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I

efeitos. Este quadro levou o autor a aceitar o desafio de elaborar esta obra,
que tenta apresentar um texto didático sobre o tema.
i
A ,partir de sua experiência científica e aplicada nesse campo, o autor
elaborou uma abordagem própria da matéria. Esta busca desenvolver o
entendimento das questões físicas fundamentais envolvidas no fenômeno,
para a explicação de seus efeitos e para a indicação de potenciais ações
capazes de minimizá-los. Respeitando-se as atuais lacunas de conhecimen-
to sobre o fenômeno, essa abordagem busca caracterizar os aspectos de
consenso no meio científico, para estabelecer uma base conceitual firme.
A experiência tem mostrado que grande parte dos problemas práticos de ÍNDICE
proteção contra Descargas pode ter solução a partir da aplicação desses
conceitos. Esta abordagem tem sido praticada pelo autor em cursos de
pós-graduação e de graduação na UFMG e em cursos de extensão ofereci-
dos no Brasil e no exterior. A sua eficiência, em termos do resultado do
aprendizado, é considerada muito satisfatória.
Em relação a outros textos apresentados na literatura, centrados ape-
nas na física do fenômeno ou na simples indicação objetiva de práticas de
proteção, o diferencial desta obra consiste exatamente na abordagem integral do tema Capitulo I - Introdução .................... .
1. Considerações prelitninru·es .................... .... ....... ............... .......... .. .... ........... ....... 17
Descarga Atmosférica. Nesta, a conside1'Cição oijetiva dos aspectos físicos fundamen- ................... .
2· Conceito básico ·.............. .... ·· ··· ................. ·······... 17
tais do fenômeno subsidia o entendimento de seus efeitos e a definição de práticas eficien- 3. Efeitos ptina,·p,., ;s..d..a..s.. ......................................................................
D .............·.················ .. 18
tes de engenharia de proteção. "-' escargas .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ·.. ·.... ···.. ·.. ·
4. Breves considerações de ordem históric ............... .............. ........... ...................... 20
Dada a complexidade do tema, não se tem a pretensão de se apresen- SG alid a .......... .. ·· ·.. ·.. ··.. ··.............. ··.. ·....
· ener ades .. .. .... .. .. .. . 20
tar um tratamento notável em generalidade e em profundidade na primeira ...................................................................................·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·22
edição deste texto. Espera-se que, pela publicação de edições sucessivas, tal
Capítulo II A
obra possa ser aprimorada. - spectos do ambiente elétrico do 1
I . Co
- nst·deraçoes
- prelitnin P aneta .. .. ... .. .. .. .. ... .. .. ... .. 23
Para compreensão do texto tem-se a expectativa de que o leitor, de . () . , . ares .. .... .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .... .. .. .. ... .. ..
2 ambiente eletnco do planeta Te. .. .......... ·....... .
.. ................... ....... ... .............. 23
nível técnico ou superior, possua conhecimentos básicos de Eletrotécnica. 2lC . , . r ra ........................... ..
. aractenstlcas elétricas da Tena .... ............... ................... .. .... . 23
220 . .................... .
O autor espera que esta obra possa contribuir para a formação de . cu:cuho elétrico global.......... .......... .. .......... .............. ... .. ....................... 23
engenheiros, técnicos e estudantes, envolvidos com os problemas de instala- 2.3 O processo de eletrificação de nuven ............................................... .................... 23
ções elétricas, eletrônicas e de telecomunicações. Serão apreciados comentá- . s ........................................................... ..... 30
rios técnicos e mesmo a indicação de eventuais erros de edição. Capítulo liJ_ D . _
, escnçao fundamental d 0 f< ,
I · ( .1 >nsidera - . . enomeno físico
çoes preliminares ·......................................... 35
Silvén'o Visacro Filho 2· <> mec, · - . .. ......................................... ..
anis mo bastco de estabelecim ............................................. 35
visacro@cpdee.ufrog.com.br ~.I Indução de cargas elétricas ........ eoto da D escarga Atmosférica .... ............ ...... 35
·: Descargas elétricas em m eios ga~~~ ...... .............. ......... ................. ..................... ... 35
2. ' O Pod d os ........... ..
e r as Pontas .................................................... 36
....................................................... ........... .. .... ....................... 37
Capítulo VI - Medição e detecção de parâmetros de descarga ....... .. .......................... 97
b' . 37
. b , ico de estabelecimento das descargas atrn<~s encas ················· ········· 37 1. Considerações preliminares ......................................................... .. ............................... 97
3. Mecarusmo as 1 . descarga nega uva ....................................
2. Medição direta da corrente de descarga ..................................................................... 98
3.1 Transferência de carga para o -~o o. a ..................................... 44
tivas subsequentes ................ ............... 46 2.1 Introdução ........................................................................................... ................... 98
3.2 As descargas nega ................................. .
A descarga positiva.............................................................. .......... 47 2.2 Transdutores mais empregados para registro da o nda de corrente .. .. ............. 98
33. 34 A descarga bipolar .. .. .. ... .. . .. .. ... .. .. .. .. .. . .. .. .. ... .. .. .... .. . .. .. ... .. .. . .. .. ... .. ... .. .. .. .. .. .. . 48 2.3 Medição de descargas naturais através de torres "instrumentadas" ............... 101
. te contínua da corrente de descarga ................................................... .. 48 2.4 Descargas artificiais .induzidas por foguetes ...................................................... 105
4. A componen ...................................... .
tos complementares .. ............ ............. ............... ........... 52 2.5 Emprego de E los Magnéticos para detecção do valor de pico da corrente ......... 110
5. A spec . .. .............................................................
2.6 Considerações genéricas sobre as técnicas de medição direta .................... .... 113
6. Considerações fmrus ............ .. ............. ·.... .. .. .. ·
3. Medição indireta de parâmetros de descarga ........................................................... 114
Capítulo IV - Tipificação das descargas atmosféricas e nomen~l~t=~
...·.::·.·.·.:·.·.·.·.:·.·.·.·.::·.·.::·. ~~ 3.1 Introdução .............................. .. ............................................................................ 114
·d rações preliminares ·.. ····.. .. ·····.. ········ ·.. ·.. ·.. ·· ·· ······......... 53 3.2 Comentários preliminares: efeitos indiretos das descargas utilizados na sua
1 . C onst e ............................................ ..
medição ................................................................................................................ 114
2. Tipificação de Descargas .. ............... .. ....................... .. .... .. ........................... 53
. . fi - pelo percurso da descarga .... ... .. .. .. . .. ... .. .. .. .. .. .. .... 55 3.3 Medição tradicional de parâmetros de incidência ............................................ 116
2.1 T tpl caçao - d al recursor da descarga .. :..........
. ifi -o ela direção de propagaçao o can p 56 3.3.1 Nível ceráunico .............................................................................................. 116
2.2 Ttp caça p . al d transferida para o solo .................................... ..
3.3.2 Contadores de descarga ............................................................ .. ................. 118
2.3 Tipificação p_el~ sm a:argaf üência de ocorrência ................................ .. .. 58
3.4 Os sistemas de detecção e localização de descargas atmosféricas ........... .. .. ... 121
3. Comentários prelirrunares so re a req .. .. .. .. .............................. 58
4. Nomenclatura ........ ·· ···· ··· ···· .. ...········ ............................ ·· ... ······· 3.4.1 Introdução aos sistemas terrestres de localização de descargas ............... 121
3.4.2 P rincípios fundamentais das técnicas de detecção e localização ............... 123
d d ................. 65
Capírulo V - Caracterização dos parâmetros e escarga .........·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.................. 65 3.4.2.1 Técnica de Indicação de Direção- "D F" ......................................... 124
1. Considerações preliminares .................... ·... ·... .. .._.. ·.. .. .. .. ..... .. .. .. ....................... ... 65 3.4.2.2 Técnica da Diferença no Tempo de Chegada- "ToA'' ................... 126
2. Parâmetros de freqüência de incidênct~ ~eografica .......................·.·............................. 74 3.4.2.3 Técnica Interferométrica ........................................ ................................ 127
, . fi . s da descarga atmosfenca ...................... .. ....... 74 3.4.3 Sistemas de detecção em operação .. ........................................................... 128
3. P arametros stco ............. .. ........... ..
3.1 Forma de onda da corrente de descarga................................ .. ................... 74 3.4.4 D iscriminação dos tipos de descargas e estimativa de parâmetros ............ 130
3 1 1 Introdução ............................................................. :...... ............... ... 74 3.5 A rede brasileira de detecção .............................................................................. 130
. . d , icas de corrente: curvas média e mediana ................................ 77 3.6 O utros tipos de detecção indireta de descargas: uso de satélites e de radar ............ 132
3.1.2 O n as tlp . dupla exponencial ............. .
3 1 3 Representação da onda de corrente pe1a curva H 'dl . .. .... 79
· · la curva de e1 er ................. .
3.1.4 Representação da onda de corrente~~ . ais individuais .. .......................... 81 Capítulo VII - Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos
3 1 5 Peculiaridades da forma das ondas ongm .... 82 de segurança ....................................................................................... .. ................ 137
3.2-~plitude da corrente de descarga ............................................·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·..... 84 I. Introdução .................................................................................................................... 137
Carga transferida por descarga ............................................... ...... 85 2. J\ descarga direta ......................................................................................................... 138
3 ·3 , · da onda de descarga ........................ ·.....
3.4 Os parâmetros de tempo tlptcos .................................... ........... 86 2.1 Considerações gerais ......................................... .... .. .................. .. ................ .. ...... 138
.4.1 Tempo de frente de onda ............................... .. ................ 89 2.1.1 Influência do parâmetro energia por unidade de resistência .................... 138
3
3 4 2 Tempo de meia onda· ........... · .. ·... ·...... ·................. · .. .. ........ .. ··....... .. ... 90 2. 1.2 Influência do parâmetro valor de pico da corrente de descarga ............. 141
3..4.. 3 Tempo de duração total de descarga ..................... ........................·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·.·...... 91 2.2 1\ incidência direta de descarga em linhas de transmissão ............................... 143
3.5 Derivada máxima ...................................................................... .. ........................ 92 \.Descarga indireta ou próxima ............................ :............... ...................................... .. 144
· . nidade de resistência ................ .............................. ..... .. 93 l i Considerações preliminares ................................................................................ 144
3·6 E nergta_por u . . .' etros de descarga ............................... ........... ..
4. Consideraçoes fmals sobre os param
3.2 i\ tensão induzida em linhas por descargas atmosféricas .. .. ............................ 146 2. Conceüo fundamental d .
4. Aspectos de segurança ................................................................................................ 147 3 M . . , e SJstemas de proteção de estru
· odelos de 111c1dencia turas ................................ 217
4.1 Introdução .......................... .. ................................................................................ 147 3.1 Modelo eletrogeo~~~~~-~~~··············· ............................................. .......... 219
4.Z Caracterização dos acidentes típicos associados a descargas atmosféricas ........... 147 3.2 O modelo de p - ............................................. 219
. rogressao do líd .. ·· ..... · ... ···· ..... ··
4.3 Situações de exposição de risco ......................................................................... 153 4. Filos~fias de sistemas de proteção ....~.~.·.·.·....... .. ........... ................................................ 229
4.4Medidas preventivas ............................................................................................ 155 4.1 Filosofia "Frank.lin" .... .. .......................................................... 232
5. A incidência direta de descargas em linhas de transmissão ..................................... 157 4.2 Filosofia "Gaiola de·~~~~~·~;::·.·.·.·.-............................................................................... 234
5.1 Generalidades ....................................................................................................... 157 5. Componentes naturais do SPDA ................................................................. 237
5.2 Mecanismo de ruptura de isolamento em linha sem cabo de blindagem: 6. Sistemas rubridos ........ .............................................................................. 240
o "flashover" ...................... ................................................................................. 158 7. Considerações comple~~~~~:~·~··· ··· .. ·· ............... ·········· ······ ·· ....................................... 242
5.3 Mecanismo de disrupção numa linha blindada: o "back-flashover" ............. 161 ········································································ ......... 243
5.3.1 Considerações preliminares .......................................................................... 161
Capítulo IX- Referências bibliográficas .............. ..
5.3.2 Parâmetros de influência na amplitude da sobretensão resultante ........... 165
························································247
5.3.3 Medidas preventivas ...................................................................................... 176
5.3.4 A solicitação por incidência a meio de vão ................................ .. .............. 177
5.3.5 Considerações quanto aos aspectos quantitativos ...................................... 178
6. Fundamentos de tensão induzida por descargas atmosféricas .... .. ......................... 179
6.1 A importância do efeito Tensão Induzida ................................................ ........ 179
6.2 Considerações preliminares sobre o fenômeno Tensão Induzida .................. 179
6.3 Modelos de corrente de retorno ............................................................ .. .......... 181
6.3.1 Dinâmica de estabelecimento da corrente de retorno .............................. 181
6.3.2 Principais modelos de corrente de retorno ................................................ 187
6.4 Campos gerados pela corrente de retorno ....................................................... 190
6.5 O acoplamento eletromagnético entre canal de descarga e linha ................... 192
6.6 Principais modelos de acoplamento .................................................................. 195
6. 7 A dinâmica do fenômeno tensão induzida ....................................................... 196
6.7.1 Estabelecimento do efeito ....................................................................... .. ... 196
6. 7.2 Parâmetros de .influência na forma e na amplitude da tensão induzida ............ 199
6.8 Tensões induzidas em sistemas de energia e comunicação .............................. 204
7. Efeitos das descargas na rede aérea de distribuição de energia elétrica ................. 205
7.1 Considerações preliminares ................................................................................ 205
7.2 Efeito da tensão induzida no circuito de média tensão ................................... 207
7.3 Transferência de surtos da rede primária para a rede de baixa tensão através
· r · d ot· d e distr1'bu1çao
d o transtorma · - ..................................................................... 212

Capítulo Vlli - Prindpios de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas ........... 217
1. Considerações preliminares ........................................................................................ 217
INTRODUÇÃO

1 - Considerações preliminares

Dada a complexidade do tema "D escargas Atmosféricas", adota-se neste


livro uma abordagem na qual o assunto é introduzido nos seus aspectos elemen-
tares e simplificados, de mais fácil compreensão. Paulatinamente, em tópicos pos-
teriores, se evolui em profundidade, com um tratamento mais elaborado. Neste
contexto, nos tópicos de introdução, sacrifica-se o rigor da exatidão das conside-
rações em benefício dos aspectos didáticos. Assim, num processo contínuo de
reelaboração de conceitos e de introdução de novas informações, procura-se
sedimentar de forma cumulativa tais conceitos e levar o leitor ao estabelecimento
de uma visão consistente e ampla do fenômeno e de seus efeitos.
Diferentemente de outras obras centradas nos aspectos físicos do fenô-
meno, ou de textos limitados à apresentação de recomendações objetivas quan-
to a práticas de proteção contra descargas, na presente obra pretende-se desen-
volver uma abordagem integrada de engenharia. Nela, busca-se justificar os prin-
cípios e práticas de proteção a partir da compreen são das questões físicas envol-
vidas no fenômeno. Nesta perspectiva, procede-se inicialmente à análise objeti-
va dos aspectos físicos relevantes para entendimento do fenômeno e de seus
efeitos. Em seguida, são quantificados os parâmetros fundamentais para avalia-
ção da intensidade e forma das solicitações decorrentes de descargas. Daí, evo-
Introdução o ·19
18 o Descargas Atmosféricas

,. rinci ais efeitos gerados pelo fenômeno e das justifica- Para melhor caracterizar este conceito, recorre-se à Figura 1.2, na qual é
lui-se para a an~.se dos ~ . pd nharia pata proteção contra descargas. mostrado o registro da onda de corrente de uma descarga real entre nuvem e solo.
. dos ptinClptos e praticas e enge
tlvas , · d ' ·
. ado em oito capítulos. Neste capitulo mtro ut~no Ternpo (micro-segundos)
O texto fol estrutur N ítulo seoninte é caractenza-
,
apresenta-se o concet
A

·to básico do fenomeno. o cap


.
o-
, . d laneta Terra no interesse do texto. -10
1\
100 200 300
..
. · btente e1etnco o P '
do de forma ob Jetlva o am . d ocorrência do fenômeno. Os tipos -20
'tul 3 d reve-se o mecarusmo e
No capl o , esc ela ü'va ao tema são apresentados no -30
D' · nomen tura re1a
de descargas atmos encas e a - li d quantificados os parâmetros físi- -40
N 'tul s 5 e 6 sao exp ca os e
capítulo 4. os capl o . d nharia de proteção elétrica, e as -50
A d interesse aplica o na enge
cos do fenomeno, e . _ No capítulo 7 são apresentados -60
. · a mediçao dos mesmos. -70
rnetodologtas atuats para d pessoal com recomendações ~r
. d d as e aspectos e segurança '
os efettos as escarg _ . O rincípios de proteção de es- l(kA)
ntos pata prevençao de nscos. s P
sobre procedime . 'tul 8
truturas contra descargas atmosféricas são avaliados no capl o . Figura 1.2 - Registro da corrente de uma descarga medida na estação do :tvlorro do Cachimbo

,Nes~ _91so articular, a onda de corrente IE,edida tem sinal negativo,


2 _ conceito básico
_indi~ o_fluxo de car_gas negativas pata o solo. O formato impulsivo da
uma abordagem introdutória sobre o tema.
Neste capítulo proced e-se a , . onda é ilustrado na figura. Rapidamente, num tempo muito reduzido, da
Pretende-se formular resposta a uma questão bastca: ordem de alguns microssegundos (10·6 s) ou de pouco mais de uma dezena
de microssegundos, a corrente atinge um valor máximo, designado valor de
"O que é uma descarga atmosférica?" . .
,. , nhecida como raio, con~- pico ou de crista. Na curva, a corrente alcança uma amplitude de 75.000 A.
tam9-em co
h- dtscarga atmosjenca, T d um fenôm~o A partir daí, reduz seu valor mais lentamente, alcançado a faixa de 1.000 A
, . na atmosfera. rata-se e
tensa descarga eletrlCa que oco~red fl d uma corrente impulsiva de alta num tempo da ordem de 500 microssegundos, se anulando após alguns déci-
- essa atraves o uxo e
complexo, que se expr . d alguns quilômetros parte da mos de segundo. De uma forma geral, o valor médio da crista da corrente
- cuJO percurso e · -
intensidade e curta d uraça0 , --- . (F' . 1 1) de descarga varia entre 30 kA e 50 kA, dependendo do local da ocorrência.
ns casos atinge a superfícle da Terra lgura . .
nuvem e, em algu ' _ O tempo médio de duração de uma corrente de descarga aproxima-se de
+ I + \ + I 0,3 s. O percurso da corrente pode ter extel):São variada, dependendo da
+ +
+ + natureza da descarga. No caso de uma descarga entre nuvem e solo, usual-
+ + + + + + +
+ + + + + + +
mente, seu percurso visível se estende entre 1 e 3 km abaixo da nuvem, em-
bora seu trajeto total possa superar 1O km.
Por sua vez, o fluxo de corrente pelo canal ionizado, correspondente ao
percurso da descarga, gera aquecimento intenso. o canal são atingidas tempe-
raturas elevadas, superiores a 3.000°C. O aquecimento associado resulta num
efeito luminoso intenso, o relâmpago, e na expansão muito rápida do ar
circunvizinho ao canal, com o deslocamento de uma onda sonora no ar, o tro-
- .. . d rcurso de uma descarga atmosférica
vão. O conceito de descarga será melhor elaborado nos próximos capítulos.
Figura 1.1 - Represcntaçao esquemauca o pe
Introdução • 21

20 • Descargas Atmosféricas
Tabela 1.1 - Divindades associadas aos raios para diversas civilizações antigasfl 8•1321
. . car s tem sua origem nas nuvens de tempes~-
A grande mruona das des ~ . trada sua ocorrência em outras condi- Civilização Divindade Civilização/Religião Divindade
des (Cumulus Nimbus), embo:a sevul)are,gt~ e em tempestades de areia em de- Grega Zeus Asteca Tlaloc
d t erupçoes carucas Romana Júpiter Maia Chacs
ções, tais como uran e d descargas pode ser estabelecido entre Nórdica
lado 0 percurso as r: Thor H indu Indra
sertos. Por outro ' ou entre nuvem e estratosLera. (Escandinávia)
internamente à nuvem, entre nuvens
nuvem e Solo' Chinesa Ttien-Mu Católica Santa Bárbara
D os Incas Il_y_apa Candomblé Xangô

3 - Efeitos principais das descargas


~ , eno decorrem da incidência direta Em alguns casos, a experiência vivenciada por esses povos motivou a
Os efeitos mais~~~o . eno~di -estruturas sistemas elétricos e adoção de práticas preventivas eficientes para proteção contra o fenômeno. A
ao atmgtr pre os, '
das descargas. N esse caso, . - . ' ndio e eventualmente, mor- título ilustrativo, vale citar uma recomendação adotada pelas centúrias roma-
. . dem gerar destrUlçao, mce ' ,.
seres vtvos, os talOS po l de corrente sobre a vttlma nas, cujos soldados eram ordenados a não portarem suas lanças voltadas para
, . , · di ipada pe o percurso .
te. A potencia e1etrica ss . - . No entanto os efeitos mrus cima durante os deslocamentos da tropa. Muito provavelmente, a experiência
. . ) d r destrU1çao mtensa. ' .
(corpo atmgtdo po e gera . - eles associados às descargas m- com a ocorrência sistemática de incidência de descargas, quando a tropa mar-
nos tntensos) sao aqu , .
freqüentes (emb ora me . d rga próxima. A caractenstl-
. - · duzidos por uma esca .:::......-----..,. chava durante tempestades sobre o alto de colinas com suas lanças voltadas
diretas, ou seja, sao os ID d d carga torna o fenôm_WQ uma
· ' ·d d corrente e es ---- para cima, e o conseqüente aniquilamento de parte da tropa, devem ter moti-
ca de variação mUltO rapi a. a , ti os capaz de gerar danos e i-9::-
~ortante fonte de distúrbios eletroma~e c ' vado tal recomendação por parte de algum observador mais atento.
terferência em sistemas elétricos e eletroru~ - d Por outro lado, é também natural a existência de toda uma mistica em
. ,. volve a formação e evoluçao o
Além da complexidade física que, ~n e dificulta a sua análise. Para torno do fenômeno, que gerou muitas crendices sem o menor fundamento. Na
ta natureza aleatona, o qu . . Europa, em regiões rurais em tempos não tão distantes, era comum tentar se
fenômeno, este apresen . al , etros de interesse, cuja distn-
. - - d fi.rudos guns param "proteger" contra os raios portando um fragmento de "pedra de raio". Tal
sua caracten zaçao sao e . d dições realizadas em esta-
, · , d · da por me10 e me designação era atribuída ao sólido constituído a partir da vitrificação de uma
buição estausuca e etermma d d a e por medições de cam-
ções especiais para registro da corrente e escarg porção do solo junto ao ponto de incidência de uma descarga diretamente na
pos gerados por tais correntes. terra. Devido ao calor gerado pelo fluxo da corrente intensa do raio nesse
meio, em solos de composição arenosa pode ocorrer sua vitrifi.cação. Acredi-
4 - Breves considerações de ordem histórica tava-se que uma descarga não atingiria um mesmo ponto mais de uma vez e} assim} aquele
que carrega.sse consigo uma jledra de raio}} estaria protegido. Numerosos exemplos de
um fenômeno tão notável e intenso quanto a ~e~ca~~ crendices são citados na literatura e, possivelmente, são responsáveis por per-
Naturalmente, . d de os tempos pre-histort-
. b ão e regtstro es sistir, ainda hoje, um tratamento do fenômeno de natureza excessivamente
atmosférica rootlvou sua o servaç , ul proporcionado pelo fenô-
antado com o espetac 0 . , 1
cos. Maravilhado ou esP . - h antigo incapaz de explica- o "pirotécnica", injustificado em termos científicos.
de destrU1çao o ornem '
meno e com o seu P0 d er ' d ivilizações antigas o Apenas no século XVIII, por volta de 1751, a natureza elétrica do
. Praticamente em to as c
ou dominá-lo, o reverenciava. 1 i lmente a Tabela 1.1.
divina como reve a pare a raio foi demonstrada através de experimentos quase simultâneos conduzi-
raio era associado a uma fiIguta '
dos por Benjamin Franklin, nos Estados Unidos, e por Dalibard e Delor,
na França. Nos anos seguintes, experimentos complementares realizados
22 • Descargas Atmosféricas

em toda a Europa reforçaram esta descoberta, destacando-se as experiên-


cias de De Ramas, na Françall 321.
São tantas as referências específicas à questão histórica, que, certamen-
te, este tópico ocuparia uma ou mais obra particulares. Assim, uma aborda-
gem dos aspectos históricos é deixada para outra oportunidade.

5 - Generalidades
Reconhecidamente o tratamento do tema Descargas Atmosféricas não ASPECTOS DO AMBIENTE
se constitui em tarefa técnica trivial, em decorrência da complexidade física
do fenômeno, da dispersão dos seus parâmetros e da dificuldade de avaliação ELÉTRICO DO PLANETA
dos seus efeitos. Parte dos fenômenos associados tem metodologias aproxi-
madas razoavelmente corretas, que permitem o ajuste dos parâmetros de pro-
jeto para assegurar um desempenho satisfatório em termos da proteção de
sistemas e da vida frente às descargas. Contudo, é prudente observar que
alguns aspectos das descargas não foram, ainda, suficientemente estudados e
que são freqüentes na literatura erros grosseiros quanto aos aspectos físicos 1 - Considerações preliminares
fundamentais e em relação à interpretação e análise dos efeitos da incidência
de Descargas Atmosféricas. Para o entendimento d 1t: A
o enomeno Descarga Atm [;' ·
tuno contextualizá-lo num , . . os enca, parece opor-
Um dos aspectos que reflete tais dificuldades constitui-se na confusa cenano mrus amplo relacionado , din. .
terminologia praticada na área. Em alguns casos, um mesmo termo pode processos elétricos que ocorrem em nosso plan~ta Tal 1 a - ~c~ dos
no presente ca ítul · · co ocaçao e realizada
n~ =~r:;: :v~eo~~~;a~cteriz~ç~o simplifica~a
1
assumir significado muito diferente, dependendo da obra referenciada. Tal elétrico da Ter;a, do ambiente
aspecto motivou, neste texto, a organização de um tópico específico relati- cíficas em relação ao ftenoAm E J ba e subsldiar as conslderações espe-
vo à nomenclatura técnica adotada, numa tentativa de clarear o significado eno. sta a ordagem f: ili -
questões físicas associadas ao m . d ac ta a compreensao das
Atmosféricas, considerado no pr~=:~~pí::~~abelecimento das Descargas
dos conceitos fundamentais e de contribuir para a busca de uma padroni-
zação da terminologia.

2- O ambiente elétrico do planeta Terra


2.1 . Características elétricas da Terra
~contrário do que se tende a ima .
um comportam t . d gmar, o planeta Terra não apresenta
uma dinâmi den o 1nerte o, p~nto de vista eletromagnético. Existe toda
ca e processos eletrlcos , .
responsável pelo e uiliíb . d . e magnencos em nosso planeta que é
"~" q no as condiçõ b' · '
.~.erra. Esta din A . es am 1entrus que asseguram a vida na
_1 am!ca compõe um circu t, f/t · ft b 1.
uc fluxo contín d z o e e nco g o a, que implica a existência
uo e correntes elétricas e a manutenção de potenciais elétri-
24 • Descargas Atmosféricas

Aspectos do ambiente elétrico do planeta •


cos no planeta. Os usuais valores de campo elétrico e de densidade de fluxo 25
··························································· ··········
magnético naturais ao nível do solo em condições de bom tempo, compre-
endidos respectivamente entre 100 e 200 V /me entre 30 e 60 Jl.T, constitu- -1000 km Ionosfera
·················-············...
em a expressão deste comportamento. ··::::::.~.~§:~m:::::::M~i9.~t~r.ª::::::::::
b tratamento deste tema é bastante complexo e requer uma aborda- -so km Estratosfera ...
···...
. ···············································
gem multidisciplinar, envolvendo matérias como a Geologia, a Física e a
- 10 km Troposfera
Quirnica. A partir de evidências experimentais, já foi desenvolvido um co-
Nível do ... ·::.·2·k;.;;·······································
................ Biosfera
nhecimento concreto relativo à caracterização do ambiente elétrico do pla- mar ..................................
neta. No entanto, as explicações dos processos e os modelos para justificar - 6360 km Raio da lerra

integralmente esse ambiente carecem, ainda, da necessária consistência, per-


manecendo em estágio hipotético. Atualmente, muitas investigações estão
em curso para esclarecer tais aspectos.
Parece oportuno e de interesse deste texto caracterizar alguns aspec-
tos objetivos relevantes quanto ao ambiente elétrico do planeta, mais direta-
mente associados às Descargas Atmosféricas e de conhecimento já consoli-
dado como consensual no meio cientifico, mesmo que numa abordagem
bastante simplificada.
Nesse contexto, um primeiro aspecto de relevo refere-se à constatação
da ~ência de uma tênue eletrificação na atmosfera terrestr~~rn
condição de bom tem2o, em decorrência de um carregamento ~v...<Ldo
corpo sólido e liquido da Terra e de um carregamento positivo do_ar. Tal ~ cf' 1012
Q) E
distribuição de cargas é que resulta no campo elétrico vertical, junto à super- "O
ro (/)
~

~ § 1010
fície terrestre, de valor médio da ordem de 100 V/m. c ~
Ql •Q)

o Qj 108
Considerando-se o valor discreto da condutividade do ar, a persistência ~1~~~~~~uw~
do fluxo continuo desse campo elétrico constitui outro fator relevante, que h~-,rura 2.1 - Caracterís ti r ·
implica a existência de mecanismos de geração (fontes de camp_o elétrico), cas e et:ncas da atmosfera terrestrei'O!
Em sua ·
ca azes de manter a distrihuição de cargas entre a atmosfera_sç>_solo. De mruor parte, as característi 1, .
processos que ocorreram d cas e etncas do solo decorrem de
outra forma, considerando-se os valores reais da condutividade do ar, em urante o período d 1 - d
outro lado, uma parcela consid , 1 e ~v? uçao o planeta. Por
poucas horas, a carga negativa da terra seria neutralizada pelas correntes que
sas camadas da atm [; fl erave das caractensttcas elétricas das diver-
fluem para o solo. os era re etem o resultado d
e processos em curso.
Associado a esse campo elétrico, há o fluxo continuo de correntes elétri-
cas na atmosfera, cuja distribuição é muito influenciada pelas características elé-
A
camada de ar próxim ,
l'O~dutividade (1Q·l4 a 1Q·l2
ahuude, na mesm
S/:
fí .
a super Cle. ~a terra apresenta baixo valor de
- ). A conduttVIdade cresce rapidamente com
tricas desta. A Figura 2.1 apresenta um esquema simplificado dos parâmetros a proporçao em q a
.l,'Undo uma relaçao - . ue aumenta a densidade de íons no ar s -
elétricos fundamentais (condutividade elétrica e densidade de elétrons) de ca- 3 ptattca.mente exponen ·a1 p al · ' e
presença de íons p · · Cl · ara tttudes inferiores a 60 km,
madas da atmosfera da Terra e a distribuição de temperaturas com a altitude. OSltlvos e negati~ ul
'I<.I<> pela incid . . . os res ta do efeito de ioniza -
enaa direta de raios , . çao promo-
cosrrucos. Na camada superior da atmos-
Aspectos do ambiente elétrico do planem • ·· 27
s Atmosféricas
26 • D escarga
A~ nuvens de temRestades~-com se~centros de cargas ositivas e nega-
. eraturas a ionosfera apresenta valor elevado d~
fera, que possUl altas temp / , Ness;s altitudes superiores, tal condutl- -tivas sryarados funcionam como geradores no circuito. De forma simplificada,
. ·d d d ordem de 1 S m. ·- r dos por eletricamente, 9 planeta_.pode ser v:isualizado como composto por duas cama-
condutlVl a e, a .dade de elétrons livres na reglaO, ge a
vidade resulta da grande quantl . . - d~dutor~s (o solo e a ionosfera) separadas por uma camada de baixa
~ omplementares de lOruzaçao. condutividade (o ar), na qual se posicionam as nuvens de tempestades. Como
processos c
ilustra a Figura 2.2, no circuito, ~rente circula do topo das nuvens região
2 2 - O circuito elétrico global . carregada positivamente, para a ionosfera. Segue pelos caminhos..._de alta con-
. , . . ositiva contida na região c~re~a_E.l- dutiv:idade desta camada e complementa o circuito retornando ao solo pela
A car~ eletrJSª-espaclal P - d d 10 k.m praticamente lguala
- - 1 altura da or em e ' - d região de. bom tempo (região sem tempestades). O percurso da corrente se
tre a superfície do so o e uma 000 C) Considerando a condutividade o
- . d terra c~ 500.
a carga negativa a - .
- . .
d ta carga determma o con u
A ":"
tín o completa na região abaixo da nuvem, que tem sua base carregada negativa-
- - b po a eXlstencla es A) mente, na forma de descargas atmosféricas. Assim, as tempestades transferem
ar na região de om tem , lo (entre 750 e 2.000 .
rrente positiva do ar para o so parcela das cargas negativas para a terra através dos seus raios.
fluxo de uma co fl . . lica a existência de fontes gerado-
A natureza contínua desse uxo lffi_P mbinada de sistemas de gera- A identificação das nuvens de tempestades como geradores nesse cir-
. ·fi d como a açao co d cuito decorreu de duas constatações experimentais. Inicialmente, alguns ex-
ras de corrente, ldentl lca as f se caso as nuvens de tempesta es.
baixa atmos era, nes , lid perimentos demonstraram que as..tempest-ª.ill:s transfer_gg_ carga negativa para
ção na ionosfera e na l'trica armazenada na parte so a
. · · fontes a carga e e 5 ~a. Posteriormente, verificou-se a coincidência no período de ocorrên-
Caso não eXlstlssem talS '. d tempo compreendido entre e
. neutraliza a num l' . cia de dois eventos diários: máxima atividade de tem_Eestades no globo ter-
e liquida da Terra serta . . 1 al Assim o campo e etrlcO
40 minutos, devido à condutiVldade do ar oc . , restre e valor máximo do campo elétrico na superfície da terra, nas regiões
. · lmente dissipado. de bom tempo. Tal coincidência indica que as tempestades são responsáveis
ser1a mtegra qual se inserem a pelo aumento do fluxo de corrente no circuito global e, por conseguinte,
definição do percurso n 0 . .
Tais aspectos requerem a . . d ar para a terra, que constltul pela ampliação do campo elétrico nessas regiões.
e o fluxo de corrente posltlva o
fonte gerad ora
um Circuito Elétrico GlobaL É possível estimar os valores de algumas grandezas, associadas ao circuito
------------------ global, como sugere a Figura 2.2 e indica o circuito equivalente da Figura 2.3.

Rronosfera =30 mO

1
-200 MV =-280 kV
Correntes de t 1 IN
tempestade• • c Correntes de 2,9 F (150- 600 kV)

Correntes de _
• f
\ -;1 .-: +100 MV
• ,• •
tempo bom
-
-.
11- f
\ , . / ' ' - , Corrente global
• •• • de bom tempo
T j_
tempobom r t ++ ~
-}'" t \ 2000x0,5A 11ft RTerra = 1 m! l
~~ L -:: : _t_1iliJ MV + -: : -. )J =1 kA t t 11
1

' ' ' lc I~=-0,5A
pm
J oi oi
J " ~
.':: .~J-
r t _ .~ ~
lrgura 2.1 - O circuito elétrico equivalente simplificado

J'L Jt_ tempestade ">


Em todo o globo, permanentemente ocorrem cerca de 2.000 tempes-
Terra ~~ t:tdcs simultâneas, cada qual gerando uma corrente média da ordem de 0,5 A
J da nu\'cm para a terra. Assim, pode-se considerar o fluxo continuo de uma
Corrente Lípica de 1 kA no circuito global.
. d Circuito Elétrico Global
Figura 2.2 - Esquema representatJvo o
Aspectos do ambiente elétrico do planeta • 29
28 • Descargas Atmosféricas

Na região de bom tempo, circula pelo ar uma corrente entre a t i t Condução, JE

ionosfera e a terra. O valor da resistência da coluna de ar entre a ionosfera


e a~superfície do solo tem a ordem de 200 Q. Logo, é possível se estimar a lf\
diferença de potencial entre ionosfera e terra, a partir do fluxo da corrente
'
+++
_± ++ '~
(-25 a -60°C) ~
pela resistência dessa coluna. As oscilações típicas na corrente (entre 750 e
2 k.A) determinam que a amplitude da tensão no circuito oscile entre 150 e
....
•···· · · · · · (·. j i')_
··~···
t 1O a
_
-20~ ~~;=~~~ã~e
r 'l. de cargas
600 kV, com valor médio de 280 kV.
Os valores das resistências equivalentes das regiões abaixo e acima da
í./
nuvem de tempestades não são bem conhecidos. Porém, sabe-se ue é a r~s­
I 1 1 I
I ; I ; I ; I ffi Precipitação
tência da região entre o topo da nuvem e a ionosfera que determina ~valot.da
Corona I I I I 1 I 1 if JP

corrente no circuito lobal, por se constituir na maior impedância des~


to. Estima-se
cirç_ui-
que~eu valor esteja compreendido na faixa de 1ü-~ a 10
6
Q.
Convecção
J~~~-
~
\
JcAP
ttt :
JcoR I 1I 1I I I
I I I I 1I
I I I I I I I \\_'-._
1 1 1111
Convenção
Jc
~
/777777777777777~~7
.......
Por outro lado, a resistência da coluna de ar na região de bom tempo
Figura 2.4 - Composição de correntes na regt·ão abaDco
. da nuvem de tempestade (adaptadoi'Of)
influencia significativamente na distribuição da densidade de corrente local ao
largo da superfície terrestre. Particularmente, é a parcela do ar mais próximo ao
. e~te entre os centros de car-
nível do mar, que tem muito menor condutividade, que determina o valor desta A Figura 2.4 faz também referência à corr
ga separados no interior da A
resistência. ~ _mais elevadas da Terra (montanhas e picos) contribuem
. nuvem. conduttVldade do ar , ·
deterrrunada pelos íons "rápidos" (de . , . e praticamente
com uma maior_t~arcela dª-corrente,jllstamente_por excluir da colunª-.de ar. esta mobilidade. Nas nuvens de t dmeno.r mercla), que apresentam maior
parte da atmo~ enor condutividade, localizada a baixas altitudes. Assim,
-------=-
-
partículas de maior mass
empesta es t ' li
f' , rus tons vres são capturadQ.§ por
a, coEE_gurando um , 1
as cadeias montanhosas e cordilheiras, como o Himalaia, contribuem para a re- condutividade elétrica na r ·- N .- . a senslve reduçfuLQ.a
egtao. o mtenor da al · · .
dução do valor médio da resistência da coluna de ar na região de bom tempo. condutividade é um elemento fund 1 nuvem, t diminwção de
amenta para mant d
O circuito entre a ionosfera e a superfície da terra se fecha pelas regiões de tros de cargas de sinal , . . er separa os os cen-
contrano constituídos 1
ção das nuvens Q d . · pe os _processos de elettifiça-
tempestades. A representação desta parcela do circuito é bem mais complexa. - · uan o a e 1etnficaçã d
intensa, a diferença de pot .al o ecorrente desses processos é muito
Na região superior à nuvem, a corrente flui neutralizando parte das cargas posi- ena entre os centros de .
tivas depositadas no alto da nuvem. Na região inferior à nuvem, a base negativa pode alcançar valores elevadí . d carga negattva e positiva
ss1mos a ordem d
como ilustram as Figur 2 2 , e centenas de megavolts,
A •

desta induz cargas positivas no solo e estabelece campos elétricos locais intensos, as · e 2.3. A ocorrenc1a d d
que apontam para cima. ~~s processos dinâmicos ocorrem na região entre a
entre centros de carga d . . . e escargas atmosféricas
e smrus contráno · ·
mente, os processos de r b. - s no mtenor da nuvem e, eventual-
base da nuvem e o solo, incluindo as correntes asc_endentes de convecção,~e­ ecom maçao de carg - ,
corrente de sentid , . , as sao responsaveis por uma
ci0tação (chuva), o efeito corona, as correntes capacitivas e as descargas ~s­
das cargas gerad ,o contrano aquela g erad a pe1a lOnte, c
que neutraliza parte
féricas. Câda um destes processos é responsável pelo transporte de cargas na as no processo de eletrificação.
região, determinando as várias componentes de corrente sob a nuvem. Contu- De qualquer forma 0 · , .
do, dentre as várias componentes, P.redomina amplamente o efeito das correntes mente fechado (carga li ' .ru:1stema_ e1etrlco~nstituído na nuvem é basica-
das_des~~tmosféricas, que transferem carga ~gativa da base da ~ suticiente para gerar
.
qw a.e_ro:xJEladamente nula), não sendo nor si só
corrente no cir ·t 1 bal , _
cw o g o . E a açao de bomb~arnento
-.c:; -
para o solo (representando uma corrente convencional positiva dirigida para a assoctada à ocorreAn . d d
aa e escargas a!IDOSiencas
c' . entre a base da nuvem- e a'
nuvem). A Figura 2.4 ilustra a composição de correntes na região.
30 • D escargas Atmosféricas
Aspectos do ambiente elétrico do planeta • 31

c~
A • car a ne ativa loc~ara o solo, que ~o
terra, tran__sferenclua _ flg _ dg corrente. Tal evidência realça a natu- Eventualmente, uma pequena parc ela de nuvens " temperadas" (ou
. bal ultando no uxo e . . al
circwto glo , res
d fonte geradora da nuvem d e tempestade no cltcwto glob . . subtropicais) constituem também fontes de descargas.
reza A e Tabela 2.1 apresenta um s~~ano,, . com valores representativos de A formação das nuvens Cúmulus Nimbus ocorre basicamente a partir do
-
grandezas envolvt.das no circuito eletnco global. encontro de vigorosas correntes ascendentes de ar quente e úmido e de frentes
frias superiores que se deslocam a maiores altitudes e que envolvem intensos
, . gl0 baJIIUI
· d ades do cixcuito eletnco
Tabela 2.1 - Resumo de propne fluxos descendentes. A s dimensões dessas nuvens são elevadas e variam em uma
ampla faixa. Seus diâmetros têm a ordem de 1O ktn, com a base e o topo alcan-
çando altitudes compreendidas, respectivamente, entre 1 e 20 ktn. A altitude da
Propriedade (unidade) Valor Faixa limite
base da nuvem pode variar significativamente com a latitude. Próximo à região
típico citada
do equador, usualmente, as nuvens têm sua base mais elevada (ordem de 3 k:m).
na literatura Quando se afasta do equador, nas regiões localizadas além dos trópicos (regiões
· 'dem no solo .por segundo
Número de descargas que tna A T .. 80 50 - 100 temperadas), esta altitude pode ser bem inferior (até 1 ktn).
· ·d ad e s·imultanea na erra
Número de tempestades em at:J.VI 2.000 1.500 2.000
O ambiente físico no qual se dá a formação da nuvem de tempestades
Corrente por tempestade (A) 0,5 0,1 6
é extremamente complexo, como ilustra a Figura 2.5. Nuvens cuja base e
Corrente global (A) . . Terra (C) 1.000 750 - 2000
topo se posicionam entre altitudes de 2 e 12 ktn são relativamente comuns.
Carga elétrica armazenada na parte solida da z 500.000 -
Entre tais limites, a temperatura oscila de algumas poucas dezenas de graus
centígrados (~20°C junto à superfície da Terra) até cerca de -50°C, no topo
Carga trans f;en:da em todo o mundo (C/ano/ km ) 90 -
p . I da Ionosfera em relação ao solo (kV) .. 280 150- 600
otenaa d os1t:J.vas
Diferença de potencial entre os centros e cargas P .
da nuvem. Na mesma faixa de altitudes, a pressão varia entre uma atmosfera
200 -
e negativas no interior das nuvens (MV) e um quarto de atmosfera. A composição química e física do meio é variável
Resistência da coluna de ar (Q) 230 - e compreende desde o ar úmido das correntes ascendentes próximas ao solo,
Coos1.d erand o o efeito das partes elevadas 200 rico em oxigênio e nitrogênio, até a atmosfera rarefeita na parte superior da
. · na superfície
Densidade de fluxo magnet:J.co . do so1o (l..t.T) 45 30 60 nuvem, onde se verifica a presença de partículas de água e granizo.
Campo Elétrico - nível do solo em regtão de bom tempo 25 Chuvas de
Equador (VI m) - inverno Chuvas de verão
1/16
60° de latitude 120 - Nuvem de
20 Nuvem tempestade gigante
Pólo Sul 155 - semifropical
-50
71
Ê 1/18 ü
, . ao mve
Campo elet:J.1co , 1do solo (sob tempestade) (kV / m) 5 3 a 10 c 15 -60 ~
Ql
'O ro
Condu tividade do ar (S/m) ~ Ê 'O
ro
10-14 .§. E
Ao nível do mar - ~ 1/4 o
';(

Ao nível de montanhas muito elevadas 1 Q-12 -


10 •ro
(/)
e
a.
r/) ro
1!:> -40 ~
0.. ::J
5 ~
1/2 Ql
a.
2 3 - O processo de eletn·t·•caçao
- dé nuvens
~ o E
~
· .c- · s tem sua onge m principal nas nuvens d e tem-
A • . o
As descargas atmos tenca . . 'dade convecttva.
nu~m do <ompcmdo (okbp~do'"l
pestades, as Cumulus Nimbus, caracterizadas por intensa at1v1 1 +20
''"'"' 2.5 · Condiçõ" •mbiontru, "' regiio do um,
32 • D escargas Atmosféricas
. Aspectos do ambiente elétrico do planeta -~ 33
Ademais, existe toda uma dinâmica responsável pela mudança contínua _pgr~es da nuvem têm natureza di ifi d
- -- vers ca a e são bastan
----
do ambiente interno da nuvem. Várias forças atuam nesse ambiente, exercendo .I

- - ------~-,.---
influência nos processos físicos e quúnícos ali desenvolvidos. Dentre tais forças,
,.Çaçao eórica Cietais procesSõs _ , . te compJ.exos. A expli-
na~ esta, ~a, completamente esclarecida
p or outro lado n
sã<:i.elevant~ aquelas associad~ ao movimento ascende~q~te, w .
' uma perspectiva objeti d
de proteção, o que realmente impor!. - ,
- -
li -
-
va e ap caçao em engenharia
·
movimento descendente das frentes frias superiores e ao efeito da gravidade. eletrificação, mas a caracten·~ - Ja nao e tanto a explicação do processo de
Esse efeito é responsável pela precipitação, movimento descendente das gotículas 1ar, a representação da Fi '--açao2ao resultado tí~>ico d. t. p
6 , . r_ . es -e rocesso. Neste particu-
de água e das partículas de granizo desenvolvidas na parte superior da nuvem. gura · e mwto slgntfi · El
aspectos relevantes para 0 t di cativa. a denota alguns
en en mento do ·
Nesse ambiente complexo identificam-se vários processos físicos, qui- descarga atmosférica consid d , . mecarusmo de formação da
' era o no proXlffio capitulo.
micos e dinâmicos capazes de promover a eletrificação de partes da nuvem.
De alguma forma ainda não precisamente determinada, .____ as correntes ascen-
dentes/ descendentes de ar e a int_:ração entre as par_tículas em suspensão e
em_preciE_itação nas nuvens atuam para separar cargas po~itivas e negativas
~o interior das nuv~. Tais procesSos detern:llnam--;_ transfe~-de u~ I
excesso de cargas positivas para a parte superior da nuvem, deixando sua ,-;a
::J
~
8
base com uma carga líquida negativa. ~

Muitas teorias, com suporte experimental, explicam etapas da eletrifi-


4
cação das nuvens. Identificam-se vários processos capazes de contribuir para
tal eletrificação. No entanto, até o momento, não foi sintetizada uma teoria 2
única, capaz de contemplar integralmente a explicação para o resultado da
2
eletrificação. Tais processos podem ser organizados segundo duas escalas Pigura 2.6- Distribuição típica de cargas elétricas
em uma nuvem de tempestade
espaciais, uma de dimensão microscópica e outra macroscópica.
. ~ Em_toda IJª- ~tensão, a nuvem é ._ .
Na escala microscópica, os processos contemplam os mecanismos de gera- trtcamente. A base da n co...!Pl?osta por ~glOes lonizadas ele-
- uvem a resenta uma camad d -
ção de cargas, que levam ao carregamento das partículas de água e gelo e, eventual- espessura tipicamente d limi d a e car as ne ativas de
e ta a por uma faixa d al . ,
mente, à recombinação das cargas. Esses mecanismos incluem a criação de pares tura~reencfu~as entre -lOoC e o e . titu~es,_ç_~m~a-
de íons, a captura de íons por outras moléculas e a separação de cargas pela colisão ar bastante, inclusive com--; latitud A li -20 __Ç. .Trus altitudes podem vari-
e atrito entre partículas individuais em suspensão e em precipitação ou convecção. 8 km de altura para tempestades de. _teratura Situa tais altitudes entre 6 e
inv:_rno, em regiões temperadas. : :erao e entre ~.e 3 km_par~ chuvas de
A escala macroscópica se refere aos processos que resultam na separa- rcgrao s~erior da nuv J i-.Carg~ostt1vas estao dispersas_.o,a
ção em larga escala dos grandes volumes de cargas negativas e positivas, que - - em, em volume b · -'
uma camada e tam ouc- em mrus amplo. Não configuram
configuta a distribuição de uma camada de cargas negativas na base da nu- do distribuída; na rpeo-ia_oo, apr~sentam temperatura ou altitude típicas estan-
supenor da n d '
nores a -2soc N
• l=>"
vem e de um volume de cargas positivas em sua parte superior. A separação . . . uvem, on e as temperaturas são inb
· . a .earte mfenor da n b . e-
física destes volumes de carga pode ser atríbuida, sobretudo, à convecção e podem ser encontrados-;:} - - uvem, a- ruxo da camada negativa
precipitação em larga escala, ou à combinação de ambas. O valor reduzido . . gu~pequenos bolsões de cargas positivas '
d~uti~~~do_ ar no ambiente interno da nuvem de te~~m A distribuição de carga . ·- . . .
~la exis tência de camQ_os elétric: na t~gla~ mtenor à nuvem é responsável
.__pap~l_iundamental na manutenção da separação das cargas na re~.
clcvadissimos de difer d _ s gJ.wto ln. tens<2_s, que determinam valores
· . . ença e potencial
Pode-se afirmar ue_os p~ocessos que determina.tl!._ o carre~arn~as c nt:gauvas, gue podem al entre os centros de cargas positivas
cançar valores superiores a 200 MV
DESCRIÇÃO FUNDAMENTAL
DO FENÔMENO FÍSICO

1 - Considerações preliminares

No capítulo anterior foram considerados aspectos objetivos relativos


ao ambiente elétrico da Terra, necessários à compreensão do fenômeno Des-
carga Atmosférica. No presente capítulo se evolui para a descrição do meca-
nismo básico de estabelecimento da Descarga e, nos capítulos seguintes, pro-
cede-se à caracterização de seus parâmetros e efeitos.
Neste capítulo, o objetivo fundamental refere-se ao entendimento das
questões físicas associadas às descargas atmosféricas, à natureza dos fenôme-
nos considerados. Assim, não existe preocupação com a quantificação de
grandezas, tópico reservado para capítulos posteriores.

2 - Fenômenos básicos envolvidos no estabelecimento


da descarga atmosférica

2.1 - Indução de cargas elétricas


É uma propriedade física muito conhecida a capacidade das cargas
elétricas de induzirem cargas de sinal contrário em corpos condutores.

-
1\ssim, a b_g_se da nuvem furtemente carregada com cargas negativas é
- -
Descrição fundamental do fenômeno físico • 37

36 • Descargas Atmosféricas
2.3 - O poder das pontas
'buição de cargas P ~ de 05
b sombra uma distn diá' ·
az de induzir _no so o so s~
1 el' trico na reaião interme ria Uma outra propriedade física genericamente conhecida constitui-se no
caP . d um forte campo e b- . . d
chamado poder das pontas. Fundamentalmente, nos corpos condutores carre-
mesma in~e, geran o 1 d da diferença de potencial assoCia a.
--- solo com valores e eva os gados eletricamente, ~~t~ropriedade traduz a tendência das car~s elétricas
entr~ nuvem e ,
se concentrarem nas extremidades do c~o. l!._ma import~te conseq~cia

-
L +
+ +++ +

--~ ~ J- ++
,--i+~ + \ ~)
~( +++++++ .._/
+
++
+ - + ......,_...
+- {
..---------
des~e efeito cons1ste no aumento do campo elétrico nessas extremidades, em
- -- ' -
relação às outras partes do corp__9. E esta propriedade que explica o fato dos
/" ' processos de ruptura do isolamento no entorno dos corpos eletricamente
,_.~
\(
-
- - ---- -- ::. _-f--
- 1
I carregados terem inicio em suas pontas, dando a origem a canais disruptivos
,{ -' --
C"+ - - - + --
- ,-_,. E que partem das extremidades do corpo.
Campo elétrico estabelecido

i i i entre nuvem e solo


+
+ + ++ ++++
3 - Mecanismo básico de estabelecimento das
I elo carregamento da base da nuvem
. C
F1gura 3.1 - ampo
induzido entre nuvem e so o P descargas atmosféricas
.. presentes na part~ ~_g!_or 3.1 - Transferência de carga para o solo: a descarga negativa
d cargas pos!tlvas . .
O efeito dos centros e , . d T pois estes estão mUitO mais
_ , ·d merfíc1e a erra, d
d a nuvem _nao e sentl o ~a su_r ----- u·vas localizados na base a Para facilitar o posterior detalhamento dos diversos aspectos envolvi-
- --- de carga nega
-distantes do solo que os centros . ovem uma blindagem com tela- dos no fenômeno descarga atmosférica, neste item é introduzido, de forma
mais as cargas negauvas prom simplificada, o mecanismo de evolução de uma descarga que transfere carga
nuvem. Ade '
ção a esse efeito. negativa da nuvem para o solo.

r
Uma nuvem, carregada com cargas elétricas negativas em sua base,
, . m meios gasosos nduz no solo abaixo de sua sombra um acúmulo de cargas de sinal contrá-
2 2 . Descargas eletncas e . io
· . - desenvolVidos num me io, com o estabelecimento de uma enorme diferença de potencial entre sua
1, ·
Quando campos e etncos
mtensos sao . ,
processo físico associado a base e a superfície do solo. O valor desta diferença de potencial pode ser
ode ocorrer um
dielétrico (isolante) gasoso, p . ternas dos átomos que com- muito elevado (várias centenas de megavolts) e o campo elétrico correspon-
, d camadas mais ex , O f
liberação dos eletrons as , d arga elétrica (ou faisca). e- dente igualmente intenso, sobretudo, junto à base da nuvem e à superfície do
· m a uma esc . d
õem o material, dand o ong~ meios gasosos é deslgna o solo. Em algumas condições, o cam po elétrico, em determinadas regiões
P ~ ia de tals processos em
nômeno de ocorrenc internas na base da nuvem, atinge valores superiores à rigidez dielétrica do
-Mecani:mlo_de To'Nnsend. , u· a que expressa a capaci- ar, determinando a ocorrência de uma descarga elétrica inten~a, que consti-
. , . ui uma caractens c tui um canal ionizado de plasma, cujo comprimento . se estende por várias
Cada meio dielewco pos~ 1' trl.co sem que ocorram pro-
.. d d 0 ao campo e e · dezenas de metros. Neste canal de características condutoras, acumula-se uma
dade de suportabilida e o ~el , nh .d como__rigi;l§~dielétrica do melO
. Tal opnedade e co eci a , 1 elo ~trande quantidade de cargas negativas provenientes da região circunvizinha
cessas disrupuvos. pr , . de campo elétrico suport~
da nuvem, ionizada negativamente. O acúmulo de cargas resulta no aumento
material. Corresponde ao valor maXliD~sticas isolantes. Quando tal valor ~e
do campo elétrico nas extremidades do canal, o que tende a gerar descargas
material sem que ele perca suas c~~acte t " dos elétrons dos orbitaiS
d rre o arrancamen o . dos consecutivas semelhantes à inicial, e configura uma longa coluna de plasma.
campo é ultrapassa o, oco - material, provendo o melO . .
, que compoem o ngl- Tal. _coluna, carregada negativamente, tende a ser impelida para baixo, na
mais externos dos ato~o~ nte de descarga. No caso do ar, a rcgtao externa à nuvem (Figura 3.2).
elétrons livres responsavcts pela corre MV/
· d mente 3 m.
dez dielétrica vale aproxuna a
D escrição fundamental do fenômeno físico 39

38 • Descargas Atmosféricas I
alcança clistanaas de poucas centenas de
A •

~ + + + + +) I dendo das características do relen 1 al metros da superfície do solo, depen-


/ + - (+ + '4- ·+ + / • o o c ' o campo 1
+\ + que pode dar origem a descarga 1' . no so o torna-se tão intenso
·~
++ + + + + + -' -
d , . s e etncas ascendent E '
(_ \++ +) sao e vanas dezenas de metros . es. stas podem ter exten-
' {
~
l
I
1 l, .
po e etnco médio local q
e seguem aproXlffi d
.
.
a amente a direção do cam-
. ' ue aponta para cuna N
L~ +~-+ ~­-
\ (- - - - _ -_ J

descnto anteriormente para d · um processo semelhante ao


+ \ .- -~ d a escarga descendent
ente pode evoluir por passos atra , d d e, o canal (ou canais) ascen-
C ' ves e escargas clisruptlvas
. consecutivas
. . aso o di
canal descendente e um dos cana..ts
A
. ascendent " .
a Jam uma stancia críti . J: • • es concorrentes"
tln ca lillenor a deterrrunado limi .
Figura 3.2 - O aparecimento do canal precursot· de descarga na base da nuvem da carga acumulada no canal d d te (assoc1ado ao valor
. escen ente) pod
Novamente ocorre o afluxo de cargas negativas para o canal, provenientes mterliga por meio de um salto final (fi e ocorrer uma descarga que os
_ gura 3.4).
da região ionizada na base da nuvem Devido ao poder das o campo elétri- ponta~
co na extremidade inferior da coluna fica muito intenso e pode gerar uma nova
descarga- Esta tem comprimento da ordem de 50 me sua direção segue, aproxi-
madamente, a orientação do campo elétrico local, cujo sentido prioritário aponta ~~!-r:
~ ·. ·.... .. +

verticalmente do solo para a nuvem. No plasma do canal desta nova descarga, ~- ..


re-pete-se o processo de acúmulo de ~s
negativas providas pela região inferior L ~--=--
\ - - • -::
da nuvem. Esse processo pode alimentar uma nova descarga com a mesma carac- I
-
terística da anterior. Fica estabelecido o chamado canal precursor de descarga. y
Se permanecerem as condições necessárias de intensidade de campo
~
···*' ......
elétrico, este canal pode evoluir por passos da ordem de 50 m, devido a (a) (b) (c) (d )

novas descargas disruptivas subseqüentes, a cada intervalo da ordem de 50


ms . Em alguns casos são constituídas ramificações neste canal descendente, r·'tgura 3.4 - O processo de co nexao . ascendente e descendente (attachmen~ com o salto final
- dos canrus

que evolui em direção ao solo (Figura 3.3).


