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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR


DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Praça da República, nº 45,


Centro, Rio de Janeiro – RJ. CEP: 20.211-350.
www.cbmerj.rj.gov.br
Tel.: (+55 21) 2333-2362.

Copyright © 2019. Catalogação na fonte:


Estado-Maior Geral do CBMERJ.

Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (Brasil).

Manual de Combate a Incêndio Urbano: 2019 / CBMERJ. Rio de Janeiro: CBMERJ, 2019

Prefixo editorial: 68512

ISBN 978-85-68512-01-2

Tipo de suporte: publicação digitalizada

Formato E-book: PDF

1. Corpo de Bombeiro Militar.

CDD 341.86388

É permitida a reprodução do conteúdo deste Manual desde que


obrigatoriamente seja citada a fonte.
Reproduções para fins comerciais são rigorosamente proibidas.

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA CIVIL


CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
ESTADO-MAIOR GERAL

Governador do Estado do Rio de Janeiro


WILSON JOSÉ WITZEL

Secretário de Estado de Defesa Civil e Comandante-Geral do CBMERJ


CORONEL BM ROBERTO ROBADEY COSTA JUNIOR

Subcomandante-Geral e Chefe do Estado-Maior Geral do CBMERJ


CORONEL BM MARCELO GISLER

Subchefe Administrativo do Estado-Maior Geral


CORONEL BM MARCELO PINHEIRO DE OLIVEIRA

Subchefe Operacional do Estado-Maior Geral


CORONEL BM LUCIANO PACHECO SARMENTO

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

AUTORES

TENENTE-CORONEL BM LEONARDO QUADROS CAMPOS


CAPITÃO BM JEFERSON FERREIRA ANCELMÉ
CAPITÃO BM FELIPE BERNARDINO DE OLIVEIRA
1º TENENTE BM LUCAS MONNERAT FRANCO
1º TENENTE BM FÁBIO TELLES FERREIRA
1º TENENTE BM JOÃO FELIPE BUSSAD BONNO
1º TENENTE BM GIOVANNI REIS DUARTE
1º TENENTE BM EDUARDO FERREIRA ALMADA MENDES

MANUAL DE COMBATE A
INCÊNDIO URBANO

MOPBM 3 -003

Este manual foi elaborado por


iniciativa do Estado-Maior Geral e
atende as prescrições contidas na
Portaria CBMERJ nº 962 de 26 de
dezembro de 2017, publicada no
boletim da SEDEC/CBMERJ nº 008 de
11 de janeiro de 2018.

Rio de Janeiro
2019

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

REALIZAÇÃO
ESTADO-MAIOR GERAL

COORDENAÇÃO
TENENTE-CORONEL BM ALEXANDRE LEMOS CARNEIRO
MAJOR BM EULER LUCENA TAVARES LIMA
MAJOR BM FÁBIO LUIZ FIGUEIRA DE ABREU CONTREIRAS
CAPITÃO BM RAFAELA CONTI ANTUNES NUNES
CAPITÃO BM DIEGO SAPUCAIA COSTA DE OLIVEIRA

COLABORADORES
TENENTE-CORONEL BM RENAN ALVES DE OLIVEIRA
TENENTE-CORONEL BM RICARDO GOMES PAULA
TENENTE-CORONEL BM PAULO NUNES COSTA FILHO
TENENTE-CORONEL BM FELIPE DO VALLE PUELL
MAJOR BM JOSIANE DOS SANTOS DE MELO

REVISORES
CAPITÃO BM DANIEL CAMPOS CORREIA
1º TENENTE BM LUIZ FELIPE MOTTA FILGUEIRA GOMES
SUBTENENTE BM DANIEL BISPO DA SILVA CARIUS DE FRANCA

PROJETO GRÁFICO
1º TENENTE BM DJALMA DE FIGUEIREDO JUNIOR

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SUMÁRIO

SUMÁRIO.................................................................................................................... 6

OBJETIVO................................................................................................................... 9

FINALIDADE ............................................................................................................. 10

REFERÊNCIA NORMATIVA E BIBLIOGRÁFICA ..................................................... 12

DEFINIÇÕES E CONCEITOS ................................................................................... 15

......................................................................................................................................

1 HISTÓRICO ........................................................................................................... 16

2 TEORIA DA COMBUSTÃO .................................................................................... 18

2.1 Calor ................................................................................................................ 19


2.1.1 Formas de transmissão do calor ............................................................... 22
2.1.2 Efeito do calor nos materiais ..................................................................... 25
2.1.3 Pontos notáveis do calor ........................................................................... 26
2.2 Combustível ..................................................................................................... 27
2.3 Comburente ..................................................................................................... 28
2.4 Tipos de combustão......................................................................................... 29
2.5 Tipos de chamas.............................................................................................. 30
3 TEORIA DO DESENVOLVIMENTO DE INCÊNDIOS ............................................ 33

3.1 Os incêndios em estrutura ............................................................................... 34


4 LEITURA DE FUMAÇA .......................................................................................... 49

4.1 A ciência da fumaça......................................................................................... 50


4.2 Princípios da leitura da fumaça ........................................................................ 51
4.3 Considerações finais........................................................................................ 57
5 ÁGUA NO COMBATE A INCÊNDIO ...................................................................... 59

5.1 Características da água ................................................................................... 59


5.2 Aplicação da água no combate a incêndio ...................................................... 64
5.2.1 Pressão ..................................................................................................... 65
5.2.2 Linha de recirculação ................................................................................ 67
5.2.3 Golpe de aríete.......................................................................................... 68

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6 MANGUEIRA .......................................................................................................... 71

6.1 Formas de estabelecimento ............................................................................. 71


6.2 Dimensionamento de mangueiras ................................................................... 72
6.3 Cálculo de Pressão Nominal ............................................................................ 73
7 ESGUICHO ............................................................................................................ 76

8 TÉCNICAS DE APLICAÇÃO DE ÁGUA ................................................................. 79

9 ABORDAGEM DE AMBIENTE ............................................................................... 89

9.1 Técnicas de proteção contra ignição dos gases .............................................. 91


10 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL................................................. 93

10.1 Equipamento de proteção respiratória ........................................................... 98


10.1.1 Riscos respiratórios. ................................................................................ 99
10.1.2 Classificações do Equipamento de proteção respiratório ...................... 102
10.1.3 Testes e procedimentos anteriores ao uso ........................................... 103
10.2 Capacete de combate a incêndio................................................................. 106
10.3 Equipagem. .................................................................................................. 107
10.4 Estresse ou fadiga pelo calor ....................................................................... 110
11 VENTILAÇÃO TÁTICA ....................................................................................... 115

11.1 Definição de Ventilação Tática..................................................................... 115


11.2 Tipos de Ventilação Tática ........................................................................... 118
11.3 Configuração dos ventiladores..................................................................... 123
12 BUSCA E SALVAMENTO EM INCÊNDIOS ....................................................... 129

12.1 Ferramentas equipamentos e acessórios para buscas e salvamentos em


incêndios.............................................................................................................. 129
12.1.1 Ferramentas .......................................................................................... 130
12.1.2 Materiais................................................................................................ 132
12.1.3 Equipamentos ....................................................................................... 133
12.2 Aberturas forçadas em incêndios................................................................. 136
12.3 Busca em incêndios ..................................................................................... 137
12.3.1 Orientação em local de incêndio. .......................................................... 140
12.3.2 Tipos de busca ...................................................................................... 141
12.3.3 Técnicas de busca ................................................................................ 142
12.3.4 Buscas em edificações elevadas .......................................................... 143
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12.3.5 Busca em grandes áreas ...................................................................... 144


12.4 Salvamento em incêndios ............................................................................ 145
12.4.1 Técnica de transporte de vítimas em incêndios: ................................... 146
12.4.2 Retirada utilizando Viatura aérea .......................................................... 150
12.5 Sobrevivência em local de incêndio ............................................................. 151
13 OPERAÇÕES DE COMBATE A INCÊNDIO ...................................................... 158

13.1 Conceitos e definições ................................................................................. 158


13.2 Pré-planejamento......................................................................................... 161
14 OBJETIVOS TÁTICOS DO COMBATE A INCÊNDIO ........................................ 165

14.1 Segurança ................................................................................................... 166


14.1.1 Medidas de prevenção de acidentes ..................................................... 169
14.1.2 Zona de segurança ............................................................................... 170
14.1.3 Risco de colapso estrutural ................................................................... 171
14.1.4 O oficial de segurança ........................................................................... 172
14.2 Controle de pessoal ..................................................................................... 173
14.3 Controle de acesso ...................................................................................... 173
14.4 Área de reabilitação / Unidade médica ........................................................ 175
14.5 EIR – Equipe de intervenção rápida (RAPID INTERVENTION TEAM - RIT)
............................................................................................................................. 176
14.6 Prioridades táticas gerais ............................................................................. 178
14.6.1 Diagrama dos objetivos táticos.............................................................. 179
......................................................................................................................................

ANEXO 01 - ORAÇÃO DO COMBATENTE URBANO. ........................................... 184

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OBJETIVO

O Manual de Combate a Incêndio Urbano foi confeccionado com o objetivo de


fornecer aos bombeiros militares informações técnicas e atualizadas sobre a
atividade supracitada, sendo a doutrina de referência no âmbito do Estado do Rio de
Janeiro.

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FINALIDADE

Por anos a fio, muito pouco se apresentou de inovação na área de Combate a


Incêndios, no CBMERJ. O velho “Bomba-Armar” tem sido a principal ferramenta de
treinamento desde a época do então Corpo de Bombeiros Provisório da Corte,
criado pelo Imperador Dom Pedro II. É inegável o valor cultural e histórico deste
treinamento, porém desde a época do império, muita coisa mudou na sociedade. Os
incêndios não são mais iguais, as estruturas, os materiais e a própria sociedade é
diferente.
Na época do bomba armar, as estruturas incendiadas demoravam mais a
propagar o fogo, e por conta disso, o tempo resposta era essencial para o combate.
Por isso tal treinamento era quase que exclusivamente voltado para velocidade de
estabelecimento. Outro ponto, é que antigamente, os bombeiros não tinham
equipamentos que possibilitasse trabalhar dentro da estrutura incendiada, por isso o
combate era feito do lado de fora da edificação (defensivo), gastando mais água e
mais energia, visto que não se “enxergava” o interior para se saber onde caía a água
lançada. O treinamento bomba armar era feito em pátios abertos e com muito
espaço para se estabelecer as mangueiras e correr em linha reta.
Com a chegada dos equipamentos (EPR e aproximação principalmente) os
bombeiros puderam adentrar nos incêndios, de maneira que não podiam antes, para
se fazer um combate mais eficaz. As construções e os materiais também mudaram,
os incêndios passaram a conter materiais que pegavam fogo muito mais rápido, e os
cômodos na maioria das vezes, já se encontravam perdidos em chamas com a
chegada das equipes.
Porém, o treinamento continuou o mesmo. Treinava-se de uma maneira
completamente diferente dos incêndios na prática. O treinamento era feito focado
somente em estabelecimento ao “ar livre” enquanto os incêndios eram
compartimentados. O treinamento era completamente voltado para a correria, e na
prática, se requer calma e técnica. O resultado disso é conhecido em muitas
operações: excesso de destruição pela água, muita correria, desorganização,
excesso de TEMPO de combate, grande ESFORÇO e desgaste físico das
guarnições. Todos estes problemas são conhecidos e reconhecidos nas instruções,
porém até agora pouco havia sido feito para mudar esse quadro.
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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

A criação deste curso é uma iniciativa para levar à tropa um meio diferenciado
de treinamento, possibilitando realizar um combate muito, mas muito menos
desgastante fisicamente e mentalmente, diminuindo drasticamente a necessidade de
se chamar apoio operacional, menor quantidade de homens e de gasto de água.
Além da grande rapidez de extinção, o que significa ficar muito menos tempo “na
rua” e desguarnecendo a área operacional.

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REFERÊNCIA NORMATIVA E BIBLIOGRÁFICA

As normas e bibliografias abaixo contêm disposições que estão relacionadas com


este manual.

a. Bibliografia:

 Art of Reading Smoke. Disponível em:


<www.fireengineering.com/articles/print/volume-158/issue-9/features/the-art-
of-reading-smoke.html>.

 Chiavenato, Idalberto. Princípios da Administração: O essencial em teoria


geral da administração. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.

 Comportamento da Madeira exposta ao fogo. Disponível em:


<www.remade.com.br/br/revistadamadeira_materia.php?num=1546&subject=
Combust%E3o&title=Comportamento%20da%20madeira%20exposta%20ao
%20fogo>

 Corpo de bombeiros da polícia militar do estado de São Paulo. Coletânea de


Manuais técnicos de bombeiros- 17:Equipamentos de proteção individual e de
proteção respiratória. São Paulo, 2006.

 Corpo de bombeiros militar do distrito federal. Manual básico de combate a


incêndio módulo 1: comportamento do fogo. 2° edição. Distrito federal,2009.

 Corpo de bombeiros militar do distrito federal. Manual básico de combate a


incêndio módulo 4: tática de combate a incêndio. 2ª edição. Distrito federal,
2009.

 Corpo de bombeiros militar do estado de Goiás. Manual operacional de


bombeiros: combate a incêndio urbano. Goiás, 2017.

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 Corpo de bombeiros militar do estado de Santa Catarina. Manual de


capacitação em combate a incêndio estrutural. Santa Catarina. 2018.

 Corpo de bombeiros militar do estado do espírito santo. Manual técnico: teoria


de incêndio e técnicas de combate. Espírito Santo, 2014.

 Corpo de bombeiros militar do estado do rio de janeiro. Manual básico de


bombeiro militar- volume3: tecnologia e maneabilidade em incêndios. Rio de
Janeiro, 2017.

 Corpo de bombeiros militar do estado do rio de janeiro, procedimento


operacional padrão: lesões por calor. Rio de janeiro, 2018.

 Corradi, Bárbara Luísa Pereiraetal; Estudo da degradação térmica da madeira


de eucalyptus através de termo gravimetria e calorimetria. Revistaárvore,
2013

 Da Silva Quintal, Pedro Emanuel. Caracterização do estresse térmico no


combate a incêndio e avaliação de sistemas de arrefecimento individual.
Coimbra, 2005.

 Dodson, David W.The art of reading smoke, Fire Engineering,2005

 Escola Nacional DE Bombeiros de Portugal, Combate a incêndios urbanos e


industriais. Sintra, 2005.

 Firefighter Survival. Disponível em:<http://whenthingsgobadinc.com/firefighter-


rescue-r-i-t-firefighter-survival/.

 Garcia, Kauffman, Schelble.Positive pressure attack for ventilation and


firefighting.Oklahoma, 2006.

 Grimwood,Paul e Desmet,Koen.Tactical Firefighting, 2003.


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 Judge,Jonem “Thermal Stress”, ITEC 471

 Lacombe, Francisco José Masset. Dicionário de administração. São Paulo:


Saraiva, 2004.

 Rit&MaydayTrainning. Disponível em: <www.firehouse.com/safety-


health/article/10464546/the-rapid-intervention-reality-of-your-department-
firefighter-training-rit-mayday>

 Sharkey, B.J e Gaskill S.E Fitness andworkcapacity, 2009

 TRIGUEIRO, Francisco Mirialdo Chaves; MARQUES, Neiva de Araújo. Teoria


da Administração I. Florianópolis, CAPES-UAB, 2009.

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DEFINIÇÕES E CONCEITOS

Para efeito deste manual, aplicam-se as definições específicas deste item:

EN- European Norm


NFPA- National Fire Protection Association
NBR- Norma brasileira
EPRA- Equipamento de proteção respiratória autônoma
RIT – Rapid intervetion team
EIR- Equipe de intervenção rápida.
BSI- Busca e salvamento em incêndio
COV- Condutor e operador de viaturas
CoSCIP- Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico
SCI – Sistema de Comando de Incidentes
POP – Procedimento Operacional Padrão
OBM – Organização de Bombeiro Militar
USFA – United States Fire Administration
NFPA – National Fire Protection Association

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1 HISTÓRICO

No final do século XIX e início do século XX, o serviço de combate a


incêndios enfrentava situações muito diferentes das encontradas atualmente. O
perfil das edificações era de madeira maciça, e móveis e utensílios de queima lenta,
além dos cômodos serem grandes e pouco compartimentados. Nessa época, o
serviço envolvia quase que exclusivamente o estabelecimento mais rápido possível
para se poder salvar o máximo da edificação, antes que o incêndio se
desenvolvesse. O combate era feito basicamente do lado de “fora” das estruturas já
incendiadas, pois não havia condições de se manter dentro das estruturas durante o
combate. As guarnições eram muito grandes e contavam com grande quantidade de
bombeiros. Uma guarnição de bomba continha 10 militares.
O treinamento para essa realidade envolvia o estabelecimento do “Bomba-
Armar”. Focado em mecanização de movimentos, agilidade e evoluções em pátio
aberto.
Porém dentre os comandantes vanguardistas dos serviços de bombeiros à
época, já se percebia que o combate exterior à edificação era muito pouco eficiente
no que diz respeito ao dispêndio de recursos, além da necessidade de um
treinamento que possibilitasse ao bombeiro prever como se dará o desenvolvimento
de um incêndio.
Dentre os grandes pensadores do serviço de Combate a Incêndio, destaca-se
Sir EyreMessey Shaw, cavaleiro da Rainha Vitória e Chefe da
MetropolitanFireBrigade, pioneiro na moderna doutrina, introdutor das bombas à
vapor no serviço e na descentralização de quartéis, e grande questionador do
estereótipo de “incultos” dos bombeiros à época.
“Para atingir eficiência no nosso negócio, é necessário que aqueles que o
praticam entendam não apenas o que fazer, mas como e porquê fazê-lo. Nenhum
bombeiro conseguirá atingir proficiência na atividade se não conseguir ligar o elo
entre a ciência e a prática”- Sir EyreMessey Shaw
Shaw dizia que a máxima eficiência seria atingida quando a tecnologia nos
permitisse um combate mais próximo das chamas.
Na segunda metade do século XX, o quadro começou a mudar. A evolução

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dos Equipamentos de Proteção Individual passou a possibilitar aos bombeiros, o


trabalho dentro das edificações sinistradas (principalmente EPRAs).
A partir de então, começou-se a apresentar mudança na forma de combate,
visto que os bombeiros passaram a trabalhar mais dentro das edificações
sinistradas, porém o treinamento ainda consistia no mesmo. Bomba-Armar ao ar
livre, enquanto no combate real, as equipes trabalhavam em incêndios sob
estruturas compartimentadas. Rapidamente, começaram a surgir relatos de
fenômenos estranhos, nunca antes vistos (Fenômenos Extremos do Fogo). De tais
fenômenos, citamos 2 ocorrências notáveis.
No ano de 1981, ocorreu um incêndio na casa noturna Stardust Disco, na
Irlanda. Neste evento, 48 pessoas foram mortas e 214 feridas, a grande maioria por
ação das chamas. Tal evento gerou grande comoção popular, sendo caso de estudo
de investigações e estudos científicos para se descobrir o “porquê” do
desenvolvimento ter se dado de forma tão rápida.
Em 1982 uma misteriosa explosão mata dois bombeiros na Suécia, num
apartamento sem indício de produtos perigosos, apenas mobília normal.
Autoridades Suecas entenderam que era necessário entender melhor o
desenvolvimento dos incêndios, pois fenômenos estranhos e inexplicáveis do fogo
ocorriam de forma inesperada, submetendo os bombeiros a riscos não conhecidos.
O então chefe dos bombeiros suecos Ander Lauren, aliado aos cientistas
MatsRosander e KristerGisselson, criaram o chamado treinamento CFBT
(ComparmentFire-BehaviorTrainning), e as técnicas de ataque tridimensional, sendo
a primeira doutrina voltada para técnicas de combate a incêndio no interior de
ambientes compartimentados no mundo, envolvendo a compreensão, previsão e
prevenção de fenômenos extremos do fogo.
Cabe ressaltar que, após a difusão desta doutrina, até o presente momento
nunca mais foram registradas mortes de bombeiros em combate a incêndio na
Suécia.

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2 TEORIA DA COMBUSTÃO

Combustão é uma reação química na qual um material combustível reage


com o comburente, produzindo energia, na forma de calor e luz. A reação necessita
de um calor inicial, e se mantém de forma autossustentável, pois o calor produzido
aquece o combustível ainda não queimado (reação em cadeia).
Os materiais são compostos por moléculas que possuem níveis de vibração e
consequentemente estabilidade em suas formas e composições. Essa estabilidade
molecular pode ser alterada a partir de fatores externos tais como alterações de
temperatura, alteração de pressão, inserção de outras substâncias e etc.

Figura 1. Molécula estável enquanto as condições externas são favoráveis


Fonte:www.infoescola.com/quimica/molecula/

Para o entendimento do funcionamento da combustão, criou-se o diagrama


denominado Triângulo do fogo

Figura 2. Triângulo do Fogo: Requisitos para ocorrência da combustão


Fonte:brasilescola.uol.com.br/quimica/como-combater-um-incendio.htm

O triângulo do fogo trás de forma explícita os pré-requisitos para a existência

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de uma reação de combustão.


Uma vez iniciada a combustão, a fonte inicial pode ser retirada. Toma-se
como exemplo, a chama do isqueiro e um pedaço de tecido. Após o início da reação
de combustão, a chama inicial ofertada para causar instabilidade molecular no
combustível pode ser retirada que a combustão irá permanecer.
A esse processo de permanência ou melhor, auto sustentabilidade chama-se
de reação em cadeia. Após iniciada a combustão, o fogo é representado pelos
elementos do Tetraedro do Fogo.

Figura 3. Elementos da combustão: Tetraedro do fogo


Fonte:Manual básico de combate a incêndio CBMDF

A reação em cadeia é o processo que une os três elementos, por isso a


escolha do tetraedro como elemento representante.
Agora iremos ver de forma mais aprofundada um pouco mais sobre cada
elemento da combustão.

2.1 Calor

O calor, fisicamente falando, é a transferência de energia térmica (energia


cinética das moléculas) de um corpo para outro graças à diferença de temperatura
entre eles.

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Figura 4. Fluxo de calor


Fonte:trabalhosparaescola.com.br

O calor flui sempre de um corpo de temperatura mais alta para um corpo de


temperatura mais baixa, gradativamente, até que a temperatura dos dois seja igual
(até atingir o equilíbrio térmico). Dizemos que o contato entre corpos de diferentes
temperaturas, provoca um “Fluxo de Calor” até que os dois corpos estejam na
mesma temperatura.
Fluxo de calor é a grandeza que mede a quantidade de calor (energia) que
passa de um corpo para o outro, durante um tempo. Em outras palavras, é a
“velocidade” com que o calor é transmitido.
O Fluxo de calor está diretamente relacionado com a área de contato entre os
dois corpos. Quanto maior for a área de contato, maior será o fluxo de calor, e maior
será a velocidade de troca de calor.
Um exemplo disso é o gelo de botequim: O mesmo é furado, para que
aumente a superfície que “toca” a bebida. Dessa forma, a bebida é resfriada mais
rápido.

Figura 5. Gelo furado,área de contato maior permite gelar bebida mais rápido
Fonte:www./h2frio.com.ar/

O mesmo ocorre por exemplo com a madeira em pó. Sua área de contato

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

maior faz com que os grãos de madeira se aqueçam mais rápido, fazendo com que
esse “pó de madeira” lançado no ar, pegue fogo tão rápido e fácil como um gás.

Figura 6. Serragem- Madeira em pó


Fonte:www.negociofeito.com.br

Figura 7. Queima instantânea da serragem no fogo. Semelhante a um gás


Fonte: autoria desconhecida

Temperatura: Significa o “grau” de agitação das moléculas. Quanto mais alta


a temperatura, maior a agitação. Quanto mais “fornecemos” calor a um corpo, mais
alta se torna sua temperatura. E quando um corpo “perde” calor, sua temperatura
diminui

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 8. Movimento molecular


Fonte:mundoeducacao.bol.uol.com.br

2.1.1 Formas de transmissão do calor

A transmissão de calor entre as moléculas de um mesmo corpo ou entre


corpos distintos se dará de três formas e citaremos especificidades de cada uma:
a. condução;
b. irradiação;
c. convecção;

Condução
É uma forma de transmissão de calor que ocorre em corpos sólidos. O corpo
ou a área deste, em contato com a fonte ígnea tem um aumento do nível de agitação
das moléculas (temperatura). Essa agitação vai se propagando molécula a molécula
ao longo do corpo em contato.

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 9. Propagação de calor molécula à molécula ao longo do corpo


Fonte: Manual de combate a incêndio CBMDF

A velocidade de propagação está ligada ao tempo de contato com a fonte,


sua área de contato, e a resistência ao calor que aquele corpo possui.
Os materiais que possuem valores mais altos de condutividade térmica serão
melhor condutores de calor em relação aos que possuem valores menores.
Observa-se que os metais possuem grande capacidade de condução de
calor, por tanto estruturas metálicas, paredes que possuam metal em suas estrutura
internas (concreto armado por exemplo) tendem a absorver e propagar o calor com
grande facilidade.
Já materiais que possuam grandes quantidades de ar em suas estruturas
tendem a não serem bons condutores visto que o ar é um excelente isolante térmico.
Irradiação
É a transmissão de calor através de ondas eletromagnéticas. Cabe ressaltar
que a radiação térmica é emitida em todas as direções, não necessitando de meio
físico para sua transmissão (exemplo do sol que mesmo no vácuo sideral emite
calor) No que tange a propagação de incêndios, a distância da fonte emissora do
corpo receptor deve ser reduzida uma vez que o ar funciona como isolante térmico
diminuindo assim o poder de emissão.

Figura 10. Radiação térmica


Fonte:Manual técnico de combate a incêndio CBMES

Quanto à irradiação, os principais atributos a serem lembrados num incêndio,


são:
a. todos os corpos emitem (inclusive corpos gasosos como a fumaça)
b. é emitida em todas as direções
c. seu efeito decai com o quadrado da distância no ar.

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d. O 3º atributo citado da irradiação é o motivo de progredirmos ajoelhados (4


apoios) num incêndio em compartimento. Um pouco que nos afastamos da fumaça,
faz com que sua irradiação diminua ao quadrado.

Convecção
É a forma de transmissão de calor através dos fluidos aquecidos, sejam
esses líquidos ou gases.
As moléculas que compõem o fluido que é aquecido devido a reação de
combustão irão propagar calor para os outros materiais do ambiente.
O fluido quando aquecido tem o seu volume aumentado (o aumento de
volume é uma das consequências do aumento de calor nos corpos). Em decorrência
do seu aumento de volume, temos uma diminuição da densidade o que faz com que
os fluidos quentes tenham uma tendência a subir (semelhante ao óleo na água),
deixando um espaço vazio que é preenchido por uma porção de fluido mais denso
(mais frio), até que este também se aquece.
A este efeito, damos o nome de correntes de convecção. Em caso de
incêndio a fumaça que é produto da combustão é um excelente exemplo de
propagação através da convecção.

Figura 11. Convecção num incêndio.Fumaça sobe por densidade, propagando o calor
Fonte: Manual técnico de combate a incêndio CBMES

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2.1.2 Efeito do calor nos materiais

O fornecimento de calor aos materiais produz os seguintes efeito:


a. Aumento de temperatura nos corpos: Ao receber calor (energia térmica) o
primeiro efeito gerado nesse corpo, é a maior agitação de suas moléculas.
Gradativamente, esse aumento de agitação irá explicar os outros efeitos;
b. Secagem: Os materiais na atmosfera têm a tendência de absorver a umidade
do ar. Conforme aquecemos um corpo, essa água que se encontra absorvida nos
corpos funciona como um lastro térmico, absorvendo expressiva quantidade de calor
enquanto o corpo seca;
c. Aumento de Volume: Com o aumento da temperatura, ocorre o fenômeno da
dilatação térmica em sólidos, aumentando um pouco o seu volume. No caso de
fluidos gasosos, esse aumento é mais expressivo;
d. Diminuição da densidade: Nos gases, com o aumento de temperatura, o
volume aumenta bastante, ocasionando o efeito da diminuição da densidade dos
gases aquecidos, fazendo com que estes “subam” em relação à porção gasosa mais
fria, que desce. Esse efeito provoca a transmissão por convecção;
e. Mudança de estado físico: Ao atingir determinada temperatura, as moléculas
não suportam mais se manter no mesmo estado físico, pois sua vibração vai ficando
cada vez mais forte até o ponto em que as forças de atração das moléculas não
conseguem “segurá-las” próximas. Os corpos podem fundir (caso de sólidos
derretendo) ou evaporar (no caso de líquidos fervendo). Essa mudança ocorre sem
mudar a composição química do material, visto que se houver o processo inverso
(resfriamento), o material volta ao estado físico anterior (ex: vapor d’água
condensando ou água congelando);
f. Mudança de Estado Químico (TERMÓLISE): Alguns materiais, ao atingir
determinada temperatura, alteram sua estrutura molecular através de reação
química provocada pelo calor. As moléculas se “quebram” em “pedaços” de
moléculas menores, se desprendendo em forma de vapores. Chamamos também de
“degradação térmica” ou “decomposição térmica”;
g. Os materiais combustíveis sólidos sofrem termólise antes de pegar fogo, e
são os vapores da termólise que dão origem à chama

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2.1.3 Pontos notáveis do calor

O calor gera diversas alterações nos combustíveis, entre ela a degradação


térmica e a liberação de vapores combustíveis.
A interação desses vapores combustíveis junto ao oxigênio dará início ao
fenômeno da combustão.
Alguns combustíveis vão necessitar de muito mais energia para liberar
vapores do que outros.
Outro ponto importante nesse aspecto é se a quantidade de vapores
termólise é suficiente para manter uma combustão e a reação se manter de forma
autossustentável ou não.
Após análises, estudiosos chegaram a 3 pontos básicos que são de grande
importância para o estudo da combustão e cada substância terá os seus próprios
pontos e temperaturas: ponto de fulgor, ponto de combustão e ponto de ignição.
Ponto de fulgor é a temperatura mínima necessária para que determinado
combustível comece a se degradar a ponto de liberar vapores combustíveis em
proporção suficiente para quando ofertada a presença de uma fonte ígnea a
combustão se inicie,porém, a queima desses vapores ainda não energia o suficiente
para que a reação se mantenha de forma autossustentável (ainda não há reação em
cadeia). Dizemos aqui, que reunimos os elementos do triângulo do fogo.
Ponto de combustão é a temperatura mínima necessária para que tenha-se
produzida a proporção suficiente de vapores de termólise para manter uma
combustão quando ocorrer a presença de uma fonte ígnea.
Quando se atinge o ponto de combustão, diferentemente do ponto de fulgor,
após a retirada da fonte de calor, a reação química se manterá de forma auto-
sustentável, pois as taxas de combustível já fornecem quantidade de energia capaz
de suprir e manter a combustão.
Ponto de ignição é a temperatura onde a termólise é de tal forma violenta,
que ela mesma produz energia enquanto ocorre (fase exotérmica da termólise),

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aumentando a temperatura sem necessidade de fonte externa. Isso provoca com


que o combustível sólido entre em ignição sem necessidade de fonte ígnea.

2.2 Combustível

É toda substância capaz de entrar em combustão (queimar).


Os combustíveis podem ser divididos de acordo com seus estados físicos:
a. sólidos (madeira, tecidos, papel, etc);
b. líquidos (gasolina, álcool, querosene, etc);
c. gasosos (GLP, GNV, acetileno, etc).

