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Mestrado em Engenharia Mecânica

Estruturas Compósitas e Celulares


2021/2022

Reciclagem de compósitos de fibras de vidro

Grupo de trabalho:

João Filipe da Fonte Machado (111331)


Catarina Pereira (102097)

Professores:

Professor Alfredo Morais


Professora Isabel Duarte

Aveiro, 14/06/2022
Resumo
De forma de obter novos conhecimentos e aprofundá-los sobre os temas
relacionados com a unidade curricular, foi proposto, no âmbito da unidade curricular
Estruturas Compósitas e Celulares, um trabalho de pesquisa e análise sobre um tema à
escolha do grupo de trabalho. Logo, o tema escolhido por este grupo de trabalho foi o
seguinte: “Reciclagem de compósitos de fibras de vidro”.

Inicialmente, vai-se definir o que é um compósito de fibra de vidro analisando os


seus constituintes e descrevendo as suas propriedades mecânicas. Após uma
caracterização geral deste material, vai-se procurar por possíveis soluções de reciclagem.
Esta reciclagem pode ser parcial ou total, dependendo da tecnologia utilizada ou pela
qualidade do material por reciclar.

A metodologia usada para responder a este problema de reciclagem de compósitos


de fibras de vidro passará bastante pela pesquisa e análise de artigos científicos, ou seja,
uma revisão bibliográfica.

Todo este trabalho tem como objetivo não só a obtenção de novos conhecimentos,
mas também o aumento da sensibilidade dos estudantes relativamente aos problemas
atuais relacionados com a reciclagem e o ambiente.

2
Índice

1.Introdução .................................................................................................................................. 6
2.Compósito de fibra de vidro....................................................................................................... 6
2.1 Propriedades ....................................................................................................................... 8
2.2 Aplicações............................................................................................................................ 9
2.3 Processos de fabrico.......................................................................................................... 11
2.3.1 Moldação por Contacto.............................................................................................. 11
2.3.1.1 Moldação por projeção ....................................................................................... 11
2.3.1.2 Moldação Manual ............................................................................................... 12
2.3.2 Moldação por injeção a baixa pressão e por transferência ....................................... 13
2.3.3 Enrolamento filamentar ............................................................................................. 13
3.Processos de reciclagem de compósitos de fibra de vidro ...................................................... 14
3.1 Métodos mecânicos .......................................................................................................... 15
3.2 Métodos térmicos ............................................................................................................. 16
3.2.1 Pirólise ........................................................................................................................ 16
3.2.2 Processo de leito fluidizado ....................................................................................... 16
3.3 Métodos químicos ............................................................................................................. 17
4. Comparação dos vários processos de reciclagem ................................................................... 17
5. Exemplos de métodos para a reciclagem dos compósitos ..................................................... 18
5.1 Reciclagem de placas de circuitos ................................................................................. 18
5.2 Reciclagem de pás de turbinas eólicas .......................................................................... 21
7.Referências bibliográficas ........................................................................................................ 25

3
Lista de figuras
Figura 1 - Compósitos reforçados com fibras de vidro: (a) descontínuas unidirecionais; (b)
descontínuas aleatórias; (c) contínuas multidirecionais [4] ......................................................... 7
Figura 2 - Local onde é aplicado compósito de fibras de vidro numa pá eólica. [8, 9] ............... 10
Figura 3 - Outros exemplos de aplicações do compósito de fibras de vidro. [10, 11] ................ 11
Figura 4 - Representação esquemática do processo de moldação por projeção.[13]................ 12
Figura 5 - Esquema do processo de moldação manual.[14] ....................................................... 12
Figura 6 - Esquema do processo de moldação por injeção e baixa pressão e por
transferência.[15] ........................................................................................................................ 13
Figura 7 - Esquema do funcionamento do processo de enrolamento filamentar.[16] .............. 14
Figura 8 - Pás eólicas depositadas num aterro sanitário.[17] ..................................................... 14
Figura 9 - Diagrama esquemático em que mostra as possíveis soluções para gerir resíduos de
compósitos.[19]........................................................................................................................... 15
Figura 10 - Esquema das etapas necessárias para a recuperação dos constituintes das
placas.[20] ................................................................................................................................... 19
Figura 11 - (A) placa RAM, (B) amostras da placa obtidas pelo corte, (C) mistura resultante do
“inchaço” orgânico, (D)” gold fingers”, (E) ouro purificado, (F) laminados de cobre e fibra de
vidro separados.[20] ................................................................................................................... 20
Figura 12 - Método picnométrico caseiro.[20] ........................................................................... 21
Figura 13 -Esquema das etapas necessárias para a decomposição do compósito.[21] ............. 22
Figura 14 - As propriedades mecânicas das fibras de vidro “virgens” (VGF) e das amostras
testadas (RGF).[21] ...................................................................................................................... 23

