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MEIO AMBIENTE E

SUSTENTABILIDADE
AULA 4

Prof.ª Mariana Andreotti Dias


CONVERSA INICIAL

Nesta aula, conversaremos sobre riscos e vulnerabilidades


socioambientais, abordando as alterações nas paisagens por conta de
fenômenos naturais e antrópicos que nos levam ao risco e à vulnerabilidade. O
objetivo geral é incitar a discussão acerca dos impactos socioambientais
urbanos, expondo suas variáveis.
Especificamente, discutiremos sobre:

• os conceitos e diferenças entre riscos e vulnerabilidades socioambientais,


exemplificando áreas degradadas, poluição do ar e água, rejeitos etc.;
• o SAU – Sistema Ambiental Urbano;
• as medidas que podem ser tomadas para alcançar a consciência popular
sobre a temática ambiental, a política e as condições de vida;
• a "sociedade de risco" que denuncia a capacidade limitada do meio
ambiente atrelada a uma sustentabilidade que não opera em conjunto
com os riscos e vulnerabilidades;
• o discurso acerca da capacidade de resiliência de ambientes impactados.

TEMA 1 – IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS

As paisagens são alteradas constantemente pelas atividades humanas ou


pelos fenômenos de ordem natural. Contudo, a dimensão dessas alterações é o
que desencadeia processos de ordem mais intensa ou não, o que leva aos
impactos socioambientais.
A definição de impacto ambiental é dada pelo Conselho Nacional do
Meio Ambiente, o Conama, que é o órgão consultivo e deliberativo do Sistema
Nacional do Meio Ambiente (Sisnama):

Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas, biológicas do


meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia
resultante das atividades humanas que afetem diretamente ou
indiretamente: a saúde, a segurança e o bem estar da população; as
atividades socioeconômicas; o meio biótico e abiótico; as condições
estéticas e sanitárias ambientais e a qualidade dos recursos
ambientais. (Brasil, 1986)

O Conama é responsável por estabelecer normas e critérios regulatórios,


determinar, incentivar, avaliar políticas que visem a manutenção e preservação
do meio ambiente, e avaliar os impactos ambientais e sociais.

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Conforme já estudamos, o meio ambiente é composto pela natureza, meio
natural e seres humanos, atuando diretamente na produção do espaço
geográfico. Assim, os impactos são chamados de socioambientais, e não
somente ambientais.
Dentro da estrutura dos impactos socioambientais, temos outras
definições que ajudam a compreender a dimensão dos efeitos que alteram a
natureza:

• Dano ambiental: lesão aos recursos ambientais com consequente


degradação, que é a alteração adversa ou o prejuízo para o equilíbrio
ecológico e da qualidade de vida (Milaré, 2001, p. 427-428, citado por
Instituto Ambiental do Paraná, s.d.).
• Alteração ambiental: alteração significativa no meio ou em algum de
seus componentes por determinada ação ou atividade, em qualquer um
ou mais de seus componentes naturais, provocada pela ação humana
(Instituto Ambiental do Paraná, s.d).

Os ambientes degradados passaram a constituir motivo de preocupação


de forma mais explícita há algumas décadas, quando a queda na qualidade de
vida no meio urbano tornou-se mais evidente, fato que decorreu na crise
ambiental urbana (Mercer, 2016, citado por Mendonça; Dias, 2019, p. 124). Além
dos aspectos políticos e a violência nas cidades e no campo, que também fazem
parte da crise ambiental urbana, os cenários de degradação da natureza não são
especificidades dos séculos XX e/ou XXI. Trata-se de problemáticas marcantes
de todos os momentos históricos (Figura 1 e Figura 2), em que as sociedades
humanas exploraram a natureza para além de suas condições de
autorregeneração (Mendonça; Dias, 2019, p. 126).

Figura 1 – Praia de Madras (Índia) na manhã seguinte ao ciclone, 1862

Crédito: Royal Geographical Society/Guetty Images.


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Figura 2 – Queimadas na Floresta Amazônica, Acre: 2003 (esquerda) e 2017
(direita)

Crédito: Brazil Photos/Guetty Images.

Tais figuras confirmam a existência de impactos em diversos momentos


de nossa história, atrelados, sobretudo, a atividades econômicas. Os fluxos
migratórios também evidenciam as alterações, pois acompanham as atividades
produtivas no campo, nas indústrias e nas cidades.