~+
. .,.~ ' j.. f-r· .... ·'. ".. ·v . ..,.. . No momento em que ocorre o fech
nuvem e solo, é estabelecida d amento (conexão) do canal entre
·~ ..·~: ·~ ' 'l ~
:r. '·...",
q . .... • •
9 +
-r;:- • ~ ' \ -'• -fí.
·i ' -L.../· .. • • .. • • - I ... t
h uma on a de d .
c./t .... .+

...
t

·..
t
~

..
'-~--/ .. ,+
<' ..... :
t

\~- ·. ·.. ( ' + •


c, amada corrente de retorno (return stroke corrente e alta mtensidade, a
curren~, com_o ilustra a figura 3.5. Esta
çr _-
( ··~
>.-
.., - ))
(_
(I
,t I + F - t >J ( -··~ t }\,
c_ __!.~~-f se propaga pelo canal
.c dcscendente, neutralizand
. d
' a partlr o ponto. de conexao - d os canais ascendente
ond d
a e corrente na base do o as cargas
canal ali acumul
simil , ad as, e d ando origem a uma
, ar aquela apresentada na Figura 1.1.
~
~
~
~ (c)
(d)
(b)
(a)

foigura 3.3 - A evolução por passos do canal precursor de descarga

À medida que este canal carregado negativamente se aproxima do solo, O.'l


egião abaixo do canal, aumentam a densidade das cargas positivas induzidas"'

(
uperflcie do solo e o campo elétrico associado. Quando o canal descenden~
Descrição fundamental do fenômeno físico • 41

40
• Descargas Atmosféricas
• A carga que se desloca no canal é sempre negativa e corresponde ao mo-
vimento de elétrons livres, devido à maior mobilidade destes em relação aos
íons, que possuem inércia muito maior. Assim, na formação do canal des-
cendente negativo, são os elétrons que se deslocam para baixo ao longo do
canal que evolui. No canal ascendente, a carga positiva que se desloca para
cima, em realidade, é o resultado do desl~camento fisic~ de <jétrons para
baixq. Quando o canal se fecha pelo encontro dos canais ascendente e des-
cendente, a onda de corrente que se propaga é constituída pelo fluxo de
elétrons para baixo. Evidentemente, para a representação convencional da
corrente em engenharia, a qual não reflete o deslocamento fisico da carga,
adota-se o sentido contrário àquele do deslocamento dos elétrons.
7 7 7 / .
j) . minoso e sonoro assoctados • Não é correta a idéia de que a corrente de descarga seja aquela pro-
. 3 5 A corrente de retorno e os e ettos 1u
Ftgura . -
el anal ionizado correspondente ao vida a partir da transferência de carga da nuvem para o solo após o
O fluxo da corrente de descarga ~ o c r . 'luminoso o relâmpa- fechamento do canal E m realidade, a corrente de descar a é ndamen-
. ento tntenso e um eieltO '
percurso da descarga, gera aqueCliD - do ar circunvizinho ao canal e talmente provida pel9 sim~es desc~gam~o~arga acumulada

,
..
·
go. Este aqueCliDento res
d 1
ao consequente es ocamen
hd
ulta também na expansao
to de uma on sono
da

se instantaneamente por um o
ra no ar o trovão. O efeito luml-
' .
bservador distante, pols se
,
·
--
ao l~:mgo do canal antes do fechamen~ deste. De qualquer forma, esta
carga é transferida da nuvem ao canal, -num processo relativamente
lento, durante a evolução do canal precursor de descarga e, portanto, é
noso e perce >1. o q~ uz v == 300.106 mls) . O efeito sonoro e perce-
propaga com a velocidade da l ( luz - d onda sonora até o obser- provida pela nuvem anteriormente ao fluxo da corrente de retorno. Ao fmal,
, 0 tempo de propagaçao a tem-se a transferência de carga negativa da nuvem para o solo, embora
bido posteriormente, apos . . (v == 343 mls) e pode
veloe1dade mUltO menor som o processo não seja posterior à conexão.
vador, que se processa a uma . . , d d 1Ok:m.
. a distâncias usualmente limitadas a or em e
ser ouVldo ão da luz gerada pelo • A carga armazenada ao longo do canal, responsável pelo campo elé-
Em função da diferen~a no~ t~m;os d: P~~~:~;~e estimar com relativa trico que dá sustentação à evolução do canal precursor de descarga, não
relâmpago e do som do trovao (t -. d~om): ! ! uma descarga a um observa-
facilidade a distância do ponto de IDCl en~la tt·c~,.,...ente imediata, pois o tem-
fica depositada no núcleo de plasma do canal, o qual possui um raio de
apenas uns poucos centímetros. Em realidade,~ga fka_ac~da
- d lâ.mpago e pra ,....... num ~nvelo e d~ Carona desenvolY:i._@..no_en~. Tal enve-
dor qualquer. A percepçao o re d d rru·crossegundos em função da
- , mínimo da or em e '
po de propa?açao e d
== v == dl(3 x 10~::: d. 3,33. 1Q·3 ~-ts]. Uma vez lope é constituído a partir da ionização do ar circunvizinho ao canal,
imensa veloctdade da luz (t I luz m do tempo a qual devido ao campo elétrico muito intenso na superfície do núcleo. Esse
, d ser iniciada a cronometrage '
percebido o relampago, eve uve o trovão. Cada segundo envelope de Corona pode ser muito amplo e seu raio médio pode ultra-
deve ser encerrad a no n
i stante em que se
di A •
0
proximada de 340 m (t == d vsom
1 passar dez metros para descargas intensas. A corrente de retorno é cons-
nde a uma stanC1a a 'd' . tituída, principalmente, a partir da neutralização das cargas existentes
cronometrad o correspo di tância entre ponto de incl enela
A im para se conhecer a s nesse envelope.
: . d == t . 340 m) · ss ' . . dos medidos por esse valor.
e o observador, b asta multtplicar os segun .d - o de • A idéia de que a descarga "cai" em d eterminado local, numa pers-
.d penas por esta consl eraça
Mesmo com os elementos provl os a ., . fundamentos pectiva passiva de processos elétricos ao nível do solo quanto à inci-
, ~ . - da descarga, la eXistem ~
caráter preliminar quanto a . ormaçao ·vo freqüente de interpretaçao dência, não é provida de fundamento. E m realidade, o fluxo de cor-
para clarear cinco questões 1mportantes, motl rente de descarga procede após a ocorrência de um canal ascendente
equivocada do fenômeno:
42 • Descargas Atmosféricas
D escrição fundamental do fenômeno físic: •
43
que pode se "fechar" com o canal descendente a várias dezenas de Nos casos em que o canal
p recursor progride al d
metros ou a poucas centenas de metros da superfície do solo, depen- ch ega próximo ao solo 0 e o can escendente
' aumento do camp 0 fí .
dendo do relevo local. Isto denota a possível influência dos processos dar origem a um ou vári . na super Cie da Terra pode
os canrus ascendente 1
elétricos ao nível do solo sobre a descarga, em seu estágio final. Tal certa forma tais canais - s que evo uem para cima. D e
. . ' sao concorrentes entre si .
aspecto é determinante, inclusive, com relação à defmição do ponto pnmelto alcança a distânci 'tz' .J na perspectiva daquele que
a crt ca ue salto em rel -
de incidência da descarga no solo: o canal descendente define a que, portanto, irá configurar 0 . h açao ao canal descendente e
camm o de descarga
_.!ill!Ç!Orregião de incidência e o canal ascendente a localização exata no casos, pode ocorrer 0 D h . para o so1o. E m alguns
- - -- - ec amento praticamente s · u1 ~
~ior dess~ região. - ----- ,d escendente e dois ou mai
. - --
. - -l~E.. taneo entre o canal
s canrus ascendentes c0 nfi d -
b]furcada próxima ao s~o. - - _, lgutan o uma des:arga
- · Com relação ao fluxo da corrente no canal, após o fechamento des-
__;e,_deve ser ressaltada a propagação da onda de corrente nas duas dire- ___Oqtt:o asoec:to q .
~ '- ue merece citação refere-se . ul
--
cendente. A direção da corrente (convencional) --------
- ç_õ_es, a_partir do ponto de conexão entre os canais descendente e as-
positiva é para cima,
cesso de descarregamento d
. acumaladas são também neutrali d
_;.c: - _ -

1
_partic __?rmente ~ro-
as raull.licaçoes do canal d d
e escarga. As cargas ali
ca a luminosidade intensa oue e;a asdpe a corrente de retorno, o que justifi-
mas sua propagação se dá nos dois sentidos, para cima e para baixo, a
- - -:t: ana esses ramos ob d
partir do ponto de conexão dos canais ascendente e descendente. Para gos. Alguns autores sugerem d ' serva a nos relâmpa-
que o escarregamento d t -;c
certos fenômenos originados da descarga, os efeitos podem ser dife- responsável pelo segundo pi alm es as raLu.wcações seja
co, usu ente observad0 t;
rentes daqueles que ocorreriam, caso fosse considerado que ~ corrente das correntes de descarga atm f;' . . nas ormas de onda
de retorno se propagasse para nuvem a partir da superfície do solo. ção da natureza da constitui -osdenca registradas (vide Figura 1.1). Em fun-
çao o canal descendem , d
gundo um desenvolvimento ai t, . e atraves e passos, se-
Nos parágrafos anteriores deste item foi descrita a evolução de um ea ono, usualmente o canal d d
senta tortuosidades em seu p . .' e escarga apre-
processo no qual ocorreu o fechamento do canal de plasma, envolto por um . etcurso, que pode ainda t . . lin - .
t:lva (percurso médio não vertical). ' ' et Inc açao Significa-
envelope de Corona, que, através do seu descarregamento, transfere carga
negativa da nuvem para o solo, configurando uma descarga atmosférica. O É também importante destacar as difer .
sos muito distintos· a Lorm - d enças eXIstentes entre dois proces-
processo descrito pode ser enriquecido com uma série de considerações par- • J.l açao o canal pr d
ticulares, apresentadas na seqüência deste texto. corrente de retorno ;o canal . 'd ec.ursor a descarga e o fluxo da
constitui o Sobretudo ' , 1 ·
tempos envolvidos em t . . ' e notave a diferença nos
Para que o canal precursor continue evoluindo, não basta que o campo - - rus_processos A velocidad d I
cursor de descarga é muit - - · e e evo ução do canal pre-
elétrico na extremidade do canal seja intenso o suficiente para quebrar a rigidez o pequena quando compar d , I .
gação da corrente de retor 1 a a ave ocidade de propa-
dielétrica do ar, com ocorrência do efeito corona. É também necessário que o no ao ongo do canal (aproxim d
menor). Enquanto a evol - d a amente cem vezes
campo elétrico médio ao longo do percurso no qual o eventual passo de descar- uçao o canal precur d d
uma velocidade inferior a 106 / sor e escarga se processa com
ga pode se estender (extensão da ordem de 50 m), alcance um valor que sustente cidade muito superior maior~ s, ; /~o~ente de. retorno se propaga com velo-
a evolução do fenômeno. Este valor se aproxima de 0,6 MV/ m 12791. ' ue a veloc1dade da luz (lORm / s).
. O tempo para a constituição do c al
Pode acontecer que, durante a evolução do canal precursor da descar- SJmos de segundo d d an tem a ordem de dezenas de milé-
. · ' epen endo da extensão d al E
ga, após alguns estágios de desenvolvimento deste canal, não exista tal sus- estimado observand o can . ste tempo pode ser
tentação de campo elétrico suficiente para que o processo evolua. Neste caso, descarga; elétr' . o-se q~e cada p asso da ordem de 50 m atribuído ,
lcas consecutivas . , as
o processo simplesmente se esvaece, com a dissipação do canal. Nessa con- consome cerca de 1 IJ. ' oco.rre a lntervalos da ordem de 50 IJ.s e
dição, não havendo o fluxo da corrente de retorno, os típicos efeitos lumino- ( :aso se assuma um P s no edstabeleclmento da descarga elétrica disruptiva
ercurso e 5 km P al ·
so e sonoro da descarga atmosférica não são praticamente percebidos. percurso iria requerer cerca de 100 ara o can e.uma trajetória vertical, o
passos consecutivos (descargas elétricas)
44 • Descargas Atmosféricas
D escrição fund
amental do fenômeno físico • 45
e um tempo da ordem de 5 ms (100 x 50 J..Ls). Como mencionado, tal interva-
lo é muito superior ao tempo consumido no percurso da frente da onda de
corrente pelo canal de descarga (- 50 J..Ls), na mesma condição. Ao se consi- I+- -20 ms

derar a trajetória real do canal, que inclui tortuosidades e uma parcela signi-
ficativa de deslocamento na horizontal, a extensão real do percurso pode ser
muito superior, implicando _t~{l~ típicos para ~s~gral do
canal da ordem de 20 ms. ---

\
3.2 - As descargas negativas subseqüentes

l
Canal pre-
cursor de
descarga
Em algumas situações, após o fluxo da corrente de retorno, cessam os
processos de transferência de carga negativa para a Terra, correspondentes à Corrente
de
descarga. No entanto, na maior parte das vezes (cerca de 80% dos casos) pode retorno

haver seqüência nos processos elétricos, com a ocorrência de novas descargas Figura 3.6 - Evolução - - --
no tempo dos processos até um d
através do mesmo canal, após o término da corrente de retorno. Tais descar- a escarga subseqüente (adaptadofi9J)

gas são alime_:,:tadas por o~os centros de cargas negativas da nuvem. Tal Em princípio, as descargas subseqüentes .
ocorrência pode suceder até para um intervalo de tempo limite da ordem de ape~as arcialmente O_E_anal constituído ela ~od.em_us~.tntegr~nte_ ou
100 ms depois do final da primeira corrente de retorno, após o qual, o canal explica a observação em al P pnmetra descarga negativa. Isto
.. ' guns casos, de pontos d · "dA .
ionizado se dissipa e praticamente não deixa rastros. su bsequentes no solo a di tA . . e lncl encla de descargas
s anelas supenores a 2 km .
Nestes casos, possivelmente devido à maior mobilidade das cargas negati- . A Figura 3.7 ilustra a evolução no tem
vas, outros centros de carga na base da nuvem, localizados em regiões próximas parttr do aparecimento d 1 po dos processos elétricos a
a co una carregad b
ao canal, podem passar a suprir cargas negativas para o canal previamente ionizado, ocorrência de uma descar b .. a na ase de uma nuvem até a
ga su sequente.
por meio de uma corrente reduzida, designada corrente de recarregamento do ca~al

l:resentativo em torno de 500 A (usualmente vruj_áv~ - -- -------


ionizado (dart leader curren~. Essa corrente tem amplitude limitada, com valor re-
- en~OO A e ~·
Ao fluir por tempos da ordem de 2 ms pelo canal, esta corrente é capaz de
armazenar no canal uma carga de valor próximo a 1 C. Após o recarregamento
do canal, pode ocorrer uma descarga subseqüente, conforme indicado na Figura
3.6, que transfere tal carga para o solo, através de uma corrente de retorno. Este
processo pode se repetir sucessivamente e, embora nos casos em que ocorra, o
faça, em média, por três vezes consecutivas, já foram registradas ocorrências
com mais de vinte descargas subseqüentes.
Descrição fundamental do fenômeno físico • 47
• Descargas Atmosféricas
46
gativa. Porém, essa configuração é dinâmica, sendo influenciada inclusive
pelos fortes ventos responsáveis pelo deslocamentos da nuvem. Em diver-
- sas situações, ocorre um deslocamento maior da parte superior da nuvem,
-: --: -.. :-
L:~~...::-c..,;-;.._t.-:-:t-:--;:5:;;0 ps ~ deixando a descoberto partes da nuvem carregadas positivamente. Sobretu-
t =os Intervalo de surgimeto de 1
do quando existem no solo partes elevadas junto à lateral da nuvem, por
aparecimento cada descarga consecutiVa
da coluna (-SOm de extensão cada)
questão de relevo (montanhas por exemplo), podem ocorrer descargas que
negativa
~~
~ interligam tais partes da nuvem ao solo, com transferência de carga positiva
para a terra, como ilustra a Figura 3.8.
(1) Ventos fortes deslocam a (2) .. deixando a descoberto (4) A descarga se estabelece
nuvem de tempestade, a parte superior positiva. entre o centro positivo da
~ =
t 60 ms
mudando sua forma e ...
J outro centro de carga nuvem e o solo negativo.
da nuvem passa a
carregar o canal.

t = -63ms.
1
Cessa a corrente. O canal
=
t; t -1 a 2 ms começa a se extinguir..
O canal evolui a partir O canal se co~npletai (3) Cargas negativas são induzidas
I ue ainda sendo a conexao mw o 0 processo pode se repelir.
na lateral de uma montanha da
t da ::~~~ae~linguiu. , muito próxima ao~ qual a nuvem se aproxima.
~
~ ..... ?t" .. I',._T'fr+f.f"V+-·.,.

até uma descarga subseqüente Figura 3.8- Representação do processo de estabelecimento de uma descarga positiva
figura 3.7 - Evolução no tempo dos processos ' .
. b .. entes confe e caracteqstl-
d s negatlv.:as su sequ Assim, um canal descendente positivo pode evoluir a partir de um centro
A natureza das escarga - Tal te é usualmente menos
~- de retorno. corren de cargas positivas e um canal ascendente negativo pode evoluir a partir do solo.
cas próprias a sua corre~te de frente de onda) do que a c_Qr-
- . · rápida (menor tempo Da eventual conexão de ambos pode ocorrer a descarga positiva para o solo.
intensa e mUltO ma1s · 0 processo de carregamen-
· ira descarga negativa. ·
d
rente de retorno a pnme f - do canal precursor da pn- f:.s características de~EQAe descarga ~ t~rna~is rara que as
. 1 d que a ormaçao
to do canal é menos VlO ento o d rre o fechamento do canal, a negativas e lhe conf~m maior_intensidade e forma de ondas de corrente
1 do quan o oco ,
meira descarga. Por outro ~ , . , tra o canal num estágio de pre- com variações mais lentas. Usualmente, a descarga positiva ocorre quando a
bsequente la encon d . parte superior da nuvem carregada positivamente fica deslocada da base nega-
corrente de retorno su . da corrente de retorno a prt-
" · do fluxo antenor al tiva, deixando de ser blindada em relação a estruturas terrestres, sendo mais
ionização, em decorrenCla d rrente de recarregamento do can .
do fluxo recente a co e freqüente na presença de objetos altos posicionados sobre elevações. Por esse
meira descarga e da de corrente que se propaga '
. d" · do canal para a on motivo, a direção de incidência de descargas tende a apresentar maior inclina-
I sso reduz a lmpe anela , 1 . rapidez da frente de onda.
possivelmente, é responsavel pe a mator ção no caso das descargas positivas (percurso do canal menos vertical).

3 •3 _ A descarga positiva ·~ 3.4 - A descarga bipolar


a~~
, . de tempestade mostra um
A configuração eletrlca da nuvem blindada da Terra pela base ne- Em alguns poucos casos, os registros de corrente de descargas at-
d itivamente e
superior extensa carrega a pos
48 • Descargas Atmosféricas
D escrição fundamental do fenômeno físico • 'íl9
um comportamento particular da onda medida, no qual
mosféricas mostram . - do sinal de corrente. Inicialmente, ocorre o féricas, um aspecto que merece melhor elaboração consiste no desenvolvi-
esta apresenta uma oscilaça~ do a forma típica da primeira onda de mento dos canais ionizados de plasma, cuja ocorrência materializa o canal
fluxo de uma corrente negativa, se~ ul r passa a fluir pelo canal
. E tretanto apos esta se an a , . de descarga. Os conceitos que permitem tal elaboração são desenvolvidos
descarP"a
q
negativa. . .
n ,' ~
tambem com lOrma to impulsivo. Alguns pesqutsa-
. numa seqüência de passos, representados nas Figuras 3.1 O e 3.11.
uma corrente positiva, Bin ' r a tal evento. Explicam sua
· - d Descarga t_rOta
dores atribuem a designaçao e 'd d uperior do canal de uma desçgrga
dmi · do que a extrerm a e s
ncontra um can al conectado a um centro .J:_ c~
d E +
ocorrência a tin . ++
originalmente negativa e . . d te último canal se descarrega
- .. Assim a carga positiva es .
positivo na nuv~ , ' . ori . al da descarga negativa.
pelo canal conectado a terra, caminh0 gtn .

Tempo (J.tS)
(a)
(b)
(c)
-~
(d)
(e)
Figura 3.10- Estabelecimento de canais disruptivos bipolares a partir de corpos condutores coloca-
dos em região de campo elétrico muito intenso

Na condição indicada em (a) na Figura 3.10, existe um campo elétrico


muito intenso numa região constituida por material di elétrico gasoso (como
Figura 3.9 _forma d a onda' de corrente d e uma u·'escarga bipolar o ar) . Tal campo é representado nas figuras pelas setas. A colocação de um
corpo condutor longo nessa região (b) resulta no deslocamento dos elétrons
livres do corpo na direção oposta ao campo. Esse deslocamento gera um
4 - A componente contínua da corrente de descarga excesso de elétrons na ponta inferior do corpo e uma escassez na ponta su-
perior, resultando no carregamento bipolar das extremidades, indicado em (c).
Durante a ocorrência de descargas atmosféricas, em muitosdacasos,
duzida ordemocor-
de Em decorrência do acúmulo de cargas no local, em cada extremidade há
al d d arga de uma corrente re ,
re o fluxo pelo can e esc s de Amperes. Apesar de reduzida, a cor- uma intensificação do campo. Tal intensificação resulta da superposição do
algumas dezenas a poucas centena d milissegundos. Por con-
d d algumas dezenas a centenas e campo elétrico original e do campo adicional gerado pelas cargas acumula-
rente pode urar . e D 'd por t al corrente pode ser muito elevada, geran- . das nas extremidades. Se o campo resultante ultrapassar a rigidez dielétrica
seguinte, a carga trans en a d r danos nos corpos aos quais do meio gasoso, podem ser estabelecidos processos disruptivos nas extre-
.
do efeitos térrmcos .
mtensos, capazes e causa
d [151 midades, que criam canais ionizados, como indicado em (d). A extensão des-
se conecta o canal de escarga . , fl o da cor-
ses canais (de alguns centímetros a muitos metros) depende da intensidade
, mais usualmente apos o ux
A componente continua ocodrre . , . desta corrente ou fluir durante do campo que gerou o processo disruptivo.
de antece er o 1nlc1o
rente de retorno, mas po d das descargas subseqüentes.
os mterv
. alos entre múltiplas correntes e retorno Em relação ao meio circundante, os canais disruptivos nas extremi-
dades do corpo têm características condutoras, pois são constituídos de
matéria superaquecida rica em elétrons e íons positivos, resultantes do pro-
5 - Aspectos complementares
cesso de ionização das moléculas do meio isolante ("arrancamento" e ace-
Com relaçao . os de estabelecimento das descargas a tmos-
- aos mecarusm leração dos elétrons dos orbitais mais externos dos átomos desse meio).
Sob ação do campo elétrico intenso, tais cargas são deslocadas para as
D escrição fundamental do fenômeno físico •-- 51

50 • D escargas Atmosféricas
Interessa também analisar uma condição um pouco diferente daquela
as uais nesse estágio, correspondem às representada nos itens (a) e (b) da Figura 3.11. Trata-se de uma condição simi-
extremidades do corpo co_ndutor, d q (d), Ali o acúmulo de cargas é no- lar àquela existente no interior da nuvem de tempestade, onde além do intenso
di u os gera os · ' D.
ontas dos canais srup v. ifj - do campo elétrico local. 1SSO campo elétrico, resultante da separação dos centros de cargas de sinal contrá-
P , 1 pela rntens !caçao al
vam_ente responsave " . novos r ocessos disruptivos, com o onga- rio na nuvem, existe uma distribuição local de cargas negativas no meio isolan-
de resultar a ocorrenCla de P . ( ) d figura. Este processo te. Nesta condição, quando o campo local ultrapassa a rigidez dielétrica do
po . d mo mostra o !tem e a .
menta do canal ioruza o, co ,. . d descargas elétricas consecutivas meio material, é estabelecido um canal ionizado (c), num processo semelhante
.. ,. . om a ocorrencla e .d
ode ter sequencta, c . . al nga a partir das extreml a- ao indicado em (a). Também neste caso, sob a ação do campo elétrico as car-
P . . al 10111Zado que se o 1,
q ue matenalizam um canhouver sustentaçao - de intensidade de campo e e-
. .
gas resultantes do processo de ionização se deslocam para as extremidades.
des do corpo, enquanto b. I. de evolução do canal zomzado. Porém, diferentemente da situação anterior, os íons positivos gerados
. o Fica estabelecido um processo zpo ar .
trlC . . - d o elétrico muito rntenso, mes- no processo disruptivo são neutralizados pelas cargas negativas que migram
cond1çoes e camp d
Por outro 1a d o, em so semelhante po e ocor- do entorno do canal. Assim, o canal resultante do processo disruptivo tem
" . d po condutor, um proces d
mo na ausenCla e um cor . "d dielétrica do isolamento po e apenas uma das extremidades com excesso de cargas, no caso negativas (d).
o excede a n gt ez . d
rer. Nesse caso, se o camP . al. . do) local como indica o no Nessa extremidade, há intensificação do campo e pode ocorrer uma nova
. elétnco (can 10111Za , d .
ser estabelecido um arco . al suas características con uuvas descarga elétrica que alonga o canal para baixo. Enquanto os íons positivos
. 3 11 O própno can , com O gerados no processo disruptivo são neutralizados por cargas negativas que
item (a) da F1gura · · . mo 0 corpo condutor. s
. ltcundante, atua co d se deslocam das imediações do canal, os elétrons resultantes do processo de
em relação ao melO gasoso c - , positivos resultantes se es-
l di pçao e os 1ons , . ionização se concentram na extremidade inferior alongada do canal. Estes
elétrons produzidos pe a sru al b a ação do campo eletrl-
.d des opostas do can so são impelidos não apenas pelo efeito do campo elétrico de fundo, mas tam-
locam para as extreml a .d d s do corpo tais cargas proma-
nas extremt a e ' bém pela força de repulsão gerada pelas cargas negativas do local. Isto pro-
co. Ao se concentrarem d d r origem a novas descar-
. - d mpo local, que po e a . move a intensificação do campo e pode gerar descargas elétricas consecuti-
vem a intensificaçao o ca 1 . 111.zado num processo mUitO
1 ento do cana lO , vas, enquanto houver sustentação de campo elétrico para tal.
gas elétricas, com o _a on_gam Fi a 3.11).
semelhante ao antenor (ltem b da gur O ,..mecanismo descrito nos l!en~c), @ e (9_ da figura anterior~u­
~--------------~==::~ ----~----Ca-m-~--e-lé-.tri-oo-.i-.nt~en=s~o=em:=re:gi;.ão~------l mem um processo_que resulta em dois efeito~ fu.nda.:nentais para a ~v~o

C•m:~~~:;~;:~·~::~;~;oo ~ft~~A~"'';" t~;~f't~j'~ow1?=\~:l


do canal precursor de descarga: a evf!.!.t!fão do canal ionizado e a transferência das
cargas existente na região dielétrica do centro de cargas negativas p ara o canal.
Havendo sustentação de campo, vai ocorrendo o alongamento do ca-
nal, que, desta forma, pode constituir uma coluna ionizada, que extrapola a

~ffí,~ ]:_~) fJ~h\~ 1 j~-1-~(~ região do centro de carga. Nessa região, o campo elétrico tende a ser inferi-
or. Porém, passa a atuar um outro efeito importante, opoder das pontas. Como
l,_ - - -
_:-f=~ -
-=1-=-: r=-_-l_ [-- - 11--
1
1~--
r- r-- , -\ -
- --1
=- o canal se estende da região ionizada para o exterior desta, há uma tendência
natural das cargas negativas da região circundante ao canal, no centro de
W ~ L___J(c~)--~------~(d
.
~)--------------
·- intenso e alta·
cargas, se deslocarem para a extremidade do canal. Tal processo pode com-
. . . s iniciados em rcgJao de campo pensar a redução aparente do campo elétrico original quando o canal se afas-
Figura 3.11 -Estabelecimento de canrus dtsrupt:Jvo ta do centro de cargas e gerar uma intensidade de campo elétrico suficiente
mente ionizada negativamente
para dar sustentação à evolução do canal.
52 • Descargas Atmosféricas
. . processos descri-
. lificada mas consistente, os .
De forma bastante stmp ' 1 - dos processos disruptivos que
li início e a evo uçao d
tos neste item exp cam o e ue transferem a carga da base a nuvem
materializam o canal de descar~a. q al car a é transferida para o solo,
e onde postenormente, t g
para o -canal, d '
, d fluxo da corrente de retorno.
atraves o

6 - Considerações finais TIPIFICAÇÃO DAS DESCARGAS


. . tradução ao fenômeno Descarga At-
'tul _,;_ou-se uma m . la
Neste capl o, rea.J.U
, .
d um tratamento mats e -
,tulos é apresenta o
ATMOSFÉRICAS E NOMENCLATURA
mosférica. Nos proxtmos capl d bordagem didática que busca cu-
alh
borado e d et a
do do tema, segun° a a •
nhecimento sobre o fenomeno.
mulativamente complementar o co

1 - Considerações preliminares

Dados experimentais mostram a homogeneidade de comportamento


de certos parâmetros das descargas .atmosféricas, sobretudo quando estas
são agrupadas segundo algumas determinadas características constitutivas.
Por conseguinte, a classificação das descargas por tipos pode tornar mais
fácil o estudo das mesmas e a análise de seus efeitos.

2 - Tipificação de descargas

Neste sentido, no presente item são abordadas diferentes tipificações


adotadas para classificar as descargas. São também explicitadas as variações
do fenômeno segundo cada classificação.

2.1 - Tipificação pelo percurso da descarga


O percurso do canal de descarga pode constituir diferentes caminhos
de fluxo de corrente que conectam centros de carga de sinais opostos.
~r parte <.!.aL <:kscargas atmosférica~ 2cor~ intername~te às nu-
~ através de canais ionizados que interligam seus centros de carga de si-
54 • D escargas Atmosfériclls
Tipificação das descar , .
gas atmosfencas e nomenclatura •
nais diferentes (descarga intra-nuvem). Os efeitos associados a tal tipo de des- 55
carga são relativamente pouco evidentes na superfície da Terra, pois se
manifestam sobretudo através de ondas eletromagnéticas irradiadas, as quais
a~erfície do solo com intensidade moderada. No entanto, é
natural a predominância deste tipo de descarga, em função da proximida-
de de centros de carga de sinal contrário e, também, do ambiente interno à
nuvem de tempestade.
Uma parcela das descargas atmosféricas ocorre através da constitui-
ção de um canal de conexão entre centros de cargas negativas e positivas de
nuvens diferentes (descarga entre nuvens). Tal como o tipo de descarga anterior,
não desperta interesse tão significativo, embora haja registro de descargas
desta natureza fechando seu percurso através da estrutura metálica de aviões,
Figura 4.1 - Tipos de descarga se und
causando danos que configuram sérias condições de risco. e descarga nuvem solo g o os centros de cargas conectad . d .
os. escarga entre nuvens
As descargas nuvem-solo são aquelas que despertam maior interesse,
pois o fluxo da corrente de retorno pelo canal de descarga estabelecido 2.2 - Tipificação pela direção
entre nuvem e solo é capaz de determinar condições severas de risco para precursor da descarga de propagação do canal
a vida e para a sociedade na superfície da Terra. ...__
Estima-se que o percentual
Como mencionado ant .
de descargas desta natureza seja inferior a 25% do total d~s descar~ - enormente despert .
caçao as descargas entre nu ' am matar interesse de apli
atmosféricas. vem e solo. -
Destas, ~rte das descar as , . ,
Mais recentemente, sobretudo após o advento das medições com ,erecursor que se orio1n -- _ g e constJ.tuida a partir de um al
detectores ópticos posicionados em satélites artificiais, têm sido estudadas as . _ lY a na nuvem e ev
1 ·d - can
surgunento de um "-Cãnal d d o w escendentemente até indUZJ.
descargas para a estratosfera. Tais descargas configuram percursos muito mais n e escarga asce d r o
echamento do canal ocorre pró . n ente ao se aproximar do solo. O
longos, conectando o topo da nuvem de tempestade à estratosfera. Natural- nado d xuno ao solo Este ti d d
escarga descendente. O pont0 d -. po e escarga é desig-
mente, ocorre uma maior dificuldade de percepção deste tipo de descarga cend e conexao do ·
ente pode ocorrer a alturas de al s canats ascendente e des-
na perspectiva de um observador terrestre, pois os efeitos visuais associa- cas centenas de metros em r 1 - gumas dezenas de metros a umas pau-
dos à descarga correspondente são muito atenuados pelo próprio corpo da de r 1 T: e açao ao solo depe d d
e evo. ais alturas são men ' n en o das características
nuvem de tempestade. Também os campos gerados chegam à superfície da rcs · - ores no caso de ·-
.matares em r~õ;;- montanh- regtoes planas e atingem valo-
terra com menor intensidade em função da maior distância do topo das nu- mwt 1 . osas ou na pr d -
o e evadas na superfície do sol ( esença e corpos e estruturas
vens onde tais descargas se manifestam. O s primeiros registros de descargas E . o torres, prédios etc.).
desta natureza foram efetuados por aviões. O emprego de sensores ópticos X1ste, também uma
posicionados em satélites tem fornecido um volume apreciável de dados ori~em do canal prec~sor o~=!:e:a pa~cela de descargas atmosféricas cuja
sobre este fenômeno. ~arentemente_, a descarga para a estratosfera exerce :ru~r parte, de natureza ascendente ~~tl.rhdo solo e cuja extensão é, em sua
um papel importante no circuito elétrico global.
--- Prmurn
a~l . o canal ascendente e de um canal. d ec amento do canal, através da cone-
,
o a mesma. São as desi
escende t · d ·
n e .rn uzldo na nuvem ocorre
A Figura 4.1 mostra fotografias de dois diferentes tipos de descarga, relc\'o suave, este tipo d d gnadas descargas ascendentes. Em condiç'o_ d
segundo o percurso entre centros de cargas de sinal contrário. \e· e escarga ' 1 · es e
zcs, a descarga ascendente se ori~r: :flvan:ente rar~. Na maior parte das
. . part:lr de 1ocats muito elevados so-
56 • Descargas Atmosféricas
Tipificação das descargas atrnosf.' .
eocas e nomenclatura •.. . 57
bre o quais estão posicionadas alt~~ Nessa condição especifica, as
• Descarga positiva - a parte d
descargas ascendentes podem constituir localmente o tipo de descarga pre- descarga está carregada P . ~ nuvem conectada ao solo pelo canal de
dominante, com ocorrência muito mais freqüente em relação às descargas osltlvamente·
descendentes. É comum a ocorrência de uma parcela significativa de descar- • Descarga negativa - o canal d d '
nuvem com o solo. e escarga conecta a base negativa da
gas deste tipo em torres "instrumentadas" para medição de descargas, quan-
do posicionadas em montanhas muito elevadas. Observa-se a independ A . d .
d . enc1a os t.tpos de d
Um aspecto interessante, que permite distinguir o tipo de desc~g_a pre orrunante do canal precur escarga quanto ao percurso
sor e quanto , la ·a
quanto à classificação em i oco, consiste no sentido de abertura das ramifica- as possíveis combinações d d a po t1 ade. A Figura 4.3 ilustra
. e escargas quanto a tai
ções do canal de~ Na Figura 4.2, a foto~fia da direi~a tiva, ascendente e descendente. s aspectos: positiva, nega-
aber tura para cima dos ramos do canal, indicando que este evolui
ascendentemente a partir do ponto de incidência no solo. É notável o con-
traste com a figura da esquerda associada a uma descarga descendente, cujos
ramos apresentam sentido oposto de abertura.

Doscarga positiva
descendente Descarga posillva
ascendente

+ + .... -+-

Figura 4.3 - Classificação das desc .


Figura 4.2 - Identificação da descarga pelo sentido das ramificações . a.tgas nuvem-solo pela sua polaridade

Pode se verificar
· d que, tanto para descar a ··
10 ependentemen te do canal d d g s positivas quanto negativas e
2.3 - Tipificação pelo sinal da carga transferida para o solo a escarga ter '
cendente ou descendente haver·a' tr r A . seu percurso predominante as-
Na perspectiva de caracterização dos parâmetros elétricos das descar- . ' ans1erenaa par d
na_ a polandade da descarga Por 1 a a terra a carga que desig-
gas nuvem-solo, certamente a forma de grupamento que confere maior acumu} --.:. exemp o, uma descarga · d
a carga negativa transfceri·d d negativa escendente
homogeneidade a tais parâmetros corresponde à polandade atribuída à descar- çao do mesmo. Ao ser fechad a a nuvem para seu canal, durante a evolu-
ga. Em termos práticos, esta classificação pode ser efetuada simplesmente canal é neutralizad ela o ~ . percurso, a carga negativa acumulad
cl, a P carga poslt1va induzida na Tt . a no
de acordo com o sinal do centro de carga da nuvem que se conecta à !erra ettons de descarregament0 d erra. Assim, a corrente de
cla 0 canal transfere indir
através do canal de descarga. Em termos conceituais, a classificação decorre , nuvem para o solo Segund etamente carga negativa
. · o o mesm · , ·
do sinal da carga efetivamente transferida da nuvem para Terra pela descarga. ascendente, o canal precur d o pnnapiO, numa descarga negativa
Nesta perspectiva as descargas podem classificadas como: rnado a partir da fuga de sl~r e descarga ascendente de sinal positivo é for-
e etrons do canal
para o solo. Após o encontro do
T ipificação das descargas atmosfencas
, . e nomenclatura • 59
58 • D escargas Atmosféricas
Para se evitar dúvidas quanto , .
canal ascendente com o canal descendente na base da nuvem, a carga negativa neste texto, definiu-se uma no 1 a mterpretação dos termos utilizados
menc atura para
transferida da nuvem e acumulada no canal descendente é responsáv el pelo apresentada na Tabela 4.1. Nessa t b 1 os termos de maior emprego
t a e a em cada c f '
descarregamento do canal. Raciocínio análogo se aplica às descargas positivas. ermo correspondente em in r ' aso, az-se referência ao
d . - g es, procurando-se m
eslgnaçao de origem. Tem-se a . anter a associação com a
Jlm.ªPenas-cerca de 20% dos casos, a descarga negativa tem uma única expectativa de que
~Na maioria das vezes, pode haver uma série de corren- possa, eventualmente contrib .
' wr para uma futur
a nomenclatura sugerida
d .
e termos específicos d a area,
, na ,
língua a e esejada padroniz açao
portuguesa. -
tes de retorno posteriores à primeira, constituindo um conjunto de descar- d
gas su~egüentes. As características da descarga única e da primeira descarga
No Brasil, existe uma lin a e . , .
de um conjunto de descargas subseqüentes são muito similares. Por outro casos, contém incorreções ou ~ g m P pratl~ada na área, que, em alguns
esmo termos madeq d I r:
lado, tais caractetisticas são muito diferentes daquelas das descargas subse- emprego esta linguagem é de difí il - ua os. ntelizmente o
· , d. c reversao por · , di '
qüentes, que, por sua vez, guardam similaridades entre si. Este quadro pode melO tecruco. Na elaboração d a T ab e1a 4 .1 adotou
' Ja estar sseminado no
justificar uma s~s descargas negativas, na perspectiva de ca- na qual buscou-se eliminar as . _ -se uma postura pragmática
racterização d~s parâmetros elétricos das mesmas, em: - -- a e de expressão. Assim D . b
d d
mcorreçoes mas e .
'
' 01 o servado cert0
Vltou-se a busca de preciosi-
d
'

• Descarga negativa única ou primeira descarga negativa; templar a flexibilidade da li . . grau e tolerância para con-
, nguagem, mcluslVe em f - .
nessa perspectiva que bol· . .. unçao de reglünalismos
E . ace1ta a utilizaçã0 d 0 ·
• Descargas subseqüentes. para des1gnar mais do que termo descarga atmosfe'rica
dib . um evento. Tal práti , .,
erenClação seja possível ca e aceltavel, desde que a
no contexto da referência.
3 - Comentários preliminares sobre a freqüência de
Merece
- um comentarlO , · particular os term fu . 1
pago e trovao} que são referên 1. os ndamentrus raio refâm-
ocorrência . ,
atrtbwdo a cada qual decorre d
c as comuns na lín
. . gua portuguesa. O significado
Em função do seu caráter aleatório, a ocorrência de descargas é estu- segu · -
. illte, nao deve haver tran . a ongem
A •
et1molóo1ca
b-
da p a1avra e, por con-
dada numa base probabilística constituída a partir de medições diretas e slgencla com relação ao seu emprego.
indiretas da corrente de descarga, conforme é abordado no capítulo 5.
Tabela 4·1 - N omenc1arura adotada
D e forma introdutória, pode-se afirmar que as descargas negativas descen-
dentes constituem a grande maioria das descargas descendentes, correspondendo - Em Portueuês Em Inglês . Defulição 1
a percentuais compreendidos entre 84 e 92% do total das descargas'"·"· " '· Esti- Concetto. amplo corresp · ond ente ao feno-
Raio ou Lighming .!ll!m.O mtegral envolvido na evolução e c-1
ma-se que 90% das descargas observadas por medição diJ:eia no Brasrr2
são negati- lkscarga ,\tmosférica ., 1 d c d escarga, incluindo o tecla-
m cnto do cana fl .

--
vas e descendentes, resultado similar às referências internacionais1 50l. AB descargas
- - __..
negativas ascendentes e as descargas positivas são relativamente raras.
da(s) corrcnte(s) de retorno
manifestações elétricas , visuats
. c esonoras.
as demrus
m:o

·-
Efeito lu!Tllnoso
· nerceptível . I
lh:bmpago decorre t d ~ v1sw1 mente,
Lightning ~~ ~gu~llncnto dõ canal de d ·-

'
:~-------------t~-----------t~~·l~~~~;;~~;,:a~c:or~-r=el~1t:e~d~e~r:ct:o:njo
- carga devtdo ao Elww d cs
4 - Nomenclatura f1e o cana .
Observa-se que a terminologia adotada na língua portuguesa para de- 1r.. , .10 Thundcr Efeito sonoro
atmosférica . relacionado
. É causa a· c1cscarga
d o pelo brusco d I
signação dos eventos relativos a descargas atmosféricas é considerave\Jnente can1en to d o ar. Clfcunvtzmho
. . . ao canales de
o-

confusa. Possivebnente, muitos dos equívocos de terminologia encontradO! .d escarga


' . ' , q ue se expande em decorrêncÚI
' ' do
aqucwnenlO gerado pelo fluxo d . .
decorrem de traduções inadequadas. do inglês, língua de origem da maiot no canal. a corrente

parte das obras existentes no tema.


Tipificação das descargas atmosféricas e nomenclatura • 61

60 • D escargas Atmosféricas

Canal _ iuoi:tado correspondente ao percurso


Fluxo de cargas a P der a Canal de descarga D~~chargc inte~que conect;;"os pontos entre os qurus
. ente Po de correspon Channcl ocorre a descarga. Possui um núcleo ionizado, de
Electric regado eletncam · · · 1 nte (tipo
di ptivo em meiO tso a boa condutividacle, cujo raio tem a ordem de
Descarga elétrica discharge processo s~ I descarregamento através ou alguns centímetros. O núcleo é envolto por um
faísca) ou ao sunp es • algw.!!as vezes
de meio condutor. .9)er~ Ameno des- envelope de Corona de vários metros, onde ficam
,,.., des1gnar o ~.eno - Ligbtning acumuladas as cargas elétricas. O canal é
~E.!e~d o ~ . não é con- Channel constituído quando, eventualmente, ~ 7.m~ll~
carga a_trrlosfénc~. Tal . em~~e~~nfer; c ar-;ter ;:;rsor descendente encontra u~al ascendente,
siderado adequa o, po!s ~fi do da descarga ~Ccl:Jllr o percurso da descargl!_através ele um
de especificidade ao stgru ca salto fmal. i\ conexão desses canais resulta no
elétrica. f' · sentido fluxo da corrente de retorno pelo canal de descarga
f A . . descarga acrnos enca n0 ;:;;ct constituíd o. No caso da descarga nuvem-solo, o
percurso tem a ordem de vários quilômetros entre
Flash a nuvem c o solo.
Descarga Atmosférica
Corrente yue flui pelo percurso ionizado corres-
Plena Corrente de retorno Return Current pondente ao canal de descarga após o seu fecha-
mento e que corresponde ao descarregamento
deste. Tal corrente é constimída básica-men te ela
~1eutralizaçã~rgas ar;;;;;;cnadas no envelope
_de Corona que e~lve o_ núcleo do canal de
descarga.
llYill.tQ associado ao fluxo da corrente de retorno
Descarga de retorno Stmkc ou corre~po n tlen te a uma descar!,>a elétrica pelo canal
Stepped leader Rerum Stroke de descarga. Q!na dcsc~tmosférica plena
Canal precursor de descarga
('flash'.')__ pode incluir vá ri~@:ga~t~no
i (''strokes") o u uma única descar~>a de retorno.

Primeira descarga de retorno Jiirst Stroke Primeira descarga de retorno ("stroke") de uma
descarga atmosférica plena ("flash").
Dcscarga(s) de retorno Subsequent Conjunto de descargas de retorno ("stroke") subse-
sub~eqü entc(s) Stroke(s) q üentes à primeira descarga de retorno de um
\ "flash", ou uma destas descargas de retorno.
/ 9c} 0\l (, ~ de valor reduzido (usualmente de algu-
Corrente de recarregamento do Dart lcader JnaS.. entenas de Am_12.ere.i) correspondente ao
canal de de~carga current jesloca~1 to de carf0s neh'l!!!.vas da nu~~ o
canal remanescente de uma descargl! de retorno
negativa anterior. -Logo após o flux;;-;:i"e~
co rrente de retomo, o canal tende a se dissipar.
Oownward F.m alguns casos (de 70 a 80%), ocorrem proc~os
Canal descendente
Leader disruptivos na parcela supcriC>r do canal que o
cone.ctam a foufi'o centro de carga~ nega_rivas na
~vem.- Neste caso, as cargas desse centro se
deslocam para o canal na forma de uma corrente
de bai..xa intensidade. Essa corrente é responsável
pelo recarregamento ele uma extensão do canal de
descarga antes tjlle o mesmo se dissipe e,
Refere-se a um . ropaga eventualmente, pode ser capaz de "rcacendê-lo" ~
d. - do ar gue se p habilitá-lo a uma descarga de retorno posterior.
" •ard Lcacler partir da lsrupçao . ,d, 1 O canal se
Up w d te a partir o so o. Esta podt: fechar oo mesmo ponto de incidência
Canal ascendente ascen entemen létricas suces-
constitui através de descargas e ' evolui (caso de uso integral do canal anterior) ou num
. m por passos, e ponto do solo próximo ao da descarga anterior, a
S!.vas que ocorre d ~;nantc-
' cli - · pre o....... distâncias máx imas de alguns c1uilômetros (mais
ascendendo numa reçao usualmente limitadas a 2km), no caso de uso de
mente vertical. L apenas parte do canal anterior.
62 • D escargas Atmosféricas
Tipificação das descar<Y,~s atmosr· .
,,_. 1ertcas e nomenclatura • .. 63

Corresponde ao ~ associado ao fl uxo da


Processo de recarregamento do Dart leader corrente ele recarregamento do canal de uma Canal piloto de d escarga
Streamer Canal ~stabelccido junto a um eletrodo ou
canal de descarga descar!,>a anterior, em dissipação após o flu xo de extrcmtdade de 1 . . na
d . d uu canal Joruxado (ascendente e
uma corrente de retomo. i\ corrente de recarre- escen ente) 0 a1
d d . '. .qu _precede a form~ão do salto
..!@.men!Q_gomove um efeito v~ a escarga cletrtca plena.
~a rdo sejeslocando ao long9 <!9 ~nal, a parcir da Descarga Direta Refere se ao evento associado à incid A . d
nuvem. Daí derivou a dcsi!,>tu ção em língua inglesa Direct fla s h d . enCJa e
uma escarga dtretamente sobre uma vítim
para o evento. O recarregamento pode ocorrer no -(ser, estrutura, objeto etc.). a
percurso integral do canal de descarga anterior, Refere-se ao evento a · d
Descarga Indireta, . . ssocta o a uma descarga
sendo seguido do fluxo de uma corrente de Indirect flash or
Descarga L ateral ou que tnctde próxima à vítim (
retorno subseqüente. Nesse caso, a d escar!,>a Close strike · a ser, estrutura ou
subseqüente se completa no mesmo ponto d e Descarga Próxima ststema afetado) que pode ,
. ' ser e capaz de
incidência da descarga anterior. Nos casos em que gerar efettos na mesma em d - . - ~
• ecorrenCJa dos
a parte inferior do canal de dcscar!,>a anterior já campos eletromagnéticos gerados.
----.c
havia se dissipado, ocorre o carregamento de
apenas uma parcela do canal. Pode haver a
evolução desse canal, por passos, até o seu fecha-
mento próximo ao solo, que é seguido pelo flux o
da corrente de retorno. Nessa última situação, o
ponto de incidência da dcsCar!,>a subseqüente pode
se localizar a distâncias significativas daquele da
primeira d escarga. Tal distância pode ter a ordem
de alguns guilômetros_{usualmente até 2km).
~gi~ final d~ processo_j_e evoh!.ção d~is
Processo de conexão ou de i\ttachment ascendente e de~ ce nde nte, que corresponde à
fechamento do canal de descarga Pcoccss conex~o~ mesmos. Desta conexão fie~
ruído o canal de descarga, no qual haverá o fluxo
da corrente de retorno.
Disrâ nci..~ crítica entre o~ canats d escendente e
Distância de salto final ;;;;;:endcnte, ~artir da qual ocorre o fechamento
do percurso entre os mesmo~, arravés de uma
~étrica di~ruptiva final. Aparentemente, a
descarga final se origina no canal ascendente. Tal
distância depende, sobrenrdo, da_5arga a~da
no caoal precursor de descarga.
Distânci..~ crítica entre o canal descendente e a
Raio de atração Attractive radius estrutura ter~ a parcir da qual tem-se a
~ec tativa d2..lechamcnto do percursQ_ entre o
canal descendente e o canal ascendente, guc se
originou nessa estrutura. Termo muito utilizado oa
li~tura de Proteção contra Descargas para
designar a distância máxima entre a extremidade de
um eventual canal descendente e a estrutura
terrestre gue asseguraria o processo de conexão,
para cada valor de carga armazenada no canal (ou
correspondente valor de pico d a corrente Je
retorno associ..~d a) . Tal distância é usualmenw
inferior à di~ tancia de indução do canal ascendente.
DistllUCia crítica entre o canal descendente e :t
Distância de indução do canal Strilüog distancc * estrunu·a terrestre a partir da I.JUal se dá o surgi-
ascendente mento de C:t]1al(is) ascendente(s).
* i\ lireranm1 inglesa é ambígua na referêocia a este
lermo, que pode ter o significado apresentado ou o
mesmo significado do raio de arração [91
CARACTERIZAÇÃO DOS
PARÂMETROS DE DESCARGA

1 - Considerações preliminares

Segundo uma abordagem seqüencial, talvez fosse natural a apresenta-


ção dos métodos e recursos para medição e detecção das descargas atmos-
féricas, precedendo à caracterização de seus parâmetros. Neste texto, privi-
legiando o interesse prático imediato pelo conhecimento desses parâmetros,
optou-se por considerá-los no presente capítulo, deixando as questões en-
volvidas na medição destes para o capítulo seguinte. A abordagem é dedicada
particularmente aos parâmetros relativos às descargas nuvem-solo, que são
aquelas de maior interesse na perspectiva da engenharia de proteção.
Inicialmente são considerados os parâmetros relacionados à freqüên-
cia de ocorrência de descargas segundo a região geográfica. Em seguida, são
abordados os parâmetros físicos da corrente de descarga.

2 - Parâmetros de freqüência de incidência geográfica

Nas avaliações relativas à proteção contra descargas atmosféricas, cer-


tamente, a primeira informação, cujo conhecimento se requer de imediato,
consiste na freqüência ck_solicita ão cal elo fe ôme . O parâmetro
lfUC guantifica essa freqüência é a densidade de descargas local, usualmente re-
------..
66 • D escargas Atmosféricas

Caracterização dos parâmetros de descarga •


67
Presentada pelo índice N g. Este estabelece uma medida do número médio de
descargas que incidem no solo por ano, sendo dado por "descargas/km2/ ano".

-- --
O índice ~e refere_ao número de descargas atmosférica~shes).
-
-----
- __ .,._
Muitos fatores influenciam no valor desse parâmetro, sobretudo a dis-
-
tribuição de chuvas na região, a latitude e o relevo local~ Regiões montanho-
sas e altas tendem a apresentar índices mais elevados de densidade de des-
cargas em relação às regiões baixas adjacentes. O mesmo ocorre com áreas
de alto índice de precipitação, condição muito influenciada pela distribuição
de correntes de ar no globo terrestre.
Por conseguinte, o índice de densidade varia de uma região geográfica
para outra. A Tabela 5.1 ilustra valores típicos de densidade de descargas em
algumas regiões do planeta.

