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AULA – O CONHECIMENTO DE DEUS

Quem conhece esta imagem?

A Criação de Adão é uma pintura feita por Michelangelo no


teto da Capela Sistina entre os anos de 1508 e 1510, a
pedido do papa Júlio II.
Essa pintura integra um conjunto de pinturas que compõem
o teto da Capela Sistina, onde Michelangelo representou
várias cenas bíblicas e figuras proféticas.

Considerada a sua obra-prima, rendeu a Michelangelo um


enorme prestígio, tornando-o um dos maiores artistas da
História.
E por que eu resolvi utilizar esta imagem para iniciar o tema
“CONHECIMENTO DE DEUS?”
Basicamente, dentre tantas coisas interessantes nessa
imagem, o que eu quero chamar a atenção de vocês é para
o centro dela: onde estão os dedos indicadores de Deus e
Adão.
O braço de Adão está dobrado e o seu dedo caído, sinais
de fraqueza do homem, em oposição à postura de Deus,
com o braço estendido e o dedo esticado, dando ênfase ao
seu poder criador, à sua majestade.
Isso, de certa forma, tem a ver com o assunto que vamos
tratar hoje. Quando falamos sobre conhecimento de Deus,
isso só é possível porque Ele teve a iniciativa de se revelar.
O conhecimento de Deus não parte de nós, visto que,
assim como retratado na postura de Adão, nós somos
terrenos, fracos, limitados e imperfeitos. Enquanto Deus é o
Todo Poderoso de onde parte a criação, a salvação, enfim,
a autorrevelação.
Portanto, diante de um Deus tão majestoso e insondável,
não teríamos condições de conhecê-lo se Ele não
revelasse a si mesmo.
E por que é tão importante o conhecimento de Deus?
Slide de Spurgeon

Spurgeon, falando sobre a importância de se conhecer a


Deus, disse em um dos seus sermões que:
“Nada é melhor para o desenvolvimento da mente do que
contemplar a divindade. Trata-se de um assunto tão vasto,
que todos os nossos pensamentos se perdem em sua
imensidão; tão profundo que nosso orgulho desaparece em
sua infinitude... é um assunto que humilha a mente do
sábio. Porém, ao mesmo tempo que este assunto humilha
a mente, também a expande. Aquele que pensa com
frequência em Deus terá a mente mais aberta do que
alguém que apenas vive para si mesmo...
Ao mesmo tempo que humilha e expande, este assunto é
também consolador. Na contemplação de Cristo existe um
bálsamo para cada ferida; na meditação sobre o Pai, há
consolo para todas as tristezas, e na influência do Espírito
Santo, alívio para todas as mágoas.
Você quer esquecer sua tristeza? Quer livrar-se das suas
preocupações? Então, vá, atire-se no mais profundo mar
da divindade; perca-se na sua imensidão, e sairá dele
completamente descansado, reanimado e revigorado.

Essas palavras de Spurgeon, pregadas há 169 anos atrás,


continuam totalmente verdadeiras.
Mas, há também outro motivo do porquê é importante o
conhecimento sobre Deus:
A única maneira de entender todas as outras doutrinas
cristãs corretamente é somente quando entendemos o
caráter de Deus. Por isso é tão importante o conhecimento
de Deus.
DEUS INCOMPREENSÍVEL
O primeiro aspecto que precisamos entender quando o
assunto é conhecimento de Deus é que Ele é
incompreensível.
À princípio parece algo até contraditório porque, como é
possível estudar algo que é incompreensível?
Porém, os teólogos utilizam o termo incompreensível
diferente daquele significado que estamos acostumados.
Em teologia, incompreensível não significa que não
podemos saber nada a respeito de Deus, mas apenas que
o nosso conhecimento sobre ele sempre será limitado.
É famosa a expressão de João Calvino: finitum non capax
infinitum.
Alguém aqui sabe o que significa essa frase?
“O finito não pode assimilar o infinito”.

*usar o recurso do copo transbordando.


Um pequeno copo de 200ml não pode conter uma
quantidade infinita de água porque tem um volume finito.

Por isso que não podemos ter, por exemplo, todas as


respostas para as diversas circunstâncias as quais somos
expostos na vida. Às vezes queremos que Deus explique o
porquê das coisas, mas uma mente finita não vai conseguir
compreender a infinitude.
A gente lembra logo de Jó. Obviamente ele não conseguia
entender como ele sendo justo estava vivendo aquela
circunstância incomum.
Ele até chega a pedir uma audiência com Deus para que o
Senhor apresentasse quais acusações tinha contra ele. (Jó
24.1)
Porém, quando Deus aparece, no final do livro, não
responde os porquês de Jó, ao invés disso lhe faz várias
perguntas para as quais, não somente Jó não tinha
resposta, como também nenhum de nós as teria.
¹ Então o Senhor respondeu a Jó do meio da tempestade.
Disse ele: ² "Quem é esse que obscurece o meu conselho
com palavras sem conhecimento? ³ Prepare-se como
simples homem; vou fazer-lhe perguntas, e você me
responderá. ⁴ "Onde você estava quando lancei os
alicerces da terra? Responda-me, se é que você sabe
tanto. ⁵ Quem marcou os limites das suas dimensões? Vai
ver que você sabe! E quem estendeu sobre ela a linha de
medir?
Jó 38:1-5
Em outras palavras, Deus está dizendo a Jó: “não adianta
eu tentar te explicar o porquê de tudo isso, que você não
vai entender. Ou, numa linguagem bem moderna, sua
cabeça vai ficar toda bugada”.
Interessante que isso foi suficiente para Jó compreender
que sua finitude não teria condições de compreender a
infinitude de Deus. então, ele diz no capítulo 42:
¹ Então Jó respondeu ao Senhor: ² "Sei que podes fazer
todas as coisas; nenhum dos teus planos pode ser
frustrado. ³ Tu perguntaste: ‘Quem é esse que obscurece o
meu conselho sem conhecimento?’ Certo é que falei de
coisas que eu não entendia, coisas tão maravilhosas que
eu não poderia saber”. Jó 42:1-3

