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INOVAÇÕES

CIENTÍFICAS E
TECNOLÓGICAS EM
ESTÉTICA E
COSMÉTICA

Vanessa Foletto da Silva


Técnica, tecnologia e ciência
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir os conceitos de técnica, tecnologia e ciência.


 Comparar os três conceitos.
 Descrever o papel da técnica, da tecnologia e da ciência.

Introdução
Nos tempos atuais, a ciência ocupa um lugar de destaque, estando
as- sociada a grandes descobertas e invenções da sociedade. Desse
modo, o uso de técnicas cada vez mais qualificadas e os constantes
avanços tecnológicos mudam constantemente a forma de o ser
humano ver e enfrentar o mundo em que vive. No entanto, o termo
“ciência”, em si, pode ser visto de diferentes formas e, assim, gerar
conclusões adversas sobre sua definição.
Neste capítulo, você conhecerá os conceitos dessas três formas
de conhecimento, seus avanços e como elas influenciam a forma de
vida de uma sociedade.

O que são ciência, técnica e tecnologia?


Chalmers (1993) analisa a ciência a partir do indutivismo, que demonstra
que as teorias científicas se baseiam em experiências realizadas por meio de
observações e experimentos. A forma como as pessoas enxergam um fato,
suas preferências ou opiniões não servem para a ciência. O método indutivo
apresentado pelo autor demonstra que a ciência é baseada na análise das partes
para o todo. Assim, um determinado fato será observado inúmeras vezes para,
depois, se chegar a uma teoria sobre ele.
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ciência

No indutivismo, a ciência fica atrelada à observação dos fatos. Para con-


trapor a indução, o autor apoia a dedução. Na sua percepção, a dedução, que
parte da teoria de que se as premissas são verdadeiras e, portanto, a conclusão
consequentemente também será verdadeira, é o método mais apropriado
para se chegar à ciência. Analisando os dois lados, indutivismo e dedução, o
autor aponta que não existe um método inquestionável que comprove a
veracidade das teorias científicas.
A palavra ciência deriva do termo latino scientia, que significa saber ou
conhecimento. Assim, podemos defini-la como um aprendizado obtido por meio
de estudos práticos e teóricos, que envolvem observação e experimentação.
A ciência passa por mudanças, estando em constante renovação e
modificação. Por meio de novos estudos, pode ser melhorada, alterada ou
ficar em desuso, no caso de não ser possível fazer a sua comprovação. A
sociedade também faz parte do processo de formação da ciência, uma vez
que esse termo está relacionado com o processo de reflexão do ser humano
e sua interação com o ambiente ao seu redor. Assim, há várias formas de se
produzir ciência, não ficando restrita apenas ao trabalho de pesquisadores e
laboratórios.
A técnica nos remete aos tempos antigos, talvez até os primórdios da
humanidade. Ortega y Gasset (2009) veem essa época, em que a fabricação
de instrumentos não se diferenciava tanto dos atos naturais do ser humano,
como um estágio primitivo da técnica e defendem a ideia de que o pensamento
humano é simbólico, na medida em que existe um símbolo entre os objetos e
a mente. Podemos citar como exemplo a pedra lascada. Entre a pedra
lascada e cortar há uma forma de facilitar o corte e melhorar o instrumento,
que é a possibilidade de polir para cortar melhor. Isso se caracteriza como
desenvol- vimento técnico.
Após esse estágio, os autores defendem um segundo estágio da técnica,
chamado de técnica do artesanato, em que as ações técnicas são ensinadas
de geração a geração, partindo da invenção até o aperfeiçoamento dos
instru- mentos. Nessa etapa, surgem homens com maior habilidade, os
artesãos, que ficam responsáveis por funções técnicas. Nesse momento,
inicia-se a escrita de tratados para o ensino das técnicas às gerações futuras.
Já no século XVII, inicia-se o uso de conhecimentos científicos para a
resolução de problemas técnicos. Como exemplos dessa aplicação, temos o
gerador e o motor elétrico. Com essa demanda surge o terceiro estágio da
técnica, denominada por Ortega y Gasset (2009) como técnica dos técnicos.
Nessa etapa, o homem passa a ser operário, um auxiliar da máquina, mas
também surge alguém que sabe construir uma máquina e manter sua conser-
vação. Esse homem passa a ser denominado engenheiro. Sua ação consiste
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ciência

em analisar o problema a ser resolvido, dividindo-o em partes e resolvendo-


o a partir da parte mais simples.

