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https://doi.org/10.15202/1981996x.2019v13n3p76-86

A QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL SOB O TRIPÉ DA SUSTENTABILIDADE

THE FOURTH INDUSTRIAL REVOLUTION UNDER THE TRIPLE BOTTOM LINE

Meline Melegario Lima


Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento
Local, PPGDL, do Centro Universitário Augusto Motta, UNISUAM, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
E-mail: meline.lima.pesquisa@gmail.com

Maria Geralda de Miranda


Pós doutora em Políticas Públicas e Formação Humana pela Universidade do Estado do Rio
de Janeiro, UERJ. Pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Local do
Centro Universitário Augusto Motta, UNISUAM, Rio de Janeiro, RJ.
E-mail: mgeraldamiranda@gmail.com

Patricia Maria Dusek


Pós doutora em Justiça Constitucional pela Università di Pisa. Coordenadora e Pesquisadora do
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Local do Centro Universitário
Augusto Motta, UNISUAM, Rio de Janeiro, RJ.
E-mail: patricia.dusek@unisuam.edu.br

Kátia Eliane Santos Avelar*


Doutora em Ciências pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ. Pesquisadora do
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Local do Centro Universitário
Augusto Motta, UNISUAM, Rio de Janeiro, RJ.
E-mail: katia.avelar@gmail.com

*Autor para correspondência

RESUMO

Este artigo tem como objetivo traçar uma análise estruturada dos impactos da Quarta
Revolução Industrial para a sociedade nas próximas décadas, associando-os aos pilares do
desenvolvimento sustentável. Adicionalmente, a conjuntura atual foi relacionada com
perspectivas futuras, que podem gerar tanto um ciclo de benefícios como também de grandes
desafios no que diz respeito aos aspectos econômico, ambiental e social. As novas tecnologias
e seus impactos viabilizam o surgimento de novos modelos de negócios, reformulam sistemas
de produção, consumo, transporte e lazer, por isso esse fenômeno foi estudado à luz da
metodologia proposta, visando uma compreensão bem fundamentada e um entendimento
assertivo sobre o tema analisado.

Palavras-chave: Desenvolvimento Sustentável. Meio Ambiente. Indústria 4.0.

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ABSTRACT

This article aims to draw a structured analysis of the impacts of the Fourth Industrial
Revolution on society in the coming decades, associating them with the pillars of sustainable
development. In addition, the current situation was related to future prospects, which can
generate both a benefit cycle and major economic, environmental and social challenges. New
technologies and their impacts enable the emergence of new business models, reformulate
production, consumption, transportation and leisure systems, so this phenomenon was
studied in the light of the proposed methodology, aiming at a well-founded understanding
and an assertive understanding on the subject analyzed.

Keywords: Sustainable Development. Environment. Industry 4.0.

1 INTRODUÇÃO

A Quarta Revolução Industrial fundiu as novas tecnologias e inovações de forma muito


mais rápida e ampla do que nas revoluções anteriores. Fenômenos como Uber, Airbnb,
Whastapp e Facebook eram praticamente desconhecidos ou nem existiam até poucos anos
atrás. A inteligência artificial (IA) mudou a forma como o ser humano se relaciona com os
demais e com o mundo, desde carros autônomos, drones, assistentes virtuais, até softwares
de tradução. A velocidade e a intensidade desta revolução merecem estudos mais
aprofundados, uma vez que suas propostas são tão ambicionas que podem representar
inovações ainda mais impactantes do que as alcançadas pelas revoluções anteriores
(SCHWAB, 2017).
Segundo Schwab (2017), a Indústria 4.0, que é outra forma de referência à revolução
mencionada, caracteriza-se por proporcionar a criação de novos sistemas de fabricação
virtuais e físicos, possibilitando "fábricas inteligentes". Porém, seu escopo é muito mais amplo
que nas revoluções anteriores. A Primeira Revolução Industrial ocorrida em meados do século
XVIII e início do século XIX proporcionou a mecanização da produção. Ainda no meio do século
XIX, a produção em massa foi fomentada pelo advento da linha de montagem e da
eletricidade, características da Segunda Revolução. Na segunda metade do século XX surgiu a
Terceira Revolução, também conhecida como revolução digital, propagando utilização de
computadores, internet, microprocessadores e alta tecnologia.
Para o Fórum Econômico Mundial, de acordo com Gafni (2016), esta revolução “é
definida por tecnologias disruptivas que confundem as linhas entre o físico, o digital e o

