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Vamos começar nosso curso "Técnica vocal para coros infantojuvenis" com a leitura de um trecho
da tese de doutorado "Regência coral infantojuvenil no contexto da extensão universitária: a
experiência do PCIU", da maestrina Ana Lúcia Gaborim-Moreira (2015). Nele, a autora busca
contextualizar o que é técnica vocal, a responsabilidade do (a) regente enquanto modelo vocal e a
importância do trabalho técnico-vocal no contexto coral, especialmente infantojuvenil.
Se a palavra “técnica” pode ser entendida em nossos dias como “saber fazer”, podemos
compreender a técnica vocal, de um modo geral e simplificado, como “saber usar a voz”. Richard
Miller (1996, p. xvi), em seu livro “The structure of singing” (“A estrutura do canto”), de maneira
mais precisa e aprofundada, nos explana que
a técnica representa a estabilidade de uma coordenação
desejável durante o canto. A técnica pode ser
“computadorizada” no cérebro e no corpo do cantor.
Nenhum cantor deveria ter dúvidas sobre o que irá
acontecer, tecnicamente, em uma performance em público
– a menos que uma doença interfira. Saber como o
Object 1
Technique represents the stabilization of desirable coordination during singing. Technique can be
[1]
“computerized” in the brain and the body of the Singer. No Singer ever should be in doubt as to
what is going to happen, technically, in public performance, unless illness interferes. Knowing how
the singing instrument works, and knowing how to get it to work consistently, is the sum of
technical knowledge.
Il doit être capable de transmettre aux choristes les moyes techniques pour une aisance vocale
[2]
nécessaire à l’interprétation (…) Outre ce qui concerne tous les aspects techniques de la
transmission de l’art vocal – connaissance de la partition, technique vocale, techniques
d'apprentissage - il est nécessaire de connaître le fonctionnement des individus au sein du groupe et
celui des relations humaines.
An essential component of any choral program is voice instruction. Since very few of our young
[3]
choristers study voice privately, each singer’s vocal development is left to the teacher-conductor –
an awesome responsibility indeed.
Conductors must be vigilant to make sure their choristers are always singing with a healthy
[4]
technique.
2.
T Técnica vocal para coros infantojuvenis
oVamos assistir a primeira videoaula da série "Construindo a sonoridade coral infantil", do Projeto
Um
c Novo Olhar (FUNARTE e EM-UFRJ). Corroborando com as colocações de Ana Lúcia
Gaborim-Moreira,
a Juliana Melleiro Rheinboldt aponta mais algumas ideias sobre o preparo vocal de
coros
r infantojuvenis, as quais também podem ser utilizadas em coros de outras faixas etárias.
V
í
d
e
o
Alguns assuntos mencionados nesta primeira videoaula serão abordados, detalhadamente, ao longo
do nosso curso. De toda forma, para este módulo inicial, vale reforçar algumas informações. A
respeito do preparo vocal e sua importância, Rheinboldt (2018) cita que:
O trabalho de preparo vocal, costumeiramente, acontece nos minutos iniciais do ensaio e durante o
trabalho com o repertório. Com base em Sesc (1997, p.35) podemos dizer que sua importância se dá
pelo aquecimento da musculatura corporal e fonatória; pela manutenção da saúde vocal, com a
prática de hábitos saudáveis de canto; pelo auxílio ao estudo e montagem do repertório, resolvendo
possíveis dificuldades musicais e buscando a sonoridade coral adequada à cada peça; e pelo
aprimoramento da afinação e percepção auditiva. (RHEINBOLDT, 2018, p. 31 e 32)
No tocante a como estruturar uma aula de técnica vocal, a autora sugere que:
[O preparo vocal] é composto por exercícios de alongamento, conscientização e postura corporal;
respiração; e vocalises para aquecimento e desenvolvimento técnico-vocal específico, que podem
englobar aspectos como ressonância, dicção, registração, afinação, musicalidade, dentre outros.
