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Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES

Departamento de Geociências
Geografia - 7° Período

Perturbações, proteção e legislação ambiental

Disciplina: Educação Ambiental 1

Prof. Dr. Ronaldo Alves Belém


INTRODUÇÃO

A Crise socioambiental do Mundo Contemporâneo

-Crise de valores
-Modelo de desenvolvimento predatório
- Vários problemas ambientais: Aquecimento global, desertificação, Biopirataria,
queimadas, desmatamento, ausência de saneamento básico, miséria, violência
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urbana, desnutrição, corrupção, entre outros.
O papel da Biogeografia

-Visão interdisciplinar e holística

-Compreensão do todo através do estudo da integração entre diversos


Componentes

- Estudo do funcionamento dos Ecossistemas: conhecer para preservar e 3

educação ambiental
O SISTEMA TERRA
O que é um SISTEMA?

A noção de Sistema está vinculada à idéia de um conjunto de componentes


integrados formando um todo complexo. Nesse contexto, o funcionamento do
sistema depende do bom funcionamento de cada componente. Um automóvel é
um bom exemplo de sistema, pois possui várias peças que corroboram para o 4
funcionamento do veículo. Se uma peça quebrar todo o sistema fica
comprometido e o carro pode parar de andar.
O corpo humano também é um grande sistema

O corpo humano é formado por diversas partes integradas que formam um grande
sistema. Cada parte ou subsistema possui órgãos que fazem com que o todo funcione.
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É uma máquina perfeita onde o colapso de um órgão importante pode comprometer
todo o sistema
A Terra é um grande Sistema

O Planeta Terra é um complexo e grandioso sistema formado por um conjunto de


subsistemas integrados (componentes) . Todas as grandes perturbações
ambientais da atualidade resultaram de intervenções antrópicas sobre uma ou 6

outra parte do sistema e que acabaram se refletindo no todo.


Os componentes do Sistema Terra

A Terra é um grande sistema formado por três subsistemas integrados: a


Litosfera ou Geoesfera, o Aquático ou hidrosférico e o atmosférico. Na zona de
interação entre esses três componentes ocorre a Biosfera que inclui o Homem
enquanto ser biológico. Refere-se a um conjunto de componentes em Equilíbrio 7
dinâmico, em que qualquer intervenção num ponto do sistema repercute no
conjunto.
O Geossistema

“De modo mais preciso, um Geossistema é definido como uma dimensão do espaço
terrestre onde os diversos componentes naturais encontram-se em conexões
sistêmicas uns com os outros, apresentando uma integridade definida, interagindo com
a esfera cósmica e com a sociedade humana" (VIKTOR SOTCHAVA, 1978).

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O Meio Ambiente

De acordo com a legislação brasileira, o Meio Ambiente é algo amplo que se


define como o “ conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem
física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas
formas”. Para Troppmair (2006), o Meio Ambiente é um complexo formado por
elementos e fatores físicos, químicos, biológicos e sociais que interagem entre si
com reflexos recíprocos sobre os seres vivos.
Outras duas visões de Meio Ambiente

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1. O Meio Ambiente formado pela interação entre Ambiente Natural e o Ambiente


Antrópico

2. O Meio Ambiente é formado pela interação entre recursos naturais e os


processos produtivos necessários à criação dos bens de consumo desejados
pela população. É um sistema que requer insumos, energia e sempre produz 10

rejeitos.
A Perturbação Ambiental

A abertura de uma clareira na Floresta provocada pela queda de um raio

O termo perturbação se refere a um conjunto de processos que desencadeiam


modificações naturais em um ecossistema. Para Dajoz (2006), a perturbação pode ser
definida como um conjunto de eventos capazes de modificar uma população, um
ecossistema ou uma paisagem. A queda de árvores provocada por raios, os incêndios
naturais, os ataques de insetos ou de fungos são exemplos de perturbações que podem
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produzir modificações naturais em um ecossistema e contribuir para a manutenção de
seu equilíbrio (DAJOZ, 2006). Portanto, a perturbação ambiental não pode ser
associada apenas a um impacto ambiental negativo.
A Perturbação antrópica e o Impacto ambiental

