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FÍSICA II

MÓDULO III:
INTRODUÇÃO À
RELATIVIDADE ESPECIAL

4302112 — IF/USP — PROF. RAUL ABRAMO


MÓDULO III/AULA 11 - 23/09/2020

Plano:
Aula 11: Noções Gerais (BERK Cap. 10, FEYN Cap. 15) Aula 13: Dinâmica Relativística I (BERK Cap. 12, FEYN Cap. 16) 
• A velocidade da luz e o experimento de Michelson-Morely • Efeito Doppler Relativístico
• O principio da relatividade de Einstein • Momento Linear na Relatividade
• Massa Inercial
• Conservação do Momento e Energia na Relatividade

Aula 12: Transformações de Lorentz (BERK Cap. 11, FEYN Cap. 15


e 16)  Aula 14: Dinâmica Relativística II (BERK Cap. 13, FEYN Cap. 17) 
• Transformações de Galileu e Lorentz • Invariantes Relativísticos
• Noção de Invariância e Covariância • Noção de Quadrivetores
• Simultaneidade, dilatação do tempo, contração do • Aplicações de Dinâmica Relativística
comprimento
• Adição de Velocidades
Aula 15:  Espaço-Tempo (FEYN Cap. 17, Notas de Aula)
• A geometria do Espaço-Tempo
• Intervalos de Espaço-Tempo
Física II / Aula 11 / Prof. Raul Abramo

AULA 11 - 23/09/2020

• O que é a Relatividade Especial? • A invariância da velocidade da luz

• Luz: ondas… de quê? O “éter • O Princípio da Relatividade


luminífero"

• O experimento de Michelson-Morley
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O QUE É, AFINAL, A RELATIVIDADE ESPECIAL?

• No meio/final do Séc. XIX a nossa compreensão


sobre o Eletromagnetismo avançou dramaticamente,
em particular a descoberta (de James Clerk Maxwell)
de que a luz é uma onda eletromagnética.

• No final do Séc. XIX, Michelson e Morley


demonstraram que a luz se propaga a uma
velocidade constante, independente dos
movimentos da fonte de luz e do observador.

• Essa propriedade fundamental da luz (verificada com


extrema precisão desde então) implica na
relativização das distâncias e intervalos de tempo.

• A teoria que realiza essa relatividade do tempo e do


espaço em termos de leis físicas chama-se
Relatividade Especial.
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A LUZ E O ÉTER LUMINÍFERO

• Em 1865 Maxwell unificou a Eletricidade e o Magnetismo num só


campo - campo eletromagnético.

• De quebra, ele descobriu que a que a luz é uma onda


eletromagnética, ou seja, são campos elétricos e magnéticos que
se propagam livremente, com uma velocidade:

1
c = = 2,998 × 108 m s−1
ϵ0 μ0

• Porém até essa época ondas eram entendidas como perturbações


de um meio, que se propagam devido às propriedades e
interações desse meio: pressão, densidade, elasticidade etc.

• De fato, um meio que servisse de substrato para a a luz já havia


sido proposto por René Descartes (1596-165) e Robert Hooke
(1635-1703), entre outros.

• Mas foi a partir da descoberta de Maxwell que a descoberta do


éter luminífero passou a ser uma obsessão dos físicos: ele seria
uma nova forma de matéria, com propriedades incríveis!
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A LUZ E O ÉTER LUMINÍFERO

• Mas esse meio cujas ondas seria a luz, o éter, seria realmente necessário? Será que os
campos eletromagnéticos não se bastam?

• Um meio pressupõe que existe algum tipo de substância, um fluido, feito de alguma
coisa. Esse fluido deveria estar em algum lugar (ou em todos os lugares!), ocupando
um certo espaço, e deveríamos poder detectar a sua presença — ou ao menos o nosso
movimento ao nos deslocar dentro desse fluido.

• Porém, logo após Maxwell descobrir o Eletromagnetismo, vários cientistas (entre eles
Hendrik Lorentz (1853-1928) mostraram que as ondas eletromagnéticas não se
comportavam como ondas “normais”, mecânicas:

Ondas mecânicas ⟺ Mecânica clássica ⟺ Invariância por transf. de Galileu

X
Ondas de luz ⟺ Eletromagnetismo ⟺ ???

