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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS


Curso de Graduação em Farmácia-Bioquímica

TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE.

PANORAMA GERAL E AVALIAÇÃO DE TRATAMENTOS NÃO

FARMACOLÓGICOS

Davi Arimatéa Silva

Trabalho de Conclusão do Curso


de Farmácia-Bioquímica da
Faculdade de Ciências
Farmacêuticas da Universidade
de São Paulo.

Orientadora:
Profa. Dra. Dominique C H Fischer

São Paulo
2020
SUMÁRIO
Lista de Abreviaturas

RESUMO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 1

2 OBJETIVOS ..................................................................................................................... 2

3 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................................ 2

4 RESULTADOS ................................................................................................................. 3

4.1 O TDAH .................................................................................................................... 3

4.2 Farmacoterapia do TDAH .................................................................................... 5

4.2.1 Metilfenidato .................................................................................................. 5

4.2.2 Anfetaminas ................................................................................................... 6

4.2.3 Atomoxetina ................................................................................................... 7

4.3 Tratamento não farmacológico do TDAH .............................................................. 7

4.3.1 Tratamento do TDAH baseado na Atenção plena ............................................ 7

4.3.2 Tratamento do TDAH baseado em Exercícios físicos ..................................... 8

4.3.3 Ensaios clínicos com abordagens não farmacológicas do TDAH .................. 9

4.4 Análise da Pesquisa Bibliográfica realizada ........................................................ 13

4.4.1 Publicações sobre TDAH.................................................................................13

4.4.2 Publicações sobre Atenção plena em TDAH.................................................15

4.4.3 Publicações sobre Exercício físico em TDAH ............................................. 17

5 DISCUSSÃO .................................................................................................................... 19

5.1 Avaliação dos Tratamentos não farmacológicos do TDAH.........................20

5.2 Estado da arte das pesquisas científicas sobre o tema abordado ............... 23

6 CONCLUSÕES ................................................................................................................ 24

7 BIBLIOGRAFIA.................................................................................................................. 24
LISTA DE ABREVIATURAS

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

IBAP Intervenções Baseadas em Atenção Plena

REBAP Redução de Estresse Baseado em Atenção Plena

TDAH Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade


RESUMO
SILVA D. Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Panorama geral e
avaliação de tratamentos não farmacológicos. 2020. 33 f. Trabalho de Conclusão
de Curso de Farmácia-Bioquímica – Faculdade de Ciências Farmacêuticas –
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2020.

Palavras-chave: Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, TDAH, tratamento


não farmacológico, panorama geral

INTRODUÇÃO: O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é um dos


distúrbios mais comuns do neurodesenvolvimento da infância. O distúrbio é definido
por níveis prejudiciais de desatenção, desorganização e/ou hiperatividade-
impulsividade Não há cura para o TDAH. Na sua terapêutica, são empregados
tratamentos farmacológicos e não farmacológicos, que permitem o manejo dos
sintomas. Os primeiros levam a reações indesejáveis, o que motivou o presente
trabalho. OBJETIVO: Realizar a revisão da literatura científica sobre o TDHA,
considerando os diferentes aspectos envolvidos, traçando panorama geral e analisar
as terapias não farmacológicas mais relevantes, avaliando o uso alternativo/
complementar aos fármacos de uso convencional. MATERIAIS E MÉTODOS:
Efetuou-se pesquisa bibliográfica, nas seguintes bases de dados: Sci Finder®, Web
of Science®, PubMed®, Google Scholar® e Scielo®. RESULTADOS: A maioria dos
pacientes além de apresentar as sintomatologias de desatenção, hiperatividade e
impulsividade, também possuem alterações importantes nas funções executivas,
como: flexibilidade cognitiva, inibição, autocontrole, auto regulação, memória,
capacidade de resolução de problemas, racionalidade e planejamento. Os
medicamentos estimulantes consistem na primeira linha de tratamento para TDAH e
metilfenidato é o fármaco mais comumente prescrito. Entre as abordagens
psicossociais para a terapia do transtorno, há as denominadas intervenções
baseadas na atenção plena (IBAP), que enfatizam uma atitude observadora e não
reativa, frente aos pensamentos e emoções. Exercícios cardiovasculares foram
melhor relacionados a efeitos duradouros para cognição, em crianças e jovens com
TDAH. CONCLUSÃO: Ainda não é possível substituir completamente o tratamento
farmacológico convencional do TDAH. Contudo, as IBAP, em pacientes adultos,
podem ser terapias adjuvantes benéficas, além dos exercícios físicos
cardiovasculares de rotina, podendo melhorar os efeitos cognitivos afetados pelo
TDAH, principalmente, durante o desenvolvimento de crianças e adolescentes.
1

