Você está na página 1de 9

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/363856024

Como e por quê descobri que sou uma Pessoa com Altas
Habilidades/Superdotação (PAH/SD) na adultez

Article · September 2022

CITATIONS READS

0 1,015

1 author:

Cicero Moraes
Arc-Team
188 PUBLICATIONS   363 CITATIONS   

SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Biomechanical mdel for FESS View project

"Facce da evoluzione" View project

All content following this page was uploaded by Cicero Moraes on 26 September 2022.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


Como e por quê descobri que sou
uma Pessoa com Altas
Habilidades/Superdotação
(PAH/SD) na adultez
Cicero Moraes
Dr.h.c. FATELL/FUNCAR, OrtogOnLine - Teacher and developer, Arc-Team Brazil - 3D Designer.
www.ciceromoraes.com.br
https://scholar.google.com.br/citations?user=u33uvHUAAAAJ&hl=pt-BR
https://www.researchgate.net/profile/Cicero-Moraes

Não, não foi pelo QI, muito menos pelo status de indivíduo dotado de grande
inteligência que entrei no mundo das Pessoas com Altas
Habilidades/Superdotação (PAH/SD). Ao longo dos meus quase 40 anos de vida,
sempre julguei as minhas habilidades dentro da normalidade e atribuía o
sucesso de algumas empreitadas ao esforço e à disciplina pessoal.

Tudo começou efetivamente em novembro de 2021, naquele ano a Pandemia


da COVID-19 estava dando sinais de arrefecimento, as fronteiras dos países aos
poucos começaram a reabrir, o que muito alegrou a mim e a minha esposa,
pois estávamos com as passagens compradas e a República Tcheca nos
esperava para comemorarmos romanticamente nossos 12 anos de
relacionamento. Além disso, fazia pouco tempo que a edição do Guinness
World Records 2022 havia sido lançada e nela constava um trabalho que eu
havia participado1, uma honra inefável e inesperada. Evoluíram também as
tratativas para o um título de Doutor Honoris Causa, que eu receberia no
começo do próximo ano2, graças às minhas contribuições para a Arqueologia,
História, Medicina Humana e Veterinária. Nada mal para um autodidata que
fora muito pobre na infância.

Na noite de 8 de novembro de 2021 senti que um forte quadro de ansiedade se


aproximava, algo que eu estava relativamente acostumado frente ao histórico
que descreverei mais adiante, mas naquele momento não consegui entender o

https://www.otempo.com.br/interessa/designer-brasileiro-vai-para-guinness-book-apos-fazer-1
-protese-para-jabuti-1.2546468
2

https://www.gcnoticias.com.br/geral/fatell-e-fundacao-cariri-outorgam-o-titulo-de-doutor-hono
ris-causa-ao-sinopense-cicero-moraes/133439384
motivo de tal inquietação, afinal, tudo indicava que a minha vida estava plena
e realizada. Percebendo o quadro, minha esposa perguntou-me o que se
passava, expliquei por alto e disse não entender o que estava acontecendo. Ela
então, sabiamente, aventou para a possibilidade de ser algo relacionado ao
aniversário, o que eu prontamente discordei, mas não de modo completo,
posto que assim que ela dormiu, eu peguei o smartphone e pesquisei o termo
“crise dos 39 anos”. Foi uma profusão de artigos e para a minha surpresa
descobri que estava passando pela crise da meia-idade ou metanoia, grosso
modo, uma espécie de adolescência adulta onde o mundo psicológico sofre
profunda turbulência, fazendo com o que o indivíduo reveja seus conceitos e
reestruture a forma com que encara a própria existência.

Como era de praxe, busquei conhecimento e entrei de cabeça na leitura de


materiais que revelassem o que estava acontecendo comigo. Um livro que me
ajudou muito foi A Passagem do Meio: da Miséria do Significado da
Meia-idade3, de James Hollis. Graças a essa obra tomei os primeiros contatos
com Carl G. Jung, e os conceitos formulados por ele sobre tal fase da vida se
mostraram bastante compatíveis com o que eu sofria naquela feita.

Havia alguns meses que eu era atendido pelo psicólogo Lucas Caversan4,
especialista em ansiedade. Vendo a minha inquietação, acompanhando a
evolução dela e percebendo uma tendência clara, ele indicou-me outro livro
intitulado Pessoas altamente sensíveis: Como lidar com o excesso de
estímulos emocionais e usar a sensibilidade a seu favor5, de Elaine N. Aron.
Assim como a obra anterior, o que li caiu como uma luva, não apenas frente às
inquietações da meia-idade, mas também a minha própria sensibilidade ao
longo da vida.