• Transformações de Galileu: {t, x, y, z} → {t′, x′, y′, z′} = {t, x − vt , y, z}

v⃗
x x′
2 2
∂ F 2 ∂ F
• Equação de onda: − cs =0 , onde cs é a velocidade da onda.
∂t 2 ∂x 2
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LUZ, ONDAS E O ÉTER LUMINÍFERO

• Note que a equação de ondas não é invariante sob transformações de Galileu:


✓ ◆ ✓ ◆
0 0 t0 1 0
(@/@t @/@x ) ⌦ =
Como x → x′ = x − vt e t → t′ = t , temos que: <latexit sha1_base64="dmzN3XVYW4uwVO8xRltKPXqwW0w=">AAACrXicdVFdb9MwFHXCgBG+ynjkxaKCDYQ6p3RaEUKqxAuPRaLboC6V496k1hwnsh1EFfXf8Qt4499wk3biQ91VbB2de8+J771JqZXzjP0Kwht7N2/d3r8T3b13/8HDzqODM1dUVsJEFrqwF4lwoJWBiVdew0VpQeSJhvPk8n2TP/8G1qnCfPKrEma5yIxKlRQeqXnnB9eQ+qOIl8J6JfTxFaD+kFL+tvl2JL8fRtyqbOlfRLzwKgeHVVunBDJlamGtWK1ruY7QiPOoUYBZbPk/6lfRO7yuU6M8ps8paxwYgpjucpl3uqzXP2WDNwPagHjIhi04GSCIe6yN7miPtDGed37yRSGrHIyXWjg3jVnpZ3XTnNSAvpWDUshLkcEUoRHY4Kxup72mz5BZ0LSweIynLfu3oha5c6s8wcpc+KX7P9eQu3LTyqfDWa1MWXkwcvOjtMJNFLRZHV0oC9LrFQIhrcK3UrkUVkiPC45wCFed0uvBWb8Xv+71Pw66I7aZBtknT8hTckRickpG5AMZkwmRwctgHHwOvoTH4STk4ddNaRhsNY/JPxFmvwFr98wt</latexit>
x0 0 1

✓ ◆ ✓ ◆✓ ◆
t0 1 0 t
=
x0 v 1 x
<latexit sha1_base64="jiE3bgjGWBHybASQlknSzeeDjhU=">AAAClnicdVHfSxtBEN47bdXrD6O+FPqyNLRaqGEvRowPLaFS2scIRoVcCHubuWRxb+/YnRPDkT/Jf8Y3/5vuXSy0JQ4sfHzffDOzM3GupEXGHj1/bf3Fy43NreDV6zdvtxs7u5c2K4yAgchUZq5jbkFJDQOUqOA6N8DTWMFVfHNW6Ve3YKzM9AXOcxilfKplIgVHR40b9zRSkOBBEMUwlbrkxvD5ohSLAPcpjaLgbj+IQE+ehCAycjrDz8HXYLXPGUP6ibLKenjrUEhX+qMvzxRwjeu2K13jRpO12iesc9qhFQi7rFuD444DYYvV0eytkzr648ZDNMlEkYJGobi1w5DlOHJlUQoFrnBhIefihk9h6KDmKdhRWa91QT86ZkKTzLinkdbs346Sp9bO09hlphxn9n+tIldpwwKT7qiUOi8QtFg2SgpFMaPVjehEGhCo5g5wYaSblYoZN1ygu2S1hD8/pc+Dy3YrPGq1zzvNHltug2yS9+QDOSAhOSE98ov0yYAIb8879b57Z/47/5v/w/+5TPW9J88e+Sf8/m+5q8Tm</latexit>

✓ ◆ 1 ✓ ◆
1 0 1 0
) (@/@t0 @/@x0 ) = (@/@t @/@x) = (@/@t @/@x)
v 1 v 1
<latexit sha1_base64="85FnLzTjg0BeqhusPcOZ0TV1ZKw=">AAADTXicvVLPb9MwFHaywUb41Y0jF4sKNqStJKXTiiakSlw4DkS3SXWpHOelteY4wXYGVdR/kAsSN/4LLhxACGGnK7/UXnmKrU/ve+/L56cXF4JrE4afPH9t/crVjc1rwfUbN2/dbmxtn+i8VAz6LBe5OoupBsEl9A03As4KBTSLBZzG588cf3oBSvNcvjLTAoYZHUueckaNTY22PEZe8vHEUKXyt5i8KWmCiYDU7AakoMpwKh4tADY7GJMj9y0h3+0ERDmphwE5Cp66a7XQXGaZym+RvV/9MYy5rKxFOp1VjM2CCD/AISYk2L+wKLJ2QCaXBQuB19V+NHMq1soe/g9eVlsZNZphq30Ydp50sANRN+zW4KBjQdQK62j21lEdx6PGR5LkrMxAGiao1oMoLMywcr6YAKtbaigoO6djGFgoaQZ6WNXbMMP3bSbBaa7skQbX2T87KpppPc1iW5lRM9H/ci65jBuUJu0OKy6L0oBk8x+lpZ1gjt1q4YQrYEZMLaBMcesVswlVlBm7gIEdwuKleDU4abeix632i06zF86ngTbRXXQP7aIIHaIeeo6OUR8x77332fvqffM/+F/87/6PeanvXfbcQX/F2sZPzeUEUA==</latexit>

