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Mestrados em Enfermagem

UC Enfermagem Avançada – Ano letivo 2022-23


Sessão 1- Enfermagem Avançada e Advanced Nursig Practice

Enfermagem Avançada e Advanced Nursig Practice


Texto de Apoio

Face aos resultados de aprendizagem delineados para a aula sobre o tema Enfermagem
Avançada e Advanced Nursig Practice e sem esgotar a reflexão sobre o mesmo, procede-se a
uma análise comparativa de dois artigos, com enfoque em diferentes conceitos – Enfermagem
Avançada e Prática Avançada – e sobre o desenvolvimento da enfermagem. Procura-se contribuir
para a aprendizagem do estudante, no pressuposto que não se dispensam outras leituras de
aprofundamento.

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O que é “Prática Avançada de Enfermagem” e “Enfermagem Avançada”?


O texto de Rolfe (2014) não nos fala sobre o conceito “Enfermagem Avançada” (EA). A
terminologia utilizada neste texto é “Advanced Nursing Practice” (ANP) e “Advanced Practice” (AP)
traduzíveis por prática avançada de enfermagem – designação internacional – e por prática
avançada. Embora o autor não apresente propriamente uma definição atual, percebe-se que a
perspetiva defendida pelo autor sobre a ANP, como se verá posteriormente, é, aparentemente,
próxima ao conceito de EA de Silva (2007).
Para além de sintetizar a história da ANP, o artigo sugere um modelo de ANP mais apropriado,
em que “as enfermeiras devem valorizar e promover ANP, a qual é dirigida pelas necessidades de
cuidados dos clientes, às quais os médicos não são capazes nem são qualificados para
responder” (Rolfe, 2014, p. 1). A ANP, que inicialmente no Reino Unido (UK) “se concentrava nas
habilidades, valores e atitudes essenciais da enfermagem (…) atualmente é pensada em termos
de habilidades médicas, como a realização de exames físicos ou a prescrição de medicamentos”
(Rolfe,2014, p.1).
Rolfe (2014) refere que até o início dos anos 90, duas ideias muito diferentes sobre a função,
propósito, filosofia e desenvolvimento futuro da enfermagem existiam: “a de extensão do papel da
enfermagem para o domínio da medicina e a da expansão da enfermagem através de atendimento
holístico ao cliente e foco no que faz enfermagem diferente da medicina” (p. 2). Naquela primeira
perspetiva se situa, segundo o autor, a atual perspetiva e prática da ANP no UK, embora em 1992,
o Central Council of Nursing […] parecesse defender ou favorecer “o conceito holístico do papel
expandido sobre o papel estendido, mais médico” (p. 4). Apesar do consenso de que a ideia de
prática avançada de enfermagem deve estar alinhada à visão holística e expansiva da
enfermagem, aquele relatório final falhou em apoiar essa visão majoritária.” (Rolfe,2014, p. 5).

