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DESASTRES NATURAIS: POR QUE OCORREM?

Existem diferentes concepções teórico-metodológicas sobre a interface


urbano-ambiental. Vamos utilizar duas concepções neste material.

Na visão tradicional, a natureza é vista de forma apartada do homem e


mesmo os componentes da natureza são fragmentados em relevo, clima, hidrografia,
vegetação e fauna. Baseia-se principalmente no método positivista de observação,
descrição e classificação dos fenômenos. Esta visão precisa ser superada tanto em
ações educativas, quanto técnicas.

Já na visão sistêmica, considera-que o meio ambiente é um sistema


integrado (biológico, físico, social, econômico, cultural etc.). O homem, mediante sua
ação antrópica, é entendido como mais uma parte deste sistema.

Na visão sistêmica, define-se que tudo que existe no mundo e no planeta


Terra está interligado. Se existe um sistema natural de vertentes (encostas) e há uma
ocupação humana, certamente isto irá alterar os processos naturais existentes.
Assim, tanto os processos naturais são sistémicos, quanto as alterações
promovidas pela vida do homem em sociedade também alteram este sistema. Uma
cidade em si é um grande sistema, onde interagem processos naturais, antrópicos (da
ação humana), transformando a primeira natureza ou o meio natural.

As transformações existentes com o processo de urbanização tornaram as


cidades cada vez mais artificiais que é até complicado definirmos em tais espaços se
ainda há natureza. Um rio que foi retificado, canalizado é natural?

Na visão crítica é fundamental entender o contexto, em que as situações


acontecem. Mas o que é contextualizar? Se eu discuto, por exemplo, um problema
ambiental, em qual contexto ocorre? Quais os agentes envolvidos? Quais os papéis
que cada um dos agentes envolvidos tem? Contextualizar do ponto de vista, social,
econômico, político, ou seja, considerando-se a questão ambiental em suas diversas
dimensões.

Um agente pode ser uma comunidade que joga lixo na encosta, ou uma
prefeitura que não destina o lixo (resíduos sólidos) de forma adequada, ou ainda, uma
indústria que descarta resíduos em um rio da cidade.

Logo, para a visão crítica em relação à questão ambiental preocupa-se


com as transformações do mundo e da natureza mudam a cada momento, então,
cabe-nos compreendê-lo como um processo de produção constante, em cada tempo
social, em diferentes contextos sociais, políticos e espaciais, que redundam em
transformações ambientais. Assim, na visão crítica a questão ambiental ocorre na
relação entre a sociedade e natureza, como mostra a figura a seguir:

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FIGURA 01 – Relação Sociedade Natureza

Quando tratamos de um deslizamento ele pode ser somente um evento


natural, mas torna-se uma questão ambiental, uma área de risco, à medida em que há
pessoas morando e que podem ser atingidas por este processo.

Se um lixão é aterrado de maneira inadequada e uma população vai


morar sobre ele, torna-se um problema ambiental, uma área de risco, na mediação da
relação entre a sociedade e a natureza.

Uma proposta crítica-dialética considera a complexidade do mundo,


buscando evidenciar o papel dos diversos agentes sociais e sua relação com a questão
ambiental nas diversas dimensões (sociais, econômicas, políticas, culturais e naturais).

Exemplifica-se: um rio, em princípio, é natural. Contudo, seu uso é social,


econômico e político. De quem é competência de cuidar dos rios no Brasil? Depende,
se for um rio que corre só em um município pode ser a prefeitura, se for em vários
municípios de um só Estado ele será estadual e se passar por vários Estados será
federal. Por isso, o rio Tietê é estadual (SP) e o rio Paraná (federal). Desse modo, o
uso do rio é político!

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Em outras palavras, a expressão de um fenômeno ou problema ambiental
não pode ser compreendida somente na escala da política nacional, nem tampouco
deve ser analisada como algo inerente apenas à dimensão natural.