Durante muitos anos eu imaginava que fazia parte do espectro autista ou algo
parecido, pois desenvolvi comportamentos de aversão a grandes grupos de
pessoas e/ou ambientes “poluídos” (déficit de inibição latente), hiperfoco,
sensibilidade à luz, aversão a alguns sons (misofonia), conseguia mapear com
facilidade o estado de humor de quem estava próximo, a fome me deixava
muito irritado, tinha pouca tolerância a injustiça a ponto de estourar, o que me
fez imaginar ter transtorno explosivo intermitente (TEI). O meu hiperfoco era
tão grande que quando eu me dedicava a uma tarefa, parecia que o mundo
girava em torno daquilo e eu não relaxava até terminar o projeto proposto,
com muita resiliência e motivação. Por sorte, quando a saturação batia,
3

https://www.amazon.com.br/Passagem-Meio-Mis%C3%A9ria-Significado-Meia-Idade/dp/85349
03484/
4
https://www.instagram.com/acalme.se/
5

https://www.amazon.com.br/Pessoas-altamente-sens%C3%ADveis-Elaine-Aron/dp/6555641827
naturalmente a minha mente se protegia, a ponto de, se um dia eu me
dedicava demais até queimar as energias, no outro eu me entregava ao ócio
completo e passava horas fazendo “nada”, ou seja, assistindo filmes sem muito
sentido, vídeos sobre assuntos leves, arrumando algumas coisas em casa, etc.
Isso me permitia recarregar as forças para, posteriormente, continuar
“teimando” até a tarefa ser executada ou o objetivo alcançado.

Ao descobrir que eu era uma PAS (pessoal altamente sensível), aprendi algo
novo e muito importante: descansar de verdade, ou seja, não fazer nada para
realmente recarregar as energias, evitando a saturação e logo, a ansiedade.
Além disso passei a consumir muitos materiais (vídeos6 e textos) sobre o
assunto, e entre estes, alguns citavam a questão das altas habilidades e
superdotação7. Em um primeiro momento eu ignorei tal possibilidade, pois
para mim o superdotado era aquele indivíduo com memória totalmente
fotográfica, que fazia cálculos complexos de cabeça, sendo praticamente um
computador humano imune a erros. No entanto, quanto mais eu escavava por
informações, mais evidenciava-se a compatibilidade com aquele espectro.
Passei então a assistir vídeos e lives em canais especializados8 9 e para a minha
total surpresa, a descrição apresentada neles coadunava-se com a minha
realidade. De modo a complementar o conhecimento extraído nos vídeos,
baixei uma série de artigos sobre o tema no Google Scholar, dentre eles um
inicialmente me chamou muito a atenção, a tese de doutorado da Dra. Susana
Graciela Pérez Barrera Pérez intitulada Ser ou não ser, eis a questão : o
processo de construção da identidade na pessoa com altas
habilidades/superdotação adulta10. Os conceitos expostos acerca do
comportamento de indivíduos com AH/SD foi significativamente compatível
com a minha própria história de vida. Para ilustrar melhor, eu tenho
memórias de quando era bebê, aos meus poucos meses de vida minha mãe
estava jogando canastra11 com o meu pai e amigos e eu me interessei pelas
cartas. Ao tentar pegar uma delas na mesa, o meu curto braço não a alcançou,
daí minha mãe me deu uma colher, tomei a colher com a mão esquerda,
encostei na carta, puxei-a e finalmente peguei-a. Todos na mesa vibraram com
a ação e eu me recordo muito bem daquele momento. Além disso, comecei a
andar cedo, a falar cedo, a ler algumas palavras com pouco mais de um ano de
idade e a minha memória é ininterrupta desde os 3 anos, de modo eu recordo
até do momento que isso passou a acontecer, pois foi no dia que eu dei uma
pirueta sobre a cama e de lá pra cá lembro de quase tudo. Apesar desses
fatores serem comuns em indivíduos com AH/SD, não foram eles que me
6
https://www.youtube.com/channel/UC0ftkAopAENVVFd9uAVaJgg
7
https://www.youtube.com/user/daphrq1
8
https://www.youtube.com/c/C%C3%A9rebroemEbuli%C3%A7%C3%A3o
9
https://www.youtube.com/c/CognosTube
10
https://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/3567
11
http://www.jogosdorei.com.br/regras-canastra.php
causaram mais interesse, uma abordagem notória foi a dos três anéis de
Renzulli, conceito que está bem documentado na tese supracitada. Segundo tal
abordagem as AH/SD são a intersecção de três características: 1) Capacidade
acima da média, 2) Criatividade e 3) Comprometimento com a tarefa. A
descrição documental batia com o que eu chamava de “esforço pessoal e
disciplina”, pois era justamente o que eu fazia com os meus projetos e um dos
que mais tenho carinho, para exemplificar, é a minha revista científica/livro
chamada/o OrtogOnLineMag. Pouca gente sabe, mas o projeto nasceu no início
da década de 1990, quando assisti a um episódio do desenho dos Muppets
Baby, onde a trupe montou um jornalzinho12. Fiquei maravilhado com o
conceito de trabalho em grupo, como eles juntaram peças (matérias) que ao
final se converteu no The Daily Muppet. Décadas se passaram até o ano de
2019, na oportunidade eu estava de saco cheio das licenças de revistas
científicas, bem como a morosidade do processo de revisão por pares e decidi
lançar minhas próprias publicações para que, ao menos parte dos meus
estudos já não se encontrassem defasados quando publicados. A essa altura eu
havia me cadastrado para gerar ISBN, código DOI e tinha estudado tecnologias
como Latex, CSS para HTML e o maravilhoso SPHINX, uma plataforma escrita
em Python que permite publicar um material de modo online e em PDF a
partir de um mesmo código. Comecei a escrever junto com os meus sócios os
primeiros capítulos e rapidamente meus alunos se juntaram ao grupo, fazendo
com que, na prática a experiência do desenho dos Muppets Baby acontecesse,
só que, diferente da ficção a OrtogOnLineMag já está no seu quinto volume13 14
15 16 17
, tem os artigos anexados ao Google Scholar e conta com publicações
muito importantes no campo do planejamento cirúrgico facial, documentação
digital de patrimônio, ferramentas de análise estrutural anatômica e outros
tantos materiais. Há alguns dias a publicação foi até citada na versão online da
revista Galileu18, uma das mais importantes sobre ciência no Brasil.

