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O GRUPO ADONHIRAMITA DE ESTUDOS

apresenta

AS COLUNAS
NO RITO ADONHIRAMITA

J Sergio Emilião
B
MI - F R+C
OBSERVAÇÕES
• A apresentação foi baseada no Ritual do Grau de Aprendiz Maçom, Rito Adonhiramita, publicado pelo Grande
Oriente do Brasil – GOB, edição 2009
• Os comentários refletem apenas a opinião pessoal do apresentador, e não a posição oficial do Grande Oriente
do Brasil nem de qualquer Potência Simbólica ou Filosófica na qual o Rito Adonhiramita é praticado
• Todas as dúvidas podem e devem ser dirimidas de forma oficial junto à Secretaria Geral de Orientação
Ritualística do Grande Oriente do Brasil, e nos departamentos correspondentes nas demais Potências

AVISO LEGAL
O ingresso na sala virtual desta apresentação implica na tácita concordância com a íntegra do que dispõe a Lei
Geral de Proteção de Dados, Lei Federal n° 13.709, de 14.08.2018
INTRODUÇÃO
• A posição das Colunas nos Templos Adonhiramitas é uma das
características do Rito
• O Rito Francês, ou Moderno, também adota este mesmo
posicionamento
• Sendo assim, a primeira conclusão a que se chega é que não há
nenhum sentido místico nesta opção, já que os Ritos que a adotam
são antagônicos em relação à questão do misticismo na doutrina
maçônica
• Por que foram colocadas no interior dos Templos, e o que elas são?
• Qual o seu simbolismo?
• Quando, e porque foram inseridas nos rituais?
• Esta posição está certa ou errada?
• Embora o estudo das Colunas seja mais aprofundado no Grau de
Companheiro, elas são vistas pelos Aprendizes, e algumas
informações são apresentadas. Não cometerei nenhuma indiscrição
• Existem muitas correntes e explicações sobre as Colunas nos
Templos Maçônicos. Nenhuma delas me satisfez por completo
• Minha intenção é apresentar as hipóteses existentes sobre a adoção
deste elemento, e sua posição no Rito Adonhiramita, e minha
opinião pessoal sobre a real razão dessa escolha
O QUE SÃO COLUNAS?
• De modo geral, colunas são elementos arquitetônicos estruturais, de sustentação
de lajes e vigas
• São sinônimos de pilares
• São uma evolução dos mastros de madeira que sustentavam as lonas de cobertura
das tendas das primeiras civilizações
• A partir da obra De Architectura, do arquiteto romano Vitruvius, as colunas,
diferentemente dos pilares, tiveram adicionadas a conotação de elementos
decorativos, o que passou a diferenciá-las dos pilares
• Algumas colunas, inclusive, deixaram de possuir a função estrutural para se
tornarem simples elementos decorativos, como as colunas vestibulares do Templo
de Jerusalém, por exemplo
• Neste último caso, as colunas se aproximam do conceito dos menires, obeliscos e
totens da antiguidade
• Há ainda a conotação de elemento vertical, que deu origem às expressões coluna
de fumaça, coluna de ar, e coluna de fogo, por exemplo
• Em nossos rituais, as colunas traduzem um pouco de cada um destes conceitos
O ABRIGO

• Pode parecer estranho, mas as colunas estão relacionadas ao conceito de abrigo,