O que dizer, por exemplo, da construção de uma hidrelétrica numa


região brasileira? Há mudanças na dimensão natural do território, com a construção
de represas e outros objetos, que alteram a dinâmica dos rios, da hidrologia, da
vegetação e da fauna, que serão modificados em virtude da construção da barragem,
mas também se alteram as relações sociais, as formas espaciais, as moradias etc.

FIGURA 02 - Usina Hidroelétrica Itaipu (Binacional), imagem: Flickr

A interação na relação entre o ser humano com natureza pode levar a um


desequilíbrio, ao que chamamos “impacto ambiental”, podendo ter relação com
ações e atividades econômicas, sociais, políticas e/ou culturais.

Mediante inúmeros problemas ambientais, nas últimas décadas do século


XX, houve vários eventos ambientais que culminam em novas normas e leis
ambientais, o que levou diversos países a tratarem da questão ambiental na gestão e
no planejamento em diversas escalas.

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Os riscos ambientais podem ser causados por fatores físico-químicos,
biológicos e humanos, ou pela interação entre estes aspectos.

FIGURA 03 – Riscos Ambientais

À medida que estes efeitos são adversos e conforme o seu grau, chamamos de
vulnerabilidade socioambiental. É possível intervir, bem como medir o grau de
vulnerabilidade ambiental mediante observação da magnitude dos eventos que
transformam o meio.
FIGURA 04 – Sistema Socioambiental

Por eventos podemos considerar um


momento marcante seja do ponto de vista da
natureza ou socialmente produzido. Por
exemplo, quando um tsunami arrasou parte de
algumas cidades japonesas em 2011, isto foi
um evento produzido naturalmente, mas que
alterou as características do sistema
socioambiental. Há vários aspectos que se
relacionam num sistema socioambiental,
como se verifica na figura 4.

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Os eventos também podem ser produzidos pelos diferentes agentes
sociais: o governo em seus diferentes níveis, as empresas, as comunidades, os donos
de indústrias, entre outros. Como explica Santos (2007, p. 18):

Se conseguirmos observar e medir as relações entre características de


um meio, eventos induzidos. Para entender vulnerabilidade devemos
considerar duas outras questões: a persistência, que é a medida do
quanto um sistema, quando perturbado, se afasta do seu equilíbrio ou
estabilidade sem mudar essencialmente seu estado e a resiliência, ou
seja, a capacidade de um sistema retornar a seu estado de equilíbrio,
após sofrer um distúrbio.

A resiliência é a capacidade do sistema de aguentar a pressão externa, de


suportar mais que outros estes eventos, sejam naturais ou socialmente produzidos.
Por exemplo, certos tipos de rocha são mais resilientes do que outras aos processos
de intemperismo físico, químico e biológico.

Para que se busque a sustentabilidade é fundamental considerar as


dimensões política, cultural, social, econômica e ambiental-natural.

Desse modo, ao agir de modo sustentável a que se considerar todas estas


dimensões. Uma comunidade vivendo à beira do rio em uma área urbana, cujas cheias
levam ao processo de enchente e acarretam perdas materiais e de vida não são
sustentáveis nem do ponto de vista ambiental, nem social, nem econômico.

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Quando tratamos de áreas degradadas é importante lembrar que o meio
ambiente, ou seja, tanto os elementos da natureza quanto as interações entre a
sociedade e a natureza, são sistêmicas.

A medida em que um elemento do meio é alterado isso induz a novas


transformações do todo, do sistema, alterando o grau e as características fisionômicas
da paisagem.

Como explica Santos:

O ambiente em que vivemos é formado de sistemas, que


podem ser descritos como um conjunto de elementos que
mantêm relações entre si. Assim, o solo, a água, a
vegetação, os campos agrícolas são elementos estruturais
do meio que mantém relações entre si por meio de fluxos e
ciclos. As ligações entre os elementos do sistema resultam
em um grau de organização, num certo espaço e num
determinado tempo. Quando interferimos com nossas
atividades em um dado elemento estrutural, nós
desencadeamos alterações por toda cadeia a que esse
elemento pertence e podemos alterar a organização
(SANTOS, 2007, p. 20).

