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CASAL, INTIMIDADE, RELAÇÕES CONJUGAIS E

EXTRACONJUGAIS

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Sumário

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................... 3

2. INTIMIDADE ........................................................................................... 6

3. RELAÇÃO CONJUGAL ........................................................................ 12

3.1 A Relação Conjugal nos Dias Atuais ............................................. 18


4. RELAÇÕES EXTRACONJUGAIS ........................................................ 20

4.1 Como Definir as Relações Extraconjugais .................................... 22


Infidelidade emocional ............................................................................. 23

Infidelidade sexual ................................................................................... 23

Infidelidade mista ..................................................................................... 23

4.2 As Relações Extraconjugais Segundo a Psicanálise .................... 24


Motivos para trair ..................................................................................... 24

Quem ama trai ......................................................................................... 24

O papel da insegurança nas relações extraconjugais .............................. 24

Homem versus mulher ............................................................................. 25

Outro ponto de vista................................................................................. 25

Poliamor .................................................................................................. 26

5. A SEXUALIDADE E INTIMIDADE NO CASAMENTO .......................... 26

6. O CICLO VITAL DO CASAL DE LONGA DURAÇÃO .......................... 29

6.1 Vivência do Relacionamento Sexual nos Casamentos de Longa


Duração............................................................................................... 31
7. SATISFAÇÃO SEXUAL ........................................................................ 33

7.1 Satisfação Conjugal, a Intimidade e a Satisfação Sexual ........... 39


8. REFERÊNCIAS ......................................................................................... 45

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários,


em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo
serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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1. INTRODUÇÃO

Os seres humanos existem em relação e as relações interpessoais


desempenham um papel central no desenvolvimento humano, facilitando ou
dificultando esse desenvolvimento, e como tal, não se deve hesitar em considerar o
homem como uma matriz de relações. A interação humana é definida como uma série
de mensagens trocadas entre pessoas, e a comunicação refere-se a qualquer
comportamento verbal ou não verbal. Estabelecemos ao longo da vida relações de
natureza diversa, e um dos diversos tipos de relação que se desenvolve e que tem
um grande impacto na vida é a relação amorosa.

Subjacente à relação amorosa está a conjugalidade. A busca de uma união


romântica é um processo que envolve expectativas de satisfação, bem-estar e
felicidade. O casal é visto como um todo, um sistema. Sistema é definido como o
conjunto de elementos em interação de forma que uma modificação num elemento
provoca uma modificação no outro. O casal também faz parte de outros sistemas, os
quais influencia e é influenciado, como a sociedade, comunidade e a família. Segundo
Alarcão (2002) durante o namoro, constroem-se muitos sonhos, iludem-se e
esquecem-se as divergências e os aspectos que menos se gosta no parceiro, ou
“alimenta-se” a ideia omnipotente de que depois do casamento, o outro transforma-
se de acordo com os nossos desejos.

As pessoas organizam as vidas para estarem com o parceiro o máximo de


tempo possível, tempo que nunca chega e depois cria-se a ilusão que depois do
casamento é que vai ser bom. O parceiro é visto como a pessoa mais importante
nesta fase. E assim sendo, o tempo de namoro é mágico, e por isso presta-se a várias
ilusões, a maior das quais é se pensar que conhece bem o parceiro. A imagem do
parceiro ideal, começa a formar-se na infância. A partir da imagem de casal dada
pelos pais, se vai construindo o modelo de relação homem-mulher, através da
vivencia relacional na fratria vai-se afinando o modelo de relação entre pessoas da
mesma geração, como em principio serão os elementos de casal.

Nesta modelação entra ainda em linha de conta o fator pressão social, entre
outros agentes culturais, como o modelo do homem e da mulher na sociedade. Todo
o casal faz-se de um eu, tu e um nós. Cada membro do casal tem uma identidade e

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uma vida própria, e por isso não se podem esquecer que a autonomia, partilha, e
negociação são instrumentos importantes de articulação. Logo, a complementaridade
e adaptação recíproca são aspectos importantes no casal (Alarcão, 2002). O casal
surge quando duas pessoas se comprometem numa relação que pretendem que se
prolongue no tempo. Este tipo de relação está ligado ao sentimento de amor.

O amor é “uma configuração complexa e dinâmica de sentimentos conscientes


por um outro, com um outro, e por um nós em criação”. A teoria triangular do amor
sugere um modelo com três componentes essenciais no relacionamento romântico:
intimidade, paixão e compromisso. Se todos estes tiverem presentes, vive-se um
amor pleno. A paixão inclui atributos cognitivos tais como: pensamento intrusivo,
idealização do outro ou da relação, desejo de conhecer o outro e de ser conhecido;
atributos emocionais, tais como: atração pelo outro, ansiedade, insegurança,
atividade fisiológica intensa e desejo de união completa e permanente; atributos
comportamentais, tais como: estudar o outro, servir o outro, manter proximidade física
e ações para determinar os sentimentos do outro.

A intimidade envolve revelação mútua de informações próprias, escuta recíproca


de confidências, preocupação e cuidados com o outro, amizade, e compreensão
mutua. O compromisso é caracterizado pelo desejo de continuar a relação, e pelo
empenhamento na relação. Segundo Narciso (1994/1995) ao longo do tempo há um
predomínio da intimidade, relativamente à paixão e ao compromisso. O amor abarca
todo um conjunto de sentimentos positivos referenciando a pessoa amada, entre eles:
o carinho, a paixão, a comunicação, a proteção, a intimidade, e o sofrimento. As
relações não são estáticas, unitárias e imutáveis. O amor é como uma forma pura
sujeita a metamorfoses, e estas são afetadas não só pelo desenvolvimento da
experiência conjunta de ser casal, mas também pelo desenvolvimento da experiência
individualizada de cada um.

A metacomunicação é extremamente relevante na vida do casal, é um elemento


necessário à construção e evolução do casal, pois possibilita que os membros do
casal se esclareçam, negociem, ultrapassem conflitos, e liguem-se. A relação
conjugal pressupõe uma relação amorosa íntima e o seu bem-estar e satisfação na
relação são influenciados por diversos fatores, entre os quais a intimidade (física e
emocional) e a sexualidade conjugal, que constituem os pilares fundamentais da
avaliação positiva do estado relacional feito pelo casal. Tendo em conta que a

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satisfação conjugal, a intimidade e a satisfação sexual são considerados como
elementos vitais à relação amorosa, é precisamente sobre estes conceitos que este
estudo vai incidir.

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2. INTIMIDADE

Intimidade é o indivíduo se revelar naquilo que ele tem de mais privado, de mais
íntimo, é desvendar a sua personalidade, as suas emoções e motivações e exprimir
os seus sentimentos íntimos. O que vai de encontro à definição de intimidade, visto
que intimidade vem do latim “intimus” que significa: em relação com o mais interno,
profundo, essencial. Assim sendo, as relações de intimidade são as relações mais
significativas dos indivíduos, pois são revelados aspectos muito privados e interiores,
os quais não são revelados nas interações sociais quotidianas.

A intimidade tem um papel fundamental na relação conjugal pois promove a


continuidade da relação. Segundo Narciso (1994) a intimidade aumenta ao longo do
tempo da relação. Existem várias abordagens e interpretações deste conceito,
contudo, o que parece ser comum a todas é o fato de considerarem que a intimidade
é a exposição de algo privado entre os parceiros, através de uma ação intencional e
de reciprocidade, e também, o fato de considerarem que existe uma relação entre
intimidade e satisfação conjugal, sendo que, quanto maior a intimidade maior a
satisfação conjugal.

Também se considera que quanto maior a intimidade maior satisfação na área


da sexualidade, e quanto mais intimidade maior satisfação na área da comunicação.
De acordo com Gomes (2003), a intimidade, numa perspectiva psicológica, está
associada ao relacionamento conjugal e ao próprio indivíduo (enquanto processo
dinâmico e relacional), e funciona como um elemento de validação, crescimento e
desenvolvimento individual permitindo a autonomização e a diferenciação individual.
Consequentemente, a este conceito está inerente uma dimensão de dupla integração:

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a do compromisso com o outro, e a de individualização (com objetivo de integração e
de adaptação).

Narciso (2002) também menciona diferentes perspectivas acerca deste


conceito: intimidade enquanto qualidade das relações ou enquanto qualidade
individual. Enquanto qualidade das relações, focam-se os comportamentos
interpessoais cujo objetivo é a manutenção de um nível confortável de intimidade.
Enquanto qualidade individual, o foco incide na motivação para procurar experiências
intimas, defendendo que o desejo ou necessidade de proximidade e de afeto é
variável, ou na capacidade para procurar, estabelecer e manter relações intimas; ou
nos processos cognitivos; ou nos sentimentos.

Waring (1988) considera que a intimidade é importante para a qualidade marital


e subentende oito fatores centrais: afetos, expressividade, compatibilidade, coesão,
sexualidade, resolução de conflito, autonomia e identidade. Schaefer & Oslon (1981)
identificaram cinco etapas da intimidade:

 Intimidade emocional (refere-se a experimentar sentimentos de aproximação);


 Intimidade social (refere-se à experiência de ter amigos e atividades sociais
comuns);
 Intimidade intelectual (refere-se à experiência de partilhar ideias);
 Intimidade sexual (refere-se à experiência de partilhar afetos geralmente, na
atividade sexual);
 Intimidade recreativa (refere-se a partilhar experiências recreativas).

Outros autores consideram que a intimidade abarca os seguintes componentes:


amor e afeto, valorização pessoal, confiança, auto revelação e comunicação não
verbal. Gomes (2003) considera dois tipos de intimidade: conjugal e sexual. A
intimidade conjugal é entendida como “…o significado dado a uma interação com
características relacionais de proximidade, consensualidade e nível de profundidade,
relativos a uma informação privada, sobressaindo o valor do significado da
consciência e da intenção dos elementos da interação. ” Como tal, os parceiros têm
um intenso e elevado conhecimento acerca de cada um.

Os fatores cognitivos e comportamentais da interação íntima, possibilitam uma


emocionalidade intensa que é central para a experiência intima, e que,
consequentemente, afeta o comportamento de confiança e a informação que cada

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um adquire acerca do outro. Na intimidade conjugal está subjacente a auto revelação,
sendo que as revelações intensas não podem existir fora do relacionamento, e por
isso tornam-se dentro de uma relação, um comportamento íntimo verbal. Em relação
à intimidade sexual, esta é associada ao envolvimento sexual, devido ao ato sexual
ser considerado como um dos comportamentos mais íntimos.