1 INTRODUÇÃO

O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é um dos distúrbios


do neurodesenvolvimento mais comuns desenvolvidos na infância e os sintomas
podem persistir na adolescência e na idade adulta. O distúrbio é definido por níveis
prejudiciais de desatenção, desorganização e/ou hiperatividade-impulsividade, sendo
possível caracterizar três classes distintas deste transtorno. Em um deles, a
hiperatividade e o déficit de atenção se manifestam de maneira equilibrada, podendo
ocorrer outros, em que há prevalência da desatenção ou da hiperatividade (APA,
2014).
Embora seja um dos transtornos psiquiátricos mais estudados, ainda não se
conhecem as causas exatas, que levam ao desenvolvimento da doença. Os fatores
de risco para a maior incidência do TDAH, estão relacionados a: genética, formação
cerebral, prematuridade, dieta e ambiente familiar (TARVER et al, 2014).
Em 2016, nos Estados Unidos, cinco e quatro décimos de milhões de crianças e
jovens, entre dois e dezessete anos, apresentaram o transtorno, representando
cerca de oito e quatro décimos por cento da população infanto-juvenil do país. Um
número ainda maior de indivíduos, seis e um décimo de milhões de crianças, pelo
menos, em algum momento da vida, foram diagnosticadas com o TDAH, com o
auxílio dos relatos de seus pais (DANIELSON et al., 2018).
As estatísticas populacionais mundiais mostram que a ocorrência do TDAH dá-
se à proporção de cinco por cento em crianças e dois e cinco décimos por cento em
adultos (APA, 2014). Estes dados referem-se, somente, aos casos diagnosticados.
Entretanto, estima-se que a prevalência seja de onze e três décimos por cento. Esta
proporção pode ser ainda maior (25,8 %), entre crianças de três a seis anos de idade
(HORA et al., 2015).
O indivíduo acometido pelo transtorno tem dificuldades em manter a atenção
em tarefas que requerem grande autorregulação ou persistência direcionada. Tal
problema não é de processamento de informação, mas, sim, de haver incapacidade
de inibição e controle dos estímulos internos e externos, que interferem nas funções
relacionadas à persistência autorregulada. Além disto, em pessoas com TDAH
ocorre a hiperatividade e a dificuldade de controle dos impulsos. Estas
2

manifestações, geralmente, diminuem na fase adulta, mas a distração e os


comportamentos impulsivos podem permanecer. Embora, nem todos os casos de
TDAH persistam na vida adulta, calcula-se que, em cerca de sessenta e cinco por
cento dos casos, as pessoas continuam apresentando dificuldades decorrentes da
sintomatologia persistente (CAIRNCROSS, MILLER, 2016).
Até o momento, não há cura para o TDAH, porém são empregados tratamentos
farmacológicos e não farmacológicos que permitem o manejo dos sintomas. O
tratamento farmacológico de primeira linha consiste no uso de medicamentos
estimulantes, como o metilfenidato e as anfetaminas, como a lisdexanfetamina
(AUSTERMAN, 2015). Tais fármacos atuam aumentando os níveis de noradrenalina
e de dopamina por meio de inibição da recaptação destes neurotransmissores
(WONG, ZAMAN, 2019).
O tratamento do TDAH é realizado com auxílio de terapêutica farmacológica e
não farmacológica. No caso da primeira, verificou-se a ocorrência de vários efeitos
indesejáveis, após a administração dos medicamentos usados (NOVARTIS, 2020,
SHIRE, 2020). Tais problemas despertaram o interesse pela pesquisa e
aprofundamento acerca de terapias não farmacológicas de forma a reduzir ou acabar
com estes problemas e desconfortos, tendo motivado o presente trabalho.

2 OBJETIVOS

O presente trabalho teve por objetivos realizar revisão da literatura científica,


acerca do Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), abordando os
diversos aspectos envolvidos e traçar um panorama geral, bem como analisar as
formas terapêuticas não farmacológicas e avaliando o seu potencial no tratamento
dos pacientes, de modo complementar e/ ou alternativo aos fármacos de uso
convencional.

3 MATERIAIS E MÉTODOS

A revisão bibliográfica foi realizada com base na pesquisa às seguintes bases


científicas de dados: Sci Finder®, Web of Science®, PubMed®, Scholar Google® e
Scielo®, para a busca dos resumos de artigos que compuseram o trabalho. As
3

palavras mais empregadas na pesquisa, de forma isolada ou combinada, foram:


“transtorno de déficit de atenção e hiperatividade”, “TDAH”, “terapia não
medicamentosa”, “terapia não farmacológica”, “terapia mindfulness”, “terapia
cognitivo-comportamental”, “atividade física” e “exercício físico”.

Os resumos selecionados, para compor o trabalho, foram aqueles diretamente


relacionados ao tema tratado, tendo sido considerados, somente aqueles redigidos
em português e inglês e publicados no período de 2007 a maio de 2020.
Posteriormente, os artigos foram lidos na íntegra e separados, por subtemas, para
constituir os itens do trabalho, facilitando a redação do texto.

De forma complementar, foram realizadas consultas a sítios de Órgãos oficiais


de Saúde, para obter dados estatísticos pertinentes, entre outros.

Os artigos considerados na análise das formas de terapia não medicamentosa


relacionadas aos ensaios clínicos, foram selecionados, por sua vez, com base no
Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (APA, 2014), para
categorizar cada terapia mencionada no trabalho, nas medidas válidas de aferição de
sintomatologia doTDAH ou de algum nível de função executiva que seja afetada pelo
TDAH, ao menos, uma vez, durante ou após a intervenção terapêutica.

Após a aplicação dos critérios, inicialmente,propostos (item 3), com base no


título e no resumo dos trabalhos, para adequação ao tema e objetivo propostos,
foram obtidos oitenta e um trabalhos sobre TDAH. Após aplicar os critérios,
posteriormente, propostos e acima mencionados, foram selecionados dez artigos,
entre ensaios clínicos e meta-análises, que foram analisados neste trabalho.

4 RESULTADOS

4.1 O TDAH

O Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade é uma condição de


desenvolvimento neurológico caracterizada por sintomas de desatenção,
hiperatividade e impulsividade. Este quadro é agravado pela presença de
4

comorbidades, que ocorrem em cerca de cinquenta a setenta e cinco por cento dos
casos, relacionadas à ansiedade, depressão ou abuso de substâncias. Transtornos
de neurodesenvolvimento envolvem condições crônicas físicas e/ ou mentais que
emergem antes da idade adulta (LOPEZ et al, 2018).

