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UNIVERSIDADE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS

INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DO HUAMBO


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E ARQUITECTURA

No. Registo: _________

PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO DE BLOCO DE TERRA


COMPRIMIDA NO BAIRRO SÃO LUÍS

Trabalho de Conclusão do Curso de Engenharia Civil, apresentado por José


Miguel Luís em 2019, orientado pelo Professo MSc. Arq. Ibrahim Hernández
González

HUAMBO, 2019
UNIVERSIDADE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS
INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DO HUAMBO
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E ARQUITECTURA

PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO DE BLOCO DE TERRA


COMPRIMIDA NO BAIRRO SÃO LUÍS

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Departamento de Engenharia
Civil e Arquitectura, do Instituto Superior
Politécnico do Huambo, em cumprimento a
um dos requisitos para a obtenção do título de
Licenciado em Engenharia Civil.

Trabalho de Conclusão do Curso de Engenharia Civil, apresentado por José


Miguel Luís em 2019, orientado pelo Professo MSc. Arq. Ibrahim Hernández
González

HUAMBO, 2019
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha querida mãe Natália Jamba e a minha amada
filha Adelina Cahuma Diogo Luís.
AGRADECIMENTO
 Em primeiro lugar Agradeço a Deus, pelo dom da vida, pela sua graça e pela sua
misericórdia de poder viver mais um dia, pois entendo que tudo quanto acontece é
com a sua permissão então obrigado Senhor por permitires que chegasse até aqui.
 A minha mãe, que me tem proporcionado condições desde os tempos primórdios
para estudar e hoje poder chegar aonde cheguei, obrigado mãe pois sem ti não
seria possível alcançar este grande feito.
 A minha filha, minha princesa, minha força de inspiração isto também é para ti pois
te tornaste a razão do meu viver.
 Aos meus irmãos, Dorito, Chana, Dina, Carlos vocês me motivam e incentivam a
estudar, me ensinando e dando aquela coragem e confiança que iria correr tudo
bem.
 Aos meus amigos, meus camaradas, meus patriotas Binilson, Telmo, Luciano,
Altino, John, Polson, Varandas e Valentim que, começamos esta jornada desde a
idade tenra, aqui vai o meu muito obrigado por tudo quanto têm feito por mim.
 As minhas mães, mãe Delfina, mãe Vitória, mãe Manuela obrigado por tudo, não
tenho palavras para agradecer o que representam pra mim.
 Ao meu primo/irmão mais velho mano Nicó, obrigado pelas repreensões,
orientações, conselhos e direcções que proporcionaste, es e sempre serás um
grande exemplo pra mim.
 As minhas grandes amigas que a vida me deu a honra, o prazer e o previlégio de
conhecer, Nazy, Creusa, Gila e Isamara eu vos levarei pra vida toda.
 Aos meus colegas do curso de Engenharia de construção civil do Instituto Superior
Politécnico do Huambo, pelo companheirismo na formação e na vida.
 Ao Instituto Superior Politécnico do Huambo e aos professores do Departamento
Engenharia Civil e Arquitectura que durante estes anos me orientaram, traçarando
as directrizes para a conclusão deste grau académico se tornasse possível.
ÍNDICE
LISTA DE FIGURAS .................................................................................................... I
LISTA DE TABELAS ................................................................................................. III
LISTAS DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES ................................................................... IV
RESUMO.....................................................................................................................V
ABSTRACT................................................................................................................VI
INTRODUÇÃO.............................................................................................................1
CAPÍTULO 1 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA APLICAÇÃO DE TECNOLOGIAS
DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO ....................... 5
1.1. Análise histórica relacionada a utilização da terra como material de
construção ................................................................................................................... 5
1.1.1. A construção em terra no mundo ................................................................... 8

1.1.2. Técnicas de construção em terra ................................................................. 15


1.2.1. Materiais de construção ............................................................................... 17
1.2.2. Propriedades da terra como material de construção .................................... 17
1.2.3. Patologias associadas à construção em terra .............................................. 20
1.2.4. Técnicas construtivas em terra .................................................................... 22
1.2.5. Caraterização do BTC ................................................................................. 26
1.2.6. Produção de BTC ......................................................................................... 30
1.2.7. Vantagens e desvantagens dos BTC ........................................................... 31
1.2.8. Maquinaria para prensagem de BTC ........................................................... 32
1.2.9. Diferentes tipos de BTC ............................................................................... 35
1.2.10. Normas disponíveis para o uso dos BTC´s .................................................. 37
1.2.11. CONCLUSÕES PARCIAIS............................................................................38

CAPÍTULO 2 - CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA APLICAÇÃO DO BTC NO


BAIRRO SÃO LUÍS ........................................................................... 41
2.1. Situação geográfica do Huambo .................................................................. 41
2.2. Diagnóstico do estado actual da aplicação da terra como material de
construção no bairro São Luís................................................................................... 47
2.2.1. Beirais.... ...................................................................................................... 48
2.2.2. Linteis com vãos excessivos ........................................................................ 49
2.2.3. Retração.......................................................................................................50

2.2.4. Outros problemas - cobertura..........................................................................51


CONCLUSÕES PARCIAIS ....................................................................................... 52
CAPÍTULO 3 - PROPOSTA PARA IMPLEMENTAR O BLOCO DE TERRA
COMPRIMIDA NO BAIRRO SÃO LUÍS..............................................53
3.1. Memória Descritiva....................................................................................... 54
3.2. Processo Construtivo ................................................................................... 56
3.2.1. Locação ........................................................................................................... 56

3.2.2. Fundação ........................................................................................................ 56

3.2.3. Levantamento de paredes................................................................................57

3.2.4. Cobertura ........................................................................................................ 59

3.2.5. Acabamentos e instalações.............................................................................59

3.2.6. Estudo de viabilidade económica e de impacto ambiental ........................... 60


CONCLUSÃO PARCIAL .......................................................................................... 62
CONCLUSÕES GERAIS .......................................................................................... 63
RECOMENDAÇÕES ................................................................................................. 64
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Construção com terra a nivel mundial (Gomes, 2013) ................................ 7
Figura 2 - Diagrama de diferentes familias de sistemas de construção antigo e
moderno, que utilizam a terra como matéria-prima. (Adp: Housben e Guillaud, 1989.
p. 15) ......................................................................................................................... 15
Figura 3 - Grande Muralha da China ........................................................................... 9
Figura 4 - O Templo de Ramsés II, Gourna ................................................................ 9
Figura 5 - Cidade de Shibam, Yêmen ....................................................................... 10
Figura 6 - A Grande Muralha de Djenné, Mali ........................................................... 10
Figura 7 - Cidade de Ghadamés, Libia. ..................................................................... 11
Figura 8 - Pueblo de Taus, Novo Mexico (E.U.A)...................................................... 11
Figura 9 –a) Escola do Ensino primário e Secundário. b) Centro de Saúde ............. 13
Figura 10 - Jango Administrativo da Aldeia Camela Amões ..................................... 14
Figura 11 - Casas do Tipo T2 no Projecto Quissala .................................................. 14
Figura 12 - a) Taipal e pilão tradicional. b) construção em taipa moderna ................ 22
Figura 13 - Exemplos de construção com Taipa: a) Novo edifício da empresa Ricola,
Suiça 2012. b) Parede de taipa em construção. c) Piscina coberta com paredes
exteriores em taipa a vista, Espanaha 2017 ............................................................. 23
Figura 14 - Moldagem de blocos de adobe (Picorelli, 2011) ..................................... 24
Figura 15 - Construção de paredes em adobe, sobre uma fundação em tijolos
cerâmicos .................................................................................................................. 24
Figura 16 - Edifício de três andares, construído com BTC, em Auroville .................. 25
Figura 17 - Casa de BTC localizada no bairro São Luís ........................................... 25
Figura 18 - Composição do BTC ............................................................................... 26
Figura 19 - Exemplo de um traço 1:12 para obtenção de BTC ................................. 28
Figura 20 - Equipamento e material na produção de BTC: a) Pulverizador mecânico
de pás. b) Peneira com 4mm de abertura. c) Terra após pulverização e peneiração
.................................................................................................................................. 31
Figura 21 - Represantação do processo de preparação do solo e produção de BTC´s
.................................................................................................................................. 31
Figura 22 - Primeira prensa manual CINVA-RAM ..................................................... 33
Figura 23 - Exemplo de blocos sólidos ...................................................................... 35
Figura 24 - Exemplo de blocos ocos ......................................................................... 36
Figura 25 - Exemplo de blocos perfurados ................................................................ 36
I
Figura 26 - Exemplo de blocos interligados .............................................................. 37
Figura 27 - Exemplo de blocos parisísmicos ............................................................. 37
Figura 28 - Macro e micro localização da província do Huambo ............................... 41
Figura 29 - Apresentação da zona em estudo........................................................... 42
Figura 33 - Ventos predominantes na cidade do Huambo ........................................ 44
Figura 34 - Diagrama de precipitações do Huambo .................................................. 45
Figura 35 - Diagrama de temperatura do Huambo .................................................... 45
Figura 36 - a) Fachada Noroeste. b) Fachada Nordeste ........................................... 46
Figura 37 - a) Fachada Sudeste. b) Fachada Sudoeste ............................................ 47
Figura 38 - Patologias devido á água: a= Erosão da base das paredes. b) Fenómeno
de capilaridade .......................................................................................................... 48
Figura 39 - Comprimento mínimo do beiral (Morales et al., 1993) ............................ 49
Figura 40 - Padieira deformada devido ao comprimento excessivo do vão .............. 49
Figura 41 - Rotura do material originado por entregas insuficiêntes ......................... 50
Figura 42 - Separação entre os adobes devido à retração da argamassa ................ 51
Figura 43 - Destacamento do reboco ........................................................................ 51
Figura 44 - Soluçãa para evitar o levantamento do revestimento: a) Amaração da
cobertura à alvenaria de adobe. b) Pesos sobre a cobertura .................................... 52
Figura 47 - Levantamento de paredes ...................................................................... 58
Figura 48 - Colocação das barras de aço para a cobertura ...................................... 59
Figura 49 - a) Vista de dentro da cobertura. b) Construção terminada da residência
.................................................................................................................................. 59
Figura 50 - Residência com acabamentos e instalações .......................................... 60
Figura 51 - Exemplo de uma habitação construída com BTC ................................... 62

II
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Resumo do diagrama anterior dividido pelas 3 grandes familias e tipo de
construção ................................................................................................................. 15
Tabela 2 - Vantagens da construção em terra, divididas segundo diferentes níveis . 18
Tabela 3 - Diferentes tipos de Estabilizadores .......................................................... 29
Tabela 4 - Designação dos compartimentos e suas áreas ........................................ 54

III
LISTAS DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES
BTC – Blocos de terra comprimida
CEB – Compressed Earth Block
CINVA-Ram - Compressed Earth Block Machine
UNCHS – United Nations Center for Human Settlements
CRATerre – International Centre on Earthen Architecture (Centre de Recherche
d’Architecture de Terre)
LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil
a.C. – Antes de cristo
d.C. – Depois de Cristo
Unesco – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
(Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura)
ONG – Organização não governamental
DW – Development Workshop
NBR – Norma Brasileira
AENOR – Asociaciôn Española de Normalizaciõn y certificaciõn
CSIRO – Commonwealth Scientific and Industrial Research Organization

IV
RESUMO
Entre os materiais benéficos aos seres humanos tem-se a terra crua que os
acompanha desde os primórdios da humanidade. A construção com terra, largamente
utilizada por nossos antepassados, é uma manifestação marcante do uso de recursos
naturais abundantes na convivência do Homem com a Natureza. Actualmente, o uso
da terra crua é visto pra muitos na nossa população actual como um material de
construção que pode ser distinguido de dois modos: a sobrevivência dos sistemas
construtivos antigos, preservados pela carência em que vivem algumas populações;
ou por falta de condições para construir uma casa de tijolo ou de bloco de cimento que
são geralmente os materiais de construção mais utilizados, ou seja, porque são
caracterizados pela simplicidade, eficácia e baixo custo. O bloco de terra comprimida
é uma das possibilidades do uso da terra para a produção de edificações. A mistura
da terra e cimento, devidamente dosada e compactada, adquire resistência e
apresenta durabilidade compatíveis com os critérios necessários para a construção
de edificações Este trabalho tem como objectivo mostrar a aplicação da técnica solo-
cimento conhecida como BTC – Blocos de terra comprimida, conhecendo as suas
carterísticas, composição, propriedades, vantagens e desvantagens e também
elaborar propostas de implementação nas construções, tendo em conta as
particularidades que o mesmo apresenta. Pretende-se também apresentar de forma
genérica, a problemática que envolve as patologias das construções em terra crua e
fazer propostas de implementação de um novo material
Palavras–chave: Terra Crua, Materiais de construção, Bloco de Terra Comprimida

V
ABSTRACT
Among the materials beneficial to humans is the raw earth that has
accompanied them since the dawn of humanity. The construction with earth, widely
used by our ancestors, is a striking manifestation of the use of abundant natural
resources in the coexistence of man with nature. Today, the use of raw land is seen
by many in our current population as a building material that can be distinguished in
two ways: the survival of ancient building systems, preserved by the shortage of some
populations; or for lack of conditions to build a brick or concrete block house which are
generally the most widely used building materials, ie because they are characterized
by simplicity, effectiveness and low cost. The compressed earth block is one of the
possibilities of land use for the production of buildings. Properly dosed and compacted
mix of earth and cement acquires strength and durability compatible with the criteria
required for the construction of buildings. its characteristics, composition, properties,
advantages and disadvantages and also elaborate implementation proposals in the
constructions, taking into account the particularities that it presents. It is also intended
to present in general, the problem that involves the pathologies of raw earth
constructions and make proposals for the implementation of new material.
Keywords: Raw Earth, Building Materials, Compressed Earth Block

