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Acessibilidade na Web

Chapter · January 2009

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Vagner F De Santana
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Universidade Estadual de Campinas

Atores da Inclusão
na Universidade
Formação e Compromisso
Organizado por:
M. Teresa E. Mantoan
M. Cecília C. Baranauskas

BCCL
Biblioteca Central Cesar Lattes

CAMPINAS - UNICAMP - 2009

Acessibilidade, Inclusão, Ensino Superior, Formação


Educação & Tecnologia
Ficha Catalográfica Elaborada pelo
Sistemas de Biblioteca da UNICAMP /
Diretoria de Tratamento da Informação
Bibliotecária : Helena Joana Flipsen - CRB-8ª / 5283

At72 Atores da inclusão na universidade : formação


e compromisso / organização : M. Teresa E.
Mantoan, M. Cecília C. Baranauskas -
Campinas, SP : UNICAMP/Biblioteca Central
Cesar Lattes, 2009.

1. Acessibilidade. 2. Inclusão escolar. 3. Ensino superior.


4. Professores universitários - Formação. I.Mantoan, Maria
Teresa Eglér. II. Baranaukas, Maria Cecília Calani. III. Título.

CDD - 301.11
- 371.9
- 378
ISBN 978-85-85783-21-1
- 378.17

Índices para Catálogo Sistemático:

1. Acessibilidade 301.11
2. Inclusão escolar 371.9
3. Ensino superior 378
4. Professores universitários - Formação 378.17

Expediente Ficha técnica


Presidência da República Revisão : Filomena Lima Romeiro e Teresa Florence
Ministério da Educação Capa/Ilustrações : Renato Stegun
Secretaria Executiva Projeto Gráfico e Diagramação : Núcleoativo Comunicação
Secretaria de Educação Especial Impressão : RR Donnelley Moore Gráfica e Editora Ltda.
CAPES
UNICAMP
Biblioteca Central Cesar Lattes
UNICAMP - 2009
Sumário

Apresentação 04

Prefácio 06

Capítulo I 09
Oficinas participativas inclusivas
mediadas pelo modelo ACBP

Capítulo II 29
Diferenças, identidades e inclusão

Capítulo III 51
Biblioteca acessível

Capítulo IV 75
Acessibilidade na comunicação

Capítulo V 101
Acessibilidade na Web

Capítulo VI 129
Acessibilidade no ambiente físico

Autores 147
Apresentação
O projeto “Acesso, Permanência e Prossegui-
mento da Escolaridade de Nível Superior de Alunos
com Deficiência: ambientes inclusivos”, formulado
e coordenado há cinco anos pelas professoras Maria
Teresa Eglér Mantoan e Maria Cecília Baranauskas,
é um dos exemplos mais notáveis da vinculação
frequente e direta da pesquisa da UNICAMP com o
interesse social imediato.
O projeto nasceu da necessidade, constatada na
época, de oferecer aos alunos com deficiência da
UNICAMP algum tipo de suporte especializado, mas
terminou por se ampliar com a especulação natural
em torno dos temas das identidades, das diferenças
e das formas possíveis de acessibilidade.
Meia década de trabalho foi o bastante para
que o projeto se consolidasse e apresentasse, do
ponto de vista da produção acadêmica, resultados
que já estão sendo colocados em prática dentro
da UNICAMP e podem ser partilhados com outras
instituições. Muitos desses resultados emergiram
durante o desenvolvimento de dissertações de mes-
trado e teses de doutoramento cujos autores foram
orientados no transcurso do projeto, transformando-
se eles mesmos em agentes de uma transformação
possível, que, a meu ver, já está em curso.
É nesse mesmo contexto que, visando à forma-
ção continuada de alunos, funcionários, professores
e demais interessados em conceitos e práticas da
acessibilidade e das características dos ambientes
educacionais inclusivos, o Projeto Proesp/Capes dá
um importante passo à frente ao realizar o curso
de formação em serviço “Atores da Inclusão na

4
Universidade: formação e compromisso (AIU)”,
financiado pela Secretaria de Educação Especial do
Ministério da Educação e dirigido especialmente às
Universidades Federais.
A UNICAMP se orgulha desta iniciativa inédita e
espera que, a partir dela, as ideias aqui formuladas

Atores da Inclusão na Universidade


possam contribuir para a disseminação irrestrita
dos conceitos de inclusão e de acessibilidade, em
benefício da sociedade brasileira como um todo.

JOSÉ TADEU JORGE


Reitor

5
Prefácio

A Política Nacional de Educação Especial na Pers-
pectiva da Educação Inclusiva, MEC/SEESP/2008,
emerge no contexto dos movimentos sociais de
contraposição à exclusão, como uma ação política,
social, cultural e pedagógica que afirma o princípio
da igualdade e da diferença, questionando a discri-
minação construída historicamente a partir de uma
estrutura social que inferioriza e marginaliza as
diferenças. Ao refletir sobre os caminhos a percorrer
na educação, vale afirmar que a nova Política, ao
romper com os propósitos da normalização dos
sujeitos e dos estereótipos de pessoas em razão de
suas características físicas, intelectuais, culturais,
sociais e outras, vem desconstruindo os padrões
homogêneos, seletivos e competitivos do conheci-
mento linear e do ensino uniforme, ao mesmo tempo
em que produz um novo projeto educacional de
reestruturação das instituições de educação básica e
superior, das práticas de ensino e aprendizagem, para
atender as necessidades específicas dos alunos.
A construção de sistemas educacionais inclusivos
pressupõe o efetivo direito de todos à educação e
requer novas formas de elaboração e organização
de políticas públicas, que contemplem a pluralidade
compreendida como potencial, a eliminação dos
mecanismos de segregação instaurados e a imple-
mentação de projetos pedagógicos emancipatórios
compartilhados por toda a comunidade escolar. A
Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas
com Deficiência, ratificada no Brasil como emenda
constitucional, em 2008, demarca um grande

6
avanço na defesa dos direitos humanos, ao afirmar
o compromisso do Estado em assegurar um sistema
educacional inclusivo em todos os níveis, no qual
as pessoas com deficiência não sejam excluídas do
sistema educacional geral sob alegação de deficiên-
cia, e pelo qual possam ter acesso ao ensino inclusi-

Atores da Inclusão na Universidade


vo, de qualidade, gratuito, na sua comunidade, em
igualdade de condições com as demais pessoas. A
definição de pessoas com deficiência como “aquelas
que têm impedimentos de natureza física, intelectual
ou sensorial, os quais em interação com diversas
barreiras podem obstruir sua participação plena
e efetiva na sociedade com as demais pessoas”,
enfatiza a acessibilidade como foco de atuação das
políticas públicas
Neste contexto, o livro Atores da Inclusão na
Universidade – formação e compromisso, desenvol-
vido no âmbito do Programa de Apoio a Educação
Especial – PROESP, da CAPES e MEC/SEESP, vem ao
encontro dos propósitos de consolidação da política
educacional inclusiva no país, que adota medidas
para garantir a acessibilidade necessária para a par-
ticipação dos alunos nos diferentes espaços sociais.
Este livro, assim como os demais materiais didáticos
pedagógicos produzidos com o objetivo de orientar
as universidades brasileiras a tratar a questão do
acesso ao conhecimento e da acessibilidade, possui
estreita relação com a realidade, pois parte da ne-
cessidade de transformar as práticas pedagógicas
e de ampliar as oportunidades de desenvolvimento
de recursos e de socialização para todas as pessoas.
Ao longo de seus artigos é expressa a compreensão
da inclusão como uma prática que, além da legis-
lação, exige atitude de todos os envolvidos nesse
processo, apresentando estudos sobre acessibilidade

7
na Web, nas bibliotecas, em ambientes físicos e na
comunicação, bem como o modelo de aprendizagem
colaborativa baseada em problemas.
Ao analisar a perspectiva relacional da deficiência
entendida como déficit ou problema que instaura
a perspectiva da incapacidade e da desigualdade
presente na prática social, ao não investir na pro-
gressão das potencialidades e disseminar a crença
na inferioridade, esta obra desenvolve com clareza a
concepção de acessibilidade para todos e de desenho
universal presente na produção de qualquer produto
ou ambiente. Em consonância com a intensidade
das mudanças colocadas em curso nos últimos anos
e com o protagonismo das pessoas com deficiência
que passaram afirmar seus direitos e estabelecer
os pilares de uma nova cultura, as produções do
Grupo Todos Nós - UNICAMP Acessível, presentes
neste livro, tornam mais evidente que a realidade
da inclusão começa a existir no cenário educacional
brasileiro, contribuindo para que cada vez mais a
sociedade passe a se apropriar destes referenciais
e experiências educacionais inclusivas, que dizem
respeito a um universo que vai desde a educação
básica até a educação superior, passando pelas
diferentes esferas de gestão dos sistemas de ensino,
no âmbito federal, estadual e municipal.

ClÁUDIA PEREIRA DUTRA


Secretária de Educação Especial – SEESP/MEC

8
Capítulo I
Oficinas participativas inclusivas
mediadas pelo modelo ACBP
M. Cecília C. Baranauskas
M. Teresa E. Mantoan
Diego S. Melo-Solarte
Introdução partidos, e os encontros da
subjetividade humana com
O cenário educacional o cotidiano, o social, o cul-
tural apontam para um pa-
Vivemos um tempo de radigma do conhecimento
crise global, em que os ve- que emerge de redes cada
lhos paradigmas da Moder- vez mais complexas de re-
nidade são contestados e em lações, geradas pela velo-
que o conhecimento, matéria cidade das comunicações e
prima da educação, passa por informações. As fronteiras
uma reinterpretação. Os am- das disciplinas se rompem e
bientes educacionais inclusi- estabelecem novos marcos
vos refletem esse cenário de de compreensão do mundo
contestação e exigem que se em que vivemos (MANTOAN,
retracem os seus contornos, 2005).
para que se alinhem às ino- O pensamento subdivi-
vações e mudanças propos- dido em áreas específicas
tas por estes novos tempos é uma grande barreira para
(MANTOAN, 2008). os que pretendem inovar a
As diferenças culturais, so- educação. Nesse sentido, é
ciais, étnicas, religiosas e de imprescindível questionar o
gênero são cada vez mais des- modelo de compreensão que
veladas e destacadas, sendo nos é imposto desde os pri-
elas condição imprescindível meiros passos de formação
para se entender como apren- escolar e que prossegue nos
demos e como compreende- níveis de ensino mais gra-
mos o mundo e a nós mesmos. duados. Toda essa trajetória
O modelo educacional mos- precisa ser repensada, con-
tra sinais de esgotamento e, siderando-se a articulação
no vazio de suas idéias, surge dos saberes e a evolução do
o momento oportuno das conhecimento por recompo-
transformações. sição, contextualização e in-
As interfaces e cone- tegração de idéias tecidas
xões que se formam entre em redes de entendimento,
saberes, outrora isolados e sem reduzir o complexo ao

10
simples. Saberes enredados renças diferem infinitamen-

Capítulo I
potencializam o caráter mul- te. (MANTOAN, 2007)
tidimensional dos problemas Os movimentos educacio-
e encaminham soluções que nais em favor da inclusão se-
são criadas pela diversifica- guem outros caminhos, que
ção dos posicionamentos de contestam fronteiras entre

Atores da Inclusão na Universidade


cada um que compõe essas os espaços simbólicos das
redes. diferentes identidades. As
A reviravolta da inclusão ações educativas inclusivas
implica, em caráter institu- têm como eixos o convívio,
cional, a extinção das cate- o reconhecimento e o ques-
gorizações e das oposições tionamento das diferenças
excludentes (iguais / diferen- na aprendizagem como ex-
tes); e, no pessoal, a busca periência relacional, partici-
da articulação, flexibilidade, pativa e significativa para o
interdependência entre as aluno, pois contempla a sua
partes que se conflitam nos subjetividade, construída no
nossos pensamentos, ações coletivo educacional.
e sentimentos. As relações de poder que
O essencialismo e toda presidem a produção das di-
a generalização, que vêm ferenças no ensino excluden-
da compreensão de que as te baseiam-se na igualdade
identidades são fixas, defi- como categoria assegura-
nitivamente estabelecidas, da por princípios liberais, in-
de tal modo que só nos resta ventada e decretada a priori,
respeitá-las, não cabem nos retratando a realidade edu-
quadros inclusivos de revi- cacional sob a ilusão da ho-
são dos nossos atuais pro- mogeneidade.
pósitos educacionais. Nossa Mas o direito à diferença
luta pela inclusão tem uma desconstrói o sistema atual
dimensão ética crítica e de significação excludente,
transformadora. A posição normativo, com seus meca-
é oposta à anterior, por con- nismos elitistas de produção
siderar que as identidades de identidade e diferença.
são móveis e que as dife- Portanto, o ensino inclusi-

11
vo é produto de uma edu- inclusão e as marcas que as
cação plural, democrática e diferenças imprimem no es-
transgressora. Ele reconhe- clarecimento das questões
ce a pluralidade de culturas do cenário educacional de
e manifestações intelectu- nossos dias. Ela se distin-
ais, sociais, afetivas que pro- gue pelo seu caráter híbri-
vêm de uma consciência ao do e mutante, marcas de um
mesmo tempo individual e ensino inclusivo.
social diante da instabilidade
do mundo que nos cerca. O contexto de
A mistura, a hibridização, proposição do método
a mestiçagem provocam e
questionam todo e qualquer Na sociedade pós-moder-
enquadramento de identi- na, momento em que vive-
dade. mos, a tecnologia pode ser
Diante dessas novidades, entendida como um de seus
o ensino, nos níveis básico e affordances, isto é, uma
superior, não pode continuar construção social cuja exis-
ignorando o que acontece ao tência depende ontologica-
seu redor, anulando e mar- mente dos significados dessa
ginalizando as diferenças. E sociedade. Quando, então,
muito menos desconhecer propomos um curso mediado
que o aprender é expressar, por tecnologia computacio-
dos mais variados modos, o nal, é necessário esclarecer
que sabemos e representar em que contexto o fazemos
o mundo a partir de nossas e de que sociedade, atores e
origens, valores e sentimen- significados falamos.
tos. O pensamento pós-mo-
A criação da metodolo- derno exige uma postura
gia de ensino, Aprendiza- autônoma frente às trans-
gem Colaborativa Baseada formações profundas da
em Problemas - ACBP, reúne sociedade. O pós-moder-
diferentes áreas do conheci- no reabilita e adota a com-
mento e se propõe a seguir plexidade, a contradição,
os caminhos pedagógicos da a ironia, a mistura de esti-

12
los e gêneros em oposição to de acessibilidade. Aces-

Capítulo I
às referências de pureza e sibilidade, como qualidade
integridade. Somos força- de acessível, significa em
dos a reconhecer que nosso sentido lato “facilidade na
mundo agora resiste a gran- aproximação, no trato ou
des narrativas de um sentido na obtenção” (FERREIRA,

Atores da Inclusão na Universidade


só (POWELL, 1998; BARA- 2004), sugerindo suas impli-
NAUSKAS, 2008a). Estudar cações no mundo físico, nas
e discutir um assunto nesse relações atitudinais e sociais.
contexto exige métodos que Em sentido estrito, acessi-
possibilitem esse convívio de bilidade tem sido definida
diferentes sentidos e visões como “condição de acesso
de mundo. aos serviços de informação,
Muito do pensamento documentação e comunica-
pós-moderno tem a ver com ção por pessoas com defici-
o reconhecimento do Outro – ência” (W3C, 2008). Em seu
outros indivíduos, outros gê- sentido estrito, portanto, o
neros, outros grupos, outras conceito pressupõe o concei-
espécies, outras culturas, o to de deficiência. Nosso sig-
outro da mente consciente, nificado para acessibilidade,
o outro da mente racional. porém, remete a como en-
A ênfase pós-modernista tendemos a deficiência.
na “differance” tem permi- Historicamente a defici-
tido que os Outros, antes si- ência foi por muito tempo
lenciados (mulheres, gays, entendida, do ponto de vista
negros, e outras minorias), exclusivamente médico, co-
expressem suas próprias mo sinônimo de anormali-
histórias em suas próprias dade pelo “portador” dessa
vozes (POWELL, 1998). Esse deficiência. O remédio, nes-
é o cenário de uma socieda- se caso, quando existe, é a
de prospectivamente inclu- cura e seu agente é um pro-
siva. E é para esse cenário fissional da saúde. Soluções
que propomos este traba- dentro desse modelo de defi-
lho. ciência buscam a “acomoda-
Comecemos pelo concei- ção” dessa anormalidade, no

13
mundo físico e social. tender e a propor maneiras
No pensamento pós-mo- de lidar com as identidades
derno, deficiência é sinôni- e diferenças no contexto da
mo de “diferença” e tem a Universidade, como espaço
ver com o reconhecimento físico e/ou virtual, e das re-
do Outro. Nesse sentido, a lações com o conhecimento,
deficiência é constatada na cada vez mais acessível.
interação entre indivíduo e Nesse Projeto pudemos
sociedade. O “remédio” seria exercitar o design para o de-
a mudança na interação e safio das diferenças, tanto no
qualquer pessoa ou arte- produto quanto no processo
fato que afete essa intera- de design, que chamamos
ção é agente do processo no “design inclusivo”. Concei-
mundo social. O Desenho tos e artefatos da Semiótica
Universal, ou Design para Organizacional (LIU, 2000),
Todos - design de produtos articulados de forma parti-
e serviços para a maior ex- cipativa (MULLER, 2002),
tensão possível de usuários- envolveram a comunida-
é o paradigma subjacente a de universitária desde o iní-
essa concepção de acessibi- cio do Projeto em ações de
lidade, que leva a ambientes clarificação do problema e
inclusivos físicos ou virtu- proposição de idéias. Mate-
ais. Não se trata de design riais foram adaptados para
para a média da população, a participação de todos nas
mas design que considere práticas de articulação do
as identidades e diferenças, problema e no design de so-
na sua maior extensão pos- luções. O curso AIU Atores
sível, sem segregar (BARA- da Inclusão na Universidade:
NAUSKAS, 2008b). formação e compromisso e a
A sociedade inclusiva a presente proposta metodo-
que almejamos é aberta às lógica também são frutos de
diferenças. O Projeto Todos ações e da relevância desse
Nós UNICAMP Acessível tem Projeto.
sido uma fonte de inspira- Com o objetivo de reunir
ção e tem nos ajudado a en- a produção científica resul-

14
tante do Projeto Todos Nós “oficinas participativas”. Tais

Capítulo I
em um curso de extensão ambientes físicos ou virtu-
universitária que contribua ais devem ser includentes,
para tornar as Universidades possibilitando o acesso aos
cada vez mais inclusivas, a materiais e à dinâmica do
metodologia proposta neste processo de ensino e apren-

Atores da Inclusão na Universidade


capítulo se apóia em práticas dizagem de forma colabora-
participativas de ensino e de tiva, quer presencialmente,
aprendizagem presencial e quer através da Internet.
a distância para as quais a
proposição e a elaboração de Fundamentos do ACBP
material de apoio em várias
mídias são essenciais. O modelo ACBP, que sus-
Em particular, adotamos tenta e media nossa aborda-
uma abordagem à aprendiza- gem metodológica, propõe
gem baseada em problemas e uma articulação dos mode-
mediada por ambientes com- los de aprendizagem base-
putacionais colaborativos que ada em problemas (ou PBL,
denominamos ACBP, acrônimo do inglês Problem Based Le-
de Aprendizagem Colaborati- arning) e de aprendizagem
va Baseada em Problemas, e colaborativa baseada em com-
sua instanciação em um am- putador (ou CSCL, do inglês
biente de ensino a distância Computer-Supported Collabo-
(MELO-SOLARTE e BARA- rative Learning). Os artefatos
NAUSKAS 2008b). O modelo que utilizamos no ACBP pos-
ACBP inclui artefatos inspira- sibilitam a discussão de um
dos na Semiótica Organiza- problema proposto a par-
cional que permitem que a tir de uma perspectiva so-
articulação, discussão e re- cial e de um contexto mais
solução do problema possam abrangente para sua inter-
acontecer presencialmente pretação, para a interação
ou a distância, em um con- do grupo e construção cola-
texto mais abrangente de borativa de propostas de so-
compartilhamento de signi- luções.
ficados, que denominamos PBL tem sido considerado

15
um bom esquema constru- ferramentas, tais como: e-
tivista no processo de ensino mail, chat, fóruns, etc. Mas
e aprendizagem, usando-se essas ferramentas não dão
problemas “do mundo real” conta de todo o potencial de
como ponto de partida para a PBL, já que elas foram proje-
aquisição e integração dos tadas para outros fins como
novos conhecimentos. Esse discussão casual, por exem-
tipo de abordagem de ensino plo. É aí, então, que CSCL faz
e aprendizagem tem tradi- seu aporte conceitual, suge-
ção no domínio da medici- rindo meios apropriados de
na, que a utiliza na solução diálogo e comunicação, sis-
de casos clínicos median- temas de apoio a decisões,
te interação face a face. sistemas de gerenciamento
Mais recentemente, a abor- e supervisão do processo
dagem orientada a proble- ACBP é um modelo que
mas tem sido adaptada a articula características de
diferentes áreas do conhe- operação e de desenvolvi-
cimento e aplicada em dife- mento propostas pelos mo-
rentes variações com relação delos PBL e CSCL, utilizando
à proposta original, incluin- artefatos específicos para
do o uso de tecnologia. PBL análise e clarificação de pro-
promove atividades para tra- blemas.
balho em grupo que visam a
desenvolver nos estudantes O Problema e a Cebola
habilidades metacognitivas Semiótica
no domínio do problema.
Em anos recentes, a tec- Em nosso entendimento,
nologia da computação as- conhecer um problema en-
sumiu o papel de suporte na volve saber situá-lo no nú-
mediação de atividades em cleo de uma estrutura de
PBL, permitindo acesso aos camadas de significados, a
recursos necessários para qual chamamos de “cebola
resolver o problema e faci- semiótica”. Essas camadas
litando a comunicação entre constituem níveis informais,
os membros do grupo com formais e técnicos do grupo

16
social com relação ao proble- Nessa proposta metodológi-

Capítulo I
ma em questão. Nos níveis ca, usaremos apenas os dois
mais externos (informais), primeiros artefatos, que des-
intenções e significados são crevemos brevemente a se-
determinados, crenças são guir.
formadas e compromissos

Atores da Inclusão na Universidade


são estabelecidos e altera- Partes Interessadas: Análi-
dos. Nos níveis formais, for- se do Impacto e Alcance da
mas e regras substituem Solução
significados e intenções dos
níveis mais externos da ce- Pressupõe-se que as par-
bola. Finalmente, no nível tes interessadas no problema
técnico (núcleo da cebola), são governadas por forças
soluções técnicas são gera- de campos de informação
das como conseqüência dos e conhecimento e compor-
significados dos níveis an- tam-se de acordo com elas.
teriores. O desenho de uma Essas forças são relaciona-
solução para um problema das a funções, tarefas, va-
envolve pensar articulada- lores pessoais, objetivos,
mente as três camadas de metas sociais, etc.
significados pertinentes ao Os objetivos da oficina
problema. Partes Interessadas são cla-
rificar o problema e compar-
O Método de Articulação tilhar conhecimento no grupo,
de Problemas determinando, de forma mais
abrangente possível, o esco-
No ACBP a clarificação do po de partes direta ou indi-
problema se dá pela ação retamente interessadas no
dos aprendizes organizados problema e no impacto de
em grupos, dinâmicas de suas soluções. A análise dos
oficinas participativas, uti- resultados da oficina informa
lizando-se três artefatos: e delimita o alcance de solu-
Diagrama de Partes Inte- ções do problema, tanto do
ressadas, Quadro de Avalia- ponto de vista técnico, quan-
ção e Framework Semiótico. to de inclusão social/digital.

