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Introdução
ao Vidro e sua
Produção
PRODUÇÃO INDUSTRIAL
A expansão do Ensino Técnico no Brasil, fator importante para melhoria de
nossos recursos humanos, é um dos pilares do desenvolvimento do país. Esse
objetivo, dos governos estaduais e federal, visa à melhoria da competitividade de
nossos produtos e serviços, vis-à-vis com os dos países com os quais mantemos
relações comerciais.
Em São Paulo, nos últimos anos, o governo estadual tem investido de forma
contínua na ampliação e melhoria da sua rede de escolas técnicas - Etecs e Classes
Descentralizadas (fruto de parcerias com a Secretaria Estadual de Educação e com
Prefeituras). Esse esforço fez com que, de agosto de 2008 a 2011, as matrículas do
Ensino Técnico (concomitante, subsequente e integrado, presencial e a distância)
evoluíssem de 92.578 para 162.105.
REALIZAÇÃO
Coordenador de Projetos
Ana Maria Aoki Gonçalves
Parecer Técnico
Luciano Carbone
Revisão de Texto
Yara Denadai
Projeto Gráfico
Diego Santos
Fábio Gomes
Priscila Freire
1 - Objetivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . pg.8
2 - Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . pg.8
3 - História . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . pg.10
4 - Estrutura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . pg. 17
5 - Elaboração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . pg. 20
6 - Propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . pg. 25
9 – Transformação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . pg.42
2 - Introdução
Aprendeu-se mais a respeito do vidro e de seu processamento nos últimos 40
anos do que durante toda a história precedente da tecnologia. Os vidros são
hoje utilizados em quase todos os aspectos das atividades humanas; em casa,
nas janelas, lâmpadas e luminárias, sistemas de aquecimento solar, fornos e ge-
ladeiras, utensílios de mesa, decoração, etc. Na ciência, nos microscópios e teles-
cópios constituindo as lentes, nos frascos dos laboratórios, etc.; na indústria nos
reatores, visores, instrumentos, etc., e mesmo em arte, pois eles podem ter suas
propriedades ajustadas às suas finalidades, assumindo infinitas cores e formas.
As propriedades dos materiais são ditadas pelo tipo de ligações dos átomos que
os constituem. Devido à vastíssima, quase infinita, faixa de composição química
dos vidros, onde a maioria dos elementos da tabela periódica pode ser incorpo-
rada, eles apresentam uma ampla variação de propriedades mecânicas, ópticas,
térmicas, elétricas e químicas. Apesar de não serem usualmente apresentados
como tal, os vidros podem ser considerados como um subgrupo dos materiais
cerâmicos. Entretanto, devido à sua estrutura peculiar (ausência de organi-
zação cristalina), e diferença na sequência de operações de fabricação (o vidro
inicialmente é fundido no forno e depois é conformado, enquanto as cerâmicas pri-
meiro são conformadas e depois passam por forno a alta temperatura), os vidros
são geralmente tratados como um grupo à parte da cerâmica.
O vidro, que no passado era invariavelmente considerado de pouca resistência
mecânica, pode hoje ser usado em novas aplicações, nunca imaginadas há pou-
cas décadas. As técnicas de têmpera térmica e química são responsáveis pelas
excelentes propriedades das janelas de meios de transporte, vidros à prova de
balas e lentes de óculos.
Outra maravilha tecnológica dos nossos dias são as fibras ópticas, utilizadas tan-
to pela engenharia, para telecomunicações, como na medicina, para realização
de procedimentos minimamente invasivos. Nesse caso aparentemente parado-
xal, onde a luz parece acompanhar as curvaturas das fibras, a luz pode seguir as
mais tortuosas curvas levando imagens e informações, com extrema eficiência e
rendimento.
3 - História
O vidro começou a ser empregado pelo homem desde a pré-história há cerca de
75.000 anos. O material se constituía de um vidro natural, existente na natureza
como mineral, e era usado por uma característica que muitas vezes atribuímos
como defeito que é o seu poder de corte.