Cada grupo é dividido de acordo com os seus estados físicos, possuindo


características similares, estudaremos separadamente cada uma delas:

Combustíveis sólidos
Os combustíveis sólidos de maneira geral não entram em combustão em
seus estados físicos normais, é necessário que estes se aqueçam primeiro,
termolisem, e depois entrem em combustão.
Um ponto de grande importância quando se fala de combustão de
combustíveis sólidos é a questão superfície-massa (área de contato). Quanto maior
for a área exposta, consequentemente maior será o fluxo de calor, e mais rápida se
dará a combustão. Dessa forma concluímos que quanto mais particularizado estiver
o combustível, maior será a velocidade de reação, podendo chegar a níveis
praticamente instantâneos como gases explosivos (por exemplo grãos em
suspensão).

Combustíveis líquidos
A maior parte dos Combustíveis líquidos, diferentemente dos sólidos, não
sofrem decomposição térmica ao serem expostos ao calor. Os líquidos inflamáveis
desprendem vapores de si mesmos à temperatura ambiente, não havendo

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necessidade de aquecimento e termólise. Dizemos que os líquidos sofrem


vaporização.
As moléculas dos combustíveis permanecem quimicamente iguais tendo uma
alteração de estado físico. O processo de vaporização favorece a mistura gasosa
com o oxigênio criando um ambiente altamente propício a combustão.
Líquidos são considerados inflamáveis quando liberam vapores combustíveis em
temperaturas abaixo de 37,8°C. Dizemos na prática, que líquidos inflamáveis liberam
vapores à temperatura ambiente, produzindo atmosferas classificadas como de
risco.

Combustíveis gasosos
Os gases são substâncias que se apresentam no estado gasoso em
condições normais de temperatura e pressão, diferentemente dos vapores que em
temperaturas normais se apresentam sob a forma física líquida ou sólida.
Os gases não necessitam se decompor para reagir com o oxigênio, bastando
apenas estarem dentro de uma faixa certa de concentração que permita a reação
com o comburente.
O combustível gasoso por tanto apresentará um limite superior de
inflamabilidade (L.S.I) e um limite inferior de inflamabilidade (L.I.I). Os limites são as
concentrações máximas e mínimas necessárias de gás em relação ao ambiente
para que haja uma mistura combustível.
Caso a concentração de gás seja maior que o L.S.I diz-se que a mistura está
rica e não há combustão.
Caso a concentração de gás seja menor que o L.I.I diz-se que a mistura está
pobre e não há combustão.

2.3 Comburente

O ar que respiramos é composto aproximadamente de78% de Nitrogênio,


21% por oxigênio e 1% de outros gases.

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O comburente é o elemento que reage com o combustível. Na maioria das


vezes o agente que atua como comburente é o oxigênio.
Contudo o oxigênio não é o único comburente que existe na natureza e em
ambiente com ausência de oxigênio pode haver combustão, desde que existam
outras substâncias que atuem como comburente, como o gás cloro.
Alguns combustíveis misturados com oxidantes químicos podem liberar
oxigênio, por exemplo o Nitrato de potássio.
Em ambientes compartimentados onde a demanda as atmosférico é
restrita e consequentemente a de oxigênio também, as variações de quantidade de
comburente pode influenciar na reação.
Vejamos: entre 14% e 8% a reação torna-se mais lenta (combustão lenta)
e abaixo de 7% não há combustão.

2.4 Tipos de combustão

a. Quanto a velocidade
- Combustão viva
A combustão viva é caracterizada pela presença de chamas, grande fluxo de
calor é gerado.
Vale ressaltar que só há combustão viva quando houver gás ou vapor
queimando.
Quando existe a presença de chamas, via de regra (salvo quando o oxigênio
não é o comburente ou quando o incêndio está próximo do flashover) os níveis de
oxigênio no ambiente estão em taxas superiores a 14%.

- Combustão lenta
Tem como principal característica a presença de brasas (incandescência) e a
ausência de chamas. Um ponto importante é não confundir combustão lenta com
reação lenta que na verdade é a deterioração gradual do material, de forma muito
lenta e quase imperceptível, a exemplo temos o processo de oxidação de metais

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(ferrugem).

b. Quanto à liberação de produtos:


A combustão pode ser divida como completa ou incompleta.

- Combustão completa
A combustão completa é aquela em que o combustível aquecido reage
completamente como comburente não gerando outros elementos senão dióxido de
carbono e água; são reações químicas raras em casos de incêndio.

- Combustão incompleta
É a combustão que libera resíduos que não foram totalmente consumidos
pela queima.
Esses resíduos na maioria das vezes tornam-se compostos intermediários
que são reativos. Geralmente os compostos não consumidos (compostos
intermediários, radicais livres etc) irão apresentar-se junto a fumaça, tornando a
fumaça em alguns incêndios altamente combustível.

2.5 Tipos de chamas

As chamas podem ser de dois tipos e vão variar de acordo com forma de
mistura entre o combustível e o comburente.
Para tanto torna-se necessário que abordemos a zona de reação, ou seja, o
local onde ocorre a mistura entre o combustível e o comburente.
Podem ser classificadas em:
a. chamas difusas;
b. chamas pré-misturadas;

Chamas Difusas
São as chamas onde a mistura entre o combustível e o comburente se dão no

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mesmo local da zona de queima.


O combustível e o comburente são transportados por processos de difusão
(onde um elemento se move de um local de alta concentração para outro de baixa) e
se as concentrações estiverem assim como o calor em condições ideais haverá a
combustão.

Figura 12. Chama difusa


Fonte: Manual de combate a incêndio CBMDF

Nesses casos a chama, geralmente possui uma coloração mais azulada


próxima a base, devido a boa mistura feita entre combustível e comburente além do
combustível ter a presença de cadeias combustíveis mais alongadas.
Já a ponta da chama, geralmente possui uma coloração mais amarelada, isso
se dá pela grande presença de carbono em composições mais simples (devemos
relembrar que na base da chama as composições moleculares são mais complexas
e a medida que o combustível vai sendo consumido, vai se tornando mais simples)
que fornece grande energia luminosa.

Figura 13. Chama Difusa, reação só ocorre na fronteira entre vapores e o oxigênio, semelhante a
uma casca
Fonte:www.velascocar.com.br

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As chamas difusas são as mais comuns, produzem mais luminosidade, porém


devido à grande diferença entre as densidades do combustível e do comburente,
são criadas áreas com divergências de pressão e correntes de convecção por isso
são mais instáveis.
Geralmente as chamas difusas promovem a grande criação de resíduos
(fuligem e fumaça negra), o principal fator é a perturbação da ponta da chama, que
pode ser causada pela presença de anteparo, capa térmica ou pelas próprias
correntes convectivas.

Chamas pré mistura


São as chamas onde a mistura entre o combustível e o comburente se dão
em locais diferentes da zona de queima.
Nesses casos a zona de queima não necessita ter a presença de
comburente, uma vez que o mesmo já foi misturado com o combustível.
Têm como características o baixo índice de resíduos, o alto poder calorífico,
chama estável e com o corpo geralmente azulado.
Exemplos: Bico de Bunsen, as chamas de fogão, etc.

Figura 14. Chama Pré-Misturada. Sua mistura ar/combustível ocorre antes da área de reação
Fonte:www.agracadaquimica.com.br

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3 TEORIA DO DESENVOLVIMENTO DE INCÊNDIOS

Para entendermos a dinâmica e a evolução de um incêndio em estruturas,


primeiro precisamos entender o incêndio ao ar livre e suas peculiaridades:

Figura 15. Dinâmica do incêndio ao ar livre


Fonte: os autores, 2018

Como foi visto anteriormente, existem três formas de transmissão do calor


(condução, irradiação e convecção). Independentemente do tipo de fogo ou
incêndio, as três formas de transmissão vão ocorrer nas mesmas proporções, ou
seja, cerca de 70% desse calor é liberado pela convecção, e os demais 30%
liberados pela irradiação e pela condução.
Pela diminuição da densidade dos gases e vapores da combustão, eles
sobem devido à tendência a verticalização que possuem. Por não encontrarem
nenhum tipo de obstáculo, esses produtos gasosos (fumaça) acabam se dissipando
na atmosfera e, juntamente com eles, a energia que está sendo transportada.
Dessa forma a energia liberada pela convecção é levada pela fumaça para
longe dos combustíveis ainda não atingidos pelo fogo. Assim, percebe-se que há
pouca ou nenhuma influência da convecção na transmissão desse calor
(considerando plano o terreno em que este combustível está, e analisando este
incêndio de maneira particular, sem considerar consequências de outras variáveis,

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como incêndios florestais).

3.1 Os incêndios em estrutura

E quando o incêndio acontece limitado por uma estrutura (paredes e teto)?


Vamos perceber que a estrutura em si tem papel fundamental no desenvolvimento
desse incêndio.
Imagine que um morador saiu de casa e esqueceu um resistor elétrico (um
ferro de passar roupa, por exemplo) sobre o carpete, no chão. Sabe-se que
conforme a temperatura sobe, as moléculas do material combustível se agitam cada
vez mais. Com esse aumento de agitação, as moléculas de água contidas na
composição do material começam a ser liberada na forma de vapor. Esse fenômeno
é conhecido como secagem e pode ser observado através de uma fumaça bem
clara e pouco densa que se desprende da superfície do material. Nesse momento,
em razão justamente da alta concentração de vapor de água, no momento da
secagem as chamas não sobem pela coluna se vapor que se formou.
Diz-se então que incêndio se encontra da sua fase inicial. Nessa fase, as
características do incêndio vão variar de acordo com as características do
combustível. Por exemplo, se o combustível estiver muito úmido, as chamas terão
mais dificuldade de crescer (já que a secagem vai demorar mais a terminar); outro
exemplo é um incêndio em que os materiais combustíveis se degradam com mais
facilidade; ele vai ter um crescimento das chamas mais acentuado do que uma
estrutura em que todo o combustível é madeira bruta. Por isso, é dito que na fase
inicial um incêndio está limitado pelo combustível.

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Figura 16. Fase inicial, limitada pelo combustível


Fonte: autoria desconhecida

Conforme o tempo passa, a temperatura do material continua aumentando,


consequentemente suas moléculas ficam cada vez mais agitadas. Conforme a
quantidade de vapor de água vai diminuindo, inicia-se o processo de termólise, ou
seja, as moléculas começam a se quebrar em partes menores e mais simples em
forma de vapores, porém instáveis, devido ao calor. Todos esses vapores (vapores
combustíveis e vapor d’água), devido a diferença de densidade, sobem através da
convecção. Estes produtos gasosos sobem aquecidos (levando 70% do calor
produzido) e são retidos pelo teto. Após encontrarem o teto, eles passam a se
deslocar lateralmente. Esse será o movimento dos gases e vapores durante toda o
desenvolvimento do incêndio.
Na fase inicial, a fumaça ainda é laminar na sua parte inferior, ou seja, ela é
calma. Essa fumaça ainda é rala e clara. Ainda assim, já é possível verificar que ela
se acumula próximo ao teto. Seu deslocamento é lento devido à baixa temperatura.
Esse comportamento contido da fumaça leva a uma situação em que da parte
exterior da estrutura o incêndio ainda é pouco visível.
Enquanto o tempo passa, as chamas aumentam. A quantidade de energia
transmitida aumenta conforme a combustão se torna mais intensa. As chamas
sobem cada vez mais pela coluna de gases e vapores. Com as chamas mais altas, a
irradiação térmica aumenta.
Os combustíveis ao redor do foco inicial se aquecem e começam seus
processos de secagem e termólise. Esses produtos desprendidos também se
acumulam próximo ao teto.

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A partir do momento em que as chamas tocam no teto, podemos dizer que se


inicia a transição da fase inicial para a fase de desenvolvimento. Nesse momento, a
perturbação da ponta da chama difusa inicia a produção de fumaça negra.

Figura 17. Transição entre as fases inicial de desenvolvimento


Fonte: autoria desconhecida

Deve-se lembrar que com as chamas altas a irradiação térmica é bem alta, o
que ocasiona ainda mais desprendimento de vapores nos materiais ao redor, e cada
vez mais material, principalmente vapores combustíveis se acumulam próximo ao
teto.
Esse acúmulo de fumaça que existe desde o início do incêndio forma uma
camada que se chama de capa térmica.
A capa térmica é a camada de produtos da combustão que se acumula na
parte mais alta do cômodo e cresce de cima para baixo. A superfície da capa
térmica que toca a zona de ar livre(costuma-se dizer que é a fronteira entre a capa
térmica e a zona de ar livre) chama-se plano neutro.
O plano neutro também pode ser visto como a zona de reação da capa
térmica com o oxigênio.

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Esta capa térmica é formada pelos produtos da combustão incompleta e por


vapores combustíveis que foram desprendidos dos combustíveis sólidos e não foram
consumidos pela combustão. Esse fato deve ser sempre observado porque a partir
dessa ideia fica perceptível que a fumaça é combustível, ou seja, ela própria, se
estiver na temperatura correta e na concentração correta de oxigênio, entrará em
combustão.
Quando se encerra o processo de secagem de todos os combustíveis ao
redor do foco inicial, o incêndio entra na sua fase de desenvolvimento. Na fase de
desenvolvimento o combustível perde protagonismo no incêndio. Na fase de
desenvolvimento o incêndio está limitado pela ventilação. Isso significa que as
características e a quantidade de oxigênio ofertada ao fogo determina as
características do incêndio. Por exemplo, quanto mais ventilado o incêndio, mais alto
o plano neutro vai se estabilizar e mais altas serão as chamas; se o ambiente é
pouco ventilado, o plano neutro se estabiliza baixo e as chamas se mantém
pequenas.
Ao se observar o foco na estrutura, vê-se que no ponto imediatamente acima
do foco (na capa térmica) forma-se uma zona de pressão positiva, graças ao
recebimento do fluxo de compostos gasosos chegando naquele ponto, e de maneira
oposta, nos pontos ao redor da base do foco, temos zonas de pressão negativa.
Essa zona de pressão positiva no interior da capa térmica “empurra” os
compostos gasosos de sua periferia, e isso faz com que a capa térmica se
movimente na direção contrária a direção do foco (dizemos que a fumaça foge do
foco). Por isso, dentro de uma estrutura, para encontrar o foco, deve-se seguir o

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caminho contrário ao caminho do fluxo de fumaça.

Figura 18. Movimentação da fumaça e feedback radiativo


Fonte: Imagem alterada pelos autores, 2018 (autoria original desconhecida)

Como foi dito mais acima, não se pode ignorar que esses produtos da
combustão que formam a capa térmica são, na realidade, a convecção gerada pela
combustão. Essa convecção, sabemos, que carrega 70% da energia liberada pela
combustão, é transportada até a capa térmica. A capa térmica, por sua vez, se
locomove pela estrutura carregando toda essa temperatura.
Relembrando os conhecimentos já adquiridos sobre a irradiação térmica,
sabe-se que todo corpo emite radiação e que ela é emitida para todos os lados.
Como a capa térmica está aquecida, ela redistribui esse calor pela estrutura através
da irradiação térmica, aquecendo todos os combustíveis no seu caminho. Esse
processo de “retorno” da energia (da capa térmica para os combustíveis presentes
na estrutura) é denominado de feedback radiativo.
Esse aquecimento dos combustíveis gera sua degradação (secagem e
termólise), e seus produtos enchem a capa térmica, que se torna mais densa,
espessa e combustível.
Dentro da estrutura os gases se dispõem em camadas, de acordo com sua
temperatura. O ponto mais alto da estrutura é aquele que se encontra com mais
energia (maior temperatura). Por outro lado, o ponto de menos temperatura está
próximo ao chão. As temperaturas estão, então, distribuídas dessa forma no
compartimento: quanto mais alto, maior a temperatura. A esta divisão da

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temperatura é dado o nome de estratificação térmica, ou balanço térmico.

Figura 19. Flame Over, Ignição da fumaça que sai da janela


Fonte: Imagem alterada pelos autores, 2018 (autoria original desconhecida)

Suponha-se que determinada camada da capa térmica tenha alcançado seu


ponto de ignição. Sabe-se que o interior da capa térmica é uma zona sub oxigenada,
pode-se dizer que nessa região não existem os três requisitos da combustão, já que
falta o oxigênio.Logo, apesar da temperatura, essa fumaça não entrará em
combustão.
Essa fumaça vai se locomover aquecida, aguardando apenas seu contato
com o comburente. Se ela encontrar uma abertura para o exterior estrutura, ela
chegará ao lado de fora e encontrará o comburente, fechando o triângulo.
Quando a capa térmica na sua temperatura de ignição vaza para o exterior da
estrutura e entra em ignição ao se misturar com o oxigênio externo, acontece o que
se chama de flame over.
O flame over se apresenta como uma “língua de fogo” que acontece apenas
da abertura para fora.
Dentro da capa térmica também poderão adentrar bolsões de ar contendo
oxigênio. Esses bolsões podem ser formados pela própria turbulência da fumaça,
que “fagocita” partes de ar frio, ou pela injeção de ar em seu interior por alguma
fresta ou abertura. Nesses bolsões também haverá alguma quantidade de fumaça

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

misturada. Dentro desses bolsões, portanto, caso exista energia o suficiente (ou
seja, temperatura alta o suficiente), haverá a combustão do mesmo.
A combustão que ocorre dentro desses bolsões de ar que estão na capa
térmica chama-se de ghost flames. Os ghostflames são percebidos através de
clarões alaranjados no interior da capa térmica, apesar de, na prática, ser difícil de
observá-los.

Figura 20. Flame Over, Ignição da fumaça que sai da janela


Fonte: Imagem alterada pelos autores, 2018 (autoria original desconhecida)

Devido à estratificação térmica, a primeira porção de fumaça a atingir o seu


ponto de ignição será aquela mais próxima ao teto. No entanto, a ausência de
oxigênio não permite que esta porção entre em ignição. Aos poucos, camadas mais
baixas da capa térmica vão aumentando de temperatura até atingir seus pontos de
ignição.
Em determinado momento, o próprio plano neutro vai atingir seu ponto de
ignição. Quando isso acontecer, chamas surgirão no plano neutro. A essas chamas
que passam no plano neutro denomina-se de rollover. O roll over é, portanto, a
ignição da capa térmica no plano neutro, que passa a ser a zona de reação.

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 21.Roll over no corredor


Fonte: Imagem alterada pelos autores, 2018 (autoria original desconhecida)

Figura 22.Roll over


Fonte: Imagem alterada pelos autores, 2018 (autoria original desconhecida)

Com a ocorrência do roll over, o feedback radiativo fica ainda mais alto.
Dizemos que no momento em que o roll over ocorre, por onde ele passa, o feedback
radiativo é máximo.
Com o aumento da irradiação de calor pela fumaça (feedback radiativo), os
combustíveis sólidos presentes na estrutura passam então a receber um fluxo maior
de energia. Esse maior fluxo de energia faz com que esses materiais termolisem
mais ainda, liberando uma quantidade ainda maior de vapores combustíveis, que
sobem para a capa térmica.
Essa capa térmica, que está extremamente aquecida fica ainda mais
combustível e mais cheia, o que faz o plano neutro descer ainda mais, aumentando
a sua proximidade com os combustíveis, o que aumenta o feedback radiativo.
Estabelece-se, então, condições de altíssima produção de energia e liberação de

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vapores combustíveis.
As condições estabelecidas a partir desse momento são de alta
combustibilidade, altas temperaturas e grande fluxo de energia. Essas
características, que foram proporcionadas pelo roll over, podem gerar o fenômeno
da generalização repentina do incêndio em todos os combustíveis presentes caso a
concentração de oxigênio esteja adequada ou caso o oxigênio seja injetado nessa
fase.Chama-se essa generalização instantânea de flashover.
Conforme aumenta a taxa de liberação de calor,seja esse aumento provocado
por um rolloveroupor que vários combustíveis sólidos atingiram sua temperatura de
ignição ao mesmo tempo, todos os materiais presentes em um cômodo entram em
ignição. Tanto a capa térmica quanto os combustíveis sólidos passam a pegar fogo
ao mesmo tempo, iniciando, então próxima etapa da evolução de um incêndio: a
fase de pleno desenvolvimento.
São várias as condições determinantes para a ocorrência do flashover. Em
geral, a temperatura da capa térmica deve ser de aproximadamente 600 ºC
[temperatura de ignição do carbono (fuligem)] ou então o fluxo de calor deve ser de
15-20 kW/m2, o que causa a ignição dos vapores provenientes da
degradação(termólise)dos combustíveis sólidos.

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 23.Flashovervisto de dentro da estrutura


Fonte: http://news.lifesafetyservices.com/blog/safe-from-flashover-thanks-to-passive-
fireprotection, acesso em janeiro de 2019

Nos momentos que antecede ou em que ocorre o flashover, o aumento da


temperatura do ambiente gerará um aumento de pressão repentino, que será maior
quanto mais próximo estiver do foco principal. Além dessa sobrepressão, a mudança
brusca de temperatura ocasionará a quebra das janelas de vidro devido ao
aquecimento irregular das suas estruturas e consequente dilatação irregular (a face
voltada para dentro de aquece e se expande mais do que a parte do vidro voltada
para fora).
Dessa forma, o som da quebra generalizada de janelas e o aumento da
pressão interna do ambiente (indicativos que serão abordados mais adiante) indicam
que ocorreu ou em breve ocorrerá a generalização do incêndio.

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 24.Flashover e a consequente quebra de janelas


Fonte: http://www.local1259iaff.org/flashover.html , acesso em dezembro de 2018

Outro fenômeno de comportamento extremo do fogo é o flashfire. Quando um


cômodo fica fechado, após as chamas consumirem o oxigênio e a concentração
deste ficar abaixo de 14%, não haverá mais chama e, portanto, não haverá a
produção de fumaça preta. Com menos de 14% de oxigênio no ambiente, há o
predomínio da combustão lenta – brasas. A fumaça produzida pelas brasas é clara,
de coloração cáqui. Essa fumaça vai sendo produzida no cômodo e fica
acumulando-se aumentando a pressão dentro do cômodo.
Esse excesso de pressão expulsa fumaça pelas frestas das portas. A fumaça
expulsa para um cômodo adjacente acumula-se. Apesar de clara, ela é combustível,

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

visto que é composta por vapores da termólise dos materiais de dentro do cômodo.
Quando a porta do cômodo sinistrado for aberta, as chamas podem reiniciar e
alcançar a fumaça que vazou para o cômodo adjacente causando a ignição dessa
fumaça no cômodo adjacente.
O mesmo pode acontecer se o calor por condução passar para um cômodo
adjacente ao cômodo sinistrado ao ponto de iniciar a termólise de materiais nesse
cômodo e a fumaça da termólise acumular-se nesse cômodo.
Há, no entanto, uma possibilidade de evolução alternativa do incêndio.
Algumas condições devem ser respeitadas para que ocorra o flashover. Para que
ele ocorra, a taxa de degradação dos combustíveis sólidos deve ser maior do que a
capacidade das chamas de consumi-los, bem como sua temperatura deve ser alta o
suficiente. Além disso deve haver necessariamente uma fonte constante de
alimentação de oxigênio, mantendo a concentração dentro dos limites de
inflamabilidade da fumaça.
Se existe uma grande concentração de combustível, mas não há uma capa
térmica capaz de se formar e transmitir o feedback radiativo, irradiando temperatura
o suficiente para a estrutura, a possível que esse incêndio atinja seu
desenvolvimento completo sem a ocorrência de um flashover.
Segundo o Manual Técnico de Combate a incêndio do CBMER, “durante a
fase de desenvolvimento completo é onde existe a maior taxa de liberação de
energia do incêndio. A temperatura média dos cômodos fica entre 700 e 1500 ºC,
dependendo das características dos combustíveis presentes. Esta fase do incêndio
é caracterizada pela maior quantidade de liberação de energia, estando o incêndio
limitado pela disponibilidade de combustível e comburente”.
No decorrer do incêndio é inevitável que, em algum momento, a combustão
venha a decair. Chama-se essa fase de fase de decaimento. O decaimento pode se
dar por duas razões: pelo exaurimento do combustível (que é a melhor das
situações), ou pelo exaurimento do comburente. Quando há o exaurimento do
comburente, dizemos que este incêndio está incubado.
Se não existe uma alimentação constante de oxigênio e há a ocorrência de
chamas, deve-se ter em mente que as chamas diminuirão conforme a taxa de O2 no
ambiente diminui. No entanto, para que a termólise ocorra, não é necessário

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

presença de comburente, de forma que mesmo que as chamas se apaguem, os


vapores combustíveis continuarão a ser liberados, o que deixará o ambiente cada
vez mais combustível, ainda que sem chamas.
Conforme a concentração de oxigênio cai no ambiente, as chamas diminuem.
Ao ficarem abaixo de 14%de concentração,a queima viva cessa e passa-se
para a fase de queima lenta (brasas). Ainda que as chamas se apaguem, a
temperatura no ambiente continua muito alta. Vapores combustíveis continuam
sendo liberados, o que torna essa fumaça cada vez mais combustível.
Com as chamas diminuindo ao ponto de se tornarem brasas, para-se de ouvir
o crepitar das chamas. A ausência de chamas também gera a interrupção da
formação de fumaça negra, já que a fumaça negra é produzida pela perturbação da
ponta da chama difusa; isso gera a mudança e cor da fumaça, que tende a ficar
cáqui/amarelada. Pode-se perceber também que essa fumaça, devido a sua
temperatura, sai do ambiente extremamente veloz e pressurizada.
Esse comportamento pode gerar sons similares a assobios ou sibilos na sua
saída por aberturas quaisquer. Em razão da quantidade de vapores combustíveis,
essa fumaça é muito densa. Esses vapores combustíveis presentes na fumaça, ao
tocarem superfícies mais frias (como os vidros) se condensam, mas devido à sua
natureza polimérica, como uma espécie de óleo negro, formando uma condensação
oleosa.
Outro aspecto importante é que no tempo decorrido até a incubação do
incêndio, existe tempo o suficiente para que a porta se degrade mesmo na sua parte
externa. Essa degradação é visível pela termólise da porta, derretimento de verniz,
bolhas e rachaduras da tinta etc. Vale lembrar que o incêndio pode não demonstrar
todos esses sinais ao mesmo tempo. Até mesmo somente um deles pode ser visível,
o que demanda observação precisa do cenário. Quanto mais sinais forem
observados ao mesmo tempo, mais precisa será a avaliação e a identificação de que
o incêndio está incubado.

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Figura 25. Incêndio incubado e alguns sinais indicativos


Fonte: Imagem alterada pelos autores, 2018 (autoria original desconhecida)

Figura 26. Incêndio incubado em situação real. Porta degradada é um forte indicativo Fonte: Imagem
alterada pelos autores, 2018 (autoria original desconhecida)

Percebe-se que neste momento há um cenário extremamente adverso.


Fumaça muito quente, acima do seu ponto de ignição, altamente combustível,
faltando somente uma concentração adequada de oxigênio para que ocorra a
queima dela. Nesse momento, caso haja uma abertura desavisada de uma
passagem para o oxigênio (como uma porta ou uma janela, por exemplo), será
injetado o personagem que faltava para fechar o triângulo do fogo, o oxigênio.
Quando isso ocorrer, levará um tempo até que o oxigênio se misture com a
fumaça, até que esta entre no seu limite de inflamabilidade. Quando este limite é
atingido, a fumaça entrará em combustão violentamente, ocorrendo o conhecido
backdraft, que é a explosão da fumaça que estava restrita no interior do ambiente e
entrou em contato com o oxigênio exterior. Ou seja, o backdraft não ocorre
instantaneamente ao se abrir a porta, havendo, portanto, um intervalo de tempo até

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que haja a explosão da fumaça.


Esse intervalo de tempo é exatamente o momento em que será possível atuar
para eliminar o risco de ocorrência deste fenômeno, como será visto mais a frente.

Figura 27.Backdraft em exercício controlado em simulador tipo contêiner Fase III


Fonte: https://www.charismanews.com/opinion/67721-prophetic-word-god-is-
preparing-a-spiritual-backdraft-for-the-ekklesia, acesso em setembro de 2018

TABELA 01

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4 LEITURA DE FUMAÇA

Após o estudo da Teoria do Fogo e Teoria do Desenvolvimento dos


Incêndios, entendemos melhor os “porquês” de muita coisa que acontecem nos
incêndios, e também aprendemos sobre os fenômenos de comportamento extremo
do fogo.
Aprendemos que há fenômenos que nos sinalizam a iminente ocorrência de
uma generalização súbita (Flashover), como os Ghost Flames e o Roll Over, porém
apenas o conhecimento desses fenômenos não nos garante uma ação mais segura,
pois eles podem ocorrer violentamente enquanto já estamos expostos em
progressão.
Essa teoria isoladamente, não nos fornece parâmetros para definirmos como
podemos, taticamente falando, organizar o nosso socorro de forma mais segura.
Necessitamos de elementos que nos forneçam uma melhor capacidade de
previsão de qual será o próximo passo que o incêndio vai dar, para que possamos
nos antecipar à este desenvolvimento. Para tal, utilizaremos a leitura da fumaça.
Comandantes de Operações que põem nas chamas o centro de suas
atenções para escolha de sua tática, estão fadados a um estabelecimento
fracassado, pois elas muito frequentemente dão uma falsa posição do foco
(Flameover).
Ao invés da observação das chamas exteriores, uma análise comparativa de
atributos da fumaça (volume, velocidade, densidade e coloração) podem ajudar o
comandante de Socorro a determinar o grau de desenvolvimento do incêndio, o
tamanho ea localização do foco, bem como, o potencial risco de um Flashover, e
estimar onde e quando ele acontecerá.
Antes de conhecermos tais atributos, precisamos entender melhor a ciência
oculta por trás da fumaça

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Figura 28.Flameover: Pode iludir as equipes, oferecendo posição falsa do foco.


Fonte: Imagem alterada pelos autores, 2018 (autoria original desconhecida)

4.1 A ciência da fumaça

Dentro de uma estrutura, o calor produzido pelo foco e transportado pela


fumaça, é absorvido pelos materiais, e os aquece. Tais materiais se degradam
(termolisam) e desprendem gases e vapores, sem que estes queimem. Essa
degradação térmica determina a inflamabilidade da fumaça.
Dentro de um cômodo, tais gases e vapores se difundem na atmosfera
confinada, e contribuem para uma redução da taxa de oxigenação dela. Incêndios
menos ventilados (mais confinados) dificultam a reação de combustão completa,
gerando o aumento dos níveis de monóxido de carbono e gases tóxicos e, conforme
o tempo passa e o incêndio evolui, essa fumaça poderá se ignir, e os fatores
determinantes para isso são: A mistura certa (proporção ar+fumaça) e a temperatura
certa (ponto de ignição da fumaça).