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biológico. Da inteligência artificial e da robótica à bioengenharia e nanotecnologia, a Quarta
Revolução Industrial ainda está em seu ponto de partida”. Nas palavras de Schwab (2017)
fundamentalmente o que caracteriza e diferencia essa revolução das demais é a fusão dessas
tecnologias e sua interação entre diversos domínios.
A Quarta Revolução Industrial, ao mesmo tempo que tem proporcionado um ciclo
profundo de benefícios, com perspectivas cada vez mais impactantes nas próximas décadas,
também tem gerado grandes desafios em igual medida. Transformações econômicas, sociais
e ambientais com crescente influência na vida das pessoas geram dúvidas sobre a capacidade
inclusiva e sustentável deste processo, como alterações no mercado de trabalho com
surgimento de novas profissões e desaparecimento de outras, transformações nas cadeiras
produtivas globais através da criação, escala e aplicação de novas tecnologias, possibilidade
de transição de uma economia de alto para baixo carbono - citando apenas algumas delas
(MEIRA, 2017).
Dentro do contexto de desenvolvimento sustentável, além da abrangência dos
aspectos positivos mencionados sobre a Quarta Revolução Industrial, que abre espaço para
consequências com potencial negativo, principalmente no que diz respeito aos pilares sociais
e ambientais. Segundo Martine (2015), “várias fronteiras ecológicas globais estão sendo
ultrapassadas, abrindo a probabilidade de transformações bruscas e incontroláveis na esfera
planetária se não houver mudanças significativas e urgentes”. As novas tecnologias e seus
impactos marcam o surgimento de novos modelos de negócios, reformulam sistemas de
produção, consumo, transporte e lazer. Logo, é preciso pensar sobre como a Industria 4.0
pode ser direcionada para geração de uma sociedade mais desenvolvida, inclusiva e,
principalmente, sustentável.
O presente artigo tem como objetivo apresentar alguns impactos da Quarta Revolução
Industrial sobre o mundo, nas próximas décadas, partindo de Schwab (2017) como referência
central para discussão de seus efeitos na sociedade, mas com enfoque no desdobramento
deste debate nas perspectivas das três dimensões do Triple Bottom Line: econômica, social e
ambiental.
Trata-se de um tema relativamente novo, em crescente discussão, com referências
mais recentes, e que merece aprofundamento. Em meio ao potencial descompasso entre a
velocidade das transformações ocasionadas pela Indústria 4.0 e a capacidade de absorção da

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sociedade, uma análise mais estruturada apoiada pela relação com o desenvolvimento
sustentável pode contribuir para o entendimento e explicação deste fenômeno.

2.1 O Desenvolvimento Sustentável e o Tripé da Sustentabilidade

A partir da segunda metade do século XX discussões sobre a natureza,


responsabilidade social e questões econômicas se intensificaram e começaram a ser pauta de
encontros entre líderes mundiais. Grandes tragédias históricas como a Segunda Guerra
Mundial, o bombardeamento atômico de Hiroshima e Nagasaki, o acidente nuclear de
Chernobyl, e, mais recentemente, o de Fukushima, mostram a fragilidade do planeta e a
necessidade de repensar as atitudes do homem frente à natureza (POCHMANN, 2010).
Para Singer (2005), benefícios e recursos econômicos que são consequência de danos
ambientais possuem relativa curta duração (como energia e capital) quando são comparados
a estes prejuízos, que são irreversíveis, com possibilidade de nunca ser possível o retorno ao
estágio inicial. Por essa razão, uma ética centrada no ser humano, que defende o crescimento
econômico baseado na exploração de recursos naturais não-renováveis com exclusão das
questões ambientais, seria um preço a ser pago pelas futuras gerações.
Segundo Morin (2017), não se destacaram como tragédias globais do século XX apenas
as mortes provenientes das duas guerras mundiais e dos campos de extermínio nazistas e
soviéticos, mas também as decorrentes do desenvolvimento e uso em escala de armas
nucleares e biológicas, assim como da destruição da biosfera, e da intensificação de doenças
e uso de drogas.
A mudança de pensamento e a conscientização sobre a limitação do capital “natureza”
e dos perigos decorrentes das agressões ao meio ambiente, são preocupações recentes,
segundo Sachs e Stroh (2002). Em 1971, o Encontro Founex, realizado na Suíça, discutiu pela
primeira vez as conexões entre o desenvolvimento e o meio ambiente. Esse evento foi
realizado pelos organizadores da Conferência de Estocolmo, que ocorreria no ano seguinte. A
Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano foi primordial para inserir o tema
na agenda internacional. As discussões inspiraram a Declaração de Cocoyoc e o relatório What
Now, de 1974 e 1975, respectivamente. Buscava-se um novo tipo de desenvolvimento,
endógeno, orientado para as necessidades desenvolvimentistas em harmonia com a natureza,
chamado de “ecodesenvolvimento” ou “desenvolvimento sustentável”. A partir desses