17
A análise de Partes Inte- ção, ou fazem uso des-
ressadas ajuda o grupo de ses dados.
participantes a entender a
situação real do problema e • Parceiros e Concorrentes
os requisitos para as solu- - fazem parte do merca-
ções pretendidas, por meio do relacionado ao proble-
de discussão e levantamento ma.
das partes que, direta ou in-
diretamente, influenciam ou • Espectador e Legislador
sofrem a influência do pro- - representantes da co-
blema e/ou da sua solução. munidade que influen-
ciam e são influenciados
A Figura 1a ilustra o Diagra-
pelo problema em deter-
ma de Partes Interessadas,
minado contexto social.
antes de seu preenchimento
pelo grupo. O artefato dis-
Quadro de Avaliação:
tribui as partes interessadas Levantando Questões e
em diferentes categorias, Idéias de Soluções
que representam diferen-
tes “forças de informação” O Quadro de Avaliação
em relação ao problema sob [ref ihci2005] é um artefato
análise. Utilizamos as se- que possibilita a articulação
guintes categorias: do problema em estágios ini-
ciais de busca por soluções,
• Atores e Responsáveis – apoiando-se no compartilha-
contribuem diretamente mento de significados entre
para o problema ou para os participantes.
a sua solução e/ou são Além disso, informa so-
afetados diretamente por bre questões específicas das
ele. partes interessadas no pro-
blema e sobre idéias ou solu-
• Clientes e Fornecedores – ções vislumbradas, que terão
fornecem dados e/ou são potencial impacto no dese-
fonte de informações ao nho da solução do proble-
problema ou a sua solu- ma. A Figura 1b ilustra um

18
Capítulo I
Atores da Inclusão na Universidade
Figura 1. Artefatos do Método de Articulação de Problemas: (a) Diagrama
de Partes Interessadas, (b) Quadro de Avaliação

Quadro de Avaliação antes grupo passa ao uso de cada


de seu uso pelo grupo. artefato, que media e tam-
O Quadro de Avaliação bém serve de registro dos
permite ao grupo identifi- resultados.
car, para cada categoria de Quando feitas presen-
partes interessadas, seus cialmente, os artefatos das
interesses e suas principais oficinas são produzidos na
questões, para discutir idéias forma de pôsteres, que são
possíveis, das quais resul- pendurados na parede para
tarão requisitos ao usuário fácil acesso das mãos. Neles
para soluções do problema. são colados os adesivos do
tipo “post it”, onde os parti-
Dinâmica das Oficinas: cipantes registram as contri-
buições durante as oficinas.
A dinâmica das oficinas Dependendo da audiência,
participativas envolve uma esses materiais são adapta-
breve apresentação pesso- dos de formas variadas para
al dos participantes, seguida acesso de todos, por exem-
da apresentação do concei- plo, com alto-relevo para in-
to e dos objetivos da oficina. formação tátil. A Figura 2
Em seguida, com a coorde- a seguir ilustra os artefa-
nação de um facilitador, o tos de Partes Interessadas

19
Figura 2. Diagrama de Partes Interessadas e Quadro de Avaliação
preenchidos em Oficinas Participativas

e o Quadro de Avaliação, ternativamente, grupos me-


após terem sido preenchidos nores podem ocupar cantos
em oficinas participativas da sala separadamente, cada
presenciais, para o problema um com um conjunto dos ar-
que envolvia o desenho de tefatos. As Figuras 3 (a) e
“redes sociais inclusivas”. (b) ilustram, respectivamen-
As oficinas participativas, te, um ambiente de oficina
quando na sua forma pre- participativa presencial e um
sencial, são realizadas, ide- dos artefatos adaptados com
almente, por grupos de até alto-relevo.
35 pessoas. A sala ou espa- Café, biscoitos e água
ço físico deve acomodar os podem ficar à disposição dos
artefatos utilizados, afixa- participantes durante a ofi-
dos em uma das paredes la- cina.
terais. As cadeiras podem Entende-se que o regis-
ser dispostas em arcos, de tro da oficina é parte da do-
forma que todos tenham boa cumentação do trabalho.
visão e acesso ao conteúdo Recomenda-se registrar as
produzido via artefatos. Al- atividades também com fil-

20
Capítulo I
Atores da Inclusão na Universidade
Figura 3(a). Um ambiente de Figura 3(b). Um quadro adapta-
oficina participativa do com relevo

madoras e câmeras fotográ- to a partir da busca de infor-


ficas, para análise posterior mação, aportes individuais
e classificações das partes de idéias e conceitos, além
interessadas no problema da construção de significa-
em questão, bem assim na dos resultante das discus-
análise do impacto e do al- sões de todos os membros
cance da solução. do grupo (MELO-SOLARTE
Um termo de consenti- e BARANAUSKAS, 2008a).
mento deve ser entregue O modelo de processo ACBP
aos participantes solicitando está centrado em discus-
sua autorização para even-
sões e reflexões do grupo
tual uso da imagem e da fala
sobre o problema em ques-
registradas.
tão, via ferramentas com-
O Modelo de putacionais para interação
Processo de ACBP social, compartilhamento de
significados e construção de
O modelo ACBP propõe conhecimento. Busca dispo-
uma dinâmica de trabalho nibilizar as soluções em um
colaborativo baseada na repositório público (banco de
construção de conhecimen- problemas resolvidos), para

21
Figura 4. Representação do modelo ACBP

futuras consultas. A Figura 4 torno de uma atividade cen-


ilustra diagramaticamente o tral de “discussões e refle-
modelo. xões do grupo”. A partir da
Na Figura 4, elipses re- proposição de um problema
presentam os repositórios (Fase 1), quatro outras fases
como lugares de armazena- organizam atividades do pro-
mento da informação. De- cesso e permitem identificar
pendendo do nível de acesso sua evolução: análise e cla-
(individual ou turma), as di- rificação do problema (Fase
ferentes atividades do pro- 2); propostas e desenvolvi-
cesso são representadas por mento de soluções (Fase 3);
retângulos; as setas grossas socialização (Fase 4) e sín-
representam a relação dire- tese do processo (Fase 5).
ta entre as atividades; e, as Existem ainda atividades que
setas finas, relações media- são desenvolvidas pelos es-
das pelos repositórios. tudantes de forma individual
O processo geral gira em (busca de informação e aná-

22
lise de informação), e uma modelo. As ferramentas que

Capítulo I
atividade de documentação não estavam disponíveis no
da solução, que é executada ambiente Sakai foram de-
pelo grupo no momento de senvolvidas e agrupadas em
liberar sua proposta. 4 módulos:

Atores da Inclusão na Universidade


O Ambiente Computacio- • Módulo Modelo: conta
nal ACBP-Sakai com cinco componentes
informativos, que docu-
Nesta seção apresenta- mentam as características
mos a instanciação do modelo do modelo ACBP e exem-
ACBP de Ensino a Distân- plificam sua aplicação em
cia (EaD), o Sakai (SAKAI, um estudo de caso;
2008), compondo o ambien-
te ACBP-Sakai. • Módulo PAM: baseia-se
O ACBP-Sakai está com- nos artefatos da Semió-
posto por um conjunto de tica Organizacional (SO).
quatorze ferramentas base
Seu objetivo é a análise
(Figura 5), que permitirão
e clarificação de proble-
apoiar e desenvolver o pro-
mas, considerando as-
cesso de ACBP a distância.
Das 14 ferramentas, nove pectos sociais, informais
que já estavam presentes e formais, bem como os
aspectos técnicos que o
envolvem;

• Módulo Documentos: neste


módulo foram criados três
componentes, que permi-
tem a documentação de ati-
vidades relevantes durante
Figura 5. Ferramentas disponí-
veis no ambiente ACBP-Sakai o processo, lembrando que,
dentro do modelo ACBP,
no ambiente Sakai foram é fundamental o caminho
configuradas para operar de percorrido do problema e
acordo com os requisitos do as diversas atividades fei-

23
tas pelos estudantes para compêndio de ferramentas,
desenvolver a solução; mas, sim, identificar aque-
las que possam ajudar no
• Módulo Reuniões: le- desenvolvimento do proces-
vando-se em conta que o so de ensino baseado na re-
chat fornecido pelo Sakai solução de problema, sem
só funciona em turma e sobrecarregar ou saturar o
não permite personaliza- conjunto de funcionalidades
ção, há a necessidade de requeridas pelos usuários do
se criar dois componen- ambiente.
tes como esquemas de Basicamente, cada mó-
comunicação personali- dulo tem uma interface de
zados de acordo com o usuário composta por três
modelo ACBP, tentando regiões (Figura 6): uma re-
articular algumas carac- gião principal, onde são dis-
terísticas que permitam ponibilizadas as ferramentas,
restringir e canalizar cada permitindo mudança entre
participação. ferramentas por meio da na-
vegação por abas; uma re-
Durante a instanciação gião auxiliar na parte direita,
do modelo ACBP no ambien- que permite disponibilizar a
te Sakai, também foram de- área de informação e a área
senvolvidas ferramentas de chat e, por último, uma
adicionais que não estão região auxiliar na parte infe-
classificadas em nenhuma rior, que disponibiliza a área
das categorias anteriores, para construção da interpre-
mas fazem parte das fun- tação do problema. Os es-
cionalidades do modelo e paços auxiliares podem ser
estão disponíveis nos módu- ocultados segundo a neces-
los PAM e Documentos. Além sidade ou interesse do usu-
disso, Sakai conta com ou- ário.
tras ferramentas para apoiar O ambiente ACBP-Sakai
diferentes atividades colabo- permite criar e estruturar
rativas. O objetivo do mo- cada disciplina como um pro-
delo ACBP não é gerar um blema só ou como um con-

24
Capítulo I
Atores da Inclusão na Universidade
Figura 6. Interface de usuário do ambiente ACBP-Sakai

junto de problemas menores. projeto – Atores da Inclusão


Para cada problema são dis- - é o direito de todos a uma
ponibilizadas as ferramen- educação sem exclusão, dis-
tas consideradas necessárias criminação, preconceito. O
pelo professor da disciplina. acesso à escola de nível bá-
Os usuários cadastrados no sico e superior é um desafio
ambiente têm uma aba cha- a enfrentar neste momento
mada Área Pessoal, na qual de grandes transformações
estão disponíveis ferramen- em todas as atividades hu-
tas para personalizar o am- manas.
biente. Ambientes educacionais
inclusivos são construídos
Considerações Finais com ações que reorgani-
zam os sistemas de ensino.
O que nos move neste Essas ações incidem sobre o

25
comportamento das pessoas Torná-las espaços de todos e
diante das diferenças, intro- para todos é uma conquista
duzem novos conhecimen- diária que exige atores bem
tos, mobilizam o contexto formados, como é a nossa
em que são desenvolvidas e pretensão nessa formação.
exigem trabalhos colabora-
tivos, que expandam as no-
vidades criadas, para que
todos possam usufruir de
uma vida de melhor quali-
dade e ter participação au-
tônoma na comunidade.
O curso que estamos ofe-
recendo reúne contribuições
retiradas de nossos estu-
dos sobre a acessibilidade
na Universidade Estadual de
Campinas, em São Paulo.
Disponibilizamos em suas
disciplinas produções cien-
tíficas e tecnológicas desen-
volvidas pelo projeto TODOS
NÓS- UNICAMP Acessível, fi-
nanciado pela CAPES e pela
Secretaria de Educação Es-
pecial - SEESP/MEC. Quere-
mos compartilhar com vocês
essa produção e tornar nos-
sas universidades abertas a
todos, incondicionalmente.
A acessibilidade em todos
os seus aspectos é um dever
nosso de professores, pes-
quisadores e dos alunos e
funcionários que compõem
as universidades brasileiras.

26
Referências

Capítulo I
BARANAUSKAS, M.C.C. Cultura e interatividade na sociedade
tecnológica pós-moderna: e-Cidadania. In: FÓRUM PERMA-
NENTE DE CONHECIMENTO & TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO,
Campinas, UNICAMP, 2008 (comunicação oral).

Atores da Inclusão na Universidade


BARANAUSKAS, M.C.C. Inclusão digital e acessibilidade:
iniciativas e casos de sucesso de inclusão digital, acessibilida-
de e empreendedorismo. In: FÓRUM CAMPINAS, Campinas,
2008 (comunicação oral).

FERREIRA, A.B.H. Novo dicionário eletrônico Aurélio da


Língua Portuguesa-versão 5.0. Curitiba: Positivo Informá-
tica, 2004.

LIU, K. Semiotics in Information Systems Engineering.


Cambridge University Press, 2000.

MANTOAN, M.T.E. A escola flexível e a pedagogia das dife-


renças. Pátio: Revista Pedagógica, v.12, n.98, 16-20,
nov.2008/jan.2009.

MANTOAN, M.T.E. Inclusão escolar: O que é? Por quê? Como


fazer? São Paulo: Moderna, 2005.

MANTOAN, M.T.E. Inclusão escolar: O que é? Por quê? Como


fazer? 2.ed. São Paulo: Moderna, 2007.

MELO-SOLARTE, D; BARANAUSKAS, M.C.C. Aprendizagem


colaborativa baseada em problemas (ACBP): um modelo
conceitual.Campinas: IC-UNICAMP, 2008a (Relatório Técnico).

27
MELO-SOLARTE, D; BARANAUSKAS, M.C.C. Uma abordagem
para EaD baseada em resolução de problemas. In: SIMPÓ-
SIO BRASILEIRO DE INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO, SBIE 19.,
2008, Fortaleza. Anais... Fortaleza: UFC, 2008b. p.716-725.

MULLER, M.J. Participatory design: the third space in HCI.


IBM Watson Research Center, 2002. (Technical Report).

POWELL, J.N. Postmodernism for beginners. New York:


Writers and Readers, 1998.

SAKAI. Collaboration and learning environment for Education.


Disponível em http://sakaiproject.org/ Acesso em: 10 maio
2008.

W3C 2008. Disponível em:


http://www.w3.org/WAI/intro/accessibility.php
Acesso em: 10 maio 2008.

28
Capítulo II
Diferenças, identidades e inclusão

Susie de Araujo Campos Alcoba


Maria Isabel Sampaio Dias Baptista
Janaína Speglich Amorim Carrico
Lilia Maria Souza Barreto
Estas páginas pretendem cer uma série de obstáculos
ser um convite provocati- que inibem sua atuação de
vo para a reflexão sobre in- modo geral.
clusão na universidade. Elas As mudanças nem sempre
entrelaçam conteúdos que são facilmente aceitas, por-
levam nosso olhar para além que as pessoas resistem em
de palavras e conceitos, abandonar hábitos e alterar
através de poemas, canções, seus modos de viver e con-
cenas de filmes, depoimen- viver. Além disso, seus olha-
tos e textos literários. res sobre os outros podem
Quando falamos em inclu- estar carregados de estere-
são, logo pensamos em dar ótipos que os desqualificam
acesso a ambientes, bens e para serem aceitos incondi-
serviços para pessoas que cionalmente na comunidade
estejam deles apartadas. Ao que os recebe.
considerar uma instituição Nosso convite, nas pá-
de educação superior, não ginas que se seguem, é zi-
basta aceitar trabalhadores guezaguear pelos meandros
e alunos diferentes dos tra- dessas concepções pré-es-
dicionais, sem dar-lhes as tabelecidas, lançando uma
condições de plena partici- visão crítica sobre elas e le-
pação nos espaços de traba- vando o leitor a duvidar des-
lho e estudo. sas identidades fixadas e a
Esses estabelecimentos abrir-se às possibilidades de
sempre foram organizados diferentes encontros, sem
visando um grupo específi- receitas ou bússolas.
co de pessoas, para as quais
eles são plenamente funcio- Que é ser: duvidar
nais e acolhedores, tanto
em suas características físi- Que vai ser quando crescer? Vivem
cas, quanto em sua estrutu- perguntando em redor. Que é ser?
ra de organização laboral e É ter um corpo, um jeito, um nome?
acadêmica. Mas, para outras Tenho os três. E sou? Tenho de
pessoas, os mesmos esta- mudar quando crescer? Usar outro
belecimentos podem ofere- nome, corpo e jeito? Ou a gente só

30
principia a ser quando cresce? É dá para entender. Não vou

Capítulo II
terrível, ser? Dói? É bom? É triste? ser. Não quero ser. Vou cres-
Ser: pronunciado tão depressa, e cer assim mesmo. Sem ser.
cabe tantas coisas? Repito: ser, Esquecer” (ANDRADE, 1988,
ser, ser. Er. R. Que vou ser quando p. 573).
crescer? Sou obrigado a? Posso

Atores da Inclusão na Universidade


escolher? Não dá para entender. Natureza da gente não cabe
Não vou ser. Não quero ser. Vou em nenhuma certeza.
crescer assim mesmo. Sem ser. (ROSA, 2006)
Esquecer.  
(ANDRADE, 1988)
Mergulhamos, em nosso
cotidiano, em complexas si-
O poeta questiona: ser é tuações de diferenciação, de
ter um corpo, um jeito, um reconhecimento e pertenci-
nome? Parece que o autor mento a diferentes grupos.
não se satisfaz com uma O reconhecimento da nossa
identidade definida a partir especificidade, ou seja, das
apenas do seu corpo, ou ape- nossas diferenças, é muito
nas do seu jeito, ou do nome.
importante, embora corra-
Percebe-se múltiplo. Ele é mos o risco de nos aprisio-
corpo, jeito, nome. Quando narmos em uma identidade
pensamos em uma identi- fixa, que não traduz as nos-
dade que tem uma essência, sas múltiplas facetas.
um núcleo que sempre defi- Para Riobaldo, persona-
ne a pessoa, reduzimos o su- gem de Guimarães Rosa em
jeito a um fragmento do seu Grande Sertão: Veredas, não
ser: o negro, o homossexu- existe identidade. Ou, então,
al, a pessoa com deficiência, ela não pode ser apreendi-
o doente... Mas a identida- da por uma definição: “natu-
de, por exemplo, de todas as reza da gente não cabe em
pessoas surdas é a mesma? nenhuma certeza” (p. 417).
Obviamente, não. O pensamento de Riobaldo
O poeta opta pela fuga nos expõe a inviabilidade da
ao essencialismo: “Sou obri- identidade como uma redu-
gado a? Posso escolher? Não ção ou como um esgotamen-

31
to do sujeito em função de nhece Andrew, porém, ao
determinadas marcas. saber que ele tem Aids, afas-
No filme Filadélfia (1993), ta-se ostensivamente. Ele
com Tom Hanks e Denzel Wa- crê que o aperto de mão irá
shington, Andrew Beckett, contaminá-lo e que os ob-
demitido de uma grande jetos tocados pelo colega
firma por ter Aids, procu- ficariam maculados pela do-
ra Joe Miller, com quem já ença.
havia trabalhado antes, para Estamos diante de um
pedir que aceite defendê-lo. caso de pré-conceito, que se
Enquanto apertam as inicia com a falta de informa-
mãos, Joe pergunta a An- ção e com a conseqüente re-
drew: “O que houve com seu dução do outro como alguém
rosto?” Andrew responde: a temer. Joe desconhece as
“Eu tenho Aids”. Imediata- formas de transmissão da
mente, Joe retira sua mão doença e, simplesmente,
e recua vários passos. Há afasta-se com medo de ser
um mal-estar no ambiente, contagiado. À sua frente não
quando Joe olha para sua está um ser humano ou uma
própria mão, preocupado, pessoa que ele conhecera no
deixando claro seu descon- passado; à sua frente está a
forto com a presença do co- Aids, personalizada na figu-
lega em seu escritório. Ele ra de Andrew.
olha para tudo que Andrew Em outra cena, Andrew
toca, enquanto está expondo estuda sozinho em uma bi-
seu caso, como se Andrew blioteca pública. Um funcio-
estivesse contaminando toda nário lhe traz um livro que
sala. Visivelmente incomo- fora solicitado. Parado a seu
dado, Joe pergunta: “Quan- lado, visivelmente incomo-
tos advogados você procurou dado com a presença de An-
antes de mim?” Andrew res- drew, oferece o uso de uma
ponde: “Nove”. sala privativa. Andrew recu-
Essa cena mostra o que sa. O bibliotecário insiste,
chamamos de fixação da dizendo que ele se senti-
identidade. Joe Miller reco- ria mais confortável naque-

32
la sala. O mal-estar é claro papel de Jean Cabot, que se

Capítulo II
quando outras pessoas na sente ameaçada pela pre-
mesa se entreolham e olham sença de um chaveiro que
para Andrew com preocu- está consertando a porta da
pação. Ele olha em volta e sua casa. Para ela, as mar-
pergunta se o bibliotecário cas no corpo desse homem

Atores da Inclusão na Universidade


ficaria mais confortável se o reduzem a uma identida-
ele fosse para a tal sala. de imaginada e maquinada a
Esse trecho destaca o partir de estereótipos: ele é
congelamento da identida- imigrante mexicano, careca,
de em uma imagem social tem tatuagens, portanto, é
negativa e a necessidade de visto como um criminoso.
apartar essa presença das A cena expõe a visão
demais. Andrew é visto pelos agressiva que temos quan-
outros como uma ameaça. do partimos de preconceitos.
Aqui temos um elemento O medo da violência bate à
importante: ele não diz que nossa porta constantemen-
está doente, porém, seu es- te, através da mídia. Exis-
tado de saúde precário é vi- te na concretude de nossas
sível a todos. O olhar dos experiências sociais e provo-
outros “define” Andrew; de- ca ações e reações inimagi-
fine sua condição e tenta, náveis.
inclusive, estabelecer sua No documentário Estami-
posição naquele espaço, se- ra, deparamo-nos com outra
parando-o dos demais. situação potencialmente in-
cômoda: a loucura. Esse
Se não, o senhor me diga: filme de Marcos Prado (2005)
preto é preto? Branco é aborda a vida de uma senho-
branco? Ou: quando é que ra de 63 anos que habita o
a velhice começa, surgindo Aterro Sanitário de Jardim
de dentro da mocidade? Gramacho, no Rio de Janei-
(ROSA, 2006) ro. Para Estamira, “tudo que
é imaginário tem, existe, é”.
No filme Crash – no limite Vive em um mundo ao con-
(2005), Sandra Bullock faz o trário e ela própria contraria

33
o mundo em que vive. são. Vivemos o não-normal
A tendência do olhar da almejando à estabilidade.
sociedade sobre os loucos é Citando Estamira: “esper-
aprisioná-los em uma ima- to ao contrário!” Seu incon-
gem social negativa e ex- formismo nos derruba, seus
cluí-los do convívio com os questionamentos pertinen-
demais. A loucura é situada tes nos aterrorizam. Vaga
em oposição à razão. Essa num mundo que a estranha.
razão é tão valorizada entre Ao mesmo tempo, estra-
nós que chegamos a estabe- nha esse mundo de flagelos.
lecê-la como definidora da Apresenta-nos uma lucidez
condição humana. Os lou- peculiar que nos incomoda.
cos parecem, nessa pers- É lúcida de sua loucura. Uma
pectiva, não partilhar dessa insanidade provocativa.
condição. Estamos em transito-
Estamira entra em cena riedade. Ziguezagueamos
para polemizar esse olhar. por simultâneas situações.
A loucura pode ser vista de Estamira nos mostra essa
outras maneiras? Será que imanente possibilidade. A
não chamamos de loucura contínua mobilidade entre
tudo aquilo que apenas nos estar em situação de capa-
deixa desconfortáveis, que cidade e incapacidade, de
nos produz estranhamento saúde e doença, de fragilida-
ou que não conseguimos en- de e força. Situações que po-
caixar em nosso saber? Ou, demos viver em justaposição
quando é que a loucura co- e não em oposição. Ilusões
meça, surgindo de dentro da de ordem que se desfazem
lucidez? no caos. A loucura profética
Construímos antagonis- de Estamira expõe nossa er-
mos: loucura-sanidade, norma- rância em busca de nós mes-
lidade-deficiência. Estamira, mos:
não. Aspiramos à normalida- Entre mim e mim, há vastidões
de e à sanidade e somos in- bastantes. Para a navegação
terpelados por situações que dos meus desejos afligidos.
nos afastam dessa preten- Descem pela água minhas

34
naves revestidas de espelhos. ainda não foram terminadas –

Capítulo II
Cada lâmina arrisca um olhar, mas que elas vão sempre mu-
e investiga o elemento que a dando. Afinam ou desafinam.
atinge. Verdade maior.
Mas, nesta aventura do
sonho exposto à correnteza, O senhor já sabe: viver é etcé-

Atores da Inclusão na Universidade


Só recolho o gosto infinito das tera.
respostas que não se encon- (ROSA, 2006)
tram.
Virei-me sobre a minha própria O problema não é inventar. É
existência, e contemplei-a: ser inventado, hora após hora
Minha virtude era esta errân- e nunca ficar pronta nossa edi-
cia por mares contraditórios, ção convincente.
E este abandono para além da (ANDRADE, 1984)
felicidade e da beleza.
Ó meu Deus, isto é a minha
O poema acima abre o
alma: Qualquer coisa que
livro Corpo, instigando o lei-
flutua sobre este corpo efê-
tor, desde a primeira pági-
mero e precário. Como o
na, a pensar no processo de
vento largo do oceano sobre
criação, que transcende a in-
a areia passiva e inúmera.
venção da obra literária. Li-
(MEIRELES, 1994, p. 140)
nhas que, com simplicidade
artística, também nos fazem
Afinar, desafinar: inven-
refletir sobre nossa condi-
tar
ção existencial, em como en-
Quem sabe direito o que uma
frentar a vida, dia após dia,
pessoa é? Antes sendo: julga-
sem deixar-se endurecer, fi-
mento é sempre defeituoso, xar-se por uma imagem ou
porque o que a gente julga é um preconceito qualquer. O
o passado. texto do grande poeta con-
trapõe-se a uma identidade
O senhor... Mire veja: o mais que tende a colocar-se em
importante e bonito, do posições definitivas, porque
mundo, é isto: que as pesso- as pessoas podem ser rein-
as não estão sempre iguais, ventadas continuamente.

35
Vivemos em uma época que assumimos.
em que alguns grupos, cada No documentário Jane-
vez mais, se auto-celebram la da Alma (2001), dedicado
como possuidores de iden- ao ato de ver ou não ver o
tidades “naturais”, “origi- mundo - em sentido literal e
nais” ou mesmo “puras”. Ao figurado - e como os proble-
mesmo tempo, alguns pen- mas relativos à visão inter-
sadores, como Stuart Hall ferem na vida de cada um,
(1997), nos advertem da a cineasta Marjut Rimminem
crise por que passam as ve- fala sobre o efeito do olhar
lhas identidades duradouras, deprimido e penalizado de
que mantinham o mundo so- sua mãe sobre ela, em re-
cial estável. ação ao seu forte estrabis-
Em um mundo de mu- mo.
danças aceleradas, as tra- Nossa identidade se
dições se enfraqueceram e forma na interação com os
uma grande variedade de outros e o olhar que nos ofe-
pontos de vista se encontra recem determina muito de
disponível, atingindo-nos nossa experiência no mundo.
através dos meios de comu- “Porque a vida é mutirão de
nicação. Com isso, multipli- todos, por todos remexida e
caram-se as possibilidades temperada”, filosofa Riobal-
de constituição das identi- do (ROSA, 2006, p. 461).
dades, que podem mudar Mesmo com uma defici-
ao longo da vida de cada um ência que não lhe impunha
de nós ou assumir diferentes dificuldades muito profun-
formas, dependendo do am- das na relação com o am-
biente em que nos encon- biente físico, Marjut sentiu o
tramos. Assim, Hall (1997) peso que vem recaindo sobre
aponta que a contempora- as pessoas com deficiência,
neidade se caracteriza pelas desvalorizadas por um moti-
diferenças, já que as identi- vo ou por outro: porque fu-
dades são transitórias, aber- giam do ideal de harmonia,
tas e estão sempre mudando beleza e equilíbrio cultivado
a partir dos papéis sociais pelos antigos gregos e ro-

36
manos; porque carregavam hoje, nossa cultura está im-

Capítulo II
algum castigo ou maldição pregnada desse tipo de olhar
segundo a visão de judeus e sobre as pessoas com defici-
cristãos medievais; porque ência.
passaram a ser vistas como Mas, felizmente, nunca
menos capazes e eficientes, estamos terminados. A

Atores da Inclusão na Universidade


de acordo com os padrões de identidade é móvel, como
produtividade de uma socie- percebe uma personagem de
dade capitalista; ou, ainda, Clarice Lispector (1991), em
porque sobrevive uma con- Um Sopro de Vida:
cepção que as definiu como
casos patológicos. Eu, reduzida a uma palavra?
À medida que a ciência Mas que palavra me represen-
médica se desenvolvia, o ta? De uma coisa sei: eu não
termo normal passou a ser sou meu nome. O meu nome
associado àquilo que é mais pertence aos que me chamam.
freqüente na população – Mas, meu nome íntimo é zero.
algo mensurável - e àquilo É um eterno começo perma-
que é desejável – um valor nentemente interrompido pela
subjetivo. Então, as ocor- minha consciência de começo
rências mais raras no estado (p. 133).
das pessoas eram conside-
radas como patologias in- O nome pelo qual me cha-
desejáveis, uma avaria na mam ou o rótulo que me dão
máquina do corpo que de- não representa aquilo que
veria ser consertada. En- eu sou. Não há um nome ín-
quanto esse conserto não timo que me acompanha,
fosse realizado, e freqüen- como uma marca indelével,
temente não pode sê-lo, a por toda a vida. Marjut Rim-
pessoa com deficiência seria minem quis forjar uma outra
vista como algo estragado identidade para si, quis li-
e permaneceria aprisionada vrar-se das cinzas resultan-
à idéia de tragédia pessoal, tes do olhar de sua mãe e
tal como expressava o olhar superar a frustração de não
da mãe de Marjut. E ainda conseguir os melhores pa-

37
péis no teatro da escola: Como ela, as pessoas
com deficiência também
O fato de ser cineasta e de mudaram a sua história,
fazer cinema de animação me rejeitando a identidade de
permite desempenhar todos os pessoas “quebradas”, que
papéis. Eu manipulo os bone- não funcionam a menos que
cos, desenho as personagens. possam ser “consertadas”.
Assim desempenho o papel de Fortalecidas pelos movimen-
todas as personagens, o que tos pelos direitos civis dos
me agrada muito! Finalmente, anos 60, elas rejeitaram a
consegui o papel da princesa visão médica, que as redu-
ao qual sempre aspirei na es- zia à condição de pessoas a
cola. [...] O paradoxo em tudo serem assistidas, tuteladas
isso é que, logo depois da úl- e defenderam a sua capaci-
tima operação, que foi bem- dade de plena participação
sucedida, ninguém notou a social.
diferença. Ninguém me disse: Os diversos grupos que
“O que houve com seu olho? então lutavam por integração
Que maravilha!”. Ninguém social, recusavam alternati-
notou. Então, de que adian- vas de inserção que desvalo-
tou todo esse trauma? Foi uma rizassem suas características
lesão interna. físicas, cor de pele, orienta-
ção sexual, possibilidades
O fato de que ninguém intelectuais, produções cul-
notara a mudança, após o turais e contribuições para
“conserto” do estrabismo de a construção de sua nação.
Marjut, pode ser uma evi- Cada grupo queria ver reco-
dência de seu sucesso em nhecidas as suas experiên-
transformar as cinzas em cias particulares.
jóia, pois já era uma prince- Na mesma época, Edward
sa em sua profissão. Já havia V. Roberts (1939-1995), te-
se livrado do nome “estrá- traplégico desde os quatorze
bica” e substituído por algo anos, foi admitido no cam-
como “cineasta/animadora pus de Berkeley, da Univer-
competente e premiada”. sidade da Califórnia, onde

38
ficou hospedado no hospital. ências e concepções da co-

Capítulo II
Lá, tinha que dormir den- munidade que inclui, pois
tro de uma máquina que lhe nada conhece da experiên-
permitia respirar à noite e, cia do outro que chega e di-
durante o dia, necessitava fere dos que já participam do
de um aparelho portátil para lugar que o recebe.

