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Apostila

do aluno
Curso de fotografia para iniciantes
Maria Vaz


1. Como funciona a câmera fotográfica?



A câmera fotográfica é análoga ao olho humano. Através da luz, a imagem é projetada em seu
interior, onde está localizado o sensor digital (ou a película do filme). As milhares de partículas
fotossensíveis formam os famosos pixels e, assim, a imagem inteira é formada, sendo logo em
seguida armazenada no cartão de memória da câmera. A lente tem o papel de tornar a imagem
nítida e pode ser trabalhada de várias maneiras, como as que veremos a seguir.


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2. Distância Focal



A distância focal da lente, para mais fácil entendimento, é o que chamaríamos de “zoom”, onde
existe a alteração da distância e, consequentemente, do ângulo de visão. Observando a imagem
acima, vemos que essas distâncias podem ser drasticamente alteradas. Em uma mesma
posição, alterando apenas a distância focal (aumentando ou diminuindo o “zoom”), podemos

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enquadrar a cena de diversas maneiras diferentes, enfatizando ora uma paisagem inteira, ora
um detalhe contido nela, como vemos no exemplo abaixo:

fonte: Google
Alterar o ângulo de visão da cena também pode ter outras consequências:
• Um ângulo de visão mais aberto permite que uma área maior da cena seja coberta, mas,
ao mesmo tempo, pode gerar distorções nas bordas da imagem, não sendo muito
recomendado para fotografar retratos. No exemplo abaixo vemos a alteração da
distância focal e sua influência na forma do rosto humano:

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fonte: Google


• Além de alterar a distância e poder gerar distorções, a distância focal tem influência
sobre a profundidade de campo: quanto mais distante, maior a profundidade de campo
(a nitidez alcança um número maior de planos); contrariamente, quanto mais próximo,
menor a profundidade de campo. Logo, será mais fácil conseguir o efeito de desfoque
quando operarmos distâncias focais menores, como mostra o exemplo a seguir:

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Observação: é importante saber que nem todas as câmeras possuem todas essas variações de
distância focal. As câmeras de lente embutida, nas quais a variação da distância não é feita na
lente, mas sim na própria câmera (aumentando e diminuindo o “zoom”), costumam possuir
uma larga escala de variação, partindo de distâncias focais muito curtas (ângulos de visão bem
abertos) até distâncias focais bem grandes (ângulos de visão bem fechados, que aproximam o
que está distante). Já as câmeras que possuem a opção de trocar a lente têm essa variação de
acordo com a lente usada pelo fotógrafo, que decidirá qual usar de com a sua necessidade.
Portanto, para pensar em distância focal, não se atenha ao número indicado por milímetros,

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mas sim à alteração do ângulo de visão que este proporciona, que é o que será de fato
visualizado na hora de fotografar.


Conhecimentos e aplicações básicas acerca das variadas distâncias focais:


• Distâncias focais curtas (até 35mm):

As distâncias focais mais curtas, cujas lentes (para aquelas câmeras que possuem a opção de
trocar as lentes) são chamadas de Grande Angular, possuem, como o nome já diz, um grande
ângulo de visão e, por isso, costumam ser muito utilizadas para fotografias de paisagem e
interiores. Além de alcançarem um ângulo grande, essas distâncias mais curtas possuem uma
profundidade de campo muito extensa, fazendo com que o desfoque seja mínimo e nos
permitindo enxergar mais detalhes nítidos da cena. Obs.: a nitidez a que nos referimos não está
ligada à qualidade da imagem, mas somente à profundidade de campo.


Sebastião Salgado

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Robert Polidori


• Distância focal normal (50mm)

A distância focal de 50mm é chamada de “normal” por ser comparável ao ângulo de visão
humano, isto é, ela “enxerga” mais ou menos o que nós enxergamos e por isso é considerada a
mais versátil de todas, sendo utilizada em situações das mais diversas. A partir daí, já
conseguimos perceber melhor o desfoque, pois a cada vez que aumentamos a distância focal
(aumentamos o “zoom”) menor se torna a profundidade de campo, como citado nos exemplos
acima.



