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Søren Kierkegaard

MSc. Priscila Tomasi Torres


Søren Kierkegaard

O Existencialismo é uma corrente filosófica que se originou no século


XIX. Sua temática principal é a discussão a respeito do que seja a existência
humana em sua condição mais profunda.
Søren Kierkegaard

Pensadores como Nietzsche, Jaspers, Heidegger, Husserl, Sartre são


famosos por sua contribuição no desenvolvimento do existencialismo.
Contudo é o filósofo dinamarquês Søren Aabye Kierkegaard que é
considerado o primeiro filósofo existencialista.
Søren Kierkegaard

Kierkegaard se tornou conhecido por introduzir no debate filosófico, de um


modo muito peculiar, temas como a angústia, a existência e o indivíduo.
Uma marca de sua obra é a ideia de que uma pessoa não nasce um indivíduo, mas
deve produzir a própria individualidade, deve tornar-se si mesma. Este veio a ser
tema central nas filosofias da existência.
Søren Kierkegaard

Os escritos de Kierkegaard refletem a conflituosidade dialética da sua própria


biografia, ou seja, ao lidarmos com Kierkegaard teremos de esbarrar com aspectos
que revelam a inquietude daquilo que foi a sua vida pessoal: a educação
extremamente rígida recebida durante a infância, a relação conflituosa e
mal-resolvida com o seu pai, a excessiva melancolia e a concepção austera quanto ao
sofrimento individual que o acompanharam durante toda a sua vida…
Biografia de Søren Kierkegaard
Søren Kierkegaard

Em 5 de maio de 1813 nasceu em Copenhague, Dinamarca,


Søren Kierkegaard, um dos fundadores da filosofia existencialista.
Conhecido por levar uma vida solitária, o filósofo teve muitos
pseudônimos como Victor Eremita, Johannes de Silentio,
Constantin Constantio, Hilarius Bogbinder, Anti-Climacus.
Søren Kierkegaard

Kierkegaard foi um reformador religioso, atacando a prática dinamarquesa


vigente que sobrepunha o poder estatal ao religioso.
A maior parte de seus escritos está voltada à ética cristã, estética e política,
além de críticas à filosofia de Hegel.
Søren Kierkegaard

Ele era de uma família rica. Sua mãe, Ane Sørensdatter Lund Kierkegaard foi a
segunda esposa de seu pai, Michael Pedersen Kierkegaard. Eles se conheceram porque Ane
era empregada doméstica de Michael e sua primeira esposa. Michael casou-se com Ane
depois que sua primeira esposa morreu. Ane, a mãe, mulher muito simples, tinha quarenta e
quatro anos, o pai cinquenta e seis. “Eu era o filho da velhice” – dirá mais tarde Kierkegaard.
Søren Kierkegaard é o mais novo de sete irmãos. Porém, apenas ele e outro irmão
chegaram a viver mais de trinta anos.
Søren Kierkegaard

Søren Kierkegaard ingressou nos estudos formais em 1821, aos 8 anos, na


Escola de Virtude Cívica em Copenhague mesmo.
Lá, ele se dedicou principalmente ao latim e à história, se formando em 1830,
aos 17 anos. No mesmo ano, ingressou na Universidade de Copenhague para estudar
teologia. Apesar disso, dedicou-se mais à filosofia e literatura.
Søren Kierkegaard

Ao término dos estudos secundários surge o problema do futuro de Soeren. Seu


primeiro ano de estudos foi consagrado às humanidades, e coroado por um
bacharelado em filosofia e filologia, em 1830.
Durante dez anos vai frequentar a Faculdade de Teologia, na maioria dos casos
como diletante, sem ter certeza de sua verdadeira vocação.
Søren Kierkegaard

➔ Entre 1841 e 1846, Kierkegaard fez uma série de publicações onde expunha
suas opiniões filosóficas.