4
Lista de tabelas
Tabela 1 – Propriedades de alguns tipos de fibras de vidro.[5]…………………………4
Tabela 2 – Tabela de propriedades do compósito reforçado com fibra de vidro.[6]…….5
Tabela 3 – Síntese dos vários métodos de reciclagem.[19]…………………………….17

5
1.Introdução
Com o aumento da produção e do consumo mundial de vários tipos de produtos,
a preocupação pela sustentabilidade ambiental está a aumentar. Para combater este fator
foi criado um processo de conversão de desperdício em materiais ou produtos de potencial
utilidade. Este processo chama-se reciclagem e permite reduzir o consumo de matérias-
primas, de utilização de energia e pôr fim à emissão de gases de efeito estufa.[1] No
entanto, sabe-se que cerca de 70% dos resíduos que produzimos em Portugal são
recicláveis, mas apenas 38% dos resíduos recicláveis entram em fluxos de preparação
para reciclagem, ou seja, maior parte dos resíduos acabam em aterros sanitários. Isto pode
ser explicado pela falta de sensibilização da população em geral.[2]

Este trabalho tem como foco pesquisar métodos e soluções para reciclar materiais
compósitos de fibra de vidro. No caso destes compósitos, maior parte dos resíduos vão
para o aterro sanitário devido à falta de métodos eficazes de reciclagem deste material.
Essa dificuldade é justificada pelo facto de um compósito ser uma combinação de dois
ou mais materiais o que dificulta a sua reciclagem; neste caso trata-se de uma combinação
de uma matriz polimérica, por exemplo resina époxi e uma fibra de reforço (fibra de
vidro).

No início deste trabalho, procurou-se conhecer primeiro o material descrevendo


de forma sucinta as suas propriedades, as suas aplicações e processos de fabrico. Por fim,
pretendeu-se conhecer possíveis métodos de reciclagem e de reutilização do compósito,
avaliando a rentabilidade do processo inerente à relação custo-benefício.

2.Compósito de fibra de vidro


Como já foi referido, um compósito de fibra de vidro é formado por uma matriz e
por um reforço. A matriz é geralmente composta por um material com tenacidade e
ductilidade maiores, e resistência mecânica e rigidez menores. O reforço, por outro lado,
é formado por um material mais rígido e resistente, porém, com menores tenacidade e
ductilidade. Esta combinação leva a que este material seja anisotrópico, ou seja, as suas
propriedades mecânicas, físicas, térmicas ou elétricas num ponto do material variam em
função da direção. Por esta razão, as propriedades são funções complexas de vários
parâmetros. Para simplificar, o foco deste trabalho é os compósitos de fibras de vidro com
matriz polimérica, mais concretamente, os termoendurecíveis.[3]

6
Na escolha do termoendurecível para o fabrico do compósito, tem de se ter em
conta a sua viscosidade e a interação entre o reforço e o termoendurecível (molhagem e
adesão), pois estes fatores estão relacionados com desempenho do compósito.
Normalmente, a resina epóxi é utilizada como matriz, pois apresenta alta resistência à
tração e compressão e boa resistência química a solventes, além de ter um baixo custo
associado e facilidade de processamento.[3]

Em relação às fibras de vidro, é importante realçar o facto de serem um dos tipos


de reforços mais utilizados no fabrico de materiais compósitos. Isto deve-se às várias
características destas fibras tais como boa adesão fibra-matriz; elevada resistência
mecânica específica e estabilidade dimensional. Além disso, apresentam preços
competitivos, disponibilidade e uma elevada resistência mecânica. Esta resistência
mecânica é tanto maior quanto maiores forem, a relação comprimento/diâmetro da fibra
e a adesão interfacial entre fibra e matriz.[3]

Durante o fabrico de compósitos de fibras de vidro, tem de se ter atenção ao


arranjo ou orientação das fibras entre si, a sua concentração e a sua distribuição, pois têm
uma influência significativa sobre a resistência e sobre outras propriedades.[3] A figura
1 mostra algumas formas de colocar o reforço na matriz.

