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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - UFPB

CENTRO DE TECNOLOGIA - CT
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO - DAU
GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

BARBARA ISADORA GIANNATTASIO GARCIA


KAIKY ANDREY COSTA SANTOS

ARQUITETURA E CIDADE NO RENASCIMENTO

JOÃO PESSOA - PB
Novembro, 2022
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BARBARA ISADORA GIANNATTASIO GARCIA


KAIKY ANDREY COSTA SANTOS

ARQUITETURA E CIDADE NO RENASCIMENTO

Trabalho apresentado à disciplina de História da


Arquitetura e do Urbanismo I, do curso de
graduação em Arquitetura e Urbanismo, da
Universidade Federal da Paraíba, como requisito
de obtenção de nota para a Unidade I
Professor: Ivan Cavalcanti Filho, Phd.

JOÃO PESSOA - PB
Novembro, 2022
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Sumário
1. Introdução...................................................................................................................................... 4
3. O Trecento ou Protorrenascimento.................................................................................................... 7
3.1 Marcos iniciais do período renascentista......................................................................................... 7
4. Tipologias construtivas..................................................................................................................... 11
4.1. O quattrocento.............................................................................................................................. 11
4.1.1 Orfanato ou Hospital dos Inocentes............................................................................................ 12
4.1.2 Igreja............................................................................................................................................ 14
4.1.3 Capela Pazzi................................................................................................................................. 18
4.1.4 Palácios Florentinos..................................................................................................................... 21
4.1.5 Templo Malatestiano................................................................................................................... 26
4.2 O Cinquecento................................................................................................................................ 27
4.2.1 Tempietto.................................................................................................................................... 29
4.2.2 Igrejas e basílicas......................................................................................................................... 30
4.2.3 Biblioteca Medicea Laurenziana.................................................................................................. 39
4.2.4 Campidoglio................................................................................................................................. 40
4.2.5 Villa Capra................................................................................................................................... 42
4.2.6 Teatro Olímpico........................................................................................................................... 44
5. Análise da obra escolhida................................................................................................................. 45
5.1 Basílica de São Pedro...................................................................................................................... 45
6. Conclusão......................................................................................................................................... 51
7. Referências....................................................................................................................................... 52
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1. Introdução

O Renascimento foi um movimento cultural, artístico e científico que teve seu

início na Itália do século XIV e perdurou até o século XVII, se estendendo por toda a

Europa Ocidental. Inspirado pelos valores clássicos e motivado por todo um contexto

sociocultural, econômico e político, o Renascimento reformulou a vida medieval e

deu início à Idade Moderna, sendo considerado um marco histórico de transição

entre uma cosmovisão medieval para uma cosmovisão moderna.

A partir disso, com ênfase na arquitetura do período renascentista, o objetivo

deste trabalho é dissertar e apresentar exemplos sobre as principais tipologias

arquitetônicas, o contexto e locais em que estão inseridas, bem como seus

designados autores.

O aprofundamento acerca do objeto de estudo foi possível por meio da

metodologia de pesquisa documental bibliográfica e anotações das aulas expositivas

da disciplina de História da Arquitetura e do Urbanismo I.

2. Contextualização histórica

Situado temporalmente entre a Baixa Idade Média e a Idade Moderna, o


Renascimento foi um período de transição que marca uma ruptura com o período
passado e o surgimento de uma nova era histórica, a modernidade. Teve início na
Itália no século XIV, mas difundiu-se rapidamente por outras regiões da Europa
Ocidental, como Holanda, França, Espanha, Portugal, Inglaterra e Alemanha.
Foi um movimento artístico, cultural, científico e filosófico que surgiu na Itália,
mais precisamente em Florença, patrocinado pela burguesia - na figura dos
mecenas - que despontou nessa época, em que houve a recuperação dos valores
clássicos da antiguidade greco-romana e uma série de contribuições significativas
nos campos das ciências e das artes, com destaque para a arquitetura. 
O contato através do comércio com sábios árabes, bizantinos e judeus, os
quais preservaram a cultura clássica na Idade Média, foi fundamental para o
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reflorescimento dos valores clássicos e para inspiração em novas composições e


tipologias arquitetônicas. Com a invenção da imprensa por Johannes Gutenberg, no
século XV, esses conhecimentos foram mais facilmente disseminados para a
sociedade, o que contribuiu, significativamente, para a ampla revolução cultural que
foi a Renascença. 
Ademais, num contexto de revolução comercial e renascimento urbano, tem-
se a formação dos burgos e a ascensão social da burguesia, que atuou como
mecenas, que eram aqueles que patrocinavam as artes do momento. As famílias
abastadas da época, a exemplo da família Médici, financiavam as três principais
formas de arte - pintura, escultura e arquitetura - através de grandes encomendas. 
Como características principais, tem-se:
 Repúdio aos valores medievais: condenavam o teocentrismo, o geocentrismo,
o monopólio da Igreja Católica sobre o conhecimento e o fato de que nunca
terem aceitado de bom grado o estilo Gótico, considerado uma degeneração
da arte clássica, pois era demasiadamente livre e sem regras. 
 Classicismo: Valorização e recuperação dos ideais clássicos greco-romanos,
como já mencionado.
 Antropocentrismo e humanismo: Valorização do homem enquanto tema
central para entendimento do universo; “o homem como centro do universo”.
Essa revolução filosófica celebra a racionalidade, a individualidade e a
capacidade humana de analisar o mundo físico e agir com base nessas
análises, valorizando, assim, o ser humano como ser pensante.