A maioria dos pacientes, além de apresentar sintomatologias de desatenção,


hiperatividade e impulsividade, também possuem alterações importantes nas
seguintes funções executivas: flexibilidade cognitiva, inibição, autocontrole, auto
regulação, memória, capacidade de resolução de problemas, racionalidade e
planejamento (BARKLEY, 2015; POISSANT et al., 2019). O conceito de funções
executivas consiste no produto de operações coordenadas de vários processos que
são naturais ao desenvolvimento humano. Esses vários processos cerebrais
trabalham de uma maneira flexível para atingir um objetivo específico que seria a
realização de qualquer atividade (SHUAI et al., 2017).

Indivíduos com TDAH perdem o foco principal, o objetivo principal relacionado a


atividades e apresentando comportamentos como: menor persistência para as
tarefas; aumento de vulnerabilidade à distração; dificuldade de lidar com mudança de
regras durante as atividades e menor capacidade no controle da atenção, em
atividades simultâneas (BAIJAL, GUPTA, 2008).

Apesar da prevalência da TDAH ser variável entre os países, um estudo de


meta-análise estimou a média mundial como sendo de cerca de cinco e três décimos
por cento da população, apesar de ter sido observada grande heterogeneidade em
vários dos estudos. Essa avaliação considerou que o aumento do número de casos,
ao longo do tempo, conforme reportaram algumas das pesquisas, não reflete,
exatamente, a maior prevalência da doença em si, mas, sim, o aumento do número
de diagnósticos, nas últimas três décadas. O que reflete a maior conscientização
para o problema e a padronização de estudos e práticas clínicas referentes ao
tratamento do TDAH (POLANCZYK et al., 2014).
5

4.2 Farmacoterapia do TDAH

Atualmente, a Farmacoterapia empregada no TDHA, inclui as classes dos


psicoestimulantes e dos não estimulantes, que atuam no sistema noradrenérgico. Na
primeira, citam-se o metilfenidato e as anfetaminas, enquanto, na segunda,
enquadra-se a atomoxetina (CORTESE, COGHILL, 2018) (Figura 1).

metilfenidato lisdexanfetamina atomoxetina

Figura 1 – Estruturas químicas dos principais fármacos empregados no tratamento


convencional do TDAH

Os estimulantes representam a primeira linha de tratamento do TDAH, sendo o


metilfenidato o fármaco mais comumente prescrito.

4.2.1 Metilfenidato

O fármaco metilfenidato é administrado na forma de cloridrato e seu mecanismo


de ação ainda não está completamente elucidado. Sabe-se que ele age como
inibidor de recaptura de dopamina e norepinefrina, aumentando a presença destes
neurotransmissores no espaço extra neuronal. Há relação de dose-resposta, sendo
que altas doses aumentam o fluxo de neurotransmissores de maneira que
prejudicam a cognição e a ativação locomotora. No entanto, em menores dosagens,
percebeu-se maior ativação da região do cérebro chamada córtex pré-frontal, o qual
se acredita estar relacionado à Patofisiologia do TDAH, embora, ainda não se tenha
constatado as causas do transtorno (BRENNAN et al., 2008).

Em comparação com as anfetaminas, o metilfenidato possui menor taxa de


liberação e de absorção, sendo menos provável que leve à dependência, entretanto,
6

demonstra, ainda, alto risco de abuso. Adicionalmente, o fármaco causa o aumento


da concentração de dopamina no cérebro, somente, quando o neurotransmissor está
sendo ativamente liberado, ou seja, durante as atividades cognitivas complexas
(SHARMA, COUTURE, 2014).

No entanto, o uso de metilfenidato leva comumente a reações adversas, tais


como: diminuição do apetite, nervosismo, insônia, náusea, secura na boca, dor de
garganta e coriza (NOVARTIS, 2020).

4.2.2 Anfetaminas

Há medicamentos que contêm sais de anfetamina ou o pró-fármaco


lidexanfetamina. Possuem estruturas semelhantes às catecolaminas e agem nos
terminais nervosos pré-sinápticos, onde são transportados por recaptadores de
monoaminas. Ao competir com as monoaminas endógenas, as anfetaminas
funcionam como inibidores da recaptura de noradrenalina e, mais fracamente, da
dopamina, aumentando a concentração cerebral destes neurotransmissores
(DRUGBANK, 2020).

anfetamina lisdexanfetamina

Figura 2 – Estruturas químicas da anfetamina e da lisdexamfetamina

Medicamentos contendo lisdexanfetamina apresentam maior risco de abuso


que o metilfenidato, mas por ele ter absorção mais lenta, reduz, ligeiramente, a
dependência provinda da euforia característica de pacientes que fazem uso de
anfetaminas (SHARMA, COUTURE, 2014).
A lisdexanfetamina, pró-fármaco comercializado em alguns países, produz
algumas reações adversas como redução do apetite, problemas de insônia, dor de
cabeça, perda de peso, boca seca, agitação e dor abdominal (SHIRE, 2020).
7

4.2.3 Atomoxetina

O cloridrato de atomoxetina não é um estimulante, apesar de aumentar a


biodisponibilidade da dopamina e da norepinefrina, nas sinapses do córtex pré-
frontal. A diferença em relação aos outros psicoestimulantes mencionados, é que
não é observado o efeito do fármaco na parte do cérebro chamada corpo estriado,
possuindo um perfil de ação mais lento, levando de quatro a seis semanas para
manifestar o efeito completo. (SHARMA, COUTURE, 2014).

