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campo. Este aspecto relacional entre os intelectuais é crucial para o conceito de campo.
Bourdieu ainda destaca um conjunto de circunstâncias necessárias para que alguém seja
reconhecido como membro do campo. O candidato deve estar familiarizado com os
procedimentos comuns aos membros, ou seja, deve possuir o habitus. A posse de capital
intelectual e seu acúmulo são condições para nele galgar posições. O capital intelectual é
obtido de várias formas: pela qualificação profissional, pelo exercício de funções valorizadas,
pelo reconhecimento dos trabalhos, por ser membros de instituições acadêmicas e culturais
reconhecidas como relevantes.
Dezenas de pesquisadores escreveram trabalhos sobre a importância de Belisário para
investigar as políticas públicas de saúde e educação no Brasil na primeira metade do século
XX. No entanto, consideramos que é necessário assumir algumas premissas quanto às
possibilidades de investigação. Que premissas seriam estas? Não há existência humana
descolada do tempo. O que isto quer dizer? Que constitui uma falha metodológica a seguinte
afirmação: “Era um homem a frente de seu tempo”. Também não podemos aceitar que as
biografias tratem apenas - se isto é possível - da vida individual. Uma biografia é o conjunto
de relações sociais. Podemos falar que biografia é uma coleção de biografias.
Após inúmeras edições de textos sobre o sanitarista Belisário Penna, haverá alguma
revelação? Certamente. Além das descobertas propiciadas por documentos desconhecidos,
sempre existirá a possibilidade de novas interpretações e correção de equívocos cometidos.
Distorções provocadas, quase sempre, devido a citações realizadas com informações apoiadas
apenas em leitura de livros, sem pesquisa empírica nos documentos. Seria cansativo e
infrutífero enumerar as passagens em artigos e dissertações referindo-se à “Belisário Penna,
cientista do IOC”. Penna nunca pertenceu aos quadros do Instituto Oswaldo Cruz e,
tampouco, podemos afirmar que ele era cientista. Ele mesmo, um dia, declarou-se
“sociólogo”.1
Além destas incorreções, determinados aspectos sofrem um contínuo processo de
ocultamento. Ao longo do tempo, são varridas para “debaixo do tapete” informações que
podem constituir dados importantes, mas que, invariavelmente, representam conflitos com a
biografia construída idealmente do agente social. Portanto, dados vitais são negligenciados.
Assim, sucessivas narrativas biográficas não informam que, além de cientista e político, Artur
Neiva foi proprietário de terras no interior paulista. Ou que o psiquiatra Pacheco e Silva
pertenceu aos quadros do IPES, colaborando para o Golpe de 1964. Textos produzidos para
1
Durante os anos de pesquisa, encontrei trechos afirmando que Penna foi oftalmologista. Ou que na década de
1910, ele foi estudante do Instituto Oswaldo Cruz. Citações infundadas e sem comprovação empírica.
2
não pode ser reduzido a estas dimensões. Os relatos produzidos funcionaram como
instrumentos que selecionaram fatos da experiência do agente social, construindo “uma
biografia ilusória”, recontada a partir de uma base ideal. Enfim, não se pode restringir a
biografia a retratos individuais. Nem ignorar que os momentos selecionados são inseridos
num destino obrigatório e quase sempre muito romantizado.4
Portanto, não devemos nos impressionar com a ideia de uma história despojada de
temporalidade. As narrativas biográficas dos intelectuais médicos muitas vezes nos fazem crer
em autênticas revoluções. Não que os movimentos nos quais os agentes sociais atuaram
tenham sido obras de ficção, invenções de memorialistas ou pesquisadores. Trata-se de
suspeitar que, muitas vezes, os heróis dessas jornadas descreveram com ufanismo seus atos.
Não são verdadeiras as descrições dos acontecimentos que teriam acabado com os cortiços
sujos, criando um Rio de Janeiro higienizado, ou a repercussão da palestra do médico famoso
na Academia Nacional de Medicina, provocando reviravolta nos estudos médicos.
