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A BÍBLIA:

O LIVRO PARA HOJE

John R. W. Stott

ABU Editora S/C


Livros Para Gente Que Pensa
1
DEUS E A BÍBLIA

Nosso primeiro tópico, "Deus e a Bíblia", nos


apresenta o tema da revelação. Por isso, peço que
prestem atenção em meu texto, que é Isaías 55:8-
11. É Deus mesmo quem está falando:

Porque os meus pensamentos nã.o são os vossos


pensamentos, nem os vossos caminhos os meus
caminhos, diz o Senhor,
porque, assim como os céus são mais altos do que
a terra, assim são os meus caminhos mais altos do
que os vossos caminhos, e os meus pensamentos
mais altos do que os vossos pensamentos.
Porque, assim como descem a chuva e a neve dos
céus, e para lá nã.o tornam, sem que primeiro
reguem a terra e afecundem e a façam brotar, para
dar-semente ao semeador e pão ao que come,
assim será a palavra que sair da minha boca; nã.o
voltará para mim vazia, masfará o que me apraz,
e pr.osperará naquilo para que a designei.
12 DEUS E A BÍBLIA

Esse grande texto nos apresenta pelo 1nenos


três . liçõe� importantes que ·precisa1n ser
aprendidas.

A racionalidade. da revelação
Certas pessoas acham difícil o próprio conceito
de revelação. A idéia de que Deus possa revelar­
se à humanidade desafia-lhes o entendimento.·
"Por que ele faria isso?" e "Como poderia fazê­
lo?" Minha resposta é que a evidente necessidade
de uma revelação divina faz com que essa idéia
seja eminente1nente razoável. Ein todas as
épocas, a maioria das pessoas sente-se
desconcertada com os mistérios da vida e da
experiência humana. Assiln, se muitas delas
adinitem que precisam de uma sabedoria que
venha de fora de si mesmas para que possam
captar o sentido de suas próprias vidas, quanto
mais o sentido do Ser Divino, se é que Deus existe.
Vamos voltar até Platão. Em Fédon, ele fala da
nossa necessidade de seguir por 1nares escuros e
vagar sobre a pequena "jangada" de nosso
próprio entendilnento, "na qual nos
arriscaremos", acrescenta, "uma vez que não a
podemos percorrer, com mais segurança e cmn
menos riscos, sobre um transporte mais sólido:
quero dizer, uma revelação diviI1a!"
Se1n a revelação, sem a instrução e a orientação
diviI1a, nós, seres hwnanos, nos sentilnos como
um barco sem leme, à deriva em alto-mar; uma
A B1BUA: O LIVRO PARA HOJE 13

folha arremessada impiedosamente pelo vento


ou um cego tateando na escuridão. Como
podemos encontrar o caminho? E, o que é mais
importante, como podemos encontrar o caminho
de Deus, sem a sua orientação? A impossibilidade
de os seres humanos descobrirem Deus pelo seu
próprio intelecto, sem outra ajuda, é asseverada
co1n 1nuito clareza neste texto, nos versículos 8 e
9. "Porque os meus pensamentos não são os
vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os
meus caminhos, diz o Senhor, porque, assim
como os céus são mais altos do que a terra, assim
são os 1neus caminhos mais altos do que os vossos
caminhos, e os meus pensamentos mais altos do
que os vossos pensamentos." Em outras palavras,
há wn grande abismo entre a mente de Deus e a
�ente humana. O texto expressa um contraste
entre os caminhos e os pensamentos de Deus e os
nossos caminhos e pensamentos. Ou seja, entre
aquilo que pensamos e fazemos, e aquilo que
Deus pensa e faz, existe uma grande diferença. Os
pensamentos e os caminhos de Deus são muito
1nais altos do que os pensamentos e os caminhos
do homem, assim como os céus são mais altos que
a terra: isso significa uma distância infinita.
Con sideremos os pensamentos de Deus.
Como poderíamos descobrir seus pensamentos
ou ler sua mente? Ora, nós nem conseguimos ler
os pensamentos dos outros. Tentamos. Ficamos
observando os olhos dos outros, para ver se
14 DEUS E A BÍBLIA

