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LÍQUIDOS IÔNICOS

1.0 Líquidos Iônicos

Bockris e Reddy (1970) utilizaram o termo Líquidos Iônicos, em seu livro


“Eletroquímica Moderna”, para utilizar a expressão sal fundido.1 Os líquidos iônicos são
definidos como sais orgânicos que existem em estado líquido, à temperatura abaixo de 100°C,
com íons ajustados de maneira a possuir propriedades singulares e promissoras para o processo
que venha a ser utilizado.2 De acordo com Johnson (2007), os LI’s são um solvente orgânico,
constituído por pares de íons, com baixa pressão de vapor e condutividade específica
moderada.3

1.1 Classificação do Líquidos Iônicos

Os LI’s podem ser classificados em duas categorias: os Líquidos Iônicos Apróticos


(LIA’s) e os Líquidos Iônicos Próticos (LIP’s). Os LIA’s são baseados no conceito de ácido e
base de Lewis, ou seja, espécies químicas capazes de doar e receber elétrons. Já os LIP’s
seguem o princípio de ácido e base de Bronsted, e são produzidos a partir da transferência de
prótons do ácido para base.4

1.2 Líquidos Iônicos Próticos

Os PIL’s são formados através da transferência de um próton de um ácido de Brønsted


para uma base de Brønsted, de acordo com as reações 1 e 2. Essa formação do LIP’s confere
uma característica distintiva do LIA’s, pois os LIP’s possuem um próton disponível para formar
uma ligação de hidrogênio.5

−¿ ¿
+¿+ A ¿
B+ A → H B (1)
−¿¿
+¿+NO ¿
C H 3 C H 2 N H 2 + HN O3 →C H 3 C H 2 C H 3 3
(2)

1.2 Tensão Superficial dos PIL’s

Os cátions e ânions oferecem efeitos semelhantes na redução da TIS, indicando que


ambos os íons estão presentes na superfície e fornecem um empacotamento das moléculas
capazes de reduzir as tensões (interfacial e superficial). Para esses PIL’s, o aumento do
comprimento da cadeia de alquilica, tanto do cátion como do ânion, diminui a tensão
superficial. Ademais, as ramificações na cadeia de alquila reduzem a tensão superficial, pois
existirá uma maior quantidade de hidrocarboneto por unidade de área. 6
É possível afirmar também que a tensão superficial diminui, à medida que aumenta a
polarizabilidade e o volume dos contra-íons. A elevada polarizabilidade dos ânions está
interligada com a fraca hidratação desses contra-íons, assim a baixa solvatação possibilita que
os contra-íons reduzam mais significativamente a repulsão eletrostática entre os grupos de
hidrofílicos polares e, portanto, resulta em maior adsorção na interface, possibilitando menores
TIF.7 Os contra-íons mais volumosos possuem mais tendência a se adsorver na superfície, de
maneira que o maior peso molecular possibilita uma interação mais adequada com as frações de
hidrocarbonetos presentes no óleo.8
A adição de um grupo hidroxil, no geral, causa um aumento significativo na tensão
superficial, decorrente do aumento da energia coesiva das ligações de hidrogênio e da redução
da quantidade de hidrocarbonetos situados na superfície. 5 A localização do grupo hidroxila
também influencia na tensão superficial, quando estão localizados no final da cadeia a tensão é
maior do que quando se localizam do lado das ramificações. 5
Assim, em geral, a tensão superficial será diminuída quando os íons têm uma maior
eficiência de empacotamento na superfície ou aumentado quando existe um amento de ligação
coesiva do PIL’s, através das pontes de hidrogênio).

2.0 PIL’s disponíveis na NUESC

A Tabela 1 apresenta os nove LIP’s disponíveis no laboratório NUSC (Núcleo de Estudos


em Sistemas Coloidais). Os LIP’s foram sintetizados pelo laboratório de Termodinâmica da
Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Tabela 1. Abreviatura, nomenclatura e estrutura química dos LIPs disponíveis.


Abreviatura Nomenclatura Estrutura química

EOA-PROP Propionato de etanolamina

EOA-BUT Butanoato de etanolamina

M-EOA-ACE Acetato de metil etanolamina

M-EOA-PROP Propionato de metil etanolamina

M-EOA-BUT Butanoato de metil etanolamina


DOA-ACE Acetato de dietanolamina

DOA-PROP Propionato de dietanolamina

DOA-BUT Butanoato de dietanolamina

DOA-HEXA Hexanoato de dietanolamina

Origem: Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

3.0 Escolha dos PIL’s

Os PIL’s foram escolhidos baseando-se no composto que venha a promover a maior


redução da tensão interfacial. De modo que, analisaremos a interação dos hidrocarbonetos dos
PIL’s com as moléculas apolares do óleo, através das duas maiores cadeias aquilícas dos PIL’s
(Butanoato e Hexanoato), bem como estudaremos o comportamento das hidroxilas na interface
(Metil Etanolamina e Dietilnolamina).
Assim, através de um estudo tanto dos cátions quanto dos ânions, será possível
determinar qual dos fatores mais interferem no melhor empacotamento das moléculas na
interface água/óleo para promover a significativa redução da tensão interfacial.
Portanto, os PIL’s escolhidos para o trabalho são: [M-EOA-BUT]; [DOA-BUT] e
[DOA-HEXA].

4.0 Referências
1
Bockris, J. O. M.; Reddy, AKN Modern Electrochemistry. 1970.
2
Bera, A.; Belhaj, H. Ionic liquids as alternatives of surfactants in enhanced oil recovery—A
state-of-the-art review. J. Mol. Liq. 2016, 224, 177.
https://doi.org/10.1016/j.molliq.2016.09.105.
3
Johnson, K. E. What ’ s an Ionic Liquid ? “ T. Electrochemistry 2007.
4
Panda, S.; Kundu, K.; Singh, A. P.; Senapati, S.; Gardas, R. L. Understanding differential
interaction of protic and aprotic ionic liquids inside molecular confinement. J. Phys. Chem. B
2017, 121, 9676.
5
Greaves, T. L.; Drummond, C. J. Protic ionic liquids: properties and applications. Chem. Rev.
2008, 108, 206.
6
Greaves, T. L.; Weerawardena, A.; Fong, C.; Krodkiewska, I.; Drummond, C. J. Protic ionic
liquids: solvents with tunable phase behavior and physicochemical properties. J. Phys. Chem. B
2006, 110, 22479.
7
Wang, H.; Wang, J.; Zhang, S.; Xuan, X. Structural effects of anions and cations on the
aggregation behavior of ionic liquids in aqueous solutions. J. Phys. Chem. B 2008, 112, 16682.
8
Saien, J.; Kharazi, M. A comparative study on the interface behavior of different counter anion
long chain imidazolium ionic liquids. J. Mol. Liq. 2016, 220, 136.
https://doi.org/10.1016/j.molliq.2016.04.028.

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