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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ª VARA CÍVEL DA

CIDADE E COMARCA DE TERESINA – ESTADO DO XXXXX

Processo a ser distribuído por


dependência nº XXXXXXX
por força do art. 103 do CPC –
“Reputam-se conexas duas ou
mais ações, quando lhes for
comum o objeto ou a causa de
pedir.

XXXXXXXXXXXXXXX, brasileiro, casado, motorista, CPF: XXXXXXXXXX, RG:


XXXXXXXX/PI, residente e domiciliado na Rua Alcobaça, nº 3070, Bairro Parque Flanbotante,
Cidade de Teresina, Estado do XXXXXXXX, vêm através de seu advogado in fine assinado,
com escritório para intimações de estilo, situado na Rua XXXXXXXX, n° XXXXXXXX, Bairro
XXXXXXXX, nesta Capital, vem respeitosamente perante V. Exª propor a presente

AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE FINANCIAMENTO DE VEÍCULO GARANTIDO POR


CONTRATO DE LEASING C/C REPETIÇÃO DO INDÉBITO c/c MANUTENÇÃO DE POSSE
DO BEM c/c RETIRADA NO NOME DO REQUERENTE DO SERASA, SPC E CERIS c/c
CONSIGNAÇÃO DE PAGAMENTO EM JUÍZO c/c ANTECIPAÇÃO DE TUTELA INAUDITA
ALTERA PARS

com fulcro no art. 274 do CPC, (súmula 363 do STF), 844, inc. II, também do CPC, em
harmonia com o art. 5°, incs. II, XXXV e XXXVI da CF/88, em desfavor do XXXXXXXXXXX,

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estabelecido à Alameda XXXXXXXXXXX, nº XXXXXXX, Xº andar, CEP XXXXXXXXXX,
Cidade de XXXXXX, Estado de São Paulo, inscrito no CNPJ/MF sob o nº
XXXXXXXXXXXX, conforme o teor dos fatos e fundamentos a seguir:

DOS FATOS

Em síntese, pretende o requerente a revisão de contrato de financiamento de


veículo garantido por arrendamento mercantil celebrado no valor de R$ 133.000,00 (cento e
trinta e três mil reais) com o requerido, tendo como objeto a aquisição do veículo
MARCA/MODELO FORD/CARGO XXXXXXXXX, COMBUSTÍVEL DIESEL, COR VERMELHA,
ANO FAB. XXXXXXX ANO MOD. 2008, RENAVAM XXXXXXXXXX, PLACA XXXXXXX XX,
CHASSI XXXXXXXXXXXXXXX. Segundo o requerente, o contrato estabelece a capitalização
mensal de juros, correção monetária cumulada com comissão de permanência e juros
moratórios e remuneratórios acima do limite legal, onerando excessiva e unilateralmente o
contrato. Com o objetivo de aquisição do veículo o requerente ficou com o encargo de pagar
60 (sessenta) parcelas de R$ 3.597,05 (três mil e quinhentos e noventa e sete e cinco
centavos) junto ao requerido. Feita a perícia contábil em anexo do valor de R$ 133.000,00
(cento e trinta e três mil reais), divididos pelas 60 parcelas avençadas e multiplicados a juros
simples de 1% (um por cento) ao mês e correção monetária do INPC mensal, com fulcro no art.
406 c/c art. 591 do novo Código Civil c/c art. 161, § 1º, do Código Tributário Nacional, a
prestação mensal deve ser R$ 2.453,77 (dois mil e quatrocentos e cinqüenta e três reais e
setenta e sete centavos), anexo perícia contábil. O valor total do financiamento feito pelo
requerido (60 parcelas x R$ 3.597,05) é R$ 215.823,00 (duzentos e quinze mil e oitocentos e
vinte e três reais). O valor total do financiamento feito pela perícia contábil anexa (60 parcelas x
R$ 2.453,77) é R$ 147.226,20 (cento e quarenta e sete mil e duzentos e vinte e seis reais e
vinte centavos). A diferença da cobrança indevida de juros abusivos é R$ 68.596,80 (sessenta
e oito mil e quinhentos e noventa e seis reais e oitenta centavos).
(Há visível vantagem para o requerido, desde a celebração do contrato, visto que
financiou R$ 133.000,00 (cento e trinta e três mil reais) e o requerido receberia, ao final de 60
meses, a quantia exorbitante de R$ 215.823,00 (duzentos e quinze mil e oitocentos e vinte e
três reais). Tem-se nos autos que o requerente, de fato, celebrou contrato de financiamento de
veículo garantido por leasing com capitalização mensal de juros que não foram pactuados
expressamente no contrato de financiamento e que é vedado pelas súmulas 121 do STF
e 93 do STJ. A possibilidade de limitação dos juros neste caso está cabalmente demonstrada
na abusividade dos índices cobrados pelo requerido.
Conforme a conclusão da perícia contábil anexa, o valor corrigido e
devido ao requerido é R$ 147.226,20 (cento e quarenta e sete mil e duzentos
e vinte e seis reais e vinte centavos). Subtraindo isto do valor de 14 (quatorze)
parcelas pagas no valor total de R$ 50.358,70 (cinqüenta mil e trezentos e
cinqüenta e oito reais e setenta centavos) sobraria ao requerido para quitar o
débito definitivamente o valor de R$ 96.867,50 (noventa e seis mil e
oitocentos e sessenta e sete reais e cinqüenta centavos). Então, dividindo
este valor pelas 46 (quarenta e seis) parcelas vincendas, o valor
incontroverso e corrigido a ser depositado em conta poupança deste juízo é de
R$ 2.105,81 (dois mil e cento e cinco reais e oitenta e um centavos). Esta
consignação do pagamento em juízo das parcelas incontroversas está estabelecida
no art. 50, §1º da Lei nº s 10.931/04:

“Art. 50. Nas ações judiciais que tenham por objeto obrigação
decorrente de empréstimo, financiamento ou alienação
imobiliários, o autor deverá discriminar na petição inicial, dentre as
obrigações contratuais, aquelas que pretende controverter,

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quantificando o valor incontroverso, sob pena de inépcia. (grifo
nosso)

§ 10 O valor incontroverso deverá continuar sendo pago no tempo


e modo contratados."

Além disso, já nesta Comarca de Teresina, o ilustre MM. Juiz de Direito da 1ª Vara
Cível da Comarca de Teresina, Estado do Piauí, Drº. ANTENOR BARBOSA DE ALMEIDA
FILHO, processo n. 141842008, já exarou decisão em antecipação de tutela inaudita altera
para no dia 29.08.08 determinando a autorização para ser depositado em conta judicial
mensalmente até ulterior deliberação o valor da prestação indicada na inicial como
incontroverso e ainda, que o requerido, instituição financeira se abster-se de encaminhar o
nome do requerente/consumidor para negativação em órgão de proteção ao crédito,
relativamente ao débito ora discutido, e, caso tenha negativado que, imediatamente,
procedesse a exclusão do nome do requerente/consumidor, senão vejamos:

PODER JUDICIÁRIO

JUÍZO DE DIREITO DA 1ª VARA CÍVEL

Processo N° XXXXXXXXXXXXX

Ordinária Revisional

Autora: XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Ré: XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

DECISÃO

Cuida-se de Ação Ordinária de Revisão de Cláusula Contratual proposta por


Dorizete de Melo Freire Gomes contra Cia. De Crédito, Financiamento e Investimento Renault
do Brasil todos qualificados nos autos, visando a parte autora em sede de liminar depositar em
juízo valor da prestação que considera incontroverso, assim como compelir a parte ré a não
incluir seu nome, nome da autora, nos cadastros dos órgãos de proteção de crédito.

Assevera que celebrou contrato de financiamento para aquisição de veículo


automotor com a parte ré, no entanto a ré de forma abusiva cobra juros capitalizados em
desacordo com a avença eis que este pacto não prevê tal capitalização. Que, calculando-se o
valor das prestações com juros simples de 1.5591100%, chega-se ao valor de R$ 866,64
(oitocentos e sessenta e seis reais e sessenta e quatro centavos) e é esse o valor que
considera incontroverso, pugnando, então, a autora, para depositar em conta judicial esse
valor.

É o relato. Decido.

Torno sem efeito o despacho de fl. 77.

Trata-se de pedido de liminar inaudita altera pars formulado pelo autor com o fito
de consignar mensalmente valor da parcela que considera incontroversa.

Analisando a peça inicial vejo que o autor quantificou o valor que considera
incontroverso e com base nesse valor pretende continuar a honrar o compromisso assumido,
daí, porque pugna pelo depósito do valor das prestações obtidas com base na quantia
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apurada e discriminada na peça inicial.

Estabelece o art. 50, § 1 ° da Lei nº 10.931/04:

“Art. 50. Nas ações judiciais que tenham por objeto obrigação decorrente de
empréstimo, financiamento ou alienação imobiliários, o autor deverá discriminar na petição
inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende controverter, quantificando o
valor incontroverso, sob pena de inépcia. (grifo nosso)

§ 10 O valor incontroverso deverá continuar sendo pago no tempo e modo


contratados."

