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Plano de cargas

Veja os equipamentos mais comuns para içar, como preparar a logística


do canteiro e como fazer estudos de produtividade do equipamento
Por Thiago Oliveira
Edição 123 - Junho/2007

Uma grua em atividade reduz o número de operários, auxilia no


cumprimento de prazos apertados e torna viável a implantação de
diversos sistemas pré-moldados como vigas, pilares, lajes e
fachadas. Os benefícios e facilidades são um contra-argumento
forte àqueles que alimentam verdadeira obsessão por custos
imediatos na obra. No entanto, se não forem muito bem
calculados em sua figuração proeminente no canteiro, esses
equipamentos - ao lado de outros irmãos colossos, os guindastes
- podem ter parte das potencialidades anuladas.

Exemplos da falta de planejamento, inconfessáveis pelos próprios


envolvidos, caem freqüentemente no conhecimento das empresas
fornecedoras. O diretor da divisão de gruas da Alec (Associação Brasileira das Empresas
Locadoras de Bens Móveis), Paulo Melo Alves de Carvalho, relata um caso típico de má
instalação de grua: posicionada a uma distância muito grande da área de carga e
descarga, a lança não chegava às caçambas dos caminhões. Foi preciso que funcionários
transportassem os materiais até certo ponto, para que então houvesse o içamento.
"Quando devolveu o equipamento, o construtor não sentiu o retorno esperado", conta
Carvalho.

Outra situação de despreparo foi testemunhada pelo profissional de uma empresa


locadora de guindastes: um dos braços que reforçam o apoio da máquina ficou assentado
na calçada, embaixo da qual corria uma adutora da companhia de saneamento local.
Resultado: o peso do guindaste acabou rompendo a adutora. Além de não realizar o
serviço, a empresa cobrou o período de locação do equipamento. "Colocamos na proposta
que a existência de tubulações, galerias e outras interferências subterrâneas teriam que
ser informadas. E a construtora não sabia dessa adutora", explica.

O projeto de implantação de equipamentos de guindar começa com o chamado Plano de


Cargas. O documento inclui uma espécie de croqui (veja modelo), no qual são levados em
conta diferentes itens que circundam o canteiro: localização de área de estocagem de
materiais, vias de circulação de pessoal, redes elétricas, edificações vizinhas, recuos,
posição de árvores, elevadores, geradores, entre outros. "Uma grua pode não fazer o giro
completo porque tem algum impedimento não verificado previamente, então não produz o
que poderia. E a despesa para desmontar e montar outra vez é muito alta", afirma o diretor
da Alec.

Um aspecto fundamental no projeto de utilização de gruas é a escolha criteriosa do


sinaleiro. Profissional com capacitação específica, é ele quem vai supervisionar a
amarração de cargas para içamento, quanto às características permitidas e peso máximo
suportado pelo equipamento. Além disso, ressalta um documento da Alec com normas de
segurança, "o operador em grande parte dos trajetos não terá visibilidade da carga, sendo
guiado exclusivamente pelas orientações do sinalizador guincheiro". A comunicação deve
ocorrer por meio de um rádio com freqüência exclusiva à operação.

Enquanto empresas locadoras de gruas comumente não se envolvem na


operacionalização das máquinas, de modo a evitarem o enquadramento como prestadoras
de serviço (fornecem apenas o operador, que fica subordinado aos comandos do sinaleiro
contratado pela construtora), locadoras de guindastes se encarregam de todo o trabalho.
"O construtor só diz o que ele precisa, e nós buscamos a melhor forma de execução",
pontua um profissional do ramo.

Um técnico da empresa visita a obra, toma medidas, consulta plantas e, com a ajuda de
um sistema desenvolvido pelo fabricante, determina qual o modelo de máquina adequado,
considerando fatores como capacidade de carga e tamanho de lança necessários.