Faz-se esta consideração porque o comportamento sexual envolve a partilha do


que é privado. As ações e as reações que ocorrem no ato sexual são consideradas
como auto revelações muito íntimas. Logo, o comportamento sexual é encarado
enquanto conceito de auto revelação. A auto revelação permite ao indivíduo obter
conhecimento acerca de si e do outro, e possibilita aos parceiros a coordenação das
ações necessárias para reduzir a ambiguidade das intenções e do significado dos
comportamentos de ambos.

A auto revelação também permite que o indivíduo obtenha feedback sobre si


próprio, o que dá a possibilidade, ao ser conhecido pelo outro, de adquirir aceitação
do autoconceito através do relacionamento íntimo. Neste tipo de intimidade é
relevante enfatizar o que distingue o íntimo de outros tipos de relacionamento, isto é,
a percepção dos parceiros da honestidade e autenticidade do outro, sendo que o
objetivo para relacionamentos íntimos é os parceiros conseguirem a aceitação um do
outro.

Só é possível atingir este objetivo se os indivíduos estiverem dispostos a divulgar


informação pessoal acerca de si próprios. Outra perspectiva sobre o conceito de
intimidade é o de Narciso (2002), que considera que a intimidade tem inerente sete
processos centrais que estão entrelaçados, constituindo um todo uno indivisível:
amor, auto revelação/partilha, apoio emocional, confiança, mutualidade,
interdependência e sexualidade. O amor é considerado pela autora como uma
configuração complexa e dinâmica de sentimentos conscientes por outro. O amor é
considerado como o contorno da intimidade.

Variadas definições de intimidade realçam a ideia de partilhar aquilo que é mais


interior através do auto revelação. Vários estudos revelam que a auto revelação é
maior com as pessoas de quem se gosta e também que a auto revelação aumenta o
gostar do outro. É através deste processo que cada indivíduo se expõe ao outro,
deixando-se conhecer, revelando informações sobre os seus estados pessoais,

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sentimentos, pensamentos, filosofia de vida, história de vida, etc. Na partilha está
subjacente tanto a linguagem verbal como componentes não verbais (olhar, toque,
proximidade física, etc).

Este processo tem um papel fundamental na construção da identidade do casal


pois permitem o desenvolvimento de objetivos, perspectivas, sonhos e decisões em
conjunto, projetando a relação no futuro e é observado através da: qualidade de
comunicação, percepção da expressão de sentimentos, modos de expressão de
sentimentos, queixas relativas à expressão de sentimentos, percepção de
empatia/apoio, percepção da qualidade e quantidade dos tempos livres familiares e
sociais e dos tempos livres exclusivos do casal.

O apoio emocional é um dos principais componentes da intimidade e uma das


fontes fundamentais de bem estar psicológico e de saúde física, visto ser este apoio
emocional que propicia o sentir-se amado, respeitado, valorizado, compreendido, e
sentir o cuidado, a preocupação, a proteção e a atenção dos outros. A empatia,
qualidade de comunicação e identidade do casal são alguns fios fundamentais que
entretecem o apoio emocional. O desenvolvimento da intimidade implica uma relação
baseada na confiança mútua, o que pressupõe uma percepção positiva do parceiro e
da relação e expectativas positivas de eficácia relacional.

Estas últimas três, juntamente com a auto revelação são os fios que entretecem
a confiança. A mutualidade implica o envolvimento comum numa história de vida, um
movimento bidirecional de sentimentos, pensamentos e ações, ou seja uma
identidade de casal elevada. As semelhanças entre os cônjuges podem facilitar a
mutualidade, visto que as semelhanças favorecem a compreensão e aceitação mútua
e o aumento de proximidade. As relações onde existe equidade (equilíbrio percebido
na proporção entre benefícios recebidos e contributos para a relação) parecem ser
marcadas por níveis mais elevados de intimidade psicológica e sexual, tendem a ser
mais estáveis e os parceiros sentem-se mais satisfeitos.

Os fios principais da mutualidade são: a identidade do casal, a equidade, o


ajustamento mútuo, a similitude, o apoio emocional, a confiança e a auto revelação.
A interdependência diz respeito à dependência mútua relativamente ao apoio,
compreensão e ações, recursos, de modo a permitir a conjugação de duas com limites
marcados mas flexíveis, equacionando-se duas questões, aparentemente,

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contraditórias: pertença e autonomia (ambas são necessárias para o equilíbrio da
relação).

A quantidade e qualidade de tempos livres individuais, respeito pela privacidade,


apoio emocional, confiança e mutualidade são os fios que entretecem a
interdependência. Por fim, a sexualidade é entretecida por fios específicos de uma
intimidade física: frequência de relações sexuais, qualidade da sexualidade
(expressão física dos sentimentos, desejo e prazer); e fios relativos à intimidade dita
psicológica: sentimentos, auto revelação, apoio emocional, confiança, mutualidade e
interdependência.

Os problemas ao nível da sexualidade são cada vez mais problemas de amor,


de relação, de intimidade. Não é possível manter uma vida sexual satisfatória numa
relação deficitária ao nível do auto revelação, apoio emocional, confiança,
mutualidade e interdependência. A autoestima, empatia, comunicação (comunicação
em geral, quer comunicação especifica sobre sexualidade), a expressão verbal e não
verbal dos afetos, o compromisso, a satisfação conjugal parecem ser fatores
fortemente influentes na satisfação sexual.

Cada uma destas variáveis descritas é uma espécie de teia que é


simultaneamente um todo e parte de outras teias que pela sua inter-relação,
constituem um todo mais vasto, a intimidade. A intimidade é então vista com um
carácter dinâmico e mutável, devido aos seus processos interativos. No entanto,
Crespo, Narciso, Ribeiro & Costa (2006) desenvolveram um instrumento de avaliação
da intimidade (Escala de Dimensões da Intimidade) e para isso consideraram as sete
dimensões propostas por Narciso (2002) e concluíram, efetivamente, a indivisibilidade
do constructo, ou seja, para analisar a intimidade é necessário considerar as sete
dimensões, mas, alternativamente, surgiu uma nova dimensões, a dependência
(refere-se à insegurança e dependência em relação ao outro que impossibilita a
construção de uma relação de intimidade).

Todos os relacionamentos íntimos envolvem eventos que facilitam a


proximidade e segurança e eventos que são emocionalmente dolorosos, logo
considera-se que um relacionamento íntimo é particularmente um desafiador
emocional. Como tal, parece relevante abordar o conceito de habilidade emocional
referida por Cordova et al., (2005). Segundo estes autores, habilidade emocional é a

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capacidade de identificar, comunicar e expressar emoções e afetam a qualidade das
relações por causa do papel facilitador que desempenham no processo de intimidade.

A implicação é que a saúde conjugal depende do nível de intimidade que os


parceiros alcançam e que esse nível de intimidade depende das habilidades de
emoções que os parceiros trazem para o relacionamento. Assim, para homens e
mulheres, as deficientes habilidades emocionais podem diminuir sua capacidade de
proporcionar felicidade conjugal. Contudo, nem todas as divulgações emocionais são
susceptíveis de facilitar o processo de intimidade (por exemplo: divulgações hostis
negativas, tais como desprezo têm estado associadas a deteorização civil). A forma
como os indivíduos aprendem a comportar-se perante as suas emoções pode variar
bastante, pois há variadas formas de lidar com uma emoção.

Tem sido evidenciada uma diferença de gênero na expressividade emocional,


tal que, as mulheres são mais propensas que os homens para expressar raiva, amor,
felicidade e tristeza enquanto os homens têm mais dificuldade em comunicar
emoções. A habilidade emocional dos homens é mais importante para a satisfação
conjugal das mulheres do que a habilidade emocional das mulheres é para satisfação
marital dos homens, pois falar sobre emoções é um aspecto mais normativo da
socialização das mulheres do que dos homens. Um estudo feito por Greeff &Malherbe
(2001) teve como objetivo determinar a relação entre intimidade e satisfação conjugal
para o homem e para a mulher. Participaram neste estudo 480 casais e os
instrumentos utilizados foram o PAIR (personal assessment of intimicy in relationship)
de Schaefer & Olson (1981) e o ENRICH (enriching & nurturing relationship issues,
communication & happiness) de Olson, Fournier & Druckman (1993).

Os resultados obtidos indicam: diferenças significativas na experiência de


intimidade entre homens e mulheres, de acordo com (Merves-Okin, Amidon & Bernt,
1991); os homens são menos satisfeitos com as suas experiências de intimidade
sexual que as mulheres; os homens são menos satisfeitos com os seus aspectos de
recreação no seu relacionamento do que a mulher; grande diferença entre as
experiências de intimidade social da mulher e o grau de intimidade social que desejam
do que no caso dos homens; a mulher demonstrou maior discrepância entre a sua
intimidade sexual e o grau de intimidade sexual que desejam do que os homens; e
uma relação positiva entre intimidade e satisfação conjugal.

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Um estudo de Isabel e Sinuché (2006) teve como objetivo estudar o nível de
intimidade e comunicação em quatro etapas da vida conjugal e relacionando com
variável satisfação marital. Participaram neste estudo 200 casais mexicanos e foram
utilizados os seguintes instrumentos: Familograma, Inventario de comunicação
marital de Nina (1991), Inventario de Intimidade de Oslon & Scheafer (1987) e Escala
de ajuste diadico de Spainer (1976).

Os resultados obtidos indicam que: os casais sem filhos, com filhos pequenos
ou com filhos adolescentes têm maior intimidade que os casais com filhos adultos; a
comunicação não se altera com o tempo; os casais que conversam mais, com
grandes expressões de amor, suporte e afeto tendem a ter uma grande satisfação
conjugal; não relatou diferenças entre sexos; e em relação à intimidade ideal,
verificou-se que os casais com menos anos de convivência têm maiores expectativas
em relação ao seu parceiro que os casais com mais anos de convivência. O conceito
de intimidade é visto nesta investigação como um processo e uma experiência, que
resulta da revelação de assuntos íntimos e da partilha de experiências.