TEMA 2 – RISCOS E VULNERABILIDADES SOCIOAMBIENTAIS

As cidades evidenciam, cada vez mais, ambientes degradados e


problemas graves de fundo social (violência, altos índices de criminalidade e
homicídios, pobreza, desemprego) e físico-natural (poluição hídrica, poluição do
ar, poluição dos solos, perda ou degradação da vegetação, etc.). Assim, as
cidades demandam auxílios psicossociais que devem ser disponibilizados por
gestores dispostos à sua resolução (Mendonça; Dias, 2019, p. 126).
Resgatando alguns processos em nossa história, encontramos a indústria
como integrante fundamental ao processo da modernidade e da consequente
urbanização. A indústria se desenvolveu às custas da precarização social e
máxima exploração dos recursos naturais, a partir do final do século XVIII. A
Europa central, por exemplo, foi palco de péssimas condições de vida dos

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proletários e operários, bem como intensa degradação das áreas de exploração
de carvão mineral, que proporcionou as bases para o desenvolvimento do
capitalismo no Estado moderno (Mendonça; Dias, 2019, p. 127).
As produções desenvolvidas nos campos tomaram outra forma. Não se
plantava mais para a subsistência, mas para sustentar a produção industrial que
carecia de matérias-primas. Áreas de florestas foram desmatadas para abrir
espaço à produção intensiva e de alta tecnologia de maquinários. Esse processo
também levou os trabalhadores do campo ao desemprego, sendo forçados a
migrar para as cidades.
As áreas urbanas ocupadas foram crescendo sem planejamento e de
forma espontânea. Encostas de rios, áreas de montanhas, áreas de proteção
ambiental, entre outras, foram ocupadas, dando início aos primeiros
aglomerados subnormais (Figura 3), comumente chamados de favela.

Figura 3 – Aglomerados subnormais “favela” no Rio de Janeiro – (1) Rio de


Janeiro, 1955; (2) Rio de Janeiro, 2011

Crédito: Three Lions/Guetty Images; Buda Mendes/LatinContent/Getty Images.

Mas o que essas ocupações irregulares têm a ver com os impactos


ambientais? “Nem todos sofrem os impactos da degradação do ambiente da
mesma forma” (Mendonça; Dias, 2019, p. 127). Os impactos, quando
acontecem, atingem sumariamente essas pessoas que estão localizadas em
áreas de risco e, assim, estão vulneráveis aos problemas/impactos.
Torna-se imperativo, então, averiguar as vulnerabilidades e situações de
riscos a que as populações estão submetidas. Parece haver um consenso de
que quanto menor qualidade de vida, maior exposição ao risco uma sociedade
terá (Mendonça; Dias, 2019, p. 127).
Mendonça e Dias (2019, p. 128) interrogam: qual a diferença entre os riscos
e as vulnerabilidades?

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De antemão, um exemplo facilita a compreensão e atenta para as
diferenças e semelhanças, já que os dois conceitos se complementam.
Um indivíduo que reside em uma área de relevo plano com sua casa
bem próxima a um determinado rio em área tropical é,
corriqueiramente, vitimado por alagamentos e/ou inundações. Ele é
vulnerável às enchentes, alagamentos, doenças, perdas material e
humana, ou seja, está situado em um ambiente vulnerável. A
vulnerabilidade é promovida por uma diversidade de fatores (sociais,
econômicos, políticos, culturais, educacionais etc.) associados às
condições de vida de uma dada população e não haveria problema
para este individuo se ele não morasse nesse local e se, ao mesmo
tempo, as chuvas não provocassem as inundações e alagamentos da
área. É esta condição, de origem natural, que nos permite identificar a
formação dos riscos naturais ao caso, ou seja, as inundações
(associação entre chuvas concentradas e relevo plano), por exemplo,
constituem um risco natural que afeta a vida das pessoas e a economia
de uma data localidade. (Mendonça; Dias, 2019, p. 128-129)

Os riscos têm caráter espacial e temporal, pois acontecem nas dimensões


espaciais, em determinados lugares, e são marcados pelo tempo. Sobre essas
adversidades, Mendonça e Dias (2019, p.130) expõem que

O cenário de riscos naturais é extremamente paradoxal na


atualidade, pois, exatamente no momento de maior desenvolvimento
científico e tecnológico da humanidade, é quando se registram os mais
graves e intensos impactos dos fenômenos naturais sobre parcelas da
sociedade. Em determinadas situações a potencialidade dos riscos
coloca a todos em condição de fragilidade, mas o que se observa é que
ela se revela bastante diferenciada quando da efetivação do perigo
posto que a chamada “bomba atômica dos pobres” tem exacerbado os
impactos sobre eles.

