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Atores da Inclusão
na Universidade
Formação e Compromisso
Organizado por:
M. Teresa E. Mantoan
M. Cecília C. Baranauskas
BCCL
Biblioteca Central Cesar Lattes
CDD - 301.11
- 371.9
- 378
ISBN 978-85-85783-21-1
- 378.17
1. Acessibilidade 301.11
2. Inclusão escolar 371.9
3. Ensino superior 378
4. Professores universitários - Formação 378.17
Apresentação 04
Prefácio 06
Capítulo I 09
Oficinas participativas inclusivas
mediadas pelo modelo ACBP
Capítulo II 29
Diferenças, identidades e inclusão
Capítulo III 51
Biblioteca acessível
Capítulo IV 75
Acessibilidade na comunicação
Capítulo V 101
Acessibilidade na Web
Capítulo VI 129
Acessibilidade no ambiente físico
Autores 147
Apresentação
O projeto “Acesso, Permanência e Prossegui-
mento da Escolaridade de Nível Superior de Alunos
com Deficiência: ambientes inclusivos”, formulado
e coordenado há cinco anos pelas professoras Maria
Teresa Eglér Mantoan e Maria Cecília Baranauskas,
é um dos exemplos mais notáveis da vinculação
frequente e direta da pesquisa da UNICAMP com o
interesse social imediato.
O projeto nasceu da necessidade, constatada na
época, de oferecer aos alunos com deficiência da
UNICAMP algum tipo de suporte especializado, mas
terminou por se ampliar com a especulação natural
em torno dos temas das identidades, das diferenças
e das formas possíveis de acessibilidade.
Meia década de trabalho foi o bastante para
que o projeto se consolidasse e apresentasse, do
ponto de vista da produção acadêmica, resultados
que já estão sendo colocados em prática dentro
da UNICAMP e podem ser partilhados com outras
instituições. Muitos desses resultados emergiram
durante o desenvolvimento de dissertações de mes-
trado e teses de doutoramento cujos autores foram
orientados no transcurso do projeto, transformando-
se eles mesmos em agentes de uma transformação
possível, que, a meu ver, já está em curso.
É nesse mesmo contexto que, visando à forma-
ção continuada de alunos, funcionários, professores
e demais interessados em conceitos e práticas da
acessibilidade e das características dos ambientes
educacionais inclusivos, o Projeto Proesp/Capes dá
um importante passo à frente ao realizar o curso
de formação em serviço “Atores da Inclusão na
4
Universidade: formação e compromisso (AIU)”,
financiado pela Secretaria de Educação Especial do
Ministério da Educação e dirigido especialmente às
Universidades Federais.
A UNICAMP se orgulha desta iniciativa inédita e
espera que, a partir dela, as ideias aqui formuladas
5
Prefácio
A Política Nacional de Educação Especial na Pers-
pectiva da Educação Inclusiva, MEC/SEESP/2008,
emerge no contexto dos movimentos sociais de
contraposição à exclusão, como uma ação política,
social, cultural e pedagógica que afirma o princípio
da igualdade e da diferença, questionando a discri-
minação construída historicamente a partir de uma
estrutura social que inferioriza e marginaliza as
diferenças. Ao refletir sobre os caminhos a percorrer
na educação, vale afirmar que a nova Política, ao
romper com os propósitos da normalização dos
sujeitos e dos estereótipos de pessoas em razão de
suas características físicas, intelectuais, culturais,
sociais e outras, vem desconstruindo os padrões
homogêneos, seletivos e competitivos do conheci-
mento linear e do ensino uniforme, ao mesmo tempo
em que produz um novo projeto educacional de
reestruturação das instituições de educação básica e
superior, das práticas de ensino e aprendizagem, para
atender as necessidades específicas dos alunos.
A construção de sistemas educacionais inclusivos
pressupõe o efetivo direito de todos à educação e
requer novas formas de elaboração e organização
de políticas públicas, que contemplem a pluralidade
compreendida como potencial, a eliminação dos
mecanismos de segregação instaurados e a imple-
mentação de projetos pedagógicos emancipatórios
compartilhados por toda a comunidade escolar. A
Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas
com Deficiência, ratificada no Brasil como emenda
constitucional, em 2008, demarca um grande
6
avanço na defesa dos direitos humanos, ao afirmar
o compromisso do Estado em assegurar um sistema
educacional inclusivo em todos os níveis, no qual
as pessoas com deficiência não sejam excluídas do
sistema educacional geral sob alegação de deficiên-
cia, e pelo qual possam ter acesso ao ensino inclusi-
7
na Web, nas bibliotecas, em ambientes físicos e na
comunicação, bem como o modelo de aprendizagem
colaborativa baseada em problemas.
Ao analisar a perspectiva relacional da deficiência
entendida como déficit ou problema que instaura
a perspectiva da incapacidade e da desigualdade
presente na prática social, ao não investir na pro-
gressão das potencialidades e disseminar a crença
na inferioridade, esta obra desenvolve com clareza a
concepção de acessibilidade para todos e de desenho
universal presente na produção de qualquer produto
ou ambiente. Em consonância com a intensidade
das mudanças colocadas em curso nos últimos anos
e com o protagonismo das pessoas com deficiência
que passaram afirmar seus direitos e estabelecer
os pilares de uma nova cultura, as produções do
Grupo Todos Nós - UNICAMP Acessível, presentes
neste livro, tornam mais evidente que a realidade
da inclusão começa a existir no cenário educacional
brasileiro, contribuindo para que cada vez mais a
sociedade passe a se apropriar destes referenciais
e experiências educacionais inclusivas, que dizem
respeito a um universo que vai desde a educação
básica até a educação superior, passando pelas
diferentes esferas de gestão dos sistemas de ensino,
no âmbito federal, estadual e municipal.
8
Capítulo I
Oficinas participativas inclusivas
mediadas pelo modelo ACBP
M. Cecília C. Baranauskas
M. Teresa E. Mantoan
Diego S. Melo-Solarte
Introdução partidos, e os encontros da
subjetividade humana com
O cenário educacional o cotidiano, o social, o cul-
tural apontam para um pa-
Vivemos um tempo de radigma do conhecimento
crise global, em que os ve- que emerge de redes cada
lhos paradigmas da Moder- vez mais complexas de re-
nidade são contestados e em lações, geradas pela velo-
que o conhecimento, matéria cidade das comunicações e
prima da educação, passa por informações. As fronteiras
uma reinterpretação. Os am- das disciplinas se rompem e
bientes educacionais inclusi- estabelecem novos marcos
vos refletem esse cenário de de compreensão do mundo
contestação e exigem que se em que vivemos (MANTOAN,
retracem os seus contornos, 2005).
para que se alinhem às ino- O pensamento subdivi-
vações e mudanças propos- dido em áreas específicas
tas por estes novos tempos é uma grande barreira para
(MANTOAN, 2008). os que pretendem inovar a
As diferenças culturais, so- educação. Nesse sentido, é
ciais, étnicas, religiosas e de imprescindível questionar o
gênero são cada vez mais des- modelo de compreensão que
veladas e destacadas, sendo nos é imposto desde os pri-
elas condição imprescindível meiros passos de formação
para se entender como apren- escolar e que prossegue nos
demos e como compreende- níveis de ensino mais gra-
mos o mundo e a nós mesmos. duados. Toda essa trajetória
O modelo educacional mos- precisa ser repensada, con-
tra sinais de esgotamento e, siderando-se a articulação
no vazio de suas idéias, surge dos saberes e a evolução do
o momento oportuno das conhecimento por recompo-
transformações. sição, contextualização e in-
As interfaces e cone- tegração de idéias tecidas
xões que se formam entre em redes de entendimento,
saberes, outrora isolados e sem reduzir o complexo ao
10
simples. Saberes enredados renças diferem infinitamen-
Capítulo I
potencializam o caráter mul- te. (MANTOAN, 2007)
tidimensional dos problemas Os movimentos educacio-
e encaminham soluções que nais em favor da inclusão se-
são criadas pela diversifica- guem outros caminhos, que
ção dos posicionamentos de contestam fronteiras entre
11
vo é produto de uma edu- inclusão e as marcas que as
cação plural, democrática e diferenças imprimem no es-
transgressora. Ele reconhe- clarecimento das questões
ce a pluralidade de culturas do cenário educacional de
e manifestações intelectu- nossos dias. Ela se distin-
ais, sociais, afetivas que pro- gue pelo seu caráter híbri-
vêm de uma consciência ao do e mutante, marcas de um
mesmo tempo individual e ensino inclusivo.
social diante da instabilidade
do mundo que nos cerca. O contexto de
A mistura, a hibridização, proposição do método
a mestiçagem provocam e
questionam todo e qualquer Na sociedade pós-moder-
enquadramento de identi- na, momento em que vive-
dade. mos, a tecnologia pode ser
Diante dessas novidades, entendida como um de seus
o ensino, nos níveis básico e affordances, isto é, uma
superior, não pode continuar construção social cuja exis-
ignorando o que acontece ao tência depende ontologica-
seu redor, anulando e mar- mente dos significados dessa
ginalizando as diferenças. E sociedade. Quando, então,
muito menos desconhecer propomos um curso mediado
que o aprender é expressar, por tecnologia computacio-
dos mais variados modos, o nal, é necessário esclarecer
que sabemos e representar em que contexto o fazemos
o mundo a partir de nossas e de que sociedade, atores e
origens, valores e sentimen- significados falamos.
tos. O pensamento pós-mo-
A criação da metodolo- derno exige uma postura
gia de ensino, Aprendiza- autônoma frente às trans-
gem Colaborativa Baseada formações profundas da
em Problemas - ACBP, reúne sociedade. O pós-moder-
diferentes áreas do conheci- no reabilita e adota a com-
mento e se propõe a seguir plexidade, a contradição,
os caminhos pedagógicos da a ironia, a mistura de esti-
12
los e gêneros em oposição to de acessibilidade. Aces-
Capítulo I
às referências de pureza e sibilidade, como qualidade
integridade. Somos força- de acessível, significa em
dos a reconhecer que nosso sentido lato “facilidade na
mundo agora resiste a gran- aproximação, no trato ou
des narrativas de um sentido na obtenção” (FERREIRA,
13
mundo físico e social. tender e a propor maneiras
No pensamento pós-mo- de lidar com as identidades
derno, deficiência é sinôni- e diferenças no contexto da
mo de “diferença” e tem a Universidade, como espaço
ver com o reconhecimento físico e/ou virtual, e das re-
do Outro. Nesse sentido, a lações com o conhecimento,
deficiência é constatada na cada vez mais acessível.
interação entre indivíduo e Nesse Projeto pudemos
sociedade. O “remédio” seria exercitar o design para o de-
a mudança na interação e safio das diferenças, tanto no
qualquer pessoa ou arte- produto quanto no processo
fato que afete essa intera- de design, que chamamos
ção é agente do processo no “design inclusivo”. Concei-
mundo social. O Desenho tos e artefatos da Semiótica
Universal, ou Design para Organizacional (LIU, 2000),
Todos - design de produtos articulados de forma parti-
e serviços para a maior ex- cipativa (MULLER, 2002),
tensão possível de usuários- envolveram a comunida-
é o paradigma subjacente a de universitária desde o iní-
essa concepção de acessibi- cio do Projeto em ações de
lidade, que leva a ambientes clarificação do problema e
inclusivos físicos ou virtu- proposição de idéias. Mate-
ais. Não se trata de design riais foram adaptados para
para a média da população, a participação de todos nas
mas design que considere práticas de articulação do
as identidades e diferenças, problema e no design de so-
na sua maior extensão pos- luções. O curso AIU Atores
sível, sem segregar (BARA- da Inclusão na Universidade:
NAUSKAS, 2008b). formação e compromisso e a
A sociedade inclusiva a presente proposta metodo-
que almejamos é aberta às lógica também são frutos de
diferenças. O Projeto Todos ações e da relevância desse
Nós UNICAMP Acessível tem Projeto.
sido uma fonte de inspira- Com o objetivo de reunir
ção e tem nos ajudado a en- a produção científica resul-
14
tante do Projeto Todos Nós “oficinas participativas”. Tais
Capítulo I
em um curso de extensão ambientes físicos ou virtu-
universitária que contribua ais devem ser includentes,
para tornar as Universidades possibilitando o acesso aos
cada vez mais inclusivas, a materiais e à dinâmica do
metodologia proposta neste processo de ensino e apren-
15
um bom esquema constru- ferramentas, tais como: e-
tivista no processo de ensino mail, chat, fóruns, etc. Mas
e aprendizagem, usando-se essas ferramentas não dão
problemas “do mundo real” conta de todo o potencial de
como ponto de partida para a PBL, já que elas foram proje-
aquisição e integração dos tadas para outros fins como
novos conhecimentos. Esse discussão casual, por exem-
tipo de abordagem de ensino plo. É aí, então, que CSCL faz
e aprendizagem tem tradi- seu aporte conceitual, suge-
ção no domínio da medici- rindo meios apropriados de
na, que a utiliza na solução diálogo e comunicação, sis-
de casos clínicos median- temas de apoio a decisões,
te interação face a face. sistemas de gerenciamento
Mais recentemente, a abor- e supervisão do processo
dagem orientada a proble- ACBP é um modelo que
mas tem sido adaptada a articula características de
diferentes áreas do conhe- operação e de desenvolvi-
cimento e aplicada em dife- mento propostas pelos mo-
rentes variações com relação delos PBL e CSCL, utilizando
à proposta original, incluin- artefatos específicos para
do o uso de tecnologia. PBL análise e clarificação de pro-
promove atividades para tra- blemas.
balho em grupo que visam a
desenvolver nos estudantes O Problema e a Cebola
habilidades metacognitivas Semiótica
no domínio do problema.
