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Ilusões Biográficas: O Sanitarista Belisário Penna (1868-1939)

Ricardo Augusto Dos Santos


ricardo.augusto@fiocruz.br
Casa de Oswaldo Cruz

Frequentemente, os projetos de pesquisa que investigam a atuação dos agentes


intelectuais das primeiras décadas do século XX adotam, de forma equivocada, um ator
solitário como modelo explicativo. Todavia, os agentes sociais não produziram isoladamente.
O campo intelectual constitui-se de associação de interesses, mas também de oposição entre
os personagens. Na medida em que os intelectuais interagem conferem ao campo uma
estrutura específica num dado momento. Esse aspecto relacional pressupõe que os agentes
partilhem idéias comuns inerentes ao fato de serem membros do campo, sendo necessário a
existência das diferentes interpretações e dinâmica das posições. Portanto, não tem sentido
afirmar que as idéias de um intelectual estão à frente de seu tempo, pois ninguém produz
conhecimentos com base em realidade e referencial teórico que não existiu durante a sua vida.
Por contexto entendemos o conjunto de situações políticas e econômicas que organizam as
relações sociais em uma sociedade determinada, fornecendo-lhe as fronteiras para a
reprodução das condições de existência coletiva e das formas históricas de distribuição de
poder. Em todo contexto há também um conjunto de teorias que disputam entre os intelectuais
a primazia das idéias que devem ser mantidas ou modificadas. Finalmente, faz parte do
contexto a existência de ideologias em luta pela construção do discurso da verdade e das
idéias que devem ser criticadas ou abandonadas como inadequadas ou superadas. Em suma,
as formas de pensar são produtos do tempo histórico.
Segundo Pierre Bourdieu (1930-2002), o que caracteriza a existência de um campo é o
fato dele possuir espaço social próprio, marcado por relações que hierarquizam os agentes que
o compõem dando-lhes posição determinada. O campo é um sistema de forças constituído
pela permanente dialética de consenso e dissenso entre os agentes. Em constante interlocução
e oposição, os agentes interagem e imprimem uma estrutura específica num dado momento ao

campo. Este aspecto relacional entre os intelectuais é crucial para o conceito de campo.
Bourdieu ainda destaca um conjunto de circunstâncias necessárias para que alguém seja
reconhecido como membro do campo. O candidato deve estar familiarizado com os
procedimentos comuns aos membros, ou seja, deve possuir o habitus. A posse de capital
intelectual e seu acúmulo são condições para nele galgar posições. O capital intelectual é
obtido de várias formas: pela qualificação profissional, pelo exercício de funções valorizadas,
pelo reconhecimento dos trabalhos, por ser membros de instituições acadêmicas e culturais
reconhecidas como relevantes.
Dezenas de pesquisadores escreveram trabalhos sobre a importância de Belisário para
investigar as políticas públicas de saúde e educação no Brasil na primeira metade do século
XX. No entanto, consideramos que é necessário assumir algumas premissas quanto às
possibilidades de investigação. Que premissas seriam estas? Não há existência humana
descolada do tempo. O que isto quer dizer? Que constitui uma falha metodológica a seguinte
afirmação: “Era um homem a frente de seu tempo”. Também não podemos aceitar que as
biografias tratem apenas - se isto é possível - da vida individual. Uma biografia é o conjunto
de relações sociais. Podemos falar que biografia é uma coleção de biografias.
Após inúmeras edições de textos sobre o sanitarista Belisário Penna, haverá alguma
revelação? Certamente. Além das descobertas propiciadas por documentos desconhecidos,
sempre existirá a possibilidade de novas interpretações e correção de equívocos cometidos.
Distorções provocadas, quase sempre, devido a citações realizadas com informações apoiadas
apenas em leitura de livros, sem pesquisa empírica nos documentos. Seria cansativo e
infrutífero enumerar as passagens em artigos e dissertações referindo-se à “Belisário Penna,
cientista do IOC”. Penna nunca pertenceu aos quadros do Instituto Oswaldo Cruz e,
tampouco, podemos afirmar que ele era cientista. Ele mesmo, um dia, declarou-se
“sociólogo”.1
Além destas incorreções, determinados aspectos sofrem um contínuo processo de
ocultamento. Ao longo do tempo, são varridas para “debaixo do tapete” informações que
podem constituir dados importantes, mas que, invariavelmente, representam conflitos com a
biografia construída idealmente do agente social. Portanto, dados vitais são negligenciados.
Assim, sucessivas narrativas biográficas não informam que, além de cientista e político, Artur
Neiva foi proprietário de terras no interior paulista. Ou que o psiquiatra Pacheco e Silva
pertenceu aos quadros do IPES, colaborando para o Golpe de 1964. Textos produzidos para

