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Literatura e História:
Movimentos finesseculares, Vanguarda Européia e Modernismo Brasileiro.
Literatura e História:
Movimentos finessesculares, Vanguarda Européia e Modernismo Brasileiro
Literatura e História:
Movimentos finesseculares, Vanguarda Européia e Modernismo Brasileiro
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Professora Marilene Ferreira Cambeiro
Doutora em Literatura
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Professor Fabio André Cardoso
Doutor em Literatura
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Professor Raiff Magno
Mestre em Literatura
AGRADECIMENTOS
Na realização deste trabalho devo minha gratidão a minha mãe , Maria das Graças e a
minha tia, Anna Maria, que sempre me apoiaram durante todo o período pelo qual passei na
faculdade e ao meu irmão, José Luiz, que me ajudava todas as vezes em que precisei usar o
computador. Agradeço a minha professora orientadora, Marilene Cambeiro, pela paciência e
pelo aprendizado que obtive com sua gama de conhecimentos e experiência. Agradeço,
também, aos professores Fabio Cardoso e Raiff Magno pelo privilégio de ter assistido suas
aulas e ter aprendido muito.
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T.S.Eliot.
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RESUMO
ABSTRACT
Modernism was a period of great changes in Brazil. These changes are related to the
history and economic context Brazil was inserted in. It starts with the coffee production, the
industrial development of São Paulo, which becomes a cultural centre in this country. The
artists, most of them, belonging to wealthy families, spent long years in Europe studying the
new arts and brought them to Brazil. What these artists wanted was to absorb all the new arts
that appeared there and change them according to Brazilian characteristics. This way, these
artists broke up with the past or even changed it in order to see their country nationalist and also
establish a cultural identity.
SUMÁRIO
1 Introdução ............................................................................................................08
3 Pré-Modernismo .....................................................................................................16
6. Considerações Finais.............................................................................................49
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1 Introdução
O que é o Modernismo? Será que esse movimento provocou alguma mudança ou foi
apenas um modismo? O Modernismo, foi sim, um período muito importante e que trouxe muitas
mudanças. Mas que tipo de mudanças? Esse movimento mostrou um novo olhar, um olhar para
dentro de nosso país. Esse período surgiu com a intenção de romper com aquilo que não era
nosso, ou seja, o formalismo exagerado, a hipocrisia de uma sociedade antiquada que apenas
se preocupava em adaptar o Brasil aos padrões europeus. Isso se refletiu na produção literária,
através da qual tanto os escritores pré-modernistas quanto os modernistas, que em sua maioria
eram engajados, procuravam mostrar a situação das camadas marginalizadas pela sociedade, as
quais essa mesma sociedade fingia não ver, a sociedade mostrava-se totalmente alheia ao “outro
Brasil”.
O Modernismo já mostrava sua face anos antes. No início do século XX, esses escritores
já se preocupavam com a realidade brasileira e como a sociedade tentava camuflar as mazelas,
trazendo a cultura européia para entreter a elite. Só o que vinha de fora era considerado de bom
gosto e civilizado, devido a isso, todos os movimentos modernistas que ocorreram ao longo da
semana de 22, os artistas e escritores, sofreram preconceitos por parte da sociedade e de
intelectuais por tentar mostrar que existia a possibilidade de mudar a cultura brasileira.
Os artistas que foram surgindo ao longo do início do século XX queriam um Brasil
nacionalista, com suas marcas e características próprias embora esses artistas, em sua maioria
pertencentes à elite brasileira, tenham vivido longos anos na Europa estudando as novas
estéticas modernistas para, em seguida, trazê-las para o Brasil.
O Modernismo foi um grande movimento, um verdadeiro “divisor de águas”. Esse
movimento mudou a forma como se via as artes em geral. As artes plásticas e até mesmo a
Literatura passaram a ser interpretadas através das novas estéticas, e da semana de 22 em diante,
começaram a ser vistas com um novo olhar, livres de regras e normas.
O importante de se observar no Modernismo é o fato desse movimento ter mudado
radicalmente todas as artes em escala mundial. As estéticas futurista, expressionista, cubista,
dadaísta e surrealista continuam influenciando até os dias de hoje. E junto com essas estéticas,
que surgiram durante a guerra, ocorreram mudanças em âmbitos sociais tanto no Brasil quanto
no mundo.