(RHEINBOLDT, 2018, p. 31 e 32)
(...) Recomendamos que [o preparo vocal] comece com exercícios de postura e respiração, para
preparar o corpo e a mente à prática coral. Os vocalises iniciais têm a função de aquecimento e
podem ser de ressonância e dicção. Os exercícios que seguem visam o desenvolvimento técnico-
vocal específico, como dicção, extensão e registros vocais, musicalidade, afinação e/ou brincadeiras
cantadas, conforme as necessidades de cada coro. As necessidades são delimitadas pelas exigências
do repertório e pelos aspectos musicais e vocais que precisam ser trabalhados. (RHEINBOLDT,
2018, p. 158)
Durante o ensaio do repertório, o preparo [vocal] também se faz presente no aprimoramento da
performance. Dessa maneira, a voz, o ouvido e a percepção de si e do todo são constantemente
abordados. (RHEINBOLDT in CHEVITARESE, 2021, p.37).
Podemos sintetizar um roteiro de preparo vocal ou técnica vocal (aqui entendidos como sinônimos)
da seguinte maneira:
Tabela 1. Sugestão de roteiro de preparo vocal para coros infantis, com base em RHEINBOLDT,
2018, p. 158 e 159.
Não é viável trabalhar todos estes aspectos técnicos em um mesmo ensaio. Respeitando-se as etapas
(alongamentos corporais, postura e respiração; vocalises para aquecimento vocal; e vocalises para
desenvolvimento técnico-vocal específico), é possível variar exercícios e planejar o preparo vocal
de acordo com as necessidades vocais e musicais de cada coro. Por fim,
vale lembrar que os vocalises de aquecimento devem ter
melodias com extensões vocais não muito amplas e que as
modulações não necessitam abarcar os extremos grave e
agudo [da voz]. Inicialmente, privilegiar [tonalidades médio-
agudas], o uso da voz de cabeça e a boa administração da
respiração. Nos vocalises de desenvolvimento técnico-vocal
específico, pode-se ousar um pouco mais quanto às
modulações e extensões, sempre respeitando os limites vocais
infantis e a qualidade da sonoridade. (RHEINBOLDT, 2018,
p. 158)
3. Técnica vocal para coros infantojuvenis na prática
Vamos finalizar nosso primeiro módulo do curso "Técnica vocal para coros infantojuvenis" ouvindo
a inspiradora maestrina Lucy Schimiti, de Londrina-PR, na live "Preparação vocal em coros
infantojuvenis", realizada no I Congresso Internacional de Música Coral Infantojuvenil (CIMUCI),
em 16/10/2020. Neste trecho da live, a maestrina relata diversas experiências e estratégias de
trabalho técnico-vocal com crianças e pré-adolescentes.
Vídeos:
https://www.youtube.com/watch?v=KV8DMxwsmLU
https://youtu.be/1wwuXrhG6vI
1. A voz
Você sabe o que é a voz e como ela é produzida?
No livro "Higiene vocal infantil: informações básicas" (1997), Mara Behlau, Maria Lúcia Dragone,
Ana Elisa Ferreira e Sandra Pela, explicam a produção vocal de uma maneira bastante acessível ao
público infantojuvenil. Vamos ler um trecho deste livro:
O que é voz?
A voz é um dos sons mais importantes do corpo humano. Com a voz nós choramos, gritamos,
rimos, cantamos, chamamos os amigos e pedimos coisas para os outros.
A voz existe desde que nós nascemos até ficarmos bem velhinhos. E ela muda a vida inteira. Você já
reparou como a voz das pessoas grandes são diferentes das vozes das crianças?
A voz é produzida na garganta. Fale um "a" e coloque sua mão na garganta. Sinta como ela treme. É
nesse lugar que estão as cordas vocais, só que o nome certo é "pregas vocais".
Para "ligar" a garganta e produzir a voz, precisamos de um combustível. Esse combustível é o ar. É
melhor respirar pelo nariz porque ele limpa e esquenta o ar. Quando conversamos rapidamente não
dá tempo de respirarmos pelo nariz. Quando falamos o ar também pode entrar pela boca. Quando
não falamos, a boca deve ficar sempre fechada.
O ar que você respirou está nos pulmões. Ao sair, vai "ligar" as pregas vocais que precisam ficar
juntinhas para o ar não escapar rapidamente, ou seja, elas vão vibrar e produzir sua voz. Se você
encher uma bexiga de ar, apertar o bico e deixar o ar sair aos poucos, você vai perceber que sai um
som. A voz da gente também sai assim. (...)