VI
INTRODUÇÃO
A terra é utilizada como material de construção desde os primórdios da
humanidade. A necessidade do Homem em se proteger do ambiente levou o mesmo
a procurar abrigos naturais, como grutas, e futuramente a construir abrigos próprios
com elementos como a terra, palha, madeira, fibras naturais, pedra, entre outros.
Estima-se que cerca de 30 a 50% da população mundial vive em habitações de terra.
A maior expressão da construção em terra encontra-se nos países em
desenvolvimento (Continente Africano, América Central, Médio Oriente). Falção,
(2014).
Em Angola, nos tempos recentes tem se vividos tempos difíceis causados pela
crise económica, e a possibilidade de se construir uma casa própria tem se tornado
cada vez mais difícil. A província do Huambo vem tendo um crescimento populacional,
que instiga o surgimento de novas zonas habitacionais e a criação subsequente de
condições para habitabilidade humana. Julieta, (2018). O bloco de terra comprimida
ou mais conhecido como tijolo ecológico, é um tijolo composto por solo (areia argilosa)
normalmente estabilizado com um pouco de cimento ou cal e comprimido em prensas
mecânicas.
Os BTC podem ser considerados como sendo a evolução dos blocos de adobe
devido à compactação do material durante a sua produção. Para além da melhoria
das propriedades mecânicas e de durabilidade face ao adobe, a compactação do
material confere a eles uma elevada estabilidade dimensional, um acabamento liso e
a possibilidade de aplicação em obra, sem necessidade de revestimento. Eles têm
ainda a vantagem de poderem ser transportados e empilhados no seu estado fresco
(imediatamente após a desmoldagem), pelo que ocupam menor espaço de
armazenagem que o adobe. Ribeiro, (2016)
A razão pela qual se optou falar sobre os blocos de terra comprimida é porque
são uma das possibilidades de uso da terra como material de construção muito viável,
duradoura, proporciona conforto pois possuem isolamento acústico e têrmico. A
mistura de solo e cimento devidamente dosada e compactada, adquire resistência e
apresenta uma durabilidade aceitável para os critérios necessários para uma
construção de uma edificação e o bairro São Luis necessita de uma técnica que
apresenta as potencialidade que esta apresenta pois as edificações existentes
apresentam muitas patologias que estão relacionadas com o mau emprego da técnica
de construção e também da mão de obra ser pouco especializada. Trata-se também
1
de tirar partido do material local existente em abundância na localidade, a terra,
aproveitando uma técnica que já existe desde os tempos remotos, evitando a
recorrência à materiais de carácter industrial, como matéria-prima base. Além do
objectivo de contribuir para o desaceleramento do processo de descaracterização do
património em terra aqui na provincial do Huambo, propriamente no bairro São Luís e
procura-se também, apontar caminhos para a utilização do material local, através da
aplicação de uma nova tecnologia pouco encarecedora no processo construtivo.
Em correspondência com a situação actual sobre das edificações existentes no
Bairro do São Luís, identificam-se os seguintes aspectos que conformam na situação
problemática: o bairro São Luís embora esteja ordenado quanto ao urbanismo, tem
a maioria das residências em mal estado técnico. As construções de adobe são
empíricas e apresentam muitas patologias que contribuem para a deterioração
acentuada no material de construção.
Desta situação manifestam-se as seguintes insuficiências:
 Insuficiente espaço nos beirais das coberturas.
 Limitação na concepção dos linteis das portas e janelas.
 Má emprego do adobe como material de construção.
Tendo em conta esta situação definiu-se como problema de investigação: como
contribuir para o melhoraramento do estado precário e degradado das edificações
existentes no Bairro São Luís?
O problema exposto emoldura-se como objecto de estudo: processo de
caracterização dos materiais de construção das edificações existentes no bairro São
Luís. E tem como campo de acção: aplicação de tecnologias de produção de
materiais de construção de baixo custo em edificações.
Para resolver o problema científico, propõe-se o seguinte objectivo: propôr à
aplicação dos blocos de terra comprimida (BTC) como tecnologia de produção de
materiais de construção de baixo custo em edificações para sua utilização como
material de construção, a partir de sua caracterização na solução eficaz em
construções de pequeno e médio porte.
Para o cumprimrnto do objectivo e solucionar o problema identificado, se
propõe as seguintes tarefas específicas:
1. Fazer análise histórica relacionada a utilização da terra como material de
construção.

2
2. Fazer fundamentação teórica sobre as tecnicas a utilizar na terra como material
de construção.
3. Diagnosticar o estado actual do processo de aplicação dos materiais de terra
crua nas edificações existentes no bairro São Luís.
4. Elaborar propostas de implementação do BTC na construção no bairro São
Luís.
5. Propôr a valorização da viabilidade económica e de impácto ambiental da
proposta
Com este trabalho espera-se melhorias na utilização da terra como material de
construção, propriamente do BTC, diminuição de patologias nas edificações e
aumento na qualidade do material a ser utilizado garantindo resistência e durabilidade.
Com a ideia a defender, a proposta de caracterização do material para solução
dos problemas encontrados no bairro São Luís visa apresentar uma alternativa de
utilização da terra crua como material de construção, de maneira a contribuir para
melhorar a resistência e durabilidade das edificações existentes no bairro São Luís.
Para o desenvolvimento das tarefas se aplicarão os seguintes métodos de
investigação:
Métodos de nível teórico
 Analise-Síntese: Serviu para fazer avaliação e processamento da informação
sobre o desenvolvimento de trabálhos teóricos já desenvolvidos que tenham
relação com construção em terra crua e de Blocos de Terra Comprimida BTC,
a fim de evitar duplicidade.
 Histórico-Lógico: Concebido para fazer a fundamentação teórica e análise
histórica sobre a construção com terra crua, técnicas desenvolvidas e o
surgimento da construções com blocos de terra comprimida BTC.
 Indutivo-Dedutivo: Utilizado para a dedução de problemáticas existentes e
selecionar os critérios de selecção da qualidade dos materiais a utilizar, a partir
de analise e critério de para implementação no bairro São Luís.
Método de nível empírico
 Observação: Usada para para a busca de dados no local, como limites,
interferências naturais, vegetação, construções, ventos e orientação solar e
também para que a ausência de informação sobre construções antecedentes
possa ser estudado com o mesmo enfoque.

3
 Análise bibliográfica: Foi utilizada para consultar e analisar bibliografias
referentes a construção com terra crua e tecnologias utilizadas.
 Análise Documental: Concebida para uma resenha histórica sobre o tema
como resultado da busca bibliográfica feita através de análises e síntese de
documentos e bibliografias existentes quanto a história de construção com terra
e das técnicas se utilizam para blocos feitos com terra.
Resultados alcansados: Espera-se do trabalho apresentação de um diagnóstico
detalhado das características da zona, do bairro São Luís e das tecnologias para a
produção de materiail de construção de baixo custo para as residências existentes na
localidade.
O trabalho se estrutura em três capítulos, os quais proporcionam a lógica
coerente da investigação:
No primeiro capítulo apresenta-se a caracterização histórica e a
fundamentação teórica e metodológica que sustentam a investigação, fazendo ênfase
nos antecedentes e situação actual da temática, assim como opiniões de especialistas
conhecedores do tema e possíveis recomendações do autor para obter o objectivo e
dar solução a problemática exposta.
No segundo capítulo se apresenta o diagnóstico do estado actual do campo
de acção, se apresenta a descrição do contexto onde se realizou a investigação,
população, amostra selecionada, suas características bem como das patologias
encontradas nas construções locais.(A proposta também forma parte deste capítulo)
No terceiro capítulo tratam-se dos resultados obtidos da implementação dos
métodos científicos e empíricos durante a investigação, assim como dar resposta ao
objectivo geral, tarefas científicas e verificação da hipótese científica exposta, tendo
em conta o objecto de estudo e campo de acção.

4
CAPÍTULO 1 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA APLICAÇÃO DE TECNOLOGIAS
DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
Neste capítulo apresenta-se uma resenha histórica sobre o tema como
resultado da busca bibliográfica feita através de análises e síntese de documentos e
bibliografias existentes quanto a história de construção com terra e das técnicas se
utilizam para blocos feitos com terra.
1.1 Análise histórica relacionada a utilização da terra como material de
construção
A análise histórica se realizou-se a partir das seguintes espéctos:
1. Surgimento da construção em terra
2. Concepção das construções em terra a nivel mundial
3. Técnicas de construção em terra que mais utilizam-se
Desde há milhares de anos que a terra é utilizada como material construtivo em
várias civilizações e por todo o mundo. Muitas técnicas diferentes foram sendo
desenvolvidas consoante a localização geográfica, as disponibilidades de materiais,
equipamentos e mão-de-obra, e as condições meteorológicas existentes em cada
local.
A terra é uma matéria-prima presente em abundância na envolvente do local
de construção e que está disponível para ser utilizada como material de construção.
A sua utilização evita consumos energéticos elevados de produção, emissões de
carbono e gastos com transporte significativos, pelo que a construção em terra poderá
ser classificada como ambientalmente sustentável. Por outro lado, as construções
com terra apresentam ainda grandes vantagens no que respeita a conforto
higrotérmico e acústico. Gomes, (2015), a citar (Faria et al., 2014).
Não é consensual a data em que o homem começou a utilizar a terra na
construção. Minke (2006) refere que deve ter sido há mais de 9.000 anos, estribando
essa convicção na descoberta de habitações no actual Turquemenistão à base de
blocos de terra (adobe) datadas de um período entre 8.000 a 6.000 a.C. Já Pollock
(1999) afirma que a utilização da terra para construção remonta ao período de El-
Obeid na Mesopotâmia (5.000 a 4.000 a.C.). Por outro lado, Berge (2009) refere que
datam de 7.500 a.C os exemplares mais antigos de blocos de adobe, os quais foram
descobertos na bacia do rio Tigres, pelo que na sua opinião as habitações em terra
poderão ter começado a ser usadas há mais de 10.000 anos. Jalali, (2003)

5
Não parece, contudo, ser muito relevante (no que ao presente trabalho
respeita), saber se a construção em terra se iniciou há mais de 9.000 ou há mais de
10.000 anos. Porém, vale referir que a construção em terra tenha tido o seu início
juntamente com o início das primeiras sociedades agrícolas num período cujos
conhecimentos actuais remontam entre 12.000 á 7.000 a.C. que consequentemente
originaram a sedentarização da espécie, até então nómada. Jalali, (2003).
A construção em terra foi caindo em desuso a partir do início do século XX, nos
países mais desenvolvidos, com o aparecimento de técnicas e materiais mais
modernos. Assim, o saber, que era transmitido entre gerações, foi também
desaparecendo. A construção em terra começou a manter-se nos países em
desenvolvimento, geralmente associado à escassez de recursos económicos e
financeiros das populações. Gomes, (2015).
No entanto, com o fim do século XX, com os problemas energéticos, ambientais,
ecológicos e económicos que afetaram os países desenvolvidos, houve uma
crescente sensibilização para as vantagens competitivas da construção em terra em
relação à construção corrente, pelo que surgiu uma renovada atenção sobre a terra
como material construtivo e as técnicas utilizadas tradicionalmente.
Em Angola os métodos construtivos refletem um sistema de transição, aliando
o artesanal e o moderno.
A construção com terra é uma arte construtiva que conceitualmente emprega o
solo sem queima como material fundamental do processo construtivo. A terra é
denominada em termos técnicos de solo, que é entendido como o produto da
decomposição de rochas, elementos minerais, orgânicos e inorgânicos. Também é
comum denominar onde a utilização da maioria dos elementos construtivos são de
terra crua, como arquitectura de terra ou vernacular. Diogo, (2016)
O esforço reduzido, a excelente capacidade de conforto térmico e acústico, o
grande potencial de reciclagem, a grande disponibilidade e produção zero de lixo e
poluentes, fazem com que as construções com terra crua sejam vistas como uma das
alternativas mais coerentes e viáveis para minimização dos impactos indesejáveis da
construção no meio ambiente e nas pessoas usufruem dos espações construídos.
Porém, têm sido identificados diversos problemas no desenvolvimento da
construção em terra, principalmente associados à falta de mão-de-obra qualificada,
consequência da tendência de desaparecimento das técnicas, ausência de formação
de técnicos de construção em terra e ainda por este tipo de construção aparecer
6
associada a desconforto e a pessoas com baixos recursos económicos para possuir
uma habitação construída com os materiais correntes. Gomes, (2015)
Atualmente, de acordo com as estatísticas da UNCHS (United Nations Center
for Human Settlements), verifica-se que o número de pessoas que vivem em
habitações edificadas que recorrem a técnicas de construção em terra continua sendo
bastante significativa, sendo que 40% da população mundial vive em habitações de
terra. Diogo, (2017) a citar (Aurovile Earth Institute, 2014). A construção em terra é
cada vez mais reconhecida e aceite por parte das comunidades, que se regem
segundo uma construção sustentável, sendo esta um tipo de construção cada vez
mais procurada. Chumbinho, (2017).
Estima-se que, nos nossos dias, aproximadamente 3 biliões de pessoas, vivam
em edifícios construídos em terra segundo diferentes técnicas (Ver figura 1), indo
desde modestas casas a palácios, igrejas ou castelos. Apesar de nos países
desenvolvidos, a terra ser vista como um material ligado à pobreza e este tipo de
construção ter caído em desuso no decorrer do século passado, resultado do
aparecimento das construções em tijolo cozido e betão armado, a arquitetura em terra
continua a ser uma forma de construção popular e por vezes a única viável,
principalmente em países em desenvolvimento. Chumbinho, (2017), a citar, Jalali &
Eires, 2008; Silva, et al., (2014).