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Introdução ao Vidro e sua Produção
Nos primeiros mil anos após a descoberta de como elaborar vidro, este só foi em-
pregado com finalidade estética na confecção de jóias e artigos de decoração.
Somente por volta de 1500 AC, no Egito, foi que se iniciou o emprego do vidro
em artigos utilitários, na forma de embalagens.
Para fazer essas primeiras embalagens, o vidreiro colocava na ponta de uma has-
te metálica uma porção de argila que viria a se constituir a parte interna da em-
balagem. Em seguida mergulhava este núcleo em uma panela cerâmica onde es-
tava o vidro fundido. O vidro se esfriava em torno do núcleo de argila que depois
era retirada permanecendo a embalagem de vidro. Este processo esta ilustrado
na Figura 3. Notar que a produção do vidro só foi possível por já existir o conhe-
cimento da cerâmica.
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Descoberta do sopro
O grande advento que popularizou o vidro foi a invenção do sopro, que ocorreu
há cerca de 2000 anos, na Síria. Trata-se de colher uma gota de vidro na ponta de
um tubo metálico, denominado “cana”, e soprar uma bolha no seu interior para
constituir a parte oca de um artigo de vidro. Assim começaram a se produzir
embalagens com menor custo e maior produtividade, tornando-o acessível in-
clusive para cidadãos comuns.
Esta foi uma invenção tão marcante que ainda hoje, vinte séculos depois, os pro-
dutores de vidro manual ainda a empregam, e mesmo nas modernas máquinas
de conformação, as embalagens são conformadas por sopro, ainda que por meio
de máquinas sofisticadas. A Figura 5 mostra a colheita do vidro e o sopro realiza-
do de forma artesanal.
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Introdução ao Vidro e sua Produção
Cerca de 200 anos depois se começou a fazer vidros planos para vidraças em-
pregando o sopro. Os vidreiros produziam uma grande garrafa usando o sopro e
a gravidade. Cortavam as extremidades e ficavam só com o corpo que formava
um tubo. Em seguida faziam um corte longitudinal neste tubo e reaquecendo-o
abriam e faziam uma chapa.
Por essa razão, no século seguinte, passou-se a produzir chapas de vidro a partir
de um recipiente soprado, mas na forma de um disco que se obtinha por centri-
fugação, pelo giro da peça. Primeiramente se produzia um recipiente, como uma
garrafa, transferido para uma ponteira fixada ao fundo desta garrafa, girada e por
meio da força centrífuga e assim se obtinha um disco de vidro. Este vidro chama-
do de “crown”, tinha melhor qualidade óptica porém apresentava limitação de
tamanho. Não se conseguia círculo maior que 1,5m de diâmetro e o centro, onde
se localizava a ponteira de apoio, ficava marcado e deveria ser desprezado.
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Uma representação artística dos primeiros fornos se encontra na figura 10. Nesta
figura, também há um corte de um modelo didático deste forno para melhor
compreender seu funcionamento. Em seu interior, há diversos potes de cerâmi-
ca onde se colocavam as matérias primas. Na parte inferior, existia uma câmara
onde a madeira era queimada e, na parte superior, havia saída para a fumaça.
Na idade média, por volta do ano de 1200, os vidreiros foram confinados na ilha
de Murano ao lado de Veneza, na Itália. Uma explicação para esse confinamento
seria para reduzir os incêndios que acabavam ocorrendo devido ao intenso uso
de combustão. Outra explicação seria para que não se espalhassem suas técnicas
que eram passada de pai para filho.
A partir desse vidro claro e límpido puderam ser criadas lentes e a partir delas, fo-
ram inventados os binóculos (1590), microscópios (1595) e os telescópios (1611),
com os quais o homem começou a desvendar os segredos do universo. Também
nessa época, graças à produção dos recipientes especiais e do desenvolvimento
dos termômetros de laboratório, houve um grande desenvolvimento da Química.
Figura 12: Esquema e foto do processo Fourcault, primeiro a existir de vidro estirado
Conta a história que ele teve a idéia enquanto lavava louça. A água estava presa
na cuba da pia e a gordura sobrenadava, não se misturando com a água, criando
uma fina lâmina de faces perfeitamente paralelas.