Penna percorreu todos os tons do pensamento autoritário do período. Além de sua
militância em prol do saneamento do país, vereador em Juiz de Fora, militante de vários
partidos, participante ativo das articulações para a eclosão a “Revolução de 30”, Penna foi
membro do governo Varguista e chegou a participar do Integralismo. Ficou célebre a sua carta
aberta a Prestes, quando esse líder rompeu com a Aliança Liberal. No Manifesto de Maio
(1930), o comandante da Coluna Prestes condenava a “revolução das oligarquias”, propondo
um programa de reforma agrária e anti-imperialista. Em sua resposta, publicada nos jornais,
Penna demonstrava a sua concepção política através de uma visão organicista da sociedade,
discordando do dirigente comunista: “Entregar o governo do País a soldados, marinheiros e
proletários ignorantes, doentes, sem personalidade e sem rumo na vida é querer transformar
o ventre em cérebro, os órgãos vegetativos em psíquicos”.5
Belisário nasceu em 1868. Portanto, quando ele escreveu os artigos exaltando o
“Saneamento do Brasil” como a redenção do país, para o jornal “O Correio da Manhã”, ele
era um senhor de 48 anos de idade. Lembramos que nesta época a expectativa de vida no
Brasil era de 35 anos. O médico mineiro havia tido passagens importantes, mas não se
destacara no cenário político. Um conjunto de intelectuais autoritários engajou-se na atividade
4
Bourdieu e Gramsci contribuem para problematizarmos a inserção do indivíduo em círculos sociais. Consultar
SOUZA MOREIRA, 2016. Com base em Bourdieu, esta dissertação investiga a trajetória dos documentos
produzidos e acumulados por Belisário e recolhidos pela Casa de Oswaldo Cruz. Trata-se de estudo sobre o
fundo pessoal do sanitarista. O autor em vários trechos da dissertação critica as ilusões biográficas criadas em
torno deste médico.
5
PENNA, Belisário. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 05 jun. 1930. Carta aberta de Penna a Luiz Carlos
Prestes. Fundo Pessoal Belisário Penna, COC/Fiocruz.
5
O nosso objetivo é destacar que o caminho trilhado por Penna foi pontilhado de fatos
que podem ser compreendidos naquilo que Miceli descreveu como arsenal de capitais
simbólicos e culturais. Embora seja verdadeiro que Penna “demorou” a alcançar um posto
importante, tendo experimentado a ocupação de dono de armazém de Secos & Molhados,
também não é menos exato que era membro de família influente, onde segundo relato da filha
Maria, “em casa de meu avô, as empregadas falavam francês”8. Além disso, se casou com a
filha do fundador da faculdade de direito da Bahia e ex-presidente de três províncias do
império. Tendo ficado viúvo, reafirmou esses laços de parentesco, casando com a irmã da
falecida.9
As estratégias de manutenção destes capitais simbólicos passavam pelos casamentos
entre as famílias. Os grupos políticos utilizaram os contatos pessoais para consolidarem suas
6
Estes documentos estão depositados no Fundo Pessoal Belisário Penna sob a guarda da Casa de Oswaldo Cruz.
http://www.coc.fiocruz.br/
7
Os atores sociais denominados de nacionalistas autoritários foram críticos das ideias liberais. Consideradas
alienígenas em solo brasileiro, as ideias, práticas e instituições liberais eram identificadas pelas palavras
“politicalha” e “politicagem”. De maneira depreciativa, demonstram a visão que possuíam da política e políticos.
Estas palavras são abundantes nos textos de Penna.
8
No início da década de 1990, entrevistamos Maria Penna, filha de Belisário. Seu depoimento oral pode ser
consultado em: http://www.coc.fiocruz.br/
9
Sobre as construções ilusórias das trajetórias dos intelectuais, ver o artigo de Bourdieu, “A Ilusão Biográfica”,
publicado em FERREIRA, 1998.
6
posições através deste recurso. Um bom exemplo é do médico Arnaldo Vieira de Carvalho
(1867-1920), diretor da Faculdade de Medicina de São Paulo. Carvalho possuía vínculos
familiares com políticos influentes. Além da participação nas ligas nacionalistas, eugenistas e
sanitaristas, ele mantinha relações com Júlio de Mesquita, diretor e proprietário do poderoso
jornal O Estado de São Paulo. Júlio de Mesquita (1862-1927) e Arnaldo Vieira de Carvalho
casaram seus filhos: Júlio de Mesquita Filho (1892-1963) e Marina Vieira de Carvalho
(05/04/1975); Francisco Ferreira de Mesquita (1897-1963) e Alice Vieira de Carvalho (1901-
1992) e, finalmente, Judith de Mesquita (1897- 1963) e Carlos Vieira de Carvalho (1898-
1954).10
E a família de Penna? Maria Guilhermina de Oliveira Penna, nascida em Barbacena
(21/06/1857), irmã de Belisário, casou-se em 23 de janeiro de 1875 com Affonso Augusto
Moreira Pena (30/11/1847) que exerceria a presidência da República de 1906 a 1909,
falecendo durante o seu mandato. E sua filha Eunice Penna casou-se com Renato Kehl. Além
desta união, outro casamento consolidaria os laços entre as famílias. João Penna, filho de
Belisário também se uniu com a irmã de Kehl, a Cecilia Ferraz Kehl.