Em anos recentes, a tec- Em nosso entendimento,
nologia da computação as- conhecer um problema en-
sumiu o papel de suporte na volve saber situá-lo no nú-
mediação de atividades em cleo de uma estrutura de
PBL, permitindo acesso aos camadas de significados, a
recursos necessários para qual chamamos de “cebola
resolver o problema e faci- semiótica”. Essas camadas
litando a comunicação entre constituem níveis informais,
os membros do grupo com formais e técnicos do grupo
16
social com relação ao proble- Nessa proposta metodológi-
Capítulo I
ma em questão. Nos níveis ca, usaremos apenas os dois
mais externos (informais), primeiros artefatos, que des-
intenções e significados são crevemos brevemente a se-
determinados, crenças são guir.
formadas e compromissos
17
A análise de Partes Inte- ção, ou fazem uso des-
ressadas ajuda o grupo de ses dados.
participantes a entender a
situação real do problema e • Parceiros e Concorrentes
os requisitos para as solu- - fazem parte do merca-
ções pretendidas, por meio do relacionado ao proble-
de discussão e levantamento ma.
das partes que, direta ou in-
diretamente, influenciam ou • Espectador e Legislador
sofrem a influência do pro- - representantes da co-
blema e/ou da sua solução. munidade que influen-
ciam e são influenciados
A Figura 1a ilustra o Diagra-
pelo problema em deter-
ma de Partes Interessadas,
minado contexto social.
antes de seu preenchimento
pelo grupo. O artefato dis-
Quadro de Avaliação:
tribui as partes interessadas Levantando Questões e
em diferentes categorias, Idéias de Soluções
que representam diferen-
tes “forças de informação” O Quadro de Avaliação
em relação ao problema sob [ref ihci2005] é um artefato
análise. Utilizamos as se- que possibilita a articulação
guintes categorias: do problema em estágios ini-
ciais de busca por soluções,
• Atores e Responsáveis – apoiando-se no compartilha-
contribuem diretamente mento de significados entre
para o problema ou para os participantes.
a sua solução e/ou são Além disso, informa so-
afetados diretamente por bre questões específicas das
ele. partes interessadas no pro-
blema e sobre idéias ou solu-
• Clientes e Fornecedores – ções vislumbradas, que terão
fornecem dados e/ou são potencial impacto no dese-
fonte de informações ao nho da solução do proble-
problema ou a sua solu- ma. A Figura 1b ilustra um
18
Capítulo I
Atores da Inclusão na Universidade
Figura 1. Artefatos do Método de Articulação de Problemas: (a) Diagrama
de Partes Interessadas, (b) Quadro de Avaliação
19
Figura 2. Diagrama de Partes Interessadas e Quadro de Avaliação
preenchidos em Oficinas Participativas
20
Capítulo I
Atores da Inclusão na Universidade
Figura 3(a). Um ambiente de Figura 3(b). Um quadro adapta-
oficina participativa do com relevo
21
Figura 4. Representação do modelo ACBP
22
lise de informação), e uma modelo. As ferramentas que
Capítulo I
atividade de documentação não estavam disponíveis no
da solução, que é executada ambiente Sakai foram de-
pelo grupo no momento de senvolvidas e agrupadas em
liberar sua proposta. 4 módulos:
23
tas pelos estudantes para compêndio de ferramentas,
desenvolver a solução; mas, sim, identificar aque-
las que possam ajudar no
• Módulo Reuniões: le- desenvolvimento do proces-
vando-se em conta que o so de ensino baseado na re-
chat fornecido pelo Sakai solução de problema, sem
só funciona em turma e sobrecarregar ou saturar o
não permite personaliza- conjunto de funcionalidades
ção, há a necessidade de requeridas pelos usuários do
se criar dois componen- ambiente.
tes como esquemas de Basicamente, cada mó-
comunicação personali- dulo tem uma interface de
zados de acordo com o usuário composta por três
modelo ACBP, tentando regiões (Figura 6): uma re-
articular algumas carac- gião principal, onde são dis-
terísticas que permitam ponibilizadas as ferramentas,
restringir e canalizar cada permitindo mudança entre
participação. ferramentas por meio da na-
vegação por abas; uma re-
Durante a instanciação gião auxiliar na parte direita,
do modelo ACBP no ambien- que permite disponibilizar a
te Sakai, também foram de- área de informação e a área
senvolvidas ferramentas de chat e, por último, uma
adicionais que não estão região auxiliar na parte infe-
classificadas em nenhuma rior, que disponibiliza a área
das categorias anteriores, para construção da interpre-
mas fazem parte das fun- tação do problema. Os es-
cionalidades do modelo e paços auxiliares podem ser
estão disponíveis nos módu- ocultados segundo a neces-
los PAM e Documentos. Além sidade ou interesse do usu-
disso, Sakai conta com ou- ário.
tras ferramentas para apoiar O ambiente ACBP-Sakai
diferentes atividades colabo- permite criar e estruturar
rativas. O objetivo do mo- cada disciplina como um pro-
delo ACBP não é gerar um blema só ou como um con-
24
Capítulo I
Atores da Inclusão na Universidade
Figura 6. Interface de usuário do ambiente ACBP-Sakai
25
comportamento das pessoas Torná-las espaços de todos e
diante das diferenças, intro- para todos é uma conquista
duzem novos conhecimen- diária que exige atores bem
tos, mobilizam o contexto formados, como é a nossa
em que são desenvolvidas e pretensão nessa formação.
exigem trabalhos colabora-
tivos, que expandam as no-
vidades criadas, para que
todos possam usufruir de
uma vida de melhor quali-
dade e ter participação au-
tônoma na comunidade.
O curso que estamos ofe-
recendo reúne contribuições
retiradas de nossos estu-
dos sobre a acessibilidade
na Universidade Estadual de
Campinas, em São Paulo.
Disponibilizamos em suas
disciplinas produções cien-
tíficas e tecnológicas desen-
volvidas pelo projeto TODOS
NÓS- UNICAMP Acessível, fi-
nanciado pela CAPES e pela
Secretaria de Educação Es-
pecial - SEESP/MEC. Quere-
mos compartilhar com vocês
essa produção e tornar nos-
sas universidades abertas a
todos, incondicionalmente.
A acessibilidade em todos
os seus aspectos é um dever
nosso de professores, pes-
quisadores e dos alunos e
funcionários que compõem
as universidades brasileiras.
26
Referências
Capítulo I
BARANAUSKAS, M.C.C. Cultura e interatividade na sociedade
tecnológica pós-moderna: e-Cidadania. In: FÓRUM PERMA-
NENTE DE CONHECIMENTO & TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO,
Campinas, UNICAMP, 2008 (comunicação oral).
27
MELO-SOLARTE, D; BARANAUSKAS, M.C.C. Uma abordagem
para EaD baseada em resolução de problemas. In: SIMPÓ-
SIO BRASILEIRO DE INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO, SBIE 19.,
2008, Fortaleza. Anais... Fortaleza: UFC, 2008b. p.716-725.
28
Capítulo II
Diferenças, identidades e inclusão
30
principia a ser quando cresce? É dá para entender. Não vou
Capítulo II
terrível, ser? Dói? É bom? É triste? ser. Não quero ser. Vou cres-
Ser: pronunciado tão depressa, e cer assim mesmo. Sem ser.
cabe tantas coisas? Repito: ser, Esquecer” (ANDRADE, 1988,
ser, ser. Er. R. Que vou ser quando p. 573).
crescer? Sou obrigado a? Posso
31
to do sujeito em função de nhece Andrew, porém, ao
determinadas marcas. saber que ele tem Aids, afas-
No filme Filadélfia (1993), ta-se ostensivamente. Ele
com Tom Hanks e Denzel Wa- crê que o aperto de mão irá
shington, Andrew Beckett, contaminá-lo e que os ob-
demitido de uma grande jetos tocados pelo colega
firma por ter Aids, procu- ficariam maculados pela do-
ra Joe Miller, com quem já ença.
havia trabalhado antes, para Estamos diante de um
pedir que aceite defendê-lo. caso de pré-conceito, que se
Enquanto apertam as inicia com a falta de informa-
mãos, Joe pergunta a An- ção e com a conseqüente re-
drew: “O que houve com seu dução do outro como alguém
rosto?” Andrew responde: a temer. Joe desconhece as
“Eu tenho Aids”. Imediata- formas de transmissão da
mente, Joe retira sua mão doença e, simplesmente,
e recua vários passos. Há afasta-se com medo de ser
um mal-estar no ambiente, contagiado. À sua frente não
quando Joe olha para sua está um ser humano ou uma
própria mão, preocupado, pessoa que ele conhecera no
deixando claro seu descon- passado; à sua frente está a
forto com a presença do co- Aids, personalizada na figu-
lega em seu escritório. Ele ra de Andrew.
olha para tudo que Andrew Em outra cena, Andrew
toca, enquanto está expondo estuda sozinho em uma bi-
seu caso, como se Andrew blioteca pública. Um funcio-
estivesse contaminando toda nário lhe traz um livro que
sala. Visivelmente incomo- fora solicitado. Parado a seu
dado, Joe pergunta: “Quan- lado, visivelmente incomo-
tos advogados você procurou dado com a presença de An-
antes de mim?” Andrew res- drew, oferece o uso de uma
ponde: “Nove”. sala privativa. Andrew recu-
Essa cena mostra o que sa. O bibliotecário insiste,
chamamos de fixação da dizendo que ele se senti-
identidade. Joe Miller reco- ria mais confortável naque-
32
la sala. O mal-estar é claro papel de Jean Cabot, que se
Capítulo II
quando outras pessoas na sente ameaçada pela pre-
mesa se entreolham e olham sença de um chaveiro que
para Andrew com preocu- está consertando a porta da
pação. Ele olha em volta e sua casa. Para ela, as mar-
pergunta se o bibliotecário cas no corpo desse homem
33
o mundo em que vive. são. Vivemos o não-normal
A tendência do olhar da almejando à estabilidade.
sociedade sobre os loucos é Citando Estamira: “esper-
aprisioná-los em uma ima- to ao contrário!” Seu incon-
gem social negativa e ex- formismo nos derruba, seus
cluí-los do convívio com os questionamentos pertinen-
demais. A loucura é situada tes nos aterrorizam. Vaga
em oposição à razão. Essa num mundo que a estranha.
razão é tão valorizada entre Ao mesmo tempo, estra-
nós que chegamos a estabe- nha esse mundo de flagelos.
lecê-la como definidora da Apresenta-nos uma lucidez
condição humana. Os lou- peculiar que nos incomoda.
cos parecem, nessa pers- É lúcida de sua loucura. Uma
pectiva, não partilhar dessa insanidade provocativa.
condição. Estamos em transito-
Estamira entra em cena riedade. Ziguezagueamos
para polemizar esse olhar. por simultâneas situações.
A loucura pode ser vista de Estamira nos mostra essa
outras maneiras? Será que imanente possibilidade. A
não chamamos de loucura contínua mobilidade entre
tudo aquilo que apenas nos estar em situação de capa-
deixa desconfortáveis, que cidade e incapacidade, de
nos produz estranhamento saúde e doença, de fragilida-
ou que não conseguimos en- de e força. Situações que po-
caixar em nosso saber? Ou, demos viver em justaposição
quando é que a loucura co- e não em oposição. Ilusões
meça, surgindo de dentro da de ordem que se desfazem
lucidez? no caos. A loucura profética
Construímos antagonis- de Estamira expõe nossa er-
mos: loucura-sanidade, norma- rância em busca de nós mes-
lidade-deficiência. Estamira, mos:
não. Aspiramos à normalida- Entre mim e mim, há vastidões
de e à sanidade e somos in- bastantes. Para a navegação
terpelados por situações que dos meus desejos afligidos.
nos afastam dessa preten- Descem pela água minhas
34
naves revestidas de espelhos. ainda não foram terminadas –
Capítulo II
Cada lâmina arrisca um olhar, mas que elas vão sempre mu-
e investiga o elemento que a dando. Afinam ou desafinam.
atinge. Verdade maior.
Mas, nesta aventura do
sonho exposto à correnteza, O senhor já sabe: viver é etcé-
35
Vivemos em uma época que assumimos.
em que alguns grupos, cada No documentário Jane-
vez mais, se auto-celebram la da Alma (2001), dedicado
como possuidores de iden- ao ato de ver ou não ver o
tidades “naturais”, “origi- mundo - em sentido literal e
nais” ou mesmo “puras”. Ao figurado - e como os proble-
mesmo tempo, alguns pen- mas relativos à visão inter-
sadores, como Stuart Hall ferem na vida de cada um,
(1997), nos advertem da a cineasta Marjut Rimminem
crise por que passam as ve- fala sobre o efeito do olhar
lhas identidades duradouras, deprimido e penalizado de
que mantinham o mundo so- sua mãe sobre ela, em re-
cial estável. ação ao seu forte estrabis-
Em um mundo de mu- mo.
danças aceleradas, as tra- Nossa identidade se
dições se enfraqueceram e forma na interação com os
uma grande variedade de outros e o olhar que nos ofe-
pontos de vista se encontra recem determina muito de
disponível, atingindo-nos nossa experiência no mundo.
através dos meios de comu- “Porque a vida é mutirão de
nicação. Com isso, multipli- todos, por todos remexida e
caram-se as possibilidades temperada”, filosofa Riobal-
de constituição das identi- do (ROSA, 2006, p. 461).
dades, que podem mudar Mesmo com uma defici-
ao longo da vida de cada um ência que não lhe impunha
de nós ou assumir diferentes dificuldades muito profun-
formas, dependendo do am- das na relação com o am-
biente em que nos encon- biente físico, Marjut sentiu o
tramos. Assim, Hall (1997) peso que vem recaindo sobre
aponta que a contempora- as pessoas com deficiência,
neidade se caracteriza pelas desvalorizadas por um moti-
diferenças, já que as identi- vo ou por outro: porque fu-
dades são transitórias, aber- giam do ideal de harmonia,
tas e estão sempre mudando beleza e equilíbrio cultivado
a partir dos papéis sociais pelos antigos gregos e ro-
36
manos; porque carregavam hoje, nossa cultura está im-
Capítulo II
algum castigo ou maldição pregnada desse tipo de olhar
segundo a visão de judeus e sobre as pessoas com defici-
cristãos medievais; porque ência.
passaram a ser vistas como Mas, felizmente, nunca
menos capazes e eficientes, estamos terminados. A
37
péis no teatro da escola: Como ela, as pessoas
com deficiência também
O fato de ser cineasta e de mudaram a sua história,
fazer cinema de animação me rejeitando a identidade de
permite desempenhar todos os pessoas “quebradas”, que
papéis. Eu manipulo os bone- não funcionam a menos que
cos, desenho as personagens. possam ser “consertadas”.
Assim desempenho o papel de Fortalecidas pelos movimen-
todas as personagens, o que tos pelos direitos civis dos
me agrada muito! Finalmente, anos 60, elas rejeitaram a
consegui o papel da princesa visão médica, que as redu-
ao qual sempre aspirei na es- zia à condição de pessoas a
cola. [...] O paradoxo em tudo serem assistidas, tuteladas
isso é que, logo depois da úl- e defenderam a sua capaci-
tima operação, que foi bem- dade de plena participação
sucedida, ninguém notou a social.
diferença. Ninguém me disse: Os diversos grupos que
“O que houve com seu olho? então lutavam por integração
Que maravilha!”. Ninguém social, recusavam alternati-
notou. Então, de que adian- vas de inserção que desvalo-
tou todo esse trauma? Foi uma rizassem suas características
lesão interna. físicas, cor de pele, orienta-
ção sexual, possibilidades
O fato de que ninguém intelectuais, produções cul-
notara a mudança, após o turais e contribuições para
“conserto” do estrabismo de a construção de sua nação.
