidades atuantes na área de educação e/ou assistência social, já que
somente lei complementar poderia regular os requisitos para fruição da imunidade tributária tendo
em vista limitação constitucional ao poder de tributar constante do art. 146, II, da Lei Maior.

Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Direito Tributário. 3. Artigos 1º; 13,


parágrafos e incisos; 14, §§ 1º e 2º; 18, §§ 1º, 2º e 3º; 29 e seus incisos; 30; 31 e 32,
§ 1º, da Lei 12.101/2009, com a nova redação dada pela Lei 12.868/2013, que
dispõe sobre a certificação das entidades beneficentes de assistência social
e regula os procedimentos de isenção de contribuições para a seguridade
social. 4. Revogação do § 2º do art. 13 por legislação superveniente. Perda
de objeto. 5. Regulamentação do § 7º do artigo 195 da Constituição

442 Caderno de novidades legislativas


DIREITO TRIBUTÁRIO
Federal. 6. Entidades beneficentes de assistência social. Modo de atuação.
Necessidade de lei complementar. Aspectos meramente procedimentais.
Regramento por lei ordinária. 7. Precedentes. ADIs 2.028, 2.036, 2.621 e
2.228, bem como o RE-RG 566.622 (tema 32 da repercussão geral). 8. Ação
direta de inconstitucionalidade parcialmente conhecida e, nessa parte,
julgada parcialmente procedente para declarar a inconstitucionalidade do
art. 13, III, § 1º, I e II, § 3º, § 4º, I e II, e §§ 5º, 6º e 7º; art. 14, §§ 1º e 2º; art. 18, caput;
art. 31; e art. 32, § 1º, da Lei 12.101/2009, com a nova redação dada pela Lei
12.868/2013 (ADI nº 4.480, rel. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgado em
27.03.2020, DJe 15.04.2020).

Alternativa B: Incorreta. A entidade que atue em mais de uma dessas áreas deverá manter
escrituração contábil segregada por área, de modo a evidenciar as receitas, os custos e as despesas de
cada atividade desempenhada (art. 6º, § 2º, da LC nº 187/2021), mas será dispensada da comprovação
dos requisitos específicos exigidos para cada área não preponderante, desde que o valor total dos
custos e das despesas nas áreas não preponderantes, cumulativamente, não supere 30% (trinta por
cento) dos custos e das despesas totais da entidade e não ultrapasse o valor anual fixado, nos termos
do regulamento, para as áreas não preponderantes (art. 35, § 3º, da LC nº 187/2021).

Art. 6º (...)

§ 1º A entidade que atue em mais de uma das áreas a que se refere o art.
2º desta Lei Complementar deverá manter escrituração contábil segregada
por área, de modo a evidenciar as receitas, os custos e as despesas de cada
atividade desempenhada.

Art. 35. (...)

§ 3º No caso em que a entidade atue em mais de uma das áreas a que se


refere o art. 2º desta Lei Complementar, será dispensada a comprovação dos
requisitos específicos exigidos para cada área não preponderante, desde
que o valor total dos custos e das despesas nas áreas não preponderantes,
cumulativamente: (...)

Alternativa D: Incorreta. A validade dos certificados concedidos nos termos da LC nº 187/2021


será de três anos, contado da data da publicação da decisão de deferimento no DOU, com efeitos
retroativos à data de protocolo do requerimento para fins tributários (art. 36 da LC nº 187/2021).

443 Caderno de novidades legislativas


DIREITO TRIBUTÁRIO
Art. 36. O prazo de validade da concessão da certificação será de 3 (três) anos,
contado da data da publicação da decisão de deferimento no Diário Oficial
da União, e seus efeitos retroagirão à data de protocolo do requerimento
para fins tributários.

Alternativa E: Incorreta. Nos termos do art. 37, § 1º, da LC nº 187/2021, “será considerado
tempestivo o requerimento de renovação da certificação protocolado no decorrer dos 360 (trezentos
e sessenta) dias que antecedem a data final de validade da certificação”.

3. Medida Provisória (MP) nº 1.079/2021 – Tributos em regimes


especiais de drawback

3.1. Ficha normativa

MP Nº 1.079/2021
Ementa: Dispõe sobre a prorrogação excepcional de prazos de isenção, de redução a zero
de alíquotas ou de suspensão de tributos em regimes especiais de drawback.

Data de publicação: 15.12.2021


Início de vigência: 15.12.2021
Link do texto normativo: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/
mpv/mpv1079.htm>
Destaques:
• Prorroga por mais um ano os prazos de isenção ou de redução a zero de alíquotas de
tributos previstos nos atos concessórios do regime especial de drawback  de que trata
o art. 31 da Lei nº 12.350/2010.

• Prorroga por mais um ano os prazos de suspensão de tributos previstos nos atos
concessórios do regime especial de drawback de que trata o art. 12 da Lei nº 11.945/2009.

3.2. Comentário

Em 15.12.2021, foi publicada a MP nº 1.079 com início imediato de vigência.

De acordo com sua ementa, a medida provisória “dispõe sobre a prorrogação excepcional de
prazos de isenção, de redução a zero de alíquotas ou de suspensão de tributos em regimes especiais
de drawback”.