O som que sai das pregas vocais é bem baixinho, mas nós temos um alto-falante natural que é a
própria garganta, a boca e o nariz, funcionando como caixas acústicas. São chamadas de cavidades
de ressonância.
Se você falar e não movimentar direito a boca, você vai ver que o som que vai sair é bem baixinho,
porque você não usou sua caixa acústica mais importante.
Nas cavidades de ressonância temos várias estruturas que podem fazer movimentos e mudar o som
que as pregas vocais produzem. São os lábios, a língua, os dentes e o palato mole (onde fica a
úvula, conhecida como "campainha"). Eles são chamados de articuladores dos sons da fala.
(BEHLAU et al., 1997, p. 05 e 06).
A figura a seguir - retirada do livro "Higiene vocal infantil: informações básicas" - sintetiza bem o
processo de produção vocal, conforme acabamos de ler.
Figura 1. Ilustração sobre a produção da voz. (BEHLAU et al., 1997, p. 07)
As mencionadas autoras continuam falando sobre relevantes características da voz humana:
Cada pessoa tem essas estruturas com tamanhos e formas diferentes, fazendo com que cada um
tenha a sua própria voz, como os instrumentos musicais que tocam [grave, agudo], forte, fraco etc.
Se você ouvir uma música tocada em um violão e a mesma música tocada em uma flauta, ou em um
piano, você vai perceber a diferença. O nome "timbre" é usado para o som dos instrumentos e
"qualidade vocal" para as vozes das pessoas.
Quando você fala com as pessoas ao telefone, consegue perceber com quem está falando, pela
"qualidade vocal" daquela pessoa.
Você já reparou que a voz da sua mãe é diferente da voz do seu pai? E que a voz do seu pai é mais
grossa que a sua?
Feche os olhos e procure lembrar de vozes que você conhece. Lembre da voz da sua mãe e da sua
professora. Quem na televisão você acha que tem voz bonita? E o monstro do desenho animado,
tem voz muito feia?
A voz é nossa identidade, assim como a impressão digital nos identifica.
Da mesma forma que não existem duas impressões digitais, também não existe nenhuma voz igual a
outra no mundo. Até mesmo gêmeos têm vozes diferentes.
Portanto, use sempre a sua voz, lembre-se que a voz do artista e do super-herói podem ser bonitas,
mas a sua voz é muito especial! Ela é a voz de tudo o que você é, como pessoa cheia de vida!
A voz conta quem você é e como você está. Por exemplo, se você está alegre, a voz é clara e
brilhante; se você está triste ela quase some, fica baixinha. (...)
A voz não esconde o que nós estamos sentindo de verdade. Podemos mentir com as palavras, mas é
muito difícil mentir com a voz.
Devemos cuidar da nossa voz porque ela é um sinal de saúde. Se ela não está bem pode indicar que
a estamos usando demais ou de modo errado. Pode ainda indicar que nosso corpo pode estar com
algum problema ou até uma doença. (BEHLAU et al., 1997, p. 06 a 09).
O vídeo "Fábrica da voz", de autoria desconhecida, também é um excelente recurso para se ensinar
C
P sobre a produção da voz, sobretudo para crianças. Ele está em português de Portugal, mas é possível
ai compreendê-lo bem. Há apenas um pequeno erro na animação do vídeo. Na inspiração (entrada do
rc ar), o diafragma se contrai e abaixa. Na expiração (saída do ar) ocorre o oposto, o diafragma relaxa
rt e se eleva. Vamos assistir ao vídeo:
eu
gr
ae
d-T
o
c
a Antes de abordarmos especificidades das vozes infantojuvenis, é preciso dizer que a voz humana é
r um campo de pesquisa complexo e fascinante. Aqui, explicamos a produção vocal de uma maneira
0c simples e acessível, porém, incentivamos que aprofundem seus estudos a respeito. Enquanto
0i profissionais do Canto Coral, é primordial conhecermos bem o funcionamento e as estruturas do
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corpo e da voz, para ensinar nossos coros a cantar com qualidade e saúde. Também é importante
que, em nossos ensaios, falemos sobre cuidados com a voz. A seguir, encaminhamos algumas dicas
elaboradas pela Profa. Dra. Juliana Melleiro Rheinboldt, as quais são usadas em suas aulas da
graduação em Música da UFRJ. Sintam-se à vontade para disponibilizar a seus coros!
