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A LOJA MAÇÔNICA EPAMINONDAS SOUZA COSTA, N°260

apresenta:

O LIVRO DA LEI NO RITO


ADONHIRAMITA
Sergio Emilião
MI - F R+C
OBSERVAÇÕES

• A apresentação foi baseada no Ritual do Grau de Aprendiz Maçom, Rito Adonhiramita, publicado pelo Grande Oriente do Brasil –
GOB, edição 2009
• Os comentários refletem apenas a opinião pessoal do apresentador, e não a posição oficial do Grande Oriente do Brasil nem de
qualquer Potência Simbólica ou Filosófica na qual o Rito Adonhiramita é praticado
• Todas as dúvidas podem e devem ser dirimidas de forma oficial junto à Secretaria Geral de Orientação Ritualística do Grande
Oriente do Brasil, e nos departamentos correspondentes nas demais Potências
INTRODUÇÃO
• O Livro da Lei é um dos símbolos obrigatórios nas Lojas Simbólicas
• Juntamente com o Esquadro e o Compasso forma as chamadas Três Grandes
Luzes da Maçonaria
• Nenhuma sessão, de qualquer natureza, pode ser realizada sem que estes três
símbolos máximos estejam expostos
• Juntos, eles resumem todos os princípios doutrinários da Maçonaria
• Foram instituídos oficialmente desde as Constituições de Anderson, de 1723
• O Livro da Lei é obrigatório em todos os Ritos praticados nas Potências
obedientes à Grande Loja Unida da Inglaterra
• Porém, surge na França, após a segunda metade do século XVIII, em função do
pensamento racionalista, e iluminista, o conceito de que o Livro da Lei não deve,
necessariamente, ser um livro sagrado, pertencente a uma religião
• Não era esse o conceito da Grande Loja de Londres e Westminster, e a partir daí,
foi instaurada uma enorme controvérsia, que persiste até nossos dias
• Independentemente do entendimento dado ao Livro da Lei, TODOS os Ritos
estabeleceram sua natureza nos rituais
• Embora muitos maçons confundam esse conceito de Livro da Lei, o Rito
Adonhiramita estabelece em seus rituais a natureza desse símbolo
• Minha intenção nesta apresentação, é abordar as principais correntes de
pensamento maçônico acerca da natureza do Livro da Lei, procurando responder
às indagações mais comuns, e demonstrar qual foi a escolha dos ritualistas
Adonhiramitas, evidentemente, acrescentando aos fatos minha interpretação
pessoal
ESCOPO
• Livro da Lei x Livro Sagrado
• A Origem do Conceito de Livro da Lei
• As Primeiras Ordenações dos Povos da Antiguidade
• A Ordenação da Sociedade Medieval
• O Conceito de Lei nas Raízes da Maçonaria Especulativa
• A Grande Loja de Londres e Westminster
• O Reverendo James Anderson e as Constituições
• As Religiões Predominantes na Europa do Século XVIII
• A Reforma de 1738
• As Sete Leis de Noé
• A Definição na Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita
• A Reforma de 1815
• Os Landmarks
• Os Princípios Universais da GLUI
• A Manifestação da GLUI no século XX
• O Livro da Lei no Rito Adonhiramita
• O Simbolismo do Livro da Lei no Rito Adonhiramita
• Conclusão
LIVRO DA LEI x LIVRO SAGRADO
• Esta é a primeira questão que se impõe, e que de certa forma divide os Ritos, Livro da
Lei e Livro Sagrado são sinônimos?
• Talvez cause surpresa, mas conceitualmente, a resposta é SIM
• Toda a ordenação social dos povos, desde a antiguidade, e sem exceção, foi baseada
em padrões de comportamento estabelecidos pelas diversas religiões
• Isso é muito fácil de ser compreendido. Enquanto os homens, por sua natureza, têm a
característica de não se respeitar mutuamente, questionando sempre as posições
discordantes de seu entendimento pessoal, o mesmo não ocorre com a divindade. O
Criador é infalível, seja lá qual for Seu nome, e deve ser obedecido incondicionalmente
• Esse entendimento foi percebido pelos sacerdotes do antigo Egito, que estabeleceram
a ordenação social ideal, com base na suposta determinação divina
• Este princípio foi seguido por todos os povos da antiguidade, cujos códigos legais
influenciaram o formato das nossa leis atuais
• Mesmo no caso dos chamados Estados Laicos, onde à princípio as leis estão apartadas
dos conceitos religiosos, o comportamento ético e moral segue princípios religiosos
• No caso das sociedades ocidentais, esses padrões foram estabelecidos na tradição
judaico-cristã, primeiramente na Lei Mosaica, e depois modificadas, ou aperfeiçoadas,
se preferirmos, pelo ministério de Jesus
• Isto é um fato, mesmo que não concordemos com este formato. E tanto é verdade, que
temos presenciado tentativas progressivas, em praticamente todas as sociedades, de
apartar os princípios éticos e morais, herdados da religião, das leis civis
• Ou seja, ainda que no futuro a situação seja diferente, ainda é assim neste início de
século XXI
O CÓDIGO DE HAMURABI

• A primeira ordenação social, ou códice de leis, conhecido na História, é o Código de