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debates desenvolveram-se estudos sobre estratégias de economia de recursos e priorização
de finalidades sociais.
Vinte anos após a realização da primeira reunião sobre a temática, a Organização das
Nações Unidas – ONU promoveu a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
o Desenvolvimento (CNUMAD), mais conhecida como “Rio 92”, “Eco 92” e “Cúpula da Terra”,
realizada no Rio de Janeiro, com a formulação da “Agenda 21” – um programa de intenções
baseado em um novo modelo de desenvolvimento para o século XXI. Esse documento
representou a mais abrangente tentativa já realizada de promover, em escala planetária, um
novo padrão de desenvolvimento sustentável. Em 1997 o Protocolo de Kyoto estabeleceu
metas obrigatórias para que países reduzissem em 5% as emissões, com adesão do Brasil em
2002 (BRASIL, 2019; BRASIL, 2019a).
Em 2015 foi realizado o Acordo de Paris que pretende limitar o aumento da
temperatura da Terra em até 1,5ºC até 2100, conforme informações do Ministério do Meio
Ambiente. No mesmo ano novas metas foram traçadas com a “Agenda 2030” para o
Desenvolvimento Sustentável. Foram acordados 17 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
(ODS) com 169 metas associadas, integradas e indivisíveis. Esses objetivos entraram em vigor
em 1o de janeiro de 2016 e orientarão as decisões a serem tomadas nos próximos 15 anos.
Dentre esses se destacam tornar as cidades mais inclusivas, adotar padrões de produção e
consumo mais sustentáveis e tomar medidas urgentes para combater as mudanças climáticas
e seus impactos (ONU, 2015).
Com a propagação do termo sustentabilidade, o conceito do TBL (Triple Bottom Line)
ou Tripé da Sustentabilidade ganhou grande repercussão no final da década de 1990. O TBL
compreende a viabilidade dos negócios das empresas conforme a dinâmica entre aspectos
econômico, social e ambiental. Esta análise ganhou reconhecimento considerável, sendo
componente das estratégias corporativas na inovação e na geração de valor, como descrito
por seu fundador Elkington (1998). A sustentabilidade visa garantir que as ações e decisões
realizadas no presente não limitem ou inviabilizem a existência saudável de uma empresa no
futuro. O êxito das organizações não deve apenas ser medido pela sua performance
econômica, mas também considerar os benefícios ao meio ambiente e à sociedade como
parte das medidas de desempenho. Dessa forma, a partir de uma relação de interdependência
entre sociedade, economia e ecossistema global, conceitua-se o Triple Bottom Line,

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representando três dimensões – a econômica, a social e a ambiental – que atuam como pilares
que sustentam os conceitos de sustentabilidade e de desenvolvimento sustentável (Figura 1).

Figura 1 - Triple Bottom Line

Fonte: Knuson (2016).

De acordo com Elkington (2004), os preceitos do TBL se concentram não apenas no


valor econômico que agregam nas corporações, mas também sobre o valor ambiental e social.
Para ele, a transição para um capitalismo sustentável será uma das empreitadas mais
complexas que nossa espécie já teve que negociar, isto porque uma economia global
sustentável surgirá através de uma intensa metamorfose tecnológica, econômica, social e
política. Um fator-chave para promover essas mudanças será a insustentabilidade dos
padrões atuais de riqueza. A economia de hoje é altamente destrutiva de recursos naturais e
capital social, caracterizando-se por grandes lacunas entre ricos e pobres.
Conforme indagado por Martine (2015): a humanidade conseguirá permanecer
indefinidamente nessa trilha de progresso? Além disso, esse progresso poderá ser estendido
à toda população mundial? Para o autor a resposta para essas perguntas merece muita
reflexão, pois definirá o futuro da humanidade a partir das próximas décadas.