Pretende, ainda, o autor, em sede de liminar, a proibição de inclusão de seu nome


no cadastro dos órgãos de proteção de crédito e, se já incluído, sua retirada, sob argumento
de que o débito está sendo discutido judicialmente.

Isto posto, defiro o pedido de liminar eis que entendo estar presente o fumus boni
iuris, consistente na matéria deduzida na peça inicial, bem como o periculum in mora,
consistente no abalo de crédito caso o nome do autor seja negativado e em decorrência
autorizo que o valor da prestação indicada na inicial como incontroverso seja, mensalmente,
depositado em conta judicial até ulterior deliberação.

Determino, ainda, que a parte ré abstenha-se de encaminhar o nome da parte


autora para negativação em órgão de proteção ao crédito, relativamente ao débito ora
discutido, e, caso tenha negativado que, imediatamente, proceda a exclusão do nome da parte
demandante.

Cite-se a parte ré na forma requerida (carta), devendo a parte autora indicar o


endereço correto do demandado.

Intime-se e cumpra/se.

Teresina, XX de outubro de XXXXX.

__________________________________

XXXXXXXX

Juiz de Direito

A jurisprudência mais recente do mês de junho de 2008 do Superior Tribunal de


Justiça não destoa:
PROCESSUAL CIVIL E BANCÁRIO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO
REVISIONAL. EMPRÉSTIMO PESSOAL. JUROS
REMUNERATÓRIOS. ABUSIVIDADE. CONSTATAÇÃO. LIMITAÇÃO
À TAXA MÉDIA DE MERCADO. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. NÃO
CONFIGURAÇÃO. - Cabalmente demonstrada pelas instâncias
ordinárias a abusividade da taxa de juros remuneratórios cobrada, deve
ser feita sua redução ao patamar médio praticado pelo mercado para a

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respectiva modalidade contratual. - Não se configura o dissídio
jurisprudencial se ausentes as circunstâncias que identifiquem ou
assemelhem os casos confrontados. Art. 541, parágrafo único, do CPC
e art. 255, caput e parágrafos, do RISTJ. Recurso especial não
conhecido. (REsp 1.036.818 – RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI)

DO DIREITO

Imprescindível torna-se esclarecer que, por se adequar a atividade desenvolvida


pelas instituições bancárias ao conceito de serviço esculpido no § 2º do artigo 3º do Código de
Defesa do Consumidor, estas se submetem às normas estipuladas por este Diploma Legal,
mormente porque o contrato em apreço é de adesão (f. 95).

Por conseguinte, sendo visado um equilíbrio na formação do contrato, a autonomia


da vontade fica limitada às normas de ordem pública, retirando de sua livre manifestação,
vícios anteriormente permitidos pelo Direito Privado.

Ilustrado o desequilíbrio entre os contratantes, quando da manifestação de vontade,


a revisão das cláusulas contratuais deve ser proporcionada, a fim de que sejam extirpadas as
que se configurarem como abusivas, pairando, de tal forma, uma situação de igualdade entre
as partes.

Por tal razão, não pode prevalecer a força vinculante dos contratos em detrimento
da indispensável posição equânime dos contratantes.

Assim, estando a relação contratual amparada pelo CDC, e restando clarificada, in


casu, a excessiva onerosidade imposta à recorrente, refletindo a situação de desvantagem a
ela atribuída, lhe é possibilitada, através da tutela jurisdicional, a busca pela atenuação dos
efeitos do princípio da obrigatoriedade dos contratos, a fim de que sejam revistas ou
modificadas as cláusulas manifestamente desproporcionais (Apelação Cível N. 2001.008714-
6, da qual foi relator o Desembargador João Maria Lós).

Conseqüentemente, por se constituírem em matérias de ordem pública, tais


nulidades podem ser declaradas de ofício, conforme elucidam Nelson Nery Junior e Rosa
Maria de Andrade Nery (Código Civil Anotado (p.906)):

“As normas do CDC são ex vi legis de ordem publica, de sorte que o juiz
deve apreciar de ofício qualquer questão relativa às relações de
consumo, já que não incide nesta matéria o princípio dispositivo. Sobre
elas não se opera a preclusão e as questões que dela surgem podem
ser decididas e revistas a qualquer tempo e grau de jurisdição”.