Figura 1 - Construção com terra a nivel mundial


Fonte: Diogo, (2017)

7
A variabilidade da técnica da construção em terra é diferente de região para
região, associada ao uso de solo local, que naturalmente possui características
próprias, no entanto existem na generalidade de todas as técnicas dois constituintes
fundamentais: terra e água. Diogo, (2017)
1.1.1 A construção em terra no mundo
A construção em terra é, para além da técnica construtiva mais antiga e mais
amplamente utilizada pelo Homem em todo o Mundo, um tema da actualidade. Com
o advento de outros materiais construtivos mais competitivos (betão armado, alvenaria
de tijolo e outros), os materiais e técnicas ditos tradicionais/rústicos deixaram
praticamente de ser utilizados, sendo a sua sobrevivência por razões arquitectónicas
dependente dos melhoramentos de que possam vir a ser alvo. Isto não obstante os
problemas técnicos levantados pelos novos materiais, nomeadamente em termos de
desconhecimento de processos de manutenção e de restauro, ventilação e
condicionamento do ar, iluminação e isolamento térmico e acústico. Flores, (2003)
São inúmeros os casos de construções em terra, que executadas há alguns
milhares de anos conseguiram chegar ao século XXI. O Templo de Ramsés II em
Gourna (figura 4), construído em adobe há 3.200 anos é um deles. Também a Grande
Muralha da China (figura 3), cuja construção se iniciou há aproximadamente 3.000
anos apresenta trechos bastante extensos construídos em taipa. Importante também
ter presente que muitos trechos que inicialmente foram construídos em taipa só mais
tarde que foram revestidos com alvenaria de pedra. XAXÁ, (2013).
Grande Muralha da China, China (Ásia) – Início da construção há
aproximadamente 3.000 anos atrás, durante a Dinastia Ming, onde os muros
apresentam uma altura média de 7,5m e uma extensão de 21 196 km. As
características construtivas da Muralha da China, variam de acordo com a região e o
material disponível, apresentando troços bastante extensos construídos em taipa
apiloada, só mais tarde revestidos com alvenaria de pedra (Ver figura 2). Classificada
Património Mundial segundo a Unesco, em 1987.

8
Figura 2 - Grande Muralha da China
Fonte: (http://arquitecturasdeterra.blogspot.com/2010/03/grande-muralha-da-chinataipa.html)

O Templo de Ramsés II, Gourna (Egipto) - teria sido construído entre 1284-
1264 a.c. no sul do Egito, e esteve coberto pela areia durante milênios até ser
redescoberto em 1813. Esta construção penetra profundamente na encosta de arenito,
que é “vigiada” por quatro impressionantes estátuas de faraós (Ver figura 3).

Figura 3 - O Templo de Ramsés II, Gourna


Fonte: XAXÁ, (2013)

Cidade de Shibam, Iêmen (Ásia) - Arquitetura realizada em adobe, onde as


casas originárias datam ao século XVI, formando a maioria da cidade. Atualmente
habitada, a cidade possui torres com 5 a 11 andares, tendo os edifícios mais altos do
mundo construídos em terra, alguns com mais de 30 metros de altura (Ver figura 4).
Classificada Património Mundial segundo a Unesco, em 1982.

9
Figura 4 - Cidade de Shibam, Iêmen
Fonte: Chumbinho, (2017)

A Grande Mesquita de Djenné, Mali (África) é o maior edifício em adobe do


mundo, e é considerada por muitos arquitetos como a maior realização do estilo
Sudano-Saheliano, embora tenha muitas influências islâmicas. Localiza-se na cidade
de Djenné, no Mali, a qual foi declarada como patrimônio mundial pela Unesco em
1988. Foi construída em 1280 por Koy Konboro, o 26º rei de Djenné, no lugar do seu
antigo palácio. (Ver figura 5)

Figura 5 - A Grande Muralha de Djenné, Mali


Fonte: (http://sou-cesar.blogspot.com/2017/04/grande-mesquita-de-djenne.html)

Ghadamés, Líbia (África) – Arquitetura realizada em adobe coberto com argila,


com mais de 6.000 anos. Atualmente a cidade ainda é habitada, mesmo após a
construção de novas habitações com instalações de água corrente e esgotos, fora da
zona histórica. Classificada Património Mundial segundo a Unesco, em 1986. (Ver
figura 6)

10
Figura 6 - Cidade de Ghadamés, Libia.
Fonte: Chumbinho, (2017)

Pueblo de Taos, Novo México (E.U.A) - Arquitetura realizada em adobe,


reforçado com fibras vegetais e coberto com argila, erguido entre 1.000 e 1.500 d.C.
Atualmente o povoado ainda é habitado, pelos descendentes dos antigos povos
nativos americanos responsáveis pela construção da cidade, possuindo edifícios com
2 ou mais pisos (Ver figura 7). Classificado Património Mundial segundo a Unesco,
em 1992.

Figura 7 - Pueblo de Taus, Novo Mexico (E.U.A)


Fonte: (https://www.visiteosusa.com.br/destination/taos)

A Unesco classificou como património mundial alguns conjuntos arquitetônicos


construídos em terra como as ruínas da cidade de Chanchán no Peru (Séc. XV), a
aldeia de Ait-Bem-Haddou em Marrocos (Séc. XVII), a Mesquita de Djenné no Mali e
a cidade de Shiban no Iêmen Unesco, (2014). A Mesquita de Djenné é considerada
uma das construções mais icónicas do continente Africano, reconstruída em adobe no
ano 1906. O adobe é revestido com um reboco de terra e tem cerca de 5600 m2 com
11
a sua torre principal a atingir os 16 metros de altura. A cidade de Shiban é uma cidade
habitada atualmente com a maioria dos edifícios construídos no Séc. XVI. A cidade é
composta por edifícios com cerca de 5 a 11 andares, havendo inclusivamente um
minarete que tem 38m de altura. Estes são construídos com paredes exteriores em
adobe cuja espessura se estreita gradualmente nos andares superiores para aligeirar
o seu peso e melhorar a estabilidade. Silva, (2015)
Alguns casos de construções em terra em Angola
Sendo Angola um país de excelentes condições para utilização da construção
em terra crua, pelo seu clima e pela abundante matéria prima, considera-se que a
introdução desta técnica inovadora pode desfazer preconceitos em relação a este tipo
de construção e promover a utilização desta nova tecnologia no mercado da
construção. Xavier, (2016)
Em Angola as construções em terra são remotas. Falando do adobe esta
técnica entra em Angola no período colonial que durou mais de quatro séculos.
É uma técnica que foi implementada pelos portugueses, assim que emigraram
em Angola havia a necessidade de se construir moradias, estabelicimentos comerciais,
sociais, religiosos e outros. Para tal, o material disponível era a terra.
Antes de os portugueses entrarem em Angola, as construções eram feitas de
pau-a-piqui combinados com argila. Podemos então dizer que o emprego da terra
como material construtivo é tão antigo quanto o aparecimento dos primeiros homens
na região de Angola.
Neste período de colonização foram construídas muitas edificações a base de
terra crua (adobe), destacando algumas sedes provínciais, municipais e algumas
missões religiosas. Ainda hoje os vestígios são notórios por todo o território nacional,
principalmente nas zonas rurais que ainda continua sendo o material fundamental
para as edificações de moradias, pelo seu baixo custo e facilidade no seu uso,
principalmente nas províncias no intererior de Angola. Diogo, (2016)
No ano 1997 começaram em Angola atividades de formação para a construção
com materiais locais e introduziu-se a técnica que utiliza o Bloco de Terra Comprimida
(BTC), no âmbito da formação profissional. Esta matéria foi direcionada aos projectos
de desenvolvimento social sob responsabilidade da organização de nome Caritas,
pertencente a uma diocese na província do Kuanza Sul, e com os primeiros técnicos
capacitados, a técnica foi-se estendendo a outras organizações. Ganduglia, (2012)

12
É na província do Kuanza Sul, nos municípios da Gabela e Quibala, onde se
encontram a maior parte dos projectos desenvolvidos segundo esta técnica,
predominando os equipamentos educativos, escolas, salas de aulas, e os centros de
saúde (Ver figura 8). As habitações nesta fase constituem respostas pontuais das
congregações religiosas. Ganduglia, (2012)

a) b)
Figura 8 –a) Escola do Ensino primário e Secundário. b) Centro de Saúde
Fonte: Ganduglia, (2012)

No Moxico, na cidade de Luena e outros pontos da Província, a técnica do BTC


foi impulsionada e desenvolvida pelos Salesianos de Dom Bosco, respondendo ao
tipo de necessidade referenciadas anteriormente.
Construção em Terra no Huambo
Aqui na província do Huambo existem dois projectos que fazem construção
com terra, com vista a fazerem construções sustentáveis.
O Projecto Aldeia Camela Amões
O Projecto Aldeia Camela Amões, localizada no município do Cachiungo,
província do Huambo, tem como objectivo reformar 40 mil hectares em áreas de
habitação, lazer, ensino, saúde e campos de produção agrícola, florestal, pecuária,
zona industrial, ecoturismo e reserva de animais selvagens da província. Mas, para
sustentabilidade do projecto, a meta é construir, até 2025, duas mil e 500 casas sociais,
de modos a evitar o êxodo populacional. (Ver figura 9)

13
Figura 9 - Jango Administrativo da Aldeia Camela Amões
Fonte: Autor da presente investigação, 2019

Projecto Quissala (Empresa Habiterra)


A empresa Habitação & Terras-Construções Lda, (Habiterra) é um
empreendimento social constituída em Março de 2014, como empresa do ramo de
Construção Civil e imobiliária, dedicando-se a criação e implementação de projectos
urbanos, e a construção e comercialização de bens imoveis.
Fruto do projecto piloto de Habitações sociais levado a cabo na Província do
Huambo pela ONG Developmente Workshop (DW) desde 2012, a Habiterra foi
concebida para dar resposta à enorme procura de habitações condignas e talhões a
preços acessíveis.(Ver figura 10)

Figura 10 - Casas do Tipo T2 no Projecto Quissala


Fonte: Autor da presente investigação, 2019

14
1.1.1 Técnicas de construção em terra
Desde 1979, que em França existe um organismo, o Grupo CRATerre (Centre
de Recherche d'Architecture de Terre), que tem como campo de ação a investigação
na área da construção em terra e o desenvolvimento sustentável sendo o mesmo
reconhecido como uma referência incontornável a nível internacional, impulsionando
o avanço no campo da investigação e desenvolvimento de novas tecnologias, com o
intuito de melhorar a durabilidade e qualidade das construções em terra. Chumbinho,
(2017), a citar Jalali & Eires, (2008)
Este grupo elaborou um diagrama, cujo elemento em comum é o uso de solo
como matéria prima, onde se procurou sistematizar as inúmeras técnicas de
construção em terra, das quais CRATerre enumerou 18 sistemas, antigos e modernos,
divididos por 3 grandes famílias, sendo o diagrama uma síntese das possíveis
soluções a utilizar (Ver figura 11 e tabela 1).

Figura 11 - Diagrama de diferentes familias de sistemas de construção antigo e moderno, que utilizam
a terra como matéria-prima. (Adp: Housben e Guillaud, 1989. p. 15)
Fonte: (Diogo, 2017)

Tabela 1 - Resumo do diagrama anterior dividido pelas 3 grandes familias e tipo de construção

A B C
Utilização da Utilização de terra Utilização da terra
terra sob a forma sob forma de como enchimento
monolítica e alvenaria portante de uma estrutura
portante de suporte

15
1.Terra escavada 6.Blocos batidos 14.Terra de
2.Terra plástica 7.Blocos recobrimento
3.Terra empilhada compactados (BTC) 15.Terra sobre
4.Terra modelada 8.Blocos cortados engradado
5.Terra prensada 9.Torrões de terra 16.Terra palha
(Taipa) 10.Terra extrudida 17.Terra de
11.Adobe Mecânico enchimento
12.Adobe Manual 18.Terra de
13.Adobe Moldado cobertura

Fonte – Autor da presente investigação, 2019


1.2 Construção em terra crua. Conceitos
Oliveira (2003) diz que “terra crua é a designação genérica que se dá aos
materais de construção produzidos com solo, porém, sem passar pelo processo de
queima.
Por extenção, é aplicada a designação de arquitectura de terra a todo trabalho
arquitectónico cujo principal material empregado seja a terra crua.
Diogo, (2016) definiu como técnica construtiva ou construção em terra crua,
onde as matéria-primas utilizadas na fabricação de blocos são: a terra, a água e
eventualmente fibras, sendo seu processo de fabricação artesanal, sem que ocorra
queima do material para a secagem dos tijolos, como pode ser visto na figura seguinte
(Ver figura 12):

a) b)
Figura 12: a) – Colocação para secagem do bloco de adobe junto ao sol; b) – Imagem ilustrando a
mistura do constitição do bloco de adobe.
Fonte: Almeida, (2015)
Podemos citar como exemplo de construções em terra crua o adobe, a taipa de
pilão e o BTC (bloco de terra comprimida). Ambas as técnicas são utilizadas