3. RELAÇÃO CONJUGAL

O casamento como instituição transformou-se ao longo da História, de


preservação do patrimônio à união dos espíritos, reverberando inclusive na
legislação, aparentemente liberal do início do século XXI. O ideal romântico,
associando o amor ao casamento, como condição de felizes para sempre aparece no

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século XX. Outrora a função do casamento era a procriação, depois passou a ser um
meio de se alcançar status, posicionamento social, a partir do Romantismo surgiu o
casamento por amor e hoje, em consequência dos avanços nos meios de
comunicação, da tecnologia, das questões de gênero, da globalização, da
biotecnologia, a família também se transformou, as uniões, legalizadas juridicamente
ou não, continuam valorizando o afeto, o amor, entretanto, a estrutura alterou-se.

O casamento era um contrato que oficializava alianças, garantia o direito de


herança e protegia as mulheres, uma vez que normas eram estabelecidas: do
comportamento sexual, de interesses econômicos e de esferas de poder. Quem
escolhia o cônjuge eram os pais ou uma autoridade da família. O ambiente era viável
para criação de filhos, entretanto, prazer e felicidade não faziam parte do contrato,
sua função era social.

Nos últimos milênios, a experiência amorosa no casamento se modificou e se


repetiu por diversos fatores: econômicos, culturais, sociais, entre outros. O percurso
humano é marcado por embates e repetições de modelos que auxiliam na
transformação da concepção dos sujeitos acerca desta instituição chamada
matrimônio e de sua funcionalidade. O status da pessoa muda com o casamento, ela
deixa de ser uma para se tornarem duas pessoas unidas para viverem juntas e
formarem uma família. Por mais que se conheçam antes do casamento, esses
indivíduos ainda assim serão estranhos, entretanto, com uma meta em comum: a
possibilidade e a vontade de desfrutarem a vida a dois com seus filhos e prosseguir
com seu desenvolvimento.

Atualmente, as relações de casal assumem diversas formas e podem ser


caracterizadas como uma relação afetiva com intimidade e relacionamento sexual.
Os relacionamentos conjugais podem se apresentar de diferentes maneiras: morarem
juntos em uma mesma casa, ou não; serem heterossexuais ou homossexuais, ter um
filho, mais de um, ou nenhum. A cultura modela o comportamento e a forma como
amar e praticar sexo é construída socialmente. Casamento é a escolha de dois
adultos para permanecerem em uma relação estável com responsabilidades mútuas
em que um dá suporte ao outro nas necessidades sociais, afetivas e sexuais. O
casamento é um processo, não uma instituição ou uma estrutura. Na verdade, uma
série de processos, sem destino certo, mas que podem ser conduzidos e muito bem

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definidos, tais como: o processo da intimidade física; sexual; afetiva; em alguns casos,
da procriação; da partilha da responsabilidade econômica e, dos afazeres da casa.

Essa época de grandes mudanças reflete nos relacionamentos conjugais em


forma de dúvidas, insatisfações. Casar implica assumir compromissos, negociações
de dinheiro, carreiras, liberdade, vida social, tarefas domésticas, educação de filhos,
fidelidade e, ainda, compromisso legal e/ou religioso. Antigamente casar era bem
diferente, geralmente as famílias juntavam os pares para unir os negócios, portanto,
envolvia dinheiro e poder e não amor. Hoje em dia, o casal se escolhe por amor, pelo
desejo, pelos projetos em comum, por gostarem da companhia um do outro, o que
pode aumentar as expectativas para o encontro da pessoa que vai nos agregar. O
contexto de inserção dos cônjuges tem uma importante repercussão no modo de
organização do casal e da família. Assim, ressalta-se que a maneira de pensar o
casamento e a vida familiar sofreu importantes modificações a partir das
transformações socioeconômicas e culturais desencadeadas em meados do século
XX, notadamente após a II Guerra Mundial. Dentre os fatores que se associam às
novas demandas e à redefinição do casamento contemporaneamente, destacam-se:
maior liberdade sexual, emancipação da mulher, duplo ingresso dos cônjuges no
mercado de trabalho, possibilidade de separação conjugal ou de divórcio e,
adicionalmente, características individualistas cada vez mais fortes em nossa cultura.

Dado o processo de transformação pelo qual o casamento vem passando nas


últimas décadas, discute-se que os laços conjugais contemporâneos necessitam
compreender um espaço em que as forças da conjugalidade e da individualidade de
cada membro da díade coexistam e interajam. Assim, as relações conjugais se
constituem a partir de identidades particulares de cada cônjuge e se mantêm à
medida que contribuem para a promoção de crescimento pessoal. Desse modo, além
de almejarem casar e/ou recasar, as pessoas estão também motivadas a constituir
uma relação conjugal de qualidade, mutuamente satisfatória para ambos os cônjuges.

A satisfação conjugal se refere a um fenômeno complexo, que pode ser definido


como a avaliação pessoal de cada um dos cônjuges sobre a qualidade do
relacionamento de casal. A capacidade dos membros da díade de se ajustar à vida
conjugal em um dado momento é o que define a qualidade conjugal. Dentre os

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elementos que podem ser levados em conta no processo de avaliação subjetiva da
qualidade do relacionamento de casal, constam frequência e intensidade de
manifestações comportamentais de reciprocidade negativa, evitação e harmonia
conjugal.

Casais que se consideram infelizes parecem ser mais negativos


emocionalmente, bem como mais propensos a serem reciprocamente negativos nas
interações diádicas em comparação a casais que se consideram felizes. Essas
diferenças são constatadas inclusive em situações de conflito conjugal, em que casais
infelizes tendem a demonstrar menos afeto positivo, concordância e aprovação, além
de mais críticas ao cônjuge do que casais felizes. Ademais, a evitação se refere à
esquiva de conversas que exijam a exposição de sentimentos e, eventualmente, de
fraquezas pessoais, com o intuito de que os problemas se resolvam ao longo do
tempo. Os comportamentos evitativos são considerados disfuncionais, associando-
se ao maior risco de insatisfação conjugal, pois os descontentamentos com a relação
de casal são menos manifestados, mas não menos sentidos.

A harmonia conjugal, por sua vez, pode ser definida por um sentimento de
empatia, o qual favorece que cada um dos membros do casal perceba-se acolhido,
validado em seus sentimentos e respeitado na relação com o parceiro. Desse modo,
um casal pode ser considerado harmônico se esse se percebe como feliz e ajustado,
além de demonstrar um alto nível de concordância nos vários âmbitos que concernem
sua vida em comum. Além disso, a expressão do afeto nas discussões e na ocorrência
de discordâncias de ideias, com expressão de preocupação, cuidado e respeito
mútuo, parece ser uma forma mais positiva de lidar com os conflitos.

Posto isso, adiciona-se que múltiplos fatores se associam ao processo da


percepção da satisfação e da qualidade na conjugalidade, dentre os quais estão
experiências que cada cônjuge traz de suas famílias de origem, características de
personalidade dos membros de casal, forma como eles constroem a relação amorosa,
além de variáveis sociodemográficas, como sexo, grau de escolaridade, nível cultural,
nível socioeconômico, trabalho remunerado, número e presença de filhos em casa.

Uma pesquisa longitudinal norte-americana buscou associar satisfação conjugal


com satisfação sexual e frequência sexual. O estudo foi realizado com 207 casais

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heterossexuais recém-casados, acompanhados durante 4 anos, com avaliações a
cada 6 a 8 meses e revelou que satisfação conjugal e sexual estão diretamente
associadas. O estudo demonstrou que tanto homens quanto mulheres que se
consideravam mais satisfeitos no relacionamento também se consideravam mais
satisfeitos sexualmente. O oposto também é verdadeiro, ou seja, quanto menos
satisfação conjugal, menos satisfação sexual. Outro ponto interessante levantado
pelos pesquisadores é que, quando um dos cônjuges apresentava maior satisfação
conjugal em uma avaliação, na avaliação seguinte sua satisfação sexual também
aumentava. Além disso, maiores índices de satisfação sexual em um dos cônjuges
normalmente indicavam maiores índices de satisfação sexual do parceiro na próxima
avaliação.

Esses resultados sugerem que uma vida sexual mais satisfatória contribui para
o aumento da satisfação conjugal. Esta, consequentemente, pode contribuir para o
aumento da satisfação sexual, e assim por diante. Dessa forma, o relacionamento
sexual do casal pode desencadear tanto um círculo vicioso quanto virtuoso, podendo
interferir, também, em outras áreas da vida dos cônjuges. Considerando que o estudo
conduzido por McNulty et al. (2016) envolveu apenas casais recém-casados, os
resultados obtidos evidenciam a necessidade de se ampliar a discussão sobre a
função do sexo no casamento para outros estágios do ciclo de vida da família, a fim
de entender a correlação entre satisfação conjugal e sexual também em outros
momentos da vida.

Entender qualitativamente esta correlação pode também trazer contribuições


para o estudo e a prática profissional com casais. A família pode ser vista como um
sistema movendo-se através do tempo, que se relaciona intergeracionalmente e
passa por mudanças essenciais em diferentes etapas da vida. Essas etapas do ciclo
de vida familiar são organizadas em: formação do novo casal, famílias com filhos
pequenos, famílias com filhos adolescentes, lançando os filhos e seguindo em frente
e a família no estágio tardio da vida. Como pode-se perceber, o foco principal dessa
forma de ver a família é o processo da parentalidade, desde a gestação dos filhos à
idade adulta, entendendo que a cada mudança de estágio a família precisa se
reorganizar para manter sua estabilidade. No entanto, a família contemporânea tem
assumido estruturas e configurações diversas e a perspectiva da parentalidade

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apenas não é suficiente para entendê-la em toda sua complexidade. Ainda assim,
uma abordagem sistêmica da família demonstra que, independentemente da
estrutura ou da configuração, a questão principal é que cada família passa por etapas
que exigem sua reorganização diante da entrada, saída e desenvolvimento de seus
membros.

O movimento constante de contração, expansão ou realinhamento do sistema


de relacionamentos se faz necessário para manter o funcionamento familiar funcional.
Tendo em vista a complexidade do estudo de famílias e os inúmeros desafios de cada
momento da vida, para este estudo foram selecionados três estágios do ciclo de vida
familiar: a formação do novo casal, por ser o momento em que os novos cônjuges
buscam se adaptar à vida a dois; famílias com filhos pequenos, pois a chegada de
uma criança é um dos estágios que mais exige adequação do sistema familiar;
finalmente, casais no estágio de lançar os filhos e seguir em frente, devido aos
desafios que o casal enfrenta para viver novamente a conjugalidade depois que os
filhos se tornam adultos e saem de casa. As mudanças que ocorrem em cada estágio
são fontes de ansiedade e problemas relacionais.