Tabela 5.1- Índices úpicos de densidade de descargas em algumas regiões (dados estimados a
partir de sis temas de detecção e localização de descargas)

Valor tipico de N
Local (faixa) g

Desc./Km2 /ano Valores de densidade obtidos


das curvas isoceráunicas
Alemanha 1 -1,5 pelo emprego da relação:
Áustria ~ 1 ,5(1 - 6)
=
Ng 0,04 Td 1.2s
França ~1,7 (0,5- 5) (descargas 1 km2 1 ano)
I tália - 1,5 (1 - 5)
Austrália 0,2 - 4
Td =Dias de trovoadas 1 ano
África do Sul -4,0 (0,5 - 14)
Estados Unidos -2,0 (0,1 - 14)
México 1-10
i\'Iinas Gerais (Brasil) 4 (1 - 12)

--
Os ~ores méd.iqs de de sidade no Brasil são elevados, particularmente em
relação àqueles de países localizados nas zonas temperadas (zonas da Terra ao
norte e ao sul da região compreendida entre os trópicos). Isto traduz uma condi-
Figura 5.1 - Mapa d j ."da
É.
e c enSJ de de descatgas no Brasil (obt:id di

. . unportante salientar a natureza de valor , .


o tetruneme de mapa de índice ceráunicorm~
, .
ção usual de maior solicitação por descargas. A Figura 5.1 ilustra a distribuição de atnbUtr determinado valor dest , di media do l.ndice N . Assim ao se
. e l.n ce a uma ·- d 8 ,
pecava de que para as , . . regtao, eve ser preservada a pers-
densidade de descargas no Brasil, obtida diretamente a partir de tradicionais ma- . , areas mtenores à re .ã d .
pas ceráunicos, pelo emprego de fórmulas empíricas que relacionam o número de
vaoar numa ampla faixa de al p gt o, a ensidade de descargas pode
pcctauva· v: ores. or exemplo b .
dias de trovoadas no ano (T) com o índice de densidade de descargas. de v:alor tipico de densidade . , no caso rasileiro tem-se a ex-
tem a ordem de 4 Mina . supenor a 3 descargas/ktn2/ ano Tal '""di
em sGerrus d 1 B . . •u ce
Embora tal mapa não contemple detalhes, expressando apenas estima- O , e na ahia e superior a 5 no Pará.
tivas de valores médios por macrorregiões, ele apresenta como atrativo uma ~. mesmo processo ocorr d
l ltnas Gerais, este índice oscil e quan o se reduz ainda mais a escala. Em
perspectiva integral da distribuição de densidade de descargas no país.
dcs de Juiz de Fora e val ~ efin~e valores superiores a 12 nas proximida-
ores ln enores a 1 descarga/km2/
ano no extremo
68 • Descargas Atmosféricas

norte do E stado. Alcança valores próximos a 6 nas regiões de Belo Hori-


zonte e de Uberaba. Na busca de parâmetros locais de maior representativi-
dade, este quadro motiva a constituição de mapas de densidade de descar-
gas para regiões de menor área, quando se dispõe de recursos para tal. As
duas figuras seguintes ilustram tais situações.

descargas/km 2/ano

D <1
D 1a2
[] 2a3
m 3a4
El 4a5
mil 5a6
~ 6a7
~ 7a8
2a3
fil 8a9

••
3a4
4 a5
9 a 10 5a6
> 10 r.
tgLtra 5.3 - Mapa de d .d d
7

20 x 20 k.m2r b .' enst a e de descargas individuais na . ·-


,o tldo de Sistema de detecção J li - , tegJao de Belo Horizonte: reticulad . d
51 49 47 45 43 e oca zaçao de descargas) os e
Para escalas muito reduzidas e condi -
Figura 5.2 - Mapa de densidade em 1\IIinas Gerais (obtido de rede con tadores de descargas - ções do índice N podem . d . çoes de relevo acidentado as varia-
período de detecção: 10 anos1641) li ser run a mats releva t I '
exemplo, em decorrência da ext'st~ . d n es. sto pode acontecer por
. enaa e urn · . '
reduztda, onde os solos ad· plco mutto elevado numa área
._ Jacentes encontr al . .
A Figura 5.2 mostra a distribuição de densidades no estado de Minas condiçao específica grande parte d d am-se a tltudes mferiores. Nessa
Gerais, obtida a partir de uma rede de contadores de descargas distribuídos ' as escarga 1 ·
concentrada no pico devid , al s ocats pode ter sua incidência
em toda a região1 641. Por sua vez, a Figura 5.3 apresenta a distribuição de den- Figura 5 4 d , o a tura destacada em relação à . ính
. . enota tal aspecto, no caso ar . . s V1Z anças. A
sidades nas proximidades de Belo Horizonte, numa escala bem inferior (cons- do pico onde se localiza urn - p tlcular da microrregião, no entorno
tituida por reticulados de 20 x 20 km2), obtida por um sistema automático da cidade de Juiz de Fora e:eMinst~çao Gde te~ecomunicações nas proximidades
de detecção e localização de descargas. rcpr ' as erats Os p · di
esentam a posição de incl· '~ . d . ontos ID cados na figura
aencra as desc . di .
argas ln VIduais (strokes).
70 • Descargas Atmosféricas
Caracterização dos parâmetros de descarga it
Área lnci- Densidade superior. As Figuras 53 e 54
(raio) dência (desc./ km2 / ano) . · · empregaram tais , di . .
F1gura 5.5 apresenta um . .ln ces, em substltwção a N A
400m 27 14,7 . · mapa com a distrib · - g•
0,4-1 km 71 7,3
Gerrus, constituido a partir de d d . wçao de ~ na região de Minas
-
1ocalizaçao a os proVIdos por ·
de descargas. um Slstema de detecção e

Perfodo: 20/10/1998 a 13/0612002


(Fiashes/km2fano}

-16
8
7
~ -18 6
.2
~ 5
-'
4
3
2

-40
longitude
Figura 5.4- Mapa de densidade de descargas nas proximidades de um ponto elevado (obtido de
1\ e
sistema de localização de descargas - outubro de 1998 a junho de 2002) _::,. h() ç Pigu.ra 5.5 - Mapas de densidade de d .
de localização de descargas- período: ~~c~~~~a.rhe.r) na região de 1\tiinas Gerais (obtido de sistema

A densidade de descargas na área de raio de 400 m no entorno do pico Ao comparar tal mapa com aquele d F
excede 14 descargas/ km2 / ano (descargas individuais: strokes). O valor de- de contadores de d~scarga) b a tgura 5.2 (derivado de dados
, perce e-se uma difer ,
cresce para a faixa de 7,4 quando se considera áreas exteriores circunvizinhas, d
sen o os índices generalizad . . ença razoavel de valores
en . . amente mfenores no caso d F '
compreendidas entre os raios de 0,4 a 1 km e de 1 a 10 km. Embora tal mapa tanto, a distnbuição relativa de d 'd d , a lgura 5.5. No
ens1 a es e bem simil
não seja capaz de explicitar tal aspecto, certamente uma parcela significativa
As diferenças observadas od d ar.
das 27 descargas detectadas na área interna ao raio de 400 m incidiram sobre mente deve se notar que os p em ecorrer de vários fatores. Primeira-
a torre existente no pico. Assim, a densidade específica na pequena região no - mapas se referem a , d .J:.c
vaçao. Em segundo lugar a efi . A . d peno os u.uerentes de obser-
entorno dessa torre pode alcançar valores superiores a 100 desc./km2/ano. . , Clencta e dete - d
te considerada um pouc . cçao os contadores é usualmen-
d . o supenor 0 que r ul
Na Tabela 5.1, assim como em todas referências usuais, o indice de enstdade. Por outro lado al' , e~ _ta em valores superiores de
~ , o usu numero limit d d
densidade N refere-se ao número de descargas atmosféricas plenas (jlashcs) e ,cerca de cem na rede d Min G . a o e contadores da rede
/!. e as errus) requer aliz -
não ao número de descargas individuais de retorno (strokes) . Atualmente, corn perda da resolução no m d d . a re açao de extrapolações
alguns pesquisadores têm proposto a substituição do índice N g por aquele regiões providas de menor co=~a : _:nsldades e, eventualmente, desvios eU:
das descargas individuais (strokcs), alegando que este último seria mais repre- mo fator o deslocament en açao ,de contadores. Atribui-se a este últi-
sentativo da freqüência das solicitação por descargas nas aplicações relativas Janeiro) da reo-ião cria·caodp~a _odAsul_ (apos a fronteira com estado do Rio de
·
JUI% b' e ma enc1a 1 ·
à proteção contra o fenômeno. É importante ressaltar que existe significativa de Fora no m d . ' a qua se Sltuava próxima à cidade d
apa envado d d d e
diferença entre tais índices, sendo a densidade de descargas individuais bern contadores são efi . a_ te e e contadores. Assim, ~
- - ...._s:~ntes para estimativa de densidade de e
Caracterização dos parâmetros de descarga • 73
72 • Descargas Atmosféricas
- ara Na perspectiva objetiva da engenharia de proteção, a informação de
. tili'dade dos sistemas..de-detecçao P
·- - possuem a versa fi ·a1m maior valor obtida deste tipo de mapa refere-se à intensidade relativa de
JUacrorreglOeS, mas nao . - mentados apenas super tcl en-
- . - Tats aspectos sao co tul 6 atividade elétrica atmosférica nas diferentes regiões. Vários fatore~_l?.~~~~m
detalhar microrre_gl.oes. 'd - ais detalliada no capí o .
-. - b ·eto de cons1 eraçao m
te neste item, pots sao o J . - tid de se inferir o afetar a r~lação entre a den~idade de_Q.~ar~de nuvens e~,
.d f tuadas avaliaçoes no sen o tais quais a latitucie, a _altitude e o relevo. Con siderando-se duas regiões de
Atualmente, têm sl o e e 1 partir de dados obtidos
'd d d descargas nuvem-so o a f ~es~a imensidade de atividade elétrica na atmosfera, uma plana e baixa e
índice de densl a e e . . d télites que se referem, un-
, . postctona os em sa , 1 outra de relevo montanhoso e de elevada altitude, há uma tendência de
através de sensores opttcos d ens Infelizmente, a re a-
.d d de descargas e nuv . haver número superior de descargas para a terra na segunda região. Por
damentalmente, à densl a e em-solo pode variar numa
, d d as de nuvens e nuv ·- outro lado, o eveQ.tual_ gesvio na e~timativa de__den~dade decorrente d~
ção entre o numero e escarg d d d diversos fatores, incluindo a regtao
ampla faixa (entre 5 e 2), depen en o e
. 5 6 mostra um mapa
d t tipo derivado de dados
es e 'd
. --
fatores não parece superior ao OQSery~do nas estimativas de densidade a
-- - -
partir de nível ceráunico.
~ -- - -
do planeta. A F lguta .
' lit da NASA. Para con ecc
gerados por sate e .
f ionar tal mapa foi assurru a a
-- ---
Para concluir es te item, cabe uma observação objetiva com relação à
relação de 2 para 1 para tais índices.
aplicação do índice ~· ~v~ utili~ar o d~do _ie densid~e-de_me-
lhor ~alidade disponível para a região de interesse, numa escala de confia-
bilidade E_rovido- (i) por r~de de detecção e localização de descargas, (ü) por
rede de contadores de descargas e (iü) por derivação indireta de informa-
ções de nível ceráunico local ou de informações locais de atividade elétrica
na atmosférica.
O s dados providos por redes de contadores de descarga disponíveis
comercialmente fornecem valores bastante consistentes, mas são capazes de
gerar valores médios do índice N g apenas para regiões relativamente amplas
(usualmente superiores a 1 200 km~ . A grande vantagem dos sistemas de
detecção e localização de descargas reside na possibilidade de detalhar o
12 a 16 índice numa escala variável que pode alcançar a ordem de 1 km2 • Na ausên-
4 a 12 cia de dados de maior confiabilidade, a única alternativa é a estimativa de
3a4 distribuição de densidade a partir de mapas ceráunicos ou de atividade elé-
2,5a3 trica nas nuvens. Nesse caso, a identificação no mapa de uma região de refe-
2 a 2,5 rência específica, cujo valor de densidade seja bem conhecido (a partir de
1.5 a2 um sistema de detecção ou de contadores de descarga), pode permitir a
1 a 1,5 aferição da qualidade da estimativa.
0,5 a 1
Por outro lado, é imperativo citar que, para ter consistência os dados
R;\os I km2 / ano
providos por qualquer fonte devem se referir a um longo período d~obser­
vaçào. Só assim é- possível evitar-se o efeito das usuais variações cíclicas da .
atividade elétrica na atmosfera. São usualmente recomendados períodos de
. N )11651 (dados obcidos •
. . d densidade de descargas para teo:a ( g observação superiores a 1O anos.
Figura 5.6 - Mapas com esumauva. e d N ASA período 1998-2001)
partir de descargas de nuvens: satelite a '
74 • Descargas Atmosféricas
Caracterização dos parâmetros de descarga • 75

3- Pa~âmetros físicos da descarga atmosférica 1,2


I 1,0
lmax. r----
Como já realçado em capítulos anteriores, para fins de se facilitar a abor- 0,8 ~ ~
dagem dos parâmetros físicos das descargas nuvem-solo, é oportuno agrupá-
0,6 1 "
0,4 1 \
las segundo uma classificação que caracteriza certa homogeneidade de com- 0,2 1 ......__,
lj
portamento desses parâmetros e que corresponde a três tipos de descarga: 0,0 ......, -..
o 80 160 240 320
400 480 560 640 720 800 J (JIS)
• Descarga negativa com impulso único ou primeiro impulso de des-
Descarga positiva
carga negativa com vários impulsos;
Escala B
• Descargas negativas subseqüentes ao primeiro impulso (no caso de 0,0 o 16 32 48 64 80 t (f.IS)

várias descargas negativas); ....!...


lllmax.
·0.2 I I
·0.4 L
,.....- Escala A
• Descarga positiva, usualmente caracterizada por um impulso único. ........ I
·0,6
v .... .... fi~~i~·~
. ·····
.. ...·· ...
·0,8
·1,0
L'J:'•
I
o 80
3.1 - Forma de onda da corrente de descarga 160 240 320
Escala A
400
t Cf•s)

3.1.1 - Introdução ~e~carga negativa


(untca ou primeira)
Um parâmetro significativo e que traduz muitas informações com relação
Escala B
à descarga atmosférica consiste na forma de onda da corrente de retorno. Em 0,0
o 8 16 24 32 40 t (f.l s)
função de sua natureza aleatória, mesmo para um mesmo tipo de descarga, a ....!...
lllmax.
·0,2 I I
forma de onda pode apresentar variações significativas. No entanto, ao se cons- Escala A
--
·0,4

tituir referências de tempo adequadas para comparação das curvas de corrente, ·0,6 . ..... ····· ..... ....J .......
·0,8
[6 ····· ... Esri-
verifica-se que o corpo principal das mesmas apresenta dispersão relativamente ,.
discreta. Assim, é usualmente adotada uma abordagem estatística capaz de tra-
·1,0
o 20 40 60
I I
80 100 t (JIS)
Escala A
duzir um comportamento caracteristico de cada tipo de descarga.
Descarga negativa
subsequente à primeira

3.1 .2 - Ondas típicas de corrente: curvas média e mediana F'


Jgura S.7- Formas de onda da corrent d d
e e escargas (San Sahratore _Suíça)'59.SIJ
A forma de onda das descargas positivas apresenta maio r dispersão Para compor as curvas médias foi con .
que as negativas. Na Figura 5.7 (a) é apresen tada uma onda típica de corrente de registros (amostras) de ,d Slderado um grande número
San Salvatore n S , corrente e descarg did
de descarga positiva. As curvas das Figuras 5.7 (b) e 5.7 (c) m ostram curvas a, me as na estação de

--
médias obtidas para descargas negativas.
' a Ulça, por BergerfS9J Tod
pela mesma refer~ . d
ao valor de 50% da am litude , .
zada a amplitude d
.
pd
.
encta e tempo considerad
as as curvas foram alinhadas
·
o o m stante correspondente
do plco da corrente. Foi também normali-
e ca a onda pelo seu 1 d .
Interesse em f,oc . va or e ptco, uma vez que o
o cons1ste espe ifi
te, é dedi d c tcamente na forma de onda. Mais adi -
. ca a uma abordagem · u1 , _ an
~'lllda calcul . partJc ar a questao da amplitude Em se
' ou-se a arnplitud d d · -
e a on a em cada instante como a média dos
Caracterização dos parâmetros de descarga • •. 77
76 • D escargas Atmosféricas
o
~~ t..... I I Pimeiras descargas
valores instantâneos correspondentes, considerando-se todas as curvas de -0.2
(ou ú nicas)

corrente amostradas para aquele tipo de descarga.


:;-
ci. -0.4
N Jl San Salvalore llt.
Números de

~
L ocal descargas
• M. Cachimbo
Q)

A comparação das curvas da Figura 5.7 denota algumas características c -0.6 Estação do Morro
Q)
t:
8 -0.8
'X \ '\ do Cachimbo
31

importantes, que diferenciam as três categorias de descargas e resumem qua- "~


"\_..
- Estação de
San Salvalore
101
-1
litativamente alguns aspectos específicos relativos às descargas, sobretudo I
quanto aos tempos de crescimento e de duração da onda de corrente e quan- 10 -8 -6 -4 -2 o 2 4 6 8 10
Tempo (ps)

to à energia associada a essa onda.

.--- -- - --
A frepte de onda das descargas positivas é relativamente muito lenta,
-- ~
se comparada à da primeira descarga negativa. Essa última, por sua vez, é
:;-
.9: -0.4
o
-0. 2 ""'t\
1\\/
\
.JI Sfn Salv~lore ~

Jl M. Cachimbo•

\ 1\
Descargas subseqüentes

Local Núméros de
descargas
bem mais lenta que as descargas negativas subseqqentes. Por outro lado, o ~ -0.6 Estação do Morro

formato mais "bojudo" da onda positiva, reflete u~a ftlaior carga (e tam-
Q)

8 -0.8
~ v---
/'
......--
do Cachimbo
Estação de
59

135
San Salvatore
bém energia) associada, emJ:elação à primeira onda negativa. Tais parâmetros -1

são ainda mais reduzidos para a onda negativa subseqüente. A quantificação -1,2
10 -8 -6 -4 .2 o 2 4 6 8 10
específica desses parâmetros é apresentada no decorrer deste ca í~o. Tempo (ps)

Figura 5:8 . Compara_ção das curvas medianas de onda


A despeito das curvas apresentadas terem sido constituídas a partir de tes medidas no Brasil e na Suíça1S9,51,2501 de corrente de descargas negativas descenden-

uma base de dados de medição obtida na Europa, a literatura técnica admite


a representatividade destas em termos globais. Num trabalho recente, fo- Percebe-se que os resultados obtidos d . -
ram obtidas as curvas média e mediana para as formas de onda de descargas são bastante similares ao c , a_s mediçoes efetuadas no Brasil
. . s re1erentes as medições d B
negativas correspondentes às medições realizadas na estação do Morro de prunettas descargas quanto para d e erger, tanto para as
as escargas subseqüentes.
Cachimbo, em Belo Horizontel250l. De uma forma geral, em engenharia de
proteção, o parâmetro estatístico valor mediano desperta maior interesse do 3.1.3 - Representação da ond a de corrente pela curva dupla
exponencial
que o valor médio, pois representa condição de maior representatividade de
freqüência: 50% das amostras são inferiores ao valor mediano, enquanto a
Na literatura relativa à pro teção contra d
A , .
referencia a uma onda d 1 . escargas e mmto comum a
outra metade excede tal valor. J • ..2-P a exponenc1al usualment d . d
Na Figura 5.8, são apresentadas as curvas medianas correspon- 'f!._tmpulso atmosférico Parece oportu --:-' e eslgga a como onda
~sentativa da onda real d
.:.. no c1tar que tal for d d
ma e on a não é re-
=•---,....--......::..:.:::.....::::::.~
~ecorre a corrente
dentes às medições de Berger e da estação do Morro do Cachimbo. As
da necessidade de dr de. uma - d escarga. O emprego desta
últimas correspondem a 31 descargas plenas. (flashes), medidas no perí- a oruzaçao de en · ·
pazes de avaliar dentro d - . sruos expenmentais ca-
odo de 1985 a 1998, compreendendo 31 primeiras descargas (ou des- , e certos parâmetros 0
mentos, dispositivos e materiai fr ' comportamento de equipa-
carga única) e 59 descargas subseqüentes. Nos dois casos, todas as cur- d s, ente a surtos de te -
a os a descargas atmosce' . A nsao e corrente associ-
vas foram obtidas realizando-se um alinhamento das curvas individu-
onalmente empregadas e
1 ' ncas.

m ensruos
s ondas de 1 2/50
. A . '
F1gura 5 9 il
~s e 5 20 ~s são tradici-
/
ais, assumindo-se como referência de tempo o valor de 90% da ampli- te este tipo e circuit · _ · ustra uma onda de corren-
d 0 0 para sua geraçao.
tude do primeiro pico de corrente.
Caracterização dos parâmetros de descarga • ·· "!9
78 • Descargas Atmosféricas
senta uma comodidade prática importante para constituir diferentes condi-
1,0
ções de ensaio e justifica o emprego deste tipo de curva.
0,8
0,6 Há dois asp~ctos diferenci~_:; ~_9rt~ntes~ntre as curvas _:eais ~
~
:;}
.e,
o
0.4
0,2 1. (e
-cLI e -pl)
-
14 16 18 20
-descarga e a dupla exponencial. Primeiramente, a natureza côncava da frente
-
de onda da corrente da descarga real nos instantes iniciais não é contempla-
--~-- ---
t(IJ
o 6 8 10 12
(/)
c 4 da pela onda du~ exe_~nencial. Por outro l~do, a dupla exponencial tem
~ -0,2
T (~ts) sua derivada máxima jus.tam.~nte n~es instantes iniciai~uanto, na onda

fmr
-0.4
-0 ,6 -111 .._ .................................., "gap" real, a derivada máxima ocorre próximo ao pico.~erspectiva dQ__desem-
.1. e
-0,8 0 ; G
penho de c~mponentes de is_~s e eletrônicos frente a descargas,
-1,0 \ R o-....--R-2-oNt-- - , C2 · os efeitos resultantes de onda~ de corre~ com perfll da_du~ exponencial
poden:_l ser_muito diferentes daqueles gerados pelas ondas representativas de
i v :> ~
\ l descargas reais. A título de exemplo, pode se referir ao cálculo da sobretensão
! Fonte externa ! resultante na cadeia de isoladores de linhas de transmissão, devido ao fluxo
\ de alta tensão L__.íi_:!+---_.1.....---~
\ (contínua) \
L.....-------···------------·-···-········· T de uma corrente de descarga pela torre. As ondas com formato côncavo
. da de im ulso atmosférico e circuito de usualmente resultam em amplitude bem superior de sobretensão em relação
Figura 5.9 - Onda dupla exponencial refenda como on p à dupla exponencial, considerando-se os mesmos valores de pico e de tem-
geração da onda . . . . po de frente para a onda de corrente solicitante 144•2081.
. . ma de duas ondas exponencl~S de smal~ ~~n-
A onda constitui-se na so - - . ..I:c rente No instante ID!Clal,
d de valor mUlto Ulle ·
trários e constantes e tempo . ul d em um valor nulo para
- A amplitude res tan o 3.1.4 - Representação da onda de corrente pela curva
ambas as ondas tem a mesma . . a'tenua lentamente no tempo, muito
E t a onda posltlva se de Heidler
a soma. nquan o ula ma resultante tem o aspecto
ra idamente, a onda negativa se ~n ' e a so Tentando suprir a falta de representatividade da onda dupla exponencial,
. P ul . indicado pela linha mais espessa da figura.
rmp stvo, bretudo da facilidade de sua o pesquisador alemão Heidler propôs uma função analítica capaz de represen-
A adoção deste tipo de ~urv~decordre, so btida ~m experimentos por tar adequadamente as curvas média ou mediana obtidas a partir dos dados de
. 1 b ratortal Esta po e ser o medição direta de ondas de corrente em torres "instrumentadas"l116•1591. Atu-
greracão em amb 1ente a 0 - · · · "RC" similar ao
~ . d d um capacitar sobre um clrcUltO '
meio da s1mples escarga e . . d a amostra sob ensaio. almente, tal curva tem sido muito adotada, sobretudo nas simulações para
indicado na figura, onde deve estar poslc10na a . avaliação dos efeitos gerados pelo fluxo da corrente de retorno.
.. m re o dessa forma de onda, nas avalia-
A despeito da utilidade do e pd g. elétricos e eletrônicos frente A curva de Heidler contempla a natureza côncava da onda nos seus instan-
nh0 d ponentes e sistemas tes iniciais. Também, observa parcialmente o posicionamento adequado da deri-
ções de desempe e com . d s é prudente explicitar que
~ ssoClados a escarga '
a solicitaçao por surtos a f de uma corrente de descarga vada máxima próximo ao pico e tem, ainda, o decaimento de sua amplitude
~ . d bsolutamente a orma d
essa onda nao tra uz a d Figura 1 2 (registro e após a ocorrência do pico muito similar àquele das curvas medianas. A curva é
, 'd rá-la com a curva a .
real. I sso fica rutl o ao compa , curvas da Figura 5.7 obtida através da aplicação de uma expressão analítica, chamada de Função de
d específica) ou com as
onda de corrente d e escarga , . , 1 f ilidade de se variar Heidler. Esta permite o ajuste, de forma independente, da amplitude de corrente,
' di ) p utro lado e megave a ac ~ ~~~~--'--
(comportamento me o . o r o .' - d :- lesmente atuando nos da derivada máxima de corrente e da carga transferida, através da variação das
f d nda e de meia on a, slmp
os tempos da r~ ~ . . - (C) do circuito d;geração. Isso repre- constantes l 0 , 't1 e 't2• A expressão dessa função é apresentada a seguir.
elementos resistivo (R) e capacttlvo
- ....--
-- -
Cru:acterização dos parâmetros de descarga • Si
80 • Descru:gas A tmosféricas
negativas subseqüentes. Todas têm a mesma amplitude, 12 kA (valor mediano
11
lo (t/1: 1) c-t112 ) onde obtido das medições de Berger), com três diferentes tempos de frente de onda
I(t)=-:;) l+(t/1:1)11 e '
(aproximadamente 0,5 ~s, 1 ~e 2 ~s), associados a diferentes valores máximos
de derivada de corrente, indicados na primeira tabela. Cada curva (A1, A2 e A3)
lo: Amplitude da corrente na base do canal
d frente da onda de corrente é resultado da soma de duas curvas, cada qual obtida da aplicação da Função de
't : Constante relacionada ao tempo e Heidler, considerando os parâmetros indicados na segunda tabela da figura.
I 1 . da ao tempo de decaimento da onda de corrente
,.,.~2'. Constante re ac10na
11: Fator de correção da amplitude 3.1.5- Peculiaridades da forma das ondas ori~inais individuais
n : Expoente (2 a 1O) Particularmente com relação à onda de corrente da descarga negativa úni-
d
são representadas como a soma 1
Geralmente, as correntes de escarga 1 d plicação ca ou primeira, o processo de obtenção da curva média ou mediana adotado ,
ões de Heidler. A Figura 5.1 Oapresenta um exemp o e a resulta numa forma de onda que difere significativamente do perfil das ondas
de duas funç - de ondas de corrente de descargas. individuais originais. Tais ondas, quando obtidas por medição em torres baixas,
desta função para representaçao
sempre apresentam uma seqüência de picos. A Figura 5.11 denota tal aspecto.
14~------------------------~
12
60
Curva de MSS

-~-........................................
? 50
Q)
cQ) 40
onda A2 onda A 1 t:
u
o
4 <ti 30 (~· --·-
···············
'O

2 .2
:::J
'O 20 I
4 6 8 10
•O
2
medíiina--·
de Berger
!J
2

Valores de pico e máxima derivada na frente


Tempo ÜlS)

Parâmetros da função de Heid!er para


reprodução das correntes !ndlcadas
10

o r
o 25
Curva de SAS

50 75 100
de onda das correntes adotadas Tempo (~ls)

Correntes Figura 5.11 - Perfil típico de ondas individuais da primeira corrente de retomo de descargas negativas,
Correntes A1 A2 A3 medidas em torres baixas e deno tando a existência da seqüência de picosl2351
10,7 10,7 7,4
A1 A2 A3 lo1 [kA]
0,95 0,25 0,063
loico [kA]
12 12 12 111 [psl
0,5
A figura mostra o registro de ondas individuais de corrente de descargas
120 4,7 2,5
12 40 112 [ps]
, {di/dt)max [kA/pS] 6,5 6,5 9 negativas medidas em diferentes estações desse tipo: San Salvatore (MSS), Morro
lo2 [kA]
4,6 2,1 0,27 do Cachimbo (MCS) e África do Sul (SAS). Na mesma figura é apresentada a
\21 [ps]
900 230 66
•22 [ps]
2 2
curva mediana obtida das medições de Berger. O processo de determinação dessa
n 2
curva, com o alinhamento das curvas individuais e cálculo dos valores medianos
· - F ão de H eidler1ll 61 instantâneos, determina a eliminação do perfil típico das ondas naturais.
Figura 5.1 O- Exemplo de o ndas de corrente obtidas pela aplicaçao da unç .
tilid d d Função de He1dler, em- Nesse sentido, tanto a curva dupla exponencial quanto a de Heidler
Na figura pode-se perceber a versa a e~ a d , . de descargas diferem significativamente das ondas originais individuais da primeira des-
, tar tres on as t1p1cas
pregada nesse caso espeCifico para represen .
82 • Descargas Atmosféricas
Caracterização dos p arâmetros de descarga • 83
36
carga negativa. Tal aspecto motivou recentemente a proposição de uma curva
mais representativa para a corrente da primeira descarga negativa, capaz de Onda positiva
I! ~ Mediana: 35 kA
preservar as características da onda decorrentes da evolução dos processos r-- k = 100
físicos, gue geram a corrente de retorno, incluindo a seqüência de picosl235l. 1 '---
I'\- '------
==-
Por outro lado, normalmente as ondas das descargas subseqüentes 12 L......_ -----.:=- Onda negativa (primeira)
- Mediana: 33 kA
possuem um único pico, sendo a onda média bem similar à onda original. [[) k = 10

Nesse caso, a curva H eidler é capaz de representar muito bem a onda ori-
0,0
/ Onda negativa (subseqüen tes)
ginal de corrente. o - Mediana: 12 kA
1k 2k 3k 4k 5k 6k ?k 8k 9k 10k k =5
t (J.IS)

3.2 -Amplitude da corrente de descarga


A am{2litude da corrente_de descarga, referida como valor de )2ifo ou de.
cri.rta da onda de corrente, co_gespond~ao valor máximo alcançado pela cor- %
99 1 - Descarga negativa única
rente. Usualmente, as ondas da primeira corrent:_e ] e descarga negativa apresen- ou primeira

tam.__dQit Q!cos, sendo o segqndo superior ao Erimeiro, na m aioriã das vezes. 95 2 - Descarga negativa
subseqOente à primeira

Na perspectiva de aplicação er::_...:,ngenharia de proteção, geralmente 3 - Descarga positiva


ao
este é o parâmetro físiã;' da corrente de descarga considerado de maior
in_!eresse, pois determina os níveis máximos da solicitação imposta pela 50
corrente de descarga ao~mponentes do sistema. Como exemplo po-
dem ser citadas a sobretensão nos isoladores de uma linha de transmissão atin- 20
gida por descarga e a máxima elevação de potencial no solo (GPR) , decorrente
do fluxo de uma corrente de descarga pelo aterramento elétrico. Ambas 5

são praticamente proporcionais ao valor de pico da corrente. Logo, este é


..---
-uElj'~o ~rít!_co e_ara dimensionamento do isolamento e para skfinh
ção de práticas de proteção. A Figura 5.12 (a) mostra uma comparação da
-~ 2 45
10"
amplitude dos valores medianos das ondas de corrente para os três tipos 4 5 7

Módulo de lcrista (kA)


de descarga. As curvas de distribuição acumulada de amplitude de corren-
te correspondentes às medições de Berger são indicadas na figura 5.12 (b). Figura 5.12 - Valor de crista da corrente de descarga

Nas curvas de distribuição de probabilidade acumulada apresentadas


neste capítulo, as retas próximas às curvas de dados são as correspondentes Há algum tempo tem sid 'd
tud d d . - -.. o sugen a a redução desse valor para ampli-
aproximações lognormal. - es a or em de 20 kA (77J em fu - . .
de l;;liz - d - ' - ~çao das estimativas obtidas de sistemas
Pode se observar que os valores medianos da amplitude das ondas de - açao e etecçao de descargas Ar
de medi -- . . · gumenta-se que a altura da torre
çao e seu poslctonamento 1 · 1 -
corrente das descargas positiva e da negativa única (ou primeira descarga ne- bre a distnb · - d
~.
. em ocrus e evadas exercem m·f1uenc1a
• · so-
gativa) são próximos, em torno de 30 kA. Entretanto, as descargas positivas ~ wçao e amplitude das correntes medidas tendendo
a concentr - d d • a aumentar
alcançam .Yªlor limi~uperior bem mais elevado (~200 kA) em relação às açao e escarg~~maior corrente.
As me~ições realizadas n~ção do Morro do Cachi b . di
negativas (~ 100 kA). Nas aplicações~ prote~, a literatura sugere a adoção
do valor de 33 kA para à ntediana do valor de pico da corrente de descarga. cam uma d, . . m o m -
-- - evl encta Importante de interesse aplicado: o valor mediano
Caracterização dos parâmetros de descarga • .. 85
84 • Descargas Atmosféricas
A figura ilustra que a carga transferida para o solo durante uma descar-
ne ativas descendentes é bem supe-
da corrente de pico das de~cargas . gal te alcançando a ordem de ga positiva é muito superior àquela transferida por uma descarga negativa
A d ·tida mternacwn men ,
• . única (ou primeira de um conjunto de negativas). Por sua vez, esta última é
rio r à referencia a 1lll A d . 30 kA). Isto im-
• •

0/Í . ue a referencia sugen a. muito superior àquela envolvida na corrente de retorno de uma única des-
45 kA (cerca de 50 o mawr q li . - por descarga atmosférica no
. · d de das so citaçoes carga subseqüente. Os valores medianos correspondentes são 16 C, 4,5 C e
Plica_mawr seven a lh a adoçao - d , . s mais conservadoras de
e pratica 0,95 C respectivamente.
ambiente local e aconse a b - le também para a aro-
f no A o servaçao va '
A '
proteção contra o enome .'. . valor mediano (16 kA) supera Por outro lado, os valores da carga total transferida pela corrente de
litude das descargas subsequentes, CU)O retorno (não apenas na fase impulsiva) são bem superiores, respectivamente
~m 33 % aquele da referência (12 kA). 80 C, 5,2 C e 1,4 C. Para a descarga negativa plena (primeira descarga mais
descargas subseqüentes), o valor mediano da carga transferida cresce de 5,2
para 7,5 C.
3.3 - Carga transferida por descarga
- da corrente de retorno de uma onda de des- Assim,. o v~_median~.arga_Jransferida_p_oi-Utna._descarga_positi­
Da integraçao no ternp~ ode se determinar a carga elétrica y_a é cer~de 1O vezes superior ao de uma descatga negativ-ª pl~. Por J>Ua
carga, considerando a duraçao destad, P a descarga de retorno (stroke). A vez, o valor é cerca de 5 vezes superior no caso ga ppJDeira descarga negati-
. t . pela corrente e um .
transfenda para a erra . b uma idéia da intensidade va em relação a uma descarga subseqüente.
A pernute esta e1ecer
quantificação desse parametro al recursor de descarga durante a evo- O tratamento estatístico dos dados de descargas mostra uma correla-
da carga acumulada ao longo do can P b .d , Terra ção significativa entre o valor de pico da correntes de descarga e a carga
lução do mesmo e que é posteriormente trans en a a .
transferida. Fisicamente tal correlação é justificáveL Afinal, considerando-se
.buição de probabilidade acumulada da
A F 5 13 mostra a dis tri ·d a natureza física do mecanismo de estabelecimento da corrente de retorno, é
iguta . . . I. ·va da corrente de retorno, associa a a
carga elétrica envolvzda na fase zmpu st di - d Berger. natural a expectativa de que uma carga maior seja o resultado da integração
c- · gundo as me çoes e
cada tipo de descarga atmoslenca, se de correntes instantâneas mais intensas (aí incluido o valor de pico), a des-
peito da importância dos parâmetros tempo de duração e da forma da onda
% da descarga.
99 1 _Descarga negativa única
ou primeira
2 _Descarga negativa Os valores estatísticos obtidos para as cargas transferidas pelas descargas
subseqüente à primeira
95 3 -Descarga positiva negativas das correntes medidas na estação do Morro do Cachimbo são bastan-
te similares aos mostrados, correspondentes às medições de Berger na Suíça.
60

50
3.4 - Os parâmetros de tempo típicos da onda de descarga
20 Alguns dos efeitos mais importantes das descargas são influenciados pe-
los chamados parâmetros de tempo de onda, designadamente o "tempo da frente
5
de ondd', o "tempo de meia ondd' e "tempo de duração total de uma descàrgd'. Estes são
considerados nos subitens seguintes, a partir de referência à Figura 5.14.

Q (C)
{591
d impulso da descarga
Figura 5.13- Distribuição de probabilidade acumulada da carga e um
Caracterização dos parâmetros de descarga • 8-7
86 • Descargas Atmosféricas

~e configuram o{canal ascende!!~e\na fase qQ_e antecede .Q_fluxo da c~ren­


T (~•s) te de retorno. Por outro lado, o início da medição da corrente de retorno
apenas se processa após o instante em que limiares bem definidos de am-
0, 11p1 plitude de corrente são excedidos (usualmente entre 1 kA e 2 kA). Isso
0,31p1 implica a perda de uma parcela dos dados da corrente, que podem ser
importantes no caso de correntes de pequena amplitude.
Para resolver tal questão e considerando que, ~maioria do~sos o
0,5 1p ..
)nt~esse maior reside na 12arcela imgulsiva da corrente., foram definidos
alguns procedimentos que determinam o tempo de frente, assumindo-se
como referência os instantes em que são atingidos valores percentuais fi-
xos do valor do primeiro pico da onda de corrente. Na Figura 5.14 está
······· ········· indicado o parâmetro T 30 , do qual se deriva o tempo de frente simples-
lp L~
···:=
···:=····~
·· ~------------ mente ao dividi-lo por 0,6 (considera-se que o intervalo de tempo decorri-
' (kA)
do entre os valores 0,3 e 0,9 do valor de pico da onda corresponde a 60%
Figura 5.14 - P arâmetros de tempo da onda de descarga do tempo de frente). Na mesma figura é indicado T 10, do qual se deriva o
tempo de frente _a o dividi-lo por 0,8 (considera-se que o intervalo de tem-
3.4.1 - Tempo de frente de onda po decorrido entre os valores 0,1 e 0,9 do valor de pico corresponde a
. . ob"etiva, o tempo de frente de onda da c~rr~~- 80% do tempo de frente). Os valores de tempo de frente estimados a par-
D e forma sunplificada, m~s l al d tempo decorrido entre o uuclo tir de T 10 e T 30 são usualmente diferentes, sendo aquele estimado de T 30
descarga corresponde ao mte~ ~-- .- __--
te d e _ - d · euo p1co a on a. inferior, em função do formato tipicamente côncavo da frente da onda de
d . ul iva até o alcance o prun -
_illL9_n a unp s . - . ortância maior deste parâmetro corrente. A despeito das diferenças, tais estimativas, podem ser considera-
Na perspectiva de aplicaçao, a lmp de frente influencia sensi- das representativas, na medida em que quantificam estágios semelhantes
. Por um lado, o tempo .d
reside em dols aspectos. - . d "d em redes e sistemas deVl o a dos processos envolvidos no fluxo da corrente impulsiva. O importante,
da tensao m uzl a 1 .
velmente na amp litud e , . , . Outro aspecto re aclOna- ao adotar um desses parâmetros, é observar que, em eventuais compara-
t osfencas proXlmas. " ·
incidência de descargas a ~ d s sistemas elétricos e eletroru- ções, seja sempre empregada a mesma referência de cálculo.
dos isolamentos o · d
se ao comportamento .. sobretensões associa as a Em alguns trabalhos, quantifica-se o tempo de frente como o inter-
, portabilidade quanto a - d
cos no que se ref ere a su d . nificativamente da inclinaçao a valo decorrido entre o instante em que a onda de corren te ultrapassa um
des,cargas. Tal suportabilidade frdepen de sl:obretensões geradas tem relação valor limite (por exemplo, 2 kA) e o instante em que o valor de pico é
t mpo de ente as " . dir ta
frente de on d a e o e t nos casos de incidencla e alcançado. A adoção desta convenção está tipicamente associada a siste-
. tempo de frente da corren e,
direta com o ·d ) mas de medição direta, nos quais se define o registro da onda de corrente
'xima (tensão induzl a .
no sistema ou pro d d ão é tão simples a partir deste limiar inferior (limiar de disparo da medição: trigger). Em
,.. t o temf2o de frente e on a n - _. -
A quantificação do parame r - ;:: . da dificuldade ~- princípio, esta abordagem peca por estabelecer, para ondas de corrente
. bretudo em decorrenCla -- - . .
quanto seu conceitO, so 1 t b~rn antes de se_.inlclar 0 distintas, diferentes estágios de referência no processo de fluxo de corren-
- . . .al d onda Usua men e, .
d nas rnediço-es urn val~- te. AssÍI!h_ embora para uma desc~a de_val~ _de_pic_o ig!.,!.al a 100 k.A~eja
=------- -
b elecer o instante ln1Cl - ?.: _:_d
·' '
etecta o
oulso da_çOttente de retorno, )~- - --d À p eres. Tais corre~
- ~
razoável admitir-se _que 2 kA seja represen tativo do início da onda de cor-
~ d d ~&~~~ e m ~
to de cor~ a o r e · · · -. - to do canal de descarga e .!::2 ~ rente d~ descarga, certamente não deve existir tal expectativa no caso de
s de estabe1ecunen limi res
associadas a9s p..r_ocessQ - . d , descargas elétricas pr~ uma descarga com amplitude de apenas 5 k.A.
t~ de -pulso~de corrente assocla os as - -
---- - -
Caracterização dos parâmetros de descarga • 89

88 • Descargas Atmosféricas
desta corrente e da corrente de recarregamento do canal confere a este um
mo o período
Ber er definiu o tempo de f rente co .
lS9\ maior nível de ionização. A descarga negativa subseqüente já encontr~on­
Em seu trabalho , g . d . , . de reo1stro (mstante em
did entre o mstante e UUClO o· . dições muito mais favoráveis para o fluxo de s~rrente de retorno, o que
de tempo compreen o d iloscópio passava a regtstrar a
- . d 2 kA ra ultrapassa o e o osc d . p~ssivelme~ lhe confere maio!_rapidez para alcançar o valor de pico.
que o li.mlar e e di - ) e o instante em que a on a
de suas me çoes . . - Ao tratar os dados das medições de Berger, Anderson e Eriksson151l
onda de corrente, no c~so p· 5 15 está representada a distrlbU1çao
· · p1co Na 1gura · ~ determinaram os temp os de frente a partir de T 10 e T 30 para as descargas
atingia o seu pnmelro . d frente para as correntes dos tres
de robabilidade acumulada dos tempos e negativas, respectivamente 5,6 ~s e 3,8 ~s para as primeiras descargas e
P do os dados de Berger. 0,75 !lS e 0,67 !lS para as descargas subseqüentes. Os dados obtidos das
tipos de descarga, segun d f te cor-
al medianos do tempos e ren medições da estação do Morro do Cachimbo indicam valores medianos
A figura mostra que os ~ ores . d descarga têm a ordem de 22 ~, desses parâmetros muito similares, respectivamente, 7 !lS e 4,8 !lS para as
, t das tres categonas e ..
respondentes as corren es . correntes de descarga posmva, primeiras descargas e 0,88 !ls e 0,67 !ls para as sub seqüentes.
de 5,5 ~s e de 0,8 ~s respecuvam~nte para as
negativa única e negativas subsequentes.
3.4.2 - Tempo de meia onda
Basicamente, o tempo de meia onda é conceituado como o tem_P-o de-
% 1 _Descarga negativa única
ou primeira , cogido en~e o início da onda impulsiva e o instante em que a corrente,
99 2 _Descarga negativa
subseqüente à primeira 3.12ós ter ul!fapassado o valor de pico (maiot:_pico)~m sua intensidade
3 _Descarga positiva
95 reduzida para 50% deste valor. Esse tempo é muito superior ao tempo de
frente de onda e não existem dificuldades de defrnição do instante inicial
80 (como no caso do tempo de frente), pois o instante inicial assumido pouco
influencia no valor do parâmetro.
Embora o estágio mais crítico da solicitação gerada pela corrente de
descarga esteja relacionado ao valor de crista da onda de corrente, até que
20
_:;e atinja o tempo de meia onda, tel;_Il-se, aindb esforços elétri_:;os significa-
5
tivos. Algumas ocorrências,_cQmo a instapilida9e J:érrnica em isolamento s~
podem se manifestar até após esse período, em função do efeito cumulati-
vo da energia dissipada pela corrente de de~a no !ntgv_al_9. A Figura
5 7 101 2 5.16 mostra a distribuição de probabilidade acumulada desse parâmetro,
Tempo de frente (!ls)
segundo as medições de Berger. _O s_ valores medianos são da ordem de
1591 ;230 m~ 75 ms e 32 ms, respectivamente para as descargas positivas, pri-
. . - . 'd de acumulada de tempo de f rente
Figura 5.15- DistnbtUçao de probabili a d d da des- meiras negativas e negativas subseqüentes.
. muito mais lento da frente e on a
D enota-se o cresclffiento. d descargas negativas subse-
.. pldez no caso as
carga posmva e a enorme ra . al ortamento, sobretudo, ao esta-
· credita-se t comp r-
qüentes. No últlffiO cas0 ' d d início da corrente de reto
do de ionização do canal de descarga q~:ao. á ~xista o traçado integral do
no, após o fechamento do canal. Emal , ll u·vamente moderado antes do
. . - d ste can e re a
canal, o nível de 10ruzaçao . e . O calor dissipado pelo flu.'<O
percurso da corrente da pnmeua descarga.
Caracterização dos parâmetros de descarga • 91
90 • Descargas Atmosféricas

%
1 • Oescarga negaUva
% 1 • Descarga negativa única 99 únoca ou primeira
ou primeira . 2 - Oescarga negaUva
2 • Descarga negabva subseqüente á primeira
99 3 -Descarga positiva
subsequente à primeira
95
3 • Descarga positiva
95
80
80

20
20
5
5
1

2 67 2 67 2 57 2 67 2 67 2 67
2
5 7 2 2 5 7 10-2 10"1 10° 101 10 2 10 3
2 10 Tempo de duraçao (ms)
Tempo de meia onda (!1s)

figura 5.17 - Distribuição de probabilidade acumulada do tempo de duração da onda de corrente de


. d [5?1
d I da do tempo de meta on a descargaJS?J
Figura 5.16 - Distribuição de probabilida e acurnu a

3.4.3- Tempo de duração total de descarga . 3.5 - Derivada máxima


. . t rvalo de tem2_o decorndo e!ltre
A definido como o m e
' Na curva da Figura 5.14, identifica-se a derivada máxima da onda de
Tal para~_e - - - , · gu~ a mesm~e
. ul . de corrente e seu terrrun0::> corrente, Sm.-... , que ocorre próximo ao primeiro pico em função do formato
o irúcio _da_on a lrr1P ~ di 'b . - acumulada deste parâmetro, se-
d
.
anula. A F lgura .
;;.:.----
5 17 mostra a stn wçao
al
di - d Berger Os v ores me
gundo as me çoes e
80
. .
85 ms e 13 ms respecuvarn
dianos desse parâmetro tem a
d
ente para o conjunto de es-
A

-
côncavo da frente de onda.
A Figura 5.18 apresenta a distribuição de probabilidade acumulada deste
ordem de 1 ms, ' .. para a primeira descarga ne- parâmetro, obtida a partir das medições de Berger. Os valores medianos alcan-
cargas subseqüentes, para a descarga posmva e çam a ordem de 40 k.A/~s, 12 k.A/~s e 2,5 k.A/~s, respectivamente, para as
gativa (ou única). descargas subseqüentes, a primeira descarga negativa e para a descarga positiva.
Nas medições no Brasil, os valores medianos são de 30 k.A/~ e 19,4 k.A/~,
respectivamente, para descargas subseqüentes e primeira descarga negativa.
92 • Descargas Atmosféricas
Caracterização dos parâmetros de descarga 93
%
~essa perspectiva, passa a ser um p " , .
-- - arametro ~co ahena da
99 expressa a capacidade ,P9tencial da -- r- _ s corrente, ~ual
- corrente de r t d di . - -
determinar a energia dissipada ela d - e orno e sstpar energia. Para se
da, basta multiplicar tal parâmPtr eelascarga_ s~br~ um corpo ou estrutura atingi-
95

. . . e 0 P reststenaa dessa ,t:lma. A p·


80 apresenta a distnbwção de pr b bili'd d V1 • tgura 5.19
. o a a e acumulad d "
nunada a partir das medições de Berger. a este parametro, deter-

20 99
1 - Descarga negativa única
ou primeira
2 - Descarga negativa
95
subsequente à primeira
5 1 - De~rg~ negativa única I 3 - Descarga positiva
ou pr1me1ra
2 - Descarga ne!Jitiva
subseqüente à primeira
3 - Descarga positiva
I 80

2 2 5 7

(di/dt)max (kA/J.ls)
20

Figura 5.1 8- Distribuição de probabilidade acumulada da derivada máxima da frente de ondai"9i


5

3.6 - Energia por unidade de resistência


O parâmetro energia por unidade de resistência, W, é obtido a partir da
integração do quadrado da corrente durante o intervalo de duração de uma
corrente de retorno: . b~ ~~
w= f [i(t)] dt .
2 FJgura 5.19 - Distribuição de
resistên · " d
Cla
b ··
pro abilidade acumulada do
a onda da corrente de descargaiS9i
' " .
parametro energJa por unidade de
Devido à natmeza dos fenômenos envolvidos na formação da corrente de
descarga, em prinápio, a vítima (estrutura ou corpo na superfície do solo pelo qual • Os valores medianos correspondentes às di -
ocorre o descarregamento para a Terra das cargas acumuladas no canal, através do parametro são 6 5.1 osA 2s 5 5 1O" A2 3
me
2
çoes de Berger para tal
' primeir ' ' · .
descargas positiva s e 6, ·10
. A s, respectivamente,
·
para as
fluxo da corrente de retorno) pouco influencia a intensidade e a forma desta cor- ' a negativa (ou uruca) e subseqüentes.
rente. Nesta perspectiva, a descarga funciona como uma fonte de corrente de Os dados das medições realizadas no B .
impedância infinita, quando visualizada pela vítima. Admitindo-se que "R" repre- pondentes um pouco su . . rasil resultam em valores corres-
para as primeiras d penores,. respecttvamente: 10,7.104 A 2s e 6 3.103A 2s
sente o valor da resistência da vítima nas condições determinadas pela corrente de escargas negativas e a b .. '
retorno, é possível estimar-se a potência dissipada por tal corrente d~ante seu maior amplitude da . s su sequentes. Atribui-se tal fato à
s correntes medidas na estação do Morro do Cachimbo.
fluxo pela vítima, através da relação instantânea ''R?". A correspondente energia
pode ser quantificada por meio da integração no tempo desta relação, durante o
período fluxo de corrente. ~ssim, ao dividir essa energia pela resistência R, obtém-
~ o parâmetro "~gia por unidade de resistência". Este nã.2_ d~
Caracterização dos parâmetros de descarga • 95

94 • Descargas Atmosféricas
Tabela 5.2 - Quadro com o resumo de pat.•ametros da corrente de descarga nuvem-solo

4 - Considerações finais sobre os parâmetros de descarga


Descargas Positivas
Nos itens 2 e 3 deste capítulo foram considerados os aspectos fundamentais
associados -respectivamente à freqüência de ocorrência e aos parâmetros de cor- Parâmetro Estação de San Salvatore (5]
rente da descarga nuvem-solo. A Tabela 5.2 apresenta um quadro resumo que Mediana (50%)
denota os valores representativos dos parâmetros de corrente. Valor de pico: h (kA) 35
Carga total: QT (C) 80
Na conclusão deste capítulo parece oportuno ressaltar alguns aspectos Tempo de frente: T r (IJ.s) 22
específicos com relação aos dados das descargas medidas no Brasil. Em pri- Tempo de meia onda: T~ 1 (U.s) 230
meiro lugar, o índice médio de densidade de descargas nuvem-solo é bastan- D uração total: T TOT (ms) 180
te elevado se comparado ao das regiões temperadas. Também, os registros Derivada máxima: SMA.-. (kAIU.s) 2,4
Energia por urúdadc de resistência: 65
locais de descarga denotam que as correntes descendentes negativas têm am-
WrrL (10·1 N .s)
plitude significativamente maior que aquelas observadas nas regiões tempe-
radas, respectivamente da ordem de 50% e 30% para a primeira descarga e
para descargas subseqüentes, quando se toma por referência os dados de Descarga Negativa Única (ou primeira d e um conJunto
. de descargas negativas)
Berger. Os demais parâmetros têm, aproximadamente, a mesma ordem e,
particularmente, os tempos de frente e de meia onda são bastante similares.
Estação de San Salvatore [5] Morro d o
Cachimbo [7)
Parâmetro
Mediana (50%) Mediana
I" (kA) 30 45
Carga de um impulso: Q (C) 4,5 5,2
T r (J.Ls) - derivado de: T1 0 1 y 30 5,6 I 3,8 [61 7 I 4,8
T M(J.Ls) 75 53,5
TroT(ms) 85 -
S ,\ IAX (kAIJ.Ls) 12 19,4
Wrz (10~ N.s) 5,5 10,7

Descargas Negativas Subseqüentes

Estação d e San Salvatore [5) Morro do


Parâmetro Cachimbo [7)
Mediana (50%) Mediana
IP (kA) 12 16
- Carga de um impulso: () (C) 0,95 0,99
_]'r. (l.ts) - derivado de: T1 0 1 1'30 0,75 I 0,67 [61 0,88 I 0,67

-
1--
T~r (J..Ls)
Trcrr(ms)
32
13
16,4
-
S,,t.-~x (kAIJ..Ls) 40 30
1--
L.__ Wpz (10~ 1\2.s) 0,6 0,63
MEDIÇÃO E DETECÇÃO DE
PARÂMETROS DE DESCARGA

1 - Considerações preliminares
11
No capitulo anterior foram caracterizados os principais parâme-
tros físicos e de freqüência de incidên cia geográfica das descargas atmos-
féricas. Para tal, foram considerados os aspectos relativos à natureza de
cada parâm etro. Ainda, em decorrên cia do caráter aleatório do fenôme-
no, os parâmetros foram quantificados, segundo uma abordagem proba-
bilística. A compreensão da natureza dos parâmetros é fundamental para
identificação das condições da solicitação determinada pela incidência
da descarga. A quantificação destes permite se estabelecer a dimensão da
severidade dessa solicitação. Neste capitulo são consideradas as princi-
pais técnicas de medição e de detecção das descargas atmosféricas que
tornam possível tal quantificação.
Inicialmente, são considerados os aspectos mais importantes das téc-
nicas de medição direta. Em seguida, são apresentadas as técnicas de medi-
ção indireta e metodologias alternativas para determinação dos parâmetros
de freqüência de ocorrência de descargas.
98 • Descargas Atmosféricas
Medição e detecção de parâmetros d d
c escargas 99
2 - Medição direta da corrente de descarga corrente a partir da onda d - .
di .. e tensao registrada A F
sposltlvo deste tipo desenvol "d . Igura 6.1 (a) mostra um
2.1 - Introdução 'd VI o no LRC
1 o em parceria entre a UFMG U . . ' centro de pesquisa constitu-
As representações de maior confiabilidade das correntes de descarga a CEMIG . - ruversidade Fed 1 d Mi
, para mvestigação das d era e nas Gerais e
são obtidas através da medição direta da corrente. A realização desta medi- - escargas atm [I' ·
proteçao contra os efeitos d ~: , os encas e das técnicas de
o 1.enomeno.
ção requer o posicionamento de um transdutor no percurso da corrente em
direção ao solo. Fundamentalmente, duas técnicas mais elaboradas são em-
pregadas para a medição direta da corrente de descarga:
• Técnica de medição de descargas naturais através das designadas torres
''instrumentadas";
• Técnica de medição de descargas artzjiciais induzidas através de foguetes
lançados de instalações terrestres.
Numa perspectiva histórica, também deve ser citado o emprego dos
elos magnéticos em medições diretas, pois estes foram responsáveis por uma
parcela significativa dos registros de intensidade de corrente, que constitu- Figura 61 o· ··
. - JsposJttvo J"btmt e Bobina d R .
e ogowsk1para di -
em as bases de dados utilizadas para caracterizar quantitativamente a ampli- O . ' me çao da corrente de descar a
proJeto e construção do di .. . g
tude da corrente de descarga. dos especiais. Primeiramente o al sp:sltlvo pr~asa observar alguns cuida-
Nos próximos itens, são considerados os aspectos fundamentais de elev~do (usualmente da orde~ ~ ~rm~ sua reslstên~ia não pode ser muito
cada uma destas técnicas. cesslvo gerado pelo flux d . ~ para se eVItar o aquecimento -
o a illtensa corrente d d ex
mo com esta precaução pod . . e escarga pelo resistor. Mes-
. ' em ser atmgidas t
no resistor (acima de 150oC) d , . emperaturas muito elevadas
2.2- Transdutores mais empregados para registro da onda .al ....;,:__ ' sen o necessano .
n UUJ.J.Zado em sua constr - que a resistividade do mate-
decorrente uçao apresente m · b ·
peratura. D e outra forma . , . wto ruxa variação com a tem-
al , a res1stenaa do di .. .
O registro das ondas de corrente das descargas medidas diretamente terando a relação entre tensa- sposltlvo podena variar muito
- o e corrente d . '
são muito comumente obtidos pelo emprego de alguns tipos de transdutores sao e~pregadas ligas especiais de ni 1 urante a medição. Comumente
especiais, os chamados "shunts" e as bobinas de Rogowski e de Pearson. vo, trus quais o N icrômio e o N. qalue e cromo para construir o dispositi-
t 1crot por po , b .
emperatura e resistividade bem . 1' sswrem aJ.Xo coeficiente de
O shunt de corrente constitui-se num dispositivo condutor colocado mrus e evada d d
aspecto, de maior importância d . o que a o cobre. Um último
em série no percurso da corrente de descarga. O dispositivo funciona como D ·d ' eve ser cons1d d
. eV1 o ao seu usual baixo valor d . , . era o em relação aos shunts.
um "resistor série", mas a sua designação como shunt (que significa paralelo), Ind · fi e res1stenc1a (ord d ..
uuvo ca pronunciado para as ond , . em e miliohms), o efeito
é tradicional na área técnica. É usualmente construido de material de
componentes de freqüência m . 1 as rapldas de corrente, que possuem
resistividade bem superior à do cobre. Predominando o caráter resistivo da frent d w to e evada. Em al
e a onda de corrente da . . guns casos, o tempo de
corrente no dispositivo numa determinada faixa de freqüências, a queda de descargas subseqüentes pode s prtm~Jra desca_rga negativa (ou única) e das
tensão medida em seus terminais é aproximadamente proporcional à cor- a 2 11 0 er mwto reduztdo · t; ·
,....s e ,5 gs, correspondendo limi. , m enor, respectivamente'
rente que promove a queda de tensão (Lei de Ohm: v= R. i). Conhecendo- .. , ·
guenaa na faixa de O5 MHz d a tes ·
supenores de componentes de fre-
se o valor de sua resistência, este pode ser utilizado para recuperar a onda de retân.. ' e e2MHz p .
a aa mdutiva do dispositivo e d . ara. ~s componentes, o valor da
xce e a sua resistencia, não sendo mais válida
100 • Descargas Atmosféricas
Medição e detecção de parâmettos d d
e escargas tOf
a relação linear entre tensão e corrente. Isso exige o levantamento de uma
função-de transferência, relacionando a tensão e corrente do dispositivo no
~--3 - Medição de descar as
Instrumentadas" 9 naturais através de torres
espectro de freqüências, e sua aplicação a cada onda medida. Esse cuidado
nem sempre é observado. Historicamente os prim . .
r
d escarga wram ' elros regtstros c fi, .
obtidos em - on laveis de correntes de
A Bobina de Rogowski é construída na forma de um enrolamento que envol- estaçoes fixas P · .
h
tan as e providas de elevadas t Oslaonadas no alto de mon-
orres car t , ·
ve um toróide, o qual possui um núcleo de ar ou de outro material sem proprie- asseguram um elevado índice anual d' . ~c erlst1cas que, em princípio
dades magnéticas (permeabilidade magnética aproximadamente igual à do vá- - , .- e 1nc1d dA • '
çao as regtoes baixas adjacentes. enc1a e descargas em rela-
cuo). O toróide envolve o condutor pelo qual ocorre o fluxo da corrente de
descarga. Esta gera um fluxo magnético muito elevado na seção cilíndrica do . Na torre de tais estações é instalado um . ..
aonado de forma a ser sensibiliz d 1 disposltlvo transdutor, posi-
toróide. O valor instantâneo desse fluxo é proporcional à corrente que o gerou, in 'd a 0 pe a corrente d ·
C1 entes, no percurso desta em dir - e eventurus descargas
no caso a corrente de descarga: <J>(t) = K í(t). Como o núcleo não possui propri- tema d di - eçao ao solo O tran d .
s e me çao e reoistro da 0 d d · s utor alimenta sis-
edades magnéticas, existe uma relação linear entre a força eletromotriz induzida - di . b- n a e corrente d
çao versl.ficada, consoante a tec 1 . ' que po em ter con.figura-
na espira, cujos enrolamentos são atravessados pelo fluxo gerado, e a derivada temas estao - no ogta empregad N
colocados em abri os ró . , a. ormalmente, tais sis-
deste fluxo em relação ao tempo: fem= -d<l>/dt Assim, também o valor instantâ- esquema típico de uma instalaç~ dp xtmos a torre. A Figura 6.2 ilustra um
0 esta natureza.
neo da tensão induzida, detectada nos terminais do enrolamento, é diretamente
proporcional à derivada da corrente de descarga: fero = -d[Ki(t)]/ dt Se essa onda . O s abrigos possuem caracteústicas con .
blindagem eletromagnética e a strutlvas especiais quanto à sua
de tensão é registrada e integrada ao longo do tempo, o valor instantâneo de . . o seu aterramento el 'tn' T: .
eVItar a mterferência eletroma , . . e co. rus cuidados visam
corrente é recuperado: i(t) = (1 /I<).J~ fcm.dt . Usualmente, a Bobina de Rogowski . gnetlca nos mcuitos d di -
v:r condições de proteção e seguran a ara . e me çao e, também, pro-
fornece a derivada da corrente, sendo o processo de integração externo. A Figu-
çao durante a incidência de d ç p eqwpamentos e pessoal de opera-
ra 6.1 (b) apresenta uma bobina deste tipo. 1 ,. escargas. Nestes event -
e etromagnetlcos intensos e elevad . . os, sao gerados campos
Os detalhes relativos ao princípio de funcionamento da Bobina de corrente de descarga. Usualm os p~tenclrus são estabelecidos no local pela
. ente, os sistemas de m di - -
Pearson não são muito bem conhecidos, pois o fabricante mantém reserva gistrar todas as correntes de ret d e çao sao capazes de te-
de informação sobre os aspectos construtivos da mesma. Acredita-se que orno e uma descarga natural.
esse transdutor tenha o princípio de funcionamento similar ao da Bobina de
Rogowski. De qualquer forma, os testes laboratoriais atestam a qualidade
dos resultados apresentados por esse tipo de transdutor e, particularmente,
sua excelente resposta para altas freqüências. Isto lhe confere qualidade supe-
rior em relação aos shunts. Usualmente, o dispositivo já fornece em sua saída
um sinal de tensão proporcional à corrente medida. A Figura 6.4 mostra as
duas bobinas de Pearson instaladas na estação do Morro do Cachimbo.
Existem, ainda, dispositivos não convencionais, desenvolvidos espe-
cificamente para medição das correntes de descargas. A referência 12061 des-
creve um equipamento especial deste tipo, desenvolvido pela equipe do
LRC. Este deve ser instalado próximo a torres elevadas e é capaz de deter-
minar a corrente de eventuais descargas incidentes na torre, a partir do
campo magnético associado.
Medição e detecção de parâmetros de descargas' • 103