Caso o guindaste precise ser colocado em via pública, também é a locadora que faz os
contatos com órgãos municipais e concessionárias para liberação do trânsito e eliminação
de fiações elétricas. Segundo um diretor ouvido por Téchne, 90% dos trabalhos estão
relacionados à montagem e desmontagem de gruas - que demoram em média dois dias
cada. Os outros 10% correspondem à instalação de ar-condicionado, içamento de
geradores, transformadores, caldeiras, antenas e componentes similares - serviços que
costumam levar um dia para serem feitos. Raramente são efetuados levantamentos de
materiais de obra. "É muito limitado, e fica mais caro."

Modelo certo
Em construção civil, os guindastes mais requisitados têm entre 70 e 100 t e, num contexto
alternativo, de 200 a 250 t. A espera por esses modelos nas empresas locadoras pode
chegar a até quatro dias.

Por outro lado, no caso de necessidades especiais, de elevadíssimo porte, o mercado


dispõe de maquinário relativamente ocioso devido à baixa demanda do setor - embora a
quantidade em oferta seja reduzida. Estima-se que haja no Brasil cerca de 12 guindastes
com capacidade entre 500 e 550 t. Já no caso de capacidade de até 50 t, a oferta sobe
para aproximadamente 200 unidades em todo o País, de acordo com fonte do setor.
O tempo de espera pelos guindastes montados sobre caminhão é um indicativo claro do
aquecimento que vive o setor. O fenômeno atinge de maneira parecida à locação de
gruas. "Ainda não chega a haver falta de equipamento, mas isso pode vir a ocorrer", afirma
Paulo Carvalho, da Alec. Ele aponta que os modelos mais solicitados possuem capacidade
de carga intermediária - entre 1 e 1,5 t, com lança de 30 a 40 m. "Máquinas um pouco
menores e um pouco maiores são mais acessíveis."

A seleção técnica dos equipamentos naturalmente está relacionada às características


individuais de obra, e deve considerar, sobretudo, o fator da produtividade. "Para
economizar, o construtor pega uma máquina com 1 t na ponta em vez de 1,5 t, e nas oito
horas do dia não consegue dar conta do trabalho. Aí vai ter que fazer horas extras, e os
custos diretos e indiretos disso acumulam-se no final", analisa Carvalho.

Também visando à otimização dos dias locados, antes de uma grua entrar em operação
recomenda-se conferir se a alimentação elétrica do canteiro atende à exigência da
máquina. Falhas nesse sentido causam excesso de manutenção e conseqüente perda de
atividade.

Segurança
A busca por produtividade não deve pôr em risco a segurança das operações, aspecto tão
importante em se falando de gruas que os equipamentos dispõem de abordagem
específica na NR-18, Norma Regulamentadora do Ministério do Trabalho que prescreve
Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção.

Em dias com ventos muito intensos, superiores a 42 km/h, indica-se que o funcionamento
só prossiga com restrições de segurança, assistido por um técnico ou engenheiro
capacitados. A operação deve ser interrompida se a velocidade do vento ultrapassar os 72
km/h. Ou bem antes desse limite, previne o diretor da Alec. "Ao sentir dificuldades de giro,
o operador não deve insistir no movimento, caso contrário forçará a grua."

Ocorrências de raios também forçam à paralisação. "Mesmo com a estrutura da grua


devidamente aterrada, as pessoas que estão próximas a ela correm perigo, principalmente
aquelas que têm contato com o gancho de carga", lembra Carvalho.

Mesmo longe de condições climáticas desfavoráveis, a atenção com a segurança é


imprescindível, na forma de conferências periódicas dos equipamentos. Paulo Carvalho
esclarece que, concluída a montagem da grua, o construtor recebe um Termo de Entrega
Técnica, que atesta o bom preparo da máquina. Essa análise é repetida mensalmente,
como uma manutenção preventiva. "Existe ainda o checklist diário do operador, mais
simplificado, onde ele confere o funcionamento de itens como os limitadores, se as
marchas estão entrando, se os todos os movimento estão ok", complementa o diretor da
Alec.
Checklist
Itens de segurança obrigatórios em gruas
 Limitador de momento máximo