As perturbações antrópicas são alterações provocadas pela ação humana


predatória e desprendida de qualquer preocupação socioambiental. A perda de
habitats naturais e de biodiversidade através de desmatamento é um exemplo de
Perturbação antrópica. Vale ressaltar que as perturbações antrópicas podem ser
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entendidas como impactos ambientais. Entretanto, o termo impacto ambiental é
mais usado.
O impacto ambiental

No Brasil, a definição legal de impacto ambiental encontra-se na resolução do Conama n° 1


que fala que o impacto ambiental se refere a “qualquer alteração física, química e biológica
no meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultantes das
atividades humanas( BRASIL, 1986). De acordo com as idéias de Moreira (1985), impacto
ambiental é toda alteração no meio ambiente provocada pela ações antrópicas 13
Outra definição de Impacto Ambiental

Para Sánchez ( 2008), o impacto ambiental se refere a um problema causado por


uma ação humana que esteja associada à supressão de elementos do
ambientes(como a retirada da vegetação ou as escavações), à inserção de certos
elementos no ambiente ( como as espécies exóticas ou a urbanização) ou à 14
introdução de fatores que estão além do suporte do ambiente.
A degradação ambiental

A degradação ambiental é outro termo controverso cujo significado também é de


grande importância para as ciências ambientais. Guerra & Guerra (2001), entende
a degradação ambiental como um problema socioambiental complexo causado
pela ação predatória dos seres humanos e que se caracteriza pela
desestabilização ambiental de solos, recursos hídricos, fauna e flora . 15
Outra definição para a degradação ambiental

A tragédia de Mariana é o grande exemplo de Degradação Ambiental

Para Sánchez ( 2008), a degradação é algo amplo que pode ser entendido como o
conjunto de mudanças adversas dos processos ou funções ambientais. Esse
autor ainda ressalta que a degradação pode ocorrer em todo e qualquer tipo de
ambiente, ou seja, nos ambientes construídos ou nos ambientes naturais. Por
fim, o autor destaca que a expressão área degradada resume uma situação em 16
que solo, vegetação e recursos hídricos estão alterados e desequilibrados.
Legislação ambiental e meio ambiente no Brasil

As leis que compõem o corpo jurídico voltado para o meio ambiente no Brasil se
destacam com uma das melhores legislações ambientais do mundo. É notório
que aconteceu um grande avanço da perspectiva legal do ambientalismo no
Brasil nas últimas décadas. No entanto, o país ainda se vê diante de uma série de
problemas ambientais ligados ao não cumprimento da legislação vigente. 17
O que realmente dificulta a aplicação da legislação ambiental?

Carência de infra-estrutura e material humano para fiscalizar

A falta de infra-estrutura física e a carência de profissionais para atuar na


fiscalização de empreendimentos e crimes que possam causar impactos
ambientais representam um dos principais desafios dos órgãos gestores do meio
ambiente no Brasil 18
A corrupção e o “Jeitinho Brasileiro “

A cultura do levar vantagem em tudo ou do jeitinho brasileiro que leva pessoas movidas
pela ganância do lucro fácil a cometerem crimes ambientais. Certos de que a impunidade e
as brechas da lei vão favorecê-los, essas pessoas representam os mais perigosos agentes
destruidores do meio ambiente, uma vez que possuem poder econômico e político capaz de
facilitar a isenção de suas responsabilidades perante a prática de crimes cometidos contra
o patrimônio natural. 19
A pobreza e a miséria extrema no interior do Brasil

A pobreza e a miséria extrema vivenciadas pelas populações do campo também


são fatores responsáveis de forma direta ou indireta pela geração de impactos
ambientais. A carência de recursos financeiros capazes assegurarem a aquisição
dos elementos essenciais para a manutenção de uma família, levam muitos
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trabalhadores rurais a cometerem crimes ambientais visando atenuar os efeitos
da fome.
Exemplos de crimes ambientais praticados por populações carentes no
interior do Brasil