Atores da Inclusão na Universidade


ajudá-lo a respirar sentado.
A notícia de sua admissão Ninguém faz idéia de
trouxe outros estudantes quem vem lá: conviver
com deficiência, que se uni-
ram a Ed Roberts para rei- O senhor saiba: eu toda a
vindicar melhores serviços minha vida pensei por mim,
e permissão para viver de
forro, sou nascido diferente.
maneira independente, fora
Eu sou é eu mesmo. Divêrjo
do hospital, onde estavam
de todo o mundo...
alocados. Conseguiram criar
o primeiro programa para
Que isso foi o que sempre me
alunos com deficiência física
invocou, o senhor sabe: eu ca-
em um campus universitá-
rio, convenceram a prefeitu- reço de que o bom seja bom
ra a fazer as primeiras guias e o rúim, ruím, que dum lado
rebaixadas do mundo e cria- esteja o preto e do outro o
ram o serviço de atendentes branco, que o feio fique bem
pessoais para que pudessem apartado do bonito e a ale-
viver com autonomia. gria longe da tristeza! Quero
Aqueles estudantes de- os todos pastos demarcados...
fenderam o direito à auto- Como é que posso com este
determinação das pessoas mundo? A vida é ingrata no
com deficiência, rejeitando a macio de si; mas transtraz a
autoridade dos médicos em esperança mesmo do meio do
decidir o que era mais con- fel do desespero. Ao que, este
veniente para eles e deixan- mundo é muito misturado...
do-nos uma lição de como (ROSA, 2006)
se faz inclusão. Ela não pode
ser feita a partir das experi- A diferença está pre-

39
sente. Sem maquiagens ou undergrounds, os megastars
releituras, dispensou convi- Os Rolling Stones e o rei.
tes e está sentada à nossa Ninguém faz idéia de quem
mesa. É nossa cunhada, um vem lá...
primo, nossa tia ou aquele Ciganas e neo-nazistas /
vizinho. A diferença está em O bruxo, o mago, o pajé
nós. Nós também somos di- Os escritores de science fiction
ferentes para alguém. / Quem diz e quem nega o que é
De certa maneira, ser di- Os que fazem greve de fome /
ferente é ser também intra- Bandidos, cientistas do espaço
Prêmios Nobel da paz /
duzível para os outros e aqui
O Dalai Lama, o Mr. Bean
mora um grande problema.
Burros, intelectuais. Pensei:
Em geral, gostamos de ex-
Ninguém faz idéia de quem
plicações e soluções. Dúvi-
vem lá...
das e impossibilidades são
Os líderes de última hora
angustiantes. Não sabemos
/ Os que são a bola da vez
o que fazer com delas.
Os encanados, os divertidos
Estamos diante de um
/ Os tais que traficam bebês
problema dos nossos tem- O que bebe e passa da con-
pos: o convívio com os ou- ta / Os do cyberespaço
tros e o encontro com as A capa do mês da Playboy /
diferenças; a surpresa que O novo membro da Academia
os outros podem provocar. A O mito que se auto-destrói.
composição de Lenine e Ivan Eu sei:
Santos (2004) Ninguém faz Ninguém faz idéia de quem
idéia nos permite levantar vem lá...
esse panorama: Os duros, os desclassificados /
A vanguarda e quem fica pra trás
Malucos e donas de casa Os dorme-sujo, os emergen-
/ Vocês aí na porta do bar tes / Os espiões industriais
Os cães sem dono, os boia- Os que catam restos de fei-
deiros / As putas, babalorixás ra / Milicos, piratas da rede
Os gênios, os caminhonei- Crianças excepcionais /
ros / Os sem terra e sem teto Os exilados, os executivos
Atores, maestros, DJs / Os Os clones, os originais / É a lei:

40
ninguém faz idéia de quem que aqueles que julgamos

Capítulo II
vem lá... ser parecidos conosco. Me-
Os anjos, os exterminado- ramente suportamos essas
res / Os velhos jogando bilhar presenças, desde que não
O Vaticano, a CIA / O invadam nosso espaço pri-
boy que controla o radar vado. Andamos indiferen-

Atores da Inclusão na Universidade


Anarquistas e mercenários, / tes a essas pessoas, damos
Quem é e quem fabrica notícia encontrões, cortamos-lhes
Quem crê na reencarnação a frente sem maiores con-
/ Os clandestinos, os ilegais seqüências. Porém, diante
Os gays, o chefe da nação. do primeiro sinal de desen-
Ninguém faz idéia de quem
tendimento (batida de carro,
vem lá...
disputa de lugar na fila, ba-
rulho do vizinho etc.), esse
Sempre que estamos
“convívio tolerante” trans-
diante dos outros podemos
forma-se em agressividade.
nos questionar: O que fazer?
Aquelas pessoas tornam-se
O que pensar? Como devo
incrivelmente visíveis, em
me comportar? Podem sur-
todos os seus desagradáveis
gir diferentes reações como
distanciamento, indiferença, detalhes. Nessa perspectiva,
raiva, aversão, simpatia, to- os outros serão sempre vis-
lerância. tos em relação a um ponto
A tolerância, aparente- de vista apenas, ou seja, o
mente, é uma reação positi- ponto de vista dominante.
va. Entretanto, uma análise A inclusão de novos gru-
um pouco mais atenta per- pos sociais em uma comu-
mite observar que tolerar o nidade de onde estiveram
outro denota uma situação ausentes, não significa, ne-
de desnivelamento. Quem cessariamente, a constitui-
está acima, tolera quem ção de relações harmoniosas,
está abaixo. Aqueles que como algumas pessoas pen-
nos incomodam ou são di- sam. Também não supõe
ferentes de nós, normal- que os novos membros, ao
mente, não são encarados se integrarem ao grupo,
com a mesma consideração tornem-se iguais aos seus

41
participantes habituais. Por gunços, aqueles que estão
isso, a inclusão aponta para fora do padrão, da norma,
a possibilidade de criação de do estabelecido. Jagunços
arenas abertas ao confronto podem ser violentos. À sua
entre diferentes sujeitos. Ela aproximação, as pessoas da
está relacionada ao surgi- terra tendem a se recolher
mento de novos espaços de e travar suas portas e jane-
convívio, reais e virtuais, nos las. Na vida, os de fora nem
quais novas relações emer- sempre são bem vistos, por-
gem das colisões estabeleci- que trazem insegurança, de-
das entre as diferenças. sequilibram o cotidiano do
lugar.
Sertão é onde manda quem é
Quando falamos em in-
forte, com as astúcias. Deus
clusão na universidade, que-
remos dar morada aos que
mesmo, quando vier, que
antes não tinham nela gua-
venha armado!
rida. Mas isso não acontece,
de verdade, do dia para a
O sertão está em toda a
noite, só porque há progra-
parte.
mas de ações afirmativas ou
vestibular adaptado. A inclu-
O que me dava a qual inquie-
são esbarra principalmente
tação, que era de ver: co- nas pessoas, como nos ensi-
nheci que fazendeiro-mór é nou uma aluna da UNICAMP,
sujeito da terra definitivo, mas com graves problemas de
que jagunço não passa de ser mobilidade:
homem muito provisório.
(ROSA, 2006) A barreira não vem do espa-
ço físico. A barreira não exis-
No sertão, jagunço é te. O que conta é a maneira
fora-da-lei, não pertence como as pessoas lidam com
a nenhum lugar, ainda que as coisas. As barreiras depen-
acoitado e a serviço de um dem de as pessoas estarem
senhor da terra. Nos sertões mobilizadas para elas existi-
da vida, cada comunidade rem ou não.
ou instituição tem seus ja- (ALCOBA, 2008, p. 171).

42
Entretanto, temos todo No sertão da vida, man-

Capítulo II
um estilo de vida para des- dam os estabelecidos, os
construir, mesmo no am- “senhores” do lugar. Segun-
biente universitário, como do Norbert Elias (2000), os
revelou essa aluna, que es- estabelecidos são aqueles
perava “encontrar pessoas que, por estarem há mais

Atores da Inclusão na Universidade


preocupadas com a evolução tempo em um local, formam
do ser humano, da huma- um grupo muito coeso e que
nidade, todos maquinando
ocupa as posições de poder.
soluções” (ALCOBA, 2008.
Eles se esforçam por man-
p. 171), mas acabou decep-
cionada. Suas necessidades ter o status quo, para que
não pareciam mobilizar a co- seu estilo de vida não seja
munidade, mas se alguém alterado pelos outros, dife-
“da terra” tivesse a mesma rentes, que vêm de fora, aos
necessidade que ela, as coi- quais Elias chamou de outsi-
sas mudariam de figura. ders. Estes, em geral, não se
conhecem e não estão orga-
Eu sou uma atrapalhada de nizados como grupo. Consti-
muita sorte, porque sempre tuem uma minoria, distante
tem alguém que me socorre. das posições de influência,
Pedi para colocarem um corri- como a aluna que reivindica-
mão no auditório. Demoraram va o corrimão. Por isso, eles
muito, mas quando quebraram têm dificuldades para lutar
o salto lá, colocaram. Neste
pela satisfação de suas ne-
auditório tem uma rampa e é
cessidades e sofrem discri-
muito íngreme. O chão é liso e
minação, perpetuando-se,
principalmente quando chove
assim, sua situação de desi-
e molha, escorrega muito. [...]
Tinha aula lá uma vez por se-
gualdade.
mana, mas demoraram muito Além disso, os estabeleci-
para colocar o corrimão. Espe- dos procuram exercer o con-
ro que tenha sido coincidência, trole social, evitando contato
mas uma professora quebrou com o grupo dos outsiders
o salto e uma semana depois e cultivando a “fofoca”, ou
o corrimão estava lá. seja, um discurso sobre o
(ALCOBA, 2008, p. 133). outro que exagera e genera-

43
liza os defeitos que porven- (1978) explica que a socie-
tura tenham sido observados dade desenvolve meios de
naquele grupo, em deter- categorizar as pessoas, defi-
minado momento. Lançam nindo os atributos considera-
um estigma sobre os recém- dos comuns e naturais para
chegados, os de fora, os di- os membros que pertencem
ferentes. a cada categoria, o que tam-
É o que aconteceu em bém determina aqueles que
nossa cultura, por exemplo, lhe são estranhos. Cada am-
com a população negra, à biente social estabelece as ca-
qual se atribuiu uma série tegorias de pessoas possíveis
de defeitos e incapacidades de serem nele encontradas.
para mantê-la em situação Essas pré-concepções são
de subordinação e dificultar transformadas em exigências,
seu acesso aos bens sociais, em expectativas normativas.
como postos de trabalho e Assim, na universidade, as
educação qualificada. pessoas também têm uma
Quando um grupo so- expectativa do tipo de aluno
cial afirma a sua identidade, que vão encontrar.
marca também a sua dife- Podemos perceber isso
rença em relação a outras claramente na crônica Do
identidades, criando frontei- pano roxo ao blue jeans e
ras simbólicas entre quem camiseta branca, de Carrico
pertence e quem não perten- (2008), que se baseia em in-
ce ao grupo. Nesse processo cidentes comuns no ambien-
de definição das identida- te universitário:
des e diferenças, lembra
Veiga-Neto (2003), aquele Às vezes, Marina tem vontade
que reparte fica com a me- de desistir do curso de Dança
lhor parte, já que atribui va- e prestar vestibular para Me-
lores diferentes ao grupo dicina ou qualquer outro curso
com o qual se identifica e ao em que a sua cor seja moti-
dos outros. vo de maior estranhamento.
Em um ensaio sobre o Irrita-se quando associam o
estigma, Erving Goffman fato de ser negra com o de ser

44
ótima bailarina. na sua frente. Enquanto corta-

Capítulo II
Marina é irreverente. Gosta de va a carne, brincava, consigo
usar roupas excêntricas, um mesma, de adivinhar o curso
pano roxo amarrado na cabe- que a mocinha fazia: Medici-
ça, como também as mais bá- na ou Engenharia da Compu-
sicas calças e camisetas. Muda tação? Civil?

Atores da Inclusão na Universidade


conforme a inspiração. Uma A conversa começou com as
camaleoa. Seu temperamento entradas de sempre: “que
idiossincrático provoca confli- horas são, por favor”, ”uma
tos, mas tem um carisma en- e treze”, “obrigada”, “nossa,
cantador. como o tempo passa rápido”.
Almoça diariamente no Bande- Estabelecido esse primeiro
jão. O restaurante universitário contato, Marina resolveu puxar
da UNICAMP é um ambiente prosa e perguntou à moça o
curioso. Exala o mesmo chei- nome e o curso que fazia. Ra-
ro, todo dia. O cozido de le- quel, tímida e delicada, tinha
gumes e o frango à milanesa um sotaque interiorano. Ex-
têm o mesmo odor. No perío- pansiva e desinibida, Marina
do de almoço, começa a fun- começou a falar sobre o car-
cionar às dez horas da manhã dápio daquele dia. A dureza
e termina de servir refeições da carne de panela e a acidez
às duas da tarde. Nele, cru- do suco de tangerina foram
zam-se estudantes de diferen- as primeiras críticas ao menu.
tes cursos e funcionários da Iniciou uma análise gastronô-
UNICAMP, que compartilham mica dos alimentos oferecidos
mesas coletivas. No dia em no Bandejão. Gosta da carne
que conheceu Raquel, Marina de soja com molho e do creme
vestia um blue jeans e uma de milho. Lembrou-se da ge-
camiseta branca. latina que não derrete fora da
Sentou-se sozinha e começou geladeira, do pudim de choco-
a degustar os velhos conheci- late com gosto de caramelo...
dos: arroz, feijão e carne de Raquel ouvia os comentários
panela do Bandex. Logo nas de Marina, concordava com
primeiras garfadas, ouviu um tudo e ria.
“com licença” e percebeu que Terminaram a refeição, leva-
uma moça oriental sentara-se ram as bandejas e saíram do

45
restaurante. Depois de ser- E ainda cursava UNICAMP - um
vir-se de café, Raquel pergun- dos vestibulares mais concor-
tou à Marina onde trabalhava ridos do país. Alguns acredita-
e ela não respondeu. Silêncio. vam. (...) Outros se calavam,
Marina olhou-a com desdém, talvez duvidando. Houve, en-
virou-se soberana sem dizer tretanto, quem me destratou
adeus, caminhou lentamente mais ao saber quem eu era.
na direção oposta. Viu seu ím- (SILVA, 2006, p.139).
peto heróico escorrer, sua ou-
sadia esvair-se [s.p.]. Quando há uma discre-
pância entre a identidade que
Frente a uma pessoa que é atribuída a uma pessoa e a
ainda não conhecemos, po- que ela prova possuir, porque
demos nos basear em uma carrega um traço que a dife-
série de aspectos e sinais rencia dos outros da mesma
que funcionam como pistas categoria em que se encai-
para prever a categoria a que xou, esse aspecto pode ser
pertence. Uma aluna negra e julgado indesejável e a pes-
pobre relatou diversas situ- soa deixa de ser considerada
ações, dentro e fora da uni- como um ser comum, nor-
versidade, em que ela se deu mal, total. Tal característica,
conta de que contrariava a segundo Goffman (1978),
expectativa do que seria uma é um estigma, uma marca
estudante de Medicina da depreciativa, e impõe-se à
UNICAMP, por causa de sua atenção de tal forma, que
origem e de sua cor de pele. acaba desviando a possibili-
De um encontro de estudan- dade de se prestar atenção
tes de Medicina, ela conta: a outros atributos do indiví-
duo que o apresenta.
Vários alunos, de várias fa- Uma aluna da pós-gradu-
culdades ao longo do país, ação da UNICAMP nos relatou
pensaram que eu fosse uma como o convívio com colegas
das faxineiras do prédio. (...) e professores, bem como sua
Quase caíam de susto ao saber postura pessoal resultaram
que eu era aluna de Medicina. na remoção do estigma que

46
lhe era inicialmente atribuído: O outro traz um mundo

Capítulo II
de possibilidades e de po-
Porque assim, os professo- sicionamentos imprevisí-
res foram tomando consciên- veis, que são saudáveis em
cia de que, enfim, eu era uma um convívio. A diferença
aluna. A minha deficiência vi- é sempre uma incógnita,

Atores da Inclusão na Universidade


sual era uma, entre várias ca- é instável e impossível de
racterísticas minhas. Não era ser reduzida à nossa pró-
uma coisa que predominava pria visão.
tanto. Então criou esta cons- Quem é o outro na uni-
ciência de que a deficiência vi- versidade? O outro aluno,
sual é só uma característica o outro funcionário, o outro
entre muitas outras e que o professor? Vimos que não é
aluno com deficiência não tem
possível traduzir as diferen-
nenhum diferencial por causa
ças a partir de características
disso. O diferencial dele é ser
classificáveis, determinadas
um aluno diferente de todos
em função do que pensamos
os outros alunos, pela forma
que é a nossa identidade. Da
como cada pessoa é (BAPTIS-
mesma forma, as nossas di-
TA, 2008, s.p.).
ferenças e as dos outros di-
Inclusão na universidade: ferem infinitamente, a partir
desinventar bússolas da forma como somos in-
terpelados e nos relaciona-
Acontece que o mundo é mos.
sempre grávido de imenso. Ao desejarmos a cons-
E os homens, moradores de in- trução de uma universidade
finitos, não têm olhos a medir. inclusiva, precisamos estar
Seus sonhos vão à frente de abertos a olhar as diferen-
seus passos. ças pelo avesso. As nossas
Os homens nasceram para de- relações, nesse ambiente,
sobedecer aos mapas e desin- transformam-se continua-
ventar bússolas. mente à medida que po-
Sua vocação é a de desorde- demos confrontar idéias e
nar paisagens. colocar preconceitos em
(COUTO, 1991) dúvida.

47
Uma universidade não está acoplado nas dobras
se torna inclusiva simples- das intenções das nossas re-
mente porque cria possibi- lações com as diferenças:
lidades de acesso a grupos um interminável e fascinan-
que estavam excluídos do te desafio!
ambiente de Ensino Supe-
rior. A inclusão na educação
não envolve, apenas, a que-
bra de barreiras objetivas de
acesso e de permanência na
instituição. Incluir significa
refletir sobre condições sub-
jetivas de convívio e sobre a
forma como nós nos perce-
bemos nas relações com as
diferenças.
Ficar onde estamos, pa-
ralisados pelo medo, talvez
seja mais fácil do que atra-
vessar a ponte, para ver o
outro lado e perceber que
é nos passos dessa traves-
sia que se processam o co-
nhecimento, o cotidiano, o
vivido, a dúvida e a possibi-
lidade de infinitas chegadas.
Para construirmos uma uni-
versidade inclusiva, precisa-
mos afrouxar as fronteiras
que nos separam e construir
limites permeáveis, que nos
ofereçam possibilidades de
movimento, de questiona-
mento e de transformação. É
necessário olhar para o que

48
Referências

Capítulo II
ALCOBA, S.A.C. Estranhos no ninho: a inclusão de alunos
com deficiência na UNICAMP. Tese (Doutorado em Educação)
- Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas,
Campinas, SP, 2008.

Atores da Inclusão na Universidade


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dade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Cam-
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em 4 de Abril de 2008, como requisito parcial para obtenção
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CARRICO, J.S.A. Do pano roxo ao blue jeans. In: _______.


Tapete vermelho para elefante branco. Tese (Doutorado
em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Estadual
de Campinas, Campinas, SP, 2008. [Tese defendida e aprova-
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COUTO, M. Cronicando: crónicas. 4.ed. Lisboa: Editorial Ca-


minho, 1991.

ELIAS, N.; SCOTSON, J.L. Os estabelecidos e os outsiders:


sociologia das relações de poder a partir de uma pequena co-
munidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.

ESTAMIRA. Direção de Marcos Prado. Rio de Janeiro: Riofil-


me; Zazen Produções, 2005. 1 DVD (115 min.), son., color.
e P&B.

49
FILADÉLFIA. Direção: Jonathan Demme. Los Angeles:
Columbia TriStar Pictures, 1993. 1 DVD (125 min.), son., color.

GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre a manipulação


da identidade deteriorada. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

HALL, S. Identidades culturais na pós-modernidade. Rio


de Janeiro: DP&A, 1997.

JANELA da alma. Direção: João Jardim e Walter Carvalho.


Produção: Tambellini Filmes e Produções Audiovisuais. Rio de
Janeiro: Copacabana Filmes, 2001. 1 DVD (73 min.), son.,
color.

LENINE; SANTOS, I. Ninguém faz idéia. 2004. Disponível


em: <http://www.lenine.com.br/faixa/ninguem-faz-ideia>.
Acesso em: 09 dez. 2008.

LISPECTOR, C. Um sopro de vida. 9.ed. São Paulo: Francis-


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MEIRELES, C. Noções. In: _______. Poesia completa. Rio


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VEIGA-NETO, A. Incluir para excluir. In: LARROSA, J.; SKLIAR,


C. (Org.). Habitantes de Babel: políticas e poéticas da dife-
rença. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. p. 105-118.

50
Capítulo III
Biblioteca acessível

Deise Tallarico Pupo


“Nadie rebaje a mento e ações inclusivas dos
lagrima o reproche profissionais bibliotecários. E
Esta declaración requerem mudança de men-
de la mestria talidade - e muito respeito às
De Dios, que con diferenças!
magnifica ironia Missão impossível seria
Me dio a la vez los escrever um tratado com-
libros e la noche”1 pleto sobre as questões do
acesso à informação a todas
1. Introdução as pessoas, independente-
mente de suas capacidades,
Acessibilidade é um tema limitações físicas ou senso-
que tem sido amplamente riais. No entanto, urge alcan-
discutido, revisto e debatido çar os profissionais que têm
tanto em nosso país, como por missão intermediar, pos-
em todo o mundo. Quando a sibilitar e facilitar o acesso
questão é voltada às bibliote- de quaisquer cidadãos ao co-
cas, a tendência é associar-
nhecimento, quase sempre
mos apenas à acessibilidade
impresso em algum suporte
arquitetônica; mas a revo-
físico: papel, fitas gravadas,
lução do acesso à informa-
CDs, DVDs, disquetes, pen
ção, proporcionada pelas
drivers, MP3 e outros ainda
Tecnologias da Informação
por vir, impulsionados pelo
e Comunicação – TIC’s, e a
avanço das novas tecnolo-
popularização do acesso à
gias da informação e comu-
Web ampliam o escopo e o
conceito de bibliotecas aces- nicação - TIC’s.
síveis, exigindo comprometi- Pupo (2008, p. 18) refe-
re-se à urgência de contem-
1. Jorge Luis Borges, escritor, so- plar a diversidade humana
fria de uma deficiência visual he- no mundo globalizado, que
reditária; ficou totalmente cego pressupõe a inclusão de
perto da época em que foi nome- todos, considerando-se que:
ado diretor da Biblioteca Nacional
da Argentina, após queda do re- as TIC’s modificam os cená-
gime peronista. (citado por BAT- rios das empresas públicas e
TLES, p.24) privadas, alterando as roti-

52
Capítulo III
nas de trabalho; os acervos pressa, inerente ao avanço
digitalizados e a transmissão tecnológico, e os tímidos
eletrônica de documentos avanços sociais. Essa é uma
passam a integrar as unida- imperdoável lacuna que ne-
des de informação do sécu- cessita ser preenchida por
lo XXI, transformando tanto pessoas que acreditam na

Atores da Inclusão na Universidade


o cotidiano do ensino e da inclusão como ruptura dos
aprendizagem nas escolas, paradigmas existentes, para
quanto a organização e re- não deixar ninguém de fora
cuperação da informação na construção de ambientes
acessíveis.
nas bibliotecas. Portanto,
as pessoas com deficiência
não podem ser excluídas 2. A evolução das biblio-
tecas através dos tempos
desse processo, pois são as
maiores beneficiárias das
Assim como o conceito
inovações dos meios de co-
de deficiência mudou atra-
municação.
vés dos tempos, o concei-
Seria lícito escolhermos
to de biblioteca também se
quais seres humanos ire- transformou: de serviços
mos receber ou atender em herméticos a serviço das eli-
nosso ambiente de trabalho? tes, evoluiu para unidades
Como nós, bibliotecários do de informação abrangentes,
terceiro milênio, atuamos e atualmente conectadas ao
atendemos sob a ótica da mundo e focadas nas neces-
inclusão e do respeito às di- sidades por informação da
ferenças? O que podemos e parte de seus usuários.
devemos fazer para contri- Matthew Battles, biblio-
buir na construção de uma tecário na Biblioteca Hou-
biblioteca para todos? Essas ghton, que abriga a coleção
e outras questões estão con- de obras raras da Universi-
tidas em Pupo (2008, p.19), dade de Harvard, destaca
que conclui: em sua obra “A conturbada
história das bibliotecas”:
Há uma considerável discre-
pância entre a ideologia da Mas a biblioteca – especial-

