Você está na página 1de 5

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE CASTANHAL


FACULDADE DE LETRAS

DISCIPLINA: OFICINA DE COMPREENSÃO E PRODUÇÃO DE TEXTOS ACADÊMICOS


DOCENTE: INÉIA DAMASCENO ABREU
ALUNO (A): SABRINA SOUSA CONCEIÇÃO

Resenha do livro “O Quinze”, de autoria de Sabrina S. Conceição (Rachel de


Queiroz)

Castanhal – PA
2022
O ÊXODO RURAL: CONTRASTES DE UM PASSADO AINDA PRESENTE

Sabrina Sousa Conceição1

QUEIROZ, Rachel de. O Quinze. São Paulo: Editora Siciliano, 2000. 149 p.

É de nosso conhecimento que a vida no sertão brasileiro nunca foi fácil, além das
dificuldades que o próprio bioma apresenta, ainda há períodos onde a escassez de
recurso é intensificada. “O Quinze" é o primeiro e um dos mais conhecidos
romances da autora brasileira Rachel de Queiroz, onde ela retrata um pouco de sua
infância e da grande seca que assolou o Nordeste em 1915.
Na primeira parte do livro nos é apresentadas as histórias de Conceição – uma
professora da capital que estava passando uns dias com sua mãe de criação Inácia
– “Todos os anos, nas férias da escola, Conceição vinha passar uns meses com a
avó (que a criara desde que lhe morrera a mãe), no Logradouro, a velha fazenda da
família, perto do Quixadá. Ali tinha a moça o seu quarto, os seus livros, e,
principalmente, o velho coração amigo de Mãe Nácia. Chegava sempre cansada,
emagrecida pelos dez meses de professorado; e voltava mais gorda com o leite
ingerido à força, resposta de corpo e espírito graças ao carinho cuidadoso da vó" (p.
09), e de Chico Bento e sua família – Chico trabalhava em uma fazenda desde muito
tempo, e depois de ser dispensado por conta da falta de trabalho, se vê obrigado a
partir em busca de uma vida melhor para ele, sua mulher Cordulina, e seus seis
filhos – “Chico Bento parou. Alongou os olhos pelo horizonte cinzento. O pasto, as
várzeas, a caatinga, o marmeleiral esquelético, era tudo de um cinzento de borralho.
O próprio leito das lagoas vidrara-se em torrões de lama ressequida, cortada aqui e
além por alguma pa cavira defunta que retorcia as folhas empapeladas.” (QUEIROZ,
p. 20). Apesar das histórias de Conceição e Chico Bento apresentarem diferenças
tanto econômicas, quanto sociais, em uma coisa eles partilham do mesmo: a
necessidade de sair de sua terra natal e espaço rural para a cidade grande afim de
conseguir melhores oportunidades. E mesmo em cenários mais atuais, esse êxodo
ainda é muito presente na nossa sociedade, onde tantos os mais jovens, quantos os
mais velhos precisam sair de suas cidades pequenas do interior para a capital, ou
até mesmo para outros estados onde a demanda de empregos é maior. O livro
1
também apresenta outros personagens como Vicente, primo de Conceição, que
toma conta da fazenda do pai e que nutre determinados sentimentos pela mesma.
A segunda parte do livro fala sobre o percurso de Chico Bento e sua família até a
capital, e esse percurso é marcado pelas perdas de Mocinha – que ficou trabalhando
na casa de uma senhora, de Josias – que morreu vítima da fome que o cegou, e de
Pedro – que sumiu, e que muito provavelmente tenha ido embora com outro grupo
de retirantes. A sede, a fome e o cansaço já abatiam a família do sertanejo, que a
cada amanhecer buscava forças de onde já não se tinham para persistir em sua
caminhada. Conceição também dava continuidade à sua rotina, que de se divida
entre dar aulas, e ajudar no Campo de concentração, onde dezenas de pessoas
viviam sob condições extremas de carência, pessoas que deixaram tudo para trás
na esperança do governo dar alguma ajuda na sobrevivência das mesmas.
“Conceição estava na escola. Saía de casa às dez horas e findava a aula às duas.
Da escola ia para o Campo de Concentração, auxiliar na entrega dos socorros. E só
chegava de tardinha, fatigada, com os olhos doloridos de tanta miséria vista,
contando cenas tristes que também empanavam de água os óculos da avó.”
(QUEIROZ, p. 71).
É no Campo de concentração que as histórias de Conceição e Chico Bento se
cruzam mais uma vez. Ela já acostumada a procurar rostos conhecidos pelos
cantos, reconheceu o rosto magro e sofrido de Chico, que havia chego no Campo no
dia anterior, Conceição – que era madrinha de Duquinha – viu a criança e muito de
compareceu dela, ao final de decidir adotá-la. Chico Bento e Cordulina, depois de
muitas ajudas recebidas de Conceição, decidem enfim partir para São Paulo afim de
buscar emprego e oportunidades que não encontraram na capital do Ceará. “Chico
Bento fitava o navio, escuro e enorme, com sua bandeira verde de bom agouro,
tremulando ao vento do Nordeste, o eterno sopro da seca. Sentia como que um ímã
o atraindo para aquele destino aventuroso, correndo para outras terras, sobre as
costas movediças do mar...” (QUEIROZ, p. 112).
Na terceira e última parte do livro é mostrada mais sobre a nova rotina de
Conceição e Duquinha, seus pensamentos sobre os seus sentimentos e sobre
Vicente, e também temos pontos de vistas dele, uma vez que os dois começam a se
desentender. E para a surpresa e alívio do leitor, chove ao cabo de Dezembro, e
muitos mais que água caindo do céu, essa chuva os trouxe um ar de vida, de
esperança, de fé que à muito tempo já tinham se desvanecido. E com isso, Mãe
Inácia decide voltar a Quixadá, onde a sua saudade já não mais cabia no peito.
Há uma passagem de tempo de três anos, e agora a terra ganhara vida, daquela
seca só haviam restado lembranças, porém nosso casal continuou no mesmo
sentimento, ambos continuaram solteiros, e Conceição achou melhor assim, entre
um mar de incertezas, nossa personagem – apesar de querer amar, de ter uma
família – percebeu que a melhor escolha que fez foi desfrutar do que já tinha ali, e
tinha muito: Duquinha, Mãe Inácia, as amigas, e a cordialidade de Vicente, que
sempre seria seu bom e velho amigo.
Conclusão: “O Quinze" é uma obra que retrata com riqueza de detalhes o que o
sertanejo viveu e vive durante as secas. Importante objeto de estudo, este livro
aborda assuntos como casamento, papel da mulher na sociedade, emigração de
pessoas para outros estados e países, diferenças socioeconômicas, agricultura
familiar, etc. Assim como muitas obras da literatura brasileira, este livro nos
apresentam cenários nos quais muitas vezes não estamos habituado, ou que
desconhecemos.
Aluno(a) de Graduação em Letras, habilitação em Língua Portuguesa, da Universidade Federal do
Pará, Campus Universitário de Castanhal.

Você também pode gostar