-Caça predatória de animais silvestres para consumo e comércio

- Captura de animais e plantas para alimentar o mercado da Biopirataria

- Extração de fósseis e amostras de rochas para colecionadores

- Supressão de espécies protegidas por lei e carvoejamento clandestino

- Pesca unidades de conservação de Proteção Integral e plantio em APP


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As Principais leis de proteção ambiental no Brasil

A Constituição Federal

O artigo 225 do capítulo VI destaca que “todos têm o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida”(BRASIL, 1988).
Para assegurar esse direito cabe ao poder público conduzir uma série de ações
voltadas para a preservação do meio ambiente. Dentre essas ações
recomendadas pelo artigo 225 da Constituição Federal destacam-se:

1.Preservar e restaurar os processos ecológicos;

2.Definir os espaços a serem protegidos;

3.Exigir estudo de impactos ambientais dos empreendedores;

4.Promover a educação ambiental .


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LEI 6938/1981
A lei da Política Nacional de Meio Ambiente

Em seu artigo 6º, a Lei 6938 institui o Sistema Nacional de Meio Ambiente(SISEMA) que é composto por todos os órgãos e
entidades das unidades da federação responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental no país.
No artigo 9º, a lei define os instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente:

Estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;

O zoneamento ambiental;

A avaliação de impactos ambientais;

O licenciamento ambiental;

O incentivo à produção de equipamentos voltados para a qualidade ambiental;

A criação de unidades de conservação;

A criação do sistema nacional de informações ambientais;

O cadastro técnico federal de atividades de defesa ambiental;

As penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação
ambiental.
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Lei 9433/1997
Lei de Recursos hídricos
Em seu artigo 1º a Lei 9433 estabelece que a Política Nacional de Recursos Hídricos possui
os seguintes fundamentos :

I – A água é um bem de domínio público;

II - A água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;

III – Em situações de escassez o uso prioritário dos recursos hídricos é o


consumo;

IV – A gestão dos recursos hídricos deve proporcionar o uso múltiplo das águas;

V – A bacia hidrográfica é a unidade territorial para a implantação da política


nacional de recursos hídricos;

VI – A gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a


participação do poder público, dos usuários e das comunidades.
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Lei 9605/1998
Lei de Crimes ambientais
O artigo 29 da seção I da Lei de Crimes Ambientais estabelece quais são as condutas
consideradas como crime cometido contra a fauna e sua respectiva pena:

- Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre,nativos ou em rota


migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente ou em
desacordo com a obtida.A pena estabelece detenção de seis meses a um ano e pagamento de
multa .

No tocante aos crimes cometidos contra a flora, a lei estabelece que são consideradas como crime
ambiental as seguintes condutas:

- Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em


formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção: Pena – detenção de um a três
anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.

A lei de crimes ambientais impõe severas penas para quem suprimir a vegetação de Áreas de
Preservação Permanente sem autorização de autoridade competente e também para quem
danificar formações vegetais de Unidades de Conservação.

Os artigos 45 e 46 tratam dos crimes ambientais relacionados à produção de carvão vegetal de 25


origem nativa. Assim, pode se submeter às penalidades da lei quem:
Lei 9985/2000
Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC

A Lei 9985 de Julho de 2000 institui o Sistema Nacional de Unidades de


Conservação e estabelece toda base jurídica para a criação e gestão de áreas
protegidas no Brasil.

O Artigo 2º desta lei define Unidade de Conservação como:

espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais,


com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo
Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime
especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção .

O Sistema Nacional de Unidades de Conservação em seu Artigo 7º define duas


categorias para as unidades de conservação do Brasil: as unidades de proteção
integral e as unidades de uso sustentável.