53
mente uma tão vasta – não é de prateleiras, sustentando
um mero repositório de curio- mais de 14 milhões de vo-
sidades. É um mundo a um lumes. Diz também que do
só tempo completo e incom- final do século XIX até 1990,
pletável, cheio de segredos. as coleções tornaram-se de
Ela está submetida a um regi- cem até mil vezes maiores.
me de mudanças e ciclos que Com relação às bibliotecas
contrastam com a permanên- gerais, destaca:
cia inusitada por suas longas
fileiras ordenadas de livros. A Biblioteca do Congresso,
Arrastados pelo desejo dos lei-
maior biblioteca universal do
tores, os livros vão entrando
mundo, todos os dias acres-
e saindo das bibliotecas, num
centa sete mil livros aos mais
movimento semelhante ao das
de cem milhões já dispostos
marés. As pessoas encarrega-
em seus 850 quilômetros de
das de retirar e repor os livros
prateleiras. Acrescente-se a
nas estantes de Widemer cos-
isso toda a papelada efêmera
tumam referir-se à respiração
produzida por nossos proces-
da biblioteca – no começo de
sadores de texto, máquinas
cada ano letivo, as estantes
de fax e fotocopiadoras, mais
expelem os livros como fortes
as 800 milhões de páginas da
golfadas de ar para fora, inspi-
rando-os novamente no final Web, e ficará bem claro que
do período, trazendo-os de estamos literalmente inunda-
volta. A biblioteca é como um dos. (BATTLES, 2003, p.14-
corpo, as páginas dos livros 15)
são os órgãos espremidos uns
contra os outros na escuridão. Numa retrospectiva histó-
(BATTLES, 2003, p.12) rica, Battles (2003) informa
que as primeiras bibliotecas
Battles (2003, p.10) in- na Mesopotâmia remontam
forma que a Biblioteca Wi- ao terceiro milênio antes de
dener, em Harvard, é a Cristo e eram compostas de
maior biblioteca acadêmica livros gravados em argila,
do mundo, com dez andares com elevado nível de organi-
e mais de 90 quilômetros zação. Essas bibliotecas che-

54
Capítulo III
garam ao apogeu durante o No século XLVIII a.C., as
reinado de Assurbanipal II, bibliotecas já contavam 300
que governou a Assíria du- anos. De uma só vez, 40 mil
rante o século VII a.C. Em livros foram destruidos du-
331 a.C., Alexandre, o Gran- rante a guerra de Cleópa-
de construiu na costa medi- tra contra os ptolomeus, em

Atores da Inclusão na Universidade


terrânea do Egito a cidade de cujo reinado as bibliotecas
Alexandria, onde seria cons- haviam florescido.
truída uma grande bibliote- Pioneira em bibliotecas
ca que pudesse concentrar universais, “[...] a bibliote-
a sabedoria acumulada no ca de Alexandria com sua
mundo grego, tendo como comunidade de estudiosos,
suporte o papiro, cujos rolos tornou-se o protótipo das
eram dispostos em pilhas, universidades da era mo-
etiquetados com o nome derna” (BATTLES, 2003, p.
do autor e título da obra. O 36); mas, a produção dos
principal objetivo era forne- rolos de manuscritos custava
cer exemplares para que os tempo e dinheiro, e o prin-
leitores produzissem suas cipal objetivo da biblioteca
próprias cópias. da antiguidade era fornecer
Em seu “Poema das dádi- exemplares para que os lei-
vas”, Jorge Luis Borges (cita- tores produzissem suas pró-
do por BATTLES, 2003, p.26) prias cópias.
afirmaria, anos mais tarde, A plenitude de uma cultu-
que para seus olhos oclu- ra está expressa em sua lite-
sos, os livros da biblioteca ratura e os autores de livros
agora estavam “tão distan- sabem da importância das
tes quanto os inacessíveis bibliotecas, que “estão pre-
volumes / que pereceram sentes nas obras de grandes
em Alexandria”– cidade que escritores, desde Shakes-
foi berço da manufatura do peare até Umberto Eco [...]
papiro, tornando-se centro como imaginar uma dessas
do comércio livreiro desde a histórias de suspense am-
fundação até o terceiro sécu- bientadas na Idade Média
lo da nossa era. sem a presença de uma bi-

55
blioteca sombria?” (BAT- passou por um dramático pro-
TLES, 2003, p.23). Muitos cesso de expansão durante o
livros foram queimados du- século XII, exemplifica bem
rante a Inquisição, quando a mudança que as universida-
os cristãos introduziram, em des trouxeram para o universo
Roma, os códices – livros en- das bibliotecas européias. [...]
cadernados em páginas de De fato, em meados do século
papiro ou pergaminho, que XIII, os livros da faculdade não
substituíram os rolos e cujas estavam nem mesmo reunidos
cópias eram feitas por mon- numa biblioteca. Ficavam dis-
tribuídos entre os professo-
ges. As bibliotecas públicas
res que os utilizavam em suas
renasceram em Florença, em
atividades de ensino. Era só
1444, com a Biblioteca de
quando um professor viajava,
São Marcos. O humanismo
que os livros usados por ele fi-
renascentista revolucionou
cavam armazenados em arcas
as políticas de leitura pela
acessíveis a todos. Nas últimas
oferta de novos tipos de li-
décadas do século, porém, pe-
vros com a redescoberta dos
quenas e grandes heranças,
títulos da Antiguidade, em- de 4 até 300 volumes, quase
bora a maioria dessas obras dobraram o número dos li-
fosse de cunho religioso. vros disponíveis na faculdade.
Conforme Battles (2003, Por volta de 1290, a bibliote-
p.82), um dos modelos de ca contava 1.017 livros. Essa
biblioteca ficou a cargo das quase duplicação do acervo
universidades, “[...] que os exigiu que ele fosse organi-
estudiosos freqüentemente zado. Em 1290, foi elaborado
tentaram ampliar e sistema- o primeiro catálogo geral da
tizar ao longo dos séculos Sourbonne. (BATTLES, 2003,
XIII e XIV” p.80-81)

As bibliotecas universitárias Do século XV ao XVIII,


cresciam tão rapidamen- a multiplicação dos livros
te quanto a curiosidade de é considerável, em núme-
suas faculdades. A biblioteca ro e espécie, e a biblioteca
da Sourbonne, em Paris, que torna-se “um campo de ba-

56
Capítulo III
talha de ideologias opos- dos primeiros fundadores da
tas” (BATTLES, 2003, p.86). American Library Association
Assim nasceu a biblioteca de - ALA. O sistema de classi-
Harvard (1635). Outras aca- ficação de Dewey é ampla-
demias possuíam coleções mente utilizado até hoje.
semelhantes, com sermões Segundo Battles (2003,

Atores da Inclusão na Universidade


e livros religiosos. Ao longo p.209), o século XX foi mar-
do século XIX, as bibliotecas cado por muitas bibliotecas
proliferam em gênero e nú- destruídas por guerras, e mi-
mero, e seus bibliotecários, lhares de livros foram quei-
acima de tudo, tinham a res- mados. As que sobreviveram
ponsabilidade de custodiar tiveram que inovar, escon-
a coleção, ou seja, contar dendo os livros e tornando-
livros e devolvê-los às es- os acessíveis aos leitores
tantes. A imprensa acelera-
através de seus funcionários,
va a produção de livros e de
via tecnologias da época: te-
outros materiais impressos,
lefones, esteiras, elevado-
como panfletos e artigos. O
res. Mais tarde, passaram a
primeiro catálogo impres-
acervos abertos, nos quais
so foi publicado em 1810,
o usuário tinha livre acesso
na Biblioteca Britânica, pelo
bibliotecário Antonio Pani- às estantes... Finalmente,
zzi (BATTLES, 2003, p.132). no século XXI, as bibliote-
Em 1851, nascia Mellville cas da era da Informática,
Louis Kossut Dewey, que, em com acesso à web, convi-
1868, trabalhava em uma vem com a proliferação de
biblioteca que pegou fogo. documentos digitais e com
Obcecado por eficiência, in- a diversificação assustado-
ventou um sistema decimal ra de recursos tecnológicos,
de classificação, que causou que otimizam o tempo dos
grande impacto. Pioneiro na pesquisadores, estudantes
educação dos bibliotecários, e demais pessoas que têm
fundou a primeira escola acesso à Internet. Compa-
para esse fim em 1889, em rativamente, Battles (2003,
Columbia – EUA, sendo um p.20) pontua:

57
Houve um tempo em que as fi- tecas Públicas, preparado
chas dos velhos catálogos ma- em cooperação com a Fe-
nuais exibiam os padrões de deração Internacional das
utilização do acervo ao longo Associações de Bibliotecá-
do tempo. As fichas mais con- rios - IFLA e aprovado pela
sultadas iam criando orelhas UNESCO em Novembro de
pelo constante manuseio, en- 1994, considerando a liber-
quanto as outras, protegidas dade, a prosperidade e o de-
pelas vizinhas, permaneciam senvolvimento da sociedade
sempre novas. É claro que ca- e dos indivíduos como valo-
tálogos de fichas são coisas
res humanos fundamentais,
do passado. Hoje em dia, os
afirma que tais objetivos
catálogos on-line registram
serão atingidos quando os
os visitantes à maneira ocul-
cidadãos estiverem na posse
ta das grandes redes digitais.
da informação que lhes per-
Esses sistemas não se limitam
mita exercer os seus direitos
a registrar o empréstimo de
democráticos e ter um papel
livros. O computador é capaz
ativo na sociedade. Portanto,
de rastrear o número de vezes
que cada registro foi consul-
“a participação construtiva
tado, produzindo um relatório
e o desenvolvimento da de-
das pesquisas feitas nas diver-
mocracia dependem tanto de
sas estações de trabalho de uma educação satisfatória,
toda a rede. como de um acesso livre e
sem limites ao conhecimen-
3. Legislação e Bibliote- to, ao pensamento, à cultura
cas Acessíveis e à informação.”
A Declaração da UNESCO
Desde 1949, o Manifes- preconiza ainda a liberdade
to da UNESCO proclama a de acesso de todas as pes-
biblioteca como uma força soas, independentemente
viva a serviço do ensino, da de quaisquer condições de
cultura e da informação, ins- idade, sexo, religião:
trumento indispensável ao
fomento da paz. A biblioteca pública é o centro
O Manifesto das Biblio- local de informação, tornando

58
Capítulo III
prontamente acessíveis aos acessíveis a mais ampla va-
seus utilizadores o conheci- riedade de materiais que
mento e a informação de todos reflitam a pluralidade e a di-
os gêneros. Os serviços da versidade da sociedade.”
biblioteca pública devem ser Em 16 de Dezembro de
oferecidos com base na igual- 2006, a Assembléia Geral

Atores da Inclusão na Universidade


dade de acesso para todos, das Nações Unidas adotou
sem distinção de idade, raça, a Convenção sobre os Direi-
sexo, religião, nacionalidade, tos das Pessoas com Defi-
língua ou condição social. Ser- ciência, que contou com a
viços e materiais específicos
participação do Brasil desde
devem ser postos à disposi-
sua elaboração. O documen-
ção dos utilizadores que, por
to enfatiza a importância da
qualquer razão, não possam
acessibilidade aos meios fí-
usar os serviços e os materiais
sico, social, econômico e cul-
correntes, como, por exemplo,
tural, à saúde, à educação, à
minorias lingüísticas, pessoas
informação e à comunicação,
deficientes, hospitalizadas ou
para possibilitar às pesso-
reclusas.
as com deficiência o pleno
O Código de Ética do Pro- desfrute de todos os direitos
fissional Bibliotecário enfati- humanos e liberdades fun-
za a importância de valorizar damentais. Cumpre dar des-
o cunho liberal e humanista taque a algumas definições
da profissão. A Declaração contidas na Convenção:
dos Direitos da Pessoa Usu-
ária dos Serviços Prestados “Comunicação” abrange as lín-
por Profissionais da Infor- guas, a visualização de tex-
mação, pela IFLA, em 29 de tos, o braile, a comunicação
Março de 1999, conclama tátil, os caracteres ampliados,
os bibliotecários a “garanti- os dispositivos de multimí-
rem e facilitarem o acesso a dia acessível, assim como a
todas as manifestações do linguagem simples, escrita e
conhecimento e da ativida- oral, os sistemas auditivos e
de intelectual; a adquirirem, os meios de voz digitalizada e
preservarem e tornarem os modos, meios e formatos

59
aumentativos e alternativos 4. Bibliotecas para todos:
de comunicação, inclusive a algumas iniciativas
tecnologia da informação e co-
municação. 4.1. Canadian Guidelines
on Library and Informa-
Adotada pela Organi- tion Services for people
zação das Nações Unidas with disabilities
(ONU), em Dezembro de
2006, e assinada pelo Bra- Pupo (2008, p.19) desta-
sil (e mais 196 países) em ca uma iniciativa, no Canadá,
março de 2007, a Conven- em 1993, sobre a realização
ção entrou em vigor em 3 de de um fórum de discussões
maio de 2008, um mês após (Canadian Library Associa-
ter sido ratificada pelo Equa- tion Conference), promo-
dor, vigésimo país a fazê-lo. vido pela Associação de
Os Estados Partes deverão Bibliotecários Canadenses
assegurar que as pesso- e que resultou na elabora-
as com deficiência tenham ção do “Canadian Guidelines
acesso à educação comum on Library and Information
nas modalidades de: ensino Services for People with Di-
superior, treinamento profis- sabilities”. Após quatro anos
sional, educação de jovens e de estudos, dedicados espe-
adultos e aprendizado conti- cialmente às pessoas com
nuado, sem discriminação e deficiência, vários grupos de
em igualdade de condições trabalho elaboraram um guia
com as demais pessoas. Para voltado à implementação e
tanto, os Estados Partes de- à mensuração de serviços
verão assegurar a provisão especializados. Em 1994, a
de adaptações razoáveis força-tarefa identificou onze
para pessoas com deficiên- áreas essenciais a serem in-
cia, para que elas possam cluídas no guia. Definiu-se
ter acesso aos mais diversos um grupo de bibliotecários
eventos culturais, a teatros, para trabalhar em sua ela-
museus, cinemas, bibliote- boração, e, após extensi-
cas, serviços turísticos, etc. vas consultas aos grupos de

60
Capítulo III
interesse em deficiência, o Social e Esportes e Fundação
guia foi distribuído em 1996 ONCE, da Espanha. O do-
com o objetivo de ser utiliza- cumento enfatiza o caráter
do por todas as bibliotecas democrático e coletivo das
canadenses que pretendam bibliotecas, que podem ofe-
ser acessíveis e inclusivas. recer a todas as pessoas a

Atores da Inclusão na Universidade


O guia está disponível na In- possibilidade de desenvolver
ternet e contém os seguintes suas capacidades e desejos,
itens: Mandato, Legislação, além de possibilitar-lhes a
Terminologia, Planejamento, participação na sociedade,
Orçamento, Marketing e Pro- favorecendo, assim, a in-
moção, Recursos Humanos clusão social. Portanto, as
e Treinamento, Serviços Pú- mudanças arquitetônicas em
blicos, Desenvolvimento da bibliotecas são tão impor-
Coleção, Compartilhamento tantes, quanto as inovações
de Recursos, Tecnologias, tecnológicas, mas, acima de
Acesso Físico, Curriculum e tudo, há que se considerar
Apêndices: I – Lista dos bi- as mudanças de atitude dos
bliotecários responsáveis em profissionais da informação
cada província; Apêndice II e da equipe. O documen-
– Instituições. to tem uma apresentação
assinada pelo Instituto de
4.2. Bibliotecas acessi- Mayores e Servicios Socia-
bles para todos: Pautas les - IMSERSO e contém sete
para acercar las biblio- capítulos e anexos, além de
tecas a las personas com fontes de informação, diretó-
discapacidad y las perso- rio de bibliotecas e glossário.
nas mayores. Os capítulos referem-se aos
seguintes tópicos: Acessi-
Trata-se de um documen- bilidade e Desenho Univer-
to coordenado pelo Centro sal – Bibliotecas para Todos;
Estatal de Autonomia Per- Edifício, Mobiliário e Equipa-
sonal Y Ayudas Técnicas – mento; Ajudas Técnicas e
CEAPAT, vinculado ao Minis- Apoios Pessoais; A Coleção;
tério de Educação, Política Serviços Bibliotecários; Re-

61
lação com o Usuário; Boas gura que ofereçam conteú-
Práticas. As fontes de infor- dos ricos e diversificados na
mação trazem referências e Europa. O portal da DLI traz
diversos endereços eletrôni- uma constatação de Viviane
cos pertinentes ao assunto Reding, representante res-
na Comunidade Européia. ponsável pela Sociedade da
Informação e Mídia:
4.3. Digital Libraries Ini-
tiative – DLI – União Eu- For many years, experts have
ropéia been talking about digital con-
vergence of communication
A iniciativa de Bibliotecas networks, media content and
Digitais na União Européia é devices. Today, we see digi-
também conhecida pela sigla tal convergence actually hap-
i2010: Information Space,
pening. Voice over IP, Web TV,
Innovation & Investment in
on-line music, movies on mo-
R & D, Inclusion.
bile telephones – all this is now
A Comissão adotou em
reality. To enhance investment
2005 a iniciativa “i2010: So-
in this promising sector of the
ciedade da Informação Eu-
economy, we must provide a
ropéia 2010” para fomentar
coherent regulatory framework
o crescimento e trabalho na
for Europe’s digital economy
sociedade da informação e
indústria de mídias; i2010 that is market-oriented, flexi-
é uma estratégia para mo- ble and future-proof. And we
dernizar e desenvolver todos must focus our research spen-
os programas de ação da ding on key information and
União Européia para enco- communication technologies,
rajar o desenvolvimento da such as nanoelectronics.
economia digital: instrumen-
tos regulatórios, pesquisas A Comissão propõe três
e parcerias com indústrias. prioridades para as políticas
Em particular, a Comissão européias da sociedade da
promoverá alta velocidade informação e dos meios de
e redes em banda larga se- comunicação:

62
Capítulo III
• A construção de um Es- foram escritos por diversos
paço Único Europeu de profissionais e pesquisado-
Informação, que promo- res, integrantes do Grupo
va um mercado interior Todos Nós – UNICAMP Aces-
aberto e competitivo. sível. O cenário do projeto,
“Acesso, permanência e

Atores da Inclusão na Universidade


• O reforço da inovação prosseguimento da escola-
nas pesquisas sobre as ridade de nível superior de
TIC’s com objetivo de fo- pessoas com deficiência:
mentar o crescimento e ambientes inclusivos”, é o
a criação de mais empre- Laboratório de Acessibilida-
gos e com melhor quali- de – LAB, da Biblioteca Cen-
dade. tral Cesar Lattes, e os onze
capítulos tratam dos temas
• A constituição de uma relacionados à Acessibilida-
sociedade européia de de e à Inclusão, dos quais
informação baseada na destacam-se:
inclusão que fomente o
crescimento e emprego 4.4.1. Convivendo com as
de maneira coerente com diferenças
o desenvolvimento.
A pesquisadora Maria
4.4. Acessibilidade: dis- Isabel Dias Baptista, em lin-
curso e prática no cotidia- guagem clara e envolvente,
no das bibliotecas dá algumas dicas básicas nas
questões de convívio com as
Trata-se de um livro, ini- diferenças, desmistificando
cialmente concebido apenas as deficiências, que tantas
como um guia prático para vezes causam estranheza,
bibliotecários interessados mas que aos poucos dimi-
em implantar bibliotecas nuem quando se tem a opor-
acessíveis. Mas como dificil- tunidade da convivência:
mente o assunto se esgota-
ria, optou-se pelo formato Há poucos mistérios a solu-
de livro, cujos capítulos cionar para se conviver com

63
as diferenças. Quando com- coisas, sejam elas aparente-
preendermos que nenhuma mente normais ou aparente-
pessoa é igual à outra e que mente deficientes. (BAPTISTA,
exatamente essa é uma das 2008, p. 26)
características mais fascinan-
tes entre os humanos, já esta- 4.4.2. Acessibilidade e
remos prestes a resolver esse Desenho Universal
mistério. Afinal, diferenças
fazem parte da vida. Há em Importante contribuição
cada um de nós qualidades, de Amanda Meincke Melo,
defeitos, potencialidades, sur- pesquisadora do Instituto de
presas que são infindáveis e Computação da UNICAMP,
imprevisíveis. (2008, p.24) em sua tese de doutorado,
foi a implantação do portal
Baptista (2008, p.26) acessível da Diretoria Aca-
propõe ainda que todas as dêmica da universidade. A
pessoas tenham o direito de inauguração contou com a
participar de todos os níveis participação da reitoria e foi
da sociedade, vivenciando divulgada pela imprensa, o
deveres e direitos garantidos que confere à iniciativa gran-
pela nossa Constituição de des possibilidades de repli-
maneira igual. Cordialidade, cação nas demais unidades
educação, interesse e mo- do campus universitário.
tivação são alguns requisi- No capítulo do livro em
tos básicos do bom convívio questão, Melo (2008, p.30)
entre quaisquer pessoas. destaca que as propostas
para a acessibilidade de pes-
Os caminhos não estão todos soas com características es-
previamente construídos e fi- pecíficas estejam articuladas
xados, se quisermos apontar à promoção da qualidade de
um erro nesta convivência po- vida para todos. A publica-
deremos falar em omissão [...] ção Mídia e Deficiência (cita-
sempre errada em questões de da por MELO, 2008, p.30-31)
convívio, seja qual for a situa- destaca os seis quesitos bási-
ção; todas as pessoas podem cos para que uma sociedade
nos surpreender em muitas seja considerada acessível: -

64
Capítulo III
Acessibilidade Arquitetônica, • Ambiente Adaptável, que
Comunicacional, Metodológi- requer modificações;
ca, Instrumental, Programá-
tica e Atitudinal. • Ambiente Não Acessível,
quando não reúne os cri-
4.4.3. Acessibilidade Fí- térios de acessibilidade.

Atores da Inclusão na Universidade


sica
O capítulo de Pérez Fer-
Sofia Pérez Ferrés, mes- rés destaca:
tre pela Faculdade de En-
genharia Mecânica da • Acessibilidade Urbana no
UNICAMP, agrega contribui- entorno da Biblioteca,
ções quanto à importância com vagas de estacio-
do Desenho Universal, que namento requeridas por
“[...] diz respeito à flexibi- lei e rotas adaptadas com
lidade dos produtos/am-
previsão de paradas de
bientes fabricados para
transporte urbano.
diferentes usuários, e não
a criação de produtos espe-
• Acessibilidade Arquite-
ciais para coletivos determi-
tônica, com descrição
nados.” (2008, p. 36)
detalhada desde a porta
Destaca os critérios de de entrada da Bibliote-
classificação dos ambientes ca, passando pela área
em: de recepção, catracas,
guarda-volumes e balcão
• Ambiente Acessível, que conforme NBR 9050 da
seria o ideal, contemplan- ABNT.
do todos os quesitos de
acessibilidade; • Espaço interno, cujas
dimensões, corredores,
• Ambiente Praticável, que pisos, disposição de mo-
mesmo sem contemplar a biliário entre outros as-
todos os requisitos, per- pectos devem prever a
mite a utilização autôno- circulação de cadeiran-
ma de todos; tes, pessoas com defici-

65
ência visual e com mobi- 4.4.4. Cumprindo a legislação
lidade reduzida.
Deise Tallarico Pupo, bi-
• Pavimento, cujas carac- bliotecária do Laboratório de
terísticas devem contem- Acessibilidade, encarregou-
plar a estabilidade, sen- se do capítulo sobre legisla-
do antiderrapante, firme ção e contextualiza (2008,
p. 65): “O principal objetivo
e sem rugosidades que
da educação inclusiva é não
desnorteiem usuários
deixar ninguém de fora da
com problemas de visão
escola!”. Destaca as princi-
e de locomoção. pais leis internacionais e na-
cionais sobre acessibilidade
• Pavimentos Táteis Dire- e inclusão, a partir da déca-
cionais, com textura que da de 1990:
indique o caminho a ser
percorrido. 4.4.4.1. Legislação Inter-
nacional
• Pavimentos Táteis de
Alerta, cuja textura in- • Resolução 45/91 da Or-
dique o sentido do des- ganização das Nações
locamento do usuário da Unidas - ONU, que pro-
biblioteca. pôs um novo enfoque em
seu programa sobre de-
ficiência, passando (...)
Há ainda diversas infor-
“da conscientização para
mações sobre área do acer-
a ação com o propósito
vo, sanitários, comunicação
de se concluir com êxi-
e sinalização interna, ilumi- to uma sociedade para
nação, disposição do mobi- todos por volta do ano
liário, as quais consideram 2010”.
a ergonomia e as condições
físicas ideais para a área de • Resolução 48/96 da ONU,
leitura e pesquisa via com- que, em 1993, promul-
putadores. gou um documento in-

66
Capítulo III
titulado Normas sobre a textos sociais inclusivos.
Equiparação de Oportuni-
dades para Pessoas com • Declaração de Santo
Deficiência. Domingo, em Junho de
2006, que trata da socie-
• Conferência Mundial so- dade do conhecimento e

Atores da Inclusão na Universidade


bre Necessidades Edu- sua relação com as novas
cacionais Específicas: tecnologias e a inclusão
Acesso e Qualidade em digital.
Salamanca, Espanha.
(ONU, 1994). A Declara- 4.4.4.2. Legislação Nacio-
ção de Salamanca pro- nal
moveu a busca de várias
alternativas para que se • O Decreto 3298, de 20 de
cumprissem as propostas
Dezembro de 1999, que
de ensino de qualidade
dispõe sobre a Política
para todos.
Nacional para a Integra-
ção da Pessoa Portadora
• Convenção Interamerica-
de Deficiência, consolida
na para a Eliminação de
as normas de proteção
Todas as Formas de Dis-
criminação contra a Pes- que “[...] objetivam as-
soa Portadora de Defici- segurar o pleno exercício
ência (Guatemala/1999), dos direitos individuais e
a qual, em 2001, consoli- sociais das pessoas por-
dou-se no Brasil, através tadoras de deficiência”.
do decreto 198.
• A Lei Nº 9.610, de 19 de
• Declaração de Caracas, Fevereiro de 1998 alte-
em 2002, que reafirma ra, atualiza e consolida
o compromisso interna- a legislação sobre direi-
cional pela intensificação tos autorais, que torna
dos esforços para a eli- possível a reprodução de
minação da discriminação textos para pessoas com
e pela construção de con- deficiência visual.