Tecnologia tem sua origem nas palavras gregas tekhne, que significa técnica,
arte, e logos, conjunto de saberes. Em geral, esse termo remete a algo material
de um processo que se manifesta por meio de instrumentos e máquinas, que
possuem como objetivo trazer melhorias à vida humana. Essa ideia acaba sendo
propagada principalmente pelos meios de comunicação, nas suas constantes
divulgações de novos produtos e serviços.
Assim, a tecnologia pode ser entendida como o uso de técnicas e o
conhe- cimento para aperfeiçoar o trabalho, resolver um problema ou executar
tarefas. Analisando-se os povos primitivos, a transformação de pedras em
lâminas para cortar madeira já pode ser considerada como uma iniciação
tecnológica. A partir do século XX, o campo da tecnologia da informação
começa a se desenvolver de forma mais abrangente que as demais áreas.
Com a industria- lização dos países europeus impulsionando o crescimento
de vários tipos de indústrias, a tecnologia passa a ganhar mais modernidade,
depois da influência vinda de grandes potências mundiais, e passa a ser
relacionada a aspectos modernos. Esses fatores levaram à otimização no uso
da energia elétrica e ao desenvolvimento da locomotiva a vapor e da química.
Desse modo, aumentam as relações comerciais e, com isso, surge a
necessidade de desenvolvimento e aprimoramento dos meios de
comunicação e do gerenciamento das infor- mações. Isso explica o fato de,
na atualidade, os ramos de nanotecnologia, computação e robótica terem
tanta visibilidade, levando à associação da
tecnologia a aparelhos cada vez mais modernos, sofisticados e inteligentes.

Diferenças entre ciência, técnica e tecnologia


Tem-se definidas três principais concepções de ciência. Essas concepções são
adotadas como base para a busca de conhecimento. A concepção
racionalista, ocorrida até o fim do século XVII, vê a ciência como um
conhecimento racional dedutivo. Nessa concepção, a matemática pode ser
utilizada como exemplo, pois é capaz de produzir uma verdade sem deixar
qualquer dúvida possível. Aqui, as experiências científicas são realizadas
apenas para verificação e confirmação do que já está demonstrado na teoria.
Na concepção empirista, que predominou até o fim do século XIX, a
ciência é vista como uma interpretação dos fatos, baseada em observações e
experimentos. Os métodos experimentais são sempre rigorosos, pois são uti-
lizados para formular uma teoria acerca de um assunto. Assim, o experimento
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ciência

não tem apenas o papel de verificar e confirmar conceitos, mas também de


produzir esses conceitos.
No século XX, inicia-se a concepção construtivista. Nesse modelo, a ciência
é considerada como uma construção de modelos explicativos para a realidade.
Não há a representação da própria realidade; aqui, os cientistas combinam os
dois procedimentos do racionalismo e do empirismo e acrescentam a eles
um terceiro procedimento, que trabalha a ideia de conhecimento
aproximativo e passível de correção. No construtivismo, o cientista utiliza a
concepção racionalista, na medida em que exige que o método seja capaz de
lhe permitir o estabelecimento de deduções e definições sobre o objeto
científico e a con- cepção empirista, que exige que a experimentação sirva
como guia e auxilie na modificação das definições e demonstrações. Na
verdade, o que o cientista espera é que seu trabalho proporcione modelos de
funcionamento da realidade, explicando os fenômenos observados, mas não a
apresentação da realidade em si. Espera-se uma verdade aproximada, e não
absoluta, sobre os fatos.
Chauí (2000) aponta que a busca pelo ideal de cientificidade traz três
exigências: coerência entre os princípios que orientam a teoria, que os mo-
delos dos objetos sejam baseados na observação e experimentação e que os
resultados obtidos possam alterar os princípios da teoria, trazendo correções.

A ciência tem como objetivo explicar os fenômenos que ocorrem na na-


tureza. Seu esforço, portanto, é para a compreensão do mundo. A tecnologia,
por sua vez, é uma atividade prática, é uma forma, um instrumento ou um
processo utilizado para alcançar um objetivo. Seu objetivo é possibilitar uma
comodidade à vida.

A tecnologia depende da ciência? A tecnologia não necessariamente depende da


ciência. Um exemplo é como se deu a descoberta da produção de fogo pelos
seres humanos. Os primitivos não tinham noção de que é a combustão do
oxigênio que gera luz e calor; eles só queriam aquecimento e iluminação de
ambientes.
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ciência

Atualmente, a tecnologia apresenta uma maior dependência da ciência.


Um exemplo é a produção de um celular. Na sua produção, é preciso utilizar
os conceitos de ondas, para que o aparelho possa fazer ligações e se conectar
à internet. A bateria precisa dos princípios da química e da eletricidade para
funcionar. Isso nos remete a poder definir a tecnologia como uma aplicação
prática da ciência.
Não há como falar em ciência sem relacioná-la com a técnica, palavra
de origem grega que significa prática (i.e., compreende saber fazer algo de
acordo com um conjunto de regras estabelecidas). No geral, a técnica necessita
do uso de ferramentas e conhecimentos diversos, que podem ser físicos ou
intelectuais. Seu uso justifica-se pela constante necessidade do ser humano
de atender às suas necessidades. Para cada necessidade que surge, o homem
vai atrás de novas técnicas, com o objetivo de satisfazê-las. Com isso,
surgem novas técnicas e outras, que já existiam, são modificadas ou
aperfeiçoadas. Nesse processo, o homem cria formas de transformar
recursos naturais em ferramentas necessárias à sua evolução. Os animais
também fazem uso da técnica para atender a eventuais necessidades de
sobrevivência.