A atomoxetina é um potente inibidor seletivo do transportador de norepinefrina,


evitando a recaptura celular deste neurotransmissor. Acredita-se que esse fator leva
a uma melhoria nos sintomas de TDAH (HUTCHINSON et al., 2016).
Tendo em vista o mecanismo de ação da atomoxetina, o risco de abuso é,
consideravelmente, menor em comparação aos medicamentos estimulantes, sendo
alternativa, possivelmente utilizada, em pacientes com histórico de dependência
química (SHARMA, COUTURE, 2014).

Os efeitos adversos relatados com o uso da atomoxetina foram: insônia,


constipação, perda de apetite e baixa produção de saliva (DRUGS, 2020).

4.3 Tratamento não farmacológico do TDAH

Nas últimas duas décadas vêm sendo investigada a eficácia de terapias não
farmacológicas para aplicação em pacientes com TDAH. Tal forma de tratamento
envolve a realização de treinamentos de suas habilidades cognitivas e
comportamentais para lidar com os sintomas (CAIRNCROSS, MILLER, 2016).

4.3.1 Tratamento do TDAH baseado na Atenção plena

Nas abordagens psicossociais para a terapêutica do transtorno (TDHA), há as


denominadas “Intervenções baseadas na Atenção plena” (IBAP), fundamentadas na
atitude observadora, e não reativa, frente aos pensamentos, emoções e do estado
corpóreo da pessoa (ZYLOWSKA et al., 2008).
8

Em 1990, foi apresentada a primeira terapia baseada no uso da Atenção plena,


a partir da Medicina Tradicional. O programa foi denominado: “Redução de estresse
baseado em Atenção plena” (REBAP). No início, teve por objetivo tratar pacientes
com dor crônica, mas passou a ser usado em problemas clínicos e subclínicos, até
para a melhoria de qualidade de vida de pacientes em tratamento de câncer. Outras
formas terapêuticas foram desenvolvidas, a partir dela, como as terapias cognitiva,
do comportamento dialético, da aceitação e compromisso, que foram sendo
aplicadas, aos mais diversos distúrbios psicológicos, como na ansiedade, na
depressão, na personalidade limítrofe, entre outros. Contudo, independente do
protocolo específico utilizado, o foco principal de cada uma destas terapias é ensinar
os pacientes a tornarem-se mais conscientes, aceitando-se e ficando mais atentos.
(CAIRNCROSS, MILLER, 2016).

As práticas de meditação e da Terapia da atenção plena abrangem o processo


de funcionamento executivo, como mecanismo potencial de regulação da atenção do
indivíduo. O funcionamento executivo compreende uma série de processos cerebrais
que se dão, principalmente, no córtex pré-frontal e permite desenvolver habilidades
essenciais, tais como: o planejamento, o raciocínio flexível, a atenção concentrada, a
lógica e a inibição comportamental.

A prática da atenção plena auxilia nas funções executivas cerebrais e abrange,


também, a conscientização do corpo, a regulação das emoções e a mudança de
perspectiva de si mesmo (HOLZEL et al., 2011).

Estudos examinaram os efeitos da terapia por meio das intervenções baseadas


em Atenção plena (IBAP), nos sintomas do TDAH, e demonstraram ser efetiva,
quando realizada em conjunto ao tratamento convencional medicamentoso
(JANSSEN et al., 2019).

4.3.2 Tratamento do TDAH baseado em Exercícios físicos

A atividade física regular ativa a cadeia fisiológica, que leva ao bem estar físico
e psicológico (HILLMAN et al., 2008). Os efeitos benéficos são observados em
pessoas saudáveis e podem incluir a redução do estresse, da ansiedade, da
9

depressão, além de trazer efeitos positivos na cognição, bem como a melhoria nas
funções executivas e na memória (CERRILLO-URBINA et al., 2015).

Os efeitos neurofisiológicos dos exercícios físicos incluem o aumento da


excitação do sistema nervoso central, associado à elevada liberação de
neurotransmissores como dopamina, epinefrina, norepinefrina e serotonina.
(MEHREN et al., 2020).

Na pesquisa de MAHON e colaboradores (2018), crianças e jovens com TDAH


foram submetidos à atividade física aeróbica em bicicleta ergométrica. Todos os
participantes eram pacientes diagnosticados com TDAH e faziam uso de alguma
terapia medicamentosa, seja de metilfenidato ou anfetamina. No estudo, metade dos
participantes realizou exercícios após o uso rotineiro do medicamento pela manhã e
a outra metade estava em abstinência da medicação. Nos pacientes que mantiveram
o tratamento ocorreu um melhor desempenho médio em termos de medida de
captação de oxigênio e dos batimentos cardíacos, durante o pico máximo do
exercício. Naqueles que interromperam o tratamento, verificou-se decréscimo
significante destes valores, apenas das medições, durante o pico máximo do esforço
nos exercícios.

4.3.3 Ensaios clínicos com abordagens não farmacológicas do TDAH

De forma a avaliar as abordagens não medicamentosas do TDAH, por meio das


terapias baseadas em Atenção plena e em exercícios físicos, foram selecionados
sete e quatro ensaios clínicos, respectivamente, empregando-as. O resumo destes
ensaios foi disposto na Tabela 1.
Tabela 1 - Ensaios clínicos da abordagem do TDHA por terapias não medicamentosas baseadas em Atenção
plena e em Exercícios físicos
Terapia baseada em Atenção plena
Ano de Intervenção realizada Duração da
Autor Grupo (n) no grupo com TDAH intervenção
Resultados
publicação
BAIJAL, S., et 2008 Estudos levantados pelos Terapia baseada em Sem Pacientes diagnosticados com
al. autores sobre os benefícios atenção plena especificação TDAH poderiam se beneficiar com a
observados nos praticantes de prática meditativa no âmbito da
meditação (n = não atenção e no controle do
especificado) processamento executivo
BEHBAHANI, 2018 Crianças diagnosticadas com Treinamento parental em 8 sessões (1 Treinamento parental em atenção
M., et al. TDAH e em uso de terapia atenção plena sessão plena foi eficaz na redução do stress
semanal de 90 dos pais e na redução dos sintomas
minutos cada) do TDAH no grupo que recebeu a
intervenção

