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O texto a seguir tem como objetivo abordar os conceitos de timidez e

introversão no contexto escolar, tendo em vista os grupos de estudantes que


se encontram no Ensino Fundamental 1, que corresponde às turmas do 1º ao
5º ano. Nele será demonstrado como estas crianças são afetadas pelos
conceitos antes citados em suas interações sociais com outros membros do
meio estudantil, e no processo de aprendizagem, mostrando ao decorrer do
texto uma atividade lúdica construída para desenvolver e estimular as
capacidades relacionais dos estudantes, além da apresentação de um caso
que se encaixa no tema a ser abordado e que foi acompanhado por um dos
realizadores deste trabalho.
Antes de começar a abordar o meio escolar, é importante definir os conceitos
principais que serão abordados neste texto. Introversão é um termo
popularizado pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, este que corresponde a
uma das características que compõem a personalidade humana, sendo
comummente relacionado a vontade de ficar só e a um comportamento mais
reservado. Há uma outra característica oposta a introversão que vale ser
citada, a conhecida como extroversão, ambas são “partes da mesma moeda”, o
que quer dizer que uma não anula a outra, assim como é abordado na teoria de
Jung, também chamada de “Tipologia ou Psicologia Jungiana”, segundo ela,
todo ser humano possui um certo grau de introversão e extroversão, no entanto
este grau varia de maneira subjetiva em cada pessoa, podendo caracterizar
mais seu comportamento.
Tentando agora definir o termo timidez, é particularmente difícil encontrar uma
fonte que estabeleça exatamente o que ela seria, porém, segundo Albisseti
(1998) “tímido é aquele que tem medo, medo de não agradar, medo de não
corresponder ao esperado, medo de ser criticado, questionado, humilhado”, e
não só ele como outros autores a associam à ansiedade que surge em
contextos sociais, podendo até classifica-la como doença, mas esse tópico
ainda é muito discutido, pois outros autores a põem como um tipo de
personalidade mais introvertida, sem vínculo a qualquer patologia (JUNG,
1991). Dito isso, um aspecto comum dentre as definições para timidez é a
intensidade considerável de inibição por parte do próprio indivíduo, que
analisando por uma abordagem mais psicopatológica, quando se agrava, pode
chegar ao estado de uma fobia social, não só inibindo, mas limitando o
desenvolvimento da pessoa que desta sofre.
Termos já definidos, é pertinente comentar que no âmbito do senso comum
tanto a introversão quanto a timidez são constantemente confundidas, porém,
como visto antes, estas se diferenciam bastante, tal diferença deve ser levada
em conta quando o assunto é uma visão psicológica sobre um aluno. Uma
criança retraída, com traços tanto de timidez e/ou introversão pode se pôr em
um estado de afastamento de seus pares, com uma quantidade de relações
muito pequena e restrita, perdendo oportunidades de socialização, um aspecto
essencial para o desenvolvimento humano. Esse movimento de “retraimento
social” pode ser uma iniciativa da criança pouco perceptível por quem está
distante, sendo que infelizmente ele só transparece assim que os pares desta
criança passam a praticar de “isolamento social” com ela, a excluindo de
atividades, agindo de maneira agressiva para com ela, havendo também
situações onde o isolado desenvolve um comportamento mais violento como
forma de defender-se das frustrações e expressar sua ansiedade, ou
desenvolver um mutismo seletivo, que de acordo com o Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais – DSM IV- TR, o Mutismo Seletivo é “(...)
um transtorno psicológico caracterizado pela recusa em falar em determinadas
situações, mas em que o indivíduo consegue falar em outras.” (DSMIV-TR,
2002, p. 148), interferindo negativamente no seu aprendizado.
Agora, como um exemplo de situação escolar, uma realizadora desse texto
acompanhou o caso de uma estudante, que para fins de privacidade será
denominada como aluna ME, ela tem 9 anos de idade e estuda no 3º ano do
Ensino Fundamental 1. A aluna ME apresentava dificuldades em se relacionar
com outras crianças, sempre sozinha na aula e no recreio. Além disso, ME
tinha grande dificuldade na hora da aprendizagem, pouco sabia ler e escrever,
isso a levava a se isolar dos colegas e a evitar atividades em conjunto com
outros, assim os alunos não se relacionavam com ela e não a convidavam para
as atividades. Foi chamado então uma psicóloga (a realizadora) na escola para