Figura 29. Fumaça aquecida: Desenvolvendo-se até atingir a mistura e temperatura de ignição.
Fonte: globo.com

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A fumaça que é observada saindo de uma estrutura deve ser interpretada


como a fuga de um agregado de sólidos, aerossóis, gases combustíveis e restos de
material em combustão que são tóxicos, inflamáveis, e voláteis. Os sólidos
suspensos na capa térmica incluem carbono na forma de fuligem (em pó). Aerosóis
constituem uma extensa gama de hidrocarbonetos oleosos e inflamáveis. Gases
combustíveis são numerosos, contendo monóxido de carbono, cianeto de
hidrogênio, acroleína, sulfeto de hidrogênio, e benzeno, encabeçando a lista.
Os gases da fumaça acima de seu ponto de fulgor (e misturados com ar)
apenas necessitam de uma fonte de ignição. Longe do foco principal, uma simples
pequena chama ou quebra de uma lâmpada pode provocar essa ignição.
Os gases de fumaça acima de sua temperatura de ignição necessitam
apenas da mistura apropriada com o ar.
A ignição da fumaça, se ela estiver pressurizada e densa num quarto ou
cômodo irá provavelmente resultar num surgimento de onda de choque.
Ao ignir, a fumaça acumulada também muda a dinâmica da propagação do
incêndio: Ao invés do fogo se espalhar sobre as superfícies combustíveis aquecidas,
ele irá se espalhar ao longo do fluxo de fumaça. Sabendo disso, partimos para o
estudo dos elementos de avaliação da fumaça para tomada de decisões.

4.2 Princípios da leitura da fumaça

Volume
O volume da fumaça, isoladamente, nos diz pouco sobre o incêndio, mas ele
estabelece a base para se deduzir a quantidade de combustíveis que estão
termolisando num dado espaço.
Um incêndio com uma queima em estágio inicial, fraca e limpa, com chamas
pouco perturbadas (sem impedimentos à zona de reação), irá emitir uma pequena
quantidade de fumaça visível; em contrapartida, um foco aquecido, e com chamas
perturbadas num incêndio com a capa térmica bem definida numa construção com

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pouca ventilação (poucas aberturas, provocando o rebaixamento do plano neutro) irá


liberar um tremendo volume de fumaça.
Materiais úmidos irão queimar muito lentamente e produzir bastante volume
de fumaça, de coloração bastante clara oriunda do vapor, e este, pouco denso.
As características dos materiais modernos (polímeros menos densos) podem
produzir grandes volumes de fumaça mesmo com uma pequena chama presente.
O volume de fumaça pode ajudar com a impressão inicial sobre o incêndio.
Por exemplo, um pequeno foco pode ser suficiente para preencher com
fumaça um pequeno restaurante fastfood. Por outro lado, será necessário um foco
grande para que a fumaça preencha uma grande loja ou supermercado. Deste
modo, o volume de fumaça dará a impressão do grau de desenvolvimento do
incêndio.
Além disso, estruturas grandes demoram muito para perturbar as chamas,
pela dificuldade de suas pontas de acessar o teto ou área suboxigenada, fazendo
com que o ar quente do foco se acumule no teto, e pouca a fumaça percebida é
oriunda da termólise de elementos próximos do teto (tinta, materiais de
encanamento, fios, etc), fazendo com que de fora, focos grandes possam ser
mascarados com pouco volume de fumaça.

Velocidade
A velocidade com que a fumaça escapa de uma estrutura é um indicador de
pressão dentro de um cômodo da edificação. De um ponto de vista tático, o
comandante de incidente precisa deduzir a CAUSA do aumento de pressão da
fumaça. Do ponto de vista científico, apenas duas coisas podem ocasionar o
aumento de pressão na estrutura: ou aumento de temperatura ou aumento de
volume da fumaça.
Quando analisamos com calma a fumaça que escapa da estrutura, é possível
discernirmos a causa desse aumento de velocidade.
A fumaça acelerada pelo calor irá subir, se misturar ao ar atmosférico e
gradualmente diminuir sua velocidade ao longo da mistura com este ar (ao esfriar). A
fumaça veloz, acelerada por restrição do volume, irá imediatamente ficar lenta e
equilibrar-se com o fluxo de ar externo.

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Se além de veloz, a fumaça que escapa de uma estrutura é muito turbulenta


(outras descrições, fumaça agitada, de aparência fervente, ou “feroz”), um Flashover
está na iminência de ocorrer. Fluxo turbulento é causado por uma rápida expansão
molecular dos gases dentro da fumaça e a restrição dessa expansão pelo
compartimento (estrutura).
A mais importante observação da fumaça é esta: fluxo turbulento (rugoso)
versus fluxo laminar de fumaça. Fumaça muito turbulenta (além do normal) está
prestes a ignir, pois já possui temperatura suficiente. O Flashover será deflagrado
assim que houver a mistura própria com ar.

Figura 30. Fumaça excessivamente turbulenta: sinal de iminência de ignição


Fonte: www.fireengineering

Comparar a velocidade da fumaça em diferentes saídas da edificação, pode


ajudar o comandante de socorro a determinar a localização do foco do incêndio.
Lembrando, contudo, que a velocidade da fumaça que se vê escapando da estrutura
é, em último caso, determinada pelo tamanho da saída de exaustão. A fumaça irá
seguir o caminho de menor resistência, e irá perder velocidade conforme a distância
do foco aumenta.
Para encontrar a localização do foco pela comparação de velocidades, você
deve apenas comparar saídas com tamanho parecido de abertura (portas com
outras portas, janelas com janelas, etc). Um comandante experiente procura a
fumaça mais veloz observando as menores saídas semelhantes, pois nelas, será
mais facilmente notada a diferença de velocidade.

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Densidade
Enquanto a velocidade pode te ajudar a entender melhor sobre o incêndio (o
quão quente, e onde), a densidade te dirá o quão ruins as coisas estão se tornando.
Visto que a fumaça é uma mistura gasosa de vapores de hidrocarbonetos, gases e
sólidos em pó, capaz de entrar em ignição subitamente, a densidade da fumaça irá
nos dizer a quantidade de vapores combustíveis que estão sendo carregados nesta
fumaça.
Espessura da fumaça também é indicativo da continuidade (proximidade
entre as moléculas) do combustível. Na prática, fumaça densa irá propagar o
incêndio mais violentamente do que a fumaça menos densa.
Nós já sabemos que a turbulência da fumaça é um alerta de ocorrência de
Flashover, mas ainda, fumaça densa, ainda que num fluxo laminar, pode se ignir por
conta da continuidade do combustível presente nela, se tiver contato com chamas
ou fontes de ignição.
Outro ponto importante relativo à densidade: Fumaça espessa dentro de um
compartimento reduz a chance de vida por conta de sua toxidez.

Coloração
Na avaliação inicial do cenário, na chegada do socorro, a cor da fumaça dirá
o estágio do aquecimento dos materiais e ajuda também na localização do foco.
Combustíveis sólidos emitirão uma fumaça clara e branca quando aquecidos
inicialmente. Essa fumaça clara é oriunda da mistura de um pouco de umidade com
fumaça de termólise, enquanto esta encontra-se em sua fase endotérmica (que
precisa de energia para ocorrer).

Fumaça Negra
Quando as chamas aumentam e são perturbadas (pelo teto,pela zona
suboxigenada nas partes altas do cômodo, ou pela própria convecção) há a
liberação de fumaça negra.
Normalmente, a fumaça negra apresenta a temperatura mais alta, pois é
oriunda diretamente da ponta das chamas do foco. Fumaça negra e veloz é um forte

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indicativo de proximidade do foco.


A coloração da fumaça pode, além disso, ajudar também na localização do
foco. Conforme a fumaça se distancia das chamas, ela aquece outros materiais
combustíveis em seu caminho, e a umidade e vapores de termólise desses objetos
torna a fumaça mais cinzenta, ou até clara, dependendo da distância. Enquanto a
fumaça viaja, carbono contido nela irá se depositar ao longo das superfícies e
objetos, o que também a torna mais clara.

Fumaça Branca
A fumaça clara quando observada, é resultado do aquecimento dos estágios
iniciais dos combustíveis ao derredor do foco, ou é oriunda de focos mais
desenvolvidos, cuja fumaça viajou uma maior distância. Porém, como saber na
prática, diferenciar as duas situações de origem de fumaça branca?
Para responder à essa questão, precisamos atentar para a velocidade, aliada
à essa coloração. Fumaça branca que se encontra pressurizada indica distância do
foco, ou gases desprendidos por combustíveis ao longo do fluxo. Fumaça branca
que se encontra calma e laminar é indicativo de aquecimento em estágios primários.

Fumaça Cáqui
Sinal de termólise mais violenta (degradação rápida) dos materiais. Ocorre
em faixas de temperaturas maiores, e é responsável pelo mais elevado grau de
inflamabilidade da fumaça, contendo metano, metanol, formaldeído, ácido fórmico,
ácido acético, hidrogênio e alcatrões altamente inflamáveis (o que dá a coloração), e
toda essa mistura gasosa é conduzida por meio de gotículas e compõem essa
fumaça.
Estudos de degradação térmica de combustíveis sólidos orgânicos indicam
que, nessa fase da termólise, ela ocorre de forma exotérmica (libera energia
enquanto ocorre), numa temperatura associada ao ponto de ignição dos
combustíveis sólidos(Corradi, 2013).

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Figura 31. Alcatrão: Condensação oleosa dos vapores de fumaça cáqui


Fonte:www.wikipedia.org

A transição para a coloração cáqui pode ser indício de um incêndio


subventilado, com a queda do plano neutro, “abafando” as chamas, mas mantendo-
se a alta temperatura nas superfícies combustíveis, e a queima apenas ocorrendo
na fase sólida (brasas).
Nessa situação, a fumaça se torna mais densa (espessa) por conta da
liberação violenta de vapores que não são queimados, mas a temperatura média da
fumaça nas saídas tende a cair para abaixo de seu ponto de ignição, por conta da
diminuição do fluxo de calor do incêndio (por isso é menor a visualização de Flame
Over em fumaça cáqui). Esse cenário é propício para a ocorrência de um Backdraft,
em caso de ventilação súbita.

Figura 32. Fumaça Cáqui: Degradação violenta de combustíveis sólidos.


Fonte:www.fireengineering.com.

Nos incêndios em estruturas de madeira (casas de estilo americano), a


fumaça cáqui é tratada como indicativo de risco de colapso, visto que a temperatura

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de ocorrência da termóliseem que esta fumaça é produzida, também representa


perda de resistência mecânica da madeira estrutura.

Black Fire
“Black Fire” é uma expressão usada para descrever fumaça ultradensa de
alto volume, veloz, com alta turbulência e muito negra (reunindo todos os sinais de
risco juntos). “Fogo Negro” é um claro sinal de iminente autoignição ou Flashover.
O uso dessa expressão, é um jargão americano, criado para fomentar no
bombeiro a preocupação com estruturas tocadas pela fumaça nessas condições,
pois ela mesmo sem igninição causa quase os mesmos danos às estruturas que
seriam causadas por chamas, como dilatação e colapso de estruturas metálicas,
degradação feroz de materiais e morte de vítimas.
Lembrando que esta fumaça negra com alta densidade, é gerada na fase de
desenvolvimento bem avançada, tendo suas chamas muito perturbadas. Essa
fumaça pode atingir temperaturas próximas de 600º.
Tratemos essa fumaça como se fossem chamas, considerando atuar em
proteção contra exposição, resfriamento e ventilação tática.

4.3 Considerações finais

Conhecer o significado de cada atributo nos ajuda a dimensionar melhor as


condições do incêndio. Combinando estes atributos, observações básicas podem
ser feitas antes que os militares adentrem na estrutura, ou mesmo em reavaliações
durante o combate.
Comparar velocidade e coloração de diferentes aberturas ajuda a encontrar a
localização do fogo. Fumaça bem negra e veloz estará próxima ao foco, enquanto
fumaça mais clara, menos densa, e menos escurecida, tenderá a ficar mais longe
deste.
Normalmente, vê-se distinção na velocidade e cor entre diversas aberturas.
Nos casos onde a fumaça aparece com uniformidade (pouca diferença), de mesma

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velocidade e coloração em diversas aberturas, deve-se deduzir que o foco está num
ambiente confinado ou profundamente interiorizado. Nesses casos, a fumaça
atravessa certa distância ou teve pressão perdida atravessando frestas de portas ou
paredes, que neutralizaram sua cor e velocidade, equilibrando-se antes de escapar
da estrutura.
Durante o processo de avaliação 360º da estrutura, observa-se essa
diferença de fumaça, e para fins de padronização de comunicação entre a
guarnição, são classificadas as faces da estrutura em “Alfa”, “Bravo”, “Charlie” e
“Delta”. A fachada Alfa será sempre a que tem a entrada principal da edificação
(portão principal) e o restante, será definido em sentido horário a partir desta.
Após a leitura e visualização. Se houver determinação de localização do foco,
ou informações de vítimas ou estruturas expostas, essa padronização favorece a
rapidez e entendimento das equipes pelo rádio, por exemplo: -“Atenção guarnição,
fumaça muito veloz e negra em Charlie, possível local de foco, expondo o andar de
cima à propagação, vítima acenando pela janela em Delta”.

Figura 33. Croqui ilustrativo


Fonte:os autores, 2018

Lembrando: Leitura da fumaça não é uma tática, mas é uma ferramenta que
ajuda a construir as melhores opções táticas. Na essência, a aproximação com
leitura da fumaça nos permite realizar um combate mais agressivo, possibilitado pela
inteligência, em oposição à uma agressividade imprudente e temerária de um
estabelecimento mais corrido do que pensado.

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5 ÁGUA NO COMBATE A INCÊNDIO

A água é o agente extintor mais utilizado no combate a incêndio, devido ao


seu baixo custo e grande disponibilidade na natureza. Além disto, a água possui
características físico-químicas que a fazem um excelente agente extintor para ser
utilizado na maioria das ocorrências de incêndio estrutural urbano, atuando na
extinção principalmente por resfriamento e secundariamente por abafamento.
A água utilizada em incêndios conduz eletricidade por possuir sais minerais
em sua composição, o que a torna inadequada para incêndios envolvendo
equipamentos energizados (classe C), em razão do risco de choque elétrico.
Também não é indicada para ser usada no combate a incêndio em líquidos
inflamáveis (classe B), pois tem densidade superior que a maioria destes
combustíveis líquidos, fazendo com que ela vá para o fundo do recipiente e não
resfrie ou abafe a superfície em chamas.
A água também não é indicada para extinguir incêndios envolvendo material
pirofórico (classe D), uma vez que o oxigênio presente em sua composição promove
violenta reação exotérmica (liberação de calor) ao entrar em contato com metais
pirofóricos.

5.1 Características da água

A eficácia da água na extinção de um incêndio se dá basicamente por três


principais características: alto valor do calor específico e do calor latente de
vaporização, e alta capacidade de expansão quando muda de estado físico (do
líquido para o gasoso).

Calor Específico
Calor específico é a quantidade de calor necessária para que cada grama de
uma substância sofra uma variação de temperatura correspondente a 1°C. Essa
grandeza é uma característica de cada tipo de substância e indica o comportamento

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do material quando exposto a uma fonte de calor no que se diz respeito à absorção
de energia e alteração de temperatura.
No caso da água, o calor específico é 1 cal/g°C. Isto significa que para elevar
a temperatura de 1 grama de água em 1°C, é necessário que esta massa de água
absorva 1 caloria. De maneira inversa, para abaixar a temperatura de 1 grama de
água em 1°C, é necessário que esta massa de água perca 1 caloria.
Por possuir um dos mais altos valores de calor específico a água é muito
eficaz na extinção por resfriamento, pois absorve grande quantidade de energia para
pouco incremento de sua temperatura.
Uma vez que é possível sentir a absorção de energia através do aumento de
temperatura, esta porção de energia é chamada de calor sensível.
Para calcular a quantidade de calor sensível, utiliza-se a seguinte equação:

Q = m x c x ΔT

Onde:
Q = quantidade de calor sensível (cal);
m = massa da substância (g);
c = calor específico da substância (cal/gºC);
ΔT = variação de temperatura da substância (ºC).

Por exemplo, para 1 litro de água a 40ºC ser aquecido até que atinja 100ºC,
qual a quantidade de calorias este volume de água deve absorver?

Utiliza-se a seguinte equação:

Q = m x c x ΔT

Tem-se que:

1 litro de água tem massa de 1 kg = 1000 g de água;


c = calor específico da água = 1 cal/gºC;

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

ΔT = variação de temperatura = 100ºC – 40ºC = 60ºC.

Então:
Q = 1000 g x 1 cal/gºC x 60ºC
Q = 60.000 calorias

Ou seja, para a temperatura de 1 litro de água se eleve de 40ºC para 100ºC,


este volume de água precisa absorver 60.000 calorias.

Calor Latente de Vaporização


Calor latente de vaporização é a grandeza física relacionada à quantidade de
calor que uma massa correspondente a 1 grama de determinada substância
necessita absorver para passar do estado líquido para o estado gasoso. Durante a
mudança de estado físico a temperatura da substância não varia, mas seu estado de
agregação molecular se modifica.
O processo de vaporização ocorre quando o líquido atinge sua temperatura
de ebulição, que no caso da água, a temperatura de ebulição é 100ºC.
A água possui um elevado valor de calor latente de vaporização, 540 cal/g, ou
seja, para 1 grama de água, a 100ºC, passar do estado líquido para o estado
gasoso, é necessário que absorva 540 calorias.
Para calcular a quantidade de calor latente de vaporização, utiliza-se a
seguinte equação:

q=mxC

Onde:
q = quantidade de calor latente;
m = massa da substância em grama;
C = calor latente de vaporização da substância.

Por exemplo, para 1 litro de água a 100ºC no estado líquido passar para o
estado gasoso, qual a quantidade de calorias este volume de água deve absorver?

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Utiliza-se a seguinte equação:

q=mxC

Tem-se que:

1 litro de água tem massa de 1 kg = 1000 g de água;


C = calor latente de vaporização da água = 540 cal/g.

Então:
Q = 1000 g x 540 cal/g
Q = 540.000 calorias

Ou seja, para que 1 litro de água a 100ºC passe do estado líquido para o
estado gasoso este volume de água precisa absorver 540.000 calorias.
Tendo em vista a quantidade de calor sensível e a quantidade de calor latente
vistas nos tópicos acima, percebe-se que um mesmo volume de água absorve 9
vezes a quantidade de calor necessária para aquecer de 40ºC para 100ºC quando
muda de estado físico. Veja o gráfico:

1 - Quantidade de calor absorvido para 1 litro de água a 40°C

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

aquecer até atingir 100°C.


2 - Quantidade de calor absorvido por 1 litro de água a 40°C
ao passar totalmente para o estado de vapor d'água a 100°C.
Figura 34.Gráfico – Quantidade de calor absorvido por 1 litro de água.
Fonte: os autores, 2018

Sendo assim, observa-se que 1 litro de a água absorve um total de 600.000


calorias ao passar do estado líquido a 40ºC para vapor a 100ºC. E que mesmo
depois de transformado em vapor, continua absorvendo energia, pois o valor do
calor específico do vapor é 0,5 cal/gºC.
Conclui-se que um combate usando água será tanto mais eficiente quanto
mais conseguir evaporar a água. Cada litro de água que escorre deixa de absorver
os 540cal/g que absorveria ao ferver e parte da energia que absorveria para
alcançar os 100ºC, ou seja, a água que escorre na fase líquida, não conseguindo
mudar de estado físico, é um recurso que deixa de ser usado no combate a
incêndio. Sendo assim, o combate a incêndio ideal é aquele em que toda a água
líquida é transformada em vapor d’água.Além disto, o excesso de água pode causar
danos materiais desnecessários, durante e após o combate, e trazer consequências
indesejáveis à estrutura da edificação, como por exemplo infiltrações.

Capacidade de Expansão
Apesar de a capacidade da água tornar insustentável a combustão pela
retirada de calor da reação, é importante lembrar que, ao absorver energia
suficiente, ela passa pelo processo de vaporização, no qual cada litro de água se
transforma em 1.700 litros de vapor a 100ºC e 3.400 litros de vapor a 450ºC.
Existem técnicas de uso da água que aproveitam esta capacidade de
expansão para atuar por abafamento, uma vez que o volume de vapor pode
deslocar o volume de comburente (oxigênio) que envolve o foco do incêndio,
tornando a mistura (combustível + comburente) pobre. Além disso, diminui a
concentração de comburente no ambiente, assim como diminui a concentração de
combustível disperso na atmosfera.
Para um melhor entendimento, vamos imaginar um esguicho descarregando
120 litros por minuto (aproximadamente, 30 galões por minuto) de água, em um local
com temperatura maior que 100ºC. A essa temperatura, a água transforma-se em

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vapor. Durante um minuto de operação, 120 litros de água serão vaporizados,


expandindo-se para cerca de 204.000 litros (120 x 1.700) de vapor. Esse vapor é
suficiente para ocupar um compartimento medindo 10 metros de comprimento por
6,8 metros de largura e 3 metros de altura. Em atmosferas extremamente aquecidas,
o vapor se expande em volumes ainda maiores. Essa expansão é rápida, e se o
local estiver tomado por fumaça e gases, o vapor, ali gerado, expulsará esses gases
ou, se caso a fumaça não for expulsa, diminuirá as proporções de combustível e
comburente disperso na atmosfera do ambiente.
Esta característica de expansão da água pode configurar uma vantagem,
como vimos, mas também pode se tornar uma desvantagem. Ao se expandir na
parte superior do ambiente, o excesso de vapor d’água perturba o balanço térmico
fazendo com que a fumaça da capa térmica desça e diminua a visibilidade. Além
disso, se houver presença humana no ambiente, seja de bombeiros ou de vítimas,
as condições de sobrevida serão agravadas, aumentando o risco de queimaduras e
o desconforto extremo. Para evitar estes problemas, devemos fazer uso das
técnicas de aplicação de água, as quais conheceremos neste manual, que visam o
uso econômico da água e consequentemente uma produção reduzida de vapor.

5.2 Aplicação da água no combate a incêndio

Por muitos anos, a água tem sido aplicada no combate a incêndio sob a
forma de jato pleno. Hoje sabe-se que a água apresenta um resultado melhor
quando aplicada de modo pulverizado, pois quanto maior for sua fragmentação
maior será a superfície de contato da água com o ambiente, o que acelera
consideravelmente a absorção de energia e diminui a temperatura do incêndio numa
velocidade muito maior.
Porém, a aplicação da água pulverizada não permite alcançar grandes
distâncias, ou seja, por vezes, é necessário a utilização de jatos compactos, a fim de
vencê-las.
A aplicação de água por uma linha de mangueira pode ser muito

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diversificada. A forma e eficiência com que a água é lançada variam conforme vários
fatores:
a. Pressão– quanto maior a pressão imprimida pela bomba, maior pode ser a
velocidade com que flui a água ao deixar o esguicho. Em consequência disso, em
um esguicho com a regulagem mantida, a pura variação da pressão acarretará
mudanças no jato como alcance, dispersão e fragmentação;
b. Vazão– é o volume de água que flui em determinado período de tempo.
Quanto maior a vazão, maior a quantidade de água que flui. A vazão também
interfere na fragmentação do jato e, principalmente, no “recuo” da mangueira.
Quanto maior a vazão, maior a força que o jato d’água faz empurrando a mangueira
para trás e maior também será o golpe de aríete provocado pela interrupção brusca
no fluxo de água;
c. Velocidade– a velocidade com que a água sai interfere no formato, na
fragmentação e no alcance do jato d’água. Interfere também no recuo, no entanto,
menos que a vazão. Ela é diretamente influenciada pela pressão imprimida pela
bomba, mas pode ser alterada por outros meios como fechamento parcial do
esguicho e a posição do anteparo do esguicho. Quanto maior a velocidade de saída
da água, maior será sua fragmentação;
d. Regulagem do jato– a regulagem de jato afeta principalmente o seu formato,
além da fragmentação e da velocidade da água;
e. Abertura– a abertura do esguicho interfere no formato do jato, na quantidade
de água lançada e na velocidade de saída da água.
f. Combinando as regulagens possíveis, será visto neste manual que há várias
técnicas de combate a incêndio baseadas no manejo do esguicho e na aplicação de
água.

5.2.1 Pressão

Com os equipamentos de combate a incêndio utilizados atualmente no


CBMERJ, a pressão se torna o fator mais importante para a execução correta das

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técnicas de combate ofensivo.


Pressão é a ação de uma força sobre uma área. Em termos práticos, isto é,
no serviço de bombeiros, a pressão é a força que se aplica na água para esta fluir
através de mangueiras, tubulações e esguichos, de uma extremidade a outra. É
importante notar que o fluxo em si não caracteriza a pressão, pois se a outra
extremidade do tubo estiver fechada por uma tampa, a água estará “empurrando” a
tampa, apesar de não estar fluindo.
Para entender a importância da pressão na aplicação da água, é importante
saber os seguintes conceitos:
a. Pressão dinâmica -é a pressão de descarga, medida na expedição, enquanto
a água está fluindo;
b. Pressão estática - é a pressão sobre um líquido que não está fluindo, por
exemplo, uma mangueira com esguicho fechado, sendo pressurizada por uma
bomba. A ação da gravidade pode, também, produzir pressão estática. Por exemplo,
no fundo de um tanque haverá pressão, resultante do peso da água sobre a área do
fundo do tanque;
c. Perda de carga - a água sob pressão tende a se distribuir em todas as
direções, como quando se enche uma bexiga de borracha com ar. Contudo, as
paredes internas de mangueiras, tubulações e esguichos impedem a expansão da
água em todas as direções, conduzindo-a num único sentido. Ao evitar a expansão
da água, direcionando-a, as paredes absorvem parte da força aplicada na água,
“roubando” energia. Isto explica por que a força aplicada diminui de intensidade à
medida que a água vai caminhando pelas tubulações. Isto chama-se perda de carga.
A força da gravidade é um outro fator que acarreta perda de carga. Quando a
água é recalcada de um nível inferior para um nível superior, a força da gravidade
“puxa” a água para baixo, o que diminui a pressão. A força da gravidade também
poderá ser utilizada no aumento da pressão, ao se fazer a água fluir de um nível
superior para um nível inferior.

Cálculo da perda de carga


Se for considerado o pé-direito de um pavimento medindo 3 metros e
aproximando a soma da altura de 3 pavimentos para 10m (o metro a mais será

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contado para que seja considerada a perda de carga por atrito na tubulação), então
tem-se que em 3 pavimentos perde-se, por gravidade 10 m.c.a. o que corresponde
a, aproximadamente, 15 PSI ou 1 BAR.
Se dividir por 3, tem-se que a perda de carga por gravidade pode ser
considerada em termos práticos da seguinte forma:

1 pavimento= perda de 0,3 BAR ou 5 PSI.

Segundo dados dos fabricantes de mangueira, considerando uma vazão de


30 galões por minuto, tem-se as seguintes perdas de carga a cada 15 metros de
mangueira:

a. de1,5” perde-se 2,25 PSI (ou 0,15 BAR).


b. de2,5’’ perde-se 0,225 PSI(0,015 BAR).

Pressão nominal - conhecida como “pressão na bomba”, é a pressão


apresentada no manômetro do painel de operação da bomba de incêndio.

Pressão residual - conhecida como “pressão no esguicho”, é a pressão da


bomba de incêndio menos a perda de carga.

5.2.2 Linha de recirculação

O esguicho utilizado atualmente pelo CBMERJ foi projetado para funcionar


sob uma pressão residual de 100 PSI (aproximadamente 7 BAR), e para imprimir
esta pressão à água, a bomba centrífuga da viatura precisa atuar com alta taxa de
rotação por minuto. A alta taxa de rotação aumenta a produção de calor através do
atrito entre os componentes da bomba centrífuga. Como, no combate ofensivo, o
esguicho fica mais tempo fechado do que aberto, esse fenômeno aquece a água
que fica parada dentro do corpo da bomba, podendo provocar o superaquecimento

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da mesma.
O aquecimento exacerbado da água no interior do corpo da bomba é
prejudicial aos componentes da bomba. De acordo com o fabricante das viaturas de
combate a incêndio, a bomba operando com todas as saídas fechadas por alguns
minutos, poderá aquecer a água a ponto de danificar o elemento de vedação da
bomba (selo mecânico). Além disto, caso o fluxo de água seja liberado após este
aquecimento, poderá ocorrer um choque térmico nos componentes da bomba, tendo
em vista que a água admitida na bomba estará mais fria que a água que já estava
parada no interior dela. A água aquecida dentro da bomba, também pode provocar
queimaduras graves caso entre em contato com alguém quando alguma expedição
for aberta. Para evitar este problema faz-se o uso da linha de recirculação.
A linha de recirculação é uma linha auxiliar que é montada a fim de manter a
troca da água no interior da bomba, retardando o aquecimento exacerbado e
prolongando o tempo de operação. Esta linha é montada a partir de uma das
expedições e deve ser conectada a uma das admissões.
Por limitações estruturais dos tanques das viaturas, quando utiliza-se uma
linha de recirculação feita com mangueiras, a vazão de recirculação não pode ser
elevada quando sob alta pressão, devendo ser reduzida através da abertura parcial
da válvula de admissão. Caso a viatura não possua válvula na admissão, um divisor
deve ser utilização para fazer o papel de limitador da vazão.
A válvula Bomba-Tanquenãodeveser utilizada para este fim, tendo em vista
que possui diâmetro muito grande quando comparado às mangueiras, não
permitindo assim que se atinja a pressão residual desejada. Também, não utilizar as
válvulas do sistema pneumático fechando parcialmente de forma manual, pois estas
válvulas acabam sofrendo sobrepressão e danificando o sistema pneumático.

5.2.3 Golpe de aríete

Algumas técnicas de aplicação da água implicam o fechamento repentino do


fluxo. Quando o fluxo de água, através de uma tubulação ou mangueira, é

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interrompido de modo súbito, surge uma força resultante que é chamada “golpe de
aríete”. A súbita interrupção do fluxo determina a mudança de sentido da pressão
(da bomba ao esguicho, para do esguicho à bomba), sendo esta instantaneamente
multiplicada.

Figura 35. Ilustração do golpe de aríete.


Fonte: Manual Básico CBMERJ, Vol. 3

Esse excesso de pressão causa danos aos equipamentos hidráulicos e às


bombas de incêndio. A mangueira de combate a incêndio, geralmente, é o
componente mais sensível aos danos ocasionados pelo golpe de aríete.
A intensidade do golpe de aríeteestá diretamente ligada à vazão de fluxo,
quanto maior for a vazão, maior será a força do golpe de aríete. Há técnicas que
permitem o fechamento brusco do fluxo de água quando se trabalha com baixa
vazão. Na maioria das técnicas de combate ofensivo, a vazão a ser utilizada é a de
30 GPM (galões por minuto) que é considerada baixa e é a menor regulagem de
vazão permitida pelo esguicho utilizado pelo CBMERJ atualmente.
Caso esteja sendo utilizada outra regulagem de vazão os esguichos,
hidrantes, válvulas e estranguladores de mangueira devem ser fechados lentamente,
de forma a prevenir e evitar o golpe de aríete.
Algumas viaturas de combate a incêndio possuem válvula de alívio, que é um
dispositivo de proteção contra sobrepressão do sistema hidráulico. Porém, ela é
mais efetiva na proteção do corpo de bomba, não protegendo de maneira eficiente
as mangueiras utilizadas no combate. A linha de recirculação também permite um
certo grau de alívio de sobrepressão do sistema.