16
largamente em várias partes do mundo, sendo todas propriedades semelhantes,
tendo em conta que a matéria-prima utilizada na execução é a mesma, diferenciando-
se apenas no modo de execução.
1.2.1. Materiais de construção
Os materiais de construção constituem um componente fundamental das obras.
O conhecimento da sua origem, evolução, classificação e propriedades permite
determinar a sua utilização nas estruturas e sistemas construtivos. O construtor deve
conhecer com profundidade os diferentes materiais para poder especificar sua
qualidade e garantir a sua melhor aplicação na execução de uma obra.
O homem através da história da humanidade, teve que enfrentar e solucionar
vários problemas para garantir a sua sobrevivência e desenvolvimento, valendo-se de
uma inteligência superior em relação a outros seres. Em sua evolução conseguiu
tomar os materiais que concedidos pela natureza e transformá-los, criando técnicas
construtivas que lhe permitaram executar as obras que simbolizam a civilização.
Utilizou todos os materiais que a natureza oferecia, primeiro, como eu os
encontrou (galhos, pedras, ossos, conchas, peles, depois com o tempo de prática, foi
adquirindo conhecimento e habilidades que permitiram transformar os materiais da
natureza, descobrir os procedimentos de obtenção, aperfeiçoar as ferramentas de
trabalho e transformar as matérias-primas em novos materiais com melhores
propriedades, por exemplo, os galhos foram cortados no tamanho desejado; troncos
se tornaram em mesas, a pedra foi esculpida e obtida conforme necessário; a argila
se transformou em tijolos e se descobriu o material aglomerante para unir os outros
materiais.
1.2.2. Propriedades da terra como material de construção
Na engenharia civil é comum abordar o material de construção “terra” como um
solo, em que este é entendido como sendo o conjunto natural de partículas que podem
ser separadas por agitação em água. Gomes, (2015) O solo é considerado um meio
particulado, natural e trifásico (sólido, liquido e gasoso), conferindo-lhe a
complexidade das suas características. A fase sólida do solo é constituída pelas
partículas sólidas (minerais e orgânicas) e as fases líquida e gasosa por água
(intersticial) e ar, respetivamente, ocupando os vazios entre as partículas sólidas.
As propriedades fundamentais da terra, como material de construção são
essencialmente; a coesão, a plasticidade, e a compressibilidade. Estas propriedades
estão intrinsecamente ligadas ao comportamento da terra com a água e às
17
características próprias da terra. Silva, (2015) Por esta razão, será feita uma descrição
das propriedades fundamentais da terra e do seu comportamento com a água.
Propriedades fundamentais da terra
A coesão resulta da força de atração entre as partículas do solo, sendo a
propriedade essencialmente responsável pela sua resistência. A plasticidade de um
solo traduz a sua capacidade de ser moldado sem variação de volume. Depende do
tamanho e formato das partículas que compõem o solo e do seu teor de humidade. A
coesão e a plasticidade são propriedades que estão diretamente ligadas à quantidade
e natureza dos elementos finos de um solo, nomeadamente à fração argilosa e siltosa
do solo.
A compressibilidade do solo está relacionada com a sua capacidade de
variação de volume (diminuição) quando sujeito a pressão. Consiste no aumento da
densidade do mesmo devido ao rearranjo das partículas solidas, visto que estas são
consideradas indeformáveis para as pressões exercidas na construção em terra.
Depende da estrutura do solo, da natureza das partículas e do teor de humidade do
solo. Silva, (2015)
Vantagens da construção em terra
Tratando-se de uma solução, atualmente considerada por muitos autores como
ecologicamente interessante, a construção em terra, para além de permitir a
realização de uma construção de maior sustentabilidade, preservando os recursos
naturais, apresenta um conjunto de diversas vantagens, como se pode observar no
resumo da Tabela 2. Chumbinho, (2017)
Tabela 2 - Vantagens da construção em terra, divididas segundo diferentes níveis
Matéria-prima não tóxica, que existe em grande quantidade e a sua
exploração não acarreta problemas de poluição; A produção de
Ecológico resíduos durante a fase de produção é reduzida; Como a terra é
utilizada em cru, não provoca poluição decorrente do seu tratamento;
Após o tempo de vida útil de um edificado, é possível reciclar o material,
reutilizando-o diversas vezes, diminuindo a hipótese de formação de
resíduos de construção e demolição (RCD’s);

Não necessita de se submeter a transformações industriais e durante


Energético a produção exige pouco ou nenhum consumo de energia, permitindo
uma maior economia em termos de gastos energéticos;

18
A utilização da terra como material de construção permite reduzir
consideravelmente os custos da construção, uma vez que se trata de
Economico um recurso disponível no próprio local da obra, ou em outro local mais
qualificado, com custos reduzidos de exploração, transporte, produção
e aplicação;

Ótimo comportamento face à ação do fogo, apresentando capacidades


suficientes, para as alvenarias de terra serem utilizadas como paredes
Segurança
corta-fogo, uma vez que o solo não se trata de um material
combustível;

Adequação da técnica em conformidade com as possibilidades de cada


Cultural cultura e região, permitindo que uma identidade geográfica própria seja
assumida

Este tipo de construção permite reduzir os custos de uma habitação


social e ainda o desenvolvimento da autonomia do povo; • Por se tratar
de uma técnica relativamente fácil, não necessita de grande
Social
qualificação, por parte dos operadores, onde a tecnologia utilizada é
de fácil aprendizagem, exigindo poucas capacidades técnicas,
permitindo que qualquer pessoa possa trabalhar na área;

A dependência dos países em desenvolvimento, em relação à técnica


e ao solo como material de construção, trata-se de uma mais valia para
Político o desenvolvimento deste tipo de arquitetura, uma vez que o solo se
trata de um material presente por todo o mundo, não existindo um
entrave como no caso de outras técnicas e materiais importados;

Fonte: Moreira, (2009)

Limitações da construção em terra


Apesar das vantagens enumeradas anteriormente, a construção em terra
apresenta algumas limitações, entre elas:
 Necessidade de escolher criteriosamente o local de implantação da obra,
sendo imprescindível, para a duração e qualidade da mesma, a execução de
fundações apropriadas, de preferência elevando-as até a uma altura segura
que impeça a ascensão de água por capilaridade;

19
 Fraco comportamento, deste tipo de construção, quando em contacto com a
água;
 Fraca resistência mecânica, comparativamente com os materiais
convencionais, como o tijolo cozido e o betão;
 Não é aconselhável a construção de edifícios em grande altura, por se tratarem
de edifícios com elevada massa;
 O descuido na escolha do material e a incorreta utilização do mesmo, resulta
em produtos de má qualidade e péssimo aspeto estético;
 A necessidade imprescindível da estabilização dos solos, na tentativa de
diminuir ao máximo todas as limitações existentes, em particular a baixa
resistência mecânica e a elevada permeabilidade/capacidade de absorção de
água;
 Discriminação social da construção em terra, uma vez que esta está associada
à pobreza, resultando na reduzida legislação sob esta forma de construção,
pelo mundo;
1.2.3. Patologias associadas à construção em terra
As construções em terra, são particularmente vulneráveis às ações dinâmicas,
relacionadas com a ação sísmica e ação da água, bem como o assentamento de
fundações e a existência de cargas concentradas, onde a elevada vulnerabilidade é
essencialmente devido à ausência de manutenções contínuas e consequente
deteorização dos elementos de proteção, bem como pela ausência de ligações entre
as várias partes da estrutura. Rocha, (2017)
As anomalias observadas nas construções em terra, podem resultar quer de
fatores intrínsecos, relacionados com características específicas de cada solo,
designadamente a constituição granulométrica e o tipo de minerais argilosos
existentes, quer de fatores extrínseco, resultantes de ações mecânicas, ambientais e
biológicas, sendo a última relacionada com insetos, particularmente térmitas,
vegetação parasita e a atuação do homem desde a fase de construção até ao uso.
Martins, (2011)
Ações Mecânicas – algumas ações mecânicas, onde o efeito das ações
sísmicas é o mais prejudicial, podem provocar danos estruturais nas construções em
terra, podendo ser mais ou menos gravosos consoante o estado de conservação do
edifício. A origem destas patologias a nível estrutural, que levam à diminuição da
capacidade mecânica do edificado, resultam desde a fendilhação, permitindo a
20
abertura de caminhos preferenciais para o acesso da água que enfraquecerá o
suporte, até à própria rotura e colapso da estrutura, quando o material se sujeita a
ações de tração, compressão ou flexão.
Ações Ambientais – a relação com a água tem sido desde sempre um dos
principais problemas das construções em terra. A presença de água, tanto no próprio
solo, utilizada na amassadura ou derivada de fatores externos, como a chuva, torna-
se um dos principais agentes de degradação deste tipo de construção, cujos efeitos e
consequências, podem ser mais ou menos gravosos, consoante as características do
solo em causa e o estado de conservação das construções em terra, podendo causar
danos estruturais ou não estruturais, derivado do enfraquecimento e desintegração
resultantes do humedecimento do material. Braga, (2011)
Absorção de água – penetração de água, no material de construção, por
ascensão ou difusão capilar, ou infiltração através de zona fendilhada. Quando em
contacto com os elementos de construção, a água poderá originar graves alterações
no estado da construção, uma vez que a absorção de água provocará a dilatação, e
posterior retração do material, quando a mesma evaporar, provocando fendilhação
que permitirá o aumento das infiltrações, diminuindo a resistência mecânica da
construção causada pela diminuição da coesão entre partículas, a diminuição do
isolamento térmico, o desenvolvimento de vegetação parasita e o transporte de sais
higroscópicos existentes no material. Rodrigues, (2003)
Condensação de vapor de água – situações propícias à condensação de
vapor de água, à superfície ou no interior dos elementos de construção, resultará no
humedecimento do material que originará o desenvolvimento de fungos e bolores, que
causarão a degradação da construção, diminuição do isolamento térmico, diminuição
local da resistência mecânica e ainda o empolamento do revestimento ou
acabamento. Rodrigues, (2003)
Erosão – tem como principal origem a ação da água da chuva, onde o impacto
direto ou repetido da mesma, provocará o desgaste dos elementos exteriores, com
posterior erosão da superfície, quando essa água escorre. Para além deste tipo de
erosão superficial, a água da chuva pode infiltrar-se, através de fendas existentes,
transportando sais higroscópicos, existentes no material de construção, que ao
cristalizarem, aquando da evaporação da água, aumentam de volume, possibilitando
a ocorrência da erosão da construção.

21
Os seres vivos, bem como a própria atividade humana, pontualmente provocam
choques acidentais em elementos construtivos, podendo estes choques, serem o
suficiente para provocar o aparecimento de outras patologias relacionadas com a
humidade. As consequências resultantes da erosão, originam a degradação da
superfície, diminuição da resistência mecânica do material, aumento da fendilhação e
consequentemente o aumento da infiltração, absorção ou capilaridade. Rodrigues,
(2003)
1.2.4. Técnicas construtivas em terra
De todas as técnicas de construção em terra existentes, as que mais se
destacam pelo mundo são a taipa, o adobe e recentemente o BTC, esta escolha
encontra-se associada às características do solo, fator associado à própria região, ao
conhecimento empírico, bem como aos recursos económicos utilizados e ao clima.
Chumbinho, (2017), a citar, (Pinto, 2013:28).
Taipa
A construção em Taipa (Ver figuras 13 e 14), se baseia na técnica onde o barro,
mistura de água e terra, é compactado horizontalmente num trançado de madeira para
formar a parede, a terra crua é colocada na cofragem e é prensada ou compactada
com um pilão ou um compressor pneumático. Diogo, (2017)

Figura 13 - a) Taipal e pilão tradicional. b) construção em taipa moderna


Fonte: Silva, (2015)

22
Figura 14 - Exemplos de construção com Taipa: a) Novo edifício da empresa Ricola, Suiça 2012. b)
Parede de taipa em construção. c) Piscina coberta com paredes exteriores em taipa a vista,
Espanaha 2017
Fonte: Silva, (2015)

Adobe
O adobe é um bloco de terra crua moldado e seco ao sol. A construção em
adobe é das técnicas de construção em terra mais utilizadas no mundo, com maior
incidência nos países em desenvolvimento devido à sua simplicidade de fabrico e
aplicação e ao reduzido custo associado à mesma.
O processo mais comum de fabrico do adobe consiste essencialmente nas
seguintes fases: extração e preparação da terra de modo a ter as características
necessárias; Amassadura da mistura (terra com agua e outros) até apresentar a
plasticidade adequada; Moldagem dos blocos em moldes de madeira sem fundo ou
topo, em que a mistura plástica é apenas despejada nos moldes ou então atirada de
modo a conseguir uma maior compactação; após o preenchimento do molde é alisada
a superfície dos blocos, à mão ou com o auxílio de uma régua de madeira ou duma
colher de pedreiro; Desmoldagem do bloco ainda com a mistura no estado plástico.
(Ver figura 15 e 16)

23
Figura 15 - Moldagem de blocos de adobe (Picorelli, 2011)
Fonte: Chumbinho, (2017)

Figura 16 - Construção de paredes em adobe, sobre uma fundação em tijolos cerâmicos


Fonte: Chumbinho, (2017)

Inicialmente os adobe eram moldados à mão, passando depois a serem


moldados artesanalmente em moldes de madeira o que possibilitou a moldagem de
vários blocos em simultâneo. Em alguns países utilizam-se moldes longos e continuas
criando-se uma peça contínua que é posteriormente cortada em blocos mais
pequenos. Atualmente existem processos semiindustriais de produção, através da
utilização de equipamentos mecânicos que produzem adobes em série por
alimentação da pasta plástica argilosa. Uma das vantagens dos adobes provém da
diversidade de moldes utilizados, permitindo a obtenção de adobes de variadas
dimensões. Lourenço, (2002)
Blocos de terra compactada (BTC)
De acordo com a CRATerre os blocos de terra compactada podem ser definidos
como sendo: pequenos elementos de alvenaria com características regulares e
verificadas, obtidos pela compactação estática ou dinâmica de terra num estado
húmido, desmoldados imediatamente a seguir (CDI and CRATerre-EAG/ODA, 1998).
Portanto, devido à compactação, os BTC podem ser considerados a evolução
tecnológica dos blocos de adobe. Assim, a coesão do bloco de BTC não depende

24
apenas da quantidade de argila presente na terra, como no caso do adobe, mas
também da pressão de compactação exercida na sua produção (Ver figuras 17 e 18)
(Silva, 2015).