67
• A Portaria 3.284, de 7 de dimento edcacional espe-
Novembro de 2003, con- cializado.
diciona os processos de
credenciamentos de Ins- 4.4.5. Laboratório de
tituições de Ensino Su- Acessibilidade
perior-IES e os reconhe-
cimentos de seus cursos A necessidade de ade-
pelo MEC à existência de quar o ensino superior à le-
infra-estrutura adequa- gislação brasileira vigente,
da, em equipamentos e que propõe o acesso das
serviços aos alunos com pessoas com deficiência a
algum tipo de deficiên- todos os níveis de ensino pú-
cia. Tais requisitos devem blico e privado, não surpre-
ater-se à norma 9050 da endeu a UNICAMP nos seus
ABNT. propósitos de atendimento
educacional especializado. A
• O Decreto 5.296, de 2 partir de dois projetos infra-
estruturais à Fundação de
de Dezembro de 2004,
Amparo à Pesquisa do Es-
determina atendimen-
tado de São Paulo - FAPESP
to prioritário a pessoas
(INFRA IV/proc.1998/9212-
com limitações físicas e
9; INFRA V/proc. 00/13033-
sensoriais, a gestantes, a 4) foi criado o Laboratório
idosos [...] e estabelece de Acessibilidade – LAB, na
normas gerais e critérios Biblioteca Central Cesar Lat-
básicos para a promo- tes. Inaugurado em 9 de De-
ção da acessibilidade das zembro de 2002, convergem
pessoas portadoras de ao LAB trabalhos de diversos
deficiência ou com mobi- grupos de pesquisadores da
lidade reduzida, além de UNICAMP: do Centro de Es-
dar outras providências. tudos e Pesquisas em Rea-
bilitação Prof. Gabriel Porto
• Decreto Nº 6.571, de 17 - Faculdade de Ciências Mé-
de Setembro de 2008, dicas, Núcleo de Informática
que dispõe sobre o aten- Aplicada à Educação, Insti-

68
Capítulo III
tuto de Artes, Engenharias de textos em braille ou am-
Elétrica e Civil, Faculdade de pliados requerem recursos
Educação e do Instituto de humanos de bolsistas do
Computação – que compõem Serviço de Apoio ao Estu-
o grupo Todos Nós-UNICAMP dante - SAE e tecnológicos,
Acessível. O projeto desen- adquiridos via projetos

Atores da Inclusão na Universidade


volvido pelo grupo faz parte FAPESP e CAPES: compu-
do Programa de Apoio à Edu- tadores, equipamentos de
cação Especial da Secretaria auxílio à mobilidade, impres-
de Educação Especial do Mi- soras braille, máquina manu-
nistério da Educação. (PRO- al braille, lupas, scanners e
ESP/CAPES 2003-2008). No softwares como Braille Fácil,
LAB há atividades diversas, Braille Music Editor, Delta
cujo enfoque é estimular a Talk. Leitores de tela Vir-
autonomia e a independên- tual Vision e Jaws, sistema
cia acadêmica dos usuá- DosVox, TGD Pro e amplia-
rios, a produção de material dor de telas ZoomText. As
adaptado e a aplicação de adaptações para impressão
softwares destinados a usu- tátil de tabelas e gráficos e
ários com deficiência. a reprodução de textos para
O LAB presta serviços de impressão braille são execu-
acesso à informação com tadas conforme as Normas
vistas à participação da vida Técnicas para a Produção de
social e acadêmica da Uni- Textos em Braille. A maior
versidade e da comunida- demanda é a digitalização
de externa por pessoas com para leitura via áudio, cujo
deficiência. Dentre os servi- processo exige esforços de
ços estão a capacitação de correção de texto.
usuários no uso dos recursos Os dados entre os anos
tecnológicos; orientação à de 2006 a 2008 registram
pesquisa bibliográfica; lo- a digitalização, correção e
calização e obtenção de do- revisão de 4995 páginas e
cumentos e padronização 3473 páginas impressas em
de trabalhos científicos. A braille; 130 partituras musi-
digitalização e reprodução cais digitalizadas, totalizan-

69
do um atendimento de 253 gaminho, papel; dos códices
usuários externos, incluindo encadernados passamos às
diversas instituições que re- prensas, aos livros impres-
plicaram a iniciativa. Entre sos. A explosão documen-
2003 e 2008, o LAB atendeu tária anunciava-se desde a
às expectativas de cinco alu- segunda metade do século
nos com deficiência visual da XX, e, no terceiro milênio,
UNICAMP: dois mestrados “inundados” de informação,
e um doutorado concluídos; protagonizamos a Sociedade
dois doutorados e uma gra- do Conhecimento, o motor
duação em andamento. da nova ordem mundial. Co-
Ambiente inclusivo, o nectados à Web, acessamos
LAB é cenário de atividades as bibliotecas do planeta em
de pesquisa do grupo Todos segundos! Os movimentos
Nós - UNICAMP Acessível2 pela justiça social acionam
em busca de novas soluções profissionais, grupos e ati-
de acessibilidade. vistas para que a acessibi-
lidade, um direito de todos
5. Considerações finais os cidadãos, se concretize
e que a inclusão se realize.
As bibliotecas integram A boa notícia é que no Bra-
os cenários das civilizações sil, a Biblioteca Nacional im-
da Antiguidade até os nos- plantou o Projeto Biblioteca
sos dias. Em cada período Acessível em 21 de julho de
da História, utilizaram-se os 2008, que servirá de mode-
suportes e recursos para a lo para o Sistema Nacional
escrita, que registram o co- de Bibliotecas Públicas. Por-
nhecimento através dos tem- tanto, cabe às bibliotecas do
pos. Evoluímos, assim, das século XXI cumprir as leis
inscrições nas cavernas, aos de acessibilidade em seus
blocos de argila, papiro, per- espaços de trabalho e apoiar
o atendimento educacional
2. Informações documentos e especializado. Os bibliote-
produção científica do Grupo To- cários podem e devem ser,
dos Nós no portal institucional. além de profissionais da in-
Disponível em: http://styx.nied. formação, atores e agentes
unicamp.br:8080/todosnos/
da inclusão!
Acesso em: 18 dez. 2008

70
Capítulo III
Referências

BAPTISTA, M.I.D. Convivendo com as diferenças. In: PUPO,


D.T.; MELO, A.M.; PÉREZ FERRÉS, S. Acessibilidade: discur-
so e prática no cotidiano das bibliotecas. Campinas: Biblioteca
Central Cesar Lattes, 2008. p.24-29.

Atores da Inclusão na Universidade


BATTLES, M. A conturbada história das bibliotecas. São
Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2003. 239 p.

BRASIL. Decreto n. 3.298, de 20 de Dezembro de 1999. Regu-


lamenta a Lei n. 7.853, de 24 de Outubro de 1989 que dispõe
sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portado-
ra de Deficiência. Diário Oficial [da] República Federativa
do Brasil, Brasília, DF, 21 dez. 1999. Disponível em: <http://
www.cedipod.org.br/dec3298.htm>. Acesso em: 17 jun.
2006.

BRASIL. Decreto n. 5.296, de 2 de Dezembro de 2004. Regu-


lamenta as Leis nos 10.048, de 8 de Novembro de 2000, que
dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e
10.098, de 19 de Dezembro de 2000, que estabelece normas
gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade
das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade
reduzida, e dá outras providências. Diário Oficial [da] Re-
pública Federativa do Brasil, Brasília, DF, 3 dez. 2004. Dis-
ponível em:
<http://www.mj.gov.br/sedh/ct/CORDE/dpdh/sicorde/
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BRASIL. Decreto Nº 6751, de 17 de Setembro de 2008. Dispõe


sobre o atendimento educacional especializado. Diário Oficial
[da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 18 set.
2008. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/
Decreto/D6571.htm Acesso em: 17 dez. 2008.

71
BRASIL. Lei n. 9.610, de 19 de Fevereiro de 1998. Altera, atu-
aliza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá ou-
tras providências. Diário Oficial [da] República Federativa
do Brasil, Brasília, DF, 20 fev. 1998. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/ L9610.htm>. Acesso em:
17 jun. 2006.

BRASIL. Ministério da Educação. Portaria n. 3.284, de 7 de No-


vembro de 2003. Dispõe sobre os requisitos de acessibilidade
de pessoas portadoras de deficiência para instruir processos
de autorização e de reconhecimento de cursos e de creden-
ciamento de instituições. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 11 nov. 2003. Disponível
em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/port3284.
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Capítulo III
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74
Capítulo IV
Acessibilidade na comunicação

Celma dos Anjos Domingues


Fabiana Fator Gouvêa Bonilha
Lilia Maria Souza Barreto
Mônica Cristiane Moreira Crispim
Silvia Helena Rodrigues de Carvalho
Sônia Maria Chadi de Paula Arruda
Introdução cação, propomos uma im-
portante reflexão, como
O acesso aos meios de embasamento para todo
comunicação/informação é esse questionamento.
um requisito imprescindível Nossas características in-
ao desenvolvimento pessoal dividuais são determinan-
e profissional de um indi- tes para nossas realizações?
víduo. Embora os recursos Uma deficiência determina
comunicacionais e informa- a priori o que alguém pode
cionais encontrem-se dispo- ou não pode realizar? Por
níveis em nosso meio, eles exemplo: Alguém que tenha
nem sempre atendem aos surdez pode ser músico? Ou
requisitos de acessibilida- Uma pessoa cega pode ser
de. Dentre esses recursos, fotógrafa?
destacam-se: livros, jornais, Inúmeros exemplos mos-
revistas, sites, software, fil- tram que os limites não são
mes, etc. Especialmente as impostos, mas são constru-
pessoas com deficiência sen- ídos pelas pessoas. Esses
sorial deparam-se com difi- exemplos ilustram que a de-
culdades para lidar com tais ficiência pode ser totalmente
recursos em seu cotidiano. superada, de modo que ela
Como possibilitar o acesso não seja empecilho às esco-
desse público a esses meios? lhas individuais.
Quais iniciativas podem ser Em princípio, seria difí-
desenvolvidas para garantir cil concebermos a existên-
esse acesso? Como as bar- cia de músicos surdos. Mas,
reiras atitudinais contribuem contrapondo-se a essa lógi-
para o surgimento desses ca, Beethoven se apresen-
obstáculos? Essas são algu- ta como um dos casos mais
mas questões que pretende- clássicos dessa condição.
mos discutir. Ele comprovou que a inte-
Antes de nos debruçar- ligência musical vai além da
mos especificamente sobre audição e do reconhecimen-
as questões que envolvem to sonoro e produziu mui-
a acessibilidade à comuni- tas obras após ter adquirido

76
surdez profunda. tuá-la ou minimizá-la. Nós

Capítulo IV
Mas difícil mesmo seria somos de fato o que cre-
acreditar que pudesse mos ser. A deficiência não é
haver um fotógrafo cego, um obstáculo: é apenas um
não fosse o caso de Evgen desafio a mais para ser en-
Bavcar, um esloveno que ad- frentado. Cabe a nós recor-

Atores da Inclusão na Universidade


quiriu uma deficiência visu- rermos ao nosso potencial
al aos 11 anos e que, desde criativo, para que nos tor-
sua juventude, dedicou-se nemos agentes construtores
profissionalmente ao ramo e transformadores de nossa
da fotografia. Talvez o seu própria realidade.
grande desejo de se apro-
priar das imagens o tives- O acesso às informações
se motivado a escolher essa
profissão. Talvez ele ainda A falta de acessibilida-
quisesse apreender aspectos de à comunicação constitui
visuais do mundo, e, para uma barreira a ser enfrenta-
tanto, tivesse usado recur- da. Os cegos, por exemplo,
sos fotográficos. A verdade é não podem ter acesso a ma-
que sua produção é reconhe- terial impresso apenas em
cida no mundo todo, devido tinta, a imagens sem descri-
à qualidade de sua obra, e ções textuais, a filmes sem
não devido ao fato de ele ser áudio-descrição, a páginas
um fotógrafo cego. da Internet sem adequações
Esses exemplos e mui- aos requisitos de acessibili-
tos outros semelhantes nos dade.
fazem pensar que nós somos Para as pessoas surdas
pessoas com potencial para que utilizam a Língua de Si-
fazermos tudo o que qui- nais, é imprescindível a pre-
sermos, guardadas nossas sença de intérpretes que
condições e particularida- atendam às demandas so-
des. A deficiência é um pro- ciais e educacionais; a ex-
duto da nossa interação com pansão da língua, para que
o ambiente, o que equivale tenham mais independência
a dizer que podemos acen- na comunicação; a aprendi-

77
zagem da Língua Portuguesa as transformações tecnológi-
como uma segunda língua, cas e o incremento de recur-
além de recursos que privi- sos facilitadores do acesso
legiem o visual. Quando não à informação/comunicação.
são usuários da Língua de Observa-se também uma
Sinais e utilizam a fala e lei- crescente preocupação re-
tura labial para a comunica- lativa a esse tema por parte
ção, necessitam de outros de instituições e das próprias
recursos físicos (intérprete pessoas com deficiência, que
oralista) e tecnológicos (le- se mostram mais ativas e
gendas, software, produtos engajadas na luta em prol
de vídeo e multimídia etc) da acessibilidade.
que facilitam o acesso às in- Atualmente, tem-se no-
formações. tado um aumento significa-
Em seu cotidiano, essas tivo dos meios de produção
pessoas enfrentam situações de livros e periódicos para
em que se vêem excluídas pessoas com deficiência vi-
do contato com informa- sual. Graças ao avanço da
ções. Se, por exemplo, uma tecnologia, o acesso à leitu-
pessoa com deficiência vi- ra tornou-se muito mais fácil
sual trabalha em uma em- e mais rápido. Antes desse
presa, em que haja afixado avanço, para que um cego
um quadro de avisos, ela pudesse ler algum livro, era
não pode estar a par des- indispensável que alguém
ses comunicados. No entan- o digitasse em braille, letra
to, se paralelamente houver por letra, o que deman-
uma versão eletrônica ou em dava tempo e boa-vonta-
braille desse quadro, esse de por parte do transcritor.
acesso será permitido, eli- Além disso, era imprescin-
minando algumas das bar- dível que o transcritor tives-
reiras que limitam a inserção se um bom domínio desse
social. código de escrita, a fim de
Ao longo do tempo, esses que não cometesse muitos
obstáculos puderam ser mi- erros durante o trabalho.
nimizados, de acordo com Era, de fato, um trabalho es-

78
sencialmente artesanal, pois trônicos.

Capítulo IV
não havia a possibilidade de Os livros falados, que
que o material produzido antes eram gravados em
em braille fosse automati- fitas cassete, também se
camente replicado ou copia- tornaram mais sofisticados
do. Cada livro em braille era e passaram a ter maior du-

Atores da Inclusão na Universidade


uma “peça única”, que dura- rabilidade, pois, atualmen-
va até o momento em que te, podem ser gravados em
não pudesse mais ser manu- CDs, inclusive no formato
seado ou conservado. MP3 (pelo qual várias horas
Hoje em dia, essa reali- de gravação cabem em um
dade é bem diferente. Os li- único disco). Os aparelhos
vros podem ser escaneados portáteis que reproduzem
e impressos em braille com esse formato também cons-
tantas cópias quantas forem tituem um importante auxílio
necessárias. Para realizar o às pessoas com deficiência
trabalho de escaneamento, visual, que podem facilmen-
a pessoa não necessita do- te ler um grande número de
minar o braille, possibilitan- páginas, armazenadas em
do, então, a qualquer pessoa um equipamento de tama-
colaborar nas transcrições nho muito reduzido.
desses livros. Mas, o acesso a todo
Há também as Impren- esse aparato tecnológico,
sas Braille, cujo surgimento infelizmente, ainda é restri-
permitiu a produção de li- to, principalmente porque
vros em grande escala. os equipamentos ainda são
O advento da Internet caros e nem sempre estão
também revolucionou o disponíveis. Entretanto não
mundo das pessoas com de- se pode negar que as pos-
ficiência visual. Graças aos sibilidades de leitura estão
leitores de tela, elas podem muito maiores.
ter acesso a uma infinida- Quanto aos recursos de
de de informações, através comunicação para as pes-
de páginas da Web, listas de soas surdas, nota-se um
discussão e periódicos ele- avanço em relação à disse-

79
minação da Língua Brasileira ruído, esse som também
de Sinais, através de dicio- será traduzido na legenda
nários (em livros, CDs, DVDs do filme.
e sites). A Língua de Sinais, Existe uma crescente de-
ao contrário do que muitos manda de recursos no espa-
pensam, não é uma língua ço virtual, na Web 2.0, em
universal, cada país cons- sites colaborativos, como as
truiu sua língua a partir das páginas de relacionamen-
relações sociais estabeleci- to (orkut, blogs, messenger
das pelos surdos. O canal de etc), nos quais há uma vasta
comunicação da Língua de possibilidade de interação
Sinais é o visual-gestual que que se dá através dos ava-
obedece aos traços cultu- tars, ícones, imagens, fotos,
rais pertencentes a deter- além da TV digital interativa
minada comunidade. Assim e dos recursos de ampliação
como as línguas, a Língua sonora.
de Sinais também apresenta Não chegamos a uma
variações regionais e estru- condição ideal. Ainda sonha-
tura gramatical própria. No mos com o dia em que todos
Brasil, temos a Língua Bra- os títulos de qualquer livraria
sileira de Sinais, denomina- estejam disponíveis em for-
da Libras, que foi decretada matos que possam ser lidos
e sancionada em 24 de Abril por pessoas com deficiência
de 2002, Lei Nº 10.436. visual e que as pessoas sur-
Há também a preocupa- das possam se comunicar
ção nas legendas de alguns com todos, seja através da
filmes intituladas “português Língua de Sinais, seja atra-
para surdos” em que a pes- vés da Língua Portuguesa.
soa surda tome conhecimen- No caso da deficiência
to dos sons que fazem parte visual, qualquer livro que
do filme e que não aparecem fosse lançado em tinta, seria
identificados em imagem. obrigatoriamente lançado
Por exemplo, se alguém, em braille, em áudio ou em
num determinado local não versão digitalizada. Se hoje,
visível, fizer algum som ou nós chegarmos a uma livra-

80
ria e perguntarmos ao ven- logias comumente utilizadas.

Capítulo IV
dedor onde se encontra a Neste sentido, utilizam-se
seção de livros em braille ou recomendações feitas pela
áudio, certamente ele acha- Organização Mundial de
rá absurda a nossa questão. Saúde (OMS), na Classifi-
Praticamente não existem li- cação Estatística Internacio-

Atores da Inclusão na Universidade


vros disponíveis nesses for- nal de Doenças e Problemas
matos em lojas comuns. Relacionados com a Saúde
Embora as ferramentas tec- - Décima Revisão (CID-10),
nológicas para a produção que define e categoriza os
de livros para pessoas com graus da deficiência visual,
deficiência visual estejam baseando-se na medida da
mais desenvolvidas, as edi- acuidade visual do olho de
toras ainda não se mobiliza- melhor visão e com a me-
ram para atenderem a essa lhor correção óptico. A baixa
demanda. A questão parece visão corresponde à acuida-
mais esbarrar, portanto, em de visual menor do que 0,3
barreiras atitudinais. e maior ou igual a 0,05, (ca-
Faz-se necessário traba- tegorias 1 e 2). A cegueira é
lhar em prol da conscienti- a acuidade visual menor que
zação da sociedade de que 0,05 até ausência de per-
as pessoas com deficiência cepção de luz (categorias 3,
são cidadãos, aos quais não 4 e 5). A cegueira legal é a
se pode negar ou limitar o acuidade visual menor que
acesso a quaisquer meios de 0,1; ou campo visual inferior
comunicação. a 20 graus. Essa definição
Eis o desafio! é empregada para fins so-
ciais, como benefícios, cotas
Esclarecendo algumas (OMS, CID-10, 2000).
terminologias Nesse sentido, a baixa
visão é a perda da visão,
Ao se fazer referência à que não pode ser corrigida
deficiência visual, em geral, por tratamento médico ou
surgem algumas dúvidas no tratamento cirúrgico, nem
que diz respeito às termino- com óculos convencionais.

81
A cegueira e a baixa visão cos (contraste, iluminação,
envolvem características vi- mobiliário adaptado, tecno-
suais e necessidades distin- logias da informática, am-
tas. A utilização do resíduo pliação de textos, canetas
visual, ou a capacidade fun- de ponta porosa, lápis tipo
cional do uso da visão re- 6B, com grafite mais escu-
sidual, nos casos de baixa ro, e adaptações do ambien-
visão, não está relaciona- te). Outras realizam suas
da apenas a fatores visuais, tarefas com poucas adap-
mas também às caracterís- tações. Na comunicação es-
ticas do próprio indivíduo, crita, as pessoas com baixa
às suas reações em relação visão utilizam a visão, com
à perda visual e aos fato- ou sem auxílios específicos
res ambientais que interfe- para realizar as atividades.
rem no seu desempenho. Há Assim, as pessoas com baixa
casos em que a função visu- visão devem ser estimuladas
al melhora com a luz natu- a utilizar a visão residual.
ral ou artificial, e outros que Cada pessoa é considerada
têm melhor percepção visual individualmente, pois duas
com pouca iluminação. pessoas com o mesmo grau
Tão importante quanto de acuidade visual podem
a definição quantitativa da ter um desempenho visu-
acuidade visual é a avaliação al diferente. (CARVALHO, et
funcional da visão, ou seja, al, 1994; 2008; VEIZTMAN,
quanto ao uso que a pessoa 2000).
faz da visão, verificando a Algumas pessoas cegas
eficiência visual e como esta podem apresentar percepção
pode ser melhorada. luminosa que lhes permite
Algumas pessoas com realizar as tarefas domésti-
baixa visão podem utilizar au- cas e se locomoverem com
xílios ópticos (lupas e teles- maior facilidade, outras têm
cópios) resultando em maior ausência total de percepção
eficiência em seu desempe- luminosa e utilizam a técni-
nho. Ainda outras, podem ca Hoover (bengala branca)
utilizar os auxílios não ópti- como meio de independên-

82
cia na orientação e mobili- combinações das letras do

Capítulo IV
dade. alfabeto, símbolos matemá-
Salientamos que a indi- ticos, químicos, físicos e mu-
cação de auxílios ópticos e sicais e mais recentemente
não ópticos corresponde ao do campo da informática. A
grau de acuidade visual que numeração dos pontos de

Atores da Inclusão na Universidade


a pessoa apresenta, e são uma cela braille se faz de
prescritos pelo oftalmolo- cima para baixo, da esquer-
gista. Portanto, é relevante da para a direita:
compreender as definições
existentes, para favorecer o
uso adequado dos recursos 1• •4
existentes como instrumen- 2• •5
tos de acesso à comunica- 3• •6
ção.

O Sistema Braille
O Sistema Braille é uti-
O Sistema Braille foi cria-
lizado tanto para escri-
do em 1825, em Paris, por
Louis Braille, jovem estu- ta quanto para leitura. O
dante cego. Em 1820, Louis Alfabeto Braille é a represen-
Braille, então com 15 anos, tação gráfica dos 64 símbo-
estudante do Instituto para los, distribuídos em 7 (sete)
Jovens Cegos de Paris, tomou linhas ou séries, organizadas
contato com um código con- de acordo com critérios de-
cebido para fins militares e finidos. Essa distribuição é
o aperfeiçoou, criando o sis- chamada de Ordem Braille.
tema de 6 pontos em rele- O Sistema Braille é uti-
vo conhecido como Sistema lizado e aceito como siste-
ou Código Braille. Os pon- ma oficial de escrita e leitura
tos são dispostos em duas para pessoas cegas. É im-
colunas em relevo: colu- prescindível que as pessoas
na esquerda 1 2 3 e colu- que enxergam, sobretudo fa-
na direita 4 5 6, formando miliares e professores, com-

83
Figura 1. Ordem Braille.

preendam a importância do
Sistema Braille na vida dos
que não enxergam.

84
Recursos para a produ- são utilizados programas

Capítulo IV
ção de escrita em braille que convertem as informa-
ções para o braille: DosVox,
Reglete: régua de metal Braille Fácil, Winbraille, etc.
ou plástico com um conjun- Outros programas possibi-
to de celas braille vazadas litam a transposição e cria-

Atores da Inclusão na Universidade


para a produção dos pon- ção de gráficos, como o TGD
tos em braille. O papel é fi- (Tactile Graphic Designer) e
xado sobre uma prancha e o software Pintor Braille.
com o auxílio de um instru-
mento denominado punção Informática
(com ponta de metal) vão
sendo produzidas, ponto a “Para pessoas sem deficiên-
ponto, as letras em braille. cias, a tecnologia torna as coi-
As letras são escritas da di- sas convenientes, ao passo
reita para a esquerda e a lei- que para pessoas com defi-
tura é feita da esquerda para ciências, torna as coisas pos-
a direita. síveis... [este] fato traz uma
Máquina Braille: máqui- enorme responsabilidade por-
na de datilografia utilizada que o inverso também é ver-
para produção de escrita em dadeiro. Tecnologia inacessível
braille. As letras já são pro- pode tornar as coisas abso-
duzidas da esquerda para a lutamente impossíveis, uma
direita. perspectiva que devemos evi-
Impressão Braille: im- tar” (HEUMANN, 1998 APUD
pressão em papel de infor- MATES, 2000)
mações codificadas para o
sistema braille (exemplos: O uso de recursos da in-
textos, partituras, gráficos, formática por pessoas com
tabelas, etc.). Existem im- deficiência possibilita inde-
pressoras braille que utilizam pendência e autonomia, pro-
um sistema denominado in- piciando ainda privacidade
terpontos, viabilizando a im- na realização de atividades
pressão nos dois lados do pessoais e profissionais. As
papel. Para a impressão, tecnologias quebram barrei-

85
ras comunicacionais. Uma informações textuais con-
pessoa com deficiência vi- tidas na tela do compu-
sual, utilizando um leitor de tador. Propiciam, desse
telas, por exemplo, envia e modo, com o uso de
recebe mensagens por comandos e navegação
e-mail, utiliza o Skype para via teclado, a leitura de
fazer conferências, digita menus, telas e textos,
seus trabalhos acadêmicos, sendo muito utilizados
realiza pesquisas na Inter- por pessoas com defici-
net, enfim, toda uma infini- ência visual. São exem-
dade de atividades. Pode-se plos de leitores de tela:
depreender a ampliação de Virtual Vision (www.mi-
possibilidades de ação que cropower.com.br), Jaws
esses recursos propiciam. (www.freedomscientific.
Salientamos, no entan- com), NVDA - NonVisu-
to, que o computador e a es- al Desktop Access (www.
cuta não podem ser vistos nvda-project.org), para
como substitutos do braille, o ambiente Windows e o
mesmo porque é conside- ORCA (http://live.gnome.
rado imprescindível o aces- org/Orca) para acesso ao
so à escrita por motivos tais ambiente Linux.
como tomar contato com a
grafia das palavras, facilitar • Sistema DosVox: sistema
o estudo de idiomas, ciên- que se comunica com o
cias, matemática, leitura de usuário através de sín-
manuais, cronogramas, ta- tese de voz, em um am-
belas e gráficos táteis. biente específico com
Podemos agrupar alguns interfaces adaptativas,
recursos da área da informá- oferecendo programas
tica nos seguintes tópicos: como: editor, leitor e im-
pressor/formatador de
• Leitores de Tela: aplicati- textos; impressor/forma-
vos que possibilitam a lei- tador para braille; jogos
tura, por meio de síntese de caráter didático e lú-
de voz, de elementos e dico; calculadora vocal;

86
programas sonoros para criar áreas específicas de

Capítulo IV
acesso à Internet, como ampliação. São exemplos:
correio eletrônico, acesso MAGic, Lunar e ZoomText.
a Homepages, Telnet e Estes também possuem
FTP; ampliador de telas a opção de retorno atra-
para pessoas com visão vés de síntese de voz.