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Observações importantes
Não importa a técnica utilizada, é importante saber o seguinte:
a. Qualquer jato de água sobre um mesmo ponto por mais de 3 segundos é
ineficiente. Se nesse tempo o jato não for capaz de sobrepujar as chamas (taxa de
absorção de calor menor que a taxa de liberação de calor) é sinal de que é
necessário aumentar a capacidade de resfriamento pelo aumento da quantidade de
água (maior vazão ou mais linhas) ou pela otimização de seu emprego (maior
fragmentação);
b. Excesso de vapor de água é prejudicial ao combate, pois:
c. Perturba o balanço térmico trazendo aos níveis mais baixos o excesso de
calor dos níveis superiores;
d. Com a descida do plano neutro, perde-se visibilidade;
e. O vapor penetra na capa de aproximação, queimando os bombeiros;
f. Água que escorre é água desperdiçada, pois ela absorve muito mais calor
para evaporar e na forma de vapor, do que para aquecer no estado líquido.

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6 MANGUEIRA

Dependendo de como seja e esteja o local do evento de incêndio (tipo de


edificação e estado da edificação, localização do foco, etc) e das condições gerais
(funcionamento do preventivo fixo, quantidade de pessoal e viaturas empenhados na
operação), será utilizado uma certa quantidade de mangueiras de 1¹/² polegadas
para formar as linhas e 2¹/² polegadas montar a ligação da maneira mais apropriada,
a fim de dar início o mais rápido possível às ações de confinamento, isolamento ou
combate ao incêndio.

6.1 Formas de estabelecimento

Sem aprofundar muito nos assuntos referentes especificamente a Estratégias


em Operações de Combate a Incêndio, é preciso termos em mente que dependendo
do que a situação no local da operação de incêndio oferecer, o estabelecimento de
mangueiras mais apropriado deverá ser executado para um combate mais eficiente.

As opções de estabelecimento do combate são:


a. Sistema preventivo fixo: recalcar água do hidrante de recalque ou do registro
de parede localizado na caixa de incêndio do primeiro pavimento. Porém, o sistema
preventivo pode não estar funcionando corretamente;
b. Pela escada: recomendada para incêndios onde o foco esteja localizado no
máximo até o sexto pavimento;
c. Içamento de linha: técnica utilizada para incêndios onde o foco esteja
localizado no máximo até o terceiro pavimento, devido a perda de carga da linha de
1¹/² (38 mm) polegadas;
d. Içamento de ligação: recomendada para incêndios onde o foco esteja
localizado entre os quinze primeiros pavimentos;
e. Hidrante elevado: caso nenhum dos tipos de estabelecimentos anteriores
servirem, utiliza-se essa técnica. Esta depende da localização do foco no ambiente

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sinistrado e da altura máxima que o cesto da viatura aérea pode desenvolver, sendo
este o limite para utilização dessa técnica.

Cabe ressaltar, que o divisor deve ser estabelecido no pavimento onde se


localiza o foco. Porém, caso não haja segurança para realizar esse procedimento,
por exemplo, se todo o pavimento estiver em chamas,devemos colocar o divisor no
pavimento imediatamente abaixo.

6.2 Dimensionamento de mangueiras

Em primeiro lugar, ao escolher a forma de estabelecimento que será utilizada,


deve-se dimensionar a quantidade de mangueiras de 2¹/² (63 mm) polegadas a
serem usadas na ligação.
Dessa forma, sendo o estabelecimento feito pela escada interna da
edificação, será necessário, aproximadamente, uma mangueira de 15 metros para
percorrer um andar e meio. Logo, a cada três pavimentos, utiliza-se duas
mangueiras de 2¹/² (63 mm) polegadas.
Todavia, no caso de ser escolhido o estabelecimento pelo lado externo a
edificação, por içamento de ligação, içamento de linha ou hidrante elevado, o
dimensionamento muda um pouco. Será necessário, aproximadamente, uma
mangueira de 15 metros para percorrer três pavimentos.
Por fim, para dimensionar quantas mangueiras de 1¹/² (38mm) serão
utilizadas na linha onde haverá a progressão do Chefe e Ajudante de linha para
combater o incêndio. Tendo em vista que durante essa progressão a mangueira fará
curvas e como a maior distância a ser percorrida no ambiente seria o equivalente a
sua diagonal, uma forma de compensar as perdas devido às curvas que a
mangueira de 38mm irá fazer no interior da edificação sinistrada, é calculando e
utilizando o semi-perímetro como base de dimensionamento da quantidade de
mangueiras que serão utilizadas na linha.

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6.3 Cálculo de Pressão Nominal

Para saber o valor da pressão necessária na bomba da viatura de água


(Pressão Nominal) para que a mesma chegue no esguicho a 100 PSI (Pressão
Residual), dependerá das Perdas de Cargas devido ao atrito horizontal e vertical
(gravidade) nas mangueiras ou na canalização preventiva.
Exemplo: Incêndio em um apartamento de um prédio residencial/comercial.
Qual será a Pressão Nominal a ser utilizada no evento? Sabe-se que:
a. o foco do incêndio está no apartamento 301;
b. o prédio tem um andar térreo e outros dois acima, contendo estacionamento e
playground, respectivamente;
c. sistema preventivo fixo está inoperante;
d. o ABT foi parqueado a 20 metros do edifício;
e. o perímetro do apartamento é de 60 metros;
f. Pressão nominal = Pressão residual + Perda de carga;
g. Pressão residual = 100 PSI;
h. mangueiras utilizadas no CBMERJ: 15 metros de comprimento.
i. perdas de carga para mangueiras de 15 metros:
j. mangueiras de 2¹/² (63 mm) polegadas = 0,225 PSI;
k. mangueiras de 1¹/² (38 mm) polegadas = 2,25 PSI;
l. Perda de carga por pavimento = 5,0 PSI.
m. Pressão nominal (PN) = Perda de Carga (PC) + Pressão Residual (PR)

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Figura 36. Esquema didático


Fonte:autores, 2018

Sequência para calcular a Pressão Nominal:


a. Dimensionamento de mangueiras:
- estabelecimento pela escada interna do prédio: 02(duas) mangueiras de 2¹/²
(63 mm) polegadas a cada 03(três) pavimentos. Então, se o incêndio é no 6º
pavimento, utiliza-se 04(duas) mangueiras de 2¹/² (63 mm) polegadas, da base do
prédio até o divisor;
- para a linha simples: semi-perímetro (metade do perímetro) é 30 metros.
Logo, utiliza-se 02 (duas) mangueiras de1¹/² (38 mm) polegadas.

b. Cálculo da Perda de Carga: perda de carga por atrito nas tubulações das
mangueiras (Perda de carga horizontal):
- mangueiras de 1¹/² (38 mm) polegadas: 2 x 2,25 = 4,5 PSI
- mangueiras de 2¹/² (63 mm) polegadas: 6 x 0,225 = 1,35 PSI
- Somatório da Perda de carga na horizontal: PCh = 5,85 PSI

c. Cálculo da Perda de Carga: perda de carga por atrito por gravidade (Perda de
carga vertical):
- por pavimento: PCv = 5 x 5
- PCv = 25 PSI

d. Perda de Carga(total):

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- PC = PCh + PCv
- PC = 5,85 + 25
- PC = 30,85
- Arredondando: PC = 30,85 PSI

e. cálculo da Pressão Nominal:


Sabendo que a PC = 30,85 PSI e PR = 100 PSI:
- PN = PC + PR
- PN = 30,85 + 100
- PN = 130,85 PSI
- Arredondando: PN = 135 PSI

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7 ESGUICHO

Com o objetivo de utilizar a água como um potencial agente extintor em


operações de incêndios, se faz necessário um equipamento que irá se conectar à
mangueira, através de acoplamento do tipo Storz, a fim de proporcionar à água:
direcionamento, controle de fluxo, alcance e formato. Chama-setalequipamento de
Esguicho. Esse agente extintor que sai da ponta do esguicho, tem seu volume
(vazão) medida em litros por minuto ou galões por minuto (gpm). A vazão de um
esguicho depende da velocidade do jato e da área do orifício de abertura do
esguicho.
Da mesma forma que os outros materiais operacionais, esse equipamento
possui características próprias. Apesar de possuírem resistência a choques
mecânicos e, no mínimo, às mesmas pressões estáticas e dinâmicas que suportam
as mangueiras, devemos ter o máximo de cuidado no manuseio, manutenção e
acondicionamento desse material.
Cabe ressaltar que apesar de existirem inúmeros tipos de esguichos, este
capítulo irá se ater aos esguichos mais utilizados no CBMERJ e também no Brasil.

Esguicho tronco-cônico
Apresenta o corpo em forma de cone, cuja base possui uma união de engate
rápido do tipo storz e na extremidade oposta um encaixe para bocas móveis de
diversos diâmetros, chamadas requintes. Esse tipo de esguicho produz somente jato
sólido, sendo este contínuo por não possuir elemento ou dispositivo que permita o
controle de fluxo de água.
É encontrado nas Caixas de Incêndio do sistema preventivo de edificações,
caso nesta seja previsto conforme o CoSCIP.

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Figura 37. Esguicho tronco-cônico


Fonte: Manual Básico de Bombeiro Militar 2017 – CBMERJ

Esguicho regulável
Nesse esguicho é capaz de realizar a abertura do jato, fechamento (gradual)
e controle da angulação (jato compacto e jato neblinado). Contudo, não possui
elemento ou dispositivo para regular a vazão.
Nos Subseção de Material Operacional (SsMOp) e nas viaturas operacionais
do CBMERJ, encontra-se esse tipo de esguicho. Contudo, ainda que o Esguicho
Combinado seja mais versátil, na ausência deste e dependendo da técnica de
aplicação da água a ser aplicada, pode-se (e deve) utilizar o Esguicho Regulável.

Figura 38. esguicho regulável


Fonte: CBMGO, 2018.

Esguicho combinado

No CBMERJ, atualmente se utiliza mais o Esguicho Combinado. Pois, neste


se consegue fazer um conjunto de regulagens simultaneamente e com isso, tem-se
a utilização da água de forma mais adequada para determinada técnica e assim,
atinge-se o objetivo que se deseja.

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 39. esguicho combinado


Fonte:os autores, 2018.

Partes e regulagens:
a. punho: possui formato específico para que o militar o segure com uma das
mãos;
b. alavanca: tem a função de controlar o fluxo de água do esguicho e deve ser
manuseada pela mão não utilizada para segurar o Punho;
c. engate do tipo storz: geralmente é do tamanho de ½ polegadas, mas pode-se
encontrar de 2 ¹/² polegadas também. Deve ser acoplado a um engate storz de
mangueira;
d. anel regulador de vazão: tem por objetivo regular e assim determinar a vazão
de trabalho. Possíveis vazões no esguicho combinado: 30, 60, 95 e 125 GPM
(galões por minuto). Além disso, possui uma última opção que é o Flush que,
quando acionado, retira possível sujeira alojada no corpo interno do esguicho.
e. anel regulador de jato: apresenta quatro tipos de jatos:
- compacto: a água ao sair do esguicho, faz um ângulo de 0º com o mesmo;
- neblinado estreito: a água ao sair do esguicho, tem formato de cone e faz um
ângulo de 30º com o mesmo;
- neblinado amplo: a água ao sair do esguicho, tem formato de cone e faz um
ângulo de 60º com o mesmo;
- neblina: a água ao sair do esguicho, faz um ângulo de 120º com o mesmo;

Cabe ressaltar que apesar de não se conseguir regular a pressão no


esguicho combinado, para que o Esguicho Combinado funcione de forma
condizente, a Pressão Residual deve ser 100 PSI/ 7 Bar, sempre.

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

8 TÉCNICAS DE APLICAÇÃO DE ÁGUA

Ataque direto
Tem como objetivo extinguir o foco por resfriamento do combustível. Para
isso, devem ser aplicados jatos direcionados para o combustível.
O quanto de água será aplicada deverá seguir alguns parâmetros, como:
a. quantidade de combustível: devemos aplicar a quantidade d'água de acordo
com as proporções do material combustível inflamado;
b. vazão: quanto maior a vazão, maior o alcance. A vazão acima da necessária
pode danificar objetos que não precisariam estar sendo atingidos e danificados com
a força da água. Portanto a vazão correta para o Ataque Direto é aquela que resfria
o objeto sem deslocá-lo e sem alagar o ambiente;
c. vapor gerado: devemos observar a quantidade de vapor gerado, se estiver
ocorrendo produção de vapor além do esperado temos um sinal de aplicação de
água em demasia, pode ocorrer, também, do jato estar sendo aplicado em local já
resfriado o suficiente;
d. tempo de aplicação de água em um mesmo ponto: Não devemos aplicar água
quando não visualizamos mais chamas. O tempo máximo de Ataque em um mesmo
ponto é de 3 segundos, após esse tempo, se não for observada a extinção do foco
naquele ponto, ou uma melhora significativa dele, devemos reavaliar o alcance e o
local onde está sendo aplicado o jato;

Geralmente o Ataque Direto é aplicado com Jato Compacto ou Neblinado


estreito, a escolha irá depender da natureza do combustível e da avaliação da
eficiência da aplicação de água;
Generalidades: Essa técnica pode ser aplicada de dentro para fora do
ambiente ou de fora para dentro do ambiente. Temos que ter em mente que se for
aplicada de fora pra dentro devemos atentar para evitar o deslocamento de fumaça
quente em virtude do deslocamento de ar causado pelo jato, para locais ainda não
afetados, assim como, atentar para a não presença de equipes ou vítimas dentro da
estrutura, que seriam atingidas pelo vapor. Portanto, apesar da possibilidade de
aplicarmos o Ataque Direto de fora pra dentro da estrutura incendiada, este, é

79
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

preferencialmente utilizado de dentro para fora caso seja possível adentrar no


ambiente.
Também é bastante eficiente quanto tivermos combustíveis extensos ao ar
livre em chamas. Para esses casos, aconselha-se o uso de mais de uma linha de
ataque.
É adequado citar a funcionalidade desse ataque para locais abertos ou
compartimentados, assim como para a proteção contra os efeitos da irradiação nas
edificações vizinhas à incendiada.

Ataque direto modificado


Tem como objetivo o extinguir o foco por resfriamento do combustível e deve
ser utilizado quando tivermos algum anteparo entre a linha de ataque e o foco que
impeça o Ataque Direto.
Nesse tipo de ataque, direcionamos o jato para um anteparo qualquer que irá
redirecionar a água para o foco, uma espécie de “ataque por tabela”

Ataque indireto
Tem como objetivo o criar vapor dentro do cômodo sinistrado
Assim, resfriar o ambiente através da mistura do vapor com a fumaça,
diminuindo sua inflamabilidade e temperatura da capa térmica, essa produção de
vapor, pode vir inclusive a extinguir as chamas.
Para isso, devem ser aplicados jatos direcionados para as paredes, chão e
teto.
O quanto de água será aplicada deverá seguir como parâmetro a quantidade
de vapor gerado.O Ataque Indireto se faz eficiente justamente pela produção de
vapor, porém, o limiar entre funcionar bem e prejudicar a operação é tênue. A
aplicação de água em demasia, nesse caso, irá gerar vapor acima do necessário, o
que e causará desconforto térmico e diminuição da visibilidade para a linha de
combate.
Portanto o combatente deverá empregar o Ataque Indireto no cômodo
sinistrado atingindo paredes, chão e teto por um tempo de 20 a 30 segundos, no
máximo, fechar a porta do ambiente, e aguardar cerca de 20 segundos para ocorrer

80
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

a troca de calor entre o vapor e a fumaça.


Após aguardarmos a estabilização do ambiente, o reequilíbrio térmico,
observamos o resultado da aplicação do jato, caso não sejam mais visíveis ou
audíveis as chamas, o BM deve adentrar ao ambiente com esguicho fechado e
iniciar o rescaldo, sempre medindo o uso água para que não seja além do
necessário.
Nesse ataque, não se direciona o jato ao foco, portanto, objetos não atingidos
pelas chamas podem ser atingidos e danificados pelos jatos, esse fato, traz à luz a
necessidade de utilizar essa técnica somente quando não for possível a aplicação
de técnicas tridimensionais.

Ataque combinado
Consiste na técnica de geração de vapor (Ataque Indireto) combinada com
Ataque Direto à base dos materiais em chamas.
Deve ser utilizada seguindo os mesmos cuidados dos Ataques Direto e
Indireto.
Os jatos deverão atingir paredes, teto e foco até que seja observada a
aplicação de água necessária. Observa-se, então a ação do jato no ambiente e se
necessário repetiremos o procedimento.
Devemos cobrir todas as superfícies do ambiente e ao mesmo tempo limitar a
quantidade de água aplicada. Cada aplicação dura no máximo 2 segundos: começa
no alto, molha o teto do ambiente, continua atingindo as paredes e termina pouco
antes de alcançar o chão.
É importante salientar que para utilização desta técnica é necessário que se
tenha um ambiente com ventilação adequada. Em casos de formação excessiva de
vapor, como medida de emergência, os bombeiros podem lançar-se ao solo para
evitarem sofrer queimaduras. Em seguida, deve ser reavaliada a ventilação do
ambiente.

Ataque tridimensional- 3DWF (TRIDIMENSIONAL WATER FOG)


Em meados dos anos 80, na Suécia, surgiu o Ataque Tridimensional - 3DWF,
com o objetivo de realizar um combate “volumétrico”. Essa técnica permite o controle

81
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

e resfriamento tanto da fumaça presente no ambiente, confinado por paredes e


tetos, quanto dos sólidos combustíveis em chamas. Isso devido ao combate
realizado no interior da estrutura, aplicando-se neblina de água no local, de forma
moderada e apropriada, conforme necessidade.
Com isso, consegue-se absorver calor do interior da edificação, resfriar a
mesma e extinguir o foco do incêndio. Tudo isso de forma rápida e segura, pelo fato
de usar de forma certa a alta capacidade da água como agente extintor.
Conforme a mudança na regulagem do jato e no tempo de abertura do fluxo
de água, o Ataque Tridimensional apresenta suas próprias variações. Assim sendo,
deve-se utilizar o Esguicho Combinado para fazer as técnicas de Ataque
Tridimensional e para tal, se faz necessário a pressão Residual a 100 PSI.

Pulso
Técnica que objetiva resfriar a capa térmica, com água micropulverizada, em
ambientes limitados por paredes e teto, os quais se encontram na fase de
desenvolvimento do incêndio. Dependendo do pé direito (altura do chão até o teto)
do ambiente, o tempo de duração do pulso pode ser mais rápido ou um pouco mais
duradouro. Isso devido ao volume e profundidade da capa térmica existente no
interior do local. Então, classifica-se em Pulso Curto e Pulso Médio.

a. Pulso curto
Em locais nos quais possuem pé direito normal (entre 2,5 e 3,0 metros) se faz
o “pulso curto”. Este consiste na abertura total do fluxo (alavanca do esguicho
combinado até o final) de água durante 0,2 segundos com imediato fechamento.
Esse tempo de abertura do fluxo é o suficiente para lançar água micropulverizada
em quantidade adequada ao ambiente, a fim de proporcionar a troca de calor e
evitar excesso de vapores d’água.

b. Pulso médio
Em locais nos quais possuem pé direito acima do normal (maior do que 3,0
metros) se faz o Pulso Médio. Este consiste na abertura total do fluxo (alavanca do
esguicho combinado até o final) de água durante 2,0 segundos, com imediato

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

fechamento. Esse tempo de abertura do fluxo é maior, se comparado ao Pulso


Curto. Isso porque devido ao ambiente ser alto, a fumaça ganhará maior
profundidade. Então, para que essa parte da fumaça mais próxima ao teto seja
atingida, é preciso uma maior quantidade de água micropulverizada e assim, fazer
com que haja a troca de calor necessária.

c. Jatos x pulso
Dependendo das dimensões (comprimento x largura) do ambiente, deve-se
utilizar um determinado pulso, tendo em vista o pé direito, com um tipo de jato,
conforme o alcance que se deseja ganhar e também de modo a evitar perdas de
água em paredes e teto do ambiente.
Portanto, para obter maior alcance e menor amplitude, utiliza-se o jato
neblinado estreito. Entretanto, se o desejo é ter menos alcance e maior amplitude,
utiliza-se o jato neblinado amplo.
Exemplos:
- corredor de apartamento residencial(largura 1,5m x comprimento 6,0m):
- pulso curto com jato neblinado estreito;
- banheiro de apartamento residencial(largura 2,5m x comprimento 2,5m):
- pulso curto com jato neblinado amplo;
- galpão(largura 5,0m x comprimento 10,0m):
- pulso médio com jato neblinado estreito.

d. Aplicação de pulsos
Com o intuito de obter sucesso nessa técnica são necessários alguns ajustes
para que a água seja aplicada de forma correta e o objetivo seja alcançado:
- a pressão residual deve ser de 100 PSI, com a finalidade de impor velocidade
a água e esta, ao passar pelo esguicho combinado, deparando-se com o anteparo
giratório do mesmo, seja micropulverizada;
- a vazão no esguicho combinado tem que ser regulada para 30 GPM. Com
essa vazão, pode-se abrir e fechar o fluxo de água no esguicho de forma rápida,
pois o Golpe de Aríete será mínimo, devido à pouca variação de vazão;
- como há a presença de capa térmica e o feedback radiativo é alto, o Chefe e

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Ajudante de linha devem estar posicionados em quatro apoios (de joelhos no chão);
- o Chefe da linha, no instante em que realizar o pulso, deve inclinar seu corpo
para trás de forma a esticar o braço e obter um ângulo de 45º entre o esguicho e o
solo, pois a água micropulverizada deve atingir o alvo: fumaça e gases aquecidos.
Dessa forma, a água tocará na fumaça aquecida e ocasionará sua evaporação.
- o Ajudante, que estará atrás do Chefe, a um braço de distância e ao lado
oposto do mesmo, tem que dar “leve” na mangueira, colocando-a na altura da coxa;
- no momento do pulso, a alavanca de controle do fluxo deve ser aberta por
completo e seguidamente fechada;
- caso se tenha errado o pulso devido ao uso de muita água ou alguma outra
regulagem de forma errônea, o ideal é aguardar o excesso de vapor se diluir no
ambiente e, após isso, executar o pulso de maneira correta;
por fim, deve-se evitar a aplicação de dois pulsos consecutivos no mesmo
lugar, pois isso acarretaria um excesso de vapor d´água no ambiente. Por isso, é
importante lembrar que água perdida em ambiente aquecido, torna-se excesso de
vapor d’água. Resultando no desequilíbrio do balanço térmico, descida do plano
neutro, perda de visibilidade por parte dos combatentes e risco de queimaduras nos
mesmos. Portanto, uma forma de melhor dimensionar quantos pulsos aplicar, é
tentar imaginar o volume de uma caixa(s) d’água de 1.000 litros naquele ambiente.
Pois, se a cada pulso gasta-se 0,5 litro d’água e o volume 1 litro de água gasosa
equivale a 1700 litros de água líquida, multiplicando 1700 x 0,5, têm-se 850 litros.
Apesar deste valor não ser mesmo do volume da caixa d’água (1000 litros), facilita a
visualização de quantos pulsos aplicar no ambiente. Então, se o objetivo é atingir
uma área maior, usa-se mais pulsos: imaginando duas caixas d’água, dois pulsos
consecutivos em dois lugares diferentes.

Pulso Curto Médio

Vazão 30 GPM 30 GPM

Pressão residual 100 PSI 100 PSI

Tempo de abertura
0,2 segundos 2,0 segundos
(fluxo de água)

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Acima do normal (maior do que


Pé direito do cômodo Normal (2,5 – 3,0 metros)
3,0 metros)

Fase do incêndio Desenvolvimento Desenvolvimento

Objetivo Resfriar a Capa térmica Resfriar a Capa térmica

Neblinado estreito ou neblinado


Tipo de jato Neblinado estreito
amplo

Quadro 1 - Quadro Resumo


Fonte: os autores, 2018.

e. Pulso Longo de Alta Vazão - Z.O.T.I.


Durante a progressão dentro da edificação ou na chegada ao local de
incêndio, pode-se deparar com um local na fase de desenvolvimento completo do
incêndio, onde há a presença de chamas em sua totalidade e por isso um enorme
fluxo de calor em seu interior.
Para extinguir as chamas, é necessário que a absorção de calor seja maior
do que a produção e propagação do mesmo. Portanto, dependendo da proximidade
da área total do local, será utilizado um jato neblinado estreito a uma vazão máxima
do esguicho (125 GPM) com fluxo de água totalmente aberto para “escrever” letras.
Para tanto, deve-se ter em vista o ponto mais distante no interior do ambiente, entre
suas paredes e começando sempre a escrita na parte superior do mesmo.
A finalidade das letras é para melhor mensurar o tempo adequado de
abertura do esguicho combinado e, dessa forma, lançar água em uma quantidade
suficiente para absorver o calor necessário do interior do ambiente:
- 30 m² : letra Z;
- 20 m² : letra O;
- 10 m² : letra T;
- Corredores: letra I.

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Figura 40. ZOTI


Fonte: Manual de combate a incêndio CBMDF.

Contudo, caso as chamas não sejam extintas, repete-se a técnica após


aguardar o tempo de 30 segundos.
Cabe ressaltar que o posicionamento do Chefe e Ajudante de linha deve ser
entre a parte tomada por chamas e a parte não atingida, por exemplo: na porta de
um cômodo ou porta de entrada de residência em chamas.
Como a vazão a ser utilizada é alta, o fechamento do fluxo de água do
esguicho deve ser feito de forma lenta, para minimizar o Golpe de Aríete e também
evitar o rompimento da mangueira utilizada.

f. Pacote d’água
Essa técnica consiste na abertura da alavanca de fluxo até sua metade e
depois seu fechamento imediato, permitindo lançar “porções” de água, através de
jato compacto, à distância sobre o combustível em queima no interior do ambiente.
Ao utilizar o Pacote d’água, não há a necessidade de disparar um ataque
direto ao foco, com fluxo de água contínuo. Pois, tendo em vista as dimensões do
local, evita-se o aumento da temperatura devido ao excesso de vapor d’água no
ambiente e também possíveis danos ao mesmo.
Contudo, o foco pode ser visualizado e ainda pode ter presença de capa
térmica ou gases aquecidos no ambiente. Então, pode-se utilizar, primeiramente,
pulsos curtos ou médios, dependendo das dimensões do ambiente e em seguida

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aplicar o pacote d’água. Enquanto os pulsos resfriam os gases aquecidos, o pacote


d’água atinge a base do foco. Essa abordagem se chama pulse-penciling.

g. Jato Mole
No interior do ambiente, durante uma progressão ou até mesmo no rescaldo,
os combatentes podem se deparar com materiais liberando vapores combustíveis,
devido atermólise.
Então, utiliza-se o Jato Mole como resfriamento preventivo no
combustívelcitado para evitar a ignição do mesmo. Para tanto, tem-se que realizar a
regulagem do jato para compacto, a uma vazão de 30 GPM e abertura parcial do
fluxo de água, o necessário para cobrir toda a superfície do material que estava em
decomposição química (termólise).

h. Saturação por neblina


Estando um ambiente com foco incubado devido à baixa concentração de
oxigênio e continua altamente inflamável devido atermólise dos materiais
combustíveis naquele ambiente que não foram consumidos por chamas, tem-se o
risco da ocorrência de um Backdraft.
Portanto, tendo a certeza de que esse fenômeno extremo do fogo poderá
ocorrer, é recomendado realizar a Saturação por Neblina por uma fresta da porta do
cômodo. A técnica consiste na aplicação de água, durante 3,0 segundos, através do
jato neblina, por uma pequena abertura na parte superior da porta.
O objetivo é gerar uma grande quantidade de vapor d’água a fim de diminuir a
alta combustibilidade do ambiente ao resfriar e diluir a fumaça, ao mesmo tempo que
também atrapalha a concentração com o oxigênio por criar uma zona de pressão
positiva no interior do ambiente e negativo no seu exterior.
Após a injeção de água, aguarda-se 15 segundos para permitir a troca de
calor entre a neblina de água e os gases aquecidos no ambiente. O fato de ter uma
grande quantidade de vapor sendo emanada no cômodo devido ao tempo de
aplicação da água, pode trazer à tona o questionamento da possibilidade de ter
vítimas dentro do ambiente e se o excesso de vapor acarretaria a morte das
mesmas.

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Como dito anteriormente, devido a baixa concentração de oxigênio e altíssima


temperatura no ambiente que continuou termolisando, as vítimas certamente já
estariam mortas. Por isso, é de suma importância realizar uma abordagem de
ambiente correta e assim verificar a queima lenta no local.

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9 ABORDAGEM DE AMBIENTE

A água será aplicada com Jato Mole, de baixo para cima, em ziguezague, até
a parte mais alta da porta. Com isso, evitaremos ou diminuiremos a degradação da
porta pela temperatura.
Sendo a porta de grande importância para a limitação da oxigenação no
ambiente, é possível também observar a evaporação da água ao encontrar a parte
mais quente da porta.
Após a execução dos 4 pontos citados acima será iniciado o processo de
entrada propriamente dita.
Para tanto, com a regulagem de jato no esguicho em neblinado estreito,
executaremos em sequência: um Pulso Curto acima do Chefe, um Pulso Curto
acima do Auxiliar, e um Pulso Médio Estreito dentro do ambiente.
Os pulsos acima da linha são de proteção e irão impedir o contato da linha
com fumaça aquecida e a ignição de gases que sairão ao abrir a porta e o pulso no
interior irá diluir, retrair o volume e diminuir a temperatura da fumaça no interior. Ao
pulsar no interior do ambiente, o Chefe visualiza e avalia.
Para isso é necessário que o Chefe e o Auxiliar estejam sincronizados e se
comuniquem de forma eficiente. O auxiliar deve abrir e fechar a porta, rapidamente,
somente após o segundo pulso de proteção.
Após a execução deste ciclo completo, devemos aguardar de 5 a 8 segundos
para a água reagir totalmente com o ambiente e, se necessário, refazer o
procedimento até que as condições do ambiente estejam aptas para a progressão
da Linha.
Serão feitos quantos ciclos o Chefe achar necessário para então adentrar no
ambiente e progredir com segurança.

