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HUAMBO, 2019
UNIVERSIDADE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS
INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DO HUAMBO
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E ARQUITECTURA
HUAMBO, 2019
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha querida mãe Natália Jamba e a minha amada
filha Adelina Cahuma Diogo Luís.
AGRADECIMENTO
Em primeiro lugar Agradeço a Deus, pelo dom da vida, pela sua graça e pela sua
misericórdia de poder viver mais um dia, pois entendo que tudo quanto acontece é
com a sua permissão então obrigado Senhor por permitires que chegasse até aqui.
A minha mãe, que me tem proporcionado condições desde os tempos primórdios
para estudar e hoje poder chegar aonde cheguei, obrigado mãe pois sem ti não
seria possível alcançar este grande feito.
A minha filha, minha princesa, minha força de inspiração isto também é para ti pois
te tornaste a razão do meu viver.
Aos meus irmãos, Dorito, Chana, Dina, Carlos vocês me motivam e incentivam a
estudar, me ensinando e dando aquela coragem e confiança que iria correr tudo
bem.
Aos meus amigos, meus camaradas, meus patriotas Binilson, Telmo, Luciano,
Altino, John, Polson, Varandas e Valentim que, começamos esta jornada desde a
idade tenra, aqui vai o meu muito obrigado por tudo quanto têm feito por mim.
As minhas mães, mãe Delfina, mãe Vitória, mãe Manuela obrigado por tudo, não
tenho palavras para agradecer o que representam pra mim.
Ao meu primo/irmão mais velho mano Nicó, obrigado pelas repreensões,
orientações, conselhos e direcções que proporcionaste, es e sempre serás um
grande exemplo pra mim.
As minhas grandes amigas que a vida me deu a honra, o prazer e o previlégio de
conhecer, Nazy, Creusa, Gila e Isamara eu vos levarei pra vida toda.
Aos meus colegas do curso de Engenharia de construção civil do Instituto Superior
Politécnico do Huambo, pelo companheirismo na formação e na vida.
Ao Instituto Superior Politécnico do Huambo e aos professores do Departamento
Engenharia Civil e Arquitectura que durante estes anos me orientaram, traçarando
as directrizes para a conclusão deste grau académico se tornasse possível.
ÍNDICE
LISTA DE FIGURAS .................................................................................................... I
LISTA DE TABELAS ................................................................................................. III
LISTAS DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES ................................................................... IV
RESUMO.....................................................................................................................V
ABSTRACT................................................................................................................VI
INTRODUÇÃO.............................................................................................................1
CAPÍTULO 1 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA APLICAÇÃO DE TECNOLOGIAS
DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO ....................... 5
1.1. Análise histórica relacionada a utilização da terra como material de
construção ................................................................................................................... 5
1.1.1. A construção em terra no mundo ................................................................... 8
II
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Resumo do diagrama anterior dividido pelas 3 grandes familias e tipo de
construção ................................................................................................................. 15
Tabela 2 - Vantagens da construção em terra, divididas segundo diferentes níveis . 18
Tabela 3 - Diferentes tipos de Estabilizadores .......................................................... 29
Tabela 4 - Designação dos compartimentos e suas áreas ........................................ 54
III
LISTAS DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES
BTC – Blocos de terra comprimida
CEB – Compressed Earth Block
CINVA-Ram - Compressed Earth Block Machine
UNCHS – United Nations Center for Human Settlements
CRATerre – International Centre on Earthen Architecture (Centre de Recherche
d’Architecture de Terre)
LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil
a.C. – Antes de cristo
d.C. – Depois de Cristo
Unesco – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
(Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura)
ONG – Organização não governamental
DW – Development Workshop
NBR – Norma Brasileira
AENOR – Asociaciôn Española de Normalizaciõn y certificaciõn
CSIRO – Commonwealth Scientific and Industrial Research Organization
IV
RESUMO
Entre os materiais benéficos aos seres humanos tem-se a terra crua que os
acompanha desde os primórdios da humanidade. A construção com terra, largamente
utilizada por nossos antepassados, é uma manifestação marcante do uso de recursos
naturais abundantes na convivência do Homem com a Natureza. Actualmente, o uso
da terra crua é visto pra muitos na nossa população actual como um material de
construção que pode ser distinguido de dois modos: a sobrevivência dos sistemas
construtivos antigos, preservados pela carência em que vivem algumas populações;
ou por falta de condições para construir uma casa de tijolo ou de bloco de cimento que
são geralmente os materiais de construção mais utilizados, ou seja, porque são
caracterizados pela simplicidade, eficácia e baixo custo. O bloco de terra comprimida
é uma das possibilidades do uso da terra para a produção de edificações. A mistura
da terra e cimento, devidamente dosada e compactada, adquire resistência e
apresenta durabilidade compatíveis com os critérios necessários para a construção
de edificações Este trabalho tem como objectivo mostrar a aplicação da técnica solo-
cimento conhecida como BTC – Blocos de terra comprimida, conhecendo as suas
carterísticas, composição, propriedades, vantagens e desvantagens e também
elaborar propostas de implementação nas construções, tendo em conta as
particularidades que o mesmo apresenta. Pretende-se também apresentar de forma
genérica, a problemática que envolve as patologias das construções em terra crua e
fazer propostas de implementação de um novo material
Palavras–chave: Terra Crua, Materiais de construção, Bloco de Terra Comprimida
V
ABSTRACT
Among the materials beneficial to humans is the raw earth that has
accompanied them since the dawn of humanity. The construction with earth, widely
used by our ancestors, is a striking manifestation of the use of abundant natural
resources in the coexistence of man with nature. Today, the use of raw land is seen
by many in our current population as a building material that can be distinguished in
two ways: the survival of ancient building systems, preserved by the shortage of some
populations; or for lack of conditions to build a brick or concrete block house which are
generally the most widely used building materials, ie because they are characterized
by simplicity, effectiveness and low cost. The compressed earth block is one of the
possibilities of land use for the production of buildings. Properly dosed and compacted
mix of earth and cement acquires strength and durability compatible with the criteria
required for the construction of buildings. its characteristics, composition, properties,
advantages and disadvantages and also elaborate implementation proposals in the
constructions, taking into account the particularities that it presents. It is also intended
to present in general, the problem that involves the pathologies of raw earth
constructions and make proposals for the implementation of new material.
Keywords: Raw Earth, Building Materials, Compressed Earth Block
VI
INTRODUÇÃO
A terra é utilizada como material de construção desde os primórdios da
humanidade. A necessidade do Homem em se proteger do ambiente levou o mesmo
a procurar abrigos naturais, como grutas, e futuramente a construir abrigos próprios
com elementos como a terra, palha, madeira, fibras naturais, pedra, entre outros.
Estima-se que cerca de 30 a 50% da população mundial vive em habitações de terra.
A maior expressão da construção em terra encontra-se nos países em
desenvolvimento (Continente Africano, América Central, Médio Oriente). Falção,
(2014).
Em Angola, nos tempos recentes tem se vividos tempos difíceis causados pela
crise económica, e a possibilidade de se construir uma casa própria tem se tornado
cada vez mais difícil. A província do Huambo vem tendo um crescimento populacional,
que instiga o surgimento de novas zonas habitacionais e a criação subsequente de
condições para habitabilidade humana. Julieta, (2018). O bloco de terra comprimida
ou mais conhecido como tijolo ecológico, é um tijolo composto por solo (areia argilosa)
normalmente estabilizado com um pouco de cimento ou cal e comprimido em prensas
mecânicas.
Os BTC podem ser considerados como sendo a evolução dos blocos de adobe
devido à compactação do material durante a sua produção. Para além da melhoria
das propriedades mecânicas e de durabilidade face ao adobe, a compactação do
material confere a eles uma elevada estabilidade dimensional, um acabamento liso e
a possibilidade de aplicação em obra, sem necessidade de revestimento. Eles têm
ainda a vantagem de poderem ser transportados e empilhados no seu estado fresco
(imediatamente após a desmoldagem), pelo que ocupam menor espaço de
armazenagem que o adobe. Ribeiro, (2016)
A razão pela qual se optou falar sobre os blocos de terra comprimida é porque
são uma das possibilidades de uso da terra como material de construção muito viável,
duradoura, proporciona conforto pois possuem isolamento acústico e têrmico. A
mistura de solo e cimento devidamente dosada e compactada, adquire resistência e
apresenta uma durabilidade aceitável para os critérios necessários para uma
construção de uma edificação e o bairro São Luis necessita de uma técnica que
apresenta as potencialidade que esta apresenta pois as edificações existentes
apresentam muitas patologias que estão relacionadas com o mau emprego da técnica
de construção e também da mão de obra ser pouco especializada. Trata-se também
1
de tirar partido do material local existente em abundância na localidade, a terra,
aproveitando uma técnica que já existe desde os tempos remotos, evitando a
recorrência à materiais de carácter industrial, como matéria-prima base. Além do
objectivo de contribuir para o desaceleramento do processo de descaracterização do
património em terra aqui na provincial do Huambo, propriamente no bairro São Luís e
procura-se também, apontar caminhos para a utilização do material local, através da
aplicação de uma nova tecnologia pouco encarecedora no processo construtivo.
