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DO TDAH
MÓDULO 3:
TRATAMENTO
LENNON ASSUNÇÃO
MARCOS FERNANDES
2 1
Sumário
Pág.
Sobre os autores 2
Competências desenvolvidas 3
Referências Bibliográficas 81
Competências desenvolvidas
Interações medicamentosas;
1. Introdução
Reflexão:
Será que o TDAH poderia ser categorizado por
"níveis de suporte", similar ao Transtorno do Espectro
Autista? Tal abordagem poderia auxiliar na avaliação
da intensidade dos sintomas apresentados.
2. Estimulantes
Os estimulantes compõem uma classe de fármacos sujeita a um
rigoroso controle regulatório, definido pela Portaria nº 344/98 da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), órgão regulador
no Brasil. Tais substâncias são designadas como medicamentos
"tarja preta", uma classificação que reflete tanto o potencial de
dependência quanto a necessidade de prescrição e monitoramento
médico criteriosos. Exemplificando, substâncias como o
metilfenidato (comumente conhecido pelo nome comercial
Ritalina) e as anfetaminas, requerem prescrição detalhada por
meio de um formulário especial, conhecido como "receituário de
controle especial" ou, mais comumente, "receita amarela" ou
"Receita Tipo A".
SAIBA MAIS
A Dopamina e a Noradrenalina fazem parte do grupo das
monoaminas e do subgrupo chamado catecolaminas. As
monoaminas são um grupo de neurotransmissores e
substâncias químicas neuromoduladoras que
desempenham papéis importantes no sistema nervoso
central e periférico dos seres humanos e outros animais.
VMAT
Dopamina
Receptor
de dopamina
Vesícula DAT
transportadora
VAMOS PRATICAR?
Com base na compreensão do mecanismo de ação dos estimulantes no
tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade
(TDAH), qual das seguintes afirmativas melhor descreve o efeito
terapêutico desses medicamentos no cérebro de pacientes com TDAH?
Regulação emocional;
Redução de comportamentos impulsivos e
hiperativos;
Menor risco de comportamentos antissociais;
Menor risco de acidentes automobilísticos;
Menor risco de abuso de tabaco e substâncias;
Redução de mortalidade por acidentes e maus
hábitos;
Redução da impulsividade ao falar;
Redução da inquietação;
Redução da agressividade;
Procrastinação: 7
“Finalmente, consigo cumprir a lista de tarefas para aquele dia,
mesmo sendo chatas.”
Concentração/Distraibilidade: 6
“Eu tive melhora, consigo trabalhar/estudar sem interrupções
"internas" por curtos períodos. Porém, para isso preciso de um
ambiente externo controlado. Sem sons perturbadores, de
preferência sem outra pessoa no mesmo ambiente.”
Motivação: 6
“Faço, quase sempre, o que tem que ser feito e o planejado, sem
"negociar" um adiamento comigo mesma. Minha casa está
visivelmente mais limpa e organizada, sem um esforço adicional”.
Excesso de pensamentos: 5
“Em momentos de trabalho/estudo, quase não tenho notado eles
atrapalhando. Mas em momentos de lazer, vendo um filme, por
exemplo, eu tenho notado mais.”
Sonolência diurna: 10
“Não me sinto mais sonolenta ou sem energia durante o dia.”
Planejamento: 8
“Uso regularmente minha agenda, e consigo fazer alguns planos
de médio/longo prazo, e cumprir as etapas.”
Inquietação: 5
“Acho que minha ansiedade, por eventos pessoais, tem
aumentado a minha inquietação. Principalmente, em momentos de
ócio ou lazer.”
Impulsividade/compulsões: 8
VAMOS PRATICAR?
Considerando os efeitos do tratamento para o TDAH, qual das opções
abaixo melhor resume os benefícios observados em diferentes áreas da
vida dos indivíduos que recebem terapia apropriada?
2.3 Metilfenidato
Dentre os estimulantes disponíveis, o metilfenidato (MFD), comercializado no Brasil
sob os nomes Ritalina, Ritalina LA e Concerta, é o mais extensamente pesquisado e
prescrito. Sintetizado pela primeira vez em 1944, desde então, mais de 130 ensaios
clínicos avaliaram o uso do MFD no tratamento do TDAH, sendo amplamente
considerada a opção terapêutica preferencial para esse transtorno.
Fonte: Jaeschke RR, Sujkowska E, Sowa-Kućma M. Methylphenidate for attention-deficit/hyperactivity disorder in adults: a
narrative review. Psychopharmacology (Berl). 2021 Oct;238(10):2667-2691. doi: 10.1007/s00213-021-05946-0. Epub 2021 Aug 26.
PMID: 34436651; PMCID: PMC8455398.
✅ Inconveniência – pode ser muito difícil para alguns pacientes terem que tomar
a medicação várias vezes ao dia por precisar levá-las para locais indesejados,
lembrar-se de tomar, cuidar do armazenamento e criar todo um planejamento
para que não haja falta de adesão (e sabemos que essa pode ser uma grande
dificuldade para um TDAH, por mais simples que pareça).
✅ Estigmatização por outras pessoas – pode ser difícil para muitos pacientes
terem que usar uma medicação no meio do trabalho ou da faculdade. Isso pode
levar o paciente a ser alvo de julgamentos por colegas durante o dia quando
doses adicionais são necessárias, e este é um importante fator para má adesão
ao tratamento.
Imagem A.1
Imagem A.1: representação da resposta fásica neuronal através de um estimulante. É um aumento de sinal, uma resposta
aguda. A resposta fásica seria o oposto de uma ação tônica.
Podemos concluir que, pelo fato de subir a concentração sérica de forma aguda, o
MFDLI possui um perfil terapêutico superior às formulações sustentadas, porém,
nem tudo são flores, e teremos grandes prejuízos quando falarmos de tolerabilidade.
✍ Vamos praticar?
Resposta Correta:
Alternativa C: Utilizar uma formulação de metilfenidato de liberação prolongada para
minimizar os picos de concentração e reduzir a incidência de efeitos colaterais.