e penso que este simbolismo também pode ser anexado às Colunas maçônicas
• Os primeiros seres humanos sedentários empilharam pedras, formando colunas
de sustentação, e sobre elas colocaram pedras maiores, fazendo tetos
• Assim se abrigavam das intempéries
• Estava inventado o primeiro abrigo, o embrião das casas modernas
• É bem provável que esses homens primitivos também procurassem se proteger da
ira dos deuses, moradores do céu, se ocultando de sua visão
• Os nórdicos, por exemplo, tinham um medo absurdo que o céu caísse sobre suas
cabeças
• Ao se abrigar, o homem adquiriu melhores condições de segurança para sua
família
• O abrigo é um reduto
• As primeiras Lojas especulativas eram um abrigo para livres pensadores, que ali
se protegiam das perseguições políticas, religiosas, e se refugiavam dos dogmas,
fanatismos e superstições
• Assim como nossos lares, a intenção da doutrina maçônica, é que nossas Lojas
Simbólicas sejam um abrigo de fraternidade, sustentadas por colunas
O ELEMENTO ESTRUTURAL
• As colunas são elementos estruturais nas obras. Separam planos, e os mantém
estáveis, em seus devidos lugares
• Uma coluna não é capaz de sustentar um teto ou pavimento, assim como um
maçom não é maçom sozinho. A coluna é um elemento solidário, precisa de outros
elementos para se tornar útil estruturalmente, e nós, maçons, também
• Duas colunas também não permitem a sustentação de uma laje ou telhado, são
necessárias pelo menos três. Isso nos parece familiar
• Vitruvius estabeleceu o trinômio VENUSTAS, FIRMITAS, UTILITAS – BELEZA,
FIRMEZA, e UTILIDADE para definir a obra de arquitetura ideal
• Nossas Lojas também são sustentadas por três Colunas, SABEDORIA, FORÇA e
BELEZA, a mim, parece claro que o conceito maçônico derivou da arquitetura
clássica, e não poderia ser diferente, desenvolvemos nosso simbolismo com base
nas guildas de pedreiros medievais
• As colunas descarregam no solo as cargas resultantes do peso próprio das vigas,
lajes e telhados
• Mas não faz isso sozinha, há uma conjugação de esforços para isso, um trabalho
cooperativo e solidário, fracionando a carga para as colunas vizinhas, de modo
que o peso possa ser suportado e a construção se torne estável
• As três Colunas que sustentam nossos Templos são doutrinárias, alegóricas
• As colunas que sustentam realmente a Loja são os obreiros do quadro
• Quando uma Loja ABATE AS COLUNAS, devemos entender que os membros da
Oficina, suas colunas de sustentação, foram incapazes de manter a estabilidade e
a harmonia, ou, eram em número insuficiente para suportar as cargas
O SÍMBOLO FÁLICO

• Alguns autores consideram as colunas dos Templos maçônicos


como símbolos fálicos, representativos da virilidade masculina
• Essa hipótese se moldou em função das colunas maçônicas serem
elementos decorativos, marcos, e não estruturais, como definem
nossos rituais
• Os menires e obeliscos da antiguidade tinham essa característica
• Também influenciou neste pensamento, o fato das Constituições de
Anderson estabelecerem que apenas homens podem se tornar
maçons
• Apesar de ser uma tese coerente, na minha opinião não foi essa a
razão dos ritualistas terem inserido as colunas em nossos Templos
• Elas estão ali para nos transmitir um simbolismo muito mais amplo
e profundo, que varia de acordo com o Rito, mas mantém uma
unidade com relação à doutrina
OS MARCOS SOLTICIAIS
• As antigas civilizações cultuavam o Sol como uma divindade, ou ao
menos, como a sua imagem material. É o caso dos egípcios, por
exemplo
• Nos antigos templos do Egito, era comum ver duas colunas no pórtico
de entrada, para que o trânsito do Sol pudesse ser observado do
interior, no espaço entre elas
• Isso influenciou a orientação das catedrais cristãs medievais, e do
próprio Templo de Jerusalém
• Neste sentido, devemos observar que a orientação simbólica dos
atuais Templos maçônicos é invertida, ou seja, a porta está no Oeste,
onde o Sol se põe, e o fundo do Templo está no Leste, onde o Sol
nasce. Esse fato, no meu entendimento, é crucial para que possamos
entender o por quê da posição das colunas nos Templos
Adonhiramitas, lembrando que os Vigilantes estão posicionados de
modo a “melhor observarem a passagem do Sol pelo meridiano”
• Me parece evidente, que este simbolismo, ou associação com o
trânsito do Sol no firmamento, pode e deve ser considerado em
nossos rituais
AS COLUNAS NA MAÇONARIA