Figura 17 - Edifício de três andares, construído com BTC, em Auroville


Fonte: Rocha, (2017)

Figura 18 - Casa de BTC localizada no bairro São Luís


Fonte: Autor da presente investihação, 2019

Correntemente chamado de “tijolo ecológico”, o seu processo de fabrico é o


mais industrializável, relativamente às outras técnicas referidas, existindo um maior
controlo da qualidade de produção, levando a que o BTC se torne uma das técnicas
de construção em terra mais utilizadas atualmente (Oliveira, 2014:16-17), podendo
produzir-se diversos tipos de blocos, diferenciados segundo a sua altura, largura e
espessura (b x h x l), serem moldados de diferentes formas, tornando-os encaixáveis
o que reduz ou elimina, o uso de argamassa. Chumbinho, (2017), a citar, Gomes,
(2008)
25
O volume de vazios do solo diminui através da prensagem do solo, deixando
os BTC mais duráveis e resistentes do que o adobe. A técnica de BTC teve origem
por volta do século XVIII, pelo Francês Francois Cointeraux, mas foi somente no ano
de 1952 que foi inventado a primeira prensa, criada pelo Colombiano Raul Ramirez.
Entre os anos 70 e 80 surgiram diferentes máquinas para a produção dos blocos,
sendo manuais e hidraulicas, com o objetivo de aumentar a produtividade.
Nesta técnica a consistência da terra é semelhante à necessária para execução
da taipa, já em análise com o material utilizado no adobe, o BTC tem um teor de água
bastante inferior. Uma das principais vantagens da utilização de BTC é a sua
produção, os blocos podem ser fabricados com o solo do próprio local, diminuindo a
locomoção de material, que utiliza de veículos, imitindo CO2. Com a ajuda de
estabilizantes o solo pode alcançar um melhor desempenho e uma maior resistência.
1.2.5. Caraterização do BTC
O Bloco de Terra Compactada (BTC) ou tijolo modular de solo-cimento,
também é conhecido pelo nome popular de tijolo ecológico por ser uma alternativa
sustentável em comparação aos outros métodos construtivos. A resistência máxima
é atingida por compactação da prensa e não é necessária a queima de tijolos. Em
inglês ele é designado como Compressed Earth Block (CEB), podendo também ser
encontrado com o nome de Pressed Earth Block ou Compressed Soil Block. Para
fabricação e estabilização do BTC é necessário ponderar e considerar a qualidade e
quantidade dos constituintes do bloco, que variam de acordo com as caracteristicas
do solo e resistência final do bloco. Diogo, (2017)
Em geral a composição do BTC é constituída por: argila, areia, água e
estabilizadores, podendo ser eles: cimento, cal ou ambos associados como estão
representados na (Ver figura 19).

Figura 19 - Composição do BTC


Fonte: Chumbinho, (2017)

Composição
O BTC é composto por diferentes componentes, sendo a terra o principal
elemento. Por ser um material heterogêneo e de constuição varíavel é importante
26
definir as características dos solos, tendo que alguns solos não servem como matéria
prima para a fabricação de blocos de BTC. Para construção em terra com BTC,
segundo Barbosa (2002), recomenda um intervalo menos restrito, já que sugere que
o solo possua entre 50 a 70% de areia, 10 a 20% de silte e 1 a 20% de argila.
Segundo Moreira (2009), na seleção e na preparação da terra há que ter em
consideração que a correta seleção é o fator que mais pesa na qualidade final do BTC,
no entanto, as características do solo podem ser melhoradas: a granulometria do solo
pode ser corrigida; a terra pode ser estabilizada por adição de cal ou de cimento, assim
como os elementos de maiores dimensões devem ser eliminados por crivagem; a
mistura dos vários componentes deve ser efetuada a seco; e a terra deve ser
umidificada por rega ou por vaporização sob pressão.
O teor de cada componente granulométrico também é importante. É importante
que o limite de liquidez do solo não seja excessivo e que apresente plasticidade, de
preferência menor que 40-45%. Para os tijolos prensados, pode-se dizer que é
desejável que o solo tenha: (a) 10% a 20% de argila; (b) 10% a 20% de silte; e (c)
50% a 70% de areia (Barbosa, 2003). Ainda de acordo com Barbosa, tijolos de ótima
qualidade podem ser obtidos com um solo que apresente:
• 11% de argila,
• 18% de silte,
• 70% de areia, sendo esta composta de grande quantidade de areia fina (grãos
de 0,05 a 0,25 mm).
Constituída primordialmente por esses 3 elementos a terra possui também na
sua composição água, ar e matéria orgânica. A argila e siltes possuem a tarefa de
ligante no solo, enquanto a areia fina e areia grossa seria os agregados.
A coesão do solo é dado pela argila e pelos siltes, ambas são partículas finas
de origem mineral. A consistência da argila num solo, dependendo do seu teor de
humidade, varia de acordo com a sua composição mineral e química. Esta
consistência é vulgarmente referida como plasticidade e refere-se à capacidade do
solo se deformar sem rotura elástica caracterizada por fendilhação ou desintegração.
Diogo, (2017) a citar Namango, (2006).
As areias finas e grossas constituem os agregados, diminuindo a possibilidade
de fissuração por retração e aumentando a resistência do solo. Com a combinação de
diferentes granulometrias, a resistência do solo pode ser aumentada devido ao
preenchimento, pelos finos, dos vazios entre os grãos de maior dimensão.
27
Sendo assim as características de um solo dependem fundamentalmente, dos
seus componentes e respectivas quantidades de cada. Segundo Rigassi (1985) e
Arumala e Gondal (2007) elas devem variar entre as seguintes porcentagens (Diogo,
2017):
• Cascalho (gravels) 0 a 40%;
• Areias (sands) 25 a 80%;
• Siltes (silts) 10 a 25%;
• Argilas (clays) 8 a 30%.
Levando em consideração as características do solo, é analisado a quantidade
de água e estabilizadores para a fabricação do BTC, de modo simplificado, segundo
Neves & Cuna (2007) a composição ideal para o bom estado é dado pela simulação
abaixo (Ver figura 20):

Figura 20 - Exemplo de um traço 1:12 para obtenção de BTC


Fonte: Diogo, (2017)

Técnicas de Estabilização
Quando as características físico-mecânicas (resistência à compressão,
absorção de água e durabilidade) do sistema de BTC que dependem diretamento do
tipo de solo (granulometria, fração argila, grau de plasticidade) , além das condições
de cura (umidade e temperatura) e de compactação não são alcançadas, é preciso
recorrer ao tipo e teor do agente estabilizante a ser utilizado em sua composição.

28
Estes métodos visam melhorar o desempenho, tal como a resistência a erosão,
resistência mecânica e diminuir as variações de volume e porosidade do bloco,
garantindo que o componente construtivo possua mais resistência e durabilidade.
Existem vários tipos de estabilizadores, cada um deles direcionado para uma
das qualidades a melhorar (Rigassi, 1985). Segundo Moreira (2009), estes podem ser
divididos como estabilizadores: Mecânicos, Físicos e Químicos, como apresentado na
Tabela 3
Tabela 3 - Diferentes tipos de Estabilizadores

Fonte: Diogo, (2017)


Na estabilização mecânica e física podemos tratar os diferentes tipos de terra
de diversas formas. Quando estamos perante uma terra extremamente fina, a
correção é feita através dos resultados da curva granulometria. Quando a terra a
utilizar é do tipo grossa, a correção é feita por remoção deste por peneiração. A
correção de uma terra com excesso de partículas finas, como por exemplo uma argila,
é feita adicionando partículas mais grossas.
Em relação a estabilização química, esta é conseguida através de cimento, cal,
betume, produtos naturais e produtos sintéticos. A adição de cimento no solo provoca
aglomeração das partículas e torna a argila mais estável, já a adição de cal permite a
dissolução de minerais argilosos. O betume aumenta a resistência da terra à ação da
água e a utilização de resinas sintéticas permite tudo já referido anteriormente,
apresentando no entanto algumas desvantagens, tais como o elevado custo e a
toxicidade dos materiais (Rigassi, 1985).

29
A percentagem do estabilizante químico depende do tipo de solo que se vai
empregar. O estabilizante químico mais utilizado é o cimento, sua ação no solo se dá
precisamente da mesma maneira que no betão. O cimento adicionado ao solo trabalha
reagindo quimicamente com a água e com as partículas finas do solo. Segundo
Barbosa et al (2002), em solos argilosos é exigido no mínimo 6% de cimento, em peso
de solo seco. Para solos arenosos, bem graduados, é necessário no mínimo 4% de
cimento. Sendo o melhor solo para estabilização é aquele que apresenta pequenas
quantidades de argila, consistindo muitas vezes de areia e cascalho.
O grupo de estudos CRAterre recomenda percentagens de cimento entre 6 a
10% na estabilização de solos para a construção em terra. O estabilizante
correntemente utilizado no fabrico de BTC é o cimento, apesar da cal ser o
estabilizante mais barato e mais sustentável, porém é expectável que a sua utilização
venha no futuro a ganhar uma utilização superior, devido ao menor impacto ambiental.
Sendo assim estudos onde é analisado e verificado a melhor percentagem de
estabilizantes para o BTC é muito importante.
1.2.6 Produção de BTC
Em geral, o processo de produção dos BTC é comum para qualquer tipo de
BTC. É um processo cíclico cujo rendimento é geralmente limitado pelo grau de
mecanização do estaleiro de produção. De modo a garantir um rendimento eficaz é
essencial haver uma gestão correta da produção e um controlo de qualidade em cada
etapa. O processo de produção envolve, geralmente as seguintes 11 etapas:
1. Extração: escavação da terra abaixo de um metro de profundidade de modo a
conter o mínimo possível de matéria orgânica;
2. Secagem: espalhamento da terra em camadas finas;
3. Pulverização: tornar a terra num pó fino sem torrões (Figura 21);
4. Peneiração: retirar elementos indesejados na mistura (partículas maiores e matéria
orgânica) (Figura 22);
5. Dosagem dos constituintes: controlar por peso ou volume os diferentes
constituintes de cada amassadura;
6. Mistura a seco: criar uma mistura seca homogénea;
7. Mistura húmida: adicionar a água necessária à amassadura e misturar até ficar
homogéneo;
8. Dosagem da mistura: medir por peso ou volume da mistura húmida a colocar na
prensa de modo a obter a densidade pretendida;
30
9. Moldagem: compactar a mistura na prensa;
10. Desmoldagem: remover o bloco da prensa e transporta-lo para o local designado;
11. Cura: varia com a incorporação ou não de estabilizadores e as suas
características.

Figura 21 - Equipamento e material na produção de BTC: a) Pulverizador mecânico de pás. b) Peneira


com 4mm de abertura. c) Terra após pulverização e peneiração
Fonte: Silva, (2015)

Figura 22 - Represantação do processo de preparação do solo e produção de BTC´s


Fonte: Chumbinho, (2017)

1.2.7. Vantagens e desvantagens dos BTC


Sendo a maior parte das vantagens da construção em terra, comuns nos BTC,
existem ainda outras características que tornam esta técnica, mais recente, uma das

31
formas de construção em terra com maior potencialidade, para além da condicionante
económica. Sendo a tecnologia utilizada, de fácil aprendizagem, não exigindo grandes
capacidades técnicas, a mãode-obra utilizada não necessita de grande qualificação
para poderem operar, sendo capazes de produzir blocos mais estáveis e resistentes.
Em seguida destacam-se as principais vantagens e desvantagens da utilização da
técnica dos BTC frente às outras técnicas de construção em terra apresentadas.
Vantagens
 Prensagem do BTC torna o bloco mais resistente e durável em relação ao
adobe;
 Blocos mais pequenos que os de adobe;
 Menos desperdícios em relação à produção de adobe;
 Podem ser empilhados durante o processo de cura necessitando de menos
espaço para este efeito em relação ao adobe;
 Maior aceitação social que o adobe, devido à compactação e à estabilidade
dimensional;
 Maior simplicidade na produção e execução de paredes face à taipa;
 Elevada estabilidade dimensional dos blocos, tornando a sua aplicação em
obra mais eficiente;
 Permite o armamento de paredes e passagem de tubos sem a abertura de
roços (caso de BTC perfurados).
Desvantagens
 São mais pesados que os blocos de adobe, dificultando o seu transporte;
 A sua produção manual é mais árdua que a produção manual de adobe;
 As dimensões dos blocos estão limitadas pelos moldes das prensas
disponíveis;
 As arestas dos blocos danificam-se frequentemente em impactos acidentais
aquando da aplicação em obra (como também sucede com os blocos de
adobe).
1.2.8. Maquinaria para prensagem de BTC
Tendo as primeiras experiências, para produção de BTC, sido realizadas na
Europa, no início do século XIX, onde eram utilizados moldes de madeira que eram
preenchidos com solo húmida, comprimido com os pés (Jalali & Eires, 2008; Lopes,
2012: 15), só a partir da década de 50, do século XX, com a invenção da prensa

32
CINVA-RAM (Ver figura 23), pelo colombiano Raul Ramirez, na International American
Housing Center (CINVA), é que a utilização dos BTC’s em termos arquitetónicos se
veio a expressar. Chumbinho, (2017)