Figura 1 - Compósitos reforçados com fibras de vidro: (a) descontínuas unidirecionais; (b) descontínuas aleatórias;
(c) contínuas multidirecionais [4]

7
Para além de diferentes formas de distribuição de fibras na matriz, existem
também diferentes tipos de fibra. Atualmente, existem pelo menos três tipos de fibras
produzidas sob a forma de fio que é o caso das fibras E, S e R. Os tipos S e R são
produzidas a partir de vidro de alta resistência, possuindo assim melhores propriedades
do que as fibras do tipo E. [5] Na tabela 1 está indicado algumas das propriedades de
vidro E, S e R.

Tabela 1 – Propriedades de alguns tipos de fibras de vidro.[5]

2.1 Propriedades
Como já foi dito, as propriedades deste material variam muito. Basta alterar a
forma como se distribui as fibras na matriz que já diferencia o tipo de aplicação deste
material. Por exemplo, para compósitos de fibras de vidro de alta-performance, são
utilizadas fibras continuas; os compósitos que possuem fibras de vidro descontínuas são
mais baratos e com maiores quantidades de fibra. Em relação à matriz, esta tem como
função proteger as fibras do dano causado pelo manuseamento ou por fatores externos
(alterações climáticas), e limita a temperatura de serviço e as condições de produção. Com
estas características, podemos concluir que existe uma grande variedade de tipos de
compósitos de fibras de vidro.[6] Na tabela 2 está apresentado um exemplo das
propriedades de um compósito reforçado com fibras de vidro contínuas0°, ±45° 𝑒 90°)
com a matriz epóxi.

8
Tabela 2 – Tabela de propriedades do compósito reforçado com fibra de vidro.[6]

2.2 Aplicações
O compósito de fibra de vidro é um material extremamente versátil devido às suas
propriedades mecânicas e características únicas, tal como boa resistência mecânica em
relação ao peso. Por esta razão, é expectável que compósitos de fibra de vidro sejam cada
vez mais utilizados em várias indústrias.[7]

No caso da indústria aeroespacial e aviação, compósitos de fibra de vidro já são


muito usados, não para elementos estruturais, mas para outros elementos como por
exemplo os compartimentos de armazenamento de malas de mão.

Na indústria marinha, os compósitos de fibras de vidro têm uma presença


dominante. Sem os compósitos de fibra de vidro, a quantidade e qualidade dos veículos
marítimos nunca teria atingido os níveis que tem hoje, pois outros métodos de construção

9
são simplesmente muito caros para produção em volume. Atualmente, as resinas
utilizadas apresentam uma maior resistência à absorção de águaNo início, havia
problemas com as resinas absorverem água, só que atualmente as resinas usadas são mais
resistentes neste especto.[7]

Uma secção em que cresceu muito o uso deste material foi no fabrico de pás para
uma turbina eólica.[7] Mais à frente neste trabalho, irá ser explicado um método de
reciclagem de pás eólicas de forma detalhada. Na figura 2, está representado as zonas
onde se aplicam compósitos de fibras de vidro numa pá eólica.

Figura 2 - Local onde é aplicado compósito de fibras de vidro numa pá eólica. [8, 9]

Para além disso, o desporto é uma das áreas onde estes compósitos têm maior
utilidade, estando presentes em pranchas de surf, varas de salto, entre outros. Contudo, a
sua presença é mais pronunciada em desportos automóveis, tanto na produção de
componentes mais pequenos, como discos de embraiagem e pastilhas de travões, como
na produção de componentes de dimensões mais elevadas, como para-choques, guarda-
lamas, e até mesmo carroçarias, pois é capaz de manter o compromisso entre redução de
peso e boas propriedades mecânicas.[7]

Por fim, a utilização de fibra de vidro está bastante presente na indústria militar
contribuindo para a produção de capacetes, escudos e entre outras aplicações.[7] A figura
3 ilustra alguns exemplos de aplicação deste material.

10
Figura 3 - Outros exemplos de aplicações do compósito de fibras de vidro. [10, 11]

2.3 Processos de fabrico


Designa-se por processo de fabrico ao conjunto de técnicas que conduzem à
obtenção de um material ou componente com utilidade. Neste caso procura-se os métodos
utilizados para fabricar o compósito de fibras de vidro.