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Lei 4771/1965
Lei do novo código florestal brasileiro

O código florestal regulamenta a maneira como as terras podem ser exploradas


estabelecendo onde a vegetação nativa deve ser mantida e onde ela pode ser suprimida. O
código até então vigente no território brasileiro foi criado pela Lei 4771 de 1965. Mesmo
sendo uma legislação muita antiga, esse código apresentou conquistas muito importantes
para preservação da biodiversidade brasileira e que deveriam ser mantidas. Por outro lado,
outras questões deveriam ser mudadas.

As principais mudanças estão associadas às Áreas de Proteção Permanente (APPs) e às


Reservas legais.

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Conforme o artigo 2º da Lei 4771 de 1965, considera-se como área de Preservação
Permanente as seguintes situações:

1. Ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o seu nível mais alto em faixa
marginal cuja largura mínima seja:
a) de 30m (trinta metros) para os cursos de d’água de menos de 10 (dez) metros de largura;
b) de 50m (cinqüenta metros) para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50m
(cinqüenta metros) de
largura;
c) de 100m (cem metros) para os cursos d’água que tenham de 50 (cinqüenta) a 200m
(duzentos metros) de largura;
d) de 200m (duzentos metros) para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600m
(seiscentos metros) de largura;
e) de 500m (quinhentos metros) para os cursos d’água que tenham largura superior a 600m
(seiscentos metros) de largura;

2. Ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais ou artificiais;

3.Nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados “olhos d’água”, qualquer que
seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50m (cinqüenta metros) de largura;

4. No topo de morros, montes, montanhas e serras;


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5. Nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45º, equivalente a 100% na
linha de maior declive.
O que muda?

O novo texto prevê uma redução das APPs para 15 metros nos rios com até 10 metros de
largura.

O novo código também permite alguns tipos de cultivo(como maçã e café) nas áreas de
APPs.

Em relação à pecuária, essa atividade fica permitida em encostas de até 45 graus de


declividade, o que até então não era permitido.

As reservas legais deverão corresponder no mínimo:

I - a oitenta por cento, na propriedade rural situada em área de floresta localizada na


Amazônia legal.
II – a trinta e cinco por cento, na propriedade rural situada em área de Cerrado localizada na
Amazônia legal, sendo no mínimo vinte por cento na propriedade e quinze por cento na
forma de compensação em outra área, desde que esteja localizada na mesma microbacia, e
seja averbada nos termos do § 7º deste artigo;
III – a vinte por cento, na propriedade rural situada em área de floresta ou outras formas de
vegetação nativa localizada nas demais regiões do país;
IV – a vinte por cento, na propriedade rural em área de campos gerais localizada em
qualquer região do país
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A Lei Federal 11.428 ( Lei da Mata Atlântica)

Art. 2º Para os efeitos desta Lei, consideram-se integrantes do Bioma Mata Atlântica as seguintes formações florestais nativas e ecossistemas
associados, com as respectivas delimitações estabelecidas em mapa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, conforme
regulamento: Floresta Ombrófila Densa; Floresta Ombrófila Mista, também denominada de Mata de Araucárias; Floresta Ombrófila Aberta;
Floresta Estacional Semidecidual; e Floresta Estacional Decidual, bem como os manguezais, as vegetações de restingas, campos de altitude,
brejos interioranos e encraves florestais do Nordeste

Art. 14. A supressão de vegetação primária e secundária no estágio avançado de regeneração somente poderá ser autorizada em caso de
utilidade pública, sendo que a vegetação secundária em estágio médio de regeneração poderá ser suprimida nos casos de utilidade pública e
interesse social, em todos os casos devidamente caracterizados e motivados em procedimento administrativo próprio, quando inexistir
alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto, ressalvado o disposto no inciso I do art. 30 e nos §§ 1º e 2º do art. 31 desta
Lei.
Questão para reflexão:

Corrupião ou Sofrê/ Associação Caatinga/BA

Quanto vale a vida de um ser vivo como esse ? O que falta para as pessoas serem menos
Antropocêntricas? Como chegar a uma sociedade em que se busca mais o Ser do que o
Ter?

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