Esta abordagem é particularmente útil para pacientes que são sensíveis aos efeitos
colaterais ou que têm comorbidades que podem ser exacerbadas pelo MFDLI, como
o transtorno de ansiedade generalizada.
2. .STAHL, S. Psicofarmacologia - Bases Neurocientíficas e Aplicações Práticas. 5ªed.; Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2022;
💡
agora considerado uma opção de segunda linha.
Dica valiosa
É lamentável que, em muitas situações, seja necessário optar por formulações com mais
efeitos colaterais e menor custo devido às dificuldades financeiras dos pacientes para
manter o tratamento a longo prazo. Isso, sem dúvida, representa um desafio significativo
no tratamento do TDAH, com consequências alarmantes na adesão ao tratamento, na
resposta terapêutica e no prognóstico geral. Afinal, estamos falando de um tratamento que
não apenas melhora os sintomas do TDAH, mas também reduz o desemprego, os
comportamentos antissociais e até a mortalidade, ressaltando a importância de garantir o
acesso adequado a essas terapias.
Fonte: 1. Jaeschke RR, Sujkowska E, Sowa-Kućma M. Methylphenidate for attention-deficit/hyperactivity disorder in adults: a narrative
review. Psychopharmacology (Berl). 2021 Oct;238(10):2667-2691. doi: 10.1007/s00213-021-05946-0. Epub 2021 Aug 26. PMID: 34436651;
PMCID: PMC8455398.
2. Fonte: Fonte: Attention-deficit hyperactivity disorder: A handbook for diagnosis and treatment, 4th ed. Barkley, R. A. (Ed.). (2015).
3. STAHL, S. Psicofarmacologia - Bases Neurocientíficas e Aplicações Práticas. 5ªed.; Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2022;
Fonte: 1. Markowitz JS, Straughn AB, Patrick KS, DeVane CL, Pestreich L, Lee J, Wang Y, Muniz R. Pharmacokinetics of methylphenidate
after oral administration of two modified-release formulations in healthy adults. Clin Pharmacokinet. 2003;42(4):393-401. doi:
10.2165/00003088-200342040-00007. PMID: 12648029.
Particularmente, eu opto por não prescrever a Ritalina LA, uma vez que não considero
que os benefícios justifiquem o significativo aumento de preço. Existem outras
formulações disponíveis com custos menores e potencialmente mais vantajosas, como
✍
veremos a seguir.
Vamos praticar?
É importante ressaltar que a alternativa C está incorreta devido ao fato de que os picos de
concentração não estão necessariamente relacionados à resposta rápida do fármaco,
pois podem ocorrer mais tardiamente (como no caso da lisdexanfetamina, que veremos
em breve). O efeito tardio pode estar relacionado aos picos de concentração tardios, mas
não se aplica à Ritalina LA.
Uma formulação ideal de um estimulante com uma tomada diária deve apresentar
algumas características:
✅ Que esteja com níveis baixos à noite para manter o apetite no jantar e que não
atrapalhe o sono.
Imagem C: o primeiro gráfico podemos observar características de um estimulante ideal, com início rápido, sustentação do efeito
e queda significativa da concentração à noite. No segundo gráfico temos um estimulante que demora muito para atuar, gerando
sintomas matinais e com término de ação precoce, gerando sintomas no final da tarde, principalmente. No terceiro gráfico, temos
um estimulante que começa a ação rápido, sustenta a ação por um período significativo, mas prolonga demais sua ação, podendo
gerar insônia.
Fonte: .STAHL, S. Psicofarmacologia - Bases Neurocientíficas e Aplicações Práticas. 5ªed.; Rio de Janeiro: Editora Guanabara
Koogan, 2022;
Segurança
Tolerabilidade
Eficácia
Acessibilidade
Seria um sonho, não é mesmo? Infelizmente, ainda não temos um estimulante ideal, mas
estamos nos aproximando. Com essas considerações em mente, uma nova formulação
de MFD foi desenvolvida para uso clínico. O produto de MFDLP com tecnologia OROS®
(sistema de liberação oral controlada osmótica), o Concerta, que foi introduzido em 2000.
✍ Vamos praticar?
Resposta Correta:
Alternativa B: Alívio consistente dos sintomas do TDAH durante todo o dia com
minimização dos efeitos colaterais relacionados ao apetite e sono.
O Concerta foi desenvolvido com a proposta de uma liberação mais sustentada e com
picos de concentração estratégicos e reduzidos, como podemos observar na Imagem D.
Ele apresenta uma ação rápida seguida por um período de sustentação, seguido por um
novo pico (menos pronunciado do que o da Ritalina LA e MFDLI) e, por fim, uma nova
fase de sustentação de concentração que diminui gradualmente para atenuar os efeitos
colaterais tardios.
Imagem N: Representação da tecnologia OROS. Compartimento do Medicamento: Um núcleo sólido que contém o
medicamento a ser liberado. Membrana Semipermeável: Envolve o núcleo do medicamento, permitindo a entrada de água, mas
não a saída do medicamento de forma livre. Orifício de Saída: Uma pequena abertura na membrana através da qual o
medicamento é expelido de forma controlada. Agente Osmótico: Uma substância que atrai água para dentro do comprimido
através da membrana semipermeável. Camada de Expansão: Materiais que se expandem ao absorver água, ajudando a
empurrar o medicamento para fora do orifício de saída.
20-30%
Segredos do Tratamento Farmacológico do TDAH
33
1. Medicamento de Referência
✅ Pode ser mais barato que o medicamento de referência, mas costuma ser mais caro
que o genérico.
3. Medicamento Genérico
Devemos ressaltar que, embora o metilfenidato seja a molécula principal nas três drogas
mencionadas anteriormente, a forma de liberação é o fator que mais impacta em seu
efeito.
No entanto, é importante lembrar que cada paciente responde de maneira única, e todos
os dias nos deparamos com surpresas. Mesmo com as informações que discutimos,
haverá pacientes que responderão melhor ao MFDLI em vez do Concerta, por exemplo.