➔ Entre 1847 e 1855, publicou mais uma série de livros que possuíam dois focos
de crítica: a sociedade moderna (de sua época) e a Igreja da Dinamarca (a
instituição – também conhecida como Igreja Nacional Dinamarquesa ou Igreja
Evangélica Luterana na Dinamarca).
Søren Kierkegaard

Durante sua carreira ele escreveu textos críticos sobre religião organizada,
cristianismo, moralidade, ética, psicologia, e filosofia da religião, mostrando um gosto
particular por figuras de linguagem como a metáfora, a ironia e a alegoria.
Grande parte do seu trabalho filosófico aborda as questões de como alguém vive
sendo um "único indivíduo", priorizando a realidade humana concreta sobre o
pensamento abstrato e destacando a importância da escolha e do comprometimento
pessoal.
Søren Kierkegaard

O trabalho teológico de Kierkegaard centra-se na ética cristã, na instituição da igreja,


nas diferenças entre provas puramente objetivas do cristianismo, na distinção qualitativa
infinita entre o homem, Deus (a finitude e temporalidade do homem em contraste com a
infinitude e eternidade de Deus), e a relação subjetiva do indivíduo com o Deus-homem
Jesus Cristo, que veio por meio da fé. Grande parte de seu trabalho trata do amor cristão.
Ele foi extremamente crítico com a prática do cristianismo como uma religião de
Estado, sobretudo com a posição da Igreja da Dinamarca.
Søren Kierkegaard

É preciso considerar que Kierkegaard é um pensador bastante contraintuitivo.


Muito de seu pensamento questiona pressupostos nos quais fomos todos formados,
seja na moralidade, na educação formal, na religião, na filosofia etc.
Portanto, ao lê-lo, é preciso estar atento à tonalidade própria que dá a seus
conceitos.
Søren Kierkegaard

Os livros que Kierkegaard escreveu podem ser lidos como expressões do existir,
que encontram paralelos com sua vida pessoal, embora não se tenha acordo com
respeito a essa questão. Mas certamente podem ser compreendidos como metáforas
que refletem a vida em si, ou seja, a própria existência. Sendo assim, suas obras
reportam às dimensões do existir.
No entanto, Kierkegaard não é de fácil compreensão, pois ele mesmo afirma que
a sua vocação era de "fazer as coisas mais difíceis" e de "criar dificuldades em todas
as partes" (KIERKEGAARD, citado por JOLIVET, 1952, p.17).
Søren Kierkegaard

A história de Soeren Kierkegaard é a de uma discordância à procura da graça, ou


seja, da unificação do eu. “Deus me concedeu a força de viver como um enigma” – escreve
Soeren Kierkegaard em seu Diário, em 1847.
E, em 1848: “Minha vida começou por uma terrível melancolia, foi perturbada desde
minha primeira infância em sua base mais profunda – uma melancolia que durante algum
tempo me precipitou no pecado e na devassidão e, no entanto, humanamente falando, era
quase mais insensata que culpada”.
Søren Kierkegaard

Havia nele uma clivagem psíquica que o tornava incapaz de enganar quem o
cercava, fazendo-o parecer cheio de vida e alegria, ao passo que, nos bastidores de
sua alma, houve sempre dentro dele uma criança a chorar.
A causa dessa melancolia não é evidentemente unívoca. A predisposição para o
humor depressivo era amplamente compartilhada pela família. Mas a esse
fundamento fisiológico, hoje reconhecido, somava-se o tormento de uma história.
Søren Kierkegaard

Em 2 de outubro de 1855, Kierkegaard


desmaiou na rua com paralisia nas pernas. Ele foi
levado para o hospital Fredericks e ficou
internado por volta de 40 dias até vir a óbito.
Søren Kierkegaard morreu aos 42 anos em
11 de novembro de 1855 em Copenhague,
Dinamarca.
Contribuições filosóficas
Søren Kierkegaard

Sören Kierkegaard (1813-1855) foi antes de tudo um escritor, publicando


diversas obras no século XIX.
Com um estilo marcado por metáforas e profundamente sarcástico, não
escreveu sobre o mundo, nem elaborou um sistema explicativo deste; preocupou-se
com a vida humana, a existência e com o ser-existente, ou seja, trabalhou com
temas existenciais, tais como o desespero, a fé, o amor, a angústia, a ironia e outros.
Søren Kierkegaard

Para um autor que viveu pouco (até os 42 anos), escreveu muito: seus escritos foram
organizados em 22 volumes e mais cinco mil páginas de diários, totalizando mais de 10 mil
páginas.
Tendo nascido em uma pequena cidade provinciana, no centro intelectual da
Escandinávia, teve algumas aulas com Schelling, o que lhe causou muito interesse.
Respondeu a Hegel, tentando demonstrar que a vida, ou a existência, não pode ser restrita
por um sistema. Foi esta defesa da categoria da "vida", em contraste com a valorização do
"racional", que colocou Kierkegaard na vanguarda do debate existencialista.
Søren Kierkegaard