16 Então ele pensou: será que não há um líquido sobre o qual possa se verter vidro
fundido para que ele forme uma lâmina da mesma maneira que a gordura na
água da pia? Este líquido não poderia nem se solidificar nem se evaporar na faixa
Introdução ao Vidro e sua Produção
No Brasil, a primeira fábrica de vidro float iniciou sua produção em 1982 e hoje
é o único processo empregado na produção de vidros planos (com exceção do
impresso ou “fantasia”). A Figura 14 mostra o principio de funcionamento do pro-
cesso “float”. O Vidro fluido é vertido sobre um banho de estanho fundido e vai
se esfriando até ficar rígido. Este processo é contínuo e uma série de rolos extrai
a fita de vidro.
4 - Estrutura do Vidro
Mas o que é o vidro? Para responder a esta pergunta vamos recordar alguns con-
ceitos que todos já vimos na escola.
Um exemplo que mostra claramente isto são três materiais: o carvão, o grafite e
o diamante, que são constituídos do mesmo elemento químico, o carbono, cujos
átomos em cada um deles se encontram unidos por diferentes tipos de ligação.
Como resultado, estes três materiais têm comportamento e aspecto totalmente
distintos.
Quando a substância está no estado sólido há uma grande força de atração entre
os átomos que ficam presos uns aos outros, e esta força faz com que eles de dis-
ponham de forma organizada, como soldados numa parada militar.
No estado líquido a força que os une é muito fraca e os átomos ficam soltos e o
material pode fluir. Imagine uma lata cheia de bolinhas de gude e que cada bo-
linha seja um átomo. Quando o material está no estado líquido, as bolinhas, ao
serem jogadas ao chão, correm soltas e se espalham, assim como ocorre quando
jogamos a água. As bolinhas soltas rolam umas sobre as outras sem organização.
No estado sólido é como se colássemos cada bolinha com a sua vizinha, forman-
do um arranjo ordenado que se repete ao longo de todo o material. Este arranjo
de átomos organizados é denominado “cristal” e, portanto, um sólido cristalino
é aquele em que seus átomos estão dispostos de forma organizada. A Figura 15
esquematiza o arranjo atômico nesses dois estados
Figura 15: Arranjos atômicos no estado sólido e líquido
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Introdução ao Vidro e sua Produção
Figura 17: Movimentação dos átomos na passagem do estado líquido para o sólido
Um material fundido que vai gerar vidro é viscoso e se comporta como o mel e,
à medida em que se esfria, sua viscosidade aumenta cada vez mais, dificultando
ainda mais a movimentação livre dos átomos que não conseguem se organizar
como no estado sólido de outros materiais.
Dessa forma,muitas vezes o vidro é chamado de líquido. Porém isso não é ver-
dade. O vidro é um sólido que apresenta a estrutura semelhante à de um líquido,
isto é, seus átomos não estão organizados na forma de cristais como acontece
com a maioria de substâncias sólidas que conhecemos.
No retorno das férias, as roupas já foram todas usadas, foram deixadas em algum
lugar sem o cuidado de serem dobradas e, como estamos tristes porque as férias
acabaram, fazemos a mala rapidamente, sem paciência, apenas com a intenção
de levar tudo de volta, afinal, terá mesmo de ser lavado.
Resultado: a mala da volta, mesmo contendo as mesmas roupas da ida, fica mais
volumosa e eventualmente até difícil de fechar.
Com o vidro acontece algo semelhante: se ele é esfriado rapidamente seus áto-
mos ficam mais “bagunçados” do que se ele for esfriado lentamente e, portanto,
ocupa um volume maior.
5 - Elaboração do Vidro
Para se ter vidro, portanto, é necessário um material que quando fundido tenha
uma alta viscosidade, e que esta viscosidade aumente muito antes de chegar
ao ponto de solidificação, impedindo a ordenação dos átomos (que se chama
cristalização).
Não são todos os materiais que se prestam para gerar vidros. A água, por exem-
plo, é uma delas, pois sua viscosidade é praticamente a mesma, e muito baixa,
ente a sua temperatura de fusão (0oC) e sua temperatura de evaporação (100oC).