Em correspondência com a situação actual sobre das edificações existentes no
Bairro do São Luís, identificam-se os seguintes aspectos que conformam na situação
problemática: o bairro São Luís embora esteja ordenado quanto ao urbanismo, tem
a maioria das residências em mal estado técnico. As construções de adobe são
empíricas e apresentam muitas patologias que contribuem para a deterioração
acentuada no material de construção.
Desta situação manifestam-se as seguintes insuficiências:
Insuficiente espaço nos beirais das coberturas.
Limitação na concepção dos linteis das portas e janelas.
Má emprego do adobe como material de construção.
Tendo em conta esta situação definiu-se como problema de investigação: como
contribuir para o melhoraramento do estado precário e degradado das edificações
existentes no Bairro São Luís?
O problema exposto emoldura-se como objecto de estudo: processo de
caracterização dos materiais de construção das edificações existentes no bairro São
Luís. E tem como campo de acção: aplicação de tecnologias de produção de
materiais de construção de baixo custo em edificações.
Para resolver o problema científico, propõe-se o seguinte objectivo: propôr à
aplicação dos blocos de terra comprimida (BTC) como tecnologia de produção de
materiais de construção de baixo custo em edificações para sua utilização como
material de construção, a partir de sua caracterização na solução eficaz em
construções de pequeno e médio porte.
Para o cumprimrnto do objectivo e solucionar o problema identificado, se
propõe as seguintes tarefas específicas:
1. Fazer análise histórica relacionada a utilização da terra como material de
construção.
2
2. Fazer fundamentação teórica sobre as tecnicas a utilizar na terra como material
de construção.
3. Diagnosticar o estado actual do processo de aplicação dos materiais de terra
crua nas edificações existentes no bairro São Luís.
4. Elaborar propostas de implementação do BTC na construção no bairro São
Luís.
5. Propôr a valorização da viabilidade económica e de impácto ambiental da
proposta
Com este trabalho espera-se melhorias na utilização da terra como material de
construção, propriamente do BTC, diminuição de patologias nas edificações e
aumento na qualidade do material a ser utilizado garantindo resistência e durabilidade.
Com a ideia a defender, a proposta de caracterização do material para solução
dos problemas encontrados no bairro São Luís visa apresentar uma alternativa de
utilização da terra crua como material de construção, de maneira a contribuir para
melhorar a resistência e durabilidade das edificações existentes no bairro São Luís.
Para o desenvolvimento das tarefas se aplicarão os seguintes métodos de
investigação:
Métodos de nível teórico
Analise-Síntese: Serviu para fazer avaliação e processamento da informação
sobre o desenvolvimento de trabálhos teóricos já desenvolvidos que tenham
relação com construção em terra crua e de Blocos de Terra Comprimida BTC,
a fim de evitar duplicidade.
Histórico-Lógico: Concebido para fazer a fundamentação teórica e análise
histórica sobre a construção com terra crua, técnicas desenvolvidas e o
surgimento da construções com blocos de terra comprimida BTC.
Indutivo-Dedutivo: Utilizado para a dedução de problemáticas existentes e
selecionar os critérios de selecção da qualidade dos materiais a utilizar, a partir
de analise e critério de para implementação no bairro São Luís.
Método de nível empírico
Observação: Usada para para a busca de dados no local, como limites,
interferências naturais, vegetação, construções, ventos e orientação solar e
também para que a ausência de informação sobre construções antecedentes
possa ser estudado com o mesmo enfoque.
3
Análise bibliográfica: Foi utilizada para consultar e analisar bibliografias
referentes a construção com terra crua e tecnologias utilizadas.
Análise Documental: Concebida para uma resenha histórica sobre o tema
como resultado da busca bibliográfica feita através de análises e síntese de
documentos e bibliografias existentes quanto a história de construção com terra
e das técnicas se utilizam para blocos feitos com terra.
Resultados alcansados: Espera-se do trabalho apresentação de um diagnóstico
detalhado das características da zona, do bairro São Luís e das tecnologias para a
produção de materiail de construção de baixo custo para as residências existentes na
localidade.
O trabalho se estrutura em três capítulos, os quais proporcionam a lógica
coerente da investigação:
No primeiro capítulo apresenta-se a caracterização histórica e a
fundamentação teórica e metodológica que sustentam a investigação, fazendo ênfase
nos antecedentes e situação actual da temática, assim como opiniões de especialistas
conhecedores do tema e possíveis recomendações do autor para obter o objectivo e
dar solução a problemática exposta.
No segundo capítulo se apresenta o diagnóstico do estado actual do campo
de acção, se apresenta a descrição do contexto onde se realizou a investigação,
população, amostra selecionada, suas características bem como das patologias
encontradas nas construções locais.(A proposta também forma parte deste capítulo)
No terceiro capítulo tratam-se dos resultados obtidos da implementação dos
métodos científicos e empíricos durante a investigação, assim como dar resposta ao
objectivo geral, tarefas científicas e verificação da hipótese científica exposta, tendo
em conta o objecto de estudo e campo de acção.
4
CAPÍTULO 1 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA APLICAÇÃO DE TECNOLOGIAS
DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
Neste capítulo apresenta-se uma resenha histórica sobre o tema como
resultado da busca bibliográfica feita através de análises e síntese de documentos e
bibliografias existentes quanto a história de construção com terra e das técnicas se
utilizam para blocos feitos com terra.
1.1 Análise histórica relacionada a utilização da terra como material de
construção
A análise histórica se realizou-se a partir das seguintes espéctos:
1. Surgimento da construção em terra
2. Concepção das construções em terra a nivel mundial
3. Técnicas de construção em terra que mais utilizam-se
Desde há milhares de anos que a terra é utilizada como material construtivo em
várias civilizações e por todo o mundo. Muitas técnicas diferentes foram sendo
desenvolvidas consoante a localização geográfica, as disponibilidades de materiais,
equipamentos e mão-de-obra, e as condições meteorológicas existentes em cada
local.
A terra é uma matéria-prima presente em abundância na envolvente do local
de construção e que está disponível para ser utilizada como material de construção.
A sua utilização evita consumos energéticos elevados de produção, emissões de
carbono e gastos com transporte significativos, pelo que a construção em terra poderá
ser classificada como ambientalmente sustentável. Por outro lado, as construções
com terra apresentam ainda grandes vantagens no que respeita a conforto
higrotérmico e acústico. Gomes, (2015), a citar (Faria et al., 2014).
Não é consensual a data em que o homem começou a utilizar a terra na
construção. Minke (2006) refere que deve ter sido há mais de 9.000 anos, estribando
essa convicção na descoberta de habitações no actual Turquemenistão à base de
blocos de terra (adobe) datadas de um período entre 8.000 a 6.000 a.C. Já Pollock
(1999) afirma que a utilização da terra para construção remonta ao período de El-
Obeid na Mesopotâmia (5.000 a 4.000 a.C.). Por outro lado, Berge (2009) refere que
datam de 7.500 a.C os exemplares mais antigos de blocos de adobe, os quais foram
descobertos na bacia do rio Tigres, pelo que na sua opinião as habitações em terra
poderão ter começado a ser usadas há mais de 10.000 anos. Jalali, (2003)
5
Não parece, contudo, ser muito relevante (no que ao presente trabalho
respeita), saber se a construção em terra se iniciou há mais de 9.000 ou há mais de
10.000 anos. Porém, vale referir que a construção em terra tenha tido o seu início
juntamente com o início das primeiras sociedades agrícolas num período cujos
conhecimentos actuais remontam entre 12.000 á 7.000 a.C. que consequentemente
originaram a sedentarização da espécie, até então nómada. Jalali, (2003).
