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Governo do Estado do Ceará

Universidade Estadual do Ceará – UECE


Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos – FAFIDAM
Curso de Pedagogia - Licenciatura
Disciplina: Pesquisa e Prática Pedagógica IV
Professora: Maria da Glória Barbosa Matoso

A CIDADE E O BRINCAR: ANÁLISE DE ESPAÇOS PÚBLICOS DE RECREAÇÃO


INFANTIL NA CIDADE DE LIMOEIRO DO NORTE

Michelle Silva Maia

RESUMO

O trabalho a seguir, mostra as abordagens acerca das observações realizadas em


dois locais de recreação infantil da cidade de Limoeiro do Norte. Tendo como objetivo
principal, refletir e analisar os espaços públicos de recreação infantil, observando a
socialização, o lazer e a criatividade das crianças, bem como a adequação e o estado de
conservação dos equipamentos presentes nos espaços da cidade. Trata-se de um estudo
qualitativo, de cunho descritivo e exploratório. Para a coleta de dados lançamos mão de
pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo, com a utilização de técnicas e instrumentos de
dados, como: observações, registros em diário de campo e fotográficos e entrevista não-
diretiva. Com base nos dados levantados na pesquisa qualitativa, foi observada a falta de
acessibilidade, bem como a falta de manutenção dos brinquedos de playground nos locais
observados. Apesar desses contratempos, a pesquisa evidenciou o quanto a criança consegue,
movimentar o seu corpo, inventar brincadeiras e reinventar seu espaço.

Palavras-chave: Brincadeira. Espaço. Recreação Infantil.


1 INTRODUÇÃO

Na atual conjuntura, onde os processos e as realidades econômicas se estabelecem


por um período de intensas transformações, a infância vem sofrendo também muitas
transformações com a perda e a redução de espaços destinados a brincadeira. As casas com
seus quintais, estão sendo substituídas por condomínios verticais, com menos espaços físicos
internos e externos. Não havendo assim muito espaço para brincadeiras como: esconde-
esconde, pega-pega, entre outras, na qual, essas brincadeiras estão sendo substituídas por
outras atividades como: assistir televisão, videogames e computadores como forma de
preencher o tempo que ficam em casa.
Nesse sentido, como forma de amenizar todos esses prejuízos causados pela alta
concentração populacional em muitas cidades, se faz necessário uma nova forma de
urbanização e utilização dos espaços públicos, para que os mesmos possam proporcionar
atividades de lazer para as crianças. É muito importante para o desenvolvimento cógnito da
criança o brincar, movimentar o corpo, inventar brincadeiras. Além disso, o brincar é capaz
de desenvolver a autonomia, habilidades e também auxiliar na construção da própria
identidade da criança.
A infância é um período de descobertas, de desenvolvimento da imaginação e da
criatividade. Fase em que a criança vivencia momentos significativos, adquire conhecimentos
e experiências que a constituirão como sujeito. Sendo um momento tão importante na
formação, cabe a pais e aos educadores oportunizar vivências que possam contribuir para o
desenvolvimento integral das crianças.
Segundo o psicólogo Vygotsky (1984, apud WAJKOP, 2011), é na brincadeira que
a criança se comporta além do comportamento diário. A criança vivencia uma experiência no
brinquedo como se ela fosse maior do que é na realidade. Para Vygotsky, o brinquedo fornece
estrutura básica para mudanças das necessidades e da consciência da criança. A ação infantil
na esfera imaginativa, em uma situação imaginária, a criação das intenções voluntárias e a
formação dos planos de vida real e motivações volitivas aparecem no brinquedo, que se
constitui no mais alto nível de desenvolvimento pré-escolar.
As crianças são capazes de recriar e produzir novos significados à sua realidade,
através do ato de brincar nos diferentes ambientes urbanos. Dentre os quais destacam-se os
parques urbanos como espaços facilitadores para tal ação. Diante do exposto, surge o
questionamento: Os espaços públicos favorecem a interação, o lazer e a criatividade das
crianças na cidade de Limoeiro do Norte?
Com base nisso o presente trabalho teve como objetivo principal, refletir e
analisar os espaços públicos de recreação infantil, observando a socialização, o lazer e a
criatividade das crianças, bem como a adequação e o estado de conservação dos equipamentos
presentes nos espaços da cidade de Limoeiro do Norte.
A justificativa para o estudo dá-se em razão dos benefícios que os espaços
públicos de recreação infantil qualificados podem proporcionar à vida de muitas crianças.
Logo a escolha desse tema visa contribuir para que ocorra mais discussões e interesse pelo o
assunto proposto.