Atores da Inclusão na Universidade


reduzida; programas
para ajuda à educação de • Display Braille ou Linha
crianças com deficiência Braille: dispositivos de
visual; leitor simplificado saída compostos por fi-
de telas para Windows. leiras de células braille
Trata-se de um programa eletrônicas, que reprodu-
gratuito. (http://intervox. zem, de forma dinâmica,
nce.ufrj.br) no sistema braille, infor-
mações da tela codifica-
• Ampliadores de Tela: das em texto. Podem ser
aplicativos que ampliam o utilizados como alterna-
conteúdo apresentado na tiva ou em conjunto com
tela do computador, faci- leitores de tela.
litando seu uso por pes-
soas com baixa visão. O avanço das novas tec-
nologias também propicia
• Lentes de aumento: pos- o aumento no acesso das
sibilitam criar uma área pessoas surdas às diferen-
de ampliação na tela. São tes formas de comunicação
exemplos: Lente de au- e informação. Além do de-
mento do Sistema Opera- senvolvimento dos softwares
cional Windows, LentePro que permitem a ampliação
do Sistema DosVox. de recursos visuais e a in-
teração no espaço virtual,
• Programas ampliadores temos a ampliação dos re-
de tela: programas que cursos sonoros (nos apare-
oferecem opções diver- lhos auditivos), a TV digital,
sas, como por exemplo o telefone para surdos, pro-
ampliar toda a tela ou dutos de vídeo e multimídia

87
(as vídeo-conferências), al- no sentido de que a nota-
guns filmes nacionais com ção em braille contemplasse
legenda, celulares com men- todas as formas de repre-
sagem digital e captação de sentação musical. O novo
imagens, pagers, além do “Manual Internacional de
aumento na acessibilidade Musicografia Braille” cons-
em alguns sites que estão titui a obra que contém os
começando a incluir a tra- fundamentos atuais desse
dução em Língua de Sinais e código.
legendas. O aprendizado da Musi-
cografia Braille é um fator
Musicografia Braille de independência na assimi-
lação do repertório de obras
Freqüentemente, afirma- musicais. Assim como os
se que as pessoas cegas têm estudantes de Música que
inclinações para o estudo da enxergam necessitam ser
música. Essa afirmação, dita alfabetizados na Musicogra-
isoladamente, pode ser con- fia em tinta, os alunos cegos
siderada um mito, já que a precisam ler e escrever par-
cegueira, por si mesma, não tituras em braille. Essa au-
causa essa propensão. Mas, tonomia possibilita que essa
de fato, os sons têm uma população freqüente escolas
grande importância para os de música regulares, o que
cegos e, por isso, a música se encontra em consonân-
constitui para eles um obje- cia com os pressupostos da
to de grande interesse, e um educação inclusiva.
meio através do qual eles Deve-se notar, entretan-
possam se desenvolver pes- to, que as escolas de músi-
soal e profissionalmente. ca, em geral, não oferecem
Louis Braille aplicou ao recursos e condições para
campo da Música o siste- que os alunos com deficiên-
ma de leitura e escrita por cia visual tenham acesso à
ele concebido. Ao longo do leitura e escrita musical em
tempo, foram realizados braille, uma vez que a maio-
aperfeiçoamentos ao código, ria dos professores, em sua

88
formação, não adquirem co- • Pressupõe-se que o leitor

Capítulo IV
nhecimentos sobre a exis- decore a partitura, antes
tência de um código musical de executá-la.
para cegos. Daí a necessi-
dade urgente de se viabilizar Como parte de uma pes-
o atendimento educacional quisa de Doutorado (apoia-

Atores da Inclusão na Universidade


especializado a esses alu- da pela FAPESP) realizada
nos. no Laboratório de Acessibi-
A Musicografia Braille lidade da Biblioteca Central
possui algumas característi- Cesar Lattes da UNICAMP,
cas que a diferem do código está sendo realizada uma
musical em tinta, tanto em ampla investigação sobre
relação à escrita, quanto em os meios e recursos tecno-
relação à leitura: lógicos que facilitem a pro-
dução de partituras em
braille. Foram elaborados
• A escrita se realiza so-
procedimentos de utilização
mente no sentido ho-
do software Braille Music
rizontal e por meio de
Editor, em conjunto com o
caracteres. Disso decor-
software Finale.
re a ausência do uso de
Dessa forma, está sendo
claves e pentagramas, e criado um acervo de parti-
a utilização de sinais de turas em braille, que vem
oitava para represen- continuamente sendo in-
tar a altura das notas. crementado. Esse trabalho
Além disso, os acordes conta com a infra-estrutura
(escritos verticalmente, do referido Laboratório (in-
no código em tinta) são cluindo-se equipamentos e
representados por meio recursos humanos), e com
de símbolos intervala- o apoio de bolsistas do SAE
res. Quanto à leitura em (Serviço de Apoio ao Estu-
braille, não há possibi- dante da UNICAMP).
lidade de que se tenha Destacamos que o gran-
uma noção global da par- de interesse de pessoas com
titura; deficiência visual pelo estudo

89
da música é notório. Entre- que esse coletivo é extrema-
tanto, faz-se necessário que mente diverso, e que, muitas
se criem condições para que vezes, na nossa formação ou
elas possam ter uma forma- nas informações que temos
ção musical consistente e sobre esse universo, tenta-
possam atuar profissional- mos reduzi-lo.
mente como músicos quali- Devemos levar em consi-
ficados. deração que existem várias
O ensino da Musicogra- formas da pessoa surda inte-
fia Braille é um tema recen- ragir (há pessoas surdas que
te no campo da pesquisa, e, utilizam a Língua de Sinais
por isso, diversos caminhos como primeira língua; há os
ainda podem ser trilhados, que têm a Língua Portugue-
a fim de que novos conhe- sa como primeira língua –
cimentos possam ser cons- são denominados oralizados
truídos. – e aprenderam a Língua
de Sinais enquanto adultos;
Comunicação com a pes- os surdos bilíngües; os que
soa surda: um universo não são oralizados e não co-
diverso nhecem a Língua de Sinais e
ainda utilizam gestos criados
“Não há uma única identidade no seu entorno familiar, etc.)
na qual repercute a surdez. O Portanto para pensarmos em
respeito às diferentes manei- uma universidade ou qual-
ras de ser surdo que a esco- quer ambiente escolar inclu-
la deve potencializar baseia-se sivo, devemos partir dessa
no conhecimento das carac- multiplicidade e entender
terísticas comuns e das es- quais são as características
pecíficas de cada uma delas.” das pessoas com surdez às
(SILVESTRE, 2007, p.165). quais tentamos nos comuni-
car e/ou prover o acesso às
Quando nos reportamos informações. Ao enveredar-
à acessibilidade na comuni- mos por uma educação que
cação de pessoas surdas é contemple a diferença como
necessário termos em mente ponto de partida, vamos im-

90
primindo na escola inclusiva compreensão de Santana

Capítulo IV
amplas possibilidades de co- (2007), o que forma a iden-
municação, seja com surdos tidade da pessoa surda não
que se comunicam através é necessariamente a Língua
da Língua de Sinais ou não. de Sinais e sim a presença
Pois em consonância com de uma língua que possibi-

Atores da Inclusão na Universidade


Silvestre (2007), entende- lite a constituição da pes-
mos que o posicionamento soa como sujeito “falante”,
dessa vertente não conso- ou seja à constituição de sua
lida essa divisão entre sur- própria subjetividade pela
dos/ouvintes, pois entende linguagem e às implicações
que os alunos de forma geral dessa constituição nas suas
apresentam uma diversida- relações sociais.
de, que não apenas deriva Entendemos que a in-
da surdez, mas de outros fa- clusão requer mais que es-
tores (diferenças de origem tratégias específicas para a
social, cultural, étnica, difi- comunicação em determi-
culdades de conduta, visu- nada língua; requer comu-
al etc). nicação constante com os
Quando nos fechamos conhecimentos que traze-
em di-visões, caímos numa mos da nossa formação aca-
cilada que nos aprisiona dêmica e continuada; requer
em um dos lados e dificul- questionarmos sobre as for-
ta nossa percepção e nossa mas lineares que os conheci-
ação em direção a uma es- mentos nos foram trazidos e
cola que atenda a todos. Se, requer uma interação cons-
por exemplo, nós nos ativer- tante com os nossos pares,
mos que a identidade da pes- que a nosso ver são os que
soa surda se compõe a partir fazem parte do contexto que
da Língua de Sinais, esta- estamos inseridos (sejam
ríamos excluindo todas as alunos surdos ou ouvintes,
outras pessoas com surdez cegos ou videntes, professo-
que não utilizam a Língua res, familiares etc).
de Sinais ou que a utilizam Portanto, pensar em um
em situações específicas. Na escola inclusiva requer que

91
desatemos os nós que nos forma peculiar de apreen-
prendem a uma única visão der o mundo, na ausência
de sujeito, para que possa- da visão.
mos encarnar os aconteci- Ela é, portanto, tida como
mentos e vê-los a partir de um déficit, apenas se consi-
outros pontos de vista que derada sob o ponto de vista
não estejam enraizados nas de quem enxerga.
nossas velhas concepções. Um caso relatado pelo
neurologista Oliver Sacks
Considerações Finais (1995), em um texto intitu-
lado “Ver e Não Ver”, pode
À pergunta: “A baixa nos ajudar a refletir sobre
visão e a cegueira são defi- essas questões: Virgil, 45
ciências?”, qualquer pessoa anos, pressionado por sua
provavelmente responderia noiva, faz uma operação de
catarata, volta a enxergar e
de imediato que sim. Qual-
passa a relacionar-se com
quer um diria que a cegueira,
o mundo de um modo que
por exemplo, é naturalmen-
instiga Sacks a se questio-
te uma deficiência, pois se
nar sobre o que é realmente
comparados às pessoas do-
enxergar: quando um obje-
tadas de visão, os cegos são to era apresentado a Virgil,
deficientes, por faltar a eles ele primeiro precisava tocá-
essa habilidade sensorial. lo para poder, então, dizer
Entretanto, analisando do que se tratava.
essa questão de uma forma
mais global e aprofundada, “[...] quando abrimos nossos
podemos admitir o “não” olhos todas as manhãs, damos
como uma resposta plausí- de cara com um mundo que
vel. A cegueira, por exem- passamos a vida aprenden-
plo, não é uma deficiência, do a ver. O mundo não nos
mas sim, uma mudança de é dado: construímos nosso
referencial perceptivo, em mundo através de experiên-
relação ao de quem enxer- cia, classificação, memória e
ga. Nessa perspectiva, a ce- reconhecimento incessantes”
gueira é tão somente uma (SACKS, 1995, p.129).

92
Sacks passou a pensar É possível entender facil-

Capítulo IV
no quanto Virgil era hábil e mente essa idéia por meio
auto-suficiente como cego, de exemplos simples. Se um
a naturalidade e facilidade cego freqüenta algum curso
com que havia experimen- em que não lhe é ofereci-
tado o mundo com as mãos do o material apropriado em

Atores da Inclusão na Universidade


e o quanto todos o estavam braille, sua deficiência se
forçando e exigindo que re- torna agravada. O mesmo
nunciasse a tudo o que tinha acontece com uma pessoa
com facilidade, e passasse a com baixa visão, sem os re-
perceber o mundo de uma cursos apropriados. Mas se,
maneira inacreditavelmen- ao contrário, essas pessoas
te difícil e estranha para ele. dispõem dos materiais que
Virgil fez tudo para viver necessitam, a deficiência se
como um homem que enxer- minimiza. Uma pessoa cega,
ga, mas também ficou mais diante de um computador
atormentado nesse perío- equipado com leitores de
do. Ficou doente e, quando tela, não tem nenhuma de-
em crise, ficava totalmente ficiência para trabalhar ali.
cego. Ao final, voltou a ser Mas diante de um compu-
cego. tador sem esses programas
Essas reflexões não cons- torna-se totalmente defi-
tituem meras considerações ciente. Se uma pessoa surda
filosóficas, mas possuem im- tem a possibilidade de se co-
portantes implicações prá- municar seja por Língua de
ticas. Concebendo que a Sinais, seja por Língua Por-
cegueira não é uma defici- tuguesa, quebra-se uma das
ência, podemos admitir que grandes barreiras que a dis-
a deficiência, na verdade, tancia da informação e do
decorre das relações que o convívio em sociedade.
indivíduo estabelece com o Hoje em dia, quando uma
ambiente. A partir dessa in- pessoa cega vai ao cinema,
teração, a pessoa pode ter ela pode ser considerada de-
um déficit acentuado ou mi- ficiente, pois, atualmente,
nimizado. não possui condições para

93
ler as legendas dos filmes,
nem ter acesso às imagens
das cenas. Mas se houvesse,
nos cinemas, um sistema de
áudio contendo a narração
das imagens e a leitura das
legendas, a deficiência de-
sapareceria. Para que uma
pessoa surda tenha aces-
so ao cinema nacional, por
exemplo, as legendas são
imprescindíveis.
Nesse sentido, a deficiên-
cia se torna maior ou menor,
de acordo com as condições
oferecidas pelo ambiente, e
de acordo com a criatividade
dos indivíduos para desen-
volverem meios e recursos
que garantam uma maior
qualidade de vida à popula-
ção que possua alguma dife-
rença sensorial.
Cabe um questionamen-
to: Quem está realmente
privado da visão/audição?
As pessoas com deficiência
ou o mundo ao seu redor? O
que, de fato, significa “ver” e
“ouvir” de um modo abran-
gente?

94
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Capítulo IV
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100
Capítulo V
Acessibilidade na Web

Amanda Meincke Melo


Leonelo Dell Anhol Almeida
Vagner Figuerêdo
Figuêredo de Santana
1. Introdução • Promover o direito bási-
co de acesso à informa-
A acessibilidade na Web ção, tendo em vista uma
diz respeito a habilitar qual- sociedade mais justa e
quer pessoa, usando qual- solidária, que busca a
quer tecnologia adequada qualidade de vida para
à navegação Web, a visitar todos;
qualquer website, obter a
informação oferecida e inte- • Atender à legislação,
ragir com o website (DIAS, como é o caso do Bra-
2003; HULL, 2004). E para sil que, no Decreto n°
que isso seja possível, é ne- 5.296 de 2 de Dezembro
cessário que os mantenedo- de 2004, exige que os
res de páginas e sistemas sistemas Web da admi-
Web estejam atentos às re- nistração pública sejam
comendações e aos méto- acessíveis às pessoas
dos existentes para tornar com deficiência visual;
a Web mais acessível. Além
disso,  também é importante • Ampliar o número de con-
que conheçam as diferentes sumidores, uma vez que
características dos usuários existem no mundo cerca
desses sistemas, as tecnolo- de 650 milhões de pesso-
gias de acesso à informação as com algum tipo de de-
que utilizam e a influência ficiência.
do ambiente físico sobre a
interação do usuário com o Em nosso país, em parti-
computador (MELO, 2007; cular, o acesso à informação
SANTANA et al., 2008).  é um direito constitucio-
Atualmente, existem vá- nal: “é assegurado a todos
rias motivações para tornar o acesso à informação e res-
a Web amplamente acessí- guardado o sigilo da fonte,
vel como (ABASCAL e VA- quando necessário ao exer-
LERO, 2002; BRASIL, 1988; cício profissional”. Além
BRASIL, 2004; PUPO et al., disso, o Brasil é signatário
2008, p. 52; UN, 2006): da Declaração da Guatema-

102
la ou Convenção Interame- res;

Capítulo V
ricana para Eliminação de
todas as Formas de Discri- • Pessoa com mobilidade
minação contra as Pessoas reduzida: não se enqua-
Portadoras de Deficiência, dra no conceito anterior,
comprometendo-se, entre mas tem redução efetiva

Atores da Inclusão na Universidade


outras coisas, a estabelecer de funções físicas, tem-
medidas para facilitar a co- porária ou definitiva.
municação das pessoas com
deficiência (BRASIL, 2001; Essa breve lista traz à
MELO, 2007, p. 9; PUPO et tona diversos cenários e
al., 2008, p. 52). possibilidades de como ca-
O Decreto nº 5.296/2004 racterísticas físicas podem
apresenta definições especí- influenciar o acesso de pes-
ficas sobre diversos tipos de soas a meios físicos e siste-
deficiências, baseado em li-
mas de informação. Tendo
mitações físicas sumarizadas
alguns desses cenários em
a seguir (BRASIL, 2004):
mente, qual seria o resul-
tado de definir um perfil de
• Deficiência física: com-
usuário padrão?
prometimento da função
de partes do corpo; Conhecer as definições
sobre tipos de deficiência é
• Deficiência auditiva: importante, mas não deve-
perda de 41dB ou mais; mos nos restringir a elas,
nem a números de pesso-
• Deficiência visual: ce- as com deficiência, uma vez
gueira, baixa visão ou que a acessibilidade é im-
campo visual reduzido; portante para todos, sendo
fortemente influenciada
• Deficiência mental: fun- pelo contexto de uso. A se-
ções intelectuais inferio- guir são apresentados dois
res à média; exemplos:

• Deficiência múltipla: • No uso de uma torneira


combinação das anterio- temporizada, dessas que

103
se pressiona um botão sibilidade podem acontecer
na parte de cima e libe- com qualquer pessoa, em
ra água durante certo diversos contextos de uso.
período de tempo. Se a Alinhada a essa perspecti-
torneira estiver desre- va, uma importante aborda-
gulada e só liberar água gem ao desenvolvimento de
enquanto o botão é pres- produtos acessíveis é a do
sionado, como lavar as Desenho Universal, ou De-
mãos ou encher um copo sign para Todos (CONNELL
com água se estiver com et al., 1997). Segundo o De-
uma das mãos ocupada? senho Universal, produtos e
Nesse contexto apenas ambientes devem ser ade-
uma das mãos está dis- quados, de forma direta, na
ponível para a tarefa. maior extensão possível a
todas as pessoas, sem dis-
• Em um ambiente com criminação. Quando não for
bastante ruído, acima de possível promover o acesso
100dB, como em uma e o uso de produtos e am-
metalúrgica, um show ou bientes de forma direta, de-
uma boate. Se a campai- ve-se considerar também
nha de um celular soar, a oferta de alternativas de
será possível ouvi-la? acesso por meio de acessó-
Nesse contexto a audição rios ou opções padroniza-
não está disponível para das, a compatibilidade com
determinadas tarefas, o tecnologias assistivas, em
que, inclusive, motiva a último caso, a facilidade de
redundância nos meios modificações sob demanda
utilizados para chamar (MELO, 2007, p. 19).
a atenção dos usuários, Websites oferecem uma
por exemplo, vibração ou ampla quantidade de servi-
indicação luminosa. ços e recursos. Muitos via-
bilizam aos seus usuários
Esses exemplos mostram a busca por conteúdos e a
como questões relativamente comunicação com outras
simples relacionadas à aces- pessoas por meio de fer-

104
ramentas como webmails, seção 3 apresenta princípios

Capítulo V
fóruns de discussão e ba- para o design inclusivo de
te-papo. Para torná-los ade- sistemas de informação na
quados ao uso de pessoas Web para apoiar designers
com necessidades tão di- na construção de estratégias
ferentes, faz-se necessário que promovam a acessibi-

Atores da Inclusão na Universidade


transcender aspectos técni- lidade. A seção 4 apresen-
cos de promoção de acessi- ta um processo para tornar
bilidade na Web. websites acessíveis e usá-
Sendo assim, que ações veis e técnicas para apoiar
e medidas são necessárias equipes de desenvolvimento
para tornar um website aces- de websites. Finalmente, a
sível? Se uma equipe é res- seção 5 apresenta as consi-
ponsável por um website de derações finais do capítulo.
um serviço oferecido a toda
a população brasileira e pre-
2. Visão geral sobre re-
cisa direcionar recursos para
cursos relacionados à
torná-lo acessível aos seus
acessibilidade na Web
usuários, o que fazer e por
onde começar? Essas e ou-
tras perguntas devem surgir. Esta seção apresenta al-
Este capítulo aborda tanto guns dos principais recur-
questões relacionadas a ele- sos disponíveis atualmente
mentos mais teóricos quanto para a construção de web-
técnicos, buscando apresen- sites acessíveis e usáveis,
tar a acessibilidade na Web incluindo ferramentas que
e os caminhos que podem contribuam para o acesso a
ser seguidos para que me- websites. Em adição, aponta
lhoras incrementais possam lacunas desses recursos, os
tornar  websites cada vez quais abordam tanto mate-
mais acessíveis. riais conceituais (ex.: tuto-
A seção a seguir apre- riais, diretrizes, hipertextos)
senta uma visão geral sobre como ferramentas (ex.: vali-
recursos relacionados à dadores, simuladores, ferra-
acessibilidade  na  Web. A mentas de autoria).

105
2.1. Web Standards devem ser utilizados tam-
bém de acordo com o pro-
Um aspecto importante pósito para o qual foram
em relação à publicação de designados, evitando-se o
conteúdos na Web diz res- uso de marcadores estru-
peito à escolha do formato turais para efeitos de apre-
de seus arquivos e ao uso sentação (SANTANA et al.,
de tecnologias para promo- 2008). Por exemplo, os
ver experiências interativas marcadores para formata-
mais interessantes. Tecno- ção de tabelas foram defi-
logias como HTML (Hyper- nidos especialmente para a
Text Markup Language), marcação de dados tabula-
XHTML (Extensible Hyper- res e não para a definição de
Text Markup Language) e layouts de páginas. Marca-
CSS (Cascading Style Sheets) dores de cabeçalho também
são interpretadas atualmen- não devem ser usados para
te por uma série de navega- fins de apresentação – para
dores (por exemplo, Internet deixar o texto maior ou em
Explorer, Lynx, Mozilla Fire- negrito, por exemplo – mas
fox, Netscape, Opera, etc). para marcar títulos e subtí-
O uso adequado dessas tec- tulos. Em síntese, os marca-
nologias, conhecidas como dores das linguagens HTML e
Web Standards, desenvol- XHTML possuem propósitos
vidas e amplamente difun- bem definidos, que orientam
didas pelo W3C, constitui a a apresentação do conteúdo
infra-estrutura para a aces- de páginas Web em diferen-
sibilidade da Web (MELO, tes dispositivos de navega-
2007, p. 26). ção, mas também provêem
O uso das linguagens de informações estruturais im-
marcação de maneira cor- portantes que podem ser
reta está entre as recomen- exploradas por tecnologias
dações normativas do W3C assistivas e pelos próprios
para a acessibilidade do con- usuários. Portanto, as lin-
teúdo da Web. Os marcado- guagens de marcação devem
res da linguagem (X)HTML ser codificadas e utilizadas

106
apropriadamente. Javascript, por exemplo. Ja-

Capítulo V
A separação entre es- vascript é uma linguagem
trutura e apresentação, que de programação interpreta-
também está entre as re- da e multiplataforma man-
comendações do W3C para tida pela Netscape. Ela pode
a acessibilidade do conte- ser utilizada no lado do ser-

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údo da Web, além de tor- vidor e no lado do cliente.
nar o código (X)HTML mais No entanto, é mais utiliza-
“limpo” e mais fácil de pro- da em aplicações no lado do
cessar por diferentes dis- cliente. Ela segue o padrão
positivos, potencializa a ECMA-262 (ECMA, 1999),
definição de mais de um es- mantido pela ECMA Orga-
tilo de apresentação para o nization, que define a lin-
mesmo conteúdo. Assim, é guagem ECMAScript. Em
possível considerar para fins desenvolvimento Web-aces-
de apresentação a especifi- sível, é comum ouvir que
cidade de um determinado Javascript não é acessível.
dispositivo (por exemplo, na- No entanto, a falha mais
vegadores visuais, dispositi- comum em implementações
vos de áudio, impressoras, não acessíveis é que fun-
dispositivos braille, disposi- cionalidades são totalmente
tivos de mão) ou mesmo a dependentes do Javascript.
necessidade de um grupo de Então, o simples fato de um
usuários em particular (por usuário estar com Javascript
exemplo, oferecer alternati- desabilitado em seu nave-
vas de apresentação em alto gador já pode causar algum
contraste para facilitar a lei- problema. Ainda, atualmen-
tura por pessoas com baixa te leitores de tela processam
visão). páginas Web de maneira di-
Além da linguagem de ferente de navegadores.
marcação (ex.: HTML, XHTML) Assim, se implementações
e folhas de estilo (ex.: CSS), de funcionalidades levarem
podem-se adicionar funcio- em consideração o cená-
nalidades dinâmicas às pá- rio de que o Javascript está
ginas Web via scripts como desabilitado e implementar

107
funcionalidades independen- tratam a comunicação com o
temente do cliente, usando servidor de maneira diferen-
linguagens server-side, por te, observando-se também
exemplo, as funcionalidades as recomendações do W3C
dinâmicas auxiliarão usuá- para a acessibilidade, espe-
rios e não serão uma bar- cialmente a independência
reira para quem não utilizar de dispositivos e a compa-
Javascript. tibilidade com tecnologias
O desenvolvimento de assistivas. Weiss (2006) dis-
aplicações com as tecnolo- cute de forma bastante clara
gias AJAX (Asynchronous e concisa os dilemas enfren-
Javascript And XML), rapi- tados por desenvolvedores
damente difundidas nos úl- Web, considerando as exi-
timos anos para aumentar a gências dos padrões, funda-
interatividade em páginas e mentais à compatibilidade
aplicações Web, representa entre plataformas de di-
outro desafio aos desenvol- ferentes fabricantes, e as
vedores de sistemas Web- possibilidades que se apre-
acessíveis. Embora esteja sentam aos desenvolvedores
baseado no uso do padrão para promover experiências
ECMAScript e padrões W3C interativas diversificadas.
como HTML e CSS, o uso Entre os materiais con-
do objeto XMLHttpRequest ceituais é possível encontrar
para possibilitar a comuni- um grande número de tuto-
cação com o servidor, sem riais em formato de textos
a necessidade de carregar ou hipertextos (W3SCHO-
toda a página no navega- OLS, 2008; WEBAIM, 1999-
dor, não está descrito como 2008) e algumas iniciativas
um padrão considerado ofi- que visam ao estabelecimen-
cial. Assim, há necessidade to de princípios e diretrizes.
de tratamento específico por O W3Schools é um dos por-
parte dos desenvolvedores tais de tutoriais de tecnolo-
que decidirem utilizar AJAX gias Web mais utilizados por
para garantir sua compatibi- mantenedores de websites.
lidade em navegadores que Ele aborda diversas tecnolo-

108
gias Web, tanto livres (ex.: lidade na Web destacam-se

Capítulo V
HTML, CSS) como proprie- o Web Acessibility Initiati-
tárias (ex.: Microsoft. Net). ve (WAI) (W3C, 2008a), o
Em tecnologias como HTML e Section 508 (2008), o Stan-
CSS, os tutoriais cobrem de ca Act (ITÁLIA, 2004) e, no
maneira completa as defini- contexto brasileiro, o e-MAG