Como características no campo da arquitetura, tem-se:


 Uso de formas simples, como o quadrado e o círculo, buscando alcançar
simetria, equilíbrio geométrico e proporções ideais, como 1:1; 1:2; 2:3 e 3:4 -
expressas nas consonâncias musicais descobertas por Pitágoras, concluindo
que sua harmonia inata afetaria todos os que vivenciassem os espaços por
elas determinadas.
Com isso, a planta baixa centralizada, por exemplo, tornou-se a forma
mais perfeita, absoluta e imutável, refletindo a harmonia celestial. Além disso,
os artistas utilizavam a figura do Homem no interior de um contexto
geométrico “perfeito” e, assim, “provavam” que as proporções humanas
refletiam as razões divinas. A partir disso, o “Homem Vitruviano” é criado em
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uma circunferência inscrita em um quadrado, demonstrando a perfeição


dessas formas. 

Imagem 1: o “Homem Vitruviano”


Fonte: Significados.com

 Valorização do arquiteto enquanto artista.


 A descoberta do desenho em perspectiva impulsionou avanços arquitetônicos
significativos.

O declínio do Renascimento está relacionado com a ascensão do Barroco, 


amplamente difundido pela Igreja Católica, e pela perseguição aos artistas e
intelectuais renascentistas pela Igreja Católica no contexto da Contrarreforma, o qual
se utilizava do Index (lista de livros proibidos) e do Tribunal do Santo Ofício
(Inquisição).
O Renascimento é composto por três períodos denominados Trecento,
Quattrocento e Cinquecento. O Trecento inicia-se no século XIV e permanece até o
século XV, tendo como principal autor Filippo Brunelleschi. O Quattrocento tem início
no século XV e perdura até o século XVI, e possui como principais autores Filippo
Brunelleschi  e Leon Battista. Por fim, o Cinquecento inicia-se no século XVI e tem
como principais autores Michelangelo e Andrea Palladio. Os períodos Quattrocento
e Cinquecento são os períodos mais significativos da arquitetura renascentista, pois
foi nesse período onde foi redescoberto o livro de Vitrúvio “De Architectura”,
7

utilizando-se de seu trinômio utilitas, venustas e firmitas como base para a


arquitetura da época. 

Imagem 1:livro The Ten Books on Architecture


Fonte: GoodReads

3. O Trecento ou Protorrenascimento

3.1 Marcos iniciais do período renascentista

Em 1494, quando os exércitos franceses devastavam a cidade, Florença se

expandiu como o centro do Protorrenascimento, tendo como figura principal e que

deu início ao período, Filippo Brunelleschi. Em 1400, Brunelleschi participou do

concurso para a confecção da porta de bronze do batistério de San Giovanni, que

perdeu. Desolado, Brunelleschi foi, com Donatello, para Roma, e sua carreira se

deve pelo seu tempo de estadia na cidade. Em Roma, ele codificou os princípios da

perspectiva linear geométricamente precisa, permitindo representar com exatidão

objetos tridimensionais em planos bidimensionais. 


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Na história da arquitetura renascentista, há duas obras que marcam o início

desse novo estilo artístico, que são: a Porta do Batistério de San Giovanni, e a

cúpula da catedral de Santa Maria del Fiore.

O Batistério de San Giovanni está localizado em Florença, na Piazza del

Duomo, na Itália e acredita-se ser o prédio mais antigo da cidade. De planta

octogonal simbolizando o oitavo dia, é muito conhecido por suas duas portas de

bronze feitas por Lorenzo Ghiberti. A primeira porta, iniciada em 1401 e finalizada 21

anos depois, possui 28 painéis apresentando cenas do Novo Testamento. Antonio

Paolucci as descreveu como “o mais importante evento da história da arte de

Florença no primeiro quarto do século XV”.  

Após o sucesso da primeira porta, em 1425 Ghiberti recebeu uma encomenda

para confeccionar uma segunda porta de bronze. Essa, executada com a ajuda de

Michelozzo e Gozzoli, possui 10 painéis com cenas do Antigo Testamento. A obra

possui 5,20 metros de altura, 3,10 metros de largura e 11 centímetros de espessura

e é denominada por Michelangelo como “as portas do paraíso".

Imagem 2: planta baixa do Batistério de San Giovanni


Fonte: WikiArquitectura
9

Imagem 3: Batistério de San Giovanni


Fonte: Wikipédia

Imagem 4: primeira porta do Batistério de San Giovanni


Fonte: WikiArchitectura
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Imagem 5: segunda porta do Batistério de San Giovanni


Fonte: WikiArchitectura

A cúpula da catedral de Santa Maria del Fiore, localizada em Florença, na

Itália, foi projetada por Filippo Brunelleschi a partir de um concurso lançado em

1419. A catedral que inicialmente foi construída em estilo gótico, teve a cúpula como

adição renascentista, que, apesar dos arquitetos renascentistas terem buscado não

incorporar o estilo gótico em sua arquitetura, a cúpula possui formato ogival. Ela foi

construída a partir do método de cimbramento e é a maior cúpula autoportante de

alvenaria já construída no planeta. Possui um lanternim em seu topo para fins de

iluminação, balaustradas ao seu redor para fins estéticos e seu interior possui o

afresco “Juízo Final” realizado pelos artistas Giorgio Vasari e Federico Zuccari.
11

Imagem 6: Catedral de Santa Maria del Fiore e sua cúpula ogival


Fonte: labs.mil.up.pt

Imagem 7: interior da cúpula


Fonte: Wikipédia

4. Tipologias construtivas 

4.1. O quattrocento

A arquitetura dessa época era leve, esbelta e bela. Os arquitetos buscavam

trazer às obras simetria e elementos construtivos clássicos, como colunas, cornija,


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arquitrave, frontão, friso e embasamento gregos e romanos, e empostas bizantinas.