poder conversar com a aluna ME, esta começou a perceber que poderia
chamar outros coleguinhas para brincar com ela sem nenhum problema, já que
ela mesma se retraia em sua timidez devido as suas dificuldades. Assim, ainda
com certa dificuldade, durante o acompanhamento, ela passou a se relacionar
com seus pares e começou a se expressar através dos desenhos, onde,
involuntariamente, a aluna ME toda vez que estava com medo ou nervosa por
conta de alguma situação, desenhava como se sentia, e com isso começou a
diminuir sua timidez, conseguindo se relacionar com as outras crianças.
Todo este processo está mais ligado a dimensão sociocultural, onde, na
cultura ocidental, se espera maior reciprocidade e intimidade nas relações
sociais extrafamiliares, sendo assim, ter poucos amigos tende a ser visto como
um comportamento pouco adaptativo (Rubin & Coplan, 2004). Por isso, é
importante que enquanto no lugar de profissional da educação, haja uma
atenção sobre essas crianças para evitar um cenário que a cause sofrimento,
auxiliando-as com suas dificuldades, estimulando a interação entre ela e seus
pares, demonstrando que aquele ambiente dentro da escola é um lugar onde
ela pode se sentir segura para se expressar e interagir, e às acolhendo quando
se mostram inseguras ou afetadas.
Previamente ao fim do texto, os realizadores deste trabalho construíram uma
atividade lúdica que pode ser executada por um professor ou psicólogo que
vêm a necessidade estimular alunos que se mostrem mais isolados com
relação ao resto da turma. Esta atividade foi inspirada em um Jogo de tabuleiro
nacional chamado “Telma”, e assim como ele, terá cartas em sua composição
para promover o engajamento das crianças com a atividade proposta. Todas as
cartas devem formar um total de 40, tendo entre elas nove grupos de 4 cartas
coloridas, e mais um grupo de 4 cartas com um símbolo que as diferencie das
demais. Aquele responsável pela aplicação da atividade precisa primeiramente
separar um período de cerca de 20 minutos, para assim juntar os alunos, e
distribuir as cartas entre eles com a face colorida para baixo, sem
necessariamente cada um ter uma quantidade específica de cartas em seu
monte. Na primeira rodada da atividade, cada aluno escolhe um apelido ou
ação para se referir a si, e então esta começa, os alunos deverão revelar um
após o outro a carta do topo de seu monte até que uma carta de cor igual a
uma antes revelada apareça, ambos os alunos que tem as cartas de mesma
cor são propostos a um desafio, que é dizer o apelido ou fazer a ação do outro
primeiro, aquele que não conseguir recebe todas as cartas reveladas até então
e as põe debaixo do seu monte. Em caso de ambos dizerem o apelido ou
fizerem a ação ao mesmo tempo, as cartas reveladas até então são divididas e
postas no fundo do monte de cada um, a rodada só terminará quando um dos
alunos não tiver mais cartas em seu monte, este receberá 1 ponto, dando
seguimento para a segunda rodada, onde os alunos darão um adjetivo ao seu
apelido, valendo também 1 ponto, e seguirá as mesmas instruções da primeira,
sendo seguida por uma terceira e última rodada que valerá 2 pontos. A
atividade se encerra quando um dos alunos tiver 2 pontos.
Com cada etapa desta atividade é esperado que os alunos possam se
expressar, interagir e firmar relações uns com os outros, estabelecendo que
eles podem fazer parte de um grupo independente de suas individualidades,
podendo continuar introvertidos, mas tendo a consciência que aquele ambiente
está aberto para que eles possam interagir, e evitando com que se entreguem
a timidez e desenvolvam problemas futuros no seu desenvolvimento.

REFERENCIAS:

AGUIAR, Gislaine Cardoso. A timidez no contexto escolar: um olhar sobre esta


característica da personalidade humana na escola. 2010.

Devir Livraria. Devir - Devir, 2020. Produtos, Jogos de Tabuleiro. Disponível


em: <https://devir.com.br/telma/>. Acesso em: 2 de maio de 2020.

NUNES, Sandra Adriana Neves; FARACO, Ana Maria; VIEIRA, Mauro Luís.
Correlatos e consequências do retraimento social na infância. Arquivos
Brasileiros de Psicologia, v. 64, n. 1, p. 122-138, 2012.

SENA, Dalila Maitê Rosa; PEREIRA, Rosângela Blaka. O MUTISMO


SELETIVO E A CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: ALGUMAS
REFLEXÕES. SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA:" Diálogos sobre
Educação: seus reflexos na política, na escola e na sociedade, p. 32.

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