Portanto não importa quão rápido se esfrie a água, sempre seus átomos poderão
se movimentar entre si para gerar um cristal (átomos ordenados).
Porém várias substâncias não são assim. Por exemplo: o açúcar. Na temperatura
ambiente ele é um cristal. Cada grão é um pequeno cristal. Se o aquecermos
eles se fundem, tornam-se um líquido, formando o caramelo. Se jogarmos este
caramelo na superfície fria da pia ele se solidifica sem se cristalizar, formando,
portanto, um vidro. (Sim, bala de açúcar é um vidro!)
Aliás, vidro de açúcar é empregado no cinema para que nas cenas de quebra de
vidraças não haja risco de acidente com os atores, porém não podemos instalá-lo
em nossas janelas, pois com a chuva e lavagem eles desapareceriam, dissolvidos
na água.
A Figura 19 mostra a “fabricação” de vidro de açúcar
O material mais empregado, e que gera vidro da mesma maneira que o açúcar, é
a sílica ou óxido de silício (SiO2), muito abundante na natureza. Ela é nossa velha
conhecida na forma da areia que há nas praias ou na areia empregadas nas cons-
truções. A Figura 20 mostra algumas formas de sílica encontradas na natureza.
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Introdução ao Vidro e sua Produção
Vidros industriais
A sílica sozinha produz um excelente vidro com ótimas propriedades, porém
com um grave problema: seu ponto de fusão é muito alto, requerendo fornos es-
peciais e muito consumo de energia e, consequentemente, apresenta alto custo
de produção.
Quando se adiciona o sódio à sílica, os átomos de sódio que têm muita afinidade
com o oxigênio unem-se a ele; e os oxigênios que se unem aos sódios, deixam
de ficar ligados ao silício, fazendo desta maneira um corte na rede. Quanto mais
sódios se adicionam, mais cortes na rede se apresentam e mais fraca ela fica. Isto
na prática se traduz com viscosidade mais baixa e menor temperatura de elabo-
ração do vidro. A Figura 24 mostra o efeito da introdução de sódio na estrutura
do vidro de sílica.
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Por essa razão, introduz-se o sódio até determinado limite, e como neste limite o
vidro ainda se encontra muito viscoso para ser elaborado e trabalhado em tem-
peraturas industrialmente razoáveis, introduz-se um segundo fundente, que é
o cálcio.
O cálcio como o sódio se une aos oxigênios liberando ligações entre este e a
sílica, mas como ele é bivalente, cada átomo de cálcio se une a dois átomos de
sódio.
Por ele gerar uma nova ligação para cada duas destruídas, ele não é tão eficiente
como o sódio,;porém por ser muito pouco solúvel em água, pouco afeta a resis-
tência do vidro à solubilidade.
Observar que como o vidro não apresenta estrutura ordenada cristalina, por
exemplo, a do sal de cozinha da Figura 16, pode receber diferentes quantidades
de cada um dos fundentes, assim como de diversas outras substâncias e, portan-
to apresentar um leque infinito de propriedades
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Introdução ao Vidro e sua Produção
Um exemplo disso é a cor. É possível obter vidro isento de cor, mas também com
infinitas tonalidades desde a total transparência até a total opacidade. Isso se
consegue adicionando determinados componentes na massa de vidro.
Viscosidade
Esta é a propriedade mais importante para a produção do vidro. Viscosidade é a
dificuldade de um líquido de escoar e é o inverso de fluidez. Por exemplo, o mel
é mais viscoso que a água e a água é mais fluida que o mel.
O vidro para existir, já vimos, tem que apresentar alta viscosidade para impedir
a cristalização de suas moléculas. Quando um material se cristaliza, ao se esfriar,
perde a estrutura desordenada de líquido e não se torna um vidro.
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A temperatura do forno de fusão é regulada para que o vidro atinja uma visco-
sidade suficiente para que a massa se homogeneíze e as bolhas presas no seu
Para fabricar uma peça de vidro, isto é, conformá-la no seu desenho final, a visco-
sidade tem papel fundamental.