Os novos elementos arquitetônicos criados na época são, principalmente, os

caixotões e balaústres e balaustradas. As tipologias presentes na época eram o

hospital ou orfanato, igrejas, basílicas e catedrais, palácios florentinos, campidólios,

teatros olímpicos, bibliotecas, vilas, casas e tempiettos (templos).

4.1.1 Orfanato ou Hospital dos Inocentes

O Hospital dos Inocentes foi um orfanato em Florença, Itália, concebido por

Filippo Brunelleschi, em 1419. É considerado um notável exemplar da arquitetura do

primeiro renascimento italiano, e considerado por muitos como o primeiro edifício

renascentista.

O Hospital foi construído e dirigido pela Arte Della Seta (Guilda da Seda), a

mais rica guilda da cidade e, assim como as confrarias, assumia obrigações

filantrópicas. Possui planta quadrada com um pátio central e uma rota (torno de

pedra para a entrega das crianças abandonadas sem que o responsável fosse

visto). Tem um pátio com uma arcada contínua composta por arcos plenos e

sustentada por colunas coríntias e em cima de cada coluna em sua fachada, há um

tondi cerâmico (concavidades vazias) que foram preenchidas com esculturas de

crianças posteriormente. A arcada do hospital é tridimensional, criando uma galeria

com abóbadas em cada vão, desde a arcada até as mísulas da parede oposta. 
13

Imagem 8: planta do Hospital dos Inocentes


Fonte: Pinterest

Imagem 9: fachada do Hospital dos Inocentes


Fonte: Genial.ly
14

Imagem 10: Rota ao fim da fachada


Fonte: Flickr

Imagem 11: Tondi cerâmico com esculturas de crianças


Fonte: Wikipédia

4.1.2 Igreja
15

As igrejas renascentistas possuem fachadas simétricas em torno de seu eixo

vertical. Nota-se um frontão na parte superior e uma organização com pilastras,

arcos e entablamento, além de colunas e janelas com progressão em direção ao

centro. Para aumentar a luminosidade da obra, em contrapartida do gótico,

utilizavam-se de inúmeras janelas no entorno da obra, e, muitas vezes, para

simbolizar uma cidade de muitas culturas, utilizavam-se de empostas bizantinas. As

famílias ricas sempre queriam os melhores arquitetos por questão de poder. O teto

das igrejas, geralmente, tinha tesouras de madeira para sustentação, e um forro

esculpido com caixotões (reentrâncias quadradas no forro) para melhor acabamento.

4.1.2.1 Basílica de São Lourenço

Com arcada similar à do Hospital dos Inocentes, a Basílica de São Lourenço,

em Florença, e obra de Filippo Brunelleschi, possui planta em forma de cruz latina, e

foi iniciada em 1421. A configuração de nave central e naves laterais da Basílica é

similar às das igrejas românicas e góticas encontradas em Florença, Brunelleschi

apenas substituiu os elementos clássicos por elementos medievais. Em 1519, após

a conclusão da obra da basílica, foi projetada a cúpula acima da Capela Médici para

guardar os sepulcros dos Médici. A Igreja faz parte de um complexo monástico

maior, que inclui capelas e a Biblioteca Laurenciana. Seus espaços principais foram

distribuídos em torno de um claustro quadrado que segue a regularidade modular da

planta baixa da igreja de Brunelleschi. Nela, Brunelleschi definiu os vãos com arcos

plenos que nascem das colunas da arcada da nave central e seguem até as

pilastras inseridas entre as capelas das naves laterais. 


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Imagem 12: planta da Basílica de São Lourenço


Fonte: WikiArchitectura

Imagem 13: Basílica de São Lourenço


Fonte: Wikipedia
17

Imagem 14: interior da Basílica de São Lourenço


Fonte: TripAdvisor

4.1.2.2 Igreja de Santo Spirito

A Igreja de Santo Spirito, localizada em Florença, e obra de Brunelleschi

iniciada em 1445, possui planta basilical em formato de cruz latina - com nave

central e duas naves laterais - e o considerado mais belo interior de monumento

religioso da renascença. Brunelleschi, de acordo com alguns historiadores, tinha a

intenção de fazer com que o perímetro externo da igreja tivesse uma série de

capelas semicirculares, porém os mecenas não concordaram e preencheram as

paredes até ficarem planas. Além disso, sua fachada nunca foi concluída, porém

Brunelleschi adotou meias-colunas às paredes das capelas, representando melhor

apropriação e manipulação da linguagem clássica.  


18

Imagem 15: planta da Igreja de Santo Spirito


Fonte: A História da Arquitetura Mundial

Imagem 16: fachada da Igreja de Santo Spirito


Fonte: Florence Choral
19

Imagem 17: interior da Igreja de Santo Spirito


Fonte: Dreamstime

4.1.3 Capela Pazzi

A Capela Pazzi é considerada a obra-prima da renascença, localizada no

claustro da basílica de Santa Cruz, em Florença, e projetada por Filippo

Brunelleschi, sua construção foi ordenada em 1429 por Andrea Pazzi, mas foi

concluída apenas em 1441. Ela possui uma cúpula hemisférica principal, duas

cúpulas laterais e uma abóbada de berço na entrada. Assim como na cúpula da

Catedral de Florença, Brunelleschi se inspirou nas tradições locais para encontrar os

motivos aplicados a esse projeto – no caso, a pedra serena cinza usada nos

elementos das molduras: pilastras, entablamentos e arcos. Além disso, a capela foi

projetada a partir da linguagem clássica e da geometria baseada em quadrados,

retângulos, semicírculos e círculos – semelhantes aos quadrados e círculos nos

quais se insere o Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci.