Não pairam dúvidas quanto ao fato de que o artigo 192, §3º, da Constituição
Federal fora revogado pela Emenda Constitucional nº 40, de 29 de maio de 2.003, o que
ocasionou a supressão de seus incisos e parágrafos, e a modificação da redação de seu caput:
“O sistema financeiro nacional, estruturado a promover o desenvolvimento equilibrado
do País e a servir aos interesses da coletividade, em todas as partes que compõem,
abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por leis complementares que
disporão, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro nas instituições que o
integram”.

Entretanto, tal conjectura não altera o entendimento de que à taxa de juros deve ser
imposto o percentual limite de 12% (doze por cento) ao ano, visto que continuam aplicáveis as
normas estabelecidas pelo Decreto N. 22.626/33.

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Esclarece que a Lei n. 4.595/64, que conferia poderes ao Conselho Monetário
Nacional para regulamentar a taxa de juros, foi revogada pela Constituição Federal de 1988,
tendo sido tal competência atribuída ao Congresso Nacional.

O artigo 25 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias diz que, a partir de


180 dias da promulgação da Constituição Federal, sujeito este prazo à prorrogação por lei,
ficam revogados todos os dispositivos legais que atribuam ou deleguem a órgão do Poder
Executivo competência assinalada pela Constituição ao Congresso Nacional.

Assim, durante o prazo estabelecido de 180 (cento e oitenta) dias, não houve
iniciativa do Congresso Nacional em legislar sobre a matéria, o que levou o Executivo Federal
a editar a Medida Provisória n. 45, de 31.03.1989, publicada no DOU de 03.04.1989,
prorrogando a vigência do dispositivo legal que havia atribuído ou delegado ao Conselho
Monetário Nacional as competências atribuídas pela Constituição da República ao Congresso
Nacional.
No entanto, tal Medida Provisória não foi convertida em lei no prazo de 30 (trinta)
dias, conforme estabelecia à época o artigo 62, parágrafo único, da Carta Magna, nem
reeditada no mencionado período.

Dessa forma, a partir de 02 de maio de 1989, toda norma delegativa de


competência ficou revogada, em razão da não-prorrogação por Lei do prazo previsto no artigo
supracitado.

Por tais razões, atualmente, nos termos do artigo 48, inciso XIII, da Constituição
Federal de 1988, a competência para regulamentar esta matéria é do Congresso Nacional.

Oportuno dizer que, no dia 03.05.1989, houve a edição da Medida Provisória n. 53,
publicada no DOU no dia 05.05.1989, reproduzindo os mesmos termos da Medida Provisória n.
45/89, no entanto a prorrogação desta medida já não mais era possível porque seu prazo havia
expirado sem que fosse convertida em lei e sem que fosse reeditada (02.05.1989).

Vê-se, portanto, que a Constituição Federal, adotando o princípio da reserva legal,


atribuiu ao Legislativo a competência para legislar sobre “matéria financeira, cambial e
monetária, instituições financeiras e suas operações” (CF, art. 48, XIII).

Logo, ante a indelegabilidade da competência do Congresso Nacional para legislar


sobre o sistema financeiro, inclusive sobre a organização, funcionamento e atribuições do
Banco Central bem como das demais instituições bancárias, públicas e privadas que compõem
o sistema financeiro, fica patente que o artigo 4º, inciso IX, da Lei n. 4.595/64 não foi
recepcionado pela atual Constituição Federal.

De tal forma, as normas do Decreto n. 22.626/33 (Lei de Usura) aplicam-se às


entidades bancárias.

Nessa vertente, os juros remuneratórios ou reais em si pressupõem lucro e, os


juros de mora representam acréscimo patrimonial, já que destinados a compensar a demora no
recebimento do crédito demandado judicialmente; portanto, os juros de mora devem ser
reduzidos a 1% ao ano sobre a prestação em atraso, nos termos do art. 5º do Decreto n.
22.626/33.

Se não bastasse, alguns Ministros do STF (Marco Aurélio, Gilmar Mendes e


Carlos Ayres Britto) estão modificando o entendimento anterior, justamente no sentido de que
a Lei de Usura deve ser aplicada aos estabelecimentos bancários (Súmula 596 do STF
revogada pela Constituição de 1988, sobremodo porque refere-se a norma
infraconstitucional, lei de usura, competência estendida ao Superior Tribunal de Justiça
– AI n.º 606658), mormente porque a omissão do Poder Legislativo em votar Lei

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Complementar do Sistema Financeiro Nacional é injustificável, merecendo respaldo o teor
contido no artigo 25 do ADCT.