Os diferentes processos podem ser divididos em dois tipos: processos em molde


aberto ou processos em molde fechado. O processo em molde aberto só possui uma das
superfícies com bom acabamento; porém, permite produzir peças de grandes dimensões
e de geometria complexa. Utilizando um molde fechado, obtém-se um excelente
acabamento nas duas superfícies, com menor emissão de produtos voláteis do que o
processo de molde aberto. Serão referidos alguns processos de cada um dos tipos.[12]

2.3.1 Moldação por Contacto


Moldação por contacto é o processo mais económico e comum, especialmente em
compósitos de fibra de vidro. Pode-se distinguir dois grupos pela forma que é realizada
(automática ou manual) e são chamados por: moldação por projeção e moldação
manual.[12]

2.3.1.1 Moldação por projeção


Na moldação por projeção, ocorre a projeção da fibra impregnada numa resina
que é catalisada através de uma pistola de mão diretamente para o molde. Neste processo
as fibras são inseridas de forma aleatórias, o que leva à criação de produtos com baixas
propriedades mecânicas.[12] A figura 4 ilustra um esquema deste processo.

11
Figura 4 - Representação esquemática do processo de moldação por projeção.[13]

2.3.1.2 Moldação Manual


A moldação manual é um dos processos mais utilizados, mas não representa o de
maior produção devido à sua baixa cadência de produção. Aqui, as fibras são colocadas
no interior do molde e a resina é introduzida e impregnada manualmente. Por esta razão
este processo apresenta baixo custo de equipamentos e elevada versatilidade na forma, no
tamanho e na configuração das fibras.[12] Na figura 5 está ilustrado o funcionamento
deste processo.

Figura 5 - Esquema do processo de moldação manual.[14]

12
2.3.2 Moldação por injeção a baixa pressão e por transferência
O processo de moldação por injeção a baixa pressão e por transferência é indicado
para a produção de componentes compósitos de matriz termoendurecivel. Consiste na
colocação das fibras de vidro no interior da cavidade no molde. Um segundo molde é
colocado sobre o primeiro e de seguida a resina é injetada a baixa pressão para o interior
da cavidade existente entre eles. Com este processo é possível obter um produto com
elevado teor de fibra, número de vazios reduzido e ainda elevada qualidade
superficial.[12] Na figura 6 está representado um esquema de uma das variantes deste
processo.

Figura 6 - Esquema do processo de moldação por injeção e baixa pressão e por transferência.[15]

2.3.3 Enrolamento filamentar


Enrolamento filamentar é um processo automatizado usado para fabricar
estruturas cilíndricas ou secções ovais, como tanques. Neste caso, as fibras são
introduzidas com diferentes orientações e controladas pela velocidade de rotação do rolo.
Antes de serem processadas as fibras são embidas na resina e de seguida são enroladas
num mandril com o formato do produto final. Este processo é caracterizado pela sua
elevada exatidão, baixo custo e a capacidade de usar as fibras contínuas em toda área do
componente.[12] A figura 7 ilustra o esquema deste processo.

13
Figura 7 - Esquema do funcionamento do processo de enrolamento filamentar.[16]

3.Processos de reciclagem de compósitos de fibra de vidro


Com a crescente utilização de materiais compósitos nos últimos anos, devido às
suas propriedades mecânicas, existe um aumento de produção de peças com este material
que estão em fora de serviço. O destino destas peças é normalmente o aterro sanitário,
pois não há um processo simples, eficiente e barato de reciclar totalmente este material.
Além disso, colocar estes resíduos num aterro sanitário tem efeitos negativos para o
ambiente, pois não são biodegradáveis, apresentando assim um tempo de vida bastante
elevado.[12] A figura 8 mostra um exemplo das pás eólicas a ser depositadas num aterro
sanitário.

Figura 8 - Pás eólicas depositadas num aterro sanitário.[17]

14
Contudo, está a emergir novas tecnologias e métodos para reciclar este tipo de
materiais. Até já existe uma empresa especialista em reciclar pás eólicas, chamada Global
FiberGlass Solutions que consegue transformar as pás eólicas em barras usadas em linhas
férreas.[18] A figura 9 ilustra os vários de métodos de reciclagem que serão descritos
posteriormente, e entende-se que a reciclagem não é o único processo para reaproveitar
os recursos do compósito de fibra de vidro.