20

Imagem 18: imagem explodida da capela Pazzi


Fonte: Pinterest
21

Imagem 19: planta baixa e elevação da capela Pazzi


Fonte: Pinterest
22

4.1.4 Palácios Florentinos

Correspondente às residências renascentistas, os palácios florentinos

geralmente ocupavam uma quadra, possuíam um pátio central, eram compostos por

três andares e eram encimados por cornijas. A marcação dos pavimentos era

diferenciada conforme a altura, com a mesma pedra, porém com acabamentos

diferentes - no térreo, era utilizada a pedra mais rústica, no primeiro pavimento,

pedra tratada, e no terceiro, a pedra era a mais tratada. Há uma repetição regular de

esquadrias em cada andar, com a porta ao centro e marcada por uma varanda ou

elemento rústico. A cornija podia chegar até 2,5m e tinha ornamentos simétricos.

Possuíam planta quadrada ou retangular (com exceções) e geralmente tinham 2

entradas, uma para carro e outra para pedestre.

4.1.4.1 Palazzo Medici Riccardi

O projeto mais notável de Michelozzo Bartolomeo foi o Palácio Médici, o

primeiro palácio florentino projetado, em Florença, e a inspiração da tipologia. É

chamado de Palazzo Medici Riccardi por trazer consigo os nomes das famílias que

financiaram a construção, respectivamente. Michelozzo buscou trazer em seu

projeto, sua admiração pela fachada do Hospital dos Inocentes. Composto por três

andares, ocupa uma quadra inteira e possui planta quadrada com um pátio central -

servindo de núcleo de circulação para os outros cômodos, não havendo uma

circulação contínua - e colunas coríntias no seu interior. Como coroamento, possui

uma cornija que avança 2,4 metros a partir da fachada, com modilhões (com folhas

de acanto ou grandes mísulas), óvulos, dardos e dentículos. Típicas janelas

românicas duplas com arcos plenos são encontradas em toda a edificação.

Originalmente, o pavimento térreo tinha três arcos abertos ao longo da rua, sendo
23

que o central dava acesso ao pátio interno e aos cômodos usados nas operações

bancárias da família. Saindo do pátio, uma escadaria levava aos principais cômodos

da família no segundo pavimento ou plano nobre.

Imagem 20: planta baixa do Palazzo Medici Riccardi


Fonte: Jstor

Imagem 21: fachada do Palazzo Medici Riccardi


Fonte: Feel Florence

4.1.4.2 Palazzo Strozzi


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Exemplo perfeito das mansões nobres do renascimento, o Palazzo Strozzi,

situado na zona central de Florença, e projetado por Benedetto da Maiano - o

arquiteto do projeto original é incerto, pois tanto Benedetto da Maiano quanto

Giuliano da Sangallo forneceram um modelo. Filippo Strozzi, com a ambição de criar

“o maior e mais belo palácio” de Florença, levou 16 anos para adquirir o terreno no

“local mais conveniente e mais bonito da cidade". Com planta retangular

extremamente simétrica - foi necessário demolir edifícios pré-existentes para obter

os espaços simétricos desse palácio, o palácio possui um pátio central com colunas

coríntias que proporciona acesso aos demais cômodos. Também com 3 andares, e

seu terceiro piso sendo de serviço, suas janelas do térreo são tímidas para evitar

assaltos e pessoas indesejadas, enquanto nos pisos superiores se podem encontrar

duas séries de elegantes janelas duplas inscritas em arco pleno sobre cornijas

dentadas. Sua cornija, no coroamento do palácio em um dos lados, nunca foi

concluída. 

Imagem 22: planta baixa do Palazzo Strozzi


Fonte: wga.hu
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Imagem 23: fachada com cornija inacabada do Palazzo Strozzi


Fonte: Google Arts & Culture

4.1.4.3 Palazzo Rucellai

O Palazzo Rucellai está situado em Florença e foi projetado por Leon Battista

Alberti. Segundo Alberti, o arquiteto renascentista deveria ser um universalista, um

intelectual, um homem de gênio e um consorte das pessoas em posições de poder e

autoridade. Com base nesse princípio, foram aplicadas, no palácio Rucellai, pilastras

das ordens clássicas toscana e coríntia sobrepostas na fachada, demarcando os

pavimentos individuais do edifício. Esse foi o primeiro uso das ordens clássicas em

uma edificação doméstica renascentista. Ele ergueu a ordem do pavimento térreo

sobre um grande plinto com uma retícula em diamante para imitar a opus reticulatum
26

romana, na qual blocos de alvenaria em forma de diamante eram usados como

formas para as paredes de concreto. De planta trapezoidal, possui um pátio interno

não central - fugindo da simetria buscada na época - e uma cornija em cada

pavimento. Suas janelas do térreo são tímidas, enquanto as dos demais pavimentos

são janelas duplas inscritas em arco pleno.

Imagem 24: planta baixa do Palazzo Rucellai


Fonte: Pinterest
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Imagem 25: fachada do Palazzo Rucellai


Fonte: livro A História da Arquitetura Mundial

4.1.5 Templo Malatestiano

Sigismondo Malatesta contratou Alberti para modernizar a igreja de São

Francisco de Rimini, na Itália, construída no século XIII, cujas obras foram iniciadas

em 1450, mas nunca concluídas. Seu nome “Templo Malatestiano” se deu pela

quantidade de classicismo impregnado nas novas paredes da edificação. Malatesta

queria que a edificação servisse de túmulo para ele, sua esposa e os intelectuais de

sua corte humanista. Para os sepulcros dos intelectuais, Alberti decidiu subdividir as

laterais da edificação usando arcos plenos seguindo o modelo do Túmulo de

Teodorico, em Ravena. Na fachada frontal da Catedral de Rimini, Alberti sobrepôs a

elevação de um templo (pódio) a um arco de triunfo similar ao antigo Arco de

Augusto Romano. Ainda, entre as meia-colunas coríntias presentes na fachada


28

principal - apesar de não ter sido concluída, há dois portais falsos, com arcos. Alberti

atualizou seu interior gótico, com nave central única e capelas laterais, além de uma

abside com altar no final. Porém, a cúpula projetada não foi construída, e seu teto

não possui forro, apenas estruturas.