CAIRNCROSS, 2016 Estudos da base de dados Terapia baseada em Sem Há possíveis benefícios da terapia
M., et al. PsycINFO, PubMed e Google atenção plena especificação em atenção plena na redução dos
Scholar sobre terapia baseada sintomas do TDAH
em atenção plena em
pacientes diagnosticados com
TDAH (n de estudos = 19, n de
pacientes não especificado)
JANSSEN, L., 2019 Adultos holandeses Terapia baseada em 8 semanas Apesar do grupo que recebeu a
et al. diagnosticados com TDAH em atenção plena associada terapia baseada em atenção plena
uso de terapia farmacológica (n à terapia farmacológica associada à terapia farmacológica
= 120) usual. O grupo controle convencional não apresentar
fez uso somente da melhora na função executiva no
terapia farmacológica longo prazo, eles apresentaram
melhora no acompanhamento de 6
meses.

10
Tabela 1 - Continuação
Terapia baseada em Atenção plena
Ano de Intervenção realizada Duração da
Autor Grupo (n) Resultados
publicação no grupo com TDAH intervenção
POISSANT, H., 2019 Estudos da base de dados Terapia baseada em Sem Todos os estudos usados na
et al. PsycINFO, PubMed, Scopus e atenção plena especificação análise mostraram melhora nos
ERIC sobre terapia baseada em sintomas do TDAH. Além disso, a
atenção plena em adultos terapia baseada em atenção
diagnosticados com TDAH (n de plena também mostrou melhorar
estudos = 13, n de pacientes = alguns aspectos da função
753) executiva e distúrbios emocionais
XUE, J., et al. 2019 Estudos da base de dados Terapia baseada em Sem A meta-análise indica que a
PubMed, Embase, Web of atenção plena especificação terapia baseada em atenção
Science, Medline, Cochrane plena tenha efeito na redução dos
Library, China National Knowledge principais sintomas do TDAH em
Infrastructure e Wangfang Data comparação ao grupo controle
em pacientes diagnosticados com
TDAH (n de estudos = 11, n de
pacientes = 682)
ZYLOWSKA, L., 2008 24 adultos e 8 adolescentes Terapia baseada em 8 semanas Terapia baseada em atenção
et al. diagnosticados com TDAH (n = 32) atenção plena plena pode melhorar dificuldades
comportamentais e
neurocognitivas em pacientes
com TDAH
Terapia baseada em Exercício físico
CERRILLO- 2015 Estudos clínico-randomizados da Atividade física aeróbica Sem restrições Exercício aeróbico de curto prazo
URBINA, A.J., base de dados PubMed, Scopus, e yoga na frequência e sugere reduzir sintomas do TDAH
et al. EMBASE, EBSCO [E-journal, na duração da como falta de atenção,
CINAHL, SportDiscus] e The atividade física hiperatividade, impulsividade,
Cochrane Library sobre atividade ansiedade, função executiva e
física em crianças e jovens transtornos sociais em crianças
diagnosticados com TDAH (n de com TDAH
estudos = 8, n de pacientes = 249)

11
Tabela 1 - Continuação
Terapia baseada em Exercício físico
Ano de Intervenção realizada Duração da
Autor Grupo (n) Resultados
publicação no grupo com TDAH intervenção
HILLMAN, C., 2008 Estudos levantados pelos autores Atividade física aeróbica Sem A prática de atividade física
et al. sobre os benefícios observados especificação aeróbica pode ter um efeito
nos praticantes de atividade física positivo em múltiplas funções do
(n = não especificado) cérebro e na cognição
MAHON, A.D., 2018 Crianças e jovens diagnosticados Atividade física aeróbica A duração foi Os participantes que não
et al. com TDAH e em uso de terapia em bicicleta estacionária dependente interromperam a medicação
medicamentosa (n = 14). O grupo dos valores de tiveram um aumento significante
controle foi montado a partir da esforço na taxa cardíaca e nos valores de
seleção de alguns participantes submáximo e captação de oxigênio, indicando
que ficaram em abstinência do de pico um melhor desempenho físico de
tratamento farmacológico durante pico
o estudo

12
13

4.4 Análise da Pesquisa Bibliográfica realizada

4.4.1 Publicações sobre TDAH

Na Tabela 2, relacionou-se a frequência de ocorrência de artigos relacionados


ao TDAH, ao número de menções encontradas com a terminologia “Attention deficit
and hyperactivity disorder” (ADHD), nas principais bases científicas de dados
consultadas (item 3), no período de 2007 a 2020.
Na busca de referências relacionadas ao tema do trabalho, diversos termos
foram utilizados, mas, para avaliar a evolução do interesse científico sobre o assunto,
selecionaram-se os termos “Attention deficit and hyperactivity disorder”, ou “ADHD”,
em inglês, e registraram-se o número de referências por ano, entre os anos de 2007
e 2020 para, posteriormente, averiguar a frequência de ocorrência de artigos cujo
assunto ou indexação foi o transtorno.

Tabela 2 - Frequência de ocorrência de publicações com a terminologia


“Attention deficit and hyperactivity disorder” “ADHD”, no período
de 2007 a maio de 2020.