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Assim, a questão permanece. O “avançado” implícito no conceito de ANP atual não remete para
uma descrição de um nível de prática, mas mais o de um campo da prática: “quando a AP é
descrita como uma lista de habilidades e competências, está claramente a usar o termo
“avançada” para descrever um conjunto adicional de habilidades em vez de um nível superior de
habilidades de enfermagem existentes (Rolfe,2014, p.3).
Embora neste artigo não seja utilizado o conceito Enfermagem Avançada – conceção cunhada por
Silva (2007) – Rolfe, ao defender ANP como “expansão da enfermagem através de atendimento
holístico ao cliente e foco no que faz enfermagem diferente da medicina”, aproxima-se daquele
conceito. Silva, ao definir a EA afirma que
significa maior competência para o desempenho centrado numa lógica mais conceptual e
concretizada, baseado em teorias de enfermagem que têm por ‘core’ o diagnóstico e a assistência
em face das respostas humanas às transições vividas; e mais competência de tomada de decisão.
A nossa opinião é a de ‘avançar’ a enfermagem como prática profissional, com conhecimento
substantivo da enfermagem (…) este conceito de ‘Enfermagem Avançada’ surge para facilitar o
debate (…) ele importa porque facilita a discussão sobre ‘que cavalo queremos montar’ quando
se discutir o conceito de ANP. (Silva, 2007, p. 18).
Em oposição a esta conceção, Silva contrapõe a de prática avançada que, na sua perspetiva“,
significa maior competência e mais competências para o desempenho centrado numa lógica
executiva – frequentemente baseada em modelos biomédicos que têm por ‘core’ o diagnóstico e
o tratamento da doença” (Silva, 2007, p. 18), requerendo, “formação avançada em patofisiologia
e farmacologia, que os prepare para diagnosticar e prescrever medicação e tratamentos no âmbito
da sua área de especialidade” (Silva, 2007, p. 17). Esta perspetiva sobre ANP parece alinhada
com a de extensão do papel da enfermagem para o domínio da medicina, de Rolfe.
Para além da perspetiva sobre o cuidado e a missão da enfermagem que parece estar subjacente
às duas conceções apresentadas, outra questão se pode colocar: Qual o tipo de conhecimento
que os enfermeiros em ANP privilegiam, utilizam e geram? Diz-nos Rolfe, citando Casteldine
(1994), que o conhecimento médico não é substituto do conhecimento de enfermagem que é
essencial à prática de enfermagem (Castledine, 1994 cit. por Rolfe, 2014, p. 4). Sobre isto, Silva
(2007) questiona se o conhecimento de outras áreas disciplinares é suficiente para uma conceção
de cuidados [de enfermagem] de qualidade e explicita claramente que o conhecimento que deve
alimentar e ser gerado é o de enfermagem, pelo recurso à teoria e a investigação desta disciplina.

Como é perspetivado o desenvolvimento da enfermagem?


Gary Rolfe perspetiva o desenvolvimento da enfermagem pela via da prática avançada de
enfermagem (ANP) no sentido que Rolfe lhe imprime: defende uma ANP com foco nas
competências, valores e atitudes centrais de enfermagem (p. 1), que assuma “o conceito holístico
do papel expandido sobre o papel estendido para o domínio da medicina, concentrando-se nas
principais habilidades e valores de enfermagem” (p. 4). Sintetiza a ideia, afirmando que, embora
ainda não havendo consenso nacional no UK sobre o que deve ser a ANP, passados 25 anos de
discussão, que “os enfermeiros devem valorizar e promover a prática avançada de enfermagem,
que é impulsionada pelas necessidades dos clientes quanto aos cuidados que os médicos não

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podem e não são qualificados para prestar em vez de tentar preencher uma lacuna criada por uma
escassez de médicos por meio do desenvolvimento de habilidades médica” (p. 1).
Citando Castledine (1994) refere que “tentar persuadir enfermeiras profissionalmente educadas
que devem prosseguir em tarefas médicas e desempenhar num nível baixo no campo da medicina,
representa uma desperdício humano e intelectual incrível. Mais demonstra a ignorância sobre o
cuidado de enfermagem e um esforço para negar à sociedade um serviço de enfermagem
reconhecido. Expandir o âmbito da prática profissional da enfermagem significa desenvolver o
âmbito do cuidado de enfermagem, e não mover em direção à medicina ou qualquer outro cuidado
técnico ou manipulação de máquinas.” (Castledine, 1994 citado por Rolfe, 2014, p. 4). O autor
considera que é oportuno a enfermagem repensar o que pretende para a prática avançada,
afirmando: “talvez seja hora de a profissão de enfermagem reconsiderar a ideia de enfermagem
"avançada", não em termos de estender as habilidades médicas das enfermeiras, mas como um
retorno aos nossos valores e aspirações essenciais” (Rolfe, 2014, p. 2).
Já anteriormente, Silva questionava qual o sentido do desenvolvimento da enfermagem
assumindo que tal sentido deveria ser o de “‘avançar’ a enfermagem, como prática profissional
com conhecimento substantivo da enfermagem, ou seja, o de desenvolver-se enquanto
Enfermagem Avançada (Silva, 2007).

Referências Bibliográficas
Rolfe G. (2014). Advanced nursing practice 1: understanding advanced nursing practice. Nursing
Times; 110: 27 (1-6).
Silva, A. (2007). Enfermagem avançada: um sentido para o desenvolvimento da profissão e da
disciplina. Servir. 55 (1-2), p. 11-20.

____________________________________________04.10.2022_Célia S. Oliveira, Prof. ____

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