O relacionamento íntimo do casal pode ser uma dessas fontes de ansiedade,


pois em cada etapa do ciclo vital há novas demandas, o que pode interferir no tempo
juntos, no cansaço físico e mental, na intimidade do casal. Isso pode afetar a
qualidade da relação, influenciando positiva ou negativamente a satisfação sexual e
conjugal de ambos os cônjuges.

17
3.1 A Relação Conjugal nos Dias Atuais

Muitas vezes, o que a sociedade, a mídia, os sites de relacionamentos em geral


apresentam são pessoas e casais felizes, construindo e realizando sonhos. Mas, na
realidade, o que é percebido são relacionamentos sem comunicação, sem habilidade
em lidar com o próximo, e sentimentos de solidão, insegurança e indiferença entre o
casal. O relacionamento amoroso é muito delicado e complicado, cada indivíduo
possui sua subjetividade, conforme as vivências em seu ambiente cultural e familiar.
Se referindo às relações amorosas, o amor significa que duas pessoas estão
dispostas a entrar em uma nova fase de sua existência, como objetivo de compartilhar
suas vidas através da união, à espera de experiências novas.

Mas na então sociedade, o amor é visto com outros olhos, e os relacionamentos


se tornaram frágeis e inflexíveis. As pessoas não mais se permitem conhecer e
interagir um com o outro e construírem uma relação com vínculos mais sólidos,
existindo, então, uma rapidez em descartar as pessoas, pois se relacionam sem se
envolver emocionalmente. Numa relação saudável encontra-se companheirismo,
respeito, união em situações difíceis, mas sem esquecer também que numa relação
ocorrem momentos de conflitos, e isto é natural.

Na sociedade atual, com suas promessas de prazer imediato e sem riscos,


percebe-se que os indivíduos perderam suas habilidades para enfrentar e resolver
por si só os problemas que aparecem numa relação a dois e que poderá sempre ser
passível de algo novo, ou seja, se o casal procura resolver os conflitos que surgem,

18
eles transcendem, proporcionando crescimento e experiências novas e positivas. Os
conflitos na relação ocorrem quando alguma coisa sai da rotina e dos acordos feitos
pelo casal. Quando isso acontece, deve-se ter consciência de que não significa o final
da relação, a crise é pontual e precisa ser resolvida com diálogo.

Atitudes simples do casal podem fazer a diferença para resolver uma situação e
conviver de maneira harmônica:

1) Diálogo

O diálogo é a primeira habilidade que precisa ser entendida e aprendida, ele á a


melhor resolução do problema. Brigas com acusação ou jogando toda a culpa no
parceiro não levarão a lugar nenhum. Não deixe que o silêncio prolongado e o
acúmulo de mágoas se instale, pois cada vez que isso acontece uma parte da
intimidade com o outro é perdida.

2) Entenda sua história

Cada um dos parceiros teve uma história de vida antes de se conhecerem, por isso,
há processos conscientes e inconscientes atuando na relação. Conflitos de outras
relações afetivas, tanto numa relação anterior com outro parceiro quanto conflitos
internos da infância com relação aos pais. Entendendo isso, será um passo para uma
nova visão e posicionamento.

3) Emoções

É preciso saber lidar com as próprias emoções para viver bem na relação.

4) Expectativas

Cada um dos parceiros tem expectativas diferentes para si, mas, ao mesmo tempo,
essas expectativas têm de estar alinhadas para que ambos possam ser atendidos e
realizados individualmente e como casal.

5) Responsabilidade

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A relação é de responsabilidade dos envolvidos, não foque o problema, mas a
solução.

6) Compreensão, respeito e flexibilidade

São características essenciais para uma relação saudável.

Diante de responsabilidades profissionais, familiares e até amizades na qual o


tempo se torna escasso, se percebe o quanto se torna difícil para as pessoas e os
casais pararem para analisar suas vidas e desenvolver um processo de
autoconhecimento. Um mundo tão agitado e sem questionamentos exige das pessoas
a busca por se autoconhecer, que significa: quanto mais me conheço, melhor me
relaciono comigo mesmo e com o outro.

Buscar ajuda de um profissional da psicologia vem para auxiliar o casal a refletir


e perceber que, muitas vezes, existe na vida do casal posturas rígidas, nas quais se
fixam, tornando a relação desgastada. No processo da terapia, o casal começa a se
dar conta de emaranhamentos presentes.

4. RELAÇÕES EXTRACONJUGAIS

Ao nível da tipologia das relações extraconjugais, é possível distinguir pelo


menos três tipos de associações possíveis entre amantes, que se diferenciam ao nível
da sua natureza, forma, duração e contexto espacial. O primeiro tipo de relação
extraconjugal caracteriza a vivência de uma relação de forma secreta e oficiosa
conjugada com a existência da vida familiar, gerando uma «vida dupla» paralela ao
mundo conjugal. A vivência de uma «vida dupla» pressupõe a existência de posições
ambíguas dentro da relação conjugal: por um lado, a satisfação visível relativamente
ao desempenho do papel conjugal enquanto esposa ou marido e por outro, uma
insatisfação latente do ponto de vista relacional, o que instiga à prática de
comportamentos de infidelidade conjugal.

20
Comparativamente aos outros tipos de relação extraconjugal, a «vida dupla»
implica um maior período de tempo passado com o (a) amante. A prática deste tipo
de comportamentos tem lugar num contexto privado, com uma maior influência do
cotidiano e do afetivo na própria relação extraconjugal. Estes elementos
diferenciadores proporcionam a partilha de hábitos e territórios, gerando um novo
espaço privado e comum que reforça a união extraconjugal. Este espaço encontra-se
em posição oposta ao espaço familiar, uma vez que na «vida dupla» não assistimos
a uma tentativa de regulação do quotidiano por parte dos amantes, nem ao nível dos
hábitos, nem ao nível dos comportamentos.

É por esse motivo que o papel de marido ou esposa não é normalmente


confundido com o de amante devido às diferenças na tipologia das relações. Essas
diferenças conduzem à relatividade na interpretação das práticas e comportamentos
em comparação com a relação conjugal: aquilo que se assume primordial na vida
familiar torna-se secundário na vida extraconjugal ou vice-versa. O tempo – menor
em comparação com a vida conjugal - é aproveitado com maior intensidade e com
um investimento individual calculado e com ênfase em atividades partilhadas entre os
amantes, relegando a vida quotidiana para uma posição marginal.

O segundo tipo de relação extraconjugal é percebido enquanto «crise conjugal


global». Muito mais vulgar no sexo feminino, as relações extraconjugais podem ser
entendidas como um teste comparativo entre o (a) parceiro (a) oficial e um (a) amante.
Contrariamente à «vida dupla», a dualidade é apenas provisória uma vez que o
resultado dessa comparação precede a ruptura com uma das relações: a oficial ou a

21
oficiosa. Neste caso, a prática da relação extraconjugal é observada como etapa de
transição e decorre normalmente num contexto variável seja ele privado ou
impessoal.

Por último, o terceiro tipo de relação extraconjugal consiste num complemento


à vida conjugal através do componente estritamente sexual. Estes são mais comuns
nos indivíduos de sexo masculino, os comportamentos de infidelidade são
vivenciados através de uma via iminentemente sexual onde o (a) amante é percebido
(a) enquanto parceiro (a) sexual, não implicando a vivência de duas vidas separadas
e paralelas. Neste caso, os amantes privilegiam os espaços impessoais, neutros e
em oposição ao espaço conjugal, relevando a dimensão sexual e facilitando a
existência separada e exclusiva dos amantes.

4.1 Como Definir as Relações Extraconjugais

A traição tem se tornado mais comum entre casais ultimamente. Ou melhor


dizendo, tem se falado mais sobre traição. Afinal, nas sociedades mais antigas a
traição sempre ocorreu. Contudo, o ato de trair era visto como um sinal de virilidade,
mas apenas no caso dos homens. Quando a traição era responsabilidade feminina,
no caso da Roma Antiga, por exemplo, havia exclusão e perda dos bens. Hoje em dia
ainda se encontra notícias que abordam inclusive o apedrejamento de mulheres
adúlteras. Para você ter ideia, não faz muito tempo que as leis do Irã foram alteradas
tendo uma punição alternativa em vista.

22
Estimativas americanas sugerem que, de 50% a 75% dos casados, já
cometeram, pelo menos uma vez, algum tipo de traição. No Brasil, as estimativas
apontam que entre os homens há um percentual de 70,6% de pessoas que já traíram.
Entre as mulheres, o número chega a 56,4%. No entanto, tendo toda essa informação,
ainda não está claro o que é a traição. Assim, vale definir aqui que estamos falando
do ato de trair dentro de um casamento, em que uma das partes envolvidas decide
ter uma ou mais relações extraconjugais. Ou seja, contrai-se relações com pessoas
fora do contrato amoroso estabelecido.

Nesse contexto, há vários subtipos dentro dessas traições como, por exemplo:

Infidelidade emocional

Esse subtipo diz respeito a relações extraconjugais no campo emocional, isto é, uma
pessoa comprometida se relacionou emocionalmente com uma outra fora de seu
casamento. Um exemplo desses casos é o flerte por redes sociais em que não há
apenas um interesse físico, mas sobretudo emocional.

Infidelidade sexual

As relações extraconjugais que envolvem sexo entre o parceiro e outra pessoa é a


traição mais falada. Nesse caso, pode haver apenas um envolvimento físico e não
emocional.

Infidelidade mista

Nesse caso, a traição sai do ambiente virtual para o físico. A pessoa pode se
apaixonar pelo outro virtualmente e, em decorrência disso, relações
extraconjugais mais sérias tomam forma.

23
4.2 As Relações Extraconjugais Segundo a Psicanálise

Assim como há diferentes tipos de traições, há diferentes formas de perceber a


traição e as relações extraconjugais. De qualquer forma, é preciso pensar a
infidelidade de uma visão tridimensional. Ou seja, a da pessoa traída, a da que trai e
a da terceira pessoa envolvida. Em uma visão mais comum, a primeira pessoa
pressupõe a quebra do pacto de exclusividade na relação. Essa quebra gera
sofrimento por ter que dividir a pessoa com outro alguém uma vez que um
compromisso de monogamia havia sido instaurado.