Hamurabi, estabelecido na Mesopotâmia, por volta de 1772 a.C.
• Trata-se da chamada Lei do Talião, “olho por olho, dente por dente”, que estabelecia
punições severas e cruéis, para os cidadãos que não respeitassem as regras nele
estabelecidas
• Mas ainda que possa parecer um código de leis laico, a influência da religião da
civilização sumério-acadiana está presente, e pode ser claramente notada
• Por exemplo, e curiosamente, o primeiro artigo do Código de Hamurabi prescrevia
punição aos crimes de sortilégio, ou seja, os legisladores consideravam a hipótese do
sobrenatural interferir na vida cotidiana
• É um conceito teísta
• Segundo os pesquisadores, este primitivo código de leis, ou livro da lei, se preferirmos,
influenciou todas as sociedades antigas, posteriormente
O LIVRO DOS MORTOS
• Após o Código de Hamurabi, por volta de 1580 a.C., surge o Livro dos Mortos, no
Egito
• O Livro dos Mortos era um recital, que deveria ser declamado pela alma do
falecido no seu julgamento, no Tribunal de Osíris
• Nesta corte divina, o coração do falecido era colocado num dos dois pratos da
Balança de Maat, deusa da Justiça, enquanto no outro era contraposta uma pena
de avestruz
• O coração mais leve que a pluma de avestruz significava que aquela pessoa tinha
levado uma vida justa, sob o aspecto ético e moral, e assim, aliás, só assim, teria
direito a ressuscitar no Reino dos Mortos, O Tuat
• O Livro dos Mortos, resumidamente falando, continha em seus versos a
ordenação moral e ética supostamente ditada pelos deuses
• O conceito do Livro dos Mortos influenciou enormemente as religiões, e leis
ocidentais
• Foram herdados daí: o conceito de recompensa divina, a existência de vida pós-
morte, a alegoria da Balança da Justiça, a ressurreição da carne, o Juízo Final, a
justiça divina prevalecendo sobre a justiça dos homens
• Alguns autores, inclusive, entendem que as Tábuas da Lei de Moisés, com
cronologia presumível entre 1225 a.C. e 622 a.C., foram baseadas, ou inspiradas
no Livro dos Mortos dos egípcios, o que é bastante provável, pois na verdade, os
hebreus eram egípcios monoteístas, que deixaram o Egito para fundar uma nova
nação
AS TÁBUAS DA LEI DE MOISÉS
• Segundo a narrativa do Livro do Êxodo, Moisés, após ter saído do Egito com um grupo
de egípcios monoteístas, que viriam a ser chamados de hebreus, recebe diretamente de
IAVEH, o Deus Único, uma ordenação que ficou conhecida como os Dez Mandamentos,
ou Tábuas da Lei
• Segundo os textos bíblicos, eram duas tábuas de pedra, contendo a primeira quatro
regras para a aliança dos homens com a divindade, e a outra, seis condutas a serem
seguidas pelos homens para a aliança entre si
• Primeiro Deus, ou o Espírito, e depois o homem, ou a matéria
• Estas dez regras se desdobraram nos 613 preceitos da Lei Mosaica, 248 mandamentos,
e 365 proibições
• Estes princípios iriam nortear a unção dos futuros reis de Israel, influenciando
posteriormente a coroação dos reis medievais
• A Arca da Aliança, confeccionada em madeira de acácia, e forrada de ouro, que será
abordada nos Graus Filosóficos, foi construída exatamente para guardar essa aliança
entre os homens e IAVEH, e segundo o relato bíblico, possuía um poder incomparável,
além de manifestar a própria presença divina, a Glória de Shekinah, entre as asas dos
querubins, sobre o propiciatório
• O tabernáculo do Deserto, templo móvel que era o anteprojeto do Templo de Jerusalém,
erguido sob o reinado de Salomão, foi construído para guardar a Arca da Aliança no
local mais sagrado, o “Santo dos Santos”
• A segunda versão da lenda maçônica do Terceiro Grau, foi justamente baseada nesta
passagem bíblica, particularmente no trabalho de Bezaleel e Aoliabe
AS LEIS MEDIEVAIS
• A Idade Média é justamente o período histórico que antecede o surgimento da
Maçonaria Especulativa, correspondendo ao apogeu das corporações de
construtores de templos, o período operativo
• Se considerarmos que além do simbolismo das ferramentas, a Maçonaria
moderna baseou suas normas nas Old Charges, é fácil imaginar que o
pensamento filosófico dos pedreiros livres tenha influenciado nossa doutrina
• A Idade Média foi um período de transição entre a organização social romana,
o surgimento dos feudos, e dos reinos europeus
• Muitos se referem a esse período como Idade das Trevas, dado ao
rompimento com os cânones romanos, e, principalmente, com os padrões de
urbanização e preservação da cultura
• Mas foi um período importante, surgiram as primeiras universidades, o
comércio entre os feudos, e, notadamente, um retorno, na Alta Idade Média, às
fontes culturais e filosóficas do Oriente Médio, após as Cruzadas
• Em relação às leis, a sociedade medieval estava muito próxima à barbárie
• As regras eram ditadas despoticamente pelos senhores feudais, e pelos
monarcas chamados de Déspotas Esclarecidos
• Na verdade, a organização dessas sociedades era determinada pela Igreja
Romana
• A Igreja monopolizava o conhecimento, e o transmitia a quem interessava, de
modo a preservar seu poder e influência
• O Papa era considerado infalível, coroava e destronava reis, e instituía guerras
sangrentas em nome da fé
• A insatisfação gerada ensejou a Reforma Religiosa, e influenciou a formatação
das Constituições de Anderson, mas mesmo assim, os padrões morais
cristãos foram preservados
AS RAÍZES DA MAÇONARIA ESPECULATIVA

• Na verdade, o que chamamos de “raízes da Maçonaria Especulativa”, são associações nas quais os ritualistas buscaram inspiração
para conceber a doutrina maçônica
• A Maçonaria moderna não é uma evolução dessas associações, mas determinados conceitos e princípios foram claramente
absorvidos, ou herdados delas, com maior ou menor intensidade de acordo com cada Rito
• De acordo com a maioria dos autores e pesquisadores, as principais são:
1. As corporações de pedreiros medievais
2. As Ordens Militares de Cavalaria da Idade Média, e
3. Os Movimentos Rosacruzes
AS GUILDAS DE PEDREIROS MEDIEVAIS