Marjut, pode ser uma evi- Cada grupo queria ver reco-
dência de seu sucesso em nhecidas as suas experiên-
transformar as cinzas em cias particulares.
jóia, pois já era uma prince- Na mesma época, Edward
sa em sua profissão. Já havia V. Roberts (1939-1995), te-
se livrado do nome “estrá- traplégico desde os quatorze
bica” e substituído por algo anos, foi admitido no cam-
como “cineasta/animadora pus de Berkeley, da Univer-
competente e premiada”. sidade da Califórnia, onde
38
ficou hospedado no hospital. ências e concepções da co-
Capítulo II
Lá, tinha que dormir den- munidade que inclui, pois
tro de uma máquina que lhe nada conhece da experiên-
permitia respirar à noite e, cia do outro que chega e di-
durante o dia, necessitava fere dos que já participam do
de um aparelho portátil para lugar que o recebe.
39
sente. Sem maquiagens ou undergrounds, os megastars
releituras, dispensou convi- Os Rolling Stones e o rei.
tes e está sentada à nossa Ninguém faz idéia de quem
mesa. É nossa cunhada, um vem lá...
primo, nossa tia ou aquele Ciganas e neo-nazistas /
vizinho. A diferença está em O bruxo, o mago, o pajé
nós. Nós também somos di- Os escritores de science fiction
ferentes para alguém. / Quem diz e quem nega o que é
De certa maneira, ser di- Os que fazem greve de fome /
ferente é ser também intra- Bandidos, cientistas do espaço
Prêmios Nobel da paz /
duzível para os outros e aqui
O Dalai Lama, o Mr. Bean
mora um grande problema.
Burros, intelectuais. Pensei:
Em geral, gostamos de ex-
Ninguém faz idéia de quem
plicações e soluções. Dúvi-
vem lá...
das e impossibilidades são
Os líderes de última hora
angustiantes. Não sabemos
/ Os que são a bola da vez
o que fazer com delas.
Os encanados, os divertidos
Estamos diante de um
/ Os tais que traficam bebês
problema dos nossos tem- O que bebe e passa da con-
pos: o convívio com os ou- ta / Os do cyberespaço
tros e o encontro com as A capa do mês da Playboy /
diferenças; a surpresa que O novo membro da Academia
os outros podem provocar. A O mito que se auto-destrói.
composição de Lenine e Ivan Eu sei:
Santos (2004) Ninguém faz Ninguém faz idéia de quem
idéia nos permite levantar vem lá...
esse panorama: Os duros, os desclassificados /
A vanguarda e quem fica pra trás
Malucos e donas de casa Os dorme-sujo, os emergen-
/ Vocês aí na porta do bar tes / Os espiões industriais
Os cães sem dono, os boia- Os que catam restos de fei-
deiros / As putas, babalorixás ra / Milicos, piratas da rede
Os gênios, os caminhonei- Crianças excepcionais /
ros / Os sem terra e sem teto Os exilados, os executivos
Atores, maestros, DJs / Os Os clones, os originais / É a lei:
40
ninguém faz idéia de quem que aqueles que julgamos
Capítulo II
vem lá... ser parecidos conosco. Me-
Os anjos, os exterminado- ramente suportamos essas
res / Os velhos jogando bilhar presenças, desde que não
O Vaticano, a CIA / O invadam nosso espaço pri-
boy que controla o radar vado. Andamos indiferen-
41
participantes habituais. Por gunços, aqueles que estão
isso, a inclusão aponta para fora do padrão, da norma,
a possibilidade de criação de do estabelecido. Jagunços
arenas abertas ao confronto podem ser violentos. À sua
entre diferentes sujeitos. Ela aproximação, as pessoas da
está relacionada ao surgi- terra tendem a se recolher
mento de novos espaços de e travar suas portas e jane-
convívio, reais e virtuais, nos las. Na vida, os de fora nem
quais novas relações emer- sempre são bem vistos, por-
gem das colisões estabeleci- que trazem insegurança, de-
das entre as diferenças. sequilibram o cotidiano do
lugar.
Sertão é onde manda quem é
Quando falamos em in-
forte, com as astúcias. Deus
clusão na universidade, que-
remos dar morada aos que
mesmo, quando vier, que
antes não tinham nela gua-
venha armado!
rida. Mas isso não acontece,
de verdade, do dia para a
O sertão está em toda a
noite, só porque há progra-
parte.
mas de ações afirmativas ou
vestibular adaptado. A inclu-
O que me dava a qual inquie-
são esbarra principalmente
tação, que era de ver: co- nas pessoas, como nos ensi-
nheci que fazendeiro-mór é nou uma aluna da UNICAMP,
sujeito da terra definitivo, mas com graves problemas de
que jagunço não passa de ser mobilidade:
homem muito provisório.
(ROSA, 2006) A barreira não vem do espa-
ço físico. A barreira não exis-
No sertão, jagunço é te. O que conta é a maneira
fora-da-lei, não pertence como as pessoas lidam com
a nenhum lugar, ainda que as coisas. As barreiras depen-
acoitado e a serviço de um dem de as pessoas estarem
senhor da terra. Nos sertões mobilizadas para elas existi-
da vida, cada comunidade rem ou não.
ou instituição tem seus ja- (ALCOBA, 2008, p. 171).
42
Entretanto, temos todo No sertão da vida, man-
Capítulo II
um estilo de vida para des- dam os estabelecidos, os
construir, mesmo no am- “senhores” do lugar. Segun-
biente universitário, como do Norbert Elias (2000), os
revelou essa aluna, que es- estabelecidos são aqueles
perava “encontrar pessoas que, por estarem há mais
43
liza os defeitos que porven- (1978) explica que a socie-
tura tenham sido observados dade desenvolve meios de
naquele grupo, em deter- categorizar as pessoas, defi-
minado momento. Lançam nindo os atributos considera-
um estigma sobre os recém- dos comuns e naturais para
chegados, os de fora, os di- os membros que pertencem
ferentes. a cada categoria, o que tam-
É o que aconteceu em bém determina aqueles que
nossa cultura, por exemplo, lhe são estranhos. Cada am-
com a população negra, à biente social estabelece as ca-
qual se atribuiu uma série tegorias de pessoas possíveis
de defeitos e incapacidades de serem nele encontradas.
para mantê-la em situação Essas pré-concepções são
de subordinação e dificultar transformadas em exigências,
seu acesso aos bens sociais, em expectativas normativas.
como postos de trabalho e Assim, na universidade, as
educação qualificada. pessoas também têm uma
Quando um grupo so- expectativa do tipo de aluno
cial afirma a sua identidade, que vão encontrar.
marca também a sua dife- Podemos perceber isso
rença em relação a outras claramente na crônica Do
identidades, criando frontei- pano roxo ao blue jeans e
ras simbólicas entre quem camiseta branca, de Carrico
pertence e quem não perten- (2008), que se baseia em in-
ce ao grupo. Nesse processo cidentes comuns no ambien-
de definição das identida- te universitário:
des e diferenças, lembra
Veiga-Neto (2003), aquele Às vezes, Marina tem vontade
que reparte fica com a me- de desistir do curso de Dança
lhor parte, já que atribui va- e prestar vestibular para Me-
lores diferentes ao grupo dicina ou qualquer outro curso
com o qual se identifica e ao em que a sua cor seja moti-
dos outros. vo de maior estranhamento.
Em um ensaio sobre o Irrita-se quando associam o
estigma, Erving Goffman fato de ser negra com o de ser
44
ótima bailarina. na sua frente. Enquanto corta-
Capítulo II
Marina é irreverente. Gosta de va a carne, brincava, consigo
usar roupas excêntricas, um mesma, de adivinhar o curso
pano roxo amarrado na cabe- que a mocinha fazia: Medici-
ça, como também as mais bá- na ou Engenharia da Compu-
sicas calças e camisetas. Muda tação? Civil?
45
restaurante. Depois de ser- E ainda cursava UNICAMP - um
vir-se de café, Raquel pergun- dos vestibulares mais concor-
tou à Marina onde trabalhava ridos do país. Alguns acredita-
e ela não respondeu. Silêncio. vam. (...) Outros se calavam,
Marina olhou-a com desdém, talvez duvidando. Houve, en-
virou-se soberana sem dizer tretanto, quem me destratou
adeus, caminhou lentamente mais ao saber quem eu era.
na direção oposta. Viu seu ím- (SILVA, 2006, p.139).
peto heróico escorrer, sua ou-
sadia esvair-se [s.p.]. Quando há uma discre-
pância entre a identidade que
Frente a uma pessoa que é atribuída a uma pessoa e a
ainda não conhecemos, po- que ela prova possuir, porque
demos nos basear em uma carrega um traço que a dife-
série de aspectos e sinais rencia dos outros da mesma
que funcionam como pistas categoria em que se encai-
para prever a categoria a que xou, esse aspecto pode ser
pertence. Uma aluna negra e julgado indesejável e a pes-
pobre relatou diversas situ- soa deixa de ser considerada
ações, dentro e fora da uni- como um ser comum, nor-
versidade, em que ela se deu mal, total. Tal característica,
conta de que contrariava a segundo Goffman (1978),
expectativa do que seria uma é um estigma, uma marca
estudante de Medicina da depreciativa, e impõe-se à
UNICAMP, por causa de sua atenção de tal forma, que
origem e de sua cor de pele. acaba desviando a possibili-
De um encontro de estudan- dade de se prestar atenção
tes de Medicina, ela conta: a outros atributos do indiví-
duo que o apresenta.
Vários alunos, de várias fa- Uma aluna da pós-gradu-
culdades ao longo do país, ação da UNICAMP nos relatou
pensaram que eu fosse uma como o convívio com colegas
das faxineiras do prédio. (...) e professores, bem como sua
Quase caíam de susto ao saber postura pessoal resultaram
que eu era aluna de Medicina. na remoção do estigma que
46
lhe era inicialmente atribuído: O outro traz um mundo
Capítulo II
de possibilidades e de po-
Porque assim, os professo- sicionamentos imprevisí-
res foram tomando consciên- veis, que são saudáveis em
cia de que, enfim, eu era uma um convívio. A diferença
aluna. A minha deficiência vi- é sempre uma incógnita,
47
Uma universidade não está acoplado nas dobras
se torna inclusiva simples- das intenções das nossas re-
mente porque cria possibi- lações com as diferenças:
lidades de acesso a grupos um interminável e fascinan-
que estavam excluídos do te desafio!
ambiente de Ensino Supe-
rior. A inclusão na educação
não envolve, apenas, a que-
bra de barreiras objetivas de
acesso e de permanência na
instituição. Incluir significa
refletir sobre condições sub-
jetivas de convívio e sobre a
forma como nós nos perce-
bemos nas relações com as
diferenças.
Ficar onde estamos, pa-
ralisados pelo medo, talvez
seja mais fácil do que atra-
vessar a ponte, para ver o
outro lado e perceber que
é nos passos dessa traves-
sia que se processam o co-
nhecimento, o cotidiano, o
vivido, a dúvida e a possibi-
lidade de infinitas chegadas.
Para construirmos uma uni-
versidade inclusiva, precisa-
mos afrouxar as fronteiras
que nos separam e construir
limites permeáveis, que nos
ofereçam possibilidades de
movimento, de questiona-
mento e de transformação. É
necessário olhar para o que
48
Referências
Capítulo II
ALCOBA, S.A.C. Estranhos no ninho: a inclusão de alunos
com deficiência na UNICAMP. Tese (Doutorado em Educação)
- Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas,
Campinas, SP, 2008.
49
FILADÉLFIA. Direção: Jonathan Demme. Los Angeles:
Columbia TriStar Pictures, 1993. 1 DVD (125 min.), son., color.
50
Capítulo III
Biblioteca acessível
52
Capítulo III
nas de trabalho; os acervos pressa, inerente ao avanço
digitalizados e a transmissão tecnológico, e os tímidos
eletrônica de documentos avanços sociais. Essa é uma
passam a integrar as unida- imperdoável lacuna que ne-
des de informação do sécu- cessita ser preenchida por
lo XXI, transformando tanto pessoas que acreditam na
53
mente uma tão vasta – não é de prateleiras, sustentando
um mero repositório de curio- mais de 14 milhões de vo-
sidades. É um mundo a um lumes. Diz também que do
só tempo completo e incom- final do século XIX até 1990,
pletável, cheio de segredos. as coleções tornaram-se de
Ela está submetida a um regi- cem até mil vezes maiores.
me de mudanças e ciclos que Com relação às bibliotecas
contrastam com a permanên- gerais, destaca:
cia inusitada por suas longas
fileiras ordenadas de livros. A Biblioteca do Congresso,
Arrastados pelo desejo dos lei-
maior biblioteca universal do
tores, os livros vão entrando
mundo, todos os dias acres-
e saindo das bibliotecas, num
centa sete mil livros aos mais
movimento semelhante ao das
de cem milhões já dispostos
marés. As pessoas encarrega-
em seus 850 quilômetros de
das de retirar e repor os livros
prateleiras. Acrescente-se a
nas estantes de Widemer cos-
isso toda a papelada efêmera
tumam referir-se à respiração
produzida por nossos proces-
da biblioteca – no começo de
sadores de texto, máquinas
cada ano letivo, as estantes
de fax e fotocopiadoras, mais
expelem os livros como fortes
as 800 milhões de páginas da
golfadas de ar para fora, inspi-
rando-os novamente no final Web, e ficará bem claro que
do período, trazendo-os de estamos literalmente inunda-
volta. A biblioteca é como um dos. (BATTLES, 2003, p.14-
corpo, as páginas dos livros 15)
são os órgãos espremidos uns
contra os outros na escuridão. Numa retrospectiva histó-
(BATTLES, 2003, p.12) rica, Battles (2003) informa
que as primeiras bibliotecas
Battles (2003, p.10) in- na Mesopotâmia remontam
forma que a Biblioteca Wi- ao terceiro milênio antes de
dener, em Harvard, é a Cristo e eram compostas de
maior biblioteca acadêmica livros gravados em argila,
do mundo, com dez andares com elevado nível de organi-
e mais de 90 quilômetros zação. Essas bibliotecas che-
54
Capítulo III
garam ao apogeu durante o No século XLVIII a.C., as
reinado de Assurbanipal II, bibliotecas já contavam 300
que governou a Assíria du- anos. De uma só vez, 40 mil
rante o século VII a.C. Em livros foram destruidos du-
331 a.C., Alexandre, o Gran- rante a guerra de Cleópa-
de construiu na costa medi- tra contra os ptolomeus, em
55
blioteca sombria?” (BAT- passou por um dramático pro-
TLES, 2003, p.23). Muitos cesso de expansão durante o
livros foram queimados du- século XII, exemplifica bem
rante a Inquisição, quando a mudança que as universida-
os cristãos introduziram, em des trouxeram para o universo
Roma, os códices – livros en- das bibliotecas européias. [...]
cadernados em páginas de De fato, em meados do século
papiro ou pergaminho, que XIII, os livros da faculdade não
substituíram os rolos e cujas estavam nem mesmo reunidos
cópias eram feitas por mon- numa biblioteca. Ficavam dis-
tribuídos entre os professo-
ges. As bibliotecas públicas
res que os utilizavam em suas
renasceram em Florença, em
atividades de ensino. Era só
1444, com a Biblioteca de
quando um professor viajava,
São Marcos. O humanismo
que os livros usados por ele fi-
renascentista revolucionou
cavam armazenados em arcas
as políticas de leitura pela
acessíveis a todos. Nas últimas
oferta de novos tipos de li-
décadas do século, porém, pe-
vros com a redescoberta dos
quenas e grandes heranças,
títulos da Antiguidade, em- de 4 até 300 volumes, quase
bora a maioria dessas obras dobraram o número dos li-
fosse de cunho religioso. vros disponíveis na faculdade.