Todo o conhecimento utilizado no caso da revista/livro é fruto de estudos


ligados ao autodidatismo. Desde muito jovem eu aprendo o que me interessa
por meio de estudos solitários, não digo que aprendo sozinho porque o faço
com material de terceiros, sejam artigos, livros, vídeos e outras mídias. Desde
o final dos anos 1990 me apeteceu o campo da computação gráfica 3D e desde
então não parei de estudá-lo. Inicialmente trabalhando com maquetes
eletrônicas, pois portei para o mundo digital o conhecimento analógico que
12
https://muppet.fandom.com/wiki/Episode_308:_The_Daily_Muppet
13
http://ortogonline.com/doc/pt_br/OrtogOnLineMag/1/
14
http://ortogonline.com/doc/pt_br/OrtogOnLineMag/2/
15
http://ortogonline.com/doc/pt_br/OrtogOnLineMag/3/
16
http://ortogonline.com/doc/pt_br/OrtogOnLineMag/4/
17
http://ortogonline.com/doc/pt_br/OrtogOnLineMag/5/
18

https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Arqueologia/noticia/2022/09/brasileiro-reconstitui-rost
o-de-mulher-com-base-em-cranio-de-31-mil-anos.html
adquiri a partir dos 12 anos, quando eu era um desenhista auxiliar de alguns
escritórios de arquitetura. Como eu já ganhava o meu dinheirinho desde
aquela época, me pareceu uma boa ideia começar a fazer o trabalho nos
computadores, pois poupava um tempo precioso, além de permitir que os
dados ficassem armazenados em uma mídia diferente do que apenas o papel.
Os estudos evoluíram, conheci o Linux, passei a usar esse sistema operacional,
comecei a prestar serviços para a área da publicidade e em 2011 aconteceu
algo que mudaria a minha vida para sempre, fui assaltado e reagi a dois
ladrões armados, levei um tiro de raspão na cabeça19 e, mesmo tendo ajudado
a salvar a minha família do pior, o ocorrido fez com que um quadro de
ansiedade se desenvolvesse a ponto de eu temer sair de casa por 15 dias.