Uma vez demonstrada a aplicabilidade do Decreto supracitado ao caso presente,


fica patente que a capitalização de juros é proibida. Tal matéria já é pacífica neste Supremo
Tribunal Federal, inclusive foi sumulada por este, consoante Súmula n. 121:

“É vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada.”

No julgamento do REsp 4.724-MS, o E. Superior Tribunal de Justiça, REL. o


eminente Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, teve oportunidade de ementar, sobre tal
questão:

“Execução. Direito privado. Juros. Anatocismo. Lei especial.


Semestralidade. Capitalização mensal vedada. Precedentes. Recurso
não conhecido.
I - A capitalização de juros (juros de juros) é vedada pelo nosso direito,
mesmo quando expressamente convencionada, não tendo sido
revogada a regra do art. 4º do Decreto n.º 22.626/33 pela Lei nº
4.595/64. O anatocismo, repudiado pelo verbete n.º 121 da Súmula do
Supremo Tribunal Federal, não guarda relação com o enunciado nº 596
da mesma súmula.
II - Mesmo nas hipóteses contempladas em leis especiais, vedada é a
capitalização mensal (Rev. do STJ nº 46, pág. 194).

Em outra vertente, não merece respaldo a tese enfocada pelas instituições


financeiras de que a Medida Provisória n. 1.963-18/2000, atual 2.170-36/2001, autoriza a
prática do anatocismo, como vem decidindo o STJ, vejamos:
“Conforme assinalado no relatório retro, pretende a agravante a reforma
da r. decisão agravada, sob a alegação, em resumo, de que a Medida
Provisória 1.963-18 (atual MP 2.170-36) expressamente autoriza a
capitalização mensal, em todas as operações de crédito bancário,
realizadas por instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional.
Entendo que a decisão hostilizada, por seus próprios fundamentos,
deve ser mantida.
Como já ressaltado na decisão retrotranscrita, o acórdão impugnado
encontra-se em consonância com a jurisprudência desta Corte, no
sentido de que a referida medida não se aplica aos contratos de
abertura de crédito.
Em casos idênticos, as duas Turmas que compõem a Segunda Seção
desta Corte já se manifestaram nos seguintes termos:

“PROCESSUAL. AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE


INSTRUMENTO DECIDIDO EM CONFORMIDADE COM A
REITERADA JURISPRUDÊNCIA DO STJ. CONTRATO BANCÁRIO.
CAPITALIZAÇÃO DOS JUROS.
- É defesa a capitalização mensal ou semestral dos juros em contrato
de abertura de crédito em conta-corrente ou de mútuo (Art. 4º do
Decreto 22.626/33), ainda que convencionada.” (AgRg REsp
494.735/RS, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, DJU de
02.08.2004)”

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Assim, a capitalização na forma disposta no art. 5º da Medida Provisória n. 2.170-
36, de 23 de agosto de 2001, não se aplica às operações financeiras comuns, nas quais se
enquadram os contratos bancários e de administração de cartão de crédito, visto que o referido
dispositivo legal destinou-se tão-somente a fixar regras sobre a administração dos recursos do
tesouro nacional.
Dessa maneira, em contratos de financiamento bancário, a capitalização mensal de
juros se faz presente sob a forma de numerus clausus, ou seja, apenas com permissivo legal
específico, notadamente na concessão de créditos rurais, créditos industriais e comerciais.
Excetuadas tais hipóteses, resta a regra geral, presente na Súmula n. 121 do pretório excelso:
“é vedada a capitalização mensal de juros, ainda que expressamente convencionada”.
Permitida a capitalização anual.

O índice de correção monetária a ser observado deve ser aquele que melhor reflete
a variação da moeda em determinado período.

Como não se trata de um plus, mas apenas de uma recomposição do capital que
ficou defasado em virtude da inflação, não se pode admitir que o índice a ser fixado deve ser o
menor para que o consumidor seja beneficiado. Efetivamente o CDC não legaliza e nem admite
o enriquecimento ilícito por parte do consumidor. O que visa é apenas dar tratamento igualitário
entre partes que se encontram em situações diferentes ou desiguais, justamente para se
alcançar a justiça nas relações contratuais.

Assim, entende-se que o melhor indexador a ser aplicado no caso vertente é o


INPC, isso porque, em seu cálculo, computam-se diversos outros índices, como o IPA (índice
de preços por atacado), o IPC (índice de preços ao consumidor), o INCC (índice nacional da
construção civil), que são meios e formas de se medir o movimento de preços de determinado
conjunto de bens perante os consumidores finais, englobando os mercados atacadistas, as
transações interempresariais, os custos das construções habitacionais de abrangência nacional
e que, assim, refletem exatamente o custo de variação monetária em determinado período.