2.2 A Quarta Revolução Industrial

No Pós Segunda Guerra Mundial houve aquecimento na economia global, com


expansão da produção de bens e serviços e melhoria da qualidade de vida, levando ao final
do século XX à intensificação da integração das economias dos países e ao desenvolvimento

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de cadeias produtivas globais. Já no século XXI a Quarta Revolução Industrial surge com
propostas tão ambiciosas que podem representar inovações ainda maiores do que as já
alcançadas pelas anteriores, que trouxeram a mecanização e a automatização da produção.
Nessa nova revolução, de acordo com Schwab (2017), o escopo é muito mais amplo
que nas anteriores, visto que a fusão de tecnologias e o intercâmbio entre os domínios físico,
digital e biológico a torna fundamentalmente diferente. As tecnologias digitais que têm em
seu núcleo hardwares, softwares e rede de computadores não são novas, mas estão se
tornando cada vez mais sofisticadas e integradas e, por conseguinte, transformando as
sociedades e a economia global.
Segundo Meira (2017), a década de 1990 é reconhecida como a década da internet.
No Brasil, a rede comercial chegou em 1995, se popularizando com smartphones e uso de
dados móveis em meados dos anos 2000. Esta evolução culmina nos dias atuais na internet
das coisas (IoT), que pode ser descrita como o relacionamento entre coisas (produtos,
serviços, lugares, etc.) e pessoas através da integração de várias tecnologias e plataformas, e
cuja dinâmica parece ser uma composição de revoluções das quatro décadas anteriores -
hardware, software, redes e mobilidade. De tal forma, pode ser constatado que a era da
informaticidade, da transição de um modo analógico para o modo digital, está em curso,
conforme SCHWAB (2017).
A expressão “Industria 4.0” foi cunhada na Feira de Hannover, na Alemanha, em 2011,
segundo Schwab (2017). Diversas discussões são travadas para descrever como esse
fenômeno revolucionará a organização das cadeias globais de valor. Ao ativar as "fábricas
inteligentes", a Quarta Revolução cria um mundo no qual sistemas de produção virtuais e
físicos cooperam globalmente entre si de maneira flexível, permitindo a vasta personalização
de produtos e a criação de novos modelos operacionais e de negócio. Esse fenômeno possui
um escopo muito mais amplo do que a conexão entre máquinas e sistemas inteligentes, visto
que abrange avanços em diversas áreas do conhecimento, que vão desde o sequenciamento
de genes à nanotecnologia, desde as energias renováveis até a computação quântica.
Baseado no Fórum Econômico Mundial e no trabalho de vários conselhos de agenda
global, Schwab (2017) elencou as principais tendências tecnológicas a serem observadas em
meio aos direcionadores desta revolução, que podem ser divididas em três categorias: física,
digital e biológica. No contexto das tendências físicas, podem ser destacados os veículos
autônomos, impressão 3D, robótica avançada e o uso de novos materiais, mais leves,

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resistentes, recicláveis e adaptáveis. No que diz respeito às várias tendências digitais, são
ressaltadas a internet das coisas (IoT), mencionada anteriormente; e o blockchain, um
protocolo de segurança compartilhado, programável, criptograficamente seguro e que
verifica coletivamente uma transação antes de poder ser gravada e aprovada. Por fim, podem
ser citadas as tendências biológicas, como o sequenciamento de genoma e a biologia sintética,
nas quais a redução dos custos e os avanços no poder computacional proporcionam grande
escala na viabilização de resultados na área de saúde, através de edição, ativação e
customização genética; além da combinação destes com a bioimpressão, através do uso de
impressoras 3D para tecidos vivos com o objetivo de regeneração e reparo; ou ainda o
emprego de dispositivos para monitoramento da atividade corporal e química sanguínea.
No que diz respeito ao aspecto de recuperação e preservação ambiental e sua relação
com os novos paradigmas da Industria 4.0, ainda em Schwab (2017) são destacadas novas
oportunidades para o mundo atingir altos patamares de eficiência energética e uso racional
de recursos naturais, de tal forma que seja possível a criação de novos modelos econômicos
sustentáveis. Neste contexto, são destacados caminhos que podem ajudar a atingir tal
objetivo: em primeiro lugar, Internet das Coisas (IoT) e ativos inteligentes, que permitirão
rastrear materiais e fluxos de energia de tal forma que seja possível novo patamar de
eficiência ao longo das cadeias de valor; em segundo, a transparência e democratização da
informação, no sentido de conscientizar e empoderar os cidadãos no que diz respeito às suas
atitudes frente aos governos e empresas, através da confiabilidade e rastreabilidade trazida
pelo blockchain por exemplo, que pode certificar dados de gastos de governo ou de
monitoramento de desmatamento de florestas; e por fim, a criação de novos modelos
organizacionais e de negócios que possibilitem maneiras inovadoras de criar e compartilhar
valor, como na união entre carros auto dirigíveis e economia compartilhada, que podem gerar
taxas de utilização de ativos muito maiores que as atuais e consequente redução de emissões
de poluentes, ou ainda na substituição de combustíveis fósseis por biocombustíveis e fontes
energéticas de baixo carbono, contribuindo para uma economia mais sustentável.
No tocante às tendências das mudanças no mercado de trabalho, Meira (2017) indaga
quais serão seus impactos nas relações sociais. Como exemplo destaca que, em um futuro
onde máquinas se programam sozinhas, seria difícil dizer se o mercado profissional será
abundante ou escasso para programadores a longo prazo. Conforme suas reflexões, poderá