Conforme Battles (2003, Por volta de 1290, a bibliote-
p.82), um dos modelos de ca contava 1.017 livros. Essa
biblioteca ficou a cargo das quase duplicação do acervo
universidades, “[...] que os exigiu que ele fosse organi-
estudiosos freqüentemente zado. Em 1290, foi elaborado
tentaram ampliar e sistema- o primeiro catálogo geral da
tizar ao longo dos séculos Sourbonne. (BATTLES, 2003,
XIII e XIV” p.80-81)
56
Capítulo III
talha de ideologias opos- dos primeiros fundadores da
tas” (BATTLES, 2003, p.86). American Library Association
Assim nasceu a biblioteca de - ALA. O sistema de classi-
Harvard (1635). Outras aca- ficação de Dewey é ampla-
demias possuíam coleções mente utilizado até hoje.
semelhantes, com sermões Segundo Battles (2003,
57
Houve um tempo em que as fi- tecas Públicas, preparado
chas dos velhos catálogos ma- em cooperação com a Fe-
nuais exibiam os padrões de deração Internacional das
utilização do acervo ao longo Associações de Bibliotecá-
do tempo. As fichas mais con- rios - IFLA e aprovado pela
sultadas iam criando orelhas UNESCO em Novembro de
pelo constante manuseio, en- 1994, considerando a liber-
quanto as outras, protegidas dade, a prosperidade e o de-
pelas vizinhas, permaneciam senvolvimento da sociedade
sempre novas. É claro que ca- e dos indivíduos como valo-
tálogos de fichas são coisas
res humanos fundamentais,
do passado. Hoje em dia, os
afirma que tais objetivos
catálogos on-line registram
serão atingidos quando os
os visitantes à maneira ocul-
cidadãos estiverem na posse
ta das grandes redes digitais.
da informação que lhes per-
Esses sistemas não se limitam
mita exercer os seus direitos
a registrar o empréstimo de
democráticos e ter um papel
livros. O computador é capaz
ativo na sociedade. Portanto,
de rastrear o número de vezes
que cada registro foi consul-
“a participação construtiva
tado, produzindo um relatório
e o desenvolvimento da de-
das pesquisas feitas nas diver-
mocracia dependem tanto de
sas estações de trabalho de uma educação satisfatória,
toda a rede. como de um acesso livre e
sem limites ao conhecimen-
3. Legislação e Bibliote- to, ao pensamento, à cultura
cas Acessíveis e à informação.”
A Declaração da UNESCO
Desde 1949, o Manifes- preconiza ainda a liberdade
to da UNESCO proclama a de acesso de todas as pes-
biblioteca como uma força soas, independentemente
viva a serviço do ensino, da de quaisquer condições de
cultura e da informação, ins- idade, sexo, religião:
trumento indispensável ao
fomento da paz. A biblioteca pública é o centro
O Manifesto das Biblio- local de informação, tornando
58
Capítulo III
prontamente acessíveis aos acessíveis a mais ampla va-
seus utilizadores o conheci- riedade de materiais que
mento e a informação de todos reflitam a pluralidade e a di-
os gêneros. Os serviços da versidade da sociedade.”
biblioteca pública devem ser Em 16 de Dezembro de
oferecidos com base na igual- 2006, a Assembléia Geral
59
aumentativos e alternativos 4. Bibliotecas para todos:
de comunicação, inclusive a algumas iniciativas
tecnologia da informação e co-
municação. 4.1. Canadian Guidelines
on Library and Informa-
Adotada pela Organi- tion Services for people
zação das Nações Unidas with disabilities
(ONU), em Dezembro de
2006, e assinada pelo Bra- Pupo (2008, p.19) desta-
sil (e mais 196 países) em ca uma iniciativa, no Canadá,
março de 2007, a Conven- em 1993, sobre a realização
ção entrou em vigor em 3 de de um fórum de discussões
maio de 2008, um mês após (Canadian Library Associa-
ter sido ratificada pelo Equa- tion Conference), promo-
dor, vigésimo país a fazê-lo. vido pela Associação de
Os Estados Partes deverão Bibliotecários Canadenses
assegurar que as pesso- e que resultou na elabora-
as com deficiência tenham ção do “Canadian Guidelines
acesso à educação comum on Library and Information
nas modalidades de: ensino Services for People with Di-
superior, treinamento profis- sabilities”. Após quatro anos
sional, educação de jovens e de estudos, dedicados espe-
adultos e aprendizado conti- cialmente às pessoas com
nuado, sem discriminação e deficiência, vários grupos de
em igualdade de condições trabalho elaboraram um guia
com as demais pessoas. Para voltado à implementação e
tanto, os Estados Partes de- à mensuração de serviços
verão assegurar a provisão especializados. Em 1994, a
de adaptações razoáveis força-tarefa identificou onze
para pessoas com deficiên- áreas essenciais a serem in-
cia, para que elas possam cluídas no guia. Definiu-se
ter acesso aos mais diversos um grupo de bibliotecários
eventos culturais, a teatros, para trabalhar em sua ela-
museus, cinemas, bibliote- boração, e, após extensi-
cas, serviços turísticos, etc. vas consultas aos grupos de
60
Capítulo III
interesse em deficiência, o Social e Esportes e Fundação
guia foi distribuído em 1996 ONCE, da Espanha. O do-
com o objetivo de ser utiliza- cumento enfatiza o caráter
do por todas as bibliotecas democrático e coletivo das
canadenses que pretendam bibliotecas, que podem ofe-
ser acessíveis e inclusivas. recer a todas as pessoas a
61
lação com o Usuário; Boas gura que ofereçam conteú-
Práticas. As fontes de infor- dos ricos e diversificados na
mação trazem referências e Europa. O portal da DLI traz
diversos endereços eletrôni- uma constatação de Viviane
cos pertinentes ao assunto Reding, representante res-
na Comunidade Européia. ponsável pela Sociedade da
Informação e Mídia:
4.3. Digital Libraries Ini-
tiative – DLI – União Eu- For many years, experts have
ropéia been talking about digital con-
vergence of communication
A iniciativa de Bibliotecas networks, media content and
Digitais na União Européia é devices. Today, we see digi-
também conhecida pela sigla tal convergence actually hap-
i2010: Information Space,
pening. Voice over IP, Web TV,
Innovation & Investment in
on-line music, movies on mo-
R & D, Inclusion.
bile telephones – all this is now
A Comissão adotou em
reality. To enhance investment
2005 a iniciativa “i2010: So-
in this promising sector of the
ciedade da Informação Eu-
economy, we must provide a
ropéia 2010” para fomentar
coherent regulatory framework
o crescimento e trabalho na
for Europe’s digital economy
sociedade da informação e
indústria de mídias; i2010 that is market-oriented, flexi-
é uma estratégia para mo- ble and future-proof. And we
dernizar e desenvolver todos must focus our research spen-
os programas de ação da ding on key information and
União Européia para enco- communication technologies,
rajar o desenvolvimento da such as nanoelectronics.
economia digital: instrumen-
tos regulatórios, pesquisas A Comissão propõe três
e parcerias com indústrias. prioridades para as políticas
Em particular, a Comissão européias da sociedade da
promoverá alta velocidade informação e dos meios de
e redes em banda larga se- comunicação:
62
Capítulo III
• A construção de um Es- foram escritos por diversos
paço Único Europeu de profissionais e pesquisado-
Informação, que promo- res, integrantes do Grupo
va um mercado interior Todos Nós – UNICAMP Aces-
aberto e competitivo. sível. O cenário do projeto,
“Acesso, permanência e
63
as diferenças. Quando com- coisas, sejam elas aparente-
preendermos que nenhuma mente normais ou aparente-
pessoa é igual à outra e que mente deficientes. (BAPTISTA,
exatamente essa é uma das 2008, p. 26)
características mais fascinan-
tes entre os humanos, já esta- 4.4.2. Acessibilidade e
remos prestes a resolver esse Desenho Universal
mistério. Afinal, diferenças
fazem parte da vida. Há em Importante contribuição
cada um de nós qualidades, de Amanda Meincke Melo,
defeitos, potencialidades, sur- pesquisadora do Instituto de
presas que são infindáveis e Computação da UNICAMP,
imprevisíveis. (2008, p.24) em sua tese de doutorado,
foi a implantação do portal
Baptista (2008, p.26) acessível da Diretoria Aca-
propõe ainda que todas as dêmica da universidade. A
pessoas tenham o direito de inauguração contou com a
participar de todos os níveis participação da reitoria e foi
da sociedade, vivenciando divulgada pela imprensa, o
deveres e direitos garantidos que confere à iniciativa gran-
pela nossa Constituição de des possibilidades de repli-
maneira igual. Cordialidade, cação nas demais unidades
educação, interesse e mo- do campus universitário.
tivação são alguns requisi- No capítulo do livro em
tos básicos do bom convívio questão, Melo (2008, p.30)
entre quaisquer pessoas. destaca que as propostas
para a acessibilidade de pes-
Os caminhos não estão todos soas com características es-
previamente construídos e fi- pecíficas estejam articuladas
xados, se quisermos apontar à promoção da qualidade de
um erro nesta convivência po- vida para todos. A publica-
deremos falar em omissão [...] ção Mídia e Deficiência (cita-
sempre errada em questões de da por MELO, 2008, p.30-31)
convívio, seja qual for a situa- destaca os seis quesitos bási-
ção; todas as pessoas podem cos para que uma sociedade
nos surpreender em muitas seja considerada acessível: -
64
Capítulo III
Acessibilidade Arquitetônica, • Ambiente Adaptável, que
Comunicacional, Metodológi- requer modificações;
ca, Instrumental, Programá-
tica e Atitudinal. • Ambiente Não Acessível,
quando não reúne os cri-
4.4.3. Acessibilidade Fí- térios de acessibilidade.
65
ência visual e com mobi- 4.4.4. Cumprindo a legislação
lidade reduzida.
Deise Tallarico Pupo, bi-
• Pavimento, cujas carac- bliotecária do Laboratório de
terísticas devem contem- Acessibilidade, encarregou-
plar a estabilidade, sen- se do capítulo sobre legisla-
do antiderrapante, firme ção e contextualiza (2008,
p. 65): “O principal objetivo
e sem rugosidades que
da educação inclusiva é não
desnorteiem usuários
deixar ninguém de fora da
com problemas de visão
escola!”. Destaca as princi-
e de locomoção. pais leis internacionais e na-
cionais sobre acessibilidade
• Pavimentos Táteis Dire- e inclusão, a partir da déca-
cionais, com textura que da de 1990:
indique o caminho a ser
percorrido. 4.4.4.1. Legislação Inter-
nacional
• Pavimentos Táteis de
Alerta, cuja textura in- • Resolução 45/91 da Or-
dique o sentido do des- ganização das Nações
locamento do usuário da Unidas - ONU, que pro-
biblioteca. pôs um novo enfoque em
seu programa sobre de-
ficiência, passando (...)
Há ainda diversas infor-
“da conscientização para
mações sobre área do acer-
a ação com o propósito
vo, sanitários, comunicação
de se concluir com êxi-
e sinalização interna, ilumi- to uma sociedade para
nação, disposição do mobi- todos por volta do ano
liário, as quais consideram 2010”.
a ergonomia e as condições
físicas ideais para a área de • Resolução 48/96 da ONU,
leitura e pesquisa via com- que, em 1993, promul-
putadores. gou um documento in-
66
Capítulo III
titulado Normas sobre a textos sociais inclusivos.
Equiparação de Oportuni-
dades para Pessoas com • Declaração de Santo
Deficiência. Domingo, em Junho de
2006, que trata da socie-
• Conferência Mundial so- dade do conhecimento e
67
• A Portaria 3.284, de 7 de dimento edcacional espe-
Novembro de 2003, con- cializado.
diciona os processos de
credenciamentos de Ins- 4.4.5. Laboratório de
tituições de Ensino Su- Acessibilidade
perior-IES e os reconhe-
cimentos de seus cursos A necessidade de ade-
pelo MEC à existência de quar o ensino superior à le-
infra-estrutura adequa- gislação brasileira vigente,
da, em equipamentos e que propõe o acesso das
serviços aos alunos com pessoas com deficiência a
algum tipo de deficiên- todos os níveis de ensino pú-
cia. Tais requisitos devem blico e privado, não surpre-
ater-se à norma 9050 da endeu a UNICAMP nos seus
ABNT. propósitos de atendimento
educacional especializado. A
• O Decreto 5.296, de 2 partir de dois projetos infra-
estruturais à Fundação de
de Dezembro de 2004,
Amparo à Pesquisa do Es-
determina atendimen-
tado de São Paulo - FAPESP
to prioritário a pessoas
(INFRA IV/proc.1998/9212-
com limitações físicas e
9; INFRA V/proc. 00/13033-
sensoriais, a gestantes, a 4) foi criado o Laboratório
idosos [...] e estabelece de Acessibilidade – LAB, na
normas gerais e critérios Biblioteca Central Cesar Lat-
básicos para a promo- tes. Inaugurado em 9 de De-
ção da acessibilidade das zembro de 2002, convergem
pessoas portadoras de ao LAB trabalhos de diversos
deficiência ou com mobi- grupos de pesquisadores da
lidade reduzida, além de UNICAMP: do Centro de Es-
dar outras providências. tudos e Pesquisas em Rea-
bilitação Prof. Gabriel Porto
• Decreto Nº 6.571, de 17 - Faculdade de Ciências Mé-
de Setembro de 2008, dicas, Núcleo de Informática
que dispõe sobre o aten- Aplicada à Educação, Insti-
68
Capítulo III
tuto de Artes, Engenharias de textos em braille ou am-
Elétrica e Civil, Faculdade de pliados requerem recursos
Educação e do Instituto de humanos de bolsistas do
Computação – que compõem Serviço de Apoio ao Estu-
o grupo Todos Nós-UNICAMP dante - SAE e tecnológicos,
Acessível. O projeto desen- adquiridos via projetos
69
do um atendimento de 253 gaminho, papel; dos códices
usuários externos, incluindo encadernados passamos às
diversas instituições que re- prensas, aos livros impres-
plicaram a iniciativa. Entre sos. A explosão documen-
2003 e 2008, o LAB atendeu tária anunciava-se desde a
às expectativas de cinco alu- segunda metade do século
nos com deficiência visual da XX, e, no terceiro milênio,
UNICAMP: dois mestrados “inundados” de informação,
e um doutorado concluídos; protagonizamos a Sociedade
dois doutorados e uma gra- do Conhecimento, o motor
duação em andamento. da nova ordem mundial. Co-
Ambiente inclusivo, o nectados à Web, acessamos
LAB é cenário de atividades as bibliotecas do planeta em
de pesquisa do grupo Todos segundos! Os movimentos
Nós - UNICAMP Acessível2 pela justiça social acionam
em busca de novas soluções profissionais, grupos e ati-
de acessibilidade. vistas para que a acessibi-
lidade, um direito de todos
5. Considerações finais os cidadãos, se concretize
e que a inclusão se realize.