Figura 23 - Primeira prensa manual CINVA-RAM


Fonte: (Chumbinho, 2017)

Sendo a prensagem considerada como uma estabilização mecânica, trata-se


de uma técnica de rápida execução, de grande sustentabilidade, produzindo reduzida
quantidade de resíduos, permitindo a produção blocos bastante resistentes e com
diferentes formatos, utilizando equipamento com componentes de formas e
dimensões variadas, onde a maquinaria se encontra dimensionada relativamente com
a dimensão, produtividade e custo do empreendimento, sendo a forma de produção
distinguida segundo o tipo de pensa utilizada. Azevedo, (2002)
Manual – chegando a pressões de compactação, até aos 2 MPa, trata-se de
uma prensa que requer menos custos para aquisição e manutenção da mesma.
Tratandose de uma técnica mais económica, uma vez que não necessita de energia
para operação, torna a produção mais demorada e requer mais mão-de-obra para a
operação, com o recurso à força manual. Sendo mais leves e pequenas, estas prensas
são mais fáceis de transportar, podendo ser conduzidas até ao local da obra,
utilizando-se o solo retirado do próprio terreno, caso este apresente boas condições

33
para a produção, evitando o transporte desnecessário e economicamente
desvantajoso dos blocos (Ver figura 24). Braga, (2011)

Figura 24 – Prensa manual


Fonte: https://i.pinimg.com/564x/2d/c2/e3/2dc2e3ce3423bf1d40b47bd877a28004.jpg

Automáticas – aplicando pressões superiores às prensas manuais, com


tensões a rondarem entre os 4-20 MPa, as prensas automáticas são mais produtivas,
podendo produzir em série, sem a necessidade da força humana para operar, levando
à diminuição da mão-de-obra para a produção de blocos (Neves, 2006:5). Os blocos
produzidos apresentam uma maior homogeneidade, sendo consequentemente mais
resistentes mecanicamente e com uma maior resistência à água, resultado da maior
coesão entre as partículas, derivado da diminuição do número de vazios (Jalali &
Eires, 2008; Nunes, 2013:26). Tratam-se de prensas de maiores dimensões e mais
pesadas, com maiores custos de aquisição, manutenção e utilização, que podem ser
fixas ou móveis, onde no caso das móveis é possível a produção no local na obra, à
semelhança das prensas manuais, com a vantagem de uma maior rapidez de fabrico,
permitindo manter uma maior sustentabilidade durante a construção, evitando, mais
uma vez, o transporte desnecessário e economicamente desvantajoso dos blocos
(Ver figura 25). Jalali & Eires; (2008)

34
Figura 25 – Prensa automática
Fonte: https://www.ecomaquinas.com.br

1.2.9 Diferentes tipos de BTC


Como já referido anteriormente, é possível produzir-se diferentes tipos de
blocos de terra compactada, diferenciados segundo a sua altura, largura e espessura
(b x h x l), tal como no caso do tijolo cerâmico e o de betão, podendo estes serem
moldados de diferentes formas, de acordo com a sua utilização, sendo classificados
segundo o grupo CRATerre como:
 Blocos sólidos (Ver figura 26) – são blocos maciços, principalmente de forma
prismática, podendo ser cubos, paralelepípedos, prismas hexagonais, etc. A sua
utilização é muito diversificada.

Figura 26 - Exemplo de blocos sólidos


35
Fonte: Chumbinho, (2017)

 Blocos Ocos (Ver figura 27) – distinguem-se pela presença de um maior


número de vazios (15% a 30%) e um avanço tecnológico na sua produção.
Apresentam normalmente uma maior aderência e um peso mais reduzido,
comparativamente aos blocos sólidos.

Figura 27 - Exemplo de blocos ocos


Fonte: Chumbinho, (2017)

 Blocos perfurados (Ver figura 28) - apresentam características mecânicas


mais interessantes que as referidas anteriormente e tratam-se do tipo de blocos
mais adequados para áreas com forte atividade sísmica. A sua ligação deve ser
feita com o auxílio de argamassa.

Figura 28 - Exemplo de blocos perfurados


Fonte: Chumbinho, (2017)

36
 Blocos Interligados (Ver figura 29) – por norma, é dispensado o recurso a
argamassas, para a sua união, exigindo moldes sofisticados e pressões mais
elevadas na fase de produção.

Figura 29 - Exemplo de blocos interligados


Fonte: Chumbinho, (2017)

 Blocos Parasísmicos (Ver figura 30) – apresentam características que


melhoram o comportamento do elemento, face a um sismo, e permite uma
melhor integração dos sistemas sísmicos estruturais.

Figura 30 - Exemplo de blocos parisísmicos


Fonte: Chumbinho, (2017)

1.2.10 Normas disponíveis para o uso dos BTC´s


Especificamente em Portugal não existe uma norma de regulamentação para
construção em terra. Um dos fatores para essa inexistência, é a falta de aceitação
para esse tipo de construção. Em contrapartida, as construções em terra tem vindo a
ser estudadas com excelentes resultados. Diversos são os países que já possuem
37
regulamentação sobre construção em terra, podendo recorrer-se a informações e
normas internacionais.
Apesar da falta de regulamentação da construção em terra em Portugal
provoca incertezas quanto à segurança estrutural deste tipo de construções, uma vez
que os projetos efetuados com este tipo de técnicas, e remetidos para as Câmaras
Municipais para aprovação, não são sujeitos a qualquer tipo de revisão. Os estudos e
normas existente em outros países, acaba oferecendo informações necessárias.
Para corrigir esta falha legislativa existente em Portugal, é importante o
surgimento de um regulamento nacional de construção em terra, de forma a dissipar
todas as dúvidas e ultrapassar todos os problemas que este tipo de construção
proporciona, uma vez que existem estudos relacionados ao desempenho do BTC e
outros métodos construtivos em terra. Levando em consideração as condicionantes
atrás apresentadas torna-se fundamental o desenvolvimento de novos estudos
experimentais que acrescentem informações sobre a resistência e o comportamento
dos materiais.
Para se utilizar a construção em terra em Portugal, atualmente, os projetistas
portugueses não optam por utilizar as alvenarias de terra apenas com função de
preenchimento, recorrendo a uma estrutura corrente de betão armado de forma a
cumprir os requisitos de segurança às ações sísmicas devido à ausência de
regulamentação ou norma.
No entanto são já vários países que possuem regulamentação e normas no
âmbito da construção em terra. Schroeder et al, (2012) identifica pelo menos 33
documentos, entre normas e documentos normativos, relativas a 19 países e regiões.
Cid et al, (2011) também apresenta documentos normativos referentes à construção
em terra, entre os principais países com regulamentação, estão incluídos, Brasil,
Alemanha, Austrália, Espanha, Estados Unidos da América, entre outros.
Brasil - Existe uma normalização para a construção em terra, nomeadamente
a norma NBR 8491 (ABR, 1984) – “Tijolo de solo-cimento”, que define parâmetros
para a produção de tijolos maciços de solo-cimento destinados à execução de
alvenarias, e a NBR 8492 (ABR, 1984) – “Tijolo maciço de solo-cimento –
determinação da resistência à compressão e da absorção d’água”. Onde é definida
uma metodologia de ensaio dos blocos de terra comprimida (BTC) à compressão e à
absorção de água.

38
Alemanha – Em 1944 surgiram as primeiras regras técnicas sobre a construção
em terra (Earth Building Code, 1994), saindo de uso em 1971, dando início ao
documento normativo para a construção em terra “Lehmbau Regeln”, que constitui
ainda hoje um importante regulamento que serve de base a vários outros países. Em
2011 foram criadas draft de três normas em utilização na Alemanha. DIN (DIN 18945
– Blocos de terra: termos, definições, requerimentos e procedimentos de ensaio; DIN
18946 – Argamassas de assentamento de terra: termos, definições, requerimentos e
procedimentos de ensaio; DIN 18947 – Rebocos de terra: termos, definições,
requerimentos e procedimentos de ensaio) (Schroeder et al. 2012), que são definitivas
desde 2013.
Austrália - Em 1952 foi publicado o “Bulletin 5” pela Commonwealth Scientific
and Industrial Research Organization (CSIRO). Este documento apresentou, pela
primeira vez, um teste de erosão acelerada utilizando água pulverizada. Este
regulamento era utilizado, até há relativamente pouco tempo, para projetos de
construção e aplicavase às técnicas de BTC, adobes e taipa. Com a atualização das
técnicas construtivas em 2002, foi publicado o livro “Australian earth building
handbook” (2002).
Espanha - Mais recentemente foi publicada a norma Espanhola UNE 41410
(2008), pela AENOR (Asociaciôn Española de CONSTRUÇÃO COM TERRA 7
Normalizaciõn y certificaciõn), com o título “Bloques de tierra comprimida para muros
y tabiques. Definiciones, especificaciones y métodos de ensayo”. Esta norma foi
definida apenas para BTC e é essencial para o seu estudo e certificação.
Estados Unidos da América – Separado por estados, apenas o estado do Novo
México tem regulamentação estadual, desde 1991, para construção com taipa, adobe
e BTC, designada “New Mexico Earthen Building Materials Code” (2003).
Com o intuito de regulamentar a construção em terra. Existe a RILEM, trata-se
de uma associação criada em 1947 por diretores de vários laboratórios mundiais que
não está associado a nenhum país. Na RILEM é apresentado um procedimento
técnico relativo à forma de ensaiar BTC à compressão, denominando-se TC 164-
EBM:1997 - ”Mécanique de la construction en terre – Mode opératoire pour la
realisasion d’essais de résistance sur blocs de terre comprime”. Cid et al. (2011).

39
CONCLUSÕES PARCIAIS
As pesquisas realizadas e apresentadas neste capítulo demonstram os
principais conceitos da terra como material de construção, o seu surgimento e
também enfatizamos algumas construções icónicas de terra crua a nível mundial,
vimos as técnicas de utilização da terra crua mais utilizados e realçamos o BTC,
como surgiu, suas propriedades, diferentes formatos e como pode ser obtido,
visando dar ênfase ao objectivo e campo de acção, bases estas que nos serão
essenciais ao longo da realização do trabalho. Conheceu-se também a importância
do estudo da terra crua como material de construção, suas propriedades como
material de construção e algumas vantagens e desvantagens, conhecendo um novo
material como forma de utilização da terra crua para construções de pequeno e
médio porte.

40
CAPÍTULO 2 – CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA APLICAÇÃO DO BTC
NO BAIRRO SÃO LUÍS
A pôs feita a fundamentação teórica do tema a desenvolver, o presente
capítulo tem como metas de estudo, diagnosticar e caraterizar a zona em estudo,
apresentação das principais patologias da zona em estudo e suas principais causas,
dificuldade da população devido a falta de uma técnica melhor, estudo das
características climáticas da zona de implementação da proposta, apresentação do
novo material, sua caraterização, técnicas e métodos de execução dos trabalhos
2.1 Situação geográfica do Huambo
A cidade do Huambo, também conhecida como “Nova Lisboa”, localiza-se no
centro de Angola, (Ver figura 31), é limitada a Norte pelo município do Bailundo, a
Este, o município de Tchikala Tcholohanga a Sudoeste e Oeste pelos municípios da
Caála e Ekunha.

Figura 31 - Macro e micro localização da província do Huambo


Fonte: Web

A cidade do Huambo é a sede da província e constitui o principal núcleo urbano


da província do Huambo. O poder político-administrativo, económico e social está
concentrado na mesma. Foi rebaptizada como Nova Lisboa (1928 – 1975), pelo
coronel Vicente Ferreira, ao decidir que a capital de Angola devia situarse nesse ponto
estratégico do Planalto Central. A lei ou portaria com a transferência de nome e da
capital surgiu no Boletim Oficial no dia 21 de Setembro de 1927.

41
Caracterização do bairro
O bairro do São Luís situado a sul da cidade do Huambo e a oeste do
aeroporto Albano Machado, limitado ao Norte pelo Bairro da Fátima, à este pelo Bairro
do Santa Ngoti, à sul pelo bairro de Sto. António e o rio Kalopato a oeste pelo bairro
de Kapango urbano.
O bairro do São lúis foi fundado por um velho com o nome de Katimba, natural
do Bié, foi dos primeiros habitantes da zona, tinha a ocupação de “angariador”. Em
1938 trabalhava como empregado do carregador. Primeiramente o Bairro era
chamado Katimba, actualmente S. Luís nome este, por ser o padroeiro da Igreja local
S. Luís Gonzaga. A partir de 1960 deu-se o maior crescimento do bairro.
A área em referência, é um dos bairro do município cede do Huambo, tem
uma densidade populaconal estimada em 41.192 habitantes dado importante para o
cálculo do fluxo de viaturas prova e considera-se um modelo pionério na cidade do
Huambo por pertencer a um projecto de loteamento para a uto construção que
obedece alguns paramentros como arruamentos que não são viviveis em outras áreas
de crescimeno da cidade
A figura 32 apresenta a localização geográfica da zona em estudo.

Figura 32 - Apresentação da zona em estudo


Fonte : Google maps, modificado pelo autor do trabalho

42
Análise do sítio
O local escolhido para implantação da proposta de implementação localizase
em uma área consolidada do bairro São Luís, próximo de alguns equipamentos de
referências que facilitam a sua localização, como o posto de abastecimento de
combustível e o supermercado Shoprite. (Ver figura 33)

Figura 33 - Imagens do local


Fonte: Autor
Características climáticas
Angola localiza-se no continente Africano, na faixa entre o equador e trópico
de capricórnio. O clima é classificado como subtropical, quente e húmido, na maior
parte do território, semiárido e subhúmido seco no Sul na faixa litoral até à Província
de Luanda. A figura 34 apresenta a divisão climática para África (Manual Angola,
2001).