Bases de dados
Ano de
Web of
publicação Pubmed Science Sci Finder Scholar Google
Número de publicações com a menção “Attention deficit and
hyperactivity disorder /ADHD)“
2007 1659 1347 4160 16000
2008 1764 1354 4158 18100
2009 1838 1417 4714 20600
2010 1987 1525 5218 23600
2011 2053 1707 5069 26000
2012 2418 1671 5858 28600
2013 2592 1943 6541 29900
2014 2762 2067 7157 33800
2015 2748 2314 7202 34400
2016 2906 2350 6824 34800
14

Tabela 2 – Continuação

Bases de dados
Ano de
Web of
publicação Pubmed Science Sci Finder Scholar Google
Número de publicações com a menção “Attention deficit and
hyperactivity disorder /ADHD)“
2017 2853 2459 7270 32000
2018 2828 2431 7934 30200
2019 2904 2911 8279 30400
2020* 1713 1170 2435 17400
* A pesquisa incluiu dados obtidos até o mês de maio de 2020.

Para melhor visualizar a evolução da frequência de ocorrência do assunto, por


meio de busca de “Attention deficit and hyperactivity disorder (ADHD)” nas bases de
dados, ao longo dos anos, foi realizado o cálculo da taxa de variação da ocorrência
de artigos apresentando tal terminologia. Para tanto, efetuou-se a comparação de
todos os anos compreendidos pelo trabalho, em relação ao primeiro ano (2007).
Estabeleceu-se a razão entre o valor de “resultados de ADHD” de cada ano e o valor
de 2007. Esta razão foi, posteriormente, convertida em porcentagem relativa a cada
base de dados consultada (Figura 3).
15

Figura 3 - Gráfico da taxa de variação (em porcentagem) da ocorrência de


artigos científicos, com a terminologia “Attention deficit and
hyperactivity disorder (ADHD)”, nas bases de dados consultadas,
no período de 2007 a maio de 2020.

4.4.2 Publicações sobre Atenção plena em TDAH

Na Tabela 3, relacionou-se a frequência de ocorrência de artigos relacionando


o TDAH, em inglês: “Attention deficit and hyperactivity disorder (ADHD)” ao termo
“mindfulness”, nas bases científicas de dados consultadas (item 3), no período de
2007 a 2020.

Tabela 3- Frequência de ocorrência de publicações com a terminologia


“Attention deficit and hyperactivity disorder / ADHD” associada a
“mindfulness”, no período de 2007 a maio de 2020.

Bases de dados
Ano de Web of
publicação Pubmed Science Sci Finder Scholar Google
Número de publicações com a menção “Attention deficit and
hyperactivity disorder /ADHD)“ relacionada a “mindfulness”
2007 3 1 20 242
2008 13 1 29 332
16

Tabela 3 – Continuação

Bases de dados
Ano de
Web of
publicação Pubmed Science Sci Finder Scholar Google
Número de publicações com a menção “Attention deficit and
hyperactivity disorder /ADHD)“ relacionada a “mindfulness”
2009 15 2 23 388
2010 33 4 44 522
2011 48 0 57 645
2012 72 4 70 858
2013 87 4 99 1130
2014 133 11 154 1370
2015 153 19 157 1660
2016 201 14 162 1950
2017 246 24 204 2030
2018 267 22 217 2540
2019 295 26 284 3110
2020* 97 13 84 1210
* A pesquisa incluiu dados obtidos até o mês de maio de 2020.

A partir dos dados da Tabela 3, calculou-se a taxa de variação, por


comparação dos valores observados, em todos os anos abrangidos pelo trabalho,
com aqueles no primeiro ano analisado (2007), para avaliar a evolução da frequência
de ocorrência de artigos contendo os termos “ADHD” e “mindfulness” combinados,
nas bases de dados consultadas, ao longo do período abrangido pelo trabalho.
Efetuou-se a razão entre o valor dos resultados de “ADHD” e “mindfulness” de cada
ano e o valor de 2007. Esta foi convertida, em porcentagem, referente a cada base
de dados consultada (Figura 4).
17

Figura 4 - Gráfico da taxa de variação (em porcentagem) da ocorrência de


artigos científicos, com a terminologia “Attention deficit and
hyperactivity disorder (ADHD)” associada à “mindfulness” nas
bases de dados consultadas, no período de 2007 a 2020.

4.4.3 Publicações sobre Exercício físico em TDAH

Na Tabela 4, relacionou-se a frequência de ocorrência de artigos relacionando


o TDAH, em inglês: “Attention deficit and hyperactivity disorder (ADHD)” ao termo
“physical exercise”, relativo a terapias com atividade física, nas bases científicas de
dados consultadas (item 3), no período de 2007 a 2020.
18

Tabela 4- Frequência de ocorrência de publicações com a terminologia


“Attention deficit and hyperactivity disorder / ADHD” associada a
“physical exercise”, no período de 2007 a maio de 2020.

Bases de dados
Ano de Web of
publicação Pubmed Science Sci Finder Scholar Google
Número de publicações com a menção “Attention deficit and
hyperactivity disorder /ADHD)“ relacionada a “physical exercise”
2007 8 1 119 2230
2008 8 1 172 2640
2009 8 4 166 2990
2010 13 2 228 3500
2011 20 9 194 3660
2012 20 10 271 4400
2013 25 10 261 5030
2014 37 13 366 5430
2015 37 17 342 6240
2016 54 18 362 6270
2017 50 16 383 6520
2018 45 20 456 6360
2019 45 29 478 6760
2020* 22 15 157 2930
* A pesquisa incluiu dados obtidos até o mês de maio de 2020.