Imagem 26: planta baixa e elevação da Catedral de Rimini


Fonte: VvV

Imagem 27: teto incompleto da Catedral de Rimini


29

Fonte: VvV

4.2 O Cinquecento

No meado final do período quatrocentista e a partir do cinquecento, pintores e

arquitetos começaram a pensar na “cidade ideal renascentista”. Em geral, os

esquemas de cidades ideais desenhados por vários arquitetos renascentistas

ampliavam o conceito de centralização de modo a incluir ruas radiais e uma muralha

urbana poligonal com bastiões em forma de ponta de flecha nos vértices. As

muralhas das cidades renascentistas se tornaram mais baixas e protegidas por

taludes, para amortecer o impacto dos projéteis; além disso, sistemas complexos de

diques e fossos implantados na área aberta depois da muralha impediam o avanço

do exército inimigo. 

Principiando-se, Alberti sugeriu uma igreja com planta baixa centralizada e

implantada em uma ampla praça no meio da cidade, com a cidade se ramificando a

partir dessa igreja. Propôs, ainda, que os arranjos deveriam se preocupar com a

conveniência e a higiene, recomendando que as instalações usadas em atividades

poluentes, como tinturarias e abatedouros, ficassem longe dos bairros residenciais;

além disso, estudou a localização dos equipamentos de recreação e as dimensões

de ruas e espaços abertos em relação à altura das edificações. Propôs as plantas

baixas de moradias individuais de acordo com as necessidades e os usos de seus

usuários. 

Por outro lado, Leonardo Da Vinci propôs uma cidade em dois níveis, com

separação de pedestres e veículos; e, quando a peste negra de 1485 matou cinco

mil pessoas em Milão, sugeriu a construção de 10 cidades-satélites – cada uma com

capacidade para 30 mil pessoas – de modo a reduzir a possibilidade de epidemias

subsequentes. 
30

Imagem 28: a cidade ideal de Leonardo Da Vinci


Fonte: Matraca cultural

Imagem 29: a cidade ideal de Leonardo Da Vinci


Fonte: Slideshare

Contudo, a criação da cidade ideal era mais concretizada por pintores do que

arquitetos, pois os primeiros não eram limitados pelas dimensões físicas das cidades

reais e pelos custos associados a demolições e novas construções. 

4.2.1 Tempietto

O Tempietto de San Pietro, localizado dentro do pátio do convento de San

Pietro, em Roma, e projetado por Donato Bramante, representa o apogeu do

renascimento, e é a mais emblemática obra de Bramante. Possui planta circular com

dois pavimentos, coroado por uma cúpula hemisférica, elevado por embasamento e
31

circundado por uma colunata toscana - peristilado. Sobre a colunata, há o

entablamento, e o tambor - onde fica a balaustrada e a cornija abaixo da cúpula. É a

obra renascentista com mais itens clássicos na sua confecção.  No geral, o

Tempietto é um túmulo comemorativo que compreende uma cripta com as relíquias

de São Pedro, construído sobre o ponto onde se acreditava que São Pedro fora

martirizado. Apesar de sua forma projetada nunca ter sido executada, ela previa a

criação de um claustro circular e a inserção de um templo também em seu interior,

como visto na imagem 30. 

Imagem 30: planta baixa do Tempietto de San Pietro


Fonte: livro A História da Arquitetura Mundial
32

Imagem 31: Tempietto de San Pietro


Fonte:  livro A  História da Arquitetura Mundial

4.2.2 Igrejas e basílicas 

Antes de comentarmos sobre os exemplos de igrejas e basílicas, cabe expor

que enquanto os arquitetos do Protorrenascimento e do Alto Renascimento viam as

edificações clássicas como modelos a serem seguidos, os arquitetos do

Renascimento Tardio, também chamados de maneiristas, buscavam obter uma

expressão artística mais pessoal por meio da manipulação criativa e pessoal da

linguagem clássica. Os maneiristas buscavam a desarmonia, a discórdia, o

desequilíbrio, a tensão, a distorção e os conflitos não solucionados. Entre os

maneiristas mais criativos encontram-se Rafael, Giorgio Vasari e Giulio Romano,

Michelangelo Buonarroti e Andrea Palladio. 

4.2.2.1 Santa Maria Delle Grazie


33

A Igreja de Santa Maria Delle Grazie, localizada em Milão e inicialmente

construída em estilo gótico, recebeu uma reforma na renascença - em 1494, por

Donato Bramante. De planta retangular, dispõe de nave uma central e duas naves

laterais. Sua abside é amplamente conhecida ter sido projetada por Donato

Bramante. Na parede do refeitório do convento, há a pintura “A última ceia” de

Leonardo Da Vinci. Apesar da igreja ter sido bombardeada na segunda guerra e ter

grande parte do refeitório destruído, a parede com a pintura de Da Vinci sobreviveu

pois foi cercada por sacos de areia para protegê-la.