O modo como ocorre uma perturbação ou transformação do meio


pode ser diferente em virtude das condições locais em relação às características físico-
ambientais, socioeconômicas e políticas.

É possível tratar dos sistemas naturais, cujas interações ocorrem


somente com elementos da natureza, bem como ocorrem sistemas que existem
mediante a inter-relação de elementos naturais e produzidos pela ação humana, por
meio de seus diferentes agentes sociais e humanos.

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FIGURA 05 - Sistema Natural

O clima interfere no relevo e no solo, que por sua vez tem relação com a
vegetação e com a fauna, assim como o tipo de rocha tem relação com o tipo de solo
e numa relação constante formam o sistema natural.

Existem diferentes áreas do conhecimento responsáveis por


estudos mais específicos destes aspectos físico-naturais, são elas a saber: a Geologia
(rochas, sedimentos e minerais), a Geomorfologia (relevo), a Pedologia (formação dos
solos), a Climatologia (clima), a Meteorologia (o tempo), a Biogeografia (vegetação e
fauna), a Hidrografia (rios e bacias hidrográficas).

A seguir, vamos tratar de alguns destes elementos naturais, dando


destaque ao solo e relevo e suas relações com as ações sociais e humanas.

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O que é solo? Observe a foto a seguir:

FIGURA 05 – Perfil de Solo

Imagem: Vivian FiorI, 2017

Como se observa há um perfil de solo, com sedimento abaixo


consolidado, transformando-se em solo. Esta parte com tons roxos ou arroxeados
está se transformando em solo. A parte do perfil acima, de tonalidade marrom é um
dos horizontes do solo.

Existem algumas diferentes definições sobre o que seria solo. Para alguns
é qualquer parte da superfície terrestre, para outros tudo o que se encontra logo
acima da rocha, para outros ainda trata-se da matéria-prima para construção de
aterros, barragens, estradas e diferentes obras.

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Lepsch conceitua SOLO como:

[...] uma coleção de corpos naturais dinâmicos, que


contém matéria viva, e é resultante da ação do clima e
da biosfera sobre a rocha, cuja transformação em solo
se realiza durante certo tempo e é influenciada pelo
tipo de relevo (2002, p. 9).

A alteração das rochas por meio do intemperismo físico-químico e


principalmente biológico altera a composição das rochas transformando-a em solo.
Portanto, o solo tem como origem uma antiga rocha ou sedimento, consolidado ou
não, que devido à ação do tempo, do clima e de fatores biológicos transforma-o em
solo.

FIGURA 06 - Esquema de Formação do Solo

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Para um solo se formar, portanto, dependerá do clima, do tipo de rocha,
da ação biológica (minhocas, formigas, fungos etc.), declividade da região, entre
outros fatores que são responsáveis pelas características do solo.

Fique Atento: Intemperismo

O Intemperismo é o processo físico-químico e biológico,


que por meio da ação do tempo altera rochas, sedimentos e
solos. Se a ação física for maior é mais comum que a rocha fique
fragmentada, desagregue-se. Se o intemperismo químico e
biológico for mais intenso é mais comum que a rocha se
decomponha. Mas estas condições dependerão também do tipo de
rocha. Portanto, as ações da chuva, das ondas do mar, do vento,
das mudanças de temperatura, da ação biológica levam ao
processo de intemperismo.

Logo, estamos considerando que o solo é a parte da superfície terrestre


que foi transformada, decomposta, que possui matéria orgânica e minerais.
Esta definição não é única, mas parte do princípio que sedimentos como areia, argila,
por exemplo, não são solos e compõem o que chamamos de subsolo.

Os solos e os sedimentos e rochas servem de suporte para construções,


aterros, obras de terraplanagem, cortes e recortes para a construção de imóveis, obras
de engenharia, entre outros.

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A degradação de solos e sedimentos ocorre em um processo e pode
variar conforme as condições físico-ambientais e de ocupação humana.