A construção em terra foi caindo em desuso a partir do início do século XX, nos
países mais desenvolvidos, com o aparecimento de técnicas e materiais mais
modernos. Assim, o saber, que era transmitido entre gerações, foi também
desaparecendo. A construção em terra começou a manter-se nos países em
desenvolvimento, geralmente associado à escassez de recursos económicos e
financeiros das populações. Gomes, (2015).
No entanto, com o fim do século XX, com os problemas energéticos, ambientais,
ecológicos e económicos que afetaram os países desenvolvidos, houve uma
crescente sensibilização para as vantagens competitivas da construção em terra em
relação à construção corrente, pelo que surgiu uma renovada atenção sobre a terra
como material construtivo e as técnicas utilizadas tradicionalmente.
Em Angola os métodos construtivos refletem um sistema de transição, aliando
o artesanal e o moderno.
A construção com terra é uma arte construtiva que conceitualmente emprega o
solo sem queima como material fundamental do processo construtivo. A terra é
denominada em termos técnicos de solo, que é entendido como o produto da
decomposição de rochas, elementos minerais, orgânicos e inorgânicos. Também é
comum denominar onde a utilização da maioria dos elementos construtivos são de
terra crua, como arquitectura de terra ou vernacular. Diogo, (2016)
O esforço reduzido, a excelente capacidade de conforto térmico e acústico, o
grande potencial de reciclagem, a grande disponibilidade e produção zero de lixo e
poluentes, fazem com que as construções com terra crua sejam vistas como uma das
alternativas mais coerentes e viáveis para minimização dos impactos indesejáveis da
construção no meio ambiente e nas pessoas usufruem dos espações construídos.
Porém, têm sido identificados diversos problemas no desenvolvimento da
construção em terra, principalmente associados à falta de mão-de-obra qualificada,
consequência da tendência de desaparecimento das técnicas, ausência de formação
de técnicos de construção em terra e ainda por este tipo de construção aparecer
6
associada a desconforto e a pessoas com baixos recursos económicos para possuir
uma habitação construída com os materiais correntes. Gomes, (2015)
Atualmente, de acordo com as estatísticas da UNCHS (United Nations Center
for Human Settlements), verifica-se que o número de pessoas que vivem em
habitações edificadas que recorrem a técnicas de construção em terra continua sendo
bastante significativa, sendo que 40% da população mundial vive em habitações de
terra. Diogo, (2017) a citar (Aurovile Earth Institute, 2014). A construção em terra é
cada vez mais reconhecida e aceite por parte das comunidades, que se regem
segundo uma construção sustentável, sendo esta um tipo de construção cada vez
mais procurada. Chumbinho, (2017).
Estima-se que, nos nossos dias, aproximadamente 3 biliões de pessoas, vivam
em edifícios construídos em terra segundo diferentes técnicas (Ver figura 1), indo
desde modestas casas a palácios, igrejas ou castelos. Apesar de nos países
desenvolvidos, a terra ser vista como um material ligado à pobreza e este tipo de
construção ter caído em desuso no decorrer do século passado, resultado do
aparecimento das construções em tijolo cozido e betão armado, a arquitetura em terra
continua a ser uma forma de construção popular e por vezes a única viável,
principalmente em países em desenvolvimento. Chumbinho, (2017), a citar, Jalali &
Eires, 2008; Silva, et al., (2014).
7
A variabilidade da técnica da construção em terra é diferente de região para
região, associada ao uso de solo local, que naturalmente possui características
próprias, no entanto existem na generalidade de todas as técnicas dois constituintes
fundamentais: terra e água. Diogo, (2017)
1.1.1 A construção em terra no mundo
A construção em terra é, para além da técnica construtiva mais antiga e mais
amplamente utilizada pelo Homem em todo o Mundo, um tema da actualidade. Com
o advento de outros materiais construtivos mais competitivos (betão armado, alvenaria
de tijolo e outros), os materiais e técnicas ditos tradicionais/rústicos deixaram
praticamente de ser utilizados, sendo a sua sobrevivência por razões arquitectónicas
dependente dos melhoramentos de que possam vir a ser alvo. Isto não obstante os
problemas técnicos levantados pelos novos materiais, nomeadamente em termos de
desconhecimento de processos de manutenção e de restauro, ventilação e
condicionamento do ar, iluminação e isolamento térmico e acústico. Flores, (2003)
São inúmeros os casos de construções em terra, que executadas há alguns
milhares de anos conseguiram chegar ao século XXI. O Templo de Ramsés II em
Gourna (figura 4), construído em adobe há 3.200 anos é um deles. Também a Grande
Muralha da China (figura 3), cuja construção se iniciou há aproximadamente 3.000
anos apresenta trechos bastante extensos construídos em taipa. Importante também
ter presente que muitos trechos que inicialmente foram construídos em taipa só mais
tarde que foram revestidos com alvenaria de pedra. XAXÁ, (2013).
Grande Muralha da China, China (Ásia) – Início da construção há
aproximadamente 3.000 anos atrás, durante a Dinastia Ming, onde os muros
apresentam uma altura média de 7,5m e uma extensão de 21 196 km. As
características construtivas da Muralha da China, variam de acordo com a região e o
material disponível, apresentando troços bastante extensos construídos em taipa
apiloada, só mais tarde revestidos com alvenaria de pedra (Ver figura 2). Classificada
Património Mundial segundo a Unesco, em 1987.
8
Figura 2 - Grande Muralha da China
Fonte: (http://arquitecturasdeterra.blogspot.com/2010/03/grande-muralha-da-chinataipa.html)
O Templo de Ramsés II, Gourna (Egipto) - teria sido construído entre 1284-
1264 a.c. no sul do Egito, e esteve coberto pela areia durante milênios até ser
redescoberto em 1813. Esta construção penetra profundamente na encosta de arenito,
que é “vigiada” por quatro impressionantes estátuas de faraós (Ver figura 3).
9
Figura 4 - Cidade de Shibam, Iêmen
Fonte: Chumbinho, (2017)
10
Figura 6 - Cidade de Ghadamés, Libia.
Fonte: Chumbinho, (2017)
12
É na província do Kuanza Sul, nos municípios da Gabela e Quibala, onde se
encontram a maior parte dos projectos desenvolvidos segundo esta técnica,
predominando os equipamentos educativos, escolas, salas de aulas, e os centros de
saúde (Ver figura 8). As habitações nesta fase constituem respostas pontuais das
congregações religiosas. Ganduglia, (2012)
a) b)
Figura 8 –a) Escola do Ensino primário e Secundário. b) Centro de Saúde
Fonte: Ganduglia, (2012)
13
Figura 9 - Jango Administrativo da Aldeia Camela Amões
Fonte: Autor da presente investigação, 2019
14
1.1.1 Técnicas de construção em terra
Desde 1979, que em França existe um organismo, o Grupo CRATerre (Centre
de Recherche d'Architecture de Terre), que tem como campo de ação a investigação
na área da construção em terra e o desenvolvimento sustentável sendo o mesmo
reconhecido como uma referência incontornável a nível internacional, impulsionando
o avanço no campo da investigação e desenvolvimento de novas tecnologias, com o
intuito de melhorar a durabilidade e qualidade das construções em terra. Chumbinho,
(2017), a citar Jalali & Eires, (2008)
Este grupo elaborou um diagrama, cujo elemento em comum é o uso de solo
como matéria prima, onde se procurou sistematizar as inúmeras técnicas de
construção em terra, das quais CRATerre enumerou 18 sistemas, antigos e modernos,
divididos por 3 grandes famílias, sendo o diagrama uma síntese das possíveis
soluções a utilizar (Ver figura 11 e tabela 1).
Figura 11 - Diagrama de diferentes familias de sistemas de construção antigo e moderno, que utilizam
a terra como matéria-prima. (Adp: Housben e Guillaud, 1989. p. 15)
Fonte: (Diogo, 2017)
Tabela 1 - Resumo do diagrama anterior dividido pelas 3 grandes familias e tipo de construção
A B C
Utilização da Utilização de terra Utilização da terra
terra sob a forma sob forma de como enchimento
monolítica e alvenaria portante de uma estrutura
portante de suporte
15
1.Terra escavada 6.Blocos batidos 14.Terra de
2.Terra plástica 7.Blocos recobrimento
3.Terra empilhada compactados (BTC) 15.Terra sobre
4.Terra modelada 8.Blocos cortados engradado
5.Terra prensada 9.Torrões de terra 16.Terra palha
(Taipa) 10.Terra extrudida 17.Terra de
11.Adobe Mecânico enchimento
12.Adobe Manual 18.Terra de
13.Adobe Moldado cobertura
a) b)
Figura 12: a) – Colocação para secagem do bloco de adobe junto ao sol; b) – Imagem ilustrando a
mistura do constitição do bloco de adobe.
