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NÚCLEO DE APOIO TÉCNICO AO JUDICIÁRIO – NATJUS

NOTA TÉCNICA

CONCERTA (METILFENIDATO)/TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO

COM HIPERATIVIDADE

PROCESSO: 0704852-68.2021.8.07.0018

Vara/ Serventia: 5ª Vara da Fazenda Pública e Saúde Pública do DF

1. PACIENTE:

1.1. Nome: V.C.D.O.

1.2. Data de nascimento: 01/05/2010

1.3. Sexo: Masculino

1.4. Diagnóstico: Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade

1.5. Meios confirmatórios do diagnóstico já realizados: diagnóstico

clínico por anamnese neurológica com uso complementar do P-300 e

Mapa cerebral.

1.6. Resumo da história clínica:


Trata-se de paciente de 11 anos de idade, portador de Transtorno de

déficit de atenção e hiperatividade e ansiedade, já tendo realizado os

exames P-300 e Mapa Cerebral, como exames complementares. Refere

uso de Ritalina, Ritalina LA, Venvanse, relatando apenas não ter tido

efeito. As condições gerais e estado clínico atual do paciente é hiperativo,

desatento, impulsivo e ansioso. Foi recomendado o uso do Concerta

54mg, associado ao Citalopram 20 mg. Segundo o médico assistente o

Concerta é o único medicamento que foi atribuída melhora.

O relatório resumido foi extraído do exarado pelo Dr. Honório Galvão

(CRM/DF 6429), no dia 21/07/2021.

2. DESCRIÇÃO DA TECNOLOGIA

2.1. Tipo da Tecnologia: Medicamentos

2.2. Princípio Ativo: Metilfenidato

2.3. Via de administração: oral

2.4. Posologia:

Metilfenidato 54mg, um comprimido, uma vez ao dia, por prazo

indeterminado.

2.5. Registro na ANVISA? Sim

2.6. Situação do registro: Ativo


2.7. Indicação em conformidade com a aprovada no registro? Sim.

2.8. Oncológico? Não

2.9. Previsto em PCDT do Ministério da Saúde para a situação clínica do

demandante?

Não há previsão do seu uso em Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas

(´PCDT) do medicamento citado.

2.10. O medicamento, procedimento ou produto está disponível no

SUS?

Não, consta na relação dos medicamentos padronizados.

2.11. Descrever as opções disponíveis no SUS/Saúde Suplementar:

Atualmente não há Protocolo Clínico e Diretriz terapêutica do SUS para

tratamento do TDAH. Quanto às alternativas ao Venvanse integrantes do

RENAME 2018 e disponíveis no SUS, há distribuição do medicamento

RITALINA (METILFENIDATO), 10mg, para TDAH, conforme protocolo

específico.

Além disso, os antidepressivos tricíclicos são usados em menor grau, como

a imipramina, a nortriptilina e a amitriptilina no tratamento do TDAH,

apesar de sua eficácia ser inferior àquela observada com as medicações de

primeira linha, os psicoestimulantes, como o metilfenidato. Os


antidepressivos tricíclicos amitriptilina e nortriptilina são integrantes do

componente básico da RENAME.

2.12. Em caso de medicamento, descrever se existe genérico ou similar:

Não existe similar com a mesma posologia.

2.13. Custo da tecnologia (DF – ICMS 17%):

Denominação Preço Máximo ao


Laboratório Marca comercial Apresentação
genérica Consumidor

54 MG COMPRIMIDO
CLORIDRATO DE
JANSSEN-CILAG CONCERTA EM CAIXA COM 30 RS 342,89
METILFENIDATO
UNIDADES

Custo estimado anual do tratamento:

Considerando que o custo por mês seria de RS 342,89 e anual seria de

R$4.114,68.