• Os pedreiros livres, maçons de ofício, se notabilizaram por um tipo


especial de construção, os templos
• Tornaram-se especialmente célebres pelo estilo gótico de arquitetura
• Mas eles não construíam qualquer tipo de templo, pelo contrário,
eram templos cristãos, especificamente católicos, ou seja, eram
cristãos
• É evidente, portanto, que seu pensamento filosófico e religioso
estivesse ligado diretamente à tradição judaico-cristã, e, sem dúvida,
todos os padrões morais e éticos contidos nas Antigas Ordenações,
refletem essa característica
• Desta forma, não apenas é legítimo, como comprovável, que a
ordenação do grupo liderado por James Anderson a partir de 1717, e
que concebeu as primeiras ordenações da Maçonaria Especulativa,
tenha seguido esta inclinação, obviamente temperada com a já
consagrada pluralidade de correntes cristãs existente na época
OS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS
• A associação da Maçonaria moderna com a Ordem dos Pobres Cavaleiros
de Cristo, e do Templo de Salomão, ainda que duvidosa e questionável, é
recorrente
• Particularmente, entendo que nós, Adonhiramitas, temos uma inspiração
maior nos Cavaleiros Hospitalatários e Teutônicos
• Mas ainda que a Maçonaria moderna em si, nada tenha a ver com as
Ordens Militares de Cavalaria da Idade Média, o mesmo não se pode dizer
de nossos rituais, onde a influência do templarismo é mais que evidente
• Essas ordens de cavalaria tinham uma origem em comum, a Guerra Santa,
as Cruzadas, uma campanha militar de objetivos e justificativas bastante
questionáveis, mas que modificou a Europa medieval
• Os guerreiros dessa sangrenta página da História, eram chamados de
“Soldados de Cristo”
• Todos utilizavam a cruz como emblema em seus brasões, por isso a
campanha foi chamada de Cruzada
• Os Templários, por exemplo, eram conhecidos como “monges
guerreiros”, sacerdotes e soldados ao mesmo tempo
• Adotaram um trecho do Salmo 113, atribuído a Davi, pai de Salomão,
como insígnia, NON NOBIS DOMINI, NON NOBIS, SED NOMINI TUO DA
GLORIAM, que originou a expressão que frequentemente utilizamos, “À
Glória do Grande Arquiteto do Universo”
• Evidentemente eram cristãos, e como obedeciam direta e exclusivamente
ao Papa, eram católicos, única religião cristã na época
O MOVIMENTO ROSACRUZ
• O chamado Movimento Rosacruz, exerceu grande influência nos rituais da
Maçonaria moderna, notadamente no Rito Adonhiramita
• Havia muitos membros comuns entre as duas Ordens, na ocasião da formalização,
e primeiros anos da Maçonaria Especulativa ou moderna
• O movimento Rosacruz surgiu na Alemanha, entre 1607 e 1616, após a divulgação
de três manifestos, Fama Fraternitatis, Confessio Rosacruz, e As Bodas Alquímicas
de Christian Rosenkreutz, atribuídas ao pastor alemão Andreas Valentim
• A lenda dos rosacruzes envolvia um sábio, denominado Christian Rosenkreutz, que
após viajar pelo Oriente, adquiriu conhecimentos místicos, esotéricos, e filosóficos,
que ensinava a um grupo de seletos discípulos na Europa
• Após sua morte, esse conhecimento teria ficado guardado num túmulo secreto, e
disseminado após ter sido encontrado por seus seguidores
• Há uma clara influência desta lenda, na atual versão da Lenda do Terceiro Grau
• O movimento Rosacruz era um misticismo sincrético, com forte influência do
gnosticismo cristão
• Denominavam sua doutrina de “cristianismo hermético”, onde Cristo simbolizava a
“Rosa Alquímica”, representando a evolução moral e espiritual do ser humano, até
atingir o estágio de comunhão com a divindade, o Estado Crístico
• Por força desta sua característica, condenavam os dogmas religiosos, e
procuravam conceber o Universo como uma ordenação cósmica de princípios
naturais
A GRANDE LOJA DE LONDRES & WESTMINSTER

• Embora a transformação da atividade operativa para especulativa na Maçonaria


tenha sido resultado de um processo, e não de um fato isolado, considera-se como
marco oficial do encerramento deste processo a fundação da Grande Loja de
Londres e Westminster, ocorrida em 24 de junho de 1717
• Toda a ordenação da chamada Maçonaria Regular de nossos dias vem deste evento
• Além das divergências ideológicas, havia na Grã Bretanha uma acirrada disputa
política pelo trono britânico, entre os ingleses e os escoceses
• A Grande Loja de Londres e Westminster não foi aceita de imediato como detentora
de qualquer autoridade, pelo contrário, seus membros foram duramente criticados,
e chamados de “modernos”, exatamente porque, supostamente, rompiam com as
tradições
• O Rito Adonhiramita é partidário da corrente dos modernos, não sofreu a influência
escocesa dos Stuarts, ou jacobitas, exilados na França
• Como sabemos, uma comissão de maçons, presidida por James Anderson, ficou
responsável pela compilação dos documentos existentes, desde as guildas de
pedreiros, e formatação de um conjunto de regras que ficaram conhecidas como
Constituições de Anderson, que são respeitadas pelas Potências Simbólicas
obedientes à Grande Loja Unida da Inglaterra até nossos dias
• No meu entendimento, estes são os reais Landmarks da Maçonaria, e o conceito do
Livro da Lei surge aí
O REVERENDO JAMES ANDERSON
• James Anderson não compilou as Old Charges sozinho, mas ao lado de outro
membro, Jean Theóphile Desaguliers, filósofo francês, calvinista, e membro da
Royal Society, tornou-se famoso, e assumiu a paternidade da obra
• Ele presidiu a comissão, portanto, é de se supor, que tenha deixado sua marca,
suas preferências, nas questões mais relevantes. Este é o entendimento da
maioria dos autores
• Anderson era escocês, mestre em artes, doutor em teologia, e pastor
presbiteriano. Não apenas pela sua formação, mas como o pensamento cristão
prevalecia na época, era inevitável que os princípios éticos, morais e filosóficos da
religião fossem inseridos nas Constituições redigidas sob sua supervisão
• Apesar de contestado posteriormente, por determinadas correntes da Maçonaria
francesa, num debate que persiste até hoje, o perfil teísta do reverendo Anderson
foi transportado para a Maçonaria. Pelo menos esse é meu entendimento
• Há inúmeros indícios disso
• Anderson estabeleceu o Calendário Maçônico, Age of Stonecutters, estabelecendo
o Ano Lucis no dia 23 de outubro de 4004 a.C., a partir de cálculos efetuados por
um pastor irlandês chamado James Ussher, a quem Saint Victor se referia como
Usserius, e dirigia severas críticas
• Ussher baseou-se na cronologia dos patriarcas bíblicos para chegar a essa
conclusão, o que antes de mais nada, reflete o precário conhecimento científico da
época
• Numa outra publicação, defendia que Adão havia sido o primeiro maçom
• E alguns trechos das suas Constituições refletem sua tendência religiosa
AS CONSTITUIÇÕES DE ANDERSON - 1723
• A primeira versão das Constituições de Anderson foi publicada em 1723