Motivos para trair

Esse rompimento do compromisso pode ocorrer por conta de muitos motivos.


Algumas vezes é a falta de algo no relacionamento atual. Para outras pessoas, a
atitude é movida por um desejo de conquista, de inovar, ou até da tentativa de
manipulação.

Quem ama trai

O último caso apresentado mais acima está ligado ao relacionamento tóxico. No que
diz respeito a isso, a psicóloga Feldman ainda acrescenta que “quem ama trai”, algo
que muitas pessoas questionam. De acordo com ela, a pessoa que ama…

“[…]trai, e muitas vezes não por razões ligadas ao relacionamento, que pode ser
extremamente satisfatório, existir um sentimento de amor recíproco, intensidade na
relação, mas, mesmo assim, há espaço para a traição”.

O papel da insegurança nas relações extraconjugais

Um outro ponto que Feldman indica como motivação da traição é a insegurança. Para
ela…

“O indivíduo trai e deixa sinais para que o outro perceba e se sinta inseguro em
relação ao seu próprio valor. Ele trai com medo do outro traí-lo primeiro. Com isso o

24
outro perde o foco em si e passa a se relacionar com aquilo que o outro quer que ele
sinta. E vira uma relação doentia”.

Homem versus mulher

Ainda segundo a sua perspectiva, as motivações dos homens são mais físicas. Já a
das mulheres, por outro lado, envolvem sentimentos. Além disso, a psicóloga pensa
na traição por uma espécie de ética. Ela diz que…

“Existem pessoas que se sentem traídas só quando existe sexo e outras com olhares.
Mas quem cerceia a liberdade do outro corre mais riscos de ser traído. A pergunta é:
em uma relação bem estruturada onde o diálogo permeia a relação, qual o dano que
a traição por palavras, pensamento e omissões pode trazer? ”

Com isso, podemos inferir que Feldman pensa nas relações extraconjugais como
algo destrutivo. Afinal, ela cita que a relação estruturada deve ser entendida como um
ambiente que repele a traição, mas para conquistar um relacionamento assim o amor
nem sempre é suficiente.

Outro ponto de vista

Para a psicanalista Regina Navarro Lins “trair tem uma conotação pesada na palavra.
As pessoas dizem que a mulher trai quando está abandonada. Mas, na imensa
maioria das vezes, as pessoas têm relações extraconjugais porque variar é bom”,
afirmou. Dessa forma, para ela, a traição deve ser encarada de maneira mais
leve. Isso se garantiria na medida em que exclusividade, essencial para a
monogamia, virou uma obsessão para nossa sociedade. Sendo assim, as pessoas
deveriam se preocupar mais com o fato de estarem sendo amadas e não de serem
exclusivas.

Consequentemente, as relações extraconjugais não deveriam ter grande peso na


definição de um rompimento, por exemplo. Nesse contexto, o que uma pessoa faz
fora do relacionamento não deveria ser uma preocupação.

25
Poliamor

Para Lins, as relações estão mudando e o poliamor tende a ganhar mais espaço a
cada dia, uma vez que está mais associado com o sexo do que o casamento
deveria. Ademais, no casamento fidelidade não tem nada a ver com sexo e quem se
casa deve estar mais preocupado em construir uma vida legal juntos e ter projetos
em comum.

5. A SEXUALIDADE E INTIMIDADE NO CASAMENTO

Na sociedade contemporânea, passou-se a associar o


casamento/conjugalidade ao sentimento de amor. As pessoas casam-se em “nome
do amor”, na idealização do amor romântico. Há compreensão de que o amor
romântico seja a fonte de motivação e manutenção da felicidade conjugal, e faz com
que as pessoas e os casais se mantenham em uma constante busca do idealizado.
No decorrer do casamento, constata-se que está ênfase mais romântica ou sexual se
transforme, em virtude da convivência do próprio casal, do nascimento dos filhos, e
mesmo das mudanças de papeis, sequências tidas como naturais em um
relacionamento.

Esse desencadear pode produzir um relacionamento maduro, estável e


satisfatório ou, também, resultar em mais conflito, relacionamento insignificante ou
alienado. Identificam-se por casamentos longevos aqueles relacionamentos que se

26
estabelecem há mais de 20 ou 25 anos. Relacionamentos que sofreram várias
transformações quanto ao ciclo de vida familiar e conjugal. Na busca por uma maior
compreensão, investiga-se quais seriam os componentes que, ao longo dos ciclos de
vida conjugal, auxiliam a sustentação de casamentos longevos.

A Teoria Triangular do Amor criada por Sternberg e Gouveia & cols.(2009),


propõe refletir sobre três componentes dinâmicos, essenciais ao relacionamento
romântico: intimidade, paixão e decisão/compromisso. Compreende, assim, que o
estabelecimento de intimidade acontece pela presença de sentimentos de intenso
carinho, ternura e confiança, possibilitando a proximidade, a comunicação, o vínculo
nos relacionamentos amorosos, sendo semelhante a sentimento de amizade; a
paixão leva a um intenso desejo, à excitação, baseada na excitação fisiológica, que
remete ao romance, à atração física e à atividade sexual; e o componente
compromisso tem como base a decisão de amar o outro, envolvendo a manutenção
desse relacionamento em longo prazo, o que contribui na formação de uma união
duradoura.

Desse modo, os três componentes se fazem importantes para existir um amor


completo. Classifica-se de amor igualmente equilibrado quando existe, no
relacionamento, confiança, diálogo e partilha (intimidade), acompanhados de atração
sexual (paixão) e com a vontade de constituir projetos em conjunto (compromisso).
Contudo, apesar da importância dos três componentes para uma relação, eles podem
ter preponderâncias diferentes de uma relação para outra, bem como dentro do
mesmo relacionamento, no transcorrer do tempo.

O componente intimidade, na contemporaneidade, assume papel essencial


para uma relação fecunda, fundamentada no ideal de complementaridade entre os
parceiros e instrumentalizando a legitimação do “eu” a partir do “nós”. A intimidade
comunica a proximidade limite entre o eu e o outro, no estabelecimento da identidade
compartilhada, tendo em vista que as relações conjugais são estabelecidas em
decorrência da construção das identidades individuais dos cônjuges e se sustenta na
medida em que propiciam o desenvolvimento de cada um.

Com o desenvolvimento da intimidade dos casais, Perel (2007) vem contribuir


com a reflexão de que o aumento da intimidade afetiva, muitas vezes, é acompanhado
por uma diminuição do desejo sexual, devido a ação do tempo e da repetição, da

27
rotina e da familiaridade com o outro. Ideia que corrobora ao sentimento de amizade
que está descrita na Teoria Triangular do Amor. Compreende-se que as dimensões,
individualidade e conjugalidade confrontam os casais: há os ideais individualistas que
estimulam a autonomia e o desenvolvimento da maturidade emocional dos cônjuges
e, enfatiza que o casal deve sustentar o crescimento e o desenvolvimento de cada
um; por outro lado, surge a necessidade de vivenciar a conjugalidade, a realidade
comum do casal, os desejos e projetos conjugais, ou seja, o compromisso da Teoria
Triangular do Amor.

Na conjugalidade, a intimidade também forma-se em um processo dinâmico,


que pode sofrer oscilações, vindo a surgir momentos de fusão e outros de
diferenciação entre os parceiros. Avalia-se que na conjugalidade, a diferenciação das
pessoas e o respeito sobre a individualidade, seriam fatores de sucesso dos
relacionamentos conjugais. Tendo em vista as dimensões intimidade e sexualidade
nos relacionamentos longevos, Perel (2007) avalia que, para muitas pessoas, a
relação formal estimula o desejo sexual, por sentirem-se aceitas, envolvidas, seguras
e com certa liberdade na relação, o que possibilita abrir-se, soltar-se para a relação
erótica. No entanto, nem sempre uma intimidade conjugal significa uma sexualidade
satisfatória. Muitas vezes o aumento da intimidade afetiva é acompanhado pela
diminuição do desejo sexual, pois o relacionamento pode estar envolto de tédio, de
rotina e com desgaste, tornando o contato sexual insosso. Assim, clarifica que a forma
da constituição da intimidade, que se processa de forma diferente em cada casal,
pode reduzir o sentimento de liberdade e autonomia necessárias ao prazer sexual.

Compreende que o excesso de proximidade pode impedir a espontaneidade,


considerada como essencial para o surgimento do desejo, pois quando o casal
transforma a intimidade em fusão conjugal, pode não haver espaço para vivencias
sexuais conjugais. Neste sentido, o amor pode ser fundamentado em dois pilares:
entrega e autonomia. A necessidade de união coexiste com a necessidade de
distanciamento, sendo as duas integradas. Assim como o excesso de distanciamento
não permite a ligação afetiva, o excesso de união elimina a individualidade. Conclui-
se então que o distanciamento, além do físico também o psíquico, é uma precondição
da ligação afetiva e, consequentemente, sexual.

28
6. O CICLO VITAL DO CASAL DE LONGA DURAÇÃO

O ciclo de vida refere-se ao processo de desenvolvimento, movimento,


crescimento que os seres humanos estão inerentes a vivenciarem. Para a Psicologia,
Neri (2005), expõe que o termo ciclo de vida, recebe sentido de sequência de estágios
ou idade que compõem o desenvolvimento individual. Dentre as características que
incidem no período de vida do casamento longevo, segundo McCullough & Rutenberg
(2001), acontece uma transformação na função do casamento, que se inicia com a
saída dos filhos do lar. Processo conhecido como “ninho vazio”, onde as funções de
cuidar, proteger e socializar os filhos, já foram cumpridas e não ocupam a
proeminência dos casais. No entanto, o processo de permanência dos filhos na casa
paterna está se prolongando, por inúmeros motivos, sendo o mais presente a
dependência financeira.

O que pode fazer com que o casal, continue tendo destaque como casal
parental. Na fase madura há transformação na dinâmica da relação parental e
conjugal, onde a diminuição do exercício da parentalidade abrirá espaço para a
revisão do exercício da conjugalidade. Este processo pode vir acompanhado da
elaboração dos sentimentos, muitas vezes caracterizado pela perda dos filhos, da
sensação de “ninho vazio”, avaliação das funções paternas e dos resultados obtidos
dos esforços de anos na educação dos filhos. Pode haver ainda, a aproximação dos
filhos como pares de igual, a inserção de novos membros, como genros, noras e netos
(as), bem como a possível morte dos pais.

