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RU: 2029893
PROFESSOR ORIENTADOR: DOS SANTOS, Wilson Xavier
RESUMO
Sören Aabye Kierkegaard é amplamente reconhecido como o primeiro
existencialista, fato do qual aqueles que possuem computador e/ou celular em casa
e acesso à Internet estão separados por apenas uns poucos cliques. Notórios
pensadores que viveram em tempos posteriores aos do dinamarquês – tais como
Karl Jaspers, que discorreu acerca de temas kierkegaardianos durante boa parte de
sua carreira, Wittgenstein (o qual, em uma conversa privada com um de seus
amigos, chegou a afirmar que Kierkegaard era 'um santo'), Sartre e Heidegger – se
aproveitaram grandemente do seu pensamento. Sua influência não está restrita ao
campo da filosofia, se estendendo a áreas como a literatura e a psicologia. O
presente trabalho intenciona: (I) apresentar as principais contribuições de
Kierkegaard à filosofia; (II) demonstrar a influência que a sua vida pessoal exerceu
sobre o seu pensamento; (III) explicitar os motivos pelos quais Kierkegaard é
considerado o pai do existencialismo; (IV) evidenciar como o seu pensamento
influenciou outros pensadores, sobretudo os demais existencialistas. Através da
leitura das bases bibliográficas primárias da dissertação corrente – as quais podem
ser encontradas nos livros 'Kierkegaard: Uma Vida Extraordinária', 'O Desespero
Humano' e 'O Conceito de Angústia' –, o processo de realização deste TCC teve o
seu início. Posteriormente, reflexões pessoais do autor e análises criteriosas dos
conteúdos destas obras foram indispensáveis à sua confecção. As principais
conclusões a que o autor chegou foram as de que Kierkegaard é absolutamente
subvalorizado nos meios acadêmicos, suas obras deveriam ser mais lidas e sua
importância para a filosofia é tremenda.
autor: ‘Devo me utilizar de qual material bibliográfico para escrever este trabalho?’.
Todavia, nem tudo são flores, e o chefe da família Kierkegaard, como todo
mundo, também possuía os seus defeitos e conflitos internos dos mais complexos.
Sua severidade, bem como a sua aparente insensibilidade, era notória. Quanto às
suas guerras interiores, a sua depressão – a qual, segundo palavras do próprio
filósofo a quem este trabalho é dedicado, era ‘assustadora’ – e a culpa resultante de
uma memória indesejada de infância o corroíam diariamente, e em momento algum,
nem mesmo em seu leito de morte, cessaram de atormentá-lo. Tal memória, vale
notar, estava intrinsicamente relacionada à sua relação com Deus, tópico o qual ele,
e tampouco o seu mais notável filho, jamais deslocou a uma posição secundária.
Ademais, uma questão mais socialmente sensível muito possivelmente suscitou no
pai de Kierkegaard sentimentos carregados da mais profunda negatividade: seu
casamento com Ane Lund, mãe de Sören, se deu somente um ano após a morte de
sua primeira esposa. Além disso, a primeira filha do casal, Maren, nasceu somente
cinco meses depois da data deste matrimônio. Tal desfavorável início a esta nova
família decerto contribuiu para a intensificação da melancolia de Michael.
um pequeno pacote embrulhado com papel. É o anel que ela deu a Sören quando
ficaram noivos. A nota explicativa (Kierkegaard, 1841 apud Backhouse, 2019, p. 92)
não é das mais animadoras:
Kierkegaard conta neste livro e a história real vivida por ele e Regine.
À luz deste fato tão essencial à sua biografia e ao entendimento de sua obra –
isto é, o seu rompimento com Olsen –, o seu famoso livro Temor e tremor também
adquire novos significados. Por qual razão? Bom, a obra – construída a partir da
análise da história de Abraão e de seu filho, cujo postulado é o de que o homem
passa do estado ético ao religioso por via do salto da fé – possui uma contraparte na
realidade: no caso, Kierkegaard está para Abraão assim como Isaque está para
Olsen. O pensador sacrificou uma vida com Regine à custa de sua própria
felicidade, sua honra e a honra de sua família. A razão para a sua decisão, como a
fé, é difícil de se explicar por vias meramente racionais. É o crer sem ver.