A taxa de variação foi obtida como, anteriormente, comparando com o valor de


resultados no primeiro ano analisado (2007). Foi calculada a razão entre o número
de menções de “ADHD” e “physical exercise” de cada ano e o valor de 2007 e foi
convertida em porcentagem a fim de ilustrar, a cada ano, a porcentagem de aumento
ou diminuição da relevância, em número de publicações que abordam o tratamento
da TDAH, com atividade física, em relação ao ano do início da análise (2007).
19

Figura 5 - Gráfico da taxa de variação (em porcentagem) da ocorrência de


artigos científicos, com a terminologia “Attention deficit and
hyperactivity disorder (ADHD)” associada à “physical exercise”
nas bases de dados consultadas, no período de 2007 a maio de
2020.

5 DISCUSSÃO

O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) leva a graves


consequências socioeconômicas, tendo em vista que, a incidência chega a ser de
cinco a sete por cento da população mundial. Desta forma, o aprofundamento das
pesquisas científicas é fundamental, sobretudo quando se considera que grande
parte da população atingida é de crianças e jovens, podendo levá-lo para a vida
adulta.
A Farmacoterapia do TDAH revelou a ocorrência de efeitos adversos os mais
variados, indo, desde, a falta de apetite, insônia, perda de peso e, até mesmo,
chegando à dependência química. Tais efeitos demonstram a necessidade de
introdução de novas formas terapêuticas, menos agressivas, que possam melhorar
os sintomas do transtorno que ainda não apresenta cura.
20

5.1 Avaliação dos Tratamentos não farmacológicos do TDAH

Ao pesquisar acerca da terapêutica não medicamentosa para o tratamento da


TDAH, os resultados mostram que as terapias baseadas na Atenção plena podem
reduzir, significativamente, os sintomas, por meio da redução da sintomatologia
básica do transtorno. Dentre os estudos analisados, um dos fatores usados para
medir o efeito da prática em pacientes acometidos pela doença foram os níveis de
desatenção e hiperatividade dos participantes dos grupos avaliados. Em vários dos
estudos analisados, o efeito sobre a desatenção foi maior do que na hiperatividade,
impulsividade e na função executiva. Estes achados podem ter sido em decorrência
de que as habilidades requeridas, nas terapias avaliadas, enfatizaram a atenção não
julgadora dos participantes para uma eventual experiência ocorrida no momento
presente da avaliação.

Verificou-se, de forma geral que nos artigos de revisão bibliográfica, as meta-


análises, consideraram, em média, até vinte trabalhos científicos. Nestes, segundo o
desenho experimental, poucos ensaios planejaram realizar avaliação de
acompanhamento posterior, entre dois e oito meses após o término da intervenção.
Desta forma, observou-se que, nestes estudos, tanto a duração da intervenção
quanto o seu acompanhamento não foram considerados relevantes nas revisões
bibliográficas desses artigos ou, então, deixaram de ser mencionados.

A medição realizada, após o período de acompanhamento, mesmo com o


término da terapia, poderia fornecer mais dados sobre a eficácia da terapia a longo
prazo. Além disto, nos artigos estudados, constatou-se haver diferenças entre os
grupos amostrais. Alguns artigos consideraram apenas crianças, outros
consideraram o relato de seus pais e outros, ainda, foram conduzidos com adultos.
Isto poderia indicar uma heterogeneidade e falta de padronização do efeito da
intervenção sobre o desfecho primário, estudado em cada ensaio.

Acerca das Intervenções baseadas em Atenção plena (IBAP), consideradas


neste trabalho, foi verificada a existência de diferentes classes, como as terapias
cognitivas comportamentais, as práticas de conscientização de Atenção plena, o
21

treinamento de Atenção plena, conjuntamente, com os pais e as terapias de grupo de


Atenção plena, entre outras. Em relação a todas estas metodologias, pode-se
constatar um objetivo central de lidar com emoções negativas para diminuir possíveis
conflitos e direcionar o indivíduo para mudanças comportamentais positivas.
Entretanto, não foi possível identificar, especificamente, os procedimentos de cada
metodologia, uma vez que os próprios estudos não detalham as atividades
realizadas pelos profissionais responsáveis por conduzir a terapia.

Tal fato pode ter omitido relevante discrepância em relação ao tratamento com
atividade física, onde há uma rotina pré-estabelecida de atividades que é,
geralmente, estritamente seguida por todos os participantes. Contudo, para as
diferentes modalidades de terapias cognitivas e comportamentais de Atenção plena,
é possível identificar enfoques gerais de cada metodologia, mas não há um protocolo
definido a respeito das atividades.

As diversas análises dos estudos da literatura compilada mostraram não haver


consenso quanto às práticas mais adequadas de Psicoterapia, em relação a
determinado sintoma, em especial.

A despeito da dificuldade de obter padronização dos estudos que permitam


estabelecer critérios definidos para estabelecer a Terapia da Atenção plena em
Manuais médicos, o profissional de Saúde pode adequar a metodologia terapêutica
da conscientização comportamental, de forma a lidar com algum sintoma exacerbado
do paciente com TDAH. Tal aspecto é vantajoso, em relação à Farmacoterapia da
doença, uma vez que pode exercer controle, quanto ao fármaco eletivo e à dose a
ser administrada.

Desta forma, ainda que as Terapias da Atenção plena sejam promissoras, é


necessário que se desenvolvam pesquisas para melhor adequar as suas diferentes
metodologias e abordagens por meio da compreensão da relação com cada sintoma
do TDAH.