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2 Evolução Histórica
O grande crescimento econômico gerado pelo café trouxe melhorias para a cidade:
construção de ferrovias e abertura de portos. Mas, por outro lado, contribuiu para a queda do
império (1889). Com isso, os grandes cafeicultores passaram a se preocupar em como substituir
os escravos, devido à corrida abolicionista. Logo em seguida, vieram os trabalhadores
assalariados (imigrantes) para suprir a demanda da produção.
A grande leva de imigrantes para o Brasil no final do século XIX deve-se a falta de mão-
de-obra escrava. As leis que proibiam a escravidão eram entraves para os cafeicultores,
principalmente aqueles ligados ao Partido Republicano (PRP), a quem não interessava o que
iria acontecer com os escravos, mas sim como iriam substituí-los:
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O maior número de imigrantes era de italianos que vieram para o Brasil em busca de
oportunidades e de um lugar para que pudessem refazer suas vidas, já que o país de origem
passava por uma recessão. Através de um programa governamental de incentivo à imigração,
isso pôde ser possível. Mas muitos se decepcionavam ao ver que o trabalho era escravo, apesar
de ser assalariado:
Ao longo do século XIX, muitos imigrantes vieram para o Brasil. Muito tempo antes
dos italianos, os alemães foram os primeiros imigrantes (depois dos portugueses e africanos) a
se instalarem no sul do país. “O fluxo migratório se iniciou ainda no primeiro Reinado, quando
José Bonifácio e D. Pedro I, por razões, militares, sócio- econômicas e psicossociais – entre as
quais o projeto de “branquear” o sul do Brasil ––, promoveram a vinda de colonos alemães e
suíços.” (EDUARDO BUENO, 200[?], p. 179):
que se dividiu entre a colonização (voltada para o sul) e a imigração (destinada aos
cafezais de São Paulo). Os colonos italianos foram levados para o sul, afim de ocupar
terras devolutas. (EDUARDO BUENO, 200[?], p. 179).
Apesar dos empecilhos e outras razões, como, por exemplo, o clima, os imigrantes
conseguiram se adaptar. Buscando seus próprios meios de sobrevivência, reconstruíram o país
de origem em um novo:
A cidade do Rio de Janeiro teve o seu momento de glamour logo no início do século
quando o então presidente da República Rodrigues Alves resolveu modernizá-la com
saneamento, iluminando-a e construindo a Avenida Central. Mas, quinze anos antes, São Paulo
já tinha passado, também, por um processo de modernização. São Paulo, aos poucos, estava
prosperando e a um passo de se tornar o pólo industrial, e, anos depois, o pólo econômico-
cultural do país. E seu progresso se deve ao fato da mudança dos cafeicultores do Rio para lá:
Ao longo dos anos de modernização de São Paulo, podemos destacar a Avenida Paulista
como o símbolo de crescimento econômico:
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A elite do café, nos primeiros anos do século 20, obteve lucros cada vez maiores, não
só com o café, mas, também, com as indústrias, que eram necessárias para a economia. Nelas,
foi utilizada a mão-de-obra dos imigrantes europeus, e, muitos deles acabaram sobrando por
excesso de trabalhadores nas lavouras:
As greves gerais foram uma forma pela qual a classe operária encontrou para reivindicar
os seus direitos, entre eles: uma boa remuneração e melhores condições de trabalho. Essas
manifestações ocorreram em São Paulo e os trabalhadores foram diretamente influenciados pela
Revolução Russa (1917) onde os Russos passavam pelos mesmos problemas e, também,
reivindicavam os seus direitos.