Figura 9 - Diagrama esquemático em que mostra as possíveis soluções para gerir resíduos de compósitos.[19]

3.1 Métodos mecânicos


A reciclagem de compósitos de fibra de vidro realizada por métodos mecânicos
tem o potencial de produzir outras matérias-primas durante as etapas de tratamento
mecânico e separação. Em geral os processos mecânicos incluem a trituração, a moagem,
a peneiração, a densificação e outros. As etapas iniciais do processo de reciclagem
mecânica são corte e britagem dos resíduos. Em seguida, pós e materiais fibrosos gerados
são extraídas por coação e o produto reciclado pode ser usado para materiais de
construção como por exemplo, asfalto ou componentes para cimento. Contudo, seria mais
interessante separar as fibras da matriz, de modo a aumentar a utilidade do resíduo. Por
exemplo, durante o fabrico de compósitos é recomendado usar 5% até 30% em peso de

15
fibras recicladas em vez de fibras virgens. Apesar de os métodos mecânicos aproveitarem
100% do material, criam um produto reciclado de baixo custo.[19]

3.2 Métodos térmicos


Atualmente, diferentes tipos de técnicas de reciclagem térmica têm sido
estabelecidos para reciclar este material. Há três categorias disponíveis, a pirólise,
processo de leito fluidizado e a combustão. O fundamental do processo térmico é o
aquecimento externo para degradar os resíduos e convertê-los em produtos alterados
como sólido, líquido e gasoso. Quase todos os materiais poliméricos possuem algum
poder calorífico. valor, que pode ser convertido em eletricidade. Na reciclagem térmica,
no caso da pirólise, esta degrada os resíduos e durante o processo de degradação ocorre
uma elevada produção de energia devido à presença de constituintes poliméricos nos
materiais compósitos. No processo de leito fluidizado, os resíduos são curados através de
ar quente (450 ◦C a 550 ◦C). Este processo tem a capacidade de manipular/recuperar fibras
e outros subprodutos (líquidos e gasosos).[19]

3.2.1 Pirólise
Pirólise é uma reação de decomposição. Este processo é realizado em ambiente
com baixo ou nenhum oxigênio e em uma faixa de temperatura de 400 ◦C a 1000 ◦C. O
subproduto deste processo está na forma líquida, ou seja, alcatrão e outros líquidos
pesados podem ser consumidos como óleo e outros produtos. Os produtos gasosos, ou
seja, CO2, H2, CH4 e outros hidrocarbonetos que tenham baixos valores calóricos, ainda
podem ser consumidos como recursos energéticos. Este processo também é chamado de
processo de reciclagem autossustentável devido aos seus subprodutos.[19]

3.2.2 Processo de leito fluidizado


O processo de leito fluidizado é amplamente utilizado para recuperação de bom
grau de qualidade das fibras do compósito. A eficiência deste processo de recuperação de
fibras é alta em comparação com outros processos semelhantes. Este processo visa extrair
as fibras da matriz polimérica por um processo de oxidação, produzindo fibras “limpas”,
utilizando uma temperatura elevada. Note-se que a fusão do vidro ocorre a uma
temperatura bastante alta na faixa de 1400 ◦C a 1600 ◦C. Então parte de resina é usada
para fornecer calor e energia durante este processo, enquanto as fibras podem ser obtidas
como produto reciclado; fibras essas que podem ser reutilizadas para fabricar compósitos
de alto desempenho.[19]

16
3.3 Métodos químicos
A reciclagem química envolve a decomposição de matrizes poliméricas em
solventes químicos. As fibras são recuperadas em maior parte com as propriedades
mecânicas intactas. Os solventes que são usados para decompor a matriz de resina epóxi
envolvem tetralina, ácido nítrico, entre outros.[19]

4. Comparação dos vários processos de reciclagem


A tabela 3 mostra uma breve descrição de cada tipo de processo de reciclagem e
indica as suas vantagens e desvantagens, desafios e o estado da tecnologia. Assim, é uma
forma simples e eficiente de comparar os diferentes métodos de reciclagem.