Imagem 32: planta baixa da Igreja de Santa Maria Delle Grazie


Fonte: WikiArquitectura
34

Imagem 33: convento da igreja

Fonte: Wikipédia

Imagem 34: fachada da Igreja Santa Maria Delle Grazie

Fonte: Last Super Tickets


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Imagem 35: pintura “A última ceia” no refeitório do convento

Fonte: Warburg

4.2.2.2 Basílica de San Pietro in Vincoli

A Basílica de San Pietro in Vincoli, de acordo com a lenda, foi construída

ainda no período republicano para abrigar a corrente que prendeu San Pietro

quando ele esteve em Jerusalém. Localizada em Roma, a igreja passou por diversas

reformas, e foi na renascença, com Giuliano da Sangalo, que ela recebeu o

Claustro. De planta basilical, possui uma nave central e duas naves laterais

separadas por colunas toscanas, e é terminada em três absides. Suas naves laterais

são cobertas por abóbadas de aresta e sua nave principal por um teto em caixotões,

além do afresco “Milagre das correntes”, de Giovanni Battista.


36

Imagem 36: planta baixa da basílica de San Pietro in Vincoli

Fonte: Wikipédia

Imagem 37: claustro da basílica de San Pietro in Vincoli

Fonte: Wikipédia
37

Imagem 38: fachada da basílica de San Pietro in Vincoli

Fonte: Mundo Vasto Mundo

4.2.2.3 Basílica de San Giorgio Maggiore

A Igreja de San Giorgio Maggiore, está localizada na pequena ilha de San

Giorgio Maggiore, em Veneza. Ela faz parte do mosteiro homónimo, ambos

projetados pelo arquiteto Andrea Palladio, sendo suas obras mais destacas. Sua

fachada é similar à de dois templos clássicos inscritos um no outro, com colunas de

ordem colossal destacadas por plintos – na fachada do templo maior – e pilastras na

fachada do templo menor, além de um entablamento sustendo um tímpano clássico

em cada fachada de templo. Possui planta em cruz latina com uma nave central e

duas naves laterais separada por semicolunas sustentadas por plintos e pilastras,

ambas de ordem coríntia. Além disso, ela dispõe de sua abside alongada e possui

uma cúpula hemisférica acima do cruzeiro.


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Imagem 39: corte e planta baixa da igreja de San Giorgio Maggiore

Fonte: Pinterest
39

Imagem 40: fachada da igreja de San Giorgio Maggiore

Fonte: Touring Venice

Imagem 41: interior da igreja de San Giorgio Maggiore

Fonte: Wikipédia
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4.2.2.4 Igreja do Redentor

A Igreja do redentor, obra de Andrea Palladio, e situada em Veneza, possui a

fachada baseada em templos clássico, assim como a igreja de San Giorgio

Maggiore comentada anteriormente. De planta retangular com nave única, capelas

laterais e três absides que comunicam com sua cúpula hemisférica central. Sua

fachada, em mármore branco, é um dos mais impressionantes exemplos da

inspiração clássica que Palladio buscava em suas obras. Possui quatro tímpanos

triangulares e um retangular que cruzam entre si, sustentados por um entablamento,

pilastras e semicolunas de ordem coríntia.

Imagem 42: fachada da igreja do Redentor

Fonte: Wikipédia

Imagem 43: planta baixa da igreja do Redentor

Fonte: Wikipédia
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4.2.2.5 Igreja de San Francesco della Vigna

A Igreja de San Francesco della Vigna foi inicialmente construída em estilo

gótico e reformada posteriormente na renascença, por Andrea Palladio. Localizada

em Veneza, é a segunda maior igreja franciscana da região. O edifício possui planta

retangular com nave única e capelas laterais, além de um coro profundo. Sua

fachada é similar à da igreja de San Giorgio Maggiore, com dois templos clássicos

inscritos. Porém, contém uma portada e uma abertura para iluminação, e suas

colunas, semicolunas e pilastras são elevadas por lintéis.

Imagem 44: fachada da igreja de San Franccesco della Vigna

Fonte: Wikipédia
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Imagem 45: planta baixa da igreja de San Franccesco della Vigna

Fonte: The Churches Of Venice

4.2.3 Biblioteca Medicea Laurenziana

A Biblioteca Medicea Laurenziana, projetada por Michelangelo Buonarroti e

situada no claustro da Basílica de São Lourenço, em Florença, é um exemplo da

arquitetura maneirista. O claustro pré-existente não sofreu alterações com a adição

da biblioteca, porém, para isso ser possível, Michelangelo teve de criar novas

paredes sobre as paredes do claustro, e utilizar de meias colunas por necessidades

estruturais – o que fez com que se tornasse um estilo único de Michelangelo. A obra

possui planta retangular composta por um vestíbulo, uma escadaria e uma sala de

leitura, e foi baseada na perfeição e equilíbrio das formas. Sua escadaria é

destaque, tendo seu projeto mudado diversas vezes antes da confecção da

escadaria atual. Seu teto é trabalhado em madeira com caixotões e seu piso com

mosaicos em mármore.
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Imagem 46: planta baixa e elevação da Biblioteca Laurenziana

Fonte: Architecture: ground plans

Imagem 47: escadaria da Biblioteca Laurenziana

Fonte: Wikipédia
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Imagem 48: chão em mármore e teto com caixotões da Biblioteca Laurenziana

Fonte: Wikipédia

4.2.4 Campidoglio

Construído para sediar o desfile em honra do imperador Carlos V, o

Campidoglio - atual prefeitura de Roma – foi uma encomenda, do Papa Paulo III

para Michelangelo, de remodelação da praça do capitólio. Essa obra deu à

Michelangelo a oportunidade de restaurar o esplendor da cidade de Roma,

simbolizando a “Nova Roma”.

Voltado para o Vaticano, a obra constitui de três edifícios distintos – Palazzo

Senatorio, Palazzo dei Conservatori e Palazzo Nuovo - com uma escadaria de

acesso para a praça que eleva os edifícios. Apesar de o terreno em que foi

construído ter formato trapezoidal e nenhuma forma “perfeita” podendo ser utilizada,

Michelangelo utilizou o formato oval como união das geometrias do círculo e

quadrado. Por conta disso, as fachadas dos Palazzo dei Conservatori e Palazzo

Nuovo não são paralelas uma à outra.