Não foi a primeira vez que eu testemunhara grande violência, quando eu tinha
4 anos, vi meu pai tirando a sua própria vida de modo muito brutal, algo que
aguçou a minha sensibilidade posteriormente, posto que, como a minha
memória era plena, lembro de todos os detalhes, de tudo o que as pessoas
falaram e fizeram naquele momento e esse ponto é outro que me liga às
AH/SD. No caso do meu pai eu era muito novo e na época eu não entendia a
gravidade da situação, mas no assalto o nível de sofrimento foi muito grande
pois, apesar de ter feito os ladrões empregarem fuga, a ansiedade, a culpa e o
medo tomaram conta de mim por algum tempo. Como supramencionado,
passei 15 dias praticamente trancado em casa, com muita indignação e sem
vontade de fazer quase nada. Mas eu sabia que precisava lutar contra aquilo e
a forma que busquei resolver a situação diz muito sobre o campo abordado
neste material, eu decidi estudar. Como me via desgostoso de quase tudo o que
me rodeava, busquei aprender sobre um campo que me havia chamado a
atenção, curiosamente também no início da década de 1990, na ocasião eu
havia assistido um quadro chamado Isto é Incrível! ou um programa chamado
Acredite se Quiser, não me recordo qual dos dois. O fato é que em um deles
apresentaram a técnica de reconstrução facial forense, onde a partir de um
crânio reconstruíam o que seria a face do indivíduo em vida. Novamente o
projeto ficou hibernando por décadas, até que passei a ler sobre o assunto,
comprei (e paguei super caro n’) o livro Forensic Art and Illustration20, de
Katen T. Taylor e a partir dele e outras fontes aprendi a efetuar a técnica. Em
pouco tempo superei a ansiedade acerca do assalto e fechei parcerias com
pesquisadores internacionais, apresentando o trabalho em vários países. Um
dos desdobramentos desse projeto foi o interesse por parte de médicos e
cirurgiões dentistas acerca a abordagem 3D digital sobre a face, que se
desdobraram em parcerias de desenvolvimento de tecnologia culminando em
soluções para o planejamento cirúrgico humano (hoje o meu ganha pão) e a
confecção de próteses animais e humanas. Desde o assalto que sofri, a
19
https://youtu.be/iXsoHDdWAUM
20
https://www.amazon.com/Forensic-Art-Illustration-Karen-Taylor/dp/0849381185
recuperação foi tão plena que além de “voltar à vida”, passei a viajar por
outros países, a ter dezenas de parceiros de pesquisas e a ver o meu trabalho
noticiado em mais de 100 idiomas em volta do globo, nos principais sites de
notícias, jornais impressos e canais de TVs21.

Parecia que tudo estava resolvido e encaminhado, mas a metanoia exacerbou


algo que me liga também às AH/SD, a sobre-excitabilidade. Ao ler acerca do
trabalho de Dabrowski e a Teoria da Desintegração Positiva22, uma série de
situações ao longo da minha vida passou a fazer muito, muito sentido e foi
esse o motivo final que me inspirou a buscar por um “diagnóstico”.

Percebi que eu funciono com parte dos sentidos muito aguçados, de modo que
é um grande sofrimento ficar exposto demais a situações que muitas pessoas
encaram com normalidade. Por sorte eu consegui me adaptar ao mundo,
ajustando a minha realidade ao que eu consigo gerenciar. Desde muito novo
passei a trabalhar em casa, sempre que possível evito sair em público, as aulas
que ministro presencialmente são feitas para grupos específicos que estão lá
porque querem e precisam, então fico muito à vontade para explanar o
conteúdo. Apesar de eventualmente almoçar em restaurantes, procuro fazer
as refeições em casa ou no escritório, de modo que evito sofrer com a
misofonia originada a partir da mastigação alheia ou me irritar com aquela
bateção constante de talheres, além das conversas em voz alta. Com a atual
tecnologia e as adaptações digitais motivadas pela Pandemia, muitas tarefas
outrora presenciais, podem ser executadas de modo online, o que evita a
cansativa e burocrática tarefa de ir a locais físicos para gerar documentação.
Apesar de tudo não descuido da vida social, todos os dias faço longas
caminhadas, vou à academia de musculação e sempre que possível procuro
conversar com outras pessoas, afinal, eu não detesto elas, nem a sociedade,
nem a infraestrutura, eu só me canso com muita facilidade ao elevado número
de estímulos e isso é involuntário.