Embora a muda vocal seja mais perceptível nos meninos, ela também ocorre nas meninas. Ambos
[1]
os sexos sofrem alterações no timbre e na extensão, durante e após a mudança das vozes.
De acordo com o autor, o registro médio funciona como uma ponte entre os registros inferior e
superior. Por volta do Fá# 3 há um balanço entre o registro inferior e superior. Phillips apresenta o
seguinte esquema para explicar esta transição (Phillips, 2014, p. 91).
O trabalho de ampliação da extensão vocal deve ser permanente, com todo o coro.
(CHEVITARESE, 2021, p. 25 a 27).
[1] Aqui podemos entender o registro médio como região médio-aguda da voz.
Muda vocal
A muda vocal é um assunto que pode trazer inseguranças e questionamentos a muitos (as) regentes
de coros infantojuvenis e juvenis. Em linhas gerais, podemos dizer que a mudança da voz:
● Acontece na puberdade;
● Tem duração e características variáveis;
● É mais perceptível nos meninos, porém, também acontece com as meninas;
● Pode causar redução momentânea da tessitura vocal, alteração do timbre e desafinação;
● Resulta em alterações do timbre, da tessitura e da extensão vocal dos (as) coralistas;
● Demanda do (a) regente um acompanhamento individualizado e periódico de seus (suas) cantores
(as), bem como a confecção de arranjos musicais e repertórios específicos para seu grupo, em
muitos casos.
Para compreendermos com mais detalhes as especificidades da muda vocal e do trabalho com vozes
que passam por ela, ouviremos especialistas no assunto.
Com a palavra, Cláudia Pacheco…
Começaremos pela renomada fonoaudióloga Cláudia Pacheco (São Paulo-SP), em sua participação
na live "Muda Vocal: processos fisiológicos e processos de aprendizagem", que aconteceu no I
Congresso Internacional de Múscia Coral Infantojuvenil (CIMUCI), em 15/10/2020, e teve a
mediação de Luís Gustavo Laureano (Votorantim-SP) e Paulo Paraguassú (Vitória-ES).
Para muitos regentes o trabalho de dicção se limita à melhor enunciação do texto para que o público
possa entendê-lo. Outros, preocupados com homogeneidade, equilíbrio, afinação e precisão rítmica,
entendem que o trabalho de dicção se propõe a conscientizar os cantores a respeito da produção
correta e unificada dos sons vocálicos e da articulação eficaz das consoantes. De fato, todas essas
preocupações são essenciais e precisam ser somadas. A fim de que o público entenda bem o texto
que está sendo cantado, é necessário, primeiramente, que se trabalhe a pureza dos sons vocálicos e a
clareza das consoantes. Entretanto, este trabalho de enunciação não é o suficiente. Para atingir tal
objetivo, é preciso combinar essas qualidades com a prática insistente de se cantar as palavras com
a acentuação adequada e dar sentido ao conteúdo poético de cada verso do texto, adequando-o ao
conteúdo musical. Assim, os textos ganham em expressividade e seu significado é melhor
comunicado. (FERNANDES, 2009, p.236)
Corroborando com as ideias de Fernandes, Kenneth Phillips - estudioso da voz infantil e juvenil -
aponta que:
(...) a dicção envolve três áreas: a pronúncia, a enunciação e a
articulação das palavras. A pronúncia é a maneira como as palavras
são ditas, em cada idioma e requer do regente estudos de fonética e
traduções do repertório, para que o coro e a audiência
compreendam o significado do que está sendo performado,
sobretudo, em idiomas estrangeiros. A enunciação aborda como as
vogais e as sílabas são pronunciadas e qual intenção será colocada
para comunicar o texto. Já a articulação, diz respeito a como as
consoantes são utilizadas para projetar as vogais e tornar o texto
inteligível, expressivo e rítmico (Phillips, 1992, p. 305 apud
Rheinboldt, 2018, p. 95). (RHEINBOLDT in CHEVITARESE,
2021, p. 48 e 49)
Na Unidade 3, falamos um pouco sobre a importância das vogais para o trabalho de ressonância. No
entanto, elas também são fundamentais para se aprimorar a dicção de um coro. De acordo com
Fernandes:
Não se pode ignorar o fato de que em grande parte do tempo que se canta, cantam-se vogais. Assim,
um bom começo para se atingir um dicção coral eficiente é a produção consciente e correta dos sons
vocálicos puros. O alto nível de enunciação das vogais é o primeiro componente da dicção a ser
atingido por um cantor. A falta dessa consciência é a base para muitos erros no canto e para a dicção
pobre. Moore ressalta que:
O ponto de refinamento da qualidade vocal e de unificação sonora
do canto grupal está na formação das vogais. Ela determina a
qualidade e a maturidade do som e constitui o fator primário na
precisão e controle da afinação, além de abrir o caminho para que
um grande número de cantores possa cantar como uma só voz. [...]