Essa revolta foi conseqüência do desenvolvimento industrial de São Paulo. Os
trabalhadores viviam em regime de semi-escravidão. O surto industrial forçava os operários a
péssimas condições de trabalho. Muitos trabalhavam sem ter um salário certo, sem férias, ou,
férias sem remuneração. Devido a esses fatores, os operários resolveram pôr fim à opressão:
3 O Pré-Modernismo
O Pré-Modernismo não se denomina como uma escola literária, mas sim um período de
transição. Os escritores que se destacaram ao longo desse período não se consideravam
modernistas. Mantinham características de períodos literários anteriores, apesar de a
preocupação com a realidade estar presente em suas obras:
Os primeiros vinte anos do século XX foram um dos mais turbulentos. Esse período faz
parte do pré-modernismo e abrange também a Belle Époque na Europa: “época de grande
euforia pelo progresso, pela velocidade, pelas comodidades trazidas pela Era da
Máquina.”(RICARDO LEITE et al, 1997, p.41). Devemos lembrar que São Paulo passava por
um período de modernização que se iniciou no final do séc XIX e o crescimento econômico
trouxe melhorias para a cidade. Junto com o crescimento econômico começou a surgir a vida
cultural de São Paulo. No entanto, o encontro dos artistas e intelectuais acontecia nos salões das
mansões de Paulo Prado, Olívia Penteado e Tarsila. (Carlos Zilio, 1997, p. 54). A elite do café
e artistas passaram a receber influências das novidades vindas da Europa. Segundo Carlos Zilio,
“essa transformação repercute no campo das artes com a construção de prédios [...] de
monumentos para as praças novas [...] todas essas bruscas mudanças fizeram com que em
poucos anos São Paulo ganhasse o aspecto de uma cidade do século XX [...]. (1997, p. 40).
A Belle Époque durou do início do século XX até a Primeira Guerra Mundial. Durante
esse período houve um aquecimento cultural e um progresso econômico no Brasil gerado pela
burguesia:
Ao longo desses anos, além do progresso material, houve um grande progresso em nível
cultural. Surgiram novas idéias e concepções que revolucionaram o pensamento:
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Com a Primeira Guerra Mundial ocorre uma onda de pessimismo, muitos valores se
perdem. Houve também uma descrença na religião. Segundo Ricardo Leite, “O pensamento de
Friedrich Nietzsche ganha espaço. Esse filósofo, nascido na Alemanha, no séc XIX, proclama
a morte do Deus soberano e absoluto [...]”. (1997, p. 41). As ideias desse filósofo foram as que
mais influenciaram a modernidade, pois fez críticas severas ao Cientificismo e às religiões,
principalmente Cristianismo. Com isso, ele abala todas as certezas que se mantinham como
crença até então. É um filósofo que gera discussão até os dias atuais:
4.1 Futurismo
O Futurismo teve seu início em 1909, sendo fundado pelo italiano Fillipo Tommaso
Marinetti. O Futurismo prezava a velocidade e a ruptura total de tudo referente ao passado.
Segundo José Castello, “futurismo e modernismo se encontram no mesmo ódio ao passado.
Para os futuristas, o rugir de um automóvel tinha mais beleza que a placidez de uma estátua
[...]”. (2008, p.1):
Manifesto do Futurismo
O Futurismo teve uma repercussão muito grande. Os artistas brasileiros que viajaram e
tiveram contato com esse movimento ficaram entusiasmados e resolveram trazer essa nova
estética para o Brasil. Oswald de Andrade foi um defensor dessa estética e já considerava-se
futurista. José Castello afirma que “um ano antes da semana de 22, Mário de Andrade já
protestava quando Oswald o chamava de futurista.” (2008, p. 1):
Ode triunfal
Álvaro de Campos
4.2 Expressionismo
O expressionismo foi um dos movimentos mais significativos. Era uma nova estética,
trazia um novo olhar sobre a vida. Com suas características um tanto obscuras, o
expressionismo já previa as mudanças que iriam ocorrer no mundo:
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[...] não resta dúvida de que o movimento foi particularmente alemão. Tanto
por suas referências exteriores contra o positivismo e contra o naturalismo. Como pela
dimensão da problemática interior na busca das soluções metafísicas, o movimento
expressionista correspondeu a um estado de espírito culturalmente alemão. Foi uma
espécie de “barroco” extemporâneo, mas profundamente significativo. O homem
alemão, tal como o europeu, de um modo geral, já não se contentava com a realidade
objetiva e queria encontrar na vida interior os elementos de sua salvação. Daí por que
o expressionismo se faz sentir em todas as formas de relações: nas artes, na política,
na filosofia e na religião. Foi mais do que um simples movimento artístico, foi uma
revolução cultural que superou em unidade e coerência as ruidosas manifestações
futuristas e antecipou claramente alguns aspectos essenciais do surrealismo.
(GILBERTO MENDONÇA TELES, 1987, p. 105).