2 OBSERVAÇÕES
2.1 METODOLOGIA

O presente trabalho é delineado com a pesquisa bibliográfica e pesquisa de


campo, com a utilização de técnicas e instrumentos de dados, como: observações, registros
em diário de campo e fotográficos e entrevista não-diretiva. É uma pesquisa de cunho
exploratório, com uma abordagem qualitativa, que se propõe a analisar e responder
questionamentos levantados neste trabalho. O método utilizado é o descritivo e exploratório.
Nesta pesquisa foi realizado estudo preliminar dos locais escolhidos, com o intuito de mapear
o ambiente através de visitas de reconhecimento e avaliação das condições físicas dos locais.
Os temas que subsidiaram as entrevistas não-diretivas foram as seguintes: frequência de visita
ao local e se gostava do espaço. A observação não foi participativa, nesse sentido não houve
qualquer envolvimento com as crianças.

2.1.1 PARTICIPANTES

Os participantes foram crianças de ambos os sexos, com idade estimada entre 2 e


11 anos, escolhidas aleatoriamente, que se encontravam brincando, com ou sem a
interferência de adultos, nos espaços de recreação infantil.
Não foi delimitado a priori o número de entrevistados em cada espaço de
recreação infantil, os mesmos foram sendo entrevistados de maneira não-diretiva, na medida
em que era possível ou que a pesquisadora achasse necessário, totalizando ao final, 20
entrevistados.
2.1.2 CONTEXTOS DA COLETA

A pesquisa foi realizada em dois espaços de recreação infantil da cidade de


Limoeiro do Norte. Os locais foram selecionadas de acordo com três critérios: (a) conterem
espaço de lazer infantil - playground, balanços, escorregadores entre outros; (b) localização
geográfica – serem próximas ao centro da cidade; (c) estarem ocupadas/em uso no momento
da coleta. Um dos locais fica localizado dentro do Parque Natural Municipal do Campo
Florestal da cidade, que fica aproximadamente a 1.100 metros do centro da cidade, tem uma
área de quase 4 hectares, conta com trilhas, com academia ao ar livre e um parque infantil
para as crianças, que vou denominar de P1. O outro espaço escolhido é conhecido
popularmente como Praça do Careca, fica entre as ruas, Av. Dom Aureliano Matos e Rua
Inácio Mendes, bem no centro da cidade. Conta com 885 m² aproximadamente, sendo 240 m²
de área cercada para a recreação infantil, que vou denominar de P2.

2.1.3 PROCEDIMENTOS DA PESQUISA

O processo iniciou com a preparação dos instrumentos de coleta necessários para


as observações: croquis das praças e formulário de registro das observações. Durante as
visitas aos locais de recreação infantil fizeram-se observações livres e registros em diário de
campo, com informações pertinentes para a construção, desse trabalho.
A coleta de dados aconteceu em dias e horários diferentes, sendo em média
realizada no fim da tarde (das 18 às 20 horas) nos fins de semana, previamente constatado
como sendo horário e os dias de maior frequência de crianças. Foram realizadas um total de 5
visitas em cada local escolhido, no período entre os meses de setembro e outubro. Vale
ressaltar que o momento da observação, levou-se em conta a sociabilidade, criatividade,
interação com os brinquedos e o estado de conservação dos espaços.
Em razão das características dos dados encontrados nesta pesquisa, optou-se pelo
método qualitativo dos dados obtidos.