É um lembrete de que "o ser humano é uma caixinha de surpresas", e quando se trata
de psicofarmacologia, pode ser como abrir uma Caixa de Pandora.
Outro aspecto interessante dos psicoestimulantes é sua flexibilidade. Devido ao seu efeito
imediato e à sua duração de ação, é possível ajustar a ação terapêutica da droga de
acordo com a necessidade do paciente.
Isso significa que podemos administrar doses mais altas em dias em que a demanda é
maior e doses reduzidas em dias com menor demanda. Na minha prática clínica, costumo
recomendar que os pacientes não interrompam o uso da medicação, mesmo nos fins de
semana, e, em vez disso, realizem uma redução na dosagem. Por exemplo, se um
paciente usa 36mg de Concerta nos dias úteis, sugiro que ele mantenha os 36mg ou
reduza para 18mg nos fins de semana, em vez de suspender completamente o uso. Isso
ajuda a manter a estabilidade e a consistência no tratamento.
Em bula está descrita a opção de “férias” da medicação quando o paciente não está
necessitando no momento, como é o caso de férias escolares ou do trabalho.
É fundamental lembrar que nosso cérebro é um órgão vivo! Ele possui uma grande
capacidade de neuroplasticidade, e o mesmo se aplica à exposição aos psicofármacos. A
estabilidade é um cenário importante para potencializar os efeitos terapêuticos e reduzir
os efeitos colaterais, e isso se aplica a qualquer medicamento.
Na prática clínica, observamos que interromper o uso nos fins de semana pode levar a
efeitos colaterais durante esse período, como cansaço excessivo, desmotivação e
sonolência, o que impacta nas atividades de lazer e nas tarefas do dia a dia, como fazer
compras no supermercado, nos fins de semana.
Além disso, ao retomar a dosagem nos dias úteis, o paciente pode estar mais suscetível
aos efeitos colaterais da droga, pois seu organismo pode ter se "desacostumado" um
pouco durante esses dois dias. Usar a medicação de forma contínua, mesmo com uma
redução na dosagem nos fins de semana, ajuda a minimizar esses efeitos.
10, 20,
Metilfenidato Ritalina LA Modificada 1-2h e 6-8h ~8h 30 e 40mg
18, 36
Metilfenidato Concerta Prolongada 6h ~12h e 54mg
Após a mudança para o Concerta, João relatou uma melhora substancial nos efeitos
colaterais. Ele não mais experimentou as oscilações de humor ou os picos de pressão
arterial. Sua concentração tornou-se mais estável ao longo do dia, o que permitiu uma
rotina de estudos e atividades diárias mais previsível e gerenciável.
Observem que a forma de liberação da medicação muda completamente seu efeito. Uma
simples troca de medicação melhorou substancialmente a qualidade de vida do paciente -
sem a necessidade de tratamentos para ansiedade ou oscilações de humor em conjunto.
2.7 Anfetaminas
O inibidor competitivo é como uma chave falsa que se parece muito com a
chave real. Quando o inibidor competitivo está presente, ele "disputa" com a
molécula-alvo para entrar na fechadura. Se o inibidor se encaixar primeiro,
impede que a molécula-alvo ative a reação desejada. Em resumo, o inibidor
competitivo "compete" com a molécula-alvo pelo acesso ao local ativo,
diminuindo assim a atividade da enzima ou receptor.
🧠
(VMAT).
Relembre
Observem que isso somente ocorre em concentrações elevadas, portanto, não é uma
ação comum em doses terapêuticas da medicação, mas sim em doses de abuso.
Imagem D:
Mecanismo de ação da anfetamina nos neurônios dopaminérgicos (DA). A anfetamina age como um inibidor competitivo do
transportador de dopamina (DAT), competindo diretamente com a dopamina (DA) pelo sítio de ligação (1). Essa ação difere
do efeito do metilfenidato nos DATs e NATs, que não envolve competição direta. Além disso, como a anfetamina também
funciona como um inibidor competitivo do VMAT (uma propriedade que o metilfenidato não compartilha), ela é, na verdade,
captada no terminal DA através do DAT (2), onde pode então ser armazenada em vesículas (3). Quando em altas
concentrações, a anfetamina causa a liberação de DA das vesículas no terminal (4). Além disso, após atingir o limiar crítico
de DA, ocorre a expulsão do DA do terminal por meio de dois mecanismos: abertura dos canais para possibilitar uma
descarga maciça de DA na sinapse (5) e inversão dos DATs (6). Esse aumento rápido na liberação de DA resulta no efeito
eufórico frequentemente experimentado após o uso de anfetamina. A anfetamina produz esses mesmos efeitos nos
neurônios noradrenérgicos.
Em suma, as diferenças no mecanismo de ação entre o MFD e as Anfetaminas não resultam em grandes diferenças
clínicas, pois as principais variações ocorrem somente em concentrações fora da faixa terapêutica. Agora que entendemos
como uma anfetamina funciona, partiremos para as características inerentes do Venvanse, molécula disponível no Brasil.
Fonte: 1. Attention-deficit hyperactivity disorder: A handbook for diagnosis and treatment, 4th ed. Barkley, R. A. (Ed.). (2015).
2. STAHL, S. Psicofarmacologia - Bases Neurocientíficas e Aplicações Práticas. 5ªed.; Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan,
2022;
Somente após essa separação, o medicamento começa a ter sua ação terapêutica..
Imagem D.1:
Representação da lisdexanfetamina como um pró-fármaco.
Fonte: Ermer JC, Pennick M, Frick G. Lisdexamfetamine Dimesylate: Prodrug Delivery, Amphetamine Exposure and Duration of Efficacy.
Clin Drug Investig. 2016 May;36(5):341-56. doi: 10.1007/s40261-015-0354-y. PMID: 27021968; PMCID: PMC4823324.
Além disso, os benefícios foram mantidos até a última avaliação, realizada 12,5 horas
após a dose.