I - Sobre Deus e Religião


“Um Maçom é obrigado, por dever de ofício, a obedecer a Lei Moral; e se ele
compreende corretamente a Arte, nunca será um estúpido ateu nem um
libertino irreligioso. Muito embora em tempos antigos os Maçons fossem
obrigados em cada país a adotar a religião daquele país ou nação, qualquer
que ela fosse, hoje pensa-se mais acertado somente obrigá-los a adotar aquela
religião com a qual todos os homens concordam, guardando suas opiniões
particulares para si próprio, isto é, serem homens bons e leais, ou homens de
honra e honestidade, qualquer que seja a denominação ou convicção que os
possam distinguir; por isso a Maçonaria se torna um centro da união e um
meio de conciliar uma verdadeira amizade entre pessoas que de outra forma
permaneceriam em perpétua distância”.
• Muitos autores enxergam nesse texto características deístas, e a abertura
para crentes de todas as religiões tornarem-se maçons. Minha leitura é
exatamente o oposto disso, principalmente porque analisado o artigo,
apartado do restante das Constituições, ele perde o contexto
OS REGULAMENTOS GERAIS - 1723
• Na seção denominada “Regulamentos Gerais”, da mesma Constituição, temos o
seguinte:

Regulamentos Gerais 12
“A Grande Loja consiste e é formada por Mestres e Vigilantes de todas as Lojas
registradas, com o Grão-Mestre à sua frente, e seu Adjunto à sua esquerda, e seus
Grandes Vigilantes em seus respectivos lugares; e deverá haver uma Comunicação
Trimestral acerca da Festa de São Miguel, Natal e Dia de Nossa Senhora, em lugar
considerado conveniente pelo Grão-Mestre (...)”
Regulamentos Gerais 22
“Todos os Irmãos de todas as Lojas ao redor e em Londres e Westminster deverão
ter uma comunicação e celebração anuais em lugar conveniente, no Dia de São João
Batista ou no Dia de São João Evangelista, como a Grande Loja ache mais adequado
em novo regulamento; tendo nos últimos anos se reunido no Dia de São João
Batista (...)”
• Ora, se trata-se de uma obra deísta, e aberta a todas as religiões, por que razão
estabelece a obrigatoriedade de celebrações cristãs?
• Para concluir a análise, resta inserir as Constituições no contexto histórico, ou
seja, no pensamento filosófico predominante no início do século XVIII
RELIGIÕES PREDOMINANTES NA EUROPA DO SÉCULO XVIII
• Tanto Anderson, como Desaguliers, eram religiosos. É legítimo,
portanto, supor que os conceitos de moral e ética inseridos nas
Constituições tenham se baseado nos ditames de suas respectivas
fés
• O artigo primeiro das Constituições fala de uma religião universal,
comum, e que a partir da promulgação das Constituições, nenhum
maçom era mais obrigado a professar a fé da nação em que se
encontrava
• Mas que fé seria essa, então?
• A FÉ CRISTÃ
• Observando o período histórico de fundação da Grande Loja de
Londres e Westminster, percebemos que a Igreja Católica não apenas
exercia influência política nos reinos, mas também combatia e
perseguia aqueles que professavam fé diferente, notadamente os
partidários do que se chamou Protestantismo, correntes cristãs
originadas da Reforma Religiosa iniciada por Lutero
• Anderson e Desaguiliers eram integrantes dessa segunda corrente,
um presbiteriano, e outro huguenote, calvinista
• No meu entendimento, o que eles pretendiam era conceder a
liberdade de escolha aos maçons, em relação à corrente cristã de sua
preferência, e não outra religião
• Ficará mais fácil de considerar essa hipótese, se examinarmos quais
eram as religiões praticadas na Europa no início do século XVIII
AS RELIGIÕES NO SÉCULO XVIII
CRISTIANISMO ISLAMISMO Infiéis combatidos nas
Cruzadas

Discriminados e
JUDAÍSMO estigmatizados como
Católica Apostólica Romana algozes de Jesus
Grega Ortodoxa
Luterana
Presbiteriana
Calvinista
Anglicana
Anabaptista (Batista)

