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Archives of Health, Curitiba, v.3, n.2, p.144-150, special edition, mar., 2022.

ISSN 2675-4711

Efeitos terapêuticos da Bupropiona no transtorno de déficit de atenção e


hiperatividade: uma revisão sistemática

Therapeutic effects of Bupropion in attention deficit hyperactivity disorder: a


systematic review

Recebimento dos originais: 31/01/2022


Aceitação para publicação: 28/02/2022

Luísa Akl Urankar


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Henrique Filgueiras Torres


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Thatiana Simão de Oliveira


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Ana Carolina Vargas Pontes


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Yasmin de Paiva Torres


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Danielle Cristina Zimmermann Franco


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RESUMO
O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é um distúrbio que dificulta as relações sociais
do indivíduo e seu meio, se manifestando desde a infância e acompanhando todo o desenvolvimento. Com
o avanço da medicina, várias medicações foram estudadas e utilizadas para o tratamento dessa doença e a
bupropiona se mostrou um bom fármaco, devido ao seu efeito terapêutico e às baixas reações adversas. O
objetivo do presente trabalho foi verificar a eficiência da farmacoterapia com bupropiona no TDAH. A
metodologia utilizada foi a análise de ensaios clínicos controlados e randomizados encontrados nas bases
de dados MedLine e LILACS, com o uso dos descritores “attention deficit disorder with hiperactivity”,
“bupropion” e “therapeutic effects”. Os resultados demonstraram eficácia do fármaco sobre o distúrbio,

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sem graves adversidades. A conclusão evidenciou que a bupropiona pode ser utilizada como tratamento
alternativo ao TDAH, porém mais estudos são necessários para melhor embasamento científico.

Palavras-chave: transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, bupropiona, efeitos terapêuticos.

ABSTRACT
The attention deficit hyperactivity disorder (ADHD) is a disorder that hinders the individual's social
relationships and his environment, manifesting since childhood and accompanying the entire development.
With the advance of medicine, several medications have been studied and used for the treatment of this
disorder, and bupropion has proven to be a good drug due to its therapeutic effect and low adverse reactions.
The objective of the present study was to verify the efficiency of pharmacotherapy with bupropion in
ADHD. The methodology used was the analysis of controlled and randomized clinical trials found in
MedLine and LILACS databases, using the keywords "attention deficit disorder with hyperactivity",
"bupropion" and "therapeutic effects". The results showed the efficacy of the drug on the disorder, without
serious adverse effects. The conclusion showed that bupropion can be used as an alternative treatment for
ADHD, but more studies are needed for better scientific support.

Keywords: attention deficit hyperactivity disorder, bupropion, therapeutic effects.

1 INTRODUÇÃO
O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é um distúrbio neuropsiquiátrico e
comportamental dentre os mais comuns na infância, que pode perpetuar pela adolescência até a idade adulta.
Nesse âmbito, o TDAH apresenta, como sintomas principais, a desatenção, que é marcada pela dificuldade
de organizar e de completar tarefas e, além disso, a fácil distração, a hiperatividade e a impulsividade,
evidenciadas pelo possível agito das mãos e dos pés e pela fala excessiva, conjunto de fatores que provocam
prejuízo acadêmico, ocupacional e social (HAMEDI et al., 2014; POSNER; POLANCZYK; SONUGA-
BARKE, 2020).
Desse modo, o tratamento farmacológico desse distúrbio é focado no uso de medicações
estimulantes, também chamadas de psicoestimulantes, e de não estimulantes. Nesse aspecto, os fármacos
estimulantes são os mais utilizados para atenuar os sintomas do TDAH e consistem em metilfenidato ou
em anfetamina, que possuem mecanismos de ação semelhantes, uma vez que ambos bloqueiam os
transportadores pré-sinápticos de dopamina e de norepinefrina, o que auxilia na inibição da recaptação
dessas catecolaminas e, além disso, a anfetamina é responsável pelo aumento do efluxo pré-sináptico de
dopamina intracelular (POSNER; POLANCZYK; SONUGA-BARKE, 2020).
No entanto, hoje sabe-se que aproximadamente 30% dos pacientes que apresentam o TDAH não
respondem à farmacoterapia com o uso dos estimulantes ou não toleram os efeitos colaterais que eles podem
proporcionar, como insônia, perda de apetite, boca seca, e náuseas. Dessa forma, a importância do uso dos
fármacos não estimulantes foi reconhecida, o que fez com que os estudos acerca desses medicamentos