1
Durante os anos de pesquisa, encontrei trechos afirmando que Penna foi oftalmologista. Ou que na década de
1910, ele foi estudante do Instituto Oswaldo Cruz. Citações infundadas e sem comprovação empírica.
2

homenagear o antropólogo Roquette-Pinto não mencionam que ele foi secretário do


Congresso de Eugenia realizado no Rio de Janeiro em 1929. Ou ainda, registros são tratados
sem a devida importância. Por exemplo, Belisário e Renato Kehl ocuparam cargos em
empresas de produtos farmacêuticos. No entanto, isto permanece citado em notas de rodapé.2
Os exemplos são exuberantes. Muitas páginas foram gastas tratando do médico Miguel Couto,
mas onde está o destaque à participação na Assembleia Constituinte de 1933/34? Ou sua
presença no movimento eugênico.3
Consideramos reveladora a relativa ausência de trabalhos que poderiam analisar
agências e agentes sociais eugenistas e sanitaristas segundo a matriz gramsciana. A partir
deste pensamento crítico das ideias liberais, o Estado não comporta apenas aparelhos de
coerção que, sem dúvida, possibilitam uma dominação, mas também produz uma direção
intelectual. Tal perspectiva ajuda-nos a pensar como os intelectuais do campo eugênico
construíam suas práticas e representações frente aos demais grupos organizados da sociedade,
como disputavam e consolidavam sua presença nas diversas agências do Estado. A opção
teórica, metodológica e política pela matriz gramsciana é fundamental, pois se refere à
importância da cultura e da avaliação de que a hegemonia é inviável sem os intelectuais. Eles
podem ser definidos como aqueles que ocuparam um importante espaço na formulação,
direção e organização em qualquer área da sociedade, não ficando restrito ao mundo das
ideias científicas ou não. Uma formação social não consiste apenas num modo de produção de
bens materiais garantido coercitivamente pelas mãos do estado, mas também em hábitos e
comportamentos, numa visão de mundo difundida pelos intelectuais na qual se inserem os
costumes e os modos de pensar, agir e sentir dos homens que constituem suportes das normas
da ordem social.
Os intelectuais eugenistas e sanitaristas pertenceram a entidades de representação
profissionais, culturais e políticas. Monteiro Lobato, Renato Kehl, Belisário Penna, Liga Pró-
Saneamento, Liga Brasileira de Higiene Mental e Boletim de Eugenia são apenas exemplos
dentre as centenas de publicações, intelectuais e instituições que atuaram no período. A
historiografia brasileira sobre educação e saúde pública realizada através da perspectiva
teórica gramsciana é limitada a poucos exemplos. Entretanto, as agências, espaço onde os
cientistas, professores, políticos e funcionários públicos reuniam-se, sem dúvida,
apresentavam de maneira organizada os interesses de grupos sociais. Apesar da competente

2
Monteiro Lobato, Penna e Kehl mantiveram relações pessoais e profissionais com empresas de produtos
farmacêuticos privados: a companhia produtora do Bio-tônico Fontoura, a Bayer, a Merck e a Dault, Oliveira &
Companhia.
3
Sobre Pacheco e Silva, ver DREIFUSS, 1981.
3

análise que a literatura especializada realiza, as instituições, periódicos e intelectuais


sanitaristas e eugenistas estão sendo estudadas, em grande parte, isoladamente. Contudo, os
movimentos nos quais aqueles intelectuais se envolveram eram expressões de vontades
coletivas em disputa pela imposição de um projeto hegemônico. Essa escassez/ausência de
estudos gramscianos não causa surpresa. Sabemos das posições conservadoras assumidas de
forma velada ou não pelos professores e pesquisadores das instituições de pesquisa e ensino
no Brasil contemporâneo.
A trajetória de Penna – e de seus opositores e interlocutores – é um campo
privilegiado para investigar os intelectuais naquele período de transformações na formação
social brasileira. Uma fração dos agentes sociais era representante das famílias abastadas,
algumas em decadência econômica desde meados do período monárquico. Muitos eram filhos
de proprietários de terras, mas sem capital financeiro e articulação com outras frações de
classes em expansão graças à industrialização. Devido aos conhecimentos adquiridos nos
cursos superiores (Medicina, Direito e Engenharia) e relações pessoais, gradativamente,
passaram a ocupar postos relevantes na administração pública republicana. Principalmente,
foram os responsáveis pela condução das políticas de saúde e educação.
Segundo Miceli (2001), a capacidade de manejar capitais simbólicos, acumulados pelo
conhecimento científico, em articulação com a rede de relações pessoais (amizades,
casamentos), permitia operar com desenvoltura entre os cargos de poder e prestígio. Para
Miceli, esses intelectuais eram “parentes pobres” das oligarquias (MICELI, 2001). Entretanto,
esses agentes haviam acumulado vastas experiências nos órgãos públicos de grande projeção.
Depositados nos acervos pessoais documentais dos intelectuais, itens importantes nos
permitem constatar que exercer funções em determinados postos da administração estatal
representava aumento dos rendimentos financeiros para seus ocupantes. No Fundo Pessoal
Oswaldo Cruz, sob à guarda da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, documentos demonstram que
os membros das cinco expedições científicas executadas pelo Instituto Oswaldo Cruz ao
interior do país entre 1911 e 1913 receberam quantias substanciosas para realizarem as
viagens.
Talvez, o conceito de “parentes pobres” não seja totalmente correto no presente caso.
Diríamos que Belisário seria um exemplo como tantos atores sociais que atuaram na Primeira
República, dentre os membros das classes dominantes menos influentes, que contava com um
arsenal de capitais simbólicos para se destacar em sua trajetória. Embora a caminhada tenha
sido repleta de contratempos, é certo que a formação em medicina e o exercício de cargos
atuaram como mecanismos que forneceram um sentido à trajetória de Penna. No entanto, ele
4