2.14. Fonte de custo da tecnologia:

Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos- CMED. Publicada

em 06/07/2021

3. EVIDÊNCIAS SOBRE A EFICÁCIA E SEGURANÇA DA TECNOLOGIA:


3.1. Sobre o Transtorno de Atenção e Hiperatividade (TDAH)

Nos dias atuais, o TDAH, também chamado de Transtorno Hipercinético, é

considerado a desordem neurocomportamental mais comum na infância,

podendo persistir na vida adulta em mais de 60% dos casos. Os pacientes

podem exibir um déficit cognitivo e um comprometimento no

desenvolvimento da motricidade e da linguagem. As complicações

secundárias incluem um comportamento dissocial e uma perda de

autoestima.1

A tríade sintomática caracteriza-se por sintomas de desatenção,

hiperatividade e/ou impulsividade, que é mais frequente e grave do que o

normal para a idade dessa criança ou adolescente, promovendo um

prejuízo funcional significativo no desempenho escolar ou no trabalho e

dificuldades com interações sociais e nas atividades cotidianas. Os

sintomas de hiperatividade e impulsividade aparecem mais cedo (aos 3-4

anos de idade), enquanto a desatenção se torna mais evidente ao iniciar o

período escolar (5-7 anos). Esses sintomas são mais comuns em meninos

do que em meninas (razão 4:1), e tendem a persistir na vida adulta. Em

adultos, o TDAH costuma provocar o comprometimento de funções

executivas, o que se manifesta como problemas de organização e

planejamento e/ou dificuldade de iniciar tarefas mantendo o foco e a


presença, por exemplo. Também pode ocorrer a desregulação emocional,

quando o indivíduo fica com dificuldade para lidar com suas emoções,

apresentando reações incompatíveis ou desproporcionais diante de

situações cotidianas.1

A etiologia do TDAH continua sendo alvo de muitas pesquisas. Há um

consenso de que as causas do TDAH podem resultar de uma combinação

complexa de fatores genéticos, neurobiológicos, ambientais e sociais. De

acordo com os especialistas, esse problema relaciona-se com alterações

no neurodesenvolvimento baseado em uma predisposição. Alguns

estudos indicam a existência de marcadores fenotípicos familiares, bem

como marcadores genéticos de recorrências familiares, revelando, assim,

elevado índice de influência hereditária, em torno de 76% contra 4,6% da

população em geral. Vale ressaltar o fato de que os estudos genéticos

envolvendo TDAH não excluem as influências culturais, familiares e

exposições a eventos estressantes (por exemplo, tabagismo materno

durante a gravidez ou exposição ambiental ao chumbo). Estudos de

neuroimagem e por modelos cognitivos e neuropsicológicos justificam

essas sugestões.1

A fisiopatologia do TDAH é multifatorial e causal, porém, seus mecanismos

ainda não estão bem definidos. Estudos de imagem estruturais e


funcionais do cérebro, no entanto, sugerem que a disfunção das regiões

cingulada, frontal e regiões parietal corticais e de desequilíbrio dos

sistemas dopaminérgicos e noradrenérgicos contribuem para esse

mecanismo. Parece haver um consenso do ponto de vista neuroquímico

de que a dopamina e a noradrenalina participam de maneira

predominante e exercem intensa influência nos centros motores e na

atenção, respectivamente. A realização do tratamento farmacológico de

TDAH, principalmente administrado por substâncias psicoestimulantes,

que atuam como agonistas indiretos desses neurotransmissores, são

essenciais, possibilitando diminuição dos sintomas motores, impulsividade

e desatenção, bem como melhoria das interações sociais e desempenho

acadêmico.1

Atualmente o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, na 5ª

edição (DSM-V), reconhece os transtornos específicos da aprendizagem e

o TDAH como duas doenças distintas que possuem características

próprias. Alguns estudos sugerem que o TDAH pode submeter os adultos a

risco para outros transtornos de personalidade e, em todas as idades, o

TDAH está associado a deficiências funcionais, como disfunção escolar,

problemas de relacionamentos, conflitos familiares, baixo desempenho


ocupacional, lesões físicas, comportamento antissocial, infrações e

acidentes de trânsito.2

O diagnóstico do TDAH é essencialmente clínico, deve ser baseado na

história e avaliação funcional completa da criança, não apenas em uma ou

mais características evidentes da doença, bem como em critérios

operacionais clínicos claros e bem definidos. Nos dias atuais, podem ser

utilizados como critérios para o diagnóstico do TDAH a Classificação

Internacional de Doenças, 10ª Revisão – CID 10, e/ou o DSM-V, que não

alterou substancialmente o DSM-IV.2

3.2. Sobre o tratamento geral:

O tratamento do TDAH é complexo e inclui intervenções sociais,

psicológicas e comportamentais. O Brasil ainda não possui um Protocolo

Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para o manejo de pacientes com

TDAH.3

No Brasil, estão aprovados pela Anvisa os seguintes medicamentos para

TDAH: dimesilato de lisdexanfetamina (Venvanse®), metilfenidato de ação

curta (Ritalina®), metilfenidato de ação prolongada (Concerta® e Ritalina

LA®) e atomoxetina (Strattera®). De uma maneira geral, a principal

diferença prática entre estas drogas é fundamentalmente o seu tempo de


ação: - Ritalina 3 a 5 horas, Ritalina LA 6 a 8 horas, Concerta 10 a 12 horas

e Venvanse 10 a 12 horas.