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• Distâncias focais longas (a partir de 70mm)

As distâncias focais mais longas (cujas lentes são chamadas de Teleobjetivas) possuem um
ângulo de visão menor e, com isso, aproximam aquilo que está mais distante. Por isso são
muito utilizadas para fotografar retratos, cenas mais distantes (como esportes) e natureza.
Lembrando que aqui a profundidade de campo fica ainda menor, evidenciando ainda mais o
desfoque, o que também evidencia o assunto retratado.

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Steve Mccurry

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fonte: Google

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3. Foco

O foco pode ser feito basicamente de duas formas: manual ou automático.


• Foco manual: para as câmeras com opção de troca de lente, o foco manual é feito na
própria lente, girando o anel de foco. Dessa forma, o fotógrafo pode escolher qual plano
quer colocar em foco. Outras câmeras possuem a opção de foco manual no menu,
variando manualmente a posição do sensor de foco e posicionando-o no plano a ser
focado.

fonte:Google

Foco no 2º plano Foco no 1º plano



• Foco automático: é feito através de “sensores de foco” que a câmera possui e, para que
isso aconteça, é necessário que exista suficiente luz e que esses sensores encontrem
algum tipo de contraste na superfície a ser focada. Se o foco não é encontrado, a foto
não é feita. Algumas câmeras possuem diversos sensores de foco e existe a opção de

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ativar todos eles, parte deles ou apenas um. Com todos os sensores ativos, o foco será
sempre feito no primeiro plano, independe de essa ser ou não a vontade do fotógrafo.

Como fazer? Pressionando levemente o dedo contra o botão de disparo (o chamado “meio-
clique”) é acendida a luz do sensor de foco dentro do visor da câmera ou no LCD (algumas
câmeras também emitem um som indicando que o foco foi feito). O local em que acendeu o
sensor indica o plano que foi focado.
Transporte de foco: o transporte de foco é feito para descentralizar o assunto a ser fotografado
(considerando-se que o sensor de foco esteja localizado no centro) e/ou focar em diferentes
planos. Para executá-lo basta pressionar o botão de disparo levemente e, antes de “terminar o
clique” (isto é, antes de fazer a foto), enquadrar novamente a cena de acordo com o gosto ou
desejo do fotógrafo (sem soltar o dedo do botão de disparo). Depois de enquadrada, o botão é
pressionado até o final, fazendo a foto.

Situações em que o foco manual pode ser mais eficiente devido à dificuldade da câmera em
fazer o foco automático:

• Superfícies monotonais, onde não existe contraste de tons e cores:

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• Situações onde existe reflexo (com o foco manual fica mais fácil definir se o foco será
feito no que está sendo refletido ou no que está além do reflexo):

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• Grades ou gaiolas (o foco automático insiste em fazer o foco em cima das grades,
enquanto que o foco manual te permite escolher onde focar com mais facilidade):

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LUZ

Sem luz, não existe fotografia.
Através do manuseio de três funções da câmera, podemos trabalhar a luz a nosso favor.
Lembre-se que essas três funções devem ser trabalhadas em conjunto para que seja alcançado
o resultado desejado.

1. ISO

O valor do ISO indica a sensibilidade do sensor, isto é, quanto mais alto o ISO, mais sensível será
o sensor à luz. Definimos o ISO de acordo com o ambiente a ser fotografado, sendo
normalmente a primeira das três funções a ser definida. Quanto mais escuro está o ambiente,
mais alto deve ser o ISO para poder iluminá-lo.

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Porém, cuidado! Apesar de iluminar a imagem retratada, o ISO alto pode gerar ruídos.

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2. Diafragma

O diafragma está localizado na lente e seus valores, chamados de f/stops, definem a sua
abertura, que controla tanto a entrada de luz quanto a profundidade de campo da imagem.




Cada lente possui uma abertura mínima e máxima do diafragma e as câmeras com lentes
embutidas possuem esses valores fixos, de acordo com a câmera.
LUZ: Quanto menor o número, mais aberto está o diafragma e maior é a entrada de luz.
PROFUNDIDADE DE CAMPO: Quanto menor o número, menor é a profundidade de campo, isto
é, mais fácil de conseguir o efeito do desfoque.