O expressionismo surge nas artes plásticas, promovendo uma ruptura de tudo que
conhecia. As pinturas produzidas ao longo desse período procuravam expressar “a realidade da
alma humana: a obsessão, a dor, a solidão [...] o nada e a miséria que nos dominam [...]”.
(RICARDO LEITE et al, 1997, p. 13). O expressionismo e o Cubismo, que surgiu logo em
seguida, “viam na destruição a possibilidade de construção de uma nova ordem superior”.
(GIBERTO MENDONÇA TELES, 1987, P. 29).
Com a eclosão da I Guerra Mundial e com toda uma modificação comportamental,
social e política, esse movimento se desenvolveu também como uma forma de crítica a toda
uma sociedade:
Ode ao burguês
Mário de Andrade
Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais
O êxtase fará sempre sol!
Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-cinema! Ao burguês-tílburi!
Padaria Suíça! Morte viva ao Adriano!
“------ Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
------- Um colar... -------- Conto e quinhentos!!!
Mas nós morremos de fome!
4.3 Cubismo
Sem Apollinaire, o cubismo logo haveria expirado [...] Assim , desde que em
1905 Picasso se encontrou com Apollinaire, pintores e poetas – entre estes Max Jacob,
André Salmon, Cendrars, Reverdy e Cocteau – começaram a integrar uma frente
única, a vanguarda que em 1909 já era conhecida pelo nome de cubismo, na pintura,
e a partir de 1917 também na literatura. [...] A pintura cubista, que desenvolveu o
construtivismo de Cézanne, encontrou em Picasso, Braque, Delaunay, Picabia,
Fernand Léger, Mondrian e Juan Gris os seus maiores representantes. A sua Técnica
é a da representação da realidade através de estruturas geométricas, desmontando os
objetos para que, remontados pelo espectador, deixasse transparecer uma estrutura
superior, a forma plástica essencial e verdadeira da beleza. [...] Dentro desse
procedimento é que Max Jacob, Reverdy, Salmon, Cendrars e outros, em torno de
Apollinaire, desenvolveram um sistema poético de subjetivização e desintegração da
realidade, criando por volta de 1917, paralelamente ao dadaísmo, uma poesia cujas
características são o ilogismo, o humor, o antiintelectualismo, o instantaneísmo, a
simultaneidade e uma linguagem predominantemente nominal e mais ou menos
caótica. [...] Não existe propriamente um manifesto da poesia cubista, mas o artigo de
Apollinaire, Méditations esthétiques/ Sur la peinture, de 1913, pode ser tomado como
um desses manifestos. Não o publicamos porque, na sua maior parte ele se refere à
pintura. Mas há trechos assim: “Os grandes poetas e os grandes artistas têm por função
social remover continuamente a aparência que reveste a natureza, aos olhos dos
homens. Sem os poetas, sem os artistas, os homens aborrecer-se-iam depressa com a
monotonia natural. A idéia sublime que eles têm do universo cairia com vertiginosa
rapidez. A ordem, que aparece na natureza e que não é senão um efeito da arte, çogo
se evaporaria. Tudo se desmancharia no caos. Não mais estações, não mais
civilização, não mais pensamento, não mais humanidade, não mais vida, e a impotente
escuridão reinaria para sempre. Os poetas e os artistas determinam e concertam a
imagem de sua época e docilmente se amolda ao seu gosto”. (GILBERTO
MENDONÇA TELES, 1987, p. 114-116).
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4.4 Dadaísmo
O dadaísmo segue com o advento da I Guerra Mundial e segundo Ricardo Leite “para
os dadaístas, a guerra desvendou a barbárie que se escondeu por detrás da civilização
burguesa ocidental, o que os incitou a desmascarar todos os valores ditos civilizados”. (1997,
p. 48):
Pegue um jornal.
Pegue a tesoura.
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e
Mete-as num saco.
Agite suavemente.
Tire em seguida cada pedaço um após o outro.
Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco.
O poema se parecerá com você.
E ei-lo escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa,
Ainda que incompreendido do público.
(GILBERTO MENDONÇA TELES, 1987, p. 132)
4.5 Surrealismo
O Surrealismo, que teve sua fase inicial após a I Guerra, foi a continuação do dadaísmo,
mas por um outro ponto de vista. Ricardo Leite defende “que o caráter destrutivo dadaísta
deveria corresponder a apenas uma das etapas do processo de criação”. (1997, p. 50).