RELIGIÕES Crenças exóticas e


ORIENTAIS curiosas
A BULA IN EMINENTI

• Essa hipótese ganha mais força, se observarmos a reação da Igreja Católica


• Em 28 de abril de 1738, o Papa Clemente XII, promulga a bula IN EMINENTI
APOSTOLATUS SPECULA, “No Esteio do Apostolado Principal”
• Esta encíclica proibia os católicos de se tornarem maçons, excomungava os
membros da Ordem, e ordenava todas as nações católicas a perseguirem a
Maçonaria
• Inicia-se aí uma colossal perseguição religiosa e política aos maçons
• Uma reedição lamentável da Santa Inquisição, e do martírio de opositores
ideológicos como Giordano Bruno e Jaques De Molay
A REFORMA DE 1738
• Em 1738, as Constituições de Anderson sofrem a primeira reforma
• Não era apenas um contragolpe à bula papal, mas uma ratificação, com
maiores esclarecimentos, dos princípios da primeira edição, notadamente no
que diz respeito ao artigo primeiro

“Um maçom é obrigado na sua dependência a observar a Lei Moral como um


verdadeiro Noaquita, e se entendeu corretamente o Ofício, nunca será um
estúpido ateu nem um libertino irreligioso, nem agirá contra a sua Consciência.
Nos tempos antigos os Maçons Cristãos eram obrigados a concordar com os usos
cristãos de cada país por onde viajavam ou trabalhavam; mas sendo a Maçonaria
fundada em todas as Nações, mesmo as que praticam várias religiões, são eles
agora unicamente obrigados a aderir aquela religião na qual todos os homens
estão de acordo (cada Irmão vivendo em sua própria e particular opinião), que é a
de serem homens bons e sinceros, homens honrados e probos, quaisquer que
sejam as denominações, religiões ou crenças que possam distingui-los, por
estarem todos de acordo com os três grandes artigos de Noé, que são suficientes
para preservar o Cimento da Loja. Assim a Maçonaria é o Centro de União e o Feliz
Meio de conciliar pessoas que teriam ficado perpetuamente separadas.”

• Vemos aqui reforçado o pensamento teísta e cristão de Anderson, e também a


alusão ao patriarca bíblico Noé, que era a personagem da primeira versão da
Lenda do Terceiro Grau
AS SETE LEIS DE NOÉ
• Segundo o relato do Livro do Gênesis, Noé, único homem “justo e perfeito” aos
olhos de IAVEH, recebeu Dele a missão de preservar a vida animal no planeta, e
transmitir o conhecimento até então adquirido, para as futuras gerações, dando
origem à Civilização Noaquita
• É razoável, portanto, deduzir que a ordenação dessa nova civilização fosse
estabelecida exatamente por ele, Noé
• Assim, ele desenvolveu um conjunto de sete regras, conhecidas como as Sete Leis
de Noé, que foram “esquecidas” na Bíblia, mas que eram correntes nas guildas de
pedreiros medievais
• Se considerarmos a cronologia bíblica, ainda que imprecisa, como um retrato da
evolução da humanidade, veremos esse conjunto de leis ser estabelecido em
ocasião anterior a do Código de Hamurabi, ao Livro dos Mortos, e às Tábuas da Lei

1. Não cometer idolatria;


2. Não blasfemar;
3. Não assassinar;
4. Não roubar;
5. Não cometer imoralidades sexuais;
6. Não maltratar os animais (só é permitido tirar a vida de um animal para se
alimentar), e
7. Estabelecer sistemas de leis de honestidade e justiça.

• Vemos aqui elementos interessantes, atrelados aos aspectos religiosos, padrões de


moral, de concepção de ordenação jurídica, e até mesmo de consciência ecológica,
de preservação ambiental
A COMPILAÇÃO PRECIOSA DA MAÇONARIA ADONHIRAMITA

• A Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita, publicada por Guillemain de Saint


Victor em 1781, em primeira edição, é considerada a obra de referência do Rito
Adonhiramita
• Não era um ritual, como conhecemos atualmente, era um catecismo, mas a partir do exame
das perguntas e respostas, e principalmente, notas de rodapé, é possível conhecer um
pouco da prática original do Rito
• Não há menção explícita ao Livro da Lei, mas ele não apenas estava lá, como igualmente é
possível deduzir de que livro se tratava

“A abertura de uma Loja não é outra coisa senão o consentimento unânime para começar os
trabalhos. Entre os antigos cavaleiros, esta cerimônia se fazia com uma prece à Divindade.
Essa máxima religiosa perdeu-se entre as diferentes perturbações que o catolicismo sofreu; os
cristãos, perseguidos em seus mais secretos esconderijos, foram obrigados a simbolizar os
principais pontos de sua religião; e, para eliminar toda suspeita dos tiranos que os perseguiam,
passaram a usar o nome de maçom. Assim, esses homens esclarecidos e virtuosos, sob
símbolos materiais, prestavam sempre homenagem ao Deus Supremo que os criara”.
(SAINT-VICTOR, Guillemain, Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita, Volume I, Filadélfia, 1787, página 14)

• Está demonstrado aí a característica teísta do Rito, e seu alinhamento com a fé cristã


AS TRÊS BATIDAS NA PORTA DO TEMPLO

• Na Compilação Preciosa, numa das perguntas do catecismo, é exposto um


entendimento bastante interessante, e diferente do simbolismo atual, para as
três pancadas, ou Bateria do Grau

“ P. - Que significam as três pancadas do Experto?”