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Entendendo melhor o foco e a profundidade de campo: uma imagem normalmente possui
diversos planos e o foco é o plano de maior nitidez desta. Ainda que seja feita uma fotografia
de um rosto, onde supõe-se que este possui apenas um plano, deve-se considerar que um rosto
não é chapado, ele tem à frente o nariz, depois as bochechas, a boca, os olhos, a testa, as
orelhas; portanto, até mesmo para fazer um retrato, deve-se considerar o plano focal (sugere-
se que seja sempre nos olhos). A profundidade de campo é a extensão da nitidez a partir do
plano focal, isto é, ainda que o observador perceba todos os planos de uma imagem nítidos,
isso não quer dizer, como costuma-se pensar, que a foto “está toda focada”, mas sim que ela
possui uma grande profundidade de campo. A profundidade de campo pode ser trabalhada de
três maneiras diferentes na hora de fotografar:

1. Distância focal: quanto mais curta (maior ângulo de visão), maior a profundidade de
campo e vice-versa.
2. Distância do objeto: quanto mais distante se está do assunto fotografado, maior a
profundidade de campo e vice-versa.

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3. Abertura do diafragma: quanto mais fechado o diafragma, maior a profundidade de
campo e vice-versa.

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Análises através de imagens:

Richard Avedon

Nesta fotografia do conhecido músico Bob Dylan, feita pelo fotógrafo Richard Avedon, Dylan
está em evidência devido ao desfoque gerado no fundo. Sabemos que existem três fatores que
alteram a profundidade de campo: distância focal, distância do objeto (quanto mais perto,
menor a profundidade de campo e vice-versa) e abertura do diafragma. Observando a imagem,
que contempla não apenas toda a figura do retratado mas também parte do cenário, sabemos

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que ela não foi feita de uma distância muito próxima, concluindo-se, portanto, que para
conseguir o desfoque do fundo, o diafragma precisava estar bem aberto (f/stop com um
número menor).


Alex Webb

Nesta imagem do fotógrafo Alex Webb, percebemos uma situação oposta à anterior, onde a
profundidade de campo se entende por diversos planos, isto é, percebemos a imagem nítida do
primeiro até o último plano. Nesse caso, devido à distorção percebida na imagem, concluímos
que ela foi feita com uma distância focal curta (um ângulo de visão mais aberto), o que por si só
já cumpre o papel de aumentar a profundidade de campo. No entanto, a profundidade de
campo é tão grande que não poderia ser obtida apenas através da distância focal curta,
precisando-se também de um diafragma mais fechado para obtê-la.

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3. Velocidade do obturador

O obturador, localizado no interior da câmera, é composto de duas janelas que se abrem e se
fecham no tempo definido pelo fotógrafo. Quanto maior for esse tempo, maior será a entrada
de luz que chega no sensor. Os valores de velocidade podem variar entre 30’’ e 1/8000 seg.,
dependendo do equipamento. O obturador trabalha não apenas a entrada de luz, mas permite
também trabalhar o movimento do assunto retratado, variando entre congelar esse movimento
ou deixá-lo completamente borrado.

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Portanto, prioriza-se o trabalho com o obturador quando o assunto em questão está em
movimento, podendo-se obter resultados diversos de uma mesma cena e diferentes sensações
de movimento:



velocidade lenta do obturador velocidade rápida do obturador

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Como trabalhar com o obturador?
Analisar o movimento que existe na cena a ser fotografada:
• Se o movimento é muito rápido e a intenção é que ele seja congelado, a velocidade do
obturador deve ser mais rápida que o movimento em questão. Se a intenção é que o
movimento “borre”, a velocidade definida deve ser mais lenta.

Análise através de imagens:

Cartier Bresson


Nesta fotografia de Cartier Bresson existem dois movimentos diferentes: o da mulher que
sobe as escadas e o dos pássaros que levantam voo. O movimento da mulher não é muito
rápido, portanto, não é necessária uma velocidade tão rápida do obturador para congelar
este movimento. Contudo, o movimento do voo dos pássaros sim é bastante rápido, o que
nos faz concluir que a velocidade do obturador estava mais rápida do que a deles para
congelá-los. Com uma velocidade um pouco mais lenta os pássaros apareceriam borrados e
a mulher permaneceria congelada. Com uma velocidade muito mais lenta, ambos
apareceriam borrados na imagem.