 Limitador de carga máxima para bloqueio do dispositivo de elevação

 Limitador de fim de curso para o carro da lança nas duas extremidades

 Limitador de altura que permita frenagem segura para o moitão

 Alarme sonoro para ser acionado pelo operador em situações de risco e alerta,
bem como de acionamento automático quando o limitador de carga ou momento
estiverem atuando

 Placas indicativas de carga admissível ao longo da lança

 Luz de obstáculo (lâmpada piloto)

 Trava de segurança no gancho do moitão

 Cabos-guia para fixação dos cabos de segurança para acesso à torre, lança e
contralança. Para movimentação vertical na torre da grua é obrigatório o uso de
dispositivo trava-quedas

 Limitador de giro, quando a grua não dispuser de coletor elétrico


 Anemômetro

 Dispositivo nas polias que impeça a saída acidental do cabo de aço

 Proteção contra a incidência de raios solares para a cabina do operador

 Limitador de curso para o movimento de translação de gruas instaladas sobre


trilhos

 Guarda-corpo, corrimão e rodapé nas transposições de superfície

 Limitadores de curso para o movimento da lança (aplicável a gruas de lança móvel ou


retrátil)
Fonte: NR-18

Gruas

Torre Fixa
Capacidade de carga na ponta: de 1 a 2 t, podendo chegar a 50 t ou
mais
Altura: de 15 a 120 m
Ancoragem: fixação da estrutura da grua à edificação, geralmente a
cada 15 ou 20 m
Tempo de montagem: de 3 a 5 dias

Torre Móvel
Capacidade de carga na ponta: 1 a 2 t, podendo chegar a 50 t ou
mais
Altura: de 15 a 60 m
Ancoragem: não aplicável
Tempo de montagem: de 4 a 6 dias

Ascensional
Capacidade de carga na ponta: de 1 a 2 t
Altura: de 18 a 40 m de torre mais edificação
Ancoragem: não aplicável
Tempo de montagem: de 3 a 5 dias

Automontante
Capacidade de carga na ponta: de 800 kg a 6 t
Altura: até 36 m
Ancoragem: não aplicável
Tempo de montagem: hidráulicas de 1 a 3 h; convencionais em 8 h, em
média
Lança móvel
Capacidade de carga na ponta: de 2 a 8 t
Altura: de 15 a 120 m
Ancoragem: fixação da estrutura da grua à edificação, geralmente a cada
15 ou 20 m
Tempo de montagem: de 3 a 5 dias

Fonte: Paulo Melo Alves de Carvalho, diretor da divisão de gruas da Alec (Associação
Brasileira das Empresas Locadoras de Bens Móveis)

Guindastes

Sobre caminhão
Capacidade de carga: até 70 t
Altura máxima: 65 m
Tamanho do caminhão: 10,5 m
Peso com contrapeso: 55 t
Tempo de preparo: 45 minutos

Indicações:
 Obras curtas

 Em espaços confinados

 Trabalhos leves sem movimentação horizontal de carga

 Trabalhos mais ágeis

Montado sobre caminhão de fábrica


Capacidade de carga: até 550 t
(na Europa, até 1.200 t)
Altura máxima: 145 m
Tamanho do caminhão: 23 m
Peso com contrapeso: 315 t
Tempo de preparo: de 2 a 15 h

Indicações:
 Obras curtas

 Em espaço confinado

 Trabalhos pesados sem movimentação horizontal de carga

 Trabalhos rápidos

Guindaste sobre esteira


Capacidade de carga: 450 t
Altura máxima: 150 m
Tamanho do equipamento: 22 m com mastro
Peso com contrapeso: 550 t
Tempo de preparo: de 30 a 50 h

Indicações:
 Espaços livres

 Obras longas

 Trabalhos muito pesados com movimentação horizontal de carga

Fonte: Igor Boff, diretor comercial da IV Transportes e Guindastes

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