não pode ser reduzido a estas dimensões. Os relatos produzidos funcionaram como
instrumentos que selecionaram fatos da experiência do agente social, construindo “uma
biografia ilusória”, recontada a partir de uma base ideal. Enfim, não se pode restringir a
biografia a retratos individuais. Nem ignorar que os momentos selecionados são inseridos
num destino obrigatório e quase sempre muito romantizado.4
Portanto, não devemos nos impressionar com a ideia de uma história despojada de
temporalidade. As narrativas biográficas dos intelectuais médicos muitas vezes nos fazem crer
em autênticas revoluções. Não que os movimentos nos quais os agentes sociais atuaram
tenham sido obras de ficção, invenções de memorialistas ou pesquisadores. Trata-se de
suspeitar que, muitas vezes, os heróis dessas jornadas descreveram com ufanismo seus atos.
Não são verdadeiras as descrições dos acontecimentos que teriam acabado com os cortiços
sujos, criando um Rio de Janeiro higienizado, ou a repercussão da palestra do médico famoso
na Academia Nacional de Medicina, provocando reviravolta nos estudos médicos.
Penna percorreu todos os tons do pensamento autoritário do período. Além de sua
militância em prol do saneamento do país, vereador em Juiz de Fora, militante de vários
partidos, participante ativo das articulações para a eclosão a “Revolução de 30”, Penna foi
membro do governo Varguista e chegou a participar do Integralismo. Ficou célebre a sua carta
aberta a Prestes, quando esse líder rompeu com a Aliança Liberal. No Manifesto de Maio
(1930), o comandante da Coluna Prestes condenava a “revolução das oligarquias”, propondo
um programa de reforma agrária e anti-imperialista. Em sua resposta, publicada nos jornais,
Penna demonstrava a sua concepção política através de uma visão organicista da sociedade,
discordando do dirigente comunista: “Entregar o governo do País a soldados, marinheiros e
proletários ignorantes, doentes, sem personalidade e sem rumo na vida é querer transformar
o ventre em cérebro, os órgãos vegetativos em psíquicos”.5
Belisário nasceu em 1868. Portanto, quando ele escreveu os artigos exaltando o
“Saneamento do Brasil” como a redenção do país, para o jornal “O Correio da Manhã”, ele
era um senhor de 48 anos de idade. Lembramos que nesta época a expectativa de vida no
Brasil era de 35 anos. O médico mineiro havia tido passagens importantes, mas não se
destacara no cenário político. Um conjunto de intelectuais autoritários engajou-se na atividade


4
Bourdieu e Gramsci contribuem para problematizarmos a inserção do indivíduo em círculos sociais. Consultar
SOUZA MOREIRA, 2016. Com base em Bourdieu, esta dissertação investiga a trajetória dos documentos
produzidos e acumulados por Belisário e recolhidos pela Casa de Oswaldo Cruz. Trata-se de estudo sobre o
fundo pessoal do sanitarista. O autor em vários trechos da dissertação critica as ilusões biográficas criadas em
torno deste médico.
5
PENNA, Belisário. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 05 jun. 1930. Carta aberta de Penna a Luiz Carlos
Prestes. Fundo Pessoal Belisário Penna, COC/Fiocruz.
5

política, buscando a construção de uma identidade nacional distante da “politicalha” e da