Fonte: Almeida, (2015)
Podemos citar como exemplo de construções em terra crua o adobe, a taipa de
pilão e o BTC (bloco de terra comprimida). Ambas as técnicas são utilizadas
16
largamente em várias partes do mundo, sendo todas propriedades semelhantes,
tendo em conta que a matéria-prima utilizada na execução é a mesma, diferenciando-
se apenas no modo de execução.
1.2.1. Materiais de construção
Os materiais de construção constituem um componente fundamental das obras.
O conhecimento da sua origem, evolução, classificação e propriedades permite
determinar a sua utilização nas estruturas e sistemas construtivos. O construtor deve
conhecer com profundidade os diferentes materiais para poder especificar sua
qualidade e garantir a sua melhor aplicação na execução de uma obra.
O homem através da história da humanidade, teve que enfrentar e solucionar
vários problemas para garantir a sua sobrevivência e desenvolvimento, valendo-se de
uma inteligência superior em relação a outros seres. Em sua evolução conseguiu
tomar os materiais que concedidos pela natureza e transformá-los, criando técnicas
construtivas que lhe permitaram executar as obras que simbolizam a civilização.
Utilizou todos os materiais que a natureza oferecia, primeiro, como eu os
encontrou (galhos, pedras, ossos, conchas, peles, depois com o tempo de prática, foi
adquirindo conhecimento e habilidades que permitiram transformar os materiais da
natureza, descobrir os procedimentos de obtenção, aperfeiçoar as ferramentas de
trabalho e transformar as matérias-primas em novos materiais com melhores
propriedades, por exemplo, os galhos foram cortados no tamanho desejado; troncos
se tornaram em mesas, a pedra foi esculpida e obtida conforme necessário; a argila
se transformou em tijolos e se descobriu o material aglomerante para unir os outros
materiais.
1.2.2. Propriedades da terra como material de construção
Na engenharia civil é comum abordar o material de construção “terra” como um
solo, em que este é entendido como sendo o conjunto natural de partículas que podem
ser separadas por agitação em água. Gomes, (2015) O solo é considerado um meio
particulado, natural e trifásico (sólido, liquido e gasoso), conferindo-lhe a
complexidade das suas características. A fase sólida do solo é constituída pelas
partículas sólidas (minerais e orgânicas) e as fases líquida e gasosa por água
(intersticial) e ar, respetivamente, ocupando os vazios entre as partículas sólidas.
As propriedades fundamentais da terra, como material de construção são
essencialmente; a coesão, a plasticidade, e a compressibilidade. Estas propriedades
estão intrinsecamente ligadas ao comportamento da terra com a água e às
17
características próprias da terra. Silva, (2015) Por esta razão, será feita uma descrição
das propriedades fundamentais da terra e do seu comportamento com a água.
Propriedades fundamentais da terra
A coesão resulta da força de atração entre as partículas do solo, sendo a
propriedade essencialmente responsável pela sua resistência. A plasticidade de um
solo traduz a sua capacidade de ser moldado sem variação de volume. Depende do
tamanho e formato das partículas que compõem o solo e do seu teor de humidade. A
coesão e a plasticidade são propriedades que estão diretamente ligadas à quantidade
e natureza dos elementos finos de um solo, nomeadamente à fração argilosa e siltosa
do solo.
A compressibilidade do solo está relacionada com a sua capacidade de
variação de volume (diminuição) quando sujeito a pressão. Consiste no aumento da
densidade do mesmo devido ao rearranjo das partículas solidas, visto que estas são
consideradas indeformáveis para as pressões exercidas na construção em terra.
Depende da estrutura do solo, da natureza das partículas e do teor de humidade do
solo. Silva, (2015)
Vantagens da construção em terra
Tratando-se de uma solução, atualmente considerada por muitos autores como
ecologicamente interessante, a construção em terra, para além de permitir a
realização de uma construção de maior sustentabilidade, preservando os recursos
naturais, apresenta um conjunto de diversas vantagens, como se pode observar no
resumo da Tabela 2. Chumbinho, (2017)
Tabela 2 - Vantagens da construção em terra, divididas segundo diferentes níveis
Matéria-prima não tóxica, que existe em grande quantidade e a sua
exploração não acarreta problemas de poluição; A produção de
Ecológico resíduos durante a fase de produção é reduzida; Como a terra é
utilizada em cru, não provoca poluição decorrente do seu tratamento;
Após o tempo de vida útil de um edificado, é possível reciclar o material,
reutilizando-o diversas vezes, diminuindo a hipótese de formação de
resíduos de construção e demolição (RCD’s);
18
A utilização da terra como material de construção permite reduzir
consideravelmente os custos da construção, uma vez que se trata de
Economico um recurso disponível no próprio local da obra, ou em outro local mais
qualificado, com custos reduzidos de exploração, transporte, produção
e aplicação;
19
Fraco comportamento, deste tipo de construção, quando em contacto com a
água;
Fraca resistência mecânica, comparativamente com os materiais
convencionais, como o tijolo cozido e o betão;
Não é aconselhável a construção de edifícios em grande altura, por se tratarem
de edifícios com elevada massa;
O descuido na escolha do material e a incorreta utilização do mesmo, resulta
em produtos de má qualidade e péssimo aspeto estético;
A necessidade imprescindível da estabilização dos solos, na tentativa de
diminuir ao máximo todas as limitações existentes, em particular a baixa
resistência mecânica e a elevada permeabilidade/capacidade de absorção de
água;
Discriminação social da construção em terra, uma vez que esta está associada
à pobreza, resultando na reduzida legislação sob esta forma de construção,
pelo mundo;
1.2.3. Patologias associadas à construção em terra
As construções em terra, são particularmente vulneráveis às ações dinâmicas,
relacionadas com a ação sísmica e ação da água, bem como o assentamento de
fundações e a existência de cargas concentradas, onde a elevada vulnerabilidade é
essencialmente devido à ausência de manutenções contínuas e consequente
deteorização dos elementos de proteção, bem como pela ausência de ligações entre
as várias partes da estrutura. Rocha, (2017)
As anomalias observadas nas construções em terra, podem resultar quer de
fatores intrínsecos, relacionados com características específicas de cada solo,
designadamente a constituição granulométrica e o tipo de minerais argilosos
existentes, quer de fatores extrínseco, resultantes de ações mecânicas, ambientais e
biológicas, sendo a última relacionada com insetos, particularmente térmitas,
vegetação parasita e a atuação do homem desde a fase de construção até ao uso.
Martins, (2011)
Ações Mecânicas – algumas ações mecânicas, onde o efeito das ações
sísmicas é o mais prejudicial, podem provocar danos estruturais nas construções em
terra, podendo ser mais ou menos gravosos consoante o estado de conservação do
edifício. A origem destas patologias a nível estrutural, que levam à diminuição da
capacidade mecânica do edificado, resultam desde a fendilhação, permitindo a
20
abertura de caminhos preferenciais para o acesso da água que enfraquecerá o
suporte, até à própria rotura e colapso da estrutura, quando o material se sujeita a
ações de tração, compressão ou flexão.