estão cintilando ou piscando, sombrios ou


.al�gr�s. Se _eu fi�asse ·em silêncio aqui no púlpito
e manti:vessé o ro_sto impassível, vocês não teriam
a mínima idéia _.do que eu estaria pensando.
Tentem. Vou ficar uns instantes sem falar. Agora,
o que estava se ·passando em minha mente?
Algum palpite? Não? Bem, vou lhes q:mtar. Eu
estava escalando a torre da Igreja de All Souls,
tentando alcançar o topo! Mas vocês não sabiam.
Não tinhain noção alguma do que eu estava
pensando. Claro. Vocês não podem ler minha
mente. Se ficarmos em silêncio, será impossível
ler a mente uns dos outros.
E mais i.tnpossível ainda (se é que existem
graus de hnpossibilidade) é penetrar nos
pensamentos do Deus Todo-Poderoso! A mente
dele é infinita. Seus pensainentos se elevam acima
dos nossos, como os céus se eleva1n acima da
terra. É ridículo supor que seríamos capazes de
penetrar na mente de Deus. Não há nenhuma
escada pela qual nossas mentes limitadas possain
subir até sua mentê infinita. Não há nenhuma
ponte que possa alcançar o outro lado do abismo
infinito. Não há nenhwn cantinho para alcançar
ou sondar Deus.
Portanto, é be1n lógico dizer que, se Deus não
tomar a iniciativa de revelar o que está em sua
mente, nunca conseguiremos descobri-lo. A não
ser que Deus se revele a nós, nw1ca consegwrernos
conhecê-lo, e todos os altares do inundo irão levar
a trágica inscrição "Ao Deus Desconhecido",
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como a que Paulo viu em Atenas (At 17:23).


Este é o lugar para começar nosso estudo. É o
lugar da humildade perante o Deus infinito.
Também é o lugar da sabedoria, quando
percebemos a racionalidade da idéia da
revelação.

O meio de revelação
Admitindo que seja razoável que Deus tenha se
revelado, como ele fez isso? Em princípio, do
mesmo modo como nós nos revelamos ou nos
expomos uns aos outros, ou seja, pelas ações e
pelas palavras, pelas coisas que fazemos e
dizemos.
As artes criativas sempre foram um dos
principais meios de auto-expressão humana.
Estainos conscientes de que temos, dentro de nós,
algo que precisa vir à tona, e lutamos para dar­
lhe vida. Para alguns, o canal apropriado é a
música ou a poesia; para outros, uma das artes
visuais - desenho, pintura ou fotografia,
cerâmica, escultur�, entalhe ou arquitetura,.
dança ou teatro. E interessante que, dessas
1nanifestações artísticas, a cerâmica é a mais
freqüente na Bíblia - provavelmente porque o
oleiro era uma figura bem conhecida nas vilas da
Palestina. Por isso, Deus disse que "fonnou" ou
"moldou" a terra e também o ser humano, para
habitar nela (p. ex.: Gn 2:7; Sl 8:3; Je 32:17). E mais:
ele próprio pode ser visto em suas obras. "Os
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céus proclamam a.glória de Deus-e o firma1nento


anuncia às obr�s dás·suas mãos" (Sl 19:1; Is 6:3).
Ou como Paulo escreve no começo de Romanos:
"Porquanto o que de Deus se pode conhecer é
manifesto entre eles (isto é, no mundo gentio),
porque Deus lhes manifestou. Porque os
atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno
poder como também a sua própria divindade,
claramente se reconhecem, desde o princípio do
mundo, sendo percebidos por meio das coisas
que foram criadas" (Rm 1:19-20). Em outras
palavras, assim como os artistas humanos se
revelam em sua pintura, escultura ou 1núsica, o
artista divino também se revela na beleza, no
equilíbrio, na complexidade e na orde1n de sua
criação. Dela, aprendemos um pouco de seu
poder, sabedoria e fidelidade. Gerahnente isso é
den01p.inado revelação "natural", porque é dado
por meio da "natureza".
Entretanto, não é a isso que o meu texto se
refere, mas, sim, ao segundo meio, mais direto,·
pelo qual nos damos a conhecer uns aos outros
e pelo qual Deus se deu a conhecer a nós, ou seja,
as palavras. A fala é o meio de comunicação mais
completo e flexível entre dois seres humanos. Já
mencionei que, se permanecesse em silêncio no
púlpito, com o rosto impassível, eu seria
insondável e vocês não conseguiriam descobrir
o que estava na minha mente. Mas agora a
situação mudou. Vocês sabem o que está se
passando na minha mente, porque já não estou
A BÍBLIA: O LIVRO PARA HOJE 17