“R. - Três palavras da Santa Escritura: batei e abrir-se vos-á; procurai e
encontrareis; pedi e recebereis”.
(SAINT-VICTOR, Guillemain, Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita, Volume I, Filadélfia, 1787, página 19)

• Esta é uma citação do Evangelho de Mateus, capítulo 7, versículos 7 e 8


• Se levarmos em conta o conteúdo de todo este capítulo do evangelho, e não
apenas o trecho evidenciado, veremos que há uma notável coincidência de
ideias entre a doutrina maçônica, e os princípios cristãos ali exibidos
• Parece não restar dúvidas de que o Livro da Lei, nos primórdios do Rito
Adonhiramita, era a Bíblia
• Mas isso pode ficar ainda mais evidente
O JURAMENTO DO RECIPIENDÁRIO
• Apesar de não constar textualmente da Compilação Preciosa, a
Iniciação sempre ocorreu na Maçonaria
• E assim como ocorre atualmente, o candidato só é consagrado
maçom, após ter jurado, ou firmado compromisso, sobre o Livro da
Lei
• Nos catecismos da Compilação Preciosa, esta etapa é abordada
numa das respostas

P. - O que o Venerável fez de vós?


R. - Como ele estava certo de meus sentimentos, e após ter obtido
o consentimento da Loja, recebeu-me como aprendiz Maçom, com todas
as formalidades necessárias.
P. - Quais eram essas formalidades?
R. - Eu tinha o sapato esquerdo numa pantufa, o joelho direito nu
sobre o esquadro, mão direita sobre o Evangelho e na esquerda eu tinha
um compasso meio aberto sobre o peito esquerdo, que estava nu.

• Como vimos, Saint-Victor vai além, não apenas cita a Bíblia, mas
especificamente o Evangelho, logo, a fé cristã
• Creio que não haja mais dúvidas quanto à natureza do Livro da Lei,
nos primórdios do Rito Adonhiramita. Era a Bíblia
A REFORMA DE 1815

• Em 1815, já sob a égide da Grande Loja Unida da Inglaterra, unificada em 1813,


as Constituições de Anderson sofrem sua segunda e última reforma
• O artigo primeiro, novamente ganha outra redação, e desta feita, o Criador é
mencionado como “Deus”, exatamente a denominação utilizada pelos cristãos

“Um maçom é obrigado, por seu título, a obedecer a lei moral e, se compreender
bem a Arte, nunca será ateu estúpido, nem libertino irreligioso. De todos os
homens, deve ser o que melhor compreende que Deus enxerga de maneira
diferente do homem, pois o homem vê a aparência externa ao passo que Deus vê o
coração. Um maçom é, portanto, particularmente compelido a nunca atuar contra
os ditames de sua consciência. Seja qual for a religião de um homem, ou sua forma
de adorar, ele não será excluído da Ordem, se acreditar no Glorioso Arquiteto do
Céu e da Terra e se praticar os sagrados deveres da moral.”

• Mas surge também a comunhão de todos os entendimentos e concepções


pessoais sobre o Princípio Criador, sob a denominação de Grande, ou Glorioso,
Arquiteto
• Podemos ver também, o que parece ser a justificativa da adoção do “Olho que
tudo Vê” como símbolo maçônico
OS LANDMARKS

• Ao contrário do que muitos imaginam, não existem Landmarks “oficiais” na


Maçonaria
• Existem pelo menos sessenta listas diferentes de Landmarks, sendo as mais
famosas as de Pike, Findel e MacKey
• A GLUI, e as Potências Simbólicas, optaram pela adoção de princípios básicos
para a regularidade, baseados nas Constituições de Anderson, o que me parece
fortalecer a ideia de que estes sejam os verdadeiros Landmarks
• Essa é a posição do GOB, por exemplo, pelo menos atualmente
• Ficaram então os Ritos, cada um por si, livres para adotarem a lista da
Landmarks que julgarem mais adequada à sua doutrina
• Ao que parece, a lista de Landmarks adotada pelo Rito Adonhiramita é a de
MacKey, editada em 1858, ao menos, é o que se deduz pelas instruções que
recebemos, já que não consta com exclusividade dos apêndices do ritual atual,
publicado pelo GOB em 2009
• MacKey estabelece a obrigatoriedade do Livro da Lei nas Lojas, no Landmark
21, mas não explicita sua natureza, o que tem suscitado certa dúvida

Landmark 21
“Um Livro da Lei como parte indispensável no ornamento da Loja”.
OS PRINCÍPIOS UNIVERSAIS DA MAÇONARIA
• Como mencionado anteriormente, após a proliferação das listas de Landmarks,
e da inevitável confusão instaurada a partir daí, a GLUI, em 1928, publica os
Princípios Universais da Maçonaria, também conhecidos como Oito Pontos de
Reconhecimento e Regularidade, que estabelecem as regras básicas e
fundamentais para que as Potências Simbólicas sejam reconhecidas pela GLUI,
e as Lojas subordinadas possam ser visitadas e frequentadas por maçons de
todo o planeta
• Destes oito princípios, quatro, que destaco aqui, possuem relação com o
conceito de Livro da Lei na Maçonaria

4. Os Maçons de sua jurisdição devem acreditar em um Criador Supremo.


5. Todo Maçom de sua jurisdição deve tomar suas obrigações sobre ou à
vista de um volume da Lei Sagrada (quer dizer, a Bíblia) ou o livro que ele
considere sagrado.
6. As três “Grandes Luzes” da Maçonaria (quer dizer, o volume da Lei
Sagrada, o Esquadro e o Compasso) devem estar expostos quando a Grande Loja
Maçônica ou suas Lojas Maçônicas subordinadas se encontrem abertas.
7. As discussões sobre religião e política nas Lojas Maçônicas devem ser
proibidas.