Ações Ambientais – a relação com a água tem sido desde sempre um dos
principais problemas das construções em terra. A presença de água, tanto no próprio
solo, utilizada na amassadura ou derivada de fatores externos, como a chuva, torna-
se um dos principais agentes de degradação deste tipo de construção, cujos efeitos e
consequências, podem ser mais ou menos gravosos, consoante as características do
solo em causa e o estado de conservação das construções em terra, podendo causar
danos estruturais ou não estruturais, derivado do enfraquecimento e desintegração
resultantes do humedecimento do material. Braga, (2011)
Absorção de água – penetração de água, no material de construção, por
ascensão ou difusão capilar, ou infiltração através de zona fendilhada. Quando em
contacto com os elementos de construção, a água poderá originar graves alterações
no estado da construção, uma vez que a absorção de água provocará a dilatação, e
posterior retração do material, quando a mesma evaporar, provocando fendilhação
que permitirá o aumento das infiltrações, diminuindo a resistência mecânica da
construção causada pela diminuição da coesão entre partículas, a diminuição do
isolamento térmico, o desenvolvimento de vegetação parasita e o transporte de sais
higroscópicos existentes no material. Rodrigues, (2003)
Condensação de vapor de água – situações propícias à condensação de
vapor de água, à superfície ou no interior dos elementos de construção, resultará no
humedecimento do material que originará o desenvolvimento de fungos e bolores, que
causarão a degradação da construção, diminuição do isolamento térmico, diminuição
local da resistência mecânica e ainda o empolamento do revestimento ou
acabamento. Rodrigues, (2003)
Erosão – tem como principal origem a ação da água da chuva, onde o impacto
direto ou repetido da mesma, provocará o desgaste dos elementos exteriores, com
posterior erosão da superfície, quando essa água escorre. Para além deste tipo de
erosão superficial, a água da chuva pode infiltrar-se, através de fendas existentes,
transportando sais higroscópicos, existentes no material de construção, que ao
cristalizarem, aquando da evaporação da água, aumentam de volume, possibilitando
a ocorrência da erosão da construção.
21
Os seres vivos, bem como a própria atividade humana, pontualmente provocam
choques acidentais em elementos construtivos, podendo estes choques, serem o
suficiente para provocar o aparecimento de outras patologias relacionadas com a
humidade. As consequências resultantes da erosão, originam a degradação da
superfície, diminuição da resistência mecânica do material, aumento da fendilhação e
consequentemente o aumento da infiltração, absorção ou capilaridade. Rodrigues,
(2003)
1.2.4. Técnicas construtivas em terra
De todas as técnicas de construção em terra existentes, as que mais se
destacam pelo mundo são a taipa, o adobe e recentemente o BTC, esta escolha
encontra-se associada às características do solo, fator associado à própria região, ao
conhecimento empírico, bem como aos recursos económicos utilizados e ao clima.
Chumbinho, (2017), a citar, (Pinto, 2013:28).
Taipa
A construção em Taipa (Ver figuras 13 e 14), se baseia na técnica onde o barro,
mistura de água e terra, é compactado horizontalmente num trançado de madeira para
formar a parede, a terra crua é colocada na cofragem e é prensada ou compactada
com um pilão ou um compressor pneumático. Diogo, (2017)
22
Figura 14 - Exemplos de construção com Taipa: a) Novo edifício da empresa Ricola, Suiça 2012. b)
Parede de taipa em construção. c) Piscina coberta com paredes exteriores em taipa a vista,
Espanaha 2017
Fonte: Silva, (2015)
Adobe
O adobe é um bloco de terra crua moldado e seco ao sol. A construção em
adobe é das técnicas de construção em terra mais utilizadas no mundo, com maior
incidência nos países em desenvolvimento devido à sua simplicidade de fabrico e
aplicação e ao reduzido custo associado à mesma.
O processo mais comum de fabrico do adobe consiste essencialmente nas
seguintes fases: extração e preparação da terra de modo a ter as características
necessárias; Amassadura da mistura (terra com agua e outros) até apresentar a
plasticidade adequada; Moldagem dos blocos em moldes de madeira sem fundo ou
topo, em que a mistura plástica é apenas despejada nos moldes ou então atirada de
modo a conseguir uma maior compactação; após o preenchimento do molde é alisada
a superfície dos blocos, à mão ou com o auxílio de uma régua de madeira ou duma
colher de pedreiro; Desmoldagem do bloco ainda com a mistura no estado plástico.
(Ver figura 15 e 16)
23
Figura 15 - Moldagem de blocos de adobe (Picorelli, 2011)
Fonte: Chumbinho, (2017)
24
apenas da quantidade de argila presente na terra, como no caso do adobe, mas
também da pressão de compactação exercida na sua produção (Ver figuras 17 e 18)
(Silva, 2015).
Composição
O BTC é composto por diferentes componentes, sendo a terra o principal
elemento. Por ser um material heterogêneo e de constuição varíavel é importante
26
definir as características dos solos, tendo que alguns solos não servem como matéria
prima para a fabricação de blocos de BTC. Para construção em terra com BTC,
segundo Barbosa (2002), recomenda um intervalo menos restrito, já que sugere que
o solo possua entre 50 a 70% de areia, 10 a 20% de silte e 1 a 20% de argila.
Segundo Moreira (2009), na seleção e na preparação da terra há que ter em
consideração que a correta seleção é o fator que mais pesa na qualidade final do BTC,
no entanto, as características do solo podem ser melhoradas: a granulometria do solo
pode ser corrigida; a terra pode ser estabilizada por adição de cal ou de cimento, assim
como os elementos de maiores dimensões devem ser eliminados por crivagem; a
mistura dos vários componentes deve ser efetuada a seco; e a terra deve ser
umidificada por rega ou por vaporização sob pressão.
O teor de cada componente granulométrico também é importante. É importante
que o limite de liquidez do solo não seja excessivo e que apresente plasticidade, de
preferência menor que 40-45%. Para os tijolos prensados, pode-se dizer que é
desejável que o solo tenha: (a) 10% a 20% de argila; (b) 10% a 20% de silte; e (c)
50% a 70% de areia (Barbosa, 2003). Ainda de acordo com Barbosa, tijolos de ótima
qualidade podem ser obtidos com um solo que apresente:
• 11% de argila,
• 18% de silte,
• 70% de areia, sendo esta composta de grande quantidade de areia fina (grãos
de 0,05 a 0,25 mm).
Constituída primordialmente por esses 3 elementos a terra possui também na
sua composição água, ar e matéria orgânica. A argila e siltes possuem a tarefa de
ligante no solo, enquanto a areia fina e areia grossa seria os agregados.
A coesão do solo é dado pela argila e pelos siltes, ambas são partículas finas
de origem mineral. A consistência da argila num solo, dependendo do seu teor de
humidade, varia de acordo com a sua composição mineral e química. Esta
consistência é vulgarmente referida como plasticidade e refere-se à capacidade do
solo se deformar sem rotura elástica caracterizada por fendilhação ou desintegração.
Diogo, (2017) a citar Namango, (2006).
As areias finas e grossas constituem os agregados, diminuindo a possibilidade
de fissuração por retração e aumentando a resistência do solo. Com a combinação de
diferentes granulometrias, a resistência do solo pode ser aumentada devido ao
preenchimento, pelos finos, dos vazios entre os grãos de maior dimensão.
27
Sendo assim as características de um solo dependem fundamentalmente, dos
seus componentes e respectivas quantidades de cada. Segundo Rigassi (1985) e
Arumala e Gondal (2007) elas devem variar entre as seguintes porcentagens (Diogo,
2017):
• Cascalho (gravels) 0 a 40%;
• Areias (sands) 25 a 80%;
• Siltes (silts) 10 a 25%;
• Argilas (clays) 8 a 30%.
Levando em consideração as características do solo, é analisado a quantidade
de água e estabilizadores para a fabricação do BTC, de modo simplificado, segundo
Neves & Cuna (2007) a composição ideal para o bom estado é dado pela simulação
abaixo (Ver figura 20):
Técnicas de Estabilização
Quando as características físico-mecânicas (resistência à compressão,
absorção de água e durabilidade) do sistema de BTC que dependem diretamento do
tipo de solo (granulometria, fração argila, grau de plasticidade) , além das condições
de cura (umidade e temperatura) e de compactação não são alcançadas, é preciso
recorrer ao tipo e teor do agente estabilizante a ser utilizado em sua composição.
28
Estes métodos visam melhorar o desempenho, tal como a resistência a erosão,
resistência mecânica e diminuir as variações de volume e porosidade do bloco,
garantindo que o componente construtivo possua mais resistência e durabilidade.
Existem vários tipos de estabilizadores, cada um deles direcionado para uma
das qualidades a melhorar (Rigassi, 1985). Segundo Moreira (2009), estes podem ser
divididos como estabilizadores: Mecânicos, Físicos e Químicos, como apresentado na
Tabela 3
Tabela 3 - Diferentes tipos de Estabilizadores
29
A percentagem do estabilizante químico depende do tipo de solo que se vai
empregar. O estabilizante químico mais utilizado é o cimento, sua ação no solo se dá
precisamente da mesma maneira que no betão. O cimento adicionado ao solo trabalha
reagindo quimicamente com a água e com as partículas finas do solo. Segundo
Barbosa et al (2002), em solos argilosos é exigido no mínimo 6% de cimento, em peso
de solo seco. Para solos arenosos, bem graduados, é necessário no mínimo 4% de
cimento. Sendo o melhor solo para estabilização é aquele que apresenta pequenas
quantidades de argila, consistindo muitas vezes de areia e cascalho.