Figura 34 - Divisão climática de África.

43
Fonte: Manual de Angola (Editado pelo autor).

O clima na cidade do Huambo é caracterizado como quente e húmido, chuvosa


no Verão e seca no Inverno, a temperatura média é de 24°. Os ventos predominantes
para a cidade do Huambo são do leste, como se observa na figura 35

Figura 35 - Ventos predominantes na cidade do Huambo


Fonte: wheatherpark.com (Editado pelo autor)

Em termos Ambientais a província do Huambo pode ser caracterizada com os


seguintes aspectos: Clima frio e temperado. No Huambo existe uma pluviosidade
significativa ao longo do ano, o clima é clasificado como cwb de acordo com a köppen
e geiger. A temperatura média anual em huambo é 18.9 ° c. A média anual de
pluviosidade é de 1366 mm. O mês mais seco é junho e tem 0 mm de precipitação. A
maioria das precipitações cai em dezembro,com uma média de 244mm. (Ver figura
36).

44
Figura 36 - Diagrama de precipitações do Huambo
Fonte: https://pt.climate-data.org/africa/angola/huambo/huambo-3482/

Setembro é o mês mais quente do ano, a temperatura média anual é 20.7 ° c,


a temperatura média mais baixa de todo o ano é em junho, a temperatura média é de
15.9 ° c.

Figura 37 - Diagrama de temperatura do Huambo


Fonte: Climate-data.Org, (2019)

O mês mais seco tem uma diferença de precipitação 244 mm em relação ao


mês mais chuvoso. A variação de temperaturas ao longo do ano é de 4,8 °c.
Como a cidade do Huambo se encontra situado entre o equador e o trópico de
Capricórnio, o que, por sua vez, significa que o sol se move tanto a norte como a sul,
dependendo da estação do ano. Para além disso, o sol situa-se muito próximo da
vertical, passando duas vezes por ano pelo zénite em Fevereiro e Outubro. De acordo
com a Carta Solar de Huambo (Ver figura 2.13 e 2.14), os dias têm períodos de
insolação de doze horas (das 6:00 às 18:00), os quais sofrem pouca alteração ao
longo do ano.

45
Com ajuda da carta solar da cidade, foi possível a fazer a simulação da
incidência solar nas fachadas no terreno. A carta solar da fachada noroeste,(Ver
Figura 2.14) demostra que a mesma sofre maiores períodos de exposição a incidência
solar no período de 22 de Dezembro a 22 de Junho nos horários de 6:00 as 13:00
aproximadamente. A fachada situada a face nordeste apresenta maior período de
exposição solar no período de 22 de Junho a 22 de Dezembro nos horários de 11:00
as 15:30 aproximadamente (Ver figura 38).

a) b)

Figura 38 - a) Fachada Noroeste. b) Fachada Nordeste


Fonte: Sol Ar (Editado pelo autor)

A fachada sudeste (Ver figura 38) demonstra que o maior período de insolação
é em 21 de Janeiro a 22 de Junho nos horários de 8:00 as 14:00 aproximadamente.
46
Por fim a fachada sudoeste (Ver figura 39) fica exposta aincidência solar no período
de 22 de Junho a 22 de Dezembro nos horários de 11:15 até as 13:00
aproximadamente, sendo a fachada menos exposta a irradiação solar em todos os
períodos do ano.

a) b)
Figura 39 - a) Fachada Sudeste. b) Fachada Sudoeste
Fonte: Sol Ar (Editado pelo autor)

2.2. Diagnóstico do estado actual da aplicação da terra como material de


construção no bairro São Luís
A construção em alvenaria de adobe é a técnica construtiva mais
frequentemente utilizada na arquitectura popular em Angola. Amplamente utilizada
também em todo o mundo, conhece-se, hoje, um interesse que lhe advém quer da
valorização do património construído existente, quer da reduzida quantidade de
energia gasta na construção (relativamente a outras técnicas) quer, ainda, de
qualidades inerentes ao próprio material em termos de resistência mecânica, de
comportamento higro-térmico e de flexibilidade de adaptação a múltiplas situações de
construção.
O seu estudo tecnológico impõe-se hoje, pelo reconhecimento efectivo do seu
interesse enquanto material de construção, retomando-se um processo milenar de
evolução que foi interrompido nas últimas décadas, pela generalização do recurso à
estrutura em betão armado. Com o intuito de identificar indícios de desgaste e
patologias foram analisadas uma série de construções existentes no bairro de São
Luís. Constatou-se que a técnica construtiva manifesta algumas deficiências que

47
deverão ser corrigidas, de modo a garantir uma melhor resistência às diversas acções
a que estão sujeitas.
Beirais
Uma construção de qualidade exige antes de mais um suporte eficaz e
duradouro. Graças aos deficientes processos construtivos, muitas das habitações em
terra acabam por sofrer de patologias associadas essencialmente à existência de
água (Ver figura 36). A água, combinada com o vento pode funcionar como um agente
erosivo de grande relevância das superfícies expostas ao meio exterior, assim como
a ascensão de água por capilaridade que arrasta sais prejudiciais à qualidade dos
adobes.
De facto, a observação de uma grande parte das habitações existentes no
perímetro da localidade permitiu concluir que a existência dos beirais curtos constitui
um ponto de fragilidade destas construções. (Ver figura 40)

(a) (b)
Figura 40 - Patologias devido á água: a= Erosão da base das paredes. b) Fenómeno de capilaridade
Fonte: Autor da presente investigação, 2019

A inexistência de beirais bem dimensionados permite que o impacto directo


das gotas sobre os adobes seja mais violento, resultando no destacamento de algum
material e consequentemente acelerando o processo de erosão. Várias referências
bibliográficas a respeito deste tema sugerem dimensões mínimas para o comprimento
dos beirados. No “Manual para la construccion de viviendas de adobe” (Morales et
al.., 1993), é indicado um comprimento mínimo que permite escoar a água das chuvas
para além de 50 cm de distância das paredes (Ver figura 41). (Carvalho, (2008)

48
Figura 41 - Comprimento mínimo do beiral (Morales et al., 1993)
Fonte: Carvalho, (2008)
A ascensão da água por capilaridade é também um fenómeno comum em
paredes de terra crua, bastante visível nas construções no bairro de São Luís. A sua
ocorrência está na origem de inúmeras patologias que podem ser mais gravosas
quando acompanhada pelo transporte de sais. A ascensão capilar com transporte de
sais contribui para o aumento das cavidades no interior do material e está na origem
de lacunas superiores até ao nível onde se verifica a ascensão da água. A expansão
e retracção dos sais arrastados pela água geram tensões no interior do material que
levam à sua fissuração.
Linteis com vãos excessivos
Outro problema comum das habitações existentes no bairro é a existência de
linteis com vãos de elevado comprimento e entregas insuficientes, permitindo a longo
prazo a formação de flechas exageradas (Ver figura 42).

Figura 42 - Padieira deformada devido ao comprimento excessivo do vão


Fonte: Autor da presente investigação, 2019

49
Quando o material (madeira) não tem dimensão suficiente, a transferência de
carga do lintel para a alvenaria de adobe aproxima-se a uma carga pontual. De facto,
este material não está preparado para receber cargas deste tipo, acabando por entrar
em rotura (Ver figura 43).

Figura 43 - Rotura do material originado por entregas insuficiêntes


Fonte: Autor da presente investigação, 2019

Retracção
O fenómeno da retracção é muito comum nas construções em terra. A sua
ocorrência origina inúmeras patologias como fissuras, destacamento da camada de
reboco, separação dos elementos estruturais, entre outras. De facto, todas as
construções em terra crua na localidade apresentam patologias que advém deste
fenómeno. A retracção pode surgir quer nos adobes, quer na argamassa das juntas
ou mesmo no reboco. Quando ocorre após o assentamento dos adobes, aparecem
brechas nas paredes que facilitam a penetração da humidade, promovendo a fixação
de algumas espécies de plantas e fungos que lentamente degradam a estrutura (Ver
figura 44).

50
Figura 44 - Separação entre os adobes devido à retração da argamassa
Fonte: Autor da presente investigação, 2019

Outra forma da manifestação deste fenómeno consiste no destacamento de


camadas de reboco (Ver figura 45). Os solos utilizados na produção dos adobes no
bairro de São Luís apresentam uma retratibilidade elevada. É fundamental, para
garantir a qualidade e segurança das habitações, que a argamassa de reboco a aplicar
nas paredes exteriores tenham uma capacidade de retracção semelhante à do suporte
evitando assim que se criem tensões que quebrem as ligações existentes entre o
reboco e a parede.

Figura 45 - Destacamento do reboco


Fonte: autor da presente investigação, 2019

Outros problemas – cobertura

51
Embora não possa ser considerada uma patologia, a escolha inadequada da
cobertura pode dar lugar a inúmeros problemas que conferem à construção um
carácter disfuncional e inestético. Utilizada por quase toda a comunidade, o
revestimento adoptado para as coberturas consiste em grandes chapas de zinco
suportadas por barrotes de madeira. De forma a evitar o seu levantamento pela acção
do vento, estas são amarradas com o auxílio de um arame à alvenaria de adobe e
carregadas na face superior com pesos, na grande maioria adobes (Ver figura 46).

(a) (b)
Figura 46 - Soluçãa para evitar o levantamento do revestimento: a) Amaração da cobertura à
alvenaria de adobe. b) Pesos sobre a cobertura
Fonte: Autor da presente investigação, 2019

CONCLUSÕES PARCIAIS
As tarefas realizadas neste capítulo permitiram-nos avaliar entre outros
aspectos o mais importante requerente ao trabalho que são as de casas feitas com
terra crua existente no bairro. A introdução destas técnicas inovadoras, adaptadas às
tecnologias e exigências actuais, podem desfazer preconceitos em relação a este tipo
de construção e promover a utilização destas novas tecnologias no mercado da
construção.
E os estudos feitos através da observação directa do campo pude constatar-se
que o bairro apresenta edificações em estado caótico, facto este, que além de retirar
o valor estético do bairro retira também a comodidade e segurança aos moradores. O
bairro carece de uma intervenção rápida, quanto a implementação de novas técnicas
no processo construtivo, de maneiras a contribuir para a correcção e reparação das
patologias existentes nas edificações do bairro.

52
CAPÍTULO 3 – PROPOSTA PARA IMPLEMENTAR O BLOCO DE TERRA
COMPRIMIDA NO BAIRRO SÃO LUÍS
No âmbito da construção com blocos de terra comprimida BTC vários desafios
sob o ponto de vista arquitetónico, construtivo e estrutural, foram amplamente
estudados. A solução final focou-se numa moradia térrea, com uma geometria em
planta bastante regular (Ver figura 47). Os alinhamentos 1, 2 e 4 são responsáveis
pelas cargas verticais, enquanto o travamento e cargas horizontais são assegurados
pelos alinhamentos 1, 2 e 4 e A, C e D. No topo das paredes é executada um viga-
cinta, neste caso em betão armado, para assegurar a conectividade entre todas as
paredes formando um diafragma. A cobertura é em chapas de zinco formando duas
águas, cujas madres assentam em vigas-freixais diretamente apoiadas nas paredes de
alvenaria dos alinhamentos 1, 2 e 4.

Figura 47: Planta baixa da proposta


Fonte: Autor da presente investigação, 2019

53
Memória Descritiva
A memória em epígrafe é referente a construção de uma edificação residencial
unifamiliar de tipologia T2 evolutiva que fica situada no Bairro do São Luís na província
do Huambo. Implantada em uma área de 243m2, possuindo os seguintes
compartimentos:

Tabela 4 - Designação dos compartimentos e suas áreas

DESIGNAÇÃO QUANTIDADE AREA/COMPARTIMENTO ÁREA TOTAL

Sala Comum 01 16m2 16m2

Dormitório 01 7.34m2 7.34m2

Dormitório 01 7.5m2 7.5m2

Cozinha 01 4.03m2 4.03m2

Varanda 01 2.1025m2 2.1025m2

W.c 01 3.59m2 3.59m2

Fonte: Autor da presente investigação, 2019

O processo de execução está composto por diversificadas áreas e


especificações técnicas que o construtor deverá segui-las milimetricamente, para que,
seja alcançado o resultado predefinido pelo projectista:
1. Limpeza e Nivelamento
 Deve ser feita uma limpeza e nivelamento em toda área de implantação
correspondente aos 243m2
2. Fundações

 Escavação manual para construção das fundações

 Compactação do terreno antes da construção das fundações (Betão de


limpeza)

54
 Construção de fundações em pedra e cimento, com uma altura de não menos
de 20cm acima do nível do terreno e não menos de 30cm abaixo do nível do
terreno e 30 cm de espessura
3. Paredes de BTC

 BTC estabilizado com não menos de 7% de cimento

 Construção das paredes em BTC com 14 cm de espessura com juntas de 1cm


em solo-cimento

 Acabamento das juntas de 1cm, dando uma curvatura para evitar acumulação
de humidade

 Construção de lintéis sobre as janelas, portas e vãos a definir posteriormente


(Vão de acesso ao quintal)

4. Água e saneamento

 Instalação de canalização na casa de banho com tubagem de ½ polegada em


PVC e colocada interiormente

 Estabelecimento da ligação à rede de distribuição pública através de


canalização de ¾ em PVC

 Construção de fossa séptica de 2.3 m3 em blocos de cimento revestida


(reboque e estuque) e com tampa de visita. Ligações em PVC rígido.

 Construção de 1 Poço roto de 1 m3 em blocos de cimento não revestido.