Pode iniciar-se, por exemplo,


com a degradação da vegetação,
por meio de processos de
poluição do solo ou do ar que
comprometem a vegetação, ou
ainda, mediante desmatamentos
ou queimadas, que levam à
exposição do solo, facilitando o
processo erosivo do solo.

Imagem: Banco de Imagens


O solo deste modo perde nutrientes e húmus, amplia a
redução das raízes e da cobertura vegetal, ocorre a perda dos horizontes (camadas)
do solo, ampliando a degradação do solo e da vegetação.

Em alguns casos, este processo leva a perda de todo o solo que fica
exposto às intempéries – com ação do vento e chuvas, trazendo à tona a rocha matriz
ou o sedimento que fica abaixo do solo.

As queimadas são outro tipo de problema que leva à degradação do


solo e da vegetação, como afirma Lepsch (2002, p. 160-161):

[...] as queimadas são consideradas por muitos a forma rápida e econômica de


limpar um terreno, de combater certas moléstias ou pragas das culturas, de
facilitar a colheita (caso da cana-de-açúcar) ou de renovar pastagens. [...] No
entanto, se a queimada for efetuada com muita frequência, deixa o solo
desnudo, o que aumenta a erosão, volatiza elementos úteis à nutrição das
plantas bem como contribui para a poluição atmosférica.

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Segundo a EMBRAPA, bem como o Instituto Nacional de Pesquisa
Espaciais (INPE) que fazem monitoramento de queimadas no Brasil, as queimadas
ocorrem principalmente na Amazônia e cerrado, sendo que as atividades agrícolas são
responsáveis pela maioria dos processos.

Estes processos de queimada são


responsáveis pela perda da flora e
fauna, e elimiman nutrientes que são
essenciais às plantas, caso do
potássio, fósforo, magnésio,
nitrogênio, entre outros.

Além disso, reduzem a unidade do


solo, que é fundamental para a
existência da vida existente no solo.
Compromete, ainda, as linhas de
transmissão, a visibilidade nas vias, o
tráfego aéreo, e pode levar a perdas
Queimada no Cerrado. Imagem: Portal Amazônia
de vidas.

Em relação aos processos erosivos, estes podem ser naturais ou


socialmente produzidos. A água, o vento, por exemplo, são agentes de processos
naturais capazes de causar os processos erosivos.

Weil; Pires Neto (2007, p. 40) explica o conceito de EROSÃO:

EROSÃO, do latim erodere, é o processo pelo qual há remoção de


uma massa de solo de um local e sua deposição em outros locais,
como resultado da ação de forças exógenas. A força motriz do
processo é a energia cinética dos agentes erosivos. Com a
diminuição progressiva da energia cinética do agente erosivo, dá-se
a deposição do material erodido. A água e os ventos são os
principais agentes da erosão do solo, sendo a erosão hídrica a
erosão ocasionada pela água de chuva ou de enxurrada, e a erosão
eólica a erosão causada pelos ventos.

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Os principais fatores climáticos que afetam os processos erosivos
são: a quantidade, distribuição e intensidade das chuvas; a intensidade e direção dos
ventos, bem como as mudanças de temperaturas. A declividade também é um fator
natural que interfere nos processos erosivos, já que quanto maior a declividade maior
a possibilidade de haver movimentos de massa do tipo deslizamento.

Os movimentos de massas são


rupturas de solo ou de bloco de
rocha que incluem os
escorregamentos, as ocorridas de
detritos/lama e as quedas de
blocos de rocha. Nas áreas
urbanas estes eventos também
podem ser induzidos pela ação do
homem, com construções de casas
em lugares impróprios, tornando
o local uma “área de risco”.

Para classificarmos o tipo de movimento de massa é necessário levar


em conta o material dominante (tipo de solo e/ou rocha), conteúdo de fluido e
velocidade de movimento. Assim, os principais fatores influentes para que ocorra um
movimento de massa são: a natureza dos materiais, a declividade e estabilidade da
encosta, assim como as caraterísticas e intensidade da água sobre a encosta.