Será necessário que o coro identifique e conheça a formação das
vogais básicas. (Moore, 1999, p. 51).
Ao regente, pois, compete o intenso trabalho de ensinar aos cantores a produção adequada dos sons
vocálicos. Segundo Miller, muitos problemas de afinação nos grupos corais são consequência da
inabilidade dos cantores em diferenciar claramente as vogais. Depois de explicar sobre a formação
dos sons vocálicos, o autor incentiva o regente a aplicar exercícios de diferenciação das vogais para
que seus cantores adquiram domínio sobre sua produção:
Um pequeno número de exercícios de diferenciação das vogais,
executados individualmente ou em grupos, primeiro lentamente e
depois rapidamente, traz uma conscientização sobre como as
vogais podem ser mudadas sem perda da consistência necessária
para se produzir um timbre vocal rico em ressonância. Essa
consistência do timbre pode ser mantida somente se o trato
ressonador tiver permissão para assumir formas que ‘rastreiem’ a
vogal gerada na laringe. É essa habilidade de mudar os contornos
do trato ressonador que permite que o timbre vocal permaneça
constante quando as vogais são diferenciadas. (Miller, 1986, p.61).
Conscientes da produção dos sons vocálicos, os cantores devem desenvolver a habilidade de
articulação das consoantes. Se a pureza das vogais é fundamental para a produção de um som
esteticamente bonito, homogêneo e afinado, a precisão rítmica e o significado do texto são
dependentes de uma produção consonantal eficaz. (FERNANDES, 2009, p.236 e 237)
Glissar do
agudo para o
grave e do grave
para o agudo, com
os fonemas PR ou
BR. Procure
caminhar do som
mais agudo que a
criança alcance
para o mais grave e
vice-versa.
Glissar, continuamente, do grave para o agudo e do agudo para o grave, com os fonemas PR ou BR.
Outra variante que pode ser adotada é usar o próprio texto da música que estamos trabalhando,
alternando as regiões aguda e grave da voz.
Utilizar as diferentes regiões da voz com interjeições como: Bom dia! Maravilha! Que horror!
e) Uso inadequado de registro vocal
A extensão vocal, assim como o timbre de uma voz, é função das características físicas das pregas
vocais e das cavidades de ressonância. Quando uma criança adota para si um modelo vocal
incompatível com suas pregas vocais, estas sofrem um excesso de tensão, prejudicando sua saúde
vocal. Às vezes, por questões culturais, os meninos não querem cantar como soprano, por
considerarem ser uma voz de mulher e, por isso, forçam uma voz mais grave do que realmente
possuem. O preconceito poderá ser vencido e sua voz reeducada se forem conscientizados de como
se dá o processo fonatório; e compreenderem que meninos e meninas possuem extensão e timbre
vocal semelhantes, que existem sopranos e contraltos tanto em um como em outro sexo e que
somente na puberdade, com o crescimento das pregas vocais de forma diferenciada entre moças e
rapazes, a extensão vocal e o timbre se modificarão.
Existe ainda a possibilidade do regente se enganar na classificação vocal de uma criança. Além
disso, quando a criança entra em muda vocal, sua voz sofre mudanças. Devemos estar sempre
atentos a cada criança de nosso grupo e, se for preciso, trocá-la de naipe.
6. Dicas para o trabalho com pessoas que ainda não afinam
(a) Pessoas com dificuldade de afinação devem estar nas fileiras da frente, entre pessoas que
afinam, para que recebam por todos os lados referenciais sonoros com a altura correta dos sons.