em silêncio. Estou falando. Estou revestindo os


pensamentos da minha mente com as palavras da
minha boca. As palavras da minha boca estão
lhes comunicando os pensamentos da minha
mente.
Portanto, a fala é o melhor meio de
comunicação, e a fala é o principal modelo usado
pela Bíblia para ilustrar a auto-revelação de Deus.
Volte ao texto, nos versículos 10 e 11: "Porque,
assim como descem a chuva e a neve dos céu.s,
e para lá não tomam, sem que primeiro reguem
a terra e a fecundem e a façam brotar, para dar
semente ao semeador e pão ao que come, assim
será a palavra..." Note a segunda referência ao
céu e à terra: se a chuva desce dos céus para regar
a terra, é porque os céus estão acima da terra.
Note também que o autor passa diretamente dos
pensamentos de Deus para as palavras da boca
de Deus: '' assim será a palavra que sair da minha
bocai ... fará o que me apraz, e prosperará naquilo
para que a designei". O paralelo é evidente.
Assim como os céus são mais altos do que a terra,
mas a chuva desce dos céus para molhar a terra,
os pensamentos de Deus também são mais altos
do que os nossos pensamentos, mas descem até
nós, porque sua palavra sai de sua boca e, assim,
nos transmite seus pensamentos. Corno o profeta
havia dito antes (Is 40:5), a "boca do Senhor o
disse". Ele estava se referindo a um de seus
próprios oráculos, mas o descreveu como se fosse
uma mensagem proveniente da boca de Deus.
DEUS E A BÍBLIA

Ou, como Paulo escreveu em 2 Tilnóteo, "toda


� Esq:itura é soprada por Deus" (a tradução literal
de theopneustos em 2 T1n 3:16). Ou seja, as
Escrituras são a Palavra de Deus, são proferidas
pela boca de De.Us.
Depois de considerar a afirmação expressa e1n
meu texto, para mim é importante acrescentar
algumas ressalvas, a fim de esclarecer nosso
entendimento de como Deus falou sua Palavra.
Primeiro, a Palavra de Deus (agora registrada
nas Escrituras) tinha uma relação direta com sua
atividade. Ou seja, ele falou a seu povo tanto por
ações como por palavras. Ele se deu a conhecer
a Israel na história da nação, orientando-a de tal
forma a manifestar por meio dela, ora sua
salvação, ora seu julgamento. Assiln, ele resgatou
o povo da escravidão no Egito; conduziu-o com
segurança pelo deserto e o estabeleceu na terra
prometida; preservou a identidade nacional dos
israelitas através do período dos juízes; deu-lhes
reis para goven1á-los, embora o fato de exigirem
um rei humano fosse, em parte, uma rejeição de
seu próprio reinado; seu julgamento caiu sobre
eles devido à sua desobediência persistente,
quando foram levados ao exílio da Babilônia; e
então os reconduziu à terra e lhes permitiu
reconstruir a nação e o templo. Acima de tudo,
por nós, pecadores, e pela nossa salvação, enviou
seu Filho eterno, Jesus Cristo, para nascer, viver
e trabalhar, para sofrer e morrer, para ressuscitar
e derramar o Espírito Santo. Deus se revela de
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uma forma ativa e pessoal através desses atos,


primeiro na história do Antigo Testamento, mas
de modo supremo em Jesus Cristo.
Por essa razão, alguns teólogos considera1n
importante fazer uma distinção bem clara entre
a revelação "pessoal" (através das obras de Deus)
e a revelação "proposicional" (através de suas
palavras), rejeitando, então, a última em favor da
primeira. Entretanto, essa polarização é infeliz e
desnecessária. Não precisamos escolher entre
esses dois meios de revelação. Deus usou ambos.
Além disso, os dois estavam intimamente ligados,
pois as palavras de Deus interpretavam seus atos.
Ele levantou os profetas para explicar o que
estava fazendo para Israel, e levantou os
apóstolos para.explicar o que estava fazendo
através de Jesus. É verdade que o processo divino
de auto-revelação culminou na pessoa de Jesus.
Ele era a Palavra de Deus encarnada. Ele
demonstrou a glória de Deus. Vê-lo significava
ver o Pai (cf. Jo 1:4, 18; 14:9). No entanto, essa
revelação histórica e pessoal não nos teria
beneficiado se, juntamente com ela, Deus não nos
tivesse desvendado o significado da pessoa e da
obra de seu Filho.
Portanto, precisamos fugir da armadilha de
colocar a revelação "pessoal" em contraposição
à revelação "proposicional", como se fossem
antagônicas. É mais exato dizer que Deus se
revelou em Cristo e no testemmlho bíblico a
20 DEUS E A BÍBLIA