• É claro que as colunas desempenhavam um importante papel no período


operativo da Maçonaria. Elas emprestavam enorme beleza às catedrais,
além de sustentar os magníficos arcos botantes das igrejas góticas
• Mas a Maçonaria Especulativa não as inseriu nos rituais por conta dessa
razão, ou pelo menos, não somente por isso
• As colunas dos Templos maçônicos têm conceito filosófico, ou seja, foram
atribuídos simbolismos diferentes dos conceitos arquitetônicos
tradicionais
• Me parece evidente que tenham surgido nos rituais após a adoção da Lenda
do Terceiro Grau, ou seja, por volta de 1725
• Mas ao contrário do que se supõe, não foi exatamente da versão atual,
relacionada ao Templo de Salomão, mas da primeira das versões da Lenda
do Terceiro Grau, que por acaso, era a Lenda Noaquita, título pelo qual nós,
Adonhiramitas, fomos identificados por um bom tempo
• Nessa Lenda, apesar da personagem principal ser o patriarca bíblico Noé, o
único homem “justo e perfeito” aos olhos de IAVEH, havia nela um
elemento dos mais importantes, as colunas de Enoch
• No meu entendimento, a versão atual da Lenda do Terceiro Grau é um
sincretismo das duas versões anteriores
AS COLUNAS DE ENOCH
• O Livro de Enoch foi banido da Bíblia, não é um livro canônico, mas era muito difundido no século
I, e certamente influenciou o pensamento cristão
• Enoch era bisavô de Noé, e ao contrário do que normalmente somos levados a pensar, foi ele, e não
seu bisneto, quem previu o cataclismo que quase destruiria o planeta
• Em seu Livro, Enoch conta que o anjo Uriel o levou a conhecer os Planos Superiores, até a
presença do Altíssimo, dando-lhe a conhecer os mistérios do Universo
• Uriel teria o alertado que a Terra sofreria um desastre vindo dos céus, e que seria quase destruída,
ou pelas águas, ou pelas chamas
• O conhecimento da civilização antediluviana devia ser preservado
• Assim, Enoch, determinou a Tubalcain, que construísse duas colunas ocas, para que o
conhecimento humano fosse ali inserido, uma feita de mármore para resistir ao fogo, e uma de
bronze para resistir às águas
• No meu entendimento isso explica muita coisa:
1. A aparição de Tubalcain, que nada tem a ver com o Templo de Salomão, em nossos rituais
2. O fato das Colunas serem ocas
3. O “salário”, que Aprendizes e Companheiros recebem, é guardado no interior das Colunas
ocas. Este “salário”, é CONHECIMENTO
4. O cataclismo ocorreu em função de fortes chuvas, ou seja, pelas águas, e não pelo fogo,
portanto, a coluna que resistiu foi a de bronze, e as Colunas de nossos Templos, segundo o
ritual, são justamente de bronze
5. Enoch, segundo o relato bíblico, viveu exatos 365 anos, coincidentemente o número de dias
do ano. Curioso para uma civilização lunar, formada por pastores. Isso o associa ao Sol e seu
trânsito
6. Enoch não “conheceu a morte”, foi elevado aos céus, como se “morresse” para o mundo
material, e “renascesse” no Plano Superior. Coincidência ou não, é um conceito muito
próximo da Iniciação
7. Justifica também a adoção, pelos demais Ritos, de Hiram Abiff como arquiteto do Templo
AS COLUNAS DE MOISÉS

• Moisés, na verdade, não construiu nada, apenas o Tabernáculo do Deserto,


que era um templo móvel, e por ser uma enorme tenda, as colunas de
sustentação eram mastros de madeira
• Mas segundo o relato do Livro do Êxodo, nos 40 anos de peregrinação do
povo hebreu pelo deserto, foram guiados rumo à Terra Prometida por duas
Colunas, uma de fogo, para ser vista durante a noite, e outra de fumaça, para
ser enxergada durante o dia
• Alguns autores entendem que as Colunas dos nossos Templos estão
relacionadas a esta narrativa, justificando, inclusive, sua coloração no Painel
do Grau
• Não é este meu entendimento, e também parece não ter sido o dos ritualistas
que as inseriram. Pelo menos, é essa a conclusão que chegamos quando
lemos o ritual
• As Colunas do Templo são físicas, e não uma analogia, a SABEDORIA cria, a
BELEZA orna, e a FORÇA sustenta. As TRÊS sustentam a Loja,
simbolicamente
AS COLUNAS BÍBLICAS
• A descrição das Colunas dos Templos Adonhiramitas modernos está contida no primeiro Livro dos Reis, e segundo Livro das
Crônicas, da tradição judaico-cristã, que narram a construção do Templo de Salomão