Fonte: Manos MJ, Caserta DA, Short EJ, Raleigh KL, Giuliano KC, Pucci NC, et al. Evaluation of the duration of action and comparative
effectiveness of lisdexamfetamine dimesylate and behavioral treatment in youth with ADHD in a quasi-naturalistic setting. J Atten
Disord. 2015;19(7):578–90. doi:10.1177/ 1087054712452915.
Imagem E:
O gráfico ilustra claramente o comportamento da lisdexanfetamina no organismo. Observa-se um aumento rápido na sua
concentração. Conforme a lisdexanfetamina é absorvida, ela se transforma em dextroanfetamina (a molécula ativa), cuja
concentração cresce de forma mais gradual. Aproximadamente 3,5 horas após a ingestão da cápsula, a dextroanfetamina
atinge seu pico de ação. A partir daí, sua concentração decresce de maneira suave ao longo do dia, atingindo sua
meia-vida cerca de 12 horas após a administração.
Imagem F:
Mesmo padrão de comportamento da curva da lisdexanfetamina e dextroanfetamina em adultos.
Fonte: Ermer JC, Pennick M, Frick G. Lisdexamfetamine Dimesylate: Prodrug Delivery, Amphetamine Exposure and Duration of Efficacy.
Clin Drug Investig. 2016 May;36(5):341-56. doi: 10.1007/s40261-015-0354-y. PMID: 27021968; PMCID: PMC4823324.
Como mencionado anteriormente, um pico de ação tardio pode resultar em sintomas mais
acentuados pela manhã. O Venvanse começa a atuar cerca de 1 hora após a ingestão,
alcançando seu máximo em torno de 3,5 horas - um intervalo mais longo se comparado
a outras formulações. Mas isso compromete sua eficácia? Não necessariamente. Entre 1
e 2 horas após a administração, já é possível observar efeitos terapêuticos notáveis na
maioria dos indivíduos, embora seu pico ocorra mais tarde.
Uma vantagem desse perfil de ação é a redução dos efeitos colaterais no momento do
pico, visto que o corpo tem um período mais extenso para se adaptar à medicação
conforme suas concentrações aumentam.
📝
enfatizar que a resposta à medicação varia individualmente.
Caso clínicos
Após uma avaliação cuidadosa e discussão dos benefícios e riscos, bem como do
perfil farmacológico do Venvanse, foi prescrito o medicamento na dosagem de 30mg
para ser tomado uma vez ao dia pela manhã. O paciente foi orientado quanto à forma
de ação prolongada do medicamento, que promove um aumento gradual e estável dos
níveis de dopamina, diferentemente dos picos rápidos associados a outras
medicações estimulantes, o que poderia minimizar o potencial para abuso.
✍ Vamos praticar?
Resposta Correta:
Alternativa C: A lisdexanfetamina oferece um perfil de ação prolongado que pode ser
benéfico para pacientes com Transtorno de Compulsão Alimentar, mantendo níveis
estáveis ao longo do dia.
Por fim, a alternativa E também não é correta, pois a manutenção de níveis elevados por
até 12 horas pode levar a efeitos colaterais no final do dia, como a insônia, especialmente
em pacientes sensíveis à medicação ou que tomam a dose tarde demais durante o dia
2.10 Absorção
2.10.1 Alimentação
Portanto, quando ingerida durante ou após uma refeição, a lisdexanfetamina pode levar
aproximadamente 4,5 horas para atingir seu pico de concentração, o que é
consideravelmente mais longo do que quando tomada em jejum.
No entanto, de acordo com a bula aprovada pelo Food and Drug Administration (FDA),
o órgão norte-americano equivalente à ANVISA, agentes que acidificam a urina, como
a Vitamina C, podem intensificar a excreção urinária da dextroanfetamina,
comprometendo a eficácia do medicamento. A quantidade exata em que esse efeito
ocorre não é especificada, gerando dúvidas se um simples suco de laranja seria
prejudicial ou se apenas suplementos de altas dosagens (por exemplo, >1000mg)
teriam esse impacto.
Como apenas altas doses tendem a acidificar a urina, pode-se inferir, ainda que sem
robustez científica, que somente suplementos geram esse efeito, tornando o suco de
laranja inocente nesse contexto.
Os estimulantes são prescritos para o tratamento do TDAH, mas sabemos que também
são utilizados por pessoas que não têm o transtorno, com a expectativa de aprimorar seu
desempenho. Isso é observado em estudantes e candidatos a concursos (para melhorar
o desempenho acadêmico), bem como no mercado financeiro e na indústria de software
(para aumentar a "produtividade"), sendo chamados de "smart drugs".
Além disso, há um aumento no uso desses medicamentos por indivíduos que buscam
emagrecer devido ao efeito anorexígeno da droga. No caso do Venvanse, ficou até
conhecido como "a droga da Faria Lima", uma famosa avenida na cidade de São Paulo,
onde muitas empresas demandam alta produtividade. O Venvanse chegou a esgotar os
estoques nessa região devido ao uso irregular.
Foram avaliados 40 adultos saudáveis com o chamado "teste da mochila", no qual eles
deveriam escolher, em um curto período de tempo, itens de uma lista com diferentes
valores e pesos, de forma a maximizar o valor total sem ultrapassar o limite de peso da
mochila. O teste era considerado mais complexo do que os testes neuropsicológicos
convencionais, mas mais semelhante aos desafios da vida cotidiana. Os voluntários
receberam a medicação (na dose máxima terapêutica) ou o placebo antes do teste, que
foi realizado oito vezes em quatro dias diferentes, com listas de itens variando entre 10
e 12 itens, com diferentes pesos e valores.
Segundo a revista The Economist, que fez uma análise do artigo, "este último estudo
contribuiu para o crescente corpo de evidências de que tais drogas têm pouco
impacto na melhoria do desempenho cognitivo em pessoas que não necessitam
delas".