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crescessem. Assim, foram descritas como alternativas para o uso dos estimulantes, a atomoxetina, o inibidor
do transportador de norepinefrina, a guanfacina, a clonidina, e os agonistas alfa-2 (MORTEZA et al., 2012;
POSNER; POLANCZYK; SONUGA-BARKE, 2020).
Nesse cenário de tentativas de descobrimento de alternativas em relação ao uso das medicações
estimulantes, também foram realizadas pesquisas sobre a ação de antidepressivos nos indivíduos com
TDAH e, dentre eles, foi analisado o uso de uma aminocetona, a bupropiona, que primeiramente era
utilizada para o tratamento da depressão e do tabagismo, mas que demonstrou eficácia também para o
tratamento dos sintomas do TDAH, além de não provocar tantos efeitos adversos como o metilfenidato e a
anfetamina. Dessa maneira, a bupropiona é um fármaco inibidor da recaptação de dopamina e norepinefrina,
promovendo um efeito dopaminérgico e noradrenérgico indireto, que é alvo de estudos para o tratamento
do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (NG, 2016; WILENS et al., 2001; WILENS et al.,
2005).
Logo, o objetivo do presente trabalho foi investigar, através de uma revisão sistemática, o efeito
terapêutico da bupropiona no TDAH.

2 METODOLOGIA
Foram analisados ensaios clínicos controlados e randomizados publicados originalmente em inglês,
dos últimos dez anos, em humanos, tendo como referência a base de dados National Library of Medicine
(MedLine) e a base indexadora Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS).
A busca pelos termos e descritores utilizados foi efetuada mediante consulta ao Medical Subject Headings
(MeSH), através do portal da U.S. National Library of Medicine (NLM) e os descritores utilizados foram:
“attention deficit disorder with hyperactivity”, “bupropion” e “therapeutic effects”. Foram incluídos
estudos que envolveram adultos, crianças e adolescentes com TDAH de ambos os sexos, abordando um
total de 288 indivíduos submetidos a doses diárias de bupropiona ao longo de 6 a 8 semanas. A escala
PRISMA foi utilizada no intuito de melhorar o relato desta revisão. (LIBERATI et al., 2009).
Inicialmente, foram encontrados 140 estudos e, após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão,
dois artigos foram selecionados. Posteriormente, foi realizada uma busca continuada em artigos de revisão,
tendo sido selecionados outros dois estudos, totalizando quatro artigos como parte do escopo e análise final,
conforme a Figura 1. Os quatro estudos revelaram melhora significativa (p<0,05) nos sintomas dos grupos
tratados com bupropiona quando comparados àqueles que receberam placebo.

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Figura 1 - Fluxograma dos estudos incluídos na revisão sistemática