102 • Descargas Atmosféricas


nação praticamente não dependem do posicionamento dos transdutores de
Descarga corrente no topo ou na base. Apenas para descargas subseqüentes extrema-
incidente
mente rápidas esse efeito seria sentido, promovendo a detecção de urna ampli-
tude de corrente pouco superior na base da torre (da ordem de 10 %)f252l.
Com relação aos mastros captores, estes podem ter configuração
diversificada. Para as torres baixas, de altura inferior a 100 m, é muito comum
o uso de estruturas triangulares delgadas, constituídas por elementos de liga
de alumínio conectados em treliça, configurando mastros sustentados por estais
Mastro Transmissão do
da torre sinal de material isolante. Por outro lado, as torres muito elevadas, cujo compri-
(óptico ou elétrico)
mento ultrapassa os 200 m, são usualmente do tipo autoportante, possuindo
Abrigo blindado
uma base de dimensão elevada incrustada no solo e responsável pela sustenta-
ção da torre.
Equipamentos
de medição O número de estações fixas para a medição de corrente instaladas em
e registro
todo o mundo é relativamente muito reduzido. Atualmente, poucas estações
Solo permanecem em operação. Merece citação, pelo aspecto histórico e pela im-
Aterramenlo da torre portância dos dados que gerou, a estação do Monte San Salvatore. Esta en-
- fix edição de corrente de descarga contra-se instalada desde 1958 junto ao lago de Lugano, na Suiça. Na realida-
. 6 2 Esquema típico de uma estaçao a para m de, essa estação compreendia duas torres distantes aproximadamente 400 m e
F tgura . - ·
. . os de transdutores de emprego mais co~um posicionadas no topo de uma montanha. Tais torres tinham altura de 60 m e
Como menciOnado, os tip h bobinas de Rogowskz e de a medição da corrente de retorno era efetuada através de shunts mstalados no seu
. d consistem nos s unt e nas .
nas torres mstturnenta as - . dutores de corrente pode vanar. topo, na base de um mastro captor, com altura de 1Om. A partir do registro de
. - d instalaçao dos ttans
Pearson. A postçao e - . tal d na base da torre ou no seu topo. mais de mil descargas nesta estação, desde 1958, foi constituída a maior base de
srnos sao ms a os . . d
Mais comumente, os me d tores ficam pos1C1ona os dados disponível internacionalmente sobre correntes de descarga.
usualmente os trans u
Quando instalados no topo, 1 das na parte superior da torre.
base de bastes condutoras, co oca Torres de baixo porte foram instaladas em outros países para a realiza-
na . instalar os transdutores no ção de medição direta de corrente, como na Itália e África do Sul.
· d cons1deram que, ao c .
Alguns pesqwsa ores did fica isenta de contaminação pelo eleitO
d orrente me a Em alguns países, torres ou estruturas muito elevadas, construídas para
topo da torre, a ond a e c . instalação na base da torre.
- 0 ue não ocorrena para a , outras finalidades, foram instrumentadas para a medição de corrente de des-
di
do sistema de me çao, q . al t ....... inação corresponde a mo-
. . d _ dizer que t con auu.u ) cargas. Na cobertura do Empire State Building, em Nova Iorque, (EUA), fo-
De forma slmplificada, po e se . 'd te (em amplitude e forma
.d da de corrente IDCl en ,., · ram efetuadas medições desta naturezal 19 11. Na Alemanha, foi instalada a torre
diftcação promoVl a na on d d ntinuidade de impedanCia
- d d os pontos e esco de Peissenberg, de 160 m de altural1' 71. Na Áustria e na Rússia, torres de teleco-
elo efeito de reflexoes a on a n (' f s canal de descarga-torre
P da corrente mter ace municações foram instrumentadas para medição de corrente de descargas, res-
de surto existentes no percurso tros pesquisadores têm apre-
[1451 Mais recentemente, ou . pectivamente as torres de Gaisberg (100 m)f99l e Ostankino (540 m)ll 231. Possivel-
e torre-aterramento) . ue tal conclusão só é válida para torres
sentado avaliações que demo~stram q e ara ondas de tempo de frente mente, dentre as torres elevadas utilizadas para medição de corrente de des-
muito elevadas (alturas supenor~s a 100 m) d P d altura na faixa de 60 m, e cargas, a mais notável seja a CN Tower em Toronto, no Canadá1' 221. Tal torre, de
. mstrumenta as, e · altuta 553 m, tem formato aproximadamente cônico e possui dispositivos para
muito reduzidos. Para as torres . . d carga os efeitos de contat'Jll·
para os tempos de frente típicos da prlmetra es ,
Medição e detecção de parâmetros de descargas • 105 ·

104 • Descargas Atmosféricas


. stalados em vários pontos ao longo do
a medi.ção de corrente de descargas ID altura intermediária (-450 m).
rirnento: na base, no topo e em , .
seu comp .. ela CEMIG (Companhia Energetlca
No Brasil, em 1985, fo1 mstalada Pd C himbo nas proximidades de
. - do Morro o ac , . .
de Minas Gerais) a estaçao . - da estação posicionada
F 6 3 apresenta uma V!sao '
Belo Horizonte. A 1gura : , 1d ar mostrando sua torre de 60
cJ.IDa do ruve o m ,
numa altitude de 1 453 m a d r estais de material isolante,
d t rre é sustenta o po
m de altura. O mastro a o . . em configuração triangular
.t:ul'do por três condutores verticais
send o constl .
Figura 6.4- Dctallics da estação do Morro do Cachimbo: mastro estaiado e sensores de corrente
(lados de 35 em), conectados por treliças.
A partir de 1998, a estação foi incorporada ao LRC - Ughtning Research
Center, centro de investigação constituído pela CEMIG e pela UFMG.
A base de dados gerada pelas medições do Morro do Cachimbo é
significativa, sendo considerada a mais importante nas regiões tropicais do
planeta. As demais bases importantes existentes foram obtidas em países
localizados nas regiões temperadas da Europa, Ásia e América do Norte.
Um aspecto interessante das medições obtidas na estação brasileira refe-
re-se ao grande percentual de descargas negativas descendentes. Nas outras
torres, sobretudo nas elevadas, a grande maioria das descargas é ascendente.
Nas avaliações e estudos de engenharia de proteção, o interesse mai-
or reside nas descargas negativas descendentes. Estas constituem a grande
maioria das descargas naturais, que solicitam sistemas e causam riscos aos
seres vivos. Possivelmente, devido à altura elevada das torres e à baixa
altitude da base das nuvens nos países das regiões temperadas (da Europa,
EUA, Canadá e Ásia), a grande maioria das correntes ali medidas são de
Figura 6.3- Visão da Estação do Morro do Cachimbo descargas do tipo ascendente. Isto evidencia que o processo de descarga é
. de Pearson são atravessadas pelo condu- decorrente, sobretudo, da presença da torre, não constituindo um proces-
Na base da torre, duas bobmas . "d te no mastro para o aterra- so natural. Num trabalho recentefl 171, Heidler apresenta 31 curvas de cor-
tual descarga mel en
tor que leva a corrente de even . t para o solo. Ao lado da rentes de descargas medidas na Torre de Peissenberg, correspondentes a
. d s dispersam a corren e
mento elétrico, cuJOS e1etro o d . al detectado pelos dois transdutores todas amostras de um longo período contínuo de medição. D estas amos-
, b . blind do para on e o sm
torre ha um a ngo a , . al - s a estação compreende recur- tras, 30 correspondem a descargas ascendentes.
. · Al ' m destas mst açoe ,
é enViado para regtstro. . e r trico ao nível do solo e para fil.roa-
sos para a medição e registro do campo e~ "d t s Duas câmaras de vídeo
d descargas mc1 en e · 2.4 - Descargas artificiais induzidas por foguetes
gem e registro fotogr áfi. co as. ~ . d d 500 m e 2 km da torre
. . _ · · d distanciaS da or em e . O princípio fundamental envolvido na técnica de indução de descar-
especiaiS, sao posKiona as a . t do evento de incidência.
para registrar o canal de descarga no mstan e gas a partir do lançamento de foguetes consiste na constituição de um per-
106 • Descargas Atmosféricas
Medição e detecção de parâmetros de descargas • .. -107
curso condutor que alcança elevada altura acima do solo, das extremidades
do qual há grande probabilidade de serem desenvolvidos canais disruptivos ~
I
I
I
que se conectam ao canal precursor de descargas, definindo uma trajetória 1
I
I
par~ percurso da descarga até a estação de lançamento. I
I
I

Nos instantes que antecedem a eventual evolução de um canal precursor { -107 mlsl -
I I
de descarga descendente, o campo elétrico torna-se muito intenso. Na região I
I
I
I
I I
logo abaixo do centro de cargas envolvido, esse campo alcança valores que, I
I
I
I
I I
I I
no nível do solo, variam na faixa de 4 a 20 kV/ m (dependendo das caracterís- I
I
I
I
Vestfgio do 1 1
ticas do local em termos de altitude, latitude e relevo). A técnica consiste em traço condutor 1 1
no canal I
t
1
lançar um foguete de alta velocidade em direção à nuvem de· tempestade, nessa I
I I
r
I I
condição critica de campo. O foguete pode alcançar altura superior a 600 m e 1
I I
r
8
- 10 mls
I I
fica conectado à terra (total ou parcialmente) por meio de um fio condutor.
Em alguns casos, quando as condições são favoráveis, da extremidade superi- (Centenas de ms)
-nW,,.. ,,Q,,.. ,,Q,,
(Dezenas de ms)
or deste percurso condutor pode evoluir uma seqüência de descargas elétricas, Canal
Foguete Constituição do Intervalo sem Cargas negativas
compondo um canal ionizado que se conecta ao canal precursor. Materializa- ascendente ascendente Corrente de
canal e in icio da fluxo de descendentes retorno
positivo corrente continua
se, então, um canal de descarga entre nuvem e solo. Cargas elétricas do centro corrente carregam o canal ascendente

de cargas na nuvem migram para esse canal durante a sua formação e são
Fi~a 6.5 - Seqüência de eventos envolvidos na forma ã . .
posteriormente transferidas para o solo através de uma corrente de retorno. classtca de lançamento (adaptadof223f) ç o de uma pnme~ra descarga através da técnica
Fica assim configurada uma descarga induzida. O fio direciona o canal de des-
carga segundo seu percurso até a base do condutor, onde estão posicionados Numa evolução da técnica anterior busca d
rente mais próxima daquela d d , . n o tornar a onda de cor-
dispositivos transdutores para a medição de corrente. e escargas naturrus 0 fi 0 [;01· difi
sando a ter apenas uma arcela d _ ' mo cado, pas-
A Figura 6.5 ilustra a seqüência de eventos envolvidos na ocorrência de uma (~1 50 m) está conectad~ diret o seu comyrunento condutor. Esta parcela
amente ao w guete A - [; -
descarga induzida a partir da designada técnica clássica de lançamento de foguetes ("classical condutor está conectada a o tr0 fi d . . . p arte 1n enor do fio
u o e matenal 1solant · -
triggered lightning'). Segundo a técnica, após o lançamento do foguete, ao atingir um tem cerca de 400 m E . e, CUJO comprlmento
· m sua extreffildade inft · fi -
altura da ordem de 300 m, é desenvolvido um canal ascendente a partir da extremi- um condutor ríoido na base d 1 enor, o o lsolante está ligado a
o- e ançamento no qual tã0 - al
dade deste. Existe uma probabilidade significativa de encontro entre o canal ascen- pamentos de medição C fi . ' es mst ados os equi-
. on gura-se ass1m a ch d , ·
dente e o canal descendente, responsável pelo campo muito intenso ao nível do altitude ("altitude triggered A" htn. " I ' . ' ama a tecmca de lançamento em
solo. Havendo este encontro, ocorre o fluxo de uma pequena corrente pelo per- tg zng /> CUJO esquema está ilustrado na Figura 6.6.
curso, que desintegra o fio condutor, mas deixa um rastro de ionização ao longo
do percurso. O deslocamento de cargas negativas da nuvem para o percurso
ionizado vai materializando um canal descendente carregado negativamente. Quando
esse canal alcança o nível do solo, tem início o fluxo de uma corrente de retorno
pelo canal, compondo uma descarga atmosférica induzida.
A característica particular da técnica tradicional de lançamento consiste
no fio condutor contínuo ligado à base terrestre de lançamento. Este exerce
influência significativa na forma de onda da corrente de retorno resultante.
108 • Descargas Atmosféricas
Medição e detecção de parâmetros de descargas • 109

(105 - 10~ m/s f '•~. lançamento referidas e a Fi ura 6 8 .


induzidas medid C g · apresenta fotografias de descargas
as em amp Blanding N f; fi , . .
traço retilineo d . , · a otogra a a direita, é notável o
1
o cana constituído a partir d . .
pendente à trajetória do fio desinte o percurso lOruzado corres-
grado pelo fluxo da corrente.
+
+
-1 0 5mfs f y:
f -102 mls
-150m
rI
.,_ Cabo de
cobre
- 1.2 km

: Cabo isolante :
~ =
1

: (Kevlar)
..- 1

400 m 1 1

: -10 5 m/s :
2x10 2 m/s I I

: Cabo de :
50 m f.,_ cobre I
..J:::l,. ..J:::l,.
-3 s -6 ms -1 ms (10-100) ps •I
Disparo do Canal Evolução Corrente Canal percursor
foguete ascendente bidirecional ascendente de descarga
positivo do canal parcial ascendente positivo

Figura.6.6 - Seqüência de eventos envolvidos na formação da primeira descarga segundo a técnica de


indução em altitude (adaptadol2231)

Nesta técnica, o mecanismo de estabelecimento da descarga é um pouco Figura 6. 7- Estações de lançamento: Camp Blanding r . . d V
, . ~cortesia e . Rakov) c Cachoeira Paulista (à direita)
diferente do anterior. Ao se atingir uma faixa critica de valor do campo elétrico
ao túvel do solo, o foguete é lançado. Quando este alcança uma altura da ordem aprese~t~ ;:~ae::t desta técnica, a onda de corrente de retorno medida
de 600 m, sob a ação do campo elétrico intenso promovido pelo centro de diferente daquela das ;r~~:;a~e~~::;gsa:u~:e~~e~etescs,armas ~u~stancialmente
cargas na nuvem, pode ocorrer um processo bipolar de evolução de descargas gas urucas.
disruptivas a partir da parcela condutora conectada ao foguete, muito semelhan-
te ao processo indicado na Figura 3.1 O. Assim, um canal ascendente positivo e
um canal descendente negativo evoluem a partir do comprimento condutor,
como indica a Figura 6.6, em seu terceiro estágio. A evolução dos dois canais
pode levar ao fechamento de um percurso, entre um canal descendente próximo
à nuvem e o solo, seguido pelo fluxo da corrente de retorno pelo canal.
Em apenas alguns casos se obtém sucesso na indução de descargas.
Usualmente, são necessários muitos lançamentos para que se consiga uma
descarga artificial. Dentre os centros de pesquisa que empregam a medi-
ção de descargas induzidas, merece referência pelo seu destaque o centro
de Camping Blanding, na Flórida (EUA). No Brasil, ensaios dessa nature-
za têm sido efetuados nas instalações do INPE - Instituto Nacional de
Figura 6 ·8 - E ventos d e descarga induzida p · fi
C ( ·
Pesquisa Espacial. A Figura 6.7 mostra uma visão geral das estações de amp B!anding (cortesia de V Rakov) , ot oguete vJsta próxima e distante) - medição em
Medição e detecção de parâmetros de descargas • 111

110 • Descargas Atmosféricas


pela fórmula anterior. A densidade de flux , . .
2.5 - Emprego de elos magnéticos para detecção do valor lor instantâneo diretament . o magnettco no elo tem um va-
rico resultante no elo (B ~H)
e proporc10nal ' · ·d
= a m tenst ade de campo magné-
_de pico da corrente [B(t) = ~.I(t)/27tR] O . le, por conseguinte, da corrente que o gerou
O s elos magnéticos são dispositivos com formato de pequenas cápsulas · m atena que com - 0 10
mórla magnética e disp .ti. , poe e tem capacidade de me-
cilíndricas constituídos por material que possui memória magnética. A Figura 6.9 A 0 ost vo mantem um . d .
tantaneo da densidade d fl , . regtstto o mruor valor ins-
mostra um elo magnético, bem como a instalação de um conjunto de elos, coloca- e uxo magnettco E.
evento do fluxo de uma corr d d a que 01 submetido. Após o
dos num suporte instalado na base do mastro da torre da estação do Morro do ente e escarga o el d
va or máximo da corrent ' o eve ser retirado e o
Cacl:úmbo. O suporte é posicionado numa direção ortogonal ao condutor vertical 1 , e que gerou tal densidade 0 d
atraves de equipamentos ap . d
ropna os.
P e ser recuperado
percorrido pela corrente de descarga. Os elos são inseridos em orifícios no supor-
te, a uma distância bem definida R do eixo do percurso de corrente, segundo uma
direção que tangencia a circunferência centrada nesse eixo.
Mastro metálico atingido por
De forma bastante simplificada, pode ser explicado o princípio de ob- uma corrente de descarga
'~-- de valor máximo lp
tenção do valor de pico de correntes de descarga através dos elos magnéticos.

. Cápsula de material magnético


m~ta ~ada em tubo de PVC. a uma
distancl~ R do eixo do mastro e
na direçao tangencial ao circulo
Imaginário de raio R

F
•Igura
num 6.10-
elo Esquema representativo d o estabelecunento
magnético . de uma densidade de campo magnético

Figura 6.9 - Elo magnético e dispositivos para sua instalação em torres

condutor não altera a distribui - b , ~ d ç~ do ~lo na regtao próxima ao


Por sua dimensão reduzida, a resen ·-
Ao fluir por um condutor longo, qualquer corrente (incluindo a de descarga)
çao astca a mtenstd d d
gera uma intensidade de campo magnético (H) em seu entorno. Se a distância ao co, mas promove um distúrbio 1ocalizad o do campoa e o campo
. . 'd magnéti-
.
eixo do condutor é reduzida, de forma que sejam desprezíveis eventuais efeitos de ata do dispositivo Em fu - d .. na proXlffil ade rmedi-
a e magnettca (~) do material
. nçao a permeabilid d ,·
propagação, e se a corrente varia pouco ao longo de um percurso bem superior a que o constitui h ' _
' a uma concentraçao das linh d
essa distância (da ordem de 10 vezes), existe uma relação proporcional entre os mostrar que existe uma rela ão . as e fluxo no elo. Pode-se
valores instantâneos da corrente e da intensidade de campo magnético gerado. magnéti ul ç proporctonal entre a densidade de fl
· . . co res tante no material e a mtenst
. 'd ade do ca , . uxo
Esta condição pressupõe a hipótese de que o meio envolvente é homogêneo, como extsttna em sua p osição na sua mpo magnettco que
ausenc1a [B (t) = 1 H ( ) - k I /
A •

é o caso do ar. Por exemplo, no caso da Figura 6:1 O, a uma distância R do condutor sa através da constante k T-t c t - · (t) 27tR], expres-
• a1 constante pode d ·
vertical, percorrido pela corrente de uma descarga, o campo gerado é dado pela te ou calculada t . . ser etermlllada empiricamen-
eorlcamente, considerando dim -
relação H (t) = I (t)/27tR (Lei de Àmpere). permeabilidade bem d finid d as ensoes, o formato e a
e as o elo Logo d nh ·
Havendo fluxo de corrente no condutor, o elo fica submetido a uma mento da cápsula (elo , . ) . ' sen o co ectdo o posiciona-
. magnettco ' a partir· d 0 v alor max.uno
, . da densidade
intensidade de campo magnético que, na sua ausêncía, seria dada no local
r
LS

112 • D escargas Atmosféricas


Mcli- d
e çao e etecçào de parâmetros de descargas • 113
magnética registrada (densidade residual) é possível recuperar o valor má-
que flui pela torre é importante para a de . - , . .
.ximo da corrente que o gerou (B ~ 1 ,., = k.HMax= k.I~r:./21tR) . (sobretensão) resultante na c d . d . finiçao do ruvel da solicltação
a ela e Isoladores da linh E li -
Devem ser observados certos cuidados com relação ao emprego dos natureza, é recomendável ob a. m ap caçoes dessa
servar com cuidado fi _
elQs, particularmente buscando efetuar a sua leitura após cada evento de do percurso de corrente e a posi - d 1 a con Igutaçao geométrica
,. çao o e o e ter em fi ·
indução. Como o elo guarda registro do campo residual associado à maior metálicos próximos que P . conta o e etto de corpos
ossuam propnedades m ,.
indução magnética a que foi submetido, em caso de ocorrência de mais de bos pára-raios de aço\ Cas t . agnettcas (por exemplo ca-
. . /· o ais aspectos não SeJ·am 0 b d ', .
um evento, o elo não terá informações sobre os eventos de menor intensida- Isto pode rmplicar erros si .fi . . serva os pelo usuar10
gni cativos na medição. '
de. Assim, após um única ocorrência deve ser efetuada a leitura da cápsula
inicialmente desmagnetizada. Por outro lado, após tal leitura, é possível
desmagnetizar o elo, habilitando-o a outra aplicação. 2.6 : ~on~iderações genéricas sobre
med1çao direta as técnicas de
Quando o campo magnético gerado no elo pela descarga é muito inten-
so (em decorrência de um valor muito elevado de corrente e do posiciona- - .Ao concluir as considerações sobre as técnicas .
,, çao direta de corrente de descarg 'ul fu fiais comuns de medi-
mento do elo muito próximo ao percurso desta) pode ocorrer a saturação . - a, J ga-se ndamental real · ,
magnética do material. A saturação descaracteriza a relação proporcional en- rucas nao devem ser consid d . çar que tais tec-
era as numa perspectlva de . -
tre o valor registrado de densidade de fluxo e a corrente máxima que o gerou. de complementaridade Cad al competlçao, mas sim
· a qu apresenta restri - ,
Para evitar tal problema e, ao mesmo tempo, manter a sensibilidade do elo conjugado dos resultados provid d çoes e vantagens. E o uso
. os por to as elas que p od 1
(capacitando-o à medição das correntes de menor amplitude) é comum em- vo1vunento do conheciment , e evar ao desen-
o na area.
pregar um conjunto de elos dispostos a diferentes distâncias do percurso de Amdi e çao- por meto· de torres instru d
corrente, como indicado no dispositivo da Figura 6.8. Os elos mais próximos maior fidelidade no registro d d d menta as tem como vantagem a
.· as on as e corrente Adi · alm
permitem o registro das correntes menores, mas ficam sujeitos à saturação em bilita a caracterização de tod · cton ente, possi-
as as correntes de retorno in 1 . d . .
caso de fluxo de correntes de maiores amplitudes. Os elos mais distantes têm corrente. As descargas induzid " _ . ' c um o a pnmetra
as por lOguetes sao mwt lh ,
menor sensibilidade, mas não ficam sujeitos à saturação. cargas negativas subseqüentes C d o seme antes as des-
presentativas de descargas , . . ontud o, a~ c~rrentes medidas não são re-
A despeito dos elos só fornecerem o valor de pico da corrente, deve urucas ou as primeiras d d
ser reconhecida a sua utilidade, sobretudo em decorrência da boa exatidão to de descargas negativas. escargas e um conjun-
obtida nesse tipo de medição e do custo muito reduzido do dispositivo.
. ~os estudos de proteção de linhas de . - -
Ademais, deve se ter em conta que o valor de pico é o parâmetro de funda- pnmetra descarga negativa . . transffilssao de alta tensao, a
constltui-se no parâm tt0 d . .
mental interesse em muitas aplicações, como, por exemplo, na proteção de para determinação da solicita ão má . .e e ma10r In teresse
linhas de transmissão de alta tensão. Historicamente, muitos dos dados utili- submetido. Nos estudos de tç - .Xldma .a que o Isolamento da linha fica
zados para compor as estatísticas sobre este parâmetro foram baseados em descargas subseqüen tes e ensao. , .
1n uzida o inter
,
.
esse mruor reside nas
, m prmc1p10 re , ·
medições efetuadas com elos magnéticos. ção mais freqüente. ' sponsaveis pelo tipo de solicita-
Outro aspecto que merece realce, refere-se à possibilidade de emprego A vantagem d , ·
a tecruca de medição através da ind -
do dispositivo em estudos destinados à avaliação da distribuição de correntes por foguetes consiste na po 'bili'd d . uçao de descargas
de descarga entre os componentes de sistemas atingidos. São comuns investi- de eventos durante uma t sst d a de de reD1stro o·
d ,
e um numero superior
gações dessa natureza, como, por exemplo, para avaliação da distribuição re- empora a e medição E
torres de altura médi . . nquanto usualmente as
, a perffiltem entre 5 a 12 m di - d fl '
lativa da corrente de descarga entre a torre onde a mesma incide e os cabos de Sitios favoráveis conse e dir e çoes e ashes por ano, em
blindagem da linha de transmissão. O conhecimento da parcela da corrente Ademais, deve ser co ~d -sedme de 1~ a 40 descargas artificiais induzidas.
nsi era a a potencial mobilid d d .
a e os recursos envolVI-
114 • Descargas Atmosféricas
Medição e d e t ecçao
- d
e para•metros de desca:rgas •·• · 11S
dos nesta técnica, que pode permitir a realização de campanhas de medição
disrupções preliminares no centro d
em diferentes locais. O emprego de elos magnéticos é atualmente restrito a d escargas consecutivas que mat "aliz e cargas da nuvem, c·") 1
11 evo ução das
aplicações específicas. en am o canal de d c·.")
regamento do canal através da( ) escarga e 111 o descar-
s corrente(s) de retorno.
- A manifestação dos correspondentes efi .
3 - Medição indireta de parâmetros de descarga çao dos estágios da descarga p . . e.Itos ocorre segundo a evolu-
. · nmeltamente obs . _
sos eletricos decorrentes d . ' erva-se a etrussao dos pul-
3.1 - Introdução - os processos disruptivos N .. • .
çao da descarga a cada descar • . · a sequenc1a de forma-
'
d escarga é emitido ga e1etr1ca consecuti d
A medição indireta dos parâmetros de descarga fundamenta-se na um puls . . va o canal precursor de
- o e1etromagneuco Finalm .
detecção de_uffi(ou IT;"ais) dos efeitos indiretos gerados pelo fenômeno, seja çao do canal entre nuvem e sol 0 fl d · ente, apos a constitui-
. - o, uxo a corrente d
ele de origem térmica, eletromagnética, luminosa, sonora ou d~Y.al.q.u.e_r ermssao eletromagnética e fi . . . e retorno promove a
. os e eltos terffilco luminos
outra natureza. 6.11 ilustra a representação d fi . '. o e sonoro. A Figura
os e eltos refendos di
formação de uma descarga ' nos versos estágios de
Nesta seção são considerados os métodos de maior emprego para a nuvem so1o.
medição indireta e detecção de descargas. Inicialmente são comentados al-
guns aspectos fundamentais relativos aos efeitos gerados pelas descargas e
utilizados para sua detecção ou para a medição de seus parâmetros. Em se-
guida, em função da sua precedência histórica de aplicação, são considera-
dos os métodos tradicionais para determinação dos parâmetros de freqüên-
cia de incidência, aí incluídos os níveis ceráunicos e os contadores de descarga. Pos-
teriormente, são apresentados os fundamentos dos modernos sistemas de {i)
Pulsos associados a (i i)
detecção e localização de descargas, capazes de prover, além dos parâmetros pro_cessos disruptivos SeqUência de pulsos elétricos (iii)
prelrm1nares no interior associados ãs descargas Emissã_o eletro~agnética, efeitos
de freqüência de ocorrência, também a indicação da localização e outros da nuvem consecutivas que materializam térmico. luminoso e sonoro
o canal de descarga associados ao fiuxo da corre~ te
parâmetros da onda de corrente de descarga, tais como a estimativa de am- de retorno pelo canal
Figura 6. 11 - Esquema com representa ão d f, · . .
plitude, a polaridade e a multiplicidade da descarga. Finalmente, são apre- descarga atmosférica ç os e ettos mdu:etos associados à ocorrência de uma
sentados comentários sobre os sistemas baseados em detectores ópticos po-
sicionados em satélites. • Através de técnicas mais elaboradas d - . -
stvel identificar o estágio de d 1 _e detecçao e mediçao, é pos-
. esenvo vtmento d f A

morntorar sua evolução p el _ o enomeno e até


3.2 - Comentários preliminares: efeitos indiretos das cessos envolvidos na de,s a percepç~~ dos efeitos gerados pelos pro-
carga atmosfenca A 'li . .
descargas utilizados na sua medição dos pode permitir di . . . . ana se dos smrus detecta-
scnmlnar-se tats t . . A .
cada tipo de descarga envol es a~lOs. demals, a evolução de
Na perspectiva objetiva do entendimento das técnicas de medição e
detecção de descargas, os efeitos indiretos das descargas são comentados ·
ve processos dtfere · d
com traços específicos o perfil d r .
os e1e1tos gerad
nela
E
o:
·
que influenciam
a segwr. tlpo de descarga fos se atrl·b 'd . os. como se a cada
Ul a uma ass1nat · ·
monitoramento dos efeitos . . . ura propna. Através do
O processo de constituição de uma descarga atmosférica~ui identificadas e os a·p d d pe.rcepttvels, tats assinaturas podem ser
..yários estágios ...f.~Q de~e_Qvolvimento envolve efeitos percer-tiveis em E_01- os e escargas t fi' ·
dos. Pela sistematização d fi a m_o~ erlcas podem ser discrimina-
tos distantes. De forma bastante simplificada, na sua seqüência cronológica, - os per s espec1flcos d d · .
sao constituídos os critérios d d " . . e ca a t1po de assinatura
tais ~s podem ser organizados: (i) processos elétricos associados a .
nos Slstemas de detecção.
e lscnnunação d d
e escargas, ado tados
Medição e detecção de parâmetros de descargas • 117
116 • Descargas Atmosféricas
Tabela 6.1 -Níveis ceráunicos típicos de a!gumas reg10es
.-
Por outro lado, conhecido o padrão de perfil dos efeitos para cada
Nível Ceráunico _ Td
tipo de descarga e considerando-se a amplitude (intensidade) dos sinais de- Local (dias de trovoadas/ano)
tectados, é possível desenvolver estimativas dos seus parâmetros (amplitude Africa do Sul 5-100
de co~rente de retorno, tempo de frente etc.). As diversas técnicas de medi-
Alemanha 15-35
Austrália 5-107
ção e detecção adotam modelos para realizar tais estimativas. Finlândia 17
França 20 30
Itália 11-60
tvlinas Gerais (Brasil) 50 90
3.3 - Medição tradicional de parâmetros de incidência
A relação entre os índices de densidade d
3.3.1 - Nível ceráunico dade de descargas locais N ( d e tempestades, Td e de densi-
em escargas/krn2 1an 0 ) ,
Evidentemente, existe uma relação direta entre a ocorrência de tem- lecida para macrorreo-iões t. . d ' e usualmente estabe-
b~ ' a partir os valores médi 0 b ·
pestades e a incidência de descargas, já que a primeira é condição necessária cas acumuladas. É muito r D .d . os tidos das estatísti-
- e erencla a na literatura téc . . .
para a existência da segunda. Assim, é natural a expectativa de uma correla- gestao de uma relação entre tai , di d . ruca 1nternaC1onal a su-
s 1n ces, o t1po: N = O04 T t,zs
ção significativa entre os índices que medem a freqüência anual de ocorrên- Aind g ' I '
a hoje, esta metodologia é muito em re . <
cia de tempestades e de descargas. globo terrestre para determin - d d . P gada em diversas partes do
_9 parâmetro~s utilizad~ para ~ indicaçã9 ~ freqüência de tem~a­
. ._ açao a ens1dade local de d . .
diversas reg10es do Brasil ond _ di _ escargas, 1nclus1ve em

__
. des ~uma determinada região é o designado índice_::_ráunico local, u~ente
!epresentado por Trl. Este indica os dias de trovoada por ano, send~btido
_....._;---
através da estatística acumulada por longos períodos de observação rara cada
;egiã~ A obtenção desse parâmetro baseia-se na percepção do efeito indireto
N

de orografia local dentr


,
,
' e nao se spoe de referência mais elaborada.
o entanto, não parece razoável a existênci d
zada entre tais índices em fu _ d . fl . .
e outros, que, conforme a
podem afetar de forma dif; . _
-
a e uma relaçao generali-
nçao a 1n uenc1a d ' · f
e vanos atores climáticos e
.- .
regtao em consideração,
sonoro, gerado pela descarga. Admite-se que, em regiões planas, o ouvido erente are1açao entre as f .. . .
de tempestades e de descarg O 'd al. . requenClas de ocorrência
humano é capaz de detectar trovões associados a descargas que incidem a as. 1 e sena que fo b 1 ·
ção mais confiável aplica' 1 d . sse esta e eclda uma rela-
distâncias de até 10 km do ponto de observação. Comumente, o índice ' ve a ca a rmcrorregi- ·
cais. A Tabela 6 2 indi 1 - ao, a partir de avaliações lo-
ceráunico é levantado a partir de uma rede de postos de observação, espalha- . ca re açoes desenvolvida dif
Terra entre os índices de d 'd d d s em erentes regiões da
dos pelo território onde se deseja conhecê-lo (muito comumente estações ensl a e e tempestades e de descargas.
meteorológicas). O observador local registra uma indicação para cada dia do
Tabela· 6 ·2 - Rclaço- · entre N& e Td'. di screpanctas
· ' es empt.rtcas . • . observadas em sua apli caçàolMJ
ano em que é ouvido um trovão. Apenas um trovão é registrado naquele dia, '

não importando quantos trovões tenham sido ouvidos, pois o objetivo consis- Ng (desca rgas / km2j ano)
te tão somente no indicativo da ocorrência de tempestade naquele dia. Equação desenvolvida
Local localmente
Em todo o mundo, é comum a disponibilidade de mapas onde estão Ng Td 20 Td 50 Td 100
dispostas as curvas isoceráunicas regionais. Diversos setores têm interesse apli- lviG (Brasil) 0,03 Tcll,P 0,9 2,4 52
Itália 0,00625 Td 1.55 0,6 2,7 7,9
cado no conhecimento sobre a freqüência de tempestades nos diversos locais, Africa Sul 0,04 Tdl.25 1,7 5,3 12,6
incluindo a agricultura e serviços de utilidade pública. Isso motiva a constitui- USA 0,1 Td 2,0 5,0 10,0
Nova Guiné 0,01 Td 0,2 0,5 l ,O
ção de redes para levantamento de dados e a elaboração de mapas ceráunicos. Vários paises 0,15 T d 3,0 7,5 15,0
Na Tabela 6.1 estão indicadas faixas de valores típicos de nível ceráunico em
diversas regiões, de onde se depreende a dispersão dos mesmos.
118 • Descargas Atmosféricas
Medição e detecção de parâmetros de descargas
119
A tabela coloca em evidência a discrepância entre os resultados obtidos 1,2
:;;
ao aplicar as diferentes relações a três valores distintos de Td. Isso denota a .e
impropriedade de aplicação generalizada de uma relação desta natureza. "'
"O
0,8
.~
ãi
0,6 I
A expressão indicada na tabela para Minas Gerais derivou de um traba- É
o
c
0,4
lho de investigação para obtenção desta relação através da correlação entre os "O
Q)

.~ 0,2
Ci
registros de rúvel ceráunico acumulados em todo o estado e os dados de den- E \_
<{
00
sidade de descarga obtidos por uma rede de contadores de descarga (1 O anos 0,2
o:e o:s
f de detecção)l641. O estado apresenta um índice ceráunico elevado, de valor
0,4
Frequêncla (Mhz)

(a) primeira descarga


compreendido entre 40 e 120 dias de trovoada por ano, na maior parte do
. (b) descarga subseqüente
território. Segundo a relação sugerida, isso implica valores de N g entre 1,9 e 6,4. F1gura 6.12- Perfil de amplitud 1 . d
e re ativa as campo nen tes de freqüência dedu d
descend entes .
Em algumas regiões do estado, o índice Td alcança valores limites superiores a · as escargas nega uvas
180, correspondendo a valores de densidades da ordem de 10 descargas/ km2/
Os gráficos anteriores mostram um . .
ano. Segundo tal estudo, os valores médios dos índices são, respectivamente, nentes de freqüência na faixa d 1O1-u plco na amplitude das campo-
·1 67 dias trovoadas por ano e 4,6 descargas/km2/ano1103l. . · e ~z. Por outro lad d
a pnme1ra descarga é mínim . o, eno ta que para
a a amplitude das
200 illz. Para as descargas sub ..
Na Figura 5.1, é apresentado um mapa de densidades obtido direta- sequentes rcomponentes
. , acima de
mente da aplicação da relação N g = 0,04 Td 1•25 (recomendada na norma NBR- componentes de freqüência de am litud '. es~e ll~llte e estendido e as
dem de 1 MHz. Tais aspect - P . e s1gruficat1va ultrap assam a or-
5419, da ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas) a um mapa de os sao cons1stentes , ·
f rente de onda nos dois ca com os t1p1cos tempos de
índices ceráunicos do Brasil. Essa relação é bem similar à obtida em Minas sos.
Gerais, cuja adoção se recomenda no caso brasileiro, na falta de um melhor Os contadores de descarga são di ..
indicador (Ng = 0,03 Td'·'Z). registro de ocorrência d d sposltlvos destinados à detecção e
e escargas nuvem-solo s- . ,
mente por uma antena receptor . . . ao constltwdos basica-
. . a, um arcwto eletrô · 1
C1a e um dispositivo contad 1m ruco se etor de freqüên-
3.3.2 - Contadores de descarga Figura 6.1 3 mostra um conta~r, ~u~ ente ~e natureza eletromecânica. A
O pulso eletromagnético irradiado pela corrente de retorno de uma do Cachimbo e um detalhe fi or aled escarga Instalado na estação do Morro
ront este.
descarga atmosférica é composto por um amplo espectro de freqüências,
. _Cada vez que o dispositivo é sensibilizado .
que se estende de alguns Hertz a alguns megaHertz. Para as descargas de mduz1da na antena CUJ·a amplitud f: . por um s1n al de tensão
nuvem para terra, as ondas de corrente de retorno têm variação relativamen- . ' e na ruxa d fr .. , . , .
seJa superior a um determinado limi' . e. equenc1a proXlffia a 1O1illz
te lenta (maiores tempos de frente). As componentes de freqüência têm am- re nte de retorno de d· ar, atrlbw-se tal efeito a' pn·me1ra
· cor-
plitude maior numa faixa compreendida de 0,5 kHz a 20 k.Hz, com valores I . uma escarga nuvem-solo (CG) . 'd
ocalizado num raio máxim d 20 L - ' 1nC1 ente num ponto
máximos no entorno de 1O kHz, como mostra a Figura 6.12. Por outro lado, N e
esse caso, o contador eletrom
°
.K.In do local de in tal - d ·
s açao o disp ositivo.
A • , •

as descargas de nuvem (sobretudo intranuvens), que possuem tempo de frente tro de uma descarga. ecaruco e Incrementado, indicando o regis-
muito menor, têm sua faixa de componentes de maior amplitude num espec-
tro de freqüências bem superior.
.,.

Medição e detecção de parâmetros de descargas • 121


12o • Descargas Atmosféricas
nele um sinal na faixa de freqüência de 1O kHz cuja intensidade supere
aquela gerada por descargas nuvem-solo de baixa amplitude, incidentes
em pontos distantes junto ao perímetro correspondente ao raio de 20
km. A aplicação do fator de correção Yg tem p or objetivo reduzir este
tipo de erro. Consiste num parâmetro determinado empiricamente, utili-
zado para deduzir os registros indicados p elo contador, que eventual-
mente possam estar associados a descargas de nuvens.
No passado, os primeiros contadores utilizavam a freqüência de 500 H z
como valor de referência para seleção. A freqüência reduzida assegurava me-
lhor seletividade, com maior expectativa de discriminação das descargas para
o solo. Porém, a experiência mostrou que, nessa faixa de seleção, um número
vista de sua antena de 4 me da caixa metálica que contém o significativo de descargas nuvem-solo menos intensas e incidentes em pon-
F 6 13 _Contador de descarga, com • ·
c~~o clettônico seletor de freqüência e o contador elettomecantco tos distantes (mas internos à área de cobertura do contador) deixava de ser
. d d é possível estimar a den- contabilizado. A busca de melhor eficiência na taxa de detecção determinou
A im tendo os registros anurus o conta or, - o emprego da freqüência de 10kHz. Embora esta opção aumente o risco .de
ss ' 1 al através da expressao:
sidade de descargas nuvem-terra oc ' contaminação dos dados por descargas de nuvens, assegura a percepção dos
2
N g = (K.Yg)/(7t Rg ) sinais de descargas menos intensas até os limites da região de detecção do
contador.
Onde:
K = Número de descargas registradas Em função dos tempos elevados de operação de seu sistema de conta-
gem (de natureza eletromecânica), os contadores são capazes de indicar ape-
y = Fator de correção (0,93) nas o número de descargas plenas (flashes), não detectando os eventos indi-
g
R = Raio de detecção (20 km) viduais de descargas subseqüentes.
g , ,. di'' ~
Este dispositivo usa dois critérios prunanos de . ~crl~~sa induzidos No Brasil, a rede de contadores, instalada em Minas Gerais e estados
--:: A . . . de amplitude do sinal) para t.ej~tar sm -
de frequencta e limiar . . ados em descargas de nuvens, de fronteira, con tava, inicialmente, com 43 postos (em 1985) e, ao ser
or outras fontes, sobretudo aque1es ongm
~ di dos têm freqüências representativas localizadas num .
. . es- desativada em 1998, contava com um total de 100 postos. Como citado, os *
cuJOS campos trra a d f .. ia o dispositivo procura siD-
A
registros obtidos desta rede indicaram para valor médio de densidade 4,6
pectro superior. Através do seletor e requenc ' 1 Em segundo lugar, ao descargas/ km2 /ano.
t · d d cargas nuvem-so o.
tonizar apenas os e et~os .as es li d do sinal detectado, o dispo-
limiar mfertor para a amp tu e
estab elecer um . s usualmente associados a ou-
. · inais menos mtenso , 3.4 - Os sistemas de detecção e localização de descargas
sitivo procura reJeitar s l ocorridas fora da faixa
d scargas nuvem-so o atmosféricas
tros tipos de eventos ou a e , d 20 km). Contudo, uma
geográfica de sensibilização do contador (alem e olo na região pode 3.4.1 - Introdução aos sistemas terrestres de localização de
- ciados a descargas nuvem-s
Parcela de eventos nao asso . , . E entualmente a ocorrencta de uma A • descargas
não ser filtrada por tais cntenos. v )' 't próxima logo Os sistemas de detecção e localização de descargas foram idealizados para
. ou entre nuvens mul o '
descarga de nuvem (mtra-nuvens d d er capaz de induzir a detecção de descargas atmosféricas a partir da percepção dos campos eletro-
acima do ponto de instalação do conta or, po e s
Me?içào e detecção de parâmetros de descargas • 123
122 • Descargas Atmosféricas

esféricas Usualmente referidos O detalhamento de todos aspectos envolvidos na realização destas funções
m éticos remotos gerados por descargas atm . . - foge ao objetivo deste texto e requer consulta a trabalhos específicosl36• 37• 27J. Neste
agn U.S I d in lês Lightning Location Systems), estes ~Istemas _detectam o c~
como ' o g .. . . d em vana's estaçoes terrestres dis- capitulo, é apresentada uma abordagem de caráter introdutório do tema, focada
- , pecialS posioona os
po atraves de sensores es
. . ,
.
·- de morutoramento. ao c
s- apazes de prover infor- em seus aspectos fundamentais, suficiente para o estabelecimento de um entendi-
tantes, distnbmdas na regt.~o . - d larid de multiplicidade e estimativa mento básico sobre os llS. No Brasil, é também comum designar os llS como
1 aliz - mdicaçao e po a ,
mações sobre oc açao, .d sua área de cobertura. "sistemas de localização de tempestades" e atribuir-lhes a sigla SLT.
de intensidade de corrente dos eventos ocorn os em

3.4.2 - Princípios fundamentais das técnicas de detecção


e localização
Estação de
Detecção 2 O princípio de funcionamento dos sistemas de detecção reside na medi-
ção indireta do campo eletromagnético remoto gerado pelo fluxo da corrente
~z::, de retorno no canal de descarga, através de uma rede de estações detectaras.

~=:~::. '<:~~ \
Estas são posicionadas estrategicamente a distâncias da ordem de algumas
Sistema de exibição centenas de quilômetros (usualmente entre 100 a 400 km) e segundo determi-
de informações

d~-~~:.:--------,
nadas configurações geométricas, de forma a delimitar uma região de cobertu-
Estação • Localização do ponto de incidência
detecção 3 -..,.. central de ...
• Estimativa da amplitude de corrente ra para monitoramento das descargas atmosféricas incidentes.
• Instante de ocorrência
processamento • Polaridade da descarga A Figura 6.15 ilustra a evolução dos eventos entre a incidência de uma
descarga e sua detecção e localização. Quando a descarga incide no solo, em
, . d m sistema de detecção e localização de descargas (LLS) seu percurso ao longo do canal, a onda da corrente de retorno (que varia
Figura 6.14 - Estrutura b asJca e u
muito rapidamente no tempo) gera um campo eletromagnético muito inten-
Como ilustra a Figura 6.14, tais sistemas são constituídos basicamente so, que se propaga a partir do ponto de incidência. Tal campo alcança as
estações terrestres (P1 , P2 e P3), posicionadas a diferentes distâncias do ponto
or um conjunto de sensores colocados em :sta?ões remotas e pdor ~:i~
P to Na ocorrenoa de um evento e m de incidência, e "ilumina" os dispositivos sensores ali colocados. Em função
eds,taç~o ce~tral x;:~:~::=~~ ~s sensores são capazes de detectar si- das diferentes distâncias de propagação do campo entre o canal e as esta-
encla na area ' . · ·d tir do fluxo ções, em princípio, o sinal eletromagnético gerado pelo evento de incidência
. 1 tromagnéticos ~a faixa de radiofreqüência, emiti os a par
nrus e e d A informações dos sensores chega às estações em instantes de tempo diferentes e com intensidades dife-
da corrente de retorno pelo canal de escarga. s t -o central rentes. As técnicas de localização se baseiam na detecção desses campos,
. di .duais relativas à detecção do evento são enviadas para ~ es aça
m V1 . - dos arâmetros associados ao evento gerados por um mesmo evento.
para processamento e determmaçao P
Qocalização, polaridade, amplitude de corrente etc.).

Para rea1izar suas funç ões, os LLS compreendem:


.
li - d ponto de
• Técnicas de detecção de descarga e de 1oca zaçao o
incidência;
• Critérios de discriminação para tipificação do evento;
. d ttos parâmetros.
• Modelos para estimativa da intensidade de corrente e e ou
Medição e detecção de parâmetros de descargas • 125
l24 • Descargas Atmosféricas
O fluxo do campo magnético sobre uma espira é obtido pelo produto
(i) Tem inicio o fluxo da corrente de retorno a
partir do ponto de conexão dos cana'.s da área da espira (J) pela parcela da densidade de fluxo magnético B (B = J..lH),
ascendente e descendente (incidência).

Estação de (ii) O campo eletromagnético gerado se propaga a que atravessa a espira (<j> = B.S.cose). Nesta relação, o ângulo de chegada é e
Detecção 1 partir da fonte de corrente e ···· definido entre as direções de B e do plano ortogonal à superfície da espira
- · · xima (Estação de
(iii) alcança a estaçao ~ais pro
Detecção 3) e em segUida .... Norte-Sul (vide Figura 6.16). Como o campo magnético gerado pela descarga
(iii) alcança a Estação de Detecção 2 e logo .. .. é variável no tempo, pela lei de Lenz, na espira é induzida uma força eletromotriz
(iii) alcança a estação mais distante (Estação de ifem), proporcional à variação no tempo do fluxo magnético que atravessa sua
Detecção 1)
área. Para uma espira com N voltas, a expressão para cálculo do módulo da
A onda de campo eletromagnético chega a ca~a
Estação de estação num instante diferente . (depende da força eletromotriz é dada por fem = N d<j>/dt.
Detecção 3 distãncia ao ponto de incidência), Vinda e
direção especifica. Considerando duas espiras idênticas e ortogonais entre si, os fluxos
magnéticos que as atravessam e respectivas forças eletromotrizes induzidas
. , . a parnr
gnenca . d o can al de descarga _vista superior de são dadas respectivamente por:
Figura 6.15- Emissão de uma onda eIetroma
incidência da descarga no solo <I> NS = B.S.cos e e <l>w = B.S.cos(90°-e) = B.S.sen e
3.4.2.1 -Técnica de indicação de direção: DF fem NS = N BS cose e fem LO = NBS sene
. . tecruca
. , . d nmel!a , . u tili.zada para localização do ponto de
O pnnclplo a P . d "' di -o de direção" está ilustrado na Da relação entre tais forças eletromotrizes obtém-se o ângulo e:
• • d d
A • rga des1gna a m caça ' .
mc1denc1a e esca ' .d DF (do inglês Detector Fzndef).
Figura 6.12. Esta é usualmente refen a como K = fem LO = sene =Tge e =Tg ·' (K)
fem NS COS8

Impondo-se que as espiras estejam sempre posicionadas segundo as di-


N
reções norte-sul e leste-oeste, é imediata a determinação do ângulo da dire- e
~
B
ção de chegada do sinal propagado a partir da descarga, pela relação anterior.
B NS ®
•.
.•. ••• Ponto de
•••• ••· incidência Em cada estação detectara existe um dispositivo similar ao anterior
~ ..........
(antena). Na ocorrência de uma descarga, cada estação indica o ângulo da
L
direção de chegada do sinal de campo propagado. Com dois detectores (2
estações) é possível se localizar o ponto de emissão de campo, simplesmente
s
através da interseção das retas correspondentes às direções de chegada em
- de chegada do sinal de descarga cada estação, como mostra a Figura 6.17 (a). Para se evitar, a indeterminação
Figura 6.16 _Antena detectora d a direçao .
é "ilurruna- · que seria observada se a incidência ocorresse sobre a linha base (em pontilha-
0 dispositivo de bobinas cruzadas, ilustrado di~a figuraEmant:çr~o dessa dis- do), a detecção requer um mínimo de três estações 6.17 (b).
, · d uma descarga stante.
do" pelo campo eletromagnettco e · · 300 m o
. . nto de onda associado supenor a '
tância, e considerando o compnme . .. d nsiderado uniforme.
,. vizinh a do disposltlVO po e ser co
campo magnetlco ~ - anç . al redominante para os elementos de corrente
Por outro lado, a onentaçao vertlc P 'd d po magnético que tangencia a
d d rmma um senti o e cam .
no canal de escarga ete d . .dA cia de descarga. O dispositivo, constl-
circunferência centrada no ponto e mo en ético.
tuído por duas espiras ortogonais entre s~ é atravessado pelo campo mago
126 • D escargas Atmosféricas
Medição e detecção de parâmetros de descargas .. Ú7

de chegada do sinal nas duas e ta - . .