• Vemos aqui a Bíblia ser explicitamente citada como Livro da Lei, porém, há a
permissividade para que outros Livros Sagrados, ou seja, pertencentes a
correntes religiosas não cristãs, seja adotado pelas Lojas Simbólicas
• A dúvida parece novamente ter sido instaurada
A MANIFESTAÇÃO DA GLUI NO SÉCULO XX

• O último pronunciamento da GLUI, acerca da natureza do Livro da Lei, ocorreu


no século passado, mais precisamente em 1950, numa correspondência dirigida
à Grande Loja do Uruguai

“A Maçonaria não é um movimento filosófico admitindo toda orientação ou


opinião... A verdadeira Maçonaria é um culto para conservar e difundir a crença na
existência de Deus, para ajudar os Maçons a regular a sua vida e a sua conduta nos
princípios de sua própria religião, qualquer que ela seja... mas deve ser uma
religião monoteísta que exija a crença em Deus como Ser supremo... e deve ser
uma religião tendo um Livro Sagrado sobre o qual o Iniciado possa prestar o
Juramento à Ordem”.

• Portanto, o caráter teísta é aqui reforçado, porém, não há exclusividade, ou


obrigatoriedade de utilização da Bíblia como Livro da Lei
• Ficam, portanto, os Ritos, livres para definirem a natureza desse Livro da Lei
em seus rituais específicos
O LIVRO DA LEI NO RITO ADONHIRAMITA

• Como vimos, a Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita estabeleceu em 1781, a Bíblia como Livro da Lei no Rito
Adonhiramita
• No Brasil, no Ritual publicado pelo GOB, em 1896, na página 21, na descrição do Juramento do candidato, há a determinação de
que ele beije a Bíblia três vezes
• No ritual em vigor, publicado pelo GOB, em 2009, temos isso claramente definido na página 27, na descrição do Altar dos
Juramentos, e na 238, quando o candidato se prepara para prestar o Juramento. Em todas as outras ocasiões é mencionada
apenas a expressão Livro da Lei
• Embora no meu entendimento não haja indefinição, o Livro da Lei é a denominação maçônica da Bíblia nos rituais, mas
interpretações distintas ocorrem com alguma frequência
AS EVIDÊNCIAS RITUALÍSTICAS
• No meu entendimento, o ritual deve ser examinado como um todo, de forma
contextualizada, para que não tenhamos dúvidas nem quanto à sua aplicação,
nem quanto ao propósito dos ritualistas
• Se alguma indefinição pode ser percebida em relação à natureza do Livro da Lei
nos rituais, o que não é minha opinião, alguns fatores ritualísticos podem nos
auxiliar nos esclarecimentos

1. Somos batizados com água, uma prática cristã, inaugurada por São João
Batista, nosso Patrono
2. Abrimos o Livro da Lei com a leitura do Evangelho de João, capítulo 1,
versículos 6 a 9
3. O “traidor”, da Cena da Traição, se chama Caim
4. A técnica de manuseio do turíbulo, na Cerimônia de Incensação, é
católica, e não inspirada em Leadbeater como muitos insistem
5. O uso do sino, nas 12 Vibrações Argentinas, repete a prática das igrejas
medievais
6. A posição do Orador, na Abertura e Fechamento do Livro da Lei, e no
momento do Juramento dos candidatos, repete a sagração dos cavaleiros
medievais
7. A Espada Flamígera, utilizada pelo Venerável Mestre, foi inspirada no
querubim bíblico que expulsou Adão e Eva do Paraíso
8. O Stekenna, símbolo do Rito Adonhiramita, se refere ao Livro das
Revelações de João Evangelista

• Me parece, salvo melhor juízo, serem elementos suficientes para sustentar a


argumentação
O DEVER DO MAÇOM PERANTE DEUS
• Ainda na Câmara de Reflexões, o candidato recebe um questionário,
cuja primeira pergunta, a ser respondida com suas próprias palavras, é:
“QUAIS SÃO OS DEVERES DO HOMEM PARA COM DEUS?”
• É sutil, mas percebe-se que nesta ocasião, e certamente porque o
candidato não está familiarizado com a expressão que utilizamos para
designar o Criador, os ritualistas escolheram exatamente o termo
cristão, Deus, com “D” maiúsculo
• A indagação é respondida pelo Orador já no decorrer da sessão, no
interior do Templo, nos seguintes termos:

“Para com Deus (o dever), em nunca mencionardes o Seu Nome em


vão, e sim com o respeito e a veneração que toda criatura deve ao Seu
Criador, bem como implorardes a Sua assistência em todas as louváveis
empresas a que vos dedicardes, e, em estimá-Lo como o Supremo Bem”.

• Além de demonstrar, desde o início, o perfil teísta do Rito Adonhiramita,


não mencionar Seu Santo Nome em vão, é o terceiro dos Dez
Mandamentos, logo, uma clara alusão à tradição judaico-cristã
• Estabelece também a prioridade dos compromissos, primeiro o GADU,
depois os homens
A SÚPLICA PELA PROVIDÊNCIA

• Ainda na Sessão Magna de Iniciação, antes de consagrar o candidato,


toda a Oficina dirige uma prece ao Criador, nos seguintes termos:

“Humilhemo-nos, meus Amados Irmãos, na presença do Soberano


Árbitro dos Mundos, Reconheçamos o seu poder e a nossa fraqueza.
Contendo os nossos corações, os limites da equidade, e dirigindo os
nossos passos pela estrada da VIRTUDE, elevemo-nos até o Senhor do
Universo.
Dignai-vos, ó GADU; dignai-vos, eu vos rogo, proteger os obreiros da
paz aqui reunidos! (...)”