444 Caderno de novidades legislativas


DIREITO TRIBUTÁRIO
Com relação aos prazos de isenção ou de redução a zero de alíquotas de tributos previstos
nos atos concessórios do regime especial de drawback de que trata o art. 31 da Lei nº 12.350/2010,
dispõe o art. 2º  da medida provisória que poderão ser prorrogados, em caráter excepcional, por
mais um ano, contado da data do termo das respectivas prorrogações, na hipótese de terem sido
prorrogados:

I – por um ano pela autoridade competente; ou

II – na forma prevista no art. 2º da Lei nº 14.060, de 23 de setembro de 2020,


e que tenham termo no ano de 2021.

Já em relação aos prazos de suspensão de tributos previstos nos atos concessórios do regime
especial de drawback de que trata o art. 12 da Lei nº 11.945/2009, o art. 3º da medida provisória
dispõe que poderão ser prorrogados, em caráter excepcional, por mais um ano, contado a partir da
data do termo das respectivas prorrogações caso tenham na hipótese de terem sido prorrogados:

I – por um ano pela autoridade competente; ou

II – na forma prevista no art. 2º da Lei nº 14.060, de 2020, e que tenham


termo no ano de 2021.

Ademais, a MP nº 1.079/2021 deu nova redação aos arts. 1º e 2º da Lei nº 14.060/2020, que
prorrogava os prazos de suspensão de pagamentos de tributos previstos nos atos concessórios do
regime especial de drawback que tenham sido prorrogados por um ano pela autoridade fiscal e que
tenham termo em 2020:

Art. 4º A Lei nº 14.060, de 2020, passa a vigorar com as seguintes alterações:

“Art. 1º Esta Lei prorroga os prazos de isenção, de redução a zero de


alíquotas ou de suspensão de tributos previstos nos atos concessórios do
regime especial de drawback que tenham sido prorrogados por um ano
pela autoridade fiscal e que tenham termo em 2020. (NR)

Art. 2º Os prazos de isenção, de redução a zero de alíquotas ou de suspensão


do pagamento de tributos previstos nos atos concessórios do regime
especial de drawback de que tratam os art. 31 da Lei nº 12.350, de 20 de
dezembro de 2010 e art. 12 da Lei nº 11.945, de 4 de junho de 2009, que
tenham sido prorrogados por um ano pela autoridade fiscal e que tenham
termo em 2020 poderão ser prorrogados, em caráter excepcional, por mais
um ano, contado da data do respectivo termo.” (NR)

445 Caderno de novidades legislativas


DIREITO TRIBUTÁRIO
3.3. Questão inédita comentada

De acordo com a MP nº 1.079/2021, os prazos de isenção, de redução a zero de alíquotas ou de


suspensão de tributos em regimes especiais de drawback:

A) Não poderão ser prorrogados.

B) Poderão ser prorrogados por mais dois anos, na hipótese de terem sido prorrogados pela
autoridade competente.

C) Poderão ser prorrogados por mais um ano, na hipótese de terem sido prorrogados por um ano
pela autoridade competente.

D) Poderão ser prorrogados por até cinco anos.

E) Poderão ser prorrogados por três anos.

Alternativa correta: letra C. Os arts. 2º e 3º da MP nº 1.079/2021 autorizaram a prorrogação


excepcional de prazos de isenção, de redução a zero de alíquotas ou de suspensão de tributos em
regimes especiais de drawback, por mais um ano, na hipótese de terem sido prorrogados, por um
ano pela autoridade competente; ou na forma prevista no art. 2º da Lei nº 14.060, de 2020, e que
tenham termo no ano de 2021.

Art. 2º Os prazos de isenção ou de redução a zero de alíquotas de tributos


previstos nos atos concessórios do regime especial de drawback de que
trata o art. 31 da Lei nº 12.350, de 20 de dezembro de 2010, poderão ser
prorrogados, em caráter excepcional, por mais um ano, na hipótese de
terem sido prorrogados:

I – por um ano pela autoridade competente; ou

II – na forma prevista no art. 2º da Lei nº 14.060, de 23 de setembro de 2020,


e que tenham termo no ano de 2021.

Parágrafo único. O prazo de um ano de prorrogação excepcional de que


trata o caput será contado da data do termo das respectivas prorrogações.

Art. 3º Os prazos de suspensão de tributos previstos nos atos concessórios


do regime especial de drawback de que trata o art. 12 da Lei nº 11.945, de 4
de junho de 2009, poderão ser prorrogados, em caráter excepcional, por
mais um ano, caso tenham na hipótese de terem sido prorrogados:

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DIREITO TRIBUTÁRIO
I – por um ano pela autoridade competente; ou

II – na forma prevista no art. 2º da Lei nº 14.060, de 2020, e que tenham


termo no ano de 2021.

Parágrafo único. O prazo de um ano de prorrogação excepcional de


que trata o caput será contado a partir da data do termo das respectivas
prorrogações.

Demais alternativas:

Alternativa A, B, D e E: Incorretas. Os arts. 2º e 3º da MP nº 1.079/2021 autorizou a prorrogação


excepcional de prazos de isenção, de redução a zero de alíquotas ou de suspensão de tributos em
regimes especiais de drawback, por mais um ano, na hipótese de terem sido prorrogados, por um
ano pela autoridade competente; ou na forma prevista no art. 2º da Lei nº 14.060, de 2020, e que
tenham termo no ano de 2021.

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