“politicagem”. Penna utilizava essas palavras para criticar os desmandos da República Velha.
Até 1916, os textos produzidos por Penna são relatórios de suas atividades profissionais. É
importante destacá-los. São quatro.6 O relatório da Hospedaria de Imigrantes, quando Penna
era médico encarregado de cuidar dos estrangeiros que chegavam a Juiz de Fora para
trabalhar no campo. Dois relatórios das atividades desenvolvidas pelo inspetor sanitário nas
campanhas de combate a varíola (1904) e febre amarela (1905) no Rio de Janeiro. Ambos
direcionados ao chefe da DGSP (Diretoria Geral de Saúde Pública), Oswaldo Cruz. O quarto
documento data de 1903, quando Penna foi representante do comércio de Juiz de Fora (ele foi
vereador nesta cidade) no Congresso Industrial, Comercial e Agrícola de Belo Horizonte, do
qual foi o relator da Comissão de Comércio, anunciando a crítica autoritária que repetiria por
toda a vida.7
(...) esse povo, curvado e abatido sob o peso das múltiplas contribuições
lançadas pela União, pelo Estado e pelas municipalidades, estas em sua
grande maioria inteiramente alheias aos interesses gerais, inscientes de sua
missão econômico-administrativa, e entregues a mais desbragada
politicagem, que mais que todas as crises econômicas, tem prejudicado
nosso país, depreciando e aviltando o caráter do seu povo. (Grifo nosso)
(PENNA, 1903)

O nosso objetivo é destacar que o caminho trilhado por Penna foi pontilhado de fatos
que podem ser compreendidos naquilo que Miceli descreveu como arsenal de capitais
simbólicos e culturais. Embora seja verdadeiro que Penna “demorou” a alcançar um posto
importante, tendo experimentado a ocupação de dono de armazém de Secos & Molhados,
também não é menos exato que era membro de família influente, onde segundo relato da filha
Maria, “em casa de meu avô, as empregadas falavam francês”8. Além disso, se casou com a
filha do fundador da faculdade de direito da Bahia e ex-presidente de três províncias do
império. Tendo ficado viúvo, reafirmou esses laços de parentesco, casando com a irmã da
falecida.9
As estratégias de manutenção destes capitais simbólicos passavam pelos casamentos
entre as famílias. Os grupos políticos utilizaram os contatos pessoais para consolidarem suas

6
Estes documentos estão depositados no Fundo Pessoal Belisário Penna sob a guarda da Casa de Oswaldo Cruz.
http://www.coc.fiocruz.br/
7
Os atores sociais denominados de nacionalistas autoritários foram críticos das ideias liberais. Consideradas
alienígenas em solo brasileiro, as ideias, práticas e instituições liberais eram identificadas pelas palavras
“politicalha” e “politicagem”. De maneira depreciativa, demonstram a visão que possuíam da política e políticos.
Estas palavras são abundantes nos textos de Penna.
8
No início da década de 1990, entrevistamos Maria Penna, filha de Belisário. Seu depoimento oral pode ser
consultado em: http://www.coc.fiocruz.br/
9
Sobre as construções ilusórias das trajetórias dos intelectuais, ver o artigo de Bourdieu, “A Ilusão Biográfica”,
publicado em FERREIRA, 1998.
6

posições através deste recurso. Um bom exemplo é do médico Arnaldo Vieira de Carvalho
(1867-1920), diretor da Faculdade de Medicina de São Paulo. Carvalho possuía vínculos
familiares com políticos influentes. Além da participação nas ligas nacionalistas, eugenistas e
sanitaristas, ele mantinha relações com Júlio de Mesquita, diretor e proprietário do poderoso
jornal O Estado de São Paulo. Júlio de Mesquita (1862-1927) e Arnaldo Vieira de Carvalho
casaram seus filhos: Júlio de Mesquita Filho (1892-1963) e Marina Vieira de Carvalho
(05/04/1975); Francisco Ferreira de Mesquita (1897-1963) e Alice Vieira de Carvalho (1901-
1992) e, finalmente, Judith de Mesquita (1897- 1963) e Carlos Vieira de Carvalho (1898-
1954).10
E a família de Penna? Maria Guilhermina de Oliveira Penna, nascida em Barbacena
(21/06/1857), irmã de Belisário, casou-se em 23 de janeiro de 1875 com Affonso Augusto
Moreira Pena (30/11/1847) que exerceria a presidência da República de 1906 a 1909,
falecendo durante o seu mandato. E sua filha Eunice Penna casou-se com Renato Kehl. Além
desta união, outro casamento consolidaria os laços entre as famílias. João Penna, filho de
Belisário também se uniu com a irmã de Kehl, a Cecilia Ferraz Kehl.
Como dissemos, as narrativas biográficas de Penna enfatizam fatos que justificariam
um caminho inexorável. Vamos comentar alguns dados. Belisário Augusto de Oliveira Penna
nasceu em 29 de novembro de 1868, em Barbacena, Minas Gerais. Filho homônimo do
Visconde de Carandaí e de Lina Leopoldina Lage Duque. Ambos descendentes de grandes
proprietários de terras. O casal teve oito filhos, criados em ambiente aristocrático de
inspiração imperial. Fez os cursos primário e ginasial em sua cidade natal, no tradicional
colégio Abílio. Matriculou-se, em 1886, na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro,
concluindo o curso na Faculdade de Medicina da Bahia, no último ano. Os textos biográficos
do filho João e do primo Alberto, falam em desavenças com professores, mas são incertas
estas notas. Terminando o curso, se casou com Ernestina Rodrigues Chaves, filha de João
Rodrigues Chaves, desembargador, fundador e diretor da faculdade de Direito (Salvador),