Tabela 3 – Síntese dos vários métodos de reciclagem.[19]

17
5. Exemplos de métodos para a reciclagem dos compósitos
Este capítulo tem o intuito de descrever o processo de reciclagem com detalhe em
dois componentes que possuem o compósito de fibra de vidro. Estes componentes são
placas de circuitos e pás de turbinas eólicas.

5.1 Reciclagem de placas de circuitos


Na universidade do Porto, (Paulo M.S. Sousa et al) foi realizado um procedimento
para separar e reciclar os principais materiais (ouro, cobre, prata e fibras de vidro) das
placas de circuitos descartadas. No ano de 2019, foram produzidas cerca de 53.6
megatoneladas de resíduos e-waste; as placas de circuitos representam uma porção de 3%
de e-waste. [20] Apesar de o foco não ser a reciclagem das fibras de vidro, a abordagem
permite reciclar a uma elevada taxa praticamente todos os constituintes, o que se traduz
num benefício económico e ecológico.

As tecnologias disponíveis não permitem a recuperação de ouro e cobre numa


forma eficiente e ecológica. A moagem e a pulverização são métodos comuns, mas criam
uma grande quantidade de poeiras, precisam de um grande consumo de energia e há perda
de metais preciosos. [20]

Neste contexto, a técnica desenvolvida por Paulo M.S. Sousa et al consiste na


separação completa das diferentes camadas das placas através da dissolução da resina
epóxi bromitina (BER) num solvente apropriado. Desta forma, é possível destruir a
estrutura multicamada das placas, o que permite a libertação dos metais. As principais
vantagens deste método são: o BER (um componente tóxico) não é decomposto e não
produz gases tóxicos, o inchaço orgânico permite recuperar a parte metálica sem qualquer
corrosão o que previne a dissolução dos metais no solvente.

18
Figura 10 - Esquema das etapas necessárias para a recuperação dos constituintes das placas.[20]

A figura acima representa as etapas necessárias para a recuperação dos diferentes


constituintes. A primeira etapa consiste no corte dos terminais das placas que contêm
“gold fingers”; desta forma, é possível concentrar 65% de todo o ouro presente nas placas.
[20]

De seguida, é realizada uma delaminação total dos terminais através de um processo


de “organic swelling”. Este processo tem por base a dissolução do BER num solvente
orgânico o que leva à separação das frações metálicas e não metálicas acima da
temperatura de transição vítrea da resina; acima dessa temperatura ocorre a quebra das
ligações de Van Der Walls da BER o que facilita a formação da ligação de hidrogénio
com o solvente orgânico. A ligação de hidrogénio leva à penetração do solvente orgânico
na resina promovendo a expansão das camadas não metálicas, o que diminui a força da
ligação entre a interface de metais e não metais, resultando na quebra das camadas das
placas. Esta etapa permite uma libertação mais eficiente dos pedaços de ouro tal como a
delaminação das camadas de cobre e de fibra de vidro, o que é determinante para alcançar
uma elevada recuperação de todos os componentes. Verificou-se que a delaminação é
mais rápida quando este processo é realizado com auxílio da pressão, num reator de baixa
pressão, utilizando um micro-ondas. Concluiu-se que a utilização do micro-ondas é mais
19
eficiente em termos de tempo, consumo de energia e delaminação quando comparado
com outros processos, como o tratamento térmico e ultrassónico. Resulta numa mistura
sólida que é depois separada do solvente por filtração com auxílio da gravidade. O
solvente contaminado com BPA é purificado com destilação a baixa pressão. [20]
Posteriormente, os componentes metálicos e não metálicos são colocados num
forno ventilado para retirar a humidade. Os “gold fingers” são separados da mistura
restante através de separação magnética, com o intuito de purificar o ouro. Esse processo
é realizado pela lixiviação dos metais base a partir dos bocados de ouro com auxílio de
um micro ondas, o que permite recuperar cerca de 99.9% com um grau de pureza de
74%.[20]

Figura 11 - (A) placa RAM, (B) amostras da placa obtidas pelo corte, (C) mistura resultante do “inchaço” orgânico,
(D)” gold fingers”, (E) ouro purificado, (F) laminados de cobre e fibra de vidro separados.[20]