Como dissemos, as narrativas biográficas de Penna enfatizam fatos que justificariam
um caminho inexorável. Vamos comentar alguns dados. Belisário Augusto de Oliveira Penna
nasceu em 29 de novembro de 1868, em Barbacena, Minas Gerais. Filho homônimo do
Visconde de Carandaí e de Lina Leopoldina Lage Duque. Ambos descendentes de grandes
proprietários de terras. O casal teve oito filhos, criados em ambiente aristocrático de
inspiração imperial. Fez os cursos primário e ginasial em sua cidade natal, no tradicional
colégio Abílio. Matriculou-se, em 1886, na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro,
concluindo o curso na Faculdade de Medicina da Bahia, no último ano. Os textos biográficos
do filho João e do primo Alberto, falam em desavenças com professores, mas são incertas
estas notas. Terminando o curso, se casou com Ernestina Rodrigues Chaves, filha de João
Rodrigues Chaves, desembargador, fundador e diretor da faculdade de Direito (Salvador),
10
Júlio de Mesquita era casado com Lucila de Cerqueira César, filha do senador Jose Alves de Cerqueira Cesar,
vice-governador do estado de São Paulo, e de Maria do Carmo Salles, irmã de Manuel Ferraz de Campos Sales,
presidente da República. O casal Júlio e Lucila teve doze filhos: Ester, Rachel, Rute, Maria, Júlio, Francisco,
Sara, Judite, Lia, José, Suzana e Alfredo Mesquita. A família Mesquita foi pródiga em consolidar as relações
políticas através dos casamentos. Uma filha do casal Mesquita casou-se com Armando de Sales Oliveira.
Nascido em São Paulo, Sales Oliveira formou-se em engenharia civil pela Escola Politécnica, iniciando bem-
sucedida carreira como engenheiro e empresário. Casou-se com Raquel de Mesquita, filha de Júlio de Mesquita,
dono do jornal O Estado de São Paulo, de quem se tornaria amigo e sócio em diversos empreendimentos. Com a
morte do sogro em 1927, assumiu a presidência da sociedade anônima proprietária do jornal.
além de ex-presidente das províncias de Pernambuco, Santa Catarina e Pará. (THIELEN &
SANTOS, 2002).
Voltando a Barbacena, trabalhou como médico numa região tomada de agricultores de
origem italiana. Também tentou a clínica em localidades próximas, acabando por fixar-se em
Juiz de Fora, em 1896, onde assumiu as funções de médico da Hospedaria dos Imigrantes,
demitindo-se ao final de um ano. Segundo as fontes memorialísticas, por motivo do não
atendimento de melhorias no serviço (PENNA, João, 1968; DINIZ, Alberto, 1949). Desta
experiência, resultou a primeira produção intelectual de Penna. Queremos chamar a atenção
para os textos biográficos que destacam, com ênfase, uma aclamada trajetória heroica de
Penna. Traça-se uma caminhada de encontros e desacertos até a chegada triunfante de
Belisário aos cargos máximos da administração pública do país.11 As biografias produzidas
contemporaneamente à vida de Belisário são laudatórias. Evidentemente. Porém, a produção
intelectual acadêmica científica não produziu – ainda – um estudo crítico sobre os agentes
sociais para o estudo das políticas de saúde e educação durante as primeiras décadas do século
XX. Urge uma pesquisa sobre o campo político e intelectual dos sanitaristas e eugenistas.
Sua primeira esposa morreu de febre amarela. Dos quatro filhos que ela lhe deu
sobreviveram dois: Maria e Celina. No ano seguinte, 1898, Belisário Penna retornou à Bahia
e, ao visitar os sogros, reafirmou os laços de parentesco: casou-se com a irmã de sua primeira
esposa, Maria Augusta Chaves (Mariquinhas), com quem teve nove filhos. Voltando a Juiz de
Fora, o trabalho não lhe dava o suficiente para a manutenção da família, dedicou-se também
ao comércio, abrindo uma firma de produtos alimentícios. A Belisário Penna & Cia. não
prosperou. Mesmo elegendo-se vereador na cidade, Penna viveu com precariedade de
recursos, recorrendo ao auxílio da família. Esperando oportunidade melhor de trabalho,
seguiu criando seus canários belgas. Estes aspectos, muitos deles, prosaicos, são
costumeiramente ressaltados nos textos aduladores.