Diante disso, precisamos definir os tipos de riscos, que são organizados


em três dimensões, segundo Mendonça (2010, citado por Mendonça; Dias,
2019, p.131-132):

• Riscos naturais: têm origem na própria dinâmica da natureza, como


terremotos, inundações, furacões, incêndios florestais etc. Sua gênese
está fortemente atrelada à própria natureza dos lugares, mas também
podem ser intensificados pelo homem.
• Riscos tecnológicos: derivam do avanço técnico-tecnológico auferido
pela sociedade no período pós-Revolução Industrial, e agravados no
momento atual. Estão, em geral, associados ao processo produtivo no
âmbito da urbanização-industrialização, como armazenamento, produção
e transporte de produtos perigosos, redes de transmissão elétrica, usinas
nucleares, uso de equipamentos eletroeletrônicos, uso de produtos
químicos na agricultura, transporte de pessoas etc.
• Riscos sociais: têm origem no processo de segregação da sociedade,
especialmente quando se trata da diferenciação de classes e da questão
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racial, à medida que parte importante da sociedade encontra-se alijada
dos resultados benéficos da produção capitalista moderna. Essa exclusão
verifica-se principalmente nas periferias sociológicas, geralmente também
geográficas, dos grandes centros urbanos de países como o Brasil, em
razão do empobrecimento da população associado à especulação
imobiliária.

Já o conceito de vulnerabilidade foi pautado junto ao movimento dos


direitos humanos, na década de 1980, e “envolve um conjunto de fatores que
pode diminuir ou aumentar o(s) risco(s) no qual o ser humano, individualmente
ou em grupo, está exposto nas diversas situações da sua vida” (Esteves, 2011,
p. 69 citado por Mendonça; Dias, 2019, p. 133).
As cidades, ou as áreas mais urbanizadas, evidenciam esses riscos e
vulnerabilidades e determinam a intensidade com que ocorrem, pelo grau
elevado de alterações ao qual as paisagens estão sujeitas. Assim, veremos
como alguns pesquisadores e cientistas consideram esse cenário.

TEMA 3 – A SOCIEDADE DE RISCO

A natureza que já foi modificada pela ação humana é, segundo Mendonça


(2010), uma natureza diferente da primeira, é uma segunda natureza.
O caráter adquirido para essa segunda natureza é o risco, e Ulrich Beck
conceitua em 1986 a sociedade de risco, termo usado para descrever a
maneira como a sociedade moderna se organiza em resposta ao risco. Sobre
isso, Mendonça e Dias (2019, p. 136-137) pontuam que:

Beck concebe o mundo dos anos 1980 através da globalização


despontada no início da terceira revolução industrial impregnado por
uma ampla tecnificação de espaços e processos. A tecnologia, assim,
insere riscos às sociedades e ao meio ambiente. Para ele uma
sociedade detentora de mais técnica possui mais probabilidade a
riscos; por exemplo, uma população que constantemente usa o
transporte aéreo está sujeita a um risco eminente de queda.

A sociedade do risco é a modernidade, e, portanto, ela é imprevisível em


meio aos fluxos e redes que possui, processos desencadeados, sobretudo, pela
globalização. Considera-se também que os riscos são mais intensos em países
não desenvolvidos, ou subdesenvolvidos, pois são precárias as condições para
a saúde. Isso se deve normalmente à ausência de saneamento básico (Figura
4), atrelada aos riscos naturais, e às tecnologias que não possuem o suporte,

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a segurança e as diretrizes que deveriam, somando um ponto a mais para o risco
tornar-se eminente. Todas essas vulnerabilidades assolam as populações.

Figura 4 – Ausência de saneamento básico em grande parte do país

Crédito: Brazil Photos/Getty Images.

O sistema econômico que possuímos em nossa sociedade, o capitalista,


é excludente, e isso também faz parte da sociedade de risco. Conforme Santos
(1993, p. 10, citado por Mendonça; Dias, 2019, p. 140):

Ao longo do século, mas, sobretudo nos períodos mais recentes, o


processo brasileiro de urbanização revela uma crescente associação
com a pobreza, cujo lócus passa a ser, cada vez mais, a cidade,
sobretudo a grande cidade. O campo brasileiro moderno repele os
pobres, e os trabalhadores da agricultura capitalizada vivem cada vez
mais nos espaços urbanos.

O processo de desenvolvimento desigual e injusto gerou espaços e


cidades totalmente distintos no mundo, pois dinâmicas e processos seguiram
períodos históricos de ocupação, lógica de planejamento e ordenamento e
avanços tecnológicos bastante diferenciados. Dessa forma, considerando-se
que a lógica da urbanização resulta também da busca de suas ofertas, a
discussão e os esforços devem ser em prol de iniciativas e alternativas que
revertam e/ou limitem o processo de degradação do ambiente urbano. Constitui-
se, pois, em um ambiente complexo, cheio de problemas socioambientais
urbanos que colocam em xeque as capacidades da ciência, da técnica, da
tecnologia e da política na perspectiva de encontrar soluções teóricas e práticas
(Mendonça; Dias, 2019, p. 141).