O papel da técnica, da ciência e da tecnologia


Barbosa (2006) enxerga, na atualidade, uma demanda das empresas na busca
por profissionais altamente capacitados em sua área de atuação para fazer frente
às exigências tecnológicas. Domínio do saber e preocupação em melhorar
sua capacitação são exigências das organizações no momento de selecionar
seus colaboradores.
O uso da tecnologia deve ser voltado para o crescimento e o desenvolvi-
mento das pessoas. É preciso refletir sobre como a tecnologia tem afetado
e alterado a vida da sociedade. Essa ferramenta nos oferece constantemente
novos conhecimentos, traz mais praticidade à nossa vida diária, mas também
distancia as pessoas da vida real. É preciso usar os recursos tecnológicos que
temos à disposição considerando-se os riscos envolvidos com o seu uso.
A ciência tem uma contribuição inquestionável para a sociedade, como, por
exemplo, por meio da contribuição para os avanços nas áreas da saúde, meio
ambiente, educação e energia. Seu desenvolvimento proporciona melhoria
na qualidade de vida humana, trazendo conhecimento cultural e intelectual
às pessoas.
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O estudo da ciência não está vinculado apenas aos tempos atuais; o tema
nos remete ao período moderno, em que Galileu Galilei pode ser
considerado o pai da ciência moderna. Suas contribuições foram o
desenvolvimento de instrumentos, a criação do método científico e a
constante luta pela dissemi- nação de conhecimento.
A ciência pode ser vista como uma atividade voltada à busca sistemática
de conhecimentos sobre as naturezas biológica, social e tecnológica, com a
finalidade de melhorar a qualidade de vida das pessoas. Juntamente com a
tecnologia, o objetivo da ciência é gerar conceitos a partir das novas descobertas
experimentais relacionadas a materiais e sistemas, possibilitando, assim, o
uso desses conhecimentos científicos na melhoria de processos e na criação
de novos produtos.
A educação tem grande importância no desenvolvimento
socioeconômico de um país, e é por isso que ciência, técnica e tecnologia se
empenham para contribuir com esse meio. No período da Revolução
Industrial, por exemplo, o despreparo técnico dos operários levou à
necessidade da criação de escolas técnicas, com o objetivo de preparar esses
profissionais para desempenhar corretamente suas atividades.
A tecnologia trouxe grandes mudanças na área da educação. A
cibernética revolucionou a forma de aprendizagem, tanto presencial, por
meio de ensino e pesquisa, quanto a distância, por meio do acesso à
informação. A introdução do ensino a distância via EAD transformou a
forma de ensino, possibilitando a expansão do conhecimento.
Levy (2010) defende a ideia de que o uso das mais variadas tecnologias
no meio educacional deve ser reavaliado constantemente para poder atingir
seu objetivo de auxiliar o ambiente escolar na produção de conhecimento.
É preciso preparo dos educadores para saber fazer o uso correto dos meios
tecnológicos disponíveis e, assim, obter bons resultados na aprendizagem e no
desenvolvimento dos seus alunos. Mesmo com tantas ferramentas tecnológicas
disponíveis, o uso de técnicas, como seminários, pesquisas de campo e teatros
devem continuar fazendo parte do processo de ensino. O autor ressalta,
ainda, a importância do computador, vendo-o como uma máquina de ler e
escrever, mas também como um museu virtual, uma biblioteca mundial,
devido à sua grandiosidade de representação.
Em determinados períodos da história, a globalização econômica foi
vista com desconfiança, e seus excessos levaram a guerras. Atualmente, seu
uso representa a abertura de mercados para as relações comerciais. Com o
iní- cio da globalização, todos esses avanços técnicos e tecnológicos
trouxeram consequências. Mesmo com esse contraponto, esses avanços
proporcionaram
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ciência

grandes benefícios para setores econômicos e educacionais. Em todo o


nosso contexto, houve avanços positivos. O desenvolvimento de novos
produtos e o surgimento de novos meios de comunicação proporcionaram
novas formas de se comunicar, pensar e agir.
No meio científico, não houve tantas mudanças em relação a esse ponto,
pois o conhecimento científico é universal por sua natureza, e sua aquisição
não depende de fronteiras, acordos comerciais ou proteção de patentes. As leis
da física são as mesmas utilizadas para todos os países. Na maioria das
vezes, o conhecimento científico circula livremente, sem um controle
determinado, mesmo quando surgem forças contrárias à globalização.

BARBOSA, P. O. D. Desenvolvimento tecnológico da micro e pequena empresa através dos tra- balhos
CHALMERS, A. F. O que é ciência afinal? São Paulo: Brasiliense, 1993. CHAUÍ, M. Convite à filosofia. S
LEVY, P. Cibercultura. 3. ed. São Paulo: Ed. 34, 2010.
ORTEGA Y GASSET, J. Meditações sobre a técnica. Lisboa: Sociedade Unipessoal, 2009.

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