• A súplica prossegue, mas por este excerto fica clara a característica


teísta do Rito Adonhiramita, e o entendimento de que tudo o que
fazemos é à Glória do GADU
• Novamente fica registrada a prevalência do Espírito sobre a matéria, da
Ordenação Cósmica do Universo, presente em todas as religiões e
Escolas Íniciáticas
O JURAMENTO E O LIVRO DA LEI
• Existe a indagação, e até o entendimento, sobre a possibilidade de qualquer
Livro Sagrado ser utilizado como Livro da Lei no Rito Adonhiramita, e não
exclusivamente a Bíblia
• Tenho consciência de que a polêmica será instituída, MAS NÃO HÁ ESSA
PREVISÃO NO RITUAL, é uma concessão feita apenas na ocasião do Juramento
• Em respeito à fé particular do candidato, é permitido que ele preste o Juramento
sobre outro Livro Sagrado, e não a Bíblia, mas TEM QUE SER UM LIVRO
SAGRADO, não existe a possibilidade de se utilizar um código civil, por
exemplo
• Nesta oportunidade, o Livro Sagrado é oferecido ao candidato, colocado sobre
a Bíblia, que permanece no Altar dos Juramentos, e após isso, é guardado
• Maçons praticantes de fé diferente da cristã, não podem ser Adonhiramitas?
• SIM, é claro que podem! Desde que não lhes cause nenhum constrangimento
integrar uma Ordem que se baseia em princípios éticos, morais, e filosóficos,
da tradição judaico-cristã
• Toda a Doutrina Maçônica se baseia na construção do Templo de Jerusalém, ou
seja, numa narrativa bíblica
• Os degraus de nossos Templos simbolizam as Virtudes Cardeais e Teologais,
enunciadas por filósofos cristãos, Santo Agostinho, e São Tomás de Aquino
• Somos batizados conforme a fé cristã
• Em todas as sessões recitamos um trecho do Evangelho de João
• Ou seja, “a mão é inversa”, a tradição da Ordem baseia-se em princípios
cristãos, especialmente no Rito Adonhiramita
• O proponente, o padrinho, deve orientar bem o candidato quanto a isso
• Não importa a fé que o maçom possua, mas é fundamental que não haja
preconceito de sua parte sobre a doutrina do Rito
PODE HAVER MAIS DE UM LIVRO DA LEI NA SESSÃO?

• A possibilidade de se colocar mais de um Livro Sagrado sobre o Altar


dos Juramentos parece prosperar na Maçonaria contemporânea
• MAS NÃO HÁ ESSA PREVISÃO NOS RITUAIS ADONHIRAMITAS
• Apenas um Livro da Lei pode ser aberto, e se a leitura do versículo é do
Evangelho, é natural que seja a Bíblia
• A presença de outros Livros Sagrados no Altar dos Juramentos, no meu
entendimento, traz dois inconvenientes
1. Em primeiro lugar, pode provocar a interpretação de politeísmo,
ou de segregação da fé. Se o objetivo é simbolizar que o Livro
Sagrado se refere ao Deus do entendimento de cada um de nós, o
correto seria colocar um livro com as páginas em branco, sem
associação com qualquer religião, em cuja capa estivesse
gravado “Livro Sagrado”, ou “Livro da Lei”
2. Há um simbolismo esotérico na Abertura e Fechamento do Livro
da Lei no Rito Adonhiramita, que seria imensamente prejudicado
com a adoção da prática de exibir mais de um Livro Sagrado no
Altar dos Juramentos. A Palavra do GADU é uma só, transcrita em
muitos idiomas. É por essa razão, que o Livro da Lei no Rito
Adonhiramita NÃO PODE SER UM CÓDIGO DE LEIS CIVIS
O SIMBOLISMO DO LIVRO DA LEI

• No Rito Adonhiramita, o Livro da Lei representa a Ordenação Cósmica, as Leis


Naturais emanadas do GADU, interpretadas à luz da razão pelos homens
• A junção do Material e Espiritual, do Ternário com o Quaternário, exatamente
como a divisão das Tábuas da Lei de Moisés
• O processo de Abertura da Loja no Rito Adonhiramita simboliza a Criação do
Universo, o Verbo, ou Logos Divino, dando origem à toda manifestação física
visível
• Ao abrir o Livro da Lei, os maçons estão simbolizando a compreensão dessa
ordenação Cósmica, e ao fechá-lo, devolvem a manifestação à Causa ou Origem,
o GADU
• É a representação da prevalência do Espírito sobre a Matéria
• Não é, portanto, um ato de fé relacionado a determinada religião revelada e
devocional, mas um reconhecimento da grandeza e inefabilidade do GADU,
superior à qualquer imagem que o homem faça Dele
• É isso que deve ser compreendido pelos maçons praticantes de religiões não
cristãs
• A Maçonaria é Simbólica, mesmo nos chamados Graus Filosóficos, e a
instituição da Bíblia como Livro Sagrado no Rito Adonhiramita, refere-se apenas,
como vimos, aos padrões éticos e morais da civilização ocidental, que
indubitavelmente, se baseiam na tradição judaico-cristã
CONCLUSÃO

• A Maçonaria nasceu cristã


• O primeiro Livro da Lei a ser instituído foi a Bíblia
• Com o passar dos anos, e a proliferação de Ritos diferentes, cada um adotou um
Livro da Lei diferente, mais próximo do conceito de sua doutrina particular
• Não há homogeneidade, nem unanimidade com relação ao conceito de Livro da
Lei na Maçonaria
• O Rito Adonhiramita é teísta, e cristão, embora tenha características do
gnosticismo cristão
• O Livro da Lei estabelecido nos rituais Adonhiramitas, desde 1781, é a Bíblia
• No meu entendimento, há provas documentais suficientes para embasar esta
afirmação
• De toda forma, o que me parece mais relevante, é que tenhamos, como Rito
teísta, a consciência de que existe um Ser Supremo, Superior, acima de nossa
limitada compreensão, e que regula todo o Universo, onipresente e onisciente
como o Olho que Tudo Vê, a quem chamamos de Grande Arquiteto do Universo,
apesar de receber nomes diferentes nas religiões e correntes filosóficas
• Que Ele permaneça nos iluminando, e guiando para a Verdade, da qual somos
apenas meros buscadores
Agradecemos a todos pela participação.

Que o Grande, e Supremo Arquiteto do Universo nos guie e ilumine!

BOM DIA

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