A teoria filosófica de Carl Marx e sua frase “transformar o mundo” tiveram grande
influência sobre esse movimento, que cada vez mais, defendia uma posição política. Isso se
tornou evidente após a Revolução Russa de 1917:
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Estudo no 6
Murilo Mendes
Tua cabeça é uma dália gigante que se desfolha nos meus braços.
Nas tuas unhas se escondem algas vermelhas,
E da árvore de tuas pestanas
Nascem luzes atraídas pelas abelhas.
Caminharei esta manhã para teus seios:
Virei ciumento do orvalho da madrugada,
Do tecelão que tece o fio para teu vestido.
Virei, tendo aplacado uma a uma as estrelas,
E, depois de rolarmos pela escadaria de tapetes submarinos,
Voltaremos, deixando madréporas e conchas,
Obedecendo aos sinais precursores da morte,
Para a grande pedra que as idades balançam à beira-nuvem.
(RICARDO LEITE et al, 1997, p. 52)
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A Semana de 22 foi a consequência de tudo que aconteceu nos vinte anos anteriores.
Durante esse período, todos os artistas estavam a par do que acontecia na Europa. Tanto que
Mário e Oswald de Andrade já mantinham contato com os movimentos de vanguarda, seja
viajando ou publicando obras (Mário de Andrade).
O objetivo dos modernistas era romper com o formalismo, o academicismo, os falsos
valores. Criar uma cultura nacional “sem macaquear as sugestões européias” (RICARDO
LEITE et al, 1997, p. 73), mas de uma forma bem-humorada:
O grande evento teve espaço no Teatro Municipal de São Paulo que “era o prédio mais
requintado da metrópole do café” (EDUARDO BUENO, 200[?], p. 204). Eduardo Bueno
afirma que a escolha do teatro foi feita por Di Cavalcanti que queria um “evento espetacular
que abalasse, pelo vulto e violência, o povo brasileiro” (200[?], p. 204).
Os primeiros representantes do Modernismo foram Mário de Andrade, Oswald de
Andrade, o escritor Menotti del Picchia e o escultor Vitor Brecheret. Esses modernistas
mudaram as artes por completo e romperam com todo academicismo seja na literatura ou nas
artes plásticas. O Modernismo no Brasil tinha por objetivo “um abandono de princípios, foi
uma revolta contra o que era a Inteligência nacional” (AFFONSO ÁVILA, 1975, p. 40):
Uma questão a ser considerada é a grande importância dos dois Andrades para esse
movimento. Apesar de terem personalidades distintas, ambos completavam-se e formavam a
dupla de maior prestígio da época:
[...] sou o homem mais antipatizado e mais irritante da literatura moderna brasileira.
Mas sou também dos mais úteis se não for o mais útil. E eis também porque a crítica
mais lúcida que se fez até agora de mim foi a que eu mesmo fiz quando falei que
minha poesia, minha obra toda não é arte, é ação. (MÁRIO DE ANDRADE apud
LEITE et al, 1997, p. 87).
“futurista”, o público tentou bagunçar o concerto. Mas Villa-Lobos foi impondo seu
talento e terminou a noite sob aplausos estrondosos.
Desde 1915, Villa-Lobos deixava ousadias harmônicas, rítmicas e tímbricas
invadirem seu aprendizado tradicional. Uma longa viagem pelo Brasil, realizada de
1905 a 1913, o levara a se apaixonar pelos violeiros nordestinos e pelos sons populares
do Brasil. A alquimia sonora que ele forjou imprimiria o conceito de “brasilidade” à
música erudita. Depois da Semana, Villa-Lobos ganhou uma bolsa do governo de SP
e partiu para Europa. Lá, sua música iria encantar Stravinski, Varèse, Prokofiev e De
Falla, consagrando-o definitivamente. (EDUARDO BUENO, 200[?], p. 207).
“Ao público chocado diante da nova música tocada na Semana, como diante
dos quadros expostos e dos poemas sem rima [...]: sons sucessivos, sem nexo, estão
fora da arte musical: são ruídos, são estrondosos; palavras sem nexo estão fora do
discurso: são disparates como tantos e tão cabeludos que nesta semana conseguiram
desopilar os nervos do público paulista, que raramente ri a bandeiras despregadas”.
(MEDINA RODRIGUES apud LEITE et al, 1997, p. 67).