10
Júlio de Mesquita era casado com Lucila de Cerqueira César, filha do senador Jose Alves de Cerqueira Cesar,
vice-governador do estado de São Paulo, e de Maria do Carmo Salles, irmã de Manuel Ferraz de Campos Sales,
presidente da República. O casal Júlio e Lucila teve doze filhos: Ester, Rachel, Rute, Maria, Júlio, Francisco,
Sara, Judite, Lia, José, Suzana e Alfredo Mesquita. A família Mesquita foi pródiga em consolidar as relações
políticas através dos casamentos. Uma filha do casal Mesquita casou-se com Armando de Sales Oliveira.
Nascido em São Paulo, Sales Oliveira formou-se em engenharia civil pela Escola Politécnica, iniciando bem-
sucedida carreira como engenheiro e empresário. Casou-se com Raquel de Mesquita, filha de Júlio de Mesquita,
dono do jornal O Estado de São Paulo, de quem se tornaria amigo e sócio em diversos empreendimentos. Com a
morte do sogro em 1927, assumiu a presidência da sociedade anônima proprietária do jornal.

além de ex-presidente das províncias de Pernambuco, Santa Catarina e Pará. (THIELEN &
SANTOS, 2002).
Voltando a Barbacena, trabalhou como médico numa região tomada de agricultores de
origem italiana. Também tentou a clínica em localidades próximas, acabando por fixar-se em
Juiz de Fora, em 1896, onde assumiu as funções de médico da Hospedaria dos Imigrantes,
demitindo-se ao final de um ano. Segundo as fontes memorialísticas, por motivo do não
atendimento de melhorias no serviço (PENNA, João, 1968; DINIZ, Alberto, 1949). Desta
experiência, resultou a primeira produção intelectual de Penna. Queremos chamar a atenção
para os textos biográficos que destacam, com ênfase, uma aclamada trajetória heroica de
Penna. Traça-se uma caminhada de encontros e desacertos até a chegada triunfante de
Belisário aos cargos máximos da administração pública do país.11 As biografias produzidas
contemporaneamente à vida de Belisário são laudatórias. Evidentemente. Porém, a produção
intelectual acadêmica científica não produziu – ainda – um estudo crítico sobre os agentes
sociais para o estudo das políticas de saúde e educação durante as primeiras décadas do século
XX. Urge uma pesquisa sobre o campo político e intelectual dos sanitaristas e eugenistas.
Sua primeira esposa morreu de febre amarela. Dos quatro filhos que ela lhe deu
sobreviveram dois: Maria e Celina. No ano seguinte, 1898, Belisário Penna retornou à Bahia
e, ao visitar os sogros, reafirmou os laços de parentesco: casou-se com a irmã de sua primeira
esposa, Maria Augusta Chaves (Mariquinhas), com quem teve nove filhos. Voltando a Juiz de
Fora, o trabalho não lhe dava o suficiente para a manutenção da família, dedicou-se também
ao comércio, abrindo uma firma de produtos alimentícios. A Belisário Penna & Cia. não
prosperou. Mesmo elegendo-se vereador na cidade, Penna viveu com precariedade de
recursos, recorrendo ao auxílio da família. Esperando oportunidade melhor de trabalho,
seguiu criando seus canários belgas. Estes aspectos, muitos deles, prosaicos, são
costumeiramente ressaltados nos textos aduladores.
Os fatos se sucedem como uma preparação para a vida de grandes feitos em prol da
Saúde Pública do Brasil. É como se a vida de Belisário tivesse início com a nomeação de
Oswaldo Cruz, em 1903, para dirigir os serviços federais de saúde pública. Após a entrada de
Cruz na DGSP (Diretoria Geral de Saúde Pública), realizaram-se concursos para as
campanhas sanitárias de combate as doenças que assolavam o Rio de Janeiro (peste bubônica,
febre amarela e varíola). Aprovado na seleção, Penna tomou posse como inspetor sanitário.
Em maio de 1904, iniciava suas atividades na 5ª Circunscrição do 6º Distrito Sanitário, área


11
PENNA, João, 1968; DINIZ, Alberto, 1949. João Penna era filho de Belisário. Alberto Diniz era primo.
8

de pequeno comércio e inúmeros cortiços, região habitada pelos negros e imigrantes