Esta diferença entre os tempos de ação dos medicamentos pode ser

corrigida pela posologia diária da medicação, havendo a necessidade de

um maior número de doses do medicamento quanto menor o seu tempo

de ação. O metilfenidato é recomendado como tratamento de primeira

escolha para TDAH, devido ao maior número de estudos clínicos. A

lisdexanfetamina é uma pró‐droga inativa da dexanfetamina e possui

potencial de abuso limitado, sendo que seus efeitos parecem ser

semelhantes aos observados para o metilfenidato, embora existam

poucos estudos que avaliaram essa característica. Já a atomoxetina é a

principal droga não estimulante recomendada para o tratamento de TDAH

em adultos. Na persistência dos sintomas, constituindo a linha de terceira

linha de tratamento tem-se a bupropiona, ou antidepressivos tricíclicos

(como nortriptilina).3

Segundo protocolos internacionais, juntamente com estratégias não-

medicamentosas, o uso de estimulantes, como o metilfenidato

(independentemente se ação imediata ou de longa duração), são

recomendados como primeira linha de tratamento para crianças maiores

de cinco anos de idade diagnosticadas com TDAH.


3.3. Sobre o medicamento Metilfenidato (MPH):

O metilfenidato é medicamento de primeira linha no tratamento do

transtorno hipercinético. O princípio ativo do medicamento Concerta e

também da Ritalina é o metilfenidato. A principal diferença entre os dois

medicamentos citados diz respeito à formulação farmacêutica, que gera

efeitos na velocidade de liberação do princípio ativo e, portanto, na

duração do efeito. O Concerta, metilfenidato de liberação prolongada,

tem tempo de ação maior, o que permite que seja utilizado em dose única

diária, enquanto que o metilfenidato de liberação imediata tem duração

de ação de aproximadamente 4 horas, gerando necessidade de uso de até

três vezes ao dia para a mesma duração do efeito. O metilfenidato age

inibindo e modulando a recaptação de neurotransmissores, em especial

de dopamina e de noradrenalina, no sistema nervoso central. 4,5 Presume-

se que a ação do metilfenidato no alívio de sintomas do TDAH esteja

associada aos seus efeitos na neurotransmissão dopaminérgica e

noradrenérgica. Contudo, seu mecanismo de ação exato segue incerto. 6

Há diferentes formulações de metilfenidato, a de liberação imediata e as

de liberação prolongada.

A administração do metilfenidato deve ser adaptada de acordo com

períodos de maiores dificuldades escolares, sociais ou comportamentais.