Ao longo do período que abrange 1922 a 1930, período da primeira geração modernista,
surgiram diversas manifestações artísticas baseadas na ruptura com o antigo e a valorização das
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imagem do brasileiro que é, pelo ponto de vista de Mário, “em essência, preguiçoso,
oportunista, luxurioso e sonhador”. (JOSÉ CASTELLO, 2008, p.4). Mas Mário de Andrade
lamenta que “‘Macunaíma’ seja mais celebrado pelo que não é, do que pelo que é [...]
‘Macunaíma’ é uma sátira irritada, por muitas partes feroz. Mas brasileiro não compreende
sátira, em vez, acha engraçado”. (MÁRIO DE ANDRADE apud CASTELLO, 2008, p.4):
Observo mais uma vez não estar esquecido de que para se dar entrecho, há
sempre um qualquer fracasso a descrever, um amor, uma terra, uma luta social, um
ser que faliu. Um Dom Quixote fracassa, como fracassam Otelo e Madame Bovary.
Mas estes, como quase todos os heróis da arte, são seres dotados de ideais, de
ambições enormes, de forças morais, intelectuais, físicas, representam tendências
generosas ou perversivas. São enfim seres capazes de se impor, conquistar suas
pretensões, vencer na vida, mas que no embate contra forças maiores são dominados
e fracassam. Mas em nossa literatura de ficção, romance ou conto, o que está
aparecendo com abundância não é este fracasso derivado de duas forças em luta, mas
a descrição do ser sem força nenhuma, do indivíduo desfibrado, incompetente pra
viver, e que não consegue opor elemento pessoal nenhum, nenhum traço de caráter,
nenhum músculo como nenhum ideal, contra a vida ambiente. Antes, se entrega à sua
conformista insolubilidade. Quando, ao denunciar este fenômeno, me servi quase
destas mesmas palavras, julguei lhe descobrir algumas raízes tradicionais. Hoje estou
convencido de que me enganei. O fenômeno não tem raízes que não sejam
contemporâneas e não prolonga qualquer espécie de tradição. [...] Se o complexo de
inferioridade sempre foi uma das grandes falhas da inteligência nacional, não sei se
as angústias dos tempos de agora e suas ferozes mudanças vieram segredar aos
ouvidos passivos dessa mania de inferioridade o convite à desistência e a noção do
fracasso total. E não é difícil imaginar a que desastrosíssima incapacidade do ser
poderá nos levar tal estado-de-conciência. Toda esta literatura dissolvente será por
acaso um sintoma de que o homem brasileiro está às portas de desistir de si mesmo?
(MÁRIO DE ANDRADE, 1974, P. 243-246).
Significação
sua razão de ser. Como ele: nem desastre, nem triunfo. Como ele: deu frutos verdes.
Houve erros proclamados em voz alta. Pregaram-se idéias inadmissíveis. É preciso
refletir. É preciso esclarecer. É preciso construir. Daí, KLAXON.
E KLAXON não se queixará jamais de ser incomprendido pelo Brasil. O
Brasil é que deverá se esforçar para compreender KLAXON.
Estética
KLAXON sabe que a vida existe. E, aconselhado por Pascal, visa o presente.
Klaxon não se preocupará de ser novo, mas de ser atual. Essa é a grande lei da
novidade.
KLAXON sabe que humanidade existe. Por isso é internacionalista. O que
não impede que, pela integridade da pátria, KLAXON morra e seus membros
brasileiros morram. [...] (TELES, 1987, P. 294).
9 Considerações Finais
Referências
BUENO, Eduardo. História do Brasil. Zero Hora/RBS Jornal, ISBN 85-86103-01-2, 200[?].
CASTELLO, José. O Modernista Prudente. Prosa e Verso. Jornal O Globo, Rio de Janeiro,
p. 1-4, janeiro de 2008.
LEITE, Ricardo et al. Novas Palavras: Literatura, Gramática, Redação e Leitura. São
Paulo: FTD, 1997.
MOLNAR, Michael. Freud vira o nosso mundo de cabeça para baixo. O Globo 2000, Rio de
Janeiro, n. 2, p. 26-27, 2000.
ZILIO, Carlos. A querela do Brasil: a questão da identidade da arte brasileira. 2. ed. Rio de
Janeiro: Relume Dumará, 1997.