Acerca do amor que nutria por Regine, Kierkegaard (1848 apud Backhouse,
2019, p. 97) escreve: ‘Os poucos dias dispersos que eu tenho, humanamente
falando, muito felizes, eu sempre ansiei indescritivelmente por ela, a quem amei
muitíssimo, e que também, com suas súplicas, me emocionou profundamente’.
Diante disso, Kierkegaard toma uma atitude que a princípio pode soar
absurda, porém inapelavelmente de maneira alguma incondizente com a sua intensa
personalidade: ele solicita ao jornal que este publique sátiras ao seu respeito. Os
corolários de tal pedido e do eventual acato deste são dos mais nefastos ao
pensador dinamarquês: uma série de caricaturas direcionadas à sua pessoa são
publicadas no
O EXISTENCIALISMO
Nesse sentido, pode-se dizer que, em relação ao seu diálogo com as demais
áreas do conhecimento, o existencialismo encontra-se muito mais próximo da
psicologia e da sociologia que da ciência, da matemática, da biologia ou quaisquer
outras áreas do saber carregadas de um caráter mais técnico, objetivo, exato.
Dentre os principais autores pertencentes a este movimento – ou associados
a ele, ainda que não necessariamente existencialistas propriamente ditos -,
podemos citar Jean-Paul Sartre, Martin Heidegger, Karl Jaspers, Maurice Merleau-
Ponty, o susodito Albert Camus e a afamada feminista Simone de Beauvoir.
Tais pensadores, bem como as suas principais ideias, são hoje extremamente
populares entre os mais diversos grupos sociais. Questões intimamente ligadas aos
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Isso posto, nos ocorre realizar a seguinte inquirição a nós mesmos: por que
os existencialistas, no século presente, são tão populares? A tal questão, várias
respostas poderiam ser enunciadas, entretanto, focaremos aqui nas contingências
do momento histórico em que residimos e em como as circunstâncias presentes
podem justificar o crescente interesse que as massas e os intelectuais de nosso
tempo vêm desenvolvendo por tal corrente filosófica.
Vale lembrar, outrossim, que residimos naquele que é, talvez, o século mais
secularizado de toda a história humana. O número de cidadãos que se identificam
como ateus ou agnósticos tem aumentado a cada dia e as instituições religiosas
nunca antes tiveram uma influência tão diminuta sobre os mais diversos campos da
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sociedade.
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pensamento kierkegaardiano.
Sem mais delongas, nas próximas linhas, procederemos a expor essas ideias.
Portanto, ainda que a existência terrena de cada ser humano seja finita, todos
nós somos eternos, pois fomos criados por um ente superior, transcendente –
Deus–, o qual nos gerou à sua imagem e semelhança e reservou a cada um de nós
um espaço na eternidade.
O desespero, por seu turno, é universal. No que tange a este ponto, escreve
Kierkegaard (2003, p. 27):
São dois os tipos primários de indivíduos que podem ser identificados como
‘desesperados’: (I) aqueles que miram no infinito, esquecendo-se, porém, da
importância daquilo que é finito – característica essencial: perderem-se em fantasias
–; (II) aqueles que, ao contrário dos pertencentes a esta primeira classe de
indivíduos, visam o finito, negligenciando o infinito – característica essencial:
perderem-se em mundanidades.
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Kierkegaard.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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luz às suas ideias respectivas à Abraão e Isaque se o mesmo não tivesse sofrido
descomedidamente com a sua tão ousada quanto absurda escolha de cessar o seu
romance com Regine no zênite de sua paixão pela jovem. Ademais, se os ataques
da Corsaren a Sören não houvessem sido levados a cabo, o mesmo provavelmente
nunca haveria dado início ao mais prolífico período de toda a sua produção
intelectual, o qual, como vimos anteriormente, subsistiu entre os anos 1846 e 1854.
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condição necessária para qualquer indivíduo que anseie por alcançar o ápex de
suas capacidades individuais; (V) a angústia é filha da liberdade; (VI) a angústia
possui a potencialidade de nos conduzir a duas estradas: uma que nos leva à
perdição e outra que nos orienta à salvação.
REFERÊNCIAS
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PASTUK, Slava. Donald Glover: Fear and Trembling. Vice, 2013. Disponível em:
<https://www.vice.com/en_us/article/rqexvr/donald-glover-childish-gambino-
interview/>. Acesso em 18 de agosto de 2020.