Há condicionantes naturais que podem influir na existência de uma área


de risco, já que as encostas (vertentes) muito íngremes podem ocasionar movimentos
de massa, com rupturas do solo ou de rocha mediante escorregamentos, corridas de
detritos ou de lama, bem como as quedas de blocos de rocha.

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FIGURA 07 - Deslizamento em Encosta- Mairiporã-SP

Imagem: Vivian FiorI, 2017

Tais eventos naturais podem ocorrer também pela construção de obras


em lugares íngremes. Assim, um deslizamento pode ser um processo natural, mas
também induzido pela ocupação humana, conforme se observa na figura 8, onde a
encosta é muito inclinada, sendo assim mais sujeita a ocorrer o movimento de massa.

FIGURA 08 - Ocupação em Encosta Íngreme

Imagem: Vivian FiorI, 2010

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Para que ocorram deslizamentos, que é um tipo de movimento de massa,
são necessárias algumas condições mais comuns e integradas, entre elas destacamos:
vertentes íngremes, chuvas contínuas (por vários dias), construções inadequadas que
dificultem o processo de drenagem natural da água etc.

FIGURA 09 - Construção de Muro de Arrimo – São Paulo

Imagem: Vivian FiorI, 2012

Se observamos a figura 9, verifica-se um movimento de terra na base


das casas, o que aumenta a possibilidade de novos deslizamentos, por isso está sendo
construído o murro de arrimo, trata-se de uma intervenção ambiental.

É possível observar algumas evidências no terreno de movimentos de


massa, entre elas: paredes e pisos das casas trincados; trinca no solo; blocos ou partes
de rochas soltos ou instáveis; árvores e postes e elementos da própria casa que estejam
inclinados; água minando da encosta, entre outras situações que ajudam a indicar o
grau do risco.

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Uma situação comum em bairros periféricos populares que se encontram
em vertentes mais íngremes é a existência de bananeiras. As bananeiras, devido às
raízes armazenarem muita água, ampliam os riscos de deslizamento, assim como as
casas situadas exatamente por onde ocorre a drenagem, possibilitando maior acúmulo
de água e de possibilidade de deslizamento. Existem alguns fatores que propiciam a
maior ocorrência de deslizamentos, entre eles destacamos:

• Inclinação do terreno, quanto maior for o declive amplia-se a possibilidade


do deslizamento;
• Intensidade e duração de chuva, quanto mais dias houver de chuva as
chances são maiores;
• Quantidade de água que infiltra no solo;
• Tipo e textura do solo, já que os solos com textura mais argilosa são mais
propensos a reter água;
• Cortes e aterros para construção de moradias;
• Lançamento de esgotos na encosta;
• Lixo e entulho lançados na encosta;
• Ruas sem calçamento e sistema de drenagem;
• Desmatamento do terreno.

Desse modo, o grau de inclinação do solo amplia a possibilidade de


erosão e de movimentos de massa, como explicam Corvalán;Garcia (2011, p. 273):

Pelo fato da declividade ter relação direta no processo erosivo de


perda de solo por erosão, já que, quanto maior o gradiente do
declive, maior a intensidade de escoamento das águas sob efeito
da gravidade, sendo por tanto, menor o tempo disponível para a
infiltração no solo. Nesse contexto, a declividade é essencial para
uma avaliação de risco à erosão. Estabelece-se então que quanto
maior for a declividade, maior será a influência no processo
erosivo, e pelo tanto, maior a vulnerabilidade.