As bibliotecas integram A boa notícia é que no Bra-
os cenários das civilizações sil, a Biblioteca Nacional im-
da Antiguidade até os nos- plantou o Projeto Biblioteca
sos dias. Em cada período Acessível em 21 de julho de
da História, utilizaram-se os 2008, que servirá de mode-
suportes e recursos para a lo para o Sistema Nacional
escrita, que registram o co- de Bibliotecas Públicas. Por-
nhecimento através dos tem- tanto, cabe às bibliotecas do
pos. Evoluímos, assim, das século XXI cumprir as leis
inscrições nas cavernas, aos de acessibilidade em seus
blocos de argila, papiro, per- espaços de trabalho e apoiar
o atendimento educacional
2. Informações documentos e especializado. Os bibliote-
produção científica do Grupo To- cários podem e devem ser,
dos Nós no portal institucional. além de profissionais da in-
Disponível em: http://styx.nied. formação, atores e agentes
unicamp.br:8080/todosnos/
da inclusão!
Acesso em: 18 dez. 2008
70
Capítulo III
Referências
71
BRASIL. Lei n. 9.610, de 19 de Fevereiro de 1998. Altera, atu-
aliza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá ou-
tras providências. Diário Oficial [da] República Federativa
do Brasil, Brasília, DF, 20 fev. 1998. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/ L9610.htm>. Acesso em:
17 jun. 2006.
72
Capítulo III
EUROPE’S Information Society. Thematic Portal. i2010:
Digital Libraries Initiative. Europe’s cultural and scientific
riches at a click of a mouse. Disponível em: http://ec.europa.
eu/information_society/activities/digital_libraries/index_en.h
Acesso em: 18 dez. 2008.
73
PUPO, D.T.; MELO, A.M.; PÉREZ FERRÉS, S. Acessibilidade:
discurso e prática no cotidiano das bibliotecas. Campinas: Bi-
blioteca Central Cesar Lattes, 2008. 125 p.
74
Capítulo IV
Acessibilidade na comunicação
76
surdez profunda. tuá-la ou minimizá-la. Nós
Capítulo IV
Mas difícil mesmo seria somos de fato o que cre-
acreditar que pudesse mos ser. A deficiência não é
haver um fotógrafo cego, um obstáculo: é apenas um
não fosse o caso de Evgen desafio a mais para ser en-
Bavcar, um esloveno que ad- frentado. Cabe a nós recor-
77
zagem da Língua Portuguesa as transformações tecnológi-
como uma segunda língua, cas e o incremento de recur-
além de recursos que privi- sos facilitadores do acesso
legiem o visual. Quando não à informação/comunicação.
são usuários da Língua de Observa-se também uma
Sinais e utilizam a fala e lei- crescente preocupação re-
tura labial para a comunica- lativa a esse tema por parte
ção, necessitam de outros de instituições e das próprias
recursos físicos (intérprete pessoas com deficiência, que
oralista) e tecnológicos (le- se mostram mais ativas e
gendas, software, produtos engajadas na luta em prol
de vídeo e multimídia etc) da acessibilidade.
que facilitam o acesso às in- Atualmente, tem-se no-
formações. tado um aumento significa-
Em seu cotidiano, essas tivo dos meios de produção
pessoas enfrentam situações de livros e periódicos para
em que se vêem excluídas pessoas com deficiência vi-
do contato com informa- sual. Graças ao avanço da
ções. Se, por exemplo, uma tecnologia, o acesso à leitu-
pessoa com deficiência vi- ra tornou-se muito mais fácil
sual trabalha em uma em- e mais rápido. Antes desse
presa, em que haja afixado avanço, para que um cego
um quadro de avisos, ela pudesse ler algum livro, era
não pode estar a par des- indispensável que alguém
ses comunicados. No entan- o digitasse em braille, letra
to, se paralelamente houver por letra, o que deman-
uma versão eletrônica ou em dava tempo e boa-vonta-
braille desse quadro, esse de por parte do transcritor.
acesso será permitido, eli- Além disso, era imprescin-
minando algumas das bar- dível que o transcritor tives-
reiras que limitam a inserção se um bom domínio desse
social. código de escrita, a fim de
Ao longo do tempo, esses que não cometesse muitos
obstáculos puderam ser mi- erros durante o trabalho.
nimizados, de acordo com Era, de fato, um trabalho es-
78
sencialmente artesanal, pois trônicos.
Capítulo IV
não havia a possibilidade de Os livros falados, que
que o material produzido antes eram gravados em
em braille fosse automati- fitas cassete, também se
camente replicado ou copia- tornaram mais sofisticados
do. Cada livro em braille era e passaram a ter maior du-
79
minação da Língua Brasileira ruído, esse som também
de Sinais, através de dicio- será traduzido na legenda
nários (em livros, CDs, DVDs do filme.
e sites). A Língua de Sinais, Existe uma crescente de-
ao contrário do que muitos manda de recursos no espa-
pensam, não é uma língua ço virtual, na Web 2.0, em
universal, cada país cons- sites colaborativos, como as
truiu sua língua a partir das páginas de relacionamen-
relações sociais estabeleci- to (orkut, blogs, messenger
das pelos surdos. O canal de etc), nos quais há uma vasta
comunicação da Língua de possibilidade de interação
Sinais é o visual-gestual que que se dá através dos ava-
obedece aos traços cultu- tars, ícones, imagens, fotos,
rais pertencentes a deter- além da TV digital interativa
minada comunidade. Assim e dos recursos de ampliação
como as línguas, a Língua sonora.
de Sinais também apresenta Não chegamos a uma
variações regionais e estru- condição ideal. Ainda sonha-
tura gramatical própria. No mos com o dia em que todos
Brasil, temos a Língua Bra- os títulos de qualquer livraria
sileira de Sinais, denomina- estejam disponíveis em for-
da Libras, que foi decretada matos que possam ser lidos
e sancionada em 24 de Abril por pessoas com deficiência
de 2002, Lei Nº 10.436. visual e que as pessoas sur-
Há também a preocupa- das possam se comunicar
ção nas legendas de alguns com todos, seja através da
filmes intituladas “português Língua de Sinais, seja atra-
para surdos” em que a pes- vés da Língua Portuguesa.
soa surda tome conhecimen- No caso da deficiência
to dos sons que fazem parte visual, qualquer livro que
do filme e que não aparecem fosse lançado em tinta, seria
identificados em imagem. obrigatoriamente lançado
Por exemplo, se alguém, em braille, em áudio ou em
num determinado local não versão digitalizada. Se hoje,
visível, fizer algum som ou nós chegarmos a uma livra-
80
ria e perguntarmos ao ven- logias comumente utilizadas.
Capítulo IV
dedor onde se encontra a Neste sentido, utilizam-se
seção de livros em braille ou recomendações feitas pela
áudio, certamente ele acha- Organização Mundial de
rá absurda a nossa questão. Saúde (OMS), na Classifi-
Praticamente não existem li- cação Estatística Internacio-
81
A cegueira e a baixa visão cos (contraste, iluminação,
envolvem características vi- mobiliário adaptado, tecno-
suais e necessidades distin- logias da informática, am-
tas. A utilização do resíduo pliação de textos, canetas
visual, ou a capacidade fun- de ponta porosa, lápis tipo
cional do uso da visão re- 6B, com grafite mais escu-
sidual, nos casos de baixa ro, e adaptações do ambien-
visão, não está relaciona- te). Outras realizam suas
da apenas a fatores visuais, tarefas com poucas adap-
mas também às caracterís- tações. Na comunicação es-
ticas do próprio indivíduo, crita, as pessoas com baixa
às suas reações em relação visão utilizam a visão, com
à perda visual e aos fato- ou sem auxílios específicos
res ambientais que interfe- para realizar as atividades.
rem no seu desempenho. Há Assim, as pessoas com baixa
casos em que a função visu- visão devem ser estimuladas
al melhora com a luz natu- a utilizar a visão residual.
ral ou artificial, e outros que Cada pessoa é considerada
têm melhor percepção visual individualmente, pois duas
com pouca iluminação. pessoas com o mesmo grau
Tão importante quanto de acuidade visual podem
a definição quantitativa da ter um desempenho visu-
acuidade visual é a avaliação al diferente. (CARVALHO, et
funcional da visão, ou seja, al, 1994; 2008; VEIZTMAN,
quanto ao uso que a pessoa 2000).
faz da visão, verificando a Algumas pessoas cegas
eficiência visual e como esta podem apresentar percepção
pode ser melhorada. luminosa que lhes permite
Algumas pessoas com realizar as tarefas domésti-
baixa visão podem utilizar au- cas e se locomoverem com
xílios ópticos (lupas e teles- maior facilidade, outras têm
cópios) resultando em maior ausência total de percepção
eficiência em seu desempe- luminosa e utilizam a técni-
nho. Ainda outras, podem ca Hoover (bengala branca)
utilizar os auxílios não ópti- como meio de independên-
82
cia na orientação e mobili- combinações das letras do
Capítulo IV
dade. alfabeto, símbolos matemá-
Salientamos que a indi- ticos, químicos, físicos e mu-
cação de auxílios ópticos e sicais e mais recentemente
não ópticos corresponde ao do campo da informática. A
grau de acuidade visual que numeração dos pontos de
O Sistema Braille
O Sistema Braille é uti-
O Sistema Braille foi cria-
lizado tanto para escri-
do em 1825, em Paris, por
Louis Braille, jovem estu- ta quanto para leitura. O
dante cego. Em 1820, Louis Alfabeto Braille é a represen-
Braille, então com 15 anos, tação gráfica dos 64 símbo-
estudante do Instituto para los, distribuídos em 7 (sete)
Jovens Cegos de Paris, tomou linhas ou séries, organizadas
contato com um código con- de acordo com critérios de-
cebido para fins militares e finidos. Essa distribuição é
o aperfeiçoou, criando o sis- chamada de Ordem Braille.
tema de 6 pontos em rele- O Sistema Braille é uti-
vo conhecido como Sistema lizado e aceito como siste-
ou Código Braille. Os pon- ma oficial de escrita e leitura
tos são dispostos em duas para pessoas cegas. É im-
colunas em relevo: colu- prescindível que as pessoas
na esquerda 1 2 3 e colu- que enxergam, sobretudo fa-
na direita 4 5 6, formando miliares e professores, com-
83
Figura 1. Ordem Braille.
preendam a importância do
Sistema Braille na vida dos
que não enxergam.
84
Recursos para a produ- são utilizados programas
Capítulo IV
ção de escrita em braille que convertem as informa-
ções para o braille: DosVox,
Reglete: régua de metal Braille Fácil, Winbraille, etc.
ou plástico com um conjun- Outros programas possibi-
to de celas braille vazadas litam a transposição e cria-
85
ras comunicacionais. Uma informações textuais con-
pessoa com deficiência vi- tidas na tela do compu-
sual, utilizando um leitor de tador. Propiciam, desse
telas, por exemplo, envia e modo, com o uso de
recebe mensagens por comandos e navegação
e-mail, utiliza o Skype para via teclado, a leitura de
fazer conferências, digita menus, telas e textos,
seus trabalhos acadêmicos, sendo muito utilizados
realiza pesquisas na Inter- por pessoas com defici-
net, enfim, toda uma infini- ência visual. São exem-
dade de atividades. Pode-se plos de leitores de tela:
depreender a ampliação de Virtual Vision (www.mi-
possibilidades de ação que cropower.com.br), Jaws
esses recursos propiciam. (www.freedomscientific.
Salientamos, no entan- com), NVDA - NonVisu-
to, que o computador e a es- al Desktop Access (www.
cuta não podem ser vistos nvda-project.org), para
como substitutos do braille, o ambiente Windows e o
mesmo porque é conside- ORCA (http://live.gnome.
rado imprescindível o aces- org/Orca) para acesso ao
so à escrita por motivos tais ambiente Linux.
como tomar contato com a
grafia das palavras, facilitar • Sistema DosVox: sistema
o estudo de idiomas, ciên- que se comunica com o
cias, matemática, leitura de usuário através de sín-
manuais, cronogramas, ta- tese de voz, em um am-
belas e gráficos táteis. biente específico com
Podemos agrupar alguns interfaces adaptativas,
recursos da área da informá- oferecendo programas
tica nos seguintes tópicos: como: editor, leitor e im-
pressor/formatador de
• Leitores de Tela: aplicati- textos; impressor/forma-
vos que possibilitam a lei- tador para braille; jogos
tura, por meio de síntese de caráter didático e lú-
de voz, de elementos e dico; calculadora vocal;
86
programas sonoros para criar áreas específicas de
Capítulo IV
acesso à Internet, como ampliação. São exemplos:
correio eletrônico, acesso MAGic, Lunar e ZoomText.
a Homepages, Telnet e Estes também possuem
FTP; ampliador de telas a opção de retorno atra-
para pessoas com visão vés de síntese de voz.