respeito de Cristo. Um não é completo se1n o


outro.
Ségundo; a Palavra de Deus veio a nós através de
palavras humanas. Quando Deus falou, ele não
gritou lá do céu azul, de um modo audível para
as·pessoas. Não, ele falou através dos profetas (no
Antigo Testamento) e através dos apóstolos (no
Novo Testamento). Além disso, esses agentes
humanos da revelação de Deus era1n pessoas
reais. A inspiração divina não foi u1n processo
mecânico, que reduzia os autores humanos da
Bíblia a máquinas, fossem 1náquinas copiadoras
ou gravadores de fita. A inspiração divina foi um
processo pessoal, e1n que os autores humanos da
Bíblia geralmente estavam em plena posse de
suas faculdades mentais. Basta ler a Bíblia para
ver isso. Os escritores de narrativa (e a Bíblia
contém uma grande quantidade de narrativas
históricas, tanto no Antigo como no Novo.
Testamento) usaram registros históricos, muitos
dos quais são mencionados no Antigo
Testamento. No início de seu evangelho, Lucas
refere-se a sua cuidadosa pesquisa histórica.
Além disso, todos os autores bíblicos
desenvolveram seus próprios estilos literários e
ênfases teológicas caraterísticas. Daí a rica
diversidade das Escrituras. Contudo, Deus
mesmo estava falando através das várias
perspectivas deles.
Esta verdade da dupla autoria da Bíblia (ou
seja, que ela é a Palavra de Deus e a palavra dos
A BÍBLIA: O LIVRO PARA HOJE 21

homens, ou melhor, a Palavra de Deus através das


palavras dos homens) é o conceito que ela própria
faz de si. A lei do Antigo Testamento, por
exemplo, às vezes é chamada "lei de Moisés" e
outras vezes "lei de Deus" ou "lei do Senhor".
Em Hebreus 1:1 lemos que Deus falou aos pais
por meio dos profetas. Em 2 Pedro 1:2t
entretanto, lemos que homens falaram da parte de
Deus, movidos pelo Espírito Santo. Assim, Deus
falou e os homens falaram. Eles falaram "da
parte" dele, e ele falou "através" deles. Ambas as
afirmações são verdadeiras.
Além disso, precisamos manter as duas
afirmações ao mesmo tempo. Como na Palavra
encan1ada Oesus Cristo), também na Palavra
escrita (a Bíblia) o elemento humano e o divino
se combinam e não se contradizem mutuamente.
Essa analogia, que foi desenvolvida logo no irúcio
da história da igreja, hoje é muitas vezes criticada.
E, obviamenteJ não é exata, já que Jesus era uma
pessoa, enquanto a Bíblia é um livro. Apesar
disso, a analogia continua sendo útil, contanto
que nos lembremos de suas limitações. Por
exemplo: nunca se deve afirmar a divindade de
Jesus a ponto de negar sua humanidade, nem
afirmar sua humanidade a ponto de negar sua
divindade. O mesmo acontece com a Bíblia. Por
um lado, a Bíblia é a Palavra de Deus. Ele falou,
decidindo pessoalmente o que desejava dizer,
mas sem nunca distorcer a personalidade dos
autores humanos. Por outro lado, a Bíblia é a
22 DEUS E A BÍBLIA

palavra dos homens. ·Os homens fararam, usando


livremente sua§}acUÍdades, mas sem distorcer a
verdade da mensagem divina.
A dupla autoria da Bíblia vai afetar a maneira
como a lemos. Sendo a palavra de homens,
precisamos estudá-la cmno um outro livro
qualquer, usando nossa mente, investigando suas
palavras e sintaxe, suas origens históricas e sua
composição literária. Mas sendo também a
Palavra de Deus, devemos estudá-la co1no �
livro único, de joelhos, humildes, clamando pela
iluminação de Deus e pela ministração do
Espírito Santo, sem o qual nunca conseguiremos
entender sua Palavra.