Os fatos se sucedem como uma preparação para a vida de grandes feitos em prol da
Saúde Pública do Brasil. É como se a vida de Belisário tivesse início com a nomeação de
Oswaldo Cruz, em 1903, para dirigir os serviços federais de saúde pública. Após a entrada de
Cruz na DGSP (Diretoria Geral de Saúde Pública), realizaram-se concursos para as
campanhas sanitárias de combate as doenças que assolavam o Rio de Janeiro (peste bubônica,
febre amarela e varíola). Aprovado na seleção, Penna tomou posse como inspetor sanitário.
Em maio de 1904, iniciava suas atividades na 5ª Circunscrição do 6º Distrito Sanitário, área
11
PENNA, João, 1968; DINIZ, Alberto, 1949. João Penna era filho de Belisário. Alberto Diniz era primo.
8
administração pública, independente e distante dos conflitos políticos. Porém, sabemos que
isso também é uma retórica política. Se Carlos Chagas realizou nomeações tendo em vista
“indicações políticas”, Belisário também não deve ter ficado imune a esta “epidemia”
nacional.
Tenho autoridade para falar sobre o assunto, porque fui, durante os
primórdios dessa descoberta, a única testemunha do fato; e com completa
insuspeição, pois que me acho afastado e incompatibilizado, por motivos de
assuntos de saúde pública, com o descobridor do tremendo flagelo dos
sertões. (...) Fiz um ligeiro histórico da descoberta mostrando como foram
por mim colhidos os primeiros triatomas (barbeiros) em casa de um
habitante das redondezas de Lassance, em flagrante de sucção em crianças
da casa, os primeiros examinados pelo Dr. Carlos Chagas. ... Como negar
tenha sido ele o descobridor do trypanosoma, que recebeu mais tarde o nome
de ‘trypanosoma cruzi’, em homenagem a Oswaldo Cruz? (PENNA, 1922).
país de pobres, doentes e analfabetos em grande nação (DOS SANTOS, 2012).12 No relatório
da viagem, os expedicionários Penna e Neiva escreveram:
Nós, se fôramos poetas, escreveríamos um poema trágico, como a descrição
das misérias, das desgraças dos nossos infelizes habitantes sertanejos, nossos
patrícios. Os nossos filhos, que aprendem nas escolas que a vida simples de
nossos sertões é cheia de poesia e de encantos, pela saúde de seus habitantes,
pela fartura do solo, e generosidade da natureza, ficariam sabendo que nessas
regiões se desdobra mais um quadro infernal, que só poderia ser
magistralmente descrito pelo Dante imortal (NEIVA & PENNA, 1999)13.
Em 1913, Penna percorreria os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Depois reassumiu o cargo de inspetor sanitário no Rio de Janeiro, passando a trabalhar nos
subúrbios da Leopoldina. Em março de 1916, foi instalado em Vigário Geral (RJ), aquele que
foi considerado o primeiro posto de profilaxia rural do Brasil. No mesmo ano, o relatório da
viagem pelo Nordeste e Centro-Oeste foi publicado nas Memórias do Instituto Oswaldo Cruz,
trazendo para a opinião pública a realidade da saúde no interior. A partir deste momento, o
movimento sanitarista ganhou força. A fundação da Liga Pró-Saneamento do Brasil que
congregou vários intelectuais e políticos, foi resultado da repercussão alcançada pelo livro
Saneamento do Brasil de Penna. Publicados em 1916 no Jornal O Correio da Manhã, estes
artigos marcaram o percurso de Penna como incansável militante da causa sanitarista. A
publicação trazia como epígrafe “Sanear o Brasil é povoá-lo, é enriquecê-lo, é moralizá-lo”, e
explicitava a compreensão que Penna tinha da relação entre saúde e sociedade. Resultado
direto da expedição científica, os artigos, assim, como o relatório escrito em parceria com o
médico Artur Neiva forneceram os símbolos que nortearam a campanha pelo saneamento.