Fonte: autoria própria

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em um estudo duplo-cego publicado em fevereiro de 2001, comparando 40 pacientes, dentre eles
18 mulheres e 22 homens, que receberam bupropiona em doses de até 200mg e pacientes em placebo,
analisados por 6 semanas, foi constatada uma redução de 42% nos sintomas de TDAH nos indivíduos em
uso da medicação, excedendo os efeitos do placebo, que demonstraram uma redução dos sintomas em 24%.
Em análises usando escores da escala de Impressão Clínica Global, 52% dos indivíduos tratados com
bupropiona declararam ter melhorado ou melhorado muito em comparação com 11% dos indivíduos que
receberam o placebo (WILENS et al., 2001). Portanto, ficou claro que houve uma melhora significativa dos
sintomas de TDAH em adultos tratados com bupropiona em relação aos indivíduos sem o uso da medicação.
Além disso, em outra análise, por um estudo randomizado controlado por placebo em 2005, com
162 participantes de ambos os sexos, de forma prospectiva por 8 semanas, foi analisado o uso de bupropiona
XL em doses de até 450mg/dia, utilizando como endpoint primário de eficácia a proporção de
respondedores ao TDAH, definido como uma redução de pelo menos 30% na pontuação da Escala
de Avaliação do TDAH avaliada pelo investigador, na semana 8, na qual foi feita a última observação. Os
respondedores à bupropiona XL foram 53%, enquanto os respondedores ao placebo foram 31%. A
medicação foi segura e bem tolerada, sem efeitos adversos graves e com baixa taxa de descontinuação do
estudo relacionado ao medicamento, que foi de 5% (WILENS et al., 2005). Diante disso, foi demonstrado
que a bupropiona é eficaz no tratamento do TDAH, além de apresentar uma tolerância adequada, sendo,
portanto, um bom fármaco para o tratamento.
Em um estudo duplo-cego randomizado do ano de 2012, por 6 semanas, 44 crianças com
diagnóstico de TDAH foram designadas aleatoriamente para receber bupropiona 100-150mg/dia ou
metilfenidato 20-30mg/dia, com seus sintomas avaliados pela Escala de Avaliação do Transtorno de Déficit
de Atenção/Hiperatividade do Professor e dos Pais no início dos estudos e nas semanas 3 e 6, mas apenas
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38 pacientes completaram o estudo. Não houve diferença significativa entre os dois grupos nas pontuações
de Pais e Professores. Na semana 6, 90% de cada grupo obtiveram resposta na escala de pais. Em relação
ao professor, 40% do grupo tratado com bupropiona e 60% do grupo de metilfenidato obtiveram resposta
na semana 6. Além disso, foi observada com mais frequência dor de cabeça no grupo metilfenidato, e outros
efeitos colaterais não obtiveram diferenças significativas. Portanto, ambas medicações têm um perfil de
segurança e eficácia comparáveis para o uso em crianças e adolescentes com TDAH, sendo a bupropiona
uma alternativa ao uso de metilfenidato, já que foi demonstrado que essa medicação estimulante apresentou
maior prevalência de dor de cabeça pelo grupo em estudo (MORTEZA et al., 2012).
Em um ensaio clínico duplo-cego randomizado realizado no ano de 2014, 42 pessoas foram
divididas em dois grupos de 21 pessoas, no qual, o grupo 1 utilizou bupropiona e o grupo 2 placebo, não
foram encontradas diferenças significativas entre homens e mulheres de ambos os grupos, na pontuação
média da triagem de autorrelato do Conners’ Adult ADHD Rating Scales (CAARS) entre os dois grupos
na semana 0 (linha de base), no efeito colateral das duas estratégias de tratamento e na média da pontuação
CAARS da terceira semana. Na sexta semana, a diferença na média da pontuação CAARS foi significativa.
Por conseguinte, foi encontrado uma diferença significativa entre os escores CAARS médios de acordo
com a ANOVA de medida repetida. E ao longo de 6 semanas de tratamento, o grupo da bupropiona
expressou melhora significativa com tendência linear. E, por fim, vinte e dois efeitos colaterais foram
encontrados (HAMEDI et al., 2014).
Neste estudo, ficou claro que para diminuir os sintomas de TDAH em adultos, a bupropiona foi
mais eficaz do que o placebo. Como mostrado acima, houve diferenças significativas na sexta semana de
tratamento e não significativas na terceira. Então, o medicamento bupropiona pode ser sugerido como uma
droga alternativa para o tratamento do TDAH nos adultos. Os resultados deste estudo mostraram que a
eficácia do medicamento não parece ocorrer antes da terceira semana (HAMEDI et al., 2014).
No mesmo estudo, a dose média de bupropiona utilizada foi de 150mg/dia. Não foi possível o
aumento da dose do medicamento devido aos efeitos colaterais, a droga não foi bem tolerada por alguns
pacientes e com isso esses casos foram abandonados. O CYP-2B6 metaboliza a bupropiona e já foi
demonstrado que 7,1% das mulheres e 20% dos homens são metabolizadores fracos do CYP-2B6. A
bupropiona é metabolizada pela enzima CYP-2B6 em Hidroxibupropiona que pode auxiliar a atividade
farmacológica da bupropiona. A proporção metabólica da bupropiona parece encontrar diferenças
conhecidas na atividade do CYP-2B6 ligada à diferença genética em diferentes grupos étnicos. Por esse
motivo, a intolerância ao medicamento neste estudo em comparação a outros estudos pode ser devido a sua
etnia, visto que o estudo foi realizado em iranianos. (HAMEDI et al., 2014).

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Embora o estudo de Hamedi et al. (2014) tenha elucidado pontos importantes acerca do tratamento
da TDAH com bupropiona, é importante considerar algumas limitações dele, como a escala de classificação
menos poderosa para aferir as manifestações do TDAH e o tamanho da amostra reduzido. Esse estudo não
determinou domínios do TDAH, como hiperatividade, desatenção e impulsividade. Por fim, a bupropiona
se mostrou mais eficaz do que o placebo no tratamento de TDAH em adultos. Dessa forma, a bupropiona
pode ser uma droga alternativa para o tratamento de TDAH em adultos, visto que sua eficácia clínica foi
comprovada também por outros estudos.

4 CONCLUSÕES
A bupropiona melhora significativamente os sintomas de TDAH quando comparada com o placebo,
além disso foi bem tolerada, sem ocorrência de efeitos adversos graves, podendo ser vista como tratamento
alternativo para o TDAH. Entretanto, estudos de maior duração, maior tamanho amostral e rigidez
metodológica se fazem necessários.

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REFERÊNCIAS
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Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder: a Randomized, Double-blind Study. Acta Medica Iranica, v.52,
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MORTEZA, Jafarinia; MOHAMMADI, Mohammad-Reza; MODABBERNIA, Amirhossein, et al.
Bupropion versus methylphenidate in the treatment of children with attention-deficit/hyperactivity
disorder: randomized double-blind study. Hum. Psychopharmacol Clin Exp, v. 27, p. 411-418, 2012.
NG, Qin Xiang. A Systematic Review of the Use of Bupropion for Attention-Deficit/Hyperactivity
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POSNER, Jonathan, POLANCZYK, Guilherme V, SONUGA-BARKE, Edmund. Attention-deficit
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WILENS, Timothy; SPENCER, Thomas; BIEDERMAN, Joseph, et al. A Controlled Clinical Trial of
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WILENS, Timothy; HAIGHT, Barbara; HORRIGAN, Joseph, et al. Bupropion XL in Adults with
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Biological Psychiatry, v. 57, p. 793-801, 2005.

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