Progressão
Após ter sido feita a correta abordagem de ambiente e/ou passagem de porta
pelo Chefe e Ajudante da linha, estes deverão realizar a Progressão no interior da
edificação. Para isso, realizar alguns procedimentos.
Primeiramente, a dupla, que estará em quatro apoios, deverá estar

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posicionada em lados opostos, a um braço de distância entre os dois. A fim de


facilitar a comunicação entre eles, seja ela visual ou por contato (capacete e/ou
EPRA) e aumentar o campo de visão dos dois. O Ajudante deverá manter a
mangueira segura em meia coxa, dando “leve” na mesma sem empurrá-la. Além
disso, uma função essencial do Ajudante é fazer uma vigilância periférica e atentar a
qualquer tipo de perigo que possa pôr em risco a segurança dele e do Chefe de
linha.
Tendo presença de capa térmica nos cômodos, serão utilizados pulsos (curto
ou médio) em seu interior, dependendo do pé direito da estrutura. Pois, com essa
técnica de aplicação de água, consegue-se resfriar, diluir e confinar a fumaça
presente no ambiente. Em sequência, deve-se avaliar quantos pulsos serão
necessários no local, mas é importante lembrar que não se pode pulsar no mesmo
lugar.
Além disso, é importante regular o jato (neblinado estreito ou neblinado
amplo) do pulso conforme as dimensões (comprimento x largura) do ambiente e
também do alcance que se deseja atingir.
Feito os pulsos cabíveis ao local, aguarda-se o tempo necessário para a água
micropulverizada reagir com o ambiente e então, continuam a progressão,
realizando os pulsos e analisando o ambiente. Porém, caso algum pulso tenha sido
aplicado de forma errônea ou sido usado quantidade de água exacerbada, deverá
aguardar a nova formação do plano neutro, após ter um excesso de vapor d’água no
ambiente e desequilíbrio do balanço térmico.
Entretanto, se no decorrer do caminho, for avistado um material combustível
termolisando, tem-se que aplicar no mesmo o Jato Mole. Com isso, ao realizar um
resfriamento preventivo no combustível em degradação química, evita-se que o
combustível venha a entrar em ignição.
Cabe ressaltar que o caminho da progressão a ser feito pelos combatentes é
sempre no sentido contrário ao foco, ou seja, sentido contrário ao da fumaça. Por
isso, ao deparar-se com uma bifurcação no caminho, os combatentes deverão
decidir em prosseguir no caminho citado. Todavia, o cômodo em anexo deverá ser
resfriado por pulsos e, após controlado, a porta do mesmo deverá ser fechada,
compartimentando o ambiente e evitando que fumaça venha a entrar novamente em

90
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seu interior.
Em determinando momento da progressão e devido às curvas da edificação,
a mangueira pode ficar empatada em algum trecho. Então o Ajudante deve avisar
imediatamente ao Chefe que irá desempatar a mangueira. Quando o Ajudante
regressar para posição inicial, onde o Chefe parou e aguardou, deverá repetir o
processo de comunicação, para que deem continuidade à progressão.
Ao encontrar o cômodo onde o foco está localizado, ainda há presença de
gases aquecidos. Logo, deverá ser realizado a abordagem pulse-penciling no local.
Pois, os pulsos resfriarão os gases quentes, enquanto o pacote d’água ao atingir a
base do combustível, resfriará o mesmo.
Após os gases quentes terem sido resfriados e diluídos, o Chefe e Ajudante
poderão ficar em pé (dois apoios) e , dirigindo-se ao foco, atacarão o mesmo com a
técnica de pacote d’água. Quando, de frente combustível controlado, será aplicado o
Jato Mole. Nesse momento, o ajudante pode sair de trás do chefe e ajudar a
revolver o material, se ele permitir por não ser pesado.
Por fim, faz-se a ventilação hidráulica através da janela. Dessa forma,
expulsa-se a fumaça clara do interior do ambiente e a guarnição realizará o
Rescaldo do incêndio.

9.1 Técnicas de proteção contra ignição dos gases

Durante uma ocorrência de incêndio, dependendo dos objetivos e estratégias da


operação, pode-se ter bombeiros realizando combate ofensivo. Contudo, estes
combatentes podem realizar alguma abordagem errada no interior da edificação,
mesmo que sem intenção.
Não só isso, mas também, se a equipe no exterior da edificação, realizar uma
abertura de janela de forma errada, poderá hiperventilar o interior do ambiente e
determinar a ocorrência de ignição da fumaça. Além das duas situações anteriores,
o próprio incêndio pode quebrar vidros de janelas ou degradar portas, acarretando
também o mesmo fenômeno.

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O Ajudante de linha ao perceber sinais de ignição da fumaça, iminência ou a


ocorrência do Rollover, deve imediatamente avisar ao Chefe de linha, de forma
verbal e também tocando o capacete e/ou cilindro do EPRA do mesmo. Caso os
dois estejam em posição muito interiorizada, a ponto de não conseguirem abandonar
o ambiente em menos de 2 (dois) segundos, deverão realizar técnicas de aplicação
da água para se protegerem.
Então, o Chefe de linha deverá regular o jato, no esguicho combinado, para o
neblinado amplo e logo em seguida pulsar na capa térmica ao mesmo tempo em
que recua, de forma sincronizada. Com isso, o Ajudante de linha deverá ajudar
realizando o recuo da mangueira e também continuar a verificação periférica.
Contudo, com a ocorrência do Rollover o feedback radiativo será extremo e
com isso, pode-se ocorrer o Flashover. Para tanto, novamente, o Ajudante de linha
avisará ao Chefe de linha quanto a ocorrência desse fenômeno extremo do fogo.
Com isso, o Chefe de Linha, de forma mais rápida possível, irá abrir todo o
fluxo de água, regular o jato do esguicho para neblina, aumentar a vazão para 125
GPM ao mesmo tempo em que se deitam lateralmente, Chefe e Ajudante de linha,
um de frente para o outro.
Posteriormente, já deitados, os dois deverão voltar o rosto para o chão e o
Chefe deverá esticar os braços. Porém, como a vazão utilizada é muito alta, o
Ajudante deve ajudar o Chefe, na sustentação da mangueira, segurando-a.

Figura 41. Proteção flashover


Fonte: os autores, 2018,

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10 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL

As operações de combate a incêndio expõem as guarnições a riscos das


mais variadas naturezas e intensidades, para tanto o militar deve possuir
equipamentos capazes de mitigar e/ou até eliminar os danos gerados pelos riscos
envolvidos nos combates.
Torna-se imprescindível que o combatente esteja usando todo o EPI
(equipamento de proteção individual) sendo vedado o não uso ou o uso parcial dos
EPIs em todas as operações de combate a incêndio urbano, não subestimando
princípios de incêndios, vazamentos de GLP ou incêndios veiculares.
Um aspecto importante é a segurança psicológica e a confiança que o EPI
traz ao bombeiro. O militar ao estar totalmente equipado se sente mais capaz a
realizar suas atividades de combate a incêndio, e não é apenas uma sensação, de
fato está muito mais preparado para cumprir a missão, podendo penetrar em
ambientes onde seria impossível entrar sem o usos dos equipamentos.
Os EPIs não são capazes de fornecer proteção irrestrita aos usuários,
cabendo aos mesmos conhecer as especificidades dos mesmos, seus cuidados
quanto ao uso e no que tange a manutenção cumprir sem exceções todos os
procedimentos.
Vale ressaltar que o não uso dos EPIs ou o uso inadequado pode causar à
morte ou perigo a saúde e ao bem estar de forma instantânea ou a médio e longo
prazo.
Os EPIs geram um aumento do peso do militar e gera uma limitação
considerável da capacidade físicas do combatente. Segundo Moretti (-2003, Apoud
OLIVEIRA, 2008) o militar pode chegar a ter em operações de incêndio uma
sobrecarga de peso devido aos materiais empregados que pode chegar a 27Kg e
pode chegar a reduções de capacidade física que chegam a 30%.
Outro fator que não pode ser negligenciado é a necessidade de aclimatação e
adaptação do combatente urbano ao EPI. Os materiais empregados na proteção do
bombeiro limitam os seus sentidos, diminuem a sua maneabilidade e destreza, para
não perder capacidade operativa o usuário deve estar perfeitamente acostumado a
usar os materiais, equipamentos e acessórios.

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A questão da limpeza dos equipamentos será abordada em cada material,


dada a sua importância no que tange a prevenção de câncer.
Equipamentos sujos estão impregnados de contaminantes e agentes
agressivos que podem contaminar o operador tanto pelas vias aéreas quanto de
forma cutânea.

Devido a importância dos EPIs em relação a viabilização dos combates e


principalmente na proteção da vida do usuário é necessário que os mesmos
atendam a níveis de excelência e proteção rigorosos.
Devem possuir CA (certificados de aprovação) expedidos pelo ministério do
trabalho e emprego e ainda estar em consonância com as especificações da NFPA,
EN ou similar.
Os Equipamentos que todo o militar que opera em ambientes de combate a
incêndio urbano são:
a. botas de combate a incêndio ou coturnos de combate a incêndio;
b. roupas de aproximação;
c. luvas de combate a incêndio;
d. balaclava;
e. capacete;
f. equipamento de proteção respiratória autônomo;

Bota de combate a incêndio


As botas de combate a incêndio devem proporcionar proteção contra cortes,
abrasão e perfurações em toda a região dos pés, tornozelos e pernas. Deve possuir
ainda reforços em material substancialmente resistente no solado e na biqueira
capaz de proporcionar proteção nessas áreas mais sensíveis. A bota de combate a
incêndio deve ser resistente ao calor, a eletricidade, ser antiderrapante e
impermeável.
O equipamento deverá sempre estar limpo, para tanto poderá ser usado
sabão neutro e água, secando à sombra

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Figura 42. bota de combate a incêndio


Fonte:www.bombeiros.com.br

Roupas de aproximação.

Figura 43. Roupa de aproximação


Fonte:http://www.seven-brazil.com/

As roupas de aproximação devem ser capazes de proteger integralmente o


combatente de:
a. queimaduras na pele;
b. calor e seus efeitos;
c. abrasão e cortes;
d. Penetração de vapor e gases aquecidos;
e. Penetração instantânea de líquidos e fluidos.

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As roupas de aproximação atuam devido à sobreposição entre camadas de


tecidos específicos e camadas de ar.
As camadas feitas em tecidos resistentes às chamas e ao calor absorvem de
forma lenta e moderada altos níveis de calor proporcionando a proteção contra a
transmissão de calor externo ao ar interno (bolsão de ar) que está em contato com o
bombeiro
Os bolsões de ar criam uma atmosfera interna com temperaturas amenas em
relação ao ambiente externo à roupa, dessa forma o ar atua como isolante térmico.
Não deve-se usar camadas de tecidos espessas ou que limitem a troca de calor
por baixo da roupa de aproximação, para tanto é indicado que use-se roupas leves,
de algodão por exemplo (por isso é contra indicado o uso de gandola por baixo da
roupa de aproximação)
Bem como também não deve-se usar a roupa de aproximação justa ao corpo,
nem mesmo apertar os tirantes de ombro do seu equipamento de proteção
respiratório ou comprimir sua roupa de aproximação, todas essas práticas irão
comprometer as condições normais dos bolsões de ar que são formados e a
segurança.
É de grande importância não estar molhado, pois a água absorverá calor
muito mais rápido do que o ar, queimando o bombeiro.
A absorção de calor pela água é 25 vezes maior do que pelo ar, por tanto o
bombeiro deve estar seco.

Elementos básicos da roupa de aproximação:


a. camada externa: a camada mais externa possui grande capacidade de
proteção contra abrasão e contra cortes evitando assim que o bombeiro venha a se
ferir ao entrar em contato com superfícies cortantes ou sofra contusões por ocasião
de pequenos impactos. Possui grande capacidade de proteção contra as chamas e
contra o calor radiado;
b. camada intermediaria: tem como principal objetivo a proteção contra a
propagação convectiva do calor. Irá promover a maior parte da proteção térmica
fornecida pelo equipamento;
c. camada interna: também conhecida como barreira de umidade é um

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revestimento que evita a entrada de vapor ou umidade externa e favorece o


escoamento dos líquidos oriundos da sudorese bem como o calor produzido pelo
corpo;
d. faixas reflexivas: Auxiliam na visualização noturna dos combatentes,
favorecendo a segurança dos mesmos;
e. gola, a punhos e sistemas de fechamento: Componentes de grande
importância favorecem a vedação e a permanecia da integridade do bolsão de ar.
Para tanto é necessário que todos sejam empregados diminuindo as chances de
que o ar externo entre em contato com o ar interno;
f. reforços externos: funcionam como amortecedores e protetores contra a
abrasão. O reforços existente nos membros inferiores trazem grande conforto,
facilitando o posicionamento correto do operador em 4 pontos.

Cuidados com a roupa de aproximação:


a. Nunca utilize a roupa de aproximação sem um dos elementos existentes, sob
o risco de morte ou graves lesões
b. a roupa de aproximação deve ser guardada em local longe da luz solar,
produtos agressivos, em local limpo e seco.
c. Mantenha sua roupa de aproximação limpo.
d. não utilize amaciantes
e. use sabão ou detergentes habituais (sem amaciantes ou qualquer outro
aditivo especial agregado)
f. secar a sombra e nunca guardar enquanto estiver úmido.

Luvas de Combate a incêndio


As luvas de combate a incêndio são peças fundamentais na proteção do
bombeiro, feitas em tecidos antichamas e retardantes de chamas. Devem proteger
as mãos contra cortes, abrasões e calor.
Devem possuir mínima capacidade de estanqueidade e isolamento contra a
entrada de fluidos e líquidos externos.
Não podem comprometer a maneabilidade do combatente.
Não guarde as luvas sem antes estarem limpas e secas, para a limpeza das

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luvas utilize apenas água e sabão neutro, secando à sombra.

Figura 44. Luvas de combate a incêndio


Fonte:www.petterepis.com

Balaclava
Confeccionada com o objetivo de proteger cabeça, couro cabeludo e pescoço
contra o calor.Possui função de grande importância de ocorrência onde ocorrem
explosões ou súbitas ignições de combustíveis líquidos.Geralmente feita em tecidos
maleáveis, confortáveis e com grande capacidade de proteção térmica (geralmente
tendo a aramida como base)

.Figura 45.Balaclava de combate a incêndio


Fonte:www.epibrasil.com.br

10.1 Equipamento de proteção respiratória

Dentro das inúmeras ações empregadas em uma operação de combate a

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incêndio, existe o constante risco de comprometimento respiratório.


Seja por ausência de oxigênio, ar demasiadamente aquecido, presença de
gases tóxicos e asfixiantes, a todo instante o bombeiro pode vir a sofrer danos
imediatos ou a médio e longo prazo, podendo culminar na morte do mesmo ou em
perda substancial da qualidade de vida.
Em decorrências da complexidade das ações de bombeiro, da
impossibilidade de identificar durante a operação todos os contaminantes existentes
e de outros aspectos que tornam o serviço de combate a incêndio extremamente
peculiar, torna-se inviável empregar equipamentos de proteção respiratórios não
autônomos.

10.1.1 Riscos respiratórios.

As atividades de combate a incêndio oferecem uma gama variável de riscos


respiratórios.
A combustão pode diminuir a concentração de oxigênio, a produção de
diversos gases asfixiantes e tóxicos podem comprometer de forma imediata a vida e
a saúde, o próprio ar respirável pode estar sobremaneira aquecido comprometendo
a segurança das vias aéreas.

Deficiência de oxigênio
O ar atmosférico em boas condições é livre de agentes agressivos e possui
uma concentração de cerca de 20,9% de oxigênio. O ser humano para que possua
um funcionamento satisfatório necessita de ao menos 20,0% de concentração de
oxigênio.
Segundo o artigo “Lesões por inalação de fumaça em ambientes fechados”
(Manual CBMGO), durante um incêndio em atividade, tipicamente a concentração de
oxigênio cai para 10-15%, ponto no qualo óbito por asfixia ocorre. Entre 60% e 80%
dos óbitos imediatos ocorridos na cena de um incêndio são atribuídos a inalação de
fumaça.

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De acordo com a figura podemos observar algumas conseqüências do déficit


de oxigênio no organismo:

Concentração de Oxigênio Consequências


20,9% Normalidade
17% Perda parcial da coordenação motora
Aumento da freqüência respiratória
12% Vertigem, dor de cabeça e fadiga
9% Inconsciência
6% Morte em decorrência de PCR
Figura 46. Tabela didática
Fonte: CBMERJ

Temperatura elevada
A presença de gases e vapores em altas temperaturas podem causas
diversas lesões nas vias aéreas.
Queimaduras de face, vermelhidão, inchaço e até sangramento são fatores
que indicam danos ao trato respiratório que pode apresentar lesões tanto externas
quanto internas.
Internamente pode ocorrer edemas pulmonares e lesões de tecidos que
podem culminar na morte do bombeiro.

Presença de agentes danosos


Diversas substâncias são produzidas e liberadas no ambiente durante a
combustão, dentre elas uma variada gama de gases que de acordo com as suas
composições químicas podem gerar danos e até mesmo a morte aos indivíduos que
estiverem expostos.
Dentre os principais agentes produzidos em incêndios em estruturas temos:
Monóxido de carbono (CO), dióxido de carbono (CO2), dióxido de enxofre (SO2),
ácido cianídrico (HCN), amônia (NH30) entre outros.

a. Monóxido de carbono
O monóxido de carbono possui uma forte ligação com a hemoglobina
(responsável pelo transporte de oxigênio). A afinidade do CO com a hemoglobina é
da ordem de 200 a 300 vezes maior do que em relação da hemoglobina com o
oxigênio.

100
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

O monóxido de carbono não possui cheiro ou cor. É o produto da


combustão que mais mata em incêndios.

a. Dióxido de carbono
É um gás também inodoro e incolor com o monóxido, mas não é tóxico.
Em altas concentrações pode produzir a privação de oxigênio ao corpo,
principalmente, coração e cérebro.

b. Ácido cianidrico
É aproximadamente 20 vezes mais tóxico do que o monóxido de carbono,
geralmente é obtido através da combustão de materiais sintéticos.
Segue a baixo imagem ilustrativa retirada do manual de combate a incêndio
do CBMDF, volume 2 e presente também no livro Tactical firefighting,2003. Nela
pode-se observar diversos outros gases que podem estar presentes na fumaça.

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 47. Relação entre gás, origem e seus efeitos toxicológicos


Fonte: TacticalFirefighting

10.1.2 Classificações do Equipamento de proteção respiratório

a. autônomos ou independentes
Não sendo possível empregar equipamentos respiratórios que utilizem o ar
ambiente melhorando ou tratando o mesmo, uma vez que não é possível identificar
todos agentes agressivos presentes e levando em consideração a possibilidade de
ausência de oxigênio em níveis compatíveis com a saúde humana, torna-se
necessário empregar equipamentos que possuam autonomia em relação a
atmosfera externa. Dessa forma o CBMERJ emprega equipamentos de proteção
respiratória autônomos.

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b. sistema aberto
Cilindros com ar respirável comprimido a alta pressão, fixado em
suportes,possui mangueiras e reguladores de pressão que levam o ar até uma peça
facial onde pode ser consumido pelo operador. Os equipamentos autônomos
possibilitam o uso sem grande perda de agilidade e mobilidade permitindo razoável
tempo de efetivo serviço.

c. sistema aberto ou circuito aberto


O ar que é consumido pelo operador fica acondicionado no cilindro, após
percorrer todo ciclo respiratório o ar é expelido através da válvula de exalação e é
liberado ao meio externo,não sendo guardado ou reaproveitado dentro do sistema.

d. fluxo de demanda ou demanda positiva


Fluxo de demanda tem como objetivo liberar o fluxo de ar a medida que o
operador inspire, ou seja, o ar vai sendo liberado de acordo com o consumo. Dentro
da peça facial a pressão em relação ao meio externo é positiva, levemente superior
e tem o objetivo de não permitir a entrada de gases e do ar externo no interior da
peça, dessa forma se por algum motivo ocorrer um dano à vedação ou a outro
componente comprometendo a sua integridade, a tendência é que a pressão
positiva não permita e entrada de ar.

10.1.3 Testes e procedimentos anteriores ao uso

O EPRA é um elemento fundamental e o conhecimento de seus componentes


é fundamental, dessa forma didaticamente foram divididos em grupos para facilitar o
aprendizado, em seguida alguns apontamentos sobre alguns componentes a fim de
enriquecer o arcabouço doutrinário do especialista.

CONJUNTO COMPONENTES
CONJUNTO DO SUPORTE DORSAL TIPO Conjunto de redutor de pressão; alças e

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MOCHILA ajustes
CONJUNTO DO CILINDRO Cilindro, registro, manômetro
CONJUNTO DA PEÇA FACIAL Visor panorâmico,
CONJUNTO DE REGULADOR DE Mangueiras, sistema de alarme
PRESSÃO
Figura 48. Relação entre conjunto e componente do EPRA
Fonte: os autores, 2018

O equipamento de proteção respiratório necessita ser checado antes de ser


empregado pelo bombeiro, cabendo ao próprio operador avaliar as condições de uso
do EPRA.
São necessários 4 testes, são eles:
a. inspeção visual detalhada;
b. teste de vedação do sistema de alta pressão;
c. teste do sistema áudio alarme;
d. teste de vedação e exalação.

Inspeção visual detalhada:


a. o bombeiro irá expor todo o equipamento, alargando tirantes e afrouxando as
fivelas;
b. deve observar se as mangueiras estão comprometidas (ressecadas, cortadas,
queimadas, furadas etc.);
c. deve observar o cilindro buscando anomalias em seu corpo (dilatações,
rachaduras, deformações ou significativas alterações de coloração);
d. deve observar a peça facial, buscando perfurações ou rachaduras no visor;
e. deve Observar se todas as conexões estão em conformidade com o padrão
de uso, inclusive a do sistema carona;
f. deve Observar se os manômetros estão íntegros e sem anomalias (ponteiros
desajustados, perfurações e rachaduras no visor).

Teste de vedação do sistema de alta pressão:


a. o bombeiro travará o botão que libera fluxo de ar da válvula de demanda;
b. abrir o registro do cilindro pressurizando o sistema;
c. fechar o registro do cilindro;
d. realizar a leitura do manômetro de operação e do manômetro do cilindro;

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e. a leitura deverá ser compatível e se manter com alteração de no máximo 10%


e, relação aos manômetros durante minuto;
f. se cair mais de 10% durante esse período ou se permanecer um decaimento
por mais de 1 minuto, poderá ocorrer um vazamento no sistema.

Teste do sistema áudio alarme


a. o bombeiro deverá travar o botão que libera o fluxo de ar da válvula de
demanda;
b. abrir o registro do cilindro, pressurizando o sistema;
c. o bombeiro colocará a válvula de demanda de tal forma contra a palma de
sua mão que consiga liberar de forma lenta e gradativa o fluxo de ar;
d. deverá liberar o fluxo de ar de forma lenta e gradual observando o manômetro
de operação;
e. a pressão decairá e ao aproximar-se de 50 bar o sistema apitará.

Teste de vedação e exalação:


a. o bombeiro vestirá a peça facial, ajustando-a;
b. irá tamponar com a mão a entrada do encaixe da válvula de demanda, não
permitindo a passagem de ar;
c. irá succionar o ar, buscando sentir o colabar da peça em seus rosto;
d. depois expirará percebendo o funcionamento da válvula de exalação.

Cuidados e recomendações
a. o EPRA deve ter sua recarga feita por bombeiros que saibam usar o
compressor de ar;
b. nunca poderão ser negligenciado os padrões de segurança quanto a testes
hidrostáticos do cilindro e outros testes;
c. os limites de segurança quanto a pressão máxima devem ser seguidos;
d. oepra deverá ser armazenado em local limpo, seco e longe da luz solar;
e. oepra só poderá ser armazenado estando limpo;
f. a peça facial deverá ser limpa com solução de água e sabão neutro, secando
a sombra.

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10.2 Capacete de combate a incêndio

O bombeiro quando está dentro de uma estrutura combatendo incêndios, está


exposto a uma série de riscos e a proteção da cabeça do bombeiro é vital por tanto
o combatente deve ter um equipamento que supra as principiais necessidades de
proteção.
A principal função do capacete de combate a incêndio é no que tange a
proteção mecânica, ou seja, contusões, impactos agudos, batidas e afins.
Essa proteção se dá tanto no que se refere a recepção e a dissipação do impacto
mecânico.
O modelo de capacete empregado atualmente pelo CBMERJ é o Gallet F1,
da MSA, e, além da proteção mecânica, também traz outras formas de proteção
entre elas:
a. Resistência térmica tanto ao calor quanto ao frio e resistência a eletricidade.
b. Elementos:
c. casco com formato em conchas e crista longitudinal, altamente resistente,
produzido por termoplástico injetado, recoberto por uma camada de poliuretano.
d. estofamento interno para a absorção de impactos
e. berço (encaixe) de cabeça feito em tela confortável, moldura que se ajusta a
concha.
f. suspensão com sistema de catraca, para ajuste de circunferência craniana
g. ajustes de pescoço
h. ajuste de jugular com copo
i. óculos de segurança produzido em policarbonato
j. escudo facial revestido de material refletivo n cor dourada.
k. botão de comando do óculos de segurança
l. encaixe das lanternas
m. encaixe do conjunto de comunicação
n. protetor de nuca

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Figura 49. Capacete de combate a incêndio estrutural


Fonte: www.sossul.com.br

10.3 Equipagem.

A equipagem deverá ser feita com meticulosidade, uma vez que os materiais
estando mal colocados não irão proporcionar toda a proteção necessária ao
bombeiro.
De forma geral, serão seguidos os seguintes passos:
a. colocação das botas de Combate a incêndio;
b. colocação da roupa de aproximação (somente com a camisa vermelha de
algodão por baixo);
c. colocação e ajuste do EPRA;
d. balaclava por cima da peça facial;
e. capacete;
f. ajuste fino e revisão (gola, dedal, punhos);
g. luvas de combate a incêndio.

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Figura 50. equipagem correta da peça facial e da balaclava de combate a incêndio


Fonte: Manual básico CBMERJ

Na foto é possível ver uma etapa parcial da equipagem, a perfeita colocação da


balaclava por cima da peça facial. O ajuste da gola,do dedal feitos, faltando apenas
os punhos.

Figura 51. Bombeiro completamente equipado para combate a incêndio urbano


Fonte: CEIB - CBMES

Na figura 51 já pode-se observar o bombeiro completamente equipado


(inclusive com o uso do conjunto de aproximação (calça e jaqueta), e não só a capa

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de aproximação.

Para que o bombeiro esteja perfeitamente equipado, é necessário que esteja


utilizando corretamente todos os equipamentos de proteção individuais.
Recapitulando, são:
a. bota de incêndios;
b. calça de aproximação;
c. jaqueta de aproximação;
d. balaclava;
e. luvas para incêndio;
f. capacete para incêndio estrutural;
g. equipamento de proteção respiratório autônomo

Outro fator importante que deve ser levado em consideração é o tempo que
se gasta equipando-se. O ideal é que demore em torno de 1 minuto e 30 segundos
para que esse tempo seja alcançado é necessário intimidade com o material e
organização do mesmo.
Segue uma sequência de equipagem:
a. vista a calça de aproximação nas botas de incêndio, deixando a calça de
forma que facilite com que o bombeiro calce as botas de forma rápida;
b. calce as botas, subindo as calcas e colocando os suspensórios;
c. coloque a jaqueta de aproximação, ajustando a alça dos dedos;
d. coloque o EPRA, deixando as alças dos ombros mais frouxas e os tirantes
abdominais mais apertados;
e. coloque a balaclava no pescoço;
f. coloque a peça facial, ajustando os tirantes de baixo para cima;
g. ajuste a balaclava, vedando todo o rosto;
h. ajuste a capa e abalaclava;
i. coloque o capacete;
j. coloque as luvas.

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10.4 Estresse ou fadiga pelo calor

O quadro de estresse térmico é caracterizado pelo comprometimento do


sistema fisiológico e mental em razão da temperatura.
Em incêndios estruturais as temperaturas próximas ao teto podem chegar a
1000°C, gerando grande fluxo de calor, O peso das ferramentas, equipamentos e
acessórios, os fatores limitantes do EPI, o estresse mental entre outras variáveis
tornam as operações de combate a incêndios em estruturas, extremamente
perigosas à vida e a saúde do bombeiro.
Existem vários sinais e sintomas que são indicativos do quadro de estresse
pelo calor. O bombeiro deve ser capaz de identificar nele e nos outros componentes
da guarnição
Efeitos do organismo de acordo com o tempo de esforço.

TEMPO EFEITOS
EM MENOS DE 1 HORA TOLERÂNCIAMUSCULAR REDUZIDA
CAPACIDADE MENTAL AFETADA
BAIXA COMPREENSÃO
BAIXA RETENÇÃO DE INFORMAÇÕES
APÓS 2 HORAS CÃIMBRAS
FADIGA
PERDA DE FORÇA
COORDENAÇÃO MOTORA REDUZIDA
DOR DE CABEÇA
NÁUSEA
ATORDOAMENTO
ESTÁGIO AVANÇADO COLAPSO
INCONSCIÊNCIA
MORTE
Figura 52. relação entre tempo deexposição e efeitos fisiológicos.
Fonte: Tatcticalfirefighting

Em operações de combate a incêndio estrutural, nota-se que o combatente


está exposto a uma série de lesões em razão das altas temperaturas, dos meios
limitados de arrefecimento corporal, da intensa atividade física, do estresse mental
entre outras variáveis possíveis.
Existem formas de prevenir os efeitos do calor e de aumentar a resistência do
individuo, uma vez não sendo possível existem formas de mitigar os danos e de
restabelecer um quadro de normalidade.

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Dentro desse contexto iremos abordar:


a. capacidade física;
b. aclimatação térmica;
c. hidratação;
d. métodos de arrefecimento corporal passivos e ativos.

Capacidade Física
Necessidade de esforço físico intenso por períodos de longa duração, grande
carga de peso e estresse mental entre outras variáveis estão presentes nas
operações, para tanto torna-se imprescindível que o combatente esteja com vigor
físico em boas condições.
“o excesso de peso, influencia o individuo quanto à tolerância ao calor, a taxa
de sudorese, o ritmo cardíaco, o que leva um aumento da produção de calor
metabólico” (Sharkey, B.J e Gaskill S. E (2009), “ Fitness andworkcapacity”).
Outro fator de grande relevância em relação ao preparo físico é a grande
necessidade de resistência cardiorespiratória e de grande capacidade
neuromuscular devido a carga de intensidade e duração das atividades.

Aclimatação térmica
Vale ressaltar ainda, que segundo o POP de Lesões pelo calor, que 70% do
estresse térmico provém do próprio metabolismo endógeno e 30% do ambiente.
Nota-se que as temperaturas e as condições de calor chegam ao limite em
incêndios estruturais, estar perfeitamente equipado não é o único pré-requisito, é
necessário que ele esteja aclimatado ao calor e ao EPI.
O corpo humano possui uma temperatura média que gira em torno de 36,5 °C
(sabendo que essa temperatura pode variar de acordo com uma gama de fatores
externos e internos) dependendo da amplitude de variação térmica o corpo inicia
uma série de mecanismos para regular a temperatura, entre eles a sudoresetem um
destaque, uma vez que é o principal mecanismo de arrefecimento corporal
empregado.
As camadas da roupa de aproximação limitam bastante a ação de
arrefecimento corporal gerada pela sudorese. As roupas de aproximação mais

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

modernas possuem mecanismos que tem como função escoar um pouco do calor
produzido e absorver os líquidos gerados, mitigando alguns efeitos nocivos do calor.
Dentro desse contexto torna-se imprescindível que alem do preparo físico,
exista também, um preparo fisiológico, ou seja, o militar deve estar aclimatado.
A aclimatação, segundo Judge, em “Thermal Stress”, ITEC 471, é um
processo de adaptação fisiológica, com o intuito de aumentar a tolerância do
indivíduo quando é exposto a um dado ambiente térmico por um período longo. É
um processo lento e progressivo, sendo necessário submeter o individuo a pelo
menos três semanas de exposição ao calor para que a aclimatação seja
completamente estabelecida.
Segundo Judge, em “Thermal Stress”, ITEC 471, durante a exposição ao
calor, um indivíduo aclimatado perde por sudação aproximadamente 1,5l/h,
enquanto um indivíduo não acliamatado esse valor é de 0,7L/h.
Contudo a perda de sais é consideravelmente menor em indivíduos
aclimatados, diminuído os efeitos do desequilíbrio eletrolítico.