TEMA 4 – SISTEMA AMBIENTAL URBANO (SAU)

O espaço urbano das cidades e das grandes aglomerações pode ser


considerado o palco para as principais e mais impactantes atividades que a
natureza pode sofrer. Assim, a degradação ambiental urbana foi estudada por
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autores importantes no Brasil, entre eles o professor e geógrafo Carlos Augusto
Figueiredo Monteiro, que analisou esses impactos sob a ótica da climatologia
geográfica. Seus estudos pontuaram a alarmante problemática das ilhas de
calor, a ocorrência de inundações e a consequente poluição atmosférica. Assim,
o professor estabeleceu o conceito de Sistema Clima Urbano (SCU), composto
pela Teoria Geral dos Sistemas, que já estudamos anteriormente.
Seu propósito, segundo Mendonça e Dias (2019, p. 142) era “auxiliar na
promoção da melhor gestão socioambiental da cidade dentro da lógica
sistêmica, para tanto tratou do ambiente urbano através da interação entre
elementos e fatores que compõem a atmosfera urbana e a cidade”.
A teoria foi esquematizada conforme a Figura 5 a seguir:

Figura 5 – Sistema Clima Urbano

Fonte: Mendonça; Dias, 2019, p. 142.

O esquema é composto por inputs (entradas) e outputs (saídas) que


possuem um ciclo constante e podem ser avaliados por meio de aplicações,
demonstrando a oportunidade de gestão e planejamento. Sistematizando uma
metodologia prática e simples de compreender, Monteiro formou as bases para
a compreensão e gestão dos problemas do clima urbano, um dos elementos
fundamentais do estudo do ambiente da cidade.
Com sua proposta um tanto inovadora para o momento histórico no qual
foi construída, entende-se que há um considerável avanço na perspectiva de
analisar, de forma integrada, a sociedade e a natureza, sobretudo porque os
problemas socioambientais urbanos têm uma característica de transversalidade
disciplinar (Mendonça; Dias, 2019, p. 143). Já Mendonça (2003) estuda o SCU
de Monteiro e propõe uma nova abordagem (Figura 6):

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Figura 6 – Ambiente urbano

Fonte: Mendonça; Dias, 2019, p. 143.

“O conceito de ambiente urbano reside na ideia de um ambiente artificial


que, mesmo possuindo elementos oriundos da natureza, é transformado pelo ser
humano conforme suas necessidades” (Freire, 2010 citado por Mendonça; Dias,
2019, p. 143). Mendonça esquematiza o ambiente urbano separando a
dimensão da qualidade de vida (elementos de ordem física-natural) das
condições de vida (elementos de ordem humana-social) da cidade.
Contudo, o Pnud/Unops (Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento/Oficina de Serviços para Projetos das Nações Unidas) propõe
que o ambiente urbano é maior que o proposto por Mendonça em 2004, sendo
formado por três subsistemas: o natural, o construído e o social. Assim, o
esquema se modifica (Figura 7):

Figura 7 – Dinâmica da problemática ambiental urbana

Fonte: Pnud/Unops, 1997, p. 65, citado por Mendonça; Dias, 2019, p. 144.

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As discussões, então, se voltam às mudanças climáticas e aos prejuízos
causados pela poluição atmosférica. Diante disso, os estudos de Monteiro (1976,
2003) e Mendonça (1993, 2003, 2015) acerca do clima e as problemáticas a ele
associadas situam-se como marcos para os estudos do ambiente urbano.
O estudo do clima e do ambiente urbano como um todo se constitui em
abordagens transversais e inter/multidisciplinares dos problemas urbanos,
envolvendo a ciência, a política e os citadinos. Com isso, ambas as
metodologias, de Monteiro (1976 – SCU) e do Pnud/Unops (1997 – Sistema
Ecológico Urbano) deram base para que Mendonça criasse a proposta do SAU
– Sistema Ambiental Urbano (Figura 8). Nessa proposta, os problemas atinentes
ao ambiente urbano são concebidos como resultantes da interação entre a
natureza e a sociedade na cidade (Mendonça; Dias, 2019, p. 147).

Figura 6 – Sistema Ambiental Urbano (SAU)

Fonte: Mendonça, 2003, p. 201.