(italianos, judeus, portugueses).
A capital federal vivia, naquele momento, intensa epidemia de varíola que, na área a
seu cargo, Penna conseguiu dominar, recorrendo à vacinação de todos os moradores.
Ocupando-se da vigilância médica e da vacinação, inicialmente encontrou relutância da
população, que logo foi superada, “graças ao seu jeito especial de lidar com o povo”
(PENNA, João, 1968). Sua maneira especial “de lidar com os moradores” constituía em
ameaçar recolher aos hospitais aqueles que não se vacinassem. Devido ao receio de ser
conduzido a um lugar identificado com a morte, os habitantes daquela área pobre da cidade
aceitavam a vacinação. No ano seguinte, foi transferido para o Serviço de Profilaxia da Febre
Amarela. Trabalhou na 3a Zona de Polícia de Focos, nos bairros da Saúde e Gamboa. Um
ponto da trajetória é realçado: Seu encontro com Oswaldo Cruz. Sua atuação destacada nas
campanhas sanitárias teria levado o diretor da DGSP a parabenizá-lo - o que realmente
ocorreu. Isso provocou a aproximação dos médicos.
Comissionado por Oswaldo Cruz, Penna partiu em 1906 para combater o impaludismo
entre os operários que construíram uma ferrovia, no norte de Minas Gerais. Permaneceu por
três anos, participando da principal descoberta médica do período: a descrição da etiologia da
tripanossomíase americana. Caso raro na história da medicina, Carlos Chagas descreveu todo
o ciclo evolutivo da doença: o micro-organismo causador da enfermidade; os hospedeiros,
como o tatu e o gambá; o inseto vetor, chamado barbeiro, e as manifestações clínicas no
homem. Nos anos seguintes, no entanto, alguns médicos contestaram as afirmações de
Chagas, o que gerou controvérsias sobre a descoberta. O alemão Rudolf Krauss questionou a
abrangência da doença e suas relações com o bócio e o cretinismo, e um grupo da Academia
Nacional de Medicina levantou dúvidas sobre a autoria da descoberta. Penna recordaria os
fatos acontecidos em 1909, manifestando solidariedade com Chagas. Contudo, declarava as
“diferenças” que possuía com Chagas. Segundo os relatos, Penna teria abandonado a direção
do Departamento de Saneamento e Profilaxia Rural, órgão ligado ao DNSP (Departamento
Nacional de Saúde Pública), criado em 1920 e tendo Chagas como diretor geral, por não
concordar com a “interferência política” em seu trabalho. No entanto, este é um exemplo dos
momentos idealizados da biografia. Não podemos aceitar sem críticas e investigação os
discursos dos atores. No fundo pessoal de Penna, nos documentos, relatórios, textos e cartas,
encontramos o discurso apoteótico da campanha sanitarista. Entretanto, nos recortes de
jornais, vê-se a crítica às nomeações políticas que Penna também fazia uso. É muito presente
nas produções intelectuais do sanitarista a crença na racionalidade científica organizando a
9

administração pública, independente e distante dos conflitos políticos. Porém, sabemos que
isso também é uma retórica política. Se Carlos Chagas realizou nomeações tendo em vista
“indicações políticas”, Belisário também não deve ter ficado imune a esta “epidemia”
nacional.
Tenho autoridade para falar sobre o assunto, porque fui, durante os
primórdios dessa descoberta, a única testemunha do fato; e com completa
insuspeição, pois que me acho afastado e incompatibilizado, por motivos de
assuntos de saúde pública, com o descobridor do tremendo flagelo dos
sertões. (...) Fiz um ligeiro histórico da descoberta mostrando como foram
por mim colhidos os primeiros triatomas (barbeiros) em casa de um
habitante das redondezas de Lassance, em flagrante de sucção em crianças
da casa, os primeiros examinados pelo Dr. Carlos Chagas. ... Como negar
tenha sido ele o descobridor do trypanosoma, que recebeu mais tarde o nome
de ‘trypanosoma cruzi’, em homenagem a Oswaldo Cruz? (PENNA, 1922).

Em 1910, vamos encontrar Penna, acompanhando Oswaldo Cruz na consultoria sobre a


profilaxia da malária, que matava, segundo dizia-se, um operário para cada dormente
assentado na construção da ferrovia Madeira-Mamoré. Durante o mês em que permaneceram
em Porto Velho, Cruz e Penna estudaram as condições sanitárias da região e propuseram um
plano de combate à malária que prescrevia o uso diário, compulsório, de quinina pelos
trabalhadores, sob pena de não receberam os salários caso não tomassem suas doses. O plano
foi posto em prática pela empresa norte-americana com a presença de Cruz e Penna. Após
várias tentativas frustradas de construção da ferrovia, ela foi abandonada. Retornando ao Rio
de Janeiro, na passagem por Belém, Cruz foi contratado pelo governo do Pará para combater
a febre amarela na cidade. Implantou a Comissão de Profilaxia da Febre Amarela na capital
paraense, no mesmo ano. Convocou vários médicos para a empreitada, entre as quais o
próprio Penna. Apesar da crise da borracha, que se iniciava, o serviço teve total apoio
orçamentário do governo do Pará, e em meados de 1910 foi registrado o último caso de febre
amarela na cidade.
Em passagem marcante e sempre citada, está a expedição cientifica que Penna
percorreu, junto com Arthur Neiva, do Instituto Oswaldo Cruz, o norte da Bahia, sudeste de
Pernambuco, sul do Piauí e nordeste de Goiás, com o fim de estudar as condições sanitárias e
os problemas de saúde existentes na região. Viajaram durante sete meses, registrando não
apenas as doenças encontradas, mas também aspectos sociais, econômicos e culturais das
populações locais. Este momento é exposto como ponto de inflexão da carreira de Penna. O
início da trajetória do “missionário da saúde pública” em busca do saneamento do país. Mas,
também representa o desenlace do intelectual encaminhando soluções de transformação da
sociedade. Belisário começaria a propor um plano de educação e higiene que transformaria o
10