Para crianças com idade ≥ 6 anos, o tratamento com comprimidos de

liberação imediata deve iniciar com 5 mg, uma ou duas vezes ao dia, com

incrementos semanais de 5 a 10 mg. A dosagem diária total deve ser

administrada em doses divididas. O tratamento com MPH de liberação

modificada deve iniciar com 20 mg uma vez ao dia(pela manhã), embora

em alguns casos possa se iniciar com 10 mg, a critério médico. Para

adultos que nunca utilizaram tratamento com MPH, a administração do

medicamento de liberação modificada (Spheroidal Oral Drug Absorption

System- SODAS) deve iniciar com 20 mg uma vez ao dia. Para pacientes

adultos que já faziam uso de MPH,o tratamento pode ser continuado com

a mesma dose. Caso tenha sido tratado previamente com MPH de

liberação imediata, deve ser feita uma conversão de dose adequada do

medicamento de liberação modificada. Para crianças e adultos,

incrementos semanais de 10 mg e 20 mg, respectivamente, podem ser

feitos. Doses diárias acima de 60 mg e 80mg para o tratamento de TDAH

em crianças e adultos, respectivamente, não são recomendadas. Em

alguns casos, o efeito do medicamento pode se dissipar cedo, resultando

em problemas para dormir ou retorno dos sintomas comportamentais,

podendo ser necessária uma pequena dose do medicamento. Caso não

haja melhora dos sintomas em um mês posteriormente à titulação do


medicamento, o tratamento deve ser descontinuado. Se houver

agravamento dos sintomas ou reações adversas, pode-se reduzir a dose

ou descontinuar o tratamento. No caso do MPH de liberação prolongada

(Osmotic-Release Oral System, OROS), administrado uma vez ao dia (pela

manhã) para pacientes que não faziam uso do medicamento, a dose inicial

é de 18 mg/ dia para crianças e de 18-36 mg/ dia para adolescentes e

adultos. Incrementos semanais de 18 mg podem ser feitos. Para pacientes

em uso prévio de 5 e 10 mg de duas a três vezes por dia, a dose

recomendada do medicamento de liberação prolongada deve ser de 18 e

36 mg, respectivamente. Para crianças com idade entre 6 e 12 anos, a

dose máxima recomendada é de 54 mg/ dia; para adolescentes entre 13 e

18anos, de 72 mg/ dia; e para adultos, de 108 mg/ dia.7

As evidências sobre a eficácia e segurança do tratamento com o

metilfenidato em crianças e adolescentes, em geral, têm baixa qualidade

metodológica, curto período de seguimento e pouca capacidade de

generalização. Além disso, a heterogeneidade entre os estudos foi um dos

problemas mais frequentes nas revisões sistemáticas selecionadas. Os

desfechos de eficácia, avaliados por instrumentos e critérios diagnósticos

variados, apresentaram resultados heterogêneos que, em geral, não

demonstraram benefício clínico superior em comparação com alternativas


farmacológicas ou com apresentações e doses diferentes do

metilfenidato, principalmente para o desfecho de hiperatividade. Com

relação ao perfil de segurança do medicamento, os estudos

demonstraram que alguns dos eventos adversos mais comuns foram:

supressão do apetite, aumento do estado de vigília e de euforia, insônia,

cefaleia, dor de estômago e tonturas. É necessário fazer um balanço entre

benefício e risco antes de se iniciar a administração do metilfenidato,

principalmente quando o tratamento for de longo prazo. Alternativas

terapêuticas, como intervenções sociais, psicológicas e comportamentais

para terapia do TDAH, devem ser consideradas. Neste sentido,

recomenda-se o uso do metilfenidato em casos estritamente necessários e

avaliar, também, a concomitância do seu uso com tratamento psicológico

ou comportamental.8

Dentre os principais estudos utilizados em revisão sistemáticas e

metanálises, destaca-se o estudo clínico randomizado (ECR) multicêntrico,

de Biederman et al., em que foram avaliadas a eficácia e a segurança de

MPH de liberação prolongada (SODAS) comparado ao placebo em crianças

com TDAH.9 Destaca-se também o estudo de Findling et al., no qual foram

comparadas duas apresentações de MPH de liberação imediata e placebo,

em termos de eficácia e segurança, em três semanas de tratamento. 10 O


estudo de Pelham et al. avaliou a eficácia, efetividade, curso de duração e

segurança do MPH de liberação prolongada OROS® de 70 crianças (entre 6

e 12 anos) com TDAH em uso de doses estáveis de MPH (média de 35

mg/dia), tendo como comparadores MPH de liberação imediata (média de

29 mg/dia) e placebo.11 Outro ECR multicêntrico de fase III, paralelo e

aberto, avaliaou a eficácia e tolerabilidade do MPH de liberação

prolongada OROS® em relação aos cuidados usuais com MPH de liberação

imediata em crianças de 6 a 12 anos com TDAH. 12 Os resultados da revisão

sistemática foram controversos. Enquanto que metanálise de três estudos

utilizando a impressão dos pais para informar sintomas de TDAH dos

pacientes demonstrou maior alívio associado à formulação de longa

duração, outros três estudos usando a impressão de professores para

informar sobre sintomas de TDAH dos pacientes evidenciaram maior alívio

associado ao uso de metilfenidato de ação curta. Em acréscimo, a

formulação de longa duração apresentou maior número de eventos

adversos quando comparada à curta duração (578 vs. 566). Destacou-se a

baixa qualidade dos ensaios disponíveis, bem como a curta duração de

seguimento (quatro e oito semanas). 13 Publicada no mesmo período,

outra revisão sistemática e metanálise buscou comparar as formulações


14
de curta e longa duração do metilfenidato. Reforçou-se a ausência de
superioridade entre formulações. O aumento discreto no número de

eventos adversos em pacientes em uso de metilfenidato de longa duração

foi novamente apontado.

4. BENEFÍCIO/EFEITO/RESULTADO ESPERADO DA TECNOLOGIA:

Atuar na melhoria da concentração e atenção, além de reduzir déficits

proeminentes no funcionamento executivo.

5. RECOMENDAÇÕES DA CONITEC PARA A SITUAÇÃO CLÍNICA DO

DEMANDANTE:

Os membros da Conitec presentes na 95ª Reunião Ordinária, no dia 04 de

março de 2021, deliberaram por unanimidade recomendar a não

incorporação do metilfenidato para o tratamento de TDAH em crianças e

adolescentes. Os membros presentes entenderam que não houve

argumentação suficiente para alterar a recomendação inicial. Foi assinado

o Registro de Deliberação nº 596/2021.