(b) Pessoas com dificuldade de afinação não devem estar posicionadas nas pontas das fileiras. Esse
local deve ser reservado para crianças que já possuem controle da emissão dos sons e,
consequentemente, boa afinação.
(c) Pedir que cante mais baixo, ouvindo os colegas é muito importante. Se a criança canta muito
forte não tem como ouvir o conjunto nem os referenciais que são emitidos pelos cantores ao seu
redor.
(d) Trabalhar individualmente ou em pequenos grupos dá resultado mais rápido. Esse treinamento
deve ser feito em sessões curtas e ter caráter lúdico, para que a criança se sinta à vontade e acolhida.
(e) Partir do som que o cantor já afina é muito mais eficiente e dá resultado mais rápido. Se
precisarmos que a criança chegue a uma determinada altura, é mais eficiente partir do som que ela
já emite e, em glissando, caminhar para a nota desejada.
(f) Vocalizar fragmentos melódicos simples e interessantes, que despertem o interesse da criança
como por exemplo vocalizar utilizando o nome do cantor ou seu time preferido, ou ainda uma
comida que a criança goste.
(g) Repetir fragmentos melódicos simples é mais fácil do que uma nota isolada. O exemplo abaixo
mostra como transformar um único som em um exercício mais dinâmico.
(h) Utilizar gestos e imagens que sugiram o movimento melódico.
(i) Trabalhar 10 a 15 minutos por dia já é suficiente.
(j) Fazer com que seu cantor sinta prazer no que está fazendo. Tenha paciência, transmita confiança,
alegria, busque novos caminhos e acredite que é possível. Você não afinará uma pessoa em apenas
um dia, mas a cada dia dará um passo importante para a construção da afinação.
(k) Estimular, incentivar, aplaudir, mesmo que o progresso tenha sido mínimo. É a partir deste
estímulo que eu cantor irá, aos poucos, se desenvolvendo! (CHEVITARESE, 2021, p. 19 a 25)
Além das valiosas dicas dadas pela maestrina Maria José Chevitarese, Juliana Melleiro Rheinboldt
(2021) ainda sugere o uso de duas âncoras de aprendizagem, o sussurrofone e os pios de pássaros:
Para aprimorar a afinação e, mais especificamente, a percepção auditiva, sussurrofones e pios -
apitos de pássaros podem ser utilizados. Os sussurrofones são “telefones” feitos de PVC, com 15
cm de cano e dois “joelhos” de 90°. Eles auxiliam as crianças a se ouvirem melhor e a perceberem
detalhes do que estão cantando. Os pios de pássaros têm timbres diferentes, alguns mais graves,
outros mais agudos. Com eles, pode-se brincar de “morto-vivo musical”, de forma que ascrianças se
abaixem quando ouvirem sons graves e fiquem em pé quando ouvirem sons agudos. Essa
brincadeira possibilita a discriminação de alturas e timbres e, assim como os sussurrofones, também
amplia a escuta dos coristas. (RHEINBOLDT in CHEVITARESE, 2021, p. 59)
Figura 1.
Sussurrofones
e pios de
pássaros
"Once the director has a sound in mind and has conveyed vocal techniques to the choir, it would
[1]
seem the job is done. But the real fun begins with interpreting the music expressively and
stylistically. (...) Many choirs sing all music in the same weight, color, and style. This is not only
boring to the listener but detracts from the authenticity of the music. (...) It is obvious that would not
be authentic to sing an African freedom song the same as a madrigal or motet. One would surely not
sing a Hunga- rian folk song the same as a Mozart composition or a Bulgarian piece the same way
you would sing Palestrina” (Leck, 2009, p. 101, tradução minha).
5. Palavras finais
Gostaríamos de concluir o módulo 6 e o curso "Técnica vocal para coros infantojuvenis" com uma
inspiração: o maestro Josh Pedde fazendo o preparo vocal do Indianapolis Children's
Choir[1] (Indiana, EUA). O Indianapolis Children's Choir é um programa de ensino musical e coral
de referência mundial e, por muitos anos, teve como diretor artístico e regente o maestro Henry
Leck. Na gravação a seguir, veremos, uma vez mais, como é fascinante o ensino de técnica vocal.
https://www.youtube.com/watch?time_continue=1&v=TiRMOtw1VUI