Podemos considerar Kierkegaard como o fundador da filosofia da


existência (WAHL, 1949 [1947], p.3), mesmo que os manuais de filosofia
tradicionalmente apontem-no – ao lado de Nietszche – como um dos "pais" ou
um dos precursores das filosofias da existência (JOLIVET, 1961; REALE;
ANTISERI, 1990).
Søren Kierkegaard

Seu principal objetivo não era construir uma filosofia que buscasse uma
essência, como em Platão, Spinoza e Hegel (WAHL, 1949 [1947], p.2), mas sim
discorrer acerca da existência concreta (FEIJOO; PROTASIO, 2011) e com a
temática do tornar-se cristão, visto que ele mesmo afirma que toda a sua obra se
relaciona com o cristianismo e com um tornar-se cristão (KIERKEGAARD, 2002,
p.24).
Søren Kierkegaard

Em meio a revoluções, Kierkegaard era famoso em sua época na Dinamarca.

➔ O alcance de sua obra, no entanto, não ficou limitado ao seu século ou país, tendo
influenciado grandemente muitos pensadores atuais;

➔ Após o declínio dos valores iluministas, quando os sistemas filosóficos racionais (dos
"pensadores objetivos", na terminologia kierkegaardiana) não mais demonstravam
compreender os fatos que aconteciam no mundo, tal como a Primeira e a Segunda
Guerra Mundial.
Søren Kierkegaard

Sua obra influenciou o mundo que estava por vir.


Ao influenciar pensadores como Marcel, Jaspers, Buber, Sartre e
Heidegger, seu foco no indivíduo trouxe um novo posicionamento perante o
homem, e permitiu aprofundar nosso conhecimento sobre os elementos
constitutivos do ser humano, como a angústia.
Søren Kierkegaard

Com seu pensamento, Kierkegaard expôs o homem a si mesmo. Tentou


vivenciar cada possibilidade ao máximo, o que resultou em diversos pseudônimos,
cada um com um tom diferente da existência.
Essas "existências" (representadas por seus pseudônimos) influenciaram o
pensamento alemão antes do fim do séc.XIX e o pensamento francês entre as duas
guerras (BEAUFRET, 1976 [1971], p.14).
Søren Kierkegaard

Sobre os pseudônimos:

➔ Cada um de seus pseudônimos possui características diferentes e são destinados a leitores diferentes.
➔ Feijoo (2007) afirma que Kierkegaard "precisava mostrar-se de modo a agradar o outro, assim, ganhando o
seu interesse, poderia então avançar em seu plano" (FEIJOO, 2007, p. 111).
➔ Brandt (1963) afirma que por meio dos escritos pseudônimos, a "sua intenção era de demonstrar uma série
de diferentes pontos de vista sobre a vida, o que ele também chamou de ‘Estágios da Vida', por autores
fictícios" (BRANDT, 1963, p.23).
➔ A fim de organizar a sua estratégia de comunicação indireta, Kierkegaard utiliza-se de pseudônimos para
assinar o conteúdo de suas obras, elaboradas de acordo com critérios estéticos, éticos e religiosos da
existência humana.
Kierkegaard propôs a noção de que
a verdade está na subjetividade,
que a existência verdadeira é
alcançada pela intensidade do
sentimento
(WAHL, 1949 [1947], p. 4).
Søren Kierkegaard

Além do existencialismo, que tem suas origens da obra kierkegaardiana,


podemos ainda notar as influências de Kierkegaard em outros contextos, tais como a
Escola de Frankfurt. Theodor Adorno (1903-1969) reconhece ter sido influenciado a
ponto de escrever sua tese de doutorado sobre o estético em Kierkegaard.

Theodor Adorno (1903-1969) dedicou a vida ao entendimento dos processos de formação do


homem na sociedade. O filósofo e sociólogo alemão foi um dos fundadores da Escola de
Frankfurt, corrente de pensamento do início da década de 1920 fundamentada na ideologia
marxista
Søren Kierkegaard

Martin Buber, referência obrigatória às psicoterapias de base humanista,


conhecia a filosofia de Kierkegaard, e aponta para a singularidade do indivíduo; mas
seu conceito base, que é a pessoa, aponta para uma individualidade singular, que está
em contato com o mundo, em reciprocidade real com o mundo.
Sobre o conceito de "indivíduo" em Kierkegaard, Buber chega a afirmar que a
compreensão de tal conceito só seria possível a partir do entendimento de sua
própria solidão, já que o indivíduo é a singularidade concreta que se encontra em si
mesmo (BUBER, 1982).
Søren Kierkegaard