O artista que faz uma peça manualmente leva mais tempo para conformá-la do
que uma moderna máquina automática, e sempre que o vidro começa a ficar
muito duro, para continuar seu trabalho, deve esquentá-la novamente repetindo
diversas vezes a operação ao longo da conformação até acabar seu trabalho.
A chapa de vidro sobre o banho de estanho deve ter viscosidade suficiente para
escoar e formar a folha, mas ao sair do float deve estar rígida o suficiente pra não
ser marcada pelos rolos responsáveis pelo seu transporte.
Resistência química
Outra propriedade fundamental é a inércia química do vidro, isto é, ele não reage
com quase nenhum componente podendo permanecer numa janela por séculos
com o mesmo aspecto de novo. Da mesma forma, embalagens de vidro não rea-
gem com os produtos que contém.
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Introdução ao Vidro e sua Produção
Da mesma forma, vidros em janelas resistem por séculos mantendo as suas su-
perfícies lisas as quais permitem a passagem de luz.
Impermeabilidade
O vidro também é completamente impermeável, haja vista o exemplo da cerve-
ja, e em janelas protege contra as intempéries, ao mesmo tempo em que deixa
passar a luz. Como ele é formado a partir de um líquido, não possui porosidades,
o que lhe confere essa característica, impedindo a passagem de contaminantes
gasosos ou líquidos.
Resistência mecânica
Há uma grande confusão sobre a resistência do vidro e muitos o julgam um ma-
terial fraco. Um material fraco é aquele que não resiste e se quebra quando apli-
camos uma força ainda que baixa. Por exemplo, um giz é facilmente quebrável e,
de fato, podemos considerá-lo um material fraco. Mas o vidro não é fraco. Imagi-
ne um bastão de vidro do mesmo formato do giz, exige muita força para quebrar.
Ao contrário de ser fraco, o vidro é muito forte.
O vidro por outro lado é frágil, isto é, não é muito resistente a impactos. Hoje já
é comum se empregar vidro em pisos justamente porque ele resiste muito bem
a qualquer pessoa que passe sobre ele. Mas como ele é frágil, e pode quebrar
com uma batida, então estes vidros são laminados, ou seja, são constituídos por
diversas chapas de vidro entremeadas de um plástico de forma que as camadas
internas resistem ao peso. As de fora, se receberem algum impacto, podem até
eventualmente se quebrar, mas não será comprometida a segurança do conjun-
to. É o mesmo princípio aplicado nos vidros à prova de balas. Um exemplo deste
tipo de aplicação pode ser visto nas fotos da Figura 29
Este princípio é utilizado para cortar chapas de vidro. Com uma ferramenta se
faz um risco no vidro que será o início de uma trinca e depois se flete o vidro,
para gerar tensão de tração neste risco, e a trinca atravessa a chapa dividindo-a
em duas. Na verdade, o termo corte nem seria o mais adequado a esta operação,
mas sim destaque.
1 - Chapa original.
O risco para o corte é realizado com uma ferramenta que possui uma pequena
rodinha, como mostrado na figura 31, de um metal muito duro, chamado de ví-
dea, para conseguir riscar o vidro, que também é muito duro.
A região que se aqueceu se dilata enquanto a que continua fria permanece inal-
terada. Estas diferenças de “tamanho” geram tensões que, associadas a defeitos
da superfície, podem dar início a uma trinca.
Quanto mais fina for a peça, ainda que produzida com o mesmo vidro, menores
serão as diferenças de temperatura entre os pontos frios e quentes e portanto
mais resistente ela será ao choque térmico.
A quebra sempre se dá na região mais fria da peça, onde ocorre a tração, e comu-
mente o risco maior de quebra é quando o vidro está quente e sofre um esfria-
mento rápido. Por exemplo: tirar uma peça do forno e colocá-la sob a torneira ou
sobre uma superfície fria.
2 A mudança da composição do vidro para outra que dilate menos com o aqueci-
mento. É o caso do Pyrex. Trata-se de um vidro borossilicato, que dilata cerca de
60% menos do que um vidro sodo-cálcico para as mesmas temperaturas, e por
isso pode resistir a esfriamentos bruscos de até 150 oC.