 Instalação de uma sanita com autoclismo, um lavatório e um chuveiro

5. Rede elétrica.

 Calha técnica

 1 Tomada, 1 interruptor duplo, 1 bocal e lâmpada na sala.

 1 Tomada, 1 bocal e lâmpada na varanda.

 1 Tomada, 1 interruptor simples, 1 bocal e lâmpada nos Quartos e Wc.

 1 Tomada na Cozinha.

6. Portas, janelas e caixilharia

 Colocação de uma porta exteriores em metal (c/ fechadura).

55
 Colocação de 5 janelas (quartos, Cozinha, sala e WC) em metal.

7. Pavimento e revestimento

 Compactação de toda área interior.

 Revestimento de pavimento da casa de banho com mosaico cerâmico ou


estuque de cimento.

 Revestimento das paredes do quarto de banho com mosaico cerâmico, a 1,5


metros de altura ou com tinta a óleo que qua duna com a cor dos blocos BTC.

 Revestimento do restante pavimento interior com cimento, eventualmente, com


um pigmento à escolha do cliente.

 Revestimento das paredes de BTC interiores e exteriores.

8. Cobertura

 Estrutura metálica, onde serão usados tubos de (60mmx40mm) com um


espaçamento de 1m entre os tubos colocados na longitudinal. Esta estrutura
deverá estar assegurada por varões de diâmetro 12 que serão cravados nos
blocos de furos BTC.

 Revestimento em chapa caneladas.

9. Limpeza Geral.

 Apos a conclusão do processo supradito deve ser feita uma limpeza interior e
exterior em todo edifício e em torno da sua área de implantação.

Processo Construtivo
Com esse tipo de tijolo e o devido controle de qualidade, é possível se fazer
construções de até três pavimentos com os blocos tendo função estrutural.

1. Locação
De acordo com Barbosa (2003), a locação deve ser feita de maneira tradicional,
sendo que o projeto já tenha previsto dimensões para os ambientes que correspondam
a números inteiros ou inteiros mais metade de tijolos, já que estes não permitem muita
quebra, pode-se apenas dividí-lo ao meio (XAXÁ, 2013).

2. Fundação
O processo construtivo adotado para a edificação unifamiliar no bairro são luís
com esse tipo de tijolo, a fundação é de pedra. Nas paredes internas, no caso de não

56
haver pedras suficientes, pode-se fazer uma vala de 30 cm de largura e profundidade
e preenchê-la com a mesma mistura na qual o tijolo foi fabricado, compactando-a
firmemente. As pedras devem ser assentadas com argamassa de cimento. (Ver figura
48)

Figura 48: Detalhe da fundação


Fonte: (XAXÁ, 2013)

Em seguida, sobre a cinta, corre-se uma primeira camada de concreto. Deve-


se marcar a posição das portas, onde esta camada é interrompida. Sua espessura deve
ter de 5 cm a 7 cm. Na largura, recomenda-se 20 cm nas paredes internas e 17 cm nas
paredes externas. O objetivo é deixar um rodapé resistente, com 2 cm ou 3 cm, para
proteção de choques e de água quando da lavagem dos ambientes (BARBOSA, 2003).

As formas para as primeiras fiadas, antes feitas de compensado, foram


substituídas por réguas metálicas e foram criados espaçadores que facilitaram a
moldagem da primeira camada.
3. Levantamento das paredes
Feita a fundação, é importante conferir suas dimensões posicionando tijolos
sobre esta camada sem nenhum ligante. Realizando este procedimento,
encontradamos pequenas defasagem que poderão ser corrigidas. Em seguida, é feita
a primeira fiada de tijolos, que são assentados com argamassa de cimento-areia, já que
o cimento tem melhor aderência ao concreto onde a fiada estará assentada.
A cada tijolo é colocado o nível nas duas direções, corrigindo os desníveis com
martelo de borracha ou pancadas em pedaços de madeira apoiados no mesmo (figura

57
49). Como dito anteriormente, as saliências do bloco Mattone permitem pequenos
deslocamentos para correções de nível, linearidade e verticalidade.

Figura 49 - Levantamento de paredes


Fonte: https://www.billysell.com/fotos?lightbox=dataItem-jc6a5wif1

O assentamento das demais camadas é feito com a própria terra finamente


peneirada e misturada com cerca de 10% de cimento e muita água, de forma a permitir
uma argamassa bem fluida. Defasam-se as juntas de forma que cada tijolo apoie-se
sobre outros dois. O controle do nível deve existir ao longo de todo o processo. A
linearidade das paredes é controlada pela linha que corre paralelamente a elas, e a
verticalidade, por régua e nível. Nos cantos passa-se o esquadro em cada tijolo
assentado.
No topo da parede, que corresponde à altura das portas e janelas, passa-se
uma cinta de concreto, no caso das casas populares, com apenas um ferro de 6.3mm.
Esta passa por onde há parede, amarrando toda a construção. As saliências superiores
do tijolo promovem uma excelente integração da cinta com a parede. Sobre as portas
e janelas, para facilitar, podem-se usar elementos pré-fabricados, reforçados com aço
ou mesmo com materiais vegetais como o bambu ou outro produto local. Deixando-se
o devido comprimento de ancoragem, consegue-se uma boa ligação com o restante
das cintas.
A cinta de amarração sobre portas e janelas teve a sua forma aperfeiçoada. Em
vez de ferro pode-se usar varas de bambu, que também têm um bom comportamento
se forem usadas ao longo de toda a cinta, dispensando a armadura. (Ver figura 50)

58
Figura 50 - Colocação das barras de aço para a cobertura
Fonte: Autor da presente investigação, 2019

4. Cobertura
Sobre a cinta de concreto são colocadas barras de aço e cobertura. Pode-se
por mais fiadas de tijolo, caso se deseje um pé-direito mais alto. O telhado pode ser o
tradicional, com telhas cerâmicas tipo canal. Segundo Barbosa (2003), com o intuito de
barateá-lo, estuda-se a implementação de um telhado a base de cimento produzido
pelos próprios moradores. Também é estudada uma cobertura reforçada com fibra se
sisal.
No telhado, deve-se deixar um significativo beiral de pelo menos meio metro,
de forma a proteger o máximo a parede da ação das chuvas.(Ver figura 51)

a) b)
Figura 51 - a) Vista de dentro da cobertura. b) Construção terminada da residência
Fonte: Autor da presente investigação, 2019

59
5. Acabamentos e Instalações
O acabamento final das paredes pode ser feito preenchendo-se com uma pasta
de terra peneirada misturada com cimento e água os pequenos orifícios que podem
aparecer entre fiadas. Procedendo-se a uma limpeza correta, nenhum revestimento é
necessário (BARBOSA, 2003). A aparência dos muros ao final do processo é bastante
agradável, não necessitando de pintura (Ver figura 52). Esta fica a critério do morador.

Figura 52 - Residência com acabamentos e instalações


Fonte: Autor

Estudo de viabilidade económica e de impacto ambiental


O património de construção em terra na província do Huambo é um dos mais
ricos de Angola. As técnicas utilizadas são variadas e adaptadas de acordo com os
tipos de terreno existentes. Apesar do vasto património arquitectónico em terra crua e
de se verificar a existência de um clima favorável, a quantidade de técnicos
especializados nestes assuntos em Angola é extremamente reduzida, bem como as
referências bibliográficas.
Numa dissertação de Mestrado apresentada no Instituto Superior Técnico, foi
elaborado um estudo comparativo relativo aos custos de construção recorrendo a
materiais correntes (estrutura de betão armado e alvenaria de enchimento de tijolo
furado cozido) e aos três principais métodos de construção em terra (taipa, adobe e
BTC). As principais conclusões indicam que a utilização do BTC pode trazer uma
ligeira vantagem económica em relação aos métodos correntes, que se torna bastante
mais expressiva se se imputarem os custos relativos ao consumo energético na
produção das matérias-primas. Martins, (2011).
60
Este estudo revela claramente uma diferença de preponderância dos custos de
mão-de-obra e materiais, para as técnicas de construção em terra crua e para as
técnicas correntes, respectivamente. Se para as primeiras é a mão-de-obra a grande
fatia de custos, para as segundas a situação é mais equilibrada, havendo uma
expressão significativa do custo do acabamento final.
A imputação dos custos de impacte ambiental relativos ao sector da construção
torna a terra num material económico, não só devido aos processos simples e pouco
consumidores de recursos energéticos de utilização da matéria-prima, mas também
por não estar associada a grandes distâncias de transporte entre local de extracção,
produção e aplicação em obra.
A introdução destes dois conceitos - economia e ecologia - na construção é
uma problemática complexa, pois trata-se de conceitos teóricos diferentes na sua
ambição e objectivos. Se, por um lado, os recursos naturais são cada vez mais
escassos, por outro, os recursos humanos e tecnológicos aumentam, permitindo
manter o nível de vida.
Estima-se que no ciclo de vida de um edifício cerca de 2 a 4% do consumo de
energia refere-se à concepção, 20 a 30% refere-se à construção e 70 a 80% refere-
se à gestão e utilização.

No entanto, verifica-se também que, no que se refere à emissão de poluentes


SO2 durante o ciclo de vida dos edifícios, a construção corresponde a cerca de 54%,
enquanto que a utilização corresponde a cerca de 52%. Para as emissões de CO2, a
construção corresponde a cerca de 40% e a utilização a cerca de 60%.
Encerra-se este documento com uma palavra de esperança: a terra como
material de construção de edifícios está viva e recomenda-se! Na figura 53 registam-
se dois exemplos actuais de construção com BTC.

61
Figura 53 - Exemplo de uma habitação construída com BTC
Fonte: Autor da presente investigação, 2019

CONCLUSÃO PARCIAL
O presente trabalho consistiu na caracterização das principais propriedades
mecânicas, físicas e de durabilidade de blocos de terra compactada com e sem
estabilização por materiais cimentícios.
Na presente secção resumem-se as principais conclusões referentes à análise
e interpretação dos resultados obtidos ao longo da extensa campanha experimental
efetuada, sobretudo no que se refere às características da terra selecionada, o
comportamento físico e mecânico dos blocos de terra produzidos, as suas principais
propriedades de transporte e o seu desempenho em termos de durabilidade à água.
Finalmente, são apresentadas algumas propostas de desenvolvimento futuro com
vista a consolidar o conhecimento no domínio dos blocos de terra como material de
construção.

62
CONCLUSÕES GERAIS
O objetivo inicial deste trabalho, consistia na produção de um conjunto de
BTC’s capazes de assumirem uma boa capacidade resistente, obtida através da
adição de ligantes, e ao mesmo tempo apresentarem um bom comportamento face à
presença exterior de água, se necessário, através da introdução de produtos com
comportamento hidrófugo. Contudo, devido à falta de tempo para a realização de uma
campanha experimental dessa envergadura, compatível com os prazos previstos para
a elaboração da monografia, esta ideia acabou por ser posta de lado, podendo servir
como tema para futuras investigações.
Apesar de ter sido interessante verificar o comportamento que uma porção de
solo, ao ser misturado com uma pequena quantidade de adição e sofrendo uma
prensagem, pode apresentar, em particular derivado do resultado obtido pelos BTC’s
produzidos com cimento, existe a necessidade de melhorar as capacidades e
qualidade dos blocos, onde o problema relacionado com absorção de água se
destaca, juntamente com a fraca capacidade resistente quando se trata da solicitação
por ação de cargas horizontais.
Não se pretende com o exposto, impor a utilização da terra como elemento
prioritário ou único na construção, mas alertar para as qualidades que a mesma
apresenta e que, mesmo apesar de algumas limitações (como qualquer outro
material), poderá ser utilizada em conjunto com os “novos materiais”, conciliando, por
exemplo, a produção de paredes executadas em terra com suportes estruturais em
betão armado.

63
RECOMENDAÇÕES
Recomenda-se às autoridades competentes para se fazer uma intervenção
urgente concernente ao processo construtivo no bairro São Luís, por causa da
dificuldade de aplicação, originando inúmeras patologias provocando dificuldades
para os moradores em suas próprias residências.
Recomenda-se as Universidades em particular ao ISPH À divulgação
deste trabalho e de outros trabalhos científicos que enquadram em si formas de
resolução de alguns problemas reais de materiais de construção e construção com
terra crua,
Recomenda também:
 A investigação mais profunda e coerente de todos os constituintes e
percentagens de estabilizantes, afim de reforçar as propriedades mecânicas e
resistência do BTC.
 Ensaios de resistência termomecânica em regime estacionário em blocos de
terra compactada composto com cal ou cimento separadamente, afim de
verificar o comportamento da cal e do cimento quando elevado a alta
temperatura.
 Ensaios mecânicos realizados com o BTC arrefecido após ser submetido a alta
temperatura, com o objetivo de responder a percentagem de perda de
resistência após a construção/parede serem submetidos a um incêndio.
 Análise em diferentes temperaturas, verificando o comportamento do BTC
estabilizado com cal ou cimento com o objetivo de verificar o comportamento e
a resistência do BTC após serem arrefecidos.
No caso de execução da proposta, recomenda-se que antes haja uma
intervenção de um engenheiro especialista para que a implementação da técnica seja
eficiente.
Finalmente recomenda-se aos estudantes e pesquisadores, o estudo de outras
tecnologias para produção de materiais de construção, principalmente pela a
quantidade de informações e combinações que podem ser adquiridas de todos os
materiais envolvidos, além do crescimento do método construtivo BTC no âmbito
mundial.

64
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Mossoró, Rio de Janeiro, Brasil.

66
ANEXOS
Tabela 6 - Planilha orçamental de uma residência do tipo T2

Fonte: Autor da presente investigação, 2019

67

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