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Uma grande escadaria exterior dupla proporciona o acesso para o Palazzo

Senatorio. Esse, possui um campanário central, e sua fachada é composta por

pilastras coríntias de ordem colossal e um encoroamento formado por uma cornija e

encimado por balaustrada. O Palazzo dei Conservatori é constituído por um pórtico

com entablamento e um teto com caixotões. O entablamento repousa sobre colunas

e semicolunas jônicas em cada abertura – há também semicolunas jônicas que

ladeiam as janelas do segundo andar, que por sua vez, são encimadas por frontões.

Pilastras de ordem colossal ligam o pórtico ao andar superior, e uma cornija seguida

de uma balaustrada encoroam o Palazzo, finalizando sua fachada. O Plazzo Nuovo,

por sua vez, possui a fachada igual à do Palazzo dei Conservatori, completando a

simetria buscada por Michelangelo.

Imagem 49: Piazza del Campidoglio

Fonte: Wikipédia
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Imagem 50: fachada do Palazzo Senatorio

Fonte: Wikipédia

Imagem 51: fachada do Palazzo dei Conservatori

Fonte: Wikipédia

Imagem 52: fachada do Palazzo Nuovo

Fonte: Wikipédia

4.2.5 Villa Capra


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Também conhecida como Villa Rotonda, a Villa Capra é uma das mais belas

e famosas Villas de Andrea Palladio, ilustrando perfeitamente o significado do

classicismo. Localizada em Vicenza, o edifício de campo é de cunho aristocrata

projetado para a família Capra. A Villa é baseada nos templos clássicos,

apresentando quatro fachadas idênticas as de templos romanos e entre si mesmas –

elevadas por um pódio, com embasamento, colunata de ordem jônica,

entablamento, tímpano e acróteras. A Villa é extremamente simétrica até em seu

interior, obedecendo a uma racionalidade geométrica e matemática. Possui planta

quadrada e cúpula central com seu interior decorado por balaustrada. Foi muito

replicada, gerando o estilo Palladio.

Imagem 53: planta baixa da Villa Capra

Fonte: Wikipédia

Imagem 54: fachada da Villa Capra


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Fonte: Wikipédia

Imagem 55: interior da cúpula

Fonte: Wikipédia

4.2.6 Teatro Olímpico

Localizado em Vicenza e projetado por Andrea Palladio, o Teatro olímpico é

inspirado nos teatros romanos – formato semicircular constituído de arquibancada,

cena, proscênio e orquestra - porém é coberto e fechado. Sua fachada e seu interior

são feitos em mármore branco, e na cena, encontra-se uma pintura perspectivada

de uma rua, dando ao espectador a impressão de estar olhando uma rua por uma

abertura. Seu teto dispõe de caixotões e pinturas simulando céu, a fim de

proporcionar a impressão de um teatro aberto, como os clássicos romanos.


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Imagem 56: perspectiva explodida do Teatro Olímpico

Fonte: Teatro Olímpico Vicenza

Imagem 57: planta baixa do Teatro Olímpico

Fonte: Wikipédia
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Imagem 58: interior do Teatro Olímpico

Fonte: Wikipédia

5. Análise da obra escolhida

5.1 Basílica de São Pedro

A Basílica de São Pedro, localizada no Vaticano, em Roma, é a maior basílica

do mundo, possuindo área de 23.000 m², sendo 220 m de comprimento e 150 m de

largura. Ela é considerada uma obra prima do Renascimento. Foi construída no local

onde foi sepultado o apóstolo de Jesus Cristo São Pedro e sua construção foi

iniciada em 1506 e durou cerca de 120 anos, passando pelas mãos de diversos

arquitetos italianos.

Imagem 59: Basílica de São Pedro


Fonte: Ensinar História
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Imagem 60: Perspectiva da Basílica de São Pedro


Fonte: Pinterest

Inicialmente, o primeiro imperador cristão de Roma Constantino foi quem

ordenou a construção da Basílica. Ela era inicialmente um pequeno santuário que

cresceu ao longo dos séculos. Foi durante o século XV que a Basílica sofreu uma de

suas maiores alterações. Ela foi restaurada e ampliada por ordem do papa Nicolau

V, que infelizmente faleceu e as obras foram abandonadas. A Basílica só iria

começar a ganhar a forma que é hoje em 1506, quando o Papa Júlio II decidiu

derrubar a antiga igreja e edificar uma nova Basílica que, como mencionado

anteriormente, demorou cerca de 120 anos para ser edificada.

O arquiteto incumbido de construir, inicialmente, a Basílica foi Donato Bramante.

Seu projeto é considerado ousado: ao invés de propor uma igreja em formato de

cruz latina, como usualmente eram feitas, ele propôs em formato de cruz grega, com

uma grande cúpula central. Segundo ele, sua estrutura representava uma

edificação na escala das Termas de Diocleciano coroada por um domo similar ao do

Pantheon.
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Imagem 61: Termas de Diocleciano

Fonte: Pinterest

Imagem 62: Panteão de Roma


Fonte: Desenho Clássico Blogs
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Imagem 63: Planta Baixa da Basílica de São Pedro por Bramante

Fonte: livro A História da Arquitetura Mundial

Na verdade, o conceito estrutural de cúpula com tambor tinha mais em

comum com as obras bizantinas, que foram inspiradas nas romanas, do que com

qualquer construção romana propriamente dita.