Cor
A cor nos vidros é gerada por componentes que são dissolvidos em sua massa
durante sua elaboração. Normalmente são metais que interagem com a luz fil-
trando algumas cores e deixando passar outras.
Matérias Primas
As matérias primas são muito importantes no processo de elaboração do vidro,
pois tudo o que se enforna no forno de fusão, sai na forma de vidro. Não existe
30 recurso de separar algo que foi enfornado errado e todo erro acaba comprome-
tendo a qualidade dos produtos.
Introdução ao Vidro e sua Produção
Impurezas presentes nas matérias primas podem trazer defeitos, como inclusões
na massa de vidro ou dificuldade na fusão da composição. Grãos muito grandes
podem passar pelo forno sem serem fundidos gerando defeitos. Grãos muito fi-
nos podem ser arrastados pelos gases, atacar os revestimentos dos fornos, entu-
pir os canais de fumaças e se constituir material particulado poluente.
A grande maioria das matérias-primas empregadas na produção do vidro é de
minerais naturais. A extração de minerais é uma atividade controlada pelo De-
partamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e deve ser executada com
um mínimo de interferência com o meio ambiente. Os locais de extração, ao final
do uso, devem ser entregues recuperados, e tudo isso deve ser muito bem docu-
mentado antes mesmo do início da exploração.
Todos os minerais empregados como matérias primas devem passar por algum
tipo de beneficiamento que garantam o atendimento das especificações. O tipo
de beneficiamento empregado depende das características do produto bruto
original e das especificações exigidas pela produção.
A Figura 32 mostra uma jazida de extração de areia. Neste caso, a própria nature-
za ajudou constituindo um depósito imenso de minério originário do desgaste
de rochas e que se acumulou, quer seja pela ação de ventos ou da água de rios,
já na forma granulada necessária para a introdução das composições vidreiras.
Ainda assim, esta areia deve ser beneficiada para separar os grãos muito finos e
os muito grossos, e livrá-la de componentes prejudiciais ao vidro.
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Os fornecedores de cálcio, magnésio e alumina são rochas que devem ser retira-
das como em pedreiras, depois moídas, para chegarem à granulometria adequa-
da. Normalmente são separadas por explosões que formam grandes pedaços
que são moídos até atingirem o tamanho de grãos necessários para a utilização
na composição.
32 No Brasil, não existe nenhuma produção deste material que, portanto, deve ser
todo importado. Ele também é de longe a matéria-prima mais dispendiosa, cons-
tituindo de 50 a 60% do custo da composição dos vidros sodo-cálcicos.
Introdução ao Vidro e sua Produção
Colorantes
O vidro obtido com as matérias-primas básicas é incolor. Para obter as diversas
cores possíveis de se configurar, ao vidro se adicionam alguns óxidos metálicos,
normalmente em pequeníssimas proporções, tanto que nem nos referimos a
eles em porcentagem, mas em PPM (partes por milhão). 1 PPM = 0,0001%.
Óxido de ferro que dá o verde das chapas de vidro plano. Sua cor é menos inten-
sa que a do cromo, porém retém a passagem de radiação infravermelha respon-
sável pelo aquecimento.
Óxido de cobre também confere cor azul, porém um pouco diferente da do co-
balto, com um tom mais esverdeado. Em alguns frascos de perfume se emprega
também óxido de neodímio, que também confere um tom de azul, porém é pou-
co empregado devido ao alto custo por ser componente muito raro na natureza.
A foto da Figura 38 mostra um frasco produzido com vidro colorido ao cobre e
outro ao neodímio.
Os vidros planos “bronze” e “cinza” são obtidos com a mistura de três colorantes:
ferro, selênio e cobalto.
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Figura 40: Exemplo de vidro plano cinza ou fumê colorido com ferro, selênio e cobalto.
Introdução ao Vidro e sua Produção
Caco
Referindo-se a matérias-primas de vidro não se pode deixar de mencionar o caco,
pois o vidro, de fato, é 100% reciclável e um quilo de caco introduzido no forno
vai gerar um quilo de vidro novo, com as mesmas características e propriedades
do vidro original com o qual se produziu o caco.