Dessa forma, é possível que seja fixado o INPC para atualizar o débito em questão.

Diante de tal constatação, a insuficiência no depósito não permite conclusão no


sentido da total improcedência do pedido. Na verdade, verificado pelo juiz que o depósito não é
integral, ele há de julgar parcialmente procedente o pedido formulado pelo autor, reconhecendo
assim que a obrigação foi parcialmente adimplida, já que o depósito a menos liberou
parcialmente o requerente e o valor real do débito restante, cujos parâmetros ficará
reconhecido neste julgamento, deverá, por certo após a devida liquidação, constituir em título
executivo judicial a favor do requerido.

Nesse sentido:

“PROCESSO CIVIL - RECURSO ESPECIAL - INFRINGÊNCIA AOS


ARTS. 21 E 899, §§ 1º E 2º, DO CPC - AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO - SÚMULAS 356/STF E 211/STJ - AÇÃO DE
CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO - INSUFICIÊNCIA DO DEPÓSITO -
PARCIAL PROCEDÊNCIA DO PEDIDO - SALDO REMANESCENTE -
TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL - SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA -
DISTRIBUIÇÃO PROPORCIONAL DAS DESPESAS PROCESSUAIS E
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – 1 (...) 2 - Esta corte de
uniformização infraconstitucional firmou entendimento no sentido de que
o depósito efetuado a menor em ação de consignação em pagamento
não acarreta a total improcedência do pedido, na medida em que a
obrigação é parcialmente adimplida pelo montante consignado,
acarretando a liberação parcial do devedor. O restante do débito,
reconhecido pelo julgador, pode ser objeto de execução nos próprios
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autos da ação consignatória (CF. RESP nº 99.489/SC, Rel. Ministro
barros Monteiro, DJ de 28.10.2002; RESP nº 599.520/TO, Rel. Ministra
Nancy Andrighi, DJ de 1.2.2005; RESP nº 448.602/SC, Rel. Ministro
Ruy Rosado de Aguiar, DJ de 17.2.2003; AGRG no RESP nº
41.953/SP, Rel. Ministro Aldir passarinho Júnior, DJ de 6.10.2003;
RESP nº 126.326/RJ, Rel. Ministro barros Monteiro, DJ de 22.9.2003). 3
–(...). (STJ - RESP 200302210761 - (613552 RS) - 4ª T. - Rel. Min.
Jorge Scartezzini - DJU 14.11.2005 - p. 00329)”
Por outra vertente, se em decorrência da revisão das cláusulas contratuais, quando
da liquidação da sentença, ficar demonstrado que o devedor principal pagou mais do que
devia, a restituição deve ser assegurada a ele na forma simples, sob pena de o banco incorrer
em enriquecimento ilícito, prevalecendo o entendimento do artigo 42 do Código de Defesa do
Consumidor.

O Superior Tribunal de Justiça já se manifestou sobre tal questão: “Quanto à


repetição de indébito, deve ser deferida na presença de cláusulas ilegais, independente
de prova do erro no pagamento, tal como exemplificado na fundamentação do despacho
ora agravado, com respaldo em ampla e pacífica jurisprudência desta Casa” (Agravo
Regimental no Recurso Especial Nº 655931 – RS, do qual foi relator o Ministro Carlos
Alberto Menezes Direito).

No tocante à cobrança de boleto bancário, esta se qualifica como abusiva:

“CONTRATO DE FINANCIAMENTO – COBRANÇA POR EMISSÃO DE


BOLETO BANCÁRIO – ABUSIVIDADE. A cobrança por emissão de
boleto bancário é abusiva e ilegal, por ser responsabilidade e ônus da
atividade econômica da instituição financeira, que deve prestar seus
serviços de maneira adequada e eficiente (Recurso de Apelação Nº
2008.010006-7, do qual foi Relator o Desembargador Elpídio Helvécio
Chaves Martins)”.