87
(as vídeo-conferências), al- no sentido de que a nota-
guns filmes nacionais com ção em braille contemplasse
legenda, celulares com men- todas as formas de repre-
sagem digital e captação de sentação musical. O novo
imagens, pagers, além do “Manual Internacional de
aumento na acessibilidade Musicografia Braille” cons-
em alguns sites que estão titui a obra que contém os
começando a incluir a tra- fundamentos atuais desse
dução em Língua de Sinais e código.
legendas. O aprendizado da Musi-
cografia Braille é um fator
Musicografia Braille de independência na assimi-
lação do repertório de obras
Freqüentemente, afirma- musicais. Assim como os
se que as pessoas cegas têm estudantes de Música que
inclinações para o estudo da enxergam necessitam ser
música. Essa afirmação, dita alfabetizados na Musicogra-
isoladamente, pode ser con- fia em tinta, os alunos cegos
siderada um mito, já que a precisam ler e escrever par-
cegueira, por si mesma, não tituras em braille. Essa au-
causa essa propensão. Mas, tonomia possibilita que essa
de fato, os sons têm uma população freqüente escolas
grande importância para os de música regulares, o que
cegos e, por isso, a música se encontra em consonân-
constitui para eles um obje- cia com os pressupostos da
to de grande interesse, e um educação inclusiva.
meio através do qual eles Deve-se notar, entretan-
possam se desenvolver pes- to, que as escolas de músi-
soal e profissionalmente. ca, em geral, não oferecem
Louis Braille aplicou ao recursos e condições para
campo da Música o siste- que os alunos com deficiên-
ma de leitura e escrita por cia visual tenham acesso à
ele concebido. Ao longo do leitura e escrita musical em
tempo, foram realizados braille, uma vez que a maio-
aperfeiçoamentos ao código, ria dos professores, em sua
88
formação, não adquirem co- • Pressupõe-se que o leitor
Capítulo IV
nhecimentos sobre a exis- decore a partitura, antes
tência de um código musical de executá-la.
para cegos. Daí a necessi-
dade urgente de se viabilizar Como parte de uma pes-
o atendimento educacional quisa de Doutorado (apoia-
89
da música é notório. Entre- que esse coletivo é extrema-
tanto, faz-se necessário que mente diverso, e que, muitas
se criem condições para que vezes, na nossa formação ou
elas possam ter uma forma- nas informações que temos
ção musical consistente e sobre esse universo, tenta-
possam atuar profissional- mos reduzi-lo.
mente como músicos quali- Devemos levar em consi-
ficados. deração que existem várias
O ensino da Musicogra- formas da pessoa surda inte-
fia Braille é um tema recen- ragir (há pessoas surdas que
te no campo da pesquisa, e, utilizam a Língua de Sinais
por isso, diversos caminhos como primeira língua; há os
ainda podem ser trilhados, que têm a Língua Portugue-
a fim de que novos conhe- sa como primeira língua –
cimentos possam ser cons- são denominados oralizados
truídos. – e aprenderam a Língua
de Sinais enquanto adultos;
Comunicação com a pes- os surdos bilíngües; os que
soa surda: um universo não são oralizados e não co-
diverso nhecem a Língua de Sinais e
ainda utilizam gestos criados
“Não há uma única identidade no seu entorno familiar, etc.)
na qual repercute a surdez. O Portanto para pensarmos em
respeito às diferentes manei- uma universidade ou qual-
ras de ser surdo que a esco- quer ambiente escolar inclu-
la deve potencializar baseia-se sivo, devemos partir dessa
no conhecimento das carac- multiplicidade e entender
terísticas comuns e das es- quais são as características
pecíficas de cada uma delas.” das pessoas com surdez às
(SILVESTRE, 2007, p.165). quais tentamos nos comuni-
car e/ou prover o acesso às
Quando nos reportamos informações. Ao enveredar-
à acessibilidade na comuni- mos por uma educação que
cação de pessoas surdas é contemple a diferença como
necessário termos em mente ponto de partida, vamos im-
90
primindo na escola inclusiva compreensão de Santana
Capítulo IV
amplas possibilidades de co- (2007), o que forma a iden-
municação, seja com surdos tidade da pessoa surda não
que se comunicam através é necessariamente a Língua
da Língua de Sinais ou não. de Sinais e sim a presença
Pois em consonância com de uma língua que possibi-
91
desatemos os nós que nos forma peculiar de apreen-
prendem a uma única visão der o mundo, na ausência
de sujeito, para que possa- da visão.
mos encarnar os aconteci- Ela é, portanto, tida como
mentos e vê-los a partir de um déficit, apenas se consi-
outros pontos de vista que derada sob o ponto de vista
não estejam enraizados nas de quem enxerga.
nossas velhas concepções. Um caso relatado pelo
neurologista Oliver Sacks
Considerações Finais (1995), em um texto intitu-
lado “Ver e Não Ver”, pode
À pergunta: “A baixa nos ajudar a refletir sobre
visão e a cegueira são defi- essas questões: Virgil, 45
ciências?”, qualquer pessoa anos, pressionado por sua
provavelmente responderia noiva, faz uma operação de
catarata, volta a enxergar e
de imediato que sim. Qual-
passa a relacionar-se com
quer um diria que a cegueira,
o mundo de um modo que
por exemplo, é naturalmen-
instiga Sacks a se questio-
te uma deficiência, pois se
nar sobre o que é realmente
comparados às pessoas do-
enxergar: quando um obje-
tadas de visão, os cegos são to era apresentado a Virgil,
deficientes, por faltar a eles ele primeiro precisava tocá-
essa habilidade sensorial. lo para poder, então, dizer
Entretanto, analisando do que se tratava.
essa questão de uma forma
mais global e aprofundada, “[...] quando abrimos nossos
podemos admitir o “não” olhos todas as manhãs, damos
como uma resposta plausí- de cara com um mundo que
vel. A cegueira, por exem- passamos a vida aprenden-
plo, não é uma deficiência, do a ver. O mundo não nos
mas sim, uma mudança de é dado: construímos nosso
referencial perceptivo, em mundo através de experiên-
relação ao de quem enxer- cia, classificação, memória e
ga. Nessa perspectiva, a ce- reconhecimento incessantes”
gueira é tão somente uma (SACKS, 1995, p.129).
92
Sacks passou a pensar É possível entender facil-
Capítulo IV
no quanto Virgil era hábil e mente essa idéia por meio
auto-suficiente como cego, de exemplos simples. Se um
a naturalidade e facilidade cego freqüenta algum curso
com que havia experimen- em que não lhe é ofereci-
tado o mundo com as mãos do o material apropriado em
93
ler as legendas dos filmes,
nem ter acesso às imagens
das cenas. Mas se houvesse,
nos cinemas, um sistema de
áudio contendo a narração
das imagens e a leitura das
legendas, a deficiência de-
sapareceria. Para que uma
pessoa surda tenha aces-
so ao cinema nacional, por
exemplo, as legendas são
imprescindíveis.
Nesse sentido, a deficiên-
cia se torna maior ou menor,
de acordo com as condições
oferecidas pelo ambiente, e
de acordo com a criatividade
dos indivíduos para desen-
volverem meios e recursos
que garantam uma maior
qualidade de vida à popula-
ção que possua alguma dife-
rença sensorial.
Cabe um questionamen-
to: Quem está realmente
privado da visão/audição?
As pessoas com deficiência
ou o mundo ao seu redor? O
que, de fato, significa “ver” e
“ouvir” de um modo abran-
gente?
94
Referências
Capítulo IV
BELARMINO, J. As novas tecnologias e a “desbrailização”:
mito ou realidade? In: SEMINÁRIO NACIONAL DE BIBLIOTE-
CAS BRAILLE, SENABRAILLE, 2, 2001, João Pessoa. Disponí-
vel em:<http:intervox.nce.ufrj.Br/~joana/textos/tecni08.
95
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Es-
pecial. Grafia braille para a língua portuguesa. Brasília:
MEC/SEESP, 2002. [Publicação em Braille].
96
CARVALHO, K.M.M.; GASPARETTO, M.E.R.F; VENTURINI,
Capítulo IV
N.H.B.; KARA-JOSÉ, N. Visão Subnormal: orientações ao
professor do ensino regular. 2. ed., Campinas: Editora
UNICAMP, 1994. 48 p.
97
LEMOS, E.R.; CERQUEIRA, J.B. O Sistema braille no Brasil.
Disponível em: <http://www.ibc.gov.br/?catid=97&blogid=1
&itemid=92>. Acesso em 16 dez 2008.
98
PUPO, D.T.; MELO, A.M.; PÉREZ FERRÉS, S. (Org.) Acessibi-
Capítulo IV
lidade: discurso e prática no cotidiano das bibliotecas. Cam-
pinas: UNICAMP/Biblioteca Central César Lattes, 2008.
99
UNIÃO MUNDIAL DOS CEGOS. Subcomitê de Musicografia
Braille. Novo manual internacional de musicografia brail-
le. Brasília: MEC/ SEESP, 2004. 310 p.
Sites consultados:
http://www.ibc.gov.br
http://www.bengalalegal.com
http://www.lerparaver.com
http://intervox.nce.ufrj.br
http://portal.mec.gov.br/seesp
http://www.acessibilidadelegal.com
http://www.bancodeescola.com
http://www.micropower.com.br
http://www.freedomscientific.com
http://www.nvda-project.org.br
http://www.nvaccess.org
http://www.laramara.org.br
http://www.fundacaodorina.org.br
http://www.dodiesis.com
http://www.ebrass.org
http://www.aisquared.com
http://www.dolphinuk.co.uk
http://live.gnome.org/Orca
http://www.vezdavoz.com.br/telelibras/
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/port_surdos.pdf
http://www.ines.gov.br/
http://www.acessobrasil.org.br/libras/
100
Capítulo V
Acessibilidade na Web
102
la ou Convenção Interame- res;
Capítulo V
ricana para Eliminação de
todas as Formas de Discri- • Pessoa com mobilidade
minação contra as Pessoas reduzida: não se enqua-
Portadoras de Deficiência, dra no conceito anterior,
comprometendo-se, entre mas tem redução efetiva
103
se pressiona um botão sibilidade podem acontecer
na parte de cima e libe- com qualquer pessoa, em
ra água durante certo diversos contextos de uso.
período de tempo. Se a Alinhada a essa perspecti-
torneira estiver desre- va, uma importante aborda-
gulada e só liberar água gem ao desenvolvimento de
enquanto o botão é pres- produtos acessíveis é a do
sionado, como lavar as Desenho Universal, ou De-
mãos ou encher um copo sign para Todos (CONNELL
com água se estiver com et al., 1997). Segundo o De-
uma das mãos ocupada? senho Universal, produtos e
Nesse contexto apenas ambientes devem ser ade-
uma das mãos está dis- quados, de forma direta, na
ponível para a tarefa. maior extensão possível a
todas as pessoas, sem dis-
• Em um ambiente com criminação. Quando não for
bastante ruído, acima de possível promover o acesso
100dB, como em uma e o uso de produtos e am-
metalúrgica, um show ou bientes de forma direta, de-
uma boate. Se a campai- ve-se considerar também
nha de um celular soar, a oferta de alternativas de
será possível ouvi-la? acesso por meio de acessó-
Nesse contexto a audição rios ou opções padroniza-
não está disponível para das, a compatibilidade com
determinadas tarefas, o tecnologias assistivas, em
que, inclusive, motiva a último caso, a facilidade de
redundância nos meios modificações sob demanda
utilizados para chamar (MELO, 2007, p. 19).
a atenção dos usuários, Websites oferecem uma
por exemplo, vibração ou ampla quantidade de servi-
indicação luminosa. ços e recursos. Muitos via-
bilizam aos seus usuários
Esses exemplos mostram a busca por conteúdos e a
como questões relativamente comunicação com outras
simples relacionadas à aces- pessoas por meio de fer-
104
ramentas como webmails, seção 3 apresenta princípios
Capítulo V
fóruns de discussão e ba- para o design inclusivo de
te-papo. Para torná-los ade- sistemas de informação na
quados ao uso de pessoas Web para apoiar designers
com necessidades tão di- na construção de estratégias
ferentes, faz-se necessário que promovam a acessibi-
105
2.1. Web Standards devem ser utilizados tam-
bém de acordo com o pro-
Um aspecto importante pósito para o qual foram
em relação à publicação de designados, evitando-se o
conteúdos na Web diz res- uso de marcadores estru-
peito à escolha do formato turais para efeitos de apre-
de seus arquivos e ao uso sentação (SANTANA et al.,
de tecnologias para promo- 2008). Por exemplo, os
ver experiências interativas marcadores para formata-
mais interessantes. Tecno- ção de tabelas foram defi-
logias como HTML (Hyper- nidos especialmente para a
Text Markup Language), marcação de dados tabula-
XHTML (Extensible Hyper- res e não para a definição de
Text Markup Language) e layouts de páginas. Marca-
CSS (Cascading Style Sheets) dores de cabeçalho também
são interpretadas atualmen- não devem ser usados para
te por uma série de navega- fins de apresentação – para
dores (por exemplo, Internet deixar o texto maior ou em
Explorer, Lynx, Mozilla Fire- negrito, por exemplo – mas
fox, Netscape, Opera, etc). para marcar títulos e subtí-
O uso adequado dessas tec- tulos. Em síntese, os marca-
nologias, conhecidas como dores das linguagens HTML e
Web Standards, desenvol- XHTML possuem propósitos
vidas e amplamente difun- bem definidos, que orientam
didas pelo W3C, constitui a a apresentação do conteúdo
infra-estrutura para a aces- de páginas Web em diferen-
sibilidade da Web (MELO, tes dispositivos de navega-
2007, p. 26). ção, mas também provêem
O uso das linguagens de informações estruturais im-
marcação de maneira cor- portantes que podem ser
reta está entre as recomen- exploradas por tecnologias
dações normativas do W3C assistivas e pelos próprios
para a acessibilidade do con- usuários. Portanto, as lin-
teúdo da Web. Os marcado- guagens de marcação devem
res da linguagem (X)HTML ser codificadas e utilizadas
106
apropriadamente. Javascript, por exemplo. Ja-
Capítulo V
A separação entre es- vascript é uma linguagem
trutura e apresentação, que de programação interpreta-
também está entre as re- da e multiplataforma man-
comendações do W3C para tida pela Netscape. Ela pode
a acessibilidade do conte- ser utilizada no lado do ser-
107
funcionalidades independen- tratam a comunicação com o
temente do cliente, usando servidor de maneira diferen-
linguagens server-side, por te, observando-se também
exemplo, as funcionalidades as recomendações do W3C
dinâmicas auxiliarão usuá- para a acessibilidade, espe-
rios e não serão uma bar- cialmente a independência
reira para quem não utilizar de dispositivos e a compa-
Javascript. tibilidade com tecnologias
O desenvolvimento de assistivas. Weiss (2006) dis-
aplicações com as tecnolo- cute de forma bastante clara
gias AJAX (Asynchronous e concisa os dilemas enfren-
Javascript And XML), rapi- tados por desenvolvedores
damente difundidas nos úl- Web, considerando as exi-
timos anos para aumentar a gências dos padrões, funda-
interatividade em páginas e mentais à compatibilidade
aplicações Web, representa entre plataformas de di-
outro desafio aos desenvol- ferentes fabricantes, e as
vedores de sistemas Web- possibilidades que se apre-
acessíveis. Embora esteja sentam aos desenvolvedores
baseado no uso do padrão para promover experiências
ECMAScript e padrões W3C interativas diversificadas.