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caber ao homem uma nova realidade, com outras responsabilidades, onde o conceito de
trabalho tenha outra definição.
Recente pesquisa realizada por Harris et al. (2018) analisou três forças principais que
moldarão os anos 2020, são elas: demografia, automação e desigualdade. Governos deverão
rever suas políticas públicas nas áreas de previdência e saúde em razão do aumento do
envelhecimento da população, que também representa declínio da força produtiva nos
mercados. A diminuição da oferta de mão de obra no mercado de trabalho e a busca por maior
produtividade mudam as estratégias empresariais, que cada vez mais recorrem à automação.
Nos estudos foi verificado que a rápida disseminação dessa segunda força pode eliminar 20%
a 25% dos empregos atuais e reduzir salários. Os benefícios da automação beneficiariam
provavelmente apenas 20% dos trabalhadores, ou seja, os bem qualificados, e os donos do
capital. Dessa forma, a automação ampliaria ainda mais a desigualdade, a terceira força
apontada pelos estudos.
Com o crescimento da automação e nova relação do homem com a máquina,
modificações nos postos de trabalho, conflitos intergeracionais e aumento das desigualdades,
as diretrizes das empresas e dos governos precisam ser repensadas para adoção de posturas
que amparem os seres humanos, o meio ambiente e a economia em posição de equilíbrio, de
forma inclusiva e sustentável. Para isso, um diagnóstico bem estruturado e fundamentado
sobre a Quarta Revolução Industrial no que diz respeito aos seus impactos sobre dimensões
econômica, social e ambiental é fundamental para que tais ações sejam assertivas.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os impactos da Quarta Revolução Industrial à luz do desenvolvimento sustentável, no


que diz respeito à perspectiva social não parece ser uma solução para a melhoria de produtos
e serviços. Além disso, foi percebido que estas inovações podem proporcionar acessibilidade
e flexibilidade na formação educacional, com foco na composição de competências, tornando
os profissionais mais competitivos para o novo modelo de mercado de trabalho. Já sob a ótica
econômica, investimentos e parcerias em pesquisa com foco na transformação digital dos
processos e culturas organizacionais se mostraram um meio para catalisação de mudanças
sociais e empresariais importantes, como no caso de políticas de estímulo às startups,
regulação para uso de criptomoedas, além de aumento da capilaridade de serviços financeiros

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às pessoas por meio de fintechs e blockchain. Por fim, com relação à dimensão ambiental, foi
observada a importância de diretrizes e políticas públicas e privadas que, associadas às novas
tecnologias, acelerem as mudanças dos hábitos de consumo e do uso dos recursos naturais
para padrões sustentáveis.
Portanto, esse artigo apresentou uma reflexão breve sobre a possibilidade da quarta
revolução ser socialmente inclusiva, ambientalmente responsável, e próspera
economicamente. Com a convergência estruturada e do engajamento entre governos,
organizações globais (como ONU, Fórum Econômico Mundial, Banco Mundial e OCDE), grupos
empresariais e a população, parece ser possível que os direcionadores para o
desenvolvimento, decorrentes da Industria 4.0 proporcionem um ciclo positivo de inclusão e
prosperidade, de tal forma que o potencial positivo desta revolução predomine. No entanto,
na ausência da união e confluência de esforços mencionados, existe significativo risco de que
os aspectos negativos levem a uma profunda desigualdade e conflitos que ameacem a
estabilidade e desenvolvimento da humanidade.

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