Hidratação
A hidratação tem papel de grande importância para o ser humano. O perfeito
funcionamento do corpo depende da ingestão de líquidos.
A intensa atividade física, o excesso de calor entre outras variáveis presentes
fazem com que o risco de desidratação durante e após o combate a incêndio seja é
acentuado.
A desidratação moderada pode levar a perda de capacidade de resposta
cognitiva e em casos graves ao colapso fisiológico.
Por tanto é indicado que o bombeiro possua uma rotina de hidratação mais
intensa que se inicie no dia anterior e termine no dia posterior ao serviço.
Durante as operações intensas, de média a longa duração a atenção deve ser
maior ainda.
O revezamento de militares, o estabelecimento de uma zona de
descompressão/reidratação deve ser montada.
Para tanto seguimos orientações quanto a hidratação exposta naNFPA1584
que estabelece:

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a. a cada duas trocas de cilindro de 30 minutos;


b. a cada 45 minutos de combate com qualquer outro equipamento pesado.
c. deve se atentar que o tempo de permanência na zona de reabilitação não
deve ser inferior a 10 minutos.
d. deve se atentar que a sede é um sinal tardio de desidratação, ou seja,
quando o bombeiro sente sede durante o combate ele já apresenta algum nível de
desidratação.

Métodos de arrefecimento corporal


Existem formas de diminuir os efeitos do estresse térmico, diminuindo o
tempo necessário para orestabelecimento do bombeiro, aumentando tambéma sua
produtividade durante a operação. Dessa forma, existem duas estratégias possíveis.
O arrefecimento passivo consiste na retirada do EPI, hidratação e repouso à
sombra.
A técnica que é bastante simples, para ser eficaz, necessita que a
temperatura ambiente esteja próxima aos 15° C, dessa forma os ganhos são
consideráveis.
Uma vez que a temperatura média do Rio de Janeiro é na maior do que a
necessária, recomenda-se que esse método não seja feito de forma isolada.
Uma adaptação para o emprego do resfriamento passivo é o estabelecimento
das zonas de reabilitação em locais climatizados por ar-condicionados.
Para ganhos consideráveis, os métodos de arrefecimento corporal ativos são
mais indicados.
Existem dois métodos:
- sistema de arrefecimento por convecção forçada;
- imersão de mãos e braço.

O sistema de arrefecimento por convecção forçada consiste na retirada do


EPI conjugado com o fluxo de ar direcionado por um ventilador, provocando
resfriamento do corpo pela evaporação do suor. É de suma importância que o fluxo
de ar mandado esteja em uma temperatura inferior a da pele do bombeiro.
A imersão de mãos e braços consiste em técnica que visa o resfriamento

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corporal por meio do resfriamento de áreas altamente vascularizadas (composta por


vasos sanguíneos de diâmetro variável).
A vaso dilatação favorece o aumento do fluxo sanguíneo e a aproximação dos
vasos ao tecido cutâneo que esta sendo resfriado pela evaporação da sudorese, o
sangue retorna a região central em temperaturas mais amenas. Dessa forma,
recomenda-se a imersão por pelo menos 10 minutos em água a uma temperatura de
10°C a 20°C.

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11 VENTILAÇÃO TÁTICA

Após o estudo da Teoria do Fogo e Teoria do Desenvolvimento dos Incêndios,


ficou notável que os riscos e ameaças relacionados a um evento de incêndio
estrutural são potencializados pelo acúmulo de fumaça. De modo geral, a fumaça
detém 70% da energia liberada em uma reação de combustão, além de ser
composta por diversas substâncias tóxicas. Sendo assim, a fumaça tem grande
influência na propagação de um incêndio estrutural e a sua inalação é a principal
causa de vítimas fatais nos incêndios.
Para mitigar estes riscos potencializados pelo acúmulo de fumaça,
desenvolveu-se a Ventilação Tática.
A fumaça possui 5 principais características: Quente, Opaca, Móvel,
Inflamável e Tóxica. Ao retirar a fumaça de determinado ambiente através da
Ventilação Tática, atua-se na diminuição da temperatura, melhora na visibilidade,
diminuição do risco de ocorrência de fenômenos extremos e diminuição da
toxicidade daquela atmosfera.
Um dos fatores que interferem no desenvolvimento de um incêndio é a
quantidade de comburente disponível para a reação de combustão. E a Ventilação
Tática altera diretamente este fator, e caso seja executada de maneira equivocada
pode gerar resultados não desejados como propagação do incêndio e fenômenos
extremos do fogo.
Portanto, é possível perceber o quão benéfica pode ser a Ventilação Tática se
executada de maneira correta, assim como imaginar os prejuízos caso não seja.
Neste capítulo serão abordados assuntos que ajudarão na execução da
Ventilação Tática a fim de extrair os benefícios deste procedimento.

11.1 Definição de Ventilação Tática

Ventilação tática consiste na manipulação sistemática e coordenada do fluxo


de ar, através de aberturas, jatos d’água, ventiladores e exaustores, a fim de retirar a

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fumaça do ambiente sinistrado e substituí-la por ar fresco e limpo para melhorar a


eficiência das operações de combate a incêndio.
Duas palavras nesta definição são essenciais para entender o que faz uma
ventilação táticas ser boa: sistemática e coordenada.
Sistemática: uma boa ventilação tática dificilmente acontece por acaso, este
procedimento deve ser planejado e deve seguir metodicamente o planejamento para
que se possa alcançar resultados favoráveis e previsíveis, diminuindo a
possibilidade de ocorrência de acidentes.
Coordenada: a execução da ventilação tática deve ser coordenada com a
execução do ataque. Sem coordenação entre as equipes de ventilação e de ataque,
há grande chance de fracasso em ambas as atividades. Por esta razão, ventilação e
ataque devem ser consideradas igualmente importantes. Apesar de não ser fácil,
coordenar ventilação tática e ataque ao foco é o conceito chave para a diminuição
do tempo de operação de combate a incêndio.

Ventilação tática efetiva


A remoção de produtos de combustão a qualquer momento durante um
incidente fornece algum benefício. No entanto, o maior benefício da ventilação
ocorre quando ela ajuda a equipe que atua no interior da edificação a realizar as
tarefas mais importantes de resgatar e apagar o incêndio. Em situações de incêndio,
onde a velocidade e a eficiência das ações são de grande importância, isso requer
que ventilação, resgate e ataque de incêndio sejam realizados o mais rápido
possível e em coordenação entre si.
Em combate a incêndio estrutural, resumindo a importância da ventilação
tática:
a. a ventilação tática é uma das considerações mais importantes do comandante
do incidente.
b. os métodos modernos de combate a incêndio envolvem ações coordenadas
dentre as quais a ventilação tática recebe alta prioridade.
c. a ventilação tática adequada pode ter um efeito positivo nas três prioridades
do combate a incêndio: segurança, extinção e conservação da propriedade.
d. Uma ventilação tática efetiva possui seis importantes benefícios:

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

e. aumenta as chances de sobrevivência das vítimas e facilita as operações de


busca e resgate.
f. protege as equipes que atuam no interior da edificação;
g. acilita a entrada das equipes na edificação;
h. permite uma rápida progressão e localização do foco;
i. diminui a possibilidade de propagação do incêndio;
j. reduz os danos à propriedade.

Movimentação da fumaça
Destacam-se4 principais fatores que determinam a movimentação da fumaça
de um incêndio estrutural: corrente de convecção, pressão aumentada no
compartimento incendiado, pressão diminuída em corredores e escadas e sentido do
vento natural.

a. Corrente de convecção
A convecção de calor é a transmissão de energia por meio do transporte de
matéria. Este fenômeno ocorre com os fluidos como consequência da diferença de
densidades entre as diferentes partes deste fluido. Sabemos que quando uma
substância absorve energia a agitação de suas moléculas aumenta, fazendo com
que cada molécula ocupe um espaço maior conforme absorve energia e
consequentemente aumente o volume da substância como um todo sem que altere
sua massa. Sendo assim, a densidade da substância diminui e esta substância
tende a se deslocar no sentido ascendente.
Por exemplo, quando colocamos água dentro de uma chaleira para aquecer
em um fogão, a porção inferior de água fica mais próxima da fonte de calor
aquecendo mais rapidamente que a porção superior. Com isto a densidade da
porção inferior diminui, devido ao aumento da agitação de suas moléculas, ficando
menos densa que a porção superior. Consequentemente, a água da parte de baixo
tende a se deslocar para cima, assim como a água da parte de cima tende a se
deslocar para baixo. A este movimento chamamos de corrente de convecção.
Um fluido aquecido tende a se deslocar em movimento ascendente, enquanto
que um fluido resfriado tende a se deslocar em movimento descendente.

117
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

b. Pressão aumentada no compartimento incendiado


O fluido (ar+fumaça+vapor) presente em um compartimento incendiado sofre
um aumento de volume devido ao aumento da agitação molecular. Com o aumento
de volume, aumenta também a pressão dentro deste compartimento, desta forma o
fluido tende a se deslocar do compartimento incendiado para compartimentos não
incendiados. De modo geral, a fumaça “foge” do foco. E este comportamento auxilia
as equipes na busca pelo foco, afinal, se acompanharmos a fumaça no sentido
inverso ao do seu deslocamento, geralmente, chegaremos ao local do foco.
pressão diminuída em corredores e escadas;

c. Pressão diminuída em corredores e escadas


Por serem ambientes com grandes comprimentos e relativamente estreitos
corredores e escadas canalizam a movimentação de ar gerando um fluxo
semelhante ao que acontece com um duto e potencializando a velocidade de
deslocamento.
Segundo o Princípio de Bernoulli onde a velocidade de um fluido é maior, a
pressão é menor (Efeito Bernoulli). Portanto, em corredores e escadas este efeito
pode ocorrer, facilitando o deslocamento da fumaça para estes ambientes por
diferença de pressão.

d. Sentido do vento natural;


O vento natural deve ser considerado quando se determina quais
procedimentos executar em um combate a incêndio, pois desempenha um papel
fundamental na execução da ventilação tática, principalmente quando for ventilação
tática horizontal. O lado do edifício de onde sopra o vento é chamado de barlavento
e o lado para onde sopra o vento é chamado de sotavento. Preferencialmente, as
aberturas de saída de fumaça devem ser feitas na fachada sotavento e as aberturas
de entrada de ar na fachada barlavento.

11.2 Tipos de Ventilação Tática

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Pode-se dividir os tipos de ventilação tática em dois grupos que se


subdividem: Ventilação Natural e Ventilação Mecânica.

a. Ventilação Tática Natural


Ventilação tática natural é a manipulação do fluxo de ar na qual são
aproveitados o movimento natural dos ventos e o movimento natural da fumaça,
através da realização de aberturas planejadas criando uma corrente de ar no interior
da estrutura. Podendo ser vertical ou horizontal.
Entende-se por ventilação tática natural verticala remoção da fumaça por
aberturas no teto da edificação.
A ventilação tática natural horizontal consiste na remoção da fumaça através
das aberturas existentes nas paredes dos edifícios, como as janelas e as portas.
Ventilação Tática Natural Vertical
Para a realização das ações de ventilação tática natural vertical devemos
observar os seguintes aspectos:
- o tipo da edificação sinistrada;
- a localização, extensão e duração do incêndio;
- os cuidados necessários quanto à segurança da equipe;
- os caminhos de fuga alternativos para a equipe que irá realizar a abertura de
saída;
- o local mais adequado para realizar as aberturas.

A equipe que realiza a abertura de saída, a qual deve estar em comunicação


permanente com o comandante de socorro ou com o seu superior imediato em
grandes operações, de preferência através de um rádio portátil, é responsável pelo
seguinte:
- assegurar que são feitas apenas as aberturas necessárias.
- evitar, o máximo possível, estragos desnecessários causados pelas
manobras.
- ficar atenta à coordenação com as equipes que se encontram no interior da
edifícação.

119
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

b. Ventilação Tática Natural Horizontal


O Manual de Ventilação Táctica, vol. XII, da Escola Nacional de Bombeiros,
Sintra, Portugal frisa que embora muitos aspectos já referidos para a ventilação
tática vertical tenham aplicação também nas manobras da ventilação tática
horizontal, existem procedimentos que são próprios deste tipo de ventilação. A
especificidade desses procedimentos está, tal como no tipo de ventilação anterior,
relacionada com a localização e a extensão do incêndio e, consequentemente com
as diversas formas de propagação horizontal, que são:
- pelo contato direto das chamas através de elementos de compartimentação
construídos em material combustível (porta de madeira);
- pelo contato direto das chamas ou por convecção, através das aberturas
entre compartimentos;
- por convecção e por irradiação, através dos espaços não compartimentados;
- por condução de calor, através de vigas e canalizações metálicas que
atravessam os elementos de compartimentação;
- pela combustão generalizada dos gases de combustão, vapores inflamáveis
ou poeiras, em todas as direções.

c. Ventilação Tática Mecânica.


De acorco com o Manual deVentilação Táctica, vol. XII, da Escola Nacional
de Bombeiros, Sintra, Portugal a ventilação mecânica, não sendo o único meio para
remover o ar contaminado, é um complemento precioso à ventilação natural. As
suas vantagens são:
- permitir um domínio mais rápido e eficaz do incêndio.
- complementar a ventilação natural.
- dar maior rapidez à remoção dos contaminantes, facilitando e tornando mais
seguras as operações de busca e salvamento.
- limitar os danos causados pela fumaça.

Porém, se for aplicada de forma incorreta, a ventilação mecânica pode causar


problemas durante a operação. Uma vez que potencializa o fornecimento de
comburente ao compartimento incendiado.

120
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Para a realização de ventilação mecânica é necessário o emprego de


equipamentos especiais, tais como ventiladores, os quais dependem de uma fonte
de energia (combustível, eletricidade ou água). Também é possível executá-la com o
esguicho utilizando jato neblinado.

d. Ventilação Tática Mecânica Hidráulica


O Manual de Ventilação Táctica, vol. XII, da Escola Nacional de Bombeiros,
Sintra, PT define Ventilação Mecânica Hidráulica da seguinte forma:
A ventilação mecânica hidráulica ou simplesmente ventilação hidráulica, pode
ser utilizada em situações nas quais os outros tipos de ventilação mecânica não
estão sendo usados. Este tipo de ventilação é tipicamente executada pelas equipes
de bombeiros encarregadas das operações de extinção no interior do edifício. Em
geral, esta técnica é utilizada para remover a fumaça do compartimento, após o
incêndio estar extinto.
Para executar a manobra de ventilação hidráulica, trabalha-se no interior do
edifício com o esguicho apontado para o exterior, utilizando jato neblinado, com um
ângulo de abertura que cubra 85% a 90% da janela ou porta pela qual se pretende
remover os produtos da combustão. O esguicho deve manter-se no interior a cerca
de 100 centímetros da referida abertura. Quanto maiores forem as dimensões da
saída de exaustão, maior será a velocidade com que esta se processa.
Para a realização da ventilação hidráulica devemos atentar para alguns
fatores e avaliarmos os prós e contras desta manobra, pois esta:
- aumenta os danos causados pela água no interior do edifício;
- exige uma maior disponibilidade de água;
- para realizá-la, a equipe de bombeiros tem que permanecer no interior do
ambiente o qual estará com uma atmosfera contaminada e aquecida;
- o procedimento interrompe-se sempre que, por qualquer razão, a equipe de
bombeiros é obrigada a abandonar o local, por exemplo, para substituir os cilindros
do EPRA.
Uma outra opção, utilizada quando não é possível a entrada no ambiente, é
usar um cone de água com ângulo entre 15° e 30°, o qual deve tangenciar a
abertura da saída de fumaça. Sendo lançado a uma angulação de 45°, no caso de

121
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

aberturas em paredes (portas e janelas).

e. Ventilação Tática Mecânica por Pressão Negativa


O Manual de Ventilação Táctica, vol. XII, da Escola Nacional de Bombeiros,
Sintra, PT define Ventilação Mecânica por Pressão Negativa da seguinte forma:
A ventilação mecânica por pressão negativa (VPN) refere-se à técnica
tradicional utilizada para ventilar mecanicamente um espaço, isto é, a remoção da
fumaça por extraçãoatravés de exaustores colocados nas janelas, nas portas ou nas
saídas abertas na cobertura.
Na ventilação por pressão negativa os exaustores devem ser colocados de
modo a extraírem os produtos da combustão para sotavento, isto é, no sentido para
onde sopra o vento. Deste modo, o processo de extração é apoiado pelo ar limpo
que entra do lado oposto e substitui o ar contaminado que é removido do edifício.
A circulação de ar à volta do exaustor, pelo espaço existente entre o
equipamento e o vão da abertura onde aquele está colocado, é um problema que
pode surgir durante a VPN e que leva à redução da sua eficácia. Dado que a
pressão interior é inferior à pressão atmosférica, cria-se um retorno de ar que arrasta
parte da fumaça de volta ao interior do edifício. Este efeito evita-se cobrindo o
intervalo à volta do exaustor com uma manta ou material similar.
Para que a VPN tenha os efeitos desejados, é necessário:
- encaminhar o fluxo de ar o mais em linha reta possível, pois todas as
mudanças de direção causam turbulência e diminuem a eficácia da manobra;
- evitar abrir janelas e portas perto dos exaustores, a menos que se verifique
que tal manobra tem efeitos positivos na extração;
- remover todos os obstáculos à circulação do ar a ser extraído;
- evitar os obstáculos à entrada de ar que está a barlavento, tais como
escombros, cortinas, persianas ou quaisquer outros objetos ou indivíduos que façam
diminuir o fluxo para o interior do edifício.

f. Ventilação Tática Mecânica por Pressão Positiva


A ventilação mecânica por pressão positiva (VPP) é uma técnica que se
baseia no aumento da pressão do ambiente interno insuflandoar limpo, criando uma

122
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

diferença de pressão entre o interior de um edifício e os locais envolventes,


utilizando, para tal, ventiladores de grande volume. Enquanto no ambiente se
mantiver uma pressão superior à pressão atmosférica, a fumaça é arrastada para as
áreas de menor pressão, isto é, para o exterior, através de aberturas controladas
pelos bombeiros.
O local por onde a VPP é introduzida, normalmente pela porta exterior de
acesso, designa-se por ponto de entrada. Ou seja, o ar deve ser insuflado pela
mesma abertura de entrada das equipes. O ventilador deve ser colocado a uma
determinada distância do ponto de entrada, de modo que o cone de ar projetado
cubra completamente esta abertura.
O processo de remoção da fumaça pode ser otimizado aumentando a
velocidade de circulação do ar. Para isto, pode-se fechar portas no interior do
edifício, de modo a pressurizar um compartimento ou uma área de cada vez
(ventilação sequencial).

11.3 Configuração dos ventiladores

A eficácia da VPP pode ainda aumentar se forem combinados mais do que


um ventilador no ponto de entrada.
g. configuração simples: consiste na utilização de apenas um ventilador disposto
na abertura de entrada.;
h. ventiladores em série: esta configuração permite uma adição de até
aproximadamente 30% do volume de ar insuflado;
i. ventiladores em paralelo: esta configuração pode ser usada quando a
abertura de entrada tem largura maior que o convencional, por exemplo, uma porta
de estabelecimento comercial;
j. ventiladores em V: nesta configuração os ventiladores são dispostos de
maneira que a linha de seus eixos de rotação formem um ângulo de 45º entre si e se
cruzem na abertura de entrada. Desta forma, mantém a passagem livre para a
passagem das equipes. Esta configuração faz com que a fumaça seja expulsa com

123
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

o volume até 40% maior que a configuração simples.


k. ventiladores empilhados: esta configuração pode ser usada quando a
abertura de entrada tem altura maior que o convencional;
l. ventiladores combinados: unindo diferentes configurações podemos criar
diversos dispositivos com os ventiladores a fim de conseguirmos uma maior taxa de
expulsão de fumaça.

A VPP pode ser empregada de maneira ofensiva, defensiva ou combinada.


Quando emprega de maneira defensivaa VPP tem por objetivo pressurizar
ambientes a fim de impedir a entrada de fumaça nestes. A ventilação defensiva não
visa a retirar a fumaça do ambiente, mas sim impedir que a fumaça o atinja.
Por outro lado, quando empregada de maneira ofensiva, a VPP tem como
objetivo a retirada da fumaça do ambiente sinistrado, principalmente do local onde
está o foco.
E por último, empregar a VPP de maneira combinadaconsiste em unir as
duas formas anteriores, sendo assim, equipamentos são utilizados para insuflar
ambientes não atingidos pela fumaça para impedir que esta se desloque para esses
ambientes e simultaneamente atuar em ambientes com fumaça para a extração da
mesma.

Aberturas de entrada e saída de ar


O sucesso das ações de ventilação está diretamente ligado à escolha do local
para realização das aberturas de entrada e saída de ar. Para que seja defina a
melhor posição para tais aberturas em determinada edificação, deve-se observar o
seguintes fatores:
a. sentido do vento natural: o sentido do vento natural exerce grande influência
nas fachadas no que se diz respeito à formação de regiões de pressão positiva e
negativa. Sendo assim, as aberturas de entrada de ar devem ser realizadas
preferencialmente a barlavento e as aberturas de saída de ar àsotavento.
Dependendo da intensidade do vento, uma ventilação mecânica feita no sentido
inverso (de sotavento para barlavento) não consegue vencer o deslocamento natural
do ar prejudicando as ações de ventilação;

124
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

b. localização do foco: a escolha do local de abertura de saída da fumaça deve


ser feita o mais próximo possível do foco a fim de que ela realize o menor trajeto
dentro da edificação. Desta forma, evita-se a propagação do incêndio, além de
agilizar a saída da fumaça. Para a realização da VPP de maneira segura, não pode
haver dúvida quanto à localização do foco, pois ventilar o ambiente sem saber onde
está o foco para efetuar o combate pode ocasionar a propagação do incêndio;
c. arquitetura: Os materiais construtivos e o desenho das construções podem
facilitar ou dificultar a realização das aberturas. A dificuldade e o tempo para realizar
a abertura são determinantes para a escolha da mesma. A realização das aberturas
não pode demandar muito tempo, caso o local escolhido para determinada abertura
exija tempo excessivo (laje de concreto, vidro blindado, porta blindada) a escolha de
outro local deve ser considerada;
d. exposições: a abertura de saída projetará calor e combustível (fumaça) ao
seu redor, portanto, devemos avaliar a existência de exposições. Por exemplo,
casas com paredes muito próximas uma da outra; janelas abertas acima da abertura
de saída. Devemos então, eliminar estas exposições ou escolher outro local para a
realização da abertura.

Realização das aberturas


Para que o fluxo de ar siga o sentido planejado, as aberturas seguir uma
proporção a fim de evitar refluxos e turbulências. Para tanto a abertura de saída
deve ter de 1,5 a 2 vezes a área da abertura de entrada. A realização de uma
abertura grande é melhor que a realização de várias aberturas pequenas. Aberturas
pequenas dificultam a vazão, aumentando a pressão e fazendo a fumaça ser
expelida com maior velocidade. E quanto maior a velocidade de expulsão, mais
longe a fumaça será lançada aumentando o risco de atingir estruturas no entorno da
edificação sinistrada.
Qualquer intervenção deve ser realizada por bombeiros devidamente
equipados com seus respectivos EPI.As técnicas e os equipamentos para realizar as
aberturas de saída dependem do local escolhido (fachada ou cobertura).
Em fachadas, caso seja escolhida uma janela ou porta de vidro, o bombeiro
deve posicionar-se acima e ao lado do local de abertura, a fim de proteger-se dos

125
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

estilhaços e da fumaça que possivelmente sairá quando o vidro for quebrado, motivo
pelo qual também deve iniciar a abertura de cima para baixo. Em paredes de
alvenaria o comportamento deve ser o mesmo. Neste caso, a utilização de um moto-
cortador deve ser considerada para agilizar o procedimento.
No caso de portas e portões de metal e madeira, a primeira opção dever o
emprego de técnicas de abertura forçada com intuito de preservar a estrutura da
porta ou portão. Não sendo possível, a segunda opção é através da utilização de
ferramentas de corte (moto-cortador e motosserra).
Quando o local para a realização da abertura for a cobertura da edificação
algumas recomendações devem ser seguidas:
a. verificar a estabilidade do telhado: telhados empenados indicam a iminência
de desabamento;
b. estabelecer a escada de gancho, encaixando o gancho na cumeeira e
deslocar-se exclusivamente sobre ela;
c. a plataforma mecânica pode facilitar o acesso e posicionamento no telhado e
sempre que possível deve ser usada, pois diminui o risco de queda;
d. lançar um pouco de água sobre o telhado, observando onde ocorre maior
evaporação. Este é o local exato para abrir;
e. telhas de barro podem ser retiradas com as mãos, croque ou outra ferramenta
com cabo (pé de cabra, alavanca), ou cortadas com machado;
f. telhas de metal ou fibrocimento (antigo amianto) podem ser cortadas com o
moto-cortador;
g. ao utilizar ferramentas pesadas, sempre que possível, ancorá-las;
h. nunca cortar as estruturas de madeira, para tanto, deve-se bater sobre as
telhas à procura de som oco que significa ausência do suporte;
i. pode ser usada uma linha de mangueiras para proteção do bombeiro que
está trabalhando na abertura;
j. o sentido do vento deve ser observado para evitar que a fumaça, ao sair,
envolva o bombeiro.

Principais situações que impedem a ventilação tática


Diversas situações impedem a realização das ações de ventilação tática.

126
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Porém, as principais a fim de alertar as equipes para que evitem cometer erros
simples que podem gerar graves consequências:
a. foco não localizado: a localização do foco é imprescindível para a realização
da ventilação tática. Quando se inicia a operação de ventilação, o foco é
inevitavelmente alimentado com comburente e com isso ganha intensidade. Para
evitar a propagação do incêndio se faz necessário o ataque ao foco o mais rápido
possível. Uma vez que o foco não foi localizado, ao iniciar a ventilação, o tempo
decorrido até que seja localizado pode retardar demais o início do ataque e permitir
a propagação do incêndio;
b. quando o número de linhas de ataque estabelecidas não é suficiente para o
número de focos: pelo mesmo motivo do risco de propagação, para cada foco
existente deve ser estabelecida pelo menos uma linha de ataque;
c. impossibilidade de realização de abertura de saída: iniciar uma VPP sem
realizar abertura de saída, pode gerar um refluxo e a fumaça acabar saindo pela
abertura de entrada, indo ao encontro das equipes que entrarão na edificação,
levando calor, combustível, substâncias tóxicas e diminuindo a visibilidade;
d. impossibilidade de combate ofensivo: caso o combate ofensivo não seja
possível, realizar VPP irá alimentar o foco com comburente sem que haja uma linha
de ataque para extingui-lo, aumentando o risco de propagação do incêndio.

Principais falhas durante a realização da ventilação tática


Assim como as situações impeditivas, também existem diversas falhas
possíveis durante as ações de ventilação tática, as mais comuns são:
a. abrir a entrada de ar antes da saída: se a saída de ar não estiver pronta e a
entrada de ar for aberta, a fumaça virá diretamente na direção da equipe de
combate. É a pior situação para o combate, justamente o que queremos evitar;
b. iniciar a ventilação tática antes de pressurizar as linhas de ataque: risco de
propagação do incêndio e potencialização das chamas sem controle;
c. realizar a abertura de saída em local errado: risco de propagação por conta
da existência de exposições ou risco de não conseguir estabelecer o fluxo de ar
necessário para a extração da fumaça.

127
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128
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

12 BUSCA E SALVAMENTO EM INCÊNDIOS

Nesse capítulo iremos tratar de técnicas utilizadas para ações de busca e


salvamento em incêndios.
A escolha da técnica adequada esta diretamente atrelada aos seguintes
fatores:
a. tempo;
b. capacidade física;
c. conhecimento técnico;
d. maneabilidade com o equipamento;
e. recursos disponíveis;
f. efetivo disponível.
Já considerando os quesitos acima devemos nos certificar que o uso deste
conjunto de técnicas deve estar totalmente alinhado com a tática que esta sendo
empregada na operação.

12.1 Ferramentas equipamentos e acessórios para buscas e salvamentos em


incêndios

Figura 53.ferramentas,equipamentos e acessórios

129
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Fonte: autoria desconhecida

Para as ações de busca e salvamento em incêndios pode-se usar qualquer


ferramenta ou material que se avalie necessário o uso. Porém existem algumas
ferramentas e materiais mais adequados, para as ferramentas recomenda-se as
mais versáteis e eficientes. No que tange aos equipamentos os voltados para
Combate a Incêndio são os mais adequados.

12.1.1 Ferramentas

Machado: Eficiente para arrombamentos de portas de madeira e acesso em


paredes de madeira, gesso e plástico. Sua lâmina pode ser utilizada como cunha e
martelo em conjunto com o Halligan ou outra ferramenta. Com sua lateral é possível
realizar a quebra de vidros com segurança. Além de poder ser utilizado para o
aumento do alcance do tato a frete e teste de solo

.
Figura 55 - machado
Fonte:www.universoaventura.com.br/produto/machado-de-bombeiro-2/

Marreta: Eficiente para posicionar abrir acessos em paredes de alvenaria,


posicionar alavancas nas frisas, estourar fechaduras, romper trincos e aplicar forças
em alavancas.

130
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 54. Marreta


Fonte:www.lizotferragens.com.br/Produto/MARRETA-OITAVADA-CABO-MADEIRA-
LONGO-5KG

Arrombador: Deve ser utilizado em conjunto com o malho, é extremamente


eficaz para abrir portas comuns, porém, não é tão versátil e necessita do apoio de
outra ferramenta;

Figura 55. arrombador


Fonte: Arquivo pessoal dos autores

Tesourão: Bastante eficiente para uso específico de corte de metais,


cadeados e correntes, porém, pouco versátil;

131
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 56. tesourão


Fonte:/www.lojadomecanico.com.br/produto/86094/31/282/tesoura-para-cortar-
vergalhao-30-pol---somar-10016008-somar-10016008

Croque: Eficiente para realização de teste de teto e solo, pois possibilita


alcance nas ações, possibilita ainda, trabalho em eletricidade (caso esteja
devidamente testado);

Figura 57. croque


Fonte:www.loja.bombeiros.com.br/gancho-croque-bombeiro

Halligan: Uma Alavanca De Arrombamento é capaz de Perfurar, Arrombar,


Cortar Chapas, Bater, Torcer, Tatear área a frente, Testar Solo a frente. É
Extremamente Versátil e a mais indicada para a Guarnição de Busca e Salvamento
em Incêndios; salvo caso específico de necessidade, anteriormente identificada.

Figura58. Halligan
Fonte:wfrfire.com/shop/product/hooligan-halligan-tool-549?category=1

12.1.2 Materiais

132
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Cabo-guia: Uso eficaz para realizar busca sem se perder em grandes áreas e
uso não tão eficiente para buscas em locais onde se tem muitos objetos soltos
(cadeiras, mesas, grandes objetos).

Figura 59. cabo guia


Fonte:www.lightinthebox.com/pt/p/diametro-de-14-milimetros-dupont-corda-de-escalada-cinto-de-
seguranca-corda-corda-de-nylon-de-escape-10-200-m_p4646810.html

Mola-fita: o Binômio Mola-Fita dentre suas mais diversas aplicações, no


cenário de busca e salvamento em incêndios, aparece como opção versátil para as
seguintes ações: BM se ancorar a algo fixo ,se ancorar ao canga, transpor
obstáculos, arrasto de vítimas, prender ferramenta ao EPI ,como cabo para busca
em grandes áreas, entre outras aplicações;

Figura 60. Mola fita


Fonte:www.arcoeflecha.com.br/anel-de-fita-18mm-beal-80cm-p3503/ e
www.climbclean.com.br/mosquetao-aco-formato-pera-abertura-grande-rosca-45kn-ce-en-nbr-uiaa-
usclimb~407~15~1~linhas~mosquetao-em-aco

12.1.3 Equipamentos

Lanterna: Utilizada para melhorar a visibilidade em ambientes de incêndio.