O SAU é um sistema aberto e característico de um enlace de relações


que a sociedade estabelece com a natureza local (sítio urbano), sendo
dinamizadas pelos atributos urbanos que geram, sobretudo nos países não
desenvolvidos. Compreender os problemas socioambientais urbanos e suas
relações é de fundamental importância para se elaborar planos de correção dos
problemas e garantir qualidade de vida urbana para os habitantes da cidade
(Mendonça; Dias, 2019, p. 147).

TEMA 5 – A CONSCIÊNCIA POPULAR PARA A MUDANÇA COM


SUSTENTABILIDADE E RESILIÊNCIA

Neste momento, evidenciaremos a necessidade da chamada para a


consciência popular como forma única para a mudança e cessão dos impactos
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e riscos socioambientais. Os impactos à natureza e o efetivo comprometimento
dos ecossistemas são claramente mais evidentes em locais onde o ser humano
e suas sociedades estão degradados. Nesses lugares também se verifica a
perda de uma vida digna e a exploração dos seres humanos pelos próprios seres
humanos. Para a efetiva recuperação das áreas degradadas, há que primeiro, e
conjuntamente, se recuperar a qualidade de vida humana e o respeito a todos
que habitam esses locais (Mendonça; Dias, 2019, p. 150).
Dessa maneira, pode-se afirmar que a degradação ambiental é uma
consequência direta do sistema de concentração da renda que impera no mundo
atual. As classes altas da sociedade apropriam-se da natureza, a transformam
e, com isso, degradam de maneira profunda os recursos naturais e os lugares
de sua exploração e reprodução da riqueza, mas afastam de sua proximidade
os resíduos daí derivados. Por outro lado, as classes menos abastadas convivem
com resíduos, evidenciando uma falsa imagem que associa a pobreza à
degradação do ambiente. Seus espaços são, aparentemente, os mais
degradados, mas a gênese da degradação não lhes compete na totalidade
(Mendonça; Dias, 2019, p. 150).
Uma vez vitimados por desastres naturais, por exemplo, as pessoas e os
lugares reagirão de forma distinta. A resiliência ambiental diz respeito,
exatamente, à capacidade de voltar às condições anteriores ao impacto, seja o
indivíduo, o coletivo ou o lugar afetado. Todavia, é bastante claro que a
capacidade de resiliência de dada sociedade ou lugar tem a ver, diretamente,
com o estágio do desenvolvimento material, intelectual e emocional dos grupos.
Em países não desenvolvidos, a resiliência socioambiental constitui-se num
desafio de extrema envergadura, dada a elevada vulnerabilidade das sociedades
desses países (Mendonça; Dias, 2019, p. 153).
Assim sendo, temos como suporte para a consciência a educação
ambiental. Esta é importante não somente para atuar na construção da
resiliência dos lugares e comunidades, mas, sobretudo, para auxiliar na
prevenção dos riscos e desastres. A consciência popular para a mudança é
necessária. Todavia, em muitos casos, ela resulta de ações por meio da força
ou contra a vontade dos indivíduos, principalmente os mais pobres, sujeitos a
riscos e vulnerabilidades e que se tornam capazes de lidar com adversidades,
aqui apresentado pelo conceito de resiliência (Mendonça; Dias, 2019, p. 153).

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NA PRÁTICA

Assista ao documentário Home, disponível em


<https://www.youtube.com/watch?v=ZjE9T-KQZOU>. Ele apresenta imagens
aéreas de diversos lugares do mundo e considera a não existência de fronteiras
entre os ecossistemas, as sociedades e o mundo. A fundamentação se pauta
nas atividades realizadas pelos seres humanos, que, independentemente de
onde ocorrem, visam única e exclusivamente a apropriação de valores e
recursos. Reflita sobre a sustentabilidade, sobre o consumo, sobre os riscos e
as vulnerabilidades.

FINALIZANDO

Iniciamos nossa conversa evidenciando os impactos sociais e ambientais


causados pelos seres humanos e suas atividades exploratórias.
Compreendemos que existe uma nova natureza, a segunda natureza, que foi
obrigada a se renovar, não de forma natural e pura, mas por meio das condições
disponíveis. Essa nova natureza nos obrigou a conviver com riscos e ambientes
vulneráveis.
O sistema econômico capitalista impõe às classes menos abastadas a
intensidade desses riscos e vulnerabilidades. Assim, nos deparamos com
cenários de calamidades para a natureza, a saúde, a tecnologia e, infelizmente,
os seres humanos. Concluímos a conversa com a perspectiva de uma mudança
e de extinção de riscos, que somente será possível com a conscientização.

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REFERÊNCIAS

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