Com essa dinâmica, a fase madura pode configurar-se, para alguns casais, um
momento de reestruturação da relação conjugal. Ao longo de 20 ou 30 anos de

29
convivência, com vínculos estabelecidos e enraizados, muitas mudanças,
transformações já ocorreram no relacionamento, nos papéis desempenhados e, nos
sentimentos. Como no início do relacionamento, nesta etapa de vida o casal podem
voltar-se para si, como dois sujeitos, com suas individualidades, e com a oportunidade
de retornarem para a relação conjugal. Para tal, é necessário que o casal possa
remeter-se para a união, na forma de reflexões e avaliações da sua história conjugal,
revendo e atribuindo novos valores e significados para o casamento, ao afeto e à
intimidade, redescobrindo o outro e o prazer de ser casal.

Esta oportunidade gera reflexões e avaliações da vida a dois, do significado da


conjugalidade, e de quais investimentos podem ser desprendidos para, muitas vezes,
estabelecer uma nova forma de ser no casamento. A bagagem emocional pode
proporcionar maturidade e a “possibilidade de rever valores e atribuir novos
significados à vida nesse momento, assim, como a experiência necessária para rever
os acertos e erros cometidos na vida a dois e ‘pensar’ o quanto foi e ou continua
sendo válido o casamento”.

Após o lançamento dos filhos e reestruturação dos padrões de interação


conjugal, nos últimos anos juntos, a satisfação conjugal é experimentada pela maioria
dos casais, através de manifestações de companheirismo, interesse, cuidados
mútuos e intimidade sexual. As mudanças que ocorrem na afetividade e intimidade
conjugal, também estão vinculadas às alterações individuais que perpassam os
homens e mulheres na meia-idade e, à maneira como o casal enfrenta essa fase do
desenvolvimento da vida. Para algumas pessoas é na meia-idade que se encara o
envelhecimento.

Pode-se compreender o envelhecimento como um processo dinâmico e


progressivo, onde há alterações biológicas, psicológicas e sociais. Isso acontece
tanto no âmbito masculino como no feminino, de formas diferenciadas, sendo
necessário compreender como esse processo ocorre para ambos e como influencia
a dinâmica do casal, o que inclui a sexualidade individual e conjugal. A vivência
conjugal longeva pode culminar em um relacionamento maduro, mais satisfatório e
com maior expressão de amor do que em qualquer outro momento. Quando os
cônjuges se reconhecem como verdadeiro casal que, mesmo com a existência de
diferenças ou dificuldades experimentadas ao longo do convívio, percebem e desejam
permanecer juntos, o casamento pode então ser renovado, na fase madura.

30
Verifica-se, portanto, que o relacionamento conjugal na fase madura pode
desenvolver-se de forma satisfatória, consolidando a relação no companheirismo, no
respeito, na tolerância, na cumplicidade, dentre outros fatores. Deste modo, os
relacionamentos amorosos de longa duração deparam-se com a possibilidade de
envelhecerem cultivando as questões da afetividade e sexualidade até então
existentes. Questões que, segundo Viana & Madruga (2010), são fundamentais para
a vida humana adulta.

6.1 Vivência do Relacionamento Sexual nos Casamentos de Longa


Duração
O período de vinte ou trinta anos de vida conjugal, associada à reconstrução de
novos modelos de interação, com novos papeis sociais e familiares, auxilia no
despertar de investimentos na relação. Movimentos de procurar redescobrir o outro,
encontrando o prazer de estarem juntos, podem surgir, naquilo que Perel (2007)
coloca como a preservação da possibilidade de descoberta entre os cônjuges,
mantendo-os abertos para novas vivências. No entanto, existem contradições de
interesses nos relacionamentos amorosos; concomitantemente, há procura por
segurança, confiabilidade, previsibilidade e estabilidade, e há também necessidade
de movimentos, novidades e mudanças, forças que preencham a vida e a tornem
vibrantes.

Isto pode configurar-se como desafio para os casamentos de longa duração,


especialmente na manutenção do interesse e desejo sexual um pelo outro. Como
manter o erotismo e o interesse sexual, em uma relação que sofre com as tensões do
dia-a-dia, em vários aspectos, sofre com o desgaste do tempo, que já apresenta um
contato mais frio e rotineiro. Nesse âmbito surge a questão: como procurar
entusiasmo, vitalidade, na tranquilidade e na segurança? Acredita-se que em
casamentos longevos há tendência de diminuição da erotização ao longo da
convivência, onde a frequência das relações sexuais, as vivências eróticas, tende a
decrescer em quantidade.

31
Contudo, Silva (2008) defende que, ao longo do ciclo vital, a vontade e a
capacidade para realizar tal ato não sofrem alterações significativas. E Rodrigues
(2008) legitima que, apesar de haver uma diminuição na quantidade, pode-se manter
ou mesmo ganhar na qualidade das relações, devido à aquisição das experiências
passadas que capacitam às pessoas o autoconhecimento do seu corpo, conhecendo
também o corpo do companheiro afetivo e reconhecendo as atividades que lhes
proporcionam mais prazer. Anton (2000) defende a aliança entre casamento e sexo.
Aborda que o elo conjugal é formado por elementos, e o relacionamento sexual é um
dos mais importantes.

O que segue a compreensão de Viana e Madruga (2010) ao identificar que o


sexo e amor são fundamentais para a vida adulta. Ao longo do relacionamento
conjugal, com a chegada à idade madura se faz necessário investir na relação, para
que a prática sexual continue acontecendo. O casal necessita desprender um
momento para o namoro, e, nessas ocasiões, possibilitar situações que favoreçam a
erotização mútua. Para tal, faz-se necessário que o casal esteja disponível, física e
psiquicamente, para encontrar-se com o outro e possibilitar a expressão de novas
formas de erotização e prazer, reconhecendo no corpo maduro, a possibilidade de
sedução, da beleza e acompanhada da experiência de vida.

O cultivo da sexualidade, abordando-a como fonte de amor e vida, que gera


energia e estímulo, é importante para o bem estar e qualidade de vida das pessoas
em geral. Sua expressão nos casamentos longevos pode estar associada aos desejos
de receber intimidade emocional, experimentar e usufruir “prazeres físicos, satisfazer
necessidades biológicas, restabelecer uma identidade sexual e melhorar sua
consciência corporal”. Há a compreensão de que a vivência da sexualidade varia de
indivíduo para indivíduo, de acordo com a singularidade.

32
No relacionamento os parceiros afetivos contribuem para a expressão da
sexualidade nas relações, seja na receptividade emocional e sexual, na maneira que
afetam o outro, interferindo na autoestima, na expressão de sentimentos e emoções,
na confiança pessoal e conjugal. Uma relação sólida pode ser um fator atenuante e
facilitar o ajuste às transformações, quanto à sexualidade, ao longo dos anos. Os
casais, ao compreenderem as mudanças, as diferenças, podem utilizá-las no intuito
de fortalecer a intimidade e a relação amorosa. O que pode vir a contribuir para um
aumento do prazer e da satisfação conjugal e individual. Por fim, Beauvoir (1980)
afirma que a sexualidade com valor positivo, nos relacionamentos de longa duração,
reflete diretamente a atribuição e o significado que está recebeu ao longo da
existência dos indivíduos.

7. SATISFAÇÃO SEXUAL

A satisfação sexual é vista como: uma resposta afetiva que surge da avaliação
subjetiva das dimensões positivas e negativas associadas à relação sexual que a
pessoa mantém com o seu companheiro, ou como o grau no qual a atividade sexual
de uma pessoa corresponde aos seus ideais, e é uma parte importante no
relacionamento conjugal. A satisfação com a vida sexual está relacionada com as
experiências sexuais passadas do indivíduo, expectativas atuais e aspirações futuras.
Sprecher (2000 in Estrella, 2006) afirma que a satisfação sexual está relacionada com
a frequência do ato sexual e com a consistência e partilha dos seus orgasmos com o
seu parceiro sexual.

33
Pelo contrário, Young, Denny, Young & Luquis (2000) afirmam que satisfação
sexual não está relacionada com a frequência de orgasmos, e muito menos com a
frequência de relações sexuais. O parceiro ficar satisfeito reporta uma grande
congruência entre a atividade sexual que ele deseja e a atividade sexual que ele
experimenta. Uns pesquisadores têm estudado a contribuição da satisfação sexual
no relacionamento conjugal, outros pesquisadores têm investigado o inverso,
explorando a contribuição de satisfação com o relacionamento com a satisfação
sexual dos casais. Pesquisadores demonstraram que entre os fatores mais
fortemente relacionados com a satisfação sexual, a satisfação conjugal está entre os
mais importantes contribuintes. Assim sendo, quanto menor a satisfação conjugal,
maior a probabilidade de inatividade sexual e separação, mas quando se está
satisfeito com o relacionamento e com o parceiro é mais provável que se deseje
intimidade sexual, demonstrando uma forte ligação entre a satisfação conjugal e
sexual

A satisfação sexual está, também relacionada com a comunicação, mais


especificamente, quando os casais comunicam melhor, a sua vida sexual melhora. O
desejo sexual tem um papel fundamental na vivência da sexualidade. Desejo sexual
pode ser definido como uma motivação para buscar, iniciar, ou responder a uma
estimulação sexual ou a antecipação prazerosa de tais atividades no futuro. Alguns
estudos consideram que o baixo desejo sexual está associado a uma diminuição dos
níveis de intimidade e satisfação com o relacionamento tanto para os indivíduos como
para aos parceiros. Os parceiros que acham que há uma discrepância entre o seu
próprio desejo e o do parceiro também demonstram uma menor satisfação com a
relação.

Quando a sexualidade é disfuncional ou inexistente, ela vai drenando a relação


de intimidade e de bons sentimentos. Os problemas sexuais têm sido associados com
dificuldades conjugais. Quando ocorre problemas a este nível é perturbador para
ambos os parceiros. A maior parte das insatisfações conjugais e sexuais se devem a
problemas de comunicação entre os membros do casal. Todas as pessoas devem
comunicar de forma adequada os seus desejos. A habilidade de comunicação para
tratar de assuntos dentro da esfera do relacionamento como o desejo sexual, métodos
contraceptivos, e história do passado sexual é um aspecto importante para a

34
qualidade sexual do relacionamento e, como consequência, um preditor da satisfação
global do indivíduo.