país de pobres, doentes e analfabetos em grande nação (DOS SANTOS, 2012).12 No relatório
da viagem, os expedicionários Penna e Neiva escreveram:
Nós, se fôramos poetas, escreveríamos um poema trágico, como a descrição
das misérias, das desgraças dos nossos infelizes habitantes sertanejos, nossos
patrícios. Os nossos filhos, que aprendem nas escolas que a vida simples de
nossos sertões é cheia de poesia e de encantos, pela saúde de seus habitantes,
pela fartura do solo, e generosidade da natureza, ficariam sabendo que nessas
regiões se desdobra mais um quadro infernal, que só poderia ser
magistralmente descrito pelo Dante imortal (NEIVA & PENNA, 1999)13.

Em 1913, Penna percorreria os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Depois reassumiu o cargo de inspetor sanitário no Rio de Janeiro, passando a trabalhar nos
subúrbios da Leopoldina. Em março de 1916, foi instalado em Vigário Geral (RJ), aquele que
foi considerado o primeiro posto de profilaxia rural do Brasil. No mesmo ano, o relatório da
viagem pelo Nordeste e Centro-Oeste foi publicado nas Memórias do Instituto Oswaldo Cruz,
trazendo para a opinião pública a realidade da saúde no interior. A partir deste momento, o
movimento sanitarista ganhou força. A fundação da Liga Pró-Saneamento do Brasil que
congregou vários intelectuais e políticos, foi resultado da repercussão alcançada pelo livro
Saneamento do Brasil de Penna. Publicados em 1916 no Jornal O Correio da Manhã, estes
artigos marcaram o percurso de Penna como incansável militante da causa sanitarista. A
publicação trazia como epígrafe “Sanear o Brasil é povoá-lo, é enriquecê-lo, é moralizá-lo”, e
explicitava a compreensão que Penna tinha da relação entre saúde e sociedade. Resultado
direto da expedição científica, os artigos, assim, como o relatório escrito em parceria com o
médico Artur Neiva forneceram os símbolos que nortearam a campanha pelo saneamento.
Como decorrência da campanha do movimento sanitarista, o presidente Wenceslau
Brás, em maio de 1918, teria ficado impressionado e criado o Serviço de Profilaxia Rural,
nomeando Penna para dirigi-lo. Um perfeito exemplo dos fatos da vida que sofreram o
processo de romantização. Uma política pública desencadeada a partir da leitura do livro de
Penna. No entanto, de fato, o novo cargo permitiu que ele instalasse mais dez postos
sanitários nas zonas rurais do Distrito Federal. A Liga Pró-Saneamento do Brasil editou, nos
seus dois anos de existência, o periódico Saúde — Mensário de Higiene, Assuntos Sociais e
Econômicos. O editorial do último número afirmava que a agremiação havia alcançado seu
objetivo com a criação do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP). Para dirigi-lo
foi nomeado o cientista Carlos Chagas. A partir de então, inícios da década de 1920, os
sanitaristas brasileiros ganharam maior poder no território nacional.