6. RECOMENDAÇÕES DE OUTROS ÓRGÃOS E AGÊNCIAS

INTERNACIONAIS:
Destaca-se, ainda, que as evidências oriundas de ensaios clínicos

randomizados que avaliaram a eficácia e segurança de metilfenidato

(liberação imediata e liberação prolongada) no tratamento de pacientes

pediátricos com TDAH, mesmo apresentando desfechos avaliados com

qualidade entre muito baixa e moderada, suportaram sua recomendação

à incorporação por agências de avaliação de tecnologias em saúde, como

o National Institute for Health and CareExcellence (NICE) do Reino Unido15

e o Pharmaceutica lBenefits Advisory Committee (PBAC) da Austrália.16

Adicionalmente, no cenário internacional, o tratamento com

metilfenidato é recomendado por guidelines que abordam o tratamento


17
da TDAH, como o da American Academy of Pediatrics de 2019. De

acordo com a publicação, o uso de metilfenidato foi recomendado para os

três grupos etários abordados. Em crianças em idade pré-escolar (de

quatro a seis anos), metilfenidato deve ser considerado se as intervenções

comportamentais utilizadas como primeira linha não levarem a melhoras,

e em casos de perturbação funcional contínua e moderada a grave do

quarto ao quinto ano de idade. Em crianças com idade entre seis e 12

anos e pacientes adolescentes (entre 12 e 18 anos), é recomendado o uso

de medicamentos para TDAH aprovados pelo FDA (dentre os quais está o

metilfenidato) junto com intervenções comportamentais.


No Reino Unido, o guideline de diagnóstico e manejo do NICE, publicado

em 2018 e atualizado em 2019, recomenda o metilfenidato (liberação

imediata e liberação prolongada) como primeira linha de tratamento

farmacológico para crianças com idade ≥5 anos e jovens diagnosticados

com TDAH. 15 Quanto ao Canadian Agency for Drugs and Technologies in

Health (CADTH), não foi identificada avaliação do metilfenidato para o

tratamento de TDAH.

7. CONCLUSÕES:

7.1. Conclusão justificada:

Considerando o diagnóstico de Transtorno de atenção e

hiperatividade (TDAH), conforme relatório médico, emitido pelo Dr.

Honório Galvão, médico neurologista;

Considerando que o autor, 11 anos de idade, além de TDAH, tem

ansiedade, conforme relatado;

Considerando que o Metilfenidato de liberação prolongada da

marca Concerta não está disponível no SUS;

Considerando que o autor usou o metilfenidato (Ritalina) e,

segundo o médico assistente, não houve resposta adequada, relato feito

de forma sumária, não especificando detalhes;


Considerando que existem resultados que mostram que o

metilfenidato é mais eficaz do que o placebo para o tratamento de curto

prazo de TDAH;

Considerando que a incorporação do Metilfenidato de liberação

prolongada foi analisada recentemente (em 2021) pela CONITEC, que

considerou que as evidências avaliadas foram de baixa qualidade;

Considerando que, pela própria análise da CONITEC, não há

qualquer evidência científica que dê suporte à alegação de que um

determinado indivíduo tenha resposta terapêutica adequada a uma

apresentação farmacêutica, como o Concerta, metilfenidato de liberação

prolongada, em detrimento do metilfenidato de liberação imediata

(Ritalina);

Considerando que a principal diferença entre o metilfenidato de

ação imediata e o de liberação prolongada é na duração do efeito, não em

sua eficácia, sendo a posologia ajustada conforme o paciente;

Este NATJUS conclui por considerar a demanda como NÃO JUSTIFICADA

para a escolha e prescrição do Concerta em detrimento à alternativa

disponível no SUS (Ritalina de liberação imediata), por falta de evidência

de superioridade entre as apresentações. Ressalta-se que a prescrição de


Ritalina, independente da apresentação, está justificada, conforme

guidelines.

7.2. Há evidências científicas?

Sim, moderada qualidade metodológica.

7.3. Justifica-se a alegação de urgência, conforme definição de Urgência,

conforme definição de Urgência e Emergência do CFM

A Resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) nº 1.4511 traz a

definição de urgência e emergência

“Define-se por URGÊNCIA a ocorrência imprevista de agravo à saúde com

ou sem risco potencial de vida, cujo portador necessita de assistência

médica imediata.

Define-se por EMERGÊNCIA a constatação médica de condições de agravo

à saúde que impliquem em risco iminente de vida ou sofrimento intenso,

exigindo, portanto, tratamento médico imediato”.

Assim, de acordo com a definição do CFM, não se pode considerar o caso

analisado por esta nota técnica como uma urgência médica, em razão de

não haver sinais de risco iminente de morte ou perda potencial de órgão

ou função.
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