como HTML e CSS, o uso Entre os materiais con-
do objeto XMLHttpRequest ceituais é possível encontrar
para possibilitar a comuni- um grande número de tuto-
cação com o servidor, sem riais em formato de textos
a necessidade de carregar ou hipertextos (W3SCHO-
toda a página no navega- OLS, 2008; WEBAIM, 1999-
dor, não está descrito como 2008) e algumas iniciativas
um padrão considerado ofi- que visam ao estabelecimen-
cial. Assim, há necessidade to de princípios e diretrizes.
de tratamento específico por O W3Schools é um dos por-
parte dos desenvolvedores tais de tutoriais de tecnolo-
que decidirem utilizar AJAX gias Web mais utilizados por
para garantir sua compatibi- mantenedores de websites.
lidade em navegadores que Ele aborda diversas tecnolo-
108
gias Web, tanto livres (ex.: lidade na Web destacam-se
Capítulo V
HTML, CSS) como proprie- o Web Acessibility Initiati-
tárias (ex.: Microsoft. Net). ve (WAI) (W3C, 2008a), o
Em tecnologias como HTML e Section 508 (2008), o Stan-
CSS, os tutoriais cobrem de ca Act (ITÁLIA, 2004) e, no
maneira completa as defini- contexto brasileiro, o e-MAG
109
vimento que produzem pende do uso de nave-
conteúdo Web-acessível gadores que atendam ao
e têm interfaces acessí- UAAG;
veis. Oferecem o conjun-
to de diretrizes Authoring • Ambigüidades na inter-
Tool Accessibility Guide- pretação das diretrizes;
lines 1.0 (ATAG 1.0) e a
versão 2.0, ainda em es- • Nível necessário de com-
tágio de desenvolvimento preensão dos problemas
(ATAG 2.0); de acessibilidade oriundo
da dificuldade em enten-
• Conteúdo Web concebido der o princípio que nor-
para ser acessível. Ofere- teia um checkpoint.
ce o conjunto de diretrizes
Web Content Accessibili- O WAI, entre seus esfor-
ty Guidelines 2.0 (WCAG ços para tornar a Web aces-
2.0). sível, anunciou esboços de
especificações técnicas rela-
Apesar de representar cionadas ao desenvolvimen-
uma base sólida de princí- to de aplicações de Internet
pios amplamente discutidos “ricas” – incluindo aplicações
por uma comunidade bas- desenvolvidas com AJAX
tante diversificada, existem – que sejam acessíveis a
diversas críticas sobre esses pessoas com deficiência
tipos de iniciativas. Sloan et (WAI-ARIA – Web Accessi-
al. (2006) apontam algumas bility Initiative - Accessible
delas: Rich Internet Applications).
Em sua análise, identifica as
• Natureza teórica das di- tecnologias necessárias para
retrizes, ignorando o uso tornar acessíveis o conteú-
de tecnologias proprietá- do dinâmico da Web e essas
rias; aplicações “ricas”, discutin-
do o que há disponível e o
• Dependência de outras que falta para promover a
diretrizes. O WCAG de- acessibilidade. Uma questão
110
imprescindível que precisa 2.3. Ferramentas para o
Capítulo V
ser abordada é a ausência desenvolvimento Web-
de marcadores e proprieda- acessível
des nas linguagens de mar-
cação atuais que apóiem a Para apoiar o desenvolvi-
identificação de elementos mento e utilização de tecno-
111
• FrontPage 2000, da Mi- pia, daltonismo) e leitor de
crosoft - atendeu poucos tela. Já o DaSilva é uma fer-
checkpoints em todas as ramenta on-line, que permite
prioridades. a validação de websites se-
gundo as diretrizes do WCAG
Ferramentas de validação e também do e-MAG.
e simulação são importan- Os navegadores mais re-
tes recursos na criação de centes têm, cada vez mais,
código acessível, seja pela oferecido recursos para cus-
facilidade em realizar uma tomização (por exemplo,
varredura no código, seja para alterar tamanho da
pela dificuldade que peque- fonte, contraste entre texto
nas equipes encontram em e plano de fundo, desabili-
ter contato com toda a di- tar folhas de estilos, etc.) e
versidade de usuários exis-
compatibilidade com tecno-
tentes em cenários como o
logias assistivas, seguindo as
brasileiro. Algumas das ferra-
recomendações e especifica-
mentas de validação ampla-
ções técnicas do W3C para
mente utilizadas são o ATRC
facilitar acesso ao conteúdo
(2008), o MAGENTA (HIIS,
Web e o controle do usuário
2005-2008) e, no contexto
brasileiro, o DaSilva (2006) sobre sua apresentação. En-
e o ASES (MP, 2008a), sendo tretanto, os desenvolvedo-
esta última uma ferramenta res não podem assumir que
que funciona localmente na todos os navegadores traba-
máquina do usuário. O ASES lhem exatamente da mesma
é uma ferramenta produzida maneira, nem que todos os
no contexto do e-MAG que, usuários saibam tirar provei-
além de oferecer mecanis- to dos recursos que os na-
mos de validação segun- vegadores oferecem, nem
do as diretrizes do e-MAG, mesmo que esses tenham
ainda possui ferramentas de sempre a última versão de
simulação do uso do conte- uma determinada tecnolo-
údo Web por pessoas com gia à sua disposição (MELO,
deficiência visual (ex.: mio- 2007, p. 30).
112
Embora ferramentas de Web Page Filter permite a vi-
Capítulo V
validação sejam de gran- sualização de uma dada URL
de valor e praticamente in- informada pelo usuário, con-
dispensáveis à avaliação de siderando o tipo de deficiên-
acessibilidade de uma pági- cia visual.
na na Web, indicando erros A próxima subseção apre-
113
gias assistivas. No contexto litam o acionamento de
de uso da Web, destacamos comandos dos progra-
algumas dessas tecnologias mas de computador via
(MELO, 2007, p. 30; PUPO et voz e podem ser usados
al., 2008, p. 94): por pessoas que têm al-
guma deficiência que di-
• Ampliadores de telas: ficulte, ou impeça, o uso
ampliam e modificam as de dispositivos de entra-
cores na tela, visando da de dados como mouse
a melhorar a leitura de e teclado. Além do soft-
textos e a percepção das ware de reconhecimen-
imagens às pessoas com to de voz, é necessária
dificuldade em enxergar. a configuração adequa-
São exemplos desse tipo da do sistema multimídia
de tecnologia assistiva a que apóia a interação hu-
Lente de Aumento do Sis- mano-computador (ex.:
tema Operacional Micro- Motrix);
soft Windows e a Lente
Pro; • Teclados alternativos: si-
mulam o funcionamen-
• Leitores de telas: lêem to do teclado e, assim,
informações textuais por podem ser utilizados
meio de sintetizadores de por pessoas com algu-
voz ou displays em brail- ma deficiência física que
le, promovendo acesso tenham dificuldade em
à informação por pes- usar o teclado convencio-
soas cegas ou com difi- nal. Exemplos desse tipo
culdades de leitura. São de dispositivos são os te-
exemplos de leitores de clados com espaçamento
telas: Jaws for Windows, menor ou maior entre as
Virtual Vision, Monitivox, teclas, os protetores de
Orca; teclas, que possibilitam
o acionamento de uma
• Programas de reconhe- única tecla por vez, os si-
cimento de voz: possibi- muladores de teclado na
114
tela do computador como 3. Princípios para o De-
Capítulo V
o Teclado Virtual do Sis- sign Inclusivo de Siste-
tema Operacional Micro- mas de Informação na
soft Windows e TFlex; Web
115
ca necessária e disponível cias bastante diferentes, que
para viabilizá-los. Além de devem ser abordadas expli-
entender recomendações citamente. Deve-se buscar o
cujo foco é voltado às pes- entendimento, até onde for
soas com deficiência e bus- possível, sobre a variedade
car apoio tecnológico para de contextos e de situações
promover a acessibilidade de uso, sobre os diferentes
da Web para esse grupo de grupos de usuários de um
usuários, é necessário com- sistema de informação em
preender acessibilidade em particular.
seu contexto social, sua re-
lação direta com a usabilida- Princípio 3. Abordar expli-
de de ambientes, produtos e citamente a participação dos
serviços e, também, com a usuários em espaços colabo-
inclusão social. rativos de design – na con-
cepção, na proposição e na
Princípio 2. Considerar a avaliação de sistemas Web-
multiplicidade e a diversi- inclusivos – com base na
dade de contextos e situa- igualdade de direitos e res-
ções de uso das tecnologias peito mútuo.
de informação e comunica- Esse princípio apon-
ção, reconhecendo e valori- ta para a necessidade de
zando as diferenças entre os envolver como co-autor o
usuários, em suas capacida- principal interessado no de-
des perceptuais, cognitivas senvolvimento de ambien-
e motoras. tes, serviços e produtos para
Esse princípio chama o seu uso, em espaços que
a atenção para a respon- ofereçam condições a sua
sabilidade de uma equipe participação. Em um con-
ao assumir o compromis- texto de valorização das di-
so de desenvolver um siste- ferenças, designers devem
ma Web, levando em conta proporcionar um ambien-
que seu público apresenta te flexível que possibilite a
características, necessida- cada pessoa participar sem
des, interesses e preferên- discriminação.
116
As possibilidades de situ- 4.1. PAWRAU: Um Pro-
Capítulo V
ações de design que podem cesso de Adequação de
emergir localmente são in- Websites a Requisitos de
finitas. Os princípios para o Acessibilidade e Usabili-
design inclusivo de sistemas dade
de informação na Web visam
117
sites devem possibilitar tecnologias HTML, CSS e Ja-
o acesso às informações vascript e disciplinas como
mais relevantes para Acessibilidade e Usabilida-
certa combinação de per- de são, em geral, abordados
fis em um dado momen- isoladamente e a integração
to; desses conhecimentos de-
pende dos mantenedores.
• A rotina de trabalho de
Se forem apresentados de
mantenedores de websi-
maneira integrada, sua apli-
tes não é linear, ou seja,
cação é agilizada.
oscila entre atividades
de design, codificação, A seguir, são apresen-
padronização, avalia- tados os Princípios para
ção, testes, entre outras. Desenvolvimento Web Aces-
Assim, deve-se utilizar sível, que guiam o proces-
hipertexto para possibili- so e podem ser aplicados no
tar a navegação para tó- desenvolvimento Web (SAN-
picos mais aprofundados TANA et al., 2008):
(ex.: relacionados à ava-
liação ou testes) e outros 1. Definir padrão de co-
mais fundamentais (por dificação - A seleção
exemplo, relacionados a criteriosa de padrão de
definições ou estruturas nomenclatura de ele-
básicas). mentos, de variáveis e
de versões de linguagem
Uma vez identificadas as
contribui para a legibi-
questões em torno do de-
lidade do código e para
senvolvimento Web, foi de-
finido o processo PAWRAU a divisão das atividades
que apóia o progresso des- da equipe de desenvolvi-
sas equipes em relação à mento, facilitando, com
adequação de websites a isso, a manutenção das
requisitos de acessibilida- funcionalidades de web-
de e usabilidade. Vimos, por sites, bem como a adição
exemplo, que temas como de novos recursos;
118
2. Estruturar páginas e cionam grande parte dos
Capítulo V
websites prezando o problemas comumente
reaproveitamento de encontrados em websites.
código - Todo o código Com isso, possibilitam
Web, seja ele documento sua maior compatibilida-
HTML, folha de estilo CSS de com os diversos dis-
119
rico da área em questão; 8. Integrar tecnologias e
conceitos durante todo
6. Considerar a diversida- o desenvolvimento - Um
de de usuários - Ao con- dos grandes problemas
trário do que geralmente no desenvolvimento de
é adotado por mantene- websites é a lacuna entre
dores de websites, de- as recomendações técni-
senvolver websites para cas e os conceitos que as
o “usuário médio” não é norteiam. Um exemplo
garantia de ampla acei- disso é a recomendação
tação de websites. Por- de acessibilidade sobre
tanto, o conhecimento da o fornecimento de texto
diversidade de usuários alternativo a imagens.
pode ser fator determi- Apesar de prover texto
nante para o sucesso de alternativo e, portan-
to, seguir a diretriz (ex.:
um website. Tal conheci-
checkpoint 1.1 do WCAG
mento complementa e,
1.0), mantenedores fa-
por vezes, redireciona di-
lham na escolha de qual
retrizes e padrões;
informação deveria estar
presente nesse texto e
7. Considerar diferentes quais são os usuários que
formas de apresenta- se beneficiam desse re-
ção de páginas Web curso. É necessária uma
(dispositivos e confi- abordagem integrada que
gurações) - Websites permita a compreensão
não são documentos es- não somente das regras
táticos e, portanto, se- de desenvolvimento, mas
riam melhor construídos também das necessida-
se fossem considerados des e dos benefícios ge-
como construções flexí- rados por sua aplicação;
veis a diferentes disposi-
tivos, tamanho de display 9. Avaliação e validação
e preferências de visuali- - Devido à característi-
zação de usuários; ca dinâmica de websites,
120
mesmo quando mante- agilizando a busca desses
Capítulo V
nedores conhecem e em- conteúdos e, usando hiper-
pregam os padrões e texto, conectar tópicos rela-
recomendações, a tare- cionados e dependências. A
fa de manter um website partir desse conteúdo, a pró-
atendendo completamen- pria equipe de desenvolvi-
121
reço http://warau.nied. ou baixa. Tema represen-
unicamp.br/. ta quais tecnologias e disci-
Para estruturar o conte- plinas estão integradas em
údo do PAWRAU, de forma a cada tópico.
oferecer suporte à extensão
e flexibilidade na manipula- 5. Considerações Finais
ção do conteúdo usando o As diferenças (por exem-
WARAU, utilizou-se uma es- plo, características e pre-
trutura em forma de tópicos ferências dos usuários,
descritos, usando XML (eX- tecnologias, contexto de
tensible Markup Language) uso) a serem consideradas
como linguagem de marca- no desenvolvimento de sis-
ção. Essa estrutura de tó- temas Web podem se mani-
picos permite atualmente festar de inúmeras formas.
a representação estrutura- Mantenedores de sistemas
da de assuntos, exemplos e Web que almejem colaborar
contra-exemplos de código, efetivamente na construção
incluindo renderizações, su- de sistemas inclusivos na
gestões de ferramentas que Web devem construir com-
podem ser utilizadas, suges- petências e buscar recursos
tões de leitura prévia e os necessários à promoção do
resultados esperados do tó- design (produto e processo)
pico. Web-acessível. Nesse texto
Atualmente, estão dispo- procuramos abordar os prin-
níveis filtros por perfil (i.e., cipais conceitos e recursos
desenvolvedor, designer e relacionados ao desenvolvi-
redator) e temas (i.e., HTML, mento de websites acessí-
CSS, Javascript, Acessibi- veis e usáveis, oferecendo
lidade e Usabilidade). Per- subsídios para a construção
fil representa a atribuição de competências.
de relevância do tópico para Amplamente difundido
cada um dos perfis de man- hoje em dia, o atendimen-
tenedores. Atualmente, a re- to a recomendações técnicas
levância pode assumir um (ex.: WCAG, Section 508)
de três valores: alta, média de acessibilidade é apenas
122
parte da solução para tornar citar questões importantes
Capítulo V
inclusivos os sistemas de in- que devem ser considera-
formação Web. Faz-se ne- das na construção de estra-
cessário um entendimento tégias locais, para promover
profundo para o que signi- a acessibilidade e a inclusão
fica promover a acessibili- no produto e no processo de
123
ses. A estrutura do WARAU
permite navegar entre diver-
sos temas e tópicos e cons-
truir um conhecimento mais
amplo do assunto desejado.