<latexit sha1_base64="mB+xOLgB4aPT0Wp6CLeqxXIKpxQ=">AAAChnicfVFdS8MwFE07P2b9mvroS3CIilLbbbKJCANffJziVFjHuM2yLSz9MEl1Y/hT/FO++W9MOwWVzQsJh3PuPUlO/JgzqRznwzBzC4tLy/kVa3VtfWOzsLV9L6NEENokEY/Eow+SchbSpmKK08dYUAh8Th/84VWqPzxTIVkU3qlxTNsB9EPWYwSUpjqFN++W9QcKhIhesPeUQBdbXgxCMeCn3wCrA81eWJfpNkPFx/h5Bj+ypoYn841HB//4jqxOoejYpapTOa/gFLg1p5aBs4oGru1kVawvoKwancK7141IEtBQEQ5StlwnVu1Jakg4fbW8RNIYyBD6tKVhCAGV7UkW4yve10wX9yKhV6hwxv6cmEAg5TjwdWcAaiD/aik5S2slqldrT1gYJ4qGZHpQL9HBRTj9E9xlghLFxxoAEUzfFZMBCCBK/1wawvdL8XxwX7Ldsl26qRTrzjQNlEe7aA8dIhdVUR1dowZqImLkjCOjZJTNvGmbZ2Z12moaXzM76FeZ9U9mrb8c</latexit>
) @/@t0 = @/@t + v@/@x , @/@x0 = @/@x

@2 @2 @ @ 2 @
2
@2 @2
) = + 2v +v , =
<latexit sha1_base64="j0ZYP0/Zbq1k33MZ8uV0tvFwE8g=">AAADAnicjVLPTxNBFJ5dAXEVLHox8fJiYySBNLtrDTXGpAkXj2AskHRL83Y6206Y/eHMbG2zabz4r3jxACFe/Su48d8wuxWCRAgvmcn33vvmvW/eTJgJrrTrnlv2g4XFpYfLj5zHT1ZWn9bWnu2pNJeUdWgqUnkQomKCJ6yjuRbsIJMM41Cw/fBou8zvj5lUPE2+6GnGejEOEx5xitqE+mvWi+AzH440Spl+g+BrjgNwgkgiLYIMpeYoDv3ZFQb9xrhO8MH5WG53EY0HG+DD+AbrOmcGt+YmM2cDxoc+3NFjUmmpNG/eQ/vkvtqruv1a3W34W27zfRNK4LXcVgXeNQ3wGm5l9fYCqWynXzsLBinNY5ZoKlCprudmuleUNalgpnGuWIb0CIesa2CCMVO9onrCGbw2kQFEqTQr0VBFr58oMFZqGoeGGaMeqZu5Mvi/XDfXUatX8CTLNUvovFGUm9mnUP4HGHDJqBZTA5BKbrQCHaEZjTa/phzC5U3hdrDnN7y3DX+3WW+782mQZfKSvCLrxCNbpE0+kR3SIdT6bv20jq0T+4f9yz61f8+ptvX3zHPyj9l/LgCZifMf</latexit>
@t02 @t2 @t @x @x2 @x02 @x2

• Assim, fica evidente que a equação de onda (uma consequência direta das
Equações de Maxwell) não é invariante sob transformações de Galileu!

• Lorentz chegou a propor que as leis do eletromagnetismo tivessem a forma das


Equações de Maxwell apenas no referencial que estivesse em repouso com relação
ao éter. Ou seja, se fizéssemos experimentos utilizando apetrechos em movimento
com relação ao éter, deveríamos observar efeitos desse movimento, tais como a
mudança da velocidade da luz medida nesses experimentos.
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LUZ, ONDAS E O ÉTER LUMINÍFERO

• Essas descobertas e avanços na compreensão


do eletromagnetismo dispararam uma corrida
para detectar os efeitos observacionais do
éter luminífero.