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DOS SANTOS, 2012. Disponível em: http://www.raco.cat/index.php/Dynamis/article/view/257774
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Estou citando o volume do Relatório editado pelo Senado Federal em 1999.
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Em 1924, em carta aberta aos filhos, Penna apoiou a revolta tenentista que irrompeu
em 5 de julho daquele ano, em São Paulo. Preso, foi enviado à capital paulista e, em seguida
transferido para o Rio de Janeiro, onde ficou detido por seis meses. Foi suspenso de suas
funções como delegado de saúde, sendo reintegrado apenas em 1927. Posto em
disponibilidade, ele prosseguiu na campanha pelo saneamento pela imprensa. Mas, foi como
empregado do Laboratório Daudt, Oliveira & Cia., que percorreu novamente o país,
realizando conferências e anunciando os produtos desta empresa farmacêutica. Penna também
participou do movimento eugênico, que propunha o melhoramento da raça por meio de ações
educativas, sanitaristas e esterilizadoras da população. Não esquecer que o principal líder da
eugenia brasileira, Renato Kehl, era genro de Penna. Penna tornou-se membro da Comissão
Central Brasileira de Eugenia. Eunice, esposa de Kehl, filha de Penna, era secretária desta
associação.
Penna retornaria em 1927 à administração pública, como inspetor de Propaganda e
Educação Sanitária. Percorreu então os estados de Minas Gerais, Alagoas, Pernambuco,
Paraíba e Rio Grande do Norte, até ser requisitado pelo presidente do estado do Rio Grande
do Sul, Getúlio Vargas, para organizar o serviço estadual de higiene. No Sul, iniciou um
período de trabalho intenso, proferindo conferências e formulando o seu Plano de Educação
Higiênica, indicando providências relativas a problemas de saúde. Merece destaque seu
engajamento na Revolução de 1930. Após a vitória do movimento, foi nomeado diretor do
Departamento Nacional de Saúde Pública.
Em 1o de setembro de 1931, assumiu interinamente o Ministério da Educação e Saúde
Pública, recém-criado pelo governo federal, substituindo Francisco Campos por três meses. O
‘caixeiro-viajante da higiene’ alcançava, após décadas de atuação, o cargo máximo na área da
saúde pública, e também a mais alta função de sua vida. Penna ainda voltou a exercer
interinamente a chefia do ministério, em dezembro de 1932. No início do ano seguinte, no
auge de sua carreira de sanitarista, solicitou aposentadoria. Em uma das suas últimas
manifestações públicas, Penna compareceu, com uniforme integralista, cercado pelos
companheiros camisas-verdes, a um encontro com o Getúlio Vargas. Foram comunicar ao
presidente da República e ao ministro da Justiça, o resultado da escolha de Plínio Salgado
como candidato a uma provável eleição presidencial. Penna era filiado a Ação Integralista
Brasileira (AIB). Membro da Câmara dos 40, órgão político do movimento. Em 1938, após a
tentativa de golpe desfechada pelos integralistas, o movimento foi reprimido e desmantelado.
Penna retirou-se da política para viver em sua fazenda, no interior do estado do Rio de
Janeiro.
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Concluindo, Penna viveu em época de radicalizações políticas. Assim, como Monteiro


Lobato, ele envolveu-se com várias posições. Do tenentismo ao integralismo, pelo
Saneamento do Brasil, suas propostas inserem-se num programa autoritário, prevalecendo as
ideias de centralização administrativa, racionalidade científica e corporativa sobre os conflitos
sociais, cabendo a figuras com a trajetória intelectual e política similar à de Penna ocupar os
postos da política e administração estatal. Não estamos propondo um tribunal inquisitorial dos
desvios, nem uma investigação dos equívocos cometidos. Apenas alertando que é necessária
uma teoria que dê conta da complexidade dos campos onde os intelectuais (cientistas,
técnicos, políticos, engenheiros, médicos) atuaram e, por outro lado, uma atenção específica
com a pesquisa empírica. Quase sempre ausente. Constatamos que os estudos são
insuficientes, precários e dedicados as leituras de textos bibliográficos. Existe uma tendência,
resultado de pouca leitura dos livros desses intelectuais, em rotulá-los. Outra explicação,
talvez menos nobre, sobre essa mitificação de alguns deles, consistiria no uso de seus nomes
como armas políticas, tentando sustentar alguma posição polêmica no momento atual.
Considerações feitas, quase sempre, sem análise das obras e destituída de uma teoria que dê
conta da complexidade do campo intelectual brasileiro. Todavia, não queremos e não estamos
negando frontalmente esses rótulos. Contudo, eles não esclarecem e, por vezes, até criam
sombras nebulosas sobre as quais é difícil distinguir as contribuições efetuadas pelos
intérpretes do Brasil.
Esse é um ponto importante para compreendermos a complexidade das propostas dos
intelectuais do período (1870-1930). Por exemplo, Roquette-Pinto refutava a negatividade
oriunda unicamente da mestiçagem, mas desde que não houvesse “nenhum caráter de
degeneração física ou psíquica” nos indivíduos. Na maioria dos trabalhos acadêmicos sobre
eugenia, o médico Renato Kehl é identificado como eugenista brando, em sua primeira fase,
depois, paulatinamente tornar-se-ia radical. O cientista Octavio Domingues é considerado um
eugenista mendelista. O sociólogo Vianna é apresentado como um feroz arianista. O
Antropólogo Roquette-Pinto é reconhecido como partidário do mendelismo, mas com face
anti-racista, principalmente a partir dos anos 30. Rótulos à parte, o cenário é bem mais
complexo.

Referências bibliográficas
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Brasileira. Pioneirismo, Contribuições e Questões Polêmicas. Rio de Janeiro: Fundação
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