Fonte: Bowman E, Coghill D, Murawski C, Bossaerts P. Not so smart? “Smart” drugs increase the level but decrease the quality of
cognitive effort. Science Advances 9, eadd4165 (2023)
Isso demonstra o problema de saúde pública que estamos enfrentando – uso abusivo de
estimulantes para fins comerciais ou estéticos. Não há fiscalização para que se iniba este
tipo de conduta por médicos não-especialistas pois não há restrição da distribuição dos
receituários do tipo A. A que ponto chegamos?
Uma análise adicional desses estudos sugeriu que os efeitos subjetivos da LDX não
eram significativamente diferentes quando administrados oralmente ou
intravenosamente. Isso contrasta com a dextroanfetamina IR, cujos efeitos são mais
rápidos e intensos quando administrados intravenosamente. Estes resultados indicam
que a LDX pode ter um potencial de abuso menor do que a dextroanfetamina IR.
Dados do mundo real, retirados de uma série de casos observacionais, reforçam essa
conclusão, indicando que a LDX tem um potencial mais baixo de abuso/má utilização em
comparação com as formulações IR e XR de dextroanfetamina/anfetamina.
✍
Fonte: Ermer JC, Pennick M, Frick G. Lisdexamfetamine Dimesylate: Prodrug Delivery, Amphetamine Exposure and Duration of
Efficacy. Clin Drug Investig. 2016 May;36(5):341-56. doi: 10.1007/s40261-015-0354-y. PMID: 27021968; PMCID: PMC4823324.
Vamos praticar?
Resposta Correta:
Alternativa D: A lisdexanfetamina tem um potencial de abuso menor do que a
dextroanfetamina de liberação imediata, em parte devido à sua ação mais lenta e menor
reforço positivo no núcleo accumbens.
Alternativa A: Incorreta, pois o fato do Venvanse ser uma pró-droga, faz com que haja a
necessidade de metabolização para se ativar, reduzindo assim o potencial de abuso
comparado a outras anfetaminas de ação imediata.
Alternativa E: É desmentida por dados do mundo real e estudos clínicos, que mostram
que a lisdexanfetamina tem, de fato, um potencial de abuso menor do que a
dextroanfetamina de liberação imediata. Logo, a alternativa correta é a D), justificada
pela menor ação euforizante e mais lenta da lisdexanfetamina.
Quando os estimulantes não são a opção ideal, existem alternativas não estimulantes
aprovadas pela FDA, como a Atomoxetina (Strattera™), clonidina de liberação
prolongada (Kapvay™) e guanfacina de ação prolongada (Intuniv™). Esses
medicamentos atuam de maneira diferente no cérebro em comparação aos estimulantes
tradicionais. Embora eficazes, os medicamentos não estimulantes tendem a ter efeitos
inferiores em comparação com a maioria das formulações de estimulantes.
Fonte: Posner J, Polanczyk GV, Sonuga-Barke E. Attention-deficit hyperactivity disorder. Lancet. 2020 Feb 8;395(10222):450-462.
doi: 10.1016/S0140-6736(19)33004-1. Epub 2020 Jan 23. PMID: 31982036; PMCID: PMC7880081.
2.11.1 Atomoxetina
O fato da ATMX aumentar os níveis de DA somente no córtex pré-frontal sem atuar nos
transportadores DAT (assim como os estimulantes fazem) ocorre por não haver muitos
receptores DAT no córtex pré-frontal, fazendo com que a reabsorção da DA ocorra
através do NAT. Dessa forma, ao bloquear o NAT, a ATMX eleva a DA no córtex
pré-frontal. Isso não ocorre em outros locais, como no núcleo accumbens, por haver
bastante DAT nesses locais que faz a recaptação da DA.
Fonte: 1.STAHL, S. Psicofarmacologia - Bases Neurocientíficas e Aplicações Práticas. 5ªed.; Rio de Janeiro: Editora Guanabara
Koogan, 2022;
2.Attention-deficit hyperactivity disorder: A handbook for diagnosis and treatment, 4th ed. Barkley, R. A. (Ed.). (2015).
Fonte1:.Attention-deficit hyperactivity disorder: A handbook for diagnosis and treatment, 4th ed. Barkley, R. A. (Ed.). (2015).
Fonte 2: Posner J, Polanczyk GV, Sonuga-Barke E. Attention-deficit hyperactivity disorder. Lancet. 2020 Feb 8;395(10222):450-462. doi:
10.1016/S0140-6736(19)33004-1. Epub 2020 Jan 23. PMID: 31982036; PMCID: PMC7880081.
A prescrição da Atomoxetina é facilitada pelo fato de não ser uma substância controlada.
Ela é administrada em forma de cápsula e pode ser prescrita para administração diária
única ou em duas doses fracionadas, considerando o peso e idade do paciente. Adultos
costumam utilizar a dosagem entre 40 a 100mg por dia (0,5 a 1,2mg/kg). O pleno efeito
terapêutico pode demandar até 12 semanas para manifestar-se. Além disso, a
combinação com agentes estimulantes em pacientes com resposta parcial pode
potencializar os desfechos clínicos, embora estudos mais aprofundados sejam
necessários para estabelecer completamente essa combinação como segura. Dados
preliminares sugerem que essa combinação pode ser bem tolerada e eficaz.
💡 Dica valiosa
É relevante notar que, embora a Atomoxetina seja geralmente bem tolerada, efeitos
adversos como boca seca, insônia, náuseas e diminuição do apetite podem
ocorrer.
📝 Caso clínicos
A crescente intolerância aos efeitos adversos levou J.P.R. a buscar reavaliação médica.
Após uma discussão detalhada sobre as opções terapêuticas disponíveis, decidiu-se por
uma mudança de estratégia farmacológica, optando por descontinuar o Venvanse e
iniciar tratamento com atomoxetina, uma alternativa não estimulante para o manejo do
TDAH.