133
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Com a presença da fumaça no interior da estrutura a lanterna é fundamental . Em


atmosferas com risco de ignição dos gases presentes na atmosfera, devemos ligá-la
antes da entrada no ambiente pois o acendimento pode gerar faíscas. Existem,
ainda, opções de lanternas intrinsecamente seguras que não exigem esse cuidado.

Figura 61. lanterna


Fonte:www.loja.sossul.com.br/lanterna-survivor-angulo-reto eimages-
americanas.b2w.io/produtos/01/00/sku/11040/8/11040864_1SZ.jpg

Rádio portátil: Deve estar presente em Guarnição de Busca e Salvamento, a


má comunicação é grande responsável por graves erros em operações, além de
servir como possível veículo de comunicação em casos de acidentes. Caso não
exista a possibilidade do uso do mesmo, o uso do Cabo guia pode ser uma opção.

Figura 62. rádio


Fonte: Motorola

Cinto alemão: Possui diversas aplicações. Seus principais usos são do


talabarte para ancorar o BM a um ponto fixo, para se fixar ao outro componente da
Guarnição, seus olhais servem para acondicionamento de equipamento assim como
para fixar o talabarte.

134
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

.
Figura 63. cinto alemão
Fonte:produto.mercadolivre.com.br/MLB-975421100-cinto-alemo-abdominal-c-talab-corda-_JM

Carona EPRA: É constituído por peça facial conectada à válvula de demanda,


será fornecido para a vítima, caso necessário.

Figura 64. carona


Fonte:www.epibrasil.com

Material mínimo para ações de busca e salvamento em incêndios:


a. EPI completo de combate a incêndio;
b. Mola-fita;
c. Ferramenta de arrombamento;
d. Lanterna;
e. Rádio portátil.
f. Cinto alemão

135
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 65. bombeiros equipados


Fonte: CBMERJ

12.2 Aberturas forçadas em incêndios

Toda e qualquer entrada (abertura de um basculante que for) deve ser


efetuada de acordo com a tática implementada pelo comando da operação.
Antes da realização de um arrombamento é indispensável a equipagem
completa do BM, pois a atmosfera no interior do compartimento pode estar prestes a
se ignir.
Temos de ter em mente que evitar esforços desnecessários é de fundamental
importância, pois o vigor físico deve ser nosso aliado, para isso, a escolha da técnica
e da ferramenta correta é indispensável.
A fadiga mental afeta a tomada de decisão, portanto avalie com calma, se
possível, com uma segunda opinião, além de não esquecer de sempre verificar se a
porta ou janela que se deseja abrir esta destrancada.
É importante que tenhamos em mente o que nos garante realizá-la, assim
como o que fazer após o evento.
Quando o proprietário ou responsável legal estiver ausente. Nestes casos, é
necessário atentar para a garantia constitucional de inviolabilidade de domicílio e de
locais de trabalho. O artigo 5º, inciso XI da Constituição Federal garante a

136
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

inviolabilidade de domicílio, bem como prevê as hipóteses em que se pode


desconsiderar esta garantia: “salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro...”
Caso seja comprovada a necessidade, o BM deve-se possível, arrolar
testemunha.
O Corpo de Bombeiros deverá restabelecer a segurança encontrada antes da
abertura forçada de suas portas e janelas, o máximo possível, tentando localizar o
proprietário ou responsável do local ou acionando o policiamento para a guarda do
local.
Colocar no quesito, se possível, com rubrica do responsável a qual foi
entregue o local do evento

12.3 Busca em incêndios

As atividades de busca em incêndios se resumem á procura pelas vítimas.


As Buscas serão classificadas por Tipos (Rápida, Primária e Secundária), e
por Técnicas (Varredura Visual, Busca por chamada e escuta e Busca às cegas).
Existem algumas regras gerais que devem ser seguidas nas Buscas:

a. Para sua segurança o uso da ferramenta para aumentar alcance do tato do


solo a frente, para que, quando a visibilidade for prejudicada, o militar consiga
perceber solo frágil, objetos que obstruem o caminho, desníveis, escadas, poços de
elevador, aberturas forçadas e transposição de obstáculos. etc. Assim como o uso
do equipamento mínimo, a saber: EPI completo de combate a incêndio; Mola-fita;
Ferramenta de arrombamento; Lanterna; Rádio portátil e Cinto alemão.

137
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 66. o uso de ferramentas nas buscas


Fonte: Instrução Busca em incêndios 6º Turno CECIU/CBMERJ

Figura 67. o uso de ferramentas nas busca.


Fonte: Instrução Busca em incêndios 6º Turno CECIU/CBMERJ

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 68. bombeiros unidos pelo talabarte do cinto alemão


Fonte: Instrução Busca em incêndios 6º Turno CECIU/CBMERJ

b. Para sua segurança manter o comando da operação ciente das ações que
estão sendo realizadas e quanto a localização, assim como uma comunicação
adequada com o canga para que as ações ganhem em eficiência;
c. Para sua segurança durante as Buscas apoiar o dorso da mão nas paredes,
pois assim, caso, se toque em objetos eletrizados a tendência das mãos seja de
desencostar do objeto eletrizado.
d. Para sua segurança, verifique se o sistema de Luz e Gás do local encontram-
se desligados;
e. Para sua segurança, nas operações de Busca em Incêndios deve-se ter entre
a Guarnição e o foco uma linha de combate, exceto para os casos de Busca Rápida,
nos quais o risco será avaliado antes da Ação de Busca.
f. Para sua segurança, ao realizar buscas, deve-se ter emmenteo caminho de
volta e mantê-lo livre, esta é sua rota de fuga. Assim, se algum imprevisto ocorrer o
militar consiga voltar.
g. Para sua segurança, ao progredir em um ambiente tomado por capa térmica,
deve-se subventilar o ambiente que se entra, podem ser utilizados o auxilio de
cunhas para fixar as portas e de lingas de borracha na fechadura para evitar que a
mesma se tranque. Assim mantemos a compartimentação e a rota de fuga livre.
h. Para sua segurança e conforto térmico quando houver grande quantidade de
caloria presente na Capa térmica desloque-se em4 apoios.
i. Para sua segurança, toda busca deve ser feita em dupla unida por cinto
139
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

alemão ou outro material que realize a função


j. Existe uma tendência das vítimas a se esconderem em determinados locais,
por exemplo:De baixo de camas, Atrás de portas, Banheiros, Banheiras, no caso de
crianças, caixas de brinquedos, armários, freezer e geladeiras.
k. Para a marcação das áreas vistas deve ser feito um ‘/’ traço diagonal na porta
da área buscada, ao passo que o cômodo for revisto, completar um ‘X’. Os traços
podem ser feitos a giz, informar ao lado nome e guarnição do militar que realizou a
busca naquele local.

Figura 69. Exemplo de marcação de áreas já vistas


Fonte: os autores, 2018

12.3.1 Orientação em local de incêndio.

a. Orientação pela regra da mão


A regra da mão consiste em: ao entrar no ambiente compartimentado com
visibilidade prejudicada o militar coloca o dorso da mão na parede e realiza a
progressão para a busca, sem retirar a mão ( esquerda ou direita) da parede, isso
garantirá que o mesmo não se perca no ambiente, quando for necessário voltar, o
militar troca de mão e assim conseguirá retornar exatamente para onde veio.
Esta técnica possibilita que militar se oriente sem a necessidade recurso
material. A desvantagem está relacionada a necessidade da capacidade e

140
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

treinamento do militar para realizar a técnica com segurança.

b. Orientação pela linha de mangueira


Na busca pela linha a orientação da equipe de salvamento se dará da
seguinte forma: A equipe de Busca segue a mangueira do combate e realiza as
buscas pela periferia da linha amedida que a mangueira avança.

c. Orientação por cabo guia


Uso eficaz para realizar busca sem se perder em grandes áreas e uso não tão
eficiente para buscas em locais onde se tem muitos objetos soltos (cadeiras, mesas,
grandes objetos). Ao percorrer o perímetro de um cômodo com objetos no meio, ao
chegar à saída, todos os objetos ao centro estarão envolvidos pelo cabo guia.

12.3.2 Tipos de busca

a. Busca rápida: é específica para o seguinte caso: informação precisa sobre a


localização da vítima, seja por contato visual ou por informação confiável.Na prática
os militares que realizarão a busca, progridem até o local da informação e realizam o
salvamento.
b. Busca primária:Vítima não localizada, porém é possível a existência, deve ser
rápida e sistemática para checar os locais que o acesso é possível. A guarnição
deve realizar a Marcação das áreas vistas. Caso a equipe de Busca seja primeira a
adentrar ao cômodo deve atentar para a Localização do foco, avaliação e
confinamento.
Ex: 360º na casa, batendo nas portas fechadas, e checando locais acessíveis.
Busca secundária: Busca minuciosa, depois do controle do incêndio, já com
visibilidade adequada. Nesse momento é comum vítimas fatais serem confundidas
com objetos queimados, se possível ser feita por BM diferente da busca primaria,
pois a mesma pessoa tende a ter a percepção parecida com a da primeira busca.
Ex: cápsulas de sobrevivência, prováveis locais esconderijos.

141
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 70. corpo carbonizado


Fonte:olhoabertopr.blogspot.com/2016/09/laranjeiras-do-sul-corpo-carbonizado-em.html

12.3.3 Técnicas de busca

a. Varredura visual:
Técnica consiste em visualizar os cômodos do local afim de encontrar
possíveis vítimas. É a busca mais adequada para situações nas quais temos boa
visibilidade e conforto térmico, deve ser utilizada sempre que possível em conjunto
com da Busca por Chamada e Escuta.

b. Busca por chamada e escuta


Técnica consiste em: A todo momento que for possível e adequado, estar
emitindo chamados de voz do tipo: “ Somos do Corpo de Bombeiros, alguém nos
ouve ?’’ seguidos de instantes de silêncio para a escuta de uma possível resposta,
pode ser realizada a qualquer momento e seu uso em conjunto com outras técnicas
ode ser bastante eficiente.

c. Busca às cegas
A Técnica consiste na entrada dos bombeiros em ambiente com visibilidade
restrita ou inexistente.Utilizando uma das 3 técnicas de Orientação em local de
incêndio e em dupla. O militar que vai a frente carrega a ferramenta de
arrombamento, testa o solo a frente e orienta a dupla, o militar a retaguarda tateia
todo local minuciosamente, realiza o ‘leque’( deita ao solo e tateia com braços e
pernas a maior área possível).
É interessante o uso de ferramentas como Machado ou Halligan para ampliar
o alcance do tato do solo a frente, este equipamento minimiza a possibilidade de
uma .
142
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

No centro do cômodo, caso seja maior do que o alcance de busca que o


bombeiro tem no momento, temos a opção de deitar ao chão e tocando a parede
com as mãos ou com a ferramenta para manter a localização, tatear o solo com
braços e pernas afim de checar a área não buscada pela progressão ao longo das
paredes. Também temos a opção de utilizar um cabo entre os bombeiros que ao
progredirem na mesma direção com o cabo entre os dois podem plotar algum objeto
no caminho.
É fundamental perceber que as três técnicas se complementam e devem ser
usadas simultaneamente sempre que possível.

Figura 71. Esquema Didático


Fonte:os autores, 2018.

12.3.4 Buscas em edificações elevadas

Ao chegar no local do evento devemos sempre que possível realizar um


reconhecimento em 360º da edificação, esse procedimento pode nos dar
informações que na busca interna seriam mais difíceis de serem obtida como, por
exemplo, a visualização de vítimas que necessitam de salvamento em fachadas
diferentes da fachada do acesso assim como características da edificação.
Nas Operações de Busca no interior de edificações elevadas devemos ter em
mente que os locais nos quais a fumaça tende a se concentrar, são os locais com
mais riscos para as vítimas. Portanto, devemos seguir a seguinte ordem de

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prioridades na busca no interior da edificação.

a. Pavimento do incêndio;
b. Pavimento imediatamente acima do incêndio;
c. Pavimento mais alto do prédio;
d. Pavimentos entre o imediatamente acima do foco e o ultimo, de cima para
baixo;
e. Imediatamente abaixo do andar do foco;
f. Prédios vizinhos.

Figura 72. esquema didática


Fonte: os autores, 2018.

12.3.5 Busca em grandes áreas

Ao se fazer necessária uma busca em grandes áreas como shoppings,


fábricas, estacionamentos fechados, depósitos, cinemas, bibliotecas é vantajoso a
procura pelo croqui, plantas do local, ou informações de alguém que conheça a
edificação. Geralmente em eventos desse porte, informações dessa natureza podem
ser adquiridas por funcionários do local, como técnicos de segurança e porteiros, por
exemplo.
Em operações desse vulto, a coordenação das equipes e o controle de
pessoal se fazem bastante necessárias para que as próprias equipes de busca não
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se tornem vítimas ou se percam.

Figura 73. bombeiros unidos aumentando a área de varredura


Fonte:Instrução Busca em incêndios 6º Turno CECIU/CBMERJ

12.4 Salvamento em incêndios

O salvamento de vidas deve ser sempre a prioridade tática das operações de


combate a incêndio.
Porém é importante que entendamos a diferença entre evacuação e
salvamento, a evacuação se trata da retirada ordenada de pessoas em locais de
risco já o salvamento se trata da retirada dos seres vivos de local de risco IMINENTE
à vida (Fumaça, Fogo, Risco estrutural).
Por vezes não será necessária a evacuação de pessoas em estruturas
atingidas por algum sinistro, inclusive, este processo pode atrapalhar uma operação.
Deve ser levado em consideração que, por vezes, a melhor estratégia para
retirar pessoas de local de risco será o próprio combate, principalmente em
situações em que as guarnições estejam reduzidas.
A título de classificação e padronização de linguagem, podemos classificar as
vítimas em 3 (três) classes: As que podem vir até mim, As que não podem vir até
mim e as que necessitam ser Buscadas;
Se possível, ao encontrar a vítima, no caso desta estar consciente ,antes de
retirar a vítima do local, podemos retirar dela algumas informações preciosas ( A
própria vítima no local do socorro, é quem pode nos dar as melhores informações),
para tanto podemos fazer perguntas diretas como: Existe mais vítimas, se sim,
onde?
145
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12.4.1 Técnica de transporte de vítimas em incêndios:

Qualquer técnica de transporte de vítima pode ser utilizada, a gosto ou


habilidade do militar, porém, tendo em vista a possibilidade de risco térmico que
impossibilite o deslocamento de pé.
Podemos utilizar as técnicas a seguir, de acordo com a demanda.
Se possível, ao encontrar a vítima, no caso desta estar consciente ,antes de
retirar a vítima do local, podemos retirar dela algumas informações preciosas ( A
própria vítima no local do socorro, é quem pode nos dar as melhores informações),
por tanto podemos fazer perguntas diretas como: Existe mais vítimas, se sim, onde?

a. Vítimas sem restrição de locomoção.


- Apoio por 1 BM

Figura 74. demonstração


Fonte: Manual de combate a incêndio urbano CBMGO 2017

b. Vítimas com restrição de locomoção.


- Apoio por 2 BM

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Figura 75. demonstração


Fonte: Manual de combate a incêndio urbano CBMGO 2017

- Retirada por 2 BM pelas extremidades

Figura 76. demonstração


Fonte: Manual de combate a incêndio urbano CBMGO 2017

- Retirada por 1 BM no ombro

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Figura 77. demonstração


Fonte: Manual de combate a incêndio urbano CBMGO 2017

- Retirada por 1 BM no colo

Figura 78. demonstração


Fonte: Manual de combate a incêndio urbano CBMGO 2017

- Retirada por 1 BM com Mola-Fita pelo ombro

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Figura 79. demonstração


Fonte: Manual de combate a incêndio urbano CBMGO 2017

- Retirada por 1 BM com Mola-fita em “L”

Figura 80. demonstração


Fonte:Instrução Busca em incêndios 7º Turno CECIU/CBMERJ

- Retirada por 1 BM com Maca de arrasto

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Figura 81. demonstração


Fonte:Instrução Busca em incêndios 7º Turno CECIU/CBMERJ

12.4.2 Retirada utilizando Viatura aérea

Casos em que as vítimas, por algum motivo, ameaçam se jogar ou se


encontram encurraladas pelo fogo/fumaça em edificações elevadas. As condições e
velocidade de estabelecimento da viatura aérea irão depender da natureza do local
assim como do modelo da viatura.
Durante esta ação de salvamento, o operador de cesto, se possível irá
acompanhado de outro BM, que deverão estar equipados com EPI de Combate a
Incêndio e ancorados ao cesto por no mínimo por cinto alemão, se possível com
equipamento de Salvamento em Altura.
Ao cesto se aproximar da edificação, assim que possível o Operador de cesto
deverá realizar a abordagem psicológica com a vítima solicitando que a mesma se
acalme e que aguarde a aproximação e posicionamento adequado do cesto, no
intuito de evitar que a vítima se jogue. A viatura deve se posicionar a frente do local
sinistrado por conta dos riscos de explosões.

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Figura 82. demonstração


Fonte: Registro do simlado operacional CBMGO Set.2018

Figura 83. demonstração


Fonte: Simulado operacional CBMGO Set.2018

12.5 Sobrevivência em local de incêndio

A Situação de sobrevivência em local de incêndio se trata de algum momento


em que o bombeiro se perde, fica preso (colapso estrutural, trancado, cercado pelo
fogo...) , ferido.
Tendo em vista a possibilidade de um cenário deste, devemos nos preperarar
para ter a capacidade de reagir com tranquilidade e técnica a essa situação.
O primeiro passo deve ser o ACIONAMENTO MAYDAY. Pode ser acionado
pelo próprio BM em apuros ou por algum BM que tenha a informação de outro BM
em apuros.
Mayday: Mensagem de rádio com o único propósito de notificar o efetivo

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empenhado na operação que há um bombeiro ausente, preso , ferido, morto ou sem


Ar
Por tanto, ao se perceber, ou perceber um companheiro em situação de
emergência deve-se IMEDIATAMENTE informar no rádio: ‘Mayday, Mayday,Mayday’
Neste momento a prioridade do socorro se torna a vida do BM acidentado!
Fala-se 3 vezes pois, podemos ter interferência no rádio ou a mensagem não
ser copiada. Dessa forma, minimizamos a possibilidade da mensagem não ser
copiada pelo interlocutor.
Ao ser estabelecido o contato com o interlocutor o BM que solicita emergência
deve informar o protocolo ‘LUNAR’

Figura 84. esquema didático


Fonte: CBMERJ

Caso seja possível, o BM iniciar uma fuga, ele pode usar, além de todas suas
habilidades, as técnicas específicas abaixo para essas situações.

Escape rápido pela escada

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Figura 85. demonstração


Fonte:www.instagram.com/p/Bn_vAG7H1tf/?taken-by=firefightercollection17

Passagem por ambiente estreito (RETIRADA DO EPRA)


Ao se perceber que o orifício que se deve transpassar é menor que sua
circunferência utilizando o EPRA, retire o suporte dorsal e passe o EPRA a frente,
assim que o BM conseguir passar, ele recoloca o suporte dorsal.

Gestão do suprimento de ar (MEDIÇÃO DE DESEMPENHO);


O BM deve ter a ciência de sua autonomia utilizando o ERPA Sob esforço
Físico, Térmico e Psicológico, qual tempo de trabalho tenho? Isso irá variar de
pessoa para pessoa, porém, todos devem ter esta noção. O militar pode realizar sua
medição de desempenho, em sua unidade, equipado com EPI de incêndio realize
atividades de intensidade semelhante a um combate a incêndio, observe quanto o
cilindro levou para ser consumido, e assim, terá um bom parâmetro sobre o tempo
de autonomia de trabalho utilizando o EPRA.

Escape rápido em altura

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Figura 86. descida rápida


Fonte:www.rescuetech1.com/rescuetechegress-nescapekitwhiteblue-new.aspx e
www.skylotec.com/uk_en/2017/07/deus-exit-kit-for-private-users-for-self-rescue-by-abseiling-down-
from-high-buildings/

Este equipamento a esquerda se trata de um sistema de fuga individual,


Alguns metros de corda com um ‘Gancho’ em uma extremidade e um sistema de
freio. Caso o BM se encontre em necessidade de evacuar o local com rapidez, este
sistema pode ser utilizado.

Problemas com EPR


Caso o ar acabe e seja necessário a retirada da válvula de demanda, Tome a
posição mais próxima ao solo possível e coloque a balaclava sobre o orifício de
conecção da válvula de demanda.

Figura 87.demontração
Fonte: Manual de combate a incêndio urbano CBMGO 2017
5.11.7 Equipe de intervenção rápida (RAPID INTERVENTION TEAM – RIT)

Equipe de intervenção rápida (RAPID INTERVENTION TEAM – RIT)


No caso de ter sido realizado o acionamento MAYDAY, o comando da
operação deve ter todas suas atenções voltadas para o salvamento do BM em
apuros, deve verificar a possibilidade de se empenhar uma dupla de militares para
realizar a busca e o salvamento do BM, por vezes o combate será a forma mais
eficiente, mas se tratando de incêndios de maiores proporções a RIT pode ser uma
necessidade.
Devemos ter cuidado para não transformar a RIT em novas vítimas, portanto,
o Comandante da Operação pode levar em consideração alguns aspectos.
O militar empenhado em uma missão dessa complexidade deve um preparo
adequado, a seguir estão alguns aspectos a serem levados em consideração:
Maneabilidade com os equipamentos; Domínio de Técnicas de busca e orientação

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em local de incêndio; Avaliação da vítima; Comunicação via rádio; Auto-resgate ;


Preparo físico; Preparo emocional.

Avaliação do BM acidentado

Figura 88. esquema didático


Fonte:autores, 2018.

Nesses casos, a retirada do suporte dorsal do cilindro do EPRA pode ajudar.

Retirada de emergência do EPR

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Figura 89. demonstração


Fonte:Manual de combate a incêndio urbano CBMGO 2017

Retirada de emergência do EPI


Um militar pela cabeça da vítima, retira o capacete, balaclava e peça facial;
Um militar em cada braço retira luvas e dedais da capa e logo a abertura do
fecheclair da capa (sistema de emergência);
Após a soltura dos dedais e luvas um bm segura o acidentado pelos braços
para cima da cabeça da vítima e outro puxa o militar na direção das pernas do
acidentado.
Obs.: em caso de PCR, se possível um 4º BM realiza RCP, na
indisponibilidade de 4 BMS, um dos 3 prioriza a RCP.

Transporte de BM com cinto alemão

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Figura 90. demonstração


Fonte: Instrução Busca em incêndios 6º Turno CECIU/CBMERJ

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13 OPERAÇÕES DE COMBATE A INCÊNDIO

Operações de Combate a Incêndio, independentemente do tipo ou proporção,


são atividades complexas por natureza. Logo, organizá-las de maneira adequada é
fundamental para que sejam bem-sucedidas em seus esforços. Alocar recursos
humanos e materiais de forma otimizada deve ser uma das buscas incansáveis de
qualquer organização, seja ela pública ou privada, militar ou civil, é nesta perspectiva
que daremos início a este capítulo.
Inicialmente, abordaremos os conceitos e definições básicas para uma boa
compreensão da organização de operações de combate a incêndio urbano. Em
seguida, daremos maior atenção aos objetivos, ao pré-planejamento, às fases e
gerenciamento deste tipo de operações.
Vale destacar que este capítulo se apoia nas filosofias do Sistema de
Comando de Incidente (doutrina internacional), no Módulo 4 do Manual de Combate
a Incêndio do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal e no Manual
Operacional de Bombeiros de Combate a Incêndio Urbano do Corpo de Bombeiros
Militar do Estado de Goiás, pois no que tange ao Gerenciamento de Operações de
Combate a Incêndio Urbano são as doutrinas mais atualizadas e compatíveis ao
CBMERJ. Serão feitas as devidas adequações à realidade do Estado do Rio de
Janeiro, bem como aprofundamentos que se fizerem necessários para um
entendimento mais fácil.

13.1 Conceitos e definições

Neste capítulo abordaremos a parte administrativa de uma atividade


operacional. Em termos práticos, é fundamental entender que a atividade-meio e a
atividade-fim da corporação são complementares. Pois, o “administrativo” não
existiria sem o “operacional”, assim como, o “operacional” não funcionaria sem o
“administrativo”.
A ênfase em destacar a importância de cada tipo de atividade tem o objetivo
de reforçar e esclarecer que a todo momento as duas estão ocorrendo

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simultaneamente, claro, o destaque, por vezes, é alternado. Contudo, isso se limita


apenas ao campo visual, em essência nada muda, as duas estão sempre lá e devem
estar sempre funcionando da melhor maneira possível com os recursos disponíveis.
Com isso em mente, é mais fácil perceber a aproximação que a organização
de uma operação de combate a incêndio tem com a administração de uma empresa,
por exemplo, até porque, a função básica de um administrador, segundo Trigueiro e
Marques (2009), “[...] consiste em fazer com que as pessoas exerçam suas
atividades, ao mesmo tempo em que atende aos anseios do cliente ou público, dos
parceiros e colaboradores”. Todo bombeiro, dentro de sua esfera de atribuição, de
maneira geral, é um administrador do patrimônio público que busca atender os
anseios da população de sua área operacional.
Cabe a guarnição que for acionada, do comandante de socorro ao ajudante
de linha, “[...]cumprir e assegurar-se de que as ações foram adotadas eficazmente, o
que deve ocorrer em qualquer nível de atuação, sem eles ‘estratégicos, táticos ou
operativos’” (CBMDF, 2009).
A esta altura podemos tomar posse de alguns conceitos do campo da
administração e aplica-los a atividade de comando de operações de combate a
incêndio, como por exemplo, as funções que um administrador deve desempenhar,
são elas: planejar, organizar, liderar e controlar. Chiavenato (2000) entende que elas
se inter-relacionam, não são apenas cíclicas, ou seja, no caso do corpo de
bombeiros, elas coexistem desde antes do acionamento (quando o foco está no
planejamento e na preparação), até a inspeção final e a desmobilização do local de
evento.
Trigueiro e Marques (2009) definem, de forma resumida e adaptada, as
funções do administrador da seguinte forma:
a. planejar: é escolher ou estabelecer a missão da organização, seu propósito e
objetivos, e depois determinar diretrizes, projetos, programas, procedimentos,
métodos, sistemas, orçamentos, padrões e estratégias necessárias para atingi-los;
b. organizar: é determinar os recursos e atividades necessárias para se atingir
os objetivos, combinar esses recursos e atividades em grupos práticos, designar
responsabilidades e delegar a autoridade necessária para realização da tarefa;
c. liderar: é conseguir dos subordinados que eles façam aquilo que você deseja
que eles façam, logo, abrange não só a qualidade, o estilo e o poder do líder, mas

159
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

também suas atividades relacionadas à comunicação, motivação e disciplina;


d. controlar: é delinear os meios para se ter certeza de que o desempenho
planejado seja realmente atingido. Definindo metas, considerando os indicadores
atuais, para assim medir o desempenho alcançado com as decisões tomadas.

Para o planejamento a informação é imprescindível, além de estar apoiado


em duas condições básicas: objetivos e como cumpri-los.
Quanto a organização, vale lembrar de uma ferramenta fundamental, o SCI
(SCCO), destacando que não importa o porte da operação, esta deve ser implantada
em qualquer evento desde a chegada da primeira equipe ao local. Este assunto não
será objeto de estudo específico deste manual, até porque existem diversas
literaturas que já exploram o tema, mas faz-se necessário que o leitor conheça-o,
logo, é recomendado que seja lido o POP do CBMERJ, bem como demais
bibliografias específicas

Já no tocante a liderança, é importante destacar que implica em (CBMGO,


2017):
a. formular e passar as ordens de forma adequada;
b. verificar se as informações foram recebidas adequadamente;
c. passar a ordem para quem tem condições de cumpri-la.
d. E controlar é uma das funções mais importantes do comando de uma
operação, pois é através dela que ocorre o acompanhamento das atividades
planejadas, considerando as condições do evento e aplicando as correções
necessárias. Implica em (CBMGO, 2017):
e. acompanhar o desenvolvimento do incêndio;
f. verificar se o que foi planejado está sendo executado fielmente;
g. avaliar a necessidade de adaptação do planejamento;
h. determinar mudanças no planejamento inicial.

De forma bem objetiva, devemos planejar as operações de combate a


incêndio desde a rotina diária de uma unidade operacional (levantamento de
recursos, treinamento operacional, entre outras atividades), já antecipando um
possível acionamento, que no momento em que acontecer exigirá uma organização

160
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

melhor dos recursos, adaptando-se ao evento em específico, trançando-se objetivos


que deverão ser alcançados pela equipe, com a liderança do comandante de
socorro, também responsável pelo controle das atividades.
Não pode deixar de ser feita também a exposição de outros conceitos tão
importantes quanto os que já foram mencionados, mas que por sua vez tiveram sua
origem no meio militar e foram “adotados” pela administração civil. A estratégia e a
tática.
A palavra “estratégia”, tendo sua origem na Grécia Antiga, significava
inicialmente a “arte do general” (CBMGO, 2017), em seguida passou a ter uma
conotação mais voltada para a guerra: “a arte e a ciência de conduzir um exército
por um caminho” (CBMGO, 2017).
Hoje o termo possui as mais variadas definições, mas todas elas estão, em
sua essência, ligada a ideia de “intenção” e “ação futura” (CBMGO, 2017). Logo,
definir uma estratégia é traçar um norte a ser seguido no tocante ao emprego dos
recursos disponíveis em relação aos objetivos a serem alcançados. Em termos de
combate a incêndio, é a sequência que será adotada para utilização das táticas de
combate e salvamento.
“Tática” que também deriva do grego, é definido por Chiavenato como um
“esquema específico de emprego de recursos dentro de uma estratégia geral”, ou
seja, no nosso contexto, um conjunto de técnicas de combate a incêndio. Por
exemplo, pulsos médios e curtos que juntos compõe uma tática, o ataque
ofensivo.Adianteesses conceitos serão mais explorados, por ora, basta uma noção
básica dos seus significados.
Em suma, determinadas táticas são aplicadas em determinadas batalhas,
seguindo uma estratégia para se vencer a guerra. No que tange ao combate a
incêndio urbano, as táticas seriam um conjunto de técnicas específicas (modo
ofensivo, modo defensivo, salvamento, busca rápida, entre outras já exploradas
neste manual), enquanto a estratégia seria o sequenciamento ideal destas táticas
para que os objetivos estabelecidos no planejamento sejam alcançados com maior
eficiência.

13.2 Pré-planejamento

161
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Antes de falar especificamente das operações, se faz necessário lembrar que


tão (ou até mais) importante quantoatender aos acionamentos, é estar preparado
para o mesmo.

Figura 91. esquema didático


Fonte: Manual de combate a incêndio CBMGO, 2017

É neste contexto que serão exploradas aqui as medidas e ações a serem


adotadas pelas seções operacionais das unidades e pelas guarnições de serviço,
antes do acionamento para o atendimento de uma ocorrência de combate a
incêndio, destacando o mapeamento da área de operação da unidade e de todos os
recursos disponíveis a preparação técnica e o mapeamento da área de operação da
unidade e de todos os recursos disponíveis.