. d . _ s çoes esta assoc1ada uma diferente hipérbole
$ DF 2
CUJa eterm!naçao pode ser feita por formulação analítica. ,
: DF 3

$-... ~ .cp
.r:: ,;: /
Ponto real de A Figura 6.18 ilustra o lugar • ·
de diferença do tempo de che d geometnco para um determinado valor
~;; . ga a para as estações 1 e 2 (H \ M tr
bem as hipérboles correspondentes a valor . l-v· os atam- .

s P;r: Interseção das direções


:
·•..
:X · ·-..·
:
~/
P1 3

.·'""'-··. ·. Ponto
sultantes nas estações 1 e (H \

3
es específicos desta diferença re-
r J/ e no caso das estações 2 e 3 (H \ A
dos Indicadores das DF; e 011 ./ ; p estimado de mterseção das hipérboles deter~adas para . . 2-J/ ·
23
incidência de incidência. um mesmo evento mdica o ponto
Figura 6.17 - Detemlinação da direção de chegada do sinal de descarga

Evidentemente, qualquer medição apresenta erros. Quando se tem vá-


rias estações, tem-se a expectativa de que os pontos de localização determi-
H i-J : hipérbole definida pela diferença
nados pelas várias interseções sejam naturalmente diferentes. Os sistemas de entre os instantes de tempo de -------- H 2-3
//_,---·
chegada nos sensores Si e Sj
localização incluem algoritmos capazes de otimizar a estimativa de posição.
A partir das indicações de vários sensores para um mesmo evento, os • 82
algoritmos determinam a localização de incidência, como um ponto interior
à área delimitada pelas interseções das direções de chegada do sinal às diver-
sas estações (P.. ), como ilustra a Figura 6.17.
1) Pigur: 6.18 - ~ocafuação do ponto de incidência ela interse - . .
estaçoes locali7.adas a diferentes distânci . d 0 p d . . ç~o ~as hiperboles geradas por cada duas
as ponto e JncidencJa

ToA ~~éi:ni~"a d; .Diferenra n~ Tempo de Chegada, usualmente referida como


3.4.2.2 - Técnica da diferença no tempo de chegada: ToA
O campo eletromagnético gerado por uma descarga gasta tempos indi - dg es_ zme of Arrtval) consiste em utilizar as diferenças nas
diferentes para atingir as estações detectaras situadas a diferentes distânci- caçoes os lnstantes de tempo d h d d
as em relação ao ponto de incidência. Admitindo-se uma velocidade de gerado p ela desca~ga
atmosférica em ~~loe~e:os otr~~e::~::rso:a~~tico
propagação da onda eletromagnética (c) a partir do ponto de incidência, ~spaçados entre Sl e perfeitamente sincronizados para det . 1 po,
lização da descarga. ' erm1nar a oca-
pode-se obter o tempo de atraso (!1t) entre o instante de incidência da
descarga e o tempo de chegada do sinal a uma estação detectara situada a Da mesma forma qu · · d
d d . e na tecruca e Indicarão de Direção) a deftnição
uma distância d como: !1t = d/ c _os pontos e mterseção de cada duas curvas delimita ·- .
nor da qual é determinado o . uma teglao, no mte-
Se duas estações possuem sincronização de tempo, torna-se possível apli - d • . ponto mrus provável de incidência a partir da
caçao e tecrucas de otimização. '
determinar-se a diferença de tempo de chegada a tais estações do sinal ele-
tromagnético gerado por um mesmo evento (descarga). Admitindo-se a
mesma velocidade de propagação do campo originado de uma corrente de 3.4.2.3- Técnica interferométrica
descarga no seu percurso em direção às duas ·estações, pode-se mostrar que
A técnica interferométrica é fund d . _
o lugar geométrico dos pontos de incidência que resultariam num mesmo ças de fase d d 1 arnenta a nas mediçoes das diferen-
valor específico da diferença no tempo de chegada do sinal constitui uma um . a on . a e etromagnética rece b'd1 a pe1as diferentes
.
antenas de
curva correspondente a uma hipérbole. Assim, a cada diferença no tempo te re:~nJo (conJunto) d~ an:enas. Estas diferenças de fase estão diretamen-
onadas com a direçao de chegada da ondaf27B, JBIJ_

Medição e detecção de parâmetros de descargas •· 129

128 • Descargas Aunosféricas


System), baseado na T écnica de Indicação de Direção (DF), e comerci-
Antena , f.\ (\ (\ ~ alizado a partir de 1976. O sistema LPATS (L ighting Position and Tracking
3 Norte
_....__.. 4~1~
System), baseado na Técnica da D iferença no Tempo de Chegada (ToA),
e ~----~;-~ (\p------
--- -----~--\J·Ju--~ Anl'"'' ~JNVV' . teve sua comercialização iniciada em 1981. Desde então, tais sistemas
foram instalados em diversos países.
w
Posteriormente, os fabricantes decidiram integrar tais sistemas numa úni-
ca plataforma, constituindo as estações IMPACT (Improved Accura€)1 from Combined
2 . d
. . . . determinação da direção de chegada <.lo pulso no conJunto e Technofogy). Estas utilizam as duas técnicas de detecção conjugadas, o que propi-
Fig. 6.19- Técnica mterf~rometnc~. f didas pelas antenas (atlaptadolS<''I) ciou sensível melhoria tanto na eficiência de detecção quanto na exatidão dos
nção das cllferenças ue ase, me
antenas em fu · .
determinada faixa de freqüêncla de resultados de localização. Simultaneamente foram desenvolvidos os conhecimen-
As antenas operam dentro de urna t dimensões da ordem do tos para operação dos sistemas rubridos, resultantes da integração de sistemas
ento das antenas apresen a
interesse. O espaçam . . f .. Ancias Dessa forma, cada ante- com diferentes tipos de sensores (LPATS, LLP e INIPACI).
d d c1ado a taiS reque ·
comprimento e on a asso dicerente fase. As diferenças de fase Paralelamente, outro tipo de sistema baseado na técnica interferomé-
· d onda em urna 1 '
na do conJunto me e a . d t s e da direção de chegada da
· d onJunto e an ena trica havia sido desenvolvido e vinha sendo utilizado em vários países: o
dependem da geometrla o c .d metria do conJ'unto de antenas,
, · L 0 conheci a a geo SAFIR. (Systeme d"Aferte Foudre par Interérométrie Radioélectrique). Tal sistema
onda eletromagnettca. o~ , - h d da onda em função das diferen-
é possível determinar a direçao de c eg~ a encontrava aplicações que se estendiam a atividades complementares à loca-
ças das fases medidas, como sugere a Flgura 6. 19. . lização de descargas, sobretudo na área de meteorologia.
. . - de dite ão de pelo menos dois conJuntos de Recentemente, um único fabricante assumiu a produção dos sis-
Utilizando a mdicaçao çd A ia da descarga através do
antenas, é possível localizar o ponto e ocorrenc temas IMPACT e SAFIR, do que resultou a constituição de um novo
método de triangulação (Figura 6.20) . sensor que integra as tecnologias das técnicas de detecção D F, ToA e
Norte
Norte
..,
____________ interferométrica.
A qualidade dos resultados gerados pelas redes de detecção é aferida
po_: dois parâmetros: sua eficiência de detecção e a exatidão na indicação
~ localização. eficiência~ do sistema está associada à sua capacidade de
detectar descargas. No passado, os fabricantes indicavam eficiência supe-
rior a 80%, o que implicava na perda de detecção de menos de 20% das
descargas incidentes. Evidentemente, em sua maioria, tais descargas
. . - . c clirc ão obtidas por duas antenas intcrferoméu1cas correspondiam àquelas com menor amplitude da corrente de retorno. Atu-
Figura 6.20 -Triangulação das mdicaçocs d ç
almente os fabricantes clamam por eficiência superior a 90% na detecção
3.4.3- Sistemas de detecção em operação l de descargas nuvem-solo. _Q outr<?_parârn.e~o relacio_!la-se ao erro nas in-
. liz ão de descargas foram desenvo - dicações de posiçã~. Atualmen te, para as redes de detecção de maior den-
O s primeiros sistemas de ~oca aç til. d técnicas distintas de
sidade (número de sen sores por unidade de área), os fabricantes preconi-
vidos por dois dife~entes fabucan~es,fi~os~~:; p~ópria que incluía crité-
zam erro inferior a 500 m na indicação de posição das descargas incidentes
d etecção, cada qualmtegrada segun o de estimativa de parâme-
d d. · inação de eventos e . na região interna, entre estações.
rios particulares e _lsc:lm . LLP (L i htning Location and Protecttoll
tros. Assim foi constitUldo o slstema :g
130 • D escargas Atmosféricas
M di -
e çao e detecção de parâmetros de descargas • .. -131
3.4.4 - Discriminação dos tipos de descargas e estimativa de
3.5 - A rede brasileira de detecção
parãmetros
Atualmente, em vários países existem
As técnicas descritas nos itens anteriores são capazes de indicar a loca- compondo sistemas de det - 1 . extensas redes de detectores
liz~ção mais provável dos pontos de incidência de descarga. O s sistemas de
. ecçao e ocaliza - d d ,
diversificada. Merece destaque a ReJ 1 çao e escargas de configuração
detecção provêem alguns dados adicionais a partir da identificação de pa- ue ntegrada Ame · . J D -
gas pela alta densidade de . ncana ue etecçao de Descar-
sensores por urudad d ,
drões, através de critérios de discriminação pré-estabelecidos. De uma for- altos indices de eficiência e de d nh e e area, o que lhe confere
esempe 0 Tamb , d .
ma geral, tais critérios são aplicados às ondas de campo elétrico ou magnéti- resultado da integração da red d di · em a es1gnada RedeEuclides
. e e versos paí '
co detectadas (conforme o tipo de sensor), que ultrapassam determinada s1stema de realce. ses europeus, constitui um
amplitude (limiar de sensibilização do sensor).
No Brasil, em 1988, foi instalada a . .
A primeira avaliação a que as ondas detectadas são submetidas objetiva cargas pela CEMIG cont d .~nmeua rede de detecção de des-
, an o n a ocas1ao com
identificar se o evento gerador do sinal detectado constitui efetivamente uma LPATS, distribuídos no estad0 d Min . quatro sensores do tipo
e as Gerrus e
descarga nuvem-solo. Para tal, os critérios estabelecem uma faixa aceitável para menta, localizada em Belo H . . ' uma central de processa-
. otlZonte. Posten or d
os tempos de frente e de duração total do pulso da onda do campo detectado. ram 111staladas mais 3 estações d . 1ME mente, e 1995 a 1997 fo-
No caso do sensor IMPACf, o tempo de frente da onda de campo magnético sofreu uma atualização genera~ tldpo . 1?A_CT e a rede htbrida configurada
a a, lnc US1Ve na su al d
deve ser inferior a 24 J.!s e a duração do pulso deve estar compreendida entre menta. Em 1996 houve tamb , . al - a centr e processa-
' em a mst açao de d d
11 e 31@. Eventos que não atendam a tais critérios são desconsiderados. sensores do tipo LPATS p , . uma re e e detecção com
no arana, realizada P 1 COPE

Por sua vez, a polaridade dos eventos aceitos como descargas atmos-
Paranaense de Energia CUJ. a
SI MEPAR (Serviço Meteorolo' '
_ r .
operaçao 101 p ostenor
o1 d p ,
e~ L - Companhia
mente transfenda ao
.
féricas é verificada a partir do sinal da onda do campo elétrico detectado. 0 .co o arana).
Em 1998, foi constituída a Rede Inte rad. .
A classificação de eventos próximos como descargas independentes ou Atmosféricas, a partir da instai - d ~ a Naczonal de Detecção de Descargas
múltiplas (conjunto de descargas de um flash) é realizada pela central de Centrrus . açao a rede de detecção d FURN
Elétricas e sua integr - , _ d e AS - Furnas
processamento, considerando o intervalo de tempo entre os eventos detectados açao as re es da CEMIG d
configuração da rede de FURNAS - e o SIMEPAR. A
e as distâncias dos pontos de incidência, segundo critérios bem definidos. . entao constituid ·
e do1s IMJ?Acr f, · .fi ' a por se1s sensores LPATS
, 01 espeC1 camente projetad
O s sistemas realizam, ainda, estimativa da amplitude da corrente gera- dos sistemas, visando a cobertu d d a para promover a integração
·- ra e to o o sudest d B il
dora do evento. Para tal empregam expressões empíricas que relacionam a s1ao, a rede integrada passo b . , e o ras . Naquela oca-
. u a co rtt uma area de 2 24 rnilh-
intensidade da onda de campo detectada, a distância estimada do ponto de me10 de 22 sensores A r d . ' oes de km2 por
· e e nac1onal atu 1m d .
incidência e valor de pico da corrente de retorno. Estimativas dos tempos sou a evoluir desde então na busca d , ba ente es1gnada RlNDAT, pas-
, a co ertura total d ·-
de frente da onda de corrente são realizadas diretamente do tempo de frente expansão para as regiões Centr N a reglao sul e de sua
o-oeste e orte d 0 , A p · .
a configuração da RIN DAT prus. 1gura 6.21 ilustra
da onda de campo detectada. A exatidão destas estimativas tem sido motivo , no ano de 2004 e dá ·d ,.
sua area de cobertura (25 ) uma 1 eta da extensão de
de questionamento de muitos pesquisadores. sensores .
Medição e detecção de parâmetros de descargas • 133
132 • Descargas Atmosféricas

ao equador. Permite um campo de visão instantâneo de 1 300 x 1 300 km2,


com resolução espacial de 1O km e resolução temporal de 2 ms (500 ima-
gens por segundo).
O sensor de imagem de descargas atmosféricas LIS é um instrumento
espacial, integrado ao satélite TRMM (Tropical Rainfa/1 Measuring Mission), lan-
çado do Japão no final de 1997. Este satélite circula em torno da terra a uma
altitude de 350 km, com inclinação de 35°. Permite que o LIS observe a
Belo Horizonte atividade de descargas atmosféricas nas regiões tropicais do globo, com um
• campo de visão instantâneo de 600 x 600 krn2 e com resolução espacial entre
3 e 6 km e resolução temporal da ordem de 2 ms.
O uso conjugado de sensores ópticos e de radiofreqüência colocados
em satélite pode proporcionar uma melhor capacidade de discriminação das
descargas atmosféricas detectadas. O satélite FORTE (Fast on-Orbit Recording
qfTransien~, lançado em agosto de 1997, conta com tais recursos e encontra-se
Legenda
250 500 em órbita a uma altitude de 825 km, com inclinação de 70° em relação ao
• LPATS
Quilômetros equador12151. Seu sistema de detecção contém receptores na faixa de freqüênci-
i IMPACT
as VHF (30 :MHz- 300 MHz), capazes de detectar os pulsos eletromagnéticos
- d RINDAT rede brasileira de detecção de descargas emitidos pelas descargas, e um sistema óptico para a detecção dos transitórios
Figura 6.21 - Con fi guraçao a .
ópticos das descargas (OLS: Optical Lightning System). O uso conjugado dos
3.6 . Outros tipos de detecção indireta de descargas: uso sensores aumenta a capacidade de caracterização dos eventos de descargas,
permitindo o monitoramento e o estudo das emissões simultâneas de radia-
de satélites e de radar .
ção VHF e a radiação óptica de descargas atmosféricasl' 52l.
. t m ocorrido significativa evolução dos slstemas
Mrus recentemente, e instalados em
de detecção de descargas atmosféricas baseados em sensores
satélites artificiais, em órbita em torno da Terra. A • • •

, . d m satélites tem s1do utilizados


Desde 1995, sensores optlcos co1oca os e al l bal for-
- . .d de elétrica na atmosfera numa esc a g o ,
para a o~servaçao _da atl~ a distribuição de descargas atmosféricas no plane-
necendo mformaçoes so r~ a - al . al dessa distribuição.
ta bem como sobre as vanaçoes sazon e mteranu , .
, . ão o Detector de Transitórios Opttcos
Dentre tais sensores, merecem cltaç d I de Descargas Atmosféricas
(OTD: Optical Transient Detector) e o Sensor e m_agens 1 NASA cu·Ja imple-
. S .~ bos desenvolVidos pe a ,
(LIS: Lightning Imagtng enso;;, am . d S r de Mapeamento de
mentação e aplicação subsidiaram o ~ro)eto .o .enso !61, 6111 0,01 0,03 0,10 0,30 1,0 3,0 10,0

J:' . (IMS· Liohtnzng Mappzng Sensor) · Descargas I km2 I mês


Descargas Atmos1er1cas · ~ ,
, b. 199 5 a bordo do sate- Figura 6.22 - Distribuição de densidade total de descargas atmosféricas (adaptadol28' 11). Período:
0 detector OTD foi colocado em or lt~ e~ - ,d 70o em relação de7.embro de 1997 a fevereiro de 1998
lite Micro-Lab-1, a uma altitude de 740 km e me açao e
134 • D escargas Atmosféricas
Medição e detecção de parâmetros de descargas 135
O provimento de informações numa escala global proporcionada por D entre os diversos tipos desse dis .. , .
este tipo de sistema constitui o seu diferencial. A Figura 6.22 ilustra a distri- constituem fonte preciosa d ·ru, - posmvo, os radares meteorologtcos
buição de densidade total de descargas atmosféricas obtida por satélite (in- tectando a intensidade de per 1 . ~rm:çoes sobre as condições de tempo, de-
eC1p1taçao o d 1
cluindo todos os tipos de descargas) num período de três meses, correspon- pestades e da velocidade de vent A , , es ocamente de nuvens de tem-
dente ao inverno no hemisfério norte e verão no hemisfério sul' 284l. tificar a posição do canal d . os. .traves desses radares é possível se iden-
e eventurus descarg 1 ·
A análise dos dado..s obtidos-por satélites tem revelado algumas co-E: cia com a evolução das temp t d n· as e re ac10nar a sua ocorrên-
es a es. !versos tud b
clusões muito interessantes. D entre estas merecem realce du~ important~ sido realizados com 0 empr d d es os so re descargas têm
ego e ra ares127oJ.
,constatações es_Eedficas: (i) a maior parte das descargas oco_Ere~ r~o

-
intertropical e (ii) a incidência de descargas sobre os continentes..J muito
superior àquela sobre os oceanos.
Naturalmente, como todo sistema físico, os sistemas de detecção instala-
dos em satélites apresentam limitações. A impossibilidade de observação contí-
nua da evolução das tempestades (uma vez que se encontram em órbita) consti-
tuem uma restrição dos sensores US e OID. Diferentemente, o sensor IMS foi
projetado para apresentar um campo de visão fixo, podendo observar o ciclo
completo de vida de cada tempestade observada dentro do seu campo de visão.
Apresentam, também, a restrição de observação a uma faixa limitada de latitu-
des (inferiores respectivamente a 35° e 70° para o U Se o OID).
A despeito da evolução que tais sistemas têm experimentado, estes
ainda possuem baixa eficiência de detecção (sobretudo durante o dia, em
função da reflexão da luz solar no topo da nuvem) e reduzida capacidade de
discriminação dos tipos de descargas. Apesar de sua capacidade de indica-
ção de atividade elétrica na atmosfera, apresentam dificuldades particular-
mente na detecção das descargas nuvem-solo, que constituem o fenômeno
de maior interesse para a engenharia de proteção.
D etalhes relativos às distribuições de descargas obtidas através de sa-
télites podem ser encontrados nos sites: http:/ /thunder.msfc .nasa.gov/
otd.html e http:/ / thunder.msfc.nasa.gov/ lis.html
Também os radares podem ser utilizados para localizar raios e fornecer
informações sobre o canal de descarga. De forma simplificada, pode-se dizer que
o radar consiste num dispositivo eletrônico cuja antena transmite um campo ele-
tromagnético. O pulso gerado, ao incidir e ser refletido em alvos (corpos fixos ou
em movimento), retoma à antena, sendo detectado e amplificado em um receptor.
O sinal detectado é processado por um sistema computacional que determina
informações sobre o alvo, a partir das peculiaridades do sinal refletidolll.
FEITOS DE MAIOR INTERESSE DAS
ESCARGAS ATMOSFERICAS E
SPECTOS DE SEGURANÇA

1 - Introdução
Além da complexidade física que envolve a formação e evolução do
fenômeno descarga atmosférica, este ainda apresenta natureza aleatória, o
que dificulta a sua análise. Para sua caracterização foram deftnidos certos
parâmetros físicos, cuja distribuição estatística é determinada a partir dos
dados de correntes registradas em estações de medição de descargas ou de
dados derivados de outros métodos de medição, como foi considerado no
capítulo anterior.
A ocorrência de descargas atmosféricas promove um conjunto de efei-
tos que afetam diversos processos físicos, químicos e biológicos no ambien-
te do planeta. Neste capítulo serão considerados alguns dos efeitos nefastos
do fenômeno, associados às descargas nuvem-solo, que afligem mais direta-
mente a vida na superfície da Terra. Tais efeitos configuram condições de
risco, comprometendo a segurança dos seres vivos, a integridade de estrutu-
ras e a operação de sistemas elétricos, eletrônicos e de comunicação.
Nesse contexto, no presente capítulo, são considerados alguns dos efei-
tos mais importantes decorrentes da incidência direta de descargas e aqueles
induzidos nas proximidades dos pontos de incidência. Após uma aborda-
gem preliminar do tema, são introduzidos os tipos mais relevantes de soli-
Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 139
138 • Descargas Atmosféricas

que constituem a grande maioria das descargas nuvem-solo. A ordem de gran-


citação associados a descargas diretas e indiretas e são realçados os parâme-
deza da impedância do corpo humano ao percurso da corrente de descarga é
tros de maior influência na definição da severidade do efeito resultante. Com-
estimada entre 300 e 600 Q. Ao atingir uma vítima, cuja resistência fosse admi-
plementarmente, em função do interesse que despertam nas aplicações em en-
tida como de 500Q, a corrente de descarga seria capaz de transferir-lhe aproxi-
genharia, foram selecionados quatro tópicos para detalhamento em itens espe-
madamente 2,5.10 4 kJ (500 A 2s x 5.104 Q). Ora, se for admitido um tempo da
cíficos. O primeiro refere-se aos aspectos de segurança associados à incidência de des-
ordem de 0,5 s para a duração do pulso da corrente de descarga, isto
carga. Sua abordagem inclui a apresentação de recomendações destinadas a
corresponderia à dissipação de uma potência média de 50.000 kW (2,5.1 04 kJ j
minimizar as condições de risco em algumas situações típicas de exposição. O
0,5 s). Esta potência é cerca de 10.000 vezes superior à potência de um chuvei-
segundo tópico trata dos efeitos decorrentes da incidência direta de descargas em
ro elétrico residencial, sendo suficiente para causar uma parada
linhas de transmissão, com a explicação dos mecanismos de solicitação que, even-
cardiorrespiratória e, eventualmente, a carbonização de tecidos da vítima.
tualmente, resultam no desligamento da linha. Em seguida, no terceiro tópico
apresenta-se uma abordagem do fenômeno tensão induzida por descargas atmosféri- As mortes por incidência direta de descarga são freqüentes tanto para
cas, na qual são contemplados os fundamentos do fenômeno, incluindo seres humanos quanto para animais. Embora no Brasil não existam estatísti-
introdução aos modelos de corrente de retorno. Para concluir, no último tópico, cas oficiais sobre este tipo de morte, estima-se que ocorram entre 100 e 300
considerados aspectos básicos relativos aos efeitos das descargas nas redes aéreas mortes por ano no país, motivadas por incidência de descargas. No período
distribuição de energia elétrica. de chuvas de janeiro e fevereiro do ano de 2001, apenas os casos registrados
imprensa indicavam aproximadamente uma morte por dia. A Figura
.1 ilustra um tipo de ocorrência muito comum, responsável por um núme-
2 - A descarga direta considerável de mortes no Brasil, todos os anos: a incidência direta de
..,..._.:,.._a..Lc:.c~" em pessoas que praticam futebol durante tempestades.
2.1 - Considerações gerais
Os efeitos de maior severidade do fenômeno decorrem da in.c1cten,G
direta da descarga sobre a vítima. Nesse caso, ao atingir seres vivos,
estruturas e sistemas elétricos, os raios podem gerar destruição, incêndio
eventualmente, morte.
Na perspectiva da influência das características da descarga na ·
dade do efeito resultante, dois parâmetros se destacam: a energia por um~aat~e
resistência e o valor de pico da corrente.

2.1.1 - Influência do parâmetro energia por unidade


resistência 7.1 - Ocorrência comum: jogador de futebol atingido por descarga direta em área
çarrmacia e elevada
O primeiro parâmetro permite estabelecer a dimensão da
A potência dissipada pela corrente de descarga é também suficiente
transferida para a vítima quando esta é percorrida pela corrente de
causar danos importantes em estruturas e componentes de sistemas
Em conjunto com o valor de pico da corrente, b parâmetro energja por
Nos países das regiões temperadas do planeta, onde são comuns
de resistência constitui fator determinante de morte imediata de seres vivos
~e madeira, é grande o número de incêndios ocasionados por
gidos diretamente. A Figura 5.19 indica um valor mediano da ordem de
direta de descarga nas mesmas. Ali são também freqüentes os in-
A 2 s para esse parâmetro, no caso das descargas negativas (primeira
Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 141
140 • Descargas Atmosféricas

cêndios em florestas, provocados por raios durante o início de tempestades,


dada a típica combustibilidade das madeiras locais (sobretudo o pinus). Em
edificações de alvenaria e concreto, muitas vezes são observados sinais
destrUição decorrentes da incidência de descarga, sobretudo em quinas
edifícios altos (Figura 7 .2).

7.3 - Ruptura de tentos em cabos O PGW devido à incidência de descarga

Nesse tipo de ocorrência, além do efeito da parcela impulsiva da


te (à qual está associado o valor de pico), exerce um papel funda-
tal a energia dissipada pela componente contínua da corrente de des-
e, também, a transmissão do calor gerado no plasma do canal de
""'"r,,..,.,.,-,.,.., para o cabo. Embora essa componente contínua tenha valor redu-
(da orde~ de 50 a 600 A), pode durar um longo período de tempo (até
s) e a energta correspondente pode alcançar valores muito elevados sufi-
Figura 7.2 - Danos em árvore e em edificação devido à incidência de descarga atmosférica
tes para fornecer uma contribuição importante para a eventual 'fusão
Um tópico de pesquisa recente refere-se aos danos causados em cobertura metálica do cabo.
tipo OPGW (Optical Ground Wire) por correntes de descarga direta. Tais
estão posicionados sobre os condutores energizados das linhas de transtn 2.1.2 - Influência do parâmetro valor de pico da corrente de
são, com a finalidade de blindá-los quanto à incidência de eventuais u.._,,._a.LI:: descarga
atmosféricas. Estes cabos contêm uma parte externa constituida de L\.J'.LLL.L''-"'
O parâmetro valor de pico da corrente de descarga influencia sobretudo
res de liga de alumínio, que envolvem uma blindagem metálica, em cujo definição do nível da sobretensão resultante em sistemas atingidos po;
or está posicionado um conjunto de fibras ópticas para transmissão de T~l sobretensão pode, em muitos casos, ser capaz de ocasionar a
mação. Este é um meio eficiente de comunicação, que tira proveito do do 1solamento do sistema.
so pré-existente da linha de transmissão. Os primeiros cabos desse tipo,
Quando o ~ondutor de uma linha de transmissão é atingido por uma
substituiram os tradicionais cabos de_blindagem de fios de aço, tinham
a amplitude da sobretensão resultante neste é aproximadamente
tro relativamente elevado. Por istMtim muito afetados por correntes de
nal ~o valor de pico da corrente. A Figura 7.4 apresenta uma ilus-
carga, dada a menor densidade de corrente associada e a melhor '"'"''"J"''-L"'
desse tipo de. ocorrência, mostrando a incidência de uma descarga em
de dissipação do calor gerado pela corrente de descargas incidentes. A
condutor energtzado da linha monofásica não blindada.
ção no projeto dos cabos OPGW determinou a redução de seus Llla.L.L.L'- ..... """
partir daí, passaram a ser verificados danos freqüentes nesses cabos
incidência de descargas, com ruptura de tentos (condutores enlaçados
cleo do cabo). Em alguns casos, verifica-se a destruição da camada
das fibras ópticas e até a ruptura total do cabo (Figura 7 .3)
142 • Descargas Atmosféricas Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 143

A Para fins de avaliação quantitativa, a Figura 7.5 ilustra a situação de inci-


v
denc1a de uma corrente de descarga, de valor de pico 50 kA, sobre uma estrutu-
ra co~ectada ao solo por um aterramento concentrado (hemisfério equivalente
de rru~ 1 m), de ~pedância 100 .Q. Isso resultaria num valor máximo para a
elevaçao de potencial da ordem de 5 MV: Mesmo a uma distância de 1O m do
ponto de incidência, um indivíduo estaria sujeito a uma tensão de passo (diferen-
ça de potencial entre dois pontos distantes 1 m na superfície do solo) da ordem
de 45 kV. No caso de animais de porte (como cavalos e vacas), onde a separação
entre patas é maior, esta diferença de potencial poderia ser muito superior.

Figura 7.4 - Ondas de sobretensão associadas a descarga numa linha não blindada

Para fins de ilustração, considera-se a incidência de uma descarga na linha,


cuja corrente tenha valor de pico de 40 kA. Admitindo-se um valor de 300 Q
para a impedância de surto da linha, a amplitude da sobretensão que se propaga
ao longo da linha se aproxima de 6 :MV (40 kA/ 2 * 300 Q). Esse valor é muito
superior à suportabilidade do isolamento das linhas de transmissão convencio-
nais. Assim, logo que a onda de sobretensão alcança a primeira estrutura de
suporte (torre metálica), o isolador, que separa o condutor energizado da torre
(eletricamente conectada ao solo), fica submetido a tal sobretensão. Esta deve
promover o rompimento do isolamento, com o estabelecimento de um arco
elétrico (superficial ou volumétrico) através do isolador que suporta a fase. Figura 7.5 -Animal submetido a diferença de potencial devido à incidência de uma descarga próxima

O valor de pico de corrente é também capaz de influenciar numa Mesmo para correntes impulsivas de curta duração como aquelas das
condição típica de risco: a elevação de potencial no solo. Na incidência de d~scargas atmosféricas, tal diferença de potencial pode promover a circula-
descarga numa estrutura aterrada ou mesmo diretamente no solo, a corrente çao_ pe~o corp~ da vítima de correntes com intensidade capaz de gerar
descarga flui para a terra, estabelecendo no solo uma elevação de potencial fibrilaçao ventncular e, eventualmente, morte. São raros os registros de morte
relação a pontos distantes (terra remoto). Tal elevação de potencial é . . . . ., . . . . . . . . . . . . . .,... ....,. de seres humanos atribuídos a descarga próxima. No entanto, é muito co-
designada GPR (groundingpotential nse). Fica, também, estabelecida uma '-L-1-U\..L.LO..n...... mum o relato da morte de gado em pastos, por ocorrências dessa natureza.
ção de potenciais na superfície do solo, nas proximidades do ponto de Em alguns c~sos, :eporta-se a morte simultânea de vários animais, particu-
de corrente. O valor máximo do GPR é praticamente proporcional ao valor ~armente na s1tuaçao em que os mesmos se encontram abrigados próximos a
pico da corrente injetada no solo, podendo ser determinado pelo produto arvores, durante tempestades.
te, pela impedância de aterramento, vista do ponto de incidência da '""'-''"'"~~·'-'"'
(GP~1 = ZP. Ip)· Igualmente, o gradiente do potencial estabelecido no
como parcela do potencial resultante, é aproximadamente proporcional ao 2.2 - A incidência direta de descarga em linhas de
transmissão
lor da corrente. Ora, um ser vivo presente ao local pode ficar submetido a
diferença de potencial elevada, se duas partes distintas de seu corpo es · . U ~a ocorrência específica de muito interesse prático refere-se à inci-
em contato com o solo em pontos diferentes (por exemplo os pés). direta de descargas atmosféricas em linhas de transmissão. A exten-
Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 145
144 • Descargas Atmosféricas

são elevada das linhas e a usual altura pronunciada em relação ao solo deter- Ao ser estabelecida uma descarga nuvem-solo, as características do flu-
minam uma área de incidência muito ampla. Isto torna significativa a proba- xo da corrente de retorno pelo canal, que apresenta variação muito rápida no
bilidade de ocorrência de descarga direta na linha. Esta questão adquire maior tempo, determina a constituição de uma onda eletromagnética que se irradia a
importância especialmente nos sistemas elétricos de potência existentes no partir do ~anal, como ilustra a Figura 7.6. Cada elemento de corrente ao longo
Brasil. Em função da distância comumente elevada entre as fontes geradoras do compnmento do canal atua como uma fonte de campo eletromagnético.
de energia (usinas hidrelétricas) e os maiores centros de consumo, ~s. ~as
Vista superior com
de transmissão locais são muito longas. Tal aspecto acarreta a poss1bilidade representação do campo
propagando-se a partir do
elevada de desligamento dessas linhas por solicitação de seus isoladores de- ponto de incidência

vido a sobretensões de origem atmosférica.


O desligamento de uma linha acarreta sérios problemas de ordem eco-
nômica e social. A falta de alimentação de energia pode motivar a interrup-
ção de processos produtivos industriais em toda uma macrorregião. Pode,
também, comprometer os aparatos de saúde e segurança das grandes cida- Campo eletromagnético
gerado por uma descarga
des, quando debilita a operação dos sistemas básicos hospitalar, policial e de negativa descendente
propagando-se a partir
defesa civil (corpo de bombeiros, por exemplo). Esse contexto confere um do canal de descarga

caráter estratégico às linhas de transmissão e torna muito estritas as suas


expectativas de desempenho.
As descargas atmosféricas constituem o principal fator de desligamen- Figura 7.6 - Onda eletromagnética irradiada pela corrente de retorno
to não programado de linhas de transmissão. Segundo estatísticas ~as con-
cessionárias de energia, são responsáveis por cerca de 70°/o dos desligamen- . Ao_ "ilu~ar" corpos ou estruturas, a onda eletromagnética é capaz
de mduztt efe1tos nessas "vítimas". Tais efeitos podem se expressar através
tos dos sistemas de transmissão.
da absorção da energia irradiada, causando interferência eletromagnética,
A relevância para a engenharia deste tipo de ocorrência motiva a con-
ou pela geração de tensão induzida em percursos condutores fechados (loops)
sideração do assunto num item específico neste capítulo, onde são · e em corpos condutores iluminados pela onda eletromagnética.
rados os aspectos técnicos relativos aos mecanismos de estabelecimento de
sobretensão nos isoladores da linha em decorrência da incidência de descar- Estes efeitos decorrentes da incidência do campo eletromagnético gerado
ga direta, que pode eventualmente determinar o seu desligamento. pela descarga têm sua intensidade condicionada pela taxa de crescimento da corren-
te de retorno na frente de onda ou pelos dois parâmetros associados: o valor de pico
da corrente e seu tempo de frente de onda.

3 - Descarga indireta ou próxima A intensidade do campo eletromagnético e da tensão induzida em cor-


condutores é aproximadamente proporcional à derivada da corrente de
3.1 - Considerações preliminares retorno, que constitui a fonte do campo. Embora os efeitos de irradiação
A despeito da maior severidade dos efeitos gerados pela incidência possam eventualmente causar danos, usualmente estes ficam restritos à inter-
Ier·encl·.a eletromagnética em sistemas de baixo nível de tensão de operação,
ta, a probabilidade deste tipo de ocorrência é relativamente reduzida. Os_
tos mais freqüentes decorrentes das descargas atmosféricas são aqueles como_ p~r exemplo, os sistemas de comunicação. Nestes, tais efeitos podem
zidos por uma descarga incidente nas proximidades da vítima (ser, _......,. . . . ,.., tu1t fonte de corrupção dos dados transmitidos. Muito mais impor-

ou sistema). Esta é usualmente designada descarga indireta ou próxima. são as tensões induzidas em linhas de distribuição de energia elétrica e
146 • Descargas Atmosféricas Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 147

de comunicação, que podem alcançar valores elevados (da ordem de cente- fenômeno e, por conseguinte, na defmição das práticas e procedimentos de
nas de quilovolts), dependendo da distância do ponto de incidência à linha. proteção contra o mesmo. Tal cenário enseja o tratamento específico do
Mesmo para distâncias da ordem de 200 m, o valor da tensão induzida pode fenômeno apresentado mais adiante neste capítulo.
ser elevado, ultrapassando a ordem de 100 kV:

4 - Aspectos de segurança
3.2 -A tensão induzida em linhas por descargas atmosféricas
4.1 - Introdução
Um dos efeitos mais relevantes das descargas atmosféricas consiste
nas tensões induzidas pela corrente que flui pelo canal ionizado constituído Os riscos à segurança de seres vivos em decorrência da incidência de
entre nuvem e solo durante o estabelecimento da descarga. A despeito da descargas atmosféricas são preocupantes. ~~era-s_~-9.~-~~~~~~~~~~!g~s at-
maior severidade do efeito da incidência direta de descargas, a probabilida- ~~sfé~ic:as c~:HlS!!!:l!~ill=~~~~1:1g_fenômeno climático natural responsável pelo
de de ocorrência das descargas atmosféricas próximas é muito superior. rJi-~~r-n:umer?:~g~ !JlQXt~s 11() planeta, logo após as enchentes. No Brasil não
Assim, a indução de tensões em linhas ou em corpos condutores longos exi~tem~estatísticas oficiais sobre o número de mortes por descarga, mas
estendidos na superfície terrestre devido à incidência em região próxima à estima-se que a cada ano entre 100 e 300 pessoas sejam mortas, devido à
linha é muito mais freqüente. Isso explica porque esse efeito é tão importante incidência de descargas. Em alguns países tais estatísticas são realizadas. No
para sistemas de baixa e média tensão. caso da França, por exemplo, os dados apontam um número médio da or-
dem de 15 mortes por ano devido a descargas [SZJ. Considerando-se as dife-
As tensões induzidas constituem a mais importante fonte de distúrbios renças entre as áreas territoriais, entre as densidades demográficas e entre os
em sistemas elétricos e eletrônicos de média e baixa tensão. As sobretensões índices de incidência de descargas locais, parece razoável uma expectativa
associadas são responsáveis pela maior parte dos desligamentos das linhas de superior a 150 mortes por ano no Brasil.
distribuição de energia elétrica e pelos danos causados em redes elétricas e
eletrônicas de nível de tensão reduzido, como as de telecomunicações. Apesar de sua natureza aleatória, é possível minimizar esse número de
acidentes se forem entendidas as situações críticas de exposição a riscos por
Por outro lado, as sobretensões induzidas por descargas próximas das descargas, identificados os mecanismos que determinam a morte e forem
redes de distribuição e de telecomunicações se disseminam no sistema, ao projetadas medidas preventivas adequadas. Tais aspectos são considerados
propagar-se ao longo dos seus condutores. Assim, tais redes podem atuar como nos próximos tópicos.
agente de introdução dos correspondentes surtos atmosféricos nas unidades
consumidoras alimentadas, sendo capaz de ali causar danos. A disseminação
nas unidades consumidoras de equipamentos digitais (naturalmente dotados 4.2 - Caracterização dos acidentes típicos associados a
de baixo nível de isolamento), torna essas cargas extremamente susceptíveis descargas atmosféricas
a danos por surtos atmosféricos, introduzidos no ambiente do consumidor
As mortes ou ferimentos causados pelas descargas decorrem do fluxo
através de linhas de comunicação e de alimentação de energia.
de corrente pelo corpo humano. É possível caracterizar as ocorrências típicas
Este quadro justifica a necessidade de um conhecimento apurado so- que determinam a circulação da corrente de descarga (ou de parcela da mes-
bre o fenômeno "tensão induzida" e suas conseqüências, para subsidiar a ma) pelo corpo. Tais acidentes podem ser separados em dois tipos: aqueles
definição das práticas de engenharia capazes de evitar os efeitos danosos associados à incidência direta de descargas e aqueles em que a corrente de uma
associados. A complexidade do fenômeno e a influência neste dos parâme- descarga próxima é transmitida por um corpo condutor e submete seres posi-
tros de descarga, notoriamente de natureza aleatória, determinam dificulda- cionados a alguma distância do ponto de incidência. Muitas vezes, condutores
des consideráveis no estudo dos aspectos relativos à intensidade e forma do de redes de energia e comunicação e corpos metálicos longos, como cercas de
148 • Descargas Atmosféricas Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança~,• 149

~~me, são r~sponsáveis por tal transferência de corrente. Algumas situações • Descarga direta (direct flash)
t1p1cas de actdente
. por descarga, associados à incidência direta' são represen~ Na incidência de uma descarga direta sobre um ser humano, valores
tadas na Ftgura 7. 7 e são comentadas em seguida.
•··~"•t-·r>. elevados de corrente impulsiva podem circular pelo corpo da vítima.
corrente se distribui parcialmente pelo interior do corpo (corrente volu-
métrica) e parcialmente pela superfície do mesmo.
As correntes volumétricas são responsáveis por eventuais paradas
cardiorrespiratórias, capazes de causar a morte. As correntes superficiais se
manifestam na forma de descargas sobre a· superfície do corpo e, usualmen-
te, causam apenas queimaduras, embora as mesmas possam ser intensas em
alguns casos. A distribuição relativa destas correntes depende da relação entre
as impedâncias dos dois percursos (volumétrico e superficial) e pode ser
influenciada pelo estado do corpo da vítima no instante da ocorrência. Por
exemplo, as vestes da vítima podem influenciar nesta distribuição, aumen-
(a) Descarga direta (b) Descarga lateral tando a parcela da corrente superficial, principalmente se estiverem molha-
(c) Descarga por contato
das pela chuva ou, eventualmente, estiverem em estado de boa condutivida-
Figura 7.7- Situações típicas dos acidentes por descarga direta (adaptado(SZJ)
de devido ao suor do corpo.

Na Tabela 7.1, estão compilados os resultados de uma investigação muito Como mostra a Tabela 7.1, em 36 casos de acidente com incidência
consistente, realizada por um pesquisador japonês[130l. No seu estudo, Kitagawa direta houve morte de 28 pessoas (78°/o) e 8 pessoas ficaram gravemente
feridas. Outras pessoas foram afetadas pelo acidente, mas com efeitos não
apresenta as estatisticas relativas a 65 casos investigados de incidência de des-
significativos, por não estarem no caminho da corrente de descarga.
cargas. Estas afetaram seres humanos no Japão e foram registradas num perío-
do de 30 anos. Em tais casos, ocorridos entre 1968 e 1998, são consideradas as Um aspecto interessante relatado em algumas situações refere-se ao
situações tipicas da ocorrência e os eventos decorrentes. fato de que, na ocorrência de descargas superficiais na vítima, em vários
casos, não há morte. Aparentemente, a impedância dos arcos constituídos
Tabela 7.1 -Estatísticas relativas a 65 casos de incidência de descargaf130J na superfície do corpo fica muito reduzida em relação àquela do corpo e
drena a maior parte da corrente, evitando que a corrente volumétrica atinja
Número Pessoas Outras
valores capazes de ocasionar paradas cardiorrespiratórias. Os arcos funcio-
de Pessoas
Tipo de acidente Mortas
feridas Pessoas nam aproximadamente como um dispositivo de proteção (tipo pára-raios),
descargas severamente afetadas
colocado em paralelo com o corpo. Assim, em muitos casos, a vítima pode
Descarga direta 36 28 8 48
sobreviver, a despeito de eventuais queimaduras.
Descarga lateral 18 14 10 62
Múltipla incidência 8 9 4 59
Acidentes internos 3 o o 3
• Descarga lateral (side flash)
Total 65 51 22 172 Quando uma descarga incide sobre objetos elevados (por exemplo, ár-
vores), em seu percurso para o solo a corrente de retorno pode procurar ca-
Na seqüência deste tópico, são consideradas as situações tipicas de aci- minhos de menor impedância, inclusive através do estabelecimento de arcos
dente, que são comentadas, fazendo-se referência aos dados da Tabela 7.1: no ar, que conectam objetos de boa condutividade em contato com o solo.
150 • Descargas Atmosféricas
Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 151

Nessa situação típica, é comum ocorrerem descargas elétricas no ar,


daquelas atingidas diretamente. A Figura 7.8 ilustra uma ocorrência deste
fechando um circuito entre árvores atingidas e o corpo de pessoas e ani-
tipo. As vítimas A e B são atingidas por ramos diferentes da descarga. Uma
mais abrigados sob estas. Essas "faíscas" podem saltar de um ramo acima
hipótese possível para tal ocorrência é que canais ascendentes concorrentes
da yítima para sua cabeça ou do tronco lateral para o corpo da vítima
tenham sido constituídos a partir das duas vítimas e, dada a proximidade
posicionada ao lado.
destes, ambos se conectaram ao canal descendente. A figura mostra também
Coincidentemente, também nesse tipo de ocorrência, a tabela indica a a ocorrência de descarga lateral entre a vítima B atingida diretamente e outra
morte de um número de pessoas que representa 78°/o dos casos de acidentes, vítima próxima, C. A descarga para pontos múltiplos ocorre usualmente em
como na incidência direta. Nos 18 acidentes descritos, constam 14 pessoas situações em que um grupamento de pessoas se expõe em áreas descampadas
mortas, 1O severamente feridas e 62 apenas afetadas pelos acidentes. ou em locais elevados. No caso da figura, um grupo de pessoas estava esca-
A gravidade desse tipo de acidente decorre da semelhança de sua natu- lando uma montanha e, no momento da descarga, encontrava-se justamente
reza com aquela da descarga direta, pois, em ambos os casos, a vítima é sobre a crista de um morro. Descargas laterais, como aquela representada
percorrida por uma parcela significativa da corrente principal de descarga. entre a pessoa atingida e outra próxima (B e C), são relatadas sobretudo em
caso de solos de muito alta resistividade.

• Descarga por contato


A descarga por contato ocorre quando a vítima está em contato direto
com um corpo que constitui caminho de eventual corrente de descarga, no
percurso da mesma para o solo. Uma parte da corrente pode ser drenada
para o solo através do corpo da vítima. No caso de uma pessoa em contato
com o tronco de uma árvore atingida por uma descarga, seria um processo
muito semelhante ao da descarga lateral, diferindo desta pela inexistência de A

arco entre o tronco e a vítima. Nesse caso, é até mais perigosa que a descarga
lateral. Constituem também exemplos desse tipo de ocorrência os acidentes
por contato com estruturas elevadas atingidas por descarga, como mastros,
e ainda com cercas metálicas.
A severidade do acidente fica condicionada à intensidade da corrente que Figura 7.8 - Ilustração de uma descarga para múltiplos pontos (adaptadof1 31 ])
percorre o corpo da vítima. A distribuição relativa da corrente de descarga entre
o corpo da vítima e o objeto contatado depende da relação entre as impedâncias • Acidente por tensão de passo
para o solo dos dois percursos. A parcela da corrente que percorre o corpo da Ao incidir em estruturas elevadas, em corpos e objetos em geral, ou
vítima (e o risco correspondente) é tanto menor quanto mais reduzida for a diretamente no solo, a corrente de descarga é injetada neste meio, sendo ali
impedância do percurso de corrente em paralelo com a vítima. dispersada. Ao se distribuir no solo, a corrente promove uma elevação de
potencial no solo e estabelece uma distribuição de potenciais na superfície
• Descarga para múltiplos pontos deste, que pode submeter pessoas eventualmente próximas ao local. Como
indica a Figura 7.9, uma pessoa pode ficar submetida à diferença de potenci-
Esta designação específica é atribuída a um tipo de ocorrência, que
al por ter contato com o solo em dois pontos que possuem potenciais dife-
acomete simultaneamente diversas vítimas, incluindo descarga direta para
rentes. A diferença de potencial pode promover o percurso de corrente pelo
mais de uma vítima, e usualmente descargas laterais para vítimas próximas
corpo humano e, eventualmente, ocasionar parada cardiorrespiratória.
152 • Descargas Atmosféricas
Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança ~·. · 153

Aparentemente, não existem registros oficiais da morte de pessoas por ten- que se encontravam próximos aos mesmos, em momento de tempestades
são de passo associada a descargas, embora sejam comuns relatos de com raios. É muito raro o registro de mortes, nesses casos.
desfalecimentos decorrentes deste tipo de acidente, usualmente seguido de
recuperação dos sentidos. Por outro lado, é comum o relato da morte de
animais, muitas vezes de um grupo, sobretudo em situação na qual os mes- 4.3 - Situações de exposição de risco
mos estão abrigados sob árvores, em momento de tempestade.
É possível identificar algumas situações muito comuns de exposição
em momento de tempestades, consideradas de risco quanto à incidência de
descargas. Tais situações de exposição devem ser evitadas e são apresenta-
das a seguir:

• campos abertos em geral, áreas planas, praias, margem de rios;


• alto de montanhas ou cristas de colinas;
• campos de esportes amplos (de golfe e de futebol, por exemplo);
• cavalgar ou guiar motos e bicicletas;
• em rio, dentro de canoa ou nadando;
• no mar, em barco de madeira ou nadando;
(a) Acidente por tensão de passo (b) Acidente interno
• árvores isoladas; tocar ou estar próximo de qualquer árvore;
Figura 7.9- Acidentes por tensão de passo ou por tensão transferida (adaptadof52l)
• tendas e grutas;
Esse tipo de acidente é freqüentemente relatado nas ocorrências em
que há incidência direta de descarga numa vitima próxima de outras pesso- • portar objetos elevados (mesmo que sejam isolantes), como varas
as. Nessa situação são comuns a morte da pessoa atingida diretamente e o de pescar e canos longos;
desfalecimentos de pessoas próximas. • entrar em contato ou ficar próximo de corpos metálicos (capazes
São também comuns os designados "acidentes internos". Estes são de transferir potenciais ou correntes associadas a descargas), como
promovidos, sobretudo, pela introdução no ambiente interno a edificações cercas, eletrodutos, condutores de sistemas de energia e comunica-
de surtos de corrente e tensão transmitidos pelas linhas de alimentação de ção, e, mesmo, tocar em objetos, aparelhos e dispositivos conectados
energia e de comunicação. São também motivados pela incidência direta de a tais redes;
descarga nas edificações e pela subseqüente transferência da corrente para o • etc.
solo através das partes metálicas existentes na edificação (dutos, cabos de
energia, condutores ligados a antenas, etc.). A Figura 7.9 (b) ilustra um exem- Através da análise das situações de exposição apresentadas, é possível
plo de tal condição. No caso mostrado, os surtos podem ser gerados por denotar as condições criticas, que caracterizam o risco.
incidência direta de descarga na linha ou por tensão nela induzida por des- Num conjunto de situações, em função de sua posição, o corpo da
carga próxima. Estes se propagam ao longo dos condutores da linha, alcan- vitima se destaca como estrutura superior em relação ao ambiente local,
çando as edificações alimentadas. I<.itagawa relata que, em 3 acidentes desse tornando-a um ponto preferencial de incidência de descarga. Eventual-
tipo registrados no Japão,. houve salto de descarga elétrica de componentes mente, ao portar objetos elevados, a vitima realça sua condição de desta-
do sistema de energia residencial (por exemplo, tomadas) para moradores que. Nessas situações, a vitima "funciona" como um elemento captor.
154 • Descargas Atmosféricas
Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 155

Em realidade, pela descrição apresentada anteriormente para o meca-


4.4- Medidas preventivas
nismo de evolução da descarga, pode se perceber que, nessas situações,
quando um canal descendente se aproxima do solo, existe uma proba- De uma forma geral, é possível prevenir acidentes com descargas, sim-
bilidade maior do canal ascendente induzido ser formado a partir da plesmente evitando-se configurar as situações de risco, em momentos de
vjtima, que passa a se constituir em ponto preferencial de incidência tempestade.
em relação às redondezas.
Alguns procedimentos podem ser sistematizados neste sentido, para
Noutro conjunto de situações, ao se posicionar próxima de pon- serem adotados em momentos de tempestades:
tos preferenciais de incidência (como árvores, mastros etc.), a vítima se
• Não constituir ponto de destaque em relação ao relevo próximo.
sujeita ao risco de servir de percurso de corrente, seja por descarga
Evitar carregar objetos elevados ou qualquer corpo que facilite a cons-
lateral ou por contato. Sujeita-se, ainda, a ser submetida a tensões de
tituição de um canal ascendente;
passo geradas pela corrente de descarga. Nessa situação, vale comentar,
particularmente, as ocorrências relativas à incidência de descargas em • Estando em campo aberto, e não sendo prudente se deslocar para
pessoas abrigadas no interior de casas de madeira e tendas. A altura não se constituir em ponto de destaque, agachar e aguardar o momen-
maior em relação às redondezas faz da casa e da tenda pontos prefe- to em que, reduzida a tempestade, seja possível procurar abrigo;
renciais de incidência. No entanto, como tais estruturas não possuem • Sendo possível, procurar abrigar-se internamente em estruturas
condutores capazes de atuarem como captores e de direcionarem a naturalmente protegidas, como carros, ônibus, barcos metálicos e edi-
corrente de eventual descarga para o solo, as mesmas podem ser vaza- fícios construidos com estruturas metálicas ou concreto armado (to-
das pela corrente de descarga, que pode, inclusive, atingir uma vitima dos funcionam como uma gaiola de Faraday) ou propositadamente
abrigada no interior da casa ou tenda.
protegidas com sistemas de proteção, conforme descrito no próxi-
A referência à condição "estar nadando" tem uma justifica particular. mo capitulo;
Ocorrendo uma descarga próxima, o fluxo da sua corrente que se dispersa • Deve ser evitado abrigar-se sob árvores isoladas (ou outros pontos
na água tende a se concentrar no corpo da. vitima, que tem resistividade infe- preferenciais de incidência). O abrigo sob floresta é mais seguro e,
rior àquela da água. A impedância da pele, que é usualmente responsável por nesse caso, deve se procurar uma posição eqüidistante das árvores mais
limitar o fluxo da corrente pelo corpo humano, fica muito reduzida na con- próximas, onde deve se permanecer agachado durante o período criti-
dição de corpo molhado ou de alto valor de tensão aplicada. Nesta situação, co de tempestade;
ainda que não cause a morte, o fluxo da corrente pelo corpo pode ocasionar
• A antiga recomendação de deitar-se no solo, quando em local aber-
parada cardiorrespiratória ou promover condição de pânico, que leve a víti-
ma à morte por afogamento. to, é atualmente substituída pela sugestão de permanecer agachado,
com os pés e tronco próximos (Figura 7.10) para minimizar diferen-
No caso de grutas, que têm usualmente suas paredes constituídas de ças de potenciais às quais o corpo possa ficar submetido, em caso de
rocha de alta resistividade, a justificativa pode ser um pouco diferente. Mui- eventual descarga próxima;
tas vezes, uma vitima ali abrigada, fica com sua cabeça próxima ao teto da
gruta. Em caso de incidência de uma eventual descarga no solo sobre a gru-
ta, o fluxo da corrente de descarga pode encontrar um percurso de menor
impedância ao fechar um arco para a cabeça da vitima, completando um
circuito pelos pés da mesma.
Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 157
156 • Descargas Atmosféricas

Concluindo o item 4 deste capítulo, referente aos aspectos de segu-


rança, vale ressaltar o número muito elevado de acidentes com descargas
atmosféricas registrados todos os anos. Algumas ocorrências, como a
morte de crianças durante jogos de futebol em momento de tempestade,
são muito comumente relatadas. Infelizmente, muitos apenas se aperce-
bem do risco após o acometimento de um ente próximo por tal fatalida-
de. A despeito do desconforto e limitações decorrentes de alguns dos
procedimentos recomendados, em alguns países, a taxa de mortalidade
52
devido a descargas foi reduzida à metade, através de campanhas educativas
Figura 7.10- Posição recomendada quando em campo aberto durante tempestades (adaptado[ l)
que enfatizam tais procedimentos.
• Evitar atividades, como o alpinismo, que exponham o corpo à pos-
sibilidade de fluxo de corrente em caso de incidência (Figura 7.11); 5 - A incidência direta de descargas em linhas de
transmissão*
Descarga

5.1 - Generalidades
O desempenho do sistema de transmissão é medido por meio de índi-
ces que expressam a qualidade da energia suprida às cargas. Tais índices con-
sideram o número e duração das interrupções de serviço. Consoante as ca-
racterísticas da linha, são definidos limites aceitáveis do número de desliga-
mentos por trecho de linha. A Tabela 7.2 mostra índices considerados acei-
táveis por concessionárias brasileiras para consumidores comuns, em função
131 do nível de tensão da linha. A busca por uma melhor qualidade para a ener-
Figura 7.11 -Fluxo de parcela da corrente de descarga pelo corpo (adaptadof l)
gia fornecida tem levado a uma tendência de maior rigor, indicando a ade-
• Evitar permanecer com o corpo dentro da água e, estando em bar- quação de limites bem inferiores aos indicados. Nesta perspectiva, particu-
co de madeira ou canoa, evitar ser ponto de destaque ou se localizar larmente para as linhas de nível tensão superior a 100 kV, uma taxa entre O, 1
próximo deste (por exemplo, do mastro); e 1 desligamento I 100 kml ano seria considerada boa e uma taxa entre 1 e 5
seria considerada média. Para linhas de 69 kV, uma taxa de até 5 desligamen-
• Em momentos de tempestade, evitar tomar banho e usar aparelhos
eletrodomésticos (incluindo o telefone conectado à rede) e, ainda, evi- tos I 100 kml ano seria considerada aceitável.
tar ficar muito próximo aos componentes das redes internas de ener- Na Tabela 7.2 são também indicados os valores mínimos da tensão
gia e comunicação. Não há perigo de choque no uso de telefones celu- suportável ao impulso (NBI ou TSI) para o nível de tensão da linha, bem
lares ou sem fio, durante as tempestades; como os valores mais usuais de NBI, superiores aos mínimos devido ao
• Uma prática recomendada para proteção de equipamentos eletrôni- emprego de maior número de discos na cadeia de isoladores.
cos sensíveis é desligá-los da tomada, pois, quando o mesmo é solicita-
do por um transitório associado a descarga atmosférica, o isolamento * O texto do item 5 "A incidência direta de descargas em linhas de transmissão"
do interruptor não suporta a sobretensão associada, rompendo-se e teve co-autoria do Dr. Amilton Soares Jr., que contribuiu com o autor na elaboração
do conteúdo.
deixando o aparelho susceptível ao surto.
Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 159
158 • Descargas Atmosféricas

Tabela 7.2- Índices de desligamentos por nível de tensão (isoladores: vidro e porcelana) mentar de uma linha monofásica sem cabo de blindagem, isolada da terra
pelos isoladores da torre. Uma descarga de corrente impulsiva, de valor de
Nível de tensão Valor mínimo da Tensão V alo r usual de Número máximo de pico IP , incide na linha, como ilustra a Figura 7 .12.
Suportável ao Impulso: TSI ou NBI (kV) desligamentos : d
de operação da
NBI (kV) (d/ 100km/ano)
linha (kV)
380 450 10-15
69
650 850 10
138
975 1.200 5
230
1.350 2-3 Estágio 1
345 1.240
1.612 1.750 1-2
500

As longas extensões das linhas de transmissão determinam uma pro- Estágio 3


babilidade elevada de incidência direta de descargas atmosféricas nestas,
com possibilidade de desligamento em decorrência da solicitação dos iso-
ladores pelas sobretensões associadas. O caráter estratégico das linhas para
o fornecimento de energia e a verificação de que as descargas são a sua
principal causa de desligamento sugerem a necessidade de entendimento
pleno dos mecanismos determinantes do desligamento devido à solicita-
ção por descarga. A compreensão desses mecanismos pode subsidiar a Figura 7.12 - Sobretensão resultante em linha não blindada atingida por descarga
definição e a aplicação das práticas adequadas de proteção para minimizar
o número de desligamentos, restringindo-o aos índices aceitáveis para o Conforme o estágio primeiro da figura, quando a descarga incide na
nível de tensão da linha. linha, a corrente de retorno se divide em duas parcelas de amplitudes aproxi-
madamente iguais (IP/ 2). Para cada lado da linha se propaga uma onda de
Na--2rática, em muitas situações é difícil assegurar tais índices, sobretu-
- ···-- ······ --- -···· •·····. ..
. ..•..~············ .... ··-···-··----·-·····-~------
·.
corrente, cuja amplitude vale aproximadamente metade da corrente incidente.
do quando as linhfl.~ ~travessam regiões que possuem elevados índices de
densidade de incidência e solos de alta resistividade. A linha de transmissão pode ser representada por sua impedância de
onda ZL {ZL = [(R + jroL)/G + jroC)P 12 }. Nesta expressão, R, L, C e G
Fundamentalmente, o desligamento da linha de alta tensão devido a
representam respectivamente os parâmetros por unidade de comprimento
descargas pode decorrer de dois tipos de ocorrências: a incidência direta
da linha: resistência, indutância, capacitância e condutância. O termo ro re-
nos cabos energizados e a incidência nos cabos de blindagem. Os mecanis-
presenta a freqüência angular (ro = 21tf). Para a propagação de ondas impul-
mos associados a cada ocorrência são considerados a seguir. sivas rápidas ou de alta freqüência em linhas aéreas, a impedância de onda se
aproxima da impedância de surto da linha Zs [Zs = (L/ C) l/~.
5.2 - Mecanismo de ruptura de isolamento em linha sem Associada a cada onda de corrente que se propaga, tem-se uma onda
cabo de blindagem: o "flashover" de tensão (ou sobretensão, dado o usual valor muito elevado de sua amplitu-
O mecanismo de ruptura do isolamento associado à incidência direta de). Assim, a cada ponto ao longo da linha está associada uma onda de cor-
de descarga numa linha é designado .r}!_f!ct_rgq_ disr':!Ptiva no isolamento (jlaskqver). rente e outra de tensão. A onda de tensão corresponde à integral do campo
Para avaliar os aspectos básicos desse mecanismo, considera-se o caso ele- elétrico do solo até a superfície do condutor imediatamente acima (vide o
160 • Descargas Atmosféricas Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • ~'1'61

segundo estágio da figura) e sua amplitude pode ser aproximada pelo produto suas amplitudes, e chegam à estrutura aterrada (poste ou torre) que sustenta
da impedância de surto pela amplitude da onda de corrente (VP = Zs . IP ), os isoladores conectados ao condutor da linha. Tais isoladores é que promo-
onde o índice "p" indica o valor de pico. vem o isolamento entre o condutor energizado da linha e a terra. Como
As ondas de corrente e tensão se propagam ao longo da linha. Ao mostra a Tabela 7.2, o nível de isolamento da cadeia de isoladores frente a
alca~çarem a primeira estrutura aterrada, o isolador que separa o condutor sobretensões impulsivas varia consideravelmente, dependendo do nível de
energizado da estrutura (eletricamente conectada ao solo) fica submetido à tensão da linha e das particularidades de projeto. Os valores corresponden-
onda de sobretensão, conforme ilustrado no terceiro estágio da figura. tes têm ordem inferior a 5 kV para linhas de distribuição de baixa tensão, de
95 a 300 kV para linhas de média tensão e de várias centenas a alguns milha-
Em muitos casos, em função de seu valor elevado, a sobretensão pode
res de quilovolts para linha~ de alta tensão. Ora, em qualquer dos casos con-
ser capaz de promover a ruptura do isolamento, com estabelecimento de
siderados, o nível da sobretensão resultante, gerada pela descarga (6 MV), é
um arco elétrico conectando o condutor e a estrutura aterrada (quarto está-
muito superior à suportabilidade do isolamento. Por conseguinte, deve ocor-
gio). O arco elétrico constitui-se usualmente num arco superficial de
rer o rompimento do isolamento, com o estabelecimento de um arco elétri-
contornamento do isolador através do ar ou mais raramente num arco
co (superficial ou volumétrico) através dos isoladores que suportam a fase.
volumétrico, que pode destruir o isolador.
A principal prática de proteção para se evitar que se suceda o quadro
Através do arco, a corrente de descarga flui em direção ao solo e cessa
descrito consiste na colocação de cabos de blindagem sobre os condutores
após um breve período de tempo, devido à sua natureza impulsiva e de curta
energizados (condutores de fase). Tais cabos, também designados cabos de
duração. Contudo, em muitas situações, o arco elétrico pode se manter, sus-
terra ou cabos pára-raios, são conectados eletricamente às estruturas e ao
tentado pela própria tensão de operação da linha. Para se estabelecer um
solo através de aterramentos elétricos. O emprego de cabos de blindagem é
arco elétrico, com o rompimento a rigidez dielétrica do ar, é necessária a
prática usual para linhas de nível de tensão de operação superior a 69 kV.
aplicação de um valor muito elevado de tensão sobre o isolador. Porém,
Especificamente no caso das linhas de 69 kV, o emprego (ou não) desses
uma vez estabelecido o arco, o valor da impedância no seu percurso é redu-
cabos depende da filosofia adotada por cada concessionária de energia, sen-
zido e uma tensão de amplitude relativamente discreta pode ser capaz de do comuns as duas situações.
manter um nível de corrente suficiente para assegurar a ionização da região
correspondente ao percurso do arco e, logo, para sustentá-lo. Contudo, vale comentar que, mesmo com a adoção desta prática, pode
ainda se verificar a ruptura de isolamento e decorrente curto-circuito. Esta
Mantendo-se o arco, configura-se um curto-circuito. Este pode ter na- questão é especificamente detalhada na próxima seção.
tureza muito destrutiva para o sistema, pois a corrente de baixa freqüência
do sistema de energia passa a fluir pelo arco em direção ao solo. Nesses
casos, após um determinado período limite de fluxo da corrente de curto- 5.3 - Mecanismo de disrupção numa linha blindada: o
circuito através do arco, o sistema de proteção, cujos relés são sensibilizados "back- flashover''
por esta corrente, deve atuar, causando o desligamento da linha. 5.3.1 - Considerações preliminares
Para fms de ilustração, admite-se a incidência de uma descarga direta- A Figura 7.13 ilustra a representação de uma linha de transmissão
mente sobre a fase da linha. Assume-se 30kA como o valor de pico da cor- trifásica, ali incluídos dois cabos de blindagem, e indica a incidência de
rente. Considera-se que a linha tenha uma impedância de onda da ordem de uma descarga sobre um deles. Tais cabos são posicionados sobre os con-
400 Q. Estima-se que o valor de pico da sobretensão estabelecida se aproxi- dutores das fase, segundo uma configuração geométrica que objetiva asse-
me de 6 MV [(30 kA/2) * 400 Q]. As ondas de sobretensão e de corrente se gurar a interceptação de eventuais descargas, que, na ausência dos mesmos,
propagam ao longo da linha, sujeitas a atenuação relativamente discreta de poderiam incidir diretamente sobre os condutores das fase. Os cabos de
162 • Descargas Atmosféricas Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • >'163

blindagem são ligados ao solo em cada estrutura, seja por conexão elétrica A corrente é estilizada por uma onda triangular
(kA) (kA)
à estrutura (no caso de torres metálicas) ou através de cabos de descida
conectados ao aterramento da linha (no caso de postes de madeira ou con- Estilização
creto). Desta forma, direcionam para o solo as correntes de eventuais des-
cargas incidentes.
o o
T(f.lS)

A torre percorrida por uma corrente I pode ser tratada


de forma aproximada como uma LT

Estilização
ZTorre

Figura 7.13 - Linha trifásica blindada atingida por descarga

Ao evitar a incidência direta de descargas no cabo fase, os condutores


de blindagem previnem os efeitos de ruptura de isolamento descritos na Figura 7.14- Estilização da onda de corrente e da torre da linha de transmissão
seção anterior (jlashover). Eventualmente, mesmo com tais precauções, pode
As análises apresentadas no decorrer deste item são dedicadas à avalia-
ocorrer a falha do isolamento da linha, mas segundo um mecanismo de natu-
ç~o ~a amplitude da sobretensão resultante no topo da torre, quando da inci-
reza diversa daquele já descrito: o "backflashover'. Neste texto sugere-se a
dencla de descar~a. Em realidade, o parâmetro que realmente interessa, como
adoção do termo iescarga dzjruptiva de retorno para designar tal mecanismo.
..,_,,., ___
,~-"-~ •/'• /•"-''''~~~ elemento ~etermmante da ruptura do isolamento, constitui-se na amplitude da
Nos parágrafos seguintes é apresentada a explicação simplificada e sobretensao resultante na cadeia de isoladores. Esta cadeia sustenta os condu-
objetiva dos mecanismos envolvidos no estabelecimento da sobretensão nos tores das fases, separando-os eletricamente da estrutura metálica da torre. Por
isoladores da linha, devido à incidência de descarga nos cabos de blinda- outro lado, pode ser verificado que existe uma relação praticamente proporci-
gem. Uma abordagem mais elaborada pode ser apreciada em outras refe- onal entre as .so~retensões desenvolvidas na cadeia de isoladores e no topo da
rências[211,214,209,20SJ. torre, como mdicado em item posterior deste capítulo.