“Hurão fundiu duas grandes colunas de bronze, cada uma com oito metros e dez centímetros de altura e cinco metros e quarenta
centímetros de circunferência, medidas com o fio de doze côvados. Ele fez também dois remates de bronze fundido que foram fixados
no alto das colunas, cada capitel destes media dois metros e vinte e cinco centímetros de altura. O alto de cada coluna era adornado
com arranjos artísticos de correntes entrelaçadas, sete em cada capitel. Assim fez as colunas; e fez ainda duas fileiras de romãs de
bronze fundido em redor sobre uma rede, para cobrir os remates que estavam no alto das colunas; assim fez cada um dos capitéis. Os
remates que foram fixados no alto das colunas do pórtico tinham o formato de lírios, e mediam um metro e oitenta centímetros de
altura. Nos remates das duas colunas, acima da parte que tinha formato de taça, próximo ao arranjo de correntes, foram instaladas
duzentas esculturas de romãs, enfileiradas ao redor. Hurão colocou essas duas grandes colunas de bronze na frente da entrada do
Templo. A que ficava no lado sul se chamava Iahim, Jaquim, Ele estabelece. A que ficava no lado norte se chamava Bôaz, Ele é
poderoso. Os capitéis no alto tinham o formato de lírios. E assim a obra da grandes colunas foi concluída.
(1 Reis, 7, 15-22)

“Ergueu na frente do templo duas colunas que, juntas, tinham cerca de dezesseis metros, cada uma tendo em cima um capitel com
dois metros e vinte e cinco centímetros. Da mesma forma fez guirlandas, correntes, para o Debir, o santuário interior, e mandou que
fossem fixadas no alto das colunas, e também mandou esculpir cem grandes romãs para adornar as guirlandas. Em seguida levantou
as colunas na frente do templo, uma ao sul, outra ao norte; à que se ergueu à direita, na parte sul deu-lhe o nome de Iahin, isto é, Ele
firma. E à que ficava à esquerda, ao norte chamou Bôaz, isto é, n’Ele há o poder”.
(2 Crônicas, 3, 15-17)
AS COLUNAS DO RITUAL

• A descrição das Colunas em nossos rituais é a seguinte:

“Existe de cada lado da entrada, por dentro, uma coluna bronzeada, oca, de ordem
Coríntia, cujo capitel suporta três romãs maduras entreabertas. No fuste da coluna da
esquerda, de quem adentra ao Templo, está gravada a letra "J" e, no fuste da coluna
da direita, a letra "B".
(Ritual do Grau 1, Rito Adonhiramita, GOB, 2009, pág. 23)

• Vemos que a descrição é bem simples, chamando a atenção para a denominação e


posição das Colunas, o número de romãs, o fato de serem ocas, de bronze, e da
Ordem Coríntia de Arquitetura
AS COLUNAS NA COMPILAÇÃO PRECIOSA
• Gillemain de Saint-Victor descreve mais amplamente o simbolismo das Colunas,
e demonstra seu entendimento nas notas de rodapé da Compilação Preciosa:

“Numa infinidade de Lojas, dá-se como significação da palavra dos aprendizes (...) e
para a de Companheiro (...) São erros imperdoáveis, contrários é razão, às leis da
Maçonaria e à Sagrada Escritura: primeiramente, todos os Maçons concordam com
o que, a sabedoria procura inventar e a força, sustentar. Ora, não é ridículo querer
sustentar o que ainda não existe? Em segundo lugar, a base da Maçonaria é a
sabedoria; e a última prova que elimina todas as réplicas é que as interpretações
dos nomes próprios da Bíblia dizem expressamente que é a Coluna J que diz
sabedoria e que a Coluna B diz força: isto não é suficiente?
(Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita, Volume I, 1787, pág.41)

“Maçons esclarecidos, mas pouco conhecedores dos símbolos da Maçonaria,


acham essa resposta ridícula: alegam que uma Coluna de dezoito côvados de altura,
por doze de circunferência, é completamente contra as regras da arquitetura. É
verdade, todo Maçom instruído está convencido disso; mas eles sabem que esta
circunferência imensa, contrária às regras feitas pelos homens, é o símbolo que
indica que a sabedoria e o poder do Ser Supremo estão acima das dimensões e do
julgamento das criaturas. Já foi visto o que os nomes das Colunas significam”.
(Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita, Volume I, 1787, pag. 42)
AS COLUNAS DE SAINT-VICTOR
• Saint-Victor surpreende mais uma vez, quando observa que no entendimento dele, a
denominação das Colunas em nossos Templos está incorreta:

“É fácil perceber-se, pelas respostas que se deve dar e que devem ser conhecidas apenas
dos Mestres. a razão mais simples e mais forte para isso é que um aprendiz não deve
conhecer senão a sabedoria designada pela Coluna J; um Companheiro, apenas a
sabedoria e a força, emblema das duas Colunas; e somente o Mestre deve conhecer a
Beleza, isto é, o prêmio das coisas sublimes. Também não se deve entender por
"sustentar" que o universo está conservado, porque é Belo. Os antigos cavaleiros estavam
bem longe de pensar que Deus admirava suas próprias obras; eles convenceram, pelo
contrário, de que Deus não podia enganar-se, e que tudo que fazia era perfeito. Se os
primeiros autores que escreveram sobre a maçonaria tivessem tido o cuidado de fazer
relembrar que esses filósofos só admitiam um aspirante ao Grau de Mestre, no final de
sete anos, que esse aspirante devia empregar esse tempo para instruir-se em todas as
ciências úteis ao gênero humano e a penetrar, tanto quanto possível, nas verdades da
natureza, e que então esses cavaleiros convenciam-se de que um homem cheio de
conhecimentos não podia ser impedido de admirar a ordem e a beleza do universo, se
esses autores, digo, tivessem chamado a atenção para isso, sem dúvida, muitos Mestres
hoje não falariam da beleza no Grau de Companheiro que sob, o pretexto de instruí-Ios,
abusaram da boa fé desses Mestres”.
(Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita, Volume I, 1787, pág. 58)

• Vemos que em seus primórdios, o Rito Adonhiramita já apresentava discordâncias com


relação às Colunas, o que podemos, por dedução, estender à sua posição, diferente
dos demais Ritos
A POSIÇÃO DAS COLUNAS NOS PRIMEIROS TEMPLOS

• As primeiras Lojas especulativas reuniam-se em locais improvisados, tavernas, átrios e pátios de igreja, etc.
• É evidente, portanto, que não havia nem colunas, nem qualquer decoração fixa
• Assim como ocorreu com outros elementos, as Colunas surgem a partir do momento em que as Lojas
construíram locais específicos para suas reuniões
• As fontes mais utilizadas pelos pesquisadores para imaginar como eram esses primeiros Templos são as obras,
Maçonaria Dissecada, Três Batidas Distintas, e J & B
• Essas obras não indicam claramente a posição original das Colunas
• Alguns autores, com base na interpretação do Ritual de Edimburgo, de 1696, defendem que a posição original
era a adotada pelo Rito Adonhiramita, e ao que tudo indica, é verdade
• Mas essa posição contrariava a descrição dos livros bíblicos, assim, vão surgir diferentes teses para justificar
essa escolha
A MANUTENÇÃO DO SIGILO
• A primeira, e mais simplista hipótese da inversão das Colunas, baseia-se na
preocupação dos maçons quanto à manutenção do sigilo das reuniões, após a
publicação de Prichard, pois após a leitura da obra, um falso maçom poderia se infiltrar
nas Lojas e se passar por um Iniciado
• É claro que a indiscrição de Prichard provocou não apenas rebuliço na Maçonaria do
século XVIII, como certamente originou a modificação de certas práticas originais
• Mas não creio que as Colunas tenham tido sua posição invertida em alguns Ritos por
conta disso
• Como vimos, as primeiras Lojas não se reuniam em Templos, a Maçonaria Dissecada
foi publicada em 1730, poucas Lojas haviam construído seus Templos
• Ademais, a posição das Colunas jamais foi item de reconhecimento, me parece uma
troca inócua, se pautada nessa razão
• Penso que os Ritos adotaram as posições das Colunas de forma diferente em função
de escolha subjetiva, evidentemente baseada em argumentos que julgavam
convincentes
• E o questionamento é justamente por conta da narrativa bíblica, que indica J à direita
de quem entra, e B, por sua vez, à esquerda
• Se é assim, por que razão originalmente estavam invertidas?
• São essas hipóteses que vamos investigar
A INVERSÃO DOS PLANOS NA GEOMETRIA