Após 4 semanas de tratamento com atomoxetina, J.P.R. relatou uma melhora acentuada
nos efeitos colaterais que havia experimentado com o Venvanse. A insônia resolveu-se,
permitindo um padrão de sono mais regular e reparador. A ansiedade diminuiu
significativamente, e o apetite de J.P.R. retornou ao normal, resultando em uma
recuperação gradual do peso perdido. Além disso, a atomoxetina mostrou ser eficaz no
controle dos sintomas do TDAH, com J.P.R. relatando uma capacidade sustentada de
concentração em suas atividades diárias e uma melhora na gestão do comportamento
impulsivo.
✍ Vamos praticar?
Resposta Correta:
A alternativa D é verdadeira pois reflete corretamente o mecanismo de ação da ATMX,
seu perfil de eficácia e seu baixo potencial de abuso. Em contraste, as Alternativas A, B,
C e E estão incorretas: A ATMX não age diretamente nos DAT, como descrito na
Alternativa A; ela não é uma substância controlada, o que desmente a Alternativa B; não
eleva os níveis de DA no núcleo accumbens, invalidando a Alternativa C; e não tem efeito
terapêutico imediato, pois pode levar até 12 semanas para que os efeitos plenos se
manifestem, o que contraria a Alternativa E.
2.11.2 Bupropiona
A Bupropiona (Wellbutrin XL®, Bupium XL, Zetron XL®) é um antidepressivo que pode
ser utilizado para tratar o TDAH. Entra como terceira linha de tratamento pelo Guideline
Canadense. Atua como inibidor da recaptação da dopamina e da noradrenalina
(IRND), assim como os estimulantes, porém, sua ação é fraca, tendo pouca ação no DAT
e NAT. Os estimulantes possuem ação muito mais incisiva, o que justifica a maior
resposta terapêutica.
Fonte:1.STAHL, S. Psicofarmacologia - Bases Neurocientíficas e Aplicações Práticas. 5ªed.; Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan,
2022;
Ele tem uma cobertura de 24 horas na sua forma de liberação prolongada, com a
possibilidade de ser administrado uma vez ao dia. Os estudos indicam que a Bupropiona
é moderadamente eficaz no tratamento do TDAH em adultos e crianças. Uma pesquisa
revelou uma redução de 42% nos sintomas do TDAH com uma dosagem final média de
386 mg/dia. Para a melhor eficácia, é geralmente necessária uma dose de 400-450 mg.
Devido a estes riscos, o medicamento não deve ser administrado a pacientes com
histórico de transtornos convulsivos ou bulimia. Além disso, pode ser útil no tratamento
do TDAH quando associado a depressão comórbida, abuso de substâncias ou em
adultos com anormalidades cardíacas.
Fonte: 1. Attention-deficit hyperactivity disorder: A handbook for diagnosis and treatment, 4th ed. Barkley, R. A. (Ed.). (2015).
Fonte 2: Attention-Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD) in Adults, W Retz and R.G. Klein, Key issues in mental health, vol 176, 2010
Imagem G:
A clonidina e a guanfacina atuam modulando a atividade dos receptores α2-adrenérgicos, sendo que a clonidina age nos
receptores α2A, α2B e α2C, enquanto a guanfacina possui uma afinidade 15 a 60 vezes maior pelo receptor α2A. Esses
receptores desempenham um papel fundamental no funcionamento do cérebro, especialmente no córtex pré-frontal, uma
área crucial para funções como atenção, tomada de decisão e autocontrole. Diferentes subtipos de receptores α2-adrenér-
gicos estão distribuídos em diversas regiões cerebrais. O receptor α2A é o mais comum no córtex pré-frontal, enquanto o
receptor α2B, associado principalmente a efeitos sedativos, tem sua maior concentração no tálamo. Já o receptor α2C
pode ser encontrado no locus coeruleus e, em menor medida, no córtex pré-frontal; este subtipo é conhecido não apenas
por seus efeitos hipotensores, mas também por contribuir para a sedação, o que explica os maiores efeitos colaterais da
clonidina.
Fonte: STAHL, S. Psicofarmacologia - Bases Neurocientíficas e Aplicações Práticas. 5ªed.; Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan,
2022;
É interessante notar que, ao contrário de outros medicamentos que podem ter potencial
de abuso, a clonidina e a guanfacina não demonstram essa característica. Isso se deve
ao fato de não exercerem uma ação significativa sobre os receptores
pós-sinápticos de dopamina (DA), neurotransmissor frequentemente associado ao
reforço e à recompensa.
No que diz respeito aos efeitos colaterais, ambas as medicações podem causar sedação,
que tende a diminuir com o uso contínuo. Outros efeitos colaterais incluem boca seca,
sonhos vívidos, depressão e confusão. Em casos de superdosagem em crianças, a
situação pode ser gravemente perigosa. O tratamento com guanfacina pode causar
diminuições leves na pressão arterial e frequência cardíaca e tem sido associado a
efeitos adversos como irritabilidade e depressão.
✍ Vamos praticar?
Justificativa:
A) Esta alternativa é incorreta porque a Clonidina e a Guanfacina não atuam aumentando
a liberação de noradrenalina; elas atuam modulando a atividade dos receptores α
2-adrenérgicos. Além disso, não são consideradas medicamentos de primeira linha de
acordo com o Guideline Canadense para TDAH.
Estudos sugerem que seu mecanismo de ação seja primariamente como inibidor
do transportador de dopamina (DAT). Apesar de ser um inibidor fraco do DAT, as
concentrações do medicamento após doses orais são suficientemente altas para exercer
uma ação significativa sobre os DATs. Este medicamento parece agir por meio de uma
elevação lenta dos níveis plasmáticos, mantendo níveis sustentados por 6 a 8 horas e
ocupando incompletamente os DATs. Tais propriedades podem ser ideais para promover
a vigília ao invés de reforçar e causar dependência.
• Embora quase metade das crianças com TDAH nos Estados Unidos seja eventualmente
diagnosticada e tratada com medicamentos, mais da metade não é diagnosticada e não
recebe tratamento, contradizendo afirmações frequentes na mídia de que o TDAH na
infância é superdiagnosticado e excessivamente tratado.