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Francesca Woodman

Nesta fotografia de Francesca Woodman, vemos uma situação oposta à anterior: a artista
que se movimenta aparece como um borrão na imagem, pois a velocidade do obturador
definida pela mesma está mais lenta que o movimento que ela faz. No entanto, seus pés,
que estão quase parados durante o movimento, permanecem parados na imagem. O que
aparece borrado é apenas o que se mexe durante o tempo da fotografia, o tempo definido
do abrir e fechar do obturador.

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Neste caso, a luz capturada pela câmera é a luz dos faróis dos carros, tanto dianteira, no
lado esquerdo, quanto traseira, no lado direito. Os carros em si não aparecem por dois
motivos: eles não possuem luz própria que os faça ser capturados e o movimento deles é
bem mais rápido que a velocidade do obturador definida pelo fotógrafo. Conclui-se,
portanto, que o fotógrafo define uma velocidade muito lenta para capturar a luz que
provém do movimento dos carros, que é compatível com o tempo que estes demoram para
ir do início até o final da cena enquadrada.

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• Este ajuste de tempo do último exemplo pode ser reproduzido em outras diversas
situações como: fogos de artifício, relâmpagos e para criar desenhos feitos de luz, uma
técnica conhecida como “lightpaint”. Neste último caso, é necessário nada mais do que
um ambiente escuro, qualquer tipo de lanterna e uma pessoa que movimente essa
lanterna direcionada para a câmera criando alguma forma qualquer. O fotógrafo define
a velocidade do obturador compatível com o tempo que a pessoa demora para fazer a
forma desejada.

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• Quando trabalhamos com a velocidade do obturador, não apenas o movimento da cena
a ser registrada é relevante, como também o movimento feito pelo fotógrafo. Deve-se
considerar que o fotógrafo não está completamente estático na hora fotografar, o
tremor das mãos e até mesmo a respiração podem afetar na hora de fotografar,
fazendo com que não apenas o assunto em movimento borre, mas também todo o
restante da cena. Sendo assim, é recomendada uma velocidade mínima para ser
utilizada quando o fotógrafo está usando as mãos para capturar a imagem, a velocidade
de 1/60. Abaixo disso é recomendado o uso do tripé ou de qualquer superfície estática
para fazer a foto. A velocidade de 1/60 é apenas uma recomendação, algumas pessoas
conseguem trabalhar com velocidades mais lentas sem deixar “tremer” a imagem, e
outras precisam usar uma velocidade ainda mais rápida para isso.


FOTOMETRIA

Para que seja feito o ajuste de luz, chamado de fotometria, é necessário trabalhar com as três
funções descritas acima (ISO, diafragma e obturador), de acordo com o objetivo da fotografia e
com a luz desejada.

• Se o objetivo é trabalhar com a profundidade de campo, prioriza-se a abertura do
diafragma, definindo um valor de acordo com este objetivo. Nesse caso, o valor da
velocidade do obturador é definido para que seja feito o ajuste da luz. Obs.: cuidado
para não definir velocidades muito lentas na hora de ajustar a luz, lembre-se que ao
fazer isso, fotografando com as mãos, a imagem pode aparecer toda “tremida”.

• Se o objetivo é trabalhar com movimento, prioriza-se a velocidade do obturador,
definindo um valor de acordo com esse objetivo. Nesse caso, o valor da abertura do
diafragma é definido para que seja feito o ajuste da luz.

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Como fazer esse ajuste de luz?

O fotômetro, localizado no interior da câmera, é uma régua que nos ajuda a fazer essa medição
da luz, indicando, antes de fazer a foto, se ela sairá com uma luz adequada, com luz demais ou
mal iluminada.



Como seria isso na prática:

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Lembre-se: nem sempre deixar o ponteiro do fotômetro no 0 será o ideal. Além de existirem
exceções, isso varia de acordo com o gosto de cada um. De toda forma, lembre-se de sempre
observar o fotômetro e se o ponteiro está fora da régua, aí sim quer dizer que a sua foto vai sair
ou muito escura ou muito clara!


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