O grupo de estudos CRAterre recomenda percentagens de cimento entre 6 a
10% na estabilização de solos para a construção em terra. O estabilizante
correntemente utilizado no fabrico de BTC é o cimento, apesar da cal ser o
estabilizante mais barato e mais sustentável, porém é expectável que a sua utilização
venha no futuro a ganhar uma utilização superior, devido ao menor impacto ambiental.
Sendo assim estudos onde é analisado e verificado a melhor percentagem de
estabilizantes para o BTC é muito importante.
1.2.6 Produção de BTC
Em geral, o processo de produção dos BTC é comum para qualquer tipo de
BTC. É um processo cíclico cujo rendimento é geralmente limitado pelo grau de
mecanização do estaleiro de produção. De modo a garantir um rendimento eficaz é
essencial haver uma gestão correta da produção e um controlo de qualidade em cada
etapa. O processo de produção envolve, geralmente as seguintes 11 etapas:
1. Extração: escavação da terra abaixo de um metro de profundidade de modo a
conter o mínimo possível de matéria orgânica;
2. Secagem: espalhamento da terra em camadas finas;
3. Pulverização: tornar a terra num pó fino sem torrões (Figura 21);
4. Peneiração: retirar elementos indesejados na mistura (partículas maiores e matéria
orgânica) (Figura 22);
5. Dosagem dos constituintes: controlar por peso ou volume os diferentes
constituintes de cada amassadura;
6. Mistura a seco: criar uma mistura seca homogénea;
7. Mistura húmida: adicionar a água necessária à amassadura e misturar até ficar
homogéneo;
8. Dosagem da mistura: medir por peso ou volume da mistura húmida a colocar na
prensa de modo a obter a densidade pretendida;
30
9. Moldagem: compactar a mistura na prensa;
10. Desmoldagem: remover o bloco da prensa e transporta-lo para o local designado;
11. Cura: varia com a incorporação ou não de estabilizadores e as suas
características.
31
formas de construção em terra com maior potencialidade, para além da condicionante
económica. Sendo a tecnologia utilizada, de fácil aprendizagem, não exigindo grandes
capacidades técnicas, a mãode-obra utilizada não necessita de grande qualificação
para poderem operar, sendo capazes de produzir blocos mais estáveis e resistentes.
Em seguida destacam-se as principais vantagens e desvantagens da utilização da
técnica dos BTC frente às outras técnicas de construção em terra apresentadas.
Vantagens
Prensagem do BTC torna o bloco mais resistente e durável em relação ao
adobe;
Blocos mais pequenos que os de adobe;
Menos desperdícios em relação à produção de adobe;
Podem ser empilhados durante o processo de cura necessitando de menos
espaço para este efeito em relação ao adobe;
Maior aceitação social que o adobe, devido à compactação e à estabilidade
dimensional;
Maior simplicidade na produção e execução de paredes face à taipa;
Elevada estabilidade dimensional dos blocos, tornando a sua aplicação em
obra mais eficiente;
Permite o armamento de paredes e passagem de tubos sem a abertura de
roços (caso de BTC perfurados).
Desvantagens
São mais pesados que os blocos de adobe, dificultando o seu transporte;
A sua produção manual é mais árdua que a produção manual de adobe;
As dimensões dos blocos estão limitadas pelos moldes das prensas
disponíveis;
As arestas dos blocos danificam-se frequentemente em impactos acidentais
aquando da aplicação em obra (como também sucede com os blocos de
adobe).
1.2.8. Maquinaria para prensagem de BTC
Tendo as primeiras experiências, para produção de BTC, sido realizadas na
Europa, no início do século XIX, onde eram utilizados moldes de madeira que eram
preenchidos com solo húmida, comprimido com os pés (Jalali & Eires, 2008; Lopes,
2012: 15), só a partir da década de 50, do século XX, com a invenção da prensa
32
CINVA-RAM (Ver figura 23), pelo colombiano Raul Ramirez, na International American
Housing Center (CINVA), é que a utilização dos BTC’s em termos arquitetónicos se
veio a expressar. Chumbinho, (2017)
33
para a produção, evitando o transporte desnecessário e economicamente
desvantajoso dos blocos (Ver figura 24). Braga, (2011)
34
Figura 25 – Prensa automática
Fonte: https://www.ecomaquinas.com.br
36
Blocos Interligados (Ver figura 29) – por norma, é dispensado o recurso a
argamassas, para a sua união, exigindo moldes sofisticados e pressões mais
elevadas na fase de produção.
38
Alemanha – Em 1944 surgiram as primeiras regras técnicas sobre a construção
em terra (Earth Building Code, 1994), saindo de uso em 1971, dando início ao
documento normativo para a construção em terra “Lehmbau Regeln”, que constitui
ainda hoje um importante regulamento que serve de base a vários outros países. Em
2011 foram criadas draft de três normas em utilização na Alemanha. DIN (DIN 18945
– Blocos de terra: termos, definições, requerimentos e procedimentos de ensaio; DIN
18946 – Argamassas de assentamento de terra: termos, definições, requerimentos e
procedimentos de ensaio; DIN 18947 – Rebocos de terra: termos, definições,
requerimentos e procedimentos de ensaio) (Schroeder et al. 2012), que são definitivas
desde 2013.
Austrália - Em 1952 foi publicado o “Bulletin 5” pela Commonwealth Scientific
and Industrial Research Organization (CSIRO). Este documento apresentou, pela
primeira vez, um teste de erosão acelerada utilizando água pulverizada. Este
regulamento era utilizado, até há relativamente pouco tempo, para projetos de
construção e aplicavase às técnicas de BTC, adobes e taipa. Com a atualização das
técnicas construtivas em 2002, foi publicado o livro “Australian earth building
handbook” (2002).
Espanha - Mais recentemente foi publicada a norma Espanhola UNE 41410
(2008), pela AENOR (Asociaciôn Española de CONSTRUÇÃO COM TERRA 7
Normalizaciõn y certificaciõn), com o título “Bloques de tierra comprimida para muros
y tabiques. Definiciones, especificaciones y métodos de ensayo”. Esta norma foi
definida apenas para BTC e é essencial para o seu estudo e certificação.
Estados Unidos da América – Separado por estados, apenas o estado do Novo
México tem regulamentação estadual, desde 1991, para construção com taipa, adobe
e BTC, designada “New Mexico Earthen Building Materials Code” (2003).
Com o intuito de regulamentar a construção em terra. Existe a RILEM, trata-se
de uma associação criada em 1947 por diretores de vários laboratórios mundiais que
não está associado a nenhum país. Na RILEM é apresentado um procedimento
técnico relativo à forma de ensaiar BTC à compressão, denominando-se TC 164-
EBM:1997 - ”Mécanique de la construction en terre – Mode opératoire pour la
realisasion d’essais de résistance sur blocs de terre comprime”. Cid et al. (2011).
39
CONCLUSÕES PARCIAIS
As pesquisas realizadas e apresentadas neste capítulo demonstram os
principais conceitos da terra como material de construção, o seu surgimento e
também enfatizamos algumas construções icónicas de terra crua a nível mundial,
vimos as técnicas de utilização da terra crua mais utilizados e realçamos o BTC,
como surgiu, suas propriedades, diferentes formatos e como pode ser obtido,
visando dar ênfase ao objectivo e campo de acção, bases estas que nos serão
essenciais ao longo da realização do trabalho. Conheceu-se também a importância
do estudo da terra crua como material de construção, suas propriedades como
material de construção e algumas vantagens e desvantagens, conhecendo um novo
material como forma de utilização da terra crua para construções de pequeno e
médio porte.
40
CAPÍTULO 2 – CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA APLICAÇÃO DO BTC
NO BAIRRO SÃO LUÍS
A pôs feita a fundamentação teórica do tema a desenvolver, o presente
capítulo tem como metas de estudo, diagnosticar e caraterizar a zona em estudo,
apresentação das principais patologias da zona em estudo e suas principais causas,
dificuldade da população devido a falta de uma técnica melhor, estudo das
características climáticas da zona de implementação da proposta, apresentação do
novo material, sua caraterização, técnicas e métodos de execução dos trabalhos
2.1 Situação geográfica do Huambo
A cidade do Huambo, também conhecida como “Nova Lisboa”, localiza-se no
centro de Angola, (Ver figura 31), é limitada a Norte pelo município do Bailundo, a
Este, o município de Tchikala Tcholohanga a Sudoeste e Oeste pelos municípios da
Caála e Ekunha.