• Entre 65 e 75% das crianças com TDAH respondem a qualquer medicação única; tentar
um segundo medicamento para aqueles que não responderam inicialmente pode
aumentar as taxas de resposta positiva para 80-90%.
Abaixo, podemos ver uma tabela com as principais características de cada droga:
Embora geralmente bem tolerados, os estimulantes, muitas vezes usados para tratar o
TDAH, podem causar efeitos colaterais clinicamente significativos. Estes incluem
anorexia, náusea, dificuldade para dormir, pensamentos obsessivos, dores de cabeça,
boca seca, fenômenos de rebote, ansiedade, pesadelos, tonturas, irritabilidade, disforia e
perda de peso. É essencial que documentemos esses sintomas antes do
tratamento, pois muitos pacientes com TDAH já experimentam esses problemas.
Os profissionais de saúde devem estar cientes de qualquer risco médico que o paciente
possa ter ao prescrever um medicamento para TDAH. O peso e a altura devem ser
medidos inicialmente e regularmente em crianças e adolescentes. E a história pessoal de
sintomas cardíacos deve ser considerada antes de iniciar tratamentos estimulantes.
Segue uma síntese das contraindicações, precauções e cuidados que precisamos ter
ao prescrever medicações para o TDAH
PSICOESTIMULANTES
ATOMOXETINA
ALFA-ADRENÉRGICOS
Fontes: Fonte: 1. Attention-deficit hyperactivity disorder: A handbook for diagnosis and treatment, 4th ed. Barkley, R. A. (Ed.).
(2015).
Fonte 2: Attention-Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD) in Adults, W Retz and R.G. Klein, Key issues in mental health, vol 176,
2010
Fonte 3: Posner J, Polanczyk GV, Sonuga-Barke E. Attention-deficit hyperactivity disorder. Lancet. 2020 Feb 8;395(10222):450-462.
doi: 10.1016/S0140-6736(19)33004-1. Epub 2020 Jan 23. PMID: 31982036; PMCID: PMC7880081.
Fonte 4: Fonte: .STAHL, S. Psicofarmacologia - Bases Neurocientíficas e Aplicações Práticas. 5ªed.; Rio de Janeiro: Editora
Guanabara Koogan, 2022;
✍ Vamos praticar?
Justificativas
1: Verdadeira. Identificar sintomas pré-existentes é crucial para avaliar o impacto real
dos medicamentos e ajustar a terapia conforme necessário.
2: Verdadeira. Devido aos potenciais efeitos cardiovasculares dos estimulantes, o
controle dos sinais vitais pode prevenir complicações.
3: Verdadeira. O crescimento e o desenvolvimento são considerações vitais no
tratamento pediátrico e a segurança cardíaca é um foco principal para todos os
pacientes que iniciam o tratamento com estimulantes.
4: Falsa. O sono adequado é fundamental para o bem-estar dos pacientes com
TDAH, e os estimulantes podem alterar com frequência os padrões de sono, exigindo
intervenções adaptadas.
4 Comorbidades
Em muitos casos, o TDAH não está presente isoladamente. A avaliação para o TDAH
exige uma análise das possíveis comorbidades e consideração dos fatores biológicos,
sociais e psicológicos. Quando o histórico clínico do paciente é complexo e se está
considerando um tratamento farmacológico, o encaminhamento a um especialista em
TDAH pode ser necessário.
Muitos indivíduos com TDAH têm condições coexistentes que podem complicar sua
apresentação clínica. Às vezes, pode ser necessário priorizar qual condição tratar
primeiro. A gama de comorbidades significativas podem trazer uma difícil adaptação ao
tratamento, com necessidade de combinações terapêuticas para viabilizar a
tolerabilidade e tratar as condições simultaneamente.
E como manejar?
Tão importante quanto o diagnóstico é a abordagem terapêutica. O adulto
diagnosticado com TDAH precisa estar ciente dos riscos e benefícios da
farmacoterapia e das alternativas disponíveis. O tratamento muitas vezes combina
medicamentos e terapias cognitivas. A escolha do medicamento deve ser feita
considerando comorbidades, tolerabilidade, eficácia e duração da ação.
Qual a solução? Tratar ambos, afinal tratar somente um dos problemas piora o outro.
Associar medicações para TDAH e ansiedade, assim como intervenções psicológicas,
atividade física e estimular a higiene do sono.
Vou ilustrar para você como se apresenta um paciente TDAH adulto com
comorbidades no consultório:
Carlos, 27 anos, compareceu à consulta relatando uma série de desafios que estava
enfrentando em sua vida profissional e pessoal. Ele estava ciente de que suas
dificuldades de concentração, procrastinação crônica e desorganização o
acompanhavam desde a infância, mas nunca havia procurado ajuda médica. No último
ano, Carlos notou um aumento significativo em sua ansiedade e um período de tristeza
e desprazer que o deixaram incapacitado por várias semanas.
Bem, devemos lembrar que o TDAH precisa ser tratado, mas devemos priorizar os
transtornos mais agudos, no caso, a depressão (que ainda não temos dados para
caracterizar um transtorno bipolar), a ansiedade e o sono.
Esperaríamos a resposta
medicamentosa para daí pensar no
tratamento do TDAH. Supondo que
o paciente não seja bipolar e tenha
respondido bem ao tratamento,
poderíamos recomendar agora um
psicoestimulante de longa ação, o
Venvanse ou Concerta para avaliar
a resposta.
Supondo que retorne ao consultório em mania ou hipomania (sabíamos que essa era
uma possibilidade), o correto seria trocar o ISRS por um estabilizador do humor,
aguardar melhora do paciente e só assim iniciar o psicoestimulante. O erro da maioria
dos médicos consiste em parar no tratamento da depressão ou transtorno bipolar e não
iniciar o tratamento do TDAH, seja por medo ou por não identificarem o TDAH.
Como podem observar, muitas vezes será necessário um tratamento combinado para
que o tratamento seja realmente eficaz.