• Outra hipótese se fundamenta na geometria, uma das ciências liberais a ser


dominada pelos maçons segundo a doutrina, e de conhecimento necessário e
obrigatório para os construtores de templos medievais
• Em geometria, quando invertemos os planos, efetuamos uma operação denominada
rebatimento, que resumidamente trata-se do espelhamento do objeto,
transportando-o com as mesmas propriedades para um ponto de vista diferente
• É o mesmo artifício utilizado nos letreiros das ambulâncias, para que possamos ler
corretamente pelo espelho retrovisor do carro
• Os ritualistas teriam adotado essa inversão porque ocorreu a inversão dos trabalhos
em relação ao Templo de Salomão
• No Templo de Salomão toda a atividade, preces, oferendas, bençãos, etc. era
realizada do lado de fora. Só os sacerdotes levitas entravam
• Era do lado de fora que estavam localizados o Mar de Bronze, o Altar dos
Sacrifícios, o Altar dos Perfumes, e as duas colunas
• Ou seja, tudo o que simbolicamente fazemos no interior do Templo era feito do lado
de fora na época de Salomão
• Há lógica e coerência nesse raciocínio, mas não me parece ser essa a razão da
posição invertida das Colunas
O TRONO DE SALOMÃO
• Alguns autores sustentam que a inversão se deu por conta do
trono de Salomão
• Estando do lado de dentro do Templo, orientando a obra ou
dirigindo a reunião, e olhando para a porta, Salomão veria J à
sua direita, e B à esquerda
• O mesmo posicionamento bíblico, porém, de um observador
localizado em outro lugar
• Esta tese, com certeza não está correta
• O trono de Salomão ficava no palácio, e não no Templo de
Jerusalém
• Salomão não fazia audiências, nem tampouco reuniões de
maçons no Templo de Jerusalém
• Apenas os sacerdotes levitas habitavam o interior do Templo
de Jerusalém
• Salomão não dirigiu as obras, ele era rei, não arquiteto, quem
as dirigiu foi Adonhiram, que não tinha direito a trono
• Apesar disso, guardemos essa interpretação, pois nos servirá
mais à frente
“J” & “B”
• Não conheço o idioma hebraico, e confesso que tenho enorme dificuldade em
entender como palavras com grafias e pronúncias tão diferentes, como as que
dão nomes às Colunas, podem ter significado tão semelhante, notadamente
tratando-se de uma língua que formava vocábulos por aglutinação
• Portanto, sem questionar, assumo isso como verdadeiro
• Mas não creio que haja simbolismo esotérico nesses termos, são apenas nomes
de personagens bíblicos
• Foi Salomão, e não um maçom, quem as nominou
• Jachin era filho de Simeão e neto de Jacó. Foi o fundador da família dos
jaquinitas, conhecidos como “homens justos”.
• Boaz era fazendeiro, filho de Raabe, que abrigou os espiões de Josué em Jericó,
segundo o relato bíblico. Foi marido de Rute, pai de Obede, avô de Davi, que era
o pai de Salomão
• Ao que parece, as razões de Salomão ao batizar as colunas foi simples e nada
esotérica ou mística, ele apenas prestou homenagem à ancestralidade de seu
povo, e sua própria genealogia, como era costume entre os hebreus
• O cristianismo modificou um pouco esse entendimento, e segundo o evangelho
de Mateus, por exemplo, Boaz é citado na genealogia de Jesus
• A Maçonaria moderna inseriu o significado desses nomes no simbolismo das
Colunas, de forma um tanto controversa na minha opinião, aliás, Saint-Victor já
dizia isso
• Mas de toda forma, não foram os nomes que definiram a posição geográfica das
Colunas de nossos Templos, nem tampouco a ordenação alfabética, lembrando
que a grafia dos nomes originalmente é hebraica
O PAINEL DO GRAU
• Nós sabemos que as primeiras Lojas especulativas não possuíam
decoração
• Os símbolos eram desenhados no chão, a giz ou carvão, e depois
apagados para eliminar quaisquer vestígios
• Foi daí que surgiu o Painel do Grau, que na sua segunda versão era um
tapete desenhado, que era desenrolado no chão, e após a reunião era
novamente enrolado e guardado
• No meu entendimento, vem daí a explicação, nada glamurosa ou
romântica, da colocação de J ao Norte e B ao Sul
• Os painéis foram desenhados observando-se rigorosamente os textos
bíblicos, J à esquerda da porta de entrada do Templo, e B à direita
• Ocorre que os painéis eram colocados para que os maçons que
estivessem dentro do Templo vissem os desenhos, e recebessem as
instruções, e não para quem estava chegando
• Dessa forma, J estaria à direita de quem olha, e B à esquerda
• A Corda de 81 Nós, e as Colunas, saíram do Painel do Grau, desenhado
ou desenrolado como tapete, no chão
• O Rito Adonhiramita e o Moderno simplesmente mantiveram essa
orientação
• Os demais Ritos, voltaram o tapete para o maçom que estava
ingressando no Templo, para que ele identificasse o Grau trabalhado
• Isso explica também algumas ilustrações antigas
A ORDEM CORÍNTIA
• A chamada Ordem Coríntia de Arquitetura é a última das classes de
colunas gregas. Sucedeu a Ordem Jônica, que por sua vez se originou da
Ordem Dórica
• As outras duas Ordens, Toscana e Compósita são romanas
• Foi amplamente utilizada no chamado Período Clássico da arquitetura
grega, entre o final do século V a.C. e início do século IV a.C.
• Sua principal característica é a beleza, obtida através da proporção de um