2.2 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS


2.2.1 CONHECENDO OS LOCAIS DE RECREAÇÃO INFANTIL

De acordo com as observações preliminares realizadas nos locais foi possível


conhecer os recursos de lazer presentes nos espaços de recreação infantil, assim como, o
estado de manutenção das mesmas. Como recursos de lazer entendem-se: a disponibilidade
quantitativa e qualitativa de equipamentos de playground. O local de recreação infantil P1,
possui duas gangorras, um balanço duplo, uma casinha dupla, com ponte de madeira e
escorregador e um brinquedo feito de pneu e tronco de árvore. O local possui piso de areia e é
cercado com telas protetoras. Só é permitido brincar nos brinquedos crianças até 12 anos de
idade. O mesmo ainda conta com 4 bancos de concreto, que possibilita os responsáveis
ficarem olhando as crianças sem precisarem está na área dos brinquedos. O local de recreação
infantil P2, possui piso anti-impacto e oito brinquedos infantis: duas casinhas duplas, sendo
uma com ponte de playground e outra com ponte de eucalipto, dois escorregadores com
balanço triplo, duas gangorras e dois brinquedos em mola. O espaço também possui uma
cerca e só é permitido crianças até 12 anos de idade.
De acordo com Jacobs (2000, apud MORO, 2012), os espaços públicos de lazer
devem possuir o máximo de diversidade, pois com mais diversidade, mais pessoas podem se
apropriar dele a partir de diferentes escolhas em tempos simultâneos. Infelizmente
constatamos que o número de brinquedos existente nos locais chega a ser insuficiente para a
quantidade de criança, além de não possuir uma diversidade que possa oferecer mais lazer as
crianças. Proporcionando assim experiências diversas, importantes para o desenvolvimento
integral das crianças.
Em relação a acessibilidade e manutenção da estrutura dos locais, os tópicos
avaliados foram: existência de rampas, condição da pintura, do piso, da marcação territorial
por cercas, da limpeza e peças quebradas ou ausentes. Como observado no espaço da P1, os
brinquedos estão em um bom estado de conservação, não apresentando nenhum brinquedo
quebrado. Em relação a limpeza, o mesmo sempre estava limpo e com uma disposição de
lixeiras de forma estratégica. Porém a acessibilidade é inexistente, o local não possui rampas
de acesso. Já o espaço da P2, todos os brinquedos precisam de manutenção e outros
necessitam ser substituídos pois não tem como mais haver conserto. O espaço conta com
lixeiras e é um local limpo, em relação a acessibilidade, a mesma possui rampa de acesso.
Percebeu-se também que esse local conta com alguns quiosques, que vendem comidas e
bebidas alcoólicas e colocam músicas voltadas para o público adulto, não respeitando as
crianças. Há também a presença de algumas pessoas que vendem bombons e algodão doce.
Como também pessoas com brinquedos como: pula-pula e motinhas elétricas, que cobram um
valor de 5 reais por 10 minutos em cada brinquedo.
Os dados demonstraram que a P1 estava em ótimo estado de manutenção,
enquanto que a P2 o resultado de manutenção era ruim. Pode-se observar que alguns tópicos
referentes à manutenção, como peças quebradas, dificultam não apenas o brincar, mas
aumentam o risco de acidentes. Percebe-se, então, que a P1 apresenta melhores condições de
uso.
Segundo Reis e Starepravo (2008, apud MORO, 2012), a efetivação das políticas
públicas de lazer não se dá apenas através da elaboração e oferecimento de projetos, mas
baseada em três eixos: a educação das pessoas para o lazer, para que estes compreendam a
real importância dele; a disponibilidade de espaços e equipamentos públicos nas diferentes
regiões das cidades; e a acessibilidade a esses espaços e equipamentos, garantindo acesso e
uso por todos.