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Existe também relação entre o clima, cobertura vegetal e proteção do
solo. Em regiões mais quentes e com alta pluviosidade a cobertura vegetal natural
tende a ser maior e mais densa, o que ajuda a minimizar os efeitos da chuva. A medida
em que existem clarões na mata ocorrem o efeito “splash”, com as gotas de água
batendo sobre o solo e provocando a erosão.
Em áreas de clima semiárido a cobertura vegetal em geral é menor e quando
ocorre a precipitação, embora mais escassa, se for concentrada em pouco tempo,
poderá causar danos aos solos e o processo erosivo pode ser maior.
Entretanto, sempre é bom lembrar que a intensidade da chuva é o mais
importante, assim como o tipo de cobertura vegetal. As copas de árvores e arbustos
evitam ou minimizam o efeito “splash” sobre o solo, bem como a cobertura morta,
folhas secas, raízes e matéria orgânica ajuda a tornar o solo mais poroso, melhorando
as condições de absorção da água e de conservação do solo.

FIGURA 10 - Fatores que Influenciam nos Processos Erosivos

Dessa maneira, tais fatores são integrados e sistêmicos, mas no Brasil a


intensidade de chuvas e sua frequência com mais de três dias seguidos ampliam a
possibilidade de movimento de massa do tipo deslizamento.

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Do mesmo modo, como se verifica no quadro a seguir, certos tipos de
cobertura vegetal, bem como conforme o tipo de atividade realizada sobre ele,
tornam os solos menos vulneráveis aos processos erosivos.

Quadro 1: Grau de Vulnerabilidade do Solo


Conforme Tipo de Cobertura
Cobertura Vegetal Grau Vulnerabilidade Proteção do Solo à Chuva

Solo exposto 10

Mineração 9 Muito alta Muito Baixa ou Nula

Cultura Anual 8

Cultura Perene 8 Alta Baixa

Cana-de-Açúcar 7

Pastagem 5 Média Média

Cerrado 4

Reflorestamento 3 Baixa Alta

Mata 2 Muito Baixa Muito Alta

Fonte: Corvalan, 2011. Adaptado, 2018.

No caso da mineração no qual a atividade deixa o solo exposto, a


vulnerabilidade é muito alta e a proteção do solo à chuva muito baixa ou nula. As
atividades agrícolas de culturas anuais, ou seja, que precisam ser replantadas, tem
proteção à chuva baixa, exatamente por conta da exposição no período do replantio
ou de descanso da terra. Neste caso, é interessante usar palhas ou algum tipo de
cobertura em parte do solo para evitar erosão.
Já as áreas de mata ou florestas a tendência é que a vulnerabilidade aos
processos erosivos seja muito baixa e a proteção à chuva seja muito alta.

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Isto ocorre porque a maior densidade de vegetação e as copas das árvores
reduzam o impacto das gotas de chuva no solo.
Como comentam os pesquisadores (WEILL; PIRES NETO, 2007, p. 44):

Os principais fatores condicionantes da aceleração do processo


erosivo em áreas agrícolas incluem a retirada da vegetação
natural para implantação dos agrossistemas e outros usos, o
manejo impróprio de solos produtivos, a exploração inadequada
de terras marginais, a pressão de ocupação das terras por usos
competitivos, o uso intensivo das terras com elevado potencial
natural de erosão e, sobretudo, a falta do planejamento da
ocupação.

Assim, sempre é importante aliar os processos erosivos aos tipos de uso


do solo, às atividades econômicas ou sociais existentes e não somente às condições
naturais.
As características de textura do solo também podem induzir aos
tipos de erosão mais comuns, a saber:
1. Erosão laminar: é do tipo mais lenta, que ocorre em áreas de baixo declive,
e por vezes, tornar-se imperceptível a pequeno prazo, mas com o tempo há
perda de solo significativa;
2. Erosão em sulcos, forma pequenas ravinas ou sulcos, que induzem a
drenagem para aquele ponto, aumentando cada vez mais a erosão;
3. Voçorocas, são a forma mais profundas de erosão, levando à formação de
crateras imensas.

Os solos de textura mais arenosa do que argilosa, devido a terem mais


macroporos (grandes poros) facilitam mais a infiltração da água, o que em princípio
evita o escoamento superficial, aumentando a possibilidade de erosão mesmo com
pequenas chuvas.