O uso do caco traz uma série de vantagens aqui divididas em três grupos:
O caco também exige menos energia para elaborar vidro do que as matérias-pri-
mas novas, pois ele já é vidro pronto que só necessita ser aquecido para recupe-
rar uma viscosidade que permita a sua conformação, enquanto as matérias-pri-
mas novas demandam energia para uma série de reações químicas necessárias
para transformá-las em vidro. Desta maneira quanto mais caco houver na com-
posição, menos energia será necessário empregar no forno e consequentemente
menos gases de efeito estufa serão emitidos.
Quando se recicla o caco, ele não está sendo descartado no meio ambiente e,
portanto, haverá menos agressão também nesta área.
Estratégicas
Como o vidro pode ser produzido só com caco, sempre é bom ter estocada certa
quantidade deste material na fábrica, pois em caso de algum problema como
demora na entrega de uma matéria-prima, pane no sistema de preparação da
composição, etc., enforna-se caco enquanto se busca a solução do problema
sem afetar a produção.
Econômicas
Como o caco exige menos energia para ser elaborado, podem-se produzir quan-
tidades maiores de vidro em um forno onde se emprega maior teor de caco.
Por outro lado, a utilização do caco pode trazer alguns problemas e a maioria
deles se origina em contaminações que eventualmente estejam presentes. Im-
purezas que entram no forno de fusão junto com o caco como cerâmicas, metais,
etc., podem tanto ocasionar defeitos nos produtos como acelerar o desgaste do
forno.
Da mesma forma, a cor do caco pode ser um limitante no seu emprego, pois se
estamos produzindo vidro incolor não podemos usar nenhum caco colorido. A
recíproca não é válida: pode-se usar vidro incolor para produzir vidro colorido,
bastando acrescentar na composição as quantidades de colorantes necessárias
para colorir este vidro. 35
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Introdução ao Vidro e sua Produção
8.2.1 - Refratários
Todo o interior do forno é revestido de material refratário, feito especialmente
para fornos de vidro devendo resistir ao calor e não contaminar o banho. Os for-
nos trabalham ininterruptamente por diversos anos e os refratários devem per-
manecer íntegros durante todo esse período. Depois de determinado período de
funcionamento, que pode ser até superior a 15 anos, o forno é apagado para ser
reformado, procedendo-se à troca dos refratários.
Figura 50: Desenho representando um forno de fusão de vidro embalagem. Fonte: SEFPRO
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8.3 - Processo de Conformação
Após o vidro ter sido elaborado no forno de fusão, ele será conformado nos di-
versos produtos.
Introdução ao Vidro e sua Produção
A conformação inicia quando o vidro ainda está viscoso e pode fluir. Ao mesmo
tempo em que ele vai sendo conformado, ele se esfria e a viscosidade vai aumen-
tando. O processo de conformação deve terminar no exato momento em que o
vidro fica rígido para manter então a forma do produto final.
Caso a conformação seja muito lenta e não termine antes do enrijecimento, não
se chega ao produto desejado. Da mesma forma se ele for muito rápido e termi-
nar com o vidro ainda fluido, pelo próprio peso, ele vai escoar e perder a forma
necessária.
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8.4 - Recozimento
Durante a conformação, como consequência do fato de que a massa de vidro
não se esfria por igual, são geradas muitas tensões. Devido a isso, o vidro deve
ser recozido, ou seja, levado até a temperatura de recozimento para alívio de
tensões e, em seguida, esfriado lentamente, todo por igual. Isto é feito no forno
de recozimento que aproveita a própria energia térmica que os produtos trazem
do forno.
9 - Transformação do Vidro
O vidro plano, diferentemente da maioria dos produtos de vidro, depois de pron-
to pode ser utilizado diretamente ou sofrer diversas transformações que lhe
agregam valor ou mesmo o transformam em um novo produto.
Para se temperar uma chapa de vidro ela é aquecida até que quase comece a es-
coar. Em seguida se esfria com jatos de ar direcionados por toda a sua superfície.