No tocante às terapias baseadas em atividade física, os resultados,


aparentemente, mostraram que os exercícios cardiovasculares foram melhor
relacionados a efeitos duradouros para a cognição, em crianças e jovens com TDAH.
22

A categoria de atividades com resultados mais promissores foi a cardiovascular


realizadas de forma crônica, com seus efeitos de longo prazo, sob a avaliação de
pais, professores e observadores, em que se obtiveram os melhores níveis de
melhoria nas sintomatologias de TDAH, além da atenção, ansiedade, autoestima da
criança, depressão, comportamento e desempenho escolar.

Nos ensaios, com intervenções de menor duração, as atividades físicas


evidenciaram melhorias, tanto para pacientes de TDAH, quanto para os participantes
saudáveis, de forma que não ficou perceptível uma melhoria específica imediata para
a sintomatologia-base do distúrbio estudado. Este resultado sugere haver um efeito
cumulativo, que em médio e longo prazos costuma produzir resultados mais
relevantes para o paciente que pratica exercícios físicos.

Além disto, atividades não aeróbicas, ou não cardiovasculares obtiveram


resultados muito heterogêneos e discrepantes, o que mostra a dificuldade de obter
medições mais impactantes em relação às atividades físicas que não possuam uma
maior intensidade de esforço continuado, como no caso das práticas
cardiovasculares.
Na análise dos artigos que buscaram a relação entre exercícios com a cognição
e o comportamento, em crianças e jovens com TDAH, constatou-se que, alguns
estudos não consideraram um grupo-controle. Entretanto, a maioria dos estudos que
utilizou esta ferramenta, o fez com participantes saudáveis, enquanto poucos
avaliaram grupos-controle constituídos de pacientes do TDAH. Neste caso, a
randomização de pacientes consistiu de um grupo de participantes que não realizou
os exercícios e outro grupo que participou de atividade alternativa, geralmente,
envolvendo sessão em grupo ou palestra educacional. Apenas pequena parcela dos
ensaios avaliados organizou um grupo- controle, com lista de espera, onde todos os
participantes realizaram a terapia de exercícios físicos, de forma alternativa. O
período de duração foi muito heterogêneo, havendo estudos que realizaram somente
um único evento, além de projetos com atividades físicas efetuadas de duas a três
vezes por semana, durante até vinte semanas.
As terapias não farmacológicas possuem um potencial efeito cumulativo sobre
sintomas de TDAH, de modo que todos os artigos avaliados apontaram melhorias em
23

alguma sintomatologia ou aspecto de controle executivo que normalmente é afetado


em pacientes de TDAH. No entanto, ainda não é possível substituir completamente a
terapia farmacológica de primeira linha, pois não foram observados critérios
rigorosos padronizados na elaboração dos protocolos de Atenção plena e Exercícios
físicos para cada sintomatologia do transtorno.

5.2 Estado da arte das pesquisas científicas sobre o tema abordado.

De forma a avaliar o grau de importância dado ao tema, pela Ciência, e analisar


a tendência dos estudos científicos acerca do TDAH e do potencial das formas
terapêuticas não medicamentosas abordadas no trabalho, realizou-se um estudo, em
paralelo, a partir dos resultados numéricos, em termos de artigos, cuja indexação
abordou as palavras-chaves de interesse nas bases de dados consultadas.

Apesar de a pesquisa ter abrangido os dados relativos ao ano de 2020, mais


especificamente, até maio, não foram considerados, tendo em vista, tratar-se de ano
atípico em decorrência da pandemia e, adicionalmente, de não estar concluído, o
que poderia trazer discrepância em relação aos outros anos considerados no todo.

Segundo a análise da taxa de crescimento do número de publicações que


indexaram o termo TDAH, houve aumento em todas, de forma geral, tendo sido
maior no Web of Science® e no Sci Finder®, no período de 2007 a 2019. Enquanto
que, em relação às buscas dos termos relativos ao transtorno associados àqueles da
Terapia da Atenção plena e daquela baseada em exercícios físicos, as maiores taxas
de crescimento das publicações foram, respectivamente, Pubmed® e Web of
Science®. Tais resultados sugerem que tanto as bases de dados mais abrangentes e
as mais específicas, em termos de escopo, refletiram o aumento das pesquisas
relativas ao TDAH e às terapias baseadas em Atenção plena e nos exercícios físicos.

O maior crescimento das publicações sobre estas abordagens terapêuticas do


transtorno indicam haver um crescente interesse acerca do tema e o aumento de sua
relevância frente à discussão sobre TDAH e a busca por alternativas ou formas
complementares ao tratamento farmacológico, sendo muito promissora,
considerando o espectro de efeitos adversos do tratamento convencional.
24

6 CONCLUSÕES

A análise dos estudos selecionados permite concluir não ser, ainda, possível
substituir, completamente, o tratamento Farmacoterapêutico do transtorno de déficit
de atenção e hiperatividade (TDAH), geralmente, realizado com os estimulantes
metilfenidado e as anfetaminas, a despeito da grande gama de efeitos adversos.
Entretanto, foi levantado que algumas terapias não farmacológicas já possuem
benefícios ao ser utilizadas como adjuvantes ao tratamento convencional. As
terapias baseadas na Atenção plena apresentam forte evidência de melhoria da
atenção, principalmente em pacientes adultos. Além delas, as terapias baseadas em
exercícios físicos, também, podem ser aplicadas em auxílio ao tratamento
farmacológico, sobretudo aquelas baseadas nas atividades aeróbicas, cujo efeito de
longo prazo pode obter bons resultados para crianças e jovens com TDAH.
No entanto, ainda são necessários estudos adicionais e padronizados para
compreender melhor a relação entre tempo de exposição às intervenções não
farmacológicas e seus efeitos na sintomatologia do TDAH.

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Data e assinatura da orientadora

Data e assinatura do aluno

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