COMISSÃO DE PERMANÊNCIA

Muito embora o Superior Tribunal de Justiça admita a cobrança de comissão após o


vencimento do prazo para o pagamento da dívida, não pode ela ser cumulada com juros
remuneratórios ou moratórios, correção monetária (Súmula 30 do STJ) ou multa contratual.
Tendo sido o mencionado encargo fixado exclusivamente a critério da Instituição
Financeira, não pairam dúvidas quanto à violação cometida ao artigo 115 do Código Civil,
conforme entendimento reiteradamente manifestado pelos Tribunais Estaduais:

“A comissão de permanência prevista em contratos bancários qualifica-


se como disposição que sujeita o ato ao arbítrio de uma das partes, o
que faz emergir seu caráter potestativo, tornando-a ilícita nos termos do
art. 115 do Código Civil Brasileiro (Recurso de Apelação Cível –
Execução Nº 1000.075442-9 – Chapadão do Sul (DJ 21.08.2001))”.

Possui a comissão de permanência a mesma natureza jurídica da correção


monetária e tanto é assim que sistematicamente os Tribunais Pátrios têm proibido tal
cumulação.
Além de se configurar como potestativa, tal cláusula também é abusiva, já que
onera excessivamente o consumidor.

Verifica-se, portanto, que a comissão tem um caráter eminentemente


remuneratório, o que não pode ser aceito, pois existem nesses mesmos contratos outros
valores que servem para atualizar a dívida, como os juros, a multa e a correção monetária.
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DO PEDIDO DE CONSIGNAÇÃO, EM CARÁTER ANTECIPATÓRIO, PARA DEPÓSITO DAS
PARCELAS INCONTROVERSAS
O requerente pretende a manutenção do contrato, nos termos da lei, para fins de
adequá-la às normas do Código de Defesa do Consumidor, lei que rege a relação jurídica em
apreço. Para tanto, pretende em caráter antecipatório, proceder o depósito judicial das parcelas
vencidas e vincendas, calculadas na forma da lei (juros simples).
O presente pleito está albergado pelo artigo 273, do Código de Processo Civil, vez
que os requisitos autorizadores da antecipação da tutela se verificam ao caso em deslinde. A
verossimilhança das alegações e a prova inequívoca emergem do contrato firmado entre as
partes.
Há, também, o fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, já que a
dívida vem progredindo vertiginosamente, impedindo o agigantamento do débito mediante o
depósito judicial. Verificando-se que não haverá prejuízo ao banco demandado, sequer no caso
de insucesso da ação, haja vista que a medida não possui caráter irreversível.

Assim, convocando o direito básico da facilitação da defesa do consumidor em juízo


(art. 6º, CDC) requer seja concedida a antecipação parcial da tutela para autorizar o requerente
a proceder o depósito judicial das parcelas vencidas e vincendas, INCONTROVERSAS.
Valendo destacar o entendimento jurisprudencial acerca do pedido ora suscitado:

“DTZ1790606 - PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE REVISÃO DE


CONTRATO. TUTELA ANTECIPADA. DEPÓSITO. PARCELAS
INCONTROVERSAS. VIABILIDADE. ATOS EXPROPRIATÓRIOS.
POSSIBILIDADE. PEDIDO NÃO FORMULADO EM PRIMEIRO
GRAU. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. 1.Pendente entre as partes
discussão sobre o débito, revela-se viável o depósito judicial da
parte incontroversa da dívida, no curso de ação revisional de
contrato, na qual se discute abusividade de cláusulas contratuais.
2.Não prospera o pedido de abstenção de o Banco-Agravado
promover qualquer ato de expropriação do veículo financiado, pois,
diante do débito expressamente reconhecido, não há como cercear
a prática de atos legítimos pelo credor. 3.Inviável a apreciação de
requerimento, para que o Agravado abstenha-se de inscrever o
nome da Agravante nos cadastros de proteção ao crédito, haja vista
tal pleito não ter sido analisado junto ao juízo a quo. Apreciá-lo,
neste momento, implicaria supressão de instância. 4.Agravo
parcialmente provido, a fim de, tão-somente, autorizar a Agravante
a depositar, em juízo, as parcelas incontroversas. (TJDF - AGI
20060020126399 - 1ª T.Cív. - Rel. Desemb. Flavio Rostirola - DJ
30.01.2007, p. 98)

DTZ1699406 - AGRAVO DE INSTRUMENTO. Contrato bancário.