Desta forma o vidro que está na camada externa, como se fosse a sua pele, esfria
rapidamente com o jato de ar. Porém o vidro do centro, que está protegido pela
pele, se esfria lentamente (o vidro é um mau condutor de calor).
No final do processo, o vidro da pele ocupa um volume maior, como se ele qui-
sesse crescer, mas fica impedido pelo núcleo que ocupa um volume menor e
quer se encolher. Isso tudo gera uma tensão de compressão na superfície que
impede, ou ao menos dificulta, qualquer defeito superficial de se tornar uma trin-
ca que quebraria o vidro.
Entretanto se por alguma razão alguma trinca penetrar no vidro e atingir a zona
em tração no núcleo, o vidro se quebra em muitos pedaços. Esta é uma vanta- 43
gem do vidro temperado, chamado muitas vezes de “vidro de segurança”, pois
por não se quebrar em pedaços grandes tem menos chances de ferir pessoas e
O plástico intercalar pode ser de diversas cores com aplicações muito interessan-
tes em arquitetura. Um exemplo é o edifício da foto da Figura 60.
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Introdução ao Vidro e sua Produção
Revestimentos superficiais
Vários tipos de revestimentos superficiais podem ser adicionados ao vidro me-
lhorando algumas de suas características e agregando outras novas. A seguir são
apresentados três exemplos:
Figura 62: Vitrine montada com uma chapa de vidro normal (à esquerda)
onde o reflexo do exterior dificulta a visualização do interior e uma chapa de vidro antirreflexo (à direita).
Vidros semi-refletivos refletem parte da luz solar incidindo sobre eles reduzindo
o aquecimento interno dos edifícios. A foto da Figura 63 mostra algumas aplica-
ções deste tipo de vidro na arquitetura.
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Introdução ao Vidro e sua Produção
Vidros podem ser pintados com uma tinta que adere a sua superfície permane-
cendo para sempre. Essas tintas são à base de vidros coloridos que com o aqueci-
mento se fundem e se soldam á superfície do vidro. Inúmeras aplicações podem
ser realizadas com este recurso. A Figura 65 mostra alguns exemplos de aplica-
ções destas tintas realizadas pelo processo de silk screen, o mesmo empregado
para aplicação de desenhos em tecidos.
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Introdução ao Vidro e sua Produção
Figura 67: Vidro que se torna opaco ou transparente com o apertar de um botão.
Figura 68: Vidros foto crômicos que permitem escolher o nível de escurecimento.
Vidros foto cromáticos podem ser considerados materiais inteligentes que cla-
reiam quando há pouca incidência de luz no ambiente e escurecem quando há
muita luz. São muito empregados em lentes oftálmicas como mostra a Figura 69.
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Figura 70: Vidros extremamente finos e resistentes aplicados em tablets, fones e televisores.
Vidros são imbatíveis nos sistemas de aproveitamento da energia solar quer seja
no aquecimento quer seja na transformação da luz em energia elétrica em dispo-
sitivos foto-voltaicos como pode ser observado nas fotos da Figura 71.
Figura 71: Aplicação de vidros em artefatos que empregam a luz solar no aquecimento e na produção de energia elétrica
Esses são apenas alguns exemplos de como este material milenar cuja compo-
sição não se alterou muito desde milênios continua atual sempre presente, evo-
luindo e participando ativamente dos desenvolvimentos tecnológicos e da vida
das pessoas.
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Introdução ao Vidro e sua Produção
10 – Bibliografia
1 Macfarlane, A.; Martin, G. A World of Glass, Science, v. 305 p.1407-1408, 2004.
2 Schaeffer H.A., Float Glass – Basic Product for Architectural and Auto-
motive Applications. Curso ICG em Buenos Aires 2007
52 10 Doyle, P.J. - Glass Making Today - British Glass Industry Research Associa-
tion, England, 1979.
Introdução ao Vidro e sua Produção
25 Banford C.R. - Color Generation and Control in Glass - Glass Science and
Technology 2, Elsevier, New York, 1977.