Na explicação que se segue, são adotadas duas estilizações, apresenta- . Para fms de simplificação das análises, optou-se por proceder à análise
das na Figura 7.14, que a simplificam e denotam com maior nitidez os efei- da mfluência de vários fatores na amplitude da sobretensão no topo da tor-
tos descritos. Primeiramente, a onda de corrente de descarga é aproximada re,. te,ndo em conta que os resultados das avaliações são diretamente aplicá-
V~ls a sobretensão desenvolvida na cadeia de isoladores, em decorrência da
por uma onda triangular. Adicionalmente a estrutura da torre da linha de
c1tada relação de proporcionalidade.
transmissão é representada por um elemento vertical, tendo em sua base
uma barra para representar o seu aterramento elétrico. Ainda antecedendo à consideração objetiva do problema em foco, vale te-
/· b/.
ceralguns comentanos as1cos sob re a propagaçao
~
de ondas de tensão e corrente
em linhas de transmissão. Estes são apresentados nos dois próximos parágrafos.
164 • Descargas Atmosféricas Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 165

Como mostra a Figura 7.15, ao incidir numa linha, longe das estrutu- No ponto de descontinuidade, a onda de tensão refletida (V-) é definida
ras, a onda de corrente se divide em duas parcelas aproximadamente iguais, através de um coeficiente de reflexão r, cujo valor é obtido em função da relação
que se propagam para lados opostos. Associada a cada onda de corrente, entre as impedâncias de surto das duas linhas [r = Zs2 - Zs 1) / (Zs2 + Zs)J. O
também se propaga ao longo da linha uma onda de tensão. A amplitude desta índice "1" se refere à linha na qual a onda incidente se propaga .
ond~ de tensão é dada aproximadamente pelo produto da onda de corrente
pela impedância de surto da linha (ZJ, sendo tal impedância correspondente à Quando o valor do coeficiente é nulo (correspondendo à condição de
impedância de onda da linha para condições de alta freqüência. igualdade das impedâncias de surto nos dois lados da interface), não há re-
flexão e a onda de tensão incidente (V+) continua se propagando além da
lmpedância de surto da linha
descontinuidade, sendo integralmente transmitida. Na figura, é indicado o
1/2 comportamento do coeficiente de reflexão, em função da relação entre as
Zs- (L/C)
v V= Zs I v
duas impedâncias de surto.' Se a impedância de surto a partir da descontinui-

~ dade é inferior àquela da primeira linha, o coeficiente de reflexão é negativo,


indicando que, além da onda de tensão possuir uma parcela refletida propa-
gando em sentido contrário ao da onda incidente, a amplitude dessa onda
tem sinal contrário àquele da onda incidente. Caso a impedância de surto da
segunda linha tenha valor superior àquele da primeira linha, há também re-
Figura 7.15 - Propagação das ondas de corrente e tensão ao longo da linha flexão e a onda refletida tem sinal igual ao da onda incidente.
A onda de tensão resultante em qualquer ponto P da linha é constituí-
Em algumas situações pode haver descontinuidade da impedância de da pela superposição das ondas incidente (V+) e refletida cv-), tendo em
surto da linha a partir de determinado ponto. Isso ocorre, por exemplo, se as conta eventuais defasamentos no tempo entre tais ondas (V = v+ + v-).
características do condutor forem modificadas, ou mesmo quando uma
impedância concentrada, cujo valor seja diferente da impedância de surto, está
conectada à linha. Nesta situação, apenas uma parcela da onda de sobretensão 5.3.2 - Parâmetros de influência na amplitude da sobre-
é transmitida além daquele ponto, sendo a parcela restante refletida. Isto signi- tensão resultante
fica que tal parcela passa a se propagar em sentido contrário àquele da onda Retornando ao caso concreto de interesse desta análise, ao incidir so-
incidente no ponto. Esta condição está representada na Figura 7.16. bre o cabo de blindagem da linha, a descarga dá origem a uma onda de
corrente para cada lado, que se propaga até alcançar uma estrutura aterrada.
Coeficiente de reflexão
+ V
+
=Z8 .1 + Como mostra a Figura 7.13, ali, a corrente se divide. Uma parcela menor da
V =V incidente r

!
(Zs2 -Zs1l corrente continua seguindo pelos cabos pára-raios e. a maior parte desce
z52 -linha 2 (Zs2 + Zs1)
pela estrutura em direção ao solo. Para fms de ilustração, considera-se uma
Condoto< da t;nha H corrente de valor de pico 40 kA, incidente no meio do vão da linha. De uma
V-= Vrefletida Z52 =O :. r =-1
Zs2 < Z51 :. r < O
das parcelas que se propagam resulta o fluxo de uma corrente pela torre
Reflexão da onda
v-= r. v+ Zs2 =Z51 :. r= O mais próxima, cujo valor de pico vale 15 kA.
Zs2 > zs1 :. r > O
Para analisar ~as sobretensões desenvolvidas, admite-se que a torre é
representada por uma impedância de surto (ZTorrJ de valor 120 Q. Assume-
Figura 7.16 - Reflexão da onda de tensão numa descontinuidade ao longo da linha se que o aterramento conectado à base da torre seja um elemento concentra-
Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 167
166 • Descargas Atmosféricas

do, representado por sua impedância (Z AteJ. Admite-se o fluxo da corrente


de 15 kA pela torre (onda incidente), conforme o esquema representado na
V=1,8 MV .......... .. Onda de tensão incidente
Figura 7.14.
- À parcela da onda de corrente incidente que percorre a torre em dire- 1. T

ção ao solo está associada uma onda de tensão. Esta é obtida pelo produto Tempo de 2. T
trânsito
da impedância de surto da torre pela onda de corrente, como ilustra a Figu-
ra 7.17 para uma corrente estilizada.

Hipótese 1: Excelente Aterramento


ZAter =O (r= -1 :Reflexão total negativa)
Onda de tensão
refletida

Figura 7.18 - Representação da reflexão da onda de tensão no aterramento e determinação da onda


resultante no topo da torre (Hipótese: Z Ater = OQ)
T (~ts)
A onda total de tensão resultante no topo da torre é aquela obtida pela
superposição das ondas incidente e refletida. Tal onda está indicada em tra-
Figura 7.17 - Onda de tensão incidente: propagação do topo da torre em direção ao solo
ço mais forte na Figura 7.18. Percebe-se que, até que a onda refletida alcance
o topo, após um intervalo de tempo igual ao dobro do tempo de trânsito
Caso o aterramento apresente um valor de impedância igual àquele
(2't), a onda resultante é idêntica à onda incidente. A partir desse instante,
da impedância de surto da torre, não há reflexão e a onda de tensão re-
como as duas ondas apresentam a mesma taxa de crescimento, mas sinais
sultante no topo da torre constitui-se na própria onda incidente. Como
contrários, o crescimento da onda é anulado. O valor alcançado em 2't per-
mostra o gráfico da figura anterior, a amplitude da onda de tensão seria
manece como a diferença entre as ondas incidente e refletida até que a onda
de 1,8 MV r\T+=Z'T'
\ v '-orre
J+).
incidente atinja seu valor de pico. Dai, o valor da tensão começa a decrescer,
Considerando um aterramento com valor de impedância inferior pois passa a prevalecer o crescimento negativo da onda refletida, havendo a
àquele da impedância de surto da torre, quando a onda de tensão alcança o redução da amplitude da onda resultante até que a onda refletida também
solo, encontra uma descontinuidade de impedância, havendo reflexão ne-
alcance seu valor de pico. A partir desse ponto, a amplitude da onda resul-
gativa naquele ponto. A Figura 7.18 ilustra tal processo, na hipótese parti-
tante se aproxima de zero.
cular de um valor nulo para a impedância de aterramento (caso ideal). Nessa
hipótese, após um tempo de trânsito pela torre (t), a onda sofre uma refle- Assim, o efeito da reflexão negativa da onda de tensão no aterramento
xão total cr
= -1), em função do valor nulo da impedância de aterramento. foi promover uma sensível redução na amplitude da sobretensão no topo da
A onda refletida tem a mesma amplitude da onda incidente, mas sinal con- torre (de 1,8 MV na condição de incidência sem reflexão para 0,6 MV na
trário 0'- = r . v+), e trafega subindo pela torre até alcançar o topo, após condição de reflexão total).
um tempo de trânsito igual ao de descida. O tempo de trânsito ('t) é muito importante na defmição da amplitude
da s~bretensão resultante. Ele determina o valor da redução da mesma, na
medida em que defme o instante em que a onda de tensão incidente tem seu
crescimento "grampeado". Tal intervalo de tempo pode ser aproximada-
Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 169
168 • Descargas Atmosféricas

Na figura anterior, a onda de reflexão total (em pontilhado) é substi-


mente calculado dividindo-se a altura da torre pela velocidade da luz (velo-
tuída por uma onda de reflexão parcial. Esta corresponderia à reflexão
cidade de propagação da onda de tensão em direção ao solo). No caso de
associada a uma impedância de aterramento cujo valor valesse aproxima-
uma torre de 30m, tal tempo tem a ordem de 0,1 ~s. O grampeamento da
damente um terço daquele da impedância de surto da torre. A onda de
onda -de tensão ocorre para o dobro deste tempo, portanto, após 0,2 !ls.
sobretensão resultante no topo da torre para tal condição está indicada em
Percebe-se que tal intervalo de tempo é usualmente bem inferior ao tempo
traço forte, logo acima da curva pontilhada, que correspondente ao resul-
de frente de ondas de corrente de descargas reais e, por conseguinte, das
tado da figura anterior (reflexão total: Z Ater = O Q).
correspondentes ondas de tensão. Assim, o efeito da reflexão deve ser senti-
do antes que a onda de sobretensão alcance seu valor de pico. Ao analisar o gráfico, percebe-se que, até a chegada da onda refletida ao
topo da torre, prevalece a onda incidente, como no caso anterior. A partir daí,
Em realidade, ~a_pre.~er~Jªd~l_efJ~~~~E"~~mep!~!~~- o crescimento negativo da onda refletida não é capaz de anular o crescimento
da onda de análise detalhada deveria considerar ainda efei-
positivo associado à onda incidente, por ser inferior. Assim, a onda negativa
tos secundários associados às reflexões sucessivas que ocorrerem no alto da promove apenas a redução deste crescimento, até que se alcance o pico da
torre e no aterramento. No entanto, tais reflexões não são tão significativas onda de tensão incidente. A partir daí, em função do decrescimento da onda
na defmição da amplitude da onda de tensão, não sendo aqui computadas, incidente, há uma redução acentuada da amplitude da curva resultante, pois a
para fms de simplificação das explicações. curva de reflexão negativa continua tendo sua amplitude aumentada. Fica de-
Na situação usual de aplicação, os valores da impedância de aterra- finido, nesse ponto anterior, o valor de crista da onda de tensão. Após o pico
menta das torres são inferiores à tensão de surto da linha, variando mais da onda refletida ser alcançado, a redução continua, mas de forma menos acen-
comumente entre 5 e 30 Q, dependendo da resistividade do solo. Quando tuada, pois também a onda negativa começa a ter sua amplitude diminuída.
estes valores mais realistas são considerados para a impedância de aterra- Considerando a análise realizada para a Figura 7.19, verifica-se que a
menta, a redução da amplitude da sobretensão devido à reflexão negativa é amplitude da onda de sobretensão resultante no topo da torre estará com-
atenuada, em relação à hipótese de valor nulo para a impedância do aterra- preendida entre os valores máximos da onda incidente (1 ,8 MV) e da onda
menta. A Figura 7.19 ilustra tal condição. com reflexão negativa total, marcada em pontilhado (0,6 MV), conforme
varie o valor da impedância de aterramento, respectivamente entre o valor
da impedância de surto da torre e um valor ideal nulo.
Aterramento usual: ZAter < Zrorre
r = (ZAter- Zrorre)/(ZAter + Zrorre) Assim, a redução da amplitude da sobretensão resultante no topo é
(-1 <r< 0: Reflexão parcial negativa)
tanto mais pronunciada, quando menor for a impedância do aterramento da
1. 't
torre. Esta é a justificativa para a adoção de critérios práticos de engenharia,
Tempo de 2. • que limitam o valor aceitável da resistência de aterramento das torres a de-
trânsito
terminados limiares. Existe uma correlação forte entre os valores da
impedância e da resistência do aterramento. No Brasil, devido à resistividade
tipicamente elevada do solo, é muito adotado o "critério de 30 Q". Este
ÇonçJ..y_§ão critério limita neste valor, a resistência de aterramento das torres. Em regi-
Menor ZAter ~ Maior reflexão negativa
ões, cujos solos possuem menor resistividade, são adotados critérios com
~ Menor sobretensão
limites de 20 Q e até de 1O Q. Tais critérios buscam assegurar uma amplitu-
Figura 7.19 - Representação da reflexão da onda de tensão no aterramento e determinação da onda de elevada da onda negativa de reflexão no aterramento e, assim, uma vigo-
resultante no topo da torre (Hipótese: O < Z Ater < ZTorrJ rosa redução na tensão resultante no topo da torre e na cadeia de isoladores.
170 • Descargas Atmosféricas Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 171

Eventualmente, em algumas condições muito desfavoráveis de solo, Sobretensão no topo da torre: (V)
não é possível obter valores reduzidos para a impedância de aterramento Influência da amplitude da corrente incidente:
da torre e, em alguns casos, tal valor pode ser superior à impedância de V é proporcional à amplitude da corrente

surto na torre. Nesta condição específica, o efeito da reflexão positiva se Influência da impedância de surto da torre:
V é proporcional à impedãncia de surto
faz s~ntir após o intervalo "2."'C" e promove um crescimento da onda resul-
tante. Superpondo as ondas incidente e refletida (ambas positivas), obtém-
se um valor de pico da onda resultante superior àquele da onda incidente.
Esta é uma situação a ser evitada, pois implica grande probabilidade de
desligamentos da linha, motivados por eventuais incidências de descargas
nos cabos de blindagem nas proximidades das torres correspondentes.
Nessa condição de solo, devem ser adotadas práticas especiais de aterra-
menta e, mesmo, a instalação de dispositivos pára-raios entre fases e torre,
Figura 7.20 - Relação entre a sobretensão no topo da torre, a amplitude da onda incidente de corrente
para· evitar os desligamentos da linha. e o valor da impedância de surto da torre
Além da impedância de aterramento, outros fatores influenciam na Na figura 7.20 admite-se que a amplitude da onda de tensão inciden-
sobretensão no topo da torre. Destes destacam-se o valor da impedância de te (curva de traço contínuo e valor de pico de 1,8 MV) tenha sua amplitude
surto da torre, a amplitude da onda de corrente injetada no solo e o. tempo dobrada (curva em pontilhado de valor de pico 3,6 MV). Tal aumento
de frente desta onda. A influência de tais aspectos é considerada a seguir, pode ser motivado pelo crescimento em 100°/o tanto da amplitude da cor-
logo após o parágrafo que resume as etapas entre a incidência da descarga e rente incidente quanto do valor da impedância de surto da torre, pois a
o fluxo da corrente pela torre próxima.
amplitude da onda de tensão incidente é proporcional à amplitude da cor-
Após a incidência, a corrente de descarga se divide em duas ondas, rente e à impedância de surto (V+ = Z 8 l+). A onda refletida é também
cada qual se propagando numa direção ao longo da linha, através do cabo proporcional aos mesmos fatores (V- = rv+ = rZ 8I+). Logo, a onda de
de blindagem. Ao alcançar a primeira estrutura, a onda se divide em duas tensão resultante, que é constituída pela soma das ondas incidente e refletida, tem
parcelas. A primeira, usualmente de menor amplitude, segue propagando-se r = y+Topo + v-Topo = ZSI+ + rzsi+ = (1 +f). ZSI+],
sua amplitude dobrada [V'"<Opo
através dos cabos pára-raios. A maior parcela se dirige para o solo através evoluindo de 1,2 MV para 2, 4 Mv.
da torre, devido à menor impedância de surto desta em relação àquela dos
Outro parâmetro que exerce uma influência considerável na sobretensão
cabos de blindagem. A argp1!_~9:~ da corrente re~1J!!a.!l_!~__na ~~~ari~JJJ?ua1-
resultante no topo da torre é tempo de frente da onda de corrente. É uma
mente entre 90°/o e 70°/o c!o_y:~!or da ond~ de co-rrente que chega à estrutura.
aproximação razoável assumir-se que o tempo de frente das ondas inciden-
Associada à onda de corrente, que se propaga descendo a torre em tes de corrente e tensão sejam iguais, caso se admita a representação da torre
direção ao solo, está a onda incidente de tensão. Como denota a equação da por uma impedância de surto. Embora o crescimento de uma onda real de
qual a onda de tensão incidente é derivada cv+ = ZTorre. J+), a amplitude da tensão não seja linear em sua frente, é possível estimar-se o crescimento mé-
onda de sobretensão incidente é diretamente proporcional tanto à amplitu-
dio no intervalo até a ocorrência do pico da onda a partir do quociente entre
de da corrente, quanto à impedância de surto da torre. A Figura 7.20 ilustra
o valor de crista e o tempo de frente de onda.
que a relação de proporcionalidade se mantém no processo de superposição
das ondas incidente e refletida. Conseqüentemente existe, também, uma re- Pelas considerações anteriores, já fora afirmado que a onda de sobretensão
lação proporcional entre as amplitudes da sobretensão resultante no topo apresenta dois estágios de crescimento. O primeiro corresponde ao intervalo
da torre e da onda de corrente incidente. Tal relação proporcional se aplica anterior ao retorno da onda refletida ao topo da torre (2r). Nesse intervalo o
também ao valor da impedância de surto da torre. crescimento da onda incidente prevalece integralmente. No segundo intervalo
172 • Descargas Atmosféricas Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 173

(de 2r até o instante corresponde à crista da onda), o crescimento é o resultado


da superposição do crescimento das ondas incidente e refletida. Quando se re-
duz o tempo de frente da onda de sobretensão incidente, há um maior cresci- Maior tempo de trânsito 2c ~maior amplitude de tensão

mento da onda resultante até o final do intervalo de tempo 2r, pois este perma- VV~~1 ~~~ :~ ~ - - / ..... _
...r-···_···_····_···_···..;.:··......-:-:---li-o_r_re_s_e_le_v_ad+as ficam sujeitas a maiores sobretensões

nece Bxo, enquanto a onda incidente cresce mais rapidamente. No segundo está- ··············.... Torre alta
llt-~--------""""'r:---• Torre baixa
gio, não há variação do crescimento com a mudança do tempo de frente, pois o
efeito da onda refletida se faz sentir. Assim, como ilustra a Figura 7.21, é o pri- ...~.·-·. ··························-··-.
meiro estágio que define um aumento da sobretensão com a redução do tempo
de frente. É por isso, que as ondas de corrente mais rápidas (menor tempo de
frente) são consideradas críticas, pois causam maiores sobretensões (assumindo- 2.t'

se um mesmo valor de crista para a onda de corrente incidente).


Figura 7.22- Influência da altura da torre na amplitude da sobretensão em seu topo
A redução do tempo de frente promove
r........ ~ o aumento da amplitude da sobretensão Neste item, as considerações anteriores explicam o estabelecimento
1,,':., no topo da torre da sobretensão no topo da torre. Como já fora mencionado, esta é pratica-
O aumento do tempo de frente promove
a redução da amplitude da sobretensão
mente proporcional à sobretensão na cadeia de isoladores, que constitui o
.._ no topo da torre elemento efetivamente responsável por eventual descarga disruptiva e con-
V= 1,56 MV seqüente desligamento da linha.
V= 1,2 MV
V= 0,96 MV Em realidade, a sobretensão estabelecida sobre a cadeia de isoladores
(V1s0 J pode ser obtida pela diferença entre a onda de tensão resultante no
topo da torre (VToPJ e a onda de tensão existente na fase (VFAsJ sustentada
pela cadeia de isoladores. A Figura 7.23 esquematiza a obtenção desta tensão.

Sobretensão na
cadeia de isoladores
VISOLADOR = VTOPO - VFASE
Figura 7.21 - Relação entre o tempo de frente da onda e a amplitude da sobretensão
Segundo a mesma abordagem, é possível explicar a influência da altura da
VTOPO VroPo
torre (h) na amplitude da sobretensão resultante em seu topo. Torres mais eleva-
das implicam tempo de trânsito mais longo para o tráfego da onda de sobretensão
ao longo da torre, no seu percurso de descida e retorno ao topo. Tal intervalo de
tempo, quantificado como "2't" pode ser calculado aproximadamente pela rela-
ção "2't = 2 . h/ c", uma vez que a onda se propaga praticamente com a velocida-
de da luz (c). Por conseguinte, uma maior altura de torre implica o aumento do
Figura 7.23- Esquema de determinação da sobretensão nos isoladores, sem cômputo de acopla-
intervalo "2't", que marca a chegada da onda refletida negativa ao topo da torre. mentos eletromagnéticos
Assim, valores mais elevados são alcançados na onda resultante, antes que a in- A representação da tensão no topo da torre é feita por um fmo traço, pois a
fluência do efeito da onda negativa se faça sentir. A Figura 7.22 ilustra como a onda de tensão associada ao surto atmosférico tem seu intervalo de tempo
amplitude da sobretensão resultante aumenta em decorrência de um tempo de muito reduzido (ordem de centenas de microssegundos) em relação ao perí-
trânsito superior, associado à maior altura da torre. odo da onda senoidal de tensão aplicada na fase (ordem de 17 ms).
174 • Descargas Atmosféricas Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 175

Na figura, é considerada a incidência da descarga em três instantes dis- O acoplamento eletromagnético dos cabos fase com pára-raios e
com os condutores da torre causa uma elevação do potência! da fase
tintos. No primeiro caso, o valor instantâneo da tensão na fase passa por zero.
(i)
Por conseguinte, a sobretensão resultante na cadeia de isoladores é igual àque-
la do topo da torre (VIsoL = V ToPo - V FAsJ. Na segunda situação, a onda de
tensão passa pelo seu valor máximo positivo no instante da incidência. Logo, a
sobretensão na cadeia de isoladores, tem sua amplitude reduzida. Finalmente,
O efeito promove redução generalizada da tensão
no terceiro caso, o valor da tensão na fase passa pelo máximo negativo na na cadeia de isoladores:

incidência. Nessa situação a tensão na cadeia de isoladores é ampliada. (ii)

O valor instantâneo da tensão na fase no momento de solicitação dos VISOL = V TOPO ·VFASE
Aumento de V FASE ___. Redução VISOL
isoladores por uma corrente de descarga pode ser importante na definição
da sobretensão resultante na cadeia de isoladores, mas apenas se o nível de
tensão nominal da linha for muito elevado. Somente nesse caso poderá Cômputo aproximado do efeito: V1soL =VroPo. (1-Kc)
Kc: fator de acoplamento(- entre O, 1 e 0,3)
acrescer ou subtrair um valor diferencial de tensão, capaz de influenciar na
ocorrência ou não de disrupção. A título ilustrativo, este valor teria a or- Figura 7.24- Relação entre as sobretensões no topo da torre e na cadeia de isoladores
dem de 600 kV caso a incidência ocorresse no instante em que a onda de
tensão aplicada na fase de uma linha de tensão nominal 750 kV passasse Em caso da existência de uma elevação de potencial no topo da torre
pelo seu valor de pico. Por outro lado, deve ser ressaltado o caráter aleató- (como aquela promovida pelo fluxo de corrente de descarga em direção ao
rio desta influência, dada a imprevisibilidade do momento de incidência. solo), o acoplamento resulta na elevação do potencial da fase, que assume
uma parcela do potencial da torre. Existindo tensão aplicada na fase, a onda
Na representação da figura anterior, não foi considerado o efeito de tensão resultante na mesma deverá computar o acréscimo associado à
dos acoplamentos entre as fases e os corpos condutores próximos, como os elevação de potencial pelo acoplamento eletromagnético. Como indica a
cabos de blindagem e a parte superior da torre. Existe signi~a- Figura 7.24, esse efeito promove uma redução na sobretensão desenvolvida
---=-"-~=~"-'-

ment()eletromagnético entre essas partes, de natureza fi1agn~'ticae capacitiva, nas cadeias de isoladores. Nos cálculos simplificados da sobretensão na ca-
devÍdo à pr():Wnidade entre tais partes. Mesmo para cor~ente; ~ipi~~ deia de isoladores, é comum expressar esse efeito através de um fator de
as de descargas atmosféricas, o efeito capacitivo predomina em muit~,~ situ- acoplamento CKc), que permite expressar tal tensão em função da tensão no
ações. A Figura 7.24 ilustra esse aspecto. topo da torre: VISOL = V ToPo (1 - I<c). Muito usualmente, o valor de Kc é
~ssumJ~?.{C!l:!!~Q~l~Q,J.lsto implica valor de sobretensão n~~adeia de
isolaqQ!~__compt:~€ndido entre 0,9 e O, 7 da tensão no topo da torre.

Próximo ao fmal deste item, em função de sua extensão, parece opor-


tuno esquematizar uma síntese da influência dos diversos fatores considera-
dos na amplitude da sobretensão resultante. A tabela 7.3 indica o sentido de
influência desses fatores.
176 • Descargas Atmosféricas
Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 177

Tabela 7.3- Resumo da influência de diversos fatores na amplitude da sobretensão desenvolvida


na cadeia de isoladores da linha dispositivos podem ser muito efetivos na redução de desligamentos da li-
nha, mas apresentam custos relativamente elevados de instalação e requerem
Efeito na amplitude da cuidados de manutenção.
Parâmetro Variação sobretensão
na cadeia de isoladores Outra prática usual consiste no aumento do número de discos da ca-
Impedância de Aterramento Redução Redução deia de isoladores. Em princípio, isto pode permitir o aumento da suporta-
Amplitude de corrente Redução Redução na mesma proporção bilidade do isolamento. No entanto, há um limite na extensão dessa prática,
Impedância de surto da torre Redução Redução na mesma proporção ditado pela geometria da linha e da torre. O aumento da cadeia pode tam-
Tempo de frente da onda de corrente Redução Aumento bém permitir maior balanço dos condutores da linha sob a ação do vento,
Altura da torre Redução Redução com possibilidade de aproximação destes em relação à estrutura aterrada e
Acoplamento capacitivo Redução Aumento conseqüente redução do nível de isolamento.
Existe, ainda, a possibilidade de emprego de técnicas não convencio-
5.3.3- Medidas preventivas nais para melhoria de desempenho da linha frente a descargas. Estas técnicas,
Na prática, a principal atuação realizada para reduzir a probabilidade tratadas nas referências[260 ,244J, não são aqui consideradas em função de sua
de ruptura de isolamento na linha motivada pela incidência direta de descar- complexidade.
ga atmosférica no cabo de blindagem (e, logo, para minimização de desliga-
mentos da linha) consiste na melhoria do aterramento das torres. Busca-se
5.3.4 - A solicitação por incidência a meio de vão
alcançar valores reduzidos de impedância de aterramento. A qualidade da
atuação é aferida pelo valor da resistência de aterramento medida, após os Para concluir este item, é apresentado um último comentário, referen-
melhoramentos. Valores de resistência da ordem de 10 Q são recomendá- te à amplitude da onda de sobretensão em função do ponto de incidência.
veis, sendo o limite aceitável da ordem de 30 Q. Vale realçar que, em princí-
Nas considerações anteriores sempre foi analisada a sobretensão re-
pio, a relação entre a resistência e a impedância de aterramento não é pro-
sultante nos isoladores da torre. Uma descarga incidente no meio do vão
porcional. Entretanto, dentro de certos parâmetros, é possível relacionar as
duas grandezas[234' 21 J. entre duas torres pode ser capaz de promover sobretensões entre o cabo de
blindagem e o cabo fase no ponto de incidência muito superior à sobretensão
Quando tais limites não são alcançados, usualmente em função da alta resultante na cadeia de isoladores devido à incidência direta na torre.
resistividade de solos locais, estando a linha em região de elevado índice de
incidência de descargas, é usual a instalação de dispositivos pára-raios. Tais Algumas vezes, sobretudo no caso de vãos muito extensos, a
dispositivos apresentam um comportamento não linear de sua resistência sobretensão no meio do vão devido à incidência nesse local ultrapassa em
em função da tensão aplicada. Para os níveis de tensão de trabalho da linha, até 4 vezes a sobretensão na cadeia de isoladores devido à incidência direta
o dispositivo, conectado entre a estrutura aterrada e a fase, apresenta um na torre. Portanto, este tipo de ocorrência pode ser causa freqüente de rup-
valor muito elevado de impedância, praticamente não permitindo o fluxo tura do isolamento de ar que separa os cabos de blindagem atingidos e a
de corrente entre terra e a fase energizada. Quando uma sobretensão elevada fase, motivando desligamentos da linha. A Figura 7.25 ilustra os dois tipos
(como aquelas geradas por descargas) é aplicada, a impedância do dispositi- de ocorrências.
vo reduz-se drasticamente e o mesmo permite o fluxo da corrente de des-
carga para a terra. Num curto intervalo após tal fluxo, há a redução da
sobretensão e o dispositivo recupera sua capacidade de isolação, não mais
permitindo o fluxo da corrente de baixa freqüência da linha para a terra. Tais
178 • Descargas Atmosféricas
Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 179

6 - Fundamentos de tensão induzida por descargas


atmosféricas
6.1 - A importância do efeito tensão induzida
A corrente de retorno, que flui pelo canal ionizado constituído entre
nuvem e solo durante o estabelecimento da descarga atmosférica, promove
tensões induzidas em corpos próximos ao ponto de incidência. Tais tensões
Figura 7.25 - Sobretensões na cadeia de isoladores na torre e no meio de vão constituem a principal fonte de danos nas linhas de distribuição de energia e
em circuitos de baixa tensão em geral, incluindo as redes de telecomunica-
A explicação para esse valor elevado de sobretensão é simples. Como
ções. Constituem, ainda, a origem de interferência eletromagnética em siste-
a incidência ocorre num ponto distante dos aterramentos, a reflexão negati-
mas e equipamentos, que, em muitos casos, resulta na corrupção de dados
va (responsável pela redução da tensão) demora muito a retornar ao ponto
transmitidos em sistemas de comunicação através de sinais elétricos.
de incidência. Se a distância do vão for muito elevada, a onda de sobretensão
pode até alcançar seu valor de pico antes que o efeito da onda negativa refle- Em temporadas de chuvas, é freqüente a queima de transformadores
tida no aterramento da torre mais próxima se faça sentir. Nesse caso, a onda nos sistemas de distribuição e danos em equipamentos sensíveis de unidades
incidente de sobretensão [V+= Zs. (Idescarga/2)] prevaleceria, determinando a consumidoras. Tais danos são usualmente causados por surtos de tensão,
amplitude da onda de tensão resultante no meio do vão. Em outras palavras: associados à tensão induzida por descargas, introduzidos nas unidades con-
nesse caso, o intervalo "2. 't" seria superior ao tempo de frente da onda inci- sumidoras através dos condutores dos sistemas de alimentação de energia e
dente. Para um vão de 900 m e incidência a meio de vão, o retorno da onda de comunicação.
refletida só se daria num tempo da ordem de 3 f...Ls [distância até o aterramen-
to ~ 450 m :. 2't = 2 . 450/ c]. Assim, para qualquer onda de corrente inci-
6.2 - Considerações preliminares sobre o fenômeno tensão
dente no meio do vão, com tempo de frente inferior a 3 f...Ls, a onda de tensão
induzida
resultante no meio de vão atingiria o valor de crista da onda incidente. Para
esta situação, o valor da impedância de aterramento praticamente não influ- O fenômeno tensão induzida é complexo e muitos fa~t()~ǧ ~Q~~:?:~iam
encia o valor máximo da sobretensão. , em sua intensidade e SlJ.ª forma. Neste item é apresentada uma abordagem
de nahirezâ preliminar sobre o fenômeno, que é complementada e melhor
elaborada em tópicos subseqüentes.
5.3.5- Considerações quanto aos aspectos quantitativos
Após a conexão dos canais ascendente e descendente, passa a fluir uma
Neste item 5, foram considerados os aspectos fundamentais relaciona- corrente muito elevada pelo canal de descarga. Tal corrente estabelece um
dos aos mecanismos envolvidos no estabelecimento de desligamentos de campo eletromagnético intenso nas proximidades do canal, que se propaga
linhas de transmissão devido à incidência direta de descargas. A quantificação a partir dali. Ao incidir sobre linhas próximas (iluminá-las), o campo estabe-
das sobretensões resultantes para avaliação concreta da ocorrência do desli- lece uma onda de tensão entre a linha e o solo (conforme ilustra a Figura
gamento, requer a aplicação de modelos elaborados e um tratamento mais 7.26) ou entre os condutores da linha, notadamente entre fase e neutro.
detalhado do tema, que não é objeto específico desta obra. Para aprofun-
damento nesse tópico são sugeridas as referências[258 ,226l.
180 • Descargas Atmosféricas Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 181

A compreensão do mecanismo de estabelecimento da tensão induzida


em linhas por descargas atmosféricas pressupõe a abordagem de duas ques-
tões fundamentais, ambas de natureza complexa: a distribuição no tempo e no espa-
ço da corrente de retorno e o acoplamento eletromagnético entre o canal de descarga e a linha.
A distribuição da corrente ao longo do canal e a evolução desta no
decorrer do tempo são determinantes da amplitude e forma da tensão
Campo gerado por descarga
propagando-se a induzida, na medida em que tais aspectos defmem o campo eletromagnético
partir do canal
que, ao iluminar a linha, é responsável pelo estabelecimento da tensão
induzida. Para descrever os dois aspectos foram desenvolvidos os chama-
Solo dos Modelos de Corrente de Retorno (return stroke models).
Conhecida a distribuição da corrente, para se determinar o campo eletro-
Figura 7.26 - Representação do estabelecimento de tensão induzida em linha próxima ao local de magnético gerado nas imediações do canal, usualmente considera-se o canal cons-
incidência de uma descarga
tituído por uma seqüência de elementos filamentares de corrente, de comprimento
Na linha de transmissão, associada à onda de tensão, é também estabe- definido. Em princípio, admite-se a variação da amplitude e forma da onda cor-
lecida uma onda de corrente (V = Z 5.I). Ambas as ondas se propagam ao rente ao longo do canal, de acordo com a indicação do modelo de corrente de
longo da linha. Para descargas próximas à linha, a amplitude destas tensões retorno adotado. Cada elemento atua como uma fonte de campo, que contribui
não raramente ultrapassa a ordem de 100 kV, alcançando valores suficientes para o campo total estabelecido em qualquer ponto próximo. Assim, a distribui-
para promover a ruptura do isolamento de redes elétricas de média e baixa ção deste campo no espaço pode ser obtida através da superposição dos efeitos
tensão. Para fins de ilustração, a Figura 7.27 mostra uma onda real de tensão gerados por todos os elementos de corrente que constituem o canal.
induzida entre fase e neutro em uma linha de distribuição experimental. A Na existência de corpos condutores longos (como linhas aéreas) esten-
tensão foi gerada por uma descarga atmosférica induzida por foguete, cuja didos nas proximidades do ponto de incidência, os campos gerados são
corrente de retorno indicada alcançou um valor de pico de 23 k.A[56l. capazes de estabelecer tensões induzidas nesses corpos. O acoplamento ele-
O que se designa "Tensão Induzida" é justamente a integral do campo tromagnético entre a linha e o canal de descarga (ao longo do qual se locali- ·
elétrico gerado pela descarga entre o solo e o condutor imediatamente aci- zam os elementos filamentares de corrente que constituem as fontes de cam-
ma ou entre condutores da linha. po) é que determina a forma de interação entre ambos e, por conseguinte,
defme a amplitude e formato da tensão induzida na linha pela descarga. A
o interação entre o canal e a linha para estabelecimento desta tensão é descrita
<( -6
50 ..><: pelos designados Modelos de Acoplamento.
-;; -10
40 c
~ -15 Precedendo à analise objetiva da tensão induzida, os aspectos citados
>
::::s 30
o
o
(,) -20
nos três últimos parágrafos são melhor elaborados nos próximos itens.
lC\:l
<f) -25 +---+---+---+----+----t---;
c 20
Q)
1- -20 o 20 40 60 80 100
10 Tempo (~-ts)

o
6.3 - Modelos de corrente de retorno
-10 6.3.1 - Dinâmica de estabelecimento da corrente de retorno
-20 o 20 40 60 80 100
Tempo (~ts)
A compreensão dos processos físicos envolvidos no estabelecimento
Figura 7.27 - Onda de tensão induzida medida em linha de distribuição experimentalf56l da corrente no canal e da seqüência de eventos que se sucedem após a cone-
182 • Descargas Atmosféricas
Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • >" 183

xão dos canais ascendente e descendente é essencial para a formulação dos EVENTO 1 EVENT02 EVENTO 3 EVENTOS ..
modelos de corrente de retorno. O fenômeno é complexo e a abordagem da Conexão Reflexão da corrente ao Ondas B e C encontram-se
nível do solo num mesmo ponto e a
questão requer a adoção de simplificações, preservando-se, contudo, os as- onda C é refletida (D)

pectos fundamentais do processo.


c. c 3 ~ c ~)

sts l i-+
I
~Envelope
Para o fenômeno tensão induzida, a parcela da evolução de processos coro na
~Envelope
de corona
i-+ Envelope Envelope
de corona W de corona
para constituição da descarga que efetivamente importa corresponde ao in- sts sts 'tçc T
tervalo de tempo compreendido entre o início do fluxo da corrente de re- sts· O) ot~
I

m
I
~ Ponto de Altura l ot~
torno e um instante pouco posterior ao alcance da crista da onda de corren- A ~c!_ conexão H I

te. É nesse período que a variação extremamente rápida da corrente de re- i i A~c!_ tÇc I
I
"* "* "* "*
torno constitui um campo eletromagnético intenso, capaz de promover a Início do fenômeno Onda de corrente A é
Estabelecimento de duas refletida ao nível do solo. À altura H, indicada A onda refletida D se
tensão induzida. ondas de corrente, uma Onda refletida c trafega acima, ocorre o encontro propaga descendo o canal
ascendente (onda A) e ascendendo ao longo de das ondas c e B. em estágio avançado de
outra descendente (onda um canal em estágio A onda C é parcialmente ionização (v - c).
De forma simplificada, a Figura 7.28 ilustra a dinâmica de estabeleci- B), que se deslocam ao avançado de ionização refletida e parcialmente A onda B (composta pela
longo do canal. com velocidade próxima transferida para a linha superposição da onda
mento da corrente de retorno após a conexão dos canais descendente e as- Propagação ao longo de àquela da luz (v - c). correspondente ao núcleo anterior B mais a parcela
um canal com núcleo A onda B continua propa- do canal fracamente ioni- transmitida da onda C)
cendente, para uma descarga negativa descendente. Nesta representação pouco ionizado e envolto gando-se ascendentemente zado e envolto no continua sua propagação
em envelope de Carona ao longo do canal pouco envelope de Carona (além em direção à nuvem.
estilizada, o canal é aproximado por uma linha de transmissão vertical, na (v< c). ionizado (v < c). do ponto de encontro. O processo se repete.

qual é injetada uma corrente impulsiva no ponto correspondente à conexão


dos canais ascendente e descendente. O condutor da linha é constituído pelo Figura 7.28- Dinâmica de estabelecimento da corrente de retorno no canal de descarga

núcleo condutivo de plasma, cujo raio tem a ordem de centímetros, e está Com referência ao segundo quadro, a onda refletida no solo constitui
envolto numa camada de corona. uma segunda onda ascendente, de mesmo sinal que a onda incidente (refle-
O processo corresponde ao estabelecimento de duas ondas de corren- xão positiva) e que se propaga ao longo do canal, defasada no tempo em
te de amplitude positiva, que se propagam a partir do ponto de conexão em relação à primeira onda ascendente. No entanto, essa segunda onda percorre
direções opostas (uma para baixo e outra para cima). Admite-se como posi- o canal em direção à nuvem com velocidade bem superior à da primeira
tiva a corrente convencional fluindo do solo para nuvem ou, equivalente- onda que incidiu no solo. A sua velocidade superior de propagação está
mente, elétrons fluindo para o solo. Como mostra o primeiro quadro da a~sociada ao estágio avançado de ionização do núcleo do canal e à dissipa-
figura, enquanto a onda ascendente inicia seu longo percurso (de vários qui- çao do envelope de corona que envolve o núcleo no início do processo. O
lômetros), a onda descendente se propaga para rapidamente atingir o solo. fluxo anterior das primeiras ondas de corrente ascendente e descendente é
Ambas as correntes se propagam com velocidade reduzida, pois encontram responsável pelo aumento da ionização do núcleo do canal e pela remoção
o núcleo do canal com fraca ionização e envolto num envelope de corona. das cargas que compunham o envelope de corona.
Segundo a literatura, tal velocidade varia entre um décimo e a metade da Em decorrência da diferença de velocidade das duas ondas ascenden-
velocidade da luz[179l. Ao atingir a superfície do solo, parte da onda descen- tes de corrente, as suas frentes de onda se encontram em algum ponto acima
dente é transmitida, sendo dissipada na terra. A outra parcela é refletida. do solo (terceiro quadro), numa altura estimada usualmente inferior a 1 km.
Ta~bém nesse caso, a parcela do canal inferior ao ponto de encontro, per-
corndo pelas correntes ascendentes, apresenta estágio avançado de ionização
de seu núcleo e ausência da camada de corona. Acima desse ponto, o canal
tem características bem diferentes, com um estágio incipiente de ionização e
a presença do envelope de corona. Conseqüentemente, no ponto de encon-
184 • Descargas Atmosféricas Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 185

tro das ondas ascendentes, novamente a onda incidente de maior velo'"'_._. . . .a.~.. u=< Na composição das ondas resultantes, deve se ter em conta que os
é submetida a uma reflexão, sendo apenas parcialmente transmitida. A onda tempos de tráfego da onda nas etapas da dinâmica descrita podem ter or-
refletida desce o canal, propagando-se com a velocidade próxima àquela da dem de grandeza similar ao tempo de frente das ondas de corrente. Isto
luz. Ao atingir o solo, novamente sofre uma reflexão positiva e o processo implica modificação substancial da forma e amplitude da onda de corrente,
de propagação e reflexões sucessivas continua até que a corrente se extinga. sobretudo no caso de ondas muito rápidas (reduzido tempo de frente).
Quando cessa o fluxo de corrente pelo canal ionizado, este tende a se dissi-
par após um tempo da ordem de algumas centenas de milissegundos. O processo descrito é bem característico de uma descarga negativa des-
cendente única (ou primeira de um grupo de descargas consecutivas), cuja cone-
Através desse processo, fica estabelecida a distribuição da corrente de re-
xão de canais ascendente e descendente ocorre a uma altura considerável em
torno, ao longo do canal. A onda de corrente resultante em qualquer ponto no
relação ao solo. Usualmente, esta altura se situa entre 30 e 300 m acima do ponto
percurso do canal é constituida pela superposição das ondas viajantes descritas.
de incidência, sendo tanto mais elevada quando mais alta for a estrutura atingida
Tais ondas observadas em diferentes pontos podem possuir formas e amplitu-
pela descarga. Tal dinâmica, em conjunto com o descarregamento das ramifica-
des bem diversas, dependendo dos tempos de tráfego envolvidos. Assumindo
ções do canal, explicaria a usual seqüência de picos observada nos registros indi-
certas simplificações, a Figura 7.29 ilustra tal condição, considerando as ondas
de corrente resultantes em três posições de observação ao longo do canal: num viduais das ondas de corrente de descargas negativas descendentesr235 '106l.
ponto logo abaixo da conexão (h = 150 m), ao nível do solo no ponto de inci- Quando se considera uma descarga subseqüente, a conexão dos canais
dência (h = Om) e a uma altura igual ao triplo daquela do ponto de conexão (h - tende a ocorrer muito próximo da superfície do solo. Nesta condição, a pri-
450 rn). A figura representa, em traço fino, a onda incidente. Na onda resultante meira onda descendente praticamente não existe. Por conseguinte, a dinâ~ca
(em traço grosso), o efeito das reflexões fica nítido, na forma dos picos associa- de estabelecimento da corrente de retorno fica muito simplificada, consistin-
dos. Apenas na onda observada ao nível do solo, o efeito se manifesta de forma do aproximadamente apenas na propagação de uma onda de corrente ascen-
diferente em seu estágio inicial, promovendo praticamente a duplicação da am- dente sem a ocorrência de reflexões. Por outro lado, a velocidade de propaga-
plitude da onda incidente, devido à reflexão positiva no solo. '
ção desta corrente é elevada, mais próxima da velocidade da luz, pois a cor-
Reflexão rente já encontra o canal em estágio avançado de ionização (em função do
l(kA) Ponto de
observação fluxo anterior das correntes de retorno e de recarregamento do canal) e uma
dimensão reduzida do envelope de corona que envolve o canal (em função do
h=150m
menor volume de cargas depositadas em relação à primeira descarga).
A dinâmica apresentada nos parágrafos anteriores compreende algumas
l(kA) simplificações e assume certas hipóteses, que requerem melhor elaboração.
A primeira simplificação refere-se à hipótese de injeção de uma onda de
h=Om
h=450m corrente no ponto de conexão dos canais. Na realidade, a corrente de retorno é
'T. T(J..tS)
constituida pelo descarregamento das cargas acumuladas ao longo do canal (so-
Reflexão Reflexão
bretudo no envelope de corona que o envolve), à medida que a frente de expan-
l(~)t ~ h~SOm são da região altamente ionizada do canal se desloca ao longo do mesmo. _
Por outro lado, o canal de descarga, assumido como o condutor de
2T 2T . . T(J..tS)
uma linha de transmissão, é na realidade constituído de um núcleo de boa
Figura 7.29- Representação do estabelecimento da distribuição da corrente de retorno: ondas resul- condutividade e raio reduzido (alguns centímetros), envolto por um envelo-
tantes em três pontos de observação (ponto de conexão, base do canal, altura superior) pe de corona. A condutividade do núcleo é bem inferior àquela de condutores
186 • Descargas Atmosféricas
Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 187

comerciais e apresenta um comportamento dinâmico no tempo, ditado


nivel de ionização do canal. As avaliações realizadas a partir das perdas es ali encontra uma impedância inferior à impedância de surto do canal.
das no canal (determinadas em função da luminosidade irradiada) indicam esta situação a reflexão da onda de corrente é positiva. Mostra-se que o. coe-
a resistência por unidade de comprimento do canal varia entre 3,5 0/m . de reflexão da onda de corrente tem a mesma amplitude do coefic1ente
enxergado pela frente de onda de corrente que se propaga) e 0,035 rum onda de tensão, porém tem sinal contrário [r 1 = (Zs1- Zs2)I(Zs1 +ZsJJ.
o fluxo da frente de onda)f1 751. Por sua vez, o raio do envelope de r-r. ...,..,. .... ~ Já a reflexão no ponto de encontro das duas, ond_as de corrente ascen-
depende da quantidade de carga nele depositada. A literatura cita variações tes (de velocidades de propagação diferentes) e ma1s complexa. 0_ ~an~
raio desse envelope entre 2 e 20m, em seu estágio inicial[191. Também tal enve..i "'·-·-"'. . . . ,...,.~ao ponto de encontro apresenta valores de resistência e de ~apa~1tanc1a
lope apresenta um comportamento dinâmico no tempo, se dissipando na me- unidade de comprimento bem superiores àqueles do canal mfenor.. ~s
dida em que as cargas nele acumuladas são drenadas para o núcleo de hll'llcn-," ·u~.L~ ......................~~ dos dois efeitos (aumento de R e de C) se contrapõem na" de~çao
Em função destes aspectos, mesmo na representação simplificada do da amplitude da impedância de onda do canal superior. Em decorrenc1a, esta
canal como uma linha de transmissão, os efeitos correspondentes às perdas impedância de onda pode assumir valor maior ou ~enor q~e aquela d_o_ canal
no núcleo do canal e ao envelope de corona devem ser contemplados. Basi- inferior e, logo, determinar respectivamente reflexao_ neg,a~va ou pos1~~a ~a
camente, tais efeitos se expressam na redução da velocidade de propagação onda ascendente de maior velocidade. Para ondas mmto rap1d~s, de fre~~en~1-
da onda de corrente (em relação à velocidade da luz) e na atenuação da am- as representativas muito elevadas, predomina o efeito da mruor ~apac1ta~~la,
plitude da onda à medida que a mesma se propaga. que reduz a impedância de surto do canal superior e torna ~ reflexao pos1t1va.
O efeito de redução da velocidade decorre principalmente da presen- Quando se consideram ondas típicas de descargas, a reflexao da ond~ ~e ~or-
ça do envelope de corona no entorno do canal, que determina valores entre rente no ponto de encontro pode mostrar um c~mporta~~n:~ dinarmco.
um décimo e metade da velocidade da luz para a frente de onda da primeira Apresenta primeiramente uma reflexão positiva nos mstantes ~~1a1~ de ~hega­
179 254
descargar , 1. Valores superiores são admitidos para a frente de onda das da da frente de onda (correspondente às componentes de frequenc1a mrus ele-
correntes subseqüentes. Um fator adicional a ser computado como causa da vada). O comportamento evolui para uma reflexão negativa quan_do a ~n~a de
redução da velocidade de propagação da onda de corrente constitui-se nas corrente deixa de variar rapidamente. As freqüências representativas sao mfe-
tortuosidades do canal de descarga. riores nessa faixa, predominando o efeito das perdas (R), que aumenta a
impedância de onda do canal superior.
A atenuação da amplitude de corrente está associada, sobretudo, às per-
das de energia geradas pela corrente de retorno. Tais perdas ocorrem devido
ao fluxo dessa corrente no núcleo ionizado do canal constituido de plasma, 6.3.2 - Principais modelos de corrente de retorno
cuja condutividade é relativamente reduzida, se comparada àquela de um ma-
A literatura apresenta uma variedade de modelos de_ corrente de ret~r~
terial condutor. Ocorrem, também, no processo de dissipação do envelope de
no. Estes são usualmente classificados em quatro categonas: os Modelos Fzsz-
carona. A atenuação da amplitude da corrente ao longo do canal de descarga
cos, os Eletromagnéticos, os de Circuitos a Parâmetros Distn'buídos e os chamados
é relativamente discreta. A literatura cita a redução desta amplitude à medida
Modelos de Engenharia.
que a onda de corrente se distancia do solo, sugerindo valores representativos
da constante de espaço associada da ordem de 2 kmf160l. Isto indica que, para Tais modelos descrevem a distribuição da corrente de retorno no tem-
essa distância, a amplitude da onda de corrente é reduzida para aproximada- po e espaço, ao longo do canal de descarga, cada qual ~mpregando- uma
mente 37o/o do valor que possui próximo à superfície do solo. linguagem própria. A formulação do modelo pode ter mruor ou menor ela-
boração consoante 0 tipo de aplicação de seus resultados, sendo r~levantes as
Outro aspecto que merece comentários específicos consiste nas refle-
xões de onda. Quando a onda de corrente descendente atinge o solo, usual- · hipóteses assumidas pelo modelo quanto à velocidade de propagaçao da onda
~ d a amplitud e d a onda · Admitindo usualmente
de corrente e quanto a' atenuaçao
188 • Descargas Atmosféricas Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 189

o inicio da corrente a partir do nível do solo, o modelo determina a evolução no magnéticos gerados pela distribuição de corrente, que definem ao longo canal,
tempo da onda de corrente em cada posição ao longo do canal, indicando o com aqueles observados através de medições, sem maiores preocupações com
instante em que a corrente deixa de ser nula (a partir da chegada da frente da os aspectos físicos envolvidos. Na formulação destes modelos, são assumidas
onda impulsiva) e a variação instantânea desta até a mesma se anular. determinadas hipóteses simplificadoras. A velocidade de propagação da fren-
Os Modelos Físicos, usualmente muito elaborados, são baseados em equa- te de onda da corrente é considerada constante. Em alguns modelos, a atenua-
ções dinâmicas de gás, que representam as conservações de massa, momen- ção da amplitude de corrente ao longo do canal é ignorada. Em outros, esta é
to e energia no canal de descarga[lSOJ. A aplicação mais usual desses modelos arbitrada como um parâmetro externo, cujo valor se baseia em observações
experimentais. Duas modelagens muito empregadas consideram a forma de
objetiva avaliar o comportamento de variáveis físicas, tais como temperatu-
redução da amplitude da onda de corrente de retorno segundo uma variação
ra, pressão e densidade de massa do canal, como função do tempo e da
respectivamente exponencial (MlLM) [1 60l e linear (MTLLY178l.
coordenada radial em relação ao canal. Sua formulação não é dirigida à de-
terminação dos parâmetros de interesse direto da engenharia de proteção. Os modelos eletromagnéticos apresentam formulação mais complexa
e possuem maior generalidade de aplicação, apresentando resultados mais
Em sua abordagem usual, os chamados Modelos Eletromagnéticos represen-
elaborados. Por sua vez, os modelos de circuito de parâmetros distribuídos,
tam o canal de descarga como uma antena com perdas, constituída por um
e principalmente os modelos de engenharia, são muito mais simples e, por
conjunto de dipolos. Através da solução numérica das equações de Maxwell,
isto mesmo, mais empregados. São bastante eficientes no cálculo da distri-
aplicadas a partir do início de fluxo da corrente de retorno, os modelos calcu-
buição de corrente, mas apresentam limitações quanto a uma representação
lam a distribuição dessa corrente no canal de descarga[254, 151 , 166, 54l.
mais realista do canal de descarga, pois não são capazes de considerar a
Os modelos representados por Circuitos a Parâmetros Distribuídos consti- presença de ramificações e tortuosidades no mesmo. Usualmente esses mo-
tuem-se em simplificação dos modelos eletromagnéticos e descrevem o ca- delos assumem a propagação da corrente de retorno a partir do solo, igno-
nal de descarga como uma linha de transmissão vertical, usualmente unifor- rando aspectos da dinâmica anteriores à chegada da corrente à superfície
me. São atribuídos valores determinados para os parâmetros por unidade desse meio. Por conseguinte, nesses casos, a representatividade da aplicação
de comprimento da linha [resistência (R), indutância (L), condutância (G) e fica restrita a descargas subseqüentes. O valor deste tipo de modelo é cons-
capacitância (C)]. Usualmente, a defmição da resistência por unidade de com- tatado, quando se observa que a distribuição de corrente determinada pelos
primento do canal decorre de estimativas de perdas por unidade de compri- mesmos é capaz de gerar, no entorno do canal, valores de campo muito
mento no canal e de avaliações processadas por modelos físicos. Os demais similares àqueles medidos experimentalmente.
parâmetros são determinados em função da geometria assumida. Tais mo- Tradicionalmente, numa simplificação da realidade física, a maior parte dos
delos calculam a distribuição da corrente no canal em função do tempo e modelos assume a corrente de retomo injetada no canal por uma fonte externa de
altura, a partir da tradicional formulação de propagação de ondas guiadas corrente. Esta injeta a corrente no ponto de incidência (no solo) ou, mais raramen-
ao longo de linhas de transmissão. Mais recentemente, têm sido empregados te, no ponto de conexão dos canais ascendente e descendente (ponto de attachmen~.
modelos que representam o canal como uma linha não uniforme, constituída Alguns modelos são capazes de considerar fontes de corrente distribuídas ao lon-
por uma seqüência de circuitos cujos parâmetros por unidade de compri- go do canal[118,71l, numa tentativa de representar o processo de constituição da
mento variam com a altura ao longo do canal[184, 22, 185l. corrente de retomo a partir do descarregamento do envelope corona. Na referên-
Dentre os modelos de canal de descarga, a categoria mais utilizada é a cial72l, baseando-se em certas hipóteses simplificadoras, é proposto um modelo
dos chamados Modelos de Engenharia[180l. Neste tipo de modelo, prevalece a pelo pesquisador Vernon Cooray, que procura contemplar esse processo.
simplicidade da formulação, sendo o comportamento da onda de corrente ao Não constitui objetivo deste texto detalhar tais modelos. A citação aos
longo do canal descrito diretamente por formulação analítica bastante sim- mesmos visa apenas contextualizá-los no cenário do tema tensão induzida.
ples. Buscam tão somente observar a concordância entre os campos eletro- Uma abordagem detalhada no tema é apresentada nas referências[43 , 42, 180l.
191
190 • Descargas Atmosféricas Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança •

6.4 - Campos gerados pela corrente de retorno de observação em instantes diferentes, devido aos diferentes t.empos
- Na literatura é muito comum tratar desse efeito conslderan-
A dinâmica de formação e evolução do canal de descarga é . . """'"""-~ ~-" propagaçao. ' . .
ada elemento ao longo do canal como um dipolo de Hertz, que constl-
pelo estabelecimento de um campo eletromagnético no seu entorno, de : fonte do campo gerado. Para cada ponto de observação, por ex~~plo
ração muito complexa, que se propaga a partir do percurso do canal. Na superfície do solo, determina-se o camp~ resulta~te como a somatona da
de, é o comportamento da carga existente no canal que determina a ~~"~~~t-''-'''·'-''··tl uição dos campos gerados pelos diversos dipolos, observando-se a
desse campo, definindo, inclusive, a existência de diferentes componentes. eta.salrern na contribuição de cada elemento de corrente ao longo do ~anal.
A simples presença da carga ao longo do canal dá origem a um Figura 7.30 esquematiza tal processo de cálculo, segundo desenvolvunen-
" [141)
elétrico do tipo divergente em suas proximidades, que pode ser muito in C "
apresentados na re1erenc1a .
so ao nivel do solo, na região próxima ao ponto de incidência. Este campo

T
designado muitas vezes de componente de campo estático, pois é esr-::.r'""''"'L"rl" Campo elétrico horizontal Componentes:
I) I
do antes do inicio do fluxo da corrente. Como a corrente de retorno J3r z ~ z Jí(zl
f{ (
'T -R I c) dT dzl Estática
o R o
anulando a carga distribuída ao longo do canal ao fluir pelo mesmo, esta
1 J
11
3r(z- zl)( z
E (r z t ) = - + - - - 1
. 1
,f-
/.,. 1
R 1c·) c_ Induzida
responsável pela eliminação desta componente do campo. "'··~·- ... " r ' ' 21te 0 0
cR 4
+ tf{ r(z- z 1 ) oi(z',t- R I c) dzl Irradiada
Por outro lado, ao deslocar-se ao longo do canal, após a conexão ························ ............
o c2RJ àt
. canais ascendente e descendente, a carga dá origem ao fluxo de corrente. As
R .... ···········_... P (x,y,z)
a corrente em cada ponto ao longo do canal constitui-se tão somente, na
ção da carga em relação ao tempo (dq/dt), naquela posição. A variação Ítmagem ·."; ............... / ...... Campo elétrico vertical

l
carga (ou, equivalentemente, o fluxo da corrente associada) constitui um campo -:;\- 1 1 2
f2(z-z ) -rc. fi(z',,-Ric)dT dz'
Campo magnético ~~ Rs o
magnético no entorno do percurso de corrente. É a chamada componen Jl -')2 .. 2
1 +J2(:-~ i(z'.t-Ric) dz'

l
-I
induzida do campo. Como o campo magnético é variável no tempo (assim como
1
f-;-i(.Z
oR
1
,t- R I c) dz
1
E.(r,z,/)=
- _rce,,
1 0
"R~
~

a corrente que o gerou) origina também um campo elétrico induzido. H+(r,z,t) = - _'f ,. 2
oi(z',t-Ric) dz'
2n + J r" éli(z ,t_,- R I c) dzl
11 1

~~ cc.R 3 àt
u cR- ot
Adicionalmente, em cada ponto ao longo do canal, a corrente de re-
torno apresenta uma variação no tempo muito acentuada, sobretudo no in-
tervalo relativo ao tempo de frente de onda. Este comportamento corres- Figura 7.30 - Formulação do campo gerado pela corrente de retorno num ponto próximo à
ponde à derivada segunda da carga existente no ponto em relação ao tempo superfície do solo[1411
[di/ dt = d(dq/ dt) / dt]. Tal comportamento gera a irradiação de uma com- 0 cálculo deste campo é muito complexo, não sendo objeto deste tópi-
ponente de campo eletromagnético, que se propaga a partir do canal, desig- co. No entanto, é possível mostrar que a componente divergente de c~po, a
nada componente de campo irradiado. · · - ao 1ongo d o canal. , se reduz
qual resulta do processo d e mtegraçao . com o. mver-

O campo resultante em qualquer ponto no entorno do canal constitui- so do cubo da distância à fonte (1/r'), a componente mduz1da com 0 mverso
do quadrado da distância (1 / r2j e a componente irra~ada se reduz co~ _
0
se da superposição destas três componentes de campo. Ao calcular este cam-
po, é necessário computar-se separadamente as componentes geradas pelos inverso da distância (1/r). É por esse motivo que os s1ste~as d~ detecçao e
diferentes elementos de corrente ao longo do canal, uma vez que esta cor- localização de descargas (LLS) só ·processam a componente tt=adiada de cam-
rente (ou carga associada) varia no espaço. Também, a distância relativa en- po. Para as elevadas distâncias típicas entre estações de detecçao e o pont~ de
tre o elemento de corrente gerador do campo (fonte) e o ponto de observa- incidência (usualmente superiores a 50 km), as componentes dos campos diver-
ção varia, o que determina que o efeito de cada elemento seja sentido no gente e induzido podem ser desprezadas, pois são totalmente atenuadas.
Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 193
192 • Descargas Atmosféricas

Acoplamento
No que concerne às tensões induzidas, para as distâncias típicas Acoplamento magnético
elétrico (b)
teres se entre o ponto de incidência e linha (de 50 m até 500 m), as (a)
nentes divergente e induzida de campo podem ser importantes. No
prevalece o efeito da componente induzida do campo, que constitui a
pal fonte das tensões induzidas.

6.5 - O acoplamento eletromagnético entre canal


descarga e linha
Ir: corrente transversal
O campo gerado pela descarga "ilumina" os corpos localizados
superfície do solo próximos ao ponto de incidência, inclusive as linhas
Acoplamento
transmissão, de distribuição e de comunicação. Ao fazê-lo, dá origem a irradiado
(c)
das de tensão (e a ondas de corrente associadas), que se propagam ao
da linha. O mecanismo de interação entre canal e linha, que '-'-'-'1..'-'.L. LL.L~
.L.U..

Acoplamento
estabelecimento de tais ondas, constitui o acoplamento eletromagnético lterra ++ conduzido
tre estes. Ao se assumir uma partição (segmentação) dos elementos do é!.V (d)

e da linha, durante o fluxo de corrente pelo canal, torna-se visível o


mento entre ambos. A Figura 7.31 representa os elementos envolvidos
estabelecimento da tensão induzida por uma descarga atmosférica e ·
numa situação genérica, os acoplamentos eletromagnéticos existentes
o canal de descarga e a linha. Nessa representação, considera-se a linha lterra Iterra

tituída por um condutor metálico isolado do solo pelos suportes dlt:~letncos


dos postes. Na figura, para indicar o efeito de acoplamento, consideram
' ·
Figura 7.31 - Representação do acoplamento eletromagnetlco entre elementos do canal e da linha
_
dois elementos, um no canal e outro na linha.
Como mostra a figura, genericamente existem quatro mecanism/os_ de
/ · e magnético· .As caractenstrcas
acoplamento envolvendo os campos e1etr1co . "
do fenômeno solicitante, no caso em ana/lise, e/ que d et ermmam a nnportan-
cia relativa de cada mecanismo e a eventual prevalência de um deles.
Há dois tipos de acoplamento elétrico entre os elementos di~cretos
(segmentos), um de natureza capacitiva e outro de natureza condutiva (a).
No ar, o efeito capacitivo predomina amplamente.
Por outro lado, a continuidade elétrica do canal e do solo, na prese.nça
da corrente de retorno, acaba determinando um acoplamento con~iuzido,
associado ao efeito longitudinal no canal e divergente no solo (d). O fluxo de
corrente pelo canal determina quedas de tensão ao longo do mesmo (de
· d ut1va
natureza 1n · e res1·sti.v a) . Igualmente, a dispersão da corrente. de descar-
.
ga no so1o promove distn 1 0.bu ·ça- de tensões na superfície deste, mclus1ve ao
194 • Descargas Atmosféricas
Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 195

longo do percurso da linha. Assim, nem canal nem solo constituem --. . . . . . . " ,_ solo. Ali causam perdas e acumulam energia magnética. Esse efeito é com-
tenciais. Também ao longo do condutor, a onda de corrente associada putado nos parâmetros longitudinais da linha de transmissão, através da for-
tensão induzida promove queda de tensão. mulação clássica de Carson[63l. ·

Por sua vez, o fluxo da onda de corrente de retorno pelo canal deter-
mina o estabelecimento de um campo magnético induzido, cujas linhas enla- 6.6 - Principais modelos de acoplamento
çam os percursos fechados pela linha e a superfície do solo. Segundo a pri-
meira equação de Maxwell, é estabelecida uma força eletromotriz nos per- Quando se analisam condições particulares, em muitas situações, po-
cursos fechados entre linha e solo. Este efeito traduz um acoplamento mag- dem ser consideradas simplificações que tornam relativamente fácil a deter-
nético entre linha e canal (b). Dada a descontinuidade elétrica entre linha e minação do acoplamento do canal de descarga e corpos iluminados. Por
exemplo, no caso de distâncias elevadas entre o corpo iluminado e o canal
solo, as tensões associadas às forças eletromotrizes desses percursos se con-
de descarga, apenas a componente de irradiação do campo gerado é impor-
centram justamente no espaçamento vertical entre linha e solo.
tante, sendo razoável desprezar as demais. Nos casos de interesse prático
A variação muito rápida de corrente determina um efeito de irradia- para a tensão induzida, as regiões envolvidas restringem-se às proximidades
ção, associado à propagação de uma onda eletromagnética a partir do canal. do ponto de incidência e a distâncias intermediárias (inferiores a 1 km). Em
Ao iluminar a linha, essa onda é também capaz de nela induzir uma tensão, princípio, o campo divergente (estático) e o campo induzido prevalecem
assim como no processo descrito no parágrafo anterior (c). nestas regiões. No entanto, em função da natureza do efeito tensão induzida
Como resultado deste acoplamento, ao iluminar a linha, o campo ge- (gerado a partir da variação no tempo do fluxo magnético que ilumina a
rado pela corrente de retorno dá origem à onda de tensão induzida. Por sua linha), avaliações quantitativas relativamente simples permitem verificar a
vez, como é natural em qualquer linha de transmissão, associada à onda de predominância do campo induzido, neste efeito.
tensão estabelece-se uma onda de corrente cv+ = zs.r+). Ambas as ondas se Os modelos de acoplamento, assumindo uma determinada distribui-
propagam ao longo da linha, guiadas pelo condutor, segundo a configura- ção de corrente no canal, são responsáveis pelo cálculo da tensão induzida.
ção cilindrica do campo associado. A literatura apresenta alguns modelos de maior relevância, sobretudo o de
Rusck[187l, Agrawal[48l, de Taylor[216l, de Rachidi et aV73l e, mais recentemen-
Num ponto ao longo da linha e distante do ponto de incidência, a
te, o modelo HEM[254' 258l.
onda de tensão induzida que ali se estabelece tem duas componentes. A
primeira tem origem na iluminação direta pelo campo gerado pela corren- O modelo de acoplamento de Rusck foi pioneiro, sendo ainda hoje
te no canal. A segunda componente corresponde à onda transmitida pelo aquele de maior emprego. É baseado em formulações analíticas desenvolvi-
condutor da linha a partir de pontos próximos à descarga, que haviam das na hipótese de que o solo comporta-se como um condutor perfeito. O
sido iluminados anteriormente e cujas tensões associadas propagaram-se modelo apresenta como resultado fórmulas simplificadas, que expressam o
até o ponto em análise. valor máximo da tensão induzida em função do valor de pico da corrente na
base do canal. As expressões correspondentes são apresentadas na Figura
Nesse processo, o efeito do solo se faz sentir de duas formas distintas. 7.32 para a tensão induzida no ponto da linha mais próximo do ponto de
Primeiramente, o campo que se propaga a partir do canal é influenciado pela incidência e para um ponto na extremidade da linha. A simplicidade do re-
presença do solo, antes deste iluminar a linha. O solo determina a modifica- sultado e a possibilidade de emprego direto das fórmulas correspondentes é
ção da distribuição do campo eletromagnético no ar e da amplitude e forma possivelmente responsável pelo uso generalizado desse modelo.
da onda que se propaga. Por outro lado, a parcela da tensão induzida que se ,::~1~····.
Os .egis ·outros modelos apresentam similaridade com aquele de Rusck,
propaga ao longo do condutor da linha é afetada, na medida em que a onda mas computam o efeito do solo, através de determinadas aproximações,
de corrente associada gera um campo magnético que induz correntes no considerando o caráter discreto da resistividade desse meio.
196 • Descargas Atmosféricas
Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 197

Valor máximo da Tensão Induzida no centro da linha:


v -
pe-
30.lp.h
d
[1+_!_ ~ 1
Jl'c ~[1-0,5(vlc/]
l juntamente com a onda de sobrecorrente associada. A tensão induzida em
cada ponto da linha (integração do campo elétrico num percurso vertical
Valor máximo da Tensão Induzida na extremidade da Linha: entre o solo e o condutor da linha ou entre condutores) é o resultado da
v - 30.lp.h
Linha PC- d superposição da onda de tensão gerada pelo efeito de iluminação direta no
ponto em consideração e da onda transmitida por propagação na linha, a
1 11 h (da linha)
Trajeto da linha
(vista superior)
) ( Ponto de
incidência partir de outros pontos iluminados em instantes anteriores pela irradiação
d
Solo: condutor perfeito do canal. Ao se determinar a tensão induzida, deve ser computado o efeito
Vpc do solo no campo de iluminação irradiado do canal (atenuação e distorção)
Figura 7.32- Modelo de acoplamento de Rusck: expressões resultantes (v: velocidade de propagação
bem como os efeitos dos parâmetros da linha (inclusive aqueles associados
da corrente de retorno) ao solo) na onda que se propaga ao longo da mesma.

O modelo HEM faz recurso a uma formulação eletromagnética, apli- A Figura 7.27 mostra as ondas medidas de tensão induzida entre fase e
cada após a segmentação dos elementos do canal e da linha, para calcular a neutro de uma linha e da corrente de retorno correspondente, quando da
tensão induzida na linha. A abordagem do modelo é mais recente e, para ser incidência de uma descarga real. Neste item, a relação entre as ondas de
eficiente, requer o uso de computação para implementação do algoritmo corrente de retorno e de tensão induzida é considerada em maior detalhe,
correspondente à metodologia[254l. através da Figura 7.33[255 ,203l. Os resultados apresentados foram obtidos por
O detalhamento desses modelos não é objeto deste texto, sendo o tema simulação, utilizando-se um elaborado modelo computacional (HEM} Ado-
melhor elaborado nas referências [255 , 24l. tou-se uma onda estilizada de corrente (onda triangular: 1 /50 Jls) para a
descarga incidente na lateral da linha, a 100m de distância. A tensão é avali-
ada no ponto da linha mais próximo do local de incidência, admitindo-se a
6. 7 - A dinâmica do fenômeno tensão induzida injeção de corrente a partir da superfície do solo (condição representativa
6. 7.1 - Estabelecimento do efeito para uma descarga subseqüente). Apesar das simplificações assumidas, a fi-
gura é muito ilustrativa e denota certos aspectos fundamentais do fenômeno.
As considerações anteriores quanto ao processo de estabelecimento
da tensão induzida podem ser sintetizadas na forma do presente parágrafo. Inicialmente, na figura pode ser observada a defasagem no tempo en-
Após a conexão dos canais ascendente e descendente, passa a fluir uma cor- tre as ondas de corrente e de tensão induzida. Essa defasagem corresponde
rente pelo canal de descarga. A distribuição dessa corrente ao longo do ca- ao tempo necessário para a propagação do campo da fonte de corrente no
nal e sua evolução no tempo depende de vários fatores, incluindo as caracte- canal até a linha. Nota-se que este tempo tem a ordem de 0,3 S'. , tntervalo
rísticas do canal nos momentos que antecedem a conexão e de aspectos di- necessário para o campo percorrer a distância de 100 m com velocidade
nâmicos. Tal corrente gera um campo eletromagnético que ilumina a linha aproximadamente igual à da luz.
próxima. Inicialmente, apenas os elementos do canal próximos ao ponto de Verifica-se' também' que o intervalo de crescimento da onda de tensão
conexão contribuem para o campo. À medida que a corrente se propaga, induzida ocorre justamente no período de variação rápida da corrente (tempo
novos elementos passam a contribuir para o mesmo, observados os atrasos de frente: 1 Jls), evidentemente descontado o tempo de propagação. -
decorrentes do tempo de propagação do distúrbio entre a posição do ele-
mento no canal e a linha. O campo gerado por tais elementos atinge ("ilumi-
na") a linha em todos os seus pontos. Em cada ponto, este campo de ilumi-
nação estabelece uma onda de sobretensão que se propaga ao longo da linha
198 • Descargas Atmosféricas
Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 199

continua havendo a contribuição "atrasada" dos elementos mais distantes.


Por outro lado, essa contribuição tem menor valor, resultando na redução
da onda de tensão.

r--i---1---+ ~~e~~ic:!%~da

Tempo para
Onda de Tensão 6. 7.2 - Parâmetros de influência na forma e na amplitude da
crescimento da
Onda de Corrente
tensão induzida
2 3 4 5 6 A amplitude e a forma da tensão induzida são influenciadas por diver-
Tempo (ps)
Tempo de propagação
Tempo (r-ts) sos fatores, associados à descarga, à linha e ao ambiente local. A Figura 7.34
apresenta um esquema indicando os fatores de influência. Em seguida, cada
Corrente injetada no canal de descarga Tensão induzida no centro da linha
qual é comentado.

Figura 7.33- Onda de tensão induzida, observada no ponto central da linha em virtude de uma Amplitude e ,
incidência lateral à linha Parâmetros da forma Parâmetros do
descarga ambiente
Após este intervalo, a onda de tensão decresce rapidamente, se anulando
após um curto período de tempo. Isto ocorre justamente porque o efeito é fun-
damentalmente condicionado pela derivada em relação ao tempo da onda de
corrente (di/ dt) e o valor desta derivada toma-se muito reduzido após a crista Parâmetros Geometria relativa
da linha linha-canal
da onda de corrente. Este aspecto é muito relevante, pois denota a prevalência
do campo induzido no estabelecimento da tensão induzida na linha. Explica, Figura 7.34 - Parâmetros de influência na amplitude e forma da tensão induzida
ainda, a relação praticamente proporcional observada entre a amplitude da onda Parâmetros da descarga
de tensão induzida e a taxa de crescimento da corrente no tempo.
A taxa de crescimento da corrente de retorno (derivada média de cor-
Aparentemente, essa interpretação poderia gerar a expectativa de que,
rente: di/ d~ tem influência fundamental na tensão induzida, sendo aproxima-
após alcançar a sua crista, a onda de tensão induzida se reduzisse mais rapi-
damente proporcional à amplitude da mesma. Isto se explica através da
damente, anulando-se quase de imediato, pois a corrente associada passa a
prevalência do efeito da parcela do campo induzido pela corrente. Essa taxa
variar muito lentamente. Deve-se lembrar, contudo, que a onda de tensão
reflete o comportamento de dois parâmetros da corrente de descarga, o seu
induzida é o resultado da contribuição de todos os elementos de corrente ao
valor de pico e o seu tempo de frente. Avaliações analíticas e experimentais mostram
longo do canal e não apenas da corrente na base do canal. A contribuição
que a amplitude da tensão induzida é praticamente proporcional ao valor de
dos elementos mais distantes chega com certo atraso, pois requer um inter-
pico da corrente e inversamente proporcional ao tempo de frente de onda.
valo de tempo para que a corrente de retorno alcance a posição de tais
elementos e, em seguida, para que o campo gerado por esses elementos al- Tal aspecto tem algumas implicações imediatas interessantes. Primei-
cance o ponto de observação onde a tensão é estabelecida (tempo de propa- ramente, coloca em relevo as descargas subseqüentes. Este tipo de descarga
gação do elemento distante até o ponto de observação). Assim, a contribui- possui a amplitude mediana de corrente da ordem de um terço daquela da
ção dos elementos de corrente mais distantes se faz sentir com certo atraso. primeira descarga negativa, mas apresenta um valor mediano de tempo de
Esse atraso justifica o decrescimento mais lento da onda de tensão induzida. frente aproximadamente seis vezes inferior àquele da primeira descarga. As-
Mesmo após a corrente nos elementos mais próximos do solo atingir o va- sim, considerando a relação existente entre a amplitude da tensão induzida e
lor máximo e a contribuição destes para a tensão induzida tender a se anular, os dois parâmetros, tem-se a expectativa de maior valor dessa tensão para as
200 • Descargas Atmosféricas Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 201

descargas subseqüentes (aproximadamente duas vezes maior) em relação às abaixo desse ponto (onda descendente). Esta contribuição ocorre justamente
primeiras descargas negativas. Pelo mesmo motivo, não se confere relevo às na fase de maior variação da corrente (aproximadamente da ordem do
tensões induzidas pelas descargas positivas. Tipicamente estas apresentam tempo de frente, dependendo da altura do ponto de conexão). Tais aspectos
variação muito mais lenta da corrente de retorno (tempo de frente muito podem influenciar na tensão induzida. Embora exista controvérsia,
elevado) e valor mediano da amplitude pouco superior àquele da primeira aparentemente o cômputo da altura do ponto d.e conexão implica a redução
descarga. Tais aspectos tornam a amplitude da tensão induzida muito redu- da amplitude da onda de tensão induzida.
zida, praticamente descartando qualquer interesse prático nas tensões
induzidas por descargas positivas. Os aspectos comentados realçam a relevância da corrente das descargas
subseqüentes, contribuindo para aumentar o impacto do tempo reduzido da
Outros parâmetros da descarga exercem influência, embora de forma
frente de onda deste tipo de descarga.
mais moderada. Este é o caso da posição (altura) do ponto de conexão dos
canais ascendente e descendente, da atenuação da amplitude de corrente que Esse efeito seria mais pronunciado quando da incidência em objetos
se propaga ao longo do canal, da velocidade de propagação da corrente de elevados, como torres de telecomunicações e postes de estações de telefonia
retorno e das tortuosidades do canal. Tais parâmetros são importantes, pois, celular, a partir dos quais tipicamente ocorre maior evolução do canal ascen-
na dinâmica do processo de estabelecimento da corrente de retorno, vão dente que antecede eventuais descargas.
·determinar a distribuição da corrente no espaço e no tempo. Essa distribui-
ção defme a amplitude e a forma do campo eletromagnético nos diversos
pontos iluminados da linha e, por conseguinte, da tensão induzida, pois esta Parâmetros da linha
se constitui na integral do campo elétrico no percurso entre a superfície do Com relação aos parâmetros da linha, destaca-se a sua altura como
solo e o condutor (ou entre condutores).
elemento de maior importância na tensão induzida fase-terra. Para uma dada
Embora exista controvérsia sobre a questão, estudos de natureza teórica condição de incidência, a amplitude da tensão induzida é aproximadamente
indicam que a amplitude da tensão induzida aumenta com o crescimento da proporcional à altura da linha. Isto se explica facilmente pelo aumento do
velocidade de propagação da onda de corrente e se reduz com a atenuação percurso de integração do campo elétrico entre a superfície do solo e o con-
da amplitude da corrente ao longo do canal. O efeito das tortuosidades tem dutor da linha, num trajeto em que o campo originado da descarga varia
importância secundária, pois o canal tende a ter um percurso mais retilíneo e pouco. Analogamente, quando se considera a tensão induzida entre fase e
vertical em sua porção inferior.
neutro, o parâmetro que importa é a distância entre os dois condutores, que
Particularmente, a altura do ponto de conexão dos canais ascendente defme o percurso de integração do campo elétrico. A tensão induzida é apro-
e descendente pode ter uma influência na amplitude da tensão induzida. A ximadamente proporcional a tal distância.
hipótese da onda de corrente partindo do solo (altura do ponto de conexão
Também a influência dos cabos pára-raios deve ser comentada. O
nula) é razoável apenas para descargas negativas subseqüentes. Nessa
emprego desses cabos destina-se fundamentalmente à blindagem dos cabos
hipótese, cada elemento de corrente ao longo do canal contribui para a
energizados da linha contra a incidência direta de descargas. Como citado
tensão induzida uma vez, basicamente no intervalo de tempo em que durar
a intensa variação da corrente que o percorre (tempo de frente de onda). no item 5 deste capítulo, no Brasil, usualmente tais cabos não são emprega-
No caso. da descarga negativa.única (ou primeira de um conjunto), o ponto dos em linhas de média e baixa tensão (tensão nominal inferior a 69 kV),
de conexão ocorre a uma altura significativa do solo. No período devido à pouca eficiência desta prática para as condições locais. As distânci-
imediatamente posterior ao evento de conexão há uma contribuição as típicas entre os condutores das fases e o cabo pára-raios para as estruturas
simultânea dupla dos elementos de corrente acima (onda ascendente) e típicas de sustentação de redes de média e baixa tensão são reduzidas, haven-
Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 203
202 • Descargas Atmosféricas

- aproximada de proporção inversa entre a amplitude da


do grande probabilidade de estabelecimento de arco elétrico entre os uma re1açao . "d" · (,....,v oo 1/r)
mos? em decorrência da sobretensão gerada por eventual incidência de induzida e a distância da linha ao ponto de mel encla . .
carga no cabo de blindagem. Por outro lado, a geometria ,típica destes Por outro lado a inclinação do canal pode ser importante na medida em
mas, com áreas disponíveis reduzidas, dificulta a obtenção de baixos u a ro~a os elementos de corrente ao longo do. canal, que cons-
de resistência de aterramento. Logo, em caso de incidência, mesmo que afasta o P d linh iluminada. A tensão induzlda se reduz com
as fontes de campo, a a · t da linha
ocorra arco entre os cabos de blindagem e fases, tem-se probabilidade -··~.... r.-,..,, do canal, quando esta afasta o corpo do canal do traJe o .
tuada de estabelecimento de arco na primeira estrutura próxima, em

ot
rência do mecanismo de back-jlashover.

N c o da presença de cabos de blindagem (ou de qualquer


conectado terra), o acoplamento eletromagnético entre tais cabos e os
Parâmetros ambientais
. talaçao
O ambiente do local de ms - da linha pode influenciar
. . . no nível da
dutores da fases influencia na amplitude da tensão induzida, nrc::ltrLOv"enctn tensão induzida, sobretudo em dois aspectos: o relevo e a reslstlV1dade do so1o.
discreta redução da tensão. Tal redução é significativa apenas quando os . . · a1m t quando este interfere na
A influência do relevo se faz sentir ptmclp en e . " . d t
bos aterrados estão muito próximos do condutor energizado e conecta.aos:. iluminação da linha pelo campo gerado pela descarga. Tal mterfere~cla po e er
a aterramentos próximos ao ponto de observação. No caso de linhas C01I).
natureza diversa. Por exemplo, a pres~nça _de ~adelevação entrledao~pe:go::~
distâncias da ordem de 4 m entre os cabos energizado e de blindagem, esti- . " . . d linh d ilummaçao e uma parce a
ma-se uma redução inferior a 10 °/o na tensão induzida entre a fase e solo[205J. de inodenaa pode blin ~a . aar:plitude da tensão induzida gerada. Da mes-
Já em caso de maior proximidade entre os condutores, como em redes de clo e, por consegumte, ~ ~n~agem pode ser promovido por edificações
distribuição convencionais (distâncias típicas entre as fases e o condutor neutro ma forma, esse tipo e . . " . a linha Por outro lado, a inclinação
em torno de 40 em), essa redução pode ultrapassar a ordem de 40°/o[199J. A posicionadas entre o ponto de mcldencla e . tribuindo para o
1
do so o po ed tambe , m afetar a distribuição deste campo, con
explicação para esse comportamento reside no acoplamento eletromagnéti- . - áli
aumento ou redução da tensão, dependendo da condiçao em an se. . -
co existente entre os cabos. Na existência de terminações à terra próximas
(reduzido espaçamento entre os aterramentos do cabo neutro ou de blinda- , · v ale comentar
Para complementar a análise desse top1co, . a dcompos1çao

gem), o surto induzido no cabo sofre reflexão no solo nas posições destas da onda de tensão induzida em pontos distilntes da linha,_ ~us~: :n: ge~:
terminações. Isto resulta em substancial modificação das ondas de tensão e 7 35 0/ J Ali a onda de tensão é o resultado da superposlÇaO .
corrente no cabo aterrado e, pelo efeito de acoplamento entre cabos, pro- . . ~a ã~ direta da linha e da onda transmitida ao longo da linha, decor-
move a redução da tensão induzida nas fases. por il . ç . - da linha mais próximos ao canal de descarga.
rente da ilummaçao de pontos d di " ·
d . m 0 aumento a stancla ao
Por outro lado, ao contrário do que usualmente se imagina, o valor da Ambas as componentes tendem are uztr-se co 1 d il .
resistência de aterramento das terminações à terra dos cabos de blindagem t de incidência sendo mais acentuad a a red uçao - da parce a. ,e umma-
pon o ' _ , · nte constltulda apenas
(ou condutor neutro) praticamente não influencia na amplitude da tensão ção direta. Para pontos distantes, a tensao e pratlca~e. . d 1 f
induzida, para valores típicos dessa resistência nas usuais condições práticas d pela linha O efeito da reslstlV1dade o so o se az
pela parce1a propaga a · . _ mo promove no
(5 a 200 Q). O que efetivamente influencia na redução da tensão induzida é a sentir em decorrência da atenuação e distorçao que o mes - d t
existência de terminações a terra a distâncias reduzidas[255 , 202J. campo gerado pela descarga ao longo do percurso de propagaçao es e.

Configuração geométrica relativa do sistema linha-canal de descarga


A posição relativa do canal de descarga em relação à linha é também
um fator de influência. Quando o ponto de incidência se aproxima da linha,
verifica-se um aumento quase proporcional da amplitude de tensão. Assim,
204 • Descargas Atmosféricas
Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 205

Onda resultante:
Soma das ondas de
de baixa tensão (220 f 127 V) esse nível é reduzido para a ordem de 3 kV.
iluminação direta e
da onda propagada 0 caso de sistemas de comunicação, a suportabilidade é ainda inferior.
Distância do ponto ao longo da linha
de incidência à linha
Em função da grande freqüência de ocorrência de descargas próximas
Onda gerada por
Iluminação direta ao trajeto das redes de distribuição e de comunicação e da reduzida_ suport~­
(de campo)
bilidade do isolamento destas, as tensões induzidas por descargas sao consi-
Traçado da linha deradas a maior fonte de distúrbios e danos nestas redes. Um dos aspectos
Vpc
A onda se propaga ao longo da linha positivos do uso das redes subterrâneas consiste justamente ~a menor expo-
a partir do ponto de iluminação
sição aos efeitos da tensão induzida por descargas. A despeito de seu ~usto
Figura 7.35 - Composição do efeito de tensão Induzida: iluminação direta e propagação na linha bem superior, a redução de danos por tensões induzidas pode ser suficiente
No caso de pontos de observação na linha imediatamente em frente para justificar o emprego deste tipo de rede.
a~ ponto de incidência, a atenuação refere-se apenas à modificação promo- Pelo seu interesse prático, alguns aspectos fundamentais dos efeitos
VIda no campo que ilumina a linha. Como sugere a figura anterior, quando das descargas nas redes aéreas de distribuição de energia são considerados
são ~erados pontos distantes ao longo da linha, deve ser também acres- neste texto. Uma abordagem detalhada sobre o assunto pode ser encontrada
cida a modtfi\cação introduzida na onda de sobretensão que se propaga ao na referência [Z5J.
longo da linha em direção ao ponto distante de observação. O efeito do solo
sobre esta onda de tensão consiste, sobretudo, na atenuação da sua amplitu-
de, em relação à hipótese de um solo condutor perfeito. A literatura reporta
que o efeito da resistividade do solo pode resultar tanto em aumento quanto 7 - Efeitos das descargas na rede aérea de distribuição
em redução da tensão induzida[1591. de energia elétrica
Uma abordagem mais detalhada os fatores que influenciam a tensão 7.1 - Considerações preliminares
induzida pode ser encontrada na referência[43J.
Fundamentalmente, como ilustra a Figura 7.36, as sobretensões de ori-
gem atmosférica podem atingir as redes de distribuição d~ média e b~a t~nsão
6.8 - Tensões induzidas em sistemas de energia e e instalações consumidoras através de quatro diferentes tipos de ocorrencia:
comunicação
• incidência de descargas diretas na rede elétrica;
Usualmente, para as alturas típicas dos condutores aéreos de sistemas • tensões induzidas diretamente nos circuitos de média e baixa tensão;
de energia e de comunicação, a amplitude da tensão induzida por descargas
atmosféricas fica restrita à ordem de 300 kV[1°6l. Esse valor é inferior ao • transferência através do transformador de distribuição de surtos origi-
nível de suportabilidade dos isolamentos de linhas de alta tensão (acima de nados na média ou baixa tensão (por incidência direta ou tensão induzida);
69 kV), mas é bem superior àquele de sistemas de distribuição de energia e • incidência direta de descargas sobre edificações consumidoras e trans-
de comunicação. Portanto, o fenômeno é mais preocupante para sistemas ferência dos surtos correspondentes para a rede.
que possuem valor inferior de tensão de operação. Na prática, as tensões As descargas diretas podem ocorrer sobre as redes de média e baixa
induzidas são a grande preocupação dos sistemas de distribuição de média e tensão bem como sobre edificações. Os efeitos da incidência direta de des-
baixa tensão. A suportabilidade de sistemas de distribuição de 13,8 kV (ten- cargas' na rede são de elevada severidade e podem provocar diversos da~os
são primária) à tensão de impulso é da ordem de 95 kV: Para a rede secundá- no sistema. Esse evento é mais comum no caso de redes rurais de media
206 • Descargas Atmosféricas Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 207

tensão, ou em regiões periféricas de cidades, onde há maior exposição da 7.2 - Efeito da tensão induzida no circuito de média tensão
rede. ,E mais raro em áreas urbanas, devido à presença de edificações eleva- Quando a rede de média tensão é submetida a uma onda de sobretensão
das. E pouco freqüente em redes de baixa tensão, instaladas, em sua maior induzida, dependendo de sua amplitude, a solicitação sobre os isolamentos
parte, sob redes primárias. da rede pode gerar um arco de contornamento dos isoladores (jlashover),
como no caso da incidência direta em linhas. Porém, para este tipo de ocor-
rência, a corrente impulsiva que percorre o arco é muito menor. Isto se ex-
(ív)
plica, pois a tensão induzida gerada na rede tem a natureza de uma fonte de
tensão, de nível usual bem inferior a 300 kV. A impedância de surto típica de
([@) redes de distribuição aéreas pode variar entre 200 e 400 Q, dependendo da
configuração da rede. Como a onda de corrente resultante é determinada ao
:·i(í) se dividir a onda de tensão pela impedância de surto da linha (I+ = y+ /Zs),
tem-se expectativa de amplitudes de corrente inferiores a 1 kA.
Mesmo com esse valor reduzido da corrente no arco elétrico de
contornamento do isolador, a tensão de operação da rede pode ser capaz de
sustentá-lo, o que resulta no fluxo de corrente de baixa freqüência pelo arco,
Figura 7.36 - Mecanismos de interação entre descargas atmosféricas e redes de distribuição configurando um curto-circuito. Na seqüência, deve ocorrer o desligamento
As descargas que incidem nas proximidades das redes elétricas podem da rede, promovido pela atuação da proteção do sistema.
originar sobretensões induzidas, tanto nos circuitos de média quanto de bai- Para minimizar o número de desligamentos em regiões de incidência mui-
xa tensão. O grau de severidade dos efeitos associados a esse tipo de evento to elevada de descargas, sobretudo no caso de redes rurais, é prática de algumas
é muito menor do que aquele dos efeitos originados por incidência direta. concessionárias de energia promover o aumento do nível básico de isolamento
No entanto, sua freqüência de ocorrência é muito superior. Isto torna as da linha (NBI), elevando-o de 95 kV para 170 kV. A simples atuação nos supor-
sobretensões induzidas o fator crítico de condicionamento do desempenho tes da rede nos postes (como cruzetas de madeira), com otimização da posição
das redes de distribuição frente a descargas atmosféricas. dos isoladores em relação às ferragens, pode ser suficiente para promover esse
aumento do nível de isolamento. Em regiões com índices críticos de solicitação
Além dos riscos gerados no local, a incidência direta na unidade con-
por descargas, algumas vezes, o nível de isolamento da rede é elevado para 300 kV,
sumidora pode gerar solicitações intensas na rede de baixa tensão da conces-
através da utilização de postes de madeira.
sionária, especialmente se o aterramento do sistema de proteção dessa uni-
Mais preocupante do que os desligamentos são os danos em equipamentos
dade for conectado ao aterramento da entrada de serviço do consumidor
da rede, como religadores e transformadores, cujo nível de isolamento se restringe
(esse aterramento está usualmente ligado ao neutro da rede de baixa tensão).
à faixa de 95 kV. Em temporadas de chuvas, é freqüente a ocorrência de danos em
A grande extensão das redes de média tensão e seu alto grau de expo- transformadores de distribuição. Para evitar tais danos, estes transformadores são
sição aos efeitos das descargas tornam muito freqüente a transferência de usualmente protegidos no primário por dispositivos pára-raios, instalados nos ter-
surtos para o circuito de baixa tensão, através do transformador de distri- minais do transformador, entre fase e neutro. Quando submetidos a Sl.tftos de
buição. Estes surtos podem ser gerados por descarga direta ou indireta. O tensão, tais dispositivos são capazes de "grampear" o nível de tensão em valores
grau de severidade deste tipo de solicitação pode alcançar níveis compro- residuais (de 25 a 40 kV) inferiores à suportabilidade do equipamento, enquanto há
metedores, sobretudo para os equipamentos sensíveis instalados nas unida- fluxo da corrente impulsiva. A Figura 7.37 mostra a curva tipica de um dispositivo
des consumidoras (dispositivos digitais, por exemplo). pára-raios de óxido de zinco, relacionando tensão e corrente em seus terminais.
208 • Descargas Atmosféricas
Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 209

t:;n
.
'•
...
"buição. A Figura 7.38 ilustra o efeito da atuação do dispositivo (P~'I!'
'
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TV
••
. •
..•

i .• c - ... ~.,..,..,.
entre as três fases e o neutro de uma rede convencional de media
: ·: ••
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• ,: :


••
I ão de NBI 300 kV, protegendo um transformador trifásico. O condutor
: • .·
:30 :

• •
.. ~ tro comum ao circuito primário e secundário está conectado à carcaça
·~~"
;.- ~

;-
·•• ;.- ~ p '-
transformador e ao aterramento local, cuja resistência vale 80 Q. O con-

f--
;.....
'
:
•••

tor tem, também, aterramentos adicionais espaçados de 200 m .
•••

1n I Fases 1,2 e 3
..
I Neutro
"
1v0~E 10-4 10-3 •
1

'
+---
.1
10"
Corrente (A)
10° 10
2
10
3
,l
Figura 7.37- Curva tensão-corrente (V x I) típica de pára-raios de distribuição

Nas condições de tensão durante a operação normal do sistema, o dis- Circuito


secundário
positivo apresenta alta impedância, atuando praticamente como uma chave
aberta (a corrente é mínima, da ordem de 10-s A). Na ocorrência de um surto Neutro

de tensão, quando o valor da tensão aplicada aos terminais do dispositivo


R consumidor
ultrapassa determinados limiares, o dispositivo mostra um comportamento
não linear, apresentando drástica redução de sua resistência e conseqüente
aumento brusco da corrente que o percorre. Para oscilação dessa tensão entre
20 kV e 40 kV, a corrente varia aproximadamente entre 1 mA e 1O kA.

Assim, quando uma sobretensão impulsiva de origem atmosférica é apli- Figura 7.38- Solicitação do circuito de rede convencional de cifs_ttibuição de média tensão por surto
\ cada ao pára-raios, enquanto a corrente associada flui pelo dispositivo, alcan- propagado a partir de um evento distante de descarga atmosfenca
çando a amplitude de algumas dezenas de quiloamperes, a queda de tensão
As Figuras 7.38 e 7.39 se referem à solicitação do circuito ~ifási~o de
entre os terminais do dispositivo se mantém limitada ao valor da tensão resi-
distribuição por um surto de tensão, propagado a partir de um efelt~ ~stan­
dual do pára-raios (inferior a 40 kV). Desta forma, o equipamento, que apre-
te de tensão induzida ou incidência direta. São consideradas duas hipoteses:
senta suportabilidade ao impulso de tensão da ordem de 95 kV nas redes de
(.) " · e c··)
1 ausenc1a 11 presença dos pára-raios · Os resultados .da figura
_ 7.39
" foram
.
média tensão, fica protegido por estar conectado aos terminais do dispositi-
vo. Após o fluxo da parcela impulsiva da corrente associada à descarga para o obtidos por simulação computacional. Na primeira s1tuaçao (ausenc1a de
solo, a tensão aplicada aos terminais deste se reduz, voltando aos patamares pára-raios), o surto chega ao local resultando numa sobretensão da ordem
de operação normal (valor pouco superior às tensões de operação do sistema) de 235 kV. A maior parte desta tensão é aplicada ao transformador(~ 200 kV),
e o dispositivo recupera sua capacidade de isolação, interrompendo o fluxo de sendo suficiente para danificá-lo. Os níveis das tensões no aterramento e no
corrente. Assim, a atuação do pára-raios limita a sobretensão sobre o equipa- condutor de descida são relativamente discretos, respectivamente de ordem
mento, evitando que o mesmo se danifique. 40 kV e 4 kV, e são promovidos pelo fluxo de uma reduzida c~rrent~ em
direção ao solo, associada às induções no neutro. Como as cr1stas d~stas
Por outro lado, a atuação do dispositivo pára-raios, além de assegurar
ondas de tensão não ocorrem simultaneamente, não é possível determmar-
a proteção do equipamento através do grampeamento da tensão nos seus
terminais, afeta a distribuição e o nível das tensões resultantes na rede de se 0 valor de pico da onda resultante de tensão apenas pela soma dos valores
de pico das componentes.
210 • Descargas Atmosféricas
Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 211

rede. Na segunda, considera-se a solicitação da linha, num trecho em que há


o efeito da iluminação direta.
Na primeira situação, que corresponde à condição representada nas
Figuras 7.38 e 7.39, a solicitação refere-se à onda de tensão propagada
para um trecho distante da linha (não iluminado diretamente), onde a am-
plitude da tensão não é sustentada. Nesta hipótese, o comportamento qua-
-- .. ------- ...-...L ______ ·-·---
-;

__ j
litativo das ondas de corrente e tensão é bem semelhante àquele considera-
28 32 36 40
Tempo (IJ.S)
do quando da incidência direta da corrente de descarga em linhas em pon-
Tempo (IJ.S)
(i) ausência de pára-raios (ii) presença de pára-raios tos distantes, embora as amplitudes sejam muito inferiores. O fenômeno
atua como se houvesse uma fonte de corrente conectada à linha num ponto
Figura 7.39 - Distribuição de tensões nos condutores e elementos de uma rede trifásica de distribui-
ção de energia em função da atuação dos pára-raios distante. A onda de tensão resultante tem amplitude definida pelo produto
da onda de corrente que se propaga pela impedância de surto da linha.
Na segunda situação, quando o mesmo surto alcança o local, há Nesta situação, em caso de ruptura de isolamento ou de atuação do dispo-
atuação dos dispositivos pára-raios instalados entre fase e neutro, que sitivo pára-raios num poste da rede, uma parcela da corrente flui para o
passam a ser percorridos por uma corrente cujo valor de pico vale apro- solo através do aterramento do pára-raios e a parcela restante continua sua
ximadamente 1 400 A (soma das correntes nos três dispositivos). Tal cor- propagação ao longo do condutor de média tensão. Devido à diminuição
rente flui em sua maior parte para o solo, mas tem uma parcela que se da corrente que se propaga, a amplitude da onda de tensão além daquele
propaga ao longo do neutro em direção aos outros pontos de aterra- ponto é diminuída. É por tal razão que as ondas propagadas, decorrentes
menta. A atuação do dispositivo limita a sobretensão no transformador de tensão induzida ou incidência de descargas em pontos distantes, apre-
em aproximadamente 30 kV e promove tensões no aterramento local e sentam um perftl que se atenua, marcado por oscilações de período usual-
no cabo de descida, cujos valores de pico se aproximam respectivamen- mente bem definido, como indica a Figura 7.40 para uma rede cujo nível
te de 70 kV e 5 kV. A tensão total nas fases é reduzida de 235 kV (condi- básico de isolamento é de 9 5 kV.
ção sem pára-raios) para 110 kV, sendo a maior parcela concentrada no
aterramento do transformador. 200,~--------~----------~----------~--------~----------.

Os valores de tensão e corrente citados são típicos de pára-raios em- 150


pregados em redes de média tensão de 13,8 kV. Dispositivos similares estão
disponíveis comercialmente numa ampla faixa de tensões, para aplicação em
circuitos que incluem desde as linhas de alta tensão até os circuitos eletrôni-
cos de baixa tensão. Evidentemente, mesmo para uma mesma faixa de ten-
são, a dimensão do pára-raios varia bastante consoante a sua capacidade de
absorção de energia. Também a faixa de tensão influencia na dimensão e na o 10 20 30 40 50
configuração do dispositivo, sobretudo em função das distâncias necessárias T (J-LS)

para assegurar o nível de isolamento do circuito. Figura 7.40- Perfil típico de sobretensão que se propaga na rede de média tensão devido a eventos
distantes de tensão induzida ou de descarga direta
Com relação às solicitações da rede especificamente por tensão
induzida, é interessante distinguir duas situações. Na primeira, a solicitação O período bem deflnido de oscilação gera a falsa impressão de um
da rede é feita por um surto de tensão originado num ponto distante da
comportamento tipo ressonância na rede, com freqüência bem deflnida. Na
212 • Descargas Atmosféricas
Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 213

realidade, a regularidade verificada no período de oscilação decorre


plesmente das sucessivas rupturas que ocorrem nos isolamentos dos
da rede, igualmente espaçados na linha (tempo de propagação da onda en
rupturas sucessivas bem defmido).

O valor da resistência de aterramento é muito importante, por


a amplitude da corrente que flui para o solo e, por conseguinte, o nível
sobretensão que continua se propagando pela rede. Essa é uma das
pais justificativas para o critério adotado por concessionárias brasileiras,
limita em 80 Q o valor da resistência dos aterramentos de equipamen
instalados nos sistemas de distribuição, como transformadores. Para es . . _ d d d baixa tensão decorre do
A maior parte das solic1taçoes a re ~ e . . . ário de dis-
tipo de solicitação, adotando-se tal cuidado com relação ao aterramento e . de transferência de surtos de tensao do ctrcmto pnm d d
instalação de dispositivos pára-raios a distâncias regulares de 200 a 400 114 ~~~
l.u.'--"'"'''.._...., .• . d , ropagação de uma on a e ten-
...... ..,.,,.·~~-.-... para o secundário, associa os a P d . d d
dependendo das características da rede de média tensão,· é possível r.t-,•-.:r"''*" - . . 0 nto distante ou de uma onda de corrente er1va a a
uma proteção eficiente para a mesma. sao mduz1da em P . , im ortante compreen-
incidência direta muito distante. Por consegmnte, e P " . A Fi ra
Por outro lado, quando se considera numa segunda hipótese a solicitação der o mecarusmo segu . ndo o qual se processa
[2SJ
esta transferenc1a. gu
decorrente da tensão induzida por iluminação direta da rede, o fenômeno atua 7.41 ilustra os fundamentos desse processo
como uma fonte de tensão sustentada distribuída ao longo do trecho iluminado. Fases 1,2 e 3
A análise desta situação é bem mais complexa para as configurações reais de
..___
Neutro
redes de distribuição, pois a definição das correntes e tensões resultantes na rede
é o resultado da interação entre tal fonte distribuída e os elementos da rede,
sendo muito influenciada pela presença e distribuição ao longo do circuito dos
aterramentos do neutro e pela eventual ocorrência de disrupções no isolamento. PRMT

De qualquer forma, pela natureza deste tipo de solicitação, a proteção provida


por dispositivos pára-raios fica praticamente restrita aos terminais do mesmo.
Quando da atuação do dispositivo, o nível de tensão resultante na rede volta a
L descida
crescer a uma pequena distância do equipamento protegido e a proteção de R consumidor

outros equipamentos próximos requer a instalação de dispositivos adicionais, R aterramento


do transformador
posicionados nos terminais destes equipamentos.

- de tens ao
Figura 7.41 - Transfer~nci.a ~e surtos - do prunano
. , . p ara o secundário da rede através do
transformador de distrlbwçao . , . d
7.3- Transferência de surtos da rede primária para a rede
de baixa tensão através do transformador de distribuição di .b . - de muitas concess1onar1as e
Os equipamentos da rede de str1 mçao 1 - rovidos de aterra-
A sobretensão induzida na rede de baixa tensão, como resultado da energia, como os transformadores, por exetrmp doo, s::c~to secundário. Ao
, arcaça e ao neu o
iluminação direta pelo campo gerado por uma descarga próxima, é muito mentos, conectad os a sua c 1: rmador a onda de
(p ) de se encontra um translo '
semelhante àquela induzida na rede de média tensão superior. Dada a usual alcançar a estrutura oste on di t pode promover a ruptura do
- · t d um ponto stan e
proximidade das redes de média e baixa tensão, os fatores que determinam sobretensao proveruen e e . d ára-raios que protege o primário
isolamento ou fazer atuar o conJunto e P
214 • Descargas Atmosféricas
Efeitos de maior interesse das descargas atmosféricas e aspectos de segurança • 215

do equipamento. Em ambos os casos, a onda de corrente associada flui a diminuição dos riscos para a carga do consumidor especifica-
o aterramento do equipamento e, ao ser injetada no solo, promove mente para este tipo de solicitação através de três práticas[238l:
elev:ção do .pote~cial ~m relação ao terra remoto. A menos da queda
• Redução da resistência de aterramento do transformador de distri-
tensao de ongem 1ndut1va no condutor de descida, a carcaça do ,...."'''"r."~
buição: nesta situação, consegue-se diminuir a elevação do potencial
to e os condutores conectados, como o neutro, ficam submetidos a essa
nesse aterramento e, por conseguinte, reduzir o surto de corrente trans-
vação de potencial. Tais condutores estão conectados ao aterramento
consumidores de baixa tensão, localizados a alguma distância, que têm ferido para o aterramento do consumidor distante;
ele~odos num P?tencial aproximadamente nulo (terra remoto). Logo, a • Redução da relação entre as resistências de aterramento do transfor-
vaçao de potenc1al nesses condutores junto ao transformador faz fluir mador e do consumidor. Para um valor fixo da resistência de aterra-
corrente de surto em direção a tais aterramentos, distribuída pelo cond.utc:>j menta do transformador, quanto maior for a resistência de aterramen-
neutro e pelas fases. Ao ser transferida do transformador para o '"''-'··. . ,,......._J...LL~ to do consumidor, menor será a corrente transferida para seu aterra-
~o r, tal~ corrente l~va consigo um surto de tensão associado, que solicita menta e o surto de tensão correspondente;
1nstalaçao consurmdora. Quanto maior a corrente transferida, maior é 0
• Instalação de dispositivo de proteção na instalação consumidora, o
to de tensão resultante no consumidor.
mais próximo possível de sua carga: neste caso, dispositivos supressores
Assim, embora o primário do transformador esteja protegido pelos dis- de surto conectados entre fase e neutro são capazes de proteger os equi-
positivos pára-raios ali instalados, a elevação de potencial em seu aterramento pamentos a cujos terminais estão ligados, embora não influenciem prati-
pode ser transmitida para as unidades consumidoras através do circuito de baixa. camente no nível de elevação do potencial alcançado pelo neutro em
tensão, determinando esforços e, eventualmente, danos nas instalações e equipa- decorrência do fluxo de corrente pelo aterramento do consumidor.
mentos do consumidor. Este efeito pode ocorrer tanto para correntes associa-
das à tensão induzida, quanto para aquelas associadas à incidência direta na rede O comentário anterior "o efeito será tanto mais pronunciado no consumido1)
de média tensão. O primeiro caso é muito mais freqüente, embora represente quanto maior for a amplitude do surto de corrente transferido para seu aterramento a
menor severidade quanto à amplitude máxima das solicitações no consumidor[87J. partir do transformador' justifica as duas primeiras destas práticas.