fuste mais esbelto, e os capitéis ornados com folhas de acanto
• Recebeu esse nome por ser muito utilizada na região de Corinto, rival de
Atenas, e marcada pelo luxo das construções e alto padrão dos habitantes
• Segundo o ritual, esta é a Ordem de Arquitetura de nossas Colunas, e é
provável que originalmente se referissem à BELEZA, como sugeriu Saint-
Victor
• Mesmo não sendo essa a razão dos ritualistas, trata-se de uma opção
• As colunas vestibulares do Templo de Salomão não eram da Ordem
Coríntia, haja vista suas proporções desarmônicas
• O Templo de Jerusalém foi construído por fenícios, segundo o relato
bíblico, e embora não se possa traçar uma cronologia exata dos eventos
bíblicos, supostamente em período anterior às Ordens Gregas
• É mais provável que tenha sido inspirada nos padrões egípcios, aliás, de
onde as próprias Ordens Gregas se originaram
A COR DAS COLUNAS
• O Painel do Grau atual apresenta, no meu entendimento, algumas inconformidades
com o próprio ritual
• A descrição do ritual é de que ambas são de bronze, de acordo com o relato bíblico
• Mas no Painel do Grau aparecem tingidas de vermelho, ao Norte, J, e preta no Sul, B,
mesmo que tal coloração se aplique somente nas bases, e não no fuste
• Há duas hipótese para esta ocorrência
• A primeira delas, como já vimos, se refere às colunas de Enoch. O vermelho
representaria a coluna de bronze, que resistiria às águas, e o preto à coluna de
mármore, que resistira ao fogo, ressaltando que os mármores de cor escura eram
mais fáceis de serem obtidos na antiguidade
• Na minha opinião, se esta foi a intenção dos ritualistas, está equivocada com base
no próprio relato bíblico. Ambas deveriam ser tingidas de bronze como prescreve o
ritual
• A outra também vimos, se referem às colunas de fogo e fumaça, providenciadas por
IAVEH para guiar o povo hebreu pelo deserto
• O Norte, parte menos iluminada, representa a noite, e o vermelho, por consequência,
a coluna de fogo
• O Sul, onde há maior claridade, e simboliza o dia, estaria associado à coluna de
fumaça
• Com certeza faz mais sentido doutrinariamente, já que as Colunas indicam o
caminho para a evolução dos maçons
• Mas ainda assim, se esse for o caso, a descrição do ritual deve ser modificada
• Ao que parece, a hesitação entre os formatos da Lenda do Terceiro Grau persiste até
nossos dias, pelo menos resquícios dela
• Por coerência, se adotamos o Templo de Salomão como paradigma, que as Colunas
sejam de bronze
AS ROMÃS
• Diferentemente de outros Ritos, que utilizam sobre os capitéis das Colunas
um globo terrestre, e uma esfera celeste, alternadamente, o Rito
Adonhiramita adotou três romãs abertas em ambas as Colunas
• A romã é um fruto que possui um simbolismo bastante diversificado
• Segundo o judaísmo, cada romã possui 613 sementes, exatamente o número
de mandamentos da Torá. Sua presença nas colunas do Templo de Salomão
está descrita na Bíblia
• Para os romanos simbolizava a ordem e a nobreza
• No cristianismo está associada à grandeza espiritual, à devoção, e a
conexão com o divino
• Possui uso especial nos rituais de magia, pois cortando-se o fruto em duas
metades surge um Pentagrama estilizado
• Na Maçonaria assumiu o simbolismo de obra da Natureza, cada fruto possui
carne, que são a polpa, sangue, que é o suco, e ossos, que são as sementes.
Essa definição parece ter surgido como inspirada no simbolismo hermético
e alquímico descrito anteriormente
• No entanto, o simbolismo mais comum e aceito, é o da união entre os
maçons
• Representam ainda a prosperidade e a fertilidade
• No meu entendimento as romãs colocadas no topo das Colunas representam
a própria Loja, já que suas sementes são os maçons, e estão sustentadas
pelas Colunas
• Nesse sentido, há que se ressaltar que há ainda uma Coluna em nossos
Templos, oculta, sem nome, representando a SABEDORIA. Se imaginarmos
as romãs sobre ela, teremos TRÊS VEZES TRÊS
A ORIGEM DA TERCEIRA COLUNA
ASSOCIAÇÃO COM A CABALA
• A terceira Coluna de sustentação de nossas Lojas é simbólica e invisível
• Fica atrás do trono do Venerável Mestre, e simboliza a SABEDORIA, objetivo
de todo Iniciado
• Não é descrita no relato bíblico do Templo de Salomão. De onde teria se
originado a inspiração?
• No meu entendimento surgiu como uma tradução, ou interpretação do
trinômio de Vitruvius, VENUSTAS, FIRMITAS, UTILITAS, e teria sido ocultada
justamente por haver apenas duas colunas nas lendas maçônicas, ou seja, o
conceito veio das guildas medievais de pedreiros
• Mas não parece ser essa, ou pelo menos essa, a interpretação dos ritualistas
Adonhiramitas
• A semelhança entre a disposição dos cargos em Loja e o diagrama da Árvore
da Vida da Cabala é bastante sugestiva
• Neste raciocínio temos outra coincidência. A Árvore da Vida tem três eixos ou
pilares, Misericórdia, Severidade e Sabedoria
• A Sabedoria é representada por uma sefirote invisível DAAT, a décima
primeira, que é alcançada após a evolução entre as dez sefirotes, e por meio
dos vinte e dois caminhos entre elas
• Não é, portanto, uma interpretação inválida no Rito Adonhiramita
IDA, PÍNGALA E SHUSHUMA