Como decorrência da campanha do movimento sanitarista, o presidente Wenceslau
Brás, em maio de 1918, teria ficado impressionado e criado o Serviço de Profilaxia Rural,
nomeando Penna para dirigi-lo. Um perfeito exemplo dos fatos da vida que sofreram o
processo de romantização. Uma política pública desencadeada a partir da leitura do livro de
Penna. No entanto, de fato, o novo cargo permitiu que ele instalasse mais dez postos
sanitários nas zonas rurais do Distrito Federal. A Liga Pró-Saneamento do Brasil editou, nos
seus dois anos de existência, o periódico Saúde — Mensário de Higiene, Assuntos Sociais e
Econômicos. O editorial do último número afirmava que a agremiação havia alcançado seu
objetivo com a criação do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP). Para dirigi-lo
foi nomeado o cientista Carlos Chagas. A partir de então, inícios da década de 1920, os
sanitaristas brasileiros ganharam maior poder no território nacional.
12
DOS SANTOS, 2012. Disponível em: http://www.raco.cat/index.php/Dynamis/article/view/257774
13
Estou citando o volume do Relatório editado pelo Senado Federal em 1999.
11
Em 1924, em carta aberta aos filhos, Penna apoiou a revolta tenentista que irrompeu
em 5 de julho daquele ano, em São Paulo. Preso, foi enviado à capital paulista e, em seguida
transferido para o Rio de Janeiro, onde ficou detido por seis meses. Foi suspenso de suas
funções como delegado de saúde, sendo reintegrado apenas em 1927. Posto em
disponibilidade, ele prosseguiu na campanha pelo saneamento pela imprensa. Mas, foi como
empregado do Laboratório Daudt, Oliveira & Cia., que percorreu novamente o país,
realizando conferências e anunciando os produtos desta empresa farmacêutica. Penna também
participou do movimento eugênico, que propunha o melhoramento da raça por meio de ações
educativas, sanitaristas e esterilizadoras da população. Não esquecer que o principal líder da
eugenia brasileira, Renato Kehl, era genro de Penna. Penna tornou-se membro da Comissão
Central Brasileira de Eugenia. Eunice, esposa de Kehl, filha de Penna, era secretária desta
associação.
Penna retornaria em 1927 à administração pública, como inspetor de Propaganda e
Educação Sanitária. Percorreu então os estados de Minas Gerais, Alagoas, Pernambuco,
Paraíba e Rio Grande do Norte, até ser requisitado pelo presidente do estado do Rio Grande
do Sul, Getúlio Vargas, para organizar o serviço estadual de higiene. No Sul, iniciou um
período de trabalho intenso, proferindo conferências e formulando o seu Plano de Educação
Higiênica, indicando providências relativas a problemas de saúde. Merece destaque seu
engajamento na Revolução de 1930. Após a vitória do movimento, foi nomeado diretor do
Departamento Nacional de Saúde Pública.
Em 1o de setembro de 1931, assumiu interinamente o Ministério da Educação e Saúde
Pública, recém-criado pelo governo federal, substituindo Francisco Campos por três meses. O
‘caixeiro-viajante da higiene’ alcançava, após décadas de atuação, o cargo máximo na área da
saúde pública, e também a mais alta função de sua vida. Penna ainda voltou a exercer
interinamente a chefia do ministério, em dezembro de 1932. No início do ano seguinte, no
auge de sua carreira de sanitarista, solicitou aposentadoria. Em uma das suas últimas
manifestações públicas, Penna compareceu, com uniforme integralista, cercado pelos
companheiros camisas-verdes, a um encontro com o Getúlio Vargas. Foram comunicar ao
presidente da República e ao ministro da Justiça, o resultado da escolha de Plínio Salgado
como candidato a uma provável eleição presidencial. Penna era filiado a Ação Integralista
Brasileira (AIB). Membro da Câmara dos 40, órgão político do movimento. Em 1938, após a
tentativa de golpe desfechada pelos integralistas, o movimento foi reprimido e desmantelado.
Penna retirou-se da política para viver em sua fazenda, no interior do estado do Rio de
Janeiro.
12
Referências bibliográficas
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Brasileira. Pioneirismo, Contribuições e Questões Polêmicas. Rio de Janeiro: Fundação
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13
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