2.2.2 ANÁLISE DA OBSERVAÇÃO

O espaço livre contribui com a melhoria da qualidade de vida, pela presença de


espaços de lazer, interação social, contemplação da paisagem e preservação ambiental. Nele
se desenvolvem diversas práticas sociais, que se diferenciam de acordo com o local e o
momento histórico, dentro do seu contexto urbano são capazes de revelar a cultura e os
costumes de seus habitantes. Sua vitalidade está diretamente relacionada à constante
apropriação do espaço por seus utilizadores. Nesse contexto, o parque se constitui como um
espaço livre público fundamental para promoção da vida pública nas cidades e bem-estar dos
seus usuários (ROSANELI et al., 2016 apud AZEVÊDO, 2022).
De acordo com as atividades e comportamentos realizadas pelas crianças, foi
elencado alguns pontos observados: (1) desocupadas; (2) observando; (3) descansando; (4)
conversando; (5) brincadeiras em grupo (pega-pega, esconde-esconde, passar anel, etc.); (6)
brincadeira nos equipamentos (balanço, escorregador, etc.); (7) cuidando ou ajudando outra
criança (empurrando o balanço, etc.).
No local de recreação infantil P1, a circulação de crianças nos horários que
compreenderam a pesquisa foi baixa. No primeiro dia de observação tão tinha nenhuma
criança nos brinquedos. Ao longo dos outros dias de visitas, o máximo de crianças que foram
observadas brincando foram 7. No primeiro momento foi observado que as crianças não
tinham tanto entrosamento, preferiam brincar sozinhas. Os responsáveis sempre estavam
observando as crianças. A maioria das crianças presente nesse espaço aparentavam ter entre 2
e 5 anos de idade, sendo na sua maioria do sexo feminino. As crianças menores preferiam
brincar na areia com a ajuda dos responsáveis, já as crianças maiores gostavam de se
aventurar nos brinquedos de pneu e madeira. Em relação aos pontos colocados anteriormente,
é possível destacar que as crianças que frequentam esse espaço, só usam mesmo os
equipamentos presentes para brincarem, como não acontece uma socialização entre elas não
tem como haver a brincadeira em grupo. Outro ponto de relevância é que o tempo de
permanência no local é curto.
Em relação as entrevistas não-diretivas realizadas no local P1, só foi possível
conversar com 3 responsáveis. Os três falaram que sempre que tinham tempo gostavam de
frequentar o local, principalmente por ser um local calmo, ventilado e de pouco movimento.
Já o local de recreação infantil P2, acontece uma grande circulação de crianças e
responsáveis. No primeiro dia de observação, durante as 2 horas de permanência no local, foi
contabilizada um total de 35 crianças, com idades entre 5 e 10 anos aproximadamente, sendo
sua maioria do sexo feminino. As crianças disputavam bastante os brinquedos, principalmente
os balanços, outras brincavam em grupo, de brincadeiras como pega-pega. As crianças tinham
muito entrosamento e rapidamente mudavam as brincadeiras. Sempre tinha criança
convidando outras para brincarem nas gangorras. Foram poucas as crianças observadas
descansando ou desocupadas. Na maioria do tempo elas se dividiam em brincar nos
brinquedos e correrem dentro do espaço. Era a minoria, as crianças que saiam do local
cercado do parquinho para brincarem nos brinquedos pagos que estavam no local. O uso dos
equipamentos do playground sempre foi o mais frequentado pelas crianças, do que a
realização de outras atividades.
A maioria dos responsáveis ficavam bebendo e comendo nos quiosques, por vez
ou outra iam fiscalizar se a criança realmente estavam no espaço dos brinquedos. Vale
ressaltar que todas as outras visitas ao local foi observado uma quantidade substancial de
crianças no local, permanecendo por muito tempo.
Já as entrevistas não-diretivas realizadas no local P2, foi possível conversar com
um número considerável de responsáveis, totalizando 17 pessoas. Quando foi perguntado se
gostavam do local, a maioria respondeu que sim, pois tinha locais pra fazer lanches. Cinco
pessoas responderam que não gostavam do espaço por conter pessoas bebendo no local. Todos
reclamaram, da falta de manutenção dos brinquedos e que tinham receio das crianças
acabarem machucadas.
Foi observado nos dois locais que os espaços contendo os equipamentos de
playground são reduzidos, principalmente o local de recreação infantil P2 que tem uma maior
circulação de crianças.
Segundo Wajkop, (2011), a criança desenvolve-se pela experiência social que
ocorrem durante as interações vividas ao longo da vida. Dessa forma a brincadeira é uma
atividade humana capaz de integrar as crianças, para que elas possam e construindo-se no
mundo. O brincar tem a função socializadora e integradora.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No estudo dos espaços de brincar da cidade de Limoeiro do Norte, tornou-se


evidente que as crianças precisam de mais espaço para socialização. É necessário que sejam
oferecido pra elas espaços planejados e diversificados, que tenham bastante espaço para que
possam criar suas brincadeiras.
Com base nos dados levantados na pesquisa qualitativa, foi observada a falta de
acessibilidade, bem como a falta de manutenção dos brinquedos de playground nos locais
observados. Apesar desses contratempos, a pesquisa evidenciou o quanto a criança consegue,
movimentar o seu corpo, inventar brincadeiras e reinventar seu espaço. Elas sentem-se livres
nesses espaços e conseguem desenvolvesse. Garantir um espaço adequado para as
brincadeiras é garantir um lugar de socialização, de construção de relação com o outro, de
exercício de decisão de escolhas e principalmente ampliação da imaginação.

REFERÊNCIAS

AZEVÊDO, Viviane Ramos de. Análise visual do mobiliário urbano infantil: o caso do
Parque da Criança de Campina Grande-PB. 2022. 105f. Dissertação (Mestrado em
Design) – Programa de Pós-Graduação em Design, Universidade Federal de Campina Grande,
Campina Grande, 2022.
MORO, Luize. Conhecendo os parques de Curitiba e seus espaços públicos destinados as
brincadeiras infantil. 2012. 152f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) –
Departamento de Educação Física, Setor de Ciências Biológicas, Universidade Federal do
Paraná, Curitiba, 2022.
WAJSKOP, Gisela. Brincar na Educação Infantil. 9 ed. vol. 34, São Paulo: Cortez, 2011.

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