• O físico Albert Michelson, em particular,


despontou com uma proposta simples e
elegante para tentar detectar o movimento
da Terra em torno do Sol.

• Michelson bolou um instrumento chamado


interferômetro de Michelson, que ele depois
aperfeiçoou com a colaboração de Edward
Morley, culminando no experimento de
Michelson-Morley em 1887.
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O EXPERIMENTO DE MICHELSON-MORLEY

• O conceito básico do experimento de MM é muito simples: um


feixe de luz é separado em dois, e depois ele é recombinado:

• Os dois feixes andam por caminhos diferentes e, ao serem


recombinados, a superposição das duas ondas resulta num padrão
de interferência:

ONDA “PLANA" PADRÃO MAIS


(SIMPLIFICADO) REALÍSTICO
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O EXPERIMENTO DE MICHELSON-MORLEY

• O experimento de MM tem a seguinte configuração:

Separador Espelhos
de feixes
L2

L1

Terra em torno do Sol: VTS ≃ 3. × 104 m s−1


Rotação da Terra: VROT ≃ 340 m s−1

Velocidade do Sistema Solar na galáxia:


VGAL ≃ 2,4 × 105 m s−1
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O EXPERIMENTO DE MICHELSON-MORLEY

v⃗
• Com tais velocidades, certamente Michelson e Morley deveriam
L2
ter detectado algum efeito.

• Vamos supor primeiro que o aparato de MM se move com L1


relação ao “éter" a uma velocidade v alinhada com o braço de
comprimento L1.

• Vamos calcular o tempo que a luz leva do separador de feixes


até o espelho, e de volta até o separador.

Na ida, o espelho está se afastando com velocidade v


v⃗

• Na volta, o separador se aproxima com velocidade v

• Portanto, o tempo total entre o feixe sair e voltar ao separador é:

L1 L1 2 L1 c 2L1 1
T1 = + = =
c−v c+v (c − v)(c + v) c 1 − v 2 /c 2
2 L1 c 2L1 1
= =
(c − v)(c + v) c 1 − v 2 /c 2
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O EXPERIMENTO DE MICHELSON-MORLEY

• Ainda nessa configuração (de velocidade paralela ao braço L1) L2


vamos calcular o tempo que o feixe demora para fazer o outro
percurso, do separador até o segundo espelho, pelo caminho de
comprimento L2 . L1

• Nesse caso, a configuração é um pouco mais interessante:

v⃗
Espelho v⃗
cΔt
L2 ⇒ v 2Δt 2 + L22 = c 2Δt 2
Separador
de feixes

vΔt
• Portanto, o tempo total entre o feixe sair e voltar ao separador é:

L2 2 L2 1
T2 = 2Δt = 2 =
c2 − v2 c 1 − v 2 /c 2
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O EXPERIMENTO DE MICHELSON-MORLEY

• Portanto, logo após o feixe de luz ser separado, cada um dos feixes viaja
por intervalos de tempo:
L2

2L1 1 2 L2 1
T1 = , T2 =
c 1 − v 2 /c 2 c 1 − v 2 /c 2 L1

• Assim, a diferença de tempo entre um feixe e outro é:

2L1 1 2L2 1
ΔT = T1 − T2 = −
c 1 − v 2 /c 2 c 1 − v 2 /c 2
v⃗
1 − v 2 /c 2 [ ]
2 1 L1
⇒ ΔT = − L2
c 1 − v 2 /c 2

• Agora, vamos supor que aguardemos algumas horas até que a Terra gire (ou,
L2
se não quisermos aguardar, podemos girar nosso aparato), de forma que a
velocidade seja agora paralela ao braço L2 . Temos então, trocando os
papéis dos braços paralelo/perpendicular:
L1
2L1 1 2 L2 1
T′1 = , T′2 =
v⃗
c 1− v 2 /c 2 c 1 − v 2 /c 2

[ 1 − v 2 /c 2 ]
2 1 L2
⇒ ΔT′ = T′1 − T′2 = L1 −
c 1− v 2 /c 2
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O EXPERIMENTO DE MICHELSON-MORLEY

• Portanto, a diferença entre as duas configurações (velocidade do aparato paralela


L2
a L1 ou paralela a L2) significa uma diferença entre os intervalos de tempo para L1
recombinar os dois feixes:

1 − v 2 /c 2 [ 1 − v 2 /c 2 ]
2 1 L1 L2
δT = ΔT − ΔT′ = − L2 − L1 +
c 1 − v 2 /c 2
3−5 −1
v⃗
• Note que a velocidade v é muito menor que a velocidade da luz (v ∼ 10 ms ,
enquanto c ≃ 3. × 108 m s−1), portanto podemos aproximar:

1 1 v2
≃1+ + 𝒪(v 4 /c 4) , e assim temos:
1 − v 2 /c 2 2c 2

L1 + L2 v 2
δT ≃ +… [Note que δT depende de L1 + L2 !]
c c 2

• Agora, note que esse intervalo de tempo significa também uma diferença de
“franjas" no padrão de interferência da luz após ela ser recombinada:

δT δT
δn = =
ν c/λ

• Para luz de um laser vermelho, λ ≃ 660 nm = 6,6 × 10−7 m , e assim temos:

L1 + L2 v 2
δn ≃
λ c2
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O EXPERIMENTO DE MICHELSON-MORLEY

• No seu experimento, MM usaram um aparato montado


sobre uma cama de mercúrio líquido, que permitia que
eles girassem todo o experimento com o mínimo de
distúrbios.

• A precisão do experimento era suficiente para medir


uma diferença de franjas de no mínimo δn ≲ 0.01 ,
enquanto que o esperado (usando apenas a velocidade
da Terra em torno do sol como referência) era de
δn ≃ 0.33 ! Mas eles não detectaram NADA!

• OK, então a luz não é afetada por movimentos em


relação ao éter?

• Mas a luz não seria justamente ondas do éter?…

• O experimento de MM demonstrou que a noção de


que a luz seriam ondas de éter não se sustentava.
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A MORTE MORRIDA DO ÉTER

• Apesar de ser um resultado muito forte, ainda se pensou


em algumas “salvações" para o éter: por exemplo,
poderíamos imaginar que a Terra arrastaria consigo, no
seu movimento ao redor do Sol, uma “bolha" de éter.
Assim, ao fazer experimentos na Terra, estaríamos sempre
em repouso com relação ao éter da nossa “bolha".

• Porém, essa explicação não se sustenta, por alguns


motivos:

A. O éter deveria ser um meio muito rígido — afinal, a


velocidade da luz é muito alta

B. Se a Terra arrastasse consigo o éter, isso acabaria com


a explicação para o fenômeno astronômico conhecido
como aberração

• Aberração é um movimento cíclico, muito sutil, que as


estrelas fazem no céu ao longo do ano
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A ABERRAÇÃO

• É muito fácil entender de onde vem a aberração: pense em como você enxerga
a chuva de dentro de um carro em movimento.

• Agora pense em como observamos a luz de uma estrela distante desde uma
Terra que se move, e cujo movimento vai se alterando ao longo do ano.
Suponha que a posição de uma certa estrela esteja num ângulo real α com o
zênite, tal que tan α = c|| /c⊥.

• Se a Terra se move com velocidade v, o ângulo aparente será tal que: c||
c|| + v v
tan α′ = = tan α + c α c⊥
c⊥ c⊥
v v
⇒ tan α′ − tan α = =
c⊥ c cos α

• Para ângulos α pequenos temos que tan α ≃ α, cos α ≃ 1, e assim:

v c|| + v
α′ − α ≃
c

• Ao longo do ano a velocidade v da Terra muda de direção (a estrela não!!), e a α′ c⊥


posição aparente da estrela faz um pequeno círculo no céu, de raio
δα = v/c = 20′′ , onde v é exatamente a velocidade de rotação da Terra em
torno do Sol. (Esse efeito foi descoberto pelo astrônomo James Bradley em
1727.)
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A ABERRAÇÃO

• Não é muito difícil ver que o efeito da


aberração das estrelas é incompatível com a
idéia de que a Terra arrastaria uma "bolha"
de éter consigo.

• Se fosse assim, não haveria aberração, ou o


efeito seria totalmente diferente do
observado.
X
• Outras explicações ainda menos “felizes"
foram tentadas para buscar explicar como o
experimento de Michelson-Morley poderia
ser consistente com a existência do Éter.
Nenhuma prosperou.
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O OCASO DO ÉTER LUMINÍFERO

• No final do Séc. XIX a Física se encontrava num lugar muito


desconfortável. Por um lado, o Eletromagnetismo era não
apenas uma das mais belas teorias físicas, mas permitiu uma
revolução tecnológica e industrial como nunca antes na
história da humanidade. Ela funcionava — perfeitamente.

• Por outro lado, nenhum experimento havia sido capaz de


detectar qualquer evidência da existência do meio no qual
deveriam “viver" os campos eletromagnéticos — o “éter
luminífero”.

• E de fato, segundo vários físicos da época apontaram, o


Eletromagnetismo de Maxwell não necessitaria do éter.

• Mas se o éter não existe, então como explicar o


comportamento da luz? Em particular, como explicar que,
em todos os experimentos conduzidos (até hoje!) a luz
sempre se propaga no vácuo à mesma velocidade
c = 2,998 × 108 m s−1 . Como isso seria possível???
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O PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE

• Assim, no final do Séc. XIX a Física estava tateando, buscando por


uma saída de uma posição insustentável.

• Um dos grandes cientistas dessa era, o físico, matemático e filósofo


Henri Poincaré, assistia o desenrolar dessas descobertas e tentava
fazer sentido de tudo aquilo:

✴ 1899: “É muito provável que os fenômenos ópticos dependam


apenas do movimento relativo dos corpos materiais, fontes
luminosas e aparatos ópticos”

✴ 1900: “O éter existe, de fato? Eu não creio que observações mais


precisas vão jamais revelar nada além de movimentos relativos.”

✴ 1904: “As leis dos fenômenos físicos devem ser as mesmas, tanto
para um observador “fixo" quanto para um outro que possua um
movimento relativo uniforme em relação ao primeiro”

✴ 1904: “De todos esses resultados deve emergir um tipo


inteiramente novo de dinâmica, que será caracterizada
sobretudo pela lei de que nenhuma velocidade relativa pode
exceder a velocidade da luz.”
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O PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE

• Nesse momento entra nessa história o físico


alemão Albert Einstein (1879-1955). Ele tinha
apenas 26 anos em 1905 — muito mais jovem do
que Lorentz, Michelson, Poincaré e outros
“grandes" nomes da Física da época.

• Einstein seguia com grande atenção o debate que


se desenvolvia na Física em torno do Éter, em
particular a significância dos experimentos de
Michelson e Morley.

• Mas além de sua juventude, Einstein tinha uma


outra grande vantagem sobre os outros grandes
físicos da época: durante sua adolescência, Einstein
era fã de livros de ficção científica, em particular
dos autores Felix Eberty e Aaron Bernstein.
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O PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE

• Em um livro de 1846, Eberty imaginava o que


aconteceria se pudéssemos viajar mais rápido do
que a velocidade da luz. Ele conjecturou que
poderíamos correr até uma estrela próxima e
observar eventos do passado.

• Bernstein foi além, e imaginou um “serviço postal”


que, usando um transporte mais rápido do que a
luz, seria capaz de enviar mensagens ao passado.

• Einstein se inspirava nessas imagens e cenários


ficcionais para imaginar como seria perseguir um
raio de luz.
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O PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE

• Mas Einstein sabia que viajar ao passado viola não apenas a


Física — viola a própria Lógica.

• Portanto, não poderia ser possível que corpos materiais atinjam


velocidades iguais ou superiores à velocidade da luz.

• Agora, junte essa exigência ao resultado de MM, que indica a


irrelevância do éter, e a impossibilidade de se medir quaisquer
velocidades relativa à velocidade da luz.

• Assim, em 1905 Einstein junta esses elementos e propõe o seu


Princípio da Relatividade, em termos de dois postulados:

Todas as leis físicas têm a mesma expressão em qualquer


referencial inercial, não sendo nenhum referencial preferido
com relação a um outro qualquer.

A velocidade da luz (c) é a mesma em qualquer referencial,


independente da direção de propagação ou das velocidades
relativas das fontes emissoras e dos observadores.
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O PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE

• É claro que esse "Princípio da Relatividade”


era algo que estava vagamente “no ar” no
início do Séc. XX, e Poincaré chegou muito
perto de enunciar algo muito semelhante.

• Mas Einstein destilou aquilo que era


essencial, e colocou em prática esse
princípio, em termos de uma série de leis
físicas que dizem respeito às próprias noções
de espaço e tempo.

• O resultado foi a Teoria da Relatividade


Especial, que vamos derivar partindo do
Princípio da Relatividade na próxima aula.

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