DEUS REVELADO
Então, embora seres finitos não possam assimilar o
conhecimento de Deus em sua totalidade. Podemos,
contudo, aprender algo sobre Ele e ter um conhecimento
importante e significativo a respeito de quem ele é.
Isso porque, como disse João Calvino, Deus se dirige a nós
em nossos termos e em nossa linguagem, como um pai
falaria ao filhinho.
De fato, é uma espécie de conversa infantil, mas ainda
assim, algo significativo e inteligível é comunicado.

Antropomorfismo e Antropopatismo na Bíblia


Antropomorfismo e antropopatismo são recursos de
linguagem que atribuem características humanas a Deus
com o objetivo de descrevê-lo. O antropomorfismo significa
“em forma humana” – do grego anthrõpos, que significa
“homem, humano ou humanidade”, e morfe, “forma”. Daí
vem o siginificado de Morfologia, que é o estudo das
formas. Já o antropopatismo significa “em sentimento
humano” – do grego anthrõpos, “humano”, e pathos,
“sentimentos”.
Isso quer dizer que a linguagem antropomórfica atribui a
Deus certas formas e características físicas humanas –
olhos, boca, ouvidos, mãos, etc.; enquanto que a
linguagem antropopática atribui sentimentos humanos a
Deus – alegria, ira, arrependimento, etc.
Por que isso? As Escrituras nos dizem que Deus não é
homem, ele é espírito (Jo 4.24)
“²⁴ Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores
o adorem em espírito e em verdade”. João 4:24
Se ele é espírito, logo não é físico. Ele não tem matéria,
como nós seres humanos. Por isso, para facilitar nossa
compreensão, ele é descrito muitas vezes com atributos
físicos e atributos emocionais.

Exemplos:
“Os olhos do SENHOR estão em todo lugar, contemplando os maus e os
bons” Provérbios 15:3
Linguagem Antropomórfica
Isso significa que ele conhece plenamente tudo que existe
e tudo que está ocorrendo a todas as pessoas do mundo.
Não só isso, mas também demonstra o fato da onisciência
de Deus interferir na vida das pessoas.
A ideia é fazer com que os maus temam e que os bons
confiem no Senhor e esperem dele a proteção dos males e
dos ataques inimigos. É o efeito parecido com aquele em
que a professora vê um aluno batendo em outro e,
chamando-os, lhes diz: “Estou de olho em vocês”. A
intenção é conter o ímpeto do brigão e dar segurança e
tranquilidade ao fraco.

Assim diz o Senhor: O céu é o meu trono, e a terra, o estrado dos meus
pés. Que espécie de casa vocês me edificarão? É este o meu lugar de
descanso?” Isaías 66:1
Linguagem Antropomórfica

A idéia aqui é que, enquanto Deus habitava e reinava em


soberana majestade nos mais altos céus, nenhuma casa
que pudesse ser construída na terra poderia ser magnífica
o suficiente para ser sua morada.

Há seis coisas que o Senhor odeia, sete coisas que ele detesta:
Provérbios 6:16
Linguagem Antropopática
Claramente, o texto aponta para atitudes humanas que são
abomináveis para Deus. Que contrariam totalmente seus
atributos de bondade, justiça, verdade, pureza e amor.

Por isso, assim diz o Soberano Senhor: “Na minha ira, permitirei o
estouro de um vento violento, e, na minha indignação, chuva de pedra e
um aguaceiro torrencial cairão com ímpeto destruidor”.
Ezequiel 13.13
Linguagem Antropopática

Aqui trata do juízo que Deus está prestes a enviar contra os


falsos profetas.

Em certo sentido, toda a linguagem bíblica é


antropomórfica visto que Deus não fala conosco em sua
própria linguagem. Se assim o fosse não entenderíamos.

DEUS DESCRITO
Por fim, há algumas maneiras pelas quais nós podemos
descrever Deus. Existem pelo menos 3. A primeira delas é
a:
Via negationis – a palavra via significa estrada ou
caminho. E negationis significa apenas negação. Caminho
da negação. Ou seja, descrevemos a Deus dizendo o que
ele NÃO É.
Por exemplo: Falamos que Deus é infinito, que significa
“não finito”.
Os homens mudam constantemente, e por sofrerem
mudança, são chamados: mutáveis. Deus, porém, não
muda. De modo que ele é descrito como imutável, que
significa “não mutável”. Nesses dois exemplos, infinito e
imutável, Deus é descrito pelo que ele não é.
A segunda maneira pela qual descrevemos a Deus é
chamada de:
Via eminentiae – Ou o “caminho da eminência”.
Aqui elevamos conceitos ou referências humanas ao grau
supremo, como os termos onipotência e onisciência.
Ou seja, pega-se a palavra poder, potentia e a palavra
conhecimento, scientia, e eleva ao grau supremo
acrescentando a palavra omni, que significa tudo ou todo.
Onipotente – Ele é todo-poderoso; Onisciente – Ele sabe
de todas as coisas.
A terceira maneira é a via affirmationis – O “caminho de
afirmação”.
É quando fazemos afirmações específicas sobre o caráter
de Deus, como Deus é um, Deus é santo, Deus é
soberano, Deus é justo, etc. Atribuímos positivamente
certas características a Deus e afirmamos que elas são
verdadeiras a respeito dele.

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