O foco de Kierkegaard sobre o indivíduo marcou profundamente o movimento


da filosofia e do pensamento ocidental, pois sua filosofia deixou de buscar um sistema
para explicar um sujeito objetificado.
Para Kierkegaard, o indivíduo é superior à espécie (KIERKEGAARD, 1968
[1844]) e "a individualidade é o eixo de tudo" (KIERKEGAARD, citado por
BEAUFRET, 1976 [1971], p.60), ocorrendo uma reversão de relação
espécie-indivíduo.
Søren Kierkegaard

A filosofia de Kierkegaard, em certo sentido, é um apelo à autenticidade e à volta à


subjetividade. Grande crítico do alemão de Georg F. Hegel (1770-1831), Kierkegaard
afirmava que a existência humana não pode ser reduzida a um sistema.
Neste prisma, o filósofo dinamarquês proclamava a necessidade de se voltar o olhar
para a interioridade do homem, que é qualitativamente irrepetível, pois este é o único
caminho que conduzirá o indivíduo à vida propriamente humana (VALLS, 2000; REALE;
ANTISERI, 2005).
Søren Kierkegaard

Kierkegaard descreveu o caráter dialético do processo que os psicólogos contemporâneos


denominam hoje o processo de subjetivação. Ele o concebeu vivendo-o, ele o pensou enquanto
estava submetido à provação. Com efeito, é da união da inquietude humana e de um empirismo
metafísico que nasceu a filosofia da existência de Kierkegaard, no lado exatamente oposto às
nossas contemporâneas “ciências do homem”.
Confunde-se o problema da existência como tal com o seu reflexo nas consciências sábias
das gerações. O essencial é o que diz respeito ao problema existencial de cada um de nós, ao que
significa para mim; depois disso, estou livre para ver se estou à altura de tratá-lo como sábio.
Søren Kierkegaard

Pensar a existência em seu processo implica refletir sobre temas e conceitos


como tempo, instante, liberdade, dialética, movimento, possibilidade e
necessidade, quantidade e qualidade, subjetividade e objetividade,
paradoxo, ser humano etc.
Søren Kierkegaard

Kierkegaard assume a ironia socrática como capacidade de negação universal e ilimitada,


porque, engajando profundamente o indivíduo na existência, ela evita que ele seja sugado por um
sistema de ideias e mostra que razões e justificações nascem sempre depois de uma decisão
existencial, nunca a fundamentando, mas resultando dela.
Como bem dizia Jacques Derrida – em paráfrase do mestre dinamarquês –, o instante da
decisão é uma loucura. Todavia, o indivíduo não hipócrita, quer dizer, que não se esconde atrás de
razões, mas admite a precariedade intelectual da vida, pode ainda assim perscrutar suas decisões,
falando em porquês, assumindo suas escolhas e procurando sobretudo o sentido delas.
Søren Kierkegaard

A avaliação da contribuição de Kierkegaard para os problemas filosóficos


próprios aos séculos 19 e 20 é quase que exclusivamente mediada pela visão que se
tem dele como essencialmente irracionalista e crítico severo de qualquer filosofia
rigorosa, donde os efeitos e consequências de sua obra só podem se fazer sentir num
escopo muito restrito.
A ele restou, portanto, ser o “pai do existencialismo”, o “contemplador inocente
do paradoxo”, o “defensor inconsequente da fé de Abraão” e alguém cujo pensamento
só ganha vida e força pelo pitoresco presente em sua biografia.
Søren Kierkegaard

À filosofia dita séria, Kierkegaard nada teria a dizer, já que, como afirma
mesmo Sartre, sua filosofia é uma antifilosofia, e sua crítica é como um
grito do indivíduo existente contra a opressão acachapante da Razão.
Na próxima aula…
Vamos falar dos conceitos de Kierkegaard:

➔ Uma ideia pela qual viver e morrer;


➔ Ironia;
➔ Angústia;
➔ Desespero;
➔ Fé e subjetividade;
➔ Paradoxo;
➔ Amor;
➔ Repetição;
➔ Existência;
➔ Indivíduo;
Referências

JANZEN, Marcos Ricardo; HOLANDA, Adriano. Elementos para uma psicologia no pensamento
de Søren Kierkegaard. Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro , v. 12, n. 2, p. 572-596, ago. 2012 .
Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-42812012000200015&lng
=pt&nrm=iso>.

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