Para recuperar a prata, procede-se a um processo de lixiviação dos metais base usando
condições ácidas oxidantes leves; para recuperar o cobre e o níquel, realiza-se uma
precipitação alcalina (precipitação através do aumento do pH da solução de lixiviação
utilizando pellets de NaOH). [20] Depois de delaminar o resto da placa por um inchaço
orgânico, essa mistura constituída por cobre e fibras de vidro é combinada com a mistura
resultante da separação magnética dos “gold fingers”. O cobre e as fibras de vidro
presentes na mistura são separados pelo processo de separação com auxílio do ar, através
de diferenças de densidade. A densidade dos dois constituintes é determinada por um
método picnométrico caseiro: o picnómetro é constituído por dois recipientes: um onde a
fibra de vidro é colocada e outro com um volume interno conhecido, utilizado como

20
referência; os dois recipientes são selados, e introduz-se hélio à pressão de 1 bar; depois
a válvula do recipiente que contém a fibra é aberta e o hélio é libertado para esse
recipiente; o hélio que fica no recipiente de referência é usado para calcular a diferença
de volume no recipiente com a fibra. verificou-se que as propriedades da fibra de vidro
mantiveram-se idênticas às originais pelo que podem ser reutilizadas para outras
aplicações.[20]

Figura 12 - Método picnométrico caseiro.[20]

Foi realizada uma análise económica do método desenvolvido. A maior despesa


encontra-se no custo dos solventes e na compra das placas, o que representa 51.51% do
custo total do método. Relativamente ao custo associado à energia dos equipamentos, a
reciclagem dos solventes é o mais dispendioso (representa 33.98% do custo total).
Finalmente, concluiu-se que a reciclagem das placas utilizando este método apresenta um
benefício económico de 212.70 dólares por 10 quilos de placas tratadas, onde o ouro
recuperado representa 84.7% do lucro total.[20]

5.2 Reciclagem de pás de turbinas eólicas


Manjeet Rani et al desenvolveu um processo sustentável, assistido por o uso de
um micro-ondas, para reciclar desperdícios de compósitos reforçados com fibra de vidro.
É utilizado uma solução contendo um “solvente verde” (peróxido de hidrogénio e ácido
acético) para decompor a matriz de epóxi. [21]

21
O processo experimental tem o seu começo no corte de amostras de compósito
com determinadas dimensões (40 x 40 x 4 mm), que são depois imersas na solução
contendo o solvente durante 30 minutos, à temperatura ambiente. Aqui, dá-se o “inchaço
parcial” das amostras, de forma que o compósito sofra a sua delaminação camada a
camada. [21]

Seguidamente, as amostras são expostas à radiação do micro-ondas, a 700W, com


um tempo de exposição de 120s. A utilização do microondas é justificado pois provoca o
aumento da temperatura da mistura, o que por si acelera a decomposição dos compósitos.
Segue-se o arrefecimento durante 15 minutos, e reaquecimento. A etapa de
reaquecimento é adotada porque previne a carbonização das amostras, já que a exposição
contínua à radiação do micro ondas leva à carbonização; além disso, com o
reaquecimento, a temperatura da solução aumenta, o que beneficia a velocidade da reação.
Com a utilização do micro ondas, a combinação de um ácido orgânico com um agente
oxidante forte provoca de forma eficiente a decomposição da resina epóxi da matriz do
material. [21]

Figura 13 -Esquema das etapas necessárias para a decomposição do compósito.[21]

Ao fim de 60s de exposição à radiação, dá-se a ebulição de solventes. A


decomposição química assistida por micro ondas ocorre em duas etapas: criação de
radicais (“acyloxy” e “hydroxyl”), e ataque desses mesmos radicais à estrutura epóxi o
que leva à sua desintegração.[21] Foi estabelecida uma relação entre a taxa de
decomposição e a quantidade de resina epóxi: uma taxa de decomposição reduzida indica

22
uma menor quantidade de resina epóxi na superfície da fibra. Após ser realizada uma
análise ao comportamento mecânico das fibras, é possível observar que o aumento da taxa
de decomposição da epóxi provoca um aumento nas propriedades mecânicas da mesma.
A percentagem de peróxido de hidrogénio também é um fator a ter em consideração,
sendo que o seu aumento provoca uma melhoria nas propriedades mecânicas e uma taxa
de decomposição mais elevada. [21]

Figura 14 - As propriedades mecânicas das fibras de vidro “virgens” (VGF) e das amostras testadas (RGF).[21]

23
6.Conclusões
No âmbito da unidade curricular Estruturas Compósitas e Celulares, foi elaborada
uma pesquisa sobre a reciclagem de compósitos de fibras de vidro. Na atualidade, a
reciclagem dos diversos materiais descartados pelo Homem é uma preocupação, pelo que
surgem vários métodos e tecnologias para reaproveitar os materiais.