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Na erosão em sulcos, como explicam Weill e Pires Neto (2007, p. 46):

A erosão em sulcos é o processo de destacamento e transporte de solo


devido à ação da enxurrada ou do escoamento superficial concentrado
(runoff). Geralmente, a maior parte da erosão que é visível no campo, é
devida à erosão em sulcos. A erosão entressulcos é praticamente
imperceptível no campo. A erosão em sulcos aumenta com o aumento do
volume da enxurrada. O volume da enxurrada é uma função, não apenas
da intensidade da precipitação, mas da posição na paisagem, do tipo de
solo, da cobertura vegetal e do comprimento e inclinação da encosta.
Onde o terreno apresenta encostas curtas, a maior parte da erosão se
relaciona com a erosão entressulcos. À medida que as encostas se
alongam, o processo de erosão em sulcos passa a ser dominante.

Portanto, há diversos tipos de erosão, ocasionados tanto por processos


naturais quanto humanos.

É BOM SABER: Formação das Voçorocas


Sulcos, ravinas e voçorocas - isto é formação de grandes buracos
de erosão causados pela chuva e intempéries, em solos onde a
vegetação é escassa e não mais protege o solo, que fica cascalhento e
suscetível de carregamento por enxurradas - estão presentes em
praticamente todo o Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil e geralmente
estão associados ao uso do solo, ao substrato geológico, ao tipo de
solo, às características climáticas, hidrológicas e ao relevo. O
desenvolvimento das ravinas e voçorocas descrito na literatura
brasileira é geralmente atribuído a mudanças ambientais induzidas pelas
atividades humanas.
A grande maioria de trabalhos na literatura sobre as ravinas e voçorocas
mostra que sua ocorrência está associada a formações sedimentares
arenosas, mas há também exemplos de voçorocas em solos
provenientes de rochas cristalinas. Segundo alguns trabalhos, a geologia
das regiões do embasamento cristalino, com suas abruptas variações
laterais, influi intensamente na propagação do voçorocamento.
Contatos geológicos, diques ou até mesmo bandas internas à rocha de
composição diferente são suficientes para acelerar, impedir ou desviar a
propagação de uma voçoroca.

Fonte: Texto literal extraído de EMBRAPA, Disponível em: 22


http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/agricultura_e_meio_ambiente/ar
vore/CONTAG01_58_210200792814.html.
Importante ressaltar que não somente os
solos mais arenosos, quanto os
sedimentos ou rochas sedimentares
areníticas são mais sucessíveis aos
processos erosivos do tipo voçorocas.
Há casos de voçorocas com mais de
trinta metros e quilômetros de
comprimento.
Imagem: portalclubedeengenharia.org.br

Por outro lado, os solos de textura mais argilosas, com características de


solos popularmente chamados de “barrentos”, retêm mais água. Tal condição dos
solos, em episódios de chuvas por vários dias seguidos e em áreas de relevo
íngremes induzem os processos de deslizamentos.

Cabe lembrar que a amplitude e inclinação das encostas ou vertentes


interferem nestes processos erosivos. Uma colina, por exemplo, tem declives menos
acentuados do que os morrotes e as montanhas.

Assim, o manejo sem planejamento e inadequado do solo e subsolo por meio


das atividades socioeconômicas pode ampliar o número de eventos e desastres com
o solo, sedimentos e rochas.

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CORVALÁN, Susana Belém; GARCIA, Gilberto José. Avaliação ambiental da APA
Corumbataí segundo critérios de erodibilidade do solo e cobertura vegetal. São Paulo,
UNESP, Geociências, v. 30, n. 2, p. 269-283, 2011.
GARCIA, Kátia Cristina. Avaliação de impactos ambientais. Curitiba: Intersaberes,
2014 (e-book).

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SANCHEZ, Luís Enrique. Avaliação de Impacto Ambiental. São Paulo: Oficina de
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http://www.cetesb.sp.gov.br/2015/03/09/cetesb-prepara-especialistas-para-o-
cumprimento-da-convencao-de-minamata/

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