Entre os anos de 1513 e 1514, tanto Júlio II como Bramante morreram,

deixando em herança aos sucessores deles somente os quatro gigantescos pilares

que deveriam sustentar a cúpula. Em seguida, o artista responsável pela

continuidade da obra foi Raffaello, mas este acabou falecendo aos 37 anos e seu

projeto não foi posto em prática. Ele propunha a Igreja em formato de cruz latina.

Em seguida, foi a vez de Sangallo, que foi arquiteto da Fábrica de São Pedro

de 1520 a 1546. Ele ampliou a planta de Bramante, de modo a cobrir toda a

superfície da antiga basílica. Para isso, o arquiteto projetou uma fachada entre duas

torres sineiras ligada ao corpo principal da igreja por um vestíbulo. A pedido do Papa

Paulo III, Sangallo realizou um modelo sistemático em madeira de seu projeto. Esse

trabalho levou cerca de oito anos, e uma quantia de dinheiro que teria sido suficiente
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para construir uma igreja de verdade. O modelo de 4,5 metros de altura é o maior do

Renascimento e pode ainda ser admirado em uma das salas octogonais de São

Pedro, que se situam no alto, acima das quatro grandes Capelas Angulares.

Imagem 64: Modelo sistemático da Basílica em madeira


Fonte: Flickr

Com a morte de Sangalo, veio o ilustre Michelangelo Buonarroti. Como ele

não gostava dos trabalhos do seu antecessor, decidiu demolir boa parte do que este

havia feito, recomeçando o projeto da fase de Bramante. Michelangelo foi o

responsável pela concepção da enorme cúpula que está presente na edificação. Tal

cúpula foi inspirada na cúpula da Catedral de Florença, projetada por Brunelleschi. A

cúpula da Basílica de São Pedro tem um diâmetro externo de 59 m e interno de 41,5

m. Seu interior é altamente adornado por grandes e ricos mosaicos, representando

figuras de motivos religiosos, como imagens de Cristo, da Virgem Maria e de seus

apóstolos, bem como dos bustos dos 16 papas enterrados na Basílica.


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Imagem 65: cúpula da basílica de São Pedro

Fonte: Viagem e Turismo

Imagem 66: adornos da cúpula

Fonte: St. Peter's Basilica Tickets

Em sua vida, Michelangelo conseguiu apenas concluir o tambor com as

colunas da cúpula. Coube a Giacomo della Porta e a Domenico Fontana concluí-la,

o que foi realizado com êxito no tempo recorde de dois anos.

Nesse contratempo, por volta de 1603, a antiga Basílica ainda existia e

aumentava-se os adeptos daqueles que não queriam a derrubada dela, mas que

sugeriam usá-la como um tipo de átrio para o novo templo. Apesar disso, o Papa
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Paulo V ordenou a derrubada dela. Maderno, o novo arquiteto da obra, teve como

função na continuidade da obra estender a ala leste da nova igreja, incorporando,

assim, a superfície da antiga basílica. Desse modo a fachada ficaria muito mais na

frente. Maderno realizou uma estrutura de três naves para ligá-la ao edifício de

Michelangelo. A Basílica de São Pedro obteve, então, uma forma longitudinal, em

cruz latina. Comparando ao projeto de Michelangelo, agora a cúpula seria colocada

em uma posição recuada em relação à entrada. Como a fachada era plana demais

para realçar a cúpula, pensou-se em enquadrá-la entre duas torres sineiras. Porém

nenhum arquiteto conseguiu realizar tal feito.

Imagem 67: Planta latina final da Basílica


Fonte: Wikipedia

Só em 1626 que a Basílica foi concluída e o ato de consagração foi realizado

pelo Papa Urbano VIII. A missão de preenchê-la foi dada a Bernini, o qual além de

ter decorado os quatro pilares da cúpula, realizou outros feitos, como a


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pavimentação, decoração dos túmulos e do conjunto de colunas da fachada da

Basílica.

6. Conclusão

A partir dos aspectos abordados no presente trabalho, é evidente a enorme

contribuição do Renascimento para o desenvolvimento técnico-científico-cultural do

mundo moderno nas mais diversas áreas, sobretudo na arquitetura. Nesse quesito,

tem-se o desenvolvimento de uma nova forma de pensar a arquitetura, não mais

apegada aos dogmas religiosos, como no gótico, mas sim tendo como base a

racionalidade, advinda da filosofia antropocentrista e humanista.

Nesse quesito arquitetônico, destacam-se construções leves, esbeltas e belamente

adornadas, nas mais diversas tipologias do período, com destaque para as igrejas e

Basílicas, que, em sua maioria, apresentavam enormes cúpulas centrais ricamente

adornadas em seu interior. Ademais, outro fator digno de observação é a

continuidade que se tem com estilos arquitetônicos anteriores, sobretudo os

clássicos greco-romanos, como por exemplo no constante uso de abóbadas de

berço e colunas clássicas.

7. Referências

https://pt.wikipedia.org/wiki/

https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788580550382/pageid/304

https://www.jstor.org/stable/3048729

https://www.palazzostrozzi.org/il-palazzo/

https://www.wga.hu/support/plans/m/maiano/benedett/strozzi.html

https://artsandculture.google.com/entity/m07hrx5?hl=pt
58

https://veracidadeversusmentira.blogspot.com/2018/11/4-22nov18-leon-battista-

alberti.html

https://matracacultural.com.br/2020/02/22/exposicaointerativa-sobre-leonardo-da-

vinci-e-prorrogada-ate-31-de-maio/

https://en.wikiarquitectura.com/building/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Bas%C3%ADlica_de_S%C3%A3o_Pedro
https://www.uv.es/mahiques/ENCICLOPEDIA/MICHELANGELO_ARQUITECTE/
BibliotecaLaurenziana.pdf
https://www.teatrolimpicovicenza.it/en/

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