Como continuidade à te-
mática tratada neste texto, o
WARAU oferece um glossário
(http://warau.nied.unicamp.
br/?q=glossary), que conta
com definições para os ter-
mos acerca do tema aces-
sibilidade e usabilidade na
Web e apresenta apontado-
res para tópicos correlatos.
Fica, então, um convite à
ação para promover a Aces-
sibilidade na Web.
124
Referências
Capítulo V
ABASCAL, J; VALERO, P. Accesibilidad. In: LORÉS, J. (Ed.).
Curso introducción a la interacción persona-ordenador: el libro
eletrónico, 2002. Disponível em: <http://griho.udl.es/ipo/li-
broe.html>. Acesso em: 20 Dez. 2006.
125
BRASIL. Decreto Nº 5.296, de 2 de Dezembro de 2004. Re-
gulamenta as Leis nos 10.048, de 8 de Novembro de 2000,
que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e
10.098, de 19 de Dezembro de 2000, que estabelece normas
gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade
das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade re-
duzida, e dá outras providências. Diário Oficial [da] Repú-
blica Federativa do Brasil. Brasília, DF, 2 dez. 2004.
126
DIAS, C. Usabilidade na web: criando portais mais acessí-
Capítulo V
veis. Rio de Janeiro: Alta Books, 2003. 296p.
127
SECTION 508, 2008. Disponível em:
<http://www.section508.gov/>. Acesso em: 13 Jan. 2008.
128
Capítulo VI
Acessibilidade no ambiente físico
130
brar ou atuar/informar. principalmente para o cliente
Capítulo VI
O projeto de arquitetura e usuários com pouca experi-
pode e deve contribuir para ência na leitura de desenhos.
minimizar as barreiras ar- A discussão com o cliente ou
quitetônicas que dificultam a os usuários é mais direta, evi-
acessibilidade. Pode também tando-se interpretações er-
131
Instrumentos de leitu- de uso do espaço construído,
ra de projeto: o uso de garantindo assim inclusão
mapas táteis e disposi- social e cultural (BERNARDI
tivos digitais como fer- & KOWALTOWSKI, 2006). No
ramentas de auxílio ao contexto do Desenho Uni-
percurso e reconhecimen- versal, um mapa tátil pode
to de um espaço físico ser inserido nos seguintes
princípios (BERNARDI, 2007;
A descrição de um am- STORY, 2001):
biente através de maquetes
e mapas táteis é um impor- Principio 1 - USO EQUITA-
tante instrumento para a TIVO das habilidades indivi-
orientação espacial e, con- duais - o projeto não pode
seqüentemente, um impor- criar desvantagens ou estig-
tante elemento da aplicação matizar qualquer grupo de
do Desenho Universal. Este usuários;
possibilita a compreensão
de um ambiente construído, Princípio 2 - FLEXIBILIDA-
a percepção do espaço e a DE DE USO – para todo usu-
navegação em um ambien- ário - o projeto adaptado a
te interno ou externo, o que um largo alcance de prefe-
pontencializa o uso das ha- rências e habilidades indivi-
bilidades individuais através duais;
de respostas sensoriais do
indivíduo. Princípio 3 - INFORMAÇÃO
Um mapa tátil pode ofe- PERCEPTÍVEL para usuá-
recer uma condição de loco- rios com deficiência visual
moção segura e autônoma - o projeto comunica ne-
para indivíduos com dife- cessariamente informações
rentes habilidades visuais, efetivas ao usuário, indepen-
estimular o uso do resíduo dentemente das condições
visual dos indivíduos com do ambiente e habilidades
baixa visão, através da leitu- sensoriais do usuário.
ra do ambiente e, principal-
mente, ampliar o potencial É importante diferenciar
132
o uso dos termos mapa e sejam frágeis ao manuseio.
Capítulo VI
maquete. Um mapa é a re- Apresenta saliências per-
presentação gráfica, sobre ceptíveis através do tato, as
um plano, de fenômenos ge- quais, por meio de simbo-
ográficos referentes a um logias próprias, informam
espaço determinado, atra- o usuário sobre o ambiente
133
objetivo de converter idéias Schneider (2000) distin-
em um componente espa- gue, para a educação geo-
cial. Nesse contexto, eles gráfica, três tipologias de
podem ser utilizados para mapas táteis: mapas de
incrementar a participação orientação, de mobilidade
ativa de indivíduos em um e de topologia. Os mapas
ambiente a ser reconhecido, de orientação são aqueles
através da apresentação do que providenciam uma visão
ambiente em um modelo em geral e superficial de uma
escala, seja um mapa, seja determinada área. Os mapas
maquete. de mobilidade são prepara-
Pesquisadores do Ins- dos para orientar o viajante
tituto F. Cavazza, Bolonha e incluir pontos de orienta-
(BUCCIARELLI, 2004), con- ção. Os mapas topológicos
sideram que as facilidades são aqueles que mostram
de orientação e cognição uma rota específica. A no-
que os mapas táteis e vi- menclatura arquitetônica de
suais oferecem não são de mapas táteis pode ser simi-
acesso exclusivo para pesso- lar à caracterização descri-
as portadoras de deficiências ta acima:
visuais, uma vez que exis-
te uma demanda de pesso- ••Na linguagem arquitetô-
as que estão diariamente se nica tátil, a orientação
locomovendo, viajando e ex- relaciona-se com a im-
plorando locais para estudo, plantação e situação de
lazer ou trabalho, e os pro- um edifício em relação ao
blemas de reconhecimento seu entorno. A escala de
do local estão sempre pre- representação é peque-
sentes. Informar as rotas de na e os detalhes não são
navegação através de auxí- de fundamental impor-
lios em áudio, visuais e tá- tância.
teis confere maior segurança
de locomoção e orientação ••Quanto à mobilidade,
espacial para diversos usu- que estabelece rotas com
ários. pontos de apoio, pode-se
134
relacioná-la com o per- Arquitetura e sinalização
Capítulo VI
curso interno de uma devem estar unidas para fa-
edificação, indicando a cilitar a orientação do usuá-
seqüência de ambientes rio, já que o percurso em um
e principais obstáculos. ambiente é percebido atra-
Nesse caso, a escala per- vés das informações que o
135
Pesquisas sobre percep- para pessoas com cegueira
ção háptica são importantes completa, mas para aqueles
fontes de informações para que possuem diferentes li-
a compreensão da capacida- mitações visuais. SPENCER
de de leitura tátil. Podemos (1989, apud JACOBSON,
citar as pesquisas na área de 1996) discorre sobre a im-
ensino de cartografia, que já portância das informações
utilizam como instrumento sobre o percurso, partindo
o estudo de mapas e sim- inicialmente da identifica-
bologias próprias para o re- ção do local de procedência
conhecimento de um local. do indivíduo e identificando
Ventorini (2006) descreve quais auxílios ele terá duran-
uma experiência de elabo- te seu percurso até alcançar
ração de maquetes táteis o seu destino.
sonoras para a aprendiza- Durante a leitura de um
gem de cartografia a alunos mapa tátil e visual o usu-
cegos e com baixa acuidade ário precisa interpretar os
visual, pertencentes à rede símbolos do mapa, memo-
pública do ensino fundamen- rizar a imagem que eles re-
tal no Brasil. As maquetes presentam e transportar-se
finalizadas foram acopladas fisicamente para o espaço
a um computador munido representado, tendo cons-
do software “Mapavox”, um ciência prévia do caminho
programa compatível com que deve percorrer. A sim-
o Windows 95 ou superior bologia gráfica em um mapa
e que possibilita a integra- tátil pode e deve extrapolar
ção ao sistema de síntese de a função apenas informativa
voz, o programa “DOSVOX”, e constituir um elemento po-
que permite a emissão de sitivo para o conhecimento
sons, textos e imagens pré- do ambiente: a representa-
programadas e a edição de ção qualitativa do espaço.
novos textos (VENTORINI, Através dessas diferen-
2006). tes maneiras de percepção
A prévia orientação es- de um espaço, recursos tec-
pacial é eficiente não apenas nológicos têm sido utilizados
136
para providenciar a inclu- ficiência Visual” 2 tinha como
Capítulo VI
são social. Pesquisas do Nú- enfoque principal o uso do
cleo de Informática aplicada mapa tátil sonoro em sala
à Educação na UNICAMP – de aula, junto a um públi-
NIED/UNICAMP (d´ABREU; co restrito de professores e
CHELLA, 2006) têm utili- alunos, deficientes visuais,
137
de Geografia e Cartografia número de pessoas que têm
Tátil. Esse uso diz respeito utilizado esse dispositivo tem
às atividades desenvolvidas aumentado, visto que esse
no projeto anteriormente dispositivo está em processo
citado, junto a uma esco- de instalação no hall de en-
la Municipal no Município de trada da referida Biblioteca
Araras, como mostra Figu- (d’ABREU et al, 2008).
ra 1.
138
tomação e controle de Dis- forma interdisciplinar. Além
Capítulo VI
positivos Robóticos, como disso, utilizam componen-
instrumentos de alta usabili- tes elétricos como: motores,
dade para pessoas com baixa sensores de luz, toque, tem-
visão (software Quatro Esta- peratura, som, posição, lâm-
ções e Ambiente Baseado na padas, dentre outros, que
139
meio do computador, apren- • Concepção: discussão de
der conceitos de Geografia estratégias que possibili-
Tátil, um mapa tátil sono- tem a transformação do
ro pode se utilizado, o qual espaço físico real em uma
é controlado por um deter- representação em esca-
minado software desenvol- la, de maneira analógica
vido especificamente para e abstrata, porém, man-
esse fim. tendo-se as caracterís-
O mapa tátil sonoro tem ticas físicas construtivas
como função principal a dis- desse espaço.
ponibilização através de re-
cursos tecnológicos, de • Construção: consiste na
informações para que indi- elaboração de um instru-
víduos utilizem um espaço mento de leitura em 3 di-
mensões. A pré-elabora-
urbano de forma autônoma,
ção inicia-se com a cria-
fácil e segura, por exemplo,
ção do desenho virtual,
abrigo de ônibus, estação
usando-se um software
rodoviária, saguão de en-
capaz de fazer desenhos
trada de um prédio públi-
arquitetônicos, através
co, etc.
de programas específicos
A implementação de um (por exemplo, AutoCAD
mapa tátil sonoro inicia-se – Computer-Aided De-
com a análise de uma Rota sign – projeto auxiliado
Acessível e sua transposição por computador). Nesse
gráfica e simbólica para o sentido, serão necessá-
instrumento, a inclusão dos rios equipamentos como
recursos de sonorização, o computadores, impres-
desenvolvimento de hardware soras, máquinas fotográ-
e software específicos e a ficas digitais e computa-
confecção do mapa em esca- dores portáteis para o de-
la. A obtenção de um mapa senvolvimento de ativida-
tátil sonoro consiste basica- des fora do laboratório. A
mente do seguinte desenvol- transformação desse pro-
vimento: duto virtual em uma ma-
140
quete real pode ser reali- físico e de uma informa-
Capítulo VI
zada a partir do processo ção sonora, facilitando,
de prototipagem rápida3. assim, a sua localização
Além disso, o mecanis- espacial. Esses sensores,
mo de funcionamento da que poderão fazer parte
maquete tátil sonora ba- de uma determinada ma-
141
Figura 3. Esquema elétrico simplificado de funcionamento com um
sensor. Fonte: d’ABREU e MARTINS, 2008
ensão e legibilidade da
simbologia arquitetônica
representada, às caracte-
rísticas arquitetônicas da
edificação real e de sua
representação no mapa.
142
Referências
Capítulo VI
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - NBR
9050/2004 - Acessibilidade a edificações, mobiliário,
espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro: ABNT,
2004.
143
D’ABREU J.V.V., Integração de dispositivos mecatrônicos
para ensino-aprendizagem de conceitos na área de au-
tomação. Tese (Doutorado) - Faculdade de Engenharia Mecâ-
nica, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2002.
144
ponível em: http://www.immerse.ucalgary.ca/publications/
Capítulo VI
LLUB96.htm
Acesso em: 29 maio 2008.
145
SPENCER, C.; BLADES, M.; MORSLEY, K. The child in the
physical environment: the development of spatial knowled-
ge and cognition. New York: Wiley, 1989.
PORTAL ROMACCESSIBILE.IT
http://www.romaccessibile.it/en/Ausili/MappaTattileLeggere.htm
Acesso em: 22 abr. 2006.
146
Autores
Amanda Meincke Melo
Doutora em Ciência da Computação pela Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP). Professora no ensino superior. Tem especial
147
Janaina Speglich de Amorim Carrico
Mestre e Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade
Estadual de Campinas, com pesquisa voltada à inclusão no Ensino Superior.
Atua como professora no ensino superior.
148
Mônica Cristiane Moreira Crispim
Mestre em Política Científica e Tecnológica pela Universidade Estadual
de Campinas (UNICAMP) e Professora do Centro Federal de Educação
Tecnológica de Mato Grosso (CEFET MT). Suas áreas de interesse incluem
inclusão digital e acessibilidade.
Núbia Bernardi
149
D SN S