Atribuições das Seções Operacionais


A rotina administrativa da seção operacional de uma unidade, no que tange
ao combate a incêndio, tem como principais objetivos para se conseguir o mínimo de
informações que influenciam diretamente no resultado final da ações de socorro:
a. levantar as principais áreas ou edificações de risco localizadas na área de
atuação da unidade operacional;
b. plotar os principais pontos de abastecimento de água;
c. elaborar mapas e croquis;
d. verificar fatores favoráveis e adversos à ação de socorro;
e. verificar os sistemas preventivos existentes;
f. levantar dados sobre as características das edificações;

162
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

g. levantar contatos de emergência que auxiliariam em uma eventual ocorrência;


h. planejar e coordenar o treinamento continuado da tropa;
i. planejar e coordenar exercícios simulados em parceria com as diversas
organizações presentes na área operacional.

Os levantamentos de área devem alcançar os “pontos críticos” de interesse


para a Corporação, sejam pelo risco ou pela importância, tais como: hospitais e
clínicas, locais de grande concentração de público, locais que utilizam ou
armazenam produtos perigosos, etc.
Uma ferramenta importantíssima para que estes objetivos sejam cumpridos é
a ficha de ponto crítico. Consiste em um modelo de ficha que contém informações
relevantes, podendo ser elaborada de acordo com a particularidade da área de
atuação de cada Organização de Bombeiro Militar (OBM), que após preenchida,
deverá estar a pronto emprego para eventual consulta no centro de operações da
unidade, assim como, para instruções rotineiras e simulados.
Para que esta ficha não perca a eficiência é importante que seja atualizada de
tempos em tempos, estando a seção operacional sempre atenta a qualquer
modificação significativa nas estruturas do “ponto crítico”. É importante também que
ela seja preenchida em parceria com a seção de serviços técnicos, para que as
informações sejam as mais precisas possíveis.

Atribuições das Guarnições de Serviço


Uma rotina operacional bem estabelecida é fundamental para o bom
andamento do serviço, assim como, para a manutenção de atributos essenciais a
operacionalidade do Corpo de Bombeiros Militar. Dentre todas as atividades que são
realizadas dia após dia, deve-se ter maior atenção a:
a. Assunção de serviço:
b. conferência dos materiais e equipamentos;
c. inspeção visual detalhada;
d. testes dos equipamentos;
e. orientações operacionais (briefing); e
f. levantamento de recursos existentes na Seção de Materiais (Subseção de
Material Operacional - SsMOp);

163
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

g. treinamento operacional;
h. testes operacionais diários;
i. instruções; e
j. simulados operacionais;
k. manutenção e acondicionamento dos equipamentos após ocorrência;
l. avaliação das ações realizadas em ocorrência (debriefing);
m. avaliar desde o recebimento do aviso até a desmobilização e retorno para a
unidade;
n. reforço dos pontos positivos;
o. advertência aos pontos negativos e como corrigi-lo.

164
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

14 OBJETIVOS TÁTICOS DO COMBATE A INCÊNDIO

Este é um assunto que empiricamente todo bombeiro com “experiência de


rua” sabe, mas que ao mesmo tempo faz-se necessário estar sistematizado a fim de
estabelecer um protocolo, ou melhor, uma diretriz de prioridades a serem supridas
em que todos sejam capazes de falar a mesma língua. Dessa forma, é possível
aumentar substancialmente a eficiência das operações de combate a incêndio
urbano pois estaríamos aplicando as táticas e técnicas corretas no momento
adequado. Logo, é necessário estabelecer a ordem de importância e prioridade em
uma hierarquia de objetivos.
Primeiro identificaremos as alternativas estratégicas relevantes, aquelas que
nos dizem de maneira geral em que direção estratégica a operação deve acontecer.
Objetivo, segundo Lacombe (2004), é o “propósito a ser atingido por uma
organização, instituição, empresa, grupo empresarial ou por uma pessoa”. Aplicando
isso ao combate a incêndio, entendemos que os objetivos táticos do combate a
incêndio são uma relação de objetivos pré-estabelecidos comuns às ocorrências de
combate a incêndio e que devem ser verificados de acordo com as características de
cada socorro.
É importante ter em mente que as definições dos objetivos pelo Comandante
da Operação se dará conforme definições estratégicas do mesmo, que irá avaliar a
ocorrência e definir a sequência de aplicação das táticas que julgar mais eficiente.
Portanto:
a. não necessariamente todos os objetivos elencados aqui estarão presente em
todas as operações;
b. a ordem de importância e prioridade poderá variar conforme a operação se
desencadear;
c. alguns objetivos ocorrerão simultaneamente;
O que precisa ficar claro é que estaremos falando de algo extremamente
dinâmico, que não deve ser seguido necessariamente como uma “receita de bolo”,
mais parece um jogo de xadrez.
Os objetivos (e ramificações) táticos do combate a incêndio são:
a. Segurança
- Acesso adequado
165
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

- Área de reabilitação/unidade médica


- Equipe de intervenção rápida (eir)

b. salvamento/busca
c. proteção contra exposição
d. confinamento
e. extinção (combate propriamente dito)
- ventilação tática;
- salvatagem;
- suprimento de água (ou abastecimento).

Importante: Serão expostos nesta seção apenas os ítens referentes a


SEGURANÇA, CONFINAMENTO e PROTEÇÃO CONTRA EXPOSIÇÃO tendo em
vista que os demais são (ou serão) tratados em capítulo (ou seção) específico(a) a
fim do manual não ficar repetitivo. O cerne desta seção é a importância da aplicação
sequencial, conforme as prioridades, do cumprimento dos objetivos inerentes ao
combate a incêndio.

14.1 Segurança

A segurança na operação deve ser o primeiro objetivo do comandante do


socorro. Para isso devem-se evitar acidentes ou minimizar o risco de acidentes
durante a operação.
As atividades de segurança visam atender não somente aos bombeiros, mas
também a outras pessoas que estejam trabalhando na área da ocorrência (policiais,
pessoal de saúde, etc.) bem como os espectadores (curiosos ou transeuntes).
A profissão de bombeiro é cercada de muitos riscos, capazes de provocar
ferimentos graves e até a morte. Independente da visão de herói que os bombeiros
possuem, é inadmissível que se assuma riscos desnecessários.
Infelizmente, ainda não existe no Brasil um estudo adequado referente aos
acidentes com bombeiros em serviço. Porém, é possível utilizar informações de
outros países para nortear as ações preventivas, onde há indicações claras de
166
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

causas de acidentes que ocorrem com frequência em operações, tais como:


a. desconhecimento quanto ao comportamento do fogo;
b. avaliação inadequada dos riscos;
c. comunicação inadequada;
d. procedimentos inadequados;
e. quebra de procedimentos;
f. falta de treinamento prático;
g. falta de planejamento das ações;
h. pessoal insuficiente;
i. falta de condição de saúde ou preparo físico inadequado;
j. falha de comando (visão em túnel); e
k. falta ou interrupção no fornecimento de água.
Como toda atividade de risco, é importante a implementação de métodos de
avaliação de riscos, onde se verifica a relação entre o risco e o benefício alcançado.
“Uma operação segura de combate a incêndio leva em conta o
comportamento do fogo, uma estrutura adequada de comando e controle e os
principais riscos” (CBMDF, 2009).
Para uma melhor compreensão de tudo que é necessário fazer para que se
tenha uma operação de combate a incêndio segura, serão expostos aqui os
seguintes assuntos: filosofia do risco benefício, medidas de prevenção de acidentes,
zona de segurança, risco de colapso estrutural, figura do oficial de segurança,
controle de pessoal, controle de acesso e equipe de intervenção rápida.

Filosofia do risco versus beneficio


As decisões de vida e morte envolvem uma análise de risco / benefício
baseada em dois objetivos principais: a proteção da vida (civil e bombeiro) e a
proteção da propriedade.
Os bombeiros devem ter em mente estas duas metas, atento às prioridades
táticas. Vale ressaltar que com o passar do tempo o incêndio tende a se propagar e
isso aumenta o potencial de morte ou lesão de bombeiros.
O ente maior responsável pela doutrina dos serviços de emergência nos EUA,
a Administração Nacional dos Serviços de Incêndio (United StatesFireAdministration
– USFA) estabelece, através de sua divisão de ensino, a política de análise dos

167
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

riscos nas ocorrências de combate a incêndio, a saber: “Aceitaremos grandes riscos


para salvar vidas; aceitaremos um risco mínimo para salvar propriedades; não
aceitaremos risco algum por vidas e propriedades já perdidas” (CBMGO, 2017) A
Associação Nacional de Proteção contra Incêndios (NFPA) 1500, Departamento de
Segurança e Saúde Ocupacional do Departamento de Bombeiros, afirma que o
conceito de gerenciamento de riscos deve ser usado com base nos seguintes
princípios:
a. As atividades que apresentem um risco significativo para a segurança dos
bombeiros serão limitadas a situações onde existam um potencial para salvar vidas
em perigo;
b. As atividades rotineiramente empregadas para proteger a propriedade devem
ser reconhecidas como riscos inerentes à segurança dos bombeiros e ações devem
ser tomadas para reduzir ou evitar esses riscos;
c. Nenhum risco para a segurança dos bombeiros será aceitável quando não
houver possibilidade de salvar vidas ou bens; e
d. Em situações onde o risco para os bombeiros é excessivo, as atividades
devem ser limitadas às operações defensivas. Assim, ao aplicar os princípios de
gestão de riscos a uma operação de combate a incêndio delimitamos as ações de
socorro em relação aos riscos em três tópicos:
- arriscar muito para salvar muito;
- arriscar pouco para salvar pouco; e
- não arriscar nada para salvar nada.
Um exemplo relativo à filosofia de risco versus benefício é o de se arriscar uma
busca na edificação em chamas com risco elevado aos bombeiros, para salvar
vítimas confirmadas no interior. Porém, não enviar bombeiros se não houver
indicação exata da existência de vítimas.
Ao encontrar uma situação incomum ou um evento único, pode ser muito difícil
identificar com precisão os riscos. Para fazer isso de forma eficaz, use todos os
recursos disponíveis, incluindo estatísticas de acidentes / lesões, estudos de casos
de incêndio e experiências de seus e de outros. Situações diferentes, como
vazamentos de gás, condições de incêndio em expansão e desmoronamentos de
edifícios, apresentam riscos diferentes. Ao identificar o risco, é necessário formular
um plano de segurança para o pior cenário possível.

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Na avaliação do cenário é importante determinar a condição da vítima. Se isso


não for possível, deve-se considerar a condição provável das vítimas nas
circunstâncias, especialmente com o passar do tempo. Não exponha o pessoal a
riscos desnecessários se não houver vida para salvar.
Os Bombeiros Militares não fazem parte de uma profissão perigosa e sim de uma
profissão que envolve riscos (DODSON, 2007) e a partir do momento em que se
avalia e se mensura apropriadamente todas as condicionantes nas operações de
combate a incêndio, adotando-se um nível de risco aceitável e estratégias e táticas
eficazes, o Bombeiro Militar reduzirá dramaticamente as chances de acidente,
lesões, ferimentos e/ou fatalidades.

14.1.1 Medidas de prevenção de acidentes

Constituem medidas de redução do risco e de prevenção de acidentes, entre


estas podemos relacionar:
a. manutenção e limpeza do EPI e EPRA;
b. uso correto do EPI adequado;
c. uso correto do EPRA;
d. avaliação dos riscos;
e. uso de comunicações integradas;
f. técnicas de socorro adequadas;
g. treinamento das equipes;
h. planejamento, com a implementação de POP;
i. preparo físico, psicológico e técnico adequado aos bombeiros;
j. isolamento e sinalização adequados da área;
k. controle dos acessos à área de risco;
l. obrigatoriedade do trabalho em dupla;
m. controle das atividades;
n. avaliação adequada do comportamento do fogo;
o. emissão de alertas de segurança quando necessário; e
p. designação do oficial de segurança, sempre que possível.

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

A segurança é responsabilidade de todos os bombeiros envolvidos no


socorro. Todos os bombeiros devem ser treinados para identificar e informar
imediatamente os riscos durante a operação para que as informações possam ser
repassadas a todos os envolvidos.

14.1.2 Zona de segurança

Conforme previsto na doutrina do Sistema de Comando de Incidentes (SCI), o


primeiro respondedor deve estabelecer inicialmente um perímetro de segurança
interno, que isolará a área onde qualquer bombeiro pode ficar vulnerável. Esse
procedimento é fundamental quando há riscos de desabamento ou produtos
perigosos envolvidos. Ninguém deve ser autorizado a entrar no perímetro interno
sem a aprovação do comandante do incidente.
Um outro perímetro, externo, cria uma zona de segurança onde o órgão
respondedor pode operar sem a interferência de pessoas não autorizadas a atuarem
na zona de impacto além impedir o tráfego de veículos não autorizados.
Consideram-se os seguintes aspectos ao estabelecer os perímetros de
segurança: tipo e localização do incidente, tamanho da área afetada, topografia,
condições atmosféricas, áreas sujeitas a desmoronamentos, explosões, quedas de
escombros e outros.
Deve ser delimitada uma zona de segurança para prevenção contra risco de
queda de materiais ou até mesmo o colapso da estrutura. Ela deve ser de, no
mínimo, uma vez e meia a altura da edificação, considerando que objetos que caem
da edificação podem, ao chocar-se com o solo, lançar detritos a distâncias
superiores à altura da edificação.

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 92. esquema didático


Fonte: Manual de combate a incêndioCBMGO,2017.

14.1.3 Risco de colapso estrutural

Uma das mais importantes preocupações do comandante do incidente é


aquela referente ao tempo que uma estrutura poderá se manter íntegra sob as
condições do incêndio.
Tipos mais novos de construção, com estruturas mais leves, tendem a
suportar cada vez menos altas temperaturas. É importante também considerar que
todos os tipos de edifícios podem conter falhas ocultas.
O comandante da operação sempre deve ter consciência de tempo: quanto
tempo o edifício está em chamas; quanto tempo as guarnições estão dentro da
edificação e quanto tempo levará para realização das várias opções táticas. O tempo
é implacável; sendo assim, o comandante tem que saber tirar proveito da situação
enquanto ainda é possível. Quanto menor a consciência de tempo decorrido,
maiores são as chances de perder um incêndio e o pior, perder vidas.
Enquanto o comando estiver constantemente reavaliando opções de ataque,
deve estar atento para os sinais de fraqueza estrutural ou colapso iminente,
incluindo: rachaduras, queda de paredes apoiando-se em outras estruturas, torção
ou dobra de vigas e pilares, barulhos estranhos, fumaça ou vazamento de líquido
através de fissuras nas paredes e queda de tijolos.

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

14.1.4 O oficial de segurança

O oficial de segurança é um militar designado para minimizar os riscos e


aumentar a segurança para os bombeiros e para as pessoas presentes no local.
Esta função está prevista no SCI.
Geralmente o Oficial de Segurança é designado em operações de longa
duração ou que possua potencial de risco elevado, principalmente devido a fatores
relacionados a limitação de recurso humano na cena.
Deve ter experiência e treinamento para tomar as decisões adequadas, bem
como autoridade para interferir na operação, caso verifique que há risco iminente
para os bombeiros. Mesmo podendo exercer autoridade de emergência para deter
ou prevenir ações inseguras quando a situação requeira providências imediatas, ele
geralmente corrige ações ou condições inseguras por meio da linha normal de
comando.
Pode permanecer no posto de comando ou ser designado para uma área
específica, dependendo do evento.São responsabilidades do oficial de segurança:
a. manter-se inteirado de toda a operação;
b. identificar situações perigosas associadas com o incidente;
c. fazer seu próprio reconhecimento do evento para se informar dos riscos;
d. ter acesso ao planejamento das operações;
e. interromper uma atividade por questão de segurança;
f. verificar o controle de pessoal;
g. verificar se o EPI e EPRA estão sendo utilizados de forma segura e efetiva;
h. estabelecer a zona de colapso;
i. verificar a necessidade de material de iluminação;
j. determinar a necessidade de instalação da unidade médica e do local de
reabilitação;
k. emitir alertas de segurança (informações de risco) para os envolvidos no
evento.

IMPORTANTE: é necessário entender que a nomenclatura “oficial de


segurança” faz referência a uma função do SCI, ferramenta utilizada
internacionalmente para o gerenciamento de operações, pelos mais diversos tipos
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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

de organizações, logo, não necessariamente está limitada a ser executada apenas


por oficiais militares, mas identifica o profissional competente e que possui
autoridade para exercer tal função. Seria mais fácil dar outro nome, como por
exemplo, “militar de segurança”, mas isso só causaria mais confusão quanto a
utilização do SCI, ferindo diretamente um de seus princípios (que exporemos mais
adiante), o da “Terminologia Comum”, e indiretamente o da “Comunicação
Integrada”.

14.2 Controle de pessoal

O controle de pessoal é fundamental para a segurança e é responsabilidade


de todos os bombeiros, não somente dos chefes de guarnição ou comandante do
incidente.
Cada chefe de guarnição ou equipe deve ter controle sobre seus
comandados. Na prática significa saber:
- quantos são;
- quem são;
- onde estão; e
- o que estão fazendo.
- O controle de pessoal deve abranger não somente os bombeiros, mas
também todo pessoal de apoio e especialistas presentes na área do evento.
- Deve prever:
- quem está na área (cadastro de todos os profissionais na área do evento);
- localização na operação (qual a função que está exercendo e onde; se está
designado ou não);
- porque está no local;
- especialidade.

14.3 Controle de acesso

173
CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

O controle de acesso tem por objetivo registrar o acesso de bombeiros a


áreas de maior risco durante as operações de combate a incêndio.
Deve ser realizado, primeiramente, pelos chefes de guarnição. Com o
aumento do número de bombeiros designados para atividades no interior da
edificação, caberá ao Comandante da Operação designar um militar para manter
este controle.
O controle de acesso deverá ser implementado em todos os acessos às áreas
de risco, porém é fundamental unificar as informações para que se saiba, a qualquer
momento, quais são os bombeiros dentro da área e sua localização.
Todo sistema de controle de acesso, seja manual ou informatizado, deve
fornecer as seguintes informações:
a. identificação do Bombeiro;
b. tarefa;
c. localização;
d. hora de entrada e saída; e
e. quantidade de ar respirável.

O registro deverá ser tanto da entrada quanto da saída dos bombeiros.


Caberá também ao controle de acesso registrar as vítimas que saem da edificação e
orientá-las para a área de concentração das vítimas.
A diferença entre controle de pessoal e controle de acesso é que o de
pessoal é mais abrangente, faz referência a todos os profissionais envolvidos na
operação e sua função. Já o de acesso é mais específico, é um controle mais
minucioso, trata exclusivamente dos locais de acesso a operação de combate a
incêndio em si, ou seja, as “entradas” para o local mais hostil ao combatente (zona
quente).

Acesso adequado
“A abertura mais importante de um incêndio é aquela por onde devem entrar
os bombeiros”. Paul Grimwood, em TacticalFirefighting, 2003.
Constituem ações para garantir um acesso adequado ao interior da
edificação: definir quais as vias de acesso ao local do incêndio e identificar as
melhores; aplicar adequadamente as técnicas de arrombamento; estabelecer as

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

viaturas adequadamente à operação.


Sempre que possível, a porta para entrada de bombeiros deve ser escolhida
na área não atingida pelas chamas, o mais próximo possível do foco, entre o foco do
incêndio e as vítimas ou a área de propagação. Essa entrada proporcionará aos
bombeiros uma posição adequada para a proteção de vítimas e para o ataque ao
fogo de dentro para fora da edificação.

Figura 93. melhor acesso


Fonte: Manual de combate a incêndioCBMGO,2017

Na figura, é possível observar que o acesso à área de incêndio é realizado,


geralmente, pelo interior da edificação utilizando as vias normais. Vale ressaltar que
nem sempre essa opção será viável.

14.4 Área de reabilitação / Unidade médica

É importante que os bombeiros que saem da área de operação tenham um


local adequado para se recuperarem do desgaste do combate.O local deve ter
condições adequadas de abrigo (contra o sol nas operações diurnas ou contra o frio
em operações noturnas) e possibilitar que os militares retirem os EPIs e descansem
adequadamente.
No mesmo local de reabilitação também poderá ser estabelecido a Unidade
Médica (SCI). Pode ser estabelecida no local do evento uma unidade médica para
atendimento em caso de grandes eventos ou ocorrências de risco. Tem por
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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

finalidade atender apenas aos bombeiros e agentes que estejam trabalhando na


operação. Caso haja dificuldade de efetivo o comandante da operação poderá
providenciar junto ao tratamento às vítimas auxílio aos bombeiros que saem
desgastados do combate.
Nesta área são realizadas também atividades como avaliação das condições
de saúde do bombeiro após o combate.
Vale ressaltar que em qualquer operação de combate a incêndio é importante
a presença de uma Ambulância (preferencialmente ASE Avançada - com médico), à
disposição da ocorrência, para atender aos bombeiros que, porventura, sofram
algum acidente durante a operação.

14.5 EIR – Equipe de intervenção rápida (RAPID INTERVENTION TEAM - RIT)

Dependendo do tipo e quanto maior o risco da operação, pode ser necessária


uma Equipe de Intervenção Rápida (EIR), também conhecida como RIT
(RapidIntervention Team), composta por bombeiros designados, exclusivamente,
para atuar no salvamento de bombeiros acidentados durante a operação.
Ocorrências em grandes áreas podem demandar mais de uma Equipe RIT,
uma em cada face onde houver operação em uma grande edificação ou uma para
cada pavimento que houver atividade de riscos mais elevados.

Proteção Contra Exposição (isolamento)


A proteção contra exposição é o conjunto de operações necessárias para
impedir a propagação de um incêndio às edificações vizinhas. Tem como
fundamento preservar áreas adjacentes ao incêndio da ação do calor, das chamas e
da fumaça, por meio da aplicação de jatos de água para resfriamento, evitando
danos e prevenindo a propagação para outras estruturas.
No combate a incêndio é da maior importância que uma ação rápida e inteligente
seja levada a efeito para prevenir a propagação para edificações vizinhas, de
cômodos contíguos ou de materiais próximos ao foco do incêndio.
Imediatamente após o salvamento de vidas humanas e de animais, a missão
mais importante da primeira guarnição a alcançar o local é assegurar-se que o fogo
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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

não se propagará para as edificações vizinhas ou para materiais expostos.


O isolamento tem como função também assegurar a liberdade de movimento
para as viaturas e equipamentos do Corpo de Bombeiros, assim é importante o
apoio de órgão de transito e da Polícia Militar em incidentes de maior vulto (CBMGO,
2017).

Confinamento
O confinamento abrange aquelas operações que são necessárias para
prevenir a propagação do incêndio às partes ainda não afetadas de uma edificação.
O Comandante de Incidentes deve identificar a presença e / ou localização de
quaisquer caminhos de fluxo de fumaça. Deve-se dedicar para controlar a ventilação
e o caminho do fluxo de fumaça, visando proteger potenciais ocupantes da
edificação e limitar o crescimento do incêndio. Se um fluxo de fumaça estiver visível,
considere fechar portas e janelas para limitar o fluxo de ar. Ao fechar portas e
janelas, os bombeiros devem estar cientes que qualquer potencial resgate deverá
ser facilmente executado através destas.
À medida que os gases do incêndio, aquecidos, estão se movendo em
direção às áreas de baixa pressão, a energia do fogo está puxando oxigênio
adicional das áreas de baixa pressão. Com base na planta da edificação e nas
aberturas de ventilação disponíveis (portas, janelas, etc.), pode haver vários
caminhos para o fluxo de fumaça dentro de uma estrutura. Quaisquer operações
conduzidas no percurso desse fluxo colocarão os membros em risco significativo
devido ao aumento do fluxo de calor e fumaça em direção à posição do bombeiro.
A tática de controle ou fechamento de pontos de ventilação de uma edificação
limita o oxigênio no espaço, assim reduzindo o desenvolvimento do fogo, a taxa de
liberação de calor e a produção de fumaça, assim limitando o movimento das
massas de calor e fumaça da área do foco para o exterior e para outras áreas dentro
do edifício.
Outro processo de confinamento do incêndio está em assegurar que a porta
de entrada que fornece acesso à área do incêndio é controlada e mantida fechada.
Contudo deve-se tomar medidas para evitar que a porta fique travada atrás dos
bombeiros que entram. Controle de abertura de portas também limita o
desenvolvimento do fogo, controlando o caminho do fluxo de ar.

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Os bombeiros devem ter conhecimento sobre as características construtivas


das edificações e seus possíveis sistemas preventivos. O problema do confinamento
de um incêndio num prédio público, industrial, comercial ou em prédios de
apartamento poderá ser grandemente simplificado se os bombeiros tiverem um
conhecimento adequado de sua construção, ocupação e conteúdo. Munido de um
Pré-Planejamento, um comandante pode verificar, rapidamente, todos os fatos
essenciais pertinentes a uma determinada edificação (CBMGO, 2017).

14.6 Prioridades táticas gerais

As prioridades táticas gerais identificam três objetivos, de maneira geral, que


devem ser completados para estabilizar qualquer situação. Essas prioridades
também estabelecem a ordem em que esses objetivos devem ser realizados.
Eles devem ser considerados como atividades separadas, embora inter-
relacionadas, que devem ser tratadas em ordem. O Comandante da Operação não
deve avançar para a próxima prioridade até que o objetivo atual tenha sido concluído
ou recursos suficientes tenham sido alocados para tal.
As prioridades táticas gerais são:

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 94. esquema didático


Fonte: Manual de combate a incêndioCBMGO,2017

14.6.1 Diagrama dos objetivos táticos

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Figura 95. esquema didático


Fonte: os autores, 2018.

Este diagrama busca facilitar a compreensão do que é mais importante nesta


seção, e é a base para qualquer gerenciamento eficiente de uma operação de
combate a incêndio,a compreensão de como procurar sequenciar o cumprimento
dos objetivos, para que as prioridades táticas sejam executadas de maneira
satisfatória.
Faz-se necessário partir da premissa de que tudo está na perspectiva de um
combate a incêndio, ou seja, desde o pré-planejamento (ainda no quartel) até a
desmobilização e o regresso para a unidade. Logo, os termos utilizados são para
denominar objetivos que exigirão o emprego de uma determinada tática a fim de que
tal propósito seja atingido.
Horizontalmente (da esquerda para a direita): a compreensão do tempo,
quando, dentro das possibilidades, o objetivo deve “começar” e “terminar”.
Exemplo: a segurança deve ser uma preocupação constante em todas as
operações, seja de combate a incêndio ou não, inclusive, como já foi destacado, o
próprio ato de se preparar através dos treinamentos já consiste em algo que
influencia diretamente na segurança das operações, assim como o retorno para a
unidade com todos os componentes da guarnição utilizando o cinto de segurança
das viaturas.
Verticalmente (de cima para baixo): a compreensão da sequência prioritária
(ideal) do cumprimento dos objetivos.
Em algumas ocasiões por algum motivo circunstancial, o Comandante da
Operação julgará necessário “pular” um objetivo (exemplo: executar um
“SALVAMENTO” por uma janela, sem que seja estabelecido um “ACESSO
ADEQUADO - segurança”), mas assim que possível o comandante deverá
determinar, se for o caso, que tal objetivosejacumprido.Em outras operações
simplesmente não haverá necessidade de cumprir determinados objetivos, por
exemplo, quando não há vítimas no interior da edificação em chamas, ou seja, o
salvamento não será executado.
Retângulos (com os objetivos): Visa facilitar a organização do diagrama. Não
deve ser confundido com um limiteentre os objetivos(onde um começa e outro
termina), tendo em vista a natureza dinâmica (objetivos diferentes sendo “atacados”

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

concomitantemente) da atividade.

Por mais complexo que seja ilustrar essa dinâmica por escrito, vamos
procurar fazê-lo com o seguinte exemplo.
Situação: Incêndio no quarto de um apartamento no 3º pavimento de uma
edificação residencial, com uma vítima na sacada da sala.

Cronologia de objetivos:
1º Momento) O Comandante de Operações percebeu que o estado da vítima
era crítico e determinou que fosse estabelecida uma escada prolongável, pela
equipe de Salvamento, para a retirada, o quanto antes, da vítima pela sacada
(SALVAMENTO). Enquanto isso a guarnição de Combate a Incêndio deveria
estabelecer os materiais, mas só iniciar o combate após autorização do comandante,
tendo em vista que o Modo Ofensivo (tática de combate escolhida) poderia causar
uma perturbação do equilíbrio térmico indesejada do ambiente, o que e,
consequentemente, prejudicaria o salvamento (SEGURANÇA).

Figura 96. Diagrama que ilustra o 1º Momento - Em azul estão destacados os objetivos a serem
cumpridos nesta etapa
Fonte: os autores, 2018.
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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

2º Momento) Após a retirada da vítima e da guarnição de Salvamento da


sacada, e recebendo o pronto do estabelecimento da guarnição de Combate a
Incêndio, o Comandante estabeleceu a rota pela qual, a partir daquele momento,
todo bombeiro envolvido deveria utilizar (ACESSO ADEQUADO). Também
determinou o controle do incêndio (CONFINAMENTO). E em seguida o início do
combate propriamente dito (EXTINÇÃO), com os cuidados necessários para a
preservação do patrimônio (SALVATAGEM). Vale ressaltar que desde o início o
Comandante de Operações mensurou que a quantidade de água disponível na
viatura era suficiente para o combate (SUPRIMENTO DE ÁGUA).

Figura 97.Diagrama que ilustra o 2º Momento - Em azul estão destacados os objetivos a serem
cumpridos nesta etapa
Fonte: os autores, 2018.

Diagrama que ilustra o 2º Momento - Em azul estão destacados os objetivos a


serem cumpridos nesta etapa.
Note que:
O acesso adequado foi estabelecido após o salvamento.

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

No final da operação alguns objetivos (e ramificações) não se fizeram


necessários: EIR; Zona de Reabilitação/Unidade Médica; Busca; Proteção Contra
Exposição*; e Ventilação Tática.
Este exemplo, não muito distante do nosso dia a dia, ilustra como seria
aplicado na prática a sequência de objetivos táticos a serem cumpridos e sua
dinâmica. Quanto mais complexa a operação, provavelmente, maior o número de
objetivos a serem cumpridos.
IMPORTANTE: Caso seja necessário releia esta seção, pois é normal que ao
ler a primeira vez os conceitos se tornem um pouco confusos e não fique claro o
principal objetivo da seção que é organizar as prioridades a serem executadas em
qualquer atividade de combate a incêndio urbano, buscando assim facilitar a
“linguagem institucional” das operações, fazendo com que as atividades sejam
sincronizadas o que torna possível aumentar não só a eficiência das operações,
como a segurança da mesma.

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CORPO DEBOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

ANEXO 01 - ORAÇÃO DO COMBATENTE URBANO.

Senhor
Vós que criastes os elementos
Concedei-nos no calor dos combates
A inteligência para avaliar
A habilidade para combater
A determinação para avançar
E a coragem para o fogo vencer
Dai-nos também, Senhor
A confiança e a certeza da vitória
Mas se no fogo eu perecer, ó Deus
Que o faça com honra
E meus companheiros retornem para suas casas
Para que minha morte não tenha sido em vão
INCÊNDIO URBANO!

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