Define-se um compósito de fibra vidro como um material formado por uma matriz
reforçada com fibra de vidro. Estas fibras são comummente utilizadas devido às suas
características (boa adesão entre a fibra e matriz, elevada resistência mecânica especifica
e estabilidade dimensional). Os compósitos de fibra de vidro apresentam propriedades
únicas tal como uma boa resistência mecânica em relação ao peso.

Os processos de fabrico utilizados para a produção destes compósitos são


divididos em dois tipos: processos em molde aberto (permite realizar peças de grande
dimensão e com geometria complexa) ou processos em molde fechado (permite obter
peças com excelente acabamento superficial).

Relativamente à reciclagem dos compósitos, esta pode ser realizada por métodos
mecânicos, térmicos, químicos, híbridos, etc. São apresentados dois métodos de
reciclagem, um para as placas de circuitos e outro para as pás eólicas. Neste contexto, foi
possível enriquecer o conhecimento sobre este tipo de compósitos, realçando a
importância da reciclagem dos mesmos.

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7.Referências bibliográficas
[1] Neste website: https://pt.wikipedia.org/wiki/Reciclagem

[2] Neste website: http://ci.eco.br/cerca-de-30-por-cento-do-lixo-poderia-ser-reciclado/

[3] Henrique Pereira da Silva, “Comportamento mecânico de compósitos de fibra de


vidro/Epoxy nano-reforçados”, tese de doutoramento em engenharia mecânica da
universidade de Coimbra, 2014

[4] Slides do Prof. João Rossignolo e da Prof. Eliria Pallone da Universidade de São
Paulo, do curso Ciências e Tecnologia dos Materiais

[5] Marcelo F. S. F. de Moura, Alfredo B. de Morais, António G. de Magalhães,


“Materiais Compósitos, Materiais, Fabrico e Comportamento Mecânico”, Segunda
edição, Capítulo 1.

[6] CES EduPack 2021, Granta Design Limited: Cambridge

[7] Neste website: https://www.thoughtco.com/uses-of-fiberglass-820412

[8] Stephen M. Barr, Justin W. Jaworski, “Optimization of tow-steered composite wind


turbine blades for static aeroelastic performance”, 2019

[9] Neste website: https://www.linkedin.com/pulse/caracter%C3%ADsticas-dos-


materiais-mais-utilizados-em-projetos-marinho/?originalSubdomain=pt

[10] Neste website: https://www.pro-ilha.com.br/tecnologia

[11] Abubakar Gambo Mohammed, “Experimental and numerical approach to study the
mechanical behaviour of the filament wound composite leaf spring”, 2014

[12] Marcelo F. S. F. de Moura, Alfredo B. de Morais, António G. de Magalhães,


“Materiais Compósitos, Materiais, Fabrico e Comportamento Mecânico”, Segunda
edição, Capítulo 2.

[13] Neste website: https://www.eppcomposites.com/spray-layup-process.html

[14] Neste website: https://www.sciencedirect.com/topics/engineering/hand-lay-up

[15] Neste website: https://www.masterbond.com/industries/resin-transfer-molding-rtm

[16] Neste website: https://mechanicalland.com/explanation-of-filament-winding-


process/
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[17] Neste website: https://pt.euronews.com/my-europe/2021/06/25/mudam-se-os-
ventos-mudam-se-as-vontades-parques-eolicos-geram-controversia-na-europa

[18] Neste website: https://www.globalfiberglassinc.com/

[19] Manjeet Rani, Priyanka Choudhary, Venkata Krishnan, Sunny Zafar, “A review on
recycling and reuse methods for carbon fiber/glass fiber composites waste from wind
turbine blades”, 2021

[20] Paulo M.S. Sousa, Liliana M. Martelo, António T. Marques, Margarida M.S.M.
Bastos, Helena M.V.M. Soares, “A closed and zero-waste loop strategy to recycle the
main raw materials (gold, copper and fiber glass layers) constitutive of waste printed
circuit boards”, 2022

[21] M. Miyazaw,T. Wajima, “Recycling of waste glass fiber-reinforced plastics using


pyrolysis with KOH”, 2021

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