• A tradição hermética, e não apenas o hinduísmo e a teosofia, apontam para uma


outra hipótese, que é a das três vias de circulação da Energia Vital, o PRANA,
em nosso corpo
• Esses caminhos, ou melhor dizendo NADIS, são IDA, de princípio feminino e
passivo, de polaridade negativa, associada ao lado esquerdo, à Coluna do
Norte, J. PÍNGALA, de princípio masculino e ativo, de polaridade positiva,
associada ao lado direito, à Coluna do Sul, B, e SHUSHUMA, o eixo central, a via
neutra, o equilíbrio, a espinha dorsal, o equilíbrio, a harmonia
• Estes conceitos estão contidos no Caduceu de Hermes
• Também fazem sentido quando observamos a circulação em Loja no Rito
Adonhiramita
CONCLUSÃO
• Como vimos, são muitos e variados os simbolismos aplicáveis às Colunas
maçônicas, e sua posição nos Templos modernos
• O Rito Adonhiramita, ao que parece, manteve a tradição original com relação ao
seu posicionamento
• Entendo que todas as interpretações são válidas e aplicáveis à nossa doutrina,
mas há sempre uma razão, uma origem, que no meu entendimento, foi a posição
em que eram colocados os tapetes, ou desenhados os Painéis do Grau no chão
das primeiras Lojas modernas
• A descrição bíblica estaria mantida, B à direita da porta do templo, e J à
esquerda
• De toda forma, penso que independentemente das razões que julgarmos
corretas, as Colunas de nossos Templos devem ser enxergadas como
balizadoras da evolução que todos nós nos dispomos a perseguir, o caminho
das trevas para a luz, no sentido intelectual, racional, ético, moral e místico

“QUE A PAZ REINE EM NOSSAS COLUNAS”


O Grupo Adonhiramita de Estudos foi idealizado por
maçons praticantes do Rito. Agrega Irmãos de todos os
Ritos, de todos os Graus e Qualidades, membros de
Potências Simbólicas Regulares, unidos pelo propósito
de fomentar a pesquisa, a troca de conhecimento, e o
debate sobre nossa Doutrina, história, ritualística e
liturgia.
Os temas tratados se referem ao Grau de Aprendiz.

Todos são bem-vindos! Caso haja interesse em participar,


basta solicitar a inclusão no chat.
Agradecemos a todos pela participação, e contamos com a
presença em nossas próximas palestras.

Que o Grande Arquiteto do Universo nos guie e ilumine!

BOA NOITE!

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