. Há dois aspectos relevantes a avaliar com relação ao surto que chega à Algumas empresas concessionárias de energia adotam também a prá-
1nstalação consumidora. Primeiramente, a injeção da corrente no aterramen- tica de proteção do secundário do transformador através de dispositivos
to do consumidor promove a elevação do potencial do condutor neutro e pára-raios. Tal prática objetiva tão somente proteger o equipamento da con-
da fase. Isto pode configurar condições de risco, quando o consumidor se cessionária contra os efeitos de tensões induzidas diretamente nos circuitos
expõe ao contato com o condutor neutro em posições distantes do seu ater- secundários e da transferência de surtos devido à incidência direta em insta-
ramento (potencial de toque). Por outro lado, embora a maior parte da cor- lações consumidoras. Neste último caso, os surtos são transmitidos até o
rente de surto flua pelo condutor neutro, uma parcela desta corrente se diri- transformador através de um processo semelhante ao descrito na transfe-
ge para o aterramento através dos condutores das fases, percorrendo as car- rência de surtos do circuito primário para o secundário através da elevação
gas do consumidor que conectam as fases ao neutro aterrado. Logo, este de potencial do aterramento do transformador, mas de sentido inverso. Esta
surto de correr:te pode promover sobretensão na carga, muitas vezes capaz prática objetiva, também, proteger especificamente o enrolamento secundá-
de danificá-la. E muito comum a ocorrência de danos nas instalações consu- rio do transformador contra surtos transferidos do primário por e~evação
~~oras, sobretudo em equipamentos sensíveis (como os equipamentos di- de potencial do aterramento do transformador.
gltrus), em decorrência deste tipo de solicitação.
No entanto, tal prática não é capaz de promover a proteção da unida-
Muitos fatores estão envolvidos na definição do nível das sobreten- de consumidora contra surtos transferidos do circuito de média tensão. Em
sões resultantes no consumidor. Mas, numa abordagem sintética, pode-se realidade, quando da atuação dos dispositivos pára-raios no secundário do
216 • Descargas Atmosféricas

transformador, os mesmos promovem um caminho alternativo de menor


impedância para a corrente de surto, em paralelo com o enrolamento secun-
dário do transformador, notadamente de maior impedância. Tal efeito pro-
move o aumento da corrente que alcança o consumidor através dos condu-
tores das fases e chega mesmo a promover um ligeiro aumento da sobretensão
na carga do consumidor, em relação à hipótese de ausência do dispositivo
pára-raios no secundário do transformador[84,85 ,86l.

Resumindo, no que concerne à transferência de surtos de origem at-


mosférica da rede primária para a rede de baixa tensão através do trans- PRINCÍPIOS DE SISTEMA DE
formador de distribuição, a prática fundamental consiste em se buscar va-
lores reduzidos da impedância de aterramento do transformador (ou equi- PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS
valentemente de sua resistência de aterramento) para minimização da am-
plitude da elevação de potencial neste. Por outro lado, muitas vezes as
ATMOSFÉRICAS
restrições práticas de instalação limitam tal possibilidade, já que a dimen-
são possível do aterramento é usualmente reduzida. Nesta circunstância, é
desejável que a resistência de aterramento do consumidor tenha valor su-
perior àquela do transformador. As edificações que possuem melhores ater-
1 - Considerações preliminares
ramentos, com valores reduzidos de sua resistência, são penalizadas por
drenarem maiores surtos de corrente e, conseqüentemente, maiores surtos N 0 capítulo anterior foram apresentados alguns dos mais im~~rtantes
de tensão associados, sendo recomendável a proteção das mesmas através efeitos das descargas atmosféricas, na perspectiva do interes~e pra~co das
de supressores de surto. aplicações em engenharia. Para proteção contra tais efe~tos, eXls:e~ s1st~mas
Efetivamente, independentemente das práticas adotadas pela empresa específicos e dispositivos, capazes de assegurar determmado~ ru~e1s ~e nnu-
concessionária de energia, a proteção com alto grau de confiabilidade da uni- nidade. Neste capítulo são considerados os aspectos c?n:e1"tua~s ma1s rele-
dade consumidora contra surtos associados a descargas atmosféricas, transfe- vantes dos sistemas de proteção de estruturas contra a 1nc1denc1a de descar-
ridos pela rede de distribuição, requer a instalação de dispositivos supressores gas atmosféricas (SPDA).
de surto diretamente na entrada do consumidor. O mesmo cuidado se aplica
às entradas dos circuitos aéreos de comunicação, como redes telefônicas.
2 - Conceito fundamental de sistemas de proteção de
estruturas
A incidência direta de descargas sobre estruturas (edificações e instala-
ções físicas, como subestações de energia e indústrias, dentre o~tra~) P~~e
promover danos e outras conseqüências, em decorrência da pot~nc1a _dissi-
pada pelo fluxo da corrente em partes da estrutura. A Fig_ura 7~2 ilustra este
aspecto e mostra a destruição gerada na quina de um~ edi~caçao de al~ena­
ria devido a este tipo de evento. Muitas vezes, em edificaçoes de madetta, a
incidência resulta em incêndio. Em alguns casos, a incidência direta numa
218 • Descargas A tmosféricas
Princípios de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas • 219

estrutura pode promover o fluxo de correntes destrutivas por partes 3 - Modelos de incidência
condutoras eventualmente existentes no local, inclusive nas instalações elé-
tricas e eletrônicas. As ftlosoflas de proteção de estruturas foram elaboradas a partir dos
Um SPDA tem por objetivo básico evitar a incidência direta de raios modelos de incidência. Estes constituem descrições simplificadas e objeti-
na estrutura protegida, através da constituição de pontos preferenciais de vas do processo fmal de conexão dos canais ascendente e descendente, que
incidência para as descargas que eventualmente atingiriam a estrutura na au- conflgura o canal de descarga. De forma mais elaborada ou simpliflcada,
sência do sistema. Para realizar tal objetivo, além de captar a eventual des- tais modelos permitem deftnir o local de maior probabilidade de incidência
carga, o SPDA deve ser capaz de direcionar o fluxo da corrente associada das descargas descendentes, decorrentes de canais que se aproximam do solo
diretamente para o solo, segundo percursos deflnidos, constituídos pelos ou de descargas ascendentes que se originam de estruturas terrestres.
condutores do sistema de proteção. Dentre tais modelos destaca-se o chamado Modelo Eletrogeométrico -
EGM (Electric Geometn·c Mode~, considerado a seguir.
O princípio básico do sistema de proteção consiste na deflnição de
pontos (corpos) de destaque na estrutura, que possuem muito maior pro-
babilidade de iniciarem a constituição de canais ascendentes quando um 3.1 - Modelo eletrogeométrico (EGM)
canal precursor de descarga se aproxima da estrutura. Tais corpos,
conectados diretamente ao solo por condutores metálicos, devem tam- O EGM fundamenta-se no conceito do Raio de Atração (R). Este se
constitui na distância estimada entre um canal descendente e a estrutura ter-
bém constituir caminhos de menor impedância para a corrente de descar-
restre, a partir da qual ocorrerá eventual fechamento do percurso pela cone-
ga no percurso desta em direção ao solo, evitando o fluxo da corrente
pelas partes da estrutura. xão entre o canal descendente e o canal ascendente que se origina na estrutu-
ra terrestre. Admite-se que, caso tal distância seja alcançada, haja grande pro- a
Para cumprir seu objetivo, um SPDA é composto por elementos, com habilidade de incidência na estrutura.
funções distintas. Os captores são elementos metálicos que constituem pontos
Através de ex erimentos laboratoriais com modelos em escala re~uzida,
preferenciais de incidência. Os condutores de distn.buição de corrente direcionam o
de re · ·str~~áflc~~ de illmagens da incidência de descargas reais em
fluxo da corrente de uma eventual descarga incidente para o aterramento. O
torres "instrumentadas", foram desenvolvidas relações empíricas que relaci-
aterramento elétrico é constituído por eletrodos metálicos enterrados no solo
o~a~aio de atração com o valor de pico da corrente de descarga (IP). A
para a dispersão da corrente de eventual descarga para esse meio.
maimParte destas expressões tem a forma Ra = A . I~ B, sendo A e B cons-
A conflguração fisica destes elementos depende da illosofla e tipo de tantes empíricas, e fornece resultados muito similares. A Tabela 8.1 indica
sistema de proteção. Os detalhes relativos aos procedimentos para o proje- algumas destas relações.
to de um sistema de proteção de estruturas contra descargas podem ser
encontrados na norma 5419 da ABNT[277J, incluindo aspectos construtivos e Tabela 8.1 -Expressões sugeridas na literatura para cálculo do raio de atração
de especiflcação.
Referência Expressão
Neste texto são considerados os conceitos e aspectos fundamentais rela- Ra(m), lp (kA)
tivos a tais sistemas, muitos dos quais determinam o formato dessa norma. Brown, Whitehead [621 Ra = 7,1 (Ir )0,75
Love (321, Anderson [3J Ra = 10 (Ir )0,65
Este capítulo não considera as questões relativas à proteção interna, Armstron~ [531 Ra = 6' 7 (Ir )0,8
que incluem as práticas de equipotencialização e de aplicação de protetores Norma 5419 ABNT (2771 Ra = 2. Ir + 30 ( 1 - e -Ip )
de surto nas instalações elétricas e eletrônicas internas à estrutura.
220 • Descargas Atmosféricas Princípios de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas • 221

Traço contínuo:
Na Tabela 8.2 são indicados os valores estimados do raio de atração __; - ________. trecho em exposição

;/!-·-.:<,(~·
para diferentes valores de pico da corrente de descarga, através da aplicação
das expressões R a = 1O (Ip) 0' 66 e R a = 2 (Ip) + 30 (1 - e-1P) , esta última recomen- Q
G
dada na norma NBR5419 para cálculo desse parâmetro.
. . ~~
·
Tabela 8.2 - Valores estimados do raio de atração em função da corrente de descarga
o ......................... ~ (.:z
f ·
Ra
Fase Fase Fase
Ra \
. \
p• O'
·····i······.·····--· ·------------ --------·-- ·•

A B C ~
Valor de pico da Ra = 2. (lp) + 30. (1- e -Ip) Ra = 10 (}p )0,66
corrente (kA) (m) (m)
5 40 29
10 50 46
15 60 60 Figura 8.1 - Representação esquemática da aplicação do Modelo E letrogeométrico para proteção de
20 70 72 uma linha de transmissão: definição de regiões de proteção através do raio de atração
30 90 94
A curva contínua OPQQ'P'O' foi traçada sobre os pontos mais exter-
50 130 132
nos das circunferências e da linha horizontal. Estes constituem os primeiros
100 230 209
pontos de contato de qualquer eventual canal descendente de descarga que
se aproxime da linha. Cada trecho desta curva está associado ao condutor
A adoção do conceito do raio de atração torna possível a nítida defi-
· da linha (ou ao solo) para o qual a extremidade do canal apresenta a menor
nição de regiões de incidência. É fácil ilustrar tal aspecto para o caso espe-
distância (igual ao raio de atração). Nesse trecho, a distância aos demais con-
cífico de linhas de transmissão, como mostra a Figura 8.1. Ali, considera-
dutores ou ao solo é superior ao raio de atração. Por conseguinte, caso um
se a linha consti!Wda por três condutores energizados (cabos das fases) e
canal de descarga se aproxime da linha, chegando primeiro àquele trecho,
um condutor de blindagem (ou cabo pára-~aios: G). A figura apresenta a
tem-se a expectativa de sua conexão ao condutor associado, pois tal condu-
análise da proteção da linha especificament~ para a incidência de uma cor-
tor apresenta a menor distância ao canal. É dele que deve partir o' canal as-
rente de descarga de valor de pico 1O k.A, ao qual está associado um raio de
cendente ao qual se conecta o canal descendente.
atração de 46 m, conforme a Tabela 8.2. Na figura estão traçadas circunfe-
rências de raio igual ao raio de atração (RJ, centradas sobre o eixo de cada Como indica a figura, se um canal alcançar o trecho PQ, a descarga
um dos condutores da linha. Está também traçada uma linha horizontal, deve incidir no condutor da fase A. Desta forma, a chegada de um canal
cuja distância ao solo é igual ao raio de atração. Tais circunferências e linha descendente a um dos trechos OP, PQ, QQ', Q'P', P'O' (nesta ordem) defi-
correspondem ao corte respectivamente de superfícies cilíndricas (em cujo ne a incidência de descarga respectivamente no solo, na fase A, no condutor
eixo localizam-se os condutores) e do plano paralelo à superfície do solo, de blindagem, na fase C e no solo. Nota-se que a fase B está totalmente
definidos ao longo da linha de transmissão. blindad~g_.ara _o raio de atração consideradº (O_!I _res ectiva am litude de
cor~e: 10 k.A). E~to, as- f~es- A e C estão exp~sta~~cia dire-

- --
ta de descarga, a despeito da presença do cabo pára-raios.
-!::_ Figura 8.2) a seguir, denota como a amtili.tude_de._corrente af-eta a
-
blinda em dos condu~ores ener~~ados da linha.:... À esquerda considera-se
uma corrente de descarga inferior (5 k.A), que corresponde ao raio de atra-
ção de 29 m. À direita considera-se a blindagem para uma corrente de des-
carga de 20 kA (Ra = 72 m).
Princípios de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas • 223
222 • Descargas Atmosféricas

sões geradas por descargas com a amplitude de corrente inferior a esse limi-
ar (usualmente entre 3 e 5 kA para linhas de alta tensão). Definido este valor
o o' de corrente, verifica-se o correspondente raio de atração e promove-se o

F~e F~e
posicionamento adequado do (s) cabo (s) pára-raios, deslocando-o (s) e
·J
Ra
I
'+-----Ra- -· t•
G•
Fase
·'---~
Ra
posicionando-o (s) para que não haja falha de blindagem para correntes su-
o O'
l,,,,,,,,,,,;*,,:,,,,,,,,,,,,, periores a esse limiar. Na maior parte das linhas, cujos condutores energizados
são dispostos em configuração horizontal (em relação ao solo) são necessá-
rios dois cabos pára-raios para assegurar blindagem contra essas menores
correntes de descarga. A solução deste problema é relativamente simples,
Figura 8.2 - Efeito da amplitude de corrente na blindagem da linha
pois este pode ser formul~ado analiticamenteP 3l.
Na condição de menor corrente (e, portanto, de menor raio de atra- A ilustração do conceito do Modelo Eletrogeométrico de incidência
ção) há substancial aumento dos trechos PQ e P'Q', com o signifi~ati~o cre~­ através de sua aplicação à proteção de linhas de transmissão decorre simples-
cimento da probabilidade de incidência nas fases A e C, em relaçao a_ condi- mente da maior facilidade de explicá-lo nesta aplicação. Em função da simetria
ção considerada na Figura 8.1 . A fase B permanece integralmente blindad~, axial da geometria da linha, o problema se resume ao plano bidimensional e
pois a distância do seu condutor à superfície externa da figura é bem super~­ pode ser processado sobre a figura determinada pelo corte da linha em qual-
or ao raio de atração. Caso fossem consideradas descargas de menor amp~­ quer plano transversal ao seu percurso. Numa situação mais genérica, como no
tude de corrente e a distância entre os condutores energizados fosse supen- caso de edificações, onde tal simetria não existe, os mesmos princípios devem
or, tal fase poderia ficar exposta à incidência direta de descargas. N e~se caso, ser usados, mas segundo uma abordagem tridimensional.
poderiam ser necessários dois cabos pára-raios para assegurar a blindagem
Como evidenciado, o fundamento do Modelo Eletrogeométrico se
do condutor central.
assenta no conceito de Raio de Atração. Neste contexto parece prudente
Por outro lado, a figura à direita mostra que para uma corrente supen- tecer algumas considerações objetivas com relação a esse parâmetro.
or a 20 k.A, ocorre a blindagem integral de todas as fases. Os trechos PQ_ e
Na realidade, não parece natural a existência de uma relação direta
P'Q' foram integralmente suprimidos com o crescimento do raio de atraçao
entre o raio de atração e o valor de pico de uma corrente de descarga. Em
e, no caso de aproximação de um canal descendente, a descarga deve se
princípio, a definição de uma distância a partir da qual ocorreria uma descar-
conectar diretamente ao cabo pára-raios ou ao solo.
ga entre o canal descendente e uma estrutura aterrada estaria associada, so-
O objetivo da Figura 8.2 é ressaltar que o traçado que determina 0 bretudo, à diferença de potencial entre a extremidade do canal descendente
condutor de incidência é defmido para cada valor de corrente de descarga. e o solo. É esta diferença de potencial que estabelece um valor médio de
No caso da maior amplitude, os condutores energizados ficam totalmente campo elétrico no percurso, capaz de sustentar a evolução do estágio final
blindados, não havendo expectativa de incidência de descarga nos mes_mos. dos canais ascendente e descendente até a conexão destes. Nesse sentido, a
Por outro lado, à medida que a amplitude da corrente é reduzida tal blinda~ carga acumulada no canal descendente (sobretudo em sua extremidade) é
gem vai sendo diminuída. Este aspecto JUStifica . · a afir matlva
· d e gue a ~nrobabz-
um parâmetro muito mais significativo para expressar a relação com o raio
Ji!j#de-fol-ha-de-.hlitJdagfll!L d~m sistf!!!!a d1 proteç_ão i_ tanto maior g.uanto menorJor cJ de atração. Por outro lado, verifica-se a existência de uma forte correlação
!!:!E12litude da corrente da descarga. , entre a carga acumulada no canal e o valor de pico da corrente conseqüente
·
Na prática, ao proJetar-se ~ d e uma linha de transmissão,
a proteçao . , .e da eventual conexão dos canais. E, por sua vez, na perspectiva de aplicação
. incldencw em engenharia de proteção, não se pode negar o interesse prático em se
definida a amplitude mínima de corrente para a qua1 se ad rmte a
.
direta nas fases. Assume-se que o s1stema . capaz d e supor t ar as sobreten-
seJa expressar uma relação desta natureza diretamente a partir da amplitude da
224 • Descargas Atmosféricas Princípios de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas • 225

corrente de descarga. Tais aspectos justificam a formulação do raio de atra- conexão dos canais. Isto sugere que o valor do raio de atração é inferiof à
ção como função dessa corrente. distância de indução do canal ascendente. A Figura 8.4 mostra a condição
Neste mesmo contexto, deve ser ressaltada a natureza muito em que um canal descendente que se aproximava do solo induziu vários ca-
simplificada da formulação do raio de atração, que ignora as etapas do pro- nais ascendentes em torres de telecomunicações próximas. Apenas um dos
cesso de conexão entre canais, cuja consideração deveria contemplar dois três canais induzidos logrou conectar-se ao canal descendente, dando origem à
outros conceitos intermediários envolvidos no processo: a distância de indução descarga. Os demais se dissiparam, após a o fluxo da corrente de retorno na
do canal ascendente e a distância de salto final. A Figura 8.3 ilustra os conceitos torre atingida. Embora tenha sido alcançada a distância de indução do canal
relativos a tais distâncias. ascendente para as três torres, a descarga se materializou apenas para aquela
torre cuja extremidade alcançou primeiro uma distância igual ao raio de atra-
ção em relação ao canal descendente.

0+0 !) o+o o+o


oo !) oo !) o o !)
+ + + + + +
+ ++ + + + ++ + + + ++ + + Figura 8.4- Indução de canais ascendentes que não se conectam ao canal descendente: fotografia e
esquema [cortesia de Phil Krider]
Figura 8.3 - Distâncias referidas no processo de conexão dos canais
A Distância de Salto Final (DJ corresponde à distância crítica entre ca-
Na figura, o desenho à esquerda mostra o instante em que o canal des-
nal descendente e o ascendente, a partir da qual ocorre o fechamento do
cendente induz o surgimento de um canal ascendente no ponto da estrutura
percurso entre eles, através do salto de um arco elétrico (descarga elétrica)
onde o campo elétrico induzido pelas cargas do canal é mais intenso. A dis-
flnal. Naturalmente tal distância é bem inferior ao raio de atração.
tância correspondente entre a extremidade do canal descendente e tal ponto
na estrutura é designada distância de indução do canal ascendente (D in)· É evidente que o valor dos três parâmetros (Ra, Dind, DJ depende da
carga existente no canal descendente ou, equivalentemente, da corrente subse-
Após esse estágio, naturalmente continua a ocorrer a evolução dos ca-
qüente gerada pelo descarregamento desta carga, após a conexão dos canais.
nais descendente e ascendente. O desenho na posição intermediária da figu-
ra ilustra a situação em que o canal descendente alcança uma distância do Na literatura inglesa os termos "S triking Distance" e ~ttractive Radius"
ponto da estrutura onde se originou o canal ascendente para a qual há uma são usados para designar o raio de atração. Em algumas obras particulares, o
condição de grande probabilidade de conexão dos canais (para a intensida- primeiro termo é também utilizado para se referir à distância de indução do
de de carga acumulada no canal ou correspondente amplitude de corrente canal ascendente, o que causa certa confusão.
de descarga posterior). A distância correspondente é o designado Raio de Além da característica muito simplificada da formulação do raio de
Atração (RJ. Note-se que a indução de um canal ascendente não assegura a atração, vale também realçar a natureza de sua aplicação no Modelo Ele-
226 • Descargas Atmosféricas Princípios de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas • 227

trogeométrico. Na realidade, os fenômenos analisados têm caráter aleatório, Tabela 8.4 - Efeito da altura da estrutura no valor do raio de atração

sendo prudente preservar a perspectiva probabilística dos resultados gera-


dos pelo método. Por outro lado, é justamente neste aspecto que reside o Valor de pico da Ra (m) Altura Ra(m)
corrente (kA) 10 (lp)0,66 H(m) 4
grande atrativo da aplicação desta metodologia em engenharia de proteção Ra = H (0,66 + 2 . Ip . 10- ) • I p 0.64

e a sua consistência. O conceito de raio de atração resume etapas intermedi- 10 13


árias do processo, indicando diretamente a distância entre o canal descen- 5 29 20 20
dente e a estrutura terrestre, nos casos de eventual conexão dos canais e 40 32
conseqüente descarga. A caracterização destas etapas na perspectiva de apli- 80 51
10 20
cação é inviável com o nível de conhecimento atual.
10 46 20 32
Na busca do aprimoramento da metodologia, foram desenvolvidas 40 50
expressões que tentam computar outros efeitos que exercem influência na 80 79
defmição do raio de atração, incluindo as características da estrutura a ser 10 31
atingida, como sua altura / (H). Neste contexto, foram propostas algumas ex- 20 72 20 50
40 79
pressões simplificadas que incluem a altura da estrutura em relação ao solo.
80 125
A Tabela 8.3 indica uma expressão deste tipo proposta por Eriksson, desen-
10 57
volvida para fins de aplicação na proteção de linhas de transmissão. 50 132 20 91
40 145
80 230
Tabela 8.3 - Expressão para o raio de atração incluindo o efeito da altura da estrutura

Referência Expressão
Ra (m), lp (kA), H (m) No contexto de sua aplicação prática na proteção de estruturas contra
64
Erikson [29, 109, 108] Ra = H (0,66 + 2 . Ip. 10 ·4 ) • lp 0' a incidência direta de descargas, os procedimentos para implementação do
chamado Modelo Eletrogeométrico são organizados em duas metodologias dis-
Na Tabela 8.4, ilustra-se o efeito da altura da estrutura no raio de atra- tintas, conforme o ponto de referência para emprego do raio de atração.
ção, considerando-se diferentes níveis de corrente, pela aplicação da expres-
Na primeira metodologia, o raio é considerado na perspectiva dos
são anterior. Os resultados são comparados com aqueles providos por ou-
prováveis pontos de incidência na estrutura. A partir de cada um desses
tra fórmula tradicional, que ignora tal efeito.
pontos é determinada uma superfície, construída ao circular-se o raio de
atração, no entorno do ponto. Quando esta superfície é alcançada por um
canal descendente, fica defmido o ponto de incidência. O emprego de tal
metodologia foi ilustrado no caso da linha de transmissão (Figuras 8.1 e
8.2). Numa abordagem mais geral, para estruturas sem simetria axial, o- prin-
cípio deve considerar a constituição de esferas fictícias a partir dos pontos
prováveis de incidência, dispostas no espaço tridimensional.
A segunda metodologia, um pouco mais elaborada, é desenvolvida na
perspectiva das possíveis posições alcançadas pela extremidade do canal
228 • Descargas Atmosféricas
Princípios de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas • 229

descendente em sua aproximação da estrutura, sendo designada Método das


deve se dar diretamente no solo. No entanto, para posições entre A e F,
Esferas Rolantes.
ficam expostas a quina esquerda da edificação, uma parte da laje, as quinas da
A cada amplitude de corrente está associado um raio de atração específi- caixa d'água sobre a laje e, ainda, a parte superior desta caixa.
co que define uma esfera centrada em cada posição admitida para a extremidade
Para proteger a edificação, o projetista deve atuar posicionando, de
do canal descendente. Tal esfera é deslocada (rolada) sobre a superfície da estru- forma otimizada, elementos condutores do sistema de proteção contra des-
tura cuja proteção se projeta. Assim, o centro da esfera cobre todas as -possíveis cargas, de forma a evitar que pontos da estrutura sejam tocados pelas esfe-
posições que a extremidade de um eventual canal descendente poderia ocupar r~s. Na Figura 8.6 está indicado que a estrutura pode ficar totalmente prote-
ao se aproximar da estrutura. Os pontos tocados pela superfície da esfera, ao gida através do posicionamento de uma haste metálica condutora sobre a
deslocá-la sobre a estrutura, indicam os locais prováveis de incidência. A Figura caixa d'água e de uma outra haste sobre a mureta da cobertura da edificação,
8.5 ilustra a aplicação desta metodologia numa perspectiva bidimensional (se- na lateral esquerda. Tais elementos provêm blindagem total da estrutura (no
gundo um dos planos verticais que cortam a estrutura). plano bidimensional), para o mesmo raio de atração da figura anterior.

Figura 8.6 -Avaliação da proteção da edificação pela aplicação do método das esferas rolantes
Para se assegurar a proteção integral da estrutura, é necessário aplicar
o deslocamento tri-dimensional da esfera. Se a cobertura da edificação tem
Figura 8.5 - Representação esquemática do Modelo Eletrogeométrico: aplicação do método das
esferas rolantes
um formato retangular, deve ser contemplada a proteção em todas as dire-
ções, incluindo aquela da diagonal (maior distância). Também precisa ser
Na ilustração à esquerda é indicada a rolagem da esfera. O detalhe à considerada a eventual presença de corpos sobre a cobertura, como antenas
direita mostra as posições consecutivas ocupadas pelo centro da esfera, en- receptoras e outros.
quanto esta é rolada sobre a estrutura, também indicando a posição ocupa-
. Assim, o Método das Esferas Rolantes constitui sim..l.lesmente...!!!!!JJ_aj2l_caç.ão
da pela extremidade do canal descendente que se aproxima da estrutura,
partzcular do Modelo E{etrogeométn'co de incidência. -
quando tal extremidade atinge a distância de um raio de atração da edificação.
Para o raio de atração considerado, há vários pontos da estrutura ex-
postos à incidência direta de descargas. Quando o centro da esfera ocu~a 3.2 - O modelo de progressão do líder
posições correspondentes a abscissas externas ao segmento AF, a incidência
O Modelo de Progressão do Uder (Leader Progression Mode~ [92 , 93l foi desenvol-
230 • Descargas Atmosféricas Princípios de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas • 231

vido como uma abordagem mais elaborada que buscava transpor as limita- relação aos parâmetros de influência (relevo, configuração da linha etc.). A
ções associadas às simplificações do EGM e as dificuldades de se computar os Figura 8. 7 mostra alguns aspectos desta aplicação e ilustra o efeito do relevo
efeitos do relevo e da altura das estruturas na defmição da proteção. Seus na incidência de descargas na linha de transmissão.
idealizadores, os engenheiros italianos Dellera e Garbagnati, tinham especial
interesse na utilização do método para subsidiar as práticas de proteção de ~--~
LO I H(m) Lo..._....:,...sFW
linhas de transmissão contra a incidência direta de descargas atmosféricas. I
I
I ~
H(m) I 500
I I

A idéia fundamental desse modelo de incidência consiste na represen- 200


tação da evolução do canal descendente por passos consecutivos, corres-
pondentes às descargas elétricas que materializam o canal de descarga. 450
150
Considera-se que para cada nova descarga elétrica ocorrer nesse pro-
cesso, dois eventos devem se verificar: o campo elétrico na extremidade do 400
100
canal e o campo elétrico médio num comprimento da ordem de dezenas de
250
metros (que, eventualmente, corresponderia ao percurso de uma nova des-
carga elétrica) devem ultrapassar determinados limiares pré-estabelecidos. 50
200
Assim, a cada passo são avaliadas as condições de continuidade do
processo de constitui.ção do canal. Verifica-se a existência (ou não) de uma
80 100 150 160
nova descarga elétrica consecutiva e sua direção. Se os limiares são excedi- 200 250 300 350 500 550 600
X(m)
X(m)
dos, é traçado o percurso de um novo segmento de plasma na direção indicada, X(m)

cujo comprimento é defmido pelo valor do campo médio calculado.


Figura 8. 7 - Ilustração da aplicação do método de progressão do líderr92 •93l
Para realizar tal avaliação, a cada nova descarga elétrica, é simulada a
Nessa figura, a ilustração à esquerda mostra que, numa região plana, a linha
distribuição de cargas resultantes no sistema constituído pela nuvem, o solo
trifásica está totalmente protegida (blindada) por dois cabos pára-raios, para a
e o canal precursor, através do conhecido Método de Simulação de Cargas
condição simulada. Canais descendentes que, numa altura acima de 200 m, têm
(MSC)[20 7J, com particular atenção para a carga concentrada na extremi~a~e
sua extremidade a uma distância do eixo da linha superior à distância lateral (LD)
do canal. Os campos elétricos resultantes são calculados a partir da distn-
incidem diretamente no solo. Aqueles canais cuja extremidade está posicionada a
buição de cargas resultante. A cada passo, é verificado novamente se os limi-
distância inferior incidem diretamente no cabo de blindagem.
ares de campo elétrico são excedidos para que haja sustentação da evolução
do processo. Cada novo passo corresponde a uma nova simulação. O posicionamento da mesma linha numa situação de relevo acidentado
implica em uma condição muito diferente de incidência. Passa a existir uma
Quando o canal descendente se aproxima do solo, passa também a ser
faixa de falha de blindagem (SFW: shieldingfailure width), que corresponde à
observada a condição para evolução de um canal ascendente a partir do solo,
faixa das posições ocupadas pela extremidade de canais descendentes que, ao
localizando-se os pontos preferenciais de inicio destes canais. A partir daí, a
evoluírem, incidiriam nas fases. Isto é ilustrado tanto para o posicionamento
evolução de ambos os canais é monitorada até a eventual conexão destes.
da linha na encosta de uma colina, quanto ao longo da crista da colina. Em
A aplicação deste método, muito mais elaborado que o EGM, pernu- ambos os casos, considerando o nível de corrente de descarga assumido na
tiu que se alcançasse uma perspectiva bem mais apurada da proteção de es- simulação, seriam necessários o deslocamento e o posicionamento otimizado
truturas por meio da realização sistemática de análises de sensibilidade em dos cabos pára-raios para prevenir a existência de falha de blindagem.
232 • Descargas Atmosféricas Princípios de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas • 233

Os valores limites de campo elétrico local e médio que asseguram a conti- A defmição quanto ao tipo de sistema a adotar é ditada, sobretudo,
nuidade do processo de evolução das descargas foram definidos através de en- pela geometria da edificação. Esta fornece indicações para o projetista quan-
saios laboratoriais, nos quais eram geradas descargas elétricas em longos to às facilidades para a implementação de cada sistema, quanto à eficiência e
espaçamentos de ar devido à aplicação de elevadas tensões. Estes foram desen- custo deste. Muitas vezes, fatores de ordem estética também influenciam,
volvidos, sobretudo, no CESI, Laboratório Alta Tensão localizado em Milão. pois o impacto visual do SPDA pode, em alguns casos, comprometer aspec-
tos arquitetônicos da edificação. Isto sugere a necessidade de interação entre
As hipóteses relativas ao volume de cargas e sua distribuição durante o processo
o projetista e o arquiteto para a especificação do sistema de proteção.
foram formuladas pelos idealizadores do método. O método é bastante comple-
xo e seu detalhamento foge ao escopo deste texto. As dificuldades de implementa- Por outro lado, existem aspectos comuns a ambos os sistemas, como
ção do método ou mesmo de reprodução dos resultados gerados pelos seus a expectativa de baixo valor de resistência de aterramento (sugerido valor
idealizadores por parte de outros pesquisadores limitaram muito a sua aplicação. inferior a 1O Q).

Na comparação da eficiência dos dois métodos, parece prudente a Independentemente do tipo de sistema, os riscos gerados por incidência
direta na estrutura variam significativamente conforme a destinação ocupacional
opinião de um eminente pesquisador, o australiano Mat Darveniza. Este
desta. A título ilustrativo, considera-se a eventual incidência de uma descarga
afirma que não foram ainda apontadas evidências experimentais de que a
sobre uma igreja, que usualmente abriga um grande número de fiéis. Em caso
aplicação do elaborado Método de Progressão do Líder apresenta melho-
de falha do SPDA, há a probabilidade de risco para um número muito maior
res resultados em relação aos gerados pelo simples Modelo Eletrogeomé-
de pessoas em relação à mesma condição de incidência em uma residência.
trico. Por conseguinte, na perspectiva da prática em engenharia, a adoção Este aspecto determina a defmição de níveis diferenciados de proteção, de
do EGM seria preferível. acordo com o tipo de utilização da estrutura. Naturalmente, os cuidados de
projeto devem ser muito mais estritos, nos casos de maior risco. A Tabela 8.5
ilustra a caracterização de diferentes níveis de proteção, segundo a norma bra-
4 - Filosofias de sistemas de proteção sileira, e indica o valor mínimo de -pico da corrente de descarga, para a qual o
sistema de proteção deve assegurar blindagem, em cada caso.
Fundamentalmente existem duas fllosofias distintas de proteção de
estruturas, cada qual implementada por uma diferente técnica de proteção: a Tabela 8.5 -Caracterização dos níveis de proteção segundo a NBR 5419
Proteção através de Captores tipo Franklin e a Proteção por Gaiola de Faradqy.
Nível de Tipo de estrutura Corrente mínima Raio de atração
Os sistemas de proteção constituídos por tais técnicas apresentam os Proteção (exemplos) que o SPDA deve correspondente
mesmos componentes básicos: blindar (kA) (m)

• Captores - consistem em elementos metálicos, que constituem os


I Instalações de risco, como refinarias, J
postos de combustíveis, usinas de 3,7 kA 20
pontos preferenciais de incidência; energia e estações de comunicação

• Condutores de distribuição de corrente - direcionam o fluxo da cor-


II Locais públicos, como escolas,
igrejas, hospitais, teatros, museus,
5
kA 30
bancos e lojas de departamentos '
rente de uma eventual descarga incidente para o solo e incluem os cha-
III Residências, indústrias, fazendas e 1o
mados condutores de descida; estabelecimentos agropecuários em ~ kA
• Aterramento elétrico: eletrodos metálicos enterrados no solo para
madeira
45
-
dispersão da corrente de eventual descarga nesse meio.
IV Fazendas e estabelecimentos ~ 5
agropecuários com menor condição 1 ~5 kA 60
de risco
A diferença principal entre os dois tipos de sistemas reside no princípio de
atuação destes, que determina configurações diferentes para seus componentes.

R== f O Iqt: I '1 A5 .:)


( ( i5)
Princípios de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas • 235
234 • Descargas Atmosféricas

4.1 - Filosofia "Franklin" Ra io de

A Figura 8.8 apresenta uma ilustração de um SPDA tipo Franklin.


\7
Jltí . ~
a ·-.

Haste captora
condutora
. ···... Cl Cl
..··
Condutor
~ -. Cl Cl
1 H
de descida 4 5° ··...

(a) Haste vertical

l~--··_~§~~§~----··~
Haste oblíqua

Cabo estendido
entre dois mastros

Figura 8. 9 -Tipos de captores Franklin

Aterramento
Elétrico Na prática, a zona de proteção pode ser determinada pelo método da
esfera ~rolante . Como indicad o na figura, uma haste determina um volume de
Figura 8.8 -Ilustração da configuração de um SPDA tipo Franklin proteçao de formato cônico, enquanto o cabo captor define uma figura em
A filosofia deste tipo de sistema fundamenta-se na interceptação de formato ~ de .tenda . Com. o t ermma
· 1 o bliquo, consegue-se projetar a zona de
eventuais canais descendentes que se aproximem da estrutura por meio de proteçao adiante da edificação.
canais ascendentes iniciados a partir dos captores do sistema de proteção. Tais cap- d De forma U:ais simy~ficada, a zona <!e prote ão pode também ser
tores são usualmente constituídos por corpos metálicos longos e elevados _ etermmada atraves de um at].~lo
-- de blind--ªgem. Tais....;an"6~-l~OS
r..-, 1 ~ ·- ..l: -- _.]

(hastes, mastros etc.) posicionados nas partes altas da estrutura, de forma a em _E.~as de pro! eção e dependem do nivel de proteção almeJ· ado sendo
prover blindagem para todos os pontos da edificação. Os captores são tanto men
- or quanto mals · estrita
· for a condição de segurança - - Est ~ ,
conectados a condutores que, em caso de incidência, distribuem a corrente pelos aborda em · · · a ~ uma
" g snnplificada, que requer certo conservadorismo na definição o
cabos de descida, os quais direcionam a corrente de descarga para os eletrodos angulo. A Tabela 8.6 ilustra os ângulos indicados na norma brasileira para
do aterramento elétrico do sistema. A ilustração à esquerda na Figura 8.8 mostra estruturas não elevadas. '
os componentes básicos do sistema. Ao lado, é indicada uma variação da
configuração de captores, que denota a possibilidade de se alcançar a mesma Tabela 8.6 - Ângulos de pr o t eçao
- em fu nçao_
- d o ruvel
, de proteção para altura da estrutura não
blindagem promovida pela haste elevada, através de uma configuração com supenor a 20 m
três hastes curtas, esteticamente menos ofensiva. Os captores podem ser tam-
bém constituídos por cabos estendidos na parte superior da estrutura ou Nível de Ângulo
proteção
por hastes oblíquas posicionadas nas extremidades da edificação. A figura
I 25°
8.9 mostra variações da configuração de captores e indica a zona de prote-
II 35°
ção determinada por eles. O formato da ponta do captor não é importante.
III 45°
O que interessa é a posição da sua extremidade. IV 55°
236 • Descargas Atmosféricas Princípios de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas • 237

Usualmente, na adoção da técnica de proteção por captor Franklin,


utiliza-se um número reduzido de descidas, embora seja aconselhável o em-
prego de pelo menos dois condutores de desci~a. Na~ norma~ de proteção,
é comum se recomendar que o número de desctdas seJa supenor a um valor
limite deftnido em função do perímetro da estrutura e do nivel de proteção
almej~do. A Tabela 8.7 indica valores sugeridos na norma brasileira.

Tabela 8. 7 - Espaçamento médio entre condutores de descida

Nível de Espaçamento
proteção (m)
I 10
(a) Prédio delgado (b) Necessidade de proteção lateral
II 15 (estrutura muito elevada )
III 20 Figura 8.1 O- Configurações típicas para aplicação da proteção tipo Franklin
IV 25
No SPDA tipo Franklin, a configuração do sistema de aterramentos pode
Pelas suas características, este tipo de sistema tem aplicação preferen- ser variada, mas é muito usual o emprego da configuração em triângulo, indica-
cial em estruturas altas e delgadas, como prédios com altura bem superior às do na Figura 8.8, conectada a cada condutor de descida. Nela, três hastes verti-
dimensões de sua base. cais (de comprimento da ordem de 2,5 m) são enterradas com suas extremida-
A Figura 8.1 O, em sua ilustração à esquerda, mostra como .a simples des superiores posicionadas a 0,5 m da superfície do solo. Tais extremidades são
colocação de hastes oblíquas nas extremidades da ediftcação é suftctente pa~a conectadas através de condutores nus, que compõem um triângulo de aproxi-
blindá-la de descargas com amplitude de corrente correspondente ao raw madamente 3 m de lado. Outros tipos de configuração são utilizados, sobretudo
de atração indicado. Por outro lado, cabe comentar que, para ediftcações um anel condutor envolvendo a edificação, enterrado a profundidade da ordem
elevadas (superiores a 20 m), a aplicação deste sistema requer s~a de 0,5 m . Este anel é alimentado pelos condutores de descida nas quinas próxi-
mas aos captores posicionados na parte superior da edificação.
complementação para prover a estrutura de um co~~utor de .captaç~o
posicionado em altura intermediária. Isto se faz necessano para e~ta~ o ns-
co de descargas diretas incidirem na lateral da ediftcação. Tal ocorrencta pode 4.2 - Filosofia "Gaiola de Faraday"
acontecer no caso de canais descendentes que se aproxtmam · d o so1o com
trajetória inclinada e que podem vazar a blindagem proporcionada pelos Baseada nas experiências desenvolvidas por Faraday, a ftlosofta de pro-
captores posicionados na parte supenor · d a edifitcaçao,
- como ilustrado na teção, que leva seu nome, fund~menta-se na observação de que ao constituir
mesma ftgura, à direita. No caso de ediftcações muito elevadas, podem ser uma gaiola metálica envolvendo um corpo, este último ftca isento do percur-
necessários vários condutores laterais, espaçados a distâncias da ordem de so de correntes transitórias, observados determinados cuidados com rela-
20 m, com o mesmo propósito. ção à dimensão dos reticulados da gaiola. A filosofia assume a blindagetp. do
corpo envolvido quanto à incidência e ao percurso da corrente de descarga.
Eventuais canais ascendentes, induzidos por nuvem ou por canal descen-
dente que se aproxima do solo na região onde se localiza uma estrutura prote-
gida, naturalmente teriam sua origem nas partes metálicas da gaiola envolvente
Princípios de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas • 239
238 • Descargas Atmosféricas

Tabela 8.8 -Largura máxima do reticulado* da gaiola


aterrada. Também o fluxo da corrente resultante de eventual descarga fluiria
pelos condutores da gaiola e não pelas partes internas da estrutura. Nível de Largura
proteção (m)
A implementação desta filosofia requer a constituição de uma gaiola
I 5
condutora envolvendo toda a estrutura. Assim, usualmente a configuração II 10
possui um condutor perimetral fixado sobre as laterais da superfície s~perior III 10
da estrutura, muitas vezes referido como condutor de equalização de potencial. Tal IV 20
condutor encerra um ou mais reticulados superiores e dele derivam várias ca- * O módulo da malha deve constituir um anel fechado de comprimento não superior ao dobro de
bos de descida (pelo menos nas quinas da estrutura). Cada descida se conecta sua largura

ao anel metálico periférico enterrado no solo, que compõe o aterramento do


Tais limites devem ser observados também nas laterais da edificação.
SPDA. A Figura 8.11 ilustra a configuração típica deste tipo de sistema. Em estruturas elevadas, muitas vezes é necessária a colocação de condutores
horizontais conectando as descidas para configurar reticulados que obede-
Reticulados
superiores çam aos limites de dimensão recomendados.
da gaiola
Por sua vez, a adoção dos cuidados relativos à dimensão do reticulado
dispensa a necessidade de avaliações do tipo adotada no modelo eletrogeo-
métrico (esfera rolante). A proximidade entre os condutores nas laterais dos
reticulados modifica o campo elétrico na região interior, fazendo que este seja
sempre superior nos condutores laterais, desde que a superfície imaginária de-
Reticulados laterais terminada pelo reticulado não seja vazada por partes da estrutura protegida.
da gaiola delimitados
pelos cabos de descida Por conseguinte, os eventuais canais ascendentes induzidos devem partir pre-
ferencialmente dos condutores laterais, determinando a blindagem das partes
interiores do reticulado.
O aterramento característico deste tipo de sistema é constituído por
Anel de aterramento um anel condutor simples (enterrado a aproximadamente 0,5 m de profun-
contornando a edificação
didade), envolvendo toda a estrutura. Opcionalmente, podem ser adiciona-
Figura 8.11 -A proteção por Gaiola de Faraday das hastes verticais ao longo do anel, observando-se espaçamentos entre
estas hastes não inferiores ao seu comprimento, para se minimizar os efeitos
Para que a filosofia seja efetiva, não se admite que qualquer ponto da de resistência mútua (acoplamento resistivo).
estrutura vaze as superfícies imaginárias determinadas pelos reticulados da Algumas vezes, na parte superior da gaiola são posicionados terminais
gaiola. Também são definidas as dimensões máximas dos reticulados que com- curtos (de 10 a 30 em), verticais ou oblíquos, como ilustra a Figura 8.11. Tais
põem a gaiola, de acordo com o nível de proteção almejado. A :rabela 8~! terminais não modificam o desempenho do sistema e são opcionais.
indica dimensões limites sugeridas na norma brasiletta. Esta restnçao obJetl
Outro aspecto sugerido para minimizar o impacto visual de uma es-
assegurar que não haja vazamento da blindagem quanto à incidência.
trutura deste tipo é o emprego de chapas condutoras em substituição aos
tradicionais cabos de formato cilíndrico, particularmente nas laterais da
edificação. Tais barras podem ser muito mais discretas e, algumas vezes, co-
locadas em ranhuras nas paredes projetadas para tal fnn.
Princípios de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas • 241
240 • Descargas Atmosféricas

Particularmente, há uma usual preocupação entre os projetistas com


Nitidamente, este tipo de SPDA tem aplicação preferencial nas estru-
relação à ligação dos condutores superiores do sistema de proteção às ferra-
turas que ocupam áreas extensas e possuem alturas relativamente reduzidas.
gens do concreto armado, nos casos em que o uso das ferragens dos pilares
da edificação não fora previsto propositadamente nas etapas de projeto e de
construção. Estes temem que tal ligação possa promover arcos elétricos nas
5 - Componentes naturais do SPDA
conexões entre as ferragens, capazes de gerar a deterioração do concreto
Em muitas situações, é recomendável a utilização das próprias partes local e, assim, fragilizar a estrutura mecânica da edificação. Este aspecto
metálicas de estruturas a serem protegidas como parte do SPDA, as quais merece um comentário específico.
passam a ser designadas componentes naturais do sistema de p~o!eção, neste caso. Quando ocorre a incidência de uma descarga nos elementos captores
Isto é comum, no caso de edificações em estruturas metalicas ou cobertas do SPDA, potenciais . muito elevados em relação ao solo são desenvolvidos
por telhas m etálicas (observados valores rninim o_s de espessura dessas te- nos componentes metálicos do sistema posicionados na parte superior da
lhas). Tais condições facilitam a construção da ga1ola de Faraday. edificação. Logo, são desenvolvidas elevadas tensões entre tais componen-
Também nas construções de concreto armado, as ferragens das arma- tes e as ferragens das armações do concreto próximas, as quais estão
ções da edificação podem ser utilizadas como condutores de descida do conectadas ao solo pelos aterramentos constituídos pelas ferragens das fun-
sistema de proteção, pois estão conectadas diretamente às ferra~e~s das fun- dações. Tais tensões são tanto mais elevadas quanto mais alta for a edificação.
dacões da estrutura. Usualmente, para as típicas condições brasilettas de alta O concreto seco que envolve as ferragens dos pilares e da laje da edificação
re;istividade do sol~dações, ~_12ossuem ferragens num invólucro tem alto valor de resistividade elétrica, o que, em princípio, assegura valores
de concret~, con~tue~os elétricos de boa qualidade, ~- elevados de impedância entre os cabos aéreos do SPDA e tais ferragens. Por
__..do_§. aterramentos e;~lados. Devido às suas características higroscópic~s (ten- outro lado, mesmo quando não existe conexão elétrica proposital entre as
dência de absorver umidade), o concreto colocado no solo possul valor ferragens, verifica-se um contato elétrico relativamente bom entre estas. As-
reduzido de resistividade (da ordem de 300 a 400 Q.m). Como conseqüên- sim, por ocasião da incidência de uma descarga na edificação, a impedância
cia, na maior parte das vezes, o aterramento constituído pelas ferragens das das conexões é extremamente inferior à existente entre os cabos do SPDA e
fundações tem valor reduzido de resistência, usualmente inferior ao dos ele- as ferragens na parte superior da edificação. Logo, a tensão em relação ao
trodos de comprimento semelhante colocados diretamente no mesmo solo solo acaba sendo aplicada de forma concentrada diretamente ao concreto
(como os cabos do aterramento em anel de um SPDA convencional). que separa tais cabos das ferragens. Por conseguinte, é comum a ocorrência
de rupturas no concreto entre os condutores superiores do SPDA e as ferra-
A norma brasileira admite a substituição dos condutores de descida
gens próximas, o que determina o fluxo de parcela da corrente de descarga
convencionais por condutores naturais da edificação. N este caso, r_ecomen-
pelas ferragens embutidas no concreto em direção ao solo. Desta forma, a
da 0 uso de um cabo de aço ou barra de aço adicional nos pllar~s da
, · · d il e especifica- ocorrência de pequenos arcos nas conexões entre ferragens pode ocorrer
edificação, usualmente posicionad os proXlffio ao e1Xo o P ar . ~ independentemente da existência da ligação proposital do SPDA às ferra-
mente destinados ao fluxo da corrente de descarga. Aparentemente a adiç_ao gens superiores da edificação.
deste elemento condutor ao pilar tem por objetivo concentrar nele a ma1or
arte da parcela da corrente de descarga que desce pelo pilar, poupando ~s
Por outro lado, o número de conexões entre ferragens é elevado- e a
P d d sta pra- resistência de contato entre ferragens nessas conexões é muito baixa. Assim,
ferragens estruturais quanto ao fluxo desta corrente. N a reali a e, e .
· r · li 1 nte lffipul- em caso de incidência, a densidade de corrente nas conexões é muito reduzi-
tica parece pouco efetiva, pois, dev1do ao e1e1to pe cu ar, a corre .
r ·r' · nstltuern os da, usualmente não sendo capaz de causar danos. Experiências práticas con-
siva de descarga tende a fluir pelas terragens per11encas, que co
fttmam tal afirmativa.
condutores estruturais da edificação.
242 • Descargas Atmosféricas
Princípios de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas •
243
Os aspectos comentados nos dois parágrafos anteriores sugerem ser
Haste captora protegendo a parte
adequada a conexão direta dos condutores aéreos do SPDA às ferragens supenor da edificação, inclusive
dos pilares que alcançam a parte superior da estrutura, tanto na ausência antenas (conectada ao anel
condutor nas laterais superiores
quanto na presença dos condutores convencionais de descida. do prédio)
Gaiola de Faraday,
conectada à haste captora
Em edifícios elevados nos quais as descidas naturais não estão expostas, como
(com vac;as desddas) "- ~~=~~~~~~=~
no caso de pilares de concreto armado, sugere-se a colocação de condutores ex-
postos para se evitar a destruição da cobertura de concreto da armação, na ocor-
rência de descargas laterais. Estes condutores devem ser também conectados às Aterramento em anel
ferragens locais para equalização do potencial naquele nível (altura) da edificação. envolvendo a edificação ~om
uma haste junto a cada descida

6 - Sistemas híbridos
Figura 8.12 - Configuração lubrida
Embora ambos os sistemas apresentados no item 4 sejam eficientes
quanto à captação de descargas, a experiência em projetos de SPDA's tem Eventuais descargas que incidiriam na cobertura da estrutura são ca -
mostrado o melhor desempenho do sistema por Gaiola de Faraday. Tal efi- ~das pelas hastes superiores ou pelos condutores superiores da cobertu!
ciência decorre da melhor distribuição da corrente pelos condutores de des- cor~endte de descarga é dirigida para o cabo periférico colocado nas mureta~
cida e do melhor desempenho da configuração do aterramento elétrico em
1aterats a cobertura (c b 0 d li ~
. . d a e equa zaçao), que a distribui pelas descidas
anel, que assegura níveis mais reduzidos de elevação de potencial no solo e postcto~a as pelo menos nas quinas da edificação. As descidas levam a cor-
uma distribuição mais suave destes potenciais[248 , 21 1. rente ate. o at~rrament.o, constituído por anel condutor perimetral enterrado
Por outro lado, tem também indicado que, nas condições de aplicação, na parte mfenor da edi~cação, sendo recomendável a colocação de uma has-
raramente é possível prover uma proteção integral para a estrutura a partir de te de aterram~~to :spectficamente junto a cada descida. Nesta configuração
uma gaiola "pura". A usual presença de corpos elevados colocados na parte suge.re-se a utilizaçao das ferragens da edificação como condutores naturai;
d o ststema de proteçã N ~ .
superior da edificação (como caixas d'água, antenas, dentre outros) dificulta a su . . . o. este caso, a configuraçao terta o anel de equalização
adoção deste tipo de proteção. Muitas vezes, a questão estética também constitui
pe~tor ligado diretamente às ferragens dos pilares da edificação .c .
on d . , que 1unc1-
anam como esctdas adicionais do sistema.
fator limitador de sua aplicação, inclusive no caso de coberturas habitadas.
Como alternativa, em muitas situações, tem sido adotada uma configu-
ração designada híbrida, ilustrada na figura. Esta tenta preservar o melhor 7 - Considerações complementares
aspecto de cada filosofia de proteção. BasÍcamente adota-se a proteção por
Gaiola de Faraday, complementada por um sistema de captação tipo Franklin, .P.ara fmalizar este capítulo, parece oportuno di .
. se a ctonar alguns co-
para proteção específica dos corpos elevados da cobertura da estrutura. Nesta mentartos específicos enriquecedores do tema.
configuração, sempre é colocado um anel condutor envolvendo a periferia
da parte superior da estrutura (laje ou telhado). Os dois sistemas são integra-
~ Existem div~rsos dispositivos especiais, adotados nos sistemas de pro-
t~çao de alguns patses, cuja eficiência não foi ainda consagrada no m ~1· t,
dos de tal forma que os próprios condutores que conectam as hastes Franklin rnc H, , · . e o e c-
, ~· a vanas categortas de dispositivos, cada qual apresentando um pr1., _
ao cabo periférico da cobertura são dispostos de modo a constituir reticulados ctpto d ~ · li~

superiores (Figura 8.12). Esse tipo de configuração pode ser eficiente, sem- ~e atuaçao particular, supostamente capaz de promover uma melhor
proteça_o. Merecem referência os dispositivos referidos como dissi ad
pre que a geometria da edificação sugere e permite sua implementação. que senam d . .b. " . P ores,
capazes e 1lli 1t a ocorrencta dos raios através da neutralização
244 • Descargas Atmosféricas
Princípios de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas •
245
de suas cargas, e os chamados pára-raios ativos, que teriam a capacidade de
tando-se uma boa práti d ~ /
promover uma interceptação mais eficiente de descargas. Até o momento, . . . . ca e proteçao, atraves destes sistemas é possível
reduztt sigruficatlvamente os riscos de danos devido à incid d d
não foram apresentadas evidências experimentais suficientes para compro- t/ . 1\
encia e escar-

var a eficiência desses dispositivos. gas atmos /e~Icas. Neste sentido, cabe ressaltar particularmente a maior difi-
~ulda1e prat:Jca de se promover a proteção de estruturas contra as descargas
Particularmente, tem sido muito discutido o emprego dos designados e ~~ or de corrente mwto reduzido. Tais descargas têm muito maior to-
pára-raios ativos (ESE: Ear!J S..treamer Emission System). Estes são emprega- habilidade de vazar a proteção. Parece contraditório, mas a proteção p!vi-
dos em alguns países, sobretudo na França. Segundo seus fabricantes, testes da por um SPDA é m ·t · fi ·
. w o mrus e ciente para as descargas de amplitude de
laboratoriais em escala reduzida comprovariam a validade do princípio de corrente mais elevada.
atuação dos dispositivos. Estes se utilizariam do próprio campo elétrico ao
nivel do solo, promovido pela nuvem carregada e pelo canal descendente . Este capitulo foi dedicado à apresentação dos aspectos conceituais
que se aproxima da terra, para emitir pulsos elétricos de alta tensão, que mais relevantes dos sistemas de proteção de estruturas contra a incidência
de descargas atmosféricas (SPDA). A abordagem foi d
aumentariam a probabilidade de inicio precoce de um canal ascendente de t ~ ~ concentra a na pro-
descarga a partir de sua extremidade. Assim, tal canal ganharia o processo eçao ex.terna, nao sendo considerados aspectos relativos à proteção inter-
de concorrência (em relação aos canais ascendentes iniciados naturalmente) n.a, que Incluem ações específicas e uso de dispositivos destm· d d
t · 1/ · a os a re u-
para conexão à extremidade do canal descendente e determinaria uma pro- Zir os e eltos e etncos e magnéticos gerados pela corrente de descarga den-
babilidade muito maior de fechamento do canal de descarga para o seu pon- tro do volume protegido. Para considerar particularmente tai·s
b d aspectos,
to de instalação. O dispositivo teria um efeito semelhante a ampliar o raio de em ~orno os etalhes construtivos, de especificação de materiais e di-
atração, determinando uma região de proteção muito mais ampla. De uma mensionamento de componentes de sistemas de proteção, sugere-se a con-
sulta a normas específicas no tema.
forma geral existe certo ceticismo no meio científico e de engenharia de pro-
teção com relação à eficiência desses dispositivos. No Brasil, até 2004, o
emprego destes não era aceito pela norma NBR5419.
O uso de pára-raios radioativos (muito empregados no Brasil em tem-
pos passados) foi proibido, pois a experiência mostrou que os mesmos não
são eficazes na proteção de estruturas. A despeito desta proibição, é ainda
grande o número desses dispositivos instalados no país. Isto se deve à difi-
culdade de controle e de recolhimento destes.
Para concluir este tema, deve ser destacado um aspecto fundamental: a
necessidade de se preservar em perspectiva a natureza aleatória do fenôme-
no descarga atmosférica e de seus parâmetros. Isto implica a necessidade de
se manter sempre uma perspectiva probabilística para a abordagem dos pro-
blemas de proteção de estruturas contra descargas. Embora na maioria dos
casos a definição das práticas de proteção de estruturas seja desenvolvida
segundo procedimentos de natureza deterministica, os resultados da aplica-
ção destas práticas devem ser considerados em termos de probabilidades.
Não é possível se assegurar que um SPDA possa conferir proteção absoluta
à estrutura protegida, às pessoas e aos bens em seu interior. Entretanto, ado-
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