Um conflito não resolvido pode servir como causa de disfunção sexual, e, por
sua vez, disfunção sexual pode atuar como um catalisador para precipitar um conflito
de relacionamento negativo e problemas conjugais. Por outro lado, o conflito é uma
oportunidade para aumentar a intimidade emocional e sexual, pois pode até agir como
um afrodisíaco emocional, porque quando resolvidos favoravelmente, os parceiros
sentem-se positivos e especiais sobre o outro. Existem diferenças individuais que
influenciam as relações amorosas. A primeira dimensão, é o evitamento que reflete o
grau em que os indivíduos se sentem confortáveis com a proximidade e intimidade
emocional em relacionamentos.

Pessoas com graus mais altos tendem a investir menos nos seus
relacionamentos e esforçam-se para permanecer psicologicamente e
emocionalmente independentes dos seus parceiros. A segunda dimensão,
denominado ansiedade, marca o grau em que os indivíduos se preocupam e refletem
sobre serem rejeitadas ou abandonadas pelos seus parceiros. As pessoas seguras
tendem a ter graus mais baixos em ambas as dimensões. Os indivíduos seguros de
si tendem a se sentir mais confortáveis com a sua sexualidade, estão abertos à
exploração sexual e a desfrutar de uma variedade maior de atividades sexuais.Os
indivíduos mais ansiosos são muito dependentes de outros para aprovação e
preocupam-se muito com o abandono e a rejeição. Assim sendo, os indivíduos
ansiosos têm relações sexuais para reduzir a insegurança e estabelecer proximidade
intensa.

Os indivíduos mais evitantes consideram as relações sexuais desconfortáveis e


ingratas devido ao seu malestar geral com a intimidade e com o desejo de evitar a
proximidade. A ligação entre satisfação sexual e conjugal pode ser mais forte para
algumas pessoas do que para os outros. Os indivíduos ansiosos tendem a usar as
experiências sexuais como um barómetro da qualidade da sua relação, enquanto
indivíduos de evitantes não. O estudo realizado por Butzer e Campbell (2008) em 116
casais tinha como objetivo ver a relação entre satisfação sexual e conjugal e “adult
attachmente theory” de Bowbly (1980) indicou que: os níveis mais elevados de
ansiedade e evitamento estão relacionados a níveis mais baixos de satisfação sexual,
a nível individual; indivíduos com parceiros mais evitantes relataram ter sido

35
sexualmente menos satisfeitos; e os indivíduos com cônjuges mais ansiosos não
relatam estar menos satisfeitas com seus parceiros no relacionamento sexual.

Em relação à satisfação conjugal os resultados revelaram que: os indivíduos


ansiosos, e os indivíduos com parceiros ansiosos, mostraram maiores níveis de
satisfação marital quando também foram elevados os níveis de satisfação sexual, os
indivíduos com pouca ansiedade mostraram uma fraca associação entre sua
satisfação sexual e conjugal, enquanto os indivíduos com parceiros menos ansiosos
mostraram níveis semelhantes de satisfação, independentemente do seu nível de
satisfação sexual, os indivíduos evitantes têm níveis mais baixos de satisfação
conjugal, independentemente dos seus níveis de satisfação sexual, ou seja, não
existe associação entre satisfação conjugal e sexual.

Os instrumentos utilizados foram:

 Índice de satisfação sexual;


 Enriquecendo e alimentando as questões de relacionamento;
 Comunicação e relacionamento felicidade;
 Escala de avaliação da relação

Questionário de experiências na relação estreita. Trudel (2002) fez uma


pesquisa telefónica em pessoas casadas cujo objetivo era avaliar a relação entre
funcionamento marital e três funções sexuais, ou seja, o comportamento e
funcionamento sexual, atitudes sexuais, e fantasias sexuais. Os resultados indicam
que:

 As mulheres exibem um nível de satisfação conjugal e percepção das suas


relações ligeiramente menos positivo em comparação com os homens;
 Homens e mulheres não diferiram significativamente no que diz respeito à
satisfação com o parceiro, a comunicação sexual, interesse em sexo, e a
excitação;
 Os homens eram mais propensos que mulheres a pensar que o ato sexual não
durava o suficiente e que a frequência de atividades sexuais era insuficiente;
 Os homens tendem mais a desejar maior variedade em atividades do foro
sexual;

36
 Os homens tinham uma maior tendência a sofrer de ansiedade de
desempenho durante o sexo e as mulheres eram mais propensas a
experimentar dificuldades em atingir o orgasmo durante o sexo;
 A presença de um orgasmo satisfatório provou ser uma variável chave na
previsão da satisfação conjugal.

Em geral, os resultados deste estudo sugerem que as mulheres são mais


satisfeitas com sua vida sexual do que os homens. A diferença pode ser explicada
pela insatisfação entre os homens com a frequência e a duração do sexo e pela sua
ansiedade de desempenho. O estudo realizado por Litzinger & Gordon (2005) teve
como objetivo explorar como a satisfação sexual e a comunicação podem
independentemente e em conjunto contribuir para a satisfação conjugal numa
amostra de 387 participantes casados e os instrumentos usados foram: a escala de
ajuste diádico, questionário dos padrões de comunicação e o inventário de padrões
de relacionamento específicas.

Estes autores concluíram que quando os casais são bons em se comunicar, a


satisfação sexual não contribui significativamente para a satisfação conjugal. No
entanto, quando o casal tem dificuldades de comunicação, então eles terão maior
satisfação conjugal se estiverem sexualmente satisfeitos, do que se eles não
estiverem sexualmente satisfeitos. Os casais que têm dificuldade nas suas vidas
sexuais, mas que são capazes de comunicar adaptativamente (até mesmo da sua
relação sexual) podem sentir-se satisfeitos com a sua relação conjugal em geral.
Casais que podem comunicar dessa maneira podem atingir um nível crítico de
intimidade no seu relacionamento e, consequentemente, da sua vida sexual, ou da
falta dela, pode fazer menos impacto no seu relacionamento.

Por contrabalanceamento, se eles estão satisfeitos na sua união, eles podem


não ser susceptíveis de explorar a difícil tarefa de fazer melhorias no seu
relacionamento sexual, possivelmente resultando num casamento sexualmente
inativo; e um outro risco adicional pode ser que um alto nível de satisfação sexual
pode contribuir para a persistência numa relação em que pode não ser saudável para
cada indivíduo individualmente, como tal, centrando-se no prazer obtido a partir de
uma relação sexual satisfatória, o relacionamento pode distrair o casal de abordar
outros problemas reais no seu relacionamento.

37
Rubia (2009) realizou um estudo que teve como objetivo estudar a estrutura
fatorial, consistência interna e distribuição do Índice de Satisfação Sexual de Hudson,
assim como a sua validade com o ajuste diádico e frequência de relações sexuais.
Pretende também ver o grau de desejabilidade social possível em relatar o grau de
satisfação sexual através da escala. Participaram neste estudo 100 casais
mexicanos. Os instrumentos utilizados neste estudo foram:

 O Índice de Insatisfação Sexual de Hudson (1982);


 Escala de Ajuste Diádico de Spanier (1972);
 Escala de desejabilidade social de Crowne e Marlowe (1960).

Os resultados obtidos indicam que quanto maior o ajuste diádico entre o casal,
maior é a satisfação sexual. A satisfação é independente da frequência de relações
sexuais. Com o aumento da idade, a satisfação diminui tanto para os homens como
para as mulheres. A satisfação sexual resulta de uma relação sexual de qualidade.
Não existe diferenças significativas entre os géneros em relação à satisfação sexual.
Observou-se uma ligeira inclinação relacionado com a desejabilidade sexual no
inquérito sobre satisfação sexual.

Um outro estudo realizado por Medina, Valdez, Valdez, Sánchez, Fierro &
Fuentes (2007) que teve como objetivo enunciar e comparar quais são os elementos
que motivam e desmotivam a atividade sexual dos homens e mulheres numa relação
conjugal. Participaram neste estudo 100 sujeitos mexicanos. Utilizaram o instrumento
de Motivação e Desmotivação Sexual de Garcia (2007). Os resultados indicaram que
os homens têm maior motivação sexual do que as mulheres. O grau sentimental é um
grande fator para o aumento da motivação sexual, pois quanto maior o sentimento,
mais facilmente a relação sexual se torna um ato romântico e não somente como uma
obrigação.

Quando o sexo se torna uma obrigação, quando se deixa de sentir prazer e


deixa-se de preocupar em dar prazer ao outro, a relação torna-se rotineira e
aborrecida, o que faz a frequência e o interesse em ter relações sexuais diminua. Os
problemas que aparecem no dia-a-dia, monotonia e a insegurança geram também um
decréscimo do interesse sexual. Um dos principais fatores que faz com que a mulher
tenha menos motivação sexual é a insegurança, pois a segurança é vista como prova
de amor.

38
Outro aspecto que diminui o desejo drasticamente é a desilusão que advém do
fato do companheiro real não corresponder ao companheiro de sonho. A motivação
sexual é influenciada pelo desejo de dar prazer à outra pessoa. No casal, quanto mais
intimidade, ou seja, quanto mais se expõem, maior a motivação sexual. Os homens
estimulam-se mais com o facto de as mulheres o elogiarem fisicamente, enquanto as
mulheres dão mais significado à expressão afetiva de amor e compromisso. A
satisfação sexual é entendida neste trabalho como o grau no qual a atividade sexual
de uma pessoa corresponde aos seus ideais.

7.1 Satisfação Conjugal, a Intimidade e a Satisfação Sexual

Partindo de uma conceptualização multidimensional, a satisfação conjugal tem


subjacente duas dimensões: o amor (sentimentos que cada um nutre pelo outro e/ou
pela relação), e o funcionamento conjugal (modo como se organizam as relações no
subsistema conjugal e com o sistema extrafamiliar). Assim, como a intimidade tem
subjacente quatro dimensões: validação pessoal (está relacionada com o sentimento
de validação de opiniões e sentimentos e de aceitação por parte do parceiro num
conjunto de diversas áreas; com a partilha de interesses e de atividades; com a
proximidade emocional sentida em relação ao companheiro e com a sexualidade),
comunicação (capacidade e possibilidade de expressão de opiniões sentimentos e
desejos na relação), abertura ao exterior (abertura da díade conjugal aos outros), e
convencionalidade (desejabilidade social presente nas respostas dos indivíduos).

