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O vento lançava
rajadas de ar fétido que se instalava nas narinas de seus habitantes. Não havia
distinção entre as classes sociais. As crianças de rua que inspiraram o escritor
Charles Dickens sofriam da mesma forma que os privilegiados parlamentares
britânicos.
A Câmara dos Comuns se reuniu no verão deste ano no Parlamento recém-construído nas
margens do rio Tâmisa. Os funcionários do edifício acrescentaram uma camada de
cloreto de cálcio nas cortinas da sala de reunião para tornar o cheiro mais
suportável. Porém não adiantou muito. O rio estava completamente coberto de dejetos
humanos. A esticada elite vitoriana passou o verão torcendo o nariz.
O pânico se instalou entre os cidadãos. Havia uma crença espalhada pela população e
pelos médicos de que as doenças eram transmitidas pelo ar. Respirar merda não era
apenas profundamente desagradável. Além disso, pensavam erroneamente que uma doença
podia ser transmitida com consequências fatais. As epidemias de cólera eram
frequentes.
O brilhante médico John Snow foi capaz de demonstrar, já em 1855, que esta doença
se transmitia pelo consumo de água poluída, porém ele foi ignorado pela elite
médica, segundo relata o blog Meridianos.
Esses dois meses pestilentos foram batizados de “The Great Stink” (em tradução
livre, O Grande Fedor) e desencadeariam a criação do sistema de esgotos mais
moderno que tinha sido criado até então. Um projeto tão bem desenvolvido que
continua em uso até os dias de hoje e que acabaria eliminando quase que por
completo os surtos de cólera. Isso tudo foi demonstrado. John Snow estava certo.
Quando a maré favorecia o fluxo de água para o mar, as comportas eram abertas e se
permitia jogar as águas residuais no rio de forma controlada, para evitar que
voltassem a entrar na cidade. (Mais adiante, as centrais de tratamento permitiriam
tratar e reciclar melhor estas águas, porém, para a época, era extremamente
avançado).