✍ Vamos praticar?
Respostas:
4. Falsa. Abordar apenas a ansiedade sem tratar o TDAH pode ser ineficaz, já que os
sintomas do TDAH podem intensificar a ansiedade.
5 Interações Medicamentosas
5.1 Anfetaminas
AMP = Anfetaminas
5.2 Metilfenidato
MPH = metilfenidato
5.3 Atomoxetina
Existem alguns estudos que investigaram os efeitos dos medicamentos para TDAH na
gravidez. No entanto, é importante observar que esses estudos têm limitações, incluindo
o tamanho pequeno da amostra e a falta de controle de fatores de confusão.
Um estudo de coorte realizado nos Estados Unidos (Nordeng & Moen, 2016) comparou
as taxas de malformações congênitas em mulheres que usaram medicamentos para
TDAH durante a gravidez com as taxas em mulheres que não usaram esses
medicamentos. O estudo não encontrou nenhuma associação entre o uso de
medicamentos para TDAH e o risco de malformações congênitas.
Um estudo de imagem cerebral realizado no Reino Unido (Smyth et al., 2022) comparou
os resultados de exames de ressonância magnética cerebral em crianças cujas mães
usaram medicamentos para TDAH durante a gravidez com os resultados de exames de
ressonância magnética cerebral em crianças cujas mães não usaram esses
medicamentos. O estudo não encontrou nenhuma diferença nos resultados dos
exames de ressonância magnética cerebral entre as crianças cujas mães usaram
medicamentos para TDAH e as crianças cujas mães não usaram esses
medicamentos.
Além disso, é importante considerar os possíveis efeitos dos medicamentos para TDAH
durante a amamentação. Estudos observacionais em animais e seres humanos sugerem
que esses medicamentos podem ser detectados no leite materno, mas geralmente em
concentrações baixas. Um estudo observacional envolvendo 100 mulheres com TDAH
que estavam amamentando encontrou que os níveis de medicamentos para TDAH no
leite materno eram geralmente baixos e não causaram efeitos adversos nos bebês
(Adler et al., 2012).
Além disso, outro estudo observacional, que incluiu 1.100 mulheres com TDAH que
estavam amamentando, não encontrou um aumento no risco de problemas de
desenvolvimento em bebês cujas mães utilizavam medicamentos para TDAH
durante a amamentação (Pedersen et al., 2019).
Essas descobertas sugerem que, embora os medicamentos para TDAH possam ser
excretados no leite materno em pequenas quantidades, eles não parecem representar
um risco significativo para o desenvolvimento ou a saúde dos bebês durante a
amamentação. No entanto, as mulheres que estão amamentando e que estão tomando
medicamentos para TDAH devem discutir suas preocupações com seus médicos, que
podem ajudá-las a tomar decisões informadas sobre o tratamento durante esse período.
Como sempre, o acompanhamento médico é essencial para avaliar a situação individual
de cada paciente.
Podemos utilizar o site e-lactancia.org para nos guiar nessas condutas. Eles classificam
o metilfenidato como muito baixo risco e a lisdexanfetamina como baixo risco.
📝 Caso clínicos
Entretanto, foi realizada uma adaptação ao tratamento não farmacológico, com ênfase
em estratégias de coping e organização, como uso de listas de tarefas, estabelecimento
de rotinas diárias, mindfulness e exercícios de relaxamento. A paciente também iniciou
terapia comportamental cognitiva com um psicólogo especializado em TDAH, para
desenvolver habilidades de manejo dos sintomas.
Apesar dos desafios iniciais após a suspensão do Venvanse, M.S.A. relatou uma
adaptação gradual ao novo regime e manifestou uma sensação de conforto e
tranquilidade em saber que estava tomando uma decisão que percebia como mais
segura para a saúde de seu bebê. Durante as consultas de acompanhamento, M.S.A.
mostrou-se engajada com as estratégias não farmacológicas, relatando melhorias em
sua organização e capacidade de gerenciar o TDAH sem medicação.
Fonte: Adler, L. A., Biederman, J., Faraone, S. V., Spencer, T. J., Wilens, T. E., & Mick, E. (2012). Maternal use of psychotropic medica-
tions and risk of adverse events in the offspring: A prospective cohort study. Journal of the American Academy of Child & Adolescent
Psychiatry, 51(1), 38-47.
Kukkonen, S., Korkman, M., Pesonen, A., & Ebeling, H. (2022). Maternal use of ADHD medications during pregnancy and child develop-
ment: A population-based cohort study. Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry, 61(7), 667-676.
Mors, O., Henriksen, T. B., Andersen, M. L., Olsen, J., & Laursen, L. S. (2022). Maternal use of ADHD medication during pregnancy and
risk of congenital malformations: A Danish nationwide cohort study. JAMA Pediatrics, 176(7), e20213421.
Nordeng, H., & Moen, B. E. (2016). Maternal ADHD medication use during pregnancy and risk of major congenital malformations: A
nationwide cohort study. JAMA Pediatrics, 170(1), 66-72.
Pedersen, C. B., Henriksen, T. B., Andersen, M. L., Olsen, J., & Laursen, L. S. (2019). Maternal use of ADHD medication during pregnancy
and child development: A Danish nationwide cohort study. Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry, 58(12),
1289-1299.
Smyth, A., Sattar, N., Williams, S. C., Taylor, E., & Coghill, D. R. (2022). Maternal use of ADHD medication in pregnancy and child
neurodevelopment: A prospective cohort study. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 63(7), 842-852.
Referências
20. Kandel, E. R., Schwartz, J. H., Jessell, T. M., Siegelbaum, S. A.,
& Hudspeth, A. J. (2013). Principles of neural science (5th ed.). New
York, NY: McGraw-Hill.
Referências
29. Olds, J., & Milner, P. (1954). Positive reinforcement produced by
electrical stimulation of septal area and other regions of rat brain.
Journal of Comparative and Physiological Psychology, 47(6), 419-
427.