Mesmo diante de todo esse sofrimento, ao longo de todas essas décadas eu


nunca fiz uso de medicamentos. A única vez que tomei meio calmante foi
próximo ao ano 2000, quando tive a minha primeira crise de ansiedade ou
uma espécie de semi-pânico. O médico entendeu na hora o que se passava, me
deu meio comprimido, o qual tomei e dormi como uma criança. A partir
daquele episódio procurei superar a situação e o consegui estudando e
aprendendo como trabalhar no computador. Foi naquele momento que eu
entendi que apreciava ficar sozinho, estudar sozinho, mas igualmente não
descuidei da vida social. Se eu soubesse o que era sobre-excitabilidade já
naquela época, creio que teria evitado muito sofrimento, mas mesmo na
21
https://www.youtube.com/watch?v=9ImF7UfVTg4
22
https://www.scielo.br/j/ptp/a/mmVxpcHKnbZhcY6mh6JKFwL/?lang=pt
ignorância, dei o meu jeito e é absolutamente impossível eu reclamar da
minha trajetória.

Isso explica os motivos reais da minha busca pelo “diagnóstico”, nunca foi
sobre status, mas sobre autoconhecimento. A metanoia meio que me obrigou a
entender a mim mesmo, sob pena de eu não ter paz até fazê-lo. Era como se eu
me desfragmentasse em várias entidades dentro da mente e encontrar o
verdadeiro eu se convertesse no objetivo quase único da existência. Desde
novembro do ano passado eu simplesmente mergulhei nos estudos sobre
psicologia, lendo vários livros e muitos artigos sobre o tema. Todo o estudo foi
naturalmente se direcionando para as AH/SD e por algum motivo, apesar de
ficar evidente que eu fazia parte daquilo, o acompanhamento profissional me
pareceu essencial para chegar a um veredito.

Entrei em contato com a Dra. Daiane Alex Seccon de Azevedo23 e procedemos


com as avaliações. Geralmente ser avaliado me incomoda bastante, mas
consegui segurar a onda e seguir com todo o protocolo, até receber o laudo
final, indicando efetivamente que eu pertenço ao espectro de PAH/SD. Quando
recebi a notícia fiquei bastante emocionado e aliviado, foi como tirar um
imenso peso das costas.

O mais agradável de toda essa experiência e conhecimento adquirido é que


parece que eu fiz as pazes comigo mesmo, pois passei a me entender melhor, a
respeitar os limites, as características, a saber descansar ao passo que ganhei
mais coragem para exercer atividades que outrora me cansavam bastante. Ao
saber que tenho sobre-excitabilidade meio que espero uma reação mais
exacerbada do meu corpo frente a algumas situações e acontecimentos, isso
reduz a ansiedade e se algo foge ao controle, consigo lidar melhor com o
ocorrido, sem colocar expectativas inalcançáveis oriundas de um
comportamento mais ideal do que viável.

Outra coisa positiva foi a compreensão do hábito de estudar e esmiuçar


tópicos, até a exaustão. Durante um tempo focar em determinadas linhas de
conhecimento me pareceu perda de tempo, mas hoje entendo que isso é algo
natural da minha pessoa e, desde que eu alimente a curiosidade com
prudência, sem exagerar no tempo de estudo, me alimentando bem
descansando e não me saturando, está tudo bem, pois estudar é mesmo
divertido! Não se trata de eu ter resolvido a vida, pois este é um estado
distante da realidade, o fato é que agora tenho ferramental para lidar melhor
com as situações e isso é o suficiente. Só quem sofreu com o excesso de
estímulos de uma mente em ebulição constante sabe do que estou falando.

23
https://www.instagram.com/neuropsicompativel/
View publication stats

Para concluir, decidi por livre e espontânea vontade, seguindo minhas


características de compartilhamento informativo, escrever este material que
creio, ajudará muitas pessoas em condições iguais às minhas. Calculando por
alto, trata-se de 6 a 10 milhões de indivíduos apenas no Brasil, muitos deles
sem a mínima ideia do motivo das suas inquietações.

Espero que esse material chegue ao máximo possível de pessoas e que elas
encontrem a tranquilidade que eu tenho vivido, isso não é ser nem melhor
nem pior do que ninguém, mas se conhecer e ter consciência de que a sua vida
é digna, respeitando as suas características e festejando o precioso regalo de
ser um indivíduo único.

Cicero Moraes
Sinop-MT, 25 de setembro de 2022.

Você também pode gostar