O propósito da revelação
Já estudainos como Deus falou. Mas por que ele
falou? A resposta é: não só para nos ensinar, mas
para nos salvar; não só para nos instruir, mas para
nos instruir especificamente "para a salvação"
(2 Tm 3:15). A Bíblia tem um propósito
fortemente prático.
Voltando para Isaías 55, essa é a ênfase dos
versículos 10 e 11. A chuva e a neve caem do céu
e não retomam. Elas cumpre1n um propósito na
terra. Elas a regam. Fazem-na produzir e
germinar e a tomam frutífera. Assim também a
Palavra de Deus, partindo de sua boca e
desvendando sua mente, não retoma a ele vazia.
Ela cumpre se u propósito. Além disso, as razões
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de Deus para enviar chuva à terra e para falar sua


Palavra aos seres humanos são similares. Em
ambos os casos, o propósito é a frutificação. Sua
chuva toma a terra frutífera. Sua Palavra toma
frutíferos os seres humanos. Ela os salva,
transformando-os à semelhança de Jesus Cristo.
O contexto é, certamente, a salvação. Nos
versículos 6 e 7 o profeta fala da misericórdia e do
perdão de Deus, e na seqüência, no versículo 12,
ele fala sobre a alegria e a paz do povo redimido
de Deus.
De fato, aqui está a principal diferença entre
a revelação de Deus na criação ("natural",
porque é dada através da natureza, e "geral",
porque é dada a todos os seres humanos) e a sua
revelação na Bíblia ("sobrenatural", porque é
dada por inspiração, e "especial", porque é dada
para pessoas específicas, através de pessoas
específicas). Por meio do universo criado, Deus
revela seu poder, glória e fidelidade, mas não o
caminho da salvação. Se quisermos descobrir seu
plano gracioso para a salvação dos pecadores,
precisamos nos voltar para a Bíblia, pois é através
dela que ele nos fala de Cristo.

Conclusão
A partir de nosso texto em Isaías 55, aprendemos
três verdades.
Em primeiro lugar, a revelação divina não é
somente racional, mas é também indispensável.
24 DEUS E A I3ÍI3L1A

Se1n ela, nunca conseguiríamos conhecer a Deus.


Em segundo lugar, a revelação divina faz uso
das palavras. Deus falou através de palavras
humanas e, ao fazê-lo, estava explicando seus
atos.
Em terceiro lugar, a revelação divina é para a
salvação. Ela nos chama a atenção para Cristo
co1no o Salvador.
Minha conclusão é 1nuito simples. É um
chamado à humildade. Nada é mais nocivo para
o crescimento espiritual do que a arrogância e
nada é mais propício para o crescimento
espiritual do que a humildade. Precisainos nos
humilhar diante do Deus infinito, reconhecendo
as litnitações de nossa mente hmnana (nunca
conseguiría1nos encontrá-lo por nós mesmos) e
a nossa própria pecaminosidade (nunca
conseguiría1nos alcançá-lo por nós mesmos).
Jesus chamou isso de "hu1nildade de wna
criancinha". Deus se esconde dos sábios e
entendidos, disse, mas se revela aos
"pequeninos" (Mt 11:25). Ele não estava
denegrindo nossas mentes, pois Deus as
concebeu para nós. Pelo contrário, estava
mostrando como nós devemos usá-las. A
verdadeira função da mente não é se exaltar,
julgando a Palavra de Deus, mas se humilhar,
colocando-se sob ela, ansiosa para ouvi-la,
entendê-la, aplicá-la e obedecer-lhe nos aspectos
práticos da vida diária.
A 13!13LIA: O LIVRO PARA HOJE 25

A "humildade" das crianças não é vista


apenas no modo como elas aprendem, mas
tainbém no modo como recebem as coisas. As
crianças são dependentes. Nenhuma de suas
posses foi conquistada. Tudo o que têm lhes foi
dado de graça. Devemos, portanto, "receber o
reino de Deus como uma criança" (Me 10:15),
pois os pecadores não merecem - nem podem
conquistar - a vida etema (que é a vida do reino
de Deus); precisamos nos hwnilhar para recebê­
la como um dom gratuito de Deus.

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