41
Caracterização do bairro
O bairro do São Luís situado a sul da cidade do Huambo e a oeste do
aeroporto Albano Machado, limitado ao Norte pelo Bairro da Fátima, à este pelo Bairro
do Santa Ngoti, à sul pelo bairro de Sto. António e o rio Kalopato a oeste pelo bairro
de Kapango urbano.
O bairro do São lúis foi fundado por um velho com o nome de Katimba, natural
do Bié, foi dos primeiros habitantes da zona, tinha a ocupação de “angariador”. Em
1938 trabalhava como empregado do carregador. Primeiramente o Bairro era
chamado Katimba, actualmente S. Luís nome este, por ser o padroeiro da Igreja local
S. Luís Gonzaga. A partir de 1960 deu-se o maior crescimento do bairro.
A área em referência, é um dos bairro do município cede do Huambo, tem
uma densidade populaconal estimada em 41.192 habitantes dado importante para o
cálculo do fluxo de viaturas prova e considera-se um modelo pionério na cidade do
Huambo por pertencer a um projecto de loteamento para a uto construção que
obedece alguns paramentros como arruamentos que não são viviveis em outras áreas
de crescimeno da cidade
A figura 32 apresenta a localização geográfica da zona em estudo.
42
Análise do sítio
O local escolhido para implantação da proposta de implementação localizase
em uma área consolidada do bairro São Luís, próximo de alguns equipamentos de
referências que facilitam a sua localização, como o posto de abastecimento de
combustível e o supermercado Shoprite. (Ver figura 33)
43
Fonte: Manual de Angola (Editado pelo autor).
44
Figura 36 - Diagrama de precipitações do Huambo
Fonte: https://pt.climate-data.org/africa/angola/huambo/huambo-3482/
45
Com ajuda da carta solar da cidade, foi possível a fazer a simulação da
incidência solar nas fachadas no terreno. A carta solar da fachada noroeste,(Ver
Figura 2.14) demostra que a mesma sofre maiores períodos de exposição a incidência
solar no período de 22 de Dezembro a 22 de Junho nos horários de 6:00 as 13:00
aproximadamente. A fachada situada a face nordeste apresenta maior período de
exposição solar no período de 22 de Junho a 22 de Dezembro nos horários de 11:00
as 15:30 aproximadamente (Ver figura 38).
a) b)
A fachada sudeste (Ver figura 38) demonstra que o maior período de insolação
é em 21 de Janeiro a 22 de Junho nos horários de 8:00 as 14:00 aproximadamente.
46
Por fim a fachada sudoeste (Ver figura 39) fica exposta aincidência solar no período
de 22 de Junho a 22 de Dezembro nos horários de 11:15 até as 13:00
aproximadamente, sendo a fachada menos exposta a irradiação solar em todos os
períodos do ano.
a) b)
Figura 39 - a) Fachada Sudeste. b) Fachada Sudoeste
Fonte: Sol Ar (Editado pelo autor)
47
deverão ser corrigidas, de modo a garantir uma melhor resistência às diversas acções
a que estão sujeitas.
Beirais
Uma construção de qualidade exige antes de mais um suporte eficaz e
duradouro. Graças aos deficientes processos construtivos, muitas das habitações em
terra acabam por sofrer de patologias associadas essencialmente à existência de
água (Ver figura 36). A água, combinada com o vento pode funcionar como um agente
erosivo de grande relevância das superfícies expostas ao meio exterior, assim como
a ascensão de água por capilaridade que arrasta sais prejudiciais à qualidade dos
adobes.
De facto, a observação de uma grande parte das habitações existentes no
perímetro da localidade permitiu concluir que a existência dos beirais curtos constitui
um ponto de fragilidade destas construções. (Ver figura 40)
(a) (b)
Figura 40 - Patologias devido á água: a= Erosão da base das paredes. b) Fenómeno de capilaridade
Fonte: Autor da presente investigação, 2019
48
Figura 41 - Comprimento mínimo do beiral (Morales et al., 1993)
Fonte: Carvalho, (2008)
A ascensão da água por capilaridade é também um fenómeno comum em
paredes de terra crua, bastante visível nas construções no bairro de São Luís. A sua
ocorrência está na origem de inúmeras patologias que podem ser mais gravosas
quando acompanhada pelo transporte de sais. A ascensão capilar com transporte de
sais contribui para o aumento das cavidades no interior do material e está na origem
de lacunas superiores até ao nível onde se verifica a ascensão da água. A expansão
e retracção dos sais arrastados pela água geram tensões no interior do material que
levam à sua fissuração.
Linteis com vãos excessivos
Outro problema comum das habitações existentes no bairro é a existência de
linteis com vãos de elevado comprimento e entregas insuficientes, permitindo a longo
prazo a formação de flechas exageradas (Ver figura 42).
49
Quando o material (madeira) não tem dimensão suficiente, a transferência de
carga do lintel para a alvenaria de adobe aproxima-se a uma carga pontual. De facto,
este material não está preparado para receber cargas deste tipo, acabando por entrar
em rotura (Ver figura 43).
Retracção
O fenómeno da retracção é muito comum nas construções em terra. A sua
ocorrência origina inúmeras patologias como fissuras, destacamento da camada de
reboco, separação dos elementos estruturais, entre outras. De facto, todas as
construções em terra crua na localidade apresentam patologias que advém deste
fenómeno. A retracção pode surgir quer nos adobes, quer na argamassa das juntas
ou mesmo no reboco. Quando ocorre após o assentamento dos adobes, aparecem
brechas nas paredes que facilitam a penetração da humidade, promovendo a fixação
de algumas espécies de plantas e fungos que lentamente degradam a estrutura (Ver
figura 44).
50
Figura 44 - Separação entre os adobes devido à retração da argamassa
Fonte: Autor da presente investigação, 2019
51
Embora não possa ser considerada uma patologia, a escolha inadequada da
cobertura pode dar lugar a inúmeros problemas que conferem à construção um
carácter disfuncional e inestético. Utilizada por quase toda a comunidade, o
revestimento adoptado para as coberturas consiste em grandes chapas de zinco
suportadas por barrotes de madeira. De forma a evitar o seu levantamento pela acção
do vento, estas são amarradas com o auxílio de um arame à alvenaria de adobe e
carregadas na face superior com pesos, na grande maioria adobes (Ver figura 46).
(a) (b)
Figura 46 - Soluçãa para evitar o levantamento do revestimento: a) Amaração da cobertura à
alvenaria de adobe. b) Pesos sobre a cobertura
Fonte: Autor da presente investigação, 2019
CONCLUSÕES PARCIAIS
As tarefas realizadas neste capítulo permitiram-nos avaliar entre outros
aspectos o mais importante requerente ao trabalho que são as de casas feitas com
terra crua existente no bairro. A introdução destas técnicas inovadoras, adaptadas às
tecnologias e exigências actuais, podem desfazer preconceitos em relação a este tipo
de construção e promover a utilização destas novas tecnologias no mercado da
construção.
E os estudos feitos através da observação directa do campo pude constatar-se
que o bairro apresenta edificações em estado caótico, facto este, que além de retirar
o valor estético do bairro retira também a comodidade e segurança aos moradores. O
bairro carece de uma intervenção rápida, quanto a implementação de novas técnicas
no processo construtivo, de maneiras a contribuir para a correcção e reparação das
patologias existentes nas edificações do bairro.
52
CAPÍTULO 3 – PROPOSTA PARA IMPLEMENTAR O BLOCO DE TERRA
COMPRIMIDA NO BAIRRO SÃO LUÍS
No âmbito da construção com blocos de terra comprimida BTC vários desafios
sob o ponto de vista arquitetónico, construtivo e estrutural, foram amplamente
estudados. A solução final focou-se numa moradia térrea, com uma geometria em
planta bastante regular (Ver figura 47). Os alinhamentos 1, 2 e 4 são responsáveis
pelas cargas verticais, enquanto o travamento e cargas horizontais são assegurados
pelos alinhamentos 1, 2 e 4 e A, C e D. No topo das paredes é executada um viga-
cinta, neste caso em betão armado, para assegurar a conectividade entre todas as
paredes formando um diafragma. A cobertura é em chapas de zinco formando duas
águas, cujas madres assentam em vigas-freixais diretamente apoiadas nas paredes de
alvenaria dos alinhamentos 1, 2 e 4.