Cláusulas. Revisão. Tutela antecipada. Depósito incidental dos
valores incontroversos. Exclusão do nome do autor de
assentos de negativação. Posse do bem. Providências
negadas. Provimento. 1. É facultado ao mutuário efetuar o
depósito, nos autos da ação de revisão por ele intentada com o
intuito de questionar judicialmente cláusulas contratuais apontadas
como abusivas, as parcelas do contrato no importe que entende
devido, com a aceitação desse depósito não se traduzindo por um
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juízo de certeza a respeito da correteza dos valores depositados,
mas prestando-se o depósito, única e exclusivamente, a arredar os
efeitos da mora nos limites das consignações feitas. 2. Em
questionamento judicial o débito de responsabilidade do autor de
ação de revisão de cláusulas contratuais, autorizado ele a depositar
em juízo os valores incontroversos do débito, é de ser vedada a
inserção do seu nome em cadastros mantidos por órgãos restritivos
do crédito, inscrição essa que, em tais hipóteses, traduz-se como
fator de coação. 3. Razoável afigura-se assegurar ao devedor a
posse do bem alienado fiduciariamente, até final decisão, quando
invoca o devedor, na ação revisional que intentou, excessiva
onerosidade contratual, decorrente da imposição de encargos
ilegais ou abusivos e quando pretende ele depositar em juízo os
valores que entende devidos. (TJSC - Agravo de instrumento
2006.022101-1 - Segunda Câmara de Direito Comercial - Rel.
Desemb. Trindade dos Santos - J. 15.02.2007)”

DO PEDIDO

Isto posto, e fartamente comprovado o direito do requerente, requer:


a) a antecipação dos efeitos da tutela, conforme requerido, no sentido de que o
requerente seja mantido na posse de seu veículo objeto do contrato em tela, bem como,
que a instituição demandada se abstenha de promover a inclusão do seu nome nos cadastros
do SERASA, SPC e CERIS (SIS/BACEN), ou, caso já o tenha feito, seja expedido ofício ao
SERASA e SPC para determinar a retirada do nome da mesma de tais órgãos, uma vez que se
encontra em discussão o débito exigido, e, no caso do CERIS (SIS/BACEN), seja a instituição
bancária demanda intimada para tal fim, como também, determine-se a proibição de
encaminhamento de títulos para protesto, com sustação/cancelamento, conforme o caso,
sob pena de aplicação de multa diária no valor de R$ 1.000,00 (mil reais), com fulcro no art.
461, § 5º do CPC;

b) igualmente, a concessão da antecipação parcial da tutela, autorizando o


requerente a proceder ao depósito judicial das parcelas vencidas e vincendas incontroversas
no valor mensal de R$ 2.105,81 (dois mil e cento e cinco reais e oitenta e um centavos),
conforme perícia contábil anexa, que utilizou os mesmos critérios da Contadoria Judicial do
Tribunal de Justiça do Estado do Piauí;
c) determine-se, a inversão do ônus da prova em favor do
requerente/consumidor, para que o requerido/Banco apresente aos autos extratos que
comprovem a evolução da dívida, com a discriminação de todos os juros e demais encargos
aplicados ao contrato em comento, inclusive, as amortizações ocorridas, bem como, uma cópia
do contrato posto em deslinde, a qual deixou de ser entregue no ato da celebração em razão;

d) se digne Vossa Excelência determinar a citação, na forma do Processo Civil,


para responder aos termos da presente, sob pena de confissão e revelia;

e) seja determinada a realização de “perícia contábil” pelo Poder Judiciário deste


Estado do Piauí, para que o autor-reconvindo arque com os honorários de perícia
contábil, indispensável à verificação da evolução do saldo devedor do veículo financiado e
uma vez que a ré-reconvinte é hipossuficiente frente ao poderio econômico do autor-
reconvindo;

f) seja revisado o contrato em desate, com a nulidade das cláusulas abusivas de


juros e encargos exigidos de forma arbitrária, de forma capitalizada, afastando-se a
incidência iníqua da Tabela Price, consoante explicitado, limitando-se os juros a 12% ano,
calculados no percentual de 1% (um por cento) ao mês com a correção monetária pelo índice
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INPC, a juros simples, nos termos do art. 406 c/c art. 591 do CC e art. 161, § 1º do CTN,
levando em consideração as amortizações efetivadas pelo requerente ou que seja revisado o
contrato para que se aplique a taxa de juros pactuados no contrato de financiamento sem a
capitalização mensal de juros que não foram acordados expressamente e que é vedado pelas
súmulas 121 do STF e 93 do STJ;

g) a condenação da parte demandada no pagamento das verbas de sucumbência,


notadamente verba honorária no percentual de 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa, e
demais cominações legais.

Protesta por todos os meios de prova em direito admitidos, especialmente juntada


de documentos e perícia judicial, que tudo ora fica requerido.

Dá-se à causa o valor de R$ 500,00 (quinhentos reais).

Nestes termos, pede deferimento.

Teresina, XX de Março de XXXXXXXX.

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