Atores da Inclusão na Universidade


ções das linguagens (defini- (MP, 2008c). A iniciativa
das pelo W3C) e oferecem, mais amplamente adota-
ainda, recursos para que da é o WAI, promovido pelo
usuários possam interagir World Wide Web Consor-
com os exemplos oferecidos tium (W3C), que visa ao de-
nos tópicos desses tutoriais. senvolvimento de diretrizes
Apesar de amplamente em- e recursos que contribuam
pregada em tutoriais on-line, para tornar a Web acessível
essa abordagem possui la- (SANTANA et al., 2008). O
cunas no que diz respeito à WAI concentra seus esforços
integração das tecnologias em três focos (W3C, 2008a;
Web (por exemplo, reco- 2008b):
mendações de uso de folhas
de estilo CSS para separar o • Navegadores Web, play-
conteúdo da apresentação) ers multimídia e tecno-
e também estão restritas a logias assistivas que
especificações de linguagens permitem uma experiên-
não endereçando questões cia completamente usá-
relacionadas a técnicas que vel e acessível. Oferece
podem aumentar a qualida- o conjunto de diretrizes
de de websites ( ex.:uso de User Agent Accessibili-
breadcrumbs para melhorar ty Guidelines 1.0 (UAAG
a navegação). 1.0) e a versão 2.0, ainda
em estágio de desenvol-
2.2. Recomendações de vimento (UAAG 2.0);
Acessibilidade
• Ferramentas de auto-
Dentre as iniciativas para ria de conteúdos Web e
definir diretrizes de acessibi- ambientes de desenvol-

109
vimento que produzem pende do uso de nave-
conteúdo Web-acessível gadores que atendam ao
e têm interfaces acessí- UAAG;
veis. Oferecem o conjun-
to de diretrizes Authoring • Ambigüidades na inter-
Tool Accessibility Guide- pretação das diretrizes;
lines 1.0 (ATAG 1.0) e a
versão 2.0, ainda em es- • Nível necessário de com-
tágio de desenvolvimento preensão dos problemas
(ATAG 2.0); de acessibilidade oriundo
da dificuldade em enten-
• Conteúdo Web concebido der o princípio que nor-
para ser acessível. Ofere- teia um checkpoint.
ce o conjunto de diretrizes
Web Content Accessibili- O WAI, entre seus esfor-
ty Guidelines 2.0 (WCAG ços para tornar a Web aces-
2.0). sível, anunciou esboços de
especificações técnicas rela-
Apesar de representar cionadas ao desenvolvimen-
uma base sólida de princí- to de aplicações de Internet
pios amplamente discutidos “ricas” – incluindo aplicações
por uma comunidade bas- desenvolvidas com AJAX
tante diversificada, existem – que sejam acessíveis a
diversas críticas sobre esses pessoas com deficiência
tipos de iniciativas. Sloan et (WAI-ARIA – Web Accessi-
al. (2006) apontam algumas bility Initiative - Accessible
delas: Rich Internet Applications).
Em sua análise, identifica as
• Natureza teórica das di- tecnologias necessárias para
retrizes, ignorando o uso tornar acessíveis o conteú-
de tecnologias proprietá- do dinâmico da Web e essas
rias; aplicações “ricas”, discutin-
do o que há disponível e o
• Dependência de outras que falta para promover a
diretrizes. O WCAG de- acessibilidade. Uma questão

110
imprescindível que precisa 2.3. Ferramentas para o

Capítulo V
ser abordada é a ausência desenvolvimento Web-
de marcadores e proprieda- acessível
des nas linguagens de mar-
cação atuais que apóiem a Para apoiar o desenvolvi-
identificação de elementos mento e utilização de tecno-

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de interfaces, a exemplos de logia Web estão disponíveis
menus, por tecnologias as-
diversos tipos de ferramen-
sistivas como os leitores de
tas tais como: de autoria
telas (W3C, 2008a).
de código Web, navegado-
Com a finalidade de pro-
ver o referencial necessário res, validadores, simulado-
para o desenvolvimento de res e tecnologias assistivas.
websites governamentais, Em relação às ferramentas
o Governo brasileiro ofere- de autoria de código Web,
ce o Padrão Brasil e-GOV o grupo responsável pelo
(MP, 2008b), que conta com ATAG disponibiliza os resul-
modelos, diretrizes e fer- tados de avaliação realizada
ramentas. No contexto de com algumas das ferramen-
acessibilidade, esse projeto tas mais populares (W3C,
possui o Modelo de Acessi- 2008b):
bilidade de Governo Eletrô-
nico (e-MAG). Esse modelo • Bluefish versão 0.6 -
consiste no oferecimento de atendeu quase todos os
informações a desenvolve-
checkpoints de priorida-
dores de websites gover-
de 1, mas poucos das ou-
namentais para tornar seus
websites amplamente aces- tras prioridades;
síveis, em consonância com
o decreto 5.296 de 2004. • DreamWeaver versão
4.0, da Macromedia -
atendeu metade dos che-
ckpoints de prioridade 1
e poucos de outras prio-
ridades;

111
• FrontPage 2000, da Mi- pia, daltonismo) e leitor de
crosoft - atendeu poucos tela. Já o DaSilva é uma fer-
checkpoints em todas as ramenta on-line, que permite
prioridades. a validação de websites se-
gundo as diretrizes do WCAG
Ferramentas de validação e também do e-MAG.
e simulação são importan- Os navegadores mais re-
tes recursos na criação de centes têm, cada vez mais,
código acessível, seja pela oferecido recursos para cus-
facilidade em realizar uma tomização (por exemplo,
varredura no código, seja para alterar tamanho da
pela dificuldade que peque- fonte, contraste entre texto
nas equipes encontram em e plano de fundo, desabili-
ter contato com toda a di- tar folhas de estilos, etc.) e
versidade de usuários exis-
compatibilidade com tecno-
tentes em cenários como o
logias assistivas, seguindo as
brasileiro. Algumas das ferra-
recomendações e especifica-
mentas de validação ampla-
ções técnicas do W3C para
mente utilizadas são o ATRC
facilitar acesso ao conteúdo
(2008), o MAGENTA (HIIS,
Web e o controle do usuário
2005-2008) e, no contexto
brasileiro, o DaSilva (2006) sobre sua apresentação. En-
e o ASES (MP, 2008a), sendo tretanto, os desenvolvedo-
esta última uma ferramenta res não podem assumir que
que funciona localmente na todos os navegadores traba-
máquina do usuário. O ASES lhem exatamente da mesma
é uma ferramenta produzida maneira, nem que todos os
no contexto do e-MAG que, usuários saibam tirar provei-
além de oferecer mecanis- to dos recursos que os na-
mos de validação segun- vegadores oferecem, nem
do as diretrizes do e-MAG, mesmo que esses tenham
ainda possui ferramentas de sempre a última versão de
simulação do uso do conte- uma determinada tecnolo-
údo Web por pessoas com gia à sua disposição (MELO,
deficiência visual (ex.: mio- 2007, p. 30).

112
Embora ferramentas de Web Page Filter permite a vi-

Capítulo V
validação sejam de gran- sualização de uma dada URL
de valor e praticamente in- informada pelo usuário, con-
dispensáveis à avaliação de siderando o tipo de deficiên-
acessibilidade de uma pági- cia visual.
na na Web, indicando erros A próxima subseção apre-

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e possíveis problemas de senta tecnologias assistivas.
acessibilidade agrupados em
níveis de prioridades e ofere- 2.4. Tecnologias Assisti-
cendo orientações, algumas vas
questões ainda precisam de
avaliação por pessoas. É o As tecnologias assisti-
caso dos textos alternativos vas se referem a recursos
às imagens, cuja ausência e serviços que visam a fa-
pode ser facilmente identi- cilitar o desenvolvimento
ficada por ferramentas de de atividades da vida diá-
validação, mas o julgamen- ria por pessoas com defici-
to humano é imprescindível ência, procurando aumentar
para avaliar sua adequação. as capacidades funcionais
Um avaliador experiente e promover a autonomia e
pode utilizá-las em avalia- a independência de quem
ções baseadas em pontos
as utiliza. Existem tecnolo-
de verificação (MELO, 2007,
gias assistivas para auxiliar
p. 35).
na locomoção, no acesso à
Ferramentas simuladoras
informação e na comunica-
interessantes são o Color La-
boratory (AWARE, 2002) e ção, no controle do ambien-
o Colorblind Web Page Fil- te e em diversas atividades
ter (AWARE, n.d.). Color La- do cotidiano como o estu-
boratory é um simulador de do, o trabalho e o lazer. Ca-
paleta de cores que permite deiras de rodas, bengalas,
ao usuário ajustar a visuali- órteses e próteses, lupas,
zação, segundo seu sistema aparelhos auditivos e os con-
operacional, monitor e defi- troles remotos são apenas
ciência visual. Já o Colorblind alguns exemplos de tecnolo-

113
gias assistivas. No contexto litam o acionamento de
de uso da Web, destacamos comandos dos progra-
algumas dessas tecnologias mas de computador via
(MELO, 2007, p. 30; PUPO et voz e podem ser usados
al., 2008, p. 94): por pessoas que têm al-
guma deficiência que di-
• Ampliadores de telas: ficulte, ou impeça, o uso
ampliam e modificam as de dispositivos de entra-
cores na tela, visando da de dados como mouse
a melhorar a leitura de e teclado. Além do soft-
textos e a percepção das ware de reconhecimen-
imagens às pessoas com to de voz, é necessária
dificuldade em enxergar. a configuração adequa-
São exemplos desse tipo da do sistema multimídia
de tecnologia assistiva a que apóia a interação hu-
Lente de Aumento do Sis- mano-computador (ex.:
tema Operacional Micro- Motrix);
soft Windows e a Lente
Pro; • Teclados alternativos: si-
mulam o funcionamen-
• Leitores de telas: lêem to do teclado e, assim,
informações textuais por podem ser utilizados
meio de sintetizadores de por pessoas com algu-
voz ou displays em brail- ma deficiência física que
le, promovendo acesso tenham dificuldade em
à informação por pes- usar o teclado convencio-
soas cegas ou com difi- nal. Exemplos desse tipo
culdades de leitura. São de dispositivos são os te-
exemplos de leitores de clados com espaçamento
telas: Jaws for Windows, menor ou maior entre as
Virtual Vision, Monitivox, teclas, os protetores de
Orca; teclas, que possibilitam
o acionamento de uma
• Programas de reconhe- única tecla por vez, os si-
cimento de voz: possibi- muladores de teclado na

114
tela do computador como 3. Princípios para o De-

Capítulo V
o Teclado Virtual do Sis- sign Inclusivo de Siste-
tema Operacional Micro- mas de Informação na
soft Windows e TFlex; Web

• Dispositivos apontado- Diferentemente das reco-

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res alternativos: simu- mendações de acessibilidade
lam o funcionamento do na Web do W3C, cujo foco é
mouse e, assim, podem a promoção da acessibilida-
ser usados por pessoas de do conteúdo da Web por
com alguma deficiência meio de orientações especí-
física, que tenham dificul- ficas para o desenvolvimento
dades em usar o mouse de páginas, agentes de usu-
convencional. Exemplos ário e ferramentas de auto-
ria, os princípios, a seguir,
desse tipo de dispositivos
devem apoiar designers e
são os acionadores, para
equipes de desenvolvimento
serem utilizados com os
na construção de estratégias
olhos (eyegaze systems),
locais para promover a aces-
com os pés e/ou com as
sibilidade e a inclusão no seu
mãos, ou através de dis-
produto e processo de de-
positivos luminosos (ex.: sign (MELO, 2007).
Lomak).
Princípio 1. Entender siste-
Desenvolvedores de pá- mas de informação de ma-
ginas e aplicações Web neira abrangente, em seus
podem usar navegadores e diferentes níveis: informal,
tecnologias assistivas para formal e técnico.
conhecer aspectos de seu Esse princípio diz res-
funcionamento e, também, peito à necessidade de en-
para avaliar páginas e apli- tendimento amplo de uma
cações Web, antes mesmo organização e seu contex-
de envolver usuários em tes- to, incluindo compromissos
tes/avaliações de usabilida- e intenções estabelecidos
de. até a infra-estrutura técni-

115
ca necessária e disponível cias bastante diferentes, que
para viabilizá-los. Além de devem ser abordadas expli-
entender recomendações citamente. Deve-se buscar o
cujo foco é voltado às pes- entendimento, até onde for
soas com deficiência e bus- possível, sobre a variedade
car apoio tecnológico para de contextos e de situações
promover a acessibilidade de uso, sobre os diferentes
da Web para esse grupo de grupos de usuários de um
usuários, é necessário com- sistema de informação em
preender acessibilidade em particular.
seu contexto social, sua re-
lação direta com a usabilida- Princípio 3. Abordar expli-
de de ambientes, produtos e citamente a participação dos
serviços e, também, com a usuários em espaços colabo-
inclusão social. rativos de design – na con-
cepção, na proposição e na
Princípio 2. Considerar a avaliação de sistemas Web-
multiplicidade e a diversi- inclusivos – com base na
dade de contextos e situa- igualdade de direitos e res-
ções de uso das tecnologias peito mútuo.
de informação e comunica- Esse princípio apon-
ção, reconhecendo e valori- ta para a necessidade de
zando as diferenças entre os envolver como co-autor o
usuários, em suas capacida- principal interessado no de-
des perceptuais, cognitivas senvolvimento de ambien-
e motoras. tes, serviços e produtos para
Esse princípio chama o seu uso, em espaços que
a atenção para a respon- ofereçam condições a sua
sabilidade de uma equipe participação. Em um con-
ao assumir o compromis- texto de valorização das di-
so de desenvolver um siste- ferenças, designers devem
ma Web, levando em conta proporcionar um ambien-
que seu público apresenta te flexível que possibilite a
características, necessida- cada pessoa participar sem
des, interesses e preferên- discriminação.

116
As possibilidades de situ- 4.1. PAWRAU: Um Pro-

Capítulo V
ações de design que podem cesso de Adequação de
emergir localmente são in- Websites a Requisitos de
finitas. Os princípios para o Acessibilidade e Usabili-
design inclusivo de sistemas dade
de informação na Web visam

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a explicitar questões fun- A necessidade de defi-
damentais que devem ser nir um processo para ade-
consideradas para a promo- quar websites a requisitos
ção da inclusão na constru- de acessibilidade e usabili-
ção de sistemas Web. Melo dade surgiu a partir de ex-
(2007) apresenta técnicas periências (profissionais e
de Design Participativo ali- acadêmicas) sobre como se
nhadas a esses princípios. dá o desenvolvimento e a
manutenção de websites, as
características de equipes de
4. Desenvolvimento
desenvolvimento e quais são
Web-Acessível
os obstáculos normalmente
encontrados para que planos
Essa seção apresenta
sejam convertidos em ações
um processo que auxilia na
(ALMEIDA et al., 2008; SAN-
produção ou na adaptação TANA et al., 2008). Os prin-
de websites a requisitos de cipais pontos identificados
acessibilidade e usabilidade, são os seguintes:
partindo de tópicos que re-
presentam pequenos obje- • O perfil de mantenedores
tivos a serem alcançados. O de websites não é bem
processo é pautado por prin- definido e, em equipes
cípios que abordam o de- pequenas, um profissio-
senvolvimento Web, desde nal pode desempenhar
a codificação até a validação mais de um papel (ex.:
e avaliação. Por fim, apre- redator e designer ou de-
senta uma ferramenta que senvolvedor e designer).
apóia a utilização desse pro- Assim, referências para
cesso: o WARAU. mantenedores de web-

117
sites devem possibilitar tecnologias HTML, CSS e Ja-
o acesso às informações vascript e disciplinas como
mais relevantes para Acessibilidade e Usabilida-
certa combinação de per- de são, em geral, abordados
fis em um dado momen- isoladamente e a integração
to; desses conhecimentos de-
pende dos mantenedores.
• A rotina de trabalho de
Se forem apresentados de
mantenedores de websi-
maneira integrada, sua apli-
tes não é linear, ou seja,
cação é agilizada.
oscila entre atividades
de design, codificação, A seguir, são apresen-
padronização, avalia- tados os Princípios para
ção, testes, entre outras. Desenvolvimento Web Aces-
Assim, deve-se utilizar sível, que guiam o proces-
hipertexto para possibili- so e podem ser aplicados no
tar a navegação para tó- desenvolvimento Web (SAN-
picos mais aprofundados TANA et al., 2008):
(ex.: relacionados à ava-
liação ou testes) e outros 1. Definir padrão de co-
mais fundamentais (por dificação - A seleção
exemplo, relacionados a criteriosa de padrão de
definições ou estruturas nomenclatura de ele-
básicas). mentos, de variáveis e
de versões de linguagem
Uma vez identificadas as
contribui para a legibi-
questões em torno do de-
lidade do código e para
senvolvimento Web, foi de-
finido o processo PAWRAU a divisão das atividades
que apóia o progresso des- da equipe de desenvolvi-
sas equipes em relação à mento, facilitando, com
adequação de websites a isso, a manutenção das
requisitos de acessibilida- funcionalidades de web-
de e usabilidade. Vimos, por sites, bem como a adição
exemplo, que temas como de novos recursos;

118
2. Estruturar páginas e cionam grande parte dos

Capítulo V
websites prezando o problemas comumente
reaproveitamento de encontrados em websites.
código - Todo o código Com isso, possibilitam
Web, seja ele documento sua maior compatibilida-
HTML, folha de estilo CSS de com os diversos dis-

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ou programa em Javas- positivos, navegadores,
cript, deveria ser escrito sistemas operacionais e
de tal forma que pudes- outras aplicações utiliza-
se ser reaproveitado em das. Além disso, quando
diferentes áreas do consideradas diretrizes
website e, conseqüente- de acessibilidade e usa-
mente, contribuir para a bilidade, espera-se um
manutenção e redução de ganho em relação à ca-
consumo de recursos de pacidade do website de
tempo e financeiros; atender às necessidades
específicas de cada usu-
3. Prezar pela semânti- ário (ex.: navegação via
ca no código - O con- teclado, sem recursos so-
teúdo de websites deve noros);
ser escrito considerando
os elementos semânticos 5. Não se restringir a pa-
disponíveis pelas lingua- drões e diretrizes de
gens de marcação (por tecnologias e concei-
exemplo: títulos, pará- tos - Apesar de trazer
grafos, tabelas, abrevia- melhorias, padrões e di-
ções); retrizes não são soluções
suficientes para a garan-
4. Aplicar padrões e dire- tia de qualidade de um
trizes de tecnologias e website. Para tanto, é
conceitos - Linguagens necessário considerar as
Web contam com pa- condições e restrições de
drões e recomendações uso específicas de cada
que, quando conhecidos website e levar em consi-
por mantenedores, solu- deração o referencial teó-

119
rico da área em questão; 8. Integrar tecnologias e
conceitos durante todo
6. Considerar a diversida- o desenvolvimento - Um
de de usuários - Ao con- dos grandes problemas
trário do que geralmente no desenvolvimento de
é adotado por mantene- websites é a lacuna entre
dores de websites, de- as recomendações técni-
senvolver websites para cas e os conceitos que as
o “usuário médio” não é norteiam. Um exemplo
garantia de ampla acei- disso é a recomendação
tação de websites. Por- de acessibilidade sobre
tanto, o conhecimento da o fornecimento de texto
diversidade de usuários alternativo a imagens.
pode ser fator determi- Apesar de prover texto
nante para o sucesso de alternativo e, portan-
to, seguir a diretriz (ex.:
um website. Tal conheci-
checkpoint 1.1 do WCAG
mento complementa e,
1.0), mantenedores fa-
por vezes, redireciona di-
lham na escolha de qual
retrizes e padrões;
informação deveria estar
presente nesse texto e
7. Considerar diferentes quais são os usuários que
formas de apresenta- se beneficiam desse re-
ção de páginas Web curso. É necessária uma
(dispositivos e confi- abordagem integrada que
gurações) - Websites permita a compreensão
não são documentos es- não somente das regras
táticos e, portanto, se- de desenvolvimento, mas
riam melhor construídos também das necessida-
se fossem considerados des e dos benefícios ge-
como construções flexí- rados por sua aplicação;
veis a diferentes disposi-
tivos, tamanho de display 9. Avaliação e validação
e preferências de visuali- - Devido à característi-
zação de usuários; ca dinâmica de websites,

120
mesmo quando mante- agilizando a busca desses

Capítulo V
nedores conhecem e em- conteúdos e, usando hiper-
pregam os padrões e texto, conectar tópicos rela-
recomendações, a tare- cionados e dependências. A
fa de manter um website partir desse conteúdo, a pró-
atendendo completamen- pria equipe de desenvolvi-

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te a essas recomendações mento pode definir objetivos
exige um monitoramento (ex.: semanais, quinzenais
constante. Esse monito- ou mensais) para colocar em
ramento pode ser obtido prática tópicos e obter re-
por meio de ferramentas sultados esperados (ALMEI-
automatizadas de valida- DA et al., 2008; SANTANA et
ção de código ou por meio al., 2008).
de avaliação manual.
4.2. WARAU: Uma ferra-
menta de apoio para o
Em relação às ações da
PAWRAU
equipe de desenvolvimen-

to, questões comuns são:
O WARAU (acrônimo de
Por onde começar? O que
Websites Atendendo a Re-
fazer para tornar um web-
quisitos de Acessibilidade e
site acessível? Nossa equipe Usabilidade) é uma mate-
produzirá menos, se nosso rialização do PAWRAU. Um
objetivo for tornar websites dos objetivos do WARAU é a
acessíveis? Para amenizar ampla divulgação do proces-
preocupações como essas, a so e a criação de um espaço
ferramenta WARAU apresen- para discussão do conteú-
ta conteúdos em tópicos au- do do PAWRAU. Além disso,
to-contidos, com pequenos o WARAU permite que usuá-
progressos que explicitam rios façam buscas rápidas ao
quais são os resultados es- conteúdo do processo, bus-
perados de sua aplicação. A cas que consideram o con-
aplicação do processo prevê texto de trabalho e o foco
que o conteúdo de referência de interesse de cada perfil
possibilite filtros relaciona- de mantenedor de websites.
dos aos papéis e aos temas, Ele está disponível no ende-

121
reço http://warau.nied. ou baixa. Tema represen-
unicamp.br/. ta quais tecnologias e disci-
Para estruturar o conte- plinas estão integradas em
údo do PAWRAU, de forma a cada tópico.
oferecer suporte à extensão
e flexibilidade na manipula- 5. Considerações Finais
ção do conteúdo usando o As diferenças (por exem-
WARAU, utilizou-se uma es- plo, características e pre-
trutura em forma de tópicos ferências dos usuários,
descritos, usando XML (eX- tecnologias, contexto de
tensible Markup Language) uso) a serem consideradas
como linguagem de marca- no desenvolvimento de sis-
ção. Essa estrutura de tó- temas Web podem se mani-
picos permite atualmente festar de inúmeras formas.
a representação estrutura- Mantenedores de sistemas
da de assuntos, exemplos e Web que almejem colaborar
contra-exemplos de código, efetivamente na construção
incluindo renderizações, su- de sistemas inclusivos na
gestões de ferramentas que Web devem construir com-
podem ser utilizadas, suges- petências e buscar recursos
tões de leitura prévia e os necessários à promoção do
resultados esperados do tó- design (produto e processo)
pico. Web-acessível. Nesse texto
Atualmente, estão dispo- procuramos abordar os prin-
níveis filtros por perfil (i.e., cipais conceitos e recursos
desenvolvedor, designer e relacionados ao desenvolvi-
redator) e temas (i.e., HTML, mento de websites acessí-
CSS, Javascript, Acessibi- veis e usáveis, oferecendo
lidade e Usabilidade). Per- subsídios para a construção
fil representa a atribuição de competências.
de relevância do tópico para Amplamente difundido
cada um dos perfis de man- hoje em dia, o atendimen-
tenedores. Atualmente, a re- to a recomendações técnicas
levância pode assumir um (ex.: WCAG, Section 508)
de três valores: alta, média de acessibilidade é apenas

122
parte da solução para tornar citar questões importantes

Capítulo V
inclusivos os sistemas de in- que devem ser considera-
formação Web. Faz-se ne- das na construção de estra-
cessário um entendimento tégias locais, para promover
profundo para o que signi- a acessibilidade e a inclusão
fica promover a acessibili- no produto e no processo de

Atores da Inclusão na Universidade


dade, de acordo com o que design.
preconiza o Desenho Univer- Hoje existe uma gran-
sal, além de levar em con- de variedade de materiais
sideração compromissos, conceituais e ferramentas
intenções, significados e in- para apoiar os mantenedo-
fra-estrutura relacionados res de websites, mesmo que
ao design de qualquer siste- ainda não exista um consen-
ma de informação para uso so sobre padrões de aces-
humano. sibilidade. No entanto, o
Para a construção de co- conhecimento sobre tais fer-
nhecimento por parte de de- ramentas, o entendimento
signers e desenvolvedores das diretrizes e a articula-
de tecnologias de informa- ção das diversas tecnologias
ção e comunicação sobre as disponíveis para a criação
diferenças, assim como a de conteúdo Web é, ainda,
participação das partes in- uma barreira a ser trans-
teressadas no desenvolvi- posta. O PAWRAU propõe a
mento de tecnologias que utilização integrada de tec-
reflitam seus interesses e nologias Web, considerando
compromissos estabeleci- diretrizes de acessibilidade
dos, é essencial a busca de e usabilidade. Para facilitar
soluções para uma socieda- a aplicação do PAWRAU por
de inclusiva. Os princípios equipes de manutenção de
para o design inclusivo de websites, foi desenvolvida
sistemas de informação na a ferramenta WARAU, que
Web objetivam nortear o de- contribui para que mante-
sign desses sistemas para nedores com diversos perfis
adequá-los a uma sociedade possam obter informações
aberta às diferenças e expli- orientadas a seus interes-

123
ses. A estrutura do WARAU
permite navegar entre diver-
sos temas e tópicos e cons-
truir um conhecimento mais
amplo do assunto desejado.
Como continuidade à te-
mática tratada neste texto, o
WARAU oferece um glossário
(http://warau.nied.unicamp.
br/?q=glossary), que conta
com definições para os ter-
mos acerca do tema aces-
sibilidade e usabilidade na
Web e apresenta apontado-
res para tópicos correlatos.
Fica, então, um convite à
ação para promover a Aces-
sibilidade na Web.