53
Memória Descritiva
A memória em epígrafe é referente a construção de uma edificação residencial
unifamiliar de tipologia T2 evolutiva que fica situada no Bairro do São Luís na província
do Huambo. Implantada em uma área de 243m2, possuindo os seguintes
compartimentos:
54
Construção de fundações em pedra e cimento, com uma altura de não menos
de 20cm acima do nível do terreno e não menos de 30cm abaixo do nível do
terreno e 30 cm de espessura
3. Paredes de BTC
Acabamento das juntas de 1cm, dando uma curvatura para evitar acumulação
de humidade
4. Água e saneamento
5. Rede elétrica.
Calha técnica
1 Tomada na Cozinha.
55
Colocação de 5 janelas (quartos, Cozinha, sala e WC) em metal.
7. Pavimento e revestimento
8. Cobertura
9. Limpeza Geral.
Apos a conclusão do processo supradito deve ser feita uma limpeza interior e
exterior em todo edifício e em torno da sua área de implantação.
Processo Construtivo
Com esse tipo de tijolo e o devido controle de qualidade, é possível se fazer
construções de até três pavimentos com os blocos tendo função estrutural.
1. Locação
De acordo com Barbosa (2003), a locação deve ser feita de maneira tradicional,
sendo que o projeto já tenha previsto dimensões para os ambientes que correspondam
a números inteiros ou inteiros mais metade de tijolos, já que estes não permitem muita
quebra, pode-se apenas dividí-lo ao meio (XAXÁ, 2013).
2. Fundação
O processo construtivo adotado para a edificação unifamiliar no bairro são luís
com esse tipo de tijolo, a fundação é de pedra. Nas paredes internas, no caso de não
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haver pedras suficientes, pode-se fazer uma vala de 30 cm de largura e profundidade
e preenchê-la com a mesma mistura na qual o tijolo foi fabricado, compactando-a
firmemente. As pedras devem ser assentadas com argamassa de cimento. (Ver figura
48)
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49). Como dito anteriormente, as saliências do bloco Mattone permitem pequenos
deslocamentos para correções de nível, linearidade e verticalidade.
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Figura 50 - Colocação das barras de aço para a cobertura
Fonte: Autor da presente investigação, 2019
4. Cobertura
Sobre a cinta de concreto são colocadas barras de aço e cobertura. Pode-se
por mais fiadas de tijolo, caso se deseje um pé-direito mais alto. O telhado pode ser o
tradicional, com telhas cerâmicas tipo canal. Segundo Barbosa (2003), com o intuito de
barateá-lo, estuda-se a implementação de um telhado a base de cimento produzido
pelos próprios moradores. Também é estudada uma cobertura reforçada com fibra se
sisal.
No telhado, deve-se deixar um significativo beiral de pelo menos meio metro,
de forma a proteger o máximo a parede da ação das chuvas.(Ver figura 51)
a) b)
Figura 51 - a) Vista de dentro da cobertura. b) Construção terminada da residência
Fonte: Autor da presente investigação, 2019
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5. Acabamentos e Instalações
O acabamento final das paredes pode ser feito preenchendo-se com uma pasta
de terra peneirada misturada com cimento e água os pequenos orifícios que podem
aparecer entre fiadas. Procedendo-se a uma limpeza correta, nenhum revestimento é
necessário (BARBOSA, 2003). A aparência dos muros ao final do processo é bastante
agradável, não necessitando de pintura (Ver figura 52). Esta fica a critério do morador.
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Figura 53 - Exemplo de uma habitação construída com BTC
Fonte: Autor da presente investigação, 2019
CONCLUSÃO PARCIAL
O presente trabalho consistiu na caracterização das principais propriedades
mecânicas, físicas e de durabilidade de blocos de terra compactada com e sem
estabilização por materiais cimentícios.
Na presente secção resumem-se as principais conclusões referentes à análise
e interpretação dos resultados obtidos ao longo da extensa campanha experimental
efetuada, sobretudo no que se refere às características da terra selecionada, o
comportamento físico e mecânico dos blocos de terra produzidos, as suas principais
propriedades de transporte e o seu desempenho em termos de durabilidade à água.
Finalmente, são apresentadas algumas propostas de desenvolvimento futuro com
vista a consolidar o conhecimento no domínio dos blocos de terra como material de
construção.
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CONCLUSÕES GERAIS
O objetivo inicial deste trabalho, consistia na produção de um conjunto de
BTC’s capazes de assumirem uma boa capacidade resistente, obtida através da
adição de ligantes, e ao mesmo tempo apresentarem um bom comportamento face à
presença exterior de água, se necessário, através da introdução de produtos com
comportamento hidrófugo. Contudo, devido à falta de tempo para a realização de uma
campanha experimental dessa envergadura, compatível com os prazos previstos para
a elaboração da monografia, esta ideia acabou por ser posta de lado, podendo servir
como tema para futuras investigações.
Apesar de ter sido interessante verificar o comportamento que uma porção de
solo, ao ser misturado com uma pequena quantidade de adição e sofrendo uma
prensagem, pode apresentar, em particular derivado do resultado obtido pelos BTC’s
produzidos com cimento, existe a necessidade de melhorar as capacidades e
qualidade dos blocos, onde o problema relacionado com absorção de água se
destaca, juntamente com a fraca capacidade resistente quando se trata da solicitação
por ação de cargas horizontais.
Não se pretende com o exposto, impor a utilização da terra como elemento
prioritário ou único na construção, mas alertar para as qualidades que a mesma
apresenta e que, mesmo apesar de algumas limitações (como qualquer outro
material), poderá ser utilizada em conjunto com os “novos materiais”, conciliando, por
exemplo, a produção de paredes executadas em terra com suportes estruturais em
betão armado.
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RECOMENDAÇÕES
Recomenda-se às autoridades competentes para se fazer uma intervenção
urgente concernente ao processo construtivo no bairro São Luís, por causa da
dificuldade de aplicação, originando inúmeras patologias provocando dificuldades
para os moradores em suas próprias residências.
Recomenda-se as Universidades em particular ao ISPH À divulgação
deste trabalho e de outros trabalhos científicos que enquadram em si formas de
resolução de alguns problemas reais de materiais de construção e construção com
terra crua,
Recomenda também:
A investigação mais profunda e coerente de todos os constituintes e
percentagens de estabilizantes, afim de reforçar as propriedades mecânicas e
resistência do BTC.
Ensaios de resistência termomecânica em regime estacionário em blocos de
terra compactada composto com cal ou cimento separadamente, afim de
verificar o comportamento da cal e do cimento quando elevado a alta
temperatura.
Ensaios mecânicos realizados com o BTC arrefecido após ser submetido a alta
temperatura, com o objetivo de responder a percentagem de perda de
resistência após a construção/parede serem submetidos a um incêndio.
Análise em diferentes temperaturas, verificando o comportamento do BTC
estabilizado com cal ou cimento com o objetivo de verificar o comportamento e
a resistência do BTC após serem arrefecidos.
No caso de execução da proposta, recomenda-se que antes haja uma
intervenção de um engenheiro especialista para que a implementação da técnica seja
eficiente.
Finalmente recomenda-se aos estudantes e pesquisadores, o estudo de outras
tecnologias para produção de materiais de construção, principalmente pela a
quantidade de informações e combinações que podem ser adquiridas de todos os
materiais envolvidos, além do crescimento do método construtivo BTC no âmbito
mundial.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Almeida, L. F. (2015). Caracterização das argamassas da Muralha Tardo-Romana de
Barbosa, N. P., Mattone, R., & Mesbah, A. (2002). Blocos de Concreto de Terra: Uma
opção Interessante para a Sustentabilidade da Construção.
Carvalho, G. N. (2008). Estudo de soluções para uma escola em blocos de terra crua:
Camabatela. Aveiro.
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Diogo. (2017). Ensaios de resistência termomecânica em regime estacionário em
Bloco de Terra Compactada (BTC). Bragança, Portugal.
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ANEXOS
Tabela 6 - Planilha orçamental de uma residência do tipo T2
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