39
Tendo em conta, a existência destas dimensões, considerou-se relevante
estudar: a relação entre as dimensões da intimidade, as dimensões da satisfação
conjugal, e a satisfação sexual. Assim, observou-se todas as relações possíveis entre
todas as variáveis presentes e verificou-se que todas as variáveis se relacionam de
forma positiva. Já Andrade, Garcia & Cano (2009) referem que a busca de uma união
romântica é um processo que envolve expectativas de satisfação e que a relação
conjugal pressupõe uma relação íntima, em que a satisfação na relação é influenciada
por vários fatores, nomeadamente, a intimidade e a sexualidade. Estes são vistos
como pilares fundamentais para a avaliação positiva da relação, pois têm um papel
fundamental na manutenção e na continuidade da relação.

Como tal, estes resultados confirmam os resultados anteriores e como


esperávamos, visto que a relação conjugal abarca todos os aspectos aqui estudados,
ou seja, como estão todos subjacentes à relação conjugal é natural que estejam
relacionados. Pode-se concluir, que todas as variáveis aqui estudadas se relacionam
umas com as outras. Porém, a relação entre a abertura ao exterior e a satisfação
sexual e a relação entre abertura ao exterior e a convencionalidade são mais fracas.
A dimensão abertura ao exterior tem a ver como o casal se relaciona com os outros,
nomeadamente com os amigos, por isso, é uma dimensão importante para ter em
conta aquando da auto avaliação da sua relação, mas relativamente à satisfação
sexual é a dimensão estudada que menos influência a satisfação sexual, o que é
expectável.

A escala da convencionalidade avalia a desejabilidade nas respostas, por isso


verifica-se que houve uma menor desejabilidade social nas respostas aos itens
relacionados com a abertura ao exterior, o que também é expectável visto ser um
assunto menos íntimo. É notório também que a abertura ao exterior em comparação
com o resto das variáveis, é a variável que menos influência tem sobre todas as outras
variáveis estudadas (satisfação conjugal, intimidade, satisfação sexual, amor,
funcionamento conjugal, validação pessoal, comunicação e convencionalidade). É
importante verificar que entre as dimensões da intimidade e a satisfação sexual a que
se relaciona mais com a satisfação conjugal é a comunicação (dimensão da
intimidade). Para haver satisfação conjugal, as pessoas têm de estar satisfeitas não
só nos aspectos relacionados com o sexo, mas em vários aspectos da relação,
nomeadamente a comunicação. Assim, era de prever que a comunicação fosse a

40
variável que mais se relacionasse com a satisfação conjugal, porque esta variável é
encarada por muitos autores como central para que a relação seja satisfatória e é
referida como um elemento necessário à construção e evolução do casal.

O estudo realizado por Litzinger & Gordon (2005) demonstra o que foi exposto
anteriormente, pois os resultados que eles obtiveram indicam que os casais que têm
dificuldades nas suas vidas sexuais, mas que sabem comunicar com qualidade,
podem-se sentir satisfeitos com a sua relação no geral. Portanto, a comunicação é
um fator muito importante para a satisfação conjugal porque é a partir da comunicação
que o casal se compreende, se liga, e ultrapassam os conflitos. A segunda hipótese
postula que entre as variáveis amor, funcionamento conjugal, validação pessoal,
comunicação, abertura ao exterior e convencionalidade, é a variável amor (dimensão
da satisfação conjugal) aquela que terá maior impacto na satisfação sexual.

Esta hipótese foi verificada, visto que o amor (dimensão da satisfação conjugal)
é a dimensão que mais explica a satisfação sexual, seguindo-se a validação pessoal
(dimensão da intimidade), depois a comunicação (dimensão da intimidade), e por
último o funcionamento conjugal (dimensão da satisfação conjugal). O amor,
validação pessoal e comunicação têm uma influência positiva na satisfação sexual, já
o funcionamento conjugal tem uma influência negativa. Estas dimensões explicam
65% da variação da satisfação sexual.

A abertura ao exterior e a convencionalidade (ambas dimensões da intimidade)


não têm impacto na satisfação sexual. Tendo em conta que a satisfação conjugal tem
inerente a dimensão do amor e funcionamento conjugal, esperava-se que a que
tivesse maior impacto seria o amor, visto que este remete para os sentimentos e
expressão dos mesmos, sexualidade, apoio emocional, admiração, confiança,
continuidade da relação, características físicas e psicológicas, enquanto o
funcionamento conjugal remete para os tempos livres, autonomia e privacidade,
relações extrafamiliares, comunicação e conflito.

Como tal, para a satisfação sexual o mais importante são os sentimentos que a
pessoa nutre pelo outro e pela relação e isto foi verificado. Porque para uma pessoa
procurar o outro é porque tem de estar satisfeita com o outro, tem de se sentir bem
na relação com o outro, e entre os fatores avaliados aqueles que avaliam melhor os
sentimentos que a pessoa sente sobre a relação é a dimensão amor. Isto vai de

41
encontro a estudos que mencionam que os problemas a nível da sexualidade são
cada vez mais problemas de amor e da relação e que não é possível manter uma vida
sexual satisfatória numa relação deficitária de, nomeadamente, confiança e apoio
emocional.

Young (2000) afirma que quanto menor a satisfação conjugal maior a


probabilidade de inatividade sexual, logo diminuía a satisfação sexual, mas quando a
satisfação conjugal é maior é mais provável que se deseje ter contato sexual com o
parceiro, logo haveria um aumento de satisfação sexual. Em uma relação estável, a
satisfação conjugal é o fator principal para a procura de contato sexual. O fato da
abertura ao exterior e a convencionalidade não terem impacto na satisfação sexual
não é surpreendente, porque a abertura ao exterior, ou seja, a forma como o casal se
relaciona com os amigos, pode ser importante para a satisfação conjugal, mas para
a satisfação sexual não se considera dos fatores mais importantes.

E a dimensão convencionalidade, visto que só serve para avaliar o grau de


desejabilidade social das respostas, seria evidente que não podia ter um grande
impacto na satisfação sexual. É relevante salientar que as duas variáveis que mais
impacto têm na satisfação sexual (amor e validação pessoal) são variáveis cujo foco
está mais virado para o próprio, enquanto as outras duas (comunicação e
funcionamento conjugal) que têm menos impacto têm o foco voltado para a relação.
O que vai de encontro ao que foi dito anteriormente, pois para vivenciar uma
experiência intima sexual com o parceiro é preciso que a pessoa se sinta bem com o
outro, com a sua relação. Na literatura encontrada sobre a satisfação sexual, a
satisfação conjugal, a comunicação, e a intimidade são os componentes apontadas
como as mais significativas para a satisfação sexual.

Por último, relativamente ao problema de investigação que se colocou neste


estudo: “Será que em função de ser casado ou não e do sexo dos indivíduos, vai
haver diferenças significativas nas dimensões da satisfação conjugal, nas dimensões
da intimidade e na satisfação sexual?”, os resultados obtidos revelam que não existe
diferenças significativas entre os sujeitos que namoram e que vivem em união de
fato/casamento no que diz respeito ao amor, funcionamento conjugal, validação
pessoal, comunicação, abertura ao exterior, convencionalidade e satisfação sexual,
ou seja, constatou-se que o fato de ser casado ou não, não influência as auto

42
avaliações que os sujeitos fazem quanto à sua satisfação na relação, intimidade e
satisfação sexual.

Em relação ao sexo dos participantes, os resultados obtidos neste estudo,


indicam que não há diferenças significativas entre os sujeitos do sexo masculino e do
sexo feminino no que diz respeito amor, funcionamento conjugal, validação pessoal,
comunicação, abertura ao exterior, convencionalidade e satisfação sexual. Isto é,
homens e mulheres não diferem na auto avaliação que fazem da sua satisfação
conjugal, intimidade e satisfação sexual. Em relação ao tipo de relacionamento não
se encontrou literatura que tivesse estudado estas variáveis face à situação de
namoro. Mas, em relação ao sexo dos participantes, existem estudos que já se
debruçaram sobre esta variável (contudo, só em relação de casamento), e não há um
consenso entre teorias.

Como tal, este estudo vai ao encontro de Narciso (1994/95), Ribeiro & Costa
(2001/02) e Isabel & Sinuché (2006) referem que a satisfação conjugal é
independente do sexo dos sujeitos. Contrariamente a outros autores que mencionam
que há diferenças entre os sexos, e mais especificamente, que as mulheres exibem
um nível de satisfação conjugal menor que os homens. Os nossos resultados também
vão ao encontro dos resultados do estudo de Rubia (2009) que menciona que não
existem diferenças significativas entre o sexo masculino e feminino no que toca à
satisfação sexual.

Logo, vão contra ao estudo de Trudel (2002) que refere que há diferenças entre
homens e mulheres no que diz respeito à satisfação sexual, mais concretamente, que
as mulheres têm maior satisfação sexual do que os homens. Em relação à intimidade,
os resultados obtidos vão contra aos estudos de Marlherbe (2001) e Merves-Okin,
Amidon & Bernt (1991) que indicam que há diferenças significativas entre homens e
mulheres. Dos sujeitos que participaram neste estudo, 40.4% dos sujeitos em união
de fato e 47.7 % dos sujeitos casados estavam nessa relação há 2 anos.

Estes dados podem ter influenciado o fato de não haver diferenças entre
namoros e casados, pois durante o namoro, constroem-se muitos sonhos, iludem-se
e esquecem-se as divergências e os aspectos que menos se gosta no parceiro, ou
“alimenta-se” a ideia omnipotente de que depois do casamento, o outro transforma-
se de acordo com os nossos desejos (Alarcão, 2002). Assim sendo, o que pode ter

43
acontecido é que os sujeitos da nossa amostra ainda estivessem nesta fase de
idealização, visto que o casamento ainda não é tão duradouro. O fato de os casais
aqui estudados não terem filhos pode ser, também, um fator que influencie o fato de
não haver diferenças entre casados e não casados no que diz respeito às variáveis
estudadas, podendo ser a parentalidade que vai introduzir diferenças. Pois o
casamento pode ser visto como um prolongamento do namoro visto que ainda têm
uma família só de dois.

44
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