124
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Capítulo V
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10.098, de 19 de Dezembro de 2000, que estabelece normas
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128
Capítulo VI
Acessibilidade no ambiente físico

João Vilhete Viegas d’Abreu


Núbia Bernardi
Introdução: Desenho diversos espaços urbanos.
Universal no Projeto São inúmeras as barreiras
Arquitetônico que a população encontra
A aplicação do conceito para o pleno desenvolvi-
de Desenho Universal1 nos mento de suas habilidades,
espaços edificados é hoje e indivíduos portadores de
requisito fundamental para algum tipo de deficiência so-
a qualidade da vivência e frem (às vezes, desnecessa-
da mobilidade de um indi- riamente) por apresentarem
víduo em um determinado desvantagens que poderiam
ambiente. O conceito arqui- ser superadas com melho-
tetônico de Desenho Uni- rias no ambiente construí-
versal propõe o espaço com do.
uso democrático para os di- A aplicação sucessiva dos
ferentes perfis de usuários: princípios do DU requer um
prega que todas as pessoas, conhecimento de como as
de crianças a idosos, pas- habilidades variam com a
sando por quem possui limi- idade, o ambiente, as cir-
tações físicas (temporária ou cunstâncias. Story e Mace
permanente), tenham con- (1998) traçaram um pano-
dições igualitárias na quali- rama de como as habilida-
dade de uso de uma casa ou des humanas podem ser
de um ambiente construído agrupadas em diversas ca-
qualquer, seja esse ambien- tegorias: cognição, visão,
te interno ou externo, pú- audição, fala, funções corpó-
blico ou privado, nos mais reas (braços, mãos) e mobili-
dade. Cada categoria mostra
1. Desenho Universal é compre-
endido como sendo o projeto de
como determinada habilida-
produtos, ambientes e comunica- de afeta a usabilidade do es-
ção para ser usado pelas pessoas paço em relação ao Desenho
em condições de igualdade. Tam- Universal; como considerar
bém é chamado de projeto inclu-
sivo, projeto para todos, projeto
as variações das habilidades
centrado no homem (ADAPTIVE humanas em receber, com-
ENVIRONMENT, 2005). preender, interpretar, relem-

130
brar ou atuar/informar. principalmente para o cliente

Capítulo VI
O projeto de arquitetura e usuários com pouca experi-
pode e deve contribuir para ência na leitura de desenhos.
minimizar as barreiras ar- A discussão com o cliente ou
quitetônicas que dificultam a os usuários é mais direta, evi-
acessibilidade. Pode também tando-se interpretações er-

Atores da Inclusão na Universidade


fornecer subsídios explorató- radas ou equivocadas. Em
rios do ambiente, informan- processos projetuais partici-
do previamente a orientação pativos as maquetes aumen-
utilizada para o uso adequa- tam a percepção espacial dos
usuários e alimentam as dis-
do desse espaço.
cussões produtivas.
O uso de instrumental
que simule a realidade de
forma tridimensional pode Indivíduos com deficiên-
representar um envolvimen- cia visual necessitam, para se
to significativamente positi- locomover, do conhecimento
vo entre usuário e ambiente. prévio do espaço, da posição
Como elemento de comu- em que se encontram nesse
nicação, o uso da maque- espaço, e do conhecimen-
te permite a realização de to das atividades e barrei-
processos participativos e ras que podem alterar sua
colaborativos e auxilia, so- locomoção nesse ambiente.
bretudo, na leitura do proje- Uma correta orientação es-
to, função que exerce melhor pacial pode assegurar um
e de maneira mais realista percurso autônomo e con-
do que a representação abs- fiante. Para que isso ocorra
trata do desenho projetivo. de forma eficiente, torna-
Segundo Kowaltowski et al se necessária a aplicação
(2006c, pg. 15): de elementos informativos
próprios do lugar, os quais
[...] a maquete é de grande possam ser traduzidos para
importância na comunicação uma imagem mental, con-
de idéias no processo proje- figurando-se como elemen-
tual. Ela expressa mais direta- tos redutores das barreiras
mente a intenção de projeto, de comunicação.

131
Instrumentos de leitu- de uso do espaço construído,
ra de projeto: o uso de garantindo assim inclusão
mapas táteis e disposi- social e cultural (BERNARDI
tivos digitais como fer- & KOWALTOWSKI, 2006). No
ramentas de auxílio ao contexto do Desenho Uni-
percurso e reconhecimen- versal, um mapa tátil pode
to de um espaço físico ser inserido nos seguintes
princípios (BERNARDI, 2007;
A descrição de um am- STORY, 2001):
biente através de maquetes
e mapas táteis é um impor- Principio 1 - USO EQUITA-
tante instrumento para a TIVO das habilidades indivi-
orientação espacial e, con- duais - o projeto não pode
seqüentemente, um impor- criar desvantagens ou estig-
tante elemento da aplicação matizar qualquer grupo de
do Desenho Universal. Este usuários;
possibilita a compreensão
de um ambiente construído, Princípio 2 - FLEXIBILIDA-
a percepção do espaço e a DE DE USO – para todo usu-
navegação em um ambien- ário - o projeto adaptado a
te interno ou externo, o que um largo alcance de prefe-
pontencializa o uso das ha- rências e habilidades indivi-
bilidades individuais através duais;
de respostas sensoriais do
indivíduo. Princípio 3 - INFORMAÇÃO
Um mapa tátil pode ofe- PERCEPTÍVEL para usuá-
recer uma condição de loco- rios com deficiência visual
moção segura e autônoma - o projeto comunica ne-
para indivíduos com dife- cessariamente informações
rentes habilidades visuais, efetivas ao usuário, indepen-
estimular o uso do resíduo dentemente das condições
visual dos indivíduos com do ambiente e habilidades
baixa visão, através da leitu- sensoriais do usuário.
ra do ambiente e, principal-
mente, ampliar o potencial É importante diferenciar

132
o uso dos termos mapa e sejam frágeis ao manuseio.

Capítulo VI
maquete. Um mapa é a re- Apresenta saliências per-
presentação gráfica, sobre ceptíveis através do tato, as
um plano, de fenômenos ge- quais, por meio de simbo-
ográficos referentes a um logias próprias, informam
espaço determinado, atra- o usuário sobre o ambiente

Atores da Inclusão na Universidade


vés do uso de um sistema de construído. As informações
projeção, em escala e com são apresentadas de forma
símbolos gráficos (GRAN- a orientar espacialmente o
DE DICIONÁRIO LAROUSSE indivíduo com comprome-
CULTURAL, 1999). Um mapa timento visual e consistem
tátil, então, utiliza esse sis- em indicar a direção de ca-
tema, com os símbolos re- minhos e percursos, pontos
presentados em relevo, para de destino (plataformas de
que possa ser interpretado estações ferroviárias, por
de maneira háptica. Já uma exemplo), a planta interna
maquete é a representação de um edifício, localização
em três dimensões, em geral das principais áreas de cir-
em escala reduzida, mas fiel culação e até áreas exter-
às proporções de um projeto nas como jardins. Os mapas
de arquitetura ou de enge- podem representar total ou
nharia (GRANDE DICIONÁ- parcialmente um ambiente,
RIO LAROUSSE CULTURAL, dependendo do objetivo, dos
1999). usos e da necessidade de in-
A utilização de mapas tá- formação (PORTAL ROMAC-
teis pode ser um elemen- CESSIBILE.IT, 2006).
to de orientação bastante Os chamados tactile
eficaz em ambientes urba- maps – mapas táteis - são
nos e públicos. Basicamente, cognitivamente interpreta-
ele se configura como uma dos por indivíduos sem ou
estrutura plana feita de di- com baixa capacidade visual.
ferentes tipos de materiais, Segundo Jacobsen (1996),
que podem ser alumínio, mapas táteis têm sido usa-
plástico, papéis e papelão, e dos já há bastante tempo
que preferencialmente não na área educacional com o

133
objetivo de converter idéias Schneider (2000) distin-
em um componente espa- gue, para a educação geo-
cial. Nesse contexto, eles gráfica, três tipologias de
podem ser utilizados para mapas táteis: mapas de
incrementar a participação orientação, de mobilidade
ativa de indivíduos em um e de topologia. Os mapas
ambiente a ser reconhecido, de orientação são aqueles
através da apresentação do que providenciam uma visão
ambiente em um modelo em geral e superficial de uma
escala, seja um mapa, seja determinada área. Os mapas
maquete. de mobilidade são prepara-
Pesquisadores do Ins- dos para orientar o viajante
tituto F. Cavazza, Bolonha e incluir pontos de orienta-
(BUCCIARELLI, 2004), con- ção. Os mapas topológicos
sideram que as facilidades são aqueles que mostram
de orientação e cognição uma rota específica. A no-
que os mapas táteis e vi- menclatura arquitetônica de
suais oferecem não são de mapas táteis pode ser simi-
acesso exclusivo para pesso- lar à caracterização descri-
as portadoras de deficiências ta acima:
visuais, uma vez que exis-
te uma demanda de pesso- ••Na linguagem arquitetô-
as que estão diariamente se nica tátil, a orientação
locomovendo, viajando e ex- relaciona-se com a im-
plorando locais para estudo, plantação e situação de
lazer ou trabalho, e os pro- um edifício em relação ao
blemas de reconhecimento seu entorno. A escala de
do local estão sempre pre- representação é peque-
sentes. Informar as rotas de na e os detalhes não são
navegação através de auxí- de fundamental impor-
lios em áudio, visuais e tá- tância.
teis confere maior segurança
de locomoção e orientação ••Quanto à mobilidade,
espacial para diversos usu- que estabelece rotas com
ários. pontos de apoio, pode-se

134
relacioná-la com o per- Arquitetura e sinalização

Capítulo VI
curso interno de uma devem estar unidas para fa-
edificação, indicando a cilitar a orientação do usuá-
seqüência de ambientes rio, já que o percurso em um
e principais obstáculos. ambiente é percebido atra-
Nesse caso, a escala per- vés das informações que o

Atores da Inclusão na Universidade


mitiria maiores detalha- espaço oferece, sejam elas
mentos. visuais, táteis ou sonoras.
Esse percurso pode ser de-
••Em relação aos mapas finido como Rota Acessível,
topológicos pode-se com- que “consiste no percurso
pará-los, com uma gran- livre de qualquer obstáculo
de aproximação, a um de um ponto a outro (ori-
percurso específico, com gem e destino) e compre-
detalhamento de mobili- ende uma continuidade e
ário, características dos abrangência de medidas de
materiais construtivos, acessibilidade” (COHEN &
texturas, ou seja, tudo o DUARTE, 2006).
que esteja mais próximo A exploração tátil de um
do usuário e que concer- ambiente, auxiliada por ou-
ne à percepção do am- tros sentidos, principalmente
biente. É necessário que, pela audição e olfato, con-
nesse caso, a escala do fere às pessoas portadoras
mapa seja maior e mais de limitação visual a pos-
detalhada, mas também sibilidade de reconhecer o
com uso mais restrito a ambiente e realizar um per-
ponto de não interferir no curso seguro. Depois de re-
mapa de mobilidade, que cebidas as informações, é
deve ser mais objetivo. necessário decodificá-las e
Na categoria topologia, interpretá-las, com a fina-
a sensibilidade e percep- lidade de compreender os
ção às características do sinais de perigo e de agra-
ambiente são crescentes dabilidade para caminhar de
em relação à proximida- forma segura pelo ambiente
de do mesmo. (LIMA, 2000).

135
Pesquisas sobre percep- para pessoas com cegueira
ção háptica são importantes completa, mas para aqueles
fontes de informações para que possuem diferentes li-
a compreensão da capacida- mitações visuais. SPENCER
de de leitura tátil. Podemos (1989, apud JACOBSON,
citar as pesquisas na área de 1996) discorre sobre a im-
ensino de cartografia, que já portância das informações
utilizam como instrumento sobre o percurso, partindo
o estudo de mapas e sim- inicialmente da identifica-
bologias próprias para o re- ção do local de procedência
conhecimento de um local. do indivíduo e identificando
Ventorini (2006) descreve quais auxílios ele terá duran-
uma experiência de elabo- te seu percurso até alcançar
ração de maquetes táteis o seu destino.
sonoras para a aprendiza- Durante a leitura de um
gem de cartografia a alunos mapa tátil e visual o usu-
cegos e com baixa acuidade ário precisa interpretar os
visual, pertencentes à rede símbolos do mapa, memo-
pública do ensino fundamen- rizar a imagem que eles re-
tal no Brasil. As maquetes presentam e transportar-se
finalizadas foram acopladas fisicamente para o espaço
a um computador munido representado, tendo cons-
do software “Mapavox”, um ciência prévia do caminho
programa compatível com que deve percorrer. A sim-
o Windows 95 ou superior bologia gráfica em um mapa
e que possibilita a integra- tátil pode e deve extrapolar
ção ao sistema de síntese de a função apenas informativa
voz, o programa “DOSVOX”, e constituir um elemento po-
que permite a emissão de sitivo para o conhecimento
sons, textos e imagens pré- do ambiente: a representa-
programadas e a edição de ção qualitativa do espaço.
novos textos (VENTORINI, Através dessas diferen-
2006). tes maneiras de percepção
A prévia orientação es- de um espaço, recursos tec-
pacial é eficiente não apenas nológicos têm sido utilizados

136
para providenciar a inclu- ficiência Visual” 2 tinha como

Capítulo VI
são social. Pesquisas do Nú- enfoque principal o uso do
cleo de Informática aplicada mapa tátil sonoro em sala
à Educação na UNICAMP – de aula, junto a um públi-
NIED/UNICAMP (d´ABREU; co restrito de professores e
CHELLA, 2006) têm utili- alunos, deficientes visuais,

Atores da Inclusão na Universidade


zado a implementação de desenvolvendo atividades
uma interface eletrônica que de ensino-aprendizagem. A
partir desse projeto, foram
permite conectar e contro-
implementadas outras situa-
lar sensores a um computa-
ções diferenciadas de uso do
dor, utilizando a linguagem mapa tátil sonoro em experi-
de programação SuperLogo. mentos realizados tanto em
Com esse recurso é viável salas de aula, quanto fora
incorporar sensores a uma dela.
maquete, possibilitando in- Os experimentos reali-
corporar à sensibilidade tátil zados nessa ação possibi-
de um objeto também a per- litaram a definição de dois
cepção sonora. contextos de uso do mapa
O desenvolvimento de tátil sonoro. O primeiro con-
mapas táteis sonoros tem texto aborda o uso restri-
como base uma série de to em sala de aula para fins
atividades de pesquisa que de ensino e aprendizagem,
d’Abreu e Chella (2006) vêm por exemplo, aprendizado
desenvolvendo e cujos resul- 2. Esse projeto foi financiado pela
tados demonstram que esse Fundação de Amparo à Pesquisa
recurso tecnológico pode ser do Estado de São Paulo – FAPESP,
utilizado por pessoas defi- processo 02/10342-1 e, após a
sua conclusão, obteve avaliação
cientes visuais. O projeto favorável por essa Fundação. Foi
“Desenvolvimento de Dispo- desenvolvido entre 2003 e 2005,
sitivos Robóticos Integrando numa parceria envolvendo a UNI-
CAMP e a UNESP, integrando o
o Estudo de Cartografia Tátil
NIED e o Centro de Análise e Pla-
e Geração de Material Didá- nejamento Ambiental – CEAPLA/
tico para Portadores de De- UNESP - Rio Claro.

137
de Geografia e Cartografia número de pessoas que têm
Tátil. Esse uso diz respeito utilizado esse dispositivo tem
às atividades desenvolvidas aumentado, visto que esse
no projeto anteriormente dispositivo está em processo
citado, junto a uma esco- de instalação no hall de en-
la Municipal no Município de trada da referida Biblioteca
Araras, como mostra Figu- (d’ABREU et al, 2008).
ra 1.

Figura 1. Mapa construído por Figura 2. Mapa tátil sonoro


alunos com deficiência visual. instalado no hall da Biblioteca
Fonte: d’ABREU e FREITAS, 2005 Central Cesar Lattes. Fonte:
d’ABREU et al, 2008
A seqüência da pesquisa A manipulação desse ins-
permitiu desenvolver (segun- trumento insere-se no con-
do contexto) um mapa tátil texto de uso de tecnologias
sonoro para uso em locais digitais, tendo como meta
públicos, porém, freqüenta- a interação do computador
do por pessoas autorizadas/ com os mais variados tipos
credenciadas, como alunos de dispositivos robóticos. A
cegos e/ou com baixa visão área de Robótica Pedagógi-
que freqüentam a Biblioteca ca do Núcleo de Informática
Central Cesar Lattes da UNI- Aplicada à Educação NIED/
CAMP, como mostra a Figu- UNICAMP desenvolve pes-
ra 2. Embora seja esta uma quisas e ferramentas que
situação de uso restrito, o possibilitam montagem, au-

138
tomação e controle de Dis- forma interdisciplinar. Além

Capítulo VI
positivos Robóticos, como disso, utilizam componen-
instrumentos de alta usabili- tes elétricos como: motores,
dade para pessoas com baixa sensores de luz, toque, tem-
visão (software Quatro Esta- peratura, som, posição, lâm-
ções e Ambiente Baseado na padas, dentre outros, que

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Mesa Digitalizadora), com possibilitam o acionamen-
deficiência auditiva (Am- to dos dispositivos. Em um
biente Baseado na Tartaru- ambiente de Robótica Pe-
ga Mecânica de Solo e Braço dagógica, na automação e
Manipulador) e com defici- no controle dos dispositivos
ência visual (Maquete Tátil elaboram-se programas com
Sonora e Traçador Gráfico o uso de softwares do tipo
Educacional, adaptado para SuperLogo Robola, LEGO
cegos). Alunos e professores Mindstorms, dentre outros
interagindo entre si e com elaborados com propósitos
essas ferramentas produzem educacionais.
novos conhecimentos, ca- Entretanto, na grande
racterizando esse ambiente maioria de pesquisas rea-
como um ambiente pedagó- lizadas nessa área, pouca
gico que não existe a priori, ou nenhuma atenção se dá
mas que pode ser construído ao processo de se criar con-
(d’ABREU, 2002). Na mon- dições para que esses dis-
tagem desses dispositivos, positivos robóticos sejam
utilizam-se peças mecâni- também utilizados por pes-
cas tais como rosca sem-fim, soas com deficiência. Pouco
engrenagens, eixos, crema- se tem feito no sentido de
lheiras, correias dentadas buscar novas alternativas
etc., para montar estruturas para o uso de ambientes
mecânicas. Essas peças são de Robótica Pedagógica de
devidamente acopladas, res- modo a propiciar acessibi-
peitando alguns princípios lidade ao aluno deficiente.
da Mecânica, da Física e da Por exemplo, no caso de um
Matemática e buscando tra- aluno com deficiência visu-
balhar os conceitos de uma al, para que ele possa, por

139
meio do computador, apren- • Concepção: discussão de
der conceitos de Geografia estratégias que possibili-
Tátil, um mapa tátil sono- tem a transformação do
ro pode se utilizado, o qual espaço físico real em uma
é controlado por um deter- representação em esca-
minado software desenvol- la, de maneira analógica
vido especificamente para e abstrata, porém, man-
esse fim. tendo-se as caracterís-
O mapa tátil sonoro tem ticas físicas construtivas
como função principal a dis- desse espaço.
ponibilização através de re-
cursos tecnológicos, de • Construção: consiste na
informações para que indi- elaboração de um instru-
víduos utilizem um espaço mento de leitura em 3 di-
mensões. A pré-elabora-
urbano de forma autônoma,
ção inicia-se com a cria-
fácil e segura, por exemplo,
ção do desenho virtual,
abrigo de ônibus, estação
usando-se um software
rodoviária, saguão de en-
capaz de fazer desenhos
trada de um prédio públi-
arquitetônicos, através
co, etc.
de programas específicos
A implementação de um (por exemplo, AutoCAD
mapa tátil sonoro inicia-se – Computer-Aided De-
com a análise de uma Rota sign – projeto auxiliado
Acessível e sua transposição por computador). Nesse
gráfica e simbólica para o sentido, serão necessá-
instrumento, a inclusão dos rios equipamentos como
recursos de sonorização, o computadores, impres-
desenvolvimento de hardware soras, máquinas fotográ-
e software específicos e a ficas digitais e computa-
confecção do mapa em esca- dores portáteis para o de-
la. A obtenção de um mapa senvolvimento de ativida-
tátil sonoro consiste basica- des fora do laboratório. A
mente do seguinte desenvol- transformação desse pro-
vimento: duto virtual em uma ma-

140
quete real pode ser reali- físico e de uma informa-

Capítulo VI
zada a partir do processo ção sonora, facilitando,
de prototipagem rápida3. assim, a sua localização
Além disso, o mecanis- espacial. Esses sensores,
mo de funcionamento da que poderão fazer parte
maquete tátil sonora ba- de uma determinada ma-

Atores da Inclusão na Universidade


seia-se na leitura de sen- quete, são os elementos
sores sensíveis ao toque, que dão “voz” à maque-
que captam o estado do te. (MARTINS, d’ABREU,
meio externo ao ser pres- 2007). Basicamente, a in-
sionado. A implementa- terface eletrônica (har-
ção desses dispositivos dware) que controla os
tem o objetivo de permi- sensores é constituída
tir que o usuário possa por uma placa de circui-
ter, ao mesmo tempo, o to impresso, na qual são
reconhecimento tátil de montados os componen-
um determinado espaço
tes eletrônicos. Uma con-
3. Prototipagem Rápida é normal- figuração eletrônica bá-
mente definida como um proces- sica do circuito até ago-
so aditivo de fabricação de obje- ra discutido é mostrada
tos em três dimensões, através na Figura 3 para um sen-
da deposição sucessiva de cama- sor (chave normalmente
das de material, até a formação
completa de um modelo físico. O aberta).
processo inicia-se com a criação
do produto virtualmente em um • Disponibilização: uma vez
computador e, em seguida, a sua instalado o mapa tátil so-
produção direta, automática e fle- noro em local apropriado
xível, através dos processos de
prototipagem rápida, sem restri- para o uso público, será
ções na complexidade geométrica feita uma análise crítica
do modelo (SILVA et al, 2004). No do instrumento de leitura
projeto em questão, o processo através da verificação da
de prototipagem rápida das ma- usabilidade desse instru-
quetes contará com o apoio do
Centro de Pesquisa Roberto Ar- mento de leitura em re-
cher – CenPRA- em Campinas e lação à manipulação do
do LAPAC/FEC /UNICAMP. instrumento, à compre-

141
Figura 3. Esquema elétrico simplificado de funcionamento com um
sensor. Fonte: d’ABREU e MARTINS, 2008

ensão e legibilidade da
simbologia arquitetônica
representada, às caracte-
rísticas arquitetônicas da
edificação real e de sua
representação no mapa.

142
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Capítulo VI
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PORTAL ROMACCESSIBILE.IT
http://www.romaccessibile.it/en/Ausili/MappaTattileLeggere.htm
Acesso em: 22 abr. 2006.

146
Autores
Amanda Meincke Melo
Doutora em Ciência da Computação pela Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP). Professora no ensino superior. Tem especial

Atores da Inclusão na Universidade


interesse em metodologia e técnicas da Computação e Interação Humano-
Computador, com ênfase em Comunicação mediada pela Web, Design
Participativo Inclusivo e Educação.

Celma dos Anjos Domingues


Pedagoga e Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP) e Analista de Sistemas pela Pontifícia Universidade Católica
de Campinas. Atua no Laboratório de Acessibilidade da Biblioteca Central
Cesar Lattes (UNICAMP) na pesquisa de soluções em acessibilidade e no
apoio ao uso de recursos tecnológicos na área da deficiência visual.

Deise Tallarico Pupo


Graduada pela Es­cola de Biblioteconomia e Documentação de São Carlos-
SP, com pós-graduação lato sensu em “Deficiência Visual e Surdez:
funda­mentos para intervenção” pela Universidade Estadual de Campinas.
Bibliotecária do Laboratório de Acessibilidade da Biblioteca Central Cesar
Lattes da UNICAMP (LAB/BCCL/UNICAMP).

Diego Samir Melo-Solarte


Bacharel em Engenharia de Sistema pela Universidade de Nariño - Colômbia
e Mestrando em Ciência da Computação pela Universidade Estadual de
Campinas. Professor Associado da Universidade de Manizales - Colômbia
desde o ano 2000. Suas áreas de atuação incluem: Educação a Distância,
Aprendizagem Baseada em Problemas e Aprendizagem Colaborativa
Apoiada pelo Computador.

Fabiana Fator Gouvêa Bonilha


Graduada em Piano Erudito pela Universidade Estadual de Campinas e
em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Mestre
e Doutoranda em Música pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual
de Campinas (com bolsa concedida pela FAPESP), sob a orientação do
Professor Dr. Claudiney Rodrigues Carrasco.

147
Janaina Speglich de Amorim Carrico
Mestre e Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade
Estadual de Campinas, com pesquisa voltada à inclusão no Ensino Superior.
Atua como professora no ensino superior.

João Vilhete Viegas d’Abreu


Doutor em Engenharia Mecânica, Coordenador do Núcleo de Informática
Aplicada à Educação da Universidade Estadual de Campinas. Desenvolve
pesquisas na área de Robótica Pedagógica e coordena projetos que
envolvem o desenvolvimento de ferramentas computacionais e tecnologia
educacional.

Leonelo Dell Anhol Almeida


Doutorando em Ciência da Computação pela Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP). Suas áreas de atuação incluem awareness em
sistemas colaborativos e acessibilidade.

Lilia Maria Souza Barreto


Pedagoga formada pela Universidade Federal da Bahia. Mestranda em
Educação e especialista em surdez e deficiência visual pela Universidade
Estadual de Campinas. Temas de interesse: Atendimento Educacional
Especializado (pessoa surda), Educação Inclusiva e Redes Colaborativas.

Maria Cecília Calani Baranauskas


Bacharel e Mestre em Ciência da Computação e Doutora em Engenharia
Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Professora
Titular no Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas
e Coordenadora Associada no Núcleo de Informática Aplicada à Educação
(UNICAMP). Atua na formação e pesquisa em design de interfaces e
interação humano-computador.

Maria Isabel Sampaio Dias Baptista


Pedagoga e mestranda em Educação pela Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP). Suas áreas de atuação incluem inclusão, estudos
sobre diferenças, identidades e acessibilidade. Atua também como cantora
profissional.

Maria Teresa Eglér Mantoan


Pedagoga, Mestre e Doutora em Educação pela Universidade Estadual
de Campinas - (UNICAMP). Professora dos cursos de graduação e de
pós-graduação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Coordenadora
do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diferenças - LEPED/
UNICAMP.

148
Mônica Cristiane Moreira Crispim
Mestre em Política Científica e Tecnológica pela Universidade Estadual
de Campinas (UNICAMP) e Professora do Centro Federal de Educação
Tecnológica de Mato Grosso (CEFET MT). Suas áreas de interesse incluem
inclusão digital e acessibilidade.

Núbia Bernardi

Atores da Inclusão na Universidade


Arquiteta graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de
São Paulo em São Carlos. Mestre e Doutora em Engenharia Civil pela
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Docente na Faculdade
de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da UNICAMP, onde pesquisa
temas de metodologia de ensino de projeto arquitetônico, Desenho
Universal e conforto ambiental.

Vagner Figuerêdo de Santana


Bacharel em Ciência da Computação pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie Mestrando em Ciência da Computação pela Universidade
Estadual de Campinas. Foi webmaster da Folha Online de 2002 a 2007.
Sua pesquisa envolve ferramentas de avaliação de websites, acessibilidade
e usabilidade.

Sílvia Helena Rodrigues de Carvalho


Docente em Educação Especial e Reabilitação no Centro de Estudos e
Pesquisas em rea­bilitação “Prof. Dr. Gabriel Porto” – CEPRE da Faculdade
de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e
atua no Laboratório de Acessibilidade na Biblioteca Central Cesar Lattes
da UNICAMP.

Susie de Araújo Campos Alcoba


Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas e atua
como formadora e pesquisadora nas áreas de Educação Inclusiva,
Educação Especial e Tecnologias Aplicadas à Educação.

Sônia Maria Chadi de Paula Arruda


Pesquisadora, Mestre em Educação e Doutora em Ciências Biomédicas pela
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Docente em Educação
Especial e Reabilitação, atuando com crianças, adolescentes, adultos